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EQUIPE:
PROFESSORA-LÍDER
PROFA. DRA. DENISE CRISTINE PAIERO
PROFESSORES
PROF. DR. ALVARO BUFARAH JUNIOR
PROF. DR. ANDRE CIOLI TABORDA SANTORO
PROF. DR. DANIEL DE THOMAZ
PROF. DR. JOSE ALVES TRIGO
PROF. DR. JOSE MAURICIO CONRADO MOREIRA DA SILVA
PROF. DR. RAFAEL FONSECA SANTOS
PROF. DR. ROBERTO GONDO MACEDO
PROF. DR. ROGERIO APARECIDO MARTINS
ALUNA BOLSISTA
CAMILA OLIVEIRA
In the contemporary world, the work of communication professionals has been guided by
a series of transformations. This process has its origin in several factors, such as the
predominance of digital tools, the decline of traditional media in Journalism and
Advertising and the valorization of content as a tool of persuasion. Based on this context,
this research addresses a series of themes that have, as points of convergence, a better
understanding of the labor market and the possible optimization of communication
training. The rise of the branded content, the hybridization between different fields, the
expectations and perceptions of graduates from undergraduate courses and professional
performance are some of the points addressed. As a result, there is a growing need to
adapt teaching practices to meet the training requirements imposed on professionals.
Apresentação.........................................................................................................................04
Nos casos das áreas aqui destacadas, é surpreendente a velocidade com que as mudanças
vêm ocorrendo. Profissionais do mercado, egressos, empresas e, obviamente, quem forma
esses profissionais têm sido demandados por novas habilidades e competências com
grande frequência.
Uma percepção comum, que, como veremos adiante, é compartilhada com os egressos
dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda e também com profissionais de
destaque no mercado que buscam talentos para contratar, é que, atualmente, há uma
aproximação muito clara entre os trabalhos de jornalistas e publicitários. Por vezes, é
muito difícil compreender a fronteira que separa as atuações dos dois profissionais,
sobretudo quando observamos a comunicação que as marcas procuram fazer hoje.
Durante muitos anos, a separação das áreas, que efetivamente tinham – e ainda têm –
mecanismos muito específicos de desenvolvimento profissional, funcionou para criar
campos relativamente estanques de atuação no mercado de trabalho, amparados por
projetos pedagógicos que seguem a explorar as idiossincrasias de cada uma delas. Hoje,
4
no entanto, o cenário apresenta-se de forma distinta. A partir de uma série de
transformações, das quais destaca-se, talvez, a revolução digital, que traz novas
plataformas e impõe um rearranjo dos modelos de negócio tradicionais, as áreas
convergem em ritmo intenso.
Essa mudança é bastante recente, como veremos no capítulo 1 deste trabalho. Até meados
dos anos 1990, as linhas que separavam a informação da divulgação de marcas era
claramente marcada. Hoje, no entanto, vivemos um cenário em que as marcas tornaram-
se produtoras de conteúdo – jornalístico, inclusive. Algumas, como veremos aqui,
chegam a se tornar referências como prestadoras de informações sobre determinado setor.
Além disso, grandes veículos de comunicação têm aberto espaços cada vez maiores em
suas grades e páginas ao chamado Branded Content, ou conteúdo patrocinado, uma
mistura bastante clara entre Jornalismo e Publicidade, como veremos nos capítulos 1 e 2
deste trabalho.
Outro ponto a ser destacado consiste nas estratégias que devem ser incorporadas ao ensino
superior (em jornalismo, publicidade e propaganda e relações públicas – com destaque
para os dois primeiros, que fazem parte do rol de cursos de graduação oferecidos pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie) para suprir as demandas de uma realidade de
mercado em que a convergência de suportes, entre muitos outros fatores, passa a ser cada
vez mais a regra do ambiente profissional. Esta pesquisa confirma uma percepção:
atualmente, a maioria dos graduados em jornalismo não atua diretamente na grande
imprensa. Assessorias, agências de comunicação, assessorias de comunicação de
empresas e, mais recentemente, agências de publicidade, têm absorvido grande parte
desses profissionais. No caso dos egressos do curso de Jornalismo da UPM, o índice dos
que atuam fora das redações passa de 70%, como veremos no capítulo 4 deste trabalho.
5
Por sua vez, como também veremos nesta pesquisa, publicitários são cada vez mais
demandados em áreas que fogem à chamada publicidade tradicional.
Foi com o objetivo de compreender essas mudanças e os efeitos desse processo para
nossos egressos, bem como as expectativas do mercado em relação a esses profissionais,
que nos unimos para realizar esta pesquisa. Podemos dizer que este enfoque, dentro dos
cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, é inédito no Brasil. Tratamos de um
tema bastante atual e relevante, buscando abordá-lo sob diferentes óticas: a do mercado,
a dos egressos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UPM e a dos
profissionais que contratam esses egressos.
O primeiro (Parte I) é formado por três artigos. Tem foco na mudança nas áreas de
Jornalismo e Publicidade e Propaganda, com destaque para as tendências de hibridização
entre as áreas. Nele, contextualizamos o atual cenário da Comunicação, buscando as
origens das mudanças e explicando os termos mais comuns utilizados pelo mercado para
abordar a mistura de conteúdos jornalísticos e publicitários. Além disso, trazemos
exemplos de produtos que derivam desse hibridismo.
O segundo (Parte II) é formado por cinco capítulos. O foco dessa parte do trabalho está
no impacto dessas mudanças para os profissionais de comunicação. Na primeira parte,
procuramos compreender como os egressos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e
Propaganda da UPM percebem o mercado de trabalho e se, de fato, sentem os efeitos
dessa hibridização entre as áreas. Para isso, foi aplicado um mesmo questionário1 para
ambas as áreas e que foi respondido por centenas de egressos dos cursos aqui apontados.
Além disso, nos artigos seguintes, entrevistamos profissionais experientes do mercado –
tanto de Jornalismo, quanto de Publicidade e Propaganda – buscando compreender o
perfil profissional desejado pelo mercado. Por fim, comentamos os Projetos Pedagógicos
dos Cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UPM, destacando as principais
habilidades e competências oferecidas aos alunos e sua relação com as demandas dentro
do atual cenário da Comunicação.
1
Todas as pesquisas envolvendo questionários e entrevistas foram realizadas apenas após o aval
do Comitê de Ética em Pesquisa da UPM, seguindo estritamente as regras previstas para esse tipo
de investigação.
6
O material ora apresentado pode ser lido em sua íntegra, o que dá ao leitor uma percepção
ampla do atual cenário de hibridização das áreas de comunicação. Além disso, os
capítulos podem ser lidos separadamente, pois foram redigidos em forma de artigos e,
portanto, trazem informações que contextualizam cada abordagem.
7
Parte I
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Capítulo 1
2
Coordenador do Curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana MAckenie. Professor dos cursos de
Jornalismo e Publicidade e Propaganda – Centro de Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
3
Professora do curso de Jornalismo – Centro de Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
4
Aluna do curso de Jornalismo – Centro de Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
5
Aluna do curso de Jornalismo – Centro de Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
9
Da mesma forma, as redações planejavam e executavam suas pautas sem consultar os
responsáveis pela publicidade do veículo. Essa configuração não indicava, obviamente,
apenas o zelo com a ética e com a qualidade da informação, mas ajudava a garantir a
credibilidade do veículo, que, por extensão, funcionava como cartão de visitas para novos
anunciantes – processo no qual o jornalismo se apoia ao menos desde o final do século
XIX, quando surgiram alguns dos grandes conglomerados midiáticos que existem até hoje
(AMARAL, 1996). Na matriz histórica do jornalismo, as empresas responsáveis pela
publicação de jornais e revistas (e, posteriormente, as emissoras de rádio e TV) tentaram,
durante muito tempo, evitar que o conteúdo dos veículos fosse contaminado por interesses
publicitários, justamente para garantir a massa de leitores / ouvintes / espectadores que,
por sua vez, ajudam a garantir o fluxo de verba publicitária necessário à sobrevivência
das empresas jornalísticas.
Mas pode-se dizer que esse cenário de proteção irrestrita dos valores éticos do jornalismo
pertence ao passado. Nas últimas décadas, os anunciantes perceberam, inicialmente na
chamada “velha mídia” (jornais, revistas, TVs e rádios) e logo em seguida nas mídias
digitais, que o potencial para a veiculação de marcas, serviços e produtos ia além dos
espaços tradicionalmente reservados à publicidade. No lugar dos anúncios, várias
empresas passaram a investir nos então chamados informes publicitários, que traziam
informações relevantes e quase sempre escritas ou organizadas a partir de ferramentas
jornalísticas. Declarações entre aspas, textos claros, ênfase em dados factuais, autoria
jornalística e outras marcas discursivas fazem parte desse arsenal.
A despeito de haver, nesse processo, uma simbiose entre o jornalismo e a publicidade que
pode ser extremamente positiva quando é necessário comunicar os valores de uma marca
de forma diferenciada, ao menos dois detalhes dessa operação suscitam questões sobre a
ética jornalística: 1) mesmo quando há uma identificação clara do conteúdo publicitário,
este pode ser mesclado à informação jornalística de forma deliberada, sem que existam
sinais evidentes de diferenciação entre o discurso jornalístico e o material publicitário; 2)
os profissionais responsáveis pela elaboração dos informes publicitários (e de outras
peças que têm como base algum conteúdo relacionado a marcas específicas) são, em
geral, jornalistas – habituados, portanto, à confecção de textos factuais, muitas vezes
indissociáveis de paradigmas caros à profissão, como a imparcialidade, a neutralidade e
a objetividade (AMARAL, 1996).
10
Com o crescimento dos portais de informação e o advento das redes sociais, os informes
publicitários migraram para as novas mídias, apesar de seguirem em franca utilização nos
meios tradicionais. Hoje agrupados sob a alcunha do branded content, que acabou, por
sua vez, incorporado às estratégias de marketing de empresas de todos os portes, os
informes deixaram de ser peças estáticas e passaram a contar com os recursos
audiovisuais e interativos disponíveis na internet – vídeos, áudios, links, enquetes,
interações em redes sociais etc. Essa migração para o ambiente digital trouxe a
necessidade de redefinir as relações entre o conteúdo editorial e o mercado publicitário
(CARLSON, 2015).
Denominações múltiplas
Um dos fatores que tornam complexa a tarefa de investigar esse fenômeno é o seu caráter
interdisciplinar, que agrega saberes e práticas de diferentes áreas. Decorre dessa
característica uma multiplicidade de conceitos que, não raro, convergem para definições
muito semelhantes. Eis alguns:
a) Branded content
11
edição final do material. Atualmente, várias empresas jornalísticas tradicionais têm criado
departamentos especializados na produção de conteúdo de marca.
b) Marketing de conteúdo
De modo similar ao branded content, essa estratégia tem como foco criar um conteúdo
relevante e atraente que possa gerar uma imagem positiva da marca, mas quase sempre
destina-se ao incremento direto de vendas e ao retorno financeiro de um produto ou
serviço. Sua utilização tem uma série de vantagens, como o custo baixo e o alcance mais
significativo. Trata-se de uma estratégia de longo prazo, que tem a capacidade de atingir,
ao longo do tempo, clientes qualificados e consumidores interessados. Segundo dados da
edição 2018 da pesquisa Content Trends, 73% das empresas brasileiras já adotam essa
metodologia na sua estratégia de aquisição de clientes e 61,8% das que ainda não utilizam
pretendem adotá-la em breve (PEÇANHA, 2019).
c) Publicidade nativa
d) Publieditorial
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e) Publicidade encapotada
Bastante utilizado em Portugal, o termo traz uma carga negativa em relação aos aspectos
éticos da aproximação entre o jornalismo e a publicidade. Em geral, ele costuma ser usado
quando há a utilização de branded content ou publieditoriais sem referência direta ao fato
de que o conteúdo é patrocinado por uma empresa, ou quando produções audiovisuais
(como uma telenovela, por exemplo) se valem de uma estratégia também conhecida como
“merchandising”, em que as marcas são inseridas de forma deliberada em um roteiro
(VERÍSSIMO, 2017).
No Festival de Publicidade de Cannes, que concede alguns dos prêmios mais cobiçados
pelos profissionais da área, uma das categorias dos “media lions” é “branded content &
entertainment” (conteúdo de marca e entretenimento), que foi incluída no rol dos prêmios
em 2012. Reconhecida pelo mercado publicitário, a estratégia se disseminou a ponto de
permitir várias possibilidades de definição. De forma bastante resumida, trata-se, como
já apontado anteriormente, de conteúdo produzido a partir de uma vinculação direta a
alguma marca e posteriormente veiculado com o objetivo de gerar engajamento e “recall”
nos receptores. Ao contrário do marketing de conteúdo, que é direcionado geralmente a
uma necessidade direta de influência sobre a decisão de compra dos consumidores (LIEB,
2011), o branded content busca comunicar valores e conceitos relacionados à marca,
gerando apenas em alguns casos específicos um incremento direto de vendas.
A aceitação do mercado, que tem reflexo na inserção em prêmios como o de Cannes, tem
base em evidências sólidas: um estudo realizado em 2016 pelo IPG Media Lab e pela
Forbes com cerca de 4 mil pessoas mostrou que a exposição a determinados tipos de
conteúdo de marcas tradicionais tem a real capacidade de amplificar o interesse pela
mensagem transmitida – em um nível significativamente maior que o de anúncios
tradicionais. Diante do impacto significativo no universo de consumidores, o mercado
publicitário se reorganizou em busca da chamada propaganda ou publicidade nativa, que
rompe a barreira entre os anunciantes e o meio editorial e se coloca como uma das
principais tendências do marketing contemporâneo (SMITH, 2017).
