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NESTA EDIÇÃO:

Universidade Brasileira: quem


dá mais??
O que é a Reforma Universitária

Revendo Conceitos Pedagógicos


Uma discussão sobre outras formas
de aprender/ensinar

Enquanto isso, em Cuba...


Bom, “Para su bien o para su mal, la
cosa con Cuba es de igual a igual”
dizia Carlos Puebla
Cala Warhol, por Andy Warhol e Romullo Baratto
ArqSust!
Uma arquitetura mais a ver com a vida

E mais...
Reforma Universitária

Universidade Brasileira: quem dá mais?


Faz já algum tempo que ouvimos falar da tal “Reforma Universitária”, com forte propaganda do governo federal,
dizendo sempre que “enfim surgem as mudanças que precisava a educação superior no Brasil”. As perguntas que
fazemos são: mudança para quem? Este projeto vem solucionar os problemas da universidade (todos sabemos que são
muitos) ou aprofundar seu caráter de dependência com relação ao mercado e aos países “desenvolvidos”? Tentaremos
neste breve texto colocar um pouco da verdadeira face do PL 7200 que tramita no Congresso Nacional a Reforma
Universitária.
Com um claro caráter de transformar educação em mais uma mercadoria, a reforma universitária vem
solucionar os “problemas” universidade brasileira através das exigências do Banco Mundial explicitadas no documento
"O BM e o Ensino Superior: Lições Derivadas da Experiência" (1994): as universidades públicas, gratuitas, assentadas na
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão não servem para a América Latina. Os governos da região deveriam
adotar um modelo mais simplificado em instituições não universitárias e, preferencialmente, privadas ou resultantes de
parcerias público-privadas a exemplo do Prouni.
O projeto da Reforma Universitária desobriga o Estado de financiar integralmente a educação, dando abertura
para que as administrações das universidades públicas busquem financiamento no capital privado (mercado), a Lei de
Autonomia Financeira para as Universidade Públicas. Além disso, nada impede, que com o passar dos anos, que os
próprios estudantes sejam obrigados a pagar pela educação “pública”, através das taxas e mensalidades. É necessário
percebermos que o direito ao ensino gratuito já foi realidade em instituições que hoje são pagas, como algumas do
sistema Acafe (FURB, UNOESC, entre outras) que antes tinham caráter público, municipal ou estadual.
Outra grande afronta ao caráter público e gratuito das universidades federais se dá através da Lei de Inovação
Tecnológica. Esta lei irá trazer profundas mudanças, ferindo a autonomia didático-científica, segregando a produção de
conhecimento, e assim subordinando as universidades ao setor privado empresarial (sendo que 30% pode ser capital
internacional). As universidades passarão a ser instrumentos de empresas e, de acordo com os interesses deste setor,
somente poderão produzir tecnologia que esteja voltada às “demandas de mercado”. Desta maneira, a produção de
conhecimento gerada com recurso público (desde recursos financeiros, até estrutura física das universidades e
professores pagos pelo governo) estará voltada aos interesses privados. Além disto, esta lei permite a patente, pelas
empresas, do que é produzido nas universidades públicas. Seria isto a privatização da ciência e tecnologia brasileira?
Um dos pontos já aprovados desta “reforma” é o Programa Universidade Para Todos (PROUNI) que está
financiando milhares de vagas ociosas das universidades privadas para estudantes de baixa renda, através da concessão
de bolsas parciais. Muitas destas vagas estão em universidades de baixíssima qualidade e algumas não possuem sequer
seus cursos reconhecidos pelo MEC. Essas universidades, como retribuição pela vagas ociosas, ainda recebem isenção
fiscal (cerca de 2,7 bi) e outros favorecimentos (mais de 1 bi). No entanto, se este valor, que o governo está deixando de
arrecadar ou que investe na educação privada, fosse usado para a abertura de novas vagas integralmente gratuitas em
universidades federais, estas beneficiariam um número três vezes maior de estudantes, de acordo com o cálculo da
Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior - ANDES. Sabendo disso, fica claro que o PROUNI visa ajudar as
universidades privadas que passavam por crise financeira e não os estudantes de baixa renda.
Portanto, a comunidade universitária, os movimentos sociais e os setores sociais devotados à causa da educação pública
não podem se furtar da luta para impedir que a velha agenda, sob o manto de “reforma”, destrua o importante
patrimônio social que são as universidades públicas. No âmago dessas lutas, os protagonistas terão de discutir uma
agenda alternativa para a educação superior brasileira com proposições objetivas e originais capazes de empolgar outros
setores sociais, em especial da juventude. Não podemos esmorecer frente a mais essa ofensiva contra os direitos do
povo, assumindo papel protagonista, como estudantes universitários, na defesa do que já conquistamos e por uma
agenda capaz de revolucionar realmente a universidade brasileira e abri-la aos interesses populares.
Fontes: Otávio Dutra
Analise do Projeto de Lei 7200/2006 A educação superior em perigo. ANDES-SN
'Fast delivery' diploma: a feição da contra-reforma da educação superior. Roberto Leher, professor da faculdade de educação da UFRJ
O BM e o Ensino Superior: Lições Derivadas da Experiência (1994). Documento do Banco Mundial

