Você está na página 1de 6

Centro Universitário do Leste de Minas Gerais

Curso de Engenharia Elétrica


Disciplina: Sistema Elétrico de Potência

COGERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA


Joildo Fernandes
joildof@ibest.com.br

Professor: Manoel Camela Raphael

RESUMO Na década de 70 após a crise do petróleo, foi necessário


buscar formas de reduzir o consumo e depender menos do
Atualmente existem grandes incertezas relacionadas a petróleo, afetando a geração de vapor e energia gerados por
geração e transmissão de energia elétrica no Brasil, um grande sistemas que utilizavam combustíveis fósseis, impulsionando a
esforço vem sendo aplicado para tornar as plantas industriais retomada dos sistemas de cogeração (DANTAS, 2000). No
mais eficientes quanto ao consumo e geração de energia. A Brasil em particular após a crise energética de 2001
cogeração de energia é uma importante ferramenta para a caracterizada pela insuficiência da oferta em relação à demanda
diversificação da matriz energética brasileira, para a redução da por energia elétrica, assim como a aceleração do crescimento
demanda e para o aumento da eficiência energética. A econômico brasileiro nos últimos anos, fortaleceu a criação de
implantação de co-geração favorece o sistema elétrico política publica para incentivar a implantação de sistemas de
brasileiro, pois gera energia que alimenta a própria planta e os geração mais eficientes e menos poluentes (CLEMENTE,
excedentes podem ser comercializados com outras empresas 2009).
interligados ao sistema elétrico brasileiro.
No Brasil a dependência de fontes de energias renováveis
Palavras-chave: Cogeração, Eficiencia energética, Matriz é bastante confortável, pois a oferta Interna de Energia do país,
energetica. denominada de matriz energética, é de 43% de energias
renováveis, enquanto que a média mundial é de 14% e a dos
1 INTRODUÇÃO países desenvolvidos é apenas de 6%. A matriz energética
representa toda a energia disponibilizada para ser transformada,
1.1 Objetivos.
distribuída e consumida nos processos produtivos do país.
1.1.1 Objetivo geral.
A estrutura energética do país é baseada em centrais
O objetivo geral deste artigo consiste na difusão da teoria
hidrelétricas, Este tipo de sistema é dependente das chuvas
de cogeração e demonstração dos seus benefícios para o
sazonais podendo causar transtornos em épocas de estiagem,
sistema elétrico de potencia e o meio ambiente.
uma das alternativas para amenizar esta dependência é a
1.2 Objetivos especificos. diversificação da matriz energética. A cogeração se torna uma
forte ferramenta para esta diversificação, pois as fontes de
- Demonstrar a eficiência energética das plantas com cogeração energia utilizadas podem ser diversas conforme demonstrado
em relação às plantas com geração independentes. na tabela 1 abaixo.

- Relatar exemplos reais de implementação da cogeração Indústrias Fontes de energia


demonstrando os benefícios dos mesmos. Sucroalcooleiro Bagaço de cana
Papel e Celulose Lixívia, Lenha, Resíduos de madeira
2 DESENVOLVIMENTO Metalúrgica Gás de Alto-Forno, Coqueria, Aciaria
2.1 Fundamentos, Conceitos e Definições. Petróleo Gás de Refinaria, Gás Natural
Química Gás de Pirólise, Gás Residual, Natural
Cogeração é a produção simultânea de energia elétrica ou Outros Gás Residual, Gás Natural
mecânica e energia térmica útil num sistema de conversão de Tabela 1 – Fontes de energia conforme atividade (GUIMARÃES 1999)
energia (BARJA, 2006), a cogeração surgiu com o
aparecimento das primeiras centrais industriais geradoras de A utilização da cogeração como ferramenta para
energia elétrica, as quais utilizavam caldeiras capazes de suprir diversificação da matriz energética também provê um suporte
não apenas as necessidades da turbinas, mas também toda ou para o cenário atual fortalecendo a teoria de geração
parte da demanda de vapor da fábrica, este modelo foi utilizado descentralizada.
até a década de 40 quando foi abandonado por causa o
abastecimento de eletricidade oriundo das grandes Diversos setores da economia utilizam desse método para
obtenção de energia elétrica, é interessante esclarecer que o
centrais hidroelétricas e termelétricas que passou a ser conceito de cogeração é bastante antigo conforme descrito
confiável e de custo relativamente baixo (GUIMARÃES 1999). anteriormente, e até bem difundido em alguns setores
industriais, a cogeração é uma solução de engenharia, aplicável