13
Segundo José Roberto Martins, diversos são os fatores que levam o consumidor a adquirir
determinado produto. Ao escolher um serviço para contratar ou um item para comprar,
ele procura por referências que atestem o bom atendimento e que atendam as suas
expectativas. Esse tipo de pré-avaliação pode incluir pesquisas, indicação de terceiros,
reputação da empresa no mercado, serviço de atendimento ao cliente no pós-venda,
experiências anteriores com a marca e outras vertentes que podem ser levadas em
consideração. “O resultado de todo esse processo é a percepção da qualidade do produto
ou serviço e, portanto, de marca” (MARTINS, 2006, p. 156).
Para Mauro Calixta Tavares, o valor de marca reside na mente do consumidor, que
"baseia-se no conhecimento que ele tem da marca, na lembrança de tê-la visto antes e em
seu reconhecimento com suas várias mensagens" (2008, p. 388). É importante salientar
algumas funções que o branded content desempenha, como a de gerar “recall”. Segundo
Márcia Carvalhal e Marcello Chamusca (2011), em um cenário de mercado cada vez mais
concorrido, utilizar novas formas de divulgação que façam o consumidor lembrar mais
vezes da marca pode ser fator decisivo na conquista de determinado público-alvo.
Compreende-se por recall a memória que o consumidor tem de uma marca a partir de um
anúncio ou propaganda a que ele já teve acesso anteriormente e que foi relacionado
inconscientemente ou conscientemente com determinado assunto, posicionamento ou
situação. De acordo com os autores, em razão do advento tecnológico e digital, se tornou
muito mais fácil chegar até o consumidor, mas muito mais difícil conquistá-lo, devido à
pluralidade de opções ofertadas e ampliação da concorrência. Assim, criar lembrança de
marca e ter um maior engajamento com o cliente pode ajudar a empresa a se destacar no
mercado e, consequentemente, conseguir novos consumidores e/ou fidelizar os antigos.
14
Para isso, algumas companhias apostam na construção de “brand awareness” (consciência
ou notoriedade de marca) por meio de seus projetos de branded content. O termo se refere
à “capacidade de os consumidores recuperarem a marca em sua memória corretamente”
e serve “para quantificar como os consumidores identificam a marca em condições
diversas” (GÖRLICH, 2015, online).
15
pela mídia tradicional. Além disso, essas novas possibilidades trazem oportunidades
diretas de trabalho para jornalistas, que são profissionais mais habituados à produção de
conteúdo em todas as etapas do processo: concepção da pauta, apuração e pesquisa,
redação e edição final do material a ser apresentado ao cliente e posteriormente veiculado.
Por fim, o “branded content” abre a possibilidade do trabalho criativo e cuidadoso com
as marcas, o que é relevante se considerarmos a fragmentação cada vez maior da
exposição nas novas mídias, especialmente nas redes sociais.
A partir das páginas no Facebook do Estúdio ABC, do Estúdio Folha e do Estúdio Globo,
notamos que as três empresas inauguraram a presença de suas novas unidades em 2015,
com alguns meses de diferença, em um indício de que a concorrência já se mostrava
acirrada – e o mercado, aquecido – naquele período específico. Sobre a Folha de S. Paulo,
um texto publicado no jornal ajuda a compreender o contexto da criação do estúdio
voltado à produção de conteúdo patrocinado. Em 7 de outubro de 2015, a iniciativa foi
apresentada da seguinte forma:
6
<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/10/1691039-folha-cria-nucleo-de-conteudo-
patrocinado.shtml>. Acesso em 20/1/2020.
16
Mais adiante, um executivo do jornal se posiciona a respeito das questões éticas
relacionadas à criação da nova unidade:
Depreende-se dos trechos citados que, apesar de haver, por parte da direção do jornal, o
desejo de ocupar um nicho que já existia em 2015 e continua existindo nos tempos atuais,
os valores da publicação, ao menos no discurso oficial publicado quando da criação do
Estúdio Folha, devem ser seguidos para que a credibilidade do veículo não seja
questionada. É um equilíbrio delicado: se, por um lado, não se pode fechar os olhos às
demandas do mercado, o pacto de confiança com os leitores construído ao longo de muitas
décadas de história do jornal precisa ser mantido. Do contrário, não apenas a iniciativa de
aderir ao “branded content” pode naufragar, mas o conteúdo essencialmente jornalístico
da publicação talvez seja ameaçado pela, por assim dizer, promiscuidade entre a “igreja”
e o “estado”, na metáfora recorrente sobre a necessária e já citada separação entre os
departamentos de jornalismo e de publicidade nas redações, de forma geral.
Essa parece ser uma preocupação dos veículos, conforme mostra a 21ª edição do Manual
de Redação da Folha de S. Paulo (2018). Nela, o tema é tratado diretamente em três
verbetes: “Estúdio Folha” (p. 31), “Conteúdo Patrocinado” (p. 87) e “Informe
Publicitário” (p. 103). Em todos os casos, o Manual reforça que trata-se de conteúdo
publicitário, produzido por jornalistas fora da redação e que deve ser claramente
diferenciado do conteúdo editorial do jornal.
No entanto, na prática, manter essa separação parece não ser tão fácil. Em palestra
realizada na Universidade Presbiteriana Mackenzie em março de 2018, um editor de alta
patente do jornal Folha de S. Paulo (cuja identidade não divulgamos para que sua
integridade profissional seja preservada) foi questionado sobre uma eventual preocupação
da empresa com a credibilidade do conteúdo jornalístico diante do crescimento do
branded content. Em seu depoimento, ele assumiu que existe, sim, um grande incômodo
17
com essa questão. Mas não escondeu que o conteúdo patrocinado traz receitas
significativas ao veículo. E que essa talvez seja uma das formas de sobreviver ao cenário
atual de crise econômica generalizada no país, de fuga de assinantes, de queda nas vendas
e de pulverização das verbas publicitárias.
Aberto o caminho, percebe-se, a partir dos registros nas redes sociais dos três grupos
midiáticos (jornal Folha de S. Paulo, Editora Globo e Editora Abril), uma conquista
diversificada de clientes, com iniciativas que vão desde conteúdos gerados apenas para
veiculação em mídia tradicional até campanhas completas com inserção em múltiplos
suportes, inclusive no próprio Facebook, a partir de publicações pagas, o que mostra a
complexidade das demandas dos contratantes. Do ponto de vista jornalístico, uma questão
sobressai para além das oportunidades de negócio: a intersecção entre os discursos de
ambos os campos: publicidade e jornalismo.
Por fim, é óbvia a relação entre o interesse das empresas pelo branded content e a maior
credibilidade que esse tipo de conteúdo passa quando comparado à publicidade
7
<http://propmark.com.br/mercado/credibilidade-faz-crescer-interesse-das-marcas-pelos-content-
studios>. Acesso em 20 de janeiro de 2020.
18
tradicional. Isso acontece, em grande parte, em razão da própria credibilidade conquistada
pelo jornalismo – e pelos veículos jornalísticos tradicionais – ao longo da sua existência.
Referências bibliográficas
BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Cia. das Letras, 2003.
CARLSON, Matt. When news sites go native: Redefining the advertising-editorial divide
in response to native advertising. Journalism 16(7): 849-865. 2015.
FOLHA DE S. PAULO. Manual de Redação. 21ª edição. São Paulo: Publifolha, 2018.
IPG Media Lab. Storytelling: the current state of branded content. Disponível em
<https://www.ipglab.com/wp-content/uploads/2016/09/IPG-Lab-Forbes-Storytelling-
The-Current-State-of-Branded-Content-Deck.pdf>. Acesso: 20/1/2020
LIEB, Rebecca. Content Marketing: Think Like a Publisher - How to Use Content to
Market Online and in Social Media. Indianapolis: Que, 2011.
MARTINS, José Roberto. Branding: um manual para você criar, gerenciar e avaliar
marcas. São Paulo: Global Brands, 2006.
MOTTA, Gabriel. Como Branded Content pode ajudar a sua empresa a educar clientes
e vender mais (2013). Disponívem em: <http://www.ingage.com.br/post/como-branded-
content-pode-ajudar-sua-empresa-aeducar-clientes-e-vender-mais/>. Acesso:
20/01/2020.
19
PEÇANHA, VITOR. Marketing de conteúdo: Tudo que você precisa saber para se
tornar um especialista no assunto. (2019). Disponível
em:<https://rockcontent.com/blog/marketing-de-conteudo/>. Acesso: 20/1/2020
SMITH, Mark. The native advertising advantage. New York: McGraw Hill Education,
2017.
TURLÃO, Felipe. Credibilidade faz crescer interesse das marcas pelos content studios.
PropMark, 16 de abril de 2018. Disponível em:
<http://propmark.com.br/mercado/credibilidade-faz-crescer-interesse-das-marcas-pelos-
content-studios>. Acesso: 20/01/2020.
WALTERS, Tim, ROSE, Robert. Is native advertising the new black? Content
Marketing Institute, 2015. Disponível em: <https://contentmarketinginstitute.com/wp-
content/uploads/2016/02/AdvanceOHIO_Whitepaper.pdf>. Acesso: 20/01/2020.
20
Capítulo 2
Com circulação total de aproximadamente 126 mil exemplares (impresso e digital), mais
de 5,7 milhões de “unique visitors” e mais de 2,5 milhões de “page views” em seu site
(PUBLIABRIL, online)12, a revista Quatro Rodas, veículo que é referência na produção
de conteúdo sobre o mercado automotivo no Brasil, publicou, em novembro de 2016, um
conteúdo especial patrocinado pela montadora Renault13. Com o objetivo aparente de
realizar um teste o modelo Sandero R.S., o material publicitário traz, já em seu crédito de
autoria, a identidade da unidade que o produziu: “Por Rodrigo França para o Estúdio ABC
com fotos de Renato Pizzutto”. Mas além desse indicador e do discreto selo “Apresentado
por Renault – Passion for Life” antes do texto, não há, na abertura, qualquer menção
direta ao fato de que o material configura um texto publicitário.
Mais adiante, sobressai uma marca jornalística. Com o intuito de caracterizar o carro
citado como um modelo “esportivo”, a revista lança mão de um recurso muito utilizado
em suas reportagens tradicionais: a certificação do conteúdo por especialistas.
8
Coordenador do curso de Jornalismo da UPM. Professor do curso de Jornalismo – Centro de
Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana Mackenzie.
9
Aluna do curso de Jornalismo – Centro de Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
10
Professora do curso de Jornalismo – Centro de Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
11
Aluna do curso de Jornalismo – Centro de Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
12
Todos os dados relativos à circulação e ao público-alvo das publicações da Editora Abril indicados
neste trabalho foram retirados do site <http://publiabril.abril.com.br>. Acessos em 16 de fevereiro de
2020.
13
Disponível em < https://quatrorodas.abril.com.br/noticias/o-renault-sandero-r-s-e-mesmo-um-carro-
esportivo/>. Acesso em 16 de fevereiro de 2020
21
Convidados a testar o veículo, uma dupla de pilotos profissionais atesta o caráter
esportivo do modelo. E o autor do especial coroa o veredito com a seguinte afirmação:
Mais adiante, declarações entre aspas dos pilotos coroam as impressões relatadas no texto:
“‘Pelo preço de R$ 58.880, não há um conjunto com esta potência e que seja tão divertido
de guiar’, diz Tarso, com a concordância do colega” (QUATRO RODAS, online). Outro
conteúdo em destaque no especial é um vídeo de 4 minutos e 41 segundos, também
disponível no site da revista, em que os pilotos mostram como o teste foi realizado. Outro
elemento chama a atenção nos vídeos: além de Pizzonia e Marques, Antonio Tabet
(publicitário e humorista) e Felipe Andreoli (apresentador e humorista) integram as
equipes de pilotagem.
No final do texto, surge outra pista de que o conteúdo não foi produzido nos mesmos
moldes das matérias publicadas na revista. Na última frase, o especial publicitário convida
o leitor a acessar um material complementar no site da fabricante:
14
No site indicado, o trecho “acesse o site da Renault” remete ao hiperlink
<https://www.renault.com.br/universo-renault/campanhas/sandero-rs-race.html>, cujo conteúdo
aparentemente foi removido do site da fabricante e não estava disponível para visualização em 16 de
fevereiro de 2020, quando da finalização deste artigo.
22
na aquisição imediata do carro em questão, mas ajuda a construir uma imagem positiva
sobre o modelo apresentado e, em um efeito colateral positivo, aumenta o “recall” sobre
a própria montadora. E a solução encontrada ultrapassa as fronteiras de um anúncio ao
buscar pontos de contato com o discurso jornalístico, que tem, entre outros elementos, a
credibilidade como um de seus principais trunfos.
Por outro lado, ao fornecer subsídios para que uma marca (a Renault) direcione um
conteúdo específico a um público seleto de leitores (da revista impressa e do site da
publicação), o jornalismo se tensiona em seus limites éticos. O uso de aspas, a validação
da informação por fontes supostamente confiáveis, a estrutura textual essencialmente
jornalística e a ausência de indicadores explícitos e inquestionáveis do caráter publicitário
do conteúdo são alguns fatores que precisam ser discutidos com o cuidado que o tema
exige, nesse e em muitos outros exemplos de estratégias de “branded content”.
23
no impresso e no digital (dados de outubro de 2019) e público majoritariamente feminino,
o “branded content” tem como título “Brasileiras que mudaram a ciência”15. Trata-se de
uma compilação de perfis de cinco mulheres que se destacaram em suas áreas de pesquisa,
algumas das quais com reconhecida carreira internacional. Não há, no texto, nenhuma
referência, direta ou indireta, à empresa patrocinadora do estudo, que é citada apenas no
canto esquerdo da primeira página do informe publicitário, que traz os dizeres
“Apresentado por PETROBRAS”.
