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Faculdade de Ciências

Departamento de Ciências Biológicas


Licenciatura em Biologia Marinha, Aquática e Costeira
Analise da Degradação e Reabilitação de Habitats

Documentação do processo de reabilitação e recuperação


de mangais (flora e fauna) em Gazi Bay, Quénia

Discente: Docentes:

 Laura Chiluvane  Prof. Doutor Salomão Bandeira

 Restano Uamir  Dr. Almeida Guissamulo

Maputo, Junho de 2017


Índice
1 Introdução..................................................................................................................................1

2 Objectivos..................................................................................................................................3

2.1 Objectivo geral...................................................................................................................3


2.2 Objectivos específicos........................................................................................................3
3 Área de estudo............................................................................................................................4

4 História da restauração do mangal..............................................................................................6

5 Objectivos da Reabilitação dos mangais....................................................................................6

6 Gestão mundial dos mangais naturais e replantados...................................................................7

7 Espécies utilizadas para a reabilitação de mangais.....................................................................7

8 História da reabilitação dos Mangais Em Gazi...........................................................................8

8.1 Causas da degradação dos mangais....................................................................................8


8.2 Inicio dos projectos de reabilitação....................................................................................8
8.3 Composição florística e taxas de estocagem.......................................................................9
8.4 Composição e padrão de regeneração natural.....................................................................9
9 Estudos sobre restauração da fauna e flora associada ao mangal..............................................11

9.1 Macro- Endofauna............................................................................................................11


9.2 Epibioticos e epibentos.....................................................................................................12
9.3 Fauna intermédiaria..........................................................................................................12
10 CBMM (gestão de Mangais Baseada na comunidade).............................................................13

11 Projecto Mikoko Pamoja (Mangrove Together).......................................................................13

11.1 Objectivos........................................................................................................................13
11.2 Venda de créditos de carbono...........................................................................................14
12 Recomendações........................................................................................................................15

13 Conclusão.................................................................................................................................16

14 Bibliografia..............................................................................................................................17
Documentação do processo de reabilitação e recuperação de mangais (flora e fauna) em Gazi Bay, Quénia

1 Introdução
Mangais são árvores ou arbustos dominantes na boca dos rios, baias, lagoas costeiras e ilhas
das regiões tropicais e subtropicais, formando florestas de espécies tolerantes a salinidade com
complexas cadeias alimentares e dinâmica ecossistémica. Estão dentre os habitats mundiais mais
produtivos, com cerca de 8.8 t C/ha/ano. São importantes na provisão de diversos bens (combustível,
medicinal, material de construção, alimentação) e serviços ecossistémicos (viveiros para pescarias,
sediment trapping, e seawage fitoremediação) e a sua habilidade de sequestrar carbono lhes faz bons
candidatos ao REDD+ (Donato, 2011; Kirui et al., 2011; Kairo et al., 2001).
Estima-se que 25% da sua área global tenha reduzido desde 1980 até 2010 passando
a cerca de15 milhões de hectares (FAO, 2007) devido a pressões naturais e antropogénicas,
dentre os quais, estão incluídas, as cheias (Balidy, 2005), furacões, ciclones (Aung et al.,
2012), e abate para produção de combustível, uso na construção de casas, agricultura
prática da aquacultura, assentamento urbano, poluição, respectivamente, sendo que as
causas antropogénicas exercem maior pressão e são responsáveis pela perda de 50% das
florestas originais (Kairo, 2001).

Análises do valor económico do mangal têm mostrado que a sua destruição é


economicamente irracional, pois há elevadas discrepâncias entre o valor económico (em
termos de lucros) do habitat intacto e o degradado (Balmford et al., 2004), as florestas de
mangal mundiais são avaliadas em cerca de 181 bilhões de dólares (Kairo, 2008).
Ecologicamente e socio-economicamente é também uma perda bastante irracional, pois
acarreta consequências tais como: erosão costeira, declínio das pescarias (Kairo, 2001). As
consequências socioeconómicas da destruição do mangal têm levando a uma melhor
consciencialização das comunidades locais e das autoridades governamentais para uma
gestão e conservação efectiva, havendo introdução de um novos conceitos imperativos
neste ramo, que é designado de CBMM (Comunity based mangrove management), que
consiste na descentralização das politicas governamentais, e exploração do potencial do
envolvimento no alcance da implementação de práticas sustentáveis de gestão e planos de
restauro de mangais (Datta et al., 2005; Besire et al., 2008).