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Projeto Político-Pedagógico

Revendo conceitos pedagógicos


“Os educadores e educadoras do ensino fundamental são dos acampamentos e acompanham de perto a vida das
famílias Sem Terra. Os educadores do ensino médio são da rede estadual de ensino. A educadora Sandra Schzeerin, do
acampamento 1o de Agosto, na cidade de Cascavel, conta que as escolas do Movimento trabalham a partir daquilo que
a comunidade necessita e seu calendário é pautado pela dinâmica social. "A realidade é a base de produção de
conhecimento", diz.
O projeto educativo da Escola Itinerante é voltado para o público específico dos acampamentos. A metodologia é
organizada para proporcionar vários espaços educativos. O educador e coordenador do Setor de Educação, Alessandro
Santos Mariano. Esclarece que, além da aula em que os educandos aprendem a desenvolver as habilidades de escrita e
leitura - , também existem outros "tempos" educativos. Por exemplo, tempo oficina, quando a comunidade é convidada
a ensinar conhecimentos mais ligados à terra, natureza, agricultura, cultura, teatro, entre outros. "Também temos o
tempo prático, tempo cultura, tempo lazer e tempo formatura, que tem como objetivo cultivar a memória do
Movimento", afirma.
Segundo o artigo "Escola Itinerante como espaço de formação e escolarização das famílias Sem Terra", escrito por alguns
educadores, a idéia surgiu de uma necessidade das famílias acampadas. Elas precisavam de uma escola para seus filhos
"porque, em muitos casos, os municípios não queriam atender as crianças Sem Terra nas escolas municipais e, quando
atendiam, em geral levavam as crianças dos acampamentos para a cidade."
Outro princípio é a democratização da gestão escolar, com a participação das famílias na construção do processo
pedagógico. São desenvolvidas ações metodológicas e práticas a partir do nível de conhecimento das crianças.
Conversando com os educandos é fácil perceber que a maioria prefere estudar nas Escolas itinerantes, do que se
deslocar até a cidade para aprender. "Quando a gente se tornar jovem
vai precisar saber mexer com a terra e tirar dela o próprio sustento.
Por isso, prefiro estudar nessa escola, com professores que ensinam
sobre a agroecologia, agricultura e meio ambiente", argumenta a Sem
Terrinha Ana Paula, 11 anos, do pré-assentamento Celso Furtado, no
município de Quedas do Iguaçu. Ela afirma que quando crescer
prefere continuar vivendo no campo, porque acha mais interessante
que a cidade. "Se não tiver o pequeno agricultor as cidades não vivem.
Se a gente não plantar eles não têm como comer", destaca.
Trecho da matéria: "Escola Itinerante garante estudo para 2500 Sem
Terra no Paraná", retirado da revista "Sem Terra", no 35 , Setembro-
Outubro/2006

