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Licenciatura em
Comunicação Aplicada em
Marketing, Publicidade e Relações Públicas
Análise de “A Metamorfose de
Narciso” de Salvador Dali
29 De Janeiro de 2008
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I – Introdução
Este trabalho, efectuado no âmbito da cadeira de Metodologia de Análise de
Imagem, consiste em analisar uma obra de Arte. Perceber em primeiro lugar, quando foi
pintada, por quem, em que contexto artístico. Por outro lado, o nosso estudo irá basear-
se na imagem propriamente dita: Qual o motivo, as cores, as técnicas, as mensagens
(…), de forma a perceber o funcionamento da obra e os objectivos do autor.
A nossa escolha é a obra A Metamorfose de Narciso, de Salvador Dali, pintada
em 1937. O nosso trabalho é composto, em primeiro lugar, pela vida e obra do autor. De
seguida, o contexto histórico e artístico do estilo do autor e da obra. Segue-se então a
análise da obra, juntamente com a explicação do mito de narciso e, por fim, algumas
curiosidades sobre o pintor.
II – Biografia do autor
Salvador Felipe Jacinto Dalí i Domènech, nasceu a 11 de Maio de 1904 na vila de
Figueres, Catalunha, Espanha. Filho de Salvador Dalí i Cusí (de origem árabe), um
homem de classe média e uma figura popular da cidade, e de Felipa Domenech (cuja
família era de origens judaicas, era oriunda de Barcelona), uma dona de casa
dedicada ao catolicismo.
Dalí, iniciou a sua educação artística formal na Escola de Desenho Municipal. E foi
em 1916, durante umas férias de verão em Cadaquès, passadas com a família de
Ramon Pichot (artista local), que teve o primeiro contacto com a pintura
impressionista.
No ano seguinte (1917), o próprio pai de Dalí organizou uma exposição dos
desenhos a carvão do filho. Dalí teve a sua primeira oportunidade de expor o seu
trabalho ao público geral numa exposição em 1919 no Teatro Municipal em
Figueres, sua cidade natal.
Em 1922, Dalí mudou-se para Madrid, onde frequentou a academia de artes de San
Fernando. Já então, Dalí chamava a atenção pelo seu estilo peculiar. Cabelo
comprido e patilhas, casacos compridos, um grande laço ao pescoço, calças até ao
joelho e meias altas, era considerado um excentrico. Contudo o que chamou maior
atenção por parte dos colegas foram os seus quadros onde fez experiências com o
cubismo.
Dalí experimentou igualmente o dadaísmo, que provavelmente influenciou todo o
seu trabalho.
Em 1926 Dalí foi expulso da Academia, declarando que ninguém na Academia era
suficientemente competente para o avaliar.
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Nesse mesmo ano, Dalí fez a sua primeira viagem a Paris. Aí, encontrou Pablo
Picasso, um dos seus idolos de há muito. Picasso já tinha ouvido falar bem de Dalí,
através de Juan Miró, sendo que as obras realizadas nos anos seguintes sofrem
grande influencia destes dois artistas. No entanto, Dalí foi simultaneamente
desenvolvendo o seu próprio estilo. Com 20 anos já evidenciava algumas
tendências no seu trabalho que permaneceram ao longo de toda a sua carreira,
mas conseguiu reunir influências de vários estilos de arte e produziu trabalhos
desde o classicismo mais académico à vanguarda mais avançada, por vezes em
obras separadas outras vezes combinados na mesma obra. As suas exposições em
Barcelona despertaram grande atenção no meio da arte, alguns elogios e inúmeros
debates por parte dos críticos.
A 1929, Dalí entra numa curta-metragem (Un Chien Andalou) realizada pelo
também espanhol Luis Buñuel. Em Agosto conhece a sua verdadeira musa. Elena
Ivanovna Diakonova, ou simplesmente Gala Éluard, uma imigrante nascida em
1894 na Tartária, Rússia com a qual acabaria mais tarde por casar pelo registo civil
(em 1934). Ainda no mesmo ano, Dalí integra um grupo surrealista num bairro de
Paris.
Em 1937 pintou o quadro “Metamorfose de Narciso”.
Dois anos mais tarde (1939), Dalí é expulso do grupo surrealista por motivos
politicos. Declara então a polémica frase “O surrealismo sou eu!” em tom de
resposta. Os restantes surrealistas não encararam bem este facto e como tal,
decidiram entre si referir-se a Dalí sempre no passado, como se este já estivesse
morto.
Dalí e a sua musa Gala mudam-se para os Estados Unidos a 1940 onde
permanecem até ao ano de 1948. Foi nesse periodo, mais concretamente a 1942
que publica a sua autobiografia, “A vida secreta de Salvador Dalí”.