Nas revistas Exame (126 mil de exemplares de circulação total de janeiro a novembro de
2018)16 e Você S/A (38,5 mil em outubro de 2019, de acordo com dados do site
PubliAbril, já mencionado), o foco da campanha17 são as novas estratégias de governança
corporativa da Petrobras, focadas essencialmente na redução de riscos empresariais
relacionados à corrupção. Como as publicações têm leitores diretamente relacionados ao
ambiente corporativo, a temática do informe publicitário gira em torno de conceitos de
gestão, liderança e compartilhamento de decisões. Como se vê, o objetivo parece ser
causar algum impacto direto nos leitores (e naqueles que, de alguma forma, são
influenciados pelos leitores) quanto às medidas que a empresa vem tomando para se
distanciar do noticiário sobre corrupção no Brasil.
Na revista Mundo Estranho (86 mil exemplares de circulação total em maio de 2018,
atualmente descontinuada), que era voltada ao público jovem, o tema do informe
publicitário18 se assemelha ao da revista Claudia e apresenta a trajetória de nove
cientistas, homens e mulheres, que se destacaram em suas áreas do conhecimento. Um
detalhe a ser ressaltado é a presença de nomes ligados diretamente à Petrobras, como o
do engenheiro Paulo Tibana, cujos trabalhos na área de geologia foram usados no
desenvolvimento de tecnologias de exploração de petróleo nas regiões em que a empresa
atua.
15
< https://claudia.abril.com.br/carreira/brasileiras-que-mudaram-a-ciencia/>. Acesso em 16 de fevereiro
de 2020.
16
< https://www.meioemensagem.com.br/home/midia/2019/03/11/revistas-semanais-recuperam-
audiencia-no-digital.html>. Acesso em 16 de fevereiro de 2020
17
< https://exame.abril.com.br/carreira/novos-tempos-praticas-modernas/> e <
https://exame.abril.com.br/negocios/os-efeitos-de-uma-boa-governanca/>. Acesso em 16 de fevereiro de
2020.
18
<https://mundoestranho.abril.com.br/curiosidades/a-jornada-em-busca-do-conhecimento/>. Acesso em
26 de fevereiro de 2020.
24
considerarmos o perfil dos leitores. Voltada à divulgação de temas científicos e de
interesse geral, a publicação19 patrocinada pela Petrobras serviu para a veiculação de um
informe publicitário sobre tecnologias que transformaram a humanidade, como a roda, a
prensa de tipos móveis, o motor de quatro tempos (talvez o único ponto de aderência com
a área de atuação da petrolífera brasileira) e a internet, entre outras.
Pode-se perceber, a partir dos exemplos citados, que a empresa utilizou o “branded
content” em publicações da Editora Abril como uma de suas estratégias de gerenciamento
de crise. Ao buscar leitores de revistas com segmentação em nichos muito específicos, o
objetivo parece ser o fortalecimento da imagem positiva da Petrobras. A questão ética a
ser levantada, assim como no caso do material produzido para a revista Quatro Rodas por
encomenda da montadora Renault, é a inserção de conteúdo adequado de forma bastante
evidente ao perfil de cada veículo (e dos leitores de cada veículo) sem que haja uma
identificação clara e inequívoca de que se trata de conteúdo patrocinado – em todas as
publicações, há apenas dois elementos no topo da página com os dizeres “Apresentado
por Petrobras” e “Produzido por Abril Branded Content”. Além disso, o recurso da
indicação de autoria nominal dos textos, que só não é utilizado no material produzido
para as revistas Exame e Você S/A, também indica ao leitor que aquele conteúdo pode,
sim, ser interpretado como uma produção essencialmente jornalística, gerando um ruído
de leitura significativo.
O Media Lab, estúdio de branded content do jornal “O Estado de S. Paulo”, além de usar
o jornal impresso, se vale da plataforma online para veicular conteúdo, explorando
também produções em formato audiovisual. Em busca de aprimorar sua inserção no
mercado, a empresa se vale de alguns números significativos:
19
<https://super.abril.com.br/ciencia/a-incrivel-jornada-em-busca-do-conhecimento/>. Acesso em 26 de
fevereiro de 2020.
25
Além disso, 70% dos consumidores preferem conhecer empresas e
marcas a partir de conteúdo.20
With so much of Gen Z’s social life centered around the digital domain,
significant percentages prefer socializing online than in real life. More
than half say it’s easier to chat digitally, or more convenient. (JWT
Intelligence, 2012, online)22
20
<http://patrocinados.estadao.com.br/medialab/o-que-fazemos/>. Acesso em 16 de fevereiro de 2020.
21
< https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,media-lab-estadao-chega-ao-mercado,70001671807>.
Acesso em 16 de fevereiro de 2020.
22
“Com uma parte significativa da vida social da Geração Z centrada no domínio digital, porcentagens
significativas preferem socializar na internet a fazê-lo na vida real. Mais de metade afirma que é mais
fácil ou mais conveniente conversar digitalmente” (tradução livre).
26
Para que o público dessa geração consuma a propaganda voluntariamente e seja receptivo
a ela, é necessário que a empresa ou o comercial em si representem algo de interesse para
o indivíduo. O laboratório de pesquisa brasileiro Consumoteca Lab conduziu, em 2017,
uma pesquisa com três mil jovens entre 17 e 21 anos espalhados pelo país, para tentar
mapear seus comportamento e opiniões. Um dos resultados foi o engajamento com as
causas sociais. De acordo com o estudo, 46% dos entrevistados leva isso em conta na hora
de consumir alguma marca. (2017, online). E esse é apenas um exemplo entre as muitas
possibilidades de aproximação com as novas gerações consumidoras de informação.
Como analisado por Jonas Gonçalves Silva, o Estadão é um exemplo dessa tentativa de
se aproximar do público jovem, sendo ele mesmo denominado, pelo autor, como uma
“Redação Analógica Digital (RAD)”, com diferentes plataformas de mídia em um mesmo
espaço. Essa estratégia multiplataforma acaba sendo catalisadora de novos processos
produtivos, potencializando o alcance das mídias.
Ainda sobre o Media Lab, ao observar produções feitas para as empresas Netflix e Porto
Seguro, é notável a forte presença de conteúdo jornalístico-publicitário. Em uma parceria
com dois dos maiores jornais do Brasil, a Netflix patrocinou capas de branded content
nas versões impressas de “O Estado de S. Paulo” e da “Folha de S. Paulo”. O objetivo foi
divulgar a segunda temporada da série “Narcos”, que traz narrativas sobre alguns dos
narcotraficantes mais conhecidos do mundo, como o colombiano Pablo Escobar. No
Estadão, a capa fictícia da ação promocional trazia, como manchete principal, o texto
“Chefão do narcotráfico colombiano foge da cadeia” (2018, online).
A Porto Seguro é outro exemplo relevante. No mesmo ano de 2018, o Media Lab publicou
uma série de branded content com o mote “Viva o hoje, o amanhã é com a gente”. O
conteúdo, publicado nos canais digitais e nas edições impressas do jornal, trazia material
informativo sobre seguros de vida, planos de previdência e investimentos em geral. O site
especial da ação23 apresentava uma série de textos de fácil entendimento sobre esses e
outros tópicos, sempre com a marca da empresa patrocinadora.
23
< http://patrocinados.estadao.com.br/portoseguro/>. Acesso em 16 de fevereiro de 2020.
27
Produções no exterior
Fora do Brasil, um dos exemplos que mais se destacam é o “T Brand Studio”, do jornal
norte-americano “The New York Times”. O estúdio, fundado em 2014, tem escritórios
em Nova York e em Londres. Constituído por jornalistas, produtores de vídeo,
estrategistas e especialistas em mídias sociais, o grupo já desenvolveu mais de 100
campanhas para mais de 50 marcas diferentes. Uma das mais notórias foi a parceria com
a série de ficção “Orange Is The New Black”, veiculada na Netflix e baseada no livro
“Orange Is the New Black: My Year in a Women’s Prison”, de Piper Kerman (2010).
Abaixo do logotipo do jornal, no topo da página, há uma linha em que está escrito “paid
post” (“postagem paga”) e a marca da empresa Netflix, plataforma de streaming da série.
Mas essas informações podem facilmente passar despercebidas caso não haja uma maior
atenção por parte dos leitores.
Na segunda parte do texto, há uma menção direta à série, relatando que em um “op-ed”
(abreviatura de “opposite editorial page”, ou “página editorial oposta”, que remete à
página de um jornal impresso que traz opiniões de colunistas ou comentaristas) de agosto
de 2013 do próprio jornal, a autora do livro que inspirou a série chama a distância das
mulheres presas e suas famílias de “uma segunda sentença”, dando gancho para que se
inicie uma discussão sobre os relacionamentos fora e dentro dos muros da prisão. Embora
24
< https://www.nytimes.com/paidpost/netflix/women-inmates-separate-but-not-equal.html>. Acesso
em 26 de fevereiro de 2020.
28
o jornal não diga diretamente para os leitores assistirem à série, o texto aborda
profundamente a questão das mulheres nas penitenciárias norte-americanas.
A matéria pode ser interpretada mais como um anúncio publicitário do que como algo
realmente jornalístico, já que propósito está claro e o patrocínio, indicado. Não obstante,
trata-se de um material com alta densidade informativa, já que traz uma reflexão acerca
do modelo penitenciário feminino. Quando são afastadas de suas famílias e amigos, as
mulheres acabam perdendo um pouco de sua identidade, já que ao adentrar os muros da
prisão, cada uma possui um código pelo qual será identificada. Além disso, o texto
informa que suas vestimentas não são adequadas para o corpo feminino e os produtos de
higiene básica não diferem tipo de pele ou cabelo. Muitas sentem falta dos cuidados
pessoais que tinham antes de entrarem nas celas. Além disso, muitas penitenciárias não
têm instalações adaptadas para as mulheres, fazendo com que suas experiências piorem
ainda mais.
O artigo, além de tratar das questões dentro da penitenciária, relata as dificuldades que as
mulheres enfrentam ao serem liberadas, tanto em relação à visão de terceiros quanto em
relação à procura de trabalhos, que é muito mais difícil para ex-presidiárias. Com tantas
informações, o leitor acaba absorvendo o fato de que há um programa no Netflix que
retrata a vida árdua das mulheres dentro dos muros de uma prisão. No jornal “The New
Yok Times”, em “O Estado de S. Paulo”, na “Folha de S. Paulo” ou nas revistas da Editora
Abril, o que se percebe é a tendência, cada vez maior, de mesclar informações
publicitárias ao conteúdo jornalístico.
Referências bibliográficas
29
SILVA, Jonas Gonçalves. Reorganização de redações no Brasil: análise dos processos
de produção do Estadão e HuffPost. São Paulo, 2018. [103 f.]. Dissertação (Programa
de Mestrado Profissional, Produção Jornalística e Mercado) - Escola Superior de
Propaganda e Marketing. Acesso em: 26/02/2020.
PALLEY, Will. Gen Z: Digital in their DNA. JWT Intelligence, abril de 2012. Disponível
em: <www.jwtintelligence.com/2012/04/april-trend-report-examines-the-digital-world-
of-gen-z/>. Acesso: 16 de fevereiro de 2020.
30
Capítulo 3
Daniel De Thomaz25
Introdução
25
Professor dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda – Centro de Comunicação e Letras –
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
31
lideradas pelas redes sociais. Essas mudanças tecnológicas e culturais não extinguiram
suas antecessoras. Pelo contrário, ambas conseguem coexistir pacificamente, porém em
novas relações onde, agora, imperam conteúdos e plataformas mediados por um agente
que até então sempre fora passivo: o público.
De uma massa humana sem nome e rosto, dividida em faixas etárias, em minutos e
segundos cujos valores chegavam a ser astronômicos, o indivíduo comum se emancipou
e ganhou autonomia em suas escolhas. O modelo tradicional de compra e venda de
produtos já não é suficiente para essa nova personalidade midiática. Ela mesma faz sua
grade de programação e a acompanha ubiquamente, quando, onde e na plataforma que
lhe for mais conveniente. Além disso, as pessoas querem fazer parte da comunidade da
marca, de forma efetiva. Ou seja, aquele indivíduo passivo dos anos 1980 agora escolhe
as histórias com as quais se identifica. E esse poder não se restringe apenas à escolha em
si dos conteúdos e produtos com os quais pretende interagir de forma ativa. O público
também produz seus próprios conteúdos em seus dispositivos pessoais e os veicula em
seus canais, exercendo uma influência jamais vista, muitas vezes com milhares ou mesmo
milhões de seguidores.
26
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=WHO31WxVwCE&t=2s e acessado em 10 de
janeiro de 2020.
32
reflexão sobre diversos aspectos pertencentes à interface entre o Jornalismo e a
Publicidade. O estudo sobre esse conteúdo de marca poderá permitir a reflexão sobre a
fusão entre as profissões, a nova natureza dos conteúdos híbridos nascidos desse processo
e alguns dos resultados obtidos pela intensa participação de público ao longo da
campanha. Nos interessa, sobretudo, identificar aspectos específicos do conteúdo
audiovisual. Nele, poderemos compreender como estratégias narrativas historicamente
desenvolvidas em audiovisuais nativos do cinema-documentário e do jornalismo estão
sendo apropriadas pelas marcas para atribuir verossimilhança, credibilidade e
preocupação com a informação de utilidade pública como, por exemplo, o discurso da
mobilidade sustentável nos grandes centros urbanos. Essas metas, antes perseguidas por
produtores independentes, cineastas e empresas jornalísticas, hoje fazem parte de um
amplo cardápio estratégico de marketing de conteúdo de grandes empresas e indústrias.
No caso aqui exemplificado, uma instituição bancária, cujo protagonismo no uso da
bicicleta está entre seus objetivos institucionais.
34
sobre as informações veiculadas pelos meios de comunicação tradicionais como
noticiários, na zona de transação do enunciado proposto, o público não discute nem
questiona, simplesmente aceita. Conforme assevera (2015, p. 54), essa posição de
apagamento do sujeito e de aparente neutralidade do engajamento produz efeito de
objetivação e autenticação. Dessa forma, o sujeito que mostra traz uma informação como
se a verdade não pertencesse a ele e só dependesse de si mesma. Como veremos nos
conteúdos de branded content, o apagamento do sujeito, no caso, uma marca ou um
produto, também é desejado para cumprir esse já tão incorporado efeito do real sobre o
público.
