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EVANGELHO E AUTODESCOBRIMENTO

UMA PROPOSTA DE TRABALHO

A nossa proposta de trabalho tem como objetivo a Evangelização do Espírito


Encarnado, como espírito eterno que é, descobrindo as suas potencialidades, o fato
da sua reencarnação, e a sua evolução dentro do contexto familiar, social e cósmico.

Para tanto, propomos o estudo em grupo através de um livro básico da Doutrina


Espírita, sendo o escolhido, “O Evangelho Segundo o Espiritismo’’ e complementado
pelas obras “série psicológica” de Joanna de Ângelis, notadamente o livro:
“Autodescobrimento’’.

O estudo dará ênfase aos aspectos: emocional, sentimental e espiritual da criatura


humana, sempre de caráter eminentemente espírita e de cunho fraterno. Caso
apareça alguém com necessidade de um atendimento mais específico, ele será
encaminhado à direção do Centro.

Ribeirão Preto, 2013.

José Luiz Maio


Sociedade Espírita Allan Kardec - SEAK

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TEMAS PARA ESTUDO

01 - EV. Cap. VI Item 3 – O Consolador Prometido


Complementar: Autodescobrimento ’’Uma busca Interior” - introdução
Enfoque: Missão do Espiritismo – A doutrina completa a ciência e a religião –
Aplicação da doutrina no conhecimento de si mesmo.

02 - EV. Cap. IV Item 24 – Limites da Encarnação


Complementar: Autodescobrimento ’’Complexidade das Energias”
Enfoque: Espírito/Perispírito/Matéria – As energias e o comando mental.

03 - EV. Cap. XVII Item 11 – Cuidar do corpo e do Espírito


Complementar: Autodescobrimento ’’ Interação Espírito/Matéria”
Enfoque: Influência do comportamento nas enfermidades.

04 - EV. Cap. IV Item 25 – Necessidade da Encarnação


Complementar: Autodescobrimento “Problemas da Evolução’’
Enfoque: Dificuldades naturais da reencarnação – desempenho pessoal.

05 - EV. Cap. XII Itens 1,2 e 3 - Amai os vossos inimigos - Pagar o Mal com o Bem.
Complementar: Autodescobrimento “O Pensamento”
Enfoque: Corrente fluídica do pensamento – importância do bom pensamento.

06 - EV. Cap. V Item 3 – Justiça das aflições


Complementar: Autodescobrimento ‘’Conflitos e doenças’’
Enfoque: Despertar a consciência para suas incógnitas – autoanálise.

07 - EV. Cap. XII Item 5 – Os inimigos desencarnados


Complementar: Autodescobrimento ‘’Distonias e suas conseqüências’’
Enfoque: Afinidades, sintonia e obsessões.

08 - EV. Cap. IX Item 1/5 – Injurias e violências


Complementar: Autodescobrimento ‘’O Ser Emocional’’
Enfoque: Análise da emoção, direção e disciplina.

09 - EV. Cap. XVII Item 8 – A Virtude


Complementar: Autodescobrimento ‘’Incursão na Consciência’’
Enfoque: Busca da realidade do Ser - Interiorização.

10 - EV. Cap. XVII Item 7 – O dever


Complementar: Autodescobrimento ‘’Consciência Responsável’’
Enfoque: Responsabilidade.

11 - EV. Cap. V Item 19 – O mal e o remédio.


Complementar: Autodescobrimento ‘’Consciência e Sofrimento ’’
Enfoque: Desenvolvimento da consciência, sofrimento como processo de maturação
do ser.

12 - EV. Cap. V Item 6 – Causas anteriores das aflições


Complementar: Autodescobrimento ‘’Exame do Sofrimento’’
Enfoque: Ação e reação.

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13 - EV. Cap. V Item 11 – Esquecimento do Passado
Complementar: Autodescobrimento ‘’O inconsciente’’
Enfoque: O perispírito, a memória e o esquecimento.

14 - EV. Cap. XI Item 11 – O egoísmo


Complementar: Autodescobrimento ‘’O subconsciente e o inconsciente sagrado’’
Enfoque: Percepção psicológica – identificação e desindentificação com o ego.

15 - EV. Cap. IV Item 5 – Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.
Complementar: Autodescobrimento ‘’Busca da Unidade’’
Enfoque: Nascer de novo, consciência da reencarnação.

16 - EV. Cap. VII Item 11 – O orgulho e a humildade


Complementar: Autodescobrimento ‘’Realidade e Ilusão’’
Enfoque: Personalidade e Individualidade, Ego e Espírito.

17 - EV. Cap. XI Item 8 – A lei de Amor


Complementar: Autodescobrimento ‘’Força criadora’’
Enfoque: Instinto, emoções, sentimentos e expressões do amor.

18 - EV. Cap. XVIII Item 10 – O homem no mundo


Complementar: Autodescobrimento ‘’Programa de Saúde’’
Enfoque: Conduta mental e moral.

19 - EV. Cap. III Item 6 – Causa das misérias humanas


Complementar: Autodescobrimento ‘’Transtornos comportamentais’’
Enfoque: O perispírito como modelador do físico, fixações espirituais, conduta e
ressarcimento.

20 - EV. Cap. V Item 12 – Bem Aventurados os aflitos – Motivos de resignação


Complementar: Autodescobrimento ‘’Terapia da Esperança’’
Enfoque: O autoencontro, o despertar de valores, identificação dos objetivos da vida.

21 - EV. Cap. III Item 8 – Mundos inferiores e mundos superiores


Complementar: Autodescobrimento ‘’Plenitude - a meta’’
Enfoque: Objetivos educacionais, familiares, sociais, econômicos, artísticos e
espirituais.

22 - EV. Cap. VIII Item 5 – Pecado por pensamento


Complementar: Autodescobrimento ‘’Computação cerebral’’
Enfoque: Os hábitos e os desejos subconscientes. Somatização das enfermidades

23- EV. Cap. XVII Item 4 – Os bons espíritas


Complementar: Autodescobrimento ‘’Reciclagem do Subconsciente’’
Enfoque: Reforma Intima.

24 - EV. Cap. XXVIII Item 38 – Preces para si mesmo: No momento de dormir.


Complementar: Autodescobrimento ‘’Subconsciente e Sonhos’’
Enfoque: função do subconsciente, reprogramação dos sonhos.

25 - EV. Cap. X Item 14 – Perdão das ofensas


Complementar: Autodescobrimento ‘’O Passado’’
Enfoque: Aceitação e renovação, arrependimento e reparação, perdão das dívidas.

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26 - EV. Cap. XXV Item 6 – Observai os pássaros do Céu
Complementar: Autodescobrimento ‘’Incerteza do Futuro’’
Enfoque: Preocupações do dia a dia, realizações no futuro e a atenção no presente.

27 - EV. Cap. XIX Item 1 – O poder da Fé


Complementar: Autodescobrimento ‘’Desconhecimento de si mesmo’’
Enfoque: Identificação dos valores ilusórios e dos eternos – confiança em si mesmo -
origem divina do homem.

28 - EV. Cap. V Item 20 – A felicidade não é deste mundo


Complementar: Autodescobrimento ‘’Insatisfação’’
Enfoque: Autodepreciação – coragem para enfrentar-se – motivação

29 - EV. Cap. XXV Item 1/5 – Ajuda-te, e o Céu te ajudará


Complementar: Autodescobrimento ‘’Indiferença’’
Enfoque: Terapia do Interesse, doação ao próximo.

30 - EV. Cap. V Item 4/5 – Causas atuais das aflições


Complementar: Autodescobrimento ‘’Pânico’’
Enfoque: O medo. As obsessões. Tratamento espiritual

31 - EV. Cap. IV Item 4 – Ressurreição e Reencarnação


Complementar: Autodescobrimento ‘’Medo da Morte’’
Enfoque: Instinto de conservação - fenômeno da morte – compreensão da vida.

32 - EV. Cap. IX Item 9 – A cólera


Complementar: Autodescobrimento ‘’A raiva’’
Enfoque: Descontrole emocional

33 - EV. Cap. X Item 1/4 – Perdoai para que Deus vos perdoe
Complementar: Autodescobrimento ‘’O ressentimento’’
Enfoque: A mágoa e suas conseqüências

34 - EV. Cap. V Item 18 – Bem e mal sofrer


Complementar: Autodescobrimento ‘’Lamentação’’
Enfoque: Hábitos negativos: queixas e lamentações; autocompaixão.

35 - EV. Cap. V Item 21 – Perda de Pessoas Amadas


Complementar: Autodescobrimento ‘’Perda pela Morte’’
Enfoque: Compreensão do processo da morte

36 - EV. Cap. V Item 25 – A melancolia


Complementar: Autodescobrimento ‘’Amargura’’
Enfoque: Presença da amargura – alegria de viver

37 - EV. Cap. XI Item 1 – O maior Mandamento


Complementar: Autodescobrimento ‘’O Amor’’
Enfoque: Sentimentos – conquista e desenvolvimento

38 - EV. Cap. VI Item 1 – O jugo leve


Complementar: Autodescobrimento ‘’Os sofrimentos’’
Enfoque: Formas de sofrimento – aprendizagem com as experiências

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39 - EV. Cap. V Item 23 – Os tormentos voluntários
Complementar: Autodescobrimento ‘’Estar e Ser’’
Enfoque: Aparência social – Insegurança – Criticas

40 - EV. Cap. XIII Item 11 – A Beneficência


Complementar: Autodescobrimento ‘’Abnegação e Humildade’’
Enfoque: A verdadeira humildade

41 - EV. Cap. XVII Item 3 – O homem de Bem


Complementar: Autodescobrimento ‘’Infância psicológica’’
Enfoque: Personalidade infantil e amadurecimento psicológico

42 - EV. Cap. XVII Item 1/2 – Caracteres da Perfeição


Complementar: Autodescobrimento ‘’Conquista do Si’’
Enfoque: Fases de consciência

43 - EV. Cap. XXIV Item 1/4 – Não coloqueis a candeia sob o alqueire
Complementar: Autodescobrimento ‘’Libertação pessoal’’
Enfoque: Superação do Ego – Identificação dos valores Espirituais

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ÍNDICE
01 - EV. Cap. VI Item 3 – O Consolador Prometido ......................................................................... 8
02 - EV. Cap. IV Item 24 – Limites da Encarnação ........................................................................ 10
03 - EV. Cap. XVII Item 11 – Cuidar do corpo e do Espírito........................................................ 12
04 - EV. Cap. IV Item 25 – Necessidade da Encarnação .............................................................. 14
05 - EV. Cap. XII 1,2 e 3 - Amai os vossos inimigos - Pagar o Mal com o Bem. ................. 16
06 - EV. Cap. V Item 3 – Justiça das aflições ................................................................................... 19
07 - EV. Cap. XII Item 5 – Os inimigos desencarnados ................................................................ 21
08 - EV. Cap. IX Item 1/5 – Injurias e violências ........................................................................... 24
09 - EV. Cap. XVII Item 8 – A Virtude................................................................................................ 27
10 - EV. Cap. XVII Item 7 – O dever ................................................................................................. 29
11 - EV. Cap. V Item 19 – O mal e o remédio ................................................................................. 31
12 - EV. Cap. V Item 6 – Causas anteriores das aflições.............................................................. 34
13 - EV. Cap. V Item 11 – Esquecimento do Passado ................................................................... 37
14 - EV. Cap. XI Item 11 – O egoísmo ............................................................................................... 40
15 - EV. Cap. IV, 5 – Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo................ 43
16 - EV. Cap. VII Item 11 – O orgulho e a humildade................................................................... 45
17 - EV. Cap. XI Item 8 – A lei de Amor ............................................................................................ 48
18 - EV. Cap. XVII Item 10 – O homem no mundo....................................................................... 52
19 - EV. Cap. III Item 6 – Causa das misérias humanas.............................................................. 55
20 - EV. Cap. V Item 12 – Bem Aventurados os aflitos – Motivos de resignação ................. 58
21 - EV. Cap. III Item 8 – Mundos inferiores e mundos superiores ......................................... 60
22 - EV. Cap. VIII Item 5 – Pecado por pensamento..................................................................... 63
23- EV. Cap. XVII Item 4 – Os bons espíritas .................................................................................. 65
24 - EV. Cap. XXVIII Item 38 – Preces para si mesmo: No momento de dormir. ................ 69
25 - EV. Cap. X Item 14 – Perdão das ofensas ................................................................................ 71
26 - EV. Cap. XXV Item 6 – Observai os pássaros do Céu ........................................................... 74
27 - EV. Cap. XIX Item 1 – O poder da Fé ........................................................................................ 76
28 - EV. Cap. V Item 20 – A felicidade não é deste mundo ......................................................... 79
29 - EV. Cap. XXV Item 1/5 – Ajuda-te, e o Céu te ajudará. ...................................................... 82
30 - EV. Cap. V Item 4/5 – Causas atuais das aflições ................................................................. 84
31 - EV. Cap. IV Item 4 – Ressurreição e Reencarnação.............................................................. 87
32 - EV. Cap. IX Item 9 – A cólera ...................................................................................................... 90
33 - EV. Cap. X Item 4 – Perdoai para que Deus vos perdoe ...................................................... 92
34 - EV. Cap. V Item 18 – Bem e mal sofrer .................................................................................... 93
35 - EV. Cap. V Item 21 – Perda de Pessoas Amadas ................................................................... 94
36 - EV. Cap. V Item 25 – A melancolia............................................................................................. 96
37 - EV. Cap. XI Item 1 – O maior Mandamento ............................................................................ 98
38 - EV. Cap. VI Item 1 – O jugo leve .............................................................................................. 101
39 - EV. Cap. V Item 23 – Os tormentos voluntários................................................................... 103
40 - EV. Cap. XIII Item 11 – A Beneficência .................................................................................. 105
41 - EV. Cap. XVII Item 3 – O homem de Bem (Caracteres da perfeição) ........................... 107
42 - EV. Cap. XVII Item 1/2 – Caracteres da Perfeição .............................................................. 110
43 - EV. Cap. XXIV Item 1/4 – Não coloqueis a candeia sob o alqueire ................................ 113

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01 - EV. Cap. VI Item 3 – O Consolador Prometido
Complementar: Autodescobrimento ‘‘“Uma busca Interior” - introdução

Se vós me amais, guardai meus mandamentos; eu pedirei a meu Pai, e ele vos
enviará um outro consolador, a fim de que permaneça eternamente convosco: O
Espírito de Verdade que o mundo não pode receber, porque não o vê e não o
conhece. Mas quanto a vós, vós o conhecereis porque permanecerá convosco, estará
em vós. Mas o consolador, que é o Santo-Espírito, que meu Pai enviará em meu
nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará relembrar de tudo aquilo que eu vos
tenha dito. João Cap. XIV v.15,16,17 e 26.