Qual a relação que pode se fazer entre esse exemplo da Escola Itinerante e uma Universidade, uma escola
de arquitetura, ou qualquer tipo de escola?
Entre muitos outros pontos que podem ser ressaltados neste exemplo, podemos ver nas atividades realizadas pela
Escola Itinerante uma interação construtiva com a comunidade envolvida e com a população das proximidades. Os
"tempos" praticados (oficina, cultura, etc.) podem ser aplicados em todas escolas, chamando a comunidade local a
participar da construção dos conhecimentos, envolvendo pessoas de todas as faixas etárias nas diversas atividades a
serem propostas e criadas conjuntamente.

A escola de arquitetura
Vemos hoje que a relação da universidade com a população próxima é muito pobre, muitas vezes se resumindo a
projetos esporádicos e que não raro não saem do papel. Atuando desse modo na sociedade, a universidade acaba por
servir a interesses de empresas privadas utilizando dinheiro público. Esta questão da relação universidade-sociedade
deve ser analisada, porém não é nossa intenção aqui.
A escola de arquitetura é campo muito rico e de grande importância para a população, pois a necessidade de criação de
ambientes habitáveis é constante e direta a todo ser humano. É possível gerar um envolvimento da comunidade em
geral e conseqüente troca de conhecimentos com ela, através da realização de atividades diversas que, entre outros
objetivos, possam auxiliar a compreensão das relações humanas, objeto principal de estudo da arquitetura.
Hugo Koji Miura
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Arquitetura Sustentável

ArqSust!
A arquitetura sustentável, e a sustentabilidade, esta entrando cada vez mais no centro das atenções, porém, o modismo e
o uso das palavras de forma vazia, sem real significado e compreensão, também está tomando força, resultando num
descrédito nocivo ou aproveitamento da situação para fins comerciais convencionais. Para não cairmos nessa e
conseguirmos aplicar princípios sustentáveis nas nossas vidas é preciso entender o que é de fato sustentabilidade,
bioarquitetura, arquitetura verde, agroecologia, etc. Alguma coisa só para dar uma idéia segue nesse recorte de uma
matéria da revista “Permacultura latina”.
“...7,2 milhões de moradias que não existem. A este número acrescentamos outros milhões de submoradias e podemos
ter idéia do déficit habitacional no Brasil...
...A construção civil (...) é um dos três setores da indústria que mais gera impacto ambiental. Seja pela extração de
matéria-prima seja pelo desperdício de material nas construções...
...Na perspectiva permacultural, o que se configura são oportunidades para verificar os limites de um modelo de
construção, imposto por interesses comerciais, que não responde em tempo à demanda que ajudou a criar...
...Não existem condições ambientais e econômicas que sustentem extrair e pagar por todo o material de construção
necessário, dentro dos parâmetros da atual tecnologia convencional para investir no fim da falta de moradia...
...As pesquisas sobre outros materiais para construção, com menor impacto para a natureza, são marginalizadas...
...Com relação ao direito social à moradia, previsto no Artigo 6º da Constituição Brasileira, tramita no Congresso Nacional
o Projeto de Lei 6.981/06, que prevê assistência técnica gratuita para habitações de interesse social e permitirá que
famílias tanto do meio urbano quanto rural, com renda de até três salários mínimos, recebam, esse importante
acompanhamento...

