1) Uma dona de casa de 74 anos é atendida pela segunda vez num ambulatório de geriatria.
Ela é assintomática, ativa, com funções cognitivas preservadas e tem historia nutricional
satisfatória para a idade. Não fuma nem ingere bebidas alcoólicas. O exame físico é normal e
a avaliação laboratorial de rotina mostra Hb de 9,8 g/dL, com VCM de 74 fL e CHCM de 26
g/dL, com glicemia, creatinina e lipídios normais. O médico deve:
Comentário: Temos uma paciente idosa, de 74 anos, assintomática, que apresenta uma
anemia na avaliação laboratorial de rotina. O que fazer? Bem... Primeiro, vamos responder
qual seria a conduta verdadeiramente correta... Depois, vamos escolher qual é a opção mais
compatível com a conduta correta. Diante de uma anemia (qualquer anemia), o médico tem
obrigação de investigar a sua causa! Como? A primeira medida recomendada é analisar
alguns dados e exames laboratoriais “rotineiros” para a investigação etiológica de toda
anemia: índices hematimétricos (particularmente o VCM), leucócitos, plaquetas, contagem de
reticulócitos e esfregaço do sangue periférico.
A anemia desta paciente é microcítica (VCM < 80 fL). Neste caso, as principais hipóteses são:
anemia ferropriva (a mais provável, por ser a mais comum), “anemia de doença crônica” (se
VCM > 70 fL) e talassemia. Para confirmar o diagnóstico de anemia ferropriva, é essencial
solicitar os parâmetros do chamado “laboratório sérico do ferro” (ferro, TIBC, ferritina). Só
poderemos afirmar que se trata de uma anemia ferropriva se e somente se os resultados
demonstrarem:
- Ferritina < 20 ng/mL
- Saturação de transferrina < 10%.
A saturação de transferrina (Sat-Transf) é calculada dividindo-se o ferro sérico pelo TIBC. Por
exemplo, se o ferro sérico for de 30 mcg/dL e o TIBC for de 370 mcg/dL, teremos Sat-Transf =
Fe/TIBC = 8,1% (um resultado confirmatório de anemia ferropriva). O encontro de ferro sérico
baixo (< 60 mcg/dL), por si só, não confirma anemia ferropriva, pois a hipoferremia também é
característica da “anemia de doença crônica”.
Infelizmente, não nos foi dada a opção de solicitar ferro, TIBC e ferritina séricos. Esta seria a
resposta verdadeiramente correta!! O jeito é considerar que o diagnóstico provável é de
anemia ferropriva (vamos fingir que os resultados do “laboratório sérico do ferro” foram dados
e confirmam este diagnóstico...
Então, qual é o próximo passo? O que fazer diante do diagnóstico de anemia ferropriva?
Conclusão: Numa paciente de 74 anos, com anemia ferropriva, o passo seguinte sempre deve
ser a investigação de sangramento do tubo digestivo, com endoscopia alta SEMPRE
associada a uma colonoscopia (mesmo se a endoscopia alta revelar anormalidades!).
a) Imunoeletroforese de proteínas.
b) Cintilografia óssea.
c) Dosagem de PSA livre e total.
d) Ressonância nuclear magnética de coluna vertebral.
e) Dosagem de PTH.
Comentário: Analise os dados importantes deste caso: homem idoso, lesões ósseas líticas
(provavelmente relacionadas ao histórico de dor torácica e lombar), anemia, insuficiência renal
com urinálise normal, hipercalcemia (cálcio iônico normal = 4,5-5,5 mg/dL). Qual é a doença
que combina todos estes achados? É o MIELOMA MÚLTIPLO. Esta neoplasia manifesta-se
acima dos 50 anos, sendo característica a tétrade: (1) lesões osteolíticas, (2) anemia, (3)
insuficiência renal, (4) hipercalcemia. A insuficiência renal do mieloma múltiplo possui uma
particularidade: não revela proteinúria no exame de urina convencional (urina tipo I), pois as
proteínas nefrotóxicas eliminadas na urina deste paciente (a saber, as cadeias leves de
imunoglobulina) não são detectadas pelo “teste da fita”, capacitado a reagir somente com
albumina e outras poucas proteínas. A cadeia leve de imunoglobulina (proteína de Bence-
Jones) só pode ser detectada por exames específicos, que podem ser qualitativos (teste do
ácido sulfossalicílico, teste do calor) ou quantitativos (de maior acurácia) - eletroforese de
proteínas urinárias.
Portanto, não há dúvidas quanto à principal hipótese diagnóstica (mieloma múltiplo). Para
confirmar este diagnóstico, dois exames são necessários:
1- Eletroforese de proteínas, plasmática e urinária [se positivo, este deve ser complementado
pela imunoeletroforese de proteínas, plasmática e/ou urinária].
2- Aspirado e biópsia de medula óssea.
ADENDO: A insuficiência renal do nosso paciente, embora tenha o mieloma como provável
fator contribuinte (“rim do mieloma”), foi agravada ou precipitada pela perda volêmica e
desidratação do paciente, em decorrência dos vômitos e da poliúria. Portanto, existe
certamente um importante “componente pré-renal”, que deve ser imediatamente corrigido por
hidratação venosa.
a) Levofloxacina.
b) Ceftazidima.
c) Ceftriaxona e azitromicina.
d) Ceftriaxona e metronidazol.
e) Vancomicina e gentamicina.
Comentário: Atualmente, por conta dos avanços terapêuticos, a maioria dos portadores de
fibrose cística atinge a idade adulta. Isto significa que esta doença há muito tempo deixou de
ser exclusiva da pediatria... Tornou-se também um importante tema da clínica médica...
A maioria dos adultos com fibrose cística foi diagnosticada na infância, recebendo uma correta
abordagem terapêutica multiprofissional, baseada principalmente no controle agressivo das
infecções pulmonares, no suporte nutricional e na fisioterapia respiratória. O nosso paciente
tem 18 anos e apresenta um quadro clássico de “exacerbação pulmonar” da fibrose cística,
caracterizada por uma síndrome infecciosa aguda ou subaguda. Vale ressaltar que nestes
pacientes, desde os primeiros meses de vida, as vias aéreas superiores e inferiores tornaram-
se cronicamente infectadas por bactérias, que se proliferam no muco espesso acumulado nos
brônquios e bronquíolos. Quando a proliferação bacteriana se acentua, o paciente desenvolve
o quadro de “exacerbação”, que deve ser tratado agressivamente com antibióticos.
Mas quais são as bactérias mais prováveis como causadoras desta exacerbação?
a) Ceftriaxona e azitromicina.
b) Levofloxacina.
c) Oxacilina e metronidazol.
d) Ampicilina e gentamicina.
e) Ceftriaxona e clindamicina.
Voltando para o nosso caso clínico, percebemos que não há dúvidas quanto ao diagnóstico de
pneumonia aspirativa - paciente alcoólatra, curso indolente, cavitação. Portanto, a
antibioticoterapia deve ser voltada para bactérias anaeróbicas e Gram positivas microaerófilas.
O fato de ser alcoólatra aumenta a chance de pneumonia por Klebsiella pneumoniae, sendo
necessária a cobertura deste agente. Finalmente, não devemos esquecer o pneumococo, um
raro agente de pneumonia cavitária em alcoólatras. Das opções apresentadas, a única que
contém antibióticos ativos contra anaeróbios, Gram positivos microaerófilos e Gram negativos
entéricos é a opção (e) - CEFTRIAXONE + CLINDAMICINA. A clindamicina é o antimicrobiano
de escolha para a pneumonia aspirativa comunitária e para o abscesso pulmonar. O
ceftriaxone é uma cefalosporina de terceira geração, eficaz contra enterobactérias Gram
negativas de comunidade e contra o pneumococo.
Voltemos ao nosso paciente asmático... Ele tem sintomas 1-2 vezes por semana e sintomas
noturnos (despertares) 2 vezes nos últimos 2 meses (1 vez por mês). Qual é o padrão clínico
da sua asma? Releia o item 1 do parágrafo acima e perceba que se trata de uma ASMA
INTERMITENTE. Podemos resumir a terapia ambulatorial da asma identificando os chamados
“níveis” de tratamento (ou “steps”), que variam de acordo com o padrão clínico atual do
paciente. Abaixo apresentamos um diagrama representativo (memorize-o!):
®
Portanto, ficaremos com a opção (b) - fenoterol inalatório (Berotec spray ) quando necessário.
a) Carcinoma medular.
b) Carcinoma folicular.
c) Carcinoma papilífero.
d) Adenoma folicular.
e) Carcinoma anaplásico.
Com isso, entre as medidas preconizadas para o nosso paciente, participam a opção (a)
[vamos aceitar um alvo pressórico < 130/85 mmHg, embora o mais correto seja < 130/80
mmHg], a opção (b) e a opção (c) - captopril, um inibidor da ECA. O uso de radiocontraste
iodado para a realização de exames de imagem aumenta o risco de insuficiência renal aguda
em diabéticos. Neste caso, a disfunção renal é aguda e reversível, diferente da nefropatia
diabética. De qualquer forma, vamos considerar a opção (e) também como uma medida
preventiva da insuficiência renal (embora neste caso, seja do tipo aguda).
Sobrou, portanto, a opção (c)... Nenhum estudo comprovou de forma indubitável que a
restrição protêica na dieta previna a progressão da nefropatia diabética. Logo, ficaremos com
esta opção.
10) Mulher de 25 anos procura pronto-socorro por estar há vários dias com vômito e diarréia.
Encontra-se desidratada, com PA de 104 x 54 mmHg, pulso de 120 bpm e diurese de 15 mL
por hora. Os exames mostram hemoglobina de 15 g/dL, sódio de 152 mEq/L, creatinina de 2,1
mg/dL e uréia de 140 mg/dL. É provável que a osmolaridade urinária (em mOsm/L), a fração
de excreção de sódio (em %) e o tipo de cilindros urinários sejam, respectivamente:
Para memorizar esta fórmula, basta pensar no termo “fração excretória urinária de sódio”...
Por esta nomenclatura, é fácil lembrar que o sódio urinário deve estar no numerador da
fórmula e, obviamente, o sódio plasmático só poderá estar no denominador. Pronto, agora é
só “inverter a creatinina” (creatinina urinária no denominador e creatinina plasmática no
numerador) e multiplicar o resultado por 100.
Conclusão: Opção (e) CORRETA - urina concentrada (osmolaridade > 500), pobre em sódio
(FE-Na < 1%) e demonstrando múltiplos cilindros hialinos.
11) Uma criança, com antecedentes de lesões periorais hiperpigmentadas e pólipos gástricos,
é trazida ao pronto-socorro com quadro de dor e distensão abdominal. O exame físico revela
abdome bastante distendido, com ruídos hidroaéreos aumentados e de timbre metálico.
Não tem cicatrizes de cirurgia prévia. Diagnóstico mais provável:
a) Enterocolite.
b) Pâncreas divisum.
c) Intussuscepção.
d) Bezoar.
e) Vício de rotação intestinal.
Na fase posterior, o vômito torna-se bilioso. Fezes de aspecto normal podem ser eliminadas
nas primeiras horas dos sintomas, e então tornam-se pequenas ou mais freqüentemente não
ocorrem, com pouca ou nenhuma eliminação de flatos (sinais de obstrução intestinal).
Geralmente há evacuação com sangue nas primeiras 12 horas, mas às vezes não acontece
por 1-2 dias, e raramente não há; 60% das crianças eliminam fezes com sangue vermelho e
muco, chamadas fezes em 'geléia de framboesa'. Alguns pacientes apresentam apenas
irritabilidade e letargia intermitente ou progressiva. A palpação do abdome revela geralmente
uma massa em forma de salsicha, um pouco dolorosa, por vezes mal definida, que pode
aumentar de tamanho e consistência durante um paroxismo de dor e é mais freqüentemente
situada no quadrante superior direito do abdome. Cerca de 30% dos pacientes não têm uma
Os dados descritos no caso (lesões periorais hiperpigmentadas e pólipos gástricos) nos levam
ao diagnóstico sindrômico de Peutz-Jegher, uma síndrome caracterizada por pigmentação
mucosa dos lábios e gengivas e hamartomas do estômago e intestino delgado. Esses pólipos
no intestino podem servir como lesão de “cabeça de invaginação”, predispondo a episódios de
intussuscepção. Pode ser particularmente difícil de diagnosticar intussuscepção em uma
criança que já tem gastroenterite; uma mudança no padrão da doença, no caráter da dor, ou a
natureza dos vômitos, ou o aparecimento de sangramento retal deve alertar o médico. As
fezes com sangue e cólicas abdominais que acompanham a enterocolite podem ser
diferenciadas da intussuscepção, porque na enterocolite a dor é menos grave e menos
regular, há diarréia, e a criança está visivelmente doente entre os episódios de dor. O
sangramento do divertículo de Meckel é geralmente indolor.
12) Um jovem de 23 anos sofreu choque elétrico num fio de alta tensão. Chega ao pronto-
socorro cerca de uma hora após. Ao ser sondado, nota-se que tem diurese escura e
avermelhada. Apresenta pulso de 95 batimentos por minuto, pressão arterial de 110x80 mmHg
e escore de 15 na escala de Glasgow. Diagnóstico mais provável e melhor tratamento:
O extenso acometimento muscular pode gerar dano renal agudo (necrose tubular aguda -
NTA), decorrente da nefropatia obstrutiva pela mioglobina liberada pelo músculo
(rabdomiólise). Esta pode evoluir para insuficiência renal aguda e necessidade de diálise, caso
nenhuma intervenção seja realizada. Para evitarmos esta complicação renal, devemos:
(1) Iniciar imediatamente hidratação venosa com Ringer Lactato (dose inicial de 1,5 litro/h),
mantendo um débito urinário de 100-300 ml/h nos adultos ou de 2 ml/kg/h em crianças, até o
13) Um senhor de 50 anos colidiu seu carro contra um poste, a cerca de quarenta quilômetros
por hora. Durante o atendimento inicial, manteve-se hemodinamicamente normal. Não tem dor
abdominal e nenhum sinal de peritonismo, mas tem dor à palpação da bacia. Na sondagem
vesical detectou-se hematúria macroscópica. Diagnostico mais provável e melhor conduta:
No caso em apreço, após a inserção do cateter, iniciou-se a drenagem de urina com aspecto
hemático (hematúria*), revelando acometimento de alguma estrutura do sistema urológico, em
especial bexiga e rim.
E agora, o que fazer? Bem, segundo o Tratado de Cirurgia do Sabiston, todo paciente vítima
de trauma contuso com hematúria macroscópica (caso do nosso paciente) ou com choque
sistêmico grave (PAS < 90 mmHg) associado a hematúria microscópica deve ser submetido a
exames de imagem renais, em especial a TC contrastada de abdome e pelve. Este exame é
também é útil para avaliar a bexiga, podendo diagnosticar lesões nesta estrutura.
Mas qual deverá ser o achado deste exame neste caso? Lesão renal ou vesical (bexiga)?
Neste momento, retorne ao caso e analise-o... Note que o autor da questão nos fornece pistas
sutis para chegarmos ao diagnóstico correto. A dor a palpação da bacia não foi colocada aí à
toa, você não concorda? Pois bem, este dado, associado a estabilidade hemodinâmica e
exame do abdome normal (com ênfase na ausência de peritonismo), nos fala mais a favor de
lesão (ruptura) extraperitonial da bexiga (QUADRO)!
14) Dois dias após ter sido vítima de espancamento com pauladas, um morador de rua foi
trazido ao pronto-socorro. Com o diagnostico de hemotórax e fraturas de costelas, foi
submetido à drenagem torácica. Entretanto, mesmo com o dreno bem localizado, a imagem
radiológica do velamento diminuiu muito pouco após 48 horas de drenagem. O debito atual é
de 150 mL/dia de liquido sanguinolento. Sabendo que esta imagem corresponde a “hemotórax
retido”, a melhor conduta seria:
No entanto, pelo caso descrito, apesar da posição do tubo de drenagem adequada, há saída
de 150 ml/dia de secreção hemática e a presença de um hemotórax retido (em outras
palavras, um acúmulo de sangue septado - um grande coágulo pleural). Nestes casos, a
conduta a ser adotada deve ter como finalidade a limpeza do espaço pleural (com a retirada
das septações / loculações) e a remoção do coágulo. Assim, das opções fornecidas, a
pleuroscopia (toracoscopia) é que mais se adéqua, sendo a toracotomia não emergencial uma
opção, especialmente na falta da primeira.
