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Ulisses na Ilíada

Introdução

Este trabalho, realizado no âmbito da Unidade Curricular de Cultura Grega, tem


por objetivo apresentar as principais características da personagem “Ulisses” na obra
Ilíada de Homero, fazendo uma caracterização da personagem (através das suas ações e
falas) e uma interpretação do significado do herói na obra.

Para uma melhor compreensão desta personagem, tem de se perceber a sua


origem, bem como a história da obra Ilíada.

A literatura grega, bem como a cultura grega, é fortemente influenciada pela


religião e pelo mito; sendo que as principais obras literárias são construídas com base
em mitos da cultura grega. A obra Ilíada não é diferente e tem por base o mito da
Guerra de Tróia. O mito da Guerra de Tróia conta uma guerra entre gregos e troianos,
graças ao rapto de Helena. Helena é raptada por Páris e, por isso, Menelau (marido de
Helena) apelou aos chefes da Grécia para que o ajudassem a recuperar a esposa;
iniciando assim uma guerra com Tróia. A guerra de Tróia tem a duração de dez anos;
contudo, a Ilíada não retrata todos os anos da Guerra de Tróia, focando-se apenas no
nono ano da guerra, quando Agamémnon rapta Briseida a Aquiles, que irritado, deixa o
campo de batalha.

Assim, a obra Ilíada foca-se na batalha entre gregos e troianos, dando enfoque nos
heróis gregos e troianos. Um desses heróis é Ulisses, que apesar de não ser uma
personagem principal, tem um papel de destaque, nomeadamente em alguns cantos da
obra.

1. O herói Ulisses na mitologia grega

A mitologia grega é o estudo das narrativas relacionadas com os mitos da


Antiguidade Grega, mas também dos seus significados. Estudar os mitos gregos, é
tambem entender a sociedade grega da Antiguidade e perceber o comportamento dos

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gregos naquela época. Assim, os mitos gregos focam, principalmente, as origens do
mundo, os modos de vida dos gregos, as aventuras dos deuses, deusas e heróis. Os mitos
gregos chegam-nos atualmente, porque estes foram sendo expressos na literatura grega,
mas também noutras artes, como a pintura e a cerâmica.

Para perceber a figura de Ulisses na mitologia grega, é importante perceber a


noção de herói da mesma. Efetivamente, a noção de herói dos gregos nem sempre foi a
mesma, e nem sempre envolveu uma dimensão sobrenatural. Inicialmente, e muito
graças à descrição de Homero, os heróis eram homens fortes e corajosos, e
especialmente, honrados pela sua sabedoria.

Segundo Homero, herói era aquele que se distinguia na arete, ou seja, se destacava
com a força física (destacavam-se no campo de batalha) e com a eloquência
(destacavam-se na assembleia).

Ulisses era filho de Laerte e de Anticléia. Casou-se com Penélope e tem um filho,
Telémaco. Era rei de duas pequenas ilhas do mar Jónico: Ítaca e Dulíquio. Este é
caracterizado e distinguido por ser persuasivo, refinado, ardiloso, engenhoso e por seus
embustes que contribuíram para a tomada de Tróia – cavalo de Tróia.

Como foi referido anteriormente, Helena é raptada por Páris e, como tal, Menelau
pediu ajuda aos chefes da Grécia (estando Ulisses incluído). Contudo, Ulisses que tinha
acabado de casar com Penélope e que tinha o seu filho pequenino – Telémaco – não se
demonstrou com vontade de participar nesta aventura incerta.

Desta forma, Menelau mandou Palamedes a Ítaca convencer Ulisses a participar


na expedição para recuperar Helena. Quando Palamedes chegou a Ítaca, Ulisses
(ardiloso e engenhoso como era) fingiu-se de doido para não ter de ir. O herói atrela um
burro e um boi a um arado e começou a semear sal. Contudo, Palamedes também não se
deixou enganar pela artimanha de Ulisses: pegou em Telémaco e colocou-o em frente
ao arado, o que levou Ulisses a desviar-se, para não o matar; o que mostrou que o
mesmo não estava doido e por isso, não se podia negar a cumprir a promessa feita:
ajudar Menelau.