Presidido pelo Espírito da Verdade, o Espiritismo vem no tempo marcado para


cumprir a promessa do Cristo, traz a consolação com a compreensão das causas da
existência e a destinação do homem, sua preexistência antes do nascimento, sua
experimentação na vida física, e sua continuidade após o desencarne pelo fenômeno
biológico da morte.

O homem seria apenas um amontoado de células, vitimados pelos fatores de


hereditariedade e pelo acaso? A saúde e a doença, a felicidade e a desdita, a
genialidade e as patologias mentais, limitadoras e cruéis, seriam apenas ocorrências
e caprichos da eventualidade?
O ser humano simplesmente começa na concepção e anula-se com a morte?

Não negamos os fatores hereditários, sociais e familiares na formação da


personalidade, eles decorrem das necessidades da evolução, que impõem a
reencarnação no lugar adequado, propiciando recursos para o trabalho de
autoiluminação, de crescimento interior.

A doutrina espírita mostra que, sem uma visão espiritual da existência física, a
própria vida permaneceria sem sentido ou significado. Os conceitos materialistas,
aferrados a um mecanismo fatalista, cedem lugar a uma concepção espiritualista
para a criatura humana libertando-a do primarismo animal, das paixões atávicas que
ainda lhe são predominantes.

O Espírito imortal, também denominado princípio inteligente do universo,


simples, na sua constituição, liberta as complexidades que se lhe fazem necessárias
para o crescimento, qual a semente que se intumesce no seio generoso do solo, a
fim de alcançar o vegetal que é a sua fatalidade, ora dormindo no seu íntimo.
Ignorante quanto à sua destinação, desperta para a própria realidade mediante as
experiências intelectuais e vivências morais que o capacitam para as conquistas da
plenitude. À semelhança da semente, em razão da morte que lhe faculta o
surgimento do grão, o Espírito, na sua simplicidade inicial como psiquismo, não se
apercebe do anjo que se lhe encontra silencioso no âmago, e que um dia singrará os
infinitos rios da Imortalidade. Assim como o vegetal rompe a casca protetora da
semente, a fim de libertar-se; o mesmo ocorre com o ser humano que se vê envolto
pela forte carapaça que o encarcera e o aprisiona e que lhe deixam marcas profundas
de que devem ser eliminadas na razão direta em que se desenvolve e passa a aspirar
mais amplos espaços e a mais gloriosa destinação.

Enquanto não se conscientize das próprias possibilidades, o indivíduo aturde-se em


conflitos, foge para estados depressivos, mergulha em psicoses de vária ordem. A
necessidade do Autodescobrimento torna-se inadiável, favorecendo a recuperação
para o estado de harmonia, crescimento dos valores intrínsecos latentes, facultando
identificar-lhe os limites e as dependências, as aspirações verdadeiras e as falsas, os
embustes do ego e as imposturas da ilusão.

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Porque se desconhece, vitimado por heranças ancestrais – de outras reencarnações –
de castrações domésticas, de fobias que prevalecem da infância, pela falta de
amadurecimento psicológico, dominado pela conduta infantil dos prêmios e dos
castigos e outros, o indivíduo permanece fragilizado, susceptível aos estímulos
negativos, falta da autoestima, do autorrespeito, dominado pelos complexos de
inferioridade e pela timidez, tornando-se inseguro, autopunindo-se, e acreditando
merecer o sofrimento e a infelicidade, padecendo aflições perfeitamente superáveis,
pelo cuidadoso programa de discernimento dos objetivos da vida e pelo empenho em
vivenciá-lo. O propósito da Divindade para com as suas criaturas é a plenitude, é a
perfeição.

O ser consciente deve trabalhar-se sempre, partindo do ponto inicial da sua realidade
psicológica, aceitando-se como é e aprimorando-se sem cessar; com lucidez que se
autoanalisa, disposto a encontrar-se sem máscara, honesto consigo mesmo, não se
julga, nem se justifica, não se acusa nem se culpa. Apenas descobre-se. O ser
consciente é austero, mas sem carranca; é jovial, porém sem vulgaridade; é
complacente, no entanto sem conivência; é bondoso, todavia sem anuência com o
erro. Ajuda e promove aquele que lhe recebe o socorro, seguindo adiante sem cobrar
retribuição. Conhece as suas possibilidades, coloca-as em ação sempre que
necessário aberto ao amor e ao bem.

O autoamor ensina-o a encontrar-se, desvela os potenciais de força íntima nele


jacentes. A alo-estima (atitude central que tem interesse no outro) leva-o à
fraternidade, ao convívio saudável com o seu próximo, igualmente necessitado. A
oração amplia-lhe a faculdade de entendimento da existência e da Vida real. A
relaxação proporciona-lhe harmonia, horizonte largos para a movimentação. O
autoconhecimento se torna uma necessidade prioritária na programática existencial,
realiza-lo é iluminar-se.

Viver é um desafio sublime, e realiza-lo com sabedoria é uma bem-aventurança que


se encontra à disposição de todo aquele que se resolva decididamente por avançar,
autosuperar-se e alcançar a comunhão com Deus.

Perfeitamente identificado com os elevados objetivos da existência terrestre do ser


humano, Allan Kardec questionou os Espíritos Benfeitores: Qual o meio prático mais
eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir a atração do mal?

Eles responderam: - Um sábio da Antigüidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.


Livro dos Espíritos, 919.

Alguns requisitos para o autodescobrimento, com a finalidade de bem-estar:


- Insatisfação pelo que se é, ou se possui, ou como se encontra;
- Desejo sincero de mudança;
- Persistência no tentame;
- Disposição para aceitar-se e vencer-se;
- Capacidade para crescer emocionalmente.

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02 - EV. Cap. IV Item 24 – Limites da Encarnação
Complementar: Autodescobrimento ’’Complexidade das Energias”

Sob o ponto de vista terreno, a encarnação, podemos dizer é limitada aos mundos
inferiores; depende do espírito, por conseguinte, dela se livrar, mais ou menos
rapidamente, trabalhando para sua depuração. A materialidade do envoltório
perispirítico diminui à medida que o espírito evolui. Em certos mundos mais
avançados já é menos compacto, menos pesado e menos grosseiro, por conseguinte
menos sujeito aos sofrimentos. Num grau mais elevado é diáfano quase fluídico. O
perispírito transforma-se sucessivamente, ele se eteriza, até uma depuração
completa, que constitui os Espíritos puros. No estado errante (desencarnado), o
espírito está também em relação com a natureza do mundo ao qual se liga pelo seu
grau de adiantamento. Segundo o mundo a que o espírito é chamado a viver, ele
toma o envoltório apropriado a esse mundo. Quanto mais desmaterializado, mais
feliz, mais esclarecido ele é e em condições de tomar um melhor envoltório para sua
encarnação.

COMPLEXIDADES DAS ENERGIAS


O indivíduo humano é um agrupamento de energias em diferentes níveis de
vibração. Essa energia inteligente, na sua expressão original, como espírito,
condensa suas moléculas, constituindo o corpo intermediário (o perispírito), que se
concentra e congela suas partículas no corpo somático (o físico).
O perispírito como (MOB) Modelo Organizador Biológico, é o responsável pela
harmonização dos implementos de que o espírito se irá utilizar para o seu processo
evolutivo no corpo transitório. Cada pessoa é a soma das suas experiências
transatas, e sua mente é o veículo formador de quanto se lhe torna necessário para
o seu processo iluminativo. A análise do perispírito demonstra que a personalidade
resulta da experiência de cada etapa, mas a individualidade é a soma de todas as
realizações nas sucessivas reencarnações.

A consciência condutora é o Si eterno, o espírito imortal, preexistente e


sobrevivente, realizando inúmeras experiências da evolução, trabalhando em cada
uma, os valores que lhe jazem adormecidos – Deus em nós.

Na gênese da energia pensante, permanece ínsito o instinto primário das remotas


experiências, que se exteriorizam quando na área da razão, como impulsos,
tendências, fixações automatistas e perturbadoras, necessitando de canalização
disciplinadora, de modo a torná-los sentimentos, que o raciocínio conduzirá sem
danos nem perturbação.

Em seu crescimento interior, sofre o ser o efeito destas energias de que é objeto,
fazendo-se um quadro de congestão, responsável por campos enfermiços, energias
não eliminadas corretamente, que mantidas sob pressão, expressam-se em inibição,
igualmente geradora de outras patologias.

As doenças resultam, portanto, do uso inadequado das energias, da inconsciência do


ser em relação à vida e sua finalidade. Resultam do choque entre a mente e o
comportamento, o psíquico e o físico, que interagem somatizando as interferências.

O despertar do Si, enseja a compreensão de transmudar as energias, através da


vontade bem direcionada, encaminhando-as de uma para outra área e utilizando-as
de forma eficiente para o gozo da saúde.

Seja através do sofrimento ou mediante impulsos santificados do amor, as leis de


causa e efeito inscrevem nos seres o que se lhes faz necessário. Portanto a
transformação moral é fator preponderante para converter os instintos primários em
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força produtora de novas energias, ao invés de fomentar distúrbios da congestão e
da inibição.

Todas as energias poderão ser canalizadas sob o comando da mente desperta, para a
sua responsabilidade, criatividade e expressão divina, que demonstram sua origem.

O Eu consciente deve mediante exercício comunicar-se com todas as células que lhe
constituem o invólucro carnal, atendendo ao órgão que necessita de tratamento. A
consciência – o Si – deve atender a energia, nas suas diferentes manifestações,
interferindo com amor e dando-lhe ordens equilibradas para sua sublimação.

Diante de ocorrências viciosas, de acidentes morais e emocionais, cumpre faça um


exame circunstanciado, passando-se à conversação com o departamento afetado,
despertando-lhe as potências e liberando-as para o preenchimento das finalidades da
vida. Conversar terna e bondosamente, com as imperfeições morais, alterando-lhes o
curso, envolver os conjuntos celulares e envolvê-los em vibrações de amor;
estimular os órgãos com deficiência ou perturbação, a que voltem a normalidade.

O sentido inverso também e verdadeiro: a conduta desregrada, pensamentos


violentos, instinto agressivo, dão curso ao estado de violência, depressão, obsessão,
degeneração dos tecidos e órgãos que lhes sofrem a corrente contínua deletéria.

O tropismo Divino atrai as criaturas – a que às vezes nas sombras da inconsciência:


ignorância do Si – permanece nas faixas inferiores da evolução. Mas a lei do
progresso é Lei da vida, e assim surge o despertar pelo sofrimento, e a poderosa
Plenitude arrasta o Ser para a sua destinação fatal – a Perfeição.

Procrastinar a conscientização tem limite, porque a energia que é vida constitui-se do


Psiquismo Divino, e hoje ou mais tarde, liberta-se das injunções grosseiras que a
limitam momentaneamente. Neste esforço, faz-se viável o autoconhecimento como
primeiro tentame de crescimento psicológico. A necessidade de tornar a mente um
espelho, e postar-se defronte dela desnudo, é inadiável.

Somente um exame da própria realidade, observando-se sem emoção – o que


impede os sentimentos de autocompaixão como os de autopromoção, de justificação
e de culpa – consegue-se um retrato fiel do que se é, e do cumpre fazer-se para
mais amar-se e ajudar-se como segmento imediato do esforço.

Ninguém é culpado conscientemente de ser frágil, fragmentário, ocorrências naturais


do processo de evolução. Não obstante a permanência nesta postura denota
imaturidade psicológica ou manifestação patológica do comportamento.

Pensar bem ou mal é uma questão de hábito. Toda vez que ocorrer um pensamento
servil, doentio, perverso, malicioso, injusto, de imediato substituí-lo por um digno,
saudável, amoroso, confiante, justo, sustentando-se com a onda de irradiação do
desejo de que assim seja realizado. O que se pensa torna-se realidade. O novo
hábito irá se implantando lentamente no subconsciente até tornar-se parte
integrante do comportamento.

Sediando o Espírito, conforme a visão espírita assevera, a lei de Deus está escrita na
consciência. (perg.621 do LE), detentora da realidade, que pouco a pouco se
desvela. Nos alicerces do inconsciente se encontram todas as bênçãos, que
lentamente assomam à consciência, tornando-se patrimônio de lucidez, fazendo o ser
compreender que nem tudo quanto pode fazer, deve-o; da mesma forma que nem
tudo quanto deve, pode fazer; conseguindo a sabedoria de fazer somente o que deve
e pode como membro consciente que age de acordo com a harmonia cósmica.
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03 - EV. Cap. XVII Item 11 – Cuidar do corpo e do Espírito
Complementar: Autodescobrimento ’’ Interação Espírito/Matéria”

A perfeição moral consiste na maceração do corpo?

Dois sistemas se defrontam: os dos ascetas que querem abater o corpo e o dos
materialistas que querem rebaixar a alma; duas violências, que são tão insensatas
uma quanto a outra.

As relações que existem entre a alma e o corpo são necessárias um ao outro., é


necessário cuidar de ambos. Amai vossa alma, mas cuidai também do corpo,
instrumento da alma; desconhecer suas necessidades é desconhecer a lei de Deus.
Não o castigueis. Não sereis perfeitos martirizando o corpo, nem menos orgulhosos e
menos egoístas. A perfeição não está nisso, ela está na reforma do Espírito.

INTERAÇÃO ESPÍRITO MATÉRIA

O ser humano é um conjunto harmônico de energias, constituído de: espírito e


matéria, mente e perispírito, emoção e corpo físico, que se interagem em fluxo
contínuo. Qualquer ocorrência em um, reflete no seu correspondente, gerando
desequilíbrios, que exigem renovação na sua origem.

Desse modo os pensamentos em desalinho, emoções desgovernadas, mente


pessimista e inquieta, são de efeitos danosos na aparelhagem celular. Determinadas
emoções fortes – medo, cólera, agressividade, ciúme – provocam alta descarga de
adrenalina na corrente sangüínea. Essa ação emocional reagindo no físico, aumenta a
taxa de açúcar, a contração muscular, a rigidez, avoluma a irrigação do sangue e sua
se torna coagulação mais rápida. A repetição deste quadro provoca várias doenças:
diabetes, artrite, hipertensão, ..etc. Cada enfermidade física traz um componente
psíquico, emocional, espiritual correspondente que desajustam os núcleos de
energia, em processos degenerativos por viroses e bactérias que se instalam.

A ação do pensamento sobre o corpo é poderosa, considerando-se que este (o corpo)


é o resultado daquele (do pensamento), através das tecelagens delicadas do
perispírito (seu modelador biológico). Concentrado na mensagem que elabora,
termina por influenciar os neurônios, que lhe sofrem indução psíquica e passam a
produzir substâncias equivalentes (de bem estar ou de conflitos).