Em meio a tais contrastes, as agências de publicidade passam a criar suas campanhas cada
vez mais atentas a como as empresas se comunicam com seus consumidores. A partir
dessa observação, surge, no mercado de comunicação, a necessidade de seus profissionais
reverem não só o modelo, mas principalmente como deve ser construído o conteúdo de
sua criação. Mais do que escolher comprar um determinado produto, os consumidores
querem se relacionar e se conectar emocionalmente com as marcas. Esperam que elas
lhes tragam histórias inspiradoras e que possam viver uma experiência completa de
interação e colaboração. Por isso,
35
identificação e conexão imediatas. Nessa onda, surge o conceito de transmedia
storytelling, ou seja, contar boas histórias de marcas e distribuí-las nas plataformas mais
adequadas. Esse novo desafio está colocado aos profissionais e empresas que passam a
aprender a manusear estratégias que permitam que áreas como cinema, teatro e literatura
desenvolvam suas narrativas com eficiência. Esses novos construtos precisam dialogar
com seu modelo de atuação, essência e valores. Essa estratégia nasce da necessidade de
capturar a atenção da audiência, cada vez mais pulverizada. É o marketing de conteúdo,
cuja abordagem ultrapassa as simples características dos produtos e serviços para permitir
uma
36
Diversas iniciativas surgem. Os estúdios de produção de conteúdo nascem dentro das
próprias empresas jornalísticas e começam a dialogar com o mercado. Esses conteúdos
demandam profundidade de pesquisa, organização das informações em formato de
reportagem ou notícia e também qualidade apurada do texto final. Esse conteúdo
“premium” começa a se consolidar no mercado, conquistando novas audiências. Os
publieditoriais não podem ser confundidos com as matérias. As reportagens seguem
sendo produzidas pelos departamentos de jornalismo, garantidores da liberdade e
independência editorial. Porém, como mencionamos acima, continuam tendo a função de
anúncios qualificados, mas que, por meio da linguagem e formato criam um elo de
confiança e credibilidade com a marca.
Foi exatamente esse o tipo de conteúdo escolhido pelo Itaú Unibanco e pela produtora
Vice Brasil para auxiliar na divulgação do documentário Ciclos. Além da reportagem
sobre seu lançamento, com entrevistas com o diretor Alexandre Charro, a página
disponibiliza outras reportagens e infográficos sobre a malha cicloviária da cidade, os
aplicativos de intermodalidade e até mesmo um infográfico com dicas do grupo
cicloativista Bike Anjo de como andar de bicicleta na cidade27. A estratégia é clara. A
partir do momento em que o visitante acessou e leu a informação, e viu valor nela, ele
passa a reconhecer o esforço da marca e, consciente ou inconscientemente, cria para si
um sistema de recompensa. Dessa forma, o consumidor passa a estar no centro das ações,
num processo de “presença ativa” em meio às marcas. No caso exemplificado, podemos
notar a repercussão da participação ativa do público em diversas outras ações do banco,
que promovem o cicloativismo, desenvolvendo assim o conceito de comunidade de
marca.
27
http://estudio.folha.uol.com.br/projetociclos/. Acessado em 10 e janeiro de 2020.
28
https://www.facebook.com/bikesampa. Acessado em 10 de janeiro de 2020.
37
conteúdos em vídeo disponibilizados no Youtube como tutoriais29 e histórias de vida.
Aliás, é importante lembrar que o banco foi responsável pelo primeiro sistema de
compartilhamento de bicicletas na cidade de São Paulo, o Bike Sampa30, uma parceria
entre a iniciativa privada e a Prefeitura de São Paulo lançada em 2012 que hoje
disponibiliza 2.600 bicicletas distribuídas em 260 estações na cidade de São Paulo, com
milhares de usuários cadastrados. Essa intensa participação do público fez o projeto se
expandir para 14 capitais brasileiras e uma capital estrangeira, Santiago do Chile. O
resultado aponta para um forte engajamento na causa da mobilidade sustentável e da
qualidade de vida nos grandes centros urbanos. Mais uma vez, a estratégia de
comunicação centrada nas necessidades do consumidor garante os resultados. Como
assevera Jenkins (2006, p. 67), nos dias de hoje, os consumidores de marca se
movimentam on-line, conseguem sustentar as conexões sociais por longos períodos e,
assim, podem intensificar o papel que a comunidade desempenha em suas decisões de
compra, aumentam o número de consumidores potenciais que interagem com a
comunidade e ajudam a levar consumidores casuais a um envolvimento mais intenso com
o produto. Na outra ponta, a marca passa a ser responsável pela “experiência receptiva”
que pode proporcionar ao consumidor (GABRIEL, 2010, p. 76).
Iniciativas como essa colocam juntos, em uma mesma missão, jornalistas especializados
em produzir conteúdos pesquisados com apuração, sob uma lógica narrativa, e
publicitários com suas práticas e seus conhecimentos em marketing e vendas. Desse
encontro, nasce a perspectiva de criação de novos caminhos para a comunicação, entre
eles, o promissor branded content.
Primo dos formatos da propaganda, esse tipo de conteúdo tem por missão dialogar com
temas contemporâneos e causas sociais, além de apresentar um forte teor emocional. Sua
elaboração exige alta capacidade criativa e de inovação, possibilitando, assim, a produção
de narrativas que geram a motivação e o engajamento de seus públicos. É, portanto, uma
estratégia com qual as marcas conseguem se pronunciar, construir um discurso
ideológico, afirmando sua visão de mundo com base na criação de uma mensagem
genuína, que a diferencia dos concorrentes e permite a construção de sua identidade. O
caso aqui estudado envolve diretamente o branded content denominado “Ciclos”. Mas
29
https://www.youtube.com/watch?v=ka3GjKAKj0g. Acessado em 10 de janeiro de 2020.
30
<https://www.itau.com.br/imprensa/releases/bike-sampa-inicia-atividades-em-cinco-novas-estacoes-
neste-sabado.html>. Acesso em 11 de janeiro de 2020.
38
não se esgota somente no documentário. Outras ações são desenvolvidas para que não se
restrinjam a um único momento. O objetivo é estimular uma cultura da participação,
desenvolvendo constantes convites de participação do público31. Mesmo com alto retorno
comercial32, o branded content não se concentra apenas em objetivos comerciais, mas no
enriquecimento da imagem da marca em relação aos seus públicos e à sociedade. Assim,
A estratégia parece surtir efeitos. Segundo uma pesquisa feita pela Nielsen (2016), os
consumidores lembram mais das marcas que geram conteúdos próprios do que das marcas
que fazem anúncios tradicionais. Esse estudo foi feito com a mesma empresa em dois
contextos diferentes: ela teve um retorno de 86% quando compartilhou conteúdo próprio
e de 65% com uma propaganda tradicional. Outros indicadores como afinidade, intenção
de compra e recomendação seguiram a mesma tendência.
31
O banco Itaú Unibanco mantém um canal no Youtube em que, a partir de setembro de 2019, o público
pode acessar vídeos sobre experiências de ciclistas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Consistem
em entrevistas onde pessoas comuns contam suas experiências ciclísticas nessas cidades a jornalistas
cicloativistas como Renata Falzoni. A web série tem o sugestivo nome de Diários da Bicicleta, referência
clara ao filme Diários da Motocicleta (2004), de Walter Salles (membro da família proprietária do banco)
e está disponível em <www.youtube.com/watch?v=1he2uX3RVjs>. Acesso em 10 de janeiro de 2020.
32
Um estudo realizado pela Business Insider (DEARO, 2017), um dos maiores canais de notícias de
negócios web, mostra que a projeção de faturamento com branded content nos Estados Unidos, pulou de
US$ 8 bilhões, em 2015, para US$ 21 bilhões, em 2018. (BORTOLETO, 2020).
39
buscam conteúdos que não passam na TV em vídeos da internet. Identificados os
conteúdos de maior acesso, a pesquisa constatou também que a audiência se concentrava
em vídeos que contavam histórias interessantes. E na construção dessa narrativa, o
recurso de storytelling é uma ferramenta essencial. Afinal, essa estratégia permite que as
marcas conheçam ou revisitem suas crenças e valores e saibam contar suas próprias
histórias. Por fim, essas narrativas precisam gerar significado e conexão com a audiência.
O branded content vem se firmando na mídia brasileira. Como dito, os grandes veículos
já montaram suas áreas para comercialização de conteúdos editoriais sob encomenda de
empresas. Mas o que vem mudando é a forma como são apresentados. Tradicionalmente,
os informes publicitários e os publieditoriais são veiculados de forma a distingui-los do
restante do material jornalístico, delimitando o território da publicidade e do marketing.
A barreira foi rompida, ainda que haja certo pudor. No caso em questão, a empresa Vice
Brasil foi quem criou e desenvolveu o conteúdo a pedido do Banco Itaú Unibanco, ao
longo do ano de 2016. O conteúdo menciona discretamente a marca Itaú Unibanco na
abertura, apenas com seu logo. O curta-documentário de 29 minutos e 37 segundos
estreou inicialmente nas salas de cinema Itaú Unibanco, na cidade de São Paulo, e a partir
de janeiro de 2017 foi veiculado em diversos canais da internet, conforme informado ao
longo desse artigo. A Vice Brasil, inaugurada em 2009, é filial da matriz norte-americana
e tem o objetivo de produzir conteúdo jornalístico e revestir parte dele de produto
comercial à disposição das marcas (MURAKI, 2016).
No Brasil, a Vice tem realizado projetos com marcas que querem falar com a geração
millenial (também conhecida como geração Y ou geração da internet, nascidos após o
início da década de 1980 até 1995), como Nike, Skol, Ray-Ban e Smirnoff. São ações que
envolvem a cobertura jornalística de eventos, cujas reportagens trazem a informação
explícita sobre o patrocínio, ou a produção de vídeos para exibição no site ou apenas nos
canais próprios das empresas. O veículo se tornou assim uma agência de criação de
marketing e, para isso, conta com seu conhecimento do que querem os millenials, de sua
linguagem e de seus hábitos de consumo (MURAKI, 2016). O tom da produção da Vice
Brasil acompanha a matriz, ou seja, é centrado em abordagens envolventes, de forte apelo
emocional, como alerta a jornalista: “O leitor é enganado, mas se não prestar muita
atenção, leva gato por lebre, sem nenhuma conotação pejorativa nessa comparação”.
(MURAKI, 2016).
40
A Vice Brasil tem uma parceria com a Folha de S. Paulo desde 2015 para a produção de
reportagens em conjunto, o que justifica a página de lançamento do projeto Ciclos
anteriormente mencionada nesse artigo. Esse tipo de produção, que segue o formato
editorial, possibilita que a marca dê seu primeiro passo para a construção da confiança e
da gratidão de sua audiência, sentimentos que são a base para um relacionamento de longo
prazo, que não esteja pautado na venda imediata para alguém que nunca mais vai voltar
a procurá-la. É uma ação de forte interação e engajamento do público. Um conteúdo tão
interessante que passa a ser uma experiência promissora de um mundo com significado.
Como nos explica Andrea Semprini (2010, p. 21), um mundo possível é uma construção
de sentido altamente organizado, no qual confluem elementos narrativos, fragmentos do
imaginário, referências socioculturais, elementos arquetípicos e qualquer outro
componente que possa contribuir para tornar este mundo significativo para o destinatário.
Sobre a forma de apresentação desse conteúdo, a Vice Brasil afirma que houve um grande
cuidado em deixar de lado a romantização da bicicleta, saindo da esfera dos interesses
individuais e focando em tensões sociais importantes para a mobilidade ativa. Gabriel
Klein, head de criação da Vice Brasil à época, afirmou ser o curta-documentário um
conteúdo bastante humano e verdadeiro, que, em sua opinião, vai além do já convencional
41
branded content (PROPMARK, 2017). Mais uma vez podemos refletir sobre o parcial ou
completo apagamento do sujeito enunciador da mensagem, recurso recorrente nas mídias
tradicionais (CHARAUDEAU, 2015), mas atualmente desejado pelas marcas. Ser mais
do que um convencional branded content, como afirmou Klein, seria como se o efeito de
realidade ganhasse contornos da própria realidade que a marca quer inferir no mundo de
significados que constrói. Para isso, em seus conteúdos, faz uso de ferramentas narrativas
que ampliam a sensibilidade da audiência e fortalecem o engajamento. A seguir,
verificaremos como algumas delas são oriundas de outras linguagens, como a
cinematográfica e o jornalismo.