Comentário: Marcou a opção (a)? Pois é, muita gente também cometeu o mesmo erro! Aliás,
ela não foi colocada aí à toa... Vai ver você nem mesmo leu as demais opções, correto? Mas
não se preocupe! Agora você pode cometer este equívoco, afinal, isso é apenas um exercício.
Porém, após a atenta leitura deste comentário, certamente seu resultado na hora da prova real
será diferente! Observe...
O diagnóstico clínico de obstrução intestinal mecânica completa pode ser feito somente
com os dados da anamnese e exame físico deste paciente. O quadro é bastante sugestivo:
distensão abdominal, parada da eliminação de gazes e fezes, ausência de gás no reto à
radiografia. Contudo, para acertar esta questão, não basta o diagnóstico sindrômico; é preciso
saber qual é a etiologia mais provável da obstrução e, mais ainda, a conduta.
Existe uma “pista” no enunciado que aponta o diagnóstico: o relato da radiografia de uma
imagem de “U” invertido, com base na pelve, clássica do volvo de sigmóide. Com isso, duas
das cinco opções podem ser descartadas: (b) e (d). Bem, vamos responder a questão revendo
um pouco do assunto...
- O que é volvo? O termo “volvo” refere-se a uma torção espontânea de uma alça intestinal
(delgado ou cólon) sobre o seu pedículo mesentérico. No intestino delgado, a causa mais
comum é a presença de uma brida, que prende o segmento de alça em algum ponto fixo,
permitindo que ela rode sobre si mesma. No cólon, os volvos ocorrem nos segmentos móveis -
sigmóide, ceco, transverso. O sigmóide é o segmento colônico mais afetado, respondendo por
60% dos casos, seguido pelo ceco (20% dos casos).
16) Um paciente de 67 anos apresenta icterícia, dor abdominal, vômitos e febre com calafrios.
A tomografia revelou coleção intra-hepática de conteúdo liquido com realce periférico, de 7x5
cm em segmentos II e III. Melhor tratamento inicial:
Comentário: Boa questão! Nosso paciente possui a tríade de Charcot (icterícia, febre com
calafrios e dor abdominal), quadro sugestivo de colangite, correto? Sim, mas apesar de
sugestivo de colangite, pode estar presente também em outras doenças, como é o caso desta
questão! O quadro descrito é compatível com abscesso hepático piogênico (diagnóstico
confirmado pelo achado contundente fornecido pela TC contrastada de abdome - coleção
intra-hepática de conteúdo líquido com realce periférico, de 7,0 x 5,0 cm em segmentos II e
III). Um dado interessante é que a localização deste abscesso não é a usual; a maior parte dos
abscessos hepáticos piogênicos compromete o lobo direito do fígado (75% dos casos).
Com o diagnóstico em mente, uma pergunta deve ser respondida: como abordar? Uma vez
suspeitado o diagnóstico, deve-se imediatamente iniciar a administração de antibióticos
intravenosos de amplo espectro (visando cobrir germes Gram-negativos, Gram-positivos e
anaeróbios*), a fim de controlar a bacteremia progressiva e suas complicações associadas.
Antes, porém, da administração de antibióticos, devem ser colhidas hemoculturas e culturas
do abscesso (por aspiração), com posterior envio para microbiologia.
Quarenta por cento dos abscessos piogênicos são polimicrobianos, sendo que os abscessos solitários
são com maior freqüência deste tipo. Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae são os germes mais
comumente isolados em culturas. Além deles, Staphylococcus aureus, espécies de Enterococcus,
Streptococcus viridans e espécies de bacterióides são também observados com certa freqüência. Os
microorganismos anaeróbios estão presentes em até 60% desses abscessos.
Pelo exposto, podemos perceber que a resposta que mais se adéqua é a opção (c), apesar de
não estar completa (falta a cobertura antibiótica para os Gram-positivos).
Neste momento, uma pergunta é bem pertinente: Toda febre pós-operatória (PO) possui
origem infecciosa? A resposta é não! Na realidade, uma série de agentes infecciosos e não-
infecciosos pode deflagrar a febre neste período. Segundo dados da literatura mundial, a
maior parte dos casos de febre no PO NÃO representa uma condição ameaçadora à vida, mas
isto não significa em hipótese alguma que a busca diagnóstica possa ser negligenciada.
Sendo assim, é obrigação do profissional investigar a origem da febre! O primeiro passo desta
investigação é tentar diferenciar se a febre representa alguma manifestação de processo
infeccioso ou não.
Vale ressaltar que essas quatro causas infecciosas de febre “recente” são pouco comuns,
especialmente a síndrome do choque tóxico, e que as primeiras três condições são facilmente
diagnosticadas após um minucioso exame clínico (TABELA), sendo facilmente diferenciadas
das causas não-infecciosas.
Pela análise da tabela fica fácil perceber que o caso do paciente é compatível com fasciíte
(miosite) por clostridium.
18) Um jovem de 28 anos é trazido ao hospital duas horas após ter sofrido ferimento por arma
de fogo em membro inferior esquerdo. Está normal hemodinamicamente. O orifício de entrada
do projétil é na face anterior do terço distal da coxa e o de saída na face posterior da mesma,
logo acima do joelho. Há um extenso hematoma local, com diminuição da temperatura na
extremidade e ausência de pulsos distais. Podem ser consideradas todas as medidas a seguir,
EXCETO:
a) Tipagem sanguínea.
b) Arteriografia.
c) Medida da pressão no compartimento.
d) Exploração cirúrgica.
e) Heparinização regional.
Assim, sabendo-se com exatidão o local anatômico da lesão, a equipe médica deverá agir no
sentido de intervir o mais rapidamente possível, pois cada minuto perdido aumenta a
probabilidade de perda do membro. Isto é especialmente verdadeiro neste caso, visto que o
A arteriografia não deve ser realizada pré-operatoriamente nestes casos, pois serviria apenas
para atrasar o procedimento operatório definitivo. Este exame está indicado somente ao final
do procedimento operatório (portanto, ainda no perioperatório), tendo como função avaliar a
perviedade da anastomose vascular.
Pelo exposto, podemos observar que, apesar de se tratar de uma questão bem interessante, o
autor comeu mosca. Compreendemos perfeitamente sua intenção (na realidade, ele gostaria
de ter perguntado quais as medidas adotadas antes do procedimento operatório), mas da
forma que foi perguntada a questão não encontra resposta adequada.
a) Pancreatite.
b) Adenocarcinoma de pâncreas.
c) Cirrose hepática.
d) Aneurisma de artéria esplênica.
e) Insulinoma.
Comentário: Sabemos sobre a associação de cirrose hepática com esplenomegalia, mas será
que existe alguma associação entre pancreatite e esplenomegalia? A resposta é SIM! A
pancreatite crônica, em 5-10% dos casos desenvolve uma complicação chamada TROMBOSE
DE VEIA ESPLÊNICA. A obstrução trombótica desta veia provoca hipertensão no sistema
porta esquerdo, dilatando as veias gástricas curtas que correm pelo fundo gástrico e se
anastomosam com a veia gástrica esquerda (“veia coronária”), por veias que correm pelo
cárdia (junção esôfago-gástrica). O resultado desta complicação é o aparecimento de
esplenomegalia congestiva e a formação de varizes de fundo gástrico, por vezes associadas a
varizes de esôfago distais, de pequeno ou moderado grau.
O risco de rotura dessas varizes (hemorragia digestiva) é bastante baixo (cerca de 5%)
quando comparado ao risco de sangramento das varizes relacionadas à cirrose hepática com
hipertensão porta generalizada. Perceba na história clínica de nosso paciente que ele é um
etilista crônico e já teve vários episódios de pancreatite nos últimos 3 anos. A ocorrência de
“surtos” de pancreatite aguda em alcoolistas quase sempre indica a presença de uma
pancreatite crônica como doença de base (lembre-se que o etilismo pesado é a causa mais
comum de pancreatite crônica!). Como a veia esplênica possui uma relação anatômica
bastante íntima com a face posterior do pâncreas, ela pode ser acometida pela inflamação
crônica e desenvolver trombose. A esplenectomia só está indicada em caso de episódios
prévios de hemorragia digestiva por rotura de varizes.
20) No terceiro dia pós-operatório de uma laparotomia, para tratamento de ferimento por arma
de fogo em que houve lesão transfixante de cólon, um paciente jovem fica agitado e
taquipnéico. Frequência ventilatória: 30 incursões por minuto, frequência cardíaca: 140
batimentos por minuto, pressão arterial: 70 x 40 mmHg. Apresenta oligúria acentuada. Após
ter recebido cerca de 4 litros de cristalóide, seus sinais vitais continuam muito alterados.
Instalado cateter de Swan-Ganz, obtêm-se os seguintes dados: pressão de artéria pulmonar:
24/24, pressão encunhada de capilar pulmonar: 10; índice cardíaco: 8,2, pressão venosa
central: 12. Gasometria arterial: pH: 7,44, PCO2: 25 mmHg, PO2: 63 mmHg, SaO2: 94%. Está
recebendo oxigênio por máscara, com FiO2 de 40%. Diagnóstico mais compatível com o
quadro e melhor conduta:
a) Sepsis - reoperação.
b) Abscesso - punção guiada por ultra-sonografia.
c) Embolia pulmonar - heparinização.
d) Sepsis - tomografia de abdome.
e) Sepsis - recuperação hemodinâmica e correção dos distúrbios metabólicos e
ventilatórios.
Comentário: Vamos analisar os principais aspectos deste caso... Um jovem foi vítima de lesão
transfixante de cólon por projétil de arma de fogo (PAF), supostamente reparada na
laparotomia de emergência. Porém, no terceiro dia do pós-operatório, o paciente desenvolve
um quadro de CHOQUE. Se o choque fosse apenas hipovolêmico, os sinais vitais teriam
melhorado com a reposição volêmica inicial, com 4 litros de solução cristalóide, mas não foi
isso que ocorreu. Suspeitando de um mecanismo alternativo para o choque deste paciente, o
plantonista indicou (a nosso ver, corretamente) um cateter de Swan-Ganz. Analisando os
parâmetros obtidos, em conjunto com a gasometria arterial e a pressão arterial média
(sistêmica), devemos concluir o tipo de choque deste paciente. Vamos então começar a
destrinchar o caso entendendo melhor o cateter de Swan-Ganz, para em seguida correlacionar
os achados com os tipos de choque e, assim, chegar ao diagnóstico do paciente...
O cateter de Swan-Ganz possui pelo menos três lúmens: (1) lúmen distal, que mede a pressão
em sua extremidade distal, localizada num ramo da artéria pulmonar; (2) lúmen proximal, que
mede a pressão no átrio direito, terminando numa abertura lateral que se localiza nesta
Observe na figura acima, na tela do monitor, à esquerda, quando o balão está desinsuflado,
que aparece a curva da pressão arterial pulmonar e suas medidas (em amarelo). Temos PAP
sistólica = 35 mmHg, PAP diastólica = 13 mmHg e PAP média = 20 mmHg. Quando o médico
insuflou o balão, a curva da PAP torna-se achatada e passa a refletir a pressão capilar
pulmonar (PCP-E) que, neste caso, é de 8 mmHg. A curva de baixo (em laranja escuro) é a
curva da pressão atrial direita, que representa a pressão venosa central (PVC). Podemos dizer
que a PCP-E reflete as pressões de enchimento do coração esquerdo, enquanto que a PVC
reflete as pressões de enchimento do coração direito.
Dispondo do débito cardíaco, da PVC e da PAM sistêmica (por canulação da artéria radial),
podemos calcular outro importante parâmetro hemodinâmico: a resistência vascular periférica
(RVP). A fórmula é muito simples: RVP = ∆P/DC, sendo ∆P = PAM - PVC. Se utilizarmos o
índice cardíaco (IC) no lugar do débito cardíaco, a mesma fórmula nos fornecerá a RVP
2
indexada (para a superfície corporal do paciente). Por exemplo: se IC = 3,5 L/min/m , PAM =
70 mmHg e PVC = 5 mmHg (logo: ∆P = 65 mmHg), podemos calcular a RVP indexada, que
5
será 65/3,5 = 18,6. Para usar a unidade básica de RVP (dyna.seg/cm ), só falta multiplicar o
5 2
resultado por 80. Portanto: RVP indexada = 18,6 x 80 = 1.488 dyna.seg/cm /m .
Valores normais:
5
- RVP: 800-1.200 dyna.seg/cm .
5 2
- RVP indexada: 2.000-2.400 dyna.seg/cm /m .
Pois bem... Depois de toda esta revisão, voltemos ao nosso paciente... Ele apresenta choque
refratário à reposição volêmica e, de acordo com o Swan-Ganz, apresenta índice cardíaco
2 2
elevado, de 8,2 L/min/m (acima de 4,0 L/min/m ). Se calcularmos a sua RVP indexada
{[(PAM - PVC) ÷ IC] x 80}, considerando a sua pressão arterial de 70/40 mmHg [PAM = (PAsist
5 2
+ 2 x PAdiast) ÷ 3 = 50 mmHg], encontraremos o valor aproximado de 370 dyna.seg/cm /m
{[(50 - 12) ÷ 8,2] x 80 = 370}. Ou seja, uma RVP baixíssima!! Podemos, então, concluir
imediatamente que ele está em franco CHOQUE SÉPTICO.
Lembre-se que o nosso paciente tem PVC = 12 mmHg e PCP-E = 10 mmHg. Portanto, ainda
precisa de reposição volêmica (cristalóides). Como a pressão arterial não respondeu
absolutamente à reposição volêmica de 4 litros de cristalóide, devemos também iniciar uma
A presença de múltiplos esquizócitos no sangue periférico indica lise mecânica das hemácias,
que pode ocorrer quando elas passam por superfícies protéticas (ex. próteses valvares
Conclusão: A opção (b) está correta, ao citar a síndrome hemolítico-urêmica (relacionada aos
esquizócitos) e a anemia falciforme (relacionada aos corpúsculos de Howell-Jolly).
a) Gota.
b) Artrite psoriática.
c) Osteoartrite.
23) Dentre os auto-anticorpos abaixo, têm maior valor preditivo positivo para o diagnóstico de
lúpus eritematoso:
Comentário: Quando dizemos que um determinado exame tem valor preditivo positivo (VP+)
elevado, isto significa que, quando seu resultado é positivo, a chance de o paciente ter de fato
a doença pesquisada é muito alta. Os testes associados a elevado VP+ são ditos “específicos”
ou “mais específicos” para a doença em questão. VP+ elevado = especificidade elevada.
Podemos, então, modificar a pergunta do enunciado para: “Quais são os auto-anticorpos
mais específicos para lúpus eritematoso sistêmico (LES)?”
Você já sabe a resposta: (1) anti-DNA dupla hélice (nativo) e (2) anti-Sm. Portanto,
ficaremos com a opção (a). O anti-DNAdh, além de ser específico para LES, está presente em
70% dos pacientes. Quando em títulos elevados (> 25 unidades/mL), sugere a presença de
nefrite lúpica e, ao contrário de outros auto-anticorpos, os títulos séricos de anti-DNAdh
acompanham a atividade da nefrite lúpica. O anti-Sm (“Sm = antígeno de Smith”) é, na
verdade, um conjunto de anticorpos que reagem contra um grupo de antígenos nucleares da
AUTO-ANTICORPOS DO LES
ANTICORPOS ANTINUCLEARES
1) Anti-DNAdh
- Específico para LES.
