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[Aconselhamento Bíblico]

Albert Mohler – Cristãos


podem usar controle de
natalidade?
Por Albert Mohler Jr. • 24/09/2011

A efetiva separação entre sexo e


procriação talvez seja uma das mais
importantes marcas definidoras da nossa
era. E uma das mais deploráveis. Esta
percepção está se alastrando entre os
evangélicos americanos e promete
provocar uma verdadeira explosão.

A maioria dos protestantes evangélicos


recebeu o advento das modernas
tecnologias de controle de natalidade
com aplausos e alívio. Desprovidos de
qualquer teologia significativa do
matrimônio, sexo ou família, evangélicos
deram as boas-vindas ao
desenvolvimento da “pílula” da mesma
forma que o mundo celebrou a
descoberta da penicilina – como mais um
marco na inevitável marcha do progresso
humano e da conquista da natureza.

Ao mesmo tempo, os evangélicos


superaram a sua tradicional reticência em
assuntos ligados à sexualidade e
produziram uma indústria crescente em
livros, seminários e até mesmo séries de
sermões que celebram o êxtase sexual
como um das bênçãos de Deus para os
cristãos casados. Outrora relutantes em
admitir até mesmo a existência da
sexualidade, evangélicos emergiram dos
anos sessenta prontos para compartilhar
o último conselho sexual sem ruborizar-
se. Como um dos mais vendidos manuais
evangélicos de sexo proclama: “Sexo
conjugal foi planejado para o prazer”.
Muitos evangélicos parecem ter
esquecido que ele foi planejado para
outra coisa também.

Para muitos cristãos evangélicos,


controle de natalidade é um assunto de
preocupação somente para católicos.
Quando o Papa Paulo VI publicou a sua
famosa encíclica considerando errado o
controle de natalidade artificial, Humanae
Vitae, a maioria dos evangélicos
respondeu com descaso, talvez
agradecidos porque evangélicos não têm
nenhum papa que pudesse proclamar um
edito semelhante. Casais evangélicos
tornaram-se dedicados usuários das
tecnologias de controle de natalidade
indo desde a Pílula até métodos de
bloqueio e Dispositivos Intra-uterinos
[DIU]. Tudo isso está mudando e uma
nova geração de casais evangélicos está
fazendo novas perguntas.

Um número crescente de evangélicos


está repensando o assunto “controle de
natalidade”, e encarando as duras
perguntas propostas pelas tecnologias
reprodutivas. Vários desenvolvimentos
contribuíram para esta reconsideração,
mas o mais importante deles é a
revolução do aborto. A primeira resposta
evangélica ao aborto legalizado foi
lamentavelmente inadequada. Algumas
das maiores denominações evangélicas
aceitaram, em princípio, pelo menos
alguma versão de aborto a pedido.

A consciência evangélica foi despertada


no fim da década de setenta, quando a
realidade homicida do aborto não podia
mais ser negada. Um forte rearranjo da
convicção evangélica ficou evidente na
eleição presidencial de 1980, quando o
aborto funcionou como estopim para uma
explosão política. Protestantes
conservadores emergiram como
importantes personagens no movimento
pró-vida, enquanto se levantavam lado a
lado com os católicos em defesa dos
ainda não-nascidos.

A realidade do aborto forçou, por sua vez,


uma reconsideração de outros assuntos.
Ao afirmar que a vida humana deve ser
reconhecida e protegida desde o
momento da concepção, os evangélicos
crescentemente reconheceram os
Dispositivos Intra-uterinos [DIU] como
abortivos e rejeitaram qualquer controle
de natalidade com qualquer objetivo ou
resultado abortivo. Essa convicção está
lançando agora uma nuvem de dúvida
sobre a pílula também.

Dessa forma, em uma virada irônica, os


evangélicos americanos estão
repensando o controle de natalidade até
mesmo em um momento em que a
maioria dos católicos romanos da nação
demonstram uma rejeição ao ensino da
igreja deles. Como os evangélicos
deveriam pensar sobre a questão do
controle de natalidade?

Primeiro, devemos começar com uma


rejeição da mentalidade anticoncepcional
que vê gravidez e filhos como imposições
a serem evitadas em vez de presentes a
serem recebidos, amados e nutridos.
Essa mentalidade anticoncepcional é um
insidioso ataque à glória de Deus na
criação e ao dom da procriação dado pelo
Criador ao casal casado.

Segundo, precisamos afirmar que Deus


nos deu o dom do sexo para vários
propósitos específicos e um desses
propósitos é a procriação. O matrimônio
representa uma perfeita rede de
presentes divinos, incluindo prazer
sexual, vínculo emocional, apoio mútuo,
procriação e paternidade. Nós não
devemos desconectar estes “bens” do
matrimônio e escolher somente aqueles
que desejamos para nós mesmos. Todo
casamento deve estar aberto à dádiva de
filhos. Até mesmo onde a habilidade de
conceber e dar à luz filhos porventura
esteja ausente, o desejo de ter filhos
deve estar presente. Buscar prazer sexual
sem abertura a ter filhos é violar uma
responsabilidade sagrada.