A produção de um documentário, por excelência, e seu uso como linguagem permite uma
melhor noção de conhecimento histórico baseado no modo de vida de sujeitos sociais e
seu ambiente. Dessa forma, essa nova forma de enxergar a realidade, a partir da ampliação
dos horizontes de materialização dos fatos e dos acontecimentos não oficializados,
permite colocar em dúvida as narrativas oficiais, aquelas reproduzidas entre grupos
sociais como verdades a serem partilhadas e estabelecidas. Ao recontar a história da
cidade, a partir do conceito da mobilidade sustentável, do uso da bicicleta no caótico
cenário urbano, o documentário permitiu a entrada de novos agentes sociais que até então
permaneciam ausentes. Ao utilizar a linguagem audiovisual como narrativa para recontar
histórias, cria-se um ambiente de diálogo entre história, propriamente dita, cultura
popular, memória e identidade. É uma tentativa de redimensionamento do olhar para
43
muitas releituras possíveis das narrativas oficiais ou silenciadas da cidade, um discurso
que é
Ciclos faz uso de diversas técnicas do documentário com o objetivo de cumprir essa
lógica. Dentre elas, a forma como os personagens narram suas histórias é especialmente
notável na escolha do diretor Alexandre Charro. Ao longo dos depoimentos, apaga-se
completamente a figura do mediador ou interlocutor, aquele que estaria responsável em
mediar o contato dos personagens com o público. Todas as cenas são gravadas como se
fossem flagras gravados no exato momento em que acontecem. Esse recurso nos remete
novamente a Nichols (2015), quando, em sua classificação sobre os tipos de
documentários existentes, menciona o modo observativo. Segundo ele, a partir da década
de 60, avanços tecnológicos transformaram os pesados equipamentos de gravação de
44
vídeo e áudio em leves dispositivos móveis. Isso facilitou o deslocamento da equipe de
filmagem para qualquer local utilizando câmeras com grande autonomia de baterias e
centenas de fitas magnéticas. Os resultados foram surpreendentes. Diretores como Robert
Drew, nos Estados Unidos, e Jean Rouch, na França, fazendo uso desse recurso em seus
filmes33, cunharam a expressão “cinema direto”, ou seja, uma linguagem cinematográfica
onde aparentemente não há intervenção do cineasta nas cenas, as coisas simplesmente
“acontecem”. Assim,
33
“Primárias” (Drew) e “Crônica de um verão” (Rouch e Morin), ambos de 1960, são excelentes
exemplos de filmes que fazem uso dessa linguagem.
45
No Brasil, não por acaso, um dos seus mais expressivos representantes é o cineasta João
Moreira Salles. Seu pai, Walther Moreira Salles, foi ministro de Estado e embaixador e,
como banqueiro, foi o maior acionista da União de Bancos Brasileiros (Unibanco), hoje
incorporado ao Banco Itaú. Mas, a exemplo do irmão, o cineasta Walter Salles, e
incentivado por ele, dedicou-se ao cinema. Seu primeiro trabalho, em 1985, foi o roteiro
para a série "Japão, uma Viagem no Tempo", exibida na extinta TV Manchete 34. Desde
então, o cineasta já filmou inúmeros documentários e hoje configura entre os maiores
realizados do gênero observativo no país. Coincidência ou não, a obra de Salles
certamente inspirou Alexandre Charro, pois as técnicas de apagamento do narrador e
testemunho velado da realidade de fato são praticamente as mesmas utilizadas em
documentários do cineasta como “Nelson Freire” (2003) e “Entreatos” (2004).
Para Lins (2008), a obra de Salles traz o cinema de observação, aspira à invisibilidade da
filmagem, registrando indivíduos reais como se a equipe não estivesse presente, retirando,
na montagem, qualquer indício de uma interação mais evidente com os personagens.
Segundo a autora, esse estilo é bastante representativo do documentário brasileiro
contemporâneo, orientado pela recusa do que é “representativo” e privilegiando a
afirmação de sujeitos singulares, dois traços marcantes de diferenciação do chamado
documentário moderno, em particular aquele produzido no decorrer dos anos 60. No
Brasil, o estilo singularizado, baseado em histórias de pessoas comuns, é inaugurado por
Eduardo Coutinho, em “Cabra marcado para morrer” (1964/1984), um “divisor de águas”,
segundo Jean-Claude Bernardet, entre o cinema moderno dos anos 60 e 70 e o
documentário das décadas de 80 e 90. No enredo, quando Coutinho retoma o filme na
década de 80, não se trata mais de implantar um projeto estético coletivo, engajando
camponeses e intelectuais numa experiência comum, com fins didáticos e de promoção
da luta camponesa. Trata-se agora de um indivíduo em busca de outros indivíduos (LINS,
2008).
34
< http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa13466/joao-moreira-salles>. Acesso em 12 de janeiro
de 2020.
46
Ismail Xavier em entrevista, a vontade agora é explorar mais os sujeitos no que têm de
singular. Evitam-se generalizações, a busca dos porquês. Concentra-se na apresentação
de um inventário dos imaginários – enfim outra fenomenologia mais regrada – sem se
deter no problema da relação entre eles e as condições materiais de existência, sem saltos
da experiência imediata para suas implicações sociais e políticas (LINS, 2008, p. 78). Em
Ciclos, no entanto, essa individualidade é apagada, os sujeitos se misturam em um
discurso monológico na medida em que suas experiências e visões estão engajadas em
uma causa comum, no caso, o casamento harmonioso entre suas vidas particulares e a
gigantesca cidade por meio das bicicletas. Não por acaso, é a mesma causa subjacente e
previamente determinada pela marca.
Considerações finais
Nesse artigo, procuramos refletir a respeito das novas relações entre jornalismo e
publicidade na chamada cultura da convergência. Embora ocorram empréstimos entre
linguagens nativas dessas duas áreas, por meio de ações de marketing de conteúdo,
podemos concluir, a partir da análise do curta-documentário Ciclos, que algumas
características primordiais permanecem preservadas. No caso em questão, embora
aproprie-se de estilos consagrados do cinema, como o modo observativo do
documentário, por mais que deseje o apagamento do sujeito da enunciação, o conteúdo
de marca exige engajamento ideológico, relegado ao segundo plano pelos
documentaristas brasileiros a partir dos anos 80. Mas considerando que esse processo de
apropriação de linguagens é permanente e irreversível, não tardará o dia em que as marcas
também utilizarão essa forma supostamente individualizada e descomprometida com
representatividade social em narrativas estilizadas de conteúdos de marca.
Referências bibliográficas
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaio sobre literatura e história
da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. Trad. Ângela Corrêa. São Paulo:
Contexto, 2015.
DEARO, Guilherme. Marcas apostarão mais alto em branded content a partir de 2018.
Exame, 23 nov. 2017. Disponível em: https://exame.abril.com.br/marketing/marcas-
branded-content-abril-abc. Acesso em 08 jan. 2020.
FOLHA DE S.PAULO. Folha cria núcleo de conteúdo. Folha de S.Paulo, 7 out. 2015.
Disponível em: <http:// www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/10/1691039-folha-cria-
nucleo-de-conteudo-patrocinado.shtml>. Acesso em: 07 jan. 2020.
Meio & Mensagem. Consumo de vídeo na internet cresce 90% em três anos. Meio &
Mensagem, 13 set. 2017. Disponível em:
48
http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/2017/09/13/consumo-de-video-na-
internetcresce- 90-em-tres-anos.html>. Acesso em: 13 jan. 2020.
49
Parte II
50
Capítulo 4
Denise Paiero35
Dentre as perguntas estiveram questões ligadas à rotina profissional dos egressos, área de
atuação profissional e lacunas percebidas em sua formação. Também foram feitas
perguntas direcionadas ao objetivo principal deste projeto, com foco na percepção dos
egressos sobre a hibridização entre as áreas de jornalismo, publicidade e propaganda,
relações públicas e outras vertentes da comunicação. Vale ressaltar que o mesmo
questionário foi apresentado a egressos do curso de Publicidade e Propaganda da UPM.
Os resultados dessa pesquisa podem ser vistos no capítulo 5 desta pesquisa. A ideia foi
compreender o mercado de trabalho de forma complexa.
35
Professora do curso de Jornalismo – Centro de Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
51
O questionário foi montado na plataforma Google Docs com 19 perguntas, abertas e
fechadas. A divulgação para a formação do grupo de participantes se deu nas redes sociais
da professora pesquisadora responsável, como foco no Facebook, cuja rede de seguidores
é formada basicamente por ex-alunos do curso de Jornalismo do Mackenzie. Para a
montagem e aplicação das pesquisas, a pesquisadora contou com a ajuda da aluna bolsista
do MackPesquisa Camila Oliveira. 112 egressos do curso de Jornalismo da UPM
responderam ao questionário. Os resultados obtidos são apresentados a seguir:
Uma das respostas que mais chamaram a atenção dos pesquisadores se refere à área de
atuação dos egressos, que era abordada na questão 3. Perguntamos: “Em qual tipo de
empresa você atua?” O gráfico abaixo ilustra os resultados:
Quanto a esse resultado, alguns pontos que valem ser ressaltados são:
a. Apesar da sabida crise pela qual o jornalismo tradicional vem passando, apenas 13,4%
dos respondentes afirmaram atuar em área fora da Comunicação.
52
c. Mais de 57% atuam em áreas relacionadas à Comunicação Corporativa, como Agências
de Comunicação e Assessorias de Imprensa (7,1%). Outros 6,3% afirmam atuar dentro
de Agências de Publicidade.
A questão seguinte era aberta e perguntava qual a função exercida pelo egresso
atualmente. Recebemos mais de 70 respostas diferentes. Eis as mais comuns: Assessor de
Imprensa / Comunicação; Produtor de conteúdo, analista de comunicação, editor, redator
e repórter. Também apareceram diversos cargos de gestão, como Gerente de
Comunicação, Gerente de Formatos e Gerente de Marketing, Coordenador de
Comunicação e Coordenador de RP, Executivo de atendimento, Executivo de contas e
Diretor de Conteúdo.
53
Antes de verificarmos pontos específicos da formação do aluno, verificamos a
importância da marca UPM para a carreira profissional dos formados. Ressalta-se aqui
que quase 80% dos egressos (soma de notas 4 e 5) entendem que o nome da Universidade
foi importante ou muito importante para sua carreira. Portanto, verifica-se que
empiricamente o egresso entende que o nome da UPM é valorizado pelo mercado de
trabalho e, portanto, contribuiu para seu desenvolvimento profissional. Menos de 5%
acreditam que o nome da Universidade não teve importância para sua carreira.
54
na área prática, que ocupa praticamente metade da atual matriz curricular do curso da
UPM é percebido pelo egresso de forma positiva.
55
Sobre os preceitos básicos de ética e empreendedorismo, cerca de 60% dos egressos
consideram que a formação no curso de jornalismo da UPM foi relevante ou muito
relevante. Lembramos que, conforme apontado na questão 3 desta pesquisa, cerca de 9%
dos egressos já atuam como empreendedores.
Os resultados para essa questão foram os mais próximos à unanimidade que tivemos.
Quando perguntados sobre a relevância do ensino presencial em sua formação quase 90%
dos egressos afirmam que ela foi relevante ou muito relevante, com destaque para esta
última categoria (68,8%). Ou seja, apesar do desenvolvimento das ferramentas de Ensino
à Distância e da atual tendência de investimento em cursos nessa modalidade, no caso
dos formados em Jornalismo pela UPM a educação presencial continua sendo percebida
como positiva e fundamental.
56
A maioria dos egressos do curso de jornalismo (cerca de 64%) da UPM acredita que as
ações extensionistas e de cunho social realizadas durante a sua formação foram
importantes para o seu desenvolvimento profissional. Essa percepção vai ao encontro da
vocação extensionista da UPM, bem como das diretrizes curriculares da área que apontam
o jornalismo como uma ferramenta de desenvolvimento social. Além disso, a
proximidade com a sociedade faz parte do Projeto Pedagógico do Curso de Jornalismo da
UPM.
Como podemos ver, quase 60% dos egressos acha importante dar continuidade aos
estudos, fazendo uma pós-graduação. Em outras respostas, muitos inclusive afirmam eu
já fizeram pós, principalmente na área de Comunicação Corporativa e/ ou Marketing.
57
Esse interesse ponta para um mercado importante a ser trabalhado na UPM: a formação
continuada para egressos da área de Comunicação.
Mais de 80% dos egressos considera importante a formação em língua estrangeira para
sua carreira.
A questão 14 pedia para que o egresso refletisse sobre as expectativas que ele tinha em
relação ao curso quando o escolheu, comparando-as à realidade que encontrou no
mercado. Sobre isso, perguntamos:
“As expectativas que você tinha relação à profissão quando você escolheu seu curso
corresponderam ao cenário que você encontrou no mercado? Por quê?”
58
Muitos egressos apontam que, embora se imaginassem trabalhando em TV, revista ou
jornal tradicional, não conseguiram encontrar espaço nessas áreas. Esses dados são
coerentes com as respostas obtidas na questão 3, que mostram que a grande maioria dos
egressos do curso de Jornalismo da UPM atua na área de comunicação corporativa, fora
de redações, portanto. Essa frustração de expectativas, em relação ao que se esperava na
escolha do vestibular, aparece tanto em respostas de recém-formados, quanto de formados
há mais de uma década. Vemos aqui que, embora o mercado de trabalho tenha se
modificado e diversificado, os jovens ainda fazem a escolha da profissão a partir da ideia
de jornalismo tradicional. Vale ainda ressaltar que vários dos respondentes que apontaram
essa questão afirmaram estar hoje satisfeitos com seu trabalho, apesar da expectativa
frustrada num primeiro momento.
Por outro lado, dentre os que afirmaram ter encontrado pontos em comum entre a
expectativa antes do início do curso e a realidade do mercado, as principais justificativas
foram:
Na pergunta seguinte, pedimos para que o egresso focasse na relação entre o que foi
aprendido na universidade e o que o mercado busca. Para isso, questionamos:
“A partir da sua experiência no mercado, quais conteúdos você acredita que teriam sido
importantes para a sua formação, mas não foram apresentados durante sua Graduação
na UPM?”
59
A pergunta permitia respostas abertas. Agrupamos as respostas mais frequentes em três
grandes grupos:
Uma observação importante: de forma geral, egressos que afirmam ter se formado há
mais tempo sentem mais falta dos conteúdos do grupo 1 e 2 que egressos recém-formados.
Entendemos, portanto, que recentes mudanças na matriz curricular do curso de
Jornalismo da UPM, ocorrida em 2018, atenderam a parte dessas demandas.
Vale ainda destacar que alguns egressos apontaram a necessidade de ter conteúdo de
empreendedorismo mais próximo à realidade de quem pretende abrir uma pequena
empresa de comunicação ou prestar serviços na área, já que essa é a realidade de parte
significativa dos formados.
A pergunta seguinte apontava para uma das questões centrais desta pesquisa e buscava
verificar qual a percepção dos egressos a respeito do hibridismo entre as diferentes áreas
da comunicação. Para isso, questionamos:
“No cotidiano do seu trabalho você percebe a aproximação entre as diversas áreas da
Comunicação (PP, Jornalismo, RP etc)? Exemplifique.”