- Presente em 70% dos casos.
- Associado à nefrite lúpica.
- Títulos proporcionais à gravidade/atividade da nefrite.
2) Anti-Sm
- Específico para LES.
- Presente em 20% (brancos) e em 30-40% (negros e asiáticos).
3) Anti-Ro (anti-SS-A)
- Presente em 30% dos casos.
- Positivo nos 2% dos casos de lúpus FAN negativo.
- Associado a: (1) lúpus neonatal e BAVT congênito, (2) síndrome seca, (3) lúpus cutâneo subagudo,
(4) dermatite por fotossensibilidade.
4) Anti-La (anti-SS-B)
- Presente em 10% dos casos.
- Associado à síndrome seca.
- Indica menor risco de nefrite grave.
5) Anti-RNP
- Presente em 40% dos casos (mais comum em negros).
- Em altos títulos, associado às síndromes de overlap de colagenoses.
6) Anti-histona
- Presente em 70% dos casos (mas em 100% dos casos no lúpus fármaco-induzido).
ANTICORPOS ANTICITOPLASMÁTICOS OU ANTI-MEMBRANA
7) Anti-fosfolipídio*
- Presente em 50% dos casos.
- Associado a: fenômenos tromboembólicos, abortamento de repetição, plaquetopenia.
8) Anti-P ribossomal
- Presente em 20% dos casos.
- Associado ao lúpus neuropsiquiátrico.
9) Anti-neuronal (anti-receptor de glutamato)
- Presente em 60% dos casos.
- Títulos liquóricos associados ao lúpus do SNC.
10) Anti-eritrócito
- Presente em 60% dos casos.
- Associado a anemia hemolítica Coombs positiva.
11) Anti-plaqueta
- Presente em 30% dos casos.
- Associado a trombocitopenia auto-imune (PTI).
*Dois tipos: (1) anti-cardiolipina (VDRL falso-positivo); (2) “anticoagulante lúpico” (PTT alargado).
Estude as duas TABELAS abaixo, que listam os três principais agentes de cada subgrupo de
pacientes com endocardite infecciosa (pelo Harrison, 17ª edição):
a) Vômitos há mais de 1 dia, desidratação, atrito pericárdico, uréia = 289 mg/dL e creatinina =
9,0 mg/dL.
b) Dor torácica, dispnéia e hemoptise de inicio súbito, no 3º P.O. de uma cirurgia abdominal.
c) DPOC descompensada, congestão pulmonar, estase venosa jugular e edema periférico.
d) Dor precordial em aperto, sudorese e náusea há varias horas.
e) Episódios recentes de dor precordial irradiada para o braço esquerdo, relacionada a
esforços, que cede com repouso, em poucos minutos.
Comentário: Vamos analisar o ECG apresentado... Perceba que em DI, aVL, V2 e V3 existe
uma alteração bastante característica de infarto agudo do miocárdio. Veja abaixo a evolução
eletrocardiográfica típica de um infarto miocárdico agudo:
Observe o ECG normal (figura A) de uma derivação, digamos, DI... O segmento ST (seta
vermelha) está alinhado com o ponto zero, ou seja, ele está nivelado. Logo após a oclusão
coronariana aguda, a onda T torna-se alta e apiculada (onda T hiperaguda) e o segmento ST
“sobe” em relação ao ponto zero, isto é, surge um supradesnivelamento do segmento ST (fase
hiperaguda do IAM = figura B). Poucos minutos depois, o paciente começa a ter dor torácica
aguda, de forte intensidade, levando-o a procurar o atendimento de emergência. Durante as
Agora tente descobrir qual das figuras acima se encaixa no ECG do enunciado... Não é difícil
perceber que a figura C é parecida com a derivação DI do ECG apresentado na questão!
Alterações semelhantes também são vistas em aVL, V2 e V3. Conclusão: trata-se de um
infarto agudo do miocárdio com elevação de ST, em sua fase subaguda, após horas do início
dos sintomas [dor torácica anterior, constrictiva, sudorese, náusea e vômitos - como afirma a
opção (d)]. As derivações comprometidas refletem um infarto da parede anterior extenso. Se a
dor começou a menos de 12 h, a terapia de reperfusão miocárdica (trombolítico venoso ou
angioplastia primária) estará indicada!
26) Mulher de 55 anos apresenta há cerca de 6 horas quadro de cefaléia e vômitos. É admitida
no pronto-socorro em coma, quadriparética, com pupilas mioticas e fotorreagentes e sem
resposta oculovestibular. Sua PA é de 160 x 110 mmHg e sua glicemia capilar é de 130
mg/dL. A ressonância magnética de crânio mostrará com maior probabilidade hemorragia na
seguinte localização:
a) Tálamo.
b) Putâmen.
c) Ponte.
d) Cerebelo.
e) Lobo frontal.
As hemorragias lobares (lobo frontal, parietal, temporal, occipital) estão mais associadas à
angiopatia amilóide do idoso, sem relação precisa com a hipertensão arterial [eliminamos a
opção (e)]. Tudo bem... mas, das quatro regiões supracitadas, qual é a que foi acometida
neste paciente por hemorragia?
HEMORRAGIA DE PONTE
- Rebaixamento precoce da consciência (minutos).
- Quadriparesia ou quadriplegia.
- Abolição dos reflexos pontinos (oculovestibular e oculocefálico).
- Postura em descerebração.
- Pupilas mióticas (puntiformes) fotorreagentes.
HEMORRAGIA DE CEREBELO
- Rebaixamento tardio da consciência (horas ou dias).
- Cefaléia occipital intensa.
- Vertigem rotatória, náusea e vômitos.
- Desequilíbrio na marcha.
- Nistagmo ocular espontâneo (horizontal ou vertical).
Há casos de hemorragia pontina de menos volume, nos quais o paciente não entra em coma e
possui um prognóstico melhor. Contudo, isto é a exceção, e não a regra. Em 80-90% dos
casos, o paciente com hemorragia pontina evolui para o estado de coma profundo,
descerebrando e, em seguida, para o óbito.
I. Homem de 50 anos com dor em cólica em hipocôndrio direito, acolia fecal e ultra-sonografia
mostrando nódulo em cabeça de pâncreas.
II. Mulher de 30 anos, com história de depressão e quadro confusional após ingerir grande
quantidade de comprimidos de paracetamol.
a) I, I e II.
b) I, II e I.
c) I, II e II.
d) II, I e I.
e) II, I e II.
Caso I: A icterícia deste paciente é do tipo colestática. Um tumor na cabeça do pâncreas está
comprimindo o colédoco distal, obstruindo a drenagem biliar, produzindo acúmulo de
bilirrubina direta. A síndrome colestática se caracteriza por icterícia, acolia fecal, colúria e
prurido. Porém, nem todos estes comemorativos precisam estar presentes. Como não há
insuficiência hepática (os hepatócitos mantém a sua função preservada), não há por que haver
asterixis (flapping) [tremor lento nas mãos, desencadeado pela gravidade]. A reposição de
vitamina K provavelmente irá corrigir o tempo de protrombina, pois o alargamento deste tempo
deve-se provavelmente à malabsorção da vitamina K (uma vitamina lipossolúvel) pela falta de
sais biliares no duodeno. A fosfatase alcalina estará bastante elevada, por ser a principal
enzima liberada em condições de colestase.
Caso II: Esta paciente ingeriu paracetamol em grande quantidade. Este analgésico produz um
metabólito tóxico aos hepatócitos, provocando insuficiência hepática aguda grave nos estados
de intoxicação. A icterícia não é do tipo “colestática”, mas sim “hepatocelular” - o acúmulo de
bilirrubina (direta e indireta, principalmente a direta) deve-se à perda da função hepatocitária,
por necrose ou disfunção. O alargamento do tempo de protrombina é decorrente da deficiência
hepática de síntese de fatores da coagulação - não adianta repor vitamina K para este caso (a
única forma de corrigir o distúrbio de coagulação é repondo plasma fresco, que contém os
fatores deficientes). O hepatograma demonstra basicamente uma elevação dramática das
transaminases (podem ultrapassar 10.000 UI/L em alguns casos), mas apenas um leve
aumento da fosfatase alcalina. A insuficiência hepática aguda fulminante evolui com
encefalopatia hepática grave, associada a edema cerebral. O paciente apresenta-se ictérico e
com rebaixamento da consciência, que pode variar desde um estado confusional, com
asterixis, até o estado de coma profundo.
28) Na figura abaixo estão representados os sítios de ação dos medicamentos usados no
tratamento do diabetes tipo 2.
Comentário: O diabetes tipo 2 é caracterizado por uma deficiência relativa de insulina. Isto
quer dizer que as células beta das ilhotas pancreáticas continuam secretando insulina, mas
numa quantidade inferior a necessária para manter o indivíduo euglicêmico. Podemos resumir
toda a fisiopatologia do DM tipo 2 em dois fatores básicos:
- Os tecidos respondem menos à insulina (resistência periférica à insulina).
- O pâncreas secreta menos insulina do que o necessário (hipoinsulinismo relativo).
Analisando tais princípios, fica mais fácil entender o tratamento da doença e o efeito das
medicações anti-diabéticas. Por exemplo: o controle da obesidade é um componente
fundamental da terapia, pois a obesidade (do tipo abdominal-visceral), por si só, aumenta a
resistência periférica à insulina. Perder peso e fazer exercícios físicos regulares reduzem esta
resistência, facilitando o trabalho do pâncreas, que precisará secretar menos insulina para
corrigir a glicemia do paciente.
Vamos agora relembrar a ação das cinco classes de antidiabéticos orais citados na questão...
Muito bem... Agora volte para a figura do enunciado e relacione os órgãos e tecidos
numerados com uma das cinco classes de antidiabéticos orais. A única opção que os
correlaciona corretamente é a opção (a).
30) A dosagem de albumina no líquido ascítico de um paciente em anasarca vale 1,5 g/dL.
Para que se diagnostique hipertensão portal é necessário que o nível sérico de albumina valha
no mínimo, em g/dL.
a) 1,9.
b) 2,3.
c) 2,6.
d) 3,0.
e) 3,2.
Comentário: Vocês que serão brevemente residentes de algum hospital, precisam saber que
todo paciente com ascite, ainda sem etiologia confirmada, necessita de uma paracentese
diagnóstica! Entre os parâmetros laboratoriais avaliados, o mais importante inicialmente é o
gradiente de albumina soro-ascite. Com este valor em mãos, podemos classificar a ascite
do paciente em dois grandes grupos:
1- Ascite relacionada à hipertensão portal: gradiente maior ou igual a 1,1.
2- Ascite não relacionada à hipertensão portal: gradiente menor que 1,1.
Bem... Agora é só usar a aritmética para calcular qual deve ser a dosagem sérica de albumina
mínima para que o gradiente seja maior ou igual a 1,1. Como a albumina do líquido ascítico é
de 1,5 g/dL, a albumina sérica mínima deve ser de 2,6 g/dL, para que o gradiente (subtração)
soro-ascite seja maior ou igual a 1,1, pois 2,6 - 1,5 = 1,1.
Comentário: O que chama mais atenção nestes dois traçados de ECG? No da esquerda,
observa-se uma onda T extremamente alta e apiculada. Existem três causas deste padrão na
prática médica: (1) infarto agudo do miocárdio no início da fase hiperaguda (é a chamada
“onda T hiperaguda”), (2) isquemia miocárdica aguda, sem infarto, (3) hipercalemia
(hiperpotassemia). Ao analisar o traçado da direita, o diagnóstico torna-se bastante claro:
perda da onda P, complexo QRS alargado e aberrante, onda T alta e apiculada - são achados
típicos de hipercalemia grave (K > 7,0 mEq/L). Ué? Cadê a opção que cita potássio sérico
elevado? Não tem... Mas a opção (e) cita uma creatinina de 7,5 mg/dL, ou seja, uma
insuficiência renal grave. Ora, a causa mais comum de hipercalemia grave é insuficiência
renal!! Portanto, a resposta correta só pode ser a opção (e). Geralmente, a hipercalemia grave
vem associada à acidemia, por acidose metabólica; logo, o pH deveria estar baixo (pH < 7,35)
e não elevado, como na opção (d).
Este paciente apresenta uma emergência médica e deve ser tratado prontamente (caso
contrário, irá falecer em minutos ou horas!!). A conduta imediata é a infusão venosa de cálcio:
gluconato de cálcio 1-2 g (1-2 ampolas a 10%, infusão lenta). O cálcio sérico “protege” as
fibras cardíacas do efeito deletério da hipercalemia. Quem já teve a oportunidade de passar
por esta situação, é interessante perceber que logo após a infusão venosa de cálcio, o ECG
sofre uma melhora imediata. Depois desta conduta inicial salvadora, o médico deve adotar
medidas agressivas para reduzir os níveis de potássio sérico (já que o gluconato de cálcio não
tem esta propriedade). Três medidas são indicadas concomitantemente:
- Reposição de insulina regular venosa 10 unidades (combinada a 100 mL de glicose a 50%,
se o paciente estiver euglicêmico - para prevenir a hipoglicemia).
- Reposição de bicarbonato (NaHCO3, 100 mL da solução a 8,4%).
- Nebulização com beta2-agonista (fenoterol 10-20 gotas + 3 mL de H2O destilada).
As três medidas supracitadas têm um efeito quase imediato, mas uma duração de apenas 3
horas. Portanto, uma conduta mais definitiva é necessária, para manter a calemia normal. Se a
diurese estiver presente, podemos infundir um diurético de alça (furosemida 20-100 mg IV). Se
®
o paciente estiver anúrico ou oligo-anúrico, introduzimos uma resina de troca oral (Sorcal ),
enquanto aguardamos a realização da hemodiálise, em caráter de urgência.
Como podemos observar, três dos cinco fatores apresentados estão presentes na tabela de
fatores de risco (e portanto devem ser evitadas). As opções (a) e (e) não são adequadas, pois
a primeira revela uma informação inverídica, uma vez que não é todo tipo de gordura que deve
ser evitada, somente a de origem animal. A opção (e), por outro lado, apresentou um provável
erro de digitação (o correto seria manter um IMC entre 18,5 e 25 kg/m2 - faixa considerada
normal). A possibilidade de marcar estas duas opções de resposta levou a banca oficial do
concurso a ANULAR a questão...
33) Uma mulher de 40 anos é admitida no pronto-socorro com história e sinais clínicos
compatíveis com o diagnóstico de doença de Graves acentuadamente descompensada. Está
agitada, consciente, hemodinamicamente estável e o eletrocardiograma mostra:
a) Amiodarona.
b) Adenosina.
c) Verapamil.
d) Metoprolol.
e) Cardioversão elétrica com 100 J.
Comentário: Talvez você até tenha acertado o diagnóstico da arritmia, mas errou o
tratamento do paciente... No que se refere às arritmias cardíacas, lembre-se: temos que tratar
o paciente e não o “ECG”...
Vamos deixar para analisar o ECG com mais detalhes adiante. Primeiro, precisamos enfocar
um importante conceito: toda arritmia cardíaca tem uma causa, que pode ser estrutural,
funcional ou ambas. Quando o problema é estrutural, a conduta terapêutica depende
basicamente do ECG, isto é, de acordo com o tipo de arritmia, decidimos a melhor conduta.
Mas quando a causa é funcional, na maioria das vezes o tratamento será mais voltado para o
distúrbio funcional que está provocando a arritmia; neste caso, o diagnóstico
eletrocardiográfico é menos importante. Os distúrbios funcionais que comumente causam
Voltando à nossa paciente, sabemos que ela apresenta uma “tempestade tireotóxica” (crise
tireotóxica). Sem dúvida, a tireotoxicose é o principal fator precipitante de sua taquiarritmia,
portanto, o objetivo principal do tratamento deve ser focado na tireotoxicose! Então, qual é o
tratamento de escolha? Ora, sabemos que as taquiarritmias induzidas por tireotoxicose
respondem particularmente bem aos beta-bloqueadores, pois o mecanismo arritmogênico do
excesso de hormônio tireoideano é a sensibilização dos receptores beta-adrenérgicos
cardíacos às catecolaminas. Conclusão: a droga de escolha para tratar a arritmia da nossa
paciente é um beta-BQ, de preferência venoso, como o METOPROLOL 5 mg, IV, lento [opção
(d)] ou o propranolol 2 mg, IV, lento. Obviamente, a paciente também deve receber drogas
anti-tireoideanas em altas doses, como propiltiuracil (ataque: 600 mg; manutenção: 200-300
mg, de 6/6 h), por via oral, nasogástrica ou retal, e a solução de lugol (5% de iodo + 10% de
iodeto de potássio) [5 gotas VO ou enteral, de 6/6 h].