Como Ulisses era muito persuasivo e muito astucioso, foi usado para convencer
outros chefes gregos a participar nesta aventura: nomeadamente, foi usado para

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convencer Aquiles a participar. Assim, cada vez mais, Ulisses ficou conhecido pela sua
sagacidade e astúcia.

Ulisses é fundamentalmente apresentado e evidenciado na obra Odisseia de


Homero, que descreve as suas aventuras após a Guerra de Tróia e as suas tentativas de
regresso a Ítaca. Apesar de a obra Ilíada não ser focada no herói Ulisses, este não deixa
de ter um papel preponderante nesta obra.

2. Epítetos de Ulisses na obra Ilíada

Na obra Ilíada de Homero, o poeta utiliza epítetos (ou seja, um substantivo,


adjetivo ou expressão que se associa a um nome para qualificá-lo) para caracterizar as
suas personagens.

Ulisses, possui na obra Ilíada diversos epítetos, uns mais evidenciados e


utilizados que outros, que permitem compreender o herói e também caracterizá-lo.

Os dois principais epítetos de Ulisses são: “divino Ulisses” e “Ulisses de mil


ardis”, que permitem, logo, referir que Ulisses é comparado aos deuses graças às suas
características (“divino Ulisses”) e que é famoso nos seus engenhos e embustes
(“Ulisses de mil ardis”).

Como referido anteriormente, Ulisses é famoso pelos seus engenhos e artimanhas


e um dos epítetos que permite comprovar isso é “Ulisses, urdidor de penas e enganos”.
Um outro epíteto que prova que Ulisses é caracterizado pelos seus engenhos e pela sua
astúcia é “astucioso Ulisses”.

Um outro epíteto utilizado para caracterizar Ulisses é “Ulisses, saqueador de


cidades” (que não é muito utilizado na obra).

Outro epíteto não muito utilizado, mas que tem muita importância devido ao seu
significado é “Ulisses, igual de Zeus no Conselho”, mais uma vez coloca Ulisses ao
nível dos deuses, principalmente, coloca Ulisses ao nível do pai dos deuses,
nomeadamente, ao nível da sua eloquência e poder no conselho. Existe, ainda, outro
epíteto que aproxima Ulisses de Zeus “Ulisses, dileto de Zeus”, ou seja, Ulisses que é
muito amado por Zeus.

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Ulisses não era só distinguido pelo seu poder de eloquência, mas também pelo seu
poder como guerreiro, nomeadamente, como arqueiro, sendo um epíteto comprovador
disso mesmo “Ulisses, famoso lanceiro”.

Ulisses é caracterizado pela sua paciência, sendo ele, muitas vezes, aquele que
acalma os ânimos entre os gregos, sendo que existem dois epítetos que são utilizados
para o descrever assim mesmo: “Ulisses de ânimo paciente” e “o paciente Ulisses”. Para
além da sua pacência, também é caracterizado pela sua prudência, como é comprovado
pelo epíteto “Ulisses de matizado pensamento”.

O epíteto “Ulisses, grande glória dos Aqueus” permite resumir as principais


características deste, mas principalmente, leva-nos num caminho do futuro, e permite
antecipar que será ele que permitirá a entrada dos gregos na cidade de Tróia, através do
seu engenho do cavalo de Tróia.

Em suma, os epítetos permitem uma caracterização, não completa, mas muito


aproximada e correta do herói grego.

3. Caracterização de Ulisses na Ilíada

Para Homero, poeta compositor da obra Ilíada, um herói é caracterizado não só


pelas suas ações, mas também pelas suas palavras; ou seja, o herói é caracterizado pelos
seus feitos em batalha e pelos seus feitos na assembleia.

Ao longo dos cantos da obra, Ulisses é caracterizado pelas suas ações em batalha
e na assembleia, mas também pela forma como as outras personagens falam sobre este.