De todas as questões abertas apresentadas na pesquisa que embasa esse artigo, essa foi a
que teve maior índice de respostas iguais: 105 respondentes, ou quase 95% dos
60
participantes, responderam “sim”, portanto, disseram que percebem a hibridização das
diferentes áreas da Comunicação. Foram comuns expressões como “muito” e “sem
dúvida”. Apenas 3 responderam não ver aproximação entre as áreas. Os demais deram
respostas neutras.
“Não vejo sequer separação. A verdade é que no dia a dia todos andam muito juntos”.
“Sim. Praticamente a mesma coisa. O mercado pede para você saber um pouco de cada.”
“Sim! Hoje o jornalista precisa ser/saber um pouco de cada coisa dentro da
comunicação.”
“Sim. Uma vez que nunca trabalhei diretamente com o jornalismo, sempre apliquei meus
conhecimentos adquiridos na universidade em áreas correlatas, como o marketing e as
relações públicas.”
“Sim. Trabalhando em agência, passo por todas essas áreas, com produção de conteúdo,
relacionamento com a imprensa, produção de branded content, etc.”
“Sim. Muitas das habilidades são relacionadas. Acredito até que a divisão nem faça
mais sentido”
“Totalmente. Onde eu atuo hoje é uma mistura entre jornalismo /publicidade /marketing
e design”
“Você já precisou realizar alguma atividade que seria mais associada a uma área da
Comunicação diferente da de sua formação? Explique.”
O número de respostas positivas também foi grande: 85 egressos responderam que sim,
já precisaram realizar atividades originalmente mais associadas a outra área da
61
comunicação. As áreas mais comuns apontadas por eles foram marketing, gestão de redes
sociais, comunicação interna, relações públicas, publicidade e/ou propaganda, eventos e
design.
Chama a atenção, no entanto, o fato de que, mesmo sem serem perguntados diretamente
sobre isso, vários egressos responderam que, apesar de terem de realizar atividades
diferentes da sua formação em jornalismo, os conhecimentos de jornalismo foram
fundamentais para o desenvolvimento de seu trabalho.
62
Públicas). Nesse ponto, algumas sugestões de conteúdos específicos foram dadas. As que
mais apareceram foram: Marketing; Marketing de Conteúdo e Branded Content;
Assessoria de Imprensa e de Comunicação; Gerenciamento de Crise de Imagem,
Comunicação Corporativa. Alguns sugeriram que parte da grade curricular de Jornalismo
fosse dividida com o curso de Publicidade e Propaganda, a fim de haver maior
entrosamento entre alunos e maior compartilhamento de conteúdo, já que o mercado
demanda profissionais que saibam atuar em várias áreas.
Uma resposta que resume os dois padrões citados anteriormente é : “Acredito que a
maioria dos conteúdos a que fomos expostos foram relevantes para a minha formação
enquanto jornalista. Porém, ao meu ver, é totalmente necessária a aproximação dos
temas ligados à tecnologia e de outras áreas da comunicação (sobretudo marketing).”
O terceiro tipo de resposta que chamou nossa atenção se refere a uma suposta “visão
romântica” ou muito antiga sobre o jornalismo que seria passada para os alunos. Vários
egressos apontaram que não sabiam muito bem o que encontrariam no mercado. Esse tipo
de resposta, no entanto, foi mais comum a egressos que afirmaram ter concluído o curso
há vários anos. Há, dentro dessa linha, respostas que mostram o lado positivo da questão,
indicando que o curso forma profissionais que conseguem se adequar a diferentes áreas
do mercado de trabalho: “Somos capazes de trabalhar com RH, em employer branding,
em relações institucionais, sustentabilidade, conteúdo, SEO.”, afirmou um dos egressos
do curso de Jornalismo da UPM na pesquisa.
Além disso, algumas respostas apontam para sugestões diretas de disciplinas como
Jornalismo Gastronômico, Jornalismo e Educação, Agronegócio e Finanças.
Chamam ainda atenção dois padrões de respostas que parecem seguir em sentido oposto:
um grupo de egressos aponta que acredita ser importante ter menos teoria e mais
atividades práticas, ligadas ao mercado. Outro grupo aponta que o curso deveria se
63
preocupar mais com a formação humanística, tratando as teorias com maior
aprofundamento e exigindo leituras mais complexas dos alunos.
Considerações Finais
A análise geral dos dados obtidos com as respostas ao questionário aplicado aos egressos
do curso de Jornalismo da UPM traz dados relevantes sobre o mercado de comunicação
e sobre como o profissional formado pela UPM percebe sua formação, o mercado de
trabalho e sua própria colocação no mundo profissional. Entendemos que, dessa forma,
conseguimos um mapeamento de todas essas questões em um momento crucial, quando
o curso completa 20 anos.
Dessa forma, acreditamos ter em mãos um material bastante rico para que o curso de
Jornalismo da UPM possa crescer ainda mais, buscando adequar seus conteúdos às
demandas dos alunos e do mercado. No entanto, considerando a grande maioria das
respostas, esses ajustem precisam ser feitos sem que se perca a essência do curso e o foco
na formação ampla, tanto teórica, quanto prática, sempre em busca da excelência.
64
Capítulo 5
Introdução
O mercado de trabalho nunca se manteve estático nas exigências técnicas e no que tange
as habilidades e competências dos indivíduos. O senso de competitividade corporativa
sempre condicionou o aumento do grau de excelência nos processos de contratação e
potencialização de novos talentos, independente da área de atuação e segmento
mercadológico. Nesse sentido, o papel da Universidade é corroborar para uma formação
condizente com as necessidades sociais, empresariais e éticas. O papel do artigo é
apresentar pontos de análise e reflexão acerca dos egressos do curso de Publicidade e
Propaganda do Centro de Comunicação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em
São Paulo. Para tal fim, foi realizada uma pesquisa quantitativa com 110 egressos do
curso, no período de novembro a dezembro de 2019, visando fortalecer o processo de
identificação da relação formação e empregabilidade.
36
Professor dos cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo – Centro de Comunicação e Letras –
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
37
Professor do curso de Publicidade e Propaganda – Centro de Comunicação e Letras – Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
65
discentes, seja nos seus desafios iniciais nos estágios nas empresas, como nas suas
efetivações e crescimento posterior a sua formação.
O alto grau de competitividade empresarial, intensificado nas duas últimas décadas por
ocasião do fortalecimento das estratégias de internacionalização, exigem dos seus
colaboradores maior capacidade de ajustes dessa nova realidade, onde o ethos de
competição por vagas de alto desempenho não são mais locais, mas sim transitam em
ambientes globais, com exigências maiores e mais intensas.
Ambientes de alto desempenho corporativo exigem não somente uma visão técnica dos
seus colaboradores, mas também o domínio de outras capacidades emocionais, que
permitem sustentar altas pressões corporativas e sociais dos indivíduos. Nesse sentido, é
pertinente que a Universidade promover de modo concomitante esses debates além do
conceito técnicos, visando à promoção de habilidades e competências de liderança,
resiliência e empreendedorismo para alunos dos múltiplos cursos de formação.
São Paulo, tal como as maiores cidades do mundo, demanda maior atenção no
posicionamento dos seus cidadãos nas organizações que se estabelecem na sua estrutura.
A velocidade competitiva, o ambiente urbano intenso e caótico da cidade, contribuem
para um ambiente de alta mistura de possibilidade de crescimento profissional e pessoal,
com capacidade de saber lidar com um cenário de exclusão também latente e que exige
performance e desempenho sustentáveis para seus indivíduos.
Com a evolução tecnológica amparada nas redes digitais e com alta velocidade da
informação em fluxo contínuo, a realidade do ambiente comunicacional se tornou
integrado e convergente, ditando novos desafios comportamentais e geracionais.
66
As percepções dos indivíduos frente às múltiplas interações midiáticas posicionam o
contexto comunicacional como um dos eixos estratégicos para os diferenciais
competitivos empresariais. (CARNEIRO, 2017, p.48). Por este motivo, é possível
considerar deveras natural á adaptação das Universidades na formação desses novos
profissionais.
Os desafios atuais vão além das percepções técnicas, visto que o comportamento social
está cada vez mais susceptível as consequências de uma sociedade da informação intensa
e repleta de entraves relacionados com ansiedade e depressão informacional. Na visão de
Wurman (2014), a sociedade e o indivíduo devem observar o acesso à informação com
cautela e coerência, para evitar excessos e realizar o uso positivo da grande quantidade
de informações facilmente obtidas.
Baseado nesse arcabouço, o desafio de uma formação superior não transita apenas na
necessidade de preparar o discente com premissas técnicas, mas também promover
discussões e reflexões frente á temas transversais, tais como geopolítica, ética,
empreendedorismo, dentre outros.
Para Neshein (2007) o pensamento competitivo de uma organização não deve se limitar
ao conceito clássico tecnicista, mas absorver dos colaboradores o máximo de suas
experiências e tornam o ambiente eficiente e com valorização no capital intangível das
equipes.
67
As organizações estão reinventando seus processos constantemente e observando o seu
mercado promissor utilizando de múltiplos olhares, dentre eles o da Publicidade e
Propaganda, como um estratégico pensamento analítico do comportamento do
consumidor. (LUPETTI, 2014).
68
Sob a perspectiva de aplicação da pesquisa, 100% dos entrevistados se formaram em
Publicidade e Propaganda pela UPM. Considerando a pergunta a seguir (há quanto
tempo) foi possível observar que uma menor parcela se formou quando o curso tinha
como nome: Propaganda, Publicidade e Criação. A mudança para a denominação
“Publicidade e Propaganda se deu no ano de 2011”, visando adequar o curso com a
demanda latente de mercado, que incluía a vertente de Marketing na estrutura
programática do curso, na perspectiva das habilitações.
69
em outro tipo de empresa, as respostas atingem resultados como: Fintechs, Empresas
Financeiras, Laboratórios Farmacêuticos, Terceiro Setor e empresas no ramo de serviços.
No contexto do universo da comunicação, sobre as principais funções ocupadas, foram
apresentadas atuações como: analista de marketing, direção de arte, Assistente de criação,
analista de marketing, redator publicitário e executivo de contas.
70
Sob esta perspectiva, é possível identificar também que a credibilidade e qualidade de
formação da instituição estão diretamente relacionadas com o êxito no processo de busca
por estágios durante o período de formação na Graduação. Dos resultados apresentados,
vale salientar que 88,4% da amostra realizaram estágio durante o curso e que tal feito foi
representativo para sua potencialização da carreira, em início de desenvolvimento.
Um dos pontos representativos de atuação da Universidade na grade dos cursos por ora
ministrados são a inclusão e fortalecimento dos princípios éticos e empreendedores. O
resultado pode ser considerado positivo, visto que 80% dos entrevistados avaliaram a
política relacionada ao tema de modo profícuo.
O ensino presencial foi um dos pontos levantados pela pesquisa, visto que o segmento
educacional se encontra em constante inovação e em busca de um equilíbrio no seu
processo de ensino-aprendizagem para a formação superior amparada nas modalidades
presencial e à distância. Dos entrevistados, 50,5% dos egressos julgaram como muito
relevante e 28% julgaram como relevante o ensino presencial. Esse ponto nos permite
refletir acerca da relevância dos momentos de ensino presenciais, conciliados com as
71
modalidades que ofereçam maior flexibilidade de mobilidade e horários. Por fim, 2%
entrevistados não consideram o ensino presencial relevante para o êxito de formação.
Vale salientar também a abordagem que dirigiu a pesquisa, relacionada com o ambiente
de internacionalização e percepção dos egressos a respeito da temática, seja pela
72
importância dos idiomas na potencialização da carreira, como também no estímulo para
a formação técnica internacional. Nesse contexto, 53,7% dos entrevistados valorizam os
idiomas como base para o sucesso e estímulo na carreira e 27,4% dão máxima importância
para a formação técnica internacional.
Considerações Finais
73
de modo sustentável e pertinente as demandas dos mercados, em alta velocidade de
mudanças e novas exigências.
Referencial bibliográfico
74
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 2018.
75
Capítulo 6
Introdução
Em 2014, o empreendor e escritor Joe Pullizi desenvolveu um livro (Conteúdo S.A.) que
se tornou referência. Ele defende a tese de que as empresas precisam de conteúdo para
fidelizar e buscar novos clientes, que, para ele, estariam sobrecarregados pela propaganda
tradicional. Estaria perdendo sentido a publicidade na qual o consumidor recebe cerca de
5 mil mensagens diárias com empresas alardeando suas vantagens. No universo da
comunicação, essa estratégia, cada vez mais, perde a sua eficácia. Pullizi defende que se
você é líder no segmento, tem mais conhecimento que a maioria das pessoas e, por isso,
pode (para ele, deve) produzir um conteúdo para que sua marca torne-se cada vez mais
conhecida.
38
Professor do curso de Jornalismo – Centro de Comunicação e Letras – Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
76
Dados da Digital News Report (2019), do Reuters Institute, mostram que apenas 27% dos
brasileiros usam a mídia impressa para ter acesso a notícias. Essa porcentagem era de
50% em 2013. A grande maioria das pessoas (87%) disse que tem acesso à informação
via internet. Apenas a título de curiosidade, esses números são semelhantes aos dos
Estados Unidos, onde 19% as pessoas têm informações pela mídia impressa e 72% via
online.
Vamos voltar a Pullizi, que defende a divulgação de conteúdo como uma nova forma de
estratégia para as empresas. Ele preconiza que as empresas tenham o que chama de uma
equipe de conteúdo. Essa equipe seria formada basicamente por um gerente de conteúdo,
que seria o supervisor, digamos assim, de uma linha editorial da empresa, preocupado
com o fato de que todas as iniciativas correspondam às estratégias da empresa. O segundo
profissional seria o editor-chefe ou criador de conteúdo. Os criadores de conteúdo
desenvolveriam histórias conforme o nicho de atuação da empresa. E o terceiro
profissional seria o gerente de audiência, um profissional que gerencia a audiência dos
conteúdos desenvolvidos.