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O termo “restauração” de mangal refere-se a recriação de um ecossistema de


mangal sustentável e produtivo como o prévio. Pode ser natural, ou artificial, (Bosire, ).
Naturalmente ocorre pelo recrutamento de propágulos, havendo condições hidrológicas,
características do sedimento, vento e boa dispersão das sementes. (Bosire, ).

Já a artificial, acontece pela intervenção humana no plantio das mudas, ou na


dispersão das sementes, e intervenção na hidrologia (restauração hidrológica).

Em resposta ao elevado declínio de florestas de mangal, vários programas de


reflorestamento tem sido levados a cabo mundialmente (Imbert et al., 2000; Kairo et al.,
2001) e a necessidade de replantio de mangal tem sido vista como uma das mais prioritárias
actividades de gestão local dos recursos para o desenvolvimento do país (Linde ´n and
Lundin 1996).

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2 Objectivos

2.1 Objectivo geral


 Documentar o processo de reabilitação e recuperação de mangais (flora e
fauna) na Baia de Gazi.

2.2 Objectivos específicos


 Indicar as causas de degradação do mangal de Gazi;
 Descrever a estrutura e funcionalidade do mangal do Gazi;
 Descrever a restauração natural do Mangal de Gazi;
 Descrever a restauração da fauna do mangal de Gazi;
 Mencionar quais foram os intervenientes da restauração do mangal de Gazi;
 Descrever as recomendações para os futuros projectos de restauração.

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3 Área de estudo

A Baía de Gazi (4°26’S, 39°30’E), localizada a cerca de 45 km a sul de Mombasa


tem 2 rios sazonais dos quais provém a maior parte da água doce que desagua na Baia, os
rios Kidogoweni and Mkurumuji porém, a influência das marés é a mais importante (mares
vivas tem uma amplitude de cerca de 3.5 e 4m).

Há predominância do clima subtropical, com uma estação seca distinta de Janeiro a


Fevereiro, e seguido de uma estação longa (Abril a Julho) e curta de chuvas. Durante a
estacão húmida, os rios são uma grande importante fonte de água doce para os mangais.
Dados de Clima de Mombasa revelam valores médios anuais de precipitação de 1136.47
mm (período de 1931-2001) e uma temperatura média anual de 26.15o C (período de 1931-
2001).Entre 1997-1999, a tendência de precipitação não diferiu da média, excepto no
período de Outubro de 1997 a Fevereiro 1998, durante o qual houve um evento de El Niño
e uma maior pluviosidade em relação ao padrão (Outubro 826 mm, Novembro 317 mm,
Dezembro 285 mm, Janeiro 213 mm, Fevereiro 50 mm). Já em Gazi este padrão é
relativamente maior devido a acção dos ventos.

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Estima-se que tenha mais de 6.15km2 de floresta de mangal, e as 10 espécies


encontradas ao longo da costa Keniana são também encontradas na Baia de Gazi,
nomeadamente, Avicennia marina, Bruguiera gymnorrhiza, Ceriops tagal, Heritiera
littoralis, Lumnitzera racemosa, Rhizophora mucronata, Sonneratia alba, Xylocarpus
granatum e X. moluccensis com maior dominância da Avicennia marina, Ceriops tagal,
Rhizophora mucronata.

As nove espécies exibem um padrão de zonação característico que anteriormente não era
conhecido. Padrões de zonação típicos, por exemplo, na mostra da baía de Gazi, Sonneratia
alba e Rhizophora mucronata ocupando as zonas intermareais mais baixas; Ceriops tagal e
Avicennia marina nas zonas intermediárias; e Lumnitzera racemosa na área intertidal mais
alta (Fig. 3). Bruguiera gymnorrhiza não forma uma zonação distinta no mangal do Quénia,
mas ocorre intercalada com Rhizophora e Ceriops 'Zonação dupla' (Macnae, 1968). Esta é
uma situação em que uma espécie pode ser abundante em duas zonas desconectadas
diferentes da floresta.