Terceiro, nós deveríamos olhar de perto


para o argumento moral católico da forma
como se acha em Humanae Vitae. Os
evangélicos ver-se-ão em surpreendente
acordo com muito do argumento da
encíclica. Como advertiu o Papa, o uso
difundido da pílula levou a “sérias
conseqüências” que incluem infidelidade
matrimonial e imoralidade sexual
desenfreada. Na realidade, a pílula
permitiu um quase total abandono da
moralidade sexual cristã na cultura em
geral. Quando o ato sexual foi separado
da probabilidade de gravidez, a estrutura
tradicional de moralidade sexual
desmoronou.

Para a maioria dos evangélicos, o


principal rompimento com o ensino
católico está na insistência de que “é
necessário que cada ato conjugal
permaneça ordenado em si mesmo para a
procriação da vida humana”. Ou seja, que
todo ato conjugal deve estar completa e
igualmente aberto à dádiva de filhos. Isso
é ir longe demais, e coloca importância
desmedida em relações sexuais
individuais, em lugar da integridade mais
abrangente do laço conjugal.

O foco em “cada ato conjugal” dentro de


um matrimônio fiel que está aberto à
dádiva de filhos vai além da exigência
bíblica. Considerando que a encíclica não
rejeita todo e qualquer planejamento
familiar, este foco requer a distinção entre
métodos “naturais” e “artificiais” de
controle de natalidade. Para a mente
evangélica, esta é uma distinção bastante
estranha e artificial. Olhar para a posição
católica ajuda, mas os evangélicos
também têm que pensar por si mesmos,
raciocinando a partir das Escrituras em
uma cuidadosa consideração.

Quarto, casais cristãos não são


ordenados pela Bíblia a maximizar o
número de filhos que poderiam ser
concebidos. Dado nosso estado geral de
saúde em sociedades avançadas, um
casal que se casa com vinte e poucos
anos e tem uma vida sexual saudável e
regular poderia produzir tranqüilamente
mais de quinze descendentes antes da
esposa chegar aos quarenta e poucos
anos. Tais famílias deveriam ser
corretamente honradas, mas este nível de
reprodução certamente não é ordenado
pela Bíblia.

Quinto, com tudo isso em vista, casais


evangélicos podem, às vezes, escolher
usar contraceptivos para que possam
planejar suas famílias e desfrutar dos
prazeres do leito matrimonial. O casal
deve considerar todos estes assuntos
com cuidado e deve verdadeiramente
estar aberto à dádiva de filhos. A
justificativa moral para usar
contraceptivos deve estar clara na mente
do casal e ser completamente
consistente com o seu compromisso
cristão.

Sexto, casais cristãos têm que


assegurar-se de que os métodos
escolhidos são realmente
anticoncepcionais em seus efeitos, e não
abortivos. Nem todo o controle de
natalidade é contraceptivo, já que
algumas tecnologias e métodos não
impedem o espermatozóide de fertilizar o
óvulo, mas impedem o ovo fertilizado de
implantar-se com sucesso na parede do
útero. Tais métodos não envolvem nada
menos que um aborto extremamente
prematuro. Isto é verdade a respeito de
todos os DIU e de algumas tecnologias
hormonais. Atualmente tem havido um
debate acirrado quanto ao fato de pelo
menos algumas formas da pílula também
poderem atuar através de um efeito
abortivo, em lugar de prevenir a ovulação.
Casais cristãos precisam exercer a devida
cautela para escolherem uma forma de
controle de natalidade que é
inquestionavelmente anticoncepcional,
em lugar de abortiva.

A revolução do controle de natalidade


literalmente mudou o mundo. Os casais
de hoje raramente param para pensar no
fato de que a disponibilidade de
anticoncepcionais efetivos é um
fenômeno muito recente na história
mundial. Esta revolução provocou uma
explosão de promiscuidade sexual e
muita miséria humana. Ao mesmo tempo,
também ofereceu aos casais pensantes e
cuidadosos uma oportunidade de
desfrutar a alegria e satisfação do ato
conjugal sem estar o tempo todo
igualmente aberto à gravidez.

Portanto, os cristãos podem fazer uso


cuidadoso e apropriado dessas
tecnologias, mas nunca devem se deixar
levar pela mentalidade contraceptiva. Nós
nunca podemos olhar para os filhos como
um problema a ser evitado, mas sempre
como um presente a ser recebido com
alegria.

Para os evangélicos, muito trabalho


precisa ser feito. Nós precisamos
construir e cultivar uma nova tradição de
teologia moral, extraída das Escrituras
Sagradas e enriquecida pela herança
teológica da igreja. Até que o façamos,
muitos casais evangélicos não vão nem
mesmo saber onde começar o processo
de pensar a respeito de controle de
natalidade em um contexto totalmente
cristão. Já está na hora dos evangélicos
responderem a esse chamado.

Por: Albert Mohler | AlbertMohler.com

Tradução: Juliano Heyse


| bomcaminho.com

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