Quando a mente elabora conflitos, ressentimentos, ódios que se prolongam,


vinganças disfarçadas; os dardos disparados, desatrelam as células dos seus
automatismos, e se degeneram, surgindo as distonias emocionais e os tumores e
cânceres, em razão da carga mortífera que as agride. Quando a indução é demorada
e danosa, transfere-se de uma para outra existência, imprimindo no perispírito os
prejuízos causados que remanescem como provas ou expiações para o ser espiritual.

O desamor pessoal, complexos de inferioridade, mágoas sustentadas pela


autopiedade, são fontes de atritos orgânicos, resultando em cânceres de mama,
próstata, taquicardias, disfunções coronarianas, enfarto... Quando o indivíduo elege a
posição de vítima da vida, assumindo a lamentável condição de infelicidade,
encontra-se a um passo de perturbações graves.

A autocompaixão, a insistente reclamação da vida, a pseudo-aflição mantida,


converte-se em um mecanismo de valorização pessoal, cujo desvio plenifica o ego,
disfarça a insegurança e o complexo de inferioridade, recorrendo às transferências da
piedade por si mesmo, desenvolvendo indiferença pelos problemas dos outros,
fechando-se numa personalidade mórbida, e somente a sua situação é dolorosa;
12
digna de apoio e solidariedade, que muita vez recusa a fim de permanecer na
postura de infelicidade que o torna feliz.

O intercâmbio de correntes vibratórias (mente-corpo, perispírito-emoções,


pensamentos-matéria) é ininterrupto, atendendo aos imperativos da vontade que os
direciona conforme seus conflitos ou aspirações. Cada um é o que lhe apraz e pelo
que se esforça, não sendo facultado a ninguém o direito de queixa, pois todos
dispõem dos mesmos recursos, das mesmas oportunidades, que empregam segundo
seu livre arbítrio. O homem é o que acalenta no íntimo, sua vida mental expressa-se
na organização emocional e física, dando surgimento ao equilíbrio ou a desarmonia.

Conscientizar-se desta responsabilidade é despertar para valores ocultos, atribuições


e finalidades elevadas da vida, dando rumo correto e edificante à sua reencarnação.
É imprescindível um constante renascer, um renovar da consciência, aprofundando-
se no autodescobrimento, identificando-se com a realidade e absorvendo-a. O
autodescobrimento é uma tranqüila avaliação do que se é, e de como está,
oferecendo os meios para tornar-se melhor.

A compreensão da transitoriedade do percurso carnal, com os olhos fitos na


imortalidade de onde procede, em que se encontra e para a qual ruma, imprime-lhe
um destino feliz. Ninguém jamais sai da vida.

De imediato, discernir a própria escala de valores existenciais, elegendo aqueles que


merecem primazia e os que são secundários. Essa seleção de objetivos, dilui a ilusão
– miragens do ego – e estimula o emergir do Si que rompe com a inconsciência
(ignorância da sua existência) e passa assumir o comando das suas aspirações.

A partir desse momento o ser passa a criar-se a si mesmo de forma lúcida, desde
que, por automatismo, ele o faz através de mecanismos atávicos da lei de evolução.
Quanto mais consciente o ser, mais saudáveis os seus equipamentos. O pensamento
salutar e edificante flui pela corrente sangüínea como tônus revigorante das células,
mantendo a harmonia.

Todos necessitamos de viajar para dentro, a fim de nos descobrirmos,


desindentificando-nos daquilo que nos oculta aos outros e a nós próprios. Nesse
sentido a desindentificação do apegos e paixões surge como passo decisivo no
programa de libertação. O amor-próprio deve ser substituído pelo autoamor
profundo, sem resquícios egoísticos geradores de personalismos doentios. Um senso
de identidade normal transita entre os acertos e os erros, sem autoexaltação nem
autopunição, enfrentando as situações como parte do processo evolutivo que todos
encontram pelo caminho.

A emersão do Si, predominando no indivíduo é característica de cristificação, de


libertação do deus interno, de plenitude. É processo que deve começar
imediatamente, recorrendo-se às terapias próprias, aos recursos da oração, da
meditação, de um profundo estudo do silêncio íntimo e das ações edificantes. Essa
terapia decorre do autoamor, quando o ser se enriquece de estima por si mesmo,
descobrindo o seu lugar de importância sob o sol da vida, com alegria que reparte a
todos os demais.

13
04 - EV. Cap. IV Item 25 – Necessidade da Encarnação
Complementar: Autodescobrimento “Problemas da Evolução’’

A encarnação é uma punição? Não há senão espíritos culpados que a ela estejam
obrigados?

A passagem pela vida corporal é necessária para que possam cumprir os desígnios
de Deus; ela é necessária a eles mesmos porque a atividade a que estão obrigados
desenvolvem sua inteligência. Deus, que é soberanamente justo, considera
igualmente todos os seus filhos, dá a todos o mesmo ponto de partida, a mesma
aptidão, as mesmas obrigações e a mesma liberdade.

A encarnação é para todos um estado transitório; uma tarefa que Deus lhes impõe
como prova para uso do seu livre arbítrio. Aqueles que as cumpre com zelo, vencem
mais rapidamente, menos penosamente e gozam mais cedo dos frutos do seu
trabalho. Os que retardam o seu adiantamento, prolongam indefinidamente a
necessidade de reencarnar; isso, porém não é castigo, não é nenhuma punição, mas
sim a obrigação de recomeçar o mesmo trabalho para sua própria experiência e
aprendizado.

A encarnação tem um fim útil. Quis Deus que encontrando-se os espíritos em novas
reencarnações, tivessem ocasião de reparar os seus erros recíprocos, melhorarem
suas relações anteriores, assentar os laços de família sobre base espiritual, e apoiar
sobre uma lei natural os princípios de solidariedade, fraternidade e de igualdade.

PROBLEMAS DA EVOLUÇÃO
Em cada etapa nova, remanescem as ocorrências da anterior, em uma cadeia
sucessória natural. A criatura humana encarna-se e reencarna-se, repetindo as
façanhas existenciais até atingir o clímax que a aguarda; e através desse
mecanismo, abrem-se espaços a conquistas, mais amplas e complexas, assim como
um fracasso em determinado comportamento estabelece processos que impõem
problemas no desenvolvimento.

Pelas evocações inconscientes, ou sem elas, a criatura caracteriza-se,


psicologicamente, por atitudes de ser fraco ou forte, podendo, bem ou mal, enfrentar
os dissabores ou propostas de crescimento. Graças a essa conduta, se torna feliz ou
atormentada. Ninguém está isento do patrimônio de si mesmo, como resultado dos
próprios atos, o que constitui para o ser, um grande estímulo liberando-o dos
processos de transferência de responsabilidade para outrem ou para fatores
circunstanciais, sociais. Mesmo quando os imperativos genéticos insculpem situações
orgânicas ou psíquicas constritoras, esses ainda derivam da conduta pessoal
anterior, devendo ser considerados como estímulos e métodos corretivos,
educadores, a que as leis da vida recorrem para o seu aprimoramento.

O estado de humanidade já é conquista valiosa, no entanto é o passo inicial de nova


ordem de valores. O psiquismo evolve da insensibilidade inicial à percepção primária,
dessa à sensibilidade, ao instinto, à razão, em escala ascendente, passando à
intuição, e atingindo níveis elevados de interação com a Mente Cósmica.

Em se considerando o estágio de humanidade, os indivíduos mergulhados no


processo do crescimento, raramente se dão conta de que o sofrimento é fator de
aprimoramento e constitui instrumento de evolução. Quando imaturo, o ser lamenta-
se, teme e transforma o instrumento de educação em flagelo que o dilacera,
tornando-se desventurado pela rebeldia ou entrega-se ao desanimo, negando-se à

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luta e autodestruindo-se, sem dar-se conta. Surge então da falta de valor moral, os
transtornos depressivos, lamentável autoabandono, portanto de autocídio.

É lícito e natural que cada pessoa se considere humana, isto é, com direitos aos
erros e aos acertos; porém não incólume, não especial. Quando erra, repara; quando
acerta cresce. A evolução ocorre através de vários e repetidos mecanismos de erro e
acerto, desde os primeiros passos até a firmeza de decisão e de marcha.

A estrutura psicológica social – soma de todas as experiências, culturais, históricas,


políticas, religiosas – exerce uma função compressiva no comportamento do homem,
que se deve libertar mediante o amadurecimento pessoal. Reflexão e diálogo,
honestidade para consigo mesmo e para com o seu próximo, esforço constante para
a identificação dos seus limites e ampliação deles, constituem terapias e métodos
para transformar os problemas em soluções, as dificuldades em experiências
vitoriosas, crescendo sem cessar.

Os problemas, as dificuldades naturais, fazem parte do desempenho pessoal e da sua


estruturação psicológica. A vida são todos as ocorrências, agradáveis ou não, que
trabalham pelo progresso. Importante, desse modo, é manter-se o equilíbrio entre
ser e exteriorizar o que se é, sem conflitos, eliminando os estados de tensão
resultantes da insatisfação ou do comodismo, realizando-se interior e exteriormente.

Nesta luta, os conteúdos ético-morais da vida têm prevalência, devendo ser


incorporados à conduta que os automatiza, não mais gerando áreas resistentes à
autorrealização, e liberando-as para um estado de plenitude relativa, naturalmente
em razão da transitoriedade da existência física. A integridade e a segurança defluem
do que se é jamais do que se tem.

Há aqueles que afirmam ter problemas, e os cultiva sem cessar, há aqueles que têm
problemas, e não se encontram dispostos a enfrentá-los, a solucioná-los, esperando
que outros o façam, porque se consideram isentos de acontecimentos dessa ordem,
há os que vivem sob problemas, preservando-os mediante transferências
psicológicas continuadas, adiando as soluções no tempo e no lugar, ignorando-os e
ignorando-se.

Na maioria das vezes, porém, as pessoas são os problemas, que não solucionam
pequenos desafios, mas os transformam em impedimentos, deixando-se consumir
por desequilíbrios íntimos nos quais se realizam psicologicamente.

O ser psicológico, amadurecido, ama e confia, fitando o alvo e avançando para ele,
Sem Ter, Nem Ser problema na própria trajetória. Já não se compadece da própria
fraqueza, porém busca fortalecer-se; tampouco de considera inferior em relação aos
demais, por saber-se detentor de energias equivalentes. Mergulhado na harmonia
geral, contribuí conscientemente para mantê-la, observando-a e com ela se
identificando, observado e em sintonia, diante do conjunto que também o envolve no
ato de observar.

É indispensável, assim, que tome consciência de si, o que lhe independe da


inteligência, da atividade de natureza mental. A consciência expressa-se em uma
atitude perante a vida, um desvendar de si mesmo, de quem se é, de onde se
encontra, analisando, depois, o que se sabe e quanto se ignora, equipando-se de
lucidez que não permite mecanismos de evasão da realidade. Não finge que sabe,
quando ignora; tampouco aparenta desconhecer, se sabe. Trata-se, portanto, de
uma tomada de conhecimento lógico.

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05 - EV. Cap. XII 1,2 e 3 - Amai os vossos inimigos - Pagar o Mal com o Bem.
Complementar: Autodescobrimento “O Pensamento”

“...Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam e orai por aqueles
que vos perseguem e vos caluniam....Por que se não amardes senão aqueles que vos
amam, que recompensa disso tereis?... Sede, pois, cheios de misericórdia, como
vosso Deus é cheio de misericórdia’’ Evangelho Mateus, Cap.V.v.20; Lucas, cap. Vi
v.32 a 36.

O Amor ao próximo é o principio da caridade, e o amor aos inimigos é sua aplicação,


a virtude por excelência, a vitória sobre o egoísmo e o orgulho. Entretanto o sentido
da palavra amar está colocada em diferentes níveis de compreensão. Por exemplo,
não se pode ter a mesma ternura (que pressupõe confiança) que se tem com um
irmão e amigo, para com um inimigo. É difícil ter para com ele os transportes de
amizade que se tem em que se confia, ou se tem laços de simpatia, comunhão de
pensamentos; não se pode enfim ter o mesmo prazer ao se encontrar com um
inimigo do que com um amigo.

Esse sentimento resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão


dos fluidos; o pensamento malévolo dirige uma corrente fluídica cuja impressão é
penosa; o pensamento benevolente vos envolve de um eflúvio agradável, daí as
diferentes sensações que se experimenta à aproximação de um amigo e de um
inimigo.

Amar pois aos inimigos é não ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de
vingança; é perdoar-lhes sem segunda intenção e incondicionalmente o mal que
nos fazem, não opor nenhum obstáculo à reconciliação, é desejar-lhes o bem.

O PENSAMENTO
O que é o pensamento? O que é pensar bem? Quando sei que tenho bons
pensamentos?
O pensamento não procede do cérebro; este (o cérebro) é que tem a função orgânica
de registra-lo, vestindo-o de palavras, e externá-lo nas suas incontáveis
apresentações. O pensamento é exteriorização da mente, que independe da matéria
e por sua vez originada no Espírito. O Espírito possui a faculdade mental que
expressa o pensamento, utilizando-se do cérebro humano para comunicar suas
idéias.

Na sua fase primária, a expressão do pensamento é de forma instintiva, sensorial,


sem comunicação intelectiva de natureza verbal e clara. São impulsos que decorrem
das necessidades imediatas, exteriorizadas e atendidas.

Graças ao processo de crescimento, o ser passa para outro nível, no qual a fantasia e
a imaginação se apresentam, dando inicio aos cultos, sacrifícios aos deuses, etc. E
mais tarde, já instalado na era agrária, inspira-se nos fenômenos enriquecendo as
idéias mitológicas. É o período mágico do homem. A próxima fase é a da natureza
egocêntrica, caracterizada em ser o centro de tudo, tudo gira em torno do interesse
do ego, em detrimento do coletivo.

Mas é inevitável o progresso, e no crescimento mental, o pensamento faz-se lógico,


fundamentadas na razão, entendendo a realidade concreta da vida, os fenômenos e
suas leis, interpretando o abstrato, racionalizando em diretrizes equilibradas. O
raciocínio lógico exige formulação dados, e faculta estabelecer fatores de harmonia
que se aceita.

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Evoluindo mais ainda, o pensamento se torna então intuitivo (sintético), não mais
necessitando de parâmetros racionais, transcendendo o limite dos dados da razão
(analítica), expressando-se em forma inusitada no campo atemporal, viajando para a
área da paranormalidade, das percepções extrafísicas. Oportunamente ocorrerá que
o pensamento no campo intuitivo se transmitirá de um a outro cérebro,
telepaticamente, sem o impositivo da verbalização, da expressão material; sons,
cores, imagens, formas.