No ano de 1948 muda-se para a Catalunha, Espanha, onde reside até ao fim dos
seus dias. Volta a casar com a sua musa Gala, a 1958, desta vez numa cerimónia
católica na capela de Àngels, perto de Girona, Espanha.
Em 1960, Dalí iniciou o seu trabalho no Teatro-Museu Gala Salvador Dalí, na sua
terra natal de Figueres. Foi o projecto de maior vulto de toda a sua carreira e o
principal foco do seu empenho até 1974, mas continuou a fazer acrescentos até
meados dos anos 80.
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Em Janeiro de 1989, Salvador Dalí morreu de pneumonia e falha cardíaca na sua
cidade de berço e foi sepultado em campa rasa no átrio principal do seu Teatro-
Museu Dalí.
A obra de Dalí é composta por mais de 1500 quadros (muitos deles da sua esposa e
musa Gala), ilustrações para livros, litografias, desenhos para cenários e trajes de
teatro, um grande número de desenhos, dezenas de esculturas e outros projectos
variados. Foi mais tarde proclamado um idolo e grande influencia para alguns
artistas da pop art, como foi o caso de Andy Warhol.
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O Surrealismo destacou-se nas artes, principalmente por quadros ou esculturas que
expressavam os sonhos dos artistas, não bastavam ser sonhos comuns, deveriam ser
aqueles que tem formas variadas e confusas, como um boi com asas.
Os principais artistas deste movimento foram Salvador Dali, Joan Miro (Pintor
espanhol, autor de composições a principio surrealistas, depois abstractas), Hans Arp
(escritor frânces, é um representante da arte abstracta.), Kurt Schiwitters, Marcel
Duchamp (Pintor francês, inicialmente influenciado pelo Cubismo, teve participação
importante no movimento Dadaísmo e no surrealismo), Max Ernst (Pintor francês, teve
parte activa no movimento Dadaísta e no movimento Surrealista), André Masson
(Pintor francês, decorou o tecto do teatro Odéon), René Magritte (pintor belga é um dos
principais representantes do surrealismo), entre outros
Este movimento é considerado o mais forte e controverso do período entre guerras, pois
espalhou-se pelo mundo inteiro e influenciou varias gerações. Para além de França
(onde surgiu), os EUA onde vários artistas europeus se refugiaram durante a segunda
guerra mundial, inspirou o expressionismo abstracto.
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muitas cores. A pintura de Joan Miro O Carnaval de Arlequim representa muito bem
esta corrente do Surrealismo.
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A melhor definição sobre o que é o surrealismo pode ser obtida observando o quadro
quase fotográfico de Cristo, na obra de Dalí Cristo San Juan de la Crúz (1951), nesta
obra Cristo está sobre o mundo, mas a nossa visão está ainda acima de Cristo e acima do
mundo. Isto só pode acontecer numa visão surrealista.
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IV– Análise da obra
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No primeiro plano, destacam-se duas figuras principais, divididas por um eixo
de simetria vertical, caracterizado pelo reflexo da falésia no rio, e pelo contraste das
cores entre os dois motivos.
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A figura da direita aparece então como um duplo da primeira. Vemos uma mão a
segurar um ovo quebrado, de onde surge um narciso seco. A mão é estática, as suas
cores são pálidas e cadavéricas. Esta contrasta não só com as cores resplandecentes da
figura à esquerda, mas também com as formigas, que passam por cima dela, e com a
serpente, que se encontra no indicador. Podemos supor que a serpente representa a
tentação e a destruição de qualquer criação. A figura é sinistra, tal como toda a parte
direita da imagem. De facto, ao lado da mão aparece um cão de caça esquelético,
entretido a devorar uma carcaça que ali jazia.
Por outro lado, o primeiro plano é marcado pela presença do reflexo de Narciso
na água. Esta é sombria e faz referência ao rio Estige, um dos rios de Hades. A água foi,
durante muito tempo, utilizada como elemento representativo do inconsciente, do
desconhecido e das oportunidades. É o elo de ligação à segunda parte do quadro, situada
no segundo plano.
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No lado esquerdo, podemos observar oito mulheres nuas, que podemos supor
serem ninfas, a dançar de forma caótica, como nos cultos a Dionísio. Assim, o lado
esquerdo representa aquilo que Freud chama de “id” ou inconsciente. São os impulsos
primordiais do homem, que não se controlam, são caóticos e revelam a verdadeira
natureza do homem.
Estes dois cenários continuam a ser divididos por um eixo de simetria vertical,
representado, neste caso, por uma estrada que continua para além do quadro. È o
símbolo do “Ego” ou eu freudiano. Encontra-se no meio destas duas forças opostas, e
lembra-nos o caminho da vida, com as suas possibilidades e barreiras.