Arquitetura bioconstruída
...Estudos realizados pela professora Maria Lúcia Malard, admitem que “quando a territorialidade, a privacidade, a
identidade e a ambiência são afetadas, o morador rejeita as soluções dadas, por mais que os projetistas se tenham
empenhado para o sucesso de seus projetos”...” (não é o que acontece em conjuntos habitacionais com violência e falta
de conservação, como o Cingapura em SP e as casinhas/favela daqui de Florianópolis?).
“...A arquitetura bioconstruída, por sua vez, trabalha na perspectiva da habitação como questão de caráter social,
apresenta soluções mais sustentáveis para os custos da construção, mantém um cuidado central com o ambiente,
considera as questões do conforto ambiental associadas inclusive à saúde dos usuários...
...Este tipo de arquitetura trabalha uma relação de consumo ético e responsável, na utilização dos materiais. Questões
como a quantidade de gás carbônico liberada na atmosfera e outros impactos gerados ao ambiente na origem da
matéria-prima são preocupações centrais. A utilização da terra na construção, por exemplo, tem menor impacto
ambiental, custo zero e características bioclimáticas imbatíveis...

Quem carrega o debate


Contudo, se a oficialidade não faz força para encorajar soluções mais palpáveis no âmbito da responsabilidade
ambiental, um setor desponta na vanguarda do tema: os movimentos e organizações sociais, em especial aqueles ligados
ao meio rural ou rururbano, entre outros historicamente excluídos do eixo de desenvolvimento capitalista, como os
quilombolas...
...Deixemos de lado a concepção reducionista e atrasada, própria da mentalidade industrial, que resume casa em piso,
parede e telhado, para ver a moradia como um equipamento de manejo do ambiente, conectado a várias redes, como a
rede da água, de ventilação, da fauna, da flora, dos arredores, das pessoas que vivem dentro da casa e, modernamente,
rede elétrica, telefônica e de computadores. Algo muito próximo do desenvolvido pelo pintor, teórico naturista e
construtor austríaco, Friedensreich Hundertwasser, que trabalha a idéia de interdependência das esferas ou das peles,
entendidas como: o corpo, o vestuário, a casa, a identidade social e o meio global, além da necessidade de vivenciar as
relações entre elas e afirmar o ser humano integral, questionando a prática cotidiano de existir no mundo. Hunderwasser
denuncia assim o reflexo mímico e idiota, induzido pelo consumo cego dos produtos impessoais e padronizados...”

Texto de Fernando Campos Costa e Adriano Marcello Santos, extraído da revista “Permacultura latina”,
nº3 ano I set/out/nov 2006. www.permaculturalatina.org.br

Para saber mais:


Esta revista está no CALA e outros matérias falando de permacultura, bioconstrução, bioarquitetura, etc. podem
ser encontrados no CALA, no AMA, no LDA, na BU, na internet, com pessoas da facu... 5
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Papo de Mochileiro

Enquanto isso, em Cuba...