Na visão espírita: o ser espiritual, evoluindo desde simples e ignorante,


mentalmente plasma no cérebro a idéia, através das múltiplas reencarnações, desde
por meio do pensamento primitivo até o momento em que, desenvolvendo todas as
potencialidades que nele jazem, estas se desvelam e se fixam nos sutis painéis da
sua constituição energética. O mecanismo filogenético é manipulado pela mente que
programa a cerebração, pela qual então se exterioriza o pensamento.

O pensamento é incessante, flui quase sempre à nossa revelia; não nos tornamos
cônscios do nosso pensamento. Elabora-se suscitado por nossas reações emocionais
no dia-a-dia, consubstanciando respostas àquilo que vemos, ouvimos, cheiramos,
tocamos e degustamos. São reações aos vários desafios que vivenciamos nas nossas
relações com as pessoas, coisas, eventos.

Se empenhados, interessados, poderemos observá-los com atenção (esta é a


maravilha da mente humana: ela pode observar-se a si mesma em pleno
funcionamento) no exato momento da sua função; quando empenhados nisso,
vemos os nossos pensamentos, assistimos ao seu desenrolar, ao seu ordenamento e
condicionamento, tendo dele um percebimento preciso. Vemos o quanto ele
direciona o nosso comportamento, dirige-nos, determina a nossa conduta habitual.
Avulta-se em nós às coisas que nos prendemos, desde que nascemos ou que
inventamos, como se dissimulam e se mascaram, justifica-se, condena-se. Na
intensidade da compreensão disso tudo, cessa o seu império; se tenho uma viciação,
um hábito nocivo, posso percebê-lo, compreendê-lo, e a luz da compreensão cessa a
sua turbulência sobre mim. Temos de nos conhecer intimamente, globalmente, na
inteireza do nosso ser psicofísico: nossos impulsos e reações, desejos e frustrações,
anseios e apatias, preguiça ou atividade febril, força e poder; desindentificando-nos,
sem fragmentações psicológicas, sem projeções.

O perfeito conhecimento das nossas emoções e pensamentos é condição básica da


nossa saúde, ou de pronto restabelecimento quando enfermos. Os pensamentos
geram saúde ou toxinas no organismo de acordo com a sua espécie. Os pensamentos
de maldade, medo, ódio, invejam afetam as funções normais do organismo influem
sobre as secreções, geram venenos e têm como resultado a doença. Os pensamentos
de alegria e bondade, dão, realmente, saúde e alegria a quem os têm.

Pensar bem, portanto, é fator de vida que propicia o desenvolvimento, a conquista


da vida. Porque procede da mente que tem a sua sede no ser espiritual, o
pensamento é força viva e atuante, portanto exteriorização da Entidade eterna.
Conforme seu direcionamento manifesta-se, e sua educação é relevante, fator
essencial para enfrentamento dos desafios e encontro de soluções.

Em razão do mau hábito de pensar, os indivíduos asseveram que tudo quanto


pensam de negativo lhes acontece, e não se dão conta que são eles próprios, os
responsáveis pela própria criação mental que anelam inconscientemente. Alterassem
a forma de encarar a vida e de pensar, e tudo se modificaria, tornando a existência
mais apetecível e positiva.

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Sempre que se pensar a respeito de uma ocorrência desagradável que se espera
aconteça, e constate que a mesma sucedeu, estará na hora de alterar a maneira de
elaborar as idéias, construindo-as de forma edificante e positiva. Não desejamos com
isso afirmar que, com o simples fato de elaborar-se uma idéia, necessariamente,
acontecerá como se quer ou como se planeja. No entanto, a onda mental emitida se
transforma em fator propiciatório, que irá contribuir para tornar viável o desejo, que
deve ser acompanhado de empenho do esforço para torná-lo real, construtivo e
edificante.

Disciplinar e edificar o pensamento através da fixação da mente em idéias superiores


da vida, do amor, da arte elevada, do bem, da imortalidade, constitui o objetivo
moral da reencarnação, de modo que a plenitude, a felicidade seja a conquista a ser
lograda.

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06 - EV. Cap. V Item 3 – Justiça das aflições
Complementar: Autodescobrimento ‘’Conflitos e doenças’’
Enfoque: Despertar a consciência para suas incógnitas – autoanálise.

Pergunta-se, por que uns nascem na miséria e outros na opulência?


Por que para uns nada dá certo, e enquanto para outros tudo parece sorrir?
E o que se compreende menos ainda é ver os bens e os males tão desigualmente
repartidos entre o vício e a virtude; ver os homens virtuosos sofrerem ao lados dos
maus que prosperam.

A fé no futuro pode consolar e levar a paciência, mas não explica essas anomalias
que parecem desmentir a justiça de Deus.

Mas, desde que se admita Deus, não se pode concebê-Lo sem perfeições infinitas;
Ele deve ser todo poder, todo justiça, todo bondade, sem o que não seria Deus. Se
Deus é soberanamente bom e justo, não pode agir por capricho, nem com
parcialidade. As vicissitudes da vida têm pois uma causa, e, uma vez que Deus é
justo, essa causa deve ser justa. Eis do que cada um deve compenetrar-se bem.

As reencarnações comuns, invariavelmente são programadas pelos automatismos da


lei, que levam em conta diversos fatores que respondem pelas afinidades ou
desajustes entre os seres. E em outras circunstâncias, são planejadas por técnicos,
aproximando as criaturas, a fim de serem limadas as arestas, corrigir imperfeições
morais, desenvolver processos de resgates; facilitando a fraternidade, onde
reencontros são estabelecidos para realizações dignas e retificações impostergáveis.

Nada ocorre na vida por acaso ou por descuido da Consciência Cósmica impressa na
consciência individual. Os gravames severos são impressos pelo perispírito no físico
impondo limites e anomalias de natureza genética, propiciadores de expiação
compulsória, recurso enérgico para a reabilitação do indivíduo.

Constrangido a atuar mediante aparelhagem nervosa deficiente, nos limites de uma


organização somática que não lhe responde às necessidades, o espírito defraudador
das leis do equilíbrio universal, ressurge na Terra, sob a injunção de conflitos
inquietantes.

As Leis cármicas são o resultado das ações meritórias ou comprometedoras de cada


indivíduo, e geram efeitos correspondentes, estabelecendo a ponderabilidade da
Divina Justiça. São a resposta para que alguns indivíduos fruam hoje o que a outros
falta, ao mesmo tempo são a esperança para aqueles que lutam e anelam a
possibilidade próxima de felicidade. O fatalismo da evolução é a felicidade humana,
quando o ser, depurado e livre, sentir-se perfeitamente integrado na Consciência
Cósmica.

A dor é sempre a grande e anônima benfeitora que em nome da Vida, aprimora


caracteres, modifica as aspirações e logra o milagre de conduzir o espírito para as
sublimes cumeadas da sua destinação.

Muitas criaturas permanecem adormecidas – não conscientes da vida – obedecendo


aos automatismos, tornado-se instrumentos de sofrimento e dor para si mesmas, e
para os que lhes experimentam a presença, ou delas dependem.

Não são poucos os males que defluem de emoções, dos sentimentos e do


comportamento, que podem ser evitados e solucionados graças a uma atitude de boa

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vontade para consigo mesmo e para com os outros, permitindo-lhes o direito de
serem como são e não conforme gostaríamos que fossem.

A necessidade de cada um digerir os próprios problemas é indiscutível e inadiável,


devendo fazer parte da agenda diária de todo aquele que desperta para a consciência
de si, mediante uma cuidadosa autoanálise, sem caráter exigente nem condenatório,
honesta, na qual se dispensem o elogio, a condenação e a justificação, o indivíduo
deve permitir-se a identificação do erro, do problema, e sem consciência de culpa
digerir o acontecimento, (um percebimento integral de cada fato, sem
julgamento, sem compaixão, sem acusação, examina-lo com imparcialidade,
na sua condição de fato que é, com uma mente inocente, sem passado e
nem futuro, apenas presente, mediante honesta compreensão), é a forma
segura de o entender, de o perceber e digeri-lo convenientemente, sem dar margem
a novos comprometimentos, buscando os meios para reparação e a libertação do
sentimento perturbador. Abrir-se-á possibilidades inúmeras para o equilíbrio e
ajudará a desenvolver a tolerância em relação aos outros, produzindo harmonia
interior.

Realiza-se a primeira fase do estágio feliz, com uma resignação dinâmica ante o
infortúnio – a naturalidade para enfrentar o insucesso, negando-se a que interfiram
no bem-estar íntimo, que independe de fatores externos. Essa resolução rompe as
amarras de um carma negativo, face ao ensejo de conquistar mérito através das
ações benéficas e construtivas, objetivando a si mesmo, o próximo e a sociedade.
Basta uma atitude de desvalorização do problema, como quem deixa cair um fardo
simplesmente, ao invés de empenhar-se por atirá-lo fora. A manutenção dos
conflitos produz muito mais consumpção de forças.

A felicidade relativa é possível e se encontra ao alcance de todos, desde que haja a


aceitação dos acontecimentos e nem exigências de sonhos fantásticos; tampouco o
hábito pessimista de mesclar a luz da alegria com as sombras densas dos desajustes
emocionais.

Idear a felicidade sem apego e insistir para consegui-la; trabalhar as aspirações


íntimas, harmonizando-as com os limites do equilíbrio; digerir as ocorrências
desagradáveis como parte do processo; manter-se vigilante, sem tensões e nem
receios e se dará o amadurecimento psicológico, liberativo dos carmas de insucesso,
abrindo espaço para o autoencontro, a paz plenificadora.

Manter o propósito de renovação e autoaprimoramento, é resultado de uma


aceitação normal e de todo momento, da necessidade de autodescobrir-se, morrendo
para as constrições e ansiedades, os medos e rotinas do cotidiano. Desta ação
consciente, de que se impregna, o homem se plenifica interiormente sem neuroses
ou outros quaisquer fenômenos psicóticos, perturbadores da personalidade e da vida.

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07 - EV. Cap. XII Item 5 – Os inimigos desencarnados
Complementar: Autodescobrimento ‘’Distonias e suas conseqüências’’
Enfoque: Afinidades, sintonia e obsessões.

A morte não livra o homem da presença de seus inimigos, livra-o apenas


materialmente, mas estes continuam a persegui-lo com o seu ódio, mesmo depois de
ter deixado a Terra, e continua de uma existência a outra, se não se reconciliarem.
Se não se perdoarem, servem de instrumento à justiça de Deus para punir àquele
que não perdoou.

A maldade não é um estado permanente dos homens, é uma imperfeição transitória,


conseqüência natural da natureza inferior do globo terrestre, e do mesmo modo que
uma criança se corrige de seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia seus
erros e se tornará bom. Se não houvesse homens maus, não haveria espíritos maus
ao redor dela.

Pode-se, pois ter inimigos encarnados e desencarnados, e que são variedade de


prova da vida, que devem der aceitas com resignação, indulgência e benevolência
para com eles.

A palavra obsessão é, de certo modo, um termo genérico, pelo qual se designa esta
espécie de fenômeno, cujas principais variedades são: a obsessão simples (idéia
simples e perseverante), a fascinação (contínua e estonteante) e a subjugação
(possessão vencedora). Livro dos Médiuns, item 237.

Suas causas originam-se no passado culposo, em cuja vivência o homem,


desatrelado dos controles morais, arbitrariamente, permitiu-se ao abuso de toda
ordem, comprometendo-se: paixões exacerbadas, dominação absolutistas,
fanatismos, avareza, morbidez ciumenta, abuso do direito como força, má
distribuição de valores e recursos financeiros, aquisição indigna de posses, paixões
políticas, ganância, orgulho e presunção, egoísmo nas suas múltiplas faces.

A consciência perturbada renasce em formas de remorso, recalques, complexos


negativos, frustrações, ansiedades, que lhe impõe o auto-supliciamento, capaz, de
certo modo, de dificultar novos deslizes, mas ensejando, infelizmente, quase sempre
desequilíbrios mais sérios. Possuindo estes fatores predisponentes, (os débitos
exarados na mente espiritual culpada) faculta a simbiose entre as mentes,
encarnadas e desencarnadas.

DISTONIAS
Distúrbio espiritual de longo curso, a obsessão procede dos painéis íntimos do
homem, exteriorizando-se de diversos modos, com graves conseqüências em forma
de distonias mentais, emocionais e desequilíbrios fisiológicos. Distonia é a ruptura do
equilíbrio existente entre a consciência e o corpo, gerando a desarmonia psíquica, as
enfermidades, as obsessões.

Na raiz, portanto de qualquer enfermidade encontra-se a distonia do espírito, que


deixa de irradiar vibrações harmônicas, rítmicas, para descarrega-las com baixo teor
vibratório, decorrente da incapacidade geradora da fonte de onde procedem.

A energia que o Espírito irradia, preserva a harmonia psicofísica, resultante dos


pensamentos e atos a que o mesmo se afervora. Um ‘’erro’’ de comunicação entre a
consciência e o corpo, favorece a desorganização molecular, e encontrando
dissonantes os campos vibratórios, instalam-se as colônias microbianas, que passam
a predominar no organismo, e este cede espaço aos invasores maléficos.

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Exteriorizada a ação, mental ou física, as ondas de energias carregadas de força
viajam no rumo que objetiva, e, conforme a sua qualidade – positiva ou negativa –
potencializa e desconecta os núcleos perispirituais, resultando assim na perturbação
e ou receptividade a doenças.

E ainda, considerando-se os campos de força e afinidade que existem no universo, o


indivíduo sintoniza também, com os equivalentes ao seu teor vibratório, (há sempre
alguém pensando em noutrem) tornando-se hospedeiro de mentes e seres
enfermiços que pululam na psicosfera do planeta, já desencarnados, que passam a
exaurir-lhe as forças por osmose espiritual – obsessão – assim como pelas correntes
mentais que se exteriorizam das demais criaturas em cujo círculo movimenta
(encarnados).

Considerando-se o transtorno psíquico, deve-se ainda, examinar o comportamento


das pessoas que lhe foram vítimas, ou que participaram das veleidades nefastas, e
teremos um quadro obsessivo, derivado daquelas mentes em desalinho, interagindo
cobre a consciência culpada do reencarnado.

As descargas mentais penetram nas correntes nervosas dos neurotransmissores e


estimulam a eliminação de substâncias excessivas ou provocam alterações escassas,
significativas nos processos psicopatológicos. Além disso, durante o sono,
desprendido parcialmente, o enfermo - subentenda-se o devedor – reencontra suas
vítimas, seus comparsas, e foge para o corpo, transformando as lembranças infelizes
em expressões de pavor, que transfere para os estados de fobias, compulsão
obsessiva e outros.