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4 História da restauração do mangal


Mangais foram plantados por muitos anos em torno do mundo (Stubbs e Saenger, 2002),
possivelmente começando na Ásia.

Em 1902, os mangais de Matang (da Malásia) foram administrados para o sistema de


fabricação de madeira e madeira de produção.

No Havaí, as plantações de mangais foram estabelecidas para proteger a costa em 1905.

Nas Filipinas, as actividades de replantio baseadas na comunidade têm uma história de 90


anos (Saenger, 2002).

Na África Oriental, o plantio de mangal foi realizado depois que as árvores foram
derrubadas durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) em Lamu, Quênia (Kairo et al.,
2001).

Em Bangladesh, o plantio do mangal começou em 1966 com os objetivos de mitigar os


efeitos desastrosos de ciclones e ondas de tempestade e fornecer produtos florestais
( Siddiqi, 2001).

No Quénia, cerca de 10 mil árvores (principalmente Rhizophora mucronata e Ceriops tagal)


foram plantadas em uma área com em cerca 2,0 ha para restaurar os sítios degradados
devido a enxertos e inundações (World Bank et al., 2003)

5 Objectivos da Reabilitação dos mangais


Em resumo, a reabilitação dos ecossistemas degradados é actualmente o principal objetivo
da restauração dos mangais. Porem, existem diversos outros objectivos:

• Aprimoramento da produção de peixe ou camarão (Primavera 2005);

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• Ecoturismo (Saenger 2002);

• Controle da erosão (Mazda et al., 2002)

• Tratamento de águas residuais (Shimoda et al., 2005);

• Para experiências de biologia de mangais (Kairo et al.2001)

• Paisagismo (Tamaei, 2005)

• E melhoria de sítios afetados pela poluição por petróleo (Biorremediação) (Duke,


1995).

6 Gestão mundial dos mangais naturais e replantados


Para garantir a continuidade dos projectos de replantio, muitos países promulgaram
leis e políticas para especificar os requisitos para as plantações. O código florestal das
Filipinas prescreve o estabelecimento de uma zona de protecção de mangal de 20 m de
largura ao longo das costas, e de uma área de 50 m de largura nas zonas inclinadas
(Primavera, 2000). O Vietnam adotou uma regulamentação para manter um área verde de
500-1000 m de largura (Full Protection Zone) a costa do Delta do Mekong para a protecção
contra tempestades e inundações (WorldBank et al., 2003) .In Bangladesh, a Política das
florestas (1994) exige que o Departamento de Florestas estabeleça plantações de mangais
em áreas recentemente urbanizas da zona costeira, inicialmente por um período estipulado
de 20 anos (Iftekhar, 2006a). Nos EUA, a manutenção do mangal é, em geral, induzida por
requisitos legais para os processos de mitigação da conversão de zonas húmidas e por
razões ecológicas relacionadas com pescarias, qualidades ambiental boa (Campo, 1998a).
No entanto, as leis e políticas para proteger os mangais ou para incentivar sua protecção
muitas vezes não são aplicadas, de modo que as perdas continuam (Blasco et al., 2001).
Mais recentemente, desde o tsunami do Oceano Índico em Dezembro de 2004, os
programas foram lançados para criar e reabilitar grandes áreas de mangal, dos países
afectados (como Sri Lanka e Tailândia, Ellison 2007).