No canto I, Crises vai até ao campo de batalha dos gregos para resgatar a sua filha
Criseida (que era cativa de Agamémnon), contudo, Agamémnon não lhe entrega a filha
e, por isso, Apolo lança a peste sobre o exército grego, como castigo. Por este motivo, é
convocada um conselho com os chefes gregos, que decidem realizar uma expedição
para levar Criseida até casa, sendo esta expedição comandada por Ulisses (“Como
comandante foi Ulisses de mil ardis” – v.311). Esta atitude dos chefes, permite
caracterizar Ulisses como sendo de confiança, já que as missões delicadas lhe são
confiadas.

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No canto II, Atena desce do Olimpo e vai até ao campo de batalha dos Aqueus e
encontra Ulisses e fala com o mesmo, incitando-o a ficar na batalha e a não recuar. Mal
ouve o discurso da deusa, este vai ter com o Agamémnon e pede-lhe o ceptro e ao
caminhar pelas naus fala com os homens que encontra, tentando acalmá-los, com
palavras suaves (“Se porventura encontrava um rei ou outro homem nobre,/
aproximava-se dele e com palavras suaves o refreava:” – vv. 188-189) e repreendia
aqueles que estavam envolvidos em rixas (“Mas se porventura via um homem do povo
metido numa rixa,/ batia-lhe com o cetro, repreendendo-o” – vv.198-199). Era
considerado autoritário (“Autoritário, assim percorreu o exército” – v. 207). Juntaram-se
no conselho e Térsites continuava a falar (“Só Térsites de fala desmedida continuava a
tagarelar”, v.212), insultando Agamémnon, mas, logo é repreendido por Ulisses
(“Rapidamente se postou junto dele o divino Ulisses;/ fitando-o com sobrolho
carregado, repreendeu-o com duras palavras” – vv. 244-245), que lhe bate com o ceptro.
Ulisses é percebido pela sua fala a Térsites como justo, austero e autoritário. Assim, os
gregos (após as suas palavras) consideram Ulisses valoroso (“Ah, na verdade são os
milhares os feitos valentes de Ulisses,/ tanto na primazia dos conselhos como na
autoridade guerreira!” – vv.272-273). Os gregos consideravam, assim, Ulisses bem-
intencionado e como um modelo. Ulisses dirige-se aos Aqueus e incentiva-os a
permanecer em guerra, evidenciando ser um herói compreensivo, autoritário e sábio; e,
as suas palavras são sempre elogiadas pelos gregos (“que elogiavam as palavras do
divino Ulisses”) – v. 335). No final deste canto, é ainda feita a apresentação das naus e
dos guerreitos: Ulisses é o comandante dos magnânimos Celafénicos, os senhores da
Crocileia e de Egílipe, comandando doze naus; pelo que se entende que era um grande
guerreiro, que era confiando por muitos gregos.

No canto III, Helena descreve Ulisses a Príamo, descrevendo-o como mais baixo
que Agamémnon (“É mais baixo por uma cabeça que o Atrida Agamémnon” – v. 193),
largo de ombros e de peito (“mas é mais largo de ombros e de peito quando se olha para
ele.” – v. 194), muito ardiloso e engenhoso (“conhecedor de toda a espécie de dolos e
planos ardilosos.” – v. 202), era o mais nobre (“Mas estando ambos sentados era Ulisses
o mais nobre.” – v. 211). Era considerado ainda sério, austero e respeitado.

No canto IV, mais uma vez, é evidenciado o carácter guerreiro de Ulisses, que
“condena” Agamémnon por “recusar” batalha, uma vez que sugere que os anciões
fiquem num banquete enquanto os aqueus lutavam (“Como podes tu dizer que
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rejeitamos a guerra, quando nós Aqueus/ levamos a guerra afiada contra os Troianos
domadores de cavalos?” – vv.351-352). Contudo, Ulisses afirma que quer estar à frente
do seu batalhão (“Verás — se assim quiseres e se por tal sentires algum interesse —/ o
amado pai de Telêmaco no meio dos combatentes dianteiros.” – vv. 353-354). Assim,
Agamémnon caracteriza Ulisses como sendo benévolo e bondoso(“Pois sei que o
coração no teu peito é conhecedor/ de pensamentos benévolos.” – vv. 360-361). Ulisses
era um grande guerreiro, como já foi referido anteriormente, sendo que ao lançar uma
lança todos os troianos recuaram (“posicionou-se perto e arremessou a lança reluzente,/
olhando em redor. Os Troianos recuaram perante/o arremesso do guerreiro.” – vv.496-
498). Ao atirar esta lança mata o filho ilegítimo de Príamo, Democoonte.

