Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Assim, a obra Ilíada foca-se na batalha entre gregos e troianos, dando enfoque nos
heróis gregos e troianos. Um desses heróis é Ulisses, que apesar de não ser uma
personagem principal, tem um papel de destaque, nomeadamente em alguns cantos da
obra.
1
gregos naquela época. Assim, os mitos gregos focam, principalmente, as origens do
mundo, os modos de vida dos gregos, as aventuras dos deuses, deusas e heróis. Os mitos
gregos chegam-nos atualmente, porque estes foram sendo expressos na literatura grega,
mas também noutras artes, como a pintura e a cerâmica.
Segundo Homero, herói era aquele que se distinguia na arete, ou seja, se destacava
com a força física (destacavam-se no campo de batalha) e com a eloquência
(destacavam-se na assembleia).
Ulisses era filho de Laerte e de Anticléia. Casou-se com Penélope e tem um filho,
Telémaco. Era rei de duas pequenas ilhas do mar Jónico: Ítaca e Dulíquio. Este é
caracterizado e distinguido por ser persuasivo, refinado, ardiloso, engenhoso e por seus
embustes que contribuíram para a tomada de Tróia – cavalo de Tróia.
Como foi referido anteriormente, Helena é raptada por Páris e, como tal, Menelau
pediu ajuda aos chefes da Grécia (estando Ulisses incluído). Contudo, Ulisses que tinha
acabado de casar com Penélope e que tinha o seu filho pequenino – Telémaco – não se
demonstrou com vontade de participar nesta aventura incerta.
Como Ulisses era muito persuasivo e muito astucioso, foi usado para convencer
outros chefes gregos a participar nesta aventura: nomeadamente, foi usado para
2
convencer Aquiles a participar. Assim, cada vez mais, Ulisses ficou conhecido pela sua
sagacidade e astúcia.
Outro epíteto não muito utilizado, mas que tem muita importância devido ao seu
significado é “Ulisses, igual de Zeus no Conselho”, mais uma vez coloca Ulisses ao
nível dos deuses, principalmente, coloca Ulisses ao nível do pai dos deuses,
nomeadamente, ao nível da sua eloquência e poder no conselho. Existe, ainda, outro
epíteto que aproxima Ulisses de Zeus “Ulisses, dileto de Zeus”, ou seja, Ulisses que é
muito amado por Zeus.
3
Ulisses não era só distinguido pelo seu poder de eloquência, mas também pelo seu
poder como guerreiro, nomeadamente, como arqueiro, sendo um epíteto comprovador
disso mesmo “Ulisses, famoso lanceiro”.
Ulisses é caracterizado pela sua paciência, sendo ele, muitas vezes, aquele que
acalma os ânimos entre os gregos, sendo que existem dois epítetos que são utilizados
para o descrever assim mesmo: “Ulisses de ânimo paciente” e “o paciente Ulisses”. Para
além da sua pacência, também é caracterizado pela sua prudência, como é comprovado
pelo epíteto “Ulisses de matizado pensamento”.
Ao longo dos cantos da obra, Ulisses é caracterizado pelas suas ações em batalha
e na assembleia, mas também pela forma como as outras personagens falam sobre este.
No canto I, Crises vai até ao campo de batalha dos gregos para resgatar a sua filha
Criseida (que era cativa de Agamémnon), contudo, Agamémnon não lhe entrega a filha
e, por isso, Apolo lança a peste sobre o exército grego, como castigo. Por este motivo, é
convocada um conselho com os chefes gregos, que decidem realizar uma expedição
para levar Criseida até casa, sendo esta expedição comandada por Ulisses (“Como
comandante foi Ulisses de mil ardis” – v.311). Esta atitude dos chefes, permite
caracterizar Ulisses como sendo de confiança, já que as missões delicadas lhe são
confiadas.