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Documentação do processo de reabilitação e recuperação de mangais (flora e fauna) em Gazi Bay, Quénia

7 Espécies utilizadas para a reabilitação de mangais


Convencionalmente, os projectos de reabilitação de mangais visaram estabelecer
algumas espécies de árvores chave que eram comuns antes de distúrbios ou características
desejáveis. Por exemplo, ao recomendar R. mucronata para futuras plantações em Java,
Sukardjo e Yamada (1992) observaram boa produtividade, além de serem capazes de
superar a presença de ervas daninhas e crescer em áreas degradadas. Assim, As espécies
que são consideradas boas para a reabilitação são aquelas que podem se estabelecer como
isoladas, com características ecológicas de uma espécie pioneira, capazes de sobreviver em
ambientes altamente estressados, como as áreas recentemente inundadas ou solo poluído
(Das e Siddiqi, 1985) E que pode gerar retornos económicos rápidos. C. tagal, R.
racemosa, A. marina, R. apiculata, R. mangle e R. mucronata têm sido mais
frequentemente utilizados em programas de reabilitação. Às vezes, uma ou outra espécie
oferece uma grande proporção de uma plantação. Por exemplo, em Bangladesh, apenas
duas espécies - S. apetala e A. officinalis - constituem cerca de 85% das das plantações em
uma área de 800 km2 (Blasco et al., 2001).

8 História da reabilitação dos Mangais Em Gazi

8.1 Causas da degradação dos mangais


Mangais da Baia de Gazy no Quénia entraram em estado de degradação com uma
redução de 70% da sua área (Kairo et al., 2008)., devido a sobre exploração para extracção
de madeira para construção e para produção de combustível vegetal, conversão de áreas de
mangais para aquacultura e construção de salinas (FAO, 1993) e as consequências desta
degradação vão desde a erosão costeira,(Kairo et al,, 2001), redução das pescarias, falta de
material de construção e de lenha (Tiensongrusmee, 1991)

8.2 Inicio dos projectos de reabilitação


Entre 1991 a 1994, começou-se um programa experimental de replantio de mangais
com o objectivo de transformar áreas degradadas em áreas uniformes com uma maior
produtividade (Mutua, et al., 2011) e estudos subsequentes, analisaram o crescimento das
árvores e acúmulo da biomassa (Kairo, 2001) sucessão primária e secundária da flora e da
Fauna (Bosire et al.,2003, 2004, 2006) e a dinâmica dos nutrientes (Bosire et al.,2005ª)

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Documentação do processo de reabilitação e recuperação de mangais (flora e fauna) em Gazi Bay, Quénia

A maioria das espécies de mangais comercialmente importantes foram usadas para


o experimento, nomeadamente, Rhizophora mucronata, Avicennia marina, Bruguiera
gymnorrhiza , Sonneratia alba e Ceriops tagal,e mostraram-se ser adequadas. O plantio
inicial foi realizado com um espaçamento de 1,0 a 1,5 m para propágulos e 2,0 m para
mudas (Kairo, 1995). Em 2004, mais de 1 milhão de mangais haviam sido plantadas em
áreas degradadas de mangueiras de Gazi.

O desenvolvimento subsequente das áreas reflorestadas do Gazi foi estudado examinando o


crescimento da árvore e o incremento da biomassa (Kairo, 2001; Kairo et al., 2001),
sucessão secundária floral e faunal (Boseco et al., 2003; Bosire et al., 2004 ; Bosire, 2006);
E dinâmica de nutrientes (Bosire et al., 2005).

8.3 Composição florística e taxas de estocagem


A Tabela abaixo fornece os atributos estruturais dos mangais nas plantações Gazi.
Com base em índices de valor de importância, R. mucronata é a principal espécie, e foi
estabelecida como monocultura, no entanto, os desenvolvimentos subsequentes das
plantações promoveram a recolonização por espécies não plantadas. A colonização de
espécies de mangais não plantados foi confirmada nas plantações de Gazi por Bosire et al.,
(2003).

Tabela 4 fornece dados de tabela de rendimentos para Rhizophora replantados em


Gazi. A densidade de Rhizophora em Gazi foi de 4.864 hastes / ha, representando mais de
94% da densidade total. Baseado simplesmente nos diâmetros do caule, pode-se concluir
que 88,5% da Rhizophora em Gazi remetidos são dos tamanhos de mercado preferenciais.