No canto V, os gregos queriam recuar na batalha, mas Ulisses incitava os


gurreiros aqueus a lutar (“Por seu lado os dois Ajantes e Ulisses e Diomedes/ incitavam
os Dânaos a combater” – vv. 519-520) e não demonstraa medo com a violência
demonstrada pelos troianos (“não se amedrontaram com a violência e as investidas/ dos
Troianos” – vv. 521-522). Apesar de se demonstrar sempre calmo (e esta ser uma
característica importante dele), enfurece-se com a morte de Tlepólemo e mata diversos
troianos – Cérano, Alastor, Crómio, Alcandro, Itálio, Noémon e Prítanis (“Apercebeu-se
o divino Ulisses/ de ânimo paciente e enfureceu-se em seu querido coração.” – vv. 669-
670).

No canto VI, Ulisses não tem uma importância muito evidenciada, e apenas
aparece quando abate Percósio Pidites, evidenciando, novamente, a suas destreza no
campo de batalha.

No canto VII, Heitor chama o mais bravo guerreiro dos gregos para combater com
ele, mas ao início nenhum dos gregos se queria voluntariar, mas Menelau responde, mas
é travado por Agamémnon. Os gregos são repreendidos e, por isso, nove guerreiros
apresentam-se, sendo Ulisses um deles. Ulisses desejava combater com Heitor (“Todos
eles queriam lutar com o divino Heitor” – v. 169).

No canto VIII, Diomedes salva Nestor de um ataque dos troianos e Diomedes


incita Ulisses para a batalha, mas este afasta-se sem ouvir o grego, porque se encontrava
a sofrer; evidenciando, que este herói (Ulisses) era alguém que sentia as perdas (“mas
não lhe deu ouvidos o sofredor e divino Ulisses” – v. 97).

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O canto IX é um canto de extrema importância para a representação de Ulisses.
Como os gregos estavam em desvantagem na batalha, Nestor propõe uma expedição até
Aquiles para o convencer a voltar ao combate e, por isso, o ancião manda Fénix, Ájax e
Ulisses em missão para reaver Aquiles, o que demonstra a confiança depositada nestes
heróis (“antes de mais será Fênix, dileto de Zeus, que irá à frente;/ e depois dele o
grande Ájax e o divino Ulisses.” – vv. 168-169). Nestor depositava a maior confiança
em Ulisses para convencer Aquiles (“Muito lhes recomendou Nestor de Gerênia, o
cavaleiro,/ (olhando nos olhos de cada um — de Ulisses principalmente)” – vv. 179-
180). Assim, a expedição era liderada por Ulisses, demonstrando mais uma vez o poder
de liderança do herói (“Avançaram os outros dois; liderava-os o divino Ulisses.” –v.
192). Ulisses é o primeiro a discursar a Aquiles, falando-lhe do sofrimento dos aqueus,
da dúvida se os gregos ganhariam a batalha sem a ajuda de Aquiles e apela à missão que
o pai lhe tinha encarregue; demonstrando assim, eloquência e persuasão. Contudo, a
expedição não foi bem sucedida e eles voltaram para as naus gregas, sendo que Ulisses
continua a comandá-los (“voltaram às naus, com Ulisses à frente” – v. 667). Quando
chegam às naus dos aqueus, logo Agamémnon questiona Ulisses sobre a resposta de
Aquiles, demonstrando, mais uma vez, o poder de liderança de Ulisses. Ulisses era forte
no poder da eloquência e do discurso e todos os gregos percebiam isso (“admirados com
o seu discurso, pois com veemência se exprimira” – v. 694).