4
No canto II, Atena desce do Olimpo e vai até ao campo de batalha dos Aqueus e
encontra Ulisses e fala com o mesmo, incitando-o a ficar na batalha e a não recuar. Mal
ouve o discurso da deusa, este vai ter com o Agamémnon e pede-lhe o ceptro e ao
caminhar pelas naus fala com os homens que encontra, tentando acalmá-los, com
palavras suaves (“Se porventura encontrava um rei ou outro homem nobre,/
aproximava-se dele e com palavras suaves o refreava:” – vv. 188-189) e repreendia
aqueles que estavam envolvidos em rixas (“Mas se porventura via um homem do povo
metido numa rixa,/ batia-lhe com o cetro, repreendendo-o” – vv.198-199). Era
considerado autoritário (“Autoritário, assim percorreu o exército” – v. 207). Juntaram-se
no conselho e Térsites continuava a falar (“Só Térsites de fala desmedida continuava a
tagarelar”, v.212), insultando Agamémnon, mas, logo é repreendido por Ulisses
(“Rapidamente se postou junto dele o divino Ulisses;/ fitando-o com sobrolho
carregado, repreendeu-o com duras palavras” – vv. 244-245), que lhe bate com o ceptro.
Ulisses é percebido pela sua fala a Térsites como justo, austero e autoritário. Assim, os
gregos (após as suas palavras) consideram Ulisses valoroso (“Ah, na verdade são os
milhares os feitos valentes de Ulisses,/ tanto na primazia dos conselhos como na
autoridade guerreira!” – vv.272-273). Os gregos consideravam, assim, Ulisses bem-
intencionado e como um modelo. Ulisses dirige-se aos Aqueus e incentiva-os a
permanecer em guerra, evidenciando ser um herói compreensivo, autoritário e sábio; e,
as suas palavras são sempre elogiadas pelos gregos (“que elogiavam as palavras do
divino Ulisses”) – v. 335). No final deste canto, é ainda feita a apresentação das naus e
dos guerreitos: Ulisses é o comandante dos magnânimos Celafénicos, os senhores da
Crocileia e de Egílipe, comandando doze naus; pelo que se entende que era um grande
guerreiro, que era confiando por muitos gregos.
No canto III, Helena descreve Ulisses a Príamo, descrevendo-o como mais baixo
que Agamémnon (“É mais baixo por uma cabeça que o Atrida Agamémnon” – v. 193),
largo de ombros e de peito (“mas é mais largo de ombros e de peito quando se olha para
ele.” – v. 194), muito ardiloso e engenhoso (“conhecedor de toda a espécie de dolos e
planos ardilosos.” – v. 202), era o mais nobre (“Mas estando ambos sentados era Ulisses
o mais nobre.” – v. 211). Era considerado ainda sério, austero e respeitado.
No canto IV, mais uma vez, é evidenciado o carácter guerreiro de Ulisses, que
“condena” Agamémnon por “recusar” batalha, uma vez que sugere que os anciões
fiquem num banquete enquanto os aqueus lutavam (“Como podes tu dizer que
5
rejeitamos a guerra, quando nós Aqueus/ levamos a guerra afiada contra os Troianos
domadores de cavalos?” – vv.351-352). Contudo, Ulisses afirma que quer estar à frente
do seu batalhão (“Verás — se assim quiseres e se por tal sentires algum interesse —/ o
amado pai de Telêmaco no meio dos combatentes dianteiros.” – vv. 353-354). Assim,
Agamémnon caracteriza Ulisses como sendo benévolo e bondoso(“Pois sei que o
coração no teu peito é conhecedor/ de pensamentos benévolos.” – vv. 360-361). Ulisses
era um grande guerreiro, como já foi referido anteriormente, sendo que ao lançar uma
lança todos os troianos recuaram (“posicionou-se perto e arremessou a lança reluzente,/
olhando em redor. Os Troianos recuaram perante/o arremesso do guerreiro.” – vv.496-
498). Ao atirar esta lança mata o filho ilegítimo de Príamo, Democoonte.