Por mais informado que se possa estar desse país, mesmo procurando ter uma formação política e
ideológica diferente, é grande a possibilidade de choque, principalmente pela quantidade de informações subtraídas
e outras não contextualizadas que chegam a nossas mãos. E ainda, talvez, porque nossas mentes já estão tão
colonizadas que, mesmo lutando contra, nosso conceito de “belo” já está de tal maneira enraizado que torna muitas
vezes impossibilitada nossa capacidade de abstração. Assim, para compreender a situação atual, é necessário
vasculhar por entre os pilares históricos da luta popular.
A defesa da liberdade contra a exploração já tem seus marcos nas lutas indígenas e dos escravos que
caracterizaram os tempos coloniais de toda a América. Em Cuba, essas influências fizeram eclodir as lutas insurrecionais
pela independência do jugo espanhol, no fim do século XIX, que teve como expoente máximo José Martí. Sua visão
crítica do país e o sentimento popular manifestado em suas atuações e em sua obra, influenciaram na cristalização de
uma atitude de rebeldia em seus compatriotas, fazendo dele o principal pensador da revolução liderada por Fidel
Castro, em 1959. Martí, vendo além dos horizontes coloniais, chegou inclusive a condenar as intervenções
estadunidenses no Caribe e na América, defendendo a união e solidariedade entre os povos latinos em suas lutas
emancipatórias.
Isso fez com que Cuba tivesse uma formação econômica, social e política muito particular. O fervoroso
patriotismo e a luta contra o imperialismo yanqui
culminaram na conquista do poder, com o fim da ditadura de
Batista. A partir de então, mudanças radicais passaram a ser
feitas em todos os ramos da sociedade: Reforma Agrária,
Reforma Urbana, um processo de instauração de uma
democracia participativa, acesso a serviços educacionais
pelas massas, reorganização produtiva, etc.; sempre em
defesa do socialismo como único caminho de resolução dos
problemas característicos de países capitalistas
dependentes. Todo um processo revolucionário se
instaurava em um dos momentos mais tensos vividos
mundialmente.
Logicamente, todos esses avanços não chegaram aos
ouvidos dos brasileiros, pois poderia ser uma “má influência”
para um país que passava por uma crise política e econômica
Praça da Revolução
decorrente do agravamento das contradições do próprio
sistema. Aqui, quando idéias com maior caráter social, mesmo que tímidas, começam a se tornar aparentes pelas
atuações das organizações populares, seja sindical, estudantil, camponês, veio o golpe militar. A partir daí, junto com a
repressão e censura nascia também a Rede Globo, que passava a exercer hegemonia nas comunicações em prol do
regime. Bastava falar em comunismo, pronto! Já era o suficiente para causar repúdio. Reflexo do pensamento de uma
classe dominadora que nada mais foi, e continua sendo, além de fantoche estadunidense.
Mesmo com essas pressões internacionais, o regime sobrevivia às barbas do império e em meados da década de
80, o governo cubano iniciava um processo de retificação, com o objetivo de promover a desburocratização da vida
econômica, social e política do país. Em meio a esse processo, veio a queda dos regimes socialistas soviéticos, e com isso,
uma dura etapa de instabilidade para o país caribenho, que muito dependia das relações com aqueles países. Esse
período, chamado de Período Especial (1992-1998), foi uma etapa de reorganização e de adaptação do regime, no qual
se demonstrou a grande capacidade dos militantes e dirigentes em geral de fazer uma avaliação e auto-reflexão,
indicando a resistência ideológica como a principal maneira de enfrentar a crise econômica. E foi isso que fez com que
essa crise não se alastrasse significativamente para o campo político. Assim, o país conseguiu retomar o crescimento
econômico, sendo que no último ano foi o país que mais cresceu na América, marcando 9,5 pontos percentuais.
Dessa maneira, devemos interpretar cada situação, cada parte, que permitem uma análise profunda em relação
ao todo. Informações descontextualizadas em nada nos ajudam para uma compreensão íntegra. No entanto, é