O canto X é também um canto de extrema importância para a caracterização de


Ulisses. Nestor e Agamémnon, mais uma vez, convocam um conselho e o ancião propõe
enviar um espião ao campo do inimigo. Diomedes é mandado na missão e Ulisses
oferece-se para ir com este, já que era deveras audaz (“quis o paciente Ulisses meter-se
entre a turba/ dos Troianos; pois sempre audaz era o espírito na sua mente.” – vv. 231-
232). Diomedes escolhe Ulisses como seu acompanhante, porque este era bem sucedido
em todos os seus esforços, já que tinha um coração e espírito orgulhoso (“como me
esqueceria eu do divino Ulisses,/ cujo coração e espírito orgulhoso o exaltam/ em todos
os esforços” – vv. 243-245) e que com ele, Diomedes estaria sempre a salvo, porque
Ulisses era o melhor na arte do entendimento (“Se ele me seguisse, até do fogo ardente/
regressaríamos, pois superior é ele no entendimento.” vv. 246-247). Ulisses pede
proteção a Atena e esta concede-lhe, o que demonstra o poder deste herói (“E Ulisses
alegrou-se com a ave e assim rezou a Atena” – v. 277). Novamente, é evidenciado o
poder e a astúcia de Ulisses, uma vez, que o mesmo é aquele que se apercebe da

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presença de Dólon (um espião dos troianos) (“apercebeu-se dele Ulisses” – v. 340) e
evidencia também o seu talento para o engenho, já que é o mesmo que planeia como
apanharão o espião inimigo (Mas deixemos primeiro que ele passe um pouco à nossa
frente/ na planície. Depois, lançando-nos a ele, tomá-lo-emos/ rapidamente.” – vv. 344-
346). Após apanhar o espião, Ulisses fala com o mesmo para perceber as intenções dos
troinanos, demonstrando, mais uma vez, a sua perspicácia e astúcia. Com as
informações recolhidas a Dólon, os dois heróis gregos vão até ao acampamento dos
troianos e para além de matar vários troianos, roubam-lhes os cavalos.

No canto XI, após ajudar Diomedes a libertar-se da seta que o atingiu (“Arrancou
do pé a seta afiada” – v. 397), Ulisses fica sozinho em batalha (“Sozinho ficou Ulisses,
famoso lanceiro” – v. 401) e encontra-se num dilema: não sabe se fica e luta ou se
desiste (“Desanimado assim disse ao seu magnânimo coração” – v. 403, “Ai, pobre de
mim, que estarei para sofrer? Grande mal seria/ se fugisse com medo desta turba; mas
pior seria se fosse/ tomado só” – vv. 404–406). Todavia, mesmo estando sozinho,
Ulisses decide lutar contra os troianos, evidenciando, novamente, coragem.
Evidenciando o seu poder em batalha, Ulisses é o primeiro a lançar e atinge Deiopites e,
depois, mata Tóon, Eunomo, Quersidomante e Cárops. Depois, Soco atinge Ulisses com
uma lança, mas Ulisses atira uma lança que trespassa o peito de Soco (o que evidencia,
mais uma vez, as capacidades do herói no campo de batalha).

Os cantos XII e XIII não contém informação importante para a construção da


caracterização do herói Ulisses.

No canto XIV, Agamémnon sugere, uma vez mais, a fuga dos aqueus, mas
Ulisses fica revoltado com as palavras de Agamémnon, revelando que este herói repela
a desistência e a cobardia de Agamémnon, referindo que a missão deles é lutar, até ao
fim (“Atrida, que palavra passou além da barreira dos teus dentes?/ Desgraçado!” – vv.
83-84, “Mas agora desprezo a tua inteligência, por aquilo que disseste.” – v. 95).

Os cantos XV, XVI, XVII e XVIII não apresentam intervenções de Ulisses que
possam contribuir para a sua caracterização.