Espécie Frequência Dominância densidad I


e
B. gymonorhiza 13.64 0.40 0.97 15.01
C. tagal 13.64 0.22 2.75 16.61
R. mucronata 50.00 97.26 94.77 242.03
S. alba 11.36 0.97 0.71 13.03
X. granatum 11.36 1.16 0.80 13.31

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8.4 Composição e padrão de regeneração natural


A densidade do suporte da plantação de Rhizophora de 12 anos foi maior que a
relatada por Bosire, et al., (2006) para a área natural adjacente (1796 hases ha), no entanto,
apresentou uma área basal mais baixa (17,12 m 2/ha ') do que esse suporte natural (21,1
m2ha). (Bosire, et al., 2006). Essas diferenças Foram esperados devido à densidade de
plantio (7.500 a 10.000 mudas)

A densidade e composição da regeneração natural nas plantações de Gazi é dada na


Tabela 9. a densidade foi de 4.886 mudas/ha. Embora a maioria dos juvenis fosse do dossel
plantado parental, juvenis de espécies não plantadas, como Bruguiera, Ceriops, Xylocarpus
e Sonneratia também estavam presentes. O recrutamento de espécies não plantadas em
monoculturas de mangais foi confirmado por Bosire et al. (2003). Uma possível explicação
para isso poderia ser a criação de microhábitats através do cultivo de florestas que
permitam colonizar outras espécies. A razão de regeneração, RCI: RCII: RC III, obtida
neste estudo (isto é, 5: 3: 1) é menor do que seria de esperar em uma floresta secundária
submetida a regeneração rápida (ver, por exemplo, Kairo et al., 2002). A razão para isso
poderia ser os efeitos de sombreamento criados pelo dossel parental que impedem que a luz
chegue ao chão.

A predação de propágulos foi identificada como uma das Os factores que


influenciam o estabelecimento de juvenis de diferentes espécies de mangal em astand
(Bosire, et al., 2005)..

Classes de regeneração

Espécie I II III Total/ha


R. mucronata 2527 (89) 964 (62) 350 (66) 3841
B. gymnorrhiza 155 (6) 195 (13) 68 (13) 418
C. tagal 105 (4) 186 (12) 86 (16) 377
X. granatum 23 (1) 200 23(4) 245
S. alba (1 5(1) 5
3)
0
Total 2809 (57) 1545 (32) 532 (11) 4886

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9 Estudos sobre restauração da fauna e flora associada ao mangal


Fauna

Os ecossistemas de mangais fornecem um microhabitat e nutrientes para diversas


comunidades faunísticas (Macintosh et al., 2002; Lee, 1998). Desta forma, aumentam a
biodiversidade das áreas estuarinas e costeiras e atuam como viveiros e áreas de
alimentação para Várias espécies de fauna marinha (Alongi, 2002). Os mangais também
são caracterizados por alta produção orgânica e servem como sequestradoras de nutrientes,
uma função que reduz as cargas de nutrientes nas águas oceânicas, promovendo o
crescimento de ervas marinhas e corais. Além disso, os mangais desempenham um papel na
estabilidade do litoral através da redução da erosão costeira (Hogarth, 1999). Os Bentos são
um componente importante e integral dos mangais (Ngoile & Shunula, 1992; Macintosh,
1984) e desempenham um papel significativo na sua estrutura e função (Lee, 1998;
Schrijvers et al., 1995). A degradação da camada por fragmentação macrofauna e a
subsequente liberação de material fecal mais fino aumentam as redes alimentares à base de
detritos (Slim et al., 1997). Assim, a estrutura e a diversidade da comunidade macro-
endofaunal podem reflectir o status e o funcionamento dos ecossistemas de mangais e
servir como indicadores ecológicos da condição do habitat.

