Essas formas apareceram no português pelos séculos XVII e XVIII, e tiveram origem na forma
“vossa mercê”, introduzida na língua por volta dos séculos XIV e XV para tratar, inicialmente, o
rei. No entanto, as mudanças socioeconômicas fizeram com que essa forma de tratamento
fosse se popularizando e perdendo status. “Vossa mercê” passou a ser a forma pela qual se
tratavam, primeiro, os membros da aristocracia, depois, os membros da baixa burguesia, ao
passo que outras formas de tratamento eram inseridas para marcar os membros de maior
poder econômico e prestígio social. Em 1597 ainda há um registro da expressão “vossa mercê”
no fechamento de uma carta, indicando que o tratamento ainda se relacionava à
demonstração de respeito. Foi uma forma de cuidado no tratamento entre a burguesia
urbana. No entanto, pelos séculos mencionados, XVII e XVIII, essa forma de tratamento foi
ficando arcaica, enquanto a forma abreviada “você” se espalhava. Essa simplificação fonética
fez com que a forma se popularizasse e se consolidasse como a forma geral do tratamento da
segunda pessoa do discurso, pluralizando-se, também, para “vocês”.
Quando o “vossa mercê” foi inserido na língua, o tratamento fazia referência às propriedades
do rei, fazendo referência a ele próprio apenas por metonímia. Por esse motivo, essa forma
concordava com a terceira pessoa do discurso. Assim, o “você”, embora se refira ao
interlocutor, não concorda com a segunda pessoa, mas com a terceira.