Tudo bem... Já sabemos a resposta correta. Mas, que tal revermos também o ECG?
Análise do ECG de uma taquiarritmia: As taquiarritmias são definidas clinicamente por FC >
100 bpm e eletrocardiograficamente por um intervalo RR < 1,5 cm. O primeiro passo é estimar
a frequência cardíaca, pois algumas taquiarritmias possuem faixas características de FC. Para
calcular a FC pelo ECG, divida 1.500 pelo intervalo RR, em milímetros (“quadradinhos”). A
definição da imagem apresentada no enunciado está ruim, mas vamos tentar reproduzir um
“pedaço da imagem”, melhorando a sua definição:
Tratamento da TSVP: Todos os casos de TSVP devem ser prontamente revertidos, pois esta
arritmia costuma ser muito sintomática (palpitações intensas, mal-estar, sudorese, dispnéia).
Comentário: A melhor definição atual para “estado de mal epiléptico (status epilepticus)” é a
ocorrência de uma crise contínua que dura mais de 5 minutos ou de crises rapidamente
recorrentes (“subentrantes”). O tipo mais comum é o estado de mal epiléptico tônico-
clônico generalizado (EME-TCG), mas vale ressaltar que existem outros tipos de status
epilepticus, incluindo os não-convulsivos.
As causas mais comuns de EME-TCG são: (1) suspensão abrupta de anticonvulsivantes (em
epilépticos crônicos), (2) abstinência alcoólica, (3) disglicemias, (4) distúrbios eletrolíticos
(p.ex. hiponatremia, hipernatremia, hipomagnesemia), (5) encefalopatia pós-anóxia, (6)
tumores cerebrais, (7) infecções (p. ex. encefalites, meningite bacteriana, abscessos), (8) TCE,
(9) intoxicações. O EME-TCG não tratado (ou tratado de forma insuficiente) traz uma
letalidade alta, devido a complicações do tipo rabdomiólise, hipertermia, acidose lática, edema
cerebral, perda irreversível de neurônios corticais, aspiração pulmonar, colapso cardiovascular
etc.
Esta emergência médica deve ser abordada de forma rápida e organizada (sequencial). O
paciente precisa ser imediatamente avaliado quanto aos sinais vitais e monitoração do ECG,
enquanto obtém-se um acesso venoso periférico para coleta de sangue (eletrólitos,
bioquímica, hemograma, exames toxicológicos) e administração de medicamentos. Uma
glicemia capilar e uma gasometria arterial devem ser providenciados. Um histórico resumido
do quadro (procurando pistas em relação ao fator desencadeante) deve ser colhido,
entrevistando-se os acompanhantes. Qualquer descompensação hemodinâmica ou
respiratória grave precisa ser imediatamente corrigida. Tudo isso, nos primeiros 5-10 minutos.
Durante este período, a medicação venosa já deverá ser iniciada.
Após esta breve revisão, concluímos que, dentre as opções citadas, a que melhor se encaixa
na sequência adequada para o EME-TCG é a opção (b): tiamina → glicose → diazepam →
fenitoína → fenobarbital.
Observe na figura acima a presença de uma lesão expansiva (lesão + edema perilesional) no
hemisfério direito e seus efeitos compressivos. As áreas marcadas em verde representam os
grupamentos neuronais do sistema ativador ascendente (SAA), localizadas no diencéfalo
médio-basal (núcleos talâmicos basais) e no tegmento central do mesencéfalo e porção
superior da ponte. Os desvios compressivos estão marcados com os seguintes números:
1- Deslocamento lateral do diencéfalo.
2- Herniação transtentorial lateral (“hérnia de úncus”).
3- Herniação transtentorial central.
Agora ficou fácil responder a questão. A sequência correta está na opção (d): IV, II, III e I.
É importante ressaltar que na prática nem sempre a sequência descrita acima acontece de
fato. Por exemplo, muitos pacientes evoluem para descerebração precocemente e nunca
desenvolvem decorticação. As pupilas podem ficar midriáticas e fixas; a respiração pode não
E o que vem a ser “clearance renal”? Para simplificar, podemos dizer que o “clearance
renal” de uma substância representa a sua excreção urinária. Podemos substituir a “excreção
urinária” na fórmula por “clearance renal”, trocando-se o sinal de igualdade (=) pelo sinal de
proporcionalidade (∝):
Na verdade, o clearance renal é a excreção urinária da substância (em mg/min) dividida pela
concentração plasmática desta mesma substância (em mg/mL). O resultado é dado em
mL/min e significa “qual o volume de plasma que fica livre desta substância na unidade de
tempo, devido à sua excreção urinária”. O valor preciso do clearance pode ser obtido pela
fórmula:
Por exemplo: um paciente que urina 2.160 mL por dia (fluxo urinário = 1,5 mL/min), tem uma
concentração plasmática de creatinina = 1,0 mg/dL, e uma concentração urinária de creatinina
= 86 mg/dL, terá um clearance renal igual a: 86/1,0 x 1,5 = 129 mL/min.
Na prática médica, podemos utilizar o clearance renal de algumas substâncias para estimar a
função excretória dos rins, representada pela taxa de filtração glomerular (TFG),
aproximadamente 20% do fluxo plasmático renal (FPR) [ex. FPR = 600 mL/min TFG = 120
mL/min]. De acordo com a relação entre filtração, reabsorção e secreção tubular, o clearance
de uma substância pode ser menor, maior ou igual à TFG do paciente. Sendo assim, podemos
classificar as substâncias em três grupos:
Exemplo: URÉIA.
A uréia é filtrada livremente nos glomérulos, mas cerca de 50% deste montante é reabsorvido
pelos túbulos. Neste caso, o clearance de uréia (Cl-Ur) é aproximadamente metade da TFG.
Filtração glomerular = 100%; reabsorção tubular = 50%; secreção tubular = 0%.
Cl-Ur ∝ (filtração - reabsorção + secreção) = 50% da TFG.
Exemplo: CREATININA.
Como 108% é 'quase igual' a 100%, na prática dizemos que o Cl-Cr é uma excelente
estimativa da TFG. Contudo, quando a TFG encontra-se muito baixa (insuficiência renal
avançada), os níveis séricos de creatinina elevam-se, forçando a secreção tubular, que pode
alcançar a faixa dos 40%. Nesta situação, o Cl-Cr superestima a TFG de forma significativa.
GRUPO 3: Clearance renal da substância IGUAL à TFG.
Exemplo: INULINA.
A inulina é filtrada livremente nos glomérulos e não há reabsorção e nem secreção tubular da
substância. Portanto, o clearance de inulina (Cl-Inu) é exatamente igual à TFG.
Filtração glomerular = 100%; reabsorção tubular = 0%; secreção tubular = 0%.
Cl-Inu ∝ (filtração - reabsorção + secreção) = 100% da TFG.
A inulina não é uma substância endógena. Para obtermos o Cl-Inu, temos que infundir na
veia do paciente inulina exógena. Isto torna este exame oneroso e pouco prático.
Agora você está definitivamente preparado para analisar o gráfico do enunciado. Aí está ele:
Acima, existem três curvas de clearance renal versus fluxo urinário. Qual delas representa o
clearance de uréia? Qual representa o clearance de creatinina? Qual representa o de inulina?
Considerando que o fluxo urinário costuma ser proporcional à TFG, é fácil concluir que a curva
mais alta (curva 1) seria a do Cl-Cr (> TFG), a curva do meio (curva 2) seria a do Cl-Inu (=
TFG) e a curva mais baixa (curva 3), a do Cl-Ur (< TFG). Portanto, a ordem correta é:
Creatinina - inulina - uréia.
a) Imediato.
b) Segundo.
c) Quarto.
d) Sexto.
e) Oitavo.
Comentário: O fígado secreta cerca de 600-1.200 ml de bile por dia (média de 900 ml). Esta
substância é normalmente armazenada na vesícula biliar, até que pelo estímulo da digestão, a
mesma seja bombeada ao duodeno. Mas espere um instante: como a vesícula biliar consegue
armazenar uma quantidade tão grande de bile, se em seu interior cabem somente 30-60 ml?!
Tudo na vida tem uma explicação (aliás, quase tudo...): a mucosa da vesícula biliar tem uma
enorme capacidade (a maior do organismo inteiro!) de absorver água e os eletrólitos pequenos
(sódio, cloreto etc.), concentrando assim as substâncias maiores que são as principais
constituintes da bile (sais biliares, colesterol, lecitina e bilirrubina), não absorvidas pela mucosa
vesicular.
Note que na vesícula biliar a bile tem sua composição radicalmente alterada!
Assim, em 12 horas, os 450 ml de bile secretados pelo fígado "se transformam" em cerca de
30-60 ml de bile (agora 'mais concentrada') na vesícula, que então é liberada no duodeno por
ocasião da digestão...
Mas e a icterícia, o que tem a ver com isso tudo? Tenha calma! Sabemos que a interrupção do
fluxo biliar para o duodeno por cálculos, tumores ou iatrogenias (por exemplo, pela ligadura
inadvertida do colédoco) desenvolverá icterícia clínica* nos pacientes, justamente pelo
acúmulo de bile no sistema biliar e fígado. Esta icterícia é predominantemente às custas da
fração direta da bilirrubina (hiperbilirrubinemia direta) - padrão colestático. Nestes casos a
icterícia se deve à ruptura dos canalículos biliares 'congestionados' (impedidos de escoar para
o duodeno), desaguando a bile diretamente nos linfáticos que deixam o fígado e daí para a
corrente sanguínea.
a) Enterorragia.
b) Volvo de sigmóide.
c) Neoplasia de colon distal.
d) Hematêmese.
e) Síndrome de Ogilvie.
Comentário: Questão meio sem sentido... Já pensou se todo paciente com hematêmese
tivesse que ser submetido à colonoscopia? A hematêmese é uma forma de apresentação de
hemorragia digestiva alta, e não baixa... Nestes casos, o exame a ser solicitado é a
endoscopia digestiva alta! Aproveitaremos a questão para abordar sucintamente as indicações
da colonoscopia de urgência. Estas se restringem principalmente as obstruções completas ou
não, com ou sem risco de perfuração, aos quadros hemorrágicos (hemorragia digestiva baixa)
e às enfermidades inflamatórias e infecciosas. A TABELA abaixo lista as principais afecções
relacionadas a estes grupos de doenças.
Comentário: Existem questões que podem ser respondidas somente pelo uso do 'bom senso',
sem que você tenha algum dia lido algo sobre o assunto. Este é um exemplo desse tipo de
questão! Neste caso, as condições que tornam emergencial o tratamento da litíase ureteral
(em especial nas impactações) são a pielonefrite (pois a hidronefrose decorrente da
impactação do cálculo perpetuará o quadro infeccioso), a presença de rim único (por razões
óbvias...) e a insuficiência renal não dialítica (pois poderá haver progressão para IR que
necessite de diálise). As demais condições listadas requerem abordagem não emergencial.
Cirurgias de estomago:
Opção (c) CORRETA - A anastomose gastrojejunal pré-cólica (aquela em que a alça jejunal é
levada ao estômago anteriormente ao cólon transverso) é a preferida que a transmesocólica
(em que a alça jejunal passa através do mesocólon transverso) na reconstrução do trânsito
alimentar após gastrectomia por neoplasia. Esta preferência se dá por motivos basicamente
técnicos - na anastomose pré-cólica evita-se a torção do jejuno pelo mesocólon e a confecção
de suturas de ancoragem, que aumentaria o tempo operatório.
Opção (e) INCORRETA - Você sabe o que é uma degastrectomia? Não se trata de um erro de
digitação! O termo significa uma gastrectomia após o paciente já ter se submetido a uma
gastrectomia previamente. Exemplos de degastrectomia são aquelas por recidiva ulcerosa e
de neoplasia em boca anastomótica. Assim, tecnicamente, torna-se praticamente impossível
as reconstruções a BI (anastomoses gastroduodenais) nas degastrectomias. Netas
reoperações, as modalidades de reconstrução do trânsito são as anastomoses a BII ou em Y-
de-Roux.
Opção (b) CORRETA - Como os retalhos cutâneos possuem vascularização própria, eles são
muito mais resistentes que os enxertos. Por esta razão, podem ser utilizados para cobrir áreas
submetidas a pressões constantes ou áreas com pouca vascularização, como ossos expostos
e cartilagem ou tendão desprovidos de periósteo.
Opção (c) INCORRETA - As plásticas em "Z" (ou zetaplastias) e o retalho de avanço "V-Y" são
tipos de retalhos randômicos comumente utilizados. Retalhos randômicos são aqueles que se
utilizam não de um tronco vascular principal para garantir seu suprimento sanguíneo, mas de
uma série de pequenos plexos subdérmicos. Os retalhos de avanço "V-Y" são comumente
utilizados a fim de alongar uma cicatriz em torno do nariz ou boca, enquanto a zetaplastia, que
envolve transposição de dois retalhos em forma de triângulos adjacentes, é utilizada para
redirecionar e alongar uma cicatriz prévia.
Opção (d) INCORRETA - Os enxertos de pele podem ser compostos por apenas epiderme ou
por epiderme + espessura variável de derme (TABELA). No entanto, em cirurgia plástica, não
se utiliza apenas enxertos cutâneos, mas também cartilaginoso, ósseo, gorduroso etc. Desta
forma, para estar correta, esta opção deveria ter mencionado apenas os enxertos cutâneos, e
não os enxertos de uma maneira geral.
Opção (e) INCORRETA - Pelo contrário! Quanto mais fino o enxerto, maior a retração após o
período de integração. Desta forma, os enxertos de pele total (mais espessos) são mais
adequados para a reconstrução em locais onde a contratura tardia pode comprometer a
funcionalidade ou o resultado estético.
Pelo exposto, podemos perceber que estamos diante de uma questão não tão simples, pois o
autor da mesma certamente a fez baseado na sua interpretação do capítulo de trauma do
Sabiston. Neste, é escrito a seguinte frase: "A traqueostomia propriamente dita pode estar
indicada em pacientes selecionados, tais como aqueles com lesões laríngeas". Note que a
frase não é restritiva, dizendo que SOMENTE os indivíduos portadores de lesão na laringe são
candidatos a traqueostomia... Na prática, e segundo o ATLS, as indicações de traqueostomia
seguem exatamente às descritas no primeiro parágrafo deste comentário (quando se fala de
indicações de via aérea cirúrgica), ficando a sua utilização a critério da experiência do
cirurgião.
ADENDO DO ATLS: Trauma de laringe - Embora a fratura de laringe seja rara, pode
manifestar-se como uma obstrução aguda da via aérea. Ela é sugerida pela seguinte tríade:
rouquidão, enfisema subcutâneo e fratura palpável. Quando as vias aéreas se encontram
totalmente obstruídas ou se o doente se encontra em insuficiência respiratória grave, deve-se
tentar a intubação. Quando esta não é bem sucedida, está indicada traqueostomia de
emergência, seguida pela correção cirúrgica da lesão. Deve ser ressaltado que a
traqueostomia, quando realizada em condições de emergência, é difícil de realizar, pode
resultar em sangramento profuso e pode ser demorada. Por estas razões, a
cricotireoidostomia cirúrgica, embora não seja a opção mais adequada quando há lesões de
laringe, pode constituir-se em medida salvadora de vidas.