9.1 Macro - Endofauna


Uma taxa total de 12 macro-endofaunal fora registada no local de estudo, todos
encontrados no local natural, 10 no local reflorestado a 10 anos e sete nos locais de 5 anos
reflorestados e degradados. O que sugere um sucesso na recolonização da infauna (Bosire
et al., 2008). Representado por Nematoda, Polichaetas, larvas de insectos, oligochaetos
(Mutua et al., 2011)

Outros dados indicam que as áreas nuas de A.marina, R. mucronata e S. alba


apresentam as menores densidades de infauna e riqueza de táxas em comparação com os
respectivos locais replantados com referências naturais com as maiores densidades. A

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riqueza e a composição dos taxa foram semelhantes entre os respectivos locais de


replantação e natural (Bosire et al., 2004), sugerindo recolonização de fauna bem-sucedida
após a restauração de mangais.

9.2 Epibioticos e epibentos


Bosire et al.,2008 documentou que os postos reflorestados de R. mucronata e A.
marina apresentaram maiores densidades de caranguejo do que suas referências naturais
(Boseco et al., 2004).

Mais espécies sesarmídeos foram observadas nas áreas reflorestados (similares às


referências naturais) do que os controles degradados. Uma vez que os sesarmides são
considerados principais espécies chave em relação à reciclagem de nutrientes (Kristensen et
al., 2008; Cannicci et al., 2008), eles parecem, portanto, mais sensíveis à degradação ou
restauração do ecossistema.

9.3 Fauna intermediária


Os mangais apoiam funções de viveiro para muitas espécies juvenis de peixe e
camarão, muitas das quais são altamente importantes comercialmente (Lewis et al., 1985;
Ro¨nnba¨ck et al., 1999; Nagelkerken et al., 2008). As espécies de peixes e camarões
juvenis são conhecidas como dependentes da complexidade estrutural do refúgio
(Primavera, 1997) e, portanto, a intensidade desta função está ligada ao tipo de mangal em
estudo (Ewel et al., 1998; Ronnback et al., 2001).

Nas plantações de S. alba, houve fortes flutuações sazonais para os peixes juvenis,
mostrando padrões temporais como uma influência potencialmente mais forte na presença
de peixes do que o tipo de plantação ou a presença de mangais franjados (Crona e Ro¨nbba,
2007). No entanto, a escala espacial de observação é provavelmente um factor muito mais
forte que afecta a biodiversidade (Bosire et al, 2008) e similar variação foi verificada na
área natural de referencia, já, na área degradada nua de Sonneratia alba nenhum molusco
foi observado, E a falta de Moluscos enfatiza as consequências da degradação dos mangais
na biodiversidade, enquanto as semelhanças entre a área restaurada e a referência natural
sugerem o potencial da restauração dos mangais no aprimoramento da recolonização
faunística.

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Documentação do processo de reabilitação e recuperação de mangais (flora e fauna) em Gazi Bay, Quénia

O mesmo vale para os camarões juvenis, a riqueza de espécies mais baixas foi
observada em uma plantação de S. alba e em áreas adjacentes de taludes transparentes, uma
espécie, Penaeus japonicus, dominou a comunidade. As florestas naturais apresentaram
maior complexidade radicular e também maiores abundâncias e distribuição mais uniforme
de espécies de camarão em termos de composição de espécies.

10 CBMM (gestão de Mangais Baseada na comunidade)


A restauração de mangais do Quénia, tem sido praticado durante os últimos 25 anos
(Kairo 1995, Bosire et al. 2003). A maioria destes programas, tem sido liderados pelo
instituto de investigação pesqueira e de recursos marinhos do Quénia (Kenya Marine and
Fisheries Research Institute) usando um plano que combina campanhas de restauro
comunitário e monitoramento científico. (Bosire et al. 2004, Bosire et al. 2005, Bosire et al.
2008).

11 Projecto Mikoko Pamoja (Mangrove Together)


Mikoko Pamoja Organização Comunitária (MPCO) é um Organização comunitária
registada que faz a coordenação entre a comunidade local e a científica, para efeitos de
actividades rotineiras do projecto de Replantio da “plan VIVO” e partilha de benefícios. É
liderado por membros voluntários que são representantes da aldeia da Área do projecto. Os
membros têm as responsabilidades de Administração e implementação de planos de
trabalho do projecto.