Ademais, face ao seu nível de culpa, abrem-se as comportas da percepção e o


encarnado experimenta a captação de mensagens telepáticas dos adversários
espirituais, aumentando-lhe o pânico íntimo, o distúrbio mental em relação ao
equilíbrio e à realidade objetiva, perdendo o direcionamento da conduta, alienando-
se.

Em qualquer manifestação, quer de causas endógenas ou exógenas, o ser espiritual


é o responsável pela problemática, encontrando-se em processo de evolução moral,
carecendo de ajuda afetuosa para a conveniente erradicação do mal, através das
terapias próprias e da renovação interior, passo decisivo para a sua recuperação.

Jesus foi também o Senhor dos Espíritos, penetrando nas mentes em conflito,
arrancando de lá suas matrizes de fixação, por meio das quais os espíritos
obsessores se impunham; não libertou, no entanto, os obsidiados sem lhes impor a
necessidade de renovação e paz, por meio das quais reparariam a consciência
maculada pelas infrações cometidas; nem expulsou desapiedadamente os
obsessores, antes entregou-os ao Pai, a Quem sempre pedia proteção. Ensinou que a
terapêutica mais poderosa contra obsessões é o amor, vivência da caridade e da
auto-sublimação.

A interiorização do ser, a reflexão, o cultivo das idéias superiores, a terapia do passe,


a leitura salutar, a elevação moral, a alegria, o pensamento carregado de amor e
mais a oração, constituem valores que reparam as engrenagens do modelo
organizador biológico – o perispírito – restabelecendo a harmonia, refazendo os
campos psíquicos, os neuropeptídios e outras células nervosas, pelos seus valores
vibracionais positivos em favor de quem os mantenha, produzindo saúde pela
recomposição do equilíbrio psicofísico.

Não revidar o mal pelo mal é forma de amar, concedendo o direito de ser enfermo
àquele que se transforma em agressor, que se compraz em afligir e perturbar. À
22
medida que penetra a sonda do conhecimento no que se fazia ignorado, descobre-se
a harmonia em tudo presente, identificando-se com um fator comum, predominando
na Natureza – o amor – o que faculta a sua utilização de forma consciente em favor
de si mesmo como dos outros.

Sob o direcionamento do amor, anula-se, lentamente, a sombra, o lado mau do


indivíduo, criando campo para o perdão. É provável que, na primeira fase, o perdão
não seja exatamente o esquecimento da ofensa, apagando da memória a ocorrência
desagradável. Isso virá com o tempo, na medida que novas conquistas (hábitos)
forem sendo armazenados no inconsciente, sobrepondo-se e anulando as vibrações
disparadas contra o adversário e ao mesmo tempo desintegrando as resistências
daquele que as emite.

É atitude de sabedoria perdoar-se e perdoar, porque o amor é força irradiante que


vence as distonias; surge como expressão de simpatia que toma corpo, fonte
proporcionadora do perdão, sustentando os ideais, o progresso, desenvolvendo
valores elevados que caracterizam a criatura humana. Ínsito em todos os seres é luz
da alma, completando o ser, auxiliando-o na autossuperação, e os problemas
perdem o significado ante a sua grandeza, autorrealizando-se, conseguindo a
perdoar a tudo e a todos, a forma única de viver em plenitude.

23
08 - EV. Cap. IX Item 1/5 – Injurias e violências
Complementar: Autodescobrimento ‘’O Ser Emocional’’
Enfoque: Análise da emoção, direção e disciplina.

Haveis aprendido o que foi dito aos antigos: Não matarás... ”Mas eu vos digo que
todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, merecerá ser condenado pelo
julgamento; que aquele que disser tolo, merecerá ser condenado pelo conselho; e
aquele que lhe disser: Vós sois loucos, merecerá ser condenado ao fogo do inferno”
Mateus, cap. V, 21,22

Por que uma simples palavra pode ter bastante gravidade para merecer uma
reprovação tão severa?

A responsabilidade da injúria e do caluniador caminha do grau menor para o maior


em responsabilidade, e Jesus nem admite sequer, a hipótese de homicídio físico.
Temos na lição três estágios de condenação: 1º. O desgosto ou mágoa (encolerizar
contra seu irmão), que é um simples movimento emocional interno, sem repercussão
nenhuma exterior; 2º. O aborrecimento que se exterioriza na injúria, embora leve,
chamando a criatura de tola, numa demonstração de desprezo; e a 3º. A ofensa
grave e caluniosa, classificando a pessoa de louca, com isso causando prejuízos
morais graves, pelo desprestigio de irresponsabilidade a ela atribuída sem base na
verdade dos fatos.

Nos mostra o Evangelho que toda palavra ofensiva, injuriosa, exprime um


sentimento contrário à lei do amor e da caridade, um insulto à benevolência e à
fraternidade, que devem regular as relações dos homens, mantendo a concórdia e a
união. O ensino de Jesus enfatiza a brandura, a pacificação, a afabilidade e a doçura
que caracterizam o verdadeiro cristão, o verdadeiro homem de bem, possuidor
desses sentimentos contrários à violência, ao descontrole emocional.

PORQUE SOMOS TÃO VIOLENTOS?


A criatura humana é essencialmente um ser emocional, (pela sua própria estrutura
evolutiva), recém saído do instinto, demora-se no trânsito entre o primarismo e a
sensação, passando pela emoção, até chegar à razão, em processo de
conscientização. Mesmo após a intelectualização, acreditando possuir um grande
controle da emoção, dela (da emoção) não se liberta como a princípio gostaria.

No processo da evolução, o ser desenvolvendo-se dos instintos, liberta-se dos


atavismos fisiológicos automatistas para transformar a emoção em sentimentos
nobres. Na fase inicial possui apenas sensações em predomínio no comportamento,
vinculando-o ao primarismo, exteriorizando-se em prazer e dor, satisfação e
desgosto. Estas experiências vividas deixaram impressões profundas no
comportamento pessoal, social e principalmente psicológico. Impulsos e reações
fazem parte desse processo. Somente pouco a pouco a manifestação psicológica se
expressa rompendo a cadeia das necessidades físicas para se apresentarem como
emoções. Nesse processo o ser é ainda prisioneiro dos desejos imediatos e grosseiros
da sobrevivência, com insights de percepção. Lentamente vai superando o
egocentrismo, desabrochando os sentimentos e valores morais. Lento é o curso de
mudança da faixa grosseira do imediatismo para as sutilezas da emoção dignificada.

O largo trânsito pelos impulsos do instinto deixou condicionamentos que devem ser
reprogramados, para que as emoções superem a carga dos desejos e do utilitarismo
ancestral. Para libertar-se desta constrição é necessário racionalizar as emoções,
descondicionando o subconsciente, retirando os estratos nele armazenados e
substituindo-os por idéias otimistas e aspirações éticas. É comum deparar-se com a
fase da sensação-emotiva, quando há um descontrole no sistema nervoso e o
24
excesso de emotividade domina o comportamento, não acostumado que está às
expressões de beleza, da sinceridade, do amor, facilmente se deixa comover,
derrapando o desequilíbrio perturbador, no entanto, passo inicial para o clima de
harmonia que o aguarda.
Nos relacionamentos interpessoais, a emoção exerce um papel relevante,
contribuindo para o êxito, a afetividade e a convivência feliz. Mas antes de
exteriorizar-se como seria ideal, exige todo um curso disciplinante, uma análise
profunda, para converter-se e expressar-se na conduta adequada.
Cada indivíduo deve analisar a própria emotividade, identificando aquelas
embotadas, exaltadas, indiferentes, apaixonadas e as de estímulos superiores.

Se embotada não registra manifestações da afetividade, buscando apenas as


sensações rudes; se exaltada, perde a diretriz, deturpando manifestações de carinho
e discernimento; se indiferente, ignora o rumo da sua exteriorização, morrendo; se
apaixonada, está a um passo da alucinação, com remanescentes dos instintos
fisiológicos onde predomina os desejos, o egocentrismo. Somente quando estimulada
por objetivos enobrecedores estabelece a emoção um mecanismo de auto realização
e integração.

Na natural escalada para os níveis de consciência desperta, é justo examinar-se:


1) Como se reage diante de si próprio: analisar cuidadosamente as nossas
reações emocionais diante dos desafios – se reagimos com cólera, com ciúme,
com mágoa, revide, ódio, inveja, complexo de inferioridade, consciência de
culpa.....No trabalho de libertação desses verdugos, é necessário o
desenvolvimento da emoção, estabelecendo as linhas da manifestação
equilibrada.

2) Qual a nossa conduta em referência ao próximo: como são nossas reações


diante do outro; nossos hábitos de como enfrentamos as situações: se com
retraimento, suspeita, narcisismo, aparência de conhecer toda a verdade, se com
medo, loquacidade, presunção, insegurança pessoal.
O indivíduo tranqüilo, portador da confiança em si mesmo, não se atormenta
quando em situações desafiadoras, agindo com serenidade, sem a preocupação
exagerada de parecer bem, de fazer-se detestado, de eliminar o outro ou de
sobrepor-se a ele. É natural e espontâneo, aberto ao relacionamento, dialoga
com suave emotividade, respeita as idéias e a conduta do outro, sem abdicar das
suas próprias, nem mascarando-as para agradar, ou exibindo-as para impô-las.

3) De que forma desenvolvemos os valores íntimos em relação a si e aos


demais: fazendo-se doador, livre de exigências, sem paixões, vinculando-se e
amando, ou liberando-se sem ressentimentos, constatando sempre que em todo
relacionamento há sempre aprendizado e convivência enriquecedora. No equilíbrio
da emoção, libera-se da queixa, das frustrações, vivendo cada momento sem
angústias nem ansiedades. Se não encontra reciprocidade no outro, nem por isso,
deve o ser asfixiar a sua emoção, temeroso dos relacionamentos, isolando-se ou
assumindo posturas alienadas, pois não são as circunstâncias que se fazem
responsáveis pelo bom ou mau humor, mas a forma pessoal como a ela se as
encara.

Defronta-se o ser, com uma nova proposta, a do desenvolvimento da inteligência


intrapessoal, que se responsabiliza pelo relacionamento social, pela observação e
acompanhamento das ocorrências, pela capacidade de poder discernir, respondendo
de forma consciente aos variados estados espirituais, aos diferentes temperamentos
com os quais se deve lidar, aos cuidados que devem ser direcionados no trato com
as demais pessoas, que extrapolam à robotização intelectual. Em razão disso é
necessário harmonizar emoção e pensamento, de forma que se ajudem mutuamente,
25
a emoção dando calor à razão, que por sua vez, oferecerá entendimento ao coração,
evitando sempre a permanência em uma única vertente da realidade que constitui o
ser humano.

Cumpre ao ser humano, ser essencialmente emocional, a canalização dessa força


para a dinâmica da autossuperação, lembrando sempre que ninguém, em fase
normal do desenvolvimento, passa sem vivenciar o alto potencial da emoção, dínamo
gerador de estímulos e forças para realizações expressivas, promovendo àqueles que
a comandam. O esforço bem direcionado, o cultivo das idéias enobrecedoras e o
trabalho edificante promovem de uma para outra faixa todo aquele que aspira à
libertação da fase primitiva em que ainda estagia.

26
09 - EV. Cap. XVII Item 8 – A Virtude
Complementar: Autodescobrimento ‘’Incursão na Consciência’’
Enfoque: Busca da realidade do Ser - Interiorização.

A virtude consiste no conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o


homem de bem. Ser bom, caridoso, laborioso, moderado, modesto. Aquele que exibe
a sua virtude, não é virtuoso, pois que lhe falta a qualidade principal: a modéstia, e
tem o vício contrário: o orgulho. A virtude tem o desinteresse completo e um inteiro
esquecimento de si mesmo.

O homem que faz o bem sente no fundo do coração uma satisfação íntima, mas
desde que essa satisfação se exteriorize para receber elogios, degenera-se em amor-
próprio, em egocentrismo.

Por mais que se justifique os prazeres equívocos, não os tornaremos morais ou


legais, mesmo que transitoriamente abonados por leis humanas falsas. A consciência
desperta sob a inspiração de Deus não os sancionará. A ansiedade, obnubilando a
razão, ante a falsa necessidade do gozo, produzirá certamente uma amarga
decepção e tédio, sob a carga a que se impõe.

A virtude é uma graça, um estado de ser, natural e espontâneo, um estado de


humildade, um estado de consciência do que se é, de como se esta, o que pode e o
que deve fazer.

Consciência e Virtude

A origem da vida remonta à Deus, encontra-se no Psiquismo Divino, aglutinando


moléculas e estabelecendo a ordem, consubstanciando a realidade do ser. Etapa à
etapa, através dos vários reinos, a consciência embrionária desdobrou os germes da
lucidez latente até ganhar o discernimento. Adquirir a consciência plena da finalidade
da existência na Terra constitui a meta máxima da luta inteligente do ser.

Também é virtude, viver equilibradamente: é a proposta de quem deseja realizar-se


no encontro dos valores legítimos da existência. A vida e a morte, já não se lhe
afigura desagradável, por vivenciá-las, sentindo-se o mesmo no corpo ou fora dele,
interiorizando-se cada vez mais, sem perder o contato com o mundo físico e social,
experimentando o mundo irreal – o físico – para o real – o transpessoal – gerador de
todas as coisas.

É virtuosa a consciência que descobriu os valores reais da vida e superou os


equívocos do ego no processo da evolução do ser espiritual, selecionando as
necessidades reais das utópicas, identificando-se com esse mecanismo dos objetivos
humanos, sabendo da rapidez do trânsito carnal, consciente de que sé espírito, que
já se está na imortalidade, preservando a paz íntima com os recursos inalienáveis do
bem, comportando-se com as diretrizes da ordem e do dever, fomentando por sua
vez o progresso geral, exercitando-se na fraternidade.

O reino de luz é interno, os olhos espirituais – a mente lúcida – desce ao abismo da


individualidade iluminando as trevas da ignorância e os meandros sombrios das
experiências passadas que deixaram marcas psicológicas profundas, que ressumam
negativas no ser.

As paixões primitivas, os impulsos orgânicos propelem para a comodidade, a


satisfação dos instintos, o imediatismo do prazer, a fuga da dor; em detrimento da
meta essencial: a libertação dos processos determinantes dos renascimentos carnais.
A atração do exterior conduz e atormenta o indivíduo, afugentando-o de si mesmo
27
num rumo difícil de ser mantido. Somente através de um grande empenho da
vontade é possível olhar para dentro, pesquisar as possibilidades disponíveis,
identificar-se com os objetivos da vida, da sua realidade, o que fazer, quando e como
realiza-lo.