43) Usando os critérios de Ranson, assinale a alternativa que ilustra o paciente com
pancreatite aguda mais grave, considerando-se que os exames não referidos sejam normais:
Note que o paciente da opção (a) possui todos os parâmetros de admissão alterados (exceto a
idade, no caso de a etiologia da sua pancreatite ser biliar). Os demais casos apresentam ao
menos um parâmetro que não faz parte dos critérios de Ranson ou um parâmetro que não
denota gravidade (idade). Assim, fica fácil optar pela alternativa correta...
44) Assinale a alternativa que expressa uma relação correta entre as duas colunas:
I. Invaginação intestinal.
II. Bolo de ascaris.
III. Enterite necrotizante.
IV. Íleo meconial.
V. Estenose hipertrófica do piloro.
Comentário: Esta questão aborda uma característica de cada uma das doenças listadas na
coluna numerada. Para o candidato que não tem um profundo conhecimento da matéria, este
tipo de questão é particularmente interessante, pois o conhecimento mesmo superficial de
algum dos pontos mencionados na questão o permite resolvê-la sem muito esforço; você quer
ver?
Outra característica mencionada que você deve gravar é a relação entre enterocolite
necrotizante e pneumatose intestinal (essa é clássica!). Leia a seguir um trecho de nossa
apostila de cirurgia pediátrica sobre esta relação: "É fundamental o acompanhamento
radiológico seriado do abdome a cada seis horas, que além dos evidentes sinais de distensão
e edema das alças intestinais pode apresentar pneumatose (gás - hidrogênio - na parede
intestinal, produto do metabolismo bacteriano), podendo estender-se para dentro da circulação
venosa portal e peritônio (causando pneumoperitônio). Embora a pneumatose intestinal não
estabeleça o diagnóstico, é um sinal patognomônico".
Além dessas duas, a relação de íleo meconial com fibrose cística também é bastante
conhecida. Esta condição está presente em 10% dos pacientes portadores de fibrose cística e
o diagnóstico, mesmo das formas não complicadas de íleo meconial, deve ser suspeitado se
houver história familiar de fibrose cística. Vale mencionar que o íleo meconial apresenta-se
como obstrução intestinal baixa, geralmente nas primeiras 48 h de vida.
Por fim, a quarta e última importante relação descrita na questão é entre estenose hipertrófica
do piloro e o tempo de surgimento. De uma forma geral, este diagnóstico é firmado em
crianças entre duas semanas de vida e 5 meses de idade, sendo feito com base na história de
vômitos não-biliosos, "em jato", associada a achados, ao exame físico, de hiperperistalse
gástrica, distensão do andar superior do abdome e "tumor" pilórico palpável, também chamado
"oliva pilórica". Em determinados casos, o diagnóstico é firmado por métodos de
radiodiagnóstico - seriografias do trato gastrointestinal superior (STGS) e ultra-sonografia
(USG).
46) Uma criança de 12 anos apresenta crises recorrentes de icterícia e febre. Foi realizada
colangiografia que evidenciou grandes dilatações saculares difusas dos ductos hepáticos.
Diagnóstico mais provável:
47) Em pacientes com pancreatite aguda grave, níveis de proteína C reativa superiores a 150
mg/L, durante as primeiras 96 horas após a internação estão associados a evolução para:
a) Pseudocisto infectado.
b) Necrose pancreática.
c) Flegmão peripancreatico.
d) Ascite pancreática infectada.
e) Abscesso pancreático.
Comentário: Questão de rodapé de livro... E ainda tem "gente entendida" que fala por aí que
as questões de prova estão cada vez mais cobrando conhecimento prático... Antes de afirmar
qualquer coisa, no mínimo devemos ter conhecimento do que estamos falando... Portanto,
tome muito cuidado com o que dizem por aí! Vamos ao que a questão nos pergunta...
As demais opções de resposta representam situações em que a conduta pode ser expectante
desde que não haja indicação clara de laparotomia, tais como as listadas na TABELA abaixo,
adaptada do ATLS.
49) Um paciente com retocolite ulcerativa evolui com megacólon tóxico e sempre de causa
abdominal. Melhor alternativa de tratamento cirúrgico:
Comentário: Megacólon tóxico é uma expressão que significa colite aguda acompanhada de
uma dilatação significativa do cólon, não sendo, portanto, exclusividade da retocolite ulcerativa
(RCU). De uma forma geral, e nos portadores de RCU, estes pacientes normalmente
encontram-se gravemente enfermos, e necessitam em um primeiro momento de hidratação
venosa vigorosa, antibioticoterapia de amplo espectro, corticosteróides e imunossupressores.
A terapia cirúrgica não está indicada em um primeiro momento, mas deve ser indicada no caso
de resposta insuficiente às medidas clínicas adotadas.
Nestes casos, a operação considerada por muitos como a de eleição é a colectomia subtotal
abdominal com confecção de ileostomia. A extremidade proximal do reto (que não é ressecada
no procedimento) é exteriorizada como uma fístula mucosa ou é fechada por meio de sutura e
mantida no interior da cavidade peritonial. Esta primeira intervenção operatória permite que o
foco infeccioso (ou seja, o próprio cólon dilatado) seja removido, possibilitando a recuperação
clínica do paciente. Em um segundo momento, geralmente após meses da primeira operação,
reopera-se este paciente para remoção do reto e reconstrução do trânsito intestinal com a
confecção de uma anastomose entre o íleo e o ânus (bolsão ileal-anal).
50) Considerando a formação dos abscessos associados a fístulas anorretais, pode-se dizer
que a forma de apresentação mais comum é o abscesso:
Comentário: O autor da questão meio que fez uma pequena confusão no enunciado. Na
realidade, não são os abscessos que estão associados às fístulas anorretais, mas são as
fístulas que estão associadas aos abscessos anorretais. Isto se explica pelo fato de que a
patogênese dos abscessos e fístulas é geralmente a mesma, com o abscesso representando
a fase aguda e a fístula, a seqüela crônica. Esclarecido este contexto, vamos responder ao
que a questão nos pergunta...
Os agentes etiológicos envolvidos em sua gênese são bactérias da margem anal ou bactérias
intestinais Gram-negativas, aeróbias ou anaeróbias.
51) Em pacientes com insuficiência renal crônica, NÃO se deve fazer preparo anterógrado de
cólon com:
a) Polietilenoglicol.
b) Picossulfato de sódio.
c) Manitol.
d) Bisacodil.
e) Fosfossoda.
Revendo as especificações acima, você pode notar que o único laxante formalmente
®
contraindicado na insuficiência renal é o sulfato de sódio (Fosfosoda ). Portanto, devemos
marcar a opção (e).
Em nosso meio, as soluções mais usadas no preparo pré-operatório de cólon são o PEG e o
manitol. Vale ressaltar que a medida de maior eficácia (e já bem documentada) na prevenção
52) Você é chamado para avaliar um paciente de 40 anos que se encontra no pós-operatório
imediato de cirurgia abdominal. Está respirando espontaneamente, em ar ambiente.
Gasometria arterial: PaO2: 87 mmHg, PCO2: 29 mmHg, pH: 7,45. Provável causa das
alterações deste paciente:
a) Hipoventilação.
b) Queda do débito cardíaco.
c) Sonda nasogástrica.
d) Hiperventilação por causa de dor ou ansiedade.
e) Pneumotórax espontâneo ocupando pelo menos 30% do espaço pleural.
Comentário: O primeiro passo para acertar esta questão é reconhecer o distúrbio ácido-
básico revelado pela gasometria: PaCO2 = 29 mmHg e pH = 7,45. Mesmo sem saber o
bicarbonato, estes valores sugerem uma alcalose respiratória, pois o pH está no limite superior
(tendência a alcalemia) e a PaCO2 encontra-se bastante reduzida (normal: 35-45 mmHg).
Hipocapnia + alcalemia (pH elevado) = alcalose respiratória. As causas de alcalose
respiratória são todas relacionadas à hiperventilação alveolar, que pode ser psicogênica
(ansiedade) ou induzida por fatores tais como: dor, injúria pulmonar, crise asmática, TEP,
sepse por Gram negativos etc. No pós-operatório imediato, é comum ocorrer alcalose
respiratória leve a moderada devido à dor e à ansiedade - opção (d) CORRETA.
Não sabemos se você sabe, mas o aparelho de gasometria não mede o bicarbonato
(HCO3)... Na verdade, ele calcula a concentração de HCO3 a partir do pH e do PCO2. É
fórmula de Henderson-Hasselbalch:
É uma equação logarítmica de três variáveis (pH, HCO3 e PCO2); se duas delas forem
fornecidas, poderemos calcular a terceira. No caso acima, temos o pH (= 7,45) e a PaCO2 (=
29 mmHg). Podemos então calcular o HCO3 do paciente. Vamos representá-lo como a
variável “x” na TABELA abaixo. Atenção para as contas:
E o tal do p50? Que 'diabo' é isso? Bem, voltemos à fisiologia... Todos conhecem a curva de
dissociação da hemoglobina, correto? Pois bem, a p50 (ou fator p50) foi criada para facilitar a
interpretação dos fatores que modificam a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio (O2). É
definida como a pressão parcial de oxigênio (PO2) em que a hemoglobina é saturada à metade
(50%), com oxigênio a 37º C, Hb = 15 g/100 ml, PCO2 = 40 mmHg e pH sanguíneo de 7,4.
Este valor, nas condições anteriormente citadas, é de PO2 = 26 mmHg. Veja o gráfico da
FIGURA 1 abaixo:
O dióxido de carbono (gás carbônico - CO2) é um dos fatores mais importantes envolvidos
nesse fenômeno. Este gás diminui a afinidade do oxigênio pela hemoglobina. Assim, desvia a
curva para a direita e eleva o p50 - efeito Bohr (FIGURA 2).
Agora voltemos ao caso... Temos um RN que apresenta Hb de 8,2 g/% após a transfusão
sanguínea (ou seja, antes da hemotransfusão sua hemoglobina era ainda inferior). Não é difícil
raciocinarmos que com estes níveis de hemoglobina, para oxigenar adequadamente os
tecidos, a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio deva estar diminuída (permitindo que este
seja facilmente liberado aos tecidos). Em outras palavras, há um desvio da curva para a
direita, elevando a p50.
54) A tia de um lactente de 3 meses, que dele cuida durante o dia, vai ao pronto-socorro pois a
criança está extremamente irritada há 2 dias. Nega febre ou quaisquer outras alterações. Ao
exame físico foi notado choro intenso, que se acentuava quando a criança era examinada.
Realizadas radiografias simples de crânio, tórax e membros. A radiografia de tórax revelou
fratura posterior do sétimo arco costal à direita e do quinto e sexto arcos costais à esquerda.
As demais radiografias foram consideradas normais. A hipótese diagnóstica mais provável é:
a) Raquitismo primário.
b) Raquitismo secundário à carência de vitamina D.
c) Vitimização.
d) Osteogênese imperfeita.
e) Sífilis congênita.
A osteogênese imperfeita (OI) é a entidade que mais pode se parecer ao abuso infantil. Uma
história que é incompatível com o ferimento é uma das marcas do abuso de crianças, no
entanto, também acontece em pacientes com OI. Fraturas nessas crianças podem ser
causadas por um mínimo trauma, mesmo trivial. Uma história familiar cuidadosa é importante.
Devido à ocorrência de novas mutações, uma história negativa não exclui o diagnóstico de OI.
Atualmente, nenhum teste bioquímico ou teste genético é completamente sensível na
identificação de crianças com OI. A determinação da OI ou abuso geralmente pode ser feito
por avaliação clínica cuidadosa por médicos familiarizados com a variabilidade da OI; e
embora os estudos bioquímicos possam fornecer informações adicionais, a biópsia de rotina
na suspeita de maus-tratos é injustificável.
Embora as anormalidades metafisárias, fraturas e reação periosteal possam ser vistos tanto
no raquitismo, quanto no abuso infantil, características adicionais radiográficas no raquitismo
permitem o diagnóstico adequado. Alargamento da metáfise e "zonas de Looser" (bem
definidas, simétricas, fraturas de estresse transversas nos eixos dos ossos longos) são vistos
no raquitismo, mas não no abuso de crianças.
A sífilis congênita pode ser confundida com o abuso de crianças por causa da formação de
novo osso periosteal e as erosões dos cantos metafisários, que podem ser confundidas com
fraturas dos cantos. O sinal de Wimberger é um achado clássico na sífilis congênita e refere-
se a um defeito tibial medial metafisário. A sífilis congênita é freqüentemente difusa e pode
envolver não só os ossos longos, mas também o crânio e os pequenos ossos das mãos e dos
pés. Epífises e coluna são poupados. As lesões ósseas da sífilis congênita geralmente são
simétricas, e o teste sorológico confirma o diagnóstico.
Comentário: Vômitos não biliosos são o sintoma inicial da estenose pilórica. O vômito pode
ou não ser em projétil, mas são geralmente progressivos, ocorrendo logo após a alimentação.
Podem seguir cada mamada, ou ser intermitentes. Os vômitos começam geralmente após 3
semanas de idade, mas os sintomas podem se desenvolver mais rapidamente na primeira
semana de vida, ou tão tarde quanto no quinto mês. Depois de vomitar, a criança está com
fome e quer se alimentar novamente. À medida que os vômitos continuam, há perda
progressiva de líquidos, íons de hidrogênio e cloreto, levando à alcalose metabólica
hipoclorêmica. Os níveis séricos de potássio geralmente são normais, mas pode haver um
déficit de potássio corporal total. O diagnóstico tem sido tradicionalmente estabelecido
pela palpação da massa pilórica (oliva pilórica). A massa é firme, móvel, de
aproximadamente 2 cm de comprimento, em forma de azeitona, dura, melhor palpada no lado
esquerdo, e localizada acima e à direita do umbigo, no mesoepigástrio, abaixo da borda do
fígado.
A doença do refluxo gastroesofágico pode ser diferenciada da estenose pilórica pelos exames
radiológicos. Os erros inatos do metabolismo podem produzir vômitos recorrentes com
alcalose (ciclo da uréia) ou acidose (acidemia orgânica) e letargia, coma e convulsões. A
estenose de esôfago é caracterizada pela presença de secreções orais excessivas, com
engasgos, cianose ou tosse à tentativa de alimentação. Na dispepsia aguda pode haver
vômitos, em geral associados à hemorragia digestiva. Nenhuma dessas hipóteses cursa com
massa abdominal palpável.
56) Uma menina, com 2 anos e 3 meses de idade, apresenta quadro febril há 2 dias, com
coriza hialina e bom estado geral. Durante o atendimento ela apresenta crise convulsiva
generalizada, que cede espontaneamente em 2 minutos. Após 1 hora, a criança está bem,
sem sinais meníngeos. É correto afirmar que:
O tratamento de rotina de uma criança normal com crise convulsiva febril simples inclui a
busca pela causa da febre e a educação dos pais quanto ao uso de antipiréticos a fim de
controlar a febre ativamente. Profilaxia com anticonvulsivantes a longo prazo não é mais
recomendada. Se a ansiedade da família é grande, diazepam oral pode ser usado como um
método efetivo e seguro para reduzir a recorrência da convulsão febril. É administrado no
início da doença febril e mantido na sua duração (2 a 3 dias), ou na forma de gel para uso via
retal no momento da convulsão, o que a interromperá e prevenirá um novo episódio nas 12
horas seguintes.
O tempo dessa evolução é de seis a doze semanas, podendo prolongar-se raramente até a
24ª semana. Eventualmente pode haver recorrência da lesão, mesmo depois de ter ocorrido
completa cicatrização.
Durante a evolução normal da lesão vacinal, pode ocorrer enfartamento ganglionar axilar e
supra ou infraclavicular, único ou múltiplo, não-supurado. Aparece três a seis semanas após a
vacinação, é homolateral ao local da aplicação, firme, móvel, clinicamente bem perceptível,
frio, indolor, medindo até 3 cm de diâmetro, e não acompanhado de sintomatologia
Comentário: De acordo com o Guia de tratamento clínico da infecção pelo HIV em pediatria,
do Ministério da Saúde (2006), a classificação da infecção pelo HIV baseia-se em parâmetros
clínicos e imunológicos, conforme as TABELAS 1 e 2 abaixo.