Através do programa, a comunidade plantou 4000 plântulas o equivalente a 0.4 hectares (1


acre) por ano, em áreas degradadas, em adição a conservação das florestas intactas.

11.1 Objectivos
Os objectivos do Mikoko pamoja incluem:

 Preservar a actual qualidade e extensão das florestas de mangal e dos serviços que
eles provem para as comunidades locais;
 Restaurar áreas degradadas de florestas de mangal em Gazi bay;

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Documentação do processo de reabilitação e recuperação de mangais (flora e fauna) em Gazi Bay, Quénia

 Aumentar as entradas (lucros) a partir dos recursos florestais, incluindo créditos de


carbono para os benefícios da comunidade.
 Estabelecer fontes alternativas de timber e combustível vegetal na área de Gazi
 E estabelecer um projecto piloto demostrativo de gestão sustentável das florestas de
mangal que irão ser úteis para uma gestão nacional.
 Trabalhar com os serviços florestais do Kenya e outras agências governamentais
para determinar políticas sobre o comprometimento da comunidade na gestão da
terra, particularmente através da provisão de serviços ecossistemicos, mercado de
carbono internacional.

As actividades do projecto incluem:


 Delinear e mapear áreas de protecção e viveiros
 Reflorestamento de áreas degradadas e manutenção de viveiros
 Determinar a capacidade de armazenamento de carbono usando remote sensing,
Tecnologia de GIS e intenso levantamento do campo;
 Plantio de casuarinas e outras plantas de crescimento rápido para subsidiar a
madeira do mangal.

11.2 Venda de créditos de carbono


A ideia de venda de créditos de carbono é baseada no princípio de que o carbono
armazenado ou sequestrado nesses ecossistemas pode ser quantificado usando métodos
científicos e os compradores poderão adquirir como créditos para fazer um offset as
emissões. Este metodo é também conhecido como “emission trading”. Os créditos de
carbono são verificados por meio de um padrão reconhecido internacionalmente que inclui:
contagem, monitoramento, verificação e certificados padrão., registro e então os créditos
são vendidos para governos ou industrias quais são requeridos que reduzam a emissão dos
gazes (conferencia de Kioto ou união European union emission trading sheme) ou um
mercado individual que precise dos créditos de carbono para a sua maior sustentabilidade.

Nos últimos 2 anos, a comunidade ganhou 25.000 $. Os compradores dos créditos


incluem a Earthwatch, Nico koedem research group, e estudantes do mestrado do colégio
imperial de London. (the Guardian,).

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Documentação do processo de reabilitação e recuperação de mangais (flora e fauna) em Gazi Bay, Quénia

O valor gerado pela venda dos créditos de carbono é canalizado para o


desenvolvimento e suporte dos projectos da comunidade, e actualmente documentam-se
actividades como renovação de salas de aulas, de carteiras, livros escolares, abertura de
furos de água que provem água potável para a comunidade entre outros. (The Guardian)

12 Recomendações
Os ecossistemas florestais de mangais cobrem actualmente cerca de 14,7 milhões de
hectares das costas tropicais do mundo (Wilkie e Fortuna, 2003). Isso representa um
declínio de 19,8 milhões de ha em 1980 e 15,9 milhões de ha em 1990. Essas perdas
representam cerca de 2% ano entre 1980 e 1990 e 1% ano entre 1990 e 2000. Portanto, a
perda de mangais em todo o mundo exigiria A restauração bem sucedida de cerca de
150.000 ha ano, a menos que todas as maiores perdas de mangal tenham cessado. Aumentar
a área total de mangais em todo o mundo exigiria um esforço de escala ainda maior.