SEP – 2º Semestre 2010 1


para determinados usuários de energia, que pode viabilizar de cogeração são classificados como: ciclo superior (topping) e
economicamente a auto-produção de energia. A cogeração é ciclo inferior (bottoming) (ARONGAUS, 1996).
usualmente entendida como a geração simultânea, e
combinada, de energia térmica e energia elétrica ou mecânica, Sistema Topping - O combustível é queimado primeiramente
a partir de uma mesma fonte (Brasil, 2005). em uma máquina térmica para produção de energia mecânica
A cogeração e classificada conforme a seqüência de ou elétrica e o calor rejeitado e utilizado sob a forma de calor
utilização da energia seja ela proveniente de um combustível útil em um processo conforme demostrado pelo esquema da
utilizado em uma máquina térmica ou de um processo figura 1. O calor fornecido pode ser usado em processos
industrial em que a energia térmica é um rejeito, os processos variados para aquecimento e refrigeração.

Figura 1 Cogeração do tipo topping (BARJA, 2006).

Sistema Bottoming - A energia térmica rejeitada de processos fluido de acionamento em um turbo gerador para produzir
industriais, normalmente através de gases de exaustão energia mecânica, conforme demonstrado no esquema da
provenientes de reações químicas, fornos, fornalhas ou mesmo figura 2. Esta diferenciação na ordem de produção do trabalho
de uma máquina térmica, é aproveitada em caldeiras e do calor demonstra a existência de configurações mais
recuperadoras para gerar vapor, este vapor será utilizado como adequadas para tipos diferentes de planta industrial.

Figura 2 Cogeração do tipo bottoming (BARJA, 2006).

2.2 Vantagens da cogeração.  Redução de custos operacionais, tendo em vista que


muitas empresas têm a participação dos custos de
A cogeração apresenta múltiplos fatores que tornam a energia elétrica e combustíveis fosseis no custo final
implantação da mesma atraente para as plantas industriais do produto.
como:
As vantagens da cogeração são muito atraentes, porém,
 Aproveitamento ótimo do combustível, pois o sistema hoje a decisão de implantar co-geração é uma decisão difícil,
de cogeração aumenta a eficiência dos processos de pois a análise de viabilidade passou a ser uma análise de risco,
geração de calor e energia elétrica e/ou mecânica. e não uma análise técnico-econômica, como era antes. A
 Independência das indústrias, pois a cogeração pode possibilidade de um projeto como este dar certo está mais
permite uma auto-suficiência total ou parcial de ligada a cálculos dos custos da não confiabilidade do
energia nas plantas industriais. suprimento tradicional, e a mecanismos de atenuação de riscos
 Possibilidade de comercialização de energia, pois associados a preços de combustíveis e de energia elétrica.
algumas plantas industriais geram energia elétrica
excedente, possibilitando a comercialização e o 2.3 Viabilidade técnica.
aumento da receita.
 Solução para problemas de confiabilidade, pois Para a implantação de um sistema de cogeração é
atualmente conforme já foi citado, o setor elétrico necessário aspectos básicos para viabilização técnica do
sofre os efeitos de um período de dificuldades na projeto, para isso é importante que a planta, tenha demanda de
geração e na transmissão e, portanto, com tendências energia térmica (vapor, calor ou frio) pelo menos duas vezes
de déficit de geração e problemas de transporte. maior do que a equivalente de energia elétrica. Isso ocorre
 Solução para implantação de projetos em localidades porque a relação entre energia elétrica e energia térmica
sem recursos de distribuição elétrica de potência. geradas via turbina ou motor se mantém aproximadamente
SEP – 2º Semestre 2010 2
constante e elas precisam ser aproveitadas ao máximo para pois se for um sistema de ciclo superior (topping), onde a
garantir a alta eficiência do sistema. Entretanto o uso de energia elétrica é gera inicialmente por um acionador a
queima suplementar na caldeira ou de chillers elétricos pode combustão, a temperatura dos gases exaustos pode chegar a
ajudar a relação de demandas elétrica e térmica da planta em 450º C, no caso de motores, ou a 550°C no caso das turbinas
relação a potências térmica e elétrica cogeradas. Outro fator conforme demonstrado na escala demonstrada pela figura 3.
que deve ser levado em conta na avaliação técnica da Isso limita a aplicação dessa alternativa, que se tornaria
aplicabilidade de uma cogeração é o sistema a ser aplicado, inadequada para temperaturas acima dessa faixa.

Figura 3 - Faixa típica de temperatura para os sistemas de cogeração em topping e em bottoming (COGEN Europe, 2001).