Trata-se de tarefa que exige intenção lúcida, até criar o hábito da interiorização. É
uma experiência urgente - desagradável nas primeiras etapas, pois que resulta da
falta deste exercício salutar - mas vencida a primeira fase, começam a produzir
leveza e rapidez de raciocínio.

Delimitando o Reino dos Céus, no coração humano, Jesus propôs o mergulho no


oceano dos sentimentos, sobrenadando a criatura no mar da harmonia, sem
ansiedade, nem arrependimento, sem perturbação ou tormento, não obstante se
encontre no invólucro carnal, vivendo de tal forma que ante a desencarnação se
encontra em paz, com a naturalidade de quem adormece sabendo da certeza do
despertar.

Jesus assinalou os momentos de consciência profunda, objetiva e lúcida, ao afirmar:


‘’Eu e meu Pai somos um’’. Havia uma perfeita identificação entre Ele e o Gerador
Universal, acenando ao ser humano a possibilidade da consciência integral com a
plenitude pessoal, a integração do espírito no Espírito total da Vida. E Allan Kardec,
interessado na elucidação da perfeição humana, pergunta aos Espíritos, conforme
aparece na pergunta 967 dos Livros dos Espíritos:

- Em que consiste a felicidade dos bons espíritos?


- Em conhecerem todas as coisas, em não sentirem ódio, nem ciúme, nem inveja,
nem ambição, nem qualquer das paixões dos homens. O amor que os une lhes é
fonte de suprema felicidade. Não experimentam as necessidades, nem os
sofrimentos, nem as angústias da Vida material. São felizes pelo bem que fazem.

Estas são as qualidades do homem virtuoso, acrescentamos nós.

28
10 - EV. Cap. XVII Item 7 – O dever
Complementar: Autodescobrimento ‘’Consciência Responsável’’
Enfoque: dever e responsabilidade.

Onde começa o dever moral? Onde se detém? Como precisá-lo?

O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a


tranqüilidade do vosso próximo; e, termina no limite que não gostaríeis de ver
ultrapassado em relação a vós mesmos.

O dever íntimo do homem está entregue ao seu livre arbítrio, à sua consciência; e
freqüentemente está em antagonismo com os as seduções do interesse e dos
desejos do seu coração. A igualdade diante da dor (Deus criou a todos nas mesmas
condições) é providência para que não se cometa o mal argumentando-se pela
ignorância dos seus efeitos. O mesmo critério não existe para o bem, que deve ser
praticado infinitamente o mais variado possível.

O dever é obrigação moral, diante de si mesmo e dos outros. É lei da Vida. O homem
que cumpre o seu dever ama a Deus, às criaturas e a si mesmo.

Consciência, dever e responsabilidade.

Amai-vos uns aos outros! Disse Jesus. O conhecido mandamento, quase um


imperativo, é uma súplica por parte daquele que sabe da dificuldade em ser
atendido. Faz dois milênios que o homem, fala ou ouve falar de amor ao próximo.
Mas amor assim tão grande e excelso, não temos ainda nós. Uma capacidade de
amar a ponto de nos esquecermos a nós mesmos, num total altruísmo, numa
abnegação e dedicação isenta de mínimo interesse, sem motivações; uma
capacidade assim não temos; não temos em nós ainda essa tamanha força, dado ao
nosso entendimento. Mas, se, em vez desse acendrado amor, darmos o nosso
respeito, a nossa compreensão?

O senso de justiça é inato no espírito humano, mas em seu nome muitas iniqüidades
se têm cometido. Educaram-nos para que fossemos respeitáveis, ouvimos muito falar
de direitos e deveres, em responsabilidades, e a suscetibilidade do ser humano,
transformou-se em aguda manifestação do amor-próprio, e nos ofendemos com
muita facilidade, condicionados que fomos aos conceitos de honra, de deveres e
responsabilidades, mas as pessoas realmente sensíveis, não são apenas respeitáveis,
são sim respeitadoras, não vivem a clamar por seus direitos, embora os reconheçam
sempre no seu próximo.

Respeitar a todas as criaturas que andam com nós, a começar pelo mais próximo.
Não agredir tanto os outros, não cobrar tanto os outros, deles não exigir tanto. Viver
pacientemente com aquilo que tem. É bela a mulher que vive com o marido, que
participa da vida dele com carinho, e que nunca se compara às outras. É igualmente
belo o marido carinhoso, que à mulher compreende e ampara, auxiliando-a nos
mínimos afazeres. Vivem eles inteligentemente e deslembrados dos preconceitos que
a sociedade impõe. É tolice forçar situações, circunstâncias e soluções. É inteligência
estarmos dinamicamente compassivos aos problemas existenciais, porque compõem
a vida em si mesma. Isso é respeito. Respeito à vida, aos outros e a si mesmo. E
esse respeito surge da compreensão, da compreensão não resistente, não desejosa
de mudanças no outro, naquilo que aqui está, naquilo que nos rodeia, das pessoas
com as quais convivemos. Se bem compreendermo-nos uns aos outros, se nisso nos
empenharmos, já há calor no coração, já há amor; já não há mais dever imposto,
29
uma imposição, mas, uma espontaneidade, uma naturalidade, um estado de espírito,
um modo de ser.

A responsabilidade maior é aquela conquistada pelo amadurecimento psicológico,


pela conscientização perante a vida, inerentes à evolução; e pela compreensão, que
é o percebimento do processo pelo qual a vida vive em si mesma, em nós e ao
nosso redor; da compreensão que suscita profundo respeito ao outro, ao perdoar as
suas carências, compreender as suas insuficiências e necessidades em plenitude, de
tal forma amoroso, que nunca precise perdoar, simplesmente porque nunca se
ofende. Quem compreende não tem ressentimentos, frutos da incompreensão.

É provável que não sejamos assim amorosos, donde a necessidade da observação


constante de nós mesmos. Da inteligente e amorável compreensão, decorre a nossa
felicidade. Mais que isso, a nossa felicidade é a própria compreensão; é um estado
de ordem e harmonia, e esta ordem e harmonia se implantam quando
compreendermos, e quando compreendemos, respeitamos, e se respeitamos,
amamos. Do amor constelado de que falam o Cristo, o Buda e os Espíritos de Luz,
talvez não saibamos, talvez nem possamos ainda saber. Mas da compreensão que
suscita em nós o fundo respeito ao próximo, sabemos, ou já podemos saber.

A consciência do dever e a compreensão da responsabilidade traz a sua própria


disciplina. Não aquela disciplina de conceituação à Lei, presa à letra ou limite
estabelecido, que leva os indivíduo a agir cegamente, responsável por massacres,
guerras e crueldades; mas à disciplina que surge da própria compreensão. A
compreensão do caos e da desordem, que leva à ordem, à clara inteligência, a
consciência lúcida, que nos livra dos temores das superstições e liberta-nos dos
preconceitos, porque já não se firma mais nos conceitos.

A visão do ser imortal, espírito eterno temporariamente reencarnado, contribui


grandemente para entender a nossa responsabilidade no mundo; responsabilidade
que nos foi dada e que pode ser imediatamente tirada pela nossa oportunidade de
experiênciá-la. Considerando-se a experiência física, um breve período de
aprendizagem na larga faixa das reencarnações sucessivas, ultrapassando os limites
de horizontes estreitos e curtos, o ser adiciona ao conceito da responsabilidade os
contributos do amor, identificando os melhores meios para agir, quando pode e deve
agir – o que significa, com consciência responsável – não se precipitando a
tomar decisão, quando deve, mas não pode, ou quando pode mas não deve –
responsabilidade inconsciente.

O ser responsável, por sua vez, é aquele que se desincumbe fielmente dos seus
deveres e encargos, que responde pelos próprios atos ou pelos de outrem, tornando-
se de caráter moral, quando defende os valores éticos pertencentes aos outros e à
vida.

Em o Livro dos Espíritos, questão 919, Santo Agostinho, responde à Allan Kardec;
quanto ao meio mais prático de se melhorar nesta vida:

- Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha
consciência, passava em revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não
faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim
que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma.

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11 - EV. Cap. V Item 19 – O mal e o remédio
Complementar: Autodescobrimento ‘’Consciência e Sofrimento ’’
Enfoque: Desenvolvimento da consciência, sofrimento como processo de maturação
do ser.

A Terra não é um lugar de delicias, a voz do profeta apregoou que haveria pranto e
ranger de dentes, e aquele que aí está, deve esperar por lágrimas e penas amargas;
mas bendizei o Senhor por ter querido vos experimentar, não detenham vossos
olhares nos horizontes marcados da morte, olhem para a eternidade da vida, da
glória reservada àquele que tiver suportado a prova com FÉ, AMOR E RESIGNAÇÃO.
Procurai pois consolações no futuro e as causas dos seus males no passado; e vós,
que sofreis mais, considerai-vos os bem aventurados da Terra. No estado de
desencarnado, escolhestes as vossas provas, porque acreditastes bastante fortes
para suportá-la; vós que pedistes a fortuna e a glória, era para sustentar a luta da
tentação e vencê-la. Vós que pedistes lutar de corpo e alma contra o mal moral e
físico, é porque sabíeis que quanto mais a prova seria dura, mais a vitória seria
gloriosa, e que se dela saísses triunfantes, em sua morte, ela deixaria escapar uma
alma brilhante de brancura e tornada pura pelo batismo da expiação e do sofrimento.

O SOFRIMENTO
O sofrimento purifica? Dizem os identificados com as doutrinas esotéricas, as
religiões, os teólogos, os místicos e os ascetas, que a dor leva ao céu; todos, louvam
a dor centrada na ascese espiritual. Será mesmo assim? A dor realmente purifica o
ser humano?

Tomemos um exemplo: num hospital de leprosos (hansenianos), encontraremos


pessoas extraordinárias, em elevado grau de espiritualidade: pensadores profundos,
poetas sensibilíssimos, espíritos amantes da música e das artes em geral, em suma,
criaturas de exceção, purificadas pelo sofrimento? Não mora ali, o espanto, o medo,
a revolta da perda acelerada, a dor maior de todos os anseios, dos sonhos, dos
amores? Não encontraremos ali, o aviltamento a degradação e a indignação, nos
olhos, nos gestos, no ódio ao abandono, à internação compulsória? E também os
vícios, ligados à negação dos valores morais e religiosos? Por que então a afirmativa
‘’bem-aventurados os que choram, que deles é o reino dos céus?

Na verdade é bem-aventurado o que sofre, quando o seu sofrimento é o sinal


evidente, a manifestação objetiva da mutação interior. O reino do céus, configura em
essência uma vivência diversa da que em geral conhecemos, vivência que floresce e
se expande, não por causa do sofrimento, mas em meio de sofrimento.

No insight da intensiva mutação moral, o sujeito sofre uma dor de parto, uma
transformação das suas potencialidades, a sua individuação como meta do homem, a
sua cristificação, a integração maior do ser humano, que Jesus no Sermão do Monte,
chamou de Perfeição. Sofre a dor do despojamento total daquilo que configura o
‘’eu’’; no agudo percebimento de si mesmo, há um desmoronar de conceitos, uma
queima das idéias tradicionais, de opiniões, e valorizações; de todo um
condicionamento psicológico; é uma desindentificação com todo o processo
identificado como ‘’eu’’.

Essa dor, ocorre concomitantemente com qualquer enfermidade física, característica


desse nosso mundo, imenso hospital/escola, cuja tônica maior ainda é a lágrima e
cujo fim aparente é a morte e putrefação. O estado de fé nesse homem, é um estado
de espírito, um estar e ser sumamente receptivo, aberto ao cosmo da mesma forma
que a flor se entreabre à luz, isento de resistência. Nele se intensifica a Vida, força
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que o vivificou e o trouxe ao mundo; por ela se deixa permear, num total
despreendimento, dele a Vida cuida. Nesta dinâmica passividade, ele enxerga,
escuta, sobretudo sente. Neste estado de fé, ele trabalha, come, dorme, realiza os
atos existenciais, com naturalidade, suave espontaneidade e profunda paz interior.

CONSCIÊNCIA E SOFRIMENTO

Lento é o desabrochar da consciência, constituindo o processo contínuo da evolução;


de dentro para fora, desenvolve-se a consciência com o esforço da vontade. Nesse
desenvolvimento, rompe com a obscuridade – a inconsciência – constituindo o
processus de maturação e libertação do Espírito, o ser imortal, para conseguir a
plenitude. Nesse processo é inevitável o sofrimento, como meio natural da ocorrência
evolutiva.

Mergulhado na sombra da desindentificação de si mesmo, o indivíduo permanece


mergulhado no estado de consciência coletiva amorfa, embrutecido, perdido no
emaranhado dos instintos primitivos, das paixões primárias, em nível de sono sem
sonhos, sem autoidentificação, sem conhecimento da sua realidade espiritual. Assim
como a pedra bruta precisa de lapidação para libertar-se das impurezas, sofre o ser,
mediante a dor, que gera sofrimentos psicológicos, físicos e morais, propelindo-o ao
esforço da sublimação, para o despertar, pela ignorância da necessidade de evoluir
(estágio de adormecimento da consciência), porque não sabe ainda eleger as
aspirações, perturbando-se na contínua busca das necessidades fisiológicas
(sensações) em detrimento da suas emoções psicológicas. ). E nesse mecanismo, as
leis se interagem, onde cada ato gera um efeito correspondente a que ninguém pode
se eximir. O processo de ação e reação é Lei que reeduca o indivíduo.

O despertar para a individuação é acompanhado do sofrimento, qual um parto


transcendental, que proporciona o desabrochar da vida. Esta, a Vida, trouxe-o até
aqui, e agora (neste estágio) pede para com ela a sua consciência (a consciência do
homem para com a Vida). Na consciência do que deve ou não fazer, cabe-lhe aplicar
a correção dos impulsos, do que deve ou não realizar, de forma a conseguir a
harmonia (ausência de culpa). Toda vez que se equivoca, ou propositadamente erra,
repete a experiência até corrigi-la (é provação), e, se insiste teimosamente no
desacerto, expunge-o em mecanismos de dor sem alternativa ou escolha (é
expiação).

O sofrimento pois, estrutura-se nos painéis da consciência, conforme o nível de


lucidez em que se expressa. A princípio asselvajado, bruto, primitivo; depois
automático; em seguida humanitário, e no seu final ao martírio e em plenitude por
abnegação. Desde grosseiro e instintivo ao profundo, racional, a noção de
responsabilidade trabalha a culpa, que imprime no espírito a reparação, como
recurso de recuperação. Instalada a culpa, instalam-se os conflitos que se transferem
de uma para outra vida, dando surgimento aos distúrbios psicológicos, que podem
também desarticular as sutis engrenagens do corpo perispiritual – o modelo
organizador biológico – propiciando as anomalias congênitas – físicas ou psíquicas,
ou instaladas no ser profundo, favorecendo os carmas perturbadores, rudes aflições
morais, sociais e financeiras.