Categorias clínicas:
Categoria N - Assintomática: ausência de sinais e/ou sintomas ou com apenas uma das
condições da categoria A.
Categoria A - Sinais e/ou sintomas leves: presença de 2 ou mais das condições abaixo, porém
sem nenhuma das condições das categorias B e C:
• linfadenopatia (maior que 0,5 cm em mais de 2 cadeias diferentes);
• hepatomegalia;
• esplenomegalia;
• parotidite; e
• infecções persistentes ou recorrentes de vias aéreas superiores (otite média ou sinusite).
Categoria C - Sinais e/ou sintomas graves: crianças com quaisquer das condições listadas
abaixo:
• Infecções bacterianas graves, múltiplas ou recorrentes (confirmadas por cultura, 2
episódios em intervalo de 1 ano): sepse, pneumonia, meningite, infecções osteo-
articulares, abscessos de órgãos internos;
• candidíase esofágica ou pulmonar;
• coccidioidomicose disseminada;
• criptococose extra-pulmonar;
• criptosporidíase ou isosporíase com diarréia (> 1 mês);
• CMV em locais além do fígado, baço ou linfonodos, a partir de 1 mês de vida;
• encefalopatia pelo HIV (achados que persistem por mais de 2 meses), em razão de:
a) déficit do desenvolvimento neuropsicomotor;
b) evidência de déficit do crescimento cerebral ou microcefalia adquirida identificada por
medidas de perímetro cefálico ou atrofia cortical mantida em tomografias
computadorizadas ou ressonâncias magnéticas sucessivas de crânio; e
c) déficit motor simétrico com 2 ou mais dos seguintes achados: paresias, reflexos
patológicos, ataxia e outros;
• infecção por HSV, úlceras mucocutâneas com duração maior do que 1 mês ou
pneumonite ou esofagite (crianças > 1 mês de vida);
• histoplasmose disseminada;
• Mycobacterium tuberculosis disseminada ou extrapulmonar;
• Mycobacterium, outras espécies ou não identificadas, disseminadas;
• Mycobacterium avium ou M. kansasii disseminados;
• pneumonia por Pneumocystis jiroveci;
• salmonelose disseminada recorrente;
• toxoplasmose cerebral com início após o 1º mês de vida;
• síndrome da caquexia, manifestada por:
a) perda de peso > 10% do peso anterior; ou
b) queda de dois ou mais percentis nas tabelas de peso para a idade; ou
c) peso abaixo do percentil 5, em duas medidas sucessivas; e
d) diarréia crônica (duração maior que 30 dias); ou
e) febre por 30 dias ou mais, documentada.
• leucoencefalopatia multifocal progressiva;
• sarcoma de Kaposi; e
• linfoma primário do cérebro ou outros linfomas.
Categorias imunológicas
Baseiam-se na contagem de LT-CD4+ de acordo com a idade, conforme a TABELA 2, abaixo:
Como podemos perceber nesta última tabela, em crianças de 1 a 5 anos, portadoras de SIDA,
considera-se alteração imunológica grave a contagem de linfócitos CD4(+) < 500.
59) Adolescente de 12 anos de idade é levada em consulta pela mãe que refere presença de
“corrimento” esbranquiçado na calcinha, há 1 mês. Nega prurido. Nega menarca. A causa
mais provável é:
a) Enterobius vermicularis.
b) Cândida albicans.
c) Trichomonas vaginalis.
d) Chlamydia trachomatis.
e) Fisiológica.
Observe na TABELA, abaixo, a propedêutica frente a uma criança com corrimento genital.
ATENÇÃO!!!
60) Nas crianças com deficiência de ferro pode ser detectado, mais precocemente:
Por isso, a anemia ferropriva é a anemia mais comum nas crianças pequenas, tendo uma
incidência bastante alta nos países em desenvolvimento, como o Brasil, ultrapassando 20%.
Sendo assim, é fundamental que o pediatra esteja muito bem familiarizado com os critérios
diagnósticos da anemia ferropênica, que precisa ser diferenciada de outras etiologias
anêmicas prevalentes nesta fase, como a talassemia, a “anemia de doença crônica”, a anemia
falciforme, a esferocitose hereditária e a anemia megaloblástica por carência de folato.
O ferro sérico baixo (hipoferremia) não é um achado exclusivo da anemia ferropriva, e pode
também ocorrer em outro tipo comum de “anemia de doença crônica” (citoquina-dependente),
relacionada a uma gama de doenças inflamatórias, infecciosas e neoplásicas. A melhor
maneira de diferenciar estas duas entidades é através de dois parâmetros: (1) a ferritina
sérica (reduzida na anemia ferropriva e normal alta ou elevada na “anemia de doença
crônica”) - sendo considerado o primeiro parâmetro a se tornar alterado; e (2) a saturação de
transferrina, calculada dividindo-se o ferro sérico pelo TIBC sérico (ex.: Fe = 20 mcg/dL e
TIBC = 450 mcg/dL; Sat-transf = 4%); na anemia ferropriva a saturação de transferrina
costuma ser < 10% [normal: 25-50%], enquanto que na “anemia de doença crônica”, este
cálculo geralmente dá um número entre 10-20%.
A ferritina sérica é considerada o melhor exame para diferenciar entre anemia ferropriva e “de
doença crônica”, embora existam casos de overlap; e uma situação particularmente difícil é o
diagnóstico da anemia ferropriva associada à “anemia de doença crônica”, quando podemos
encontrar ferritinas séricas entre 15 e 100 ng/mL... Para resolver a dúvida diagnóstica, o
pediatra pode lançar mão de outros exames complementares: (1) dosagem sérica de
receptores da transferrina (aumentada na ferropenia e normal na “doença crônica”), (2)
aspirado de medula óssea (mielograma) utilizando a coloração para ferro (azul-da-Prússia),
considerada o “padrão-ouro” para o diagnóstico. Alguns autores ainda preconizam, como
opção alternativa, uma prova com sulfato ferroso e contagem de reticulócitos após 7 dias (em
caso de ferropenia, haverá um pico reticulocitário em torno de 10%).
61) Uma lactente de 3 meses de idade chega ao pronto-socorro com febre de 39º C, em
regular estado geral, hipoativa, sem outras alterações. Realizados exames, a urina revelou
3
150.000 leucócitos/mm . Em relação a esse caso é correto afirmar:
a) Os dados apresentados não são suficientes para formular uma hipótese diagnóstica de
infecção urinária.
b) Trata-se provavelmente de infecção urinária e o tratamento deve ser iniciado, após o
resultado da urocultura, com antibiograma.
c) Trata-se provavelmente de infecção urinária e o tratamento deve ser administrado por
via parenteral, pela hipótese diagnóstica de pielonefrite aguda.
d) Trata-se provavelmente de infecção urinária e, caso o diagnóstico de infecção urinária seja
confirmado, não será necessária a realização de exames de imagem de vias urinárias, por
tratar-se de uma menina.
e) Trata-se provavelmente de infecção urinária e o ultra-som de vias urinárias deve ser
realizado prontamente para definir se se trata de cistite ou pielonefrite e planejar a terapêutica.
Comentário: A infecção do trato urinário (ITU) é uma das enfermidades mais comuns na
pediatria. Há uma maior incidência de ITU no 1º ano de vida, estimada em cerca de 1,4%,
especialmente para o sexo masculino. Após essa idade, há diminuição do risco no sexo
masculino, porém o risco se mantém alto nas meninas até os 6 anos.
Em lactentes com febre acima de 38,5º C de origem não explicada em serviços de urgência, a
prevalência global de ITU é de cerca de 3,3%. A apresentação clínica da ITU é heterogênea,
variando de acordo com a faixa etária e com a localidade da infecção. O quadro clínico varia
de ‘’bacteriúria assintomática’’ até pielonefrite aguda franca, podendo levar a quadro de sepse,
principalmente em lactentes.
Nos lactentes, a febre é a principal manifestação clínica, sendo muitas vezes o único sintoma.
Raramente há sinais ou sintomas ligados ao trato urinário, como polaciúria, disúria,
estrangúria, urina com odor fétido, dor abdominal ou lombar. È possível ocorrer manifestações
inespecíficas como ganho ponderoestatural insatisfatório, anorexia, diarréia, vômitos, dor
abdominal, e outros.
Para diagnóstico correto de ITU, além da cultura de urina, é importante também análise
correta de piócitos na urina, diminuição na densidade urinária, pH urinário alcalino, albuminúria
transitória, hematúria microscópica e presença de nitrito na urina. A piúria é considerada
quando há cinco ou mais piócitos por campo microscópico. A presença de cilindros piocitários
é bastante sugestiva de processo pielonefrítico. A confirmação diagnóstica se dá pela
bacteriúria significativa na urinocultura confirmada pela presença de um número igual ou
superior a 100.000 UFC de uma única bactéria. Contagem inferior a 10.000 UFC é
considerado negativo, e valores entre 10.000 e 100.000 UFC são duvidosos, devendo ser
repetido. O número de UFC/ml considerado significativo é variável de acordo com o método de
coleta. A TABELA mostra os valores aceitos como diagnóstico de ITU.
62) Os agentes etiológicos mais freqüentes nas meningites bacterianas, na faixa etária de 5
meses a 5 anos, são:
Comentário: Em crianças de 2-3 meses a 5-6 anos, o Haemophilus influenzae tipo B (HIB) foi,
durante anos, o agente etiológico mais freqüente encontrado em culturas de líquor de
pacientes com meningite bacteriana. Com a introdução da vacina conjugada contra HIB, em
1999, no Programa Nacional de Imunizações (PNI), houve redução superior a 50% na
incidência de infecções meníngeas por este agente. Os casos ainda observados por esta
Streptococcus pneumoniae
> 5 anos -
Neisseria meningitidis
63) Recém-nascido (RN) com 14 horas de vida apresenta icterícia zona II de Krammer,
moderada. A tipagem sanguínea da mãe é 0Rh negativo com Coombs indireto negativo e do
RN é ARh positivo com Coombs direto negativo e Eluato positivo. Causa de icterícia e conduta
a ser adotada:
64) Recém-nascido de termo, pequeno para a idade gestacional (RNT PIG), apresenta-se
pletórico. A hemoglobina (Hb) é de 19 g% e o hematócrito (Ht) é de 64%. A policitemia
costuma contribuir para:
a) Hiponatremia e hiperglicemia.
b) Hipoglicemia e icterícia.
c) Hiponatremia e hipocalemia.
d) Alcalose e icterícia.
e) Alcalose e hipoglicemia.
A) Hiper-transfusão placentária:
- Transfusão de gêmeo a gêmeo
- Transfusão materno-fetal
- Ligação tardia do cordão (proposital, partos domiciliares sem assistência)
B) Insuficiência placentária:
- PIG
- Pós-maturidade
- Toxemia gravídica
- Placenta prévia.
D) Causas Diversas:
- Síndrome de Down, trissomia 13 e trissomia 18
- Síndrome de Beckwith-Wedmann
- Drogas: uso materno de propanolol
65) Para a vacinação contra hepatite B são recomendadas 3 doses, iniciada ainda na
maternidade. O esquema de 4 doses deve ser recomendado para:
Comentário: O esquema habitual da vacinação contra hepatite B consiste em três doses (0,1
e 6 meses). Em crianças, o ideal é iniciá-lo imediatamente após o parto, em dose adequada
para evitar a transmissão vertical quando a mãe for HBsAg/HBeAg-positiva. A dose indicada a
adultos, pacientes que se submetem a diálise e imunocomprometidos, é maior.
Quando ocorrer atraso na aplicação, deve-se completar as três doses, não havendo
necessidade de recomeçar o esquema. O intervalo mínimo entre a 1ª e a 2ª doses é de um
A vacina contra hepatite B pode ser aplicada simultaneamente com as outras vacinas do
Programa Nacional de Imunizações ou com qualquer intervalo. Em pessoas
imunocompetentes não há necessidade de reforço além das três doses. No caso das
crianças prematuras com peso de nascimento igual ou inferior a 2.000 g, ou idade
gestacional igual ou inferior a 34 semanas, recomenda-se o esquema 0, 1, 2 e 6 meses.
66) O cálculo do índice de massa corpórea (IMC) e o intervalo que define eutrofia são,
respectivamente:
2
a) Peso (kg)/Estatura (m) ; 18 a 25.
2
b) Peso (kg)/Estatura (m) ; 25 a 32.
c) [Peso (kg)/Estatura (cm)] x 10; 36 a 44.
2
d) [Peso (kg) /Estatura (cm)] x 10; 20 a 28.
e) Peso (kg)/Estatura (m); 16 a 28.
67) Os enterovírus são a causa mais comum de exantema no verão e no outono. Entre as
doenças causadas por estes agentes, têm-se todas as abaixo citadas, EXCETO:
a) Meningite asséptica.
b) Herpangina.
c) Síndrome mãos-pés-boca.
d) Diarréia pelo rotavírus.
e) Conjuntivite hemorrágica aguda.
A herpangina é uma virose circunscrita à cavidade bucal, causada pelo Coxsackie vírus do
grupo A. Na cavidade oral, duas viroses estão relacionadas à infecção pelo vírus Coxsackie A:
herpangina e a doença mão-pé-boca.
68) Um menino com 8 anos de idade é levado ao médico com história de urina escura, há 1
dia. Ao exame há discreto edema em pálpebras e em pernas e a pressão arterial é de 120 x
85 mmHg. Há 15 dias havia apresentado quadro de infecção de garganta, quando recebeu
penicilina benzatina. Após solicitar exames, o médico confirma o diagnóstico de
glomerulonefrite difusa aguda (GNDA) pós-estreptocócica. Pode-se afirmar que há GNDA pós-
estreptcocócica:
a) A diminuição das concentrações séricas de CH50 e de C3 ocorre em 50% dos casos nas
fases iniciais e quanto mais rápida for esta queda pior o prognóstico.
b) A hematuria (macro e/ou microscópica) ocorre em cerca de 60% dos casos.
c) A ocorrência de casos subclínicos em familiares dos pacientes é rara.
d) O sexo predominante é o masculino e que afeta principalmente crianças entre 2 e 6 anos de
idade.
e) A mortalidade imediata ocorre em menos de 1% dos casos, o que se deve, na maioria
das vezes, à insuficiência cardíaca refratária ou à encefalopatia hipertensiva.
O sexo masculino é mais acometido, na proporção de 2:1, a doença é rara antes dos 2 anos,
atingindo pico de incidência ao redor dos 7 anos. A tríade clássica consiste em: edema,
hipertensão e hematúria. O edema aparece em torno de 85% dos casos, localizado
freqüentemente na face. A hipertensão ocorre em 60-80% dos casos, podendo levar a
encefalopatia hipertensiva em alguns pacientes. Em 25 a 35% dos casos, ocorre hematúria
macroscópica, enquanto a hematúria microscópica aparece na maioria dos casos.
Comentário: Questão prática! Neste caso, o médico plantonista tem a obrigação de fazer o
que o médico assistente deveria ter feito. Assim, o mesmo deverá consultar o prontuário (e, se
possível, o próprio médico assistente - conduta não fundamental) e prescrever as medicações
nos seus respectivos horários.
a) Vaginismo.
b) Cistite intersticial.
c) Vulvovaginite.
d) Líquen plano.
e) Vaginose bacteriana.
Comentário: Cistite intersticial é uma condição tratável, mas essencialmente incurável que se
manifesta por dor pélvica crônica e aumento da freqüência urinária que ocorre na ausênciade
qualquer etiologia conhecida. Esta condição permanece um enigma no campo da urologia.
As demais afecções são "velhas" conhecidas de todos, possuindo critérios diagnósticos bem
estabelecidos.