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Assim, toda a obra está baseada num jogo de oposições entre elementos. No
primeiro plano, há uma oposição entre a vida e a morte, ou o sonho e a realidade. Mas
também entre a terra e a água. Por outro lado, o segundo plano é caracterizado pela
oposição entre a ordem e o caos, entre o ser e o parecer, o consciente e o inconsciente.
Podemos supor que Dali queria demonstrar que tudo nasce de oposições e
contradições. A vida gera a morte, o mal gera o bem, o inconsciente gera o consciente.
Esta ideia pode ser apoiada com a obra A Origem da Tragédia do Nietzsche, que faz
referência à oposição entre as coisas, com a ajuda de Dionísio e Apolo.
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comprends-tu?
La symétrie, hypnose divine de la
géométrie de l'esprit, comble déjà ta tête
de ce sommeil inguérissable, végétal,
atavique et lent
qui dessèche la cervelle
dans la substance parcheminée
du noyau de ta proche métamorphose.
La semence de ta tête vient de tomber
dans l’eau.
L'homme retourne au végétal
par le sommeil lourd de la fatigue
et les dieux
par l'hypnose transparente de leurs
passions.
Narcisse, tu es si immobile
que l'on croirait que tu dors.
S'il s'agissait d'Hercule rugueux et brun,
on dirait : il dort comme un tronc
dans la posture
d'un chêne herculéen.
Mais toi, Narcisse,
formé de timides éclosions parfumées
d'adolescence transparente,
tu dors comme une fleur d'eau.
Voilà que le grand mystère approche,
que la grande métamorphose va avoir
lieu.
Narcisse, dans son immobilité, absorbé
par son reflet avec la lenteur digestive
des plantes carnivores, devient invisible.
Il ne reste de lui
que l'ovale hallucinant de blancheur
de sa tête,
sa tête de nouveau plus tendre,
sa tête, chrysalide d'arrière-pensées
biologiques,
sa tête soutenue au bout des doigts
de l'eau,
au bout des doigts
de la main insensée,
de la main terrible,
de la main coprophagique,
de la main mortelle
de son propre reflet.
Quand cette tête se fendra,
Quand cette tête se craquèlera,
Quand cette tête éclatera,
ce sera la fleur,
le nouveau Narcisse,
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Gala - mon narcisse.
in Métamorphose de Narcisse,
Éditions surréalistes,
Paris, 1937
VII – Curiosidades
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Salvador Dalí é conhecido pelo seu carisma e extravagância. O facto é que Dali
permanece na mente e na vida dos apreciadores do surrealismo, nomeadamente graças
aos seus museus.
O mais interessante é, sem dúvida, o Teatro – Museu que ele criou na sua terra
natal, Figueres em Espanha.
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Expulsão da academia: Na Escola de Belas Artes de Madri, Salvador Dalí ficou
famosa por sua auto-suficiência. Em Junho de 1926, recusou-se a fazer as provas da
disciplina de Teoria das Belas Artes, por achar que nenhum professor tinha competência
suficiente para julgar seu trabalho. Em represália, o conselho disciplinar da instituição
decidiu pela expulsão do aluno rebelde.
Memórias precoces: Dalí escreveu suas memórias, o livro "A vida Secreta de
Salvador Dalí", aos 37 anos. "Normalmente os escritores começam a escrever suas
memórias depois de viver sua vida, mas, com meu vício de fazer tudo
diferentemente dos demais, achei que era mais inteligente começar escrevendo
minhas memórias e vivê-las depois", explicou.
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Dalí no cinema: Em Janeiro deste ano, anunciou-se em Hollywood que o actor Al
Pacino encarnará, em breve, Salvador Dalí nas telas do cinema. O filme promoverá
o reencontro de Pacino com o roteirista e director Andrew Niccol, com quem já
trabalhou em "Simone", de 2002. As filmagens devem começar em Junho. "Dalí &
I: The Surreal Story" se concentrará no período da maturidade do artista.
Por outro lado, Dalí também é conhecido pelas suas participações cinematográficas,
nomeadamente nos filmes de Luís Buñuel.
VIII – Citações
"Arte moderna é quando se resolve comprar um quadro para esconder uma parte da
parede cuja pintura está descascando e, depois de examinar umas 50 obras, se chega à
conclusão de que o melhor mesmo será deixar como está."
"A diferença entre as lembranças falsas e verdadeiras é a mesma das jóias: as falsas
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sempre aparentam ser as mais reais, as mais brilhantes."
"Como posso querer que meus amigos entendam as coisas loucas que passam pela
minha cabeça, se eu mesmo, não entendo?"
“A minha única diferença em relação a um homem louco é que eu não sou louco!
VIII – Conclusão
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