A fatalidade da Lei Divina é a perfeição, e alcançá-la é a proposta da Vida. O amor é


o sentimento que dimana de Deus, e este (o amor) é o antídoto eficaz para todo o
sofrimento, de acordo com a nossa resposta a esse impulso grandioso e sublime. A
postura amorosa desperta a consciência de si mesmo, anula os fluidos perniciosos
liberando o sofrimento. Graças à sua ingerência, altera as paisagens cármicas do
32
Espírito, modificando os painéis dos sofrimentos, mudando-o de expressão,
tornando-o instrumento do próprio amor.

A melhor receita para o sofrimento é a atitude da postura amorosa, o interesse


amoroso, favorável ao desdobramento do amor profundo, não se fazendo afligente,
advertindo e guiando os movimentos para a direção final, como recurso exato para
trabalhar a Lei de Compensação ou de Causa e Efeito, alterando-a para melhor ou
dando-lhe um sentido de felicidade.

33
12 - EV. Cap. V Item 6 – Causas anteriores das aflições
Complementar: Autodescobrimento ‘’Exame do Sofrimento’’
Enfoque: Ação e reação.

Por que alguns seres são tão infelizes e vivem ao lado, até mesmo sob o mesmo
teto, dos outros favorecidos sob todos os aspectos? O que dizer de crianças que
morrem em tenra idade e não conheceram senão o sofrimento? Se fossemos todos
criados no nascimento ao mesmo tempo que o corpo, o que fizeram essas almas,
para suportar tantas misérias neste mundo e merecer uma recompensa ou uma
punição qualquer, quando não puderam fazer tanto o bem como o mal?

Todo efeito deve ter uma causa, essas misérias são efeitos que devem ter uma causa
e, desde que se admita um Deus justo, essa causa deve ser justa. Uma causa
precedendo sempre um efeito, uma vez que não está nesta vida atual, deve ser
anterior a ela, que dizer, pertence a uma existência precedente.

SOFRIMENTO: AÇÃO E REAÇÃO – O CARMA – LIVRE ARBÍTRIO - DETERMINISMO

O princípio da ação e reação, é estabelecido pela física por Isaac Newton, que assim
se expressa: Toda vez que se exerce uma força sobre um ponto, tem-se
reciprocamente, uma força igual e contrária. Portanto, a reação é igual à ação, e lhe
é absolutamente contrária.

Há um espaço entre a ação e a ideação, é ai que o livre arbítrio exerce o seu papel e
temos além dele, a extensão do móvel do arbítrio, que é ação, sempre comprometida
com a reação que lhe corresponde.

O arbítrio é a faculdade de agir, mas ainda não é ação; é a vontade não direcionada,
livre, e há o determinismo da Lei, que é a reação suscitada pela ação, sobre a qual
não temos domínio nenhum. Cingidos por essa Lei (ação e reação) não somos
‘’propriamente livres’’, podemos pensar livremente, sentir, planejar, desejar, mas
fazer...........já é ação que provoca reação contrária de igual intensidade.

Os acontecimentos que envolvem as criaturas, pela Lei Divina de ação e reação, são
de duas categorias: os delineados e os reflexivos:
- os primeiros (delineados), judiciosamente programados por Espíritos Siderais,
prevêem fatos marcantes na etapa reencarnatória: tempo de vida física,
condições orgânicas adequadas ao roteiro que deva ser seguido, sendo também
delineadas as condições sociais, financeiras e profissionais; além dessas,
igualmente são programadas as doenças graves, acidentes inesperados e outros
fatos expressivos, tais como a constituição de família e pessoas com as quais será
longa a convivência, sempre objetivando aparar arestas com tais pessoas;
- já os fatos reflexivos, são gerados pelo livre-arbítrio e abrem-se em infinito
leque de possibilidades; alguns, inclusive, alteram substancialmente aos
delineados: ora é alguém que mantém-se solteiro, apesar da previsão de unir-se
a outra pessoa e com ela formar lar com filhos; ora é um casamento desfeito, por
ausência de tolerância, ocasionando prejuízos graves à criação dos filhos; ora é
alguém que deveria seguir determinada carreira profissional e desiste na última
hora, quando tudo já estava arranjado; noutro caso, revoltado com a pobreza, o
indivíduo torna-se criminoso e faz fortuna, à custa de crimes; em outra
circunstância, abusando de drogas, de vícios, de excessos de toda natureza, ou
mesmo da prática de maldades, a pessoa desestrutura seu tônus vital, físico e
espiritual, vindo a desencarnar muitos anos antes da programação elaborada a
seu benefício por aqueles Benfeitores.

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Em todos esses casos, onde não se cumpre o previsto, os fatos não ficam
cancelados, como pode parecer: simplesmente ficam adiados, para vidas futuras.
Cedo ou tarde os débitos terão que ser resgatados. Não há inflexibilidade ou
fatalismo, o que há é sublime dinâmica de merecimento, por atos positivos ou
negativos, os quais podem alterar parcialmente citados programas (roteiro
existencial), segundo a segundo.

O carma é o efeito das ações praticadas nas diferentes etapas da existência atual ou
nas pretéritas. Quando os seus atos são positivos, seus resultados caracterizam-se
pela qualidade (momentos felizes, afetividade, lucidez, progresso, novos ensejos de
crescimento), quando atua com insensatez, vulgaridade, perversão, rebeldia,
odiosidade, recolhe sofrimentos (provas e expiações), que são ações reparadoras de
complexos mecanismos que respondem como necessidade iluminativa do indivíduo.

Em virtude da Divina Justiça, cada ser está em seu próprio lugar. Todas as tentativas
da criatura em fugir de si mesma, esquivar-se, negar-se, gera sanções naturais
decorrentes da lei de ação e reação, que a recambia ao seu próprio lugar, nisso não
há castigo, nenhum ato de Deus, mas decorrência pura e simples da incúria (falta de
cuidado, negligência) e da ignorância humana.

A própria lei da hereditariedade encontra-se submetida à lei de compensação,


unindo os seres em grupos afins, conforme as suas simpatias, afinidades e
desarmonias, vinculando-os com características semelhantes, impressas nos genes e
cromossomas pela necessidade de evolução. Desse modo cada um traz impresso nas
tecelagens sutis do perispírito, os conflitos, as doenças, as limitações que lhes são
necessárias, recompondo os condicionamentos, as tendências, as aptidões,
reparando a ordem perturbada pelo seu descaso, abuso ou prepotência.

Os sentimentos, as emoções e os pensamentos, constituem a psique do ser, por isso


cada indivíduo é responsável por si mesmo, tornado-se o co-criador com Deus, na
elaboração dos equipamentos para a sua evolução através do veículo carnal.

O carma está sempre em processo de alteração, conforme o comportamento da


criatura, se aquele que o experimenta resolve mudar as suas atitudes, aprimorando-
as e desdobrando-as em prol do bem geral, no que resulta em bem próprio. Não
existe na Lei Soberana, a fatalidade ao mal, mas sim a do princípio permanente do
bem.

Há um instante em que a ideação se faz ação. Surpreender e compreender esse


instante é sabedoria, a ciência do bem viver, o autodescobrimento, a autolibertação.
É preciso sejamos inteligente para discernir sobre o sim e não, o fazer e o não fazer:
de início não será assim ‘’intuitivo’’ o percebimento desse espaço gerador da ação; a
vontade intervirá ditando e determinando opções, gerando alegrias no acerto e
tristezas nas derrotas, porém com o tempo (mas sem depender dele) será
espontâneo, independente da vontade, intuitivo.

A consciência não é inteligência no sentido mental, mas, a capacidade de estabelecer


parâmetros para entender o bem e o mal, optando pelo primeiro e seguindo a diretriz
do equilíbrio. Na percepção da sua individualidade e à medida que progride, o ser
percebe a necessidade de integrar-se harmonicamente na Unidade Universal,
desenvolvendo as possibilidades latentes, os seus recursos atuais, descobrindo que
os seus acertos e erros produzem ressonância na Consciência Cósmica, da qual
procede e para cuja harmonia ruma de retorno.

Portanto o carma deriva da conduta da consciência, e tem a qualidade do nível de


percepção que a tipifica; a consciência nos seus variados níveis de evolução,
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consubstancia a programação das ocorrências futuras, nos quais o ser conquista a
evolução. O carma e a consciência seguem juntos, o primeiro como decorrência do
outro.

A tarefa de cada um deve começar pelo condicionamento correto, a qualificação


superior das emoções, a sublimação dos sentimentos que se exteriorize em ações
equilibradas em consonância com a ética do bem, do dever e do progresso. Assim
como o impulso menos feliz vem de dentro para fora, da mesma forma o de natureza
edificante vem da mesma nascença, então orientada corretamente.

Esse esforço, o da transformação da nossa natureza inferior para o das emoções


enobrecidas, alonga-se em trabalho paciente, modelador do novo ser, que enfrentará
seus carmas, consciente de si mesmo, responsavelmente, sem reações destrutivas,
mas com ações renovadoras.

Em o Livro dos Espíritos, pergunta 984, Kardec interroga aos Espíritos de Luz: ‘’As
vicissitudes da vida são sempre a punição das faltas atuais?’’
Resposta: “Não; já dissemos: são provas impostas pela Lei de Justiça, ou que vós
mesmos escolhestes como Espíritos, antes de encarnardes, para expiação das faltas
cometidas em outra existência, porque jamais fica sem reparação as infrações
cometidas as leis de Deus. Se não for punida nesta existência, sê-lo-á
necessariamente em outra. Eis por que um, que vos parece justo, muitas vezes
sofre. É a reparação do seu passado.’’

Refaze, pois a tua vida, a todo momento, para melhor, mediante os teus atos
saudáveis. Constrói e elabora novos carmas, liberando-te dos penosos que te pesam
na economia moral. Amplia desse modo, os tesouros da tua consciência, e o teu
carma se aureolará de luz e paz, que te ensejarão plenitude.

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13 - EV. Cap. V Item 11 – Esquecimento do Passado
Complementar: Autodescobrimento ‘’O inconsciente’’
Enfoque: O perispírito, a memória e o esquecimento.

Se Deus julgou conveniente lançar um véu sobre o passado, é porque isso devia ser
útil. Com efeito, essa lembrança teria graves inconvenientes; poderia, em certos
casos, nos humilhar estranhamente, ou exaltar o nosso orgulho, e, por isso mesmo,
entravar o nosso livre arbítrio; em todos os casos traria perturbação nas relações
sociais.

Freqüentemente, renascemos no mesmo meio, a fim de repararmos o mal. Se


reconhecêssemos as que odiamos, talvez o ódio se revelasse; e seria humilhado
diante dos ofendidos. Deus nos deu para o nosso adiantamento a voz da consciência
e nossas tendências instintivas, e nos tira o que poderia nos prejudicar. Ao nascer, o
homem traz o que adquiriu, cada existência é um novo ponto de partida; pouco lhe
importa saber o que foi, é nisto que deve concentrar a sua atenção.

O esquecimento somente ocorre na vida física. Reentrando na vida espiritual, o


Espírito retoma as lembranças do passado, na verdade não as perde jamais, o
Espírito tem consciência de seus atos anteriores, ele sabe porque sofre e que sofre
justamente.

O INCONSCIENTE E O ESQUECIMENTO

O inconsciente é o conjunto dos processos que agem sobre a conduta, mas que
escapam à consciência atual. Podemos distinguir duas formas de inconsciente: o
psíquico ou subcortical (pertencente ao espírito), e o orgânico ou cortical
(pertencente ao físico).

O inconsciente coletivo (criado por Jung) é tudo aquilo que traz no indivíduo a
presença da experiência da raça, decorrentes da estrutura hereditária do cérebro
humano. O Id (Freud) e os Arquétipos (de Jung – depósito de mitos, fantasias,
lendas, superstições) correspondem ao fisiológico, ao instintivo e automático. O
inconsciente coletivo e o Id, seriam portanto o registro mnemônico das
reencarnações anteriores de cada ser, que se perde na sua própria história.

A moderna visão da psicologia transpessoal, entretanto, demonstra que a consciência


cortical (pertencente ao físico) não possui espontaneidade, e que ela se manifesta
apenas sob as ocorrências do mundo onde se encontra (linguagem, movimentos
motores) e que é o inconsciente psíquico ou subcortical que se encarrega da
inteligência e das memórias (campo perispiritual).

Para o Espiritismo o ser subcortical é o Espírito, que através do perispírito (cuja


memória é preexistente), se encarrega do controle da inteligência fisiológica e suas
memórias, das áreas dos instintos e das emoções, das faculdades e funções
paranormais, abrangendo inclusive as ocorrências mediúnicas.

Felizmente o ser não tem consciência de todas as ocorrências do córtex, que as


registra automaticamente – inconsciente cortical – pois se o conhecera, tenderia sua
vida psíquica a um total desequilíbrio. Todos os funcionamentos automáticos do
organismo dão-se sem a participação da consciência, o que lhe constitui verdadeira
bênção. Esquecendo-se temporariamente das razões de amor ou ódio, dos
impositivos de resgates, tem o espírito que reencetar as tarefas, por tendências,
afinidades ou desagrados que motivaram aproximação ou repulsa das pessoas com
as quais é chamado a viver. Sejam quais forem, porém, os motivos, a cada um cabe

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superar as dificuldades e vencer as animosidades, logrando êxito no
empreendimento reencarnacionista, sem o que seria improfícuo, senão pernicioso.

O transitório esquecimento do passado facilita o recomeço, com amplas


possibilidades ao entendimento e à cordialidade. Lembrasse o espírito dos motivos da
antipatia ou do amor, vincular-se-ia apenas aos seres simpáticos, afastando-se
daqueles por quem se sentiu prejudicado, complicando indefinidamente a libertação
das causas infelizes. Assim é que o filho revel retorna como pai, a esposa ultrajada
na condição de mãe, o criminoso ao lado da antiga vítima, etc.