72) Uma paciente com 38 anos de idade, usuária de DIU, apresentou um resultado de
colpocitologia oncológica com células glandulares atípicas de significado indeterminado. A
colposcopia não apresentou lesão para biópsia. A conduta a seguir é:
Como podemos observar, o resultado de AGUS na citologia deve levar a uma intensa busca
por anormalidade, em especial no endométrio (epitélio glandular). Assim, caso não seja
visualizada qualquer anormalidade na colposcopia, deve-se investigar o endométrio, com
coleta de material (raspado endocervical com escova) ou mesmo biópsia endometrial por
videohisterorcopia.
Comentário: Algumas informações que devem ser sempre lembradas dizem respeito às
contra-indicações relativas e absolutas ao uso de métodos hormonais, tanto para as provas
quanto para a vida médica. As TABELAS 1 e 2 listam as contra-indicações ao uso dos ACO
combinados (adaptado de Speroff, 7ª edição). Vale mencionar que as pílulas somente com
progestogênios são opções para mulheres com contra-indicação ao uso do estrogênio, tais
como: diabetes com doença vascular, lupus eritematoso sistêmico, doença cardiovascular e
mulheres em período de amamentação.
Como podemos observar, o uso de ACO combinados não apresenta como contra-indicação
história familiar de câncer de endométrio.
74) Nos últimos anos houve muita polêmica sobre a terapia de reposição hormonal, uma
questão que ainda não está completamente esclarecida é se os estrógenos:
Após uma média de 5,2 anos de acompanhamento, os dados mostraram aumento no risco de
câncer de mama (opção (c) INCORRETA), doença cardíaca (opção (d) INCORRETA) e
acidente vascular cerebral (AVC), porém diminuição do risco de câncer de cólon e reto (opção
(e) INCORRETA), câncer de útero, fratura de quadril (opção (a) INCORRETA) e mortes por
outras causas. Os únicos achados estatisticamente significativos, entretanto, foram redução do
risco de fratura e câncer de cólon e reto. A redução do risco de fraturas está diretamente
associada à prevenção da osteoporose, visto que a redução hormonal decorrente da
menopausa leva a uma maior reabsorção óssea, antes inibida pelos níveis estrogênicos
normais. Assim, com a reposição estrogênica, previne-se a osteoporose e, consequentemente,
as fraturas.
Com tudo isso, os pesquisadores concluíram que a TRH com combinação de estrogênio e
progesterona (1) não deve ser usada de modo generalizado em mulheres pós-menopausa
e (2) não deve ser iniciada ou mantida para propósito de prevenir doença coronariana
em mulheres aparentemente saudáveis. Eles também concluíram que os riscos devem ser
considerados quando escolher entre as drogas disponíveis para prevenir osteoporose. Um
editorial que acompanhava o estudo concluiu:
(B) Este estudo e muitos outros mostram que a TRH protege contra a osteoporose. Há
estratégias preventivas alternativas, pelo menos uma delas também diminui o risco de câncer
de mama, embora quanto ao sistema cardiovascular seus efeitos não estejam claros.
(C) O ensaio WHI não está direcionado especificamente quanto à questão se a TRH a curto
prazo deveria ser usada para manejar sintomas da menopausa, mas sugere que o uso a curto
prazo tem riscos para doença cardiovascular. A possibilidade desses pequenos riscos
absolutos deveriam ser pesados contra a severidade dos sintomas e benefício do tratamento.
75) A cirurgia conservadora para mulheres com câncer de mama é mais apropriada:
De maneira geral, idealmente são indicadas para tumores com diâmetro inferior a 2 cm
(estágio T = T1c), sem comprometimento linfático ou com comprometimento linfático axilar
homolateral móvel (estágio N = N0 ou N1) e sem metástases à distância (estágio M = M0) -
TABELAS.
76) O exame mais importante na investigação de uma mulher com 55 anos de idade que
apresenta hematúria assintomática, diagnosticada em exames de urina Tipo 1, repetidos nos
últimos 6 meses, é:
a) Cistoscopia.
b) Colpocitologia oncótica (Papanicolau).
Comentário: Não temos dúvida que o autor da questão queira que respondamos 'cistoscopia',
por pensar na hipótese diagnóstica de câncer de bexiga, especialmente pelos seguintes
dados: (1) idade da paciente; (2) hematúria assintomática de longa data (ao menos 6 meses).
Apesar de diversas outras causas se apresentarem com hematúria microscópica
(assintomática), nesta faixa etária a causa mais preocupante é a de carcinoma de células de
transição da bexiga que, portanto, deve ser logo investigada. A seguir, recordaremos alguns
pontos importantes deste tipo de câncer.
O revestimento epitelial que compõe a pelve renal, ureter, bexiga e uretra proximal é de
células do epitélio de transição. Carcinomas de células transicionais (CCTs) representam mais
de 90% de todos os tipos de câncer urotelial nos Estados Unidos. Adenocarcinoma (2%),
carcinoma espinocelular (5%-10%), carcinoma indiferenciado (2%) e carcinomas mistos (4%-
6%) são outros tipos de neoplasias urotelial. CCTs comumente aparecem como lesões
papilares e exofíticas.
CCT da pelve renal ou ureter são responsáveis por menos de 5% de todos os tumores renais
e menos de 1% das neoplasias geniturinárias. A proporção de tumores da bexiga para os da
pelve renal e para aqueles do ureter é 51 : 3 : 1 (portanto, muito mais frequentes na bexiga!).
O epitélio de superfície (urotélio) da mucosa que reveste as superfícies de todo o trato urinário
está exposto a possíveis agentes carcinogênicos que podem ser excretados na urina ou
ativados na urina por hidrólise de enzimas. Riscos ambientais são provavelmente
responsáveis por muitos casos de câncer urotelial. Por exemplo, uma ligação entre fatores
ambientais e CCT do urotélio foi sugerida pelo aumento da incidência de CCT em sociedades
industrializadas e moradores urbanos. Além disso, o aumento da incidência de carcinoma da
pelve renal e da bexiga foi relatado em trabalhadores com o corante anilina. Estima-se que a
exposição a substâncias químicas utilizadas nas indústrias de alumínio, de corantes, de tintas,
do petróleo, da borracha e têxteis seja responsável por até 20% dos casos de câncer de
bexiga. Cabeleireiros e barbeiros têm um excesso de risco para câncer de bexiga que se
acredita estar relacionado à exposição a longo prazo às tinturas de cabelo ('permanentes'). Na
maioria dos casos, os carcinogênios suspeitos são as arilaminas ou seus derivados, que
levam vários anos se acumulando, assim sendo responsáveis pelo longo período de latência
antes do desenvolvimento do câncer da bexiga.
Em pacientes com uma pelve renal ou tumor ureteral, o diagnóstico é feito geralmente através
de modalidades radiológicas que podem incluir tomografia computadorizada, urografia
escretora, ou pielografia retrógrada. Ureteroscopia tem sido utilizada para a confirmação de
doenças malignas do trato urinário superior, quando as modalidades radiológicas não são
confirmatórias. Cistoscopia é o principal procedimento utilizado para diagnosticar o carcinoma
da bexiga.
77) Para responder as questões 77 a 79, assinale a alternativa que contém a afirmação
correta em relação ao assunto apresentado:
Comentário: A bacia ou pelve é o canal ósseo do parto (FIGURA 1). É constituída pelos dois
ossos ilíacos, o sacro e o coccige, com suas respectivas articulações (sínfise púbica, sacro-
ilíacas, sacrococcígea). O promontório corresponde ao vértice da articulação entre a quinta
vértebra lombar e o sacro.
O trecho a seguir descreve os parâmetros da bacia do tipo ginecóide, a bacia normal feminina.
Os diâmetros dos estreitos da bacia estão representados na FIGURA 3. No estreito superior,
o diâmetro transverso máximo vai do ponto mais afastado da linha inominada ao do lado
FIGURA 3: (Em A) - O estreito superior visto de cima. (Em B) - O plano de maiores dimensões pélvicas,
visto de baixo. (Em C) - O plano de menores dimensões, estreito médio, visto de baixo. (Em D) - O
estreito inferior, visto de baixo. No centro, cone sagital indicando os planos. (Adaptado de Beck &
a
Rosenthal, Obstetrical practice, 6 ed., 1955).
Podemos reparar pela imagem acima que no estreito superior o diâmetro transverso é igual ao
ântero-posterior (opção (a) INCORRETA e (e) CORRETA). No estreito médio, existe
predomínio do diâmetro ântero-posterior sobre o transverso (opção (b) INCORRETA). O
estreito médio não pode ser ampliado (opção (c) INCORRETA). No estreito inferior o diâmetro
ântero-posterior é menor que o transverso (opção (d) INCORRETA).
a) O quarto período do parto poderá ser abreviado com a realização de fórcipe de alivio.
b) No terceiro período do parto é opcional que se proceda a ampliação do canal de parto com
a episiotomia.
c) No segundo período do parto a dinâmica uterina deve ser de 4 a 5 contrações em 10
minutos.
d) No primeiro período do parto é prudente que não se faça a amniotomia protelando, se
possível, até o terceiro período.
e) A analgesia de parto somente deverá ser feita no segundo período.
Habitualmente, e por boas razões clínicas, o trabalho de parto ativo é dividido em três
estágios, também chamados de “fases clínicas do parto”. Antes de iniciado o trabalho de parto,
o útero se prepara por período de várias semanas. Este período não é classificado como fase
clínica, mas é chamado de período pré-parto ou premunitório.
A primeira fase clínica do trabalho de parto começa quando são atingidas contrações uterinas
de freqüência, intensidade e duração suficientes para produzir o apagamento e a dilatação do
colo uterino. Este primeiro estágio termina quando o colo está totalmente dilatado, isto é,
atingiu 10 cm de dilatação, o suficiente para permitir a passagem da cabeça do feto. Portanto,
o primeiro estágio é chamado de período de dilatação.
Alguns autores acrescentam um quarto período ao parto, que se inicia após o descolamento
da placenta e estende-se até 1 hora após. É conveniente estudar o quarto período por ser o
momento em que podem ocorrer grandes hemorragias se houver falha no mecanismo de
hemostasia do pós-parto.
Analisando atentamente as opções de resposta, podemos com o auxílio do que foi dito até o
momento e com um pouco do seu conhecimento excluir as opções (a), (b), (d) e (e). Em
relação a opção (c), leia o trecho que se segue:
O período expulsivo inicia-se no final do período de dilatação (dilatação total do colo uterino:
10 cm) e termina com a expulsão total do bebê. Em média, dura 50 minutos nas primíparas e
20 minutos nas multíparas. O período expulsivo é considerado prolongado se durar mais de
duas horas em primíparas e 1 h em multíparas.
O diagnóstico do período expulsivo pode ser feito de várias formas. A mais precisa é através
do toque vaginal, quando percebemos que não há mais colo uterino a se interpor entre a
apresentação e o canal vaginal (dilatação total do colo uterino). A inspeção genital permite
observar, quando o feto já estiver suficientemente baixo, que a apresentação comprime o
períneo, principalmente durante as contrações uterinas e os puxos maternos. Pode-se,
eventualmente, ver a apresentação abrindo a rima vulvar, se estiver suficientemente baixa.
As contrações uterinas atingem seu máximo, com uma freqüência de 4-5 em 10 minutos,
durando 60 a 70 segundos cada. A gestante apresenta esforços expulsivos (puxos) e desejo
de defecar. Geralmente está agitada e com dores intensas, caso não esteja sendo
acompanhada com analgesia de parto (peridural ou drogas opiáceas). A altura da
apresentação e a variedade de posição no período expulsivo são variáveis, mas
freqüentemente a apresentação já se encontra insinuada no início do período expulsivo.
a) Parturientes com HIV positivo, carga viral menor que 1000 cópias, preferentemente deverá
fazer cesárea.
Comentário: Das opções apresentadas, a única correta é a que menciona por outras palavras
que a mudança de decúbito interfere no trabalho de parto, acelerando-o. O decúbito dorsal
permanente determina a compressão dos grandes vasos abdominais (aorta e veia cava)
contra a coluna vertebral, reduzindo a vascularização dos órgãos abdominais e pélvicos, além
dos membros inferiores, e o retorno venoso. Assim, deve-se estimular a parturiente a adotar
posições alternativas como ficar de cócoras, de joelho sobre a cama ou deambular. Essas
posições, desde que escolhidas pela mulher, favorecem o fluxo de sangue para o útero,
tornam as contrações mais eficazes, ampliam o canal do parto e facilitam a descida do feto
pela ação da gravidade. Além disso, no final do 1º período do parto e no 2º período, é útil
decúbito lateral para o lado onde estiver o dorso do feto, o que facilita a flexão da cabeça do
bebê.
Em relação às demais opções, temos que com carga viral < 1.000 cópias em HIV (+) dá-se
preferência pela via baixa (parto transpélvico) - opção (a) INCORRETA. A opção (c) é absurda,
pois já imaginou se todas as parturientes necessitassem de ocitocina? Esta deve ser infundida
apenas quando da necessidade de acelerar o trabalho de parto, pelo seu efeito estimulador
sobre o útero. A opção (d) erra quando denomina a distócia como funcional (por
anormalidades na contração uterina), pois neste caso sua causa é anatômica (óssea). Por fim,
segundo o CFM, a aminiotomia deve ser utilizada somente se a dilatação não progrediu pelo
menos 1 cm na última hora da primeira fase do trabalho de parto (TP). A amniotomia reduz a
duração do TP em 1 a 2 horas, reduz a chance de Apgar abaixo de 7 no 5º minuto (OR=0,34
com IC95% de 0,30 a 0,96) e também reduz a necessidade de ocitocina (OR=0,79 com IC95%
de 0,67 a 0,92) - portanto, sua indicação depende da cérvico dilatação (opção (e)
INCORRETA).
Opção (a) INCORRETA - A gestação normal é caracterizada por uma leve hipoglicemia de
jejum, hiperglicemia pós-prandial e hiperinsulinemia. A gestante tem uma resistência
aumentada à insulina, com testes mostrando uma sensibilidade à insulina reduzida em 40 a
Opção (e) CORRETA - As principais alterações que ocorrem no aparelho urinário são
decorrentes da compressão das suas estruturas pelo útero gravídico e pelo aumento do fluxo
sangüíneo renal. Este último é da ordem de 50 a 70% nos dois primeiros trimestres, porém
caindo no 3º trimestre. Também é observado aumento na taxa de filtração glomerular (em
torno de 50%), mantendo-se até o final da gestação. Além disso, há redução na resistência
vascular renal, semelhante a que ocorre na circulação periférica. Os níveis séricos de uréia e
creatinina diminuem cerca de 2/3 dos níveis pré-gravídicos e seus valores durante a gravidez
estão em torno de, respectivamente, 18 ± 1,5 mg/dl e 0,5 ± 0,2 mg/dl; ocorre, também,
diminuição na concentração de urato. O “clearance” de creatinina aumenta até a 32ª semana,
quando começa a retornar aos níveis pré-gravídicos; a excreção de ácido úrico e de glicose
está aumentada, mas a absorção de glicose permanece a mesma, ocasionando glicosúria
fisiológica. Aminoacidúria e proteinúria podem ocorrer, não ultrapassando, esta última, 300
mg/24 h (níveis iguais aos da mulher não-grávida). A perda de folato e vitamina B12 aumenta.
81) Uma mulher que sempre teve ciclos regulares de 28 dias, cuja última menstruação foi há
39 dias, vida sexual sem contracepção, procura o ambulatório pois está com atraso menstrual.
É correto afirmar:
a) Ela pode estar grávida, devendo fazer um exame de ultra-sonografia para diagnóstico.
b) Não adianta solicitar exame de urina para teste de gravidez, pois com este atraso somente
é possível detectar o beta-HCG com exame de sangue.
c) Se a dosagem de beta-HCG plasmático for maior que 1.000 mUI/L, deve ser
visualizado o saco gestacional intra-uterino à ultra-sonografia transvaginal, caso
contrário, deve-se pensar em gravidez ectópica.
d) Os sintomas de enjôo e azia normalmente são os primeiros a aparecer, já nesta época, e
ajudam no diagnóstico de suspeição de gravidez, não podendo entretanto, firmar o
diagnóstico.
e) Não sendo possível a realização de um exame de sangue para diagnóstico da gestação,
deve-se fazer o teste com a administração de hormônios, e caso a mulher menstrue não está
grávida.