2.4 Eficiencia de cogeração x geração. recursos naturais utilizados com fonte energetica para geração
conforme demonstrado no grafico 2.
A grande diferença entre a eficiencia da cogeração e
geração esta no fato que a cogeração é uma adaptação em um Para demonstração e exemplificação desta eficiencia é
projeto de geração que tem alto indice de perda conforme feita uma comparação dos balanços energeticos de uma
demonstrado no grafico 1, onde o objetivo desta adaptação é geração de energia elétrica atraves de um motor alternativo e
utilizar a energia dissipada pela geração (perdas) para geração uma cogeração de energia elétrica e térmica utilizando o
de uma nova energia, diferente da energia principal, logo o mesmo motor alternativo que estão representados nos graficos
projeto de uma cogeração resulta em um sistema mais 1 e 2.
eficiente, reduzindo as perdas e diminuindo o consumo de

Combustível 100 % Caso 1 - Geração


7% Eletricidade
35%
28%
Perdas nos gases de exaustão
Perdas no resfriamento de óleo e água
30% Outras perdas

Gráfico 1 - Balanço térmico típico de planta de geração pura utilizando motor alternativo (BARJA, 2006).

Caso 2 - Cogeração

Combustível 100%
8% 7% Eletricidade
35%
10% Calor útil
Perdas nos gases de exaustão
Perdas no resfriamento de óleo e água
40%
Outras perdas
Gráfico 2 - Balanço térmico de uma planta
semelhante, com sistema de cogeração
agregado (BARJA, 2006).

3 EXEMPLO DE APLICAÇÃO 3.2 Descrição e dados do exemplo de aplicação.


3.1 Exemplo 1- Análise da viabilidade econômica Uma unidade industrial com uma demanda térmica que
é suprida por uma caldeira elétrica cuja a demanda de energia
SEP – 2º Semestre 2010 3
elétrica para produção de vapor que atenda a demanda térmica Potência: 450 kW
da unidade é de 450KW. Produção de vapor: 500 kg/h
Pressão de trabalho: 10,55 kgf/cm2
Pressão de utilização: 5,27 kgf/cm2
A proposta é substituir a caldeira por uma central de
cogeração com motor a gás natural, capaz de supri a demanda
Dados da Caldeira elétrica: térmica e ainda fornecer uma demanda elétrica para o sistema
de potencia da unidade conforme demonstrado na figura 5.
Fabricante: Ata (Aalborg), 1979

Figura 5 - Central de cogeração com motor a gás + caldeira de recuperação.

O custo médio da energia elétrica fornecida pela Para calcular-se a razão entre o Custo/Benefício de base
concessionaria é de 0,253 R$/KWh, para viabilidade elétrica para a base vapor, utilizou-se a constante 1,1004
técnica/economica da cogeração é necessario a obtenção de um multiplicada ao C/Be (CARVALHO, 2006). Desta forma, a
custo menor com o projeto proposto. Para tal verificação relação Custo/ Benefício específico em relação à produção de
utiliza-se os paramentros abaixo: vapor fica C/Bv = 0,15122 [R$/kWh].
3.2.2 Análise e discussão dos resultados.
Preço Específico do Combustível = 1,605 R$/kg
Poder Calorífico Inferior do Combustível = 16,24 kWh/kg A substituição do uso da caldeira elétrica por uma central
Rendimento do Equip. Gerador de Energia Elétrica = 35 % de cogeração com motor a gás natural para o suprimento de
Razão eletricidade/calor = 0,8 vapor e eletricidade pela planta mostra como a solução tem
Potência Instalada (demandada produção de vapor) = 450 kW boa atratividade econômica, a implementação do projeto de
cogeração é viavel técnicamente e economicamente pois o
Fator de Capacidade térmico = 27,7 %
valor do Custo/Beneficio é 0,151 R$/KWh, inferior aos 0,253
Custo Específico de Manutenção = 0,018 R$/kWh R$/KWh gastos com fornecimento de energia elétrica pela
Valor Específico do Subproduto = 0,253 R$/kWh concerssionaria. Este resultado se deu principalmente em
Taxa de Juros = 16,5 % a.a. virtude do baixo valor do gás natural.
Investimento Inicial = 752.000,00 R$
Valor Residual = 75.200,00 R$ 3.3 Exemplo 2 - Exemplos de aplicações
Tempo de Vida Útil = 20 anos
3.3.1 Indústria do petróleo, petroquímica e química
Fator de Capacidade elétrico = 38,1 %
Potência Instalada de Energia Elétrica = 360 kW Esse tipo de industria se caracteriza por processos em que
3.2.1 Solução do Exemplo de aplicação. há grande demanda de energia térmica na forma de vapor, para
acionamento por turbinas, ou para aquecimento ou ainda para
introdução direta no processo, e também grande demanda de
Utilizando-se a ferramenta computacional “Software para
energia elétrica para acionamento de bombas, compressores,
análise econômica de sistemas energéticos”(CARVALHO,
sopradores etc. O que encontramos normalmente nessas plantas
2006), sob a plataforma MatLab, com os parametros descritos
é a cogeração aplicada na forma de geração inicial de vapor de
acima, é obtido a relação Custo/Benefício específico da
alta pressão utilizado para gerar energia elétrica através de
eletricidade, C/Be = 0,15062 R$/kWh. O resultado C/Be
turbinas a vapor, e o vapor para o processo pode ser, ou das
corresponde ao custo total da produção simultânea das duas
turbinas de contrapressão ou de turbinas de condensação com
utilidades geradas, calor e eletricidade.
extração. A figuras 6 mostra exemplo simplificado de
instalações típicas desse tipo de aplicação da cogeração.