No canto VI, Ulisses não tem uma importância muito evidenciada, e apenas
aparece quando abate Percósio Pidites, evidenciando, novamente, a suas destreza no
campo de batalha.
No canto VII, Heitor chama o mais bravo guerreiro dos gregos para combater com
ele, mas ao início nenhum dos gregos se queria voluntariar, mas Menelau responde, mas
é travado por Agamémnon. Os gregos são repreendidos e, por isso, nove guerreiros
apresentam-se, sendo Ulisses um deles. Ulisses desejava combater com Heitor (“Todos
eles queriam lutar com o divino Heitor” – v. 169).
6
O canto IX é um canto de extrema importância para a representação de Ulisses.
Como os gregos estavam em desvantagem na batalha, Nestor propõe uma expedição até
Aquiles para o convencer a voltar ao combate e, por isso, o ancião manda Fénix, Ájax e
Ulisses em missão para reaver Aquiles, o que demonstra a confiança depositada nestes
heróis (“antes de mais será Fênix, dileto de Zeus, que irá à frente;/ e depois dele o
grande Ájax e o divino Ulisses.” – vv. 168-169). Nestor depositava a maior confiança
em Ulisses para convencer Aquiles (“Muito lhes recomendou Nestor de Gerênia, o
cavaleiro,/ (olhando nos olhos de cada um — de Ulisses principalmente)” – vv. 179-
180). Assim, a expedição era liderada por Ulisses, demonstrando mais uma vez o poder
de liderança do herói (“Avançaram os outros dois; liderava-os o divino Ulisses.” –v.
192). Ulisses é o primeiro a discursar a Aquiles, falando-lhe do sofrimento dos aqueus,
da dúvida se os gregos ganhariam a batalha sem a ajuda de Aquiles e apela à missão que
o pai lhe tinha encarregue; demonstrando assim, eloquência e persuasão. Contudo, a
expedição não foi bem sucedida e eles voltaram para as naus gregas, sendo que Ulisses
continua a comandá-los (“voltaram às naus, com Ulisses à frente” – v. 667). Quando
chegam às naus dos aqueus, logo Agamémnon questiona Ulisses sobre a resposta de
Aquiles, demonstrando, mais uma vez, o poder de liderança de Ulisses. Ulisses era forte
no poder da eloquência e do discurso e todos os gregos percebiam isso (“admirados com
o seu discurso, pois com veemência se exprimira” – v. 694).
7
presença de Dólon (um espião dos troianos) (“apercebeu-se dele Ulisses” – v. 340) e
evidencia também o seu talento para o engenho, já que é o mesmo que planeia como
apanharão o espião inimigo (Mas deixemos primeiro que ele passe um pouco à nossa
frente/ na planície. Depois, lançando-nos a ele, tomá-lo-emos/ rapidamente.” – vv. 344-
346). Após apanhar o espião, Ulisses fala com o mesmo para perceber as intenções dos
troinanos, demonstrando, mais uma vez, a sua perspicácia e astúcia. Com as
informações recolhidas a Dólon, os dois heróis gregos vão até ao acampamento dos
troianos e para além de matar vários troianos, roubam-lhes os cavalos.
No canto XI, após ajudar Diomedes a libertar-se da seta que o atingiu (“Arrancou
do pé a seta afiada” – v. 397), Ulisses fica sozinho em batalha (“Sozinho ficou Ulisses,
famoso lanceiro” – v. 401) e encontra-se num dilema: não sabe se fica e luta ou se
desiste (“Desanimado assim disse ao seu magnânimo coração” – v. 403, “Ai, pobre de
mim, que estarei para sofrer? Grande mal seria/ se fugisse com medo desta turba; mas
pior seria se fosse/ tomado só” – vv. 404–406). Todavia, mesmo estando sozinho,
Ulisses decide lutar contra os troianos, evidenciando, novamente, coragem.