Comentário: ATENÇÃO! Não é a primeira vez que isso é perguntado em provas! Os níveis de
beta-hCG abaixo de 1.000 mUI/L indicam não ser possível a visualização do saco gestacional
intra-uterino pela ultra-sonografia transvaginal (somente com uma dosagem de beta-hCG
maior que 1.000 é que se pode visualizar o saco gestacional por este exame). Assim, neste
caso, caso os níveis de beta-hCG dosados sejam inferiores a 1.000, deve-se aguardar uma
nova dosagem após alguns dias e, se > 1.000 nesta nova dosagem, realizar ultra-sonografia
transvaginal. Caso não seja visualizado saco gestacional intra-uterino, deve ser levantada a
possibilidade de estarmos diante de uma prenhêz ectópica.
A B C D
FIGURA: Desenho esquemático dos tipos de placenta prévia (PP). A - PP completa; B - PP parcial; C -
PP marginal; D - Implantação baixa da placenta.
A placenta prévia complica aproximadamente 0,3 a 0,5% das gestações. Seus principais
fatores de risco estão listados na TABELA 1:
Assertiva (b) CORRETA - De acordo com a Constituição de 1988, a assistência à saúde é livre
a iniciativa privada e as instituições privadas poderão participar de forma complementar do
sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou
convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. Ainda,
podemos observar a existência de estabelecimentos públicos que prestam serviços a
operadoras de planos e seguros de saúde o que, conseqüentemente, torna esses
estabelecimentos como parte tanto da rede SUS quanto da rede de serviços que constitui a
Saúde Suplementar.
Assertiva (d) CORRETA - O financiamento do SUS está previsto em lei (Constituição Federal e
Leis Orgânicas da Saúde - Leis federais nº 8.080 e 8.142 de 1990). Atualmente, os recursos
que compõem o financiamento do SUS são derivados de três fontes principais: recursos
tributários e contribuições federais, recursos tributários estaduais e recursos tributários
municipais. Cada esfera do governo deve assegurar que os recursos sejam repassados
regularmente aos respectivos fundos de saúde, de acordo com a Emenda Constitucional nº 29
de 2000, que estabeleceu a participação orçamentária mínima obrigatória da União, Estados,
municípios e Distrito Federal no financiamento das ações e serviços públicos de saúde.
Comentário: Vamos analisar as assertivas, lembrando que queremos, mais uma vez,
identificar a assertiva INCORRETA.
Assertiva (a) INCORRETA - A Lei municipal 14.132 de 2006 dispõe sobre a qualificação das
entidades sem fins lucrativos, como as organizações sociais, como parcerias para a gestão de
unidades de saúde. De acordo com a lei, as organizações devem observar os princípios do
SUS e os hospitais por elas gerenciados devem atender exclusivamente pacientes do SUS.
Assertiva (d) CORRETA - O Município de São Paulo está habilitado na Gestão plena
municipal, nos termos da NOAS SUS 01/02, a partir da Portaria GM nº 1.399 de 22 de julho de
2003. Nos municípios em condição de Gestão Plena do Sistema Municipal, toda a rede de
unidades prestadoras de serviços de saúde fica vinculada ao gestor municipal, responsável
por todas as atividades de gestão dos serviços e ações de saúde do município, tanto
ambulatoriais quanto hospitalares. As outras responsabilidades do gestor municipal incluem a
execução das ações de vigilância sanitária, de epidemiologia e controle de doenças, a
elaboração da Programação Pactuada e Integrada (PPI), conjuntamente com os demais
municípios envolvidos na organização da rede regionalizada e hierarquizada de saúde, a
realização das atividades de cadastramento, controle, auditoria, acompanhamento e avaliação
de todos os prestadores localizados no seu território, a operação dos sistemas de informações
ambulatorial e hospitalar e a realização do pagamento de todos os prestadores.
Assertiva (e) CORRETA - Atualmente, os recursos que compõem o financiamento do SUS são
derivados de três fontes principais: recursos tributários e contribuições federais, recursos
tributários estaduais e recursos tributários municipais. Cada esfera do governo deve assegurar
que os recursos sejam repassados regularmente aos respectivos fundos de saúde, de acordo
com a Emenda Constitucional nº 29 de 2000, que estabeleceu a participação orçamentária
mínima obrigatória da União, Estados, municípios e Distrito Federal no financiamento das
ações e serviços públicos de saúde.
Assertiva (a) CORRETA - A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196, determina que:
“A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”
Ainda, a Lei 8080 determina competências e atribuições comuns e específicas a cada esfera
de governo.
a) I, II e IV.
b) I, III e IV.
c) I, III e V.
d) II, III e V.
e) II, IV e V.
Assertiva (I) CORRETA - De fato, o desenvolvimento econômico traz consigo alterações dos
perfis demográficos e epidemiológicos das populações. Associada ao seu crescimento
podemos observar a melhoria das condições médias de vida de uma parcela da população.
Em contrapartida, as diferenças sócio-econômicas tornam-se responsáveis pela
vulnerabilidade de indivíduos expostos à baixas condições sanitárias ao adoecimento por
doenças muitas vezes evitáveis, como as infecciosas.
Assertiva (II) INCORRETA - O conceito mais recente, elaborado pelo Instituto de Medicina
(EUA) no ano de 2003, define como emergente uma doença infecciosa clinicamente distinta,
que tenha sido recentemente reconhecida, ou uma doença conhecida cuja incidência esteja
aumentando em uma determinada localidade ou em uma população específica. As doenças
reemergentes são aquelas já conhecidas e que foram controladas, mas voltaram a apresentar
ameaça para a saúde humana, como a dengue.
Assertiva (III) CORRETA - De acordo com esses conceito, podemos considerar como doenças
emergentes o HIV/AIDS, doença completamente desconhecida em todo o mundo até o início
dos anos de 1980, a Febre de Lassa e as hantaviroses. Já a dengue, a cólera e a febre
amarela são consideradas doenças reemergentes. Complementando: A Febre de Lassa é uma
febre hemorrágica viral aguda descrita em 1969 na cidade de Lassa, na Nigéria, causada por
um vírus RNA da família Arenaviridae. A infecção em humanos ocorre pela exposição à
excrementos animais, através do trato respiratório ou área gastrointestinal.
Região 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Total
Região Norte 19 14,4 12,3 10,7 10,2 9,2 7,8 7,1 7,6 5,3 5 10
Região Nordeste 12,6 12 13,5 14,2 13,9 13 10,9 9,2 11,8 9,7 6,7 11,8
Região Sudeste 8,2 6,1 6,1 5,9 6,1 5,4 4,5 3,2 3,3 2,7 2,6 5,2
Região Sul 9,5 8,8 7,2 6,9 6,9 5,8 4,6 3,8 4,2 3,2 3,2 6,1
Região Centro-Oeste 9,7 9,3 9,4 7,9 7,7 6,8 6,2 5,2 5 4,1 4,5 6,9
Total 10,8 9,3 9,4 9,4 9,2 8,3 6,9 5,6 6,8 5,5 4,5 8
Assertiva (V) CORRETA - A região amazônica representa uma área endêmica de malária no
Brasil. Em 2008, aproximadamente 97% dos casos de malária registrados em todo o país
concentravam-se no Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. A partir de 1976,
houve uma forte tendência no aumento da incidência da malária em função da ocupação
desordenada da região e à implantação de projetos de colonização e mineração sem que uma
estrutura médico-sanitária mínima tivesse sido organizada para o atendimento dessa
população.
Assertiva (b) INCORRETA - A esquistossomose é uma doença tropical e que pode ser
detectada em todas as regiões brasileiras. É endêmica nos estados do Alagoas, Bahia,
Pernambuco, Rio Grande do Norte (faixa litorânea), Paraíba, Sergipe, Espírito Santo e Minas
Gerais (com predominância no norte e nordeste do estado). No Pará, Maranhão, Piauí, Ceará,
Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e no Distrito
Federal, a transmissão é focal, não atingindo grandes áreas.
Assertiva (e) CORRETA - Em 1992, o Brasil adotou a meta de eliminação do sarampo para o
ano 2000. Em 1997, após um período de quatro anos de controle, o país experimentou o
ressurgimento do sarampo através de uma epidemia, com mais de 50 mil casos, explicada por
um acúmulo de indivíduos suscetíveis menores de 5 anos de idade, seja por cobertura vacinal
insuficiente, seja por ausência de uma campanha de seguimento.
a) I, II e X.
b) II, V e VII.
c) IV, VI e VIII.
d) I, III e IX.
e) III, IV e IX.
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi formulado pelo Ministério da Saúde em 1973,
com o objetivo de coordenar as ações de imunização que, até então, eram episódicas e
apresentavam área de cobertura muito reduzida. Após a sua institucionalização em 1975, o
PNI passou a coordenar as atividades de imunização desenvolvidas rotineiramente na rede de
serviços, traçando diretrizes e metas.
Bem, de acordo com o que foi discutido até então, vamos analisar a tabela proposta pela
questão:
Portanto, apenas as doenças VI e VIII não correspondem a prioridades do PNI e, assim, não
há resposta correta...
Alternativa (a) CORRETA - De acordo com dados do Ministério da Saúde, foram detectados,
nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, 75.811 e 201.273 casos da doença,
respectivamente, desde 1980 até 2009. Isso corresponde a aproximadamente 13,9% e 36,9%
dos 544.846 casos detectados em todo o Brasil durante o mesmo período. De fato, desde o
início da epidemia no país, o Estado de São Paulo tem sido responsável pela maior parte das
notificações.
Alternativa (b) INCORRETA - No inicio da epidemia, a imensa maioria dos casos da doença
ocorria em homens e os coeficientes de incidência em homens eram substancialmente
maiores do que os coeficientes do sexo feminino. Entretanto, com o desenvolvimento e
modificação da epidemia, houve um aumento expressivo do número de casos em mulheres,
diminuindo a razão homem/mulher.
Comentário: A Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer tem por objetivo reduzir
a incidência e a mortalidade por câncer no Brasil, através de diretrizes que envolvem ações de
prevenção do câncer, sua detecção precoce, a consolidação e expansão dos serviços de
assistência oncológica e o desenvolvimento de recursos humanos, estudos e pesquisas. Em
relação à detecção precoce do câncer, destaque deve ser dado às ações de prevenção e
diagnóstico precoce ao câncer de colo do útero.
É correto afirmar:
I - ter caráter substitutivo em relação à rede de Atenção Básica tradicional nos territórios em
que as Equipes Saúde da Família atuam;
a) I, II e IV.
b) I, III e IV.
c) II, III e V.
d) II, III e IV.
e) III, IV e V.
Afirmativa (I) INCORRETA - Uma estratégia tão importante quanto o Programa de Saúde da
Família (PSF) encontra, como um dos principais desafios, o desenvolvimento de recursos
humanos capacitados a atuar em equipe multidisciplinar. Para sanar o problema, o Ministério
da Saúde instituiu os Pólos de Capacitação, Formação e Educação Permanente de Pessoal
para Saúde da Família, como um espaço voltado para a formação e educação permanente de
recursos humanos em saúde, objetivando, entre outros, o treinamento introdutório para
equipes e cursos de atualização destinados às abordagens coletivas e clínica individual.
Afirmativa (II) CORRETA - O PSF é uma estratégia prioritária do Ministério da Saúde para a
reestruturação da Atenção Básica, de acordo com os preceitos do SUS. As equipes de Saúde
Afirmativa (V) INCORRETA - As ações mínimas dos municípios na assistência básica referem-
se ao controle da tuberculose, à eliminação da hanseníase, ao controle da hipertensão arterial
e da diabetes, à saúde da criança, à saúde da mulher e à saúde bucal.
a) Diminuiu nas décadas de 1980 e 1990, sendo maior entre os homens jovens.
b) Aumentou nas décadas de 1980 e 1990, sendo maior entre os homens jovens.
c) Aumentou nas décadas de 1980 e 1990, sendo igual para homens e mulheres jovens.
d) Aumentou na década de 1980 e diminuiu na década de 1990, sendo igual para
homens e mulheres jovens.
e) Aumentou na década de 1980 e diminuiu na década de 1990, sendo maior entre os homens
jovens.
Comentário: Os dados de morte por causas externas merecem destaque no Brasil por
descreverem um risco bastante elevado da população jovem, principalmente a masculina. Não
somente na cidade de São Paulo, mas em todo o país, o risco de morte violenta tem
aumentado ao passar dos anos, atingindo especialmente a população entre 20 e 39 anos e de
uma maneira incrivelmente superior, os homens. Portanto a resposta correta é a opção (b)...
98) Os gráficos 1 e 2 mostram dados encontrados por Doll e Hill em sua pesquisa sobre a
mortalidade dos médicos ingleses e o hábito de fumar.
Gráfico 1. Taxa de mortalidade por câncer de pulmão, padronizado pela idade, entre homens, segundo a
quantidade diária de cigarros fumados.
Gráfico 2. Taxa de mortalidade por câncer de pulmão, padronizada por idade e quantidade fumada, segundo
período de tempo de abandono do cigarro.
Estudo sobre o impacto da infecção intra-uterina por rubéola no feto, realizado da década de
50 na Inglaterra (Manson et. al) comparou 578 gestações de gestantes infectadas por rubéola
com 5.717 gestantes não infectadas. Das 297 gestantes infectadas até a 16ª semana, 11
tiveram aborto espontâneo, 11 natimortos e 16 bebês morreram antes dos 2 anos. Das
crianças sobreviventes, 227 foram avaliadas aos 2 anos. Bebês de mães infectadas até a 16ª
semana tinham aumento significativo de anomalias congênitas comparados a bebês de mães
não infectadas. Após a 16ª semana de gestação o risco de malformações entre infectadas e
não infectadas pela rubéola se igualava. Aos 2 anos, 33 (15%) das crianças examinadas
tiveram anomalias congênitas graves e 16% moderadas. As malformações mais freqüentes
foram dos olhos (catarata, estrabismo, ambliopia), ouvidos (surdez uni e bilateral) e coração. E
as mais raras a estenose pilórica e duodenal, não descida do testículo, asma e deficiência
mental.
a) Ecológico.
b) De coorte retrospectivo.
c) Caso-controle.
d) Transversal.
e) De coorte prospectivo.
Os estudos ecológicos são estudos onde a unidade de análise é uma população ou grupo de
pessoas, geralmente pertencentes a uma área geográfica definida. Esses estudos procuram
avaliar de que maneira os fatores sócio-econômicos e ambientais conseguem afetar a saúde
de grupos populacionais, uma vez que medidas individuais muitas vezes não são capazes de
refletir o que ocorre ao nível coletivo.
Os estudos transversais são estudos que se caracterizam pela seleção de uma amostra
aleatória e a observação dos indivíduos em uma única oportunidade, visando identificar de que
forma determinadas características distribuem-se na população em estudo.
a) Tratar as malformações congênitas aos 2 anos tem melhor relação custo-benefício porque
apenas 1/3 dos fetos infectados intra-uterinamente apresentam malformações.
b) A eliminação da mortalidade fetal e da natimortalidade associada à rubéola congênita não
deve ser computada entre os benefícios da vacinação de adolescentes.
c) É mais ético e econômico evitar a morbimortalidade por malformações cardíacas pelo
diagnóstico intra-uterino por ultra-sonografia morfológica e cirurgia cardíaca intra-uterina do
que pela vacinação contra a rubéola.
d) A vacinação de adolescentes contra a rubéola tem grande impacto na redução da
morbimortalidade por malformações cardíacas, auditivas e visuais.
e) A vacinação contra a rubéola não consta do Programa Nacional de Imunizações.