SEP – 2º Semestre 2010 4


Figura 6 - Cogeração com ciclo de Rankine

3.3.2 Hotéis, hospitais, shopping-centers e aeroportos utilização de motor a gás natural, pela vantagem de produzir
água quente no seu sistema de arrefecimento a uma
Essas instalações costumam demandar, além da energia temperatura compatível com a necessária ao consumo, os gases
elétrica, ar condicionado e água quente. Não sendo muito de combustão são utilizados para geração de vapor que são
grandes, vemos uma configuração bastante favorável à aplicados nos chiller de absorção grando acim o frio utilizado
nos ar condicionados. Comforme demonstrado na figura 7.

Empreendimento

Figura 7 – Planta de cogeração

SEP – 2º Semestre 2010 5


4 CONCLUSÃO

A cogeração é justificada energeticamente pela economia de


combustível que o processo traz frente à produção
convencional de energia térmica e eletromecânica em separado,
o que deste ponto de vista leva a se buscar a tecnologia mais
adequada às utilidades de modo a prover a maior eficiência
energética possível. Entretanto a estratégia de investimento
deve contemplar outros fatores, o primeiro
relacionado à “eficiência econômica” ou o retorno econômico
do empreendimento, até mais importante que a eficiência
energética, diz respeito ao fluxo de caixa de forma a gerar o
maior benefício econômico possível. Em seguida, vem a
estratégia de mercado, considerando o cenário regulatório do
setor elétrico, a qual deve ser bem traçada de forma a não
comprometer as premissas anteriores. A participação da
cogeração na matriz energética brasileira ainda é singela
quando nos
comparamos a outros países industrializados no resto do
mundo. Este atraso não é justificável, diante do benefício que a
cogeração nos traria ao aumentar a oferta de eletricidade de
forma racional, relativamente sem aumentar o custo com
combustíveis. Aí estão inseridas a “eficiência energética” e a
“eficiência econômica”.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARONGAUS, S., 1996, Curso de co-geração térmica,


Departamento de Engenharia Mecânica – UFJR, Rio de
Janeiro.

BARJA, G., 2006, A cogeração e sua inserção ao sistema


elétrico. Mestrado - Dissertação - Universidade de Brasília,
Brasília/DF.

BRASIL, N. P., 2005, Apostila de Co-geração, Curso de


Engenharia de Equipamentos, Rio de janeiro.

CARVALHO, M. O. M. (2006). Software para análise


econômica de sistemas energéticos. In: RIBEIRO, Bruno
Borges. Análise Econômica de Tecnologia de Energia.
Brasília: UnB. Projeto de Graduação em Engenharia Mecânica,
Universidade de Brasília.

COGEN EUROPE (2001). Educogen - An educational tool for


cogeneration. 2ª ed. Brussels, Belgium: COGEN Europe.

CLEMENTE, E., 2009, Cogeração de Energia Elétrica a partir


da Cana de Açúcar: Histórico e Perspectivas, São Paulo.

DANTAS, F.S. (2000) Cogeração em Pequena Escala,


CEFET/RJ, pós-graduação – monografia, Rio de Janeiro.

GUIMARÃES, E. T. (1999) Sistemas de Cogeração, Cogerar


Sistemas de Engenharia Ltda, artigo escrito para a Gasnet
(http://www.gasnet.com.br/)

HORLOCK, J.H.; Cogeneration – Combined heat and power


(CHP): Thermodynamics and economics, Krieger Publishing
Co., 226 p., Florida, USA, 1997.

SEP – 2º Semestre 2010 6

Você também pode gostar