Evidenciando o seu poder em batalha, Ulisses é o primeiro a lançar e atinge Deiopites e,
depois, mata Tóon, Eunomo, Quersidomante e Cárops. Depois, Soco atinge Ulisses com
uma lança, mas Ulisses atira uma lança que trespassa o peito de Soco (o que evidencia,
mais uma vez, as capacidades do herói no campo de batalha).
No canto XIV, Agamémnon sugere, uma vez mais, a fuga dos aqueus, mas
Ulisses fica revoltado com as palavras de Agamémnon, revelando que este herói repela
a desistência e a cobardia de Agamémnon, referindo que a missão deles é lutar, até ao
fim (“Atrida, que palavra passou além da barreira dos teus dentes?/ Desgraçado!” – vv.
83-84, “Mas agora desprezo a tua inteligência, por aquilo que disseste.” – v. 95).
Os cantos XV, XVI, XVII e XVIII não apresentam intervenções de Ulisses que
possam contribuir para a sua caracterização.
No canto XIX, Aquiles regressa às naus dos gregos e convoca uma assembleia
para que os gregos voltem ao campo de batalha. Ulisses, sempre muito atento, não deixa
que os gregos lutem em jejum, como queria Aquiles, por isso, refere que Aquiles deve
8
acabar a assembleia e ordenar os aqueus a partilhar uma refeição juntos (“Não incites os
filhos dos Aqueus a combater em jejum” – v. 156), demonstrando ser assim um herói
atencioso e preocupado com os seus companheiros de luta. Ulisses convence ainda
Aquiles a aceitar as ofertas de Agamémnon e aconselha Agamémnon a jurar entre os
gregos que nunca se deitou com Briseida (“E que ele se levante e jure um juramento no
meio dos Argivos,/que nunca com ela foi para a cama nem a ela se uniu” – vv. 175-
176), demonstrando assim a sua inteligência. Agamémnon elogia as palavras de Ulisses
e segue o conselho do mesmo (“Alegro-me, ó filho de Laertes, de ouvir as tuas
palavras./ Tudo apresentaste e disseste na medida certa. Pela minha parte/ quero jurar
estas coisas, é o coração que me obriga” – vv. 185-187), evidenciando assim a
capacidade de persuasão do herói. Ulisses afirma, ainda, que é muito melhor no
raciocínio que Aquiles, porque é mais velho e sabe mais coisas (“mas no raciocínio eu
estou muito à tua frente,/ visto que sou mais velho e sei mais coisas.” – vv. 218-219).
Por fim, o canto XXIV, também, não apresenta informações que revelem para a
caracterização de Ulisses.
Conclusão
Como foi possível observar, Ulisses é uma personagem muito complexa, e que
apesar de não ser a personagem principal da obra Ilíada, é uma personagem de extrema
importância no desenrolar de muitos acontecimentos.
9
arte da eloquência. Ulisses é, ainda, conhecido pelos seus famosos engenhos e
artimanhas (tal como o famoso cavalo de Tróia, do qual é autor, e que permite a entrada
dos gregos nas muralhas de Tróia). É ainda importante referir, que é a Ulisses que todas
as missões de importância são confiadas, pois ele é o melhor na arte do entendimento e
na arte da persuasão.
Desta forma, é possível perceber que Ulisses é fundamental na obra Ilíada. Assim,
Ulisses é de extrema importância, pois é ele que acalma os ânimos, quando estes estão
exaltados; é ele que é responsável pelas missões mais delicadas (é ele que lidera a
entrega de Criseida ao pai, lidera, também, a expedição a Aquiles, e também é
responsável pela missão de espionagem aos troianos); e, ainda, é este herói que sempre
convence os troianos a ficar em batalha, quando tudo parece perdido.
Referências Bibliográficas
GUIRAND, Félix. Ideia de herói. In:_. Histórias das Mitologias. Volume 1. Lisboa:
Edições 70, 2006. Páginas 335-336.
10