Reduzem-se os nossos oitenta ou cem anos na Terra a um átimo, face à eternidade


do espírito. Nascer e morrer é uma luz que se acende e apaga imediatamente.
Perceber isso é ter princípio de paz.
O que tem nos tirado a calma e a serenidade mental, senão a vivência ilusória dos
sonhos de grandeza social, a que nos apegamos no medo de ser nada e ninguém?
Mas essa grandeza é fugaz, é instável tanto quanto a transitoriedade do mundo. Os
bens visíveis que a configuram e sustentam são perecíveis, quebram-se, enferrujam-
se, tornam-se pó. Perceber isso em profundidade, altura e extensão,
multidimensionalmente, é liberdade, é paz. Vós conhecereis e a Verdade e a Verdade
vos libertará! Ensinou Jesus.
Pergunta-se o indivíduo: Não devo então neste mundo me esforçar e me desesperar
para ser famoso, rico, bajulado pelos desesperados, cegos, surdos e mudos pelo
espírito? Não é preciso então que me compare aos demais, inveje os mais bem
aquinhoados, repositórios felizes que parecem ser, mais bafejados de benefícios? Se
então não devo ser famoso nem rico, nem poderoso pela posição social ou política,
pela minha intelectualidade, pela falsa virtude, que devo então eu fazer neste
mundo? Por que estranhos mistérios aqui me encontro?
Ao fazermos vitalmente essa pergunta, do fundo do nosso empenho e interesse,
somos tomados de um agradável espanto, uma inefável alegria, e a nossa
imortalidade nos dirá: Se a sua destinação fosse este mundo, nele você se
eternizaria. A transitoriedade da vida na Terra, não lhe diz nada? Se ela fosse o
grande objetivo da Vida, nela, Ela se eternizaria, não morreríamos nunca, o nosso
corpo seria eterno. A sua destinação é essencialmente a espiritual. O primado do
Espírito prova-se pela sua eternidade e na Terra você se encontra, porque está
doente; quando veio para cá já estava doente, aqui está para se curar. Deslembrado
estás da Vida Espiritual, e a seu próprio benefício, a memória terrena apenas
registra os fatos atuais; mas aqui renascestes para se conhecer, desenvolver a
sensibilidade para as coisas do Espírito, para a sua infinitude e eternidade.
Mas, que doenças eu tenho, se me sinto bem, como bem, durmo bem, também
trabalho bem e vivo bem neste mundo?
E em virtude do nosso interesse, da nossa contenção de espírito, a voz continua: É
que você está doente dos sentidos: da ira, da gula, da preguiça, do orgulho, da
pretensão que o engana e o faz pensar que deve ser maior do que é; doente da
hipocrisia, vaidade, revolta, insatisfação, impiedade, doente de desamor; e tem que
se curar. Para isso nasceu aqui, tem mãe, pai, marido, mulher, filhos, onde uns
ajudam-se aos outros, socorrem-se e perdoam-se mutuamente as faltas, as
ofensas, os deslizes.

Qual o objetivo da vida?


Responde-nos Joanna: “ Adquirir a consciência plena da finalidade da
existência na Terra constitui a meta máxima da luta inteligente do ser”.
Autodescobrimento, pg. 47.
O arbítrio (manifestação da vontade em si, não direcionada) é o instrumento dessa
participação. Esta não vem depois da existência vivencial, mas dela é uma extensão
espontânea - VIDA E MORTE SÃO EXTENSÃO - Eu sou Espírito hoje, agora, não

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preciso morrer para ser Espírito. Estou na eternidade agora, como estive e sempre
estarei.
Temos de nos conhecer na multidimensão do nosso ser mais profundo, onde se
elaboram, fortificam-se ou se enfraquecem as tendências, segundo a atuação do
nosso meio ambiente e o nosso empenho em fortifica-los ou fragilizá-los, para que se
anulem.
É preciso pesquisar o espírito, descobri-lo, saboreá-lo, até o fundo do nosso ser, no
que tem de superior, no que o liberta do irresistível psiquismo terrestre, libertando
conseqüentemente da necessidade de retornar a Terra, então estará vivendo no
íntimo mais profundo de uma extraordinária religiosidade.
Nessa nova vivência, você é livre, amoroso, interessado no processo da VIDA, que
não difere do da MORTE, já não condena ninguém, já não busca justificativas para os
desmandos, para os despautérios, para os erros e nessa nova maneira de viver,
atencioso, participante, você liberta-se deste mundo; nele, você até nasce, fica,
envelhece e morre; mas não é dele mais.

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14 - EV. Cap. XI Item 11 – O egoísmo
Complementar: Autodescobrimento ‘’O subconsciente e o inconsciente sagrado’’
Enfoque: .Percepção psicológica – identificação e desindentificação com o ego.

‘’Se os homens se amassem mutuamente, a caridade seria melhor praticada, mas,


para isso, devem vos desembaraçar dessa couraça (o egoísmo) que cobre vossos
corações a fim de serdes mais sensíveis. A dureza mata os bons sentimentos, sede
caridosos, esforçai-vos por não mais notar aqueles que vos olham com desdém,
deixai a Deus o cuidado de toda justiça.
O egoísmo é a negação da caridade, filho do orgulho, fonte de todas as misérias,
monstro devorador de todas as inteligências, sendo preciso extirpá-lo do coração’’.

Em o Livro dos Espíritos, Pergunta 9l3, Kardec interroga aos Espíritos: Dentre os
vícios, qual o que se pode considerar radical? E a resposta: ‘’Temos dito muitas
vezes: o egoísmo. Daí deriva todo o mal’’.

Como saber do nosso egoísmo? Como percebê-lo em nós? Quais as formas


que ele se reveste?

Os pensamentos e atos – logo após arquivados no subconsciente – programam as


atitudes das pessoas, que podem aflorar à consciência com os seus conteúdos,
alterando assim os seus comportamentos. O subconsciente é o arquivo próximo das
experiências, é automático, destituído de raciocínio, estático, mantendo fortes
vinculações com a personalidade. Reflete-se nos sonhos, lapsos orais e de escrita
(atos falhos), e é responsável pela conduta moral e social do indivíduo, portanto das
suas formas de parecer e ser aquilo que é. O hábito e o cultivo dos pensamentos, de
qualquer natureza, tornam-se as substâncias que formam a personalidade. Essas
identificações expressam-se nas áreas fisiológica – como sensações – e na
psicológica – como emoções, predominantes, ocupando o espaço mental,
perturbando o indivíduo ou conduzindo-o às suas metas.

Em virtude do atavismo predominante na sua natureza, o homem guarda ainda as


primeiras expressões da consciência em nível inferior, no qual confunde o eu
(espírito) com o objeto (o corpo), e a sua é somente uma percepção sensorial, uma
identificação de consciência orgânica (com o próprio corpo), deformada, da qual se
libera pouco a pouco, avançando para outros níveis de discernimento e
direcionamento. A característica fundamental desse estágio inferior é a prevalência
dos conteúdos negativos e a fragilidade do Eu profundo ante as exigências do Ego.

O inconsciente profundo, também chamado de sagrado, além de constituir a essência


do indivíduo, é também o depósito das experiências do Espírito eterno; a soma de
muitas reencarnações, nas quais esteve na condição de personalidades
transitórias cujos conteúdos psíquicos transformados em atos, experiências,
realizações, decorrentes do ambiente, das circunstâncias, e reminiscências das
existências passadas foram-lhe incorporados e ali estão armazenados
respondendo pelo comportamento do ser, e dão nascimento à sua individualidade,
ao processo da individuação.

À medida que o ser se conscientiza da sua realidade, transfere-se de níveis,


identificando-se com os seus conteúdos psíquicos, motivando-o ao entendimento e
autopenetração profunda, com a sabedoria resultante do conhecimento e do amor,
cujos valores o tornam tranqüilo, não insensível; afetuoso, não apaixonado. Sua
visão alarga-se, e o sentimento do amor desindividualiza-se, com gratidão aos que
antes passaram e prepararam a senda, desponta-lhe complacência para os que ainda
não despertaram, amplia-se a capacidade de ajuda aos que estão empenhados, e
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agiganta-se afetuoso em ralação ao futuro. Atingindo os níveis superiores de
consciência, lentamente abre comportas psíquicas que se assinalam por traços
dessas percepções até imergir no inconsciente profundo.

Diante dessas possibilidades, o indivíduo, lentamente, deixa todos os apegos –


remanescentes do ego -, todos os desejos – reflexos perturbadores do ego – todas
as reações e impulsos – persistência dominadora do ego, levando-o a identificar-se
com Deus em tudo em todos, desindentificando-se com o ego, inundando-se de
equilíbrio e de confiança, sem pressa nos acontecimentos, sem ressentimento nos
insucessos, sob o direcionamento da realidade imortal do inconsciente sagrado.

A batalha mais difícil de ser travada ocorre no mundo íntimo e são conduzidas pelo
Ego e pelo Eu. O primeiro comanda as paixões, num reinado de egoísmo cego e
pretensioso, é herança animal a ser direcionada, o maior adversário do Eu. Este, o
Eu, é a individualidade cósmica, que impele para as emoções do amor e da
libertação, aguardando o momento da dissipação da fumaça do Ego, para brilhar em
plenitude.

O ego encontra-se nas aparências, o disfarce é a sua estratégia, dissimulando os


sentimentos para se apresentarem bem, conforme o figurino vigente, do conveniente
social, do agradável estatuído, do conforme desejado, na ilegítima identidade que
mascara o ser humano em expressões de engrandecimento que permanecem
enclausuradas no íntimo, sob camadas de medo, indiferença e de acomodação. O
Ego mente, calunia, estimula a sensualidade, a ganância, o ódio, a inveja e trabalha
com a insensatez. O Eu, desculpa, renuncia, humilda-se e serve sem cessar, jamais
barganha ou dissimula.

A libertação dos conteúdos negativos – paixões dissolventes, apegos, ilusões,


sentimentos inferiores (em razão dos quais a marcha se torna lenta) - de forma
penosa, não raro, faculta outras conquistas, novos valores, nas quais o bem estar e a
paz formam novos hábitos, a nova natureza do ser.

Muitos ainda temem serem conhecidos nos seus sentimentos éticos, nos seus
esforços de saudável idealismo, tachados que são esses valores, pelos pigmeus
morais, como sentimentalismos, fraquezas de caráter. Esses confundem coragem
com impulsividade; força com expressões do poder e da dominação; vivendo sem
liberdade, desdenham os libertos; esquecendo que a verdadeira liberdade está na
consciência.

A existência humana é um constante desafio. Cabe ao ser, logicar para agir, medir
possibilidades e produzir, trabalhando pelo aprimoramento interior, que responde
pela harmonia psicofísica do seu processo evolutivo. As tendências atuais são indícios
do que resta corrigir, e à falta de uma lembrança precisa dos erros do passado (que
lhe poderia ser penosa), a consciência do bem lhe adverte, dando-lhe novas forças
para resistir.

O indivíduo deve descobrir a realidade do seu Inconsciente, identificando-se assim


com o seu eu total, permitindo-se conhecer as necessidades do seu progresso,
desarticulando os resíduos das experiências negativas. Através da consciência
desperta, do pensamento lógico e consciente, e do autodescobrimento encontra-se
consigo mesmo e seus arquivos, que guardam as impressões passadas que geram as
dificuldade no atual. É inestimável propiciar-se este encontro pela oração, para
suavizar-lhe os sentimentos, as aflições; e pela meditação, instrumento precioso
para autoidentificação e mergulho consciente nas estruturas, liberando o
inconsciente das impressões, ao invés de esmagá-lo ou asfixiá-lo, e, mais ainda, de o
conscientizar, aumentando o entendimento da realidade e compreensão ficando com
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mais campo livre das imagens perturbadoras ensejando a harmonia e novas
condutas para o futuro que assomarão como recursos elevados.

No inconsciente estão a presença de Deus, do Espírito, e das percepções em torno da


Divindade; ignorar essas possibilidades, é romper com os mecanismos que nos
levariam à compreensão de Deus, da Alma e da Vida Imortal. Não cesses de lutar,
nem temas a refrega, Ego humano deve ceder o seu lugar ao Eu cósmico, fonte
inesgotável de amor e de paz.

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15 - EV. Cap. IV, 5 – Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.
Complementar: Autodescobrimento ‘’Busca da Unidade’’
Enfoque: Nascer de novo, consciência da reencarnação.

Respondendo à Nicodemus, Jesus lhe diz: Em verdade, em verdade vos digo:


ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo. Se um homem não nascer
da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é
carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não vos espanteis do que eu vos disse
que é preciso nascer de novo. O Espírito sopra onde quer, e ouvis sua voz, mas não
sabeis de onde ele vem e para onde ele vai.

Para o conhecimento da época, a água era o elemento gerador absoluto da vida,


símbolo da natureza material, e o espírito era o da natureza inteligente. Estas
palavras exprimem pois: Se o homem não renasce com o corpo e com sua alma...., o
que está justificado na seguinte expressão: o que é nascido da carne é carne, e o
que é nascido do espírito é espírito; indicando claramente que o corpo procede do
corpo, mas o espírito é independente do corpo. No que diz ainda: o espírito sopra
onde quer, não sabeis de onde ele vem nem para onde ele vai. Da água, também
podemos entender, do líquido amniótico (no útero materno) e do espírito, em uma
nova personalidade no mundo terreno.

Sem o princípio da preexistência da alma e da pluralidade das existências, a maior


parte das máximas do Evangelho são ininteligíveis; esse é o princípio e a chave que
lhes deve restituir o seu verdadeiro sentido.

Entre os povos da Antigüidade era conhecida como a palingenesia, e atualmente


denominada Metensomatose pelos modernos investigadores, a reencarnação é a
mais excelente demonstração da justiça de Deus. Significa o retorno do Espírito
tantas vezes quanto necessária para o seu autoburilamento.

Nascer de Novo – Um novo sentido - Busca da Unidade

A aquisição da consciência é o resultado de um processo incessante, através do qual


o psiquismo de agiganta desde o sono, na força aglutinadora das moléculas, no
mineral; à sensibilidade, no vegetal; ao instinto, no animal; e à inteligência, à
razão, no homem. Essa marcha é desafiadora, e deve ser empreendida e realizada
quando luz a conscientização do processo de evolução do ser, que não pode tardar,
despertando-se para a responsabilidade em torno da vida, desenvolvendo todas as
possibilidades latentes como condição de herança de Deus no íntimo de cada ser,
cooperando no conjunto harmônico, sendo plenos por sua vez, em si mesmos.

Conduzindo a herança atávica por onde transita, retendo-se ainda nas amarras do
instinto, o ser está fadado à plenitude em virtude da sua natureza energética que o
liga à angelitude. Esforçando-se pela aquisição de consciência, vem liberando-se do
instinto, das paixões e adquirindo experiências superiores, sublimando as
expressões, sutilizando a própria organização física, desenvolvendo a inteligência,
penetrando nas potencialidades transcendentes da intuição, e favorecendo a origem
de onde procede.

Analisando-se a lei de causa e de efeito, os imperativos da evolução fazem-se


mediante o ressarcir e reparar dos enganos, dos erros, dos delitos, retificando-os e
aprimorando as tendências superiores, que passam a desabrochar. Assim Nascer de