No canto XIX, Aquiles regressa às naus dos gregos e convoca uma assembleia
para que os gregos voltem ao campo de batalha. Ulisses, sempre muito atento, não deixa
que os gregos lutem em jejum, como queria Aquiles, por isso, refere que Aquiles deve

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acabar a assembleia e ordenar os aqueus a partilhar uma refeição juntos (“Não incites os
filhos dos Aqueus a combater em jejum” – v. 156), demonstrando ser assim um herói
atencioso e preocupado com os seus companheiros de luta. Ulisses convence ainda
Aquiles a aceitar as ofertas de Agamémnon e aconselha Agamémnon a jurar entre os
gregos que nunca se deitou com Briseida (“E que ele se levante e jure um juramento no
meio dos Argivos,/que nunca com ela foi para a cama nem a ela se uniu” – vv. 175-
176), demonstrando assim a sua inteligência. Agamémnon elogia as palavras de Ulisses
e segue o conselho do mesmo (“Alegro-me, ó filho de Laertes, de ouvir as tuas
palavras./ Tudo apresentaste e disseste na medida certa. Pela minha parte/ quero jurar
estas coisas, é o coração que me obriga” – vv. 185-187), evidenciando assim a
capacidade de persuasão do herói. Ulisses afirma, ainda, que é muito melhor no
raciocínio que Aquiles, porque é mais velho e sabe mais coisas (“mas no raciocínio eu
estou muito à tua frente,/ visto que sou mais velho e sei mais coisas.” – vv. 218-219).

Os cantos XX, XXI e XXI, novamente, não apresentam informação importante


para a caracterização de Ulisses.

O canto XXIII, evidencia principalmente, os rituais funebres a Pátroclo e os jogos


fúnebres realizados em sua honra. Ulisses participa no concurso da luta dolorosa,
lutando contra Ájax Telamónio, sendo que os dois são nomeados vencedores, já que os
dois evidenciam serem muito bons lutadores. Ulisses participa, ainda, no concurso de
pés velozes e este vence com a ajuda de Atena, demonstrando mais uma vez que este
era protegido.

Por fim, o canto XXIV, também, não apresenta informações que revelem para a
caracterização de Ulisses.

Conclusão

Como foi possível observar, Ulisses é uma personagem muito complexa, e que
apesar de não ser a personagem principal da obra Ilíada, é uma personagem de extrema
importância no desenrolar de muitos acontecimentos.

Como foi referido anteriormente, Ulisses é um herói completo, segundo a


classificação de Homero, já que o mesmo se distingue tanto na arte da batalha, como na

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arte da eloquência. Ulisses é, ainda, conhecido pelos seus famosos engenhos e
artimanhas (tal como o famoso cavalo de Tróia, do qual é autor, e que permite a entrada
dos gregos nas muralhas de Tróia). É ainda importante referir, que é a Ulisses que todas
as missões de importância são confiadas, pois ele é o melhor na arte do entendimento e
na arte da persuasão.

Desta forma, é possível perceber que Ulisses é fundamental na obra Ilíada. Assim,
Ulisses é de extrema importância, pois é ele que acalma os ânimos, quando estes estão
exaltados; é ele que é responsável pelas missões mais delicadas (é ele que lidera a
entrega de Criseida ao pai, lidera, também, a expedição a Aquiles, e também é
responsável pela missão de espionagem aos troianos); e, ainda, é este herói que sempre
convence os troianos a ficar em batalha, quando tudo parece perdido.

Em suma, Ulisses é um herói completo: é forte no campo de batalha,


especialmente na arte das lanças, é corajoso, forte, persuasivo, engenhoso, eloquente,
paciente, austero e autoritário; mas, fundamentalmente, é respeitado e adorado pelos
seus companheiros gregos.

Referências Bibliográficas

BULFINCH, Thomas. Ulisses. In:_. O livro de Ouro da Mitologia. 2.ed. Rio de


Janeiro: Ediouro, 2002. Páginas 250-251.

GUIRAND, Félix. Ideia de herói. In:_. Histórias das Mitologias. Volume 1. Lisboa:
Edições 70, 2006. Páginas 335-336.

LOURENÇO, Frederico. Ilíada. São Paulo: Penguin Companhia, 2003.

PUGLIESI, Márcio. Ulisses, In:_. Mitologia grego-romana: arquétipos dos deuses e


heróis. São Paulo: Madras, 2005. Páginas 227-231.

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