77
Há mais um elemento que entra recentemente neste contexto. Trata-se do branded
content. O termo pode ser traduzido como sendo “conteúdo da marca”. Há ainda algumas
divergências por parte dos autores sobre o que seria esse conteúdo. Há os que chamam de
branded entertainment (entretenimento de marca) porque uma das suas funções também
seria a de divertir o consumidor.
Este artigo se propõe a fazer a uma reflexão sobre o que os dirigentes das empresas de
comunicação consideram como importante na construção do novo perfil do jornalista que
está entrando no mercado.
Como objetivo secundário busca-se ter uma visão mais detalhada das necessidades do
mercado e também quais são os aspectos que necessitam de um aprimoramento.
78
televisão e assessoria de comunicação. Buscou-se evitar ex-alunos da universidade, para
que o recorte se distanciasse de outros estudos componentes deste relatório. Outra
condição importante é que tivessem um cargo de direção nas empresas de comunicação
e, se possível, que atuassem na contratação de jornalistas.
Optou-se por uma pesquisa qualitativa, pois ela permitiu obter comentários e análises que
serviram de subsídios para a produção deste documento.
O leitor vai notar que muitas das porcentagens apresentadas no início das análises do
resultado da pesquisa são semelhantes ou arredondadas. Isto ocorre por que não se trata
de uma pesquisa quantitativa com um universo expandido de entrevistados. O mais
importante, aqui, são as observações dos entrevistados.
O termo conteudista, usado no título deste artigo, é uma aglutinação das palavras
conteúdo e jornalista. Essa denominação tem sido usada no meio educacional para
caracterizar um profissional capaz de desenvolver recursos para aulas de ensino à
distância, mas parece que, neste caso, o termo torna-se ainda mais adequado ao
jornalismo.
Resultados da pesquisa
79
formados na área de rádio e TV. Porém, uma rápida passagem pelas redações das
emissoras de televisão permite observar muitos jornalistas já operando ilhas de edição de
vídeo. Ainda que ele não seja propriamente um operador, o conhecimento dos recursos
pode, por exemplo, facilitar a própria elaboração de um roteiro ou até mesmo de uma
pauta. Editar vídeos também permite uma rápida transmissão de notícias para as redes
sociais, ainda que transmitidas por smartphones, já que há aplicativos de edição de vídeos
desenvolvidos para esse tipo de equipamento.
39
Gradações da escala: 1) discordo totalmente, 2) discordo, 3) indiferente (ou neutro), 4) concordo e 5) concordo
totalmente.
80
Quando questionados sobre a importância da gestão de projetos, apenas um dos
entrevistados destacou esse fator como importante. Por se tratar de uma importante player
na área de televisão, o dirigente destacou essa necessidade.
81
A maioria dos dirigentes (80%) também descartou a necessidade de formação superior
para profissionais de comunicação. Deve-se considerar que não foi abordada aqui a
questão da exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista, extinto pelo
STF em 2009.
Nas questões abertas abordadas pela pesquisa é que podemos conhecer com mais
profundidade a percepção sobre os profissionais. Uma das questões indagava: “Como
você avalia a formação de profissionais recém-formados nos cursos de Jornalismo e/ ou
Publicidade?”. As respostas variam. Mas é recorrente o fato de que os recém-formados
chegam às redações sem saber como é a sua dinâmica, sem perspectiva sobre o
funcionamento das redações, desconhecendo as rotinas do trabalho. A dirigente de uma
assessoria de comunicação atribui isso a uma defasagem entre o que ensinam as
universidades e as constantes alterações no mercado de trabalho. Também foi criticada a
competência para a produção de textos. “Os formandos saem da universidade com pouca
ou nenhuma noção do mercado. Muitas vezes mal sabem redigir textos”, argumentou a
chefe de redação de uma publicação tradicional especializada em cobrir assuntos do setor
de comunicação.
Foi perguntado: “Quais são, na sua opinião, as principais falhas nessa formação? E os
pontos positivos?”. Um dos aspectos positivos abordados foi a preparação das
universidades para a discussão das questões éticas e também algum conhecimento teórico.
Porém, dois aspectos foram recorrentes. O primeiro de que o estudante sai da universidade
despreparado para enfrentar questões como desenvolver uma autonomia financeira,
autogerenciamento de sua carreira, organização empresarial e pouco conhecimento sobre
ferramentas digitais. Uma editora disse que “falta na grade curricular, imagino, cadeiras
que preparem estes jovens para o mercado atual.” Para os entrevistados, é como se
houvesse um “abismo” entre os que as universidades pregam e o que o mercado espera
do profissional: alguém com iniciativa, criatividade e capacidade de redigir textos.
Considerações finais
Houve questionamentos sobre a qualidade dos textos produzidos e também sobre o senso
crítico necessário para tratar as informações. Porém, acredito que se esta pesquisa fosse
desenvolvida em outras ocasiões, os resultados não seriam diferentes. Parece ser
recorrente uma certa ausência de sinergia entre as necessidades do mercado e as
competências apresentadas por profissionais recém-formados. Porém, é possível
considerar que isso também ocorra em outras áreas como as de saúde, administração,
direito etc.
Mas há dois aspectos que merecem uma melhor reflexão nesse contexto paradigmático.
O primeiro é a setorização do profissional, que desenvolve habilidades específicas,
enquanto o mercado procura o que se convencionou chamar de um profissional
“holístico”, inteiro, completo. Uma das razões pode ser a precarização das relações no
mercado do trabalho, que procura atuar cada vez mais com um número menor de
83
profissionais. Essa concepção pode parecer paradoxal em uma atividade como a do
jornalista, que atribuiu um conceito singular ao termo “setorista”, ou seja, especialista em
um setor.
Nos anos 1980 a Folha de S. Paulo, por exemplo, tinha um jornalista setorista
especializado nos assuntos da Câmara Municipal, Aeroporto ou Assembleia Legislativa.
Para ilustrar, o profissional ficava o dia todo nessas repartições e no final do dia produzia
seus textos, algo inconcebível para os dias atuais. E o mercado hoje busca alguém que,
mais do que conhecer sobre vários assuntos, também seja capaz de produzir vídeos de
forma profissional, editar áudios e tenha noções de programação na internet. Sem dúvida
um grande desafio para os novos profissionais.
O segundo aspecto destacável é o que parece ser uma desconexão entre as universidades
e o mercado no aspecto das novas atividades. Isto também pode soar como recorrente.
O que se destaca aqui é que o jovem entra na universidade pensando em ter uma atividade
remunerada nos moldes da CLT e muitos acabam tendo que criar e gerenciar projetos ou
pequenas empresas.
Referências Bibliográficas
MULARD, Claudine. Jornal segue fórmula comercial para mudar. Folha de S. Paulo.
Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/11/23/mundo/13.html. Acessado
em 15jan2020
PULLIZI, Joe. Conteúdo SA: como os empreendedores usam o conteúdo para gerar um
público enorme e criar empresas bem-sucedidas. São Paulo: DVS Editora, 2017.
84
Capítulo 7
Ao mesmo tempo, à medida que a rede se torna cada vez mais intangível fisicamente, os
sistemas tornam- se “psicologicamente” mais próximos e mais sensíveis ao toque e ao
86
gesto, marcando, assim, uma perda do protagonismo do PC diante do uso de celulares,
tablets e dos modos de navegação mais orgânicos.
Outra intenção registrada pelo estudo é a maior produção de conteúdos pelos usuários. A
tendência é de aumento da produção de material pelos consumidores tendo em vista as
facilidades do uso de ferramentas de produção e edição de texto, áudio, vídeo e fotos. Os
usuários tendem a encontrar novas formas de usar e reutilizar os conteúdos, abrindo
espaço para novos materiais postados e novamente reeditados e publicados em um
looping infinito de possibilidades.
87
A superabundância de informação é uma oportunidade real para as empresas de
comunicação (marketing e publicidade). Com o excesso de informações, os dados passam
a ser menos importantes diante da necessidade de organizá-los, seja por uma ferramenta
específica ou por curadoria. Portanto, o que parece um problema pode ser uma boa
oportunidade para as empresas do setor, incluindo agências de publicidade, produtoras,
meios de comunicação e anunciantes.
Temos de considerar a existência de novos setores econômicos como o uso do big data
combinado com a computação em nuvem e a gestão de diversas plataformas de conteúdos
gerados pelos usuários. Estes setores têm alto potencial de crescimento de receita para os
próximos anos, auxiliando o desenvolvimento de produtos e serviços novos para o setor
de comunicação.
Também devemos agregar outro elemento a este cenário: a Internet das Coisas. Há uma
tendência real do uso de dispositivos inteligentes agregados ao nosso cotidiano. O grande
desafio das empresas do setor de comunicação será desenvolver conteúdos passíveis de
serem consumidos em todos estes novos equipamentos. Caso contrário, poderão ser
excluídos deste novo filão.
A maior integração das mídias tende a reduzir ainda mais a separação entre os meios. Este
cenário já atinge vários mercados, como exemplo o de televisão, em que empresas de
tecnologia como Samsung e Apple tendem a crescer buscando se consolidar. De outro
lado, empresas nativas como Google, Netflix e Hulu também tendem a expandir seus
domínios. Diante deste quadro, as emissoras de televisão convencionais tendem a perder
mercado caso não atuem com velocidade na busca por novos produtos e serviços que
gerem novas formas de receita.
Todos esses elementos apontam para uma mudança radical na forma de consumir
produtos e serviços nas mais diversas áreas, entre elas, o setor de comunicação (marketing
e publicidade) e entretenimento. As empresas de comunicação sentiram muito a mudança
que se reflete na forma de captar recursos, especialmente as relacionadas à mídia
tradicional (emissoras de rádio e TV, jornais, agências de notícias, assessorias de
88
comunicação etc.). Neste momento, após a consolidação dos meios digitais, o que se nota
é falta de iniciativas estratégicas e práticas para reagir a estas mudanças, adaptando-se
aos novos cenários.
89
Outro parâmetro da pesquisa é a média de anos em que os respondentes atuam na área: 5
estão no ramo há mais de 20 anos, 3 atuam entre 10 e 20 anos e apenas 1 tem menos de
10 anos de experiência no segmento.
Quando avaliamos o tipo de empresa dos participantes da pesquisa temos 3 que trabalham
em agências de publicidade, 4 em empresas de mídia, 1 no setor de marketing de uma
instituição de ensino e 1 em produtora de conteúdos digitais. Dados que revelam a
diversificação dos segmentos no setor.
90
Outro fator preponderante nas afirmações dos entrevistados é a necessidade de que os
formados em publicidade e marketing tenham conhecimentos de gestão de projetos. Dos
9 gestores entrevistados, 85% consideram este elemento com importante ou muito
importante. Da mesma forma que, ao serem questionados sobre a capacidade dos recém-
formados de criarem conteúdos em diferentes plataformas, 85% das respostas informaram
que é uma competência muito apreciada pelas empresas.
A partir da questão 12, são solicitadas respostas dissertativas (mais profundas) de cada
um dos participantes, visando o aprofundamento dos dados. Desta forma, quando
questionados sobre a importância da formação superior, as respostas apresentam a
valorização das graduações, pois 7 dos 9 entrevistados afirmam que é sim, muito
importante a passagem pelos bancos acadêmicos. E apenas 2 gestores descartam esta
necessidade. Um dos pontos buscados para as contratações de novos profissionais é o
fator comportamental somado a uma boa base de conhecimento adquirido nos cursos,
porém o fator decisivo está na “iniciativa, no protagonismo, na vontade de aprender
mais...”. Complementando este posicionamento, o diretor da produtora de conteúdo
afirma que:
91
Porém, todos os entrevistados foram unânimes em dizer que os cursos trazem “muita
teoria e pouca prática”, pois o mercado de publicidade, propaganda e marketing é muito
dinâmico, necessitando que se tenha uma maior interligação das ações cotidianas das
empresas com o que é ministrado em sala de aula.
Já um dos coordenadores que respondeu à pesquisa disse que os alunos saem da academia
como “generalistas e descolados das realidades do ambiente de trabalho”.
Complementando esta visão, o coordenador de marketing destacou que os jovens são
utópicos, rasos e sem vivência coorporativa. Este último quesito é um dos pontos mais
ressaltados pelos entrevistados. Também temos respostas que indicam a falta do bom uso
do idioma materno, ou seja, o português. Um dos profissionais entrevistados explicou que
os estagiários e os recém-formados escrevem muito mal, não sabendo apresentar um
pensamento de forma ordenada.
92
segundo os entrevistados, as equipes precisam de profissionais multitarefas que entendam
das diversas áreas de comunicação e ao mesmo tempo sejam membros especializados das
equipes, colaborando com know-how de suas vivências e apresentando uma visão
diferenciada do todo para o grupo. Como explica a VP de criação:
Como ele indicou, temos o surgimento de um novo perfil profissional: o nexialista, que
segundo o entendimento comum é o profissional que mescla a diversidade e profundidade
de conhecimentos de modo que tudo tenha nexo entre si.
93
separação entre as áreas e que a produção de conteúdo não é só uma tendência, mas sim,
uma ferramenta de comunicação que deve ser explorada dentro de um contexto
apropriado. A gerente de marketing de um veículo de comunicação indica que “ marcas
autênticas com personalidade, transparência e propósito se tornam necessárias”, sendo
este o grande diferencial para o anunciante.