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exatamente isso que fazem com as notícias que chegam aos nossos ouvidos. Uma coisa muito comum é utilizar as
construções de Havana Velha, como “prova de subdesenvolvimento”. Lá, realmente, 80% das construções estão de pé
há mais de 80 anos. Mas, é claro que se torna incoerente citar, pela mídia reacionária brasileira, a preocupação do
governo e do povo cubano com a recuperação histórica e
cultural do país e a dificuldade para essa realização que,
felizmente, não foi totalmente prejudicada pela
deterioração e demolição do patrimônio, conseqüência da
especulação imobiliária que assola descaradamente as
principais capitais latino-americanas, iniciada
principalmente na segunda metade do século passado. Isso,
permitido pelos planos urbanísticos, muito inspirados no
gigantismo haussmanniano, cuja principal função após a
revolução 1848 era deixar Paris em condição de reprimir
com mais facilidade a classe operária emergente. Assim, as
obras de restauração foram em sua maioria destinadas à
população, como escolas, museus, teatros, hospitais,
moradias, embora nos últimos anos se tenha tido uma
preocupação grande com locais mais destinados ao turismo,
Habitações populares - Novo Vedado (bairro construido após o
que se tornou a principal fonte de renda após a queda do triunfo revolucionario)
campo socialista.
O turismo foi claramente a única opção para saciar as necessidades da população frente ao bloqueio
econômico dos EUA. No entanto, tem um caráter controverso. A partir dessa abertura alguns problemas
foram sendo percebidos novamente, além de necessidades subjetivas, que antes não existiam. Isso mostra o
poder ideológico do capitalismo global, como reprodutor de valores individuais, e a real necessidade de
internacionalização socialista.
Todas essas dificuldades, tanto materiais quanto ideológicas, deixam o país longe do ideal. No entanto,
já há um campo formado estruturalmente, que torna possível avançar, com um governo formado pelo povo e
para o povo. Entretanto, em questão social, é incrível o quanto é avançado. É espantoso caminhar pelas ruas
pela manhã e pela tarde sem ver sequer uma criança, já que o ensino é obrigatório e gratuito para todas entre
6 e 14 anos; ver a possibilidade de desenvolvimento da agricultura urbana, tirando o papel da cidade como
“parasita” do campo, com uma aproximação das condições de vida do trabalhador urbano com o rural; a
possibilidade de acesso a diversas manifestações artísticas pela maioria; ou ainda, caminhar por entre ruelas
no centro de Havana, com seus mais de 2 milhões de habitantes, pela madrugada, e não se sentir ameaçado.
Afinal, como disse Ghandi, “Violência é criada por desigualdade, a não violência pela igualdade", ou, ao
afirmar a necessidade de “uma paz real baseada na liberdade e igualdade de todas as raças e nações”.
Mas então, como se pode querer igualdade em um sistema que é todo desigual? Como desenvolver o
coletivo se estamos imersos em uma realidade onde o homem explora o homem? Quem diria, um país
socialista (em transição socialista) tem sido um dos que chegou mais próximo disso. Cuba passou por uma
Revolução Social. Exatamente! Mas dizem que essas coisas saíram de moda. No entanto, nunca paramos para
pensar de onde vem esse pensamento. Ora, só pode vir de alguém que pretende eternizar essa posição! De
uma classe que necessita do conformismo da maioria, utilizando dos mais diversos meios para manter sua
posição. Não é difícil perceber que essa situação está insustentável. Pois é, talvez essa ilhota do caribe esteja
fazendo algo ecoar pelo tempo nos chamando para fazer história. Muito há para aprender. Não ignoremos o
que ela tem para nos ensinar.

Fausto Moura Breda

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Chargeando...

Roteiro Cultural

A TRILOGIA DAS CORES

Talvez você, assim como muita gente, não goste do cinema europeu por achá-lo chato demais. E, na maioria
das vezes é chato mesmo. Mas se toda regra tem uma exceção, Krzystof Kieslowski, cineasta polonês, é a exceção
desse caso. A Trilogia das Cores, inspirada nas cores da bandeira francesa, e em seus significados, é um dos
momentos mais poéticos do cinema nessa década. A Liberdade É Azul (1993), A Igualdade É Branca (1994) e A
Fraternidade É Vermelha (1994) são os filmes que formam a trilogia.

A Liberdade é Azul A Igualdade é Branca A Fraternidade é Vermelha

Sinopse: Sinopse: Sinopse:


Após um trágico acidente em Após se divorciar na França da Uma modelo (Irène Jacob)
que morrem o marido e a filha mulher que ama, um polonês atropela o cão de um juiz
d e u m a fa m o s a m o d e l o volta ao seu país de origem, aposentado (Jean-Louis
(Juliette Binoche), ela decide disposto a ganhar muito Trintignant), que tem o
por renunciar à sua própria dinheiro para poder se vingar estranho hábito de ouvir as
vida. Após uma tentativa da mulher da sua vida. conversas telefônicas de
fracassada de suicício, ela volta outras pessoas. Este fato será o
a se interessar pela vida ao se ponto de partida para uma
e nvo l ve r co m u m a o b ra singular amizade.
inacabada de seu marido, que
era um músico de fama
internacional.

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