Actividades de restauro, infelizmente enfatizam o plantio de mangais como a


principal ferramenta de restauração, em vez de avaliar as causas da perda de mangais e as
oportunidades de recuperação natural. Assim, a maioria dos projectos de restauração de
mangais se movem imediatamente para o plantio de mangais sem determinar por que a
recuperação natural não ocorreu. Investir capital no cultivo de mudas de mangal em um
viveiro antes que os factores de stresse sejam estudados geralmente resulta em grandes
falhas nos esforços de plantio (Elster, 2000; Erftemeijer e Lewis, 1999; Lewis, 2005). Além
disso, poucos esforços de restauração estão inseridos em um quadro maior que também
considera o destino dos mangais plantados, em termos de estrutura e regeneração do
suporte, retorno da biodiversidade e recuperação de outros processos do ecossistema
(Dahdouh-Guebas e Koedam, 2002). Recentemente, essas questões estão começando a ser
abordadas de forma integrada em locais de manguezais restaurados da África Oriental
(Boseco et al., 2003, 2004, 2005a, b; Crona e Ro¨nnba¨ck, 2005; Bosire et al., 2006; Crona
et al., 2006). Abaixo, é apresentado o esquema que ilustra os passos para uma restauração
bem sucessedida de mangais, sugerida por Bosire et al., 2008) :

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Documentação do processo de reabilitação e recuperação de mangais (flora e fauna) em Gazi Bay, Quénia

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Documentação do processo de reabilitação e recuperação de mangais (flora e fauna) em Gazi Bay, Quénia

13 Conclusão
Os mangais da baia de Gazi no Quénia entraram em estado de degradação, devido
principalmente a factores antropogenica, actividades como a extracção de madeira para
construção e para produção de combustível vegetal, conversão de áreas de mangal para
aquacultura e construção de salinas, e consequentemente houve degradação costeira,
redução nas pescarias, falta de material de construção e lenha.

Os projectos de replantio começaram em um fase experimental em 1991, com o


objectivo de transformar as áreas degradadas em áreas uniformes com maior produtividade,
e estudos subsequentes foram feitos, para analisar o crescimento das árvores, acumulo da
biomassa, sucessão primária e secundaria da flora e fauna e dinâmica dos nutrientes. O
plantio foi realizado com um espaçamento de 1,0 a 1,5m para propágulos e 2,0m para
mudas. Até 2004, mais de 1 milhão de mangais haviam sido plantados em áreas degradadas
em Gazi.

A densidade do suporte da plantação de Rhizophora de 12 anos foi maior que a


relatada para a área natural adjacente, no entanto, apresentou uma área basal mais baixa do
que esse suporte natural. Essas diferenças Foram esperados devido à densidade de plantio
(7.500 a 10.000 mudas).

Os ecossistemas de mangais fornecem um micro-habitat e nutrientes para diversas


comunidades e desta forma, aumentam a biodiversidade das áreas estuarinas e costeiras e
atuam como viveiros e áreas de alimentação para Várias espécies de fauna marinha. Foram
registadas durante os anos um aumento da macro e endofauna com o passar do tempo. O
que sugere um sucesso na recolonização da infauna, representado por Nematoda,
Polichaetas, larvas de insectos, oligochaetos. Documentou-se também que os postos
reflorestados de R. mucronata e A. marina apresentaram maiores densidades de caranguejo
do que suas referências naturais. Mais espécies sesarmídeos foram observadas nas áreas
reflorestados (similares às referências naturais) do que os controles degradados.

A actividade de reflorestamento do mangal empreende grande esforço, com isso é


menos dispendioso conservar o mangal, em vez de degradar pra depois restaurar.

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Documentação do processo de reabilitação e recuperação de mangais (flora e fauna) em Gazi Bay, Quénia

14 Bibliografia

 Dahdouh-Guebas, F., et al. (2004). Human-impacted mangroves in Gazi (Kenya):


predicting future vegetation based on retrospective remote sensing, social surveys,
and tree distribution. Vol 272: 77-92. Publicado em 10 de maio. Marine Ecology
Progress Series.
 Kairo, J. G. (2001). Ecology and Restoration of Mangrove Systems in
Kenya.Laboratory of Plant Sciencies and Nature Management. Universitet
Brussel.110pp.
 Kairo, J.G., et al. (2009). Allometry and biomass distribution in replanted mangrove
plantations ant Gazi Bay, Kenia.. Published online, May. Marine and Freshwater
Ecosystems. Aquatic Conservation. 63 – 69pp.

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