94
Na mesma linha, o produtor complementa indicando que há uma necessidade de se avaliar
todo o processo de comunicação antes de se produzir qualquer conteúdo:
O ponto comum entre as diferentes gerações é a dúvida sobre o que irá acontecer no
mercado de trabalho. Segundo dados da pesquisa, 52% dos pesquisados dizem não saber
quais profissões existirão ou não no futuro. De acordo com a etapa quantitativa, 71% dos
respondentes acreditam que as empresas terão menos funcionários no futuro. Os dados
levantados estão focados em duas gerações especialmente: a X e a Z.
95
Segundo o estudo, os profissionais da geração X têm medo de serem substituídos pelos
mais jovens e de não conseguirem acompanhar as mudanças tecnológicas. Porém, entre
os mais jovens (geração Z) há uma ansiedade com relação ao desconhecido.
Em uma pesquisa realizada em 2019 pela empresa Pearson com 1.000 brasileiros, 64%
dos participantes disse que já está ultrapassada a ideia de trabalhar em um único
empregador durante sua carreira. Por outro lado, há profissionais que já esperam trabalhar
em projetos pontuais e em funções que talvez ainda não existam, contrapondo o conceito
de emprego com carteira assinada.
96
O futuro do trabalho no setor de comunicação também será permeado por atividades
remotas como homeoffice, coworkings e mais perfis profissionais conhecidos por
“nômades” digitais, aqueles que se dividem entre o trabalho remoto, reuniões e visitas a
clientes.
Referências bibliográficas
CEREZO, Pepe. Suscripciones, “the new black”- Los modelos de pago emergentes (1ª
parte). 2018. Disponível em: <http://evocaimagen.com/el-futuro-de-la-publicidad-en-la-
financiacion-de-los-medios/>. Acessado em: 16.07.2019.
98
Capítulo 8
Análise do ensino de Jornalismo e Publicidade e Propaganda a partir
das habilidades e competências dos cursos da Universidade
Presbiteriana Mackenzie
Este trabalho se propõe a refletir, ainda que brevemente, acerca das Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
e seus apontamentos sobre as habilidades e competências esperadas para os profissionais
da área de comunicação. Esse enfoque se faz necessário dado o contexto extremamente
conturbado da área de comunicação, em que o mercado de trabalho ano a ano se reinventa,
exigindo dos cursos superiores uma formação profissional mais adequada às suas
demandas, especialmente no desenvolvimento das chamadas soft skills, mais conectadas
às competências e habilidades presentes nos Projetos Pedagógicos (PPC) do que
propriamente ao currículo de disciplinas específicas.
Tal reflexão é confrontada com uma pesquisa quantitativa aplicada a alunos das duas
graduações que aponta para uma tendência na qual os estudantes indicam suas próprias
percepções sobre a maturidade de suas habilidades e competências.
41
Professor dos cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo – Centro de Comunicação e
Letras – Universidade Presbiteriana Mackenzie.
42
Coordenador do curso de Publicidade e Propaganda – Centro de Comunicação e Letras –
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
43
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbitriana Mackenzie
99
1996), chamada de LDB, com o objetivo de assegurar o direito da educação e da formação
dos ensinos básico, médio e superior do Brasil. Atualizada em 1996, segundo o Art. 2º da
referida lei, a sua finalidade aparece diante da afirmação: “A educação, dever da família
e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana,
tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Brasil, 1996). Ou seja, além da formação
escolar, acadêmica e profissional, a lei garante a educação como desenvolvimento de
habilidades e competências para o melhor exercício da cidadania, de forma que a
sociedade seja também beneficiada.
Originada por essa lei, a Diretriz Curricular Nacional (DCN) para a graduação tem como
objetivo direcionar a elaboração dos planejamentos curriculares e dos Projetos
Pedagógicos de Curso (PPC) das Instituições de Ensino Superior (IES). Constituídos de
regras que garantem competências e habilidades durante a formação acadêmica, segundo
o inciso V, do Art 43 (Brasil, 1996), os cursos de graduação devem fomentar o contínuo
aperfeiçoamento pessoal e profissional do educando, por meio de recursos didáticos que
promovam o amadurecimento de habilidades e competências inerentes a cada área de
formação.
As DCN devem ser o ponto de partida do corpo docente ao cumprirem o papel de auxílio
na programação de elementos didáticos como, por exemplo, a definição das habilidades
e competências desenvolvidas nos respectivos componentes curriculares,
estabelecimento dos recursos pedagógicos disponíveis e definição dos instrumentos
avaliativos.
Outra garantia estabelecida pela LDB para a graduação são as múltiplas experiências
durante a aprendizagem do aluno. O Artº 53 (Brasil, 1996) assegura, por exemplo, que as
IES devem “Estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção
artística e atividades de extensão”, ou seja, a formação acadêmica deve estar além da sala
de aula proporcionando ao estudante conhecimentos que integrem a teoria e a prática.
100
Diário Oficial da União a Resolução CNE/CES 1/2013 estabelecendo a atual Diretriz
Curricular Nacional para o bacharelado em Jornalismo.
Ainda segundo Antonioli, antes disso, em 2009, foi feito um relatório pela Comissão de
Especialistas nomeada pelo Ministério da Educação, formada por José Marques de Melo,
Alfredo Eurico Vizeu Pereira Junior, Eduardo Barreto Vianna Meditsch, Lucia Maria
Araújo, Luiz Gonzaga Motta, Manuel Carlos da Conceição Chaparro, Sergio Augusto
Soares Mattos e Sonia Virgínia Moreira. O referido relatório tinha como objetivo
“repensar o ensino de Jornalismo no contexto de uma sociedade em processo de
transformação” e destacar sugestões para a Diretriz Curricular Nacional do curso:
Após algumas alterações no Relatório a respeito das orientações feitas pela Comissão
Especializada, a atual Diretriz Curricular de Jornalismo foi aprovada quatro anos depois
com o objetivo de garantir qualidade à graduação e assegurar os direitos do estudante.
Segundo o Art.n°17, foi estabelecido um limite de dois anos para que as IES se
adequassem a ela e implantassem seus currículos novos, ou seja, em 2015 todos os cursos
já deveriam estar de acordo com as novas DCN.
Em uma breve análise da DCN para os cursos de Jornalismo, torna-se salutar destacar o
inciso I, do Art. 2º, que propõe que os cursos devem ter como alicerce do seu andamento,
o acesso à informação e dialogismo entre os indivíduos e a sociedade, ou seja, uma
correlação de discursos. É necessário que o estudante de Jornalismo não crie barreiras
entre os seus interesses e o que é importante para a sua profissionalização.
101
Quando se opta por ensinar jovens, torna-se relevante questionar sobre
a medida e a profundidade suficientes de informação a lhes
proporcionar, para que sejam de fato educados, para que aprimorem
seus níveis de compreensão adequadamente para o desempenho das
atividades profissionais, e ainda, comuniquem suas ideias de maneira
eficiente para a comunidade em que vivem. É preciso introduzi-los na
teoria geral das artes, na semântica das obras e na configuração plástica
de seu sentido e abordagens poéticas, a fim de que possam compreender
as estratégias do apelo e das condições pragmáticas, estética e
midiológicas da produção e da recepção de sentido. (AZZOLINO,
2008, p. 83)
Basicamente desde 2018, está em andamento uma série de rodadas de audiências públicas
entre as IES, promovidas por associações legitimamente constituídas: Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM, Associação
102
Brasileira de Pesquisadores em Publicidade – ABP2, Associação dos Profissionais de
Propaganda – APP, para discutir possíveis alterações, com a devida atualização, das DCN
dos cursos de Publicidade e Propaganda.
Nessas audiências públicas são tratadas as possíveis alterações nas diretrizes, buscando
atender ao objetivo fundamental de flexibilizar a estruturação dos cursos para ajustar ao
dinamismo da área, buscando viabilizar o surgimento de propostas pedagógicas
inovadoras e eficientes para atender, principalmente, particularidades geográficas, uma
vez que o território brasileiro possui dimensão continental com uma grande gama de
culturas.
103
Na concepção fundante deste Projeto Pedagógico, o Jornalismo é um
campo do saber produzido em uma ação social legitimada e reconhecida
que participa da construção da realidade, que faz a mediação de relações
sociais, que produz conhecimento e reconfigura a esfera pública e as
estratégias dos diversos atores sociais.
(...)
104
Por outro lado, a extensão dos itens (51, no total) permite perpassar por quase toda a
complexidade da formação humanística da área de comunicação. Isto é, espera-se que o
aluno desenvolva suas habilidades, por exemplo, em “reconhecer e definir problemas,
equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir modificações no processo em
que estiver envolvido, atuar preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos e
exercer, em diferentes graus de complexidade, o processo de tomada de decisão, com
fundamentação ética e responsável” (p. 30) ou em “atuar em equipe multiprofissional”
(p. 31). Essas habilidades são hoje reconhecidas como soft skills, em contraposição às
hard skills, por tratar de capacidades humanas que transcendem a esfera técnica da
profissão escolhida, mas permeiam as faculdades humanas intrínsecas à comunicação e
ao convívio em sociedade.
O que se percebe é que o PPC de Jornalismo da UPM busca, em tese, abarcar toda essa
multiplicidade nos processos educativos de seu corpo discente. Há no projeto o
aprofundamento e a proposição adequada dos temas concernentes ao campo da
comunicação. Evidentemente, há uma certa prolixidade na definição das habilidades e
competências esperadas. No entanto, esse é um problema descoberto nas próprias DCN
da área, não sendo, portanto, exclusividade da UPM.
O questionamento que se levanta, dessa forma, é se esse projeto desenhado cumpre com
seu objetivo e se alunos percebem o próprio desenvolvimento de habilidades e
competências ao longo do curso.
105
Projeto Pedagógico do Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade
Presbiteriana Mackenzie
O PPC vigente desde 2018 do curso de PP foi elaborado com alicerce na DCN atual e,
também, visando as características aventadas nas atualizações, discutidas nas audiências
públicas, conforme mencionado anteriormente.
106
Nesse contexto, para a linha formativa de Criação, há um conjunto de sete abordagens
basilares que vão desde o domínio das teóricas e conceitos até a orientação e execução de
produção de campanhas analógicas e digitais. Já na linha formativa de Marketing, o
conjunto de seis abordagens basilares envolve desde o domínio crítico de objetivos de
comunicação mercadológicos e organizacionais até e a articulação para o planejamento
de utilização das diversas mídias.
O PPC possui um importante papel de nortear o curso, uma vez que aponta, no que está
estabelecido nas habilidades e competências, o caminho formativo do alunado para
atender as expectativas da área de comunicação. Nesse sentido, o PPC de PP da UPM
pretende estar em linha com as multiplataformas comunicacionais, objetivando a
convergência em um único projeto educacional no campo da comunicação.
107
aprendizado pela curiosidade, criando desta forma, alternativas para o aperfeiçoamento
das práticas profissionais.
Referências bibliográficas
109
Considerações finais
Jornalistas que saibam pensar e produzir material jornalístico sobre e para marcas.
Publicitários que consigam criar conteúdos de qualidade. Publicitários e jornalistas que
saibam contar boas histórias em plataformas diferentes, pensando na tecnologia como
uma aliada, e não como um fim. E fazer tudo isso tendo em mente a ética com a
informação, a transparência e a capacidade de ouvir o outro. Esses são, ao nosso ver, e
após a conclusão desta pesquisa, os principais desafios para profissionais de
comunicação. E formar profissionais que tenham essas capacidades parece ser o grande
desafio para professores e outros responsáveis pelos cursos de comunicação no Brasil e
em diversas partes do mundo.
A leitura da íntegra desta pesquisa nos permite ter a compreensão mais ampla de algumas
das mudanças recentes mais significativas pelas quais passam o mercado e os
profissionais de comunicação. O que, inicialmente, surgiu como uma forte e comum
percepção entre os professores-pesquisadores que compõem o grupo que realizou este
trabalho, pode aqui ser comprovado e detalhado. Por meio de exemplos concretos do
mercado e também a partir dos resultados das pesquisas feitas com os diferentes grupos
aqui abordados (egressos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UPM,
gestores experientes nos mercados de ambas as áreas e alunos de ambos os cursos),
verificamos como essas tendências, apontadas na primeira parte do trabalho, estão
influenciando as rotinas profissionais e o mercado de trabalho para todos os setores
envolvidos.
Ao finalizar esta ampla pesquisa, podemos destacar alguns pontos que chamam a atenção:
a hibridização entre as áreas de Publicidade e Jornalismo já é uma realidade e traz efeitos
diretos para todo o mercado da Comunicação. No que diz respeito à formação dos
profissionais envolvidos nas áreas aqui abordadas, ao que nos parece, as habilidades mais
valorizadas não estão ligadas a questões técnicas, mas à capacidade de realizar
multitarefas, organizar e gerenciar projetos e à flexibilidade para aprender
constantemente.
110
Outra percepção comum à maioria dos entrevistados, sejam egressos ou gestores, se refere
à importância da formação superior, tanto para jornalistas, quanto para publicitários. Por
outro lado, muitas das respostas de todos os grupos consultados apontam para uma certa
inadequação de parte da formação recebida na sala de aula às novas demandas do
mercado.
Por outo lado, chama nossa atenção o fato de que em 2013 as novas diretrizes curriculares
nacionais para cursos de jornalismo tenham apontado exatamente para a separação das
áreas. Conforme vimos no capítulo 8, o Jornalismo deixou de ser considerado uma
habilitação da área de comunicação para se configurar como um campo próprio.
Curiosamente, é nessas mesmas diretrizes que aparece, pela primeira vez, a
obrigatoriedade de se incluir na formação e jornalistas conteúdos ligados a Assessoria de
Imprensa / Comunicação – área por muito tempo associada à formação em Relações
Públicas ou até mesmo a Publicidade e Propaganda.
111
Esperamos com este trabalho ter dado algumas respostas, mas, mais que isso, esperamos
ter contribuído para que consigamos fazer as perguntas certas, que possam nos levar a
uma formação de qualidade, ética e que permita aos nossos egressos atuar em um mundo
cada vez mais complexo.
112