é um verso de Sophia de Mello Breyner Andresen que só pode ser
compreendido uma vez contextualizado (pertence ao conjunto “As
Grades”, in Livro Sexto, 1962): o “velho abutre” é uma metáfora
subtil para designar o ditador fascista Salazar. Não é o conhecimento
da língua que nos permite saber isto mas o conhecimento da cultura
portuguesa.
A coesão textual pode conseguir-se mediante quatro
procedimentos gramaticais elementares, sem querermos avançar
aqui com um modelo universal mas apenas definir operações
fundamentais:
i. Substituição : quando uma palavra ou expressão substitui outras
anteriores:
(4) O Rui foi ao cinema. Ele não gostou do filme.
ii. Reiteração : quando se repetem formas no texto:
(5) - «E um beijo?! E um beijo do seu filhinho?!» - Quando dará
beijos o meu menino?!
(Fialho de Almeida)
De notar que os vários modelos teóricos sobre coesão textual
prevêem uma rede mais complexa de procedimentos, muitos deles
coincidentes e redundantes: Halliday e Hasan (1976), propõem cinco
procedimentos: a referência, a substituição, a elipse, a conjunção e o
léxico; Marcushi (1983) propõe quatro factores: repetidores,
Este texto poderá ser considerado literário? Em caso afirmativo, como
definir a sua literariedade? Poderemos dizer que é coerente?
Poderemos dizer que é coeso? Se o texto estiver assinado por um
autor reconhecido por uma comunidade interpretativa como escritor
(o que significa invariavelmente: criador de textos literários), tal
circunstância pode afectar o nosso juízo sobre a literariedade, a
coerência e a coesão deste texto? Tal questão é equivalente a
estoutra: Até que ponto a identificação autoral de um texto pode
influenciar a determinação ou reconhecimento da sua literariedade,
da sua coerência ou da sua coesão?
Nenhum leitor terá dificuldade em reconhecer a coesão textual de
(14), com os seus elementos léxico-gramaticais devidamente postos
numa sequência lógica, e a coerência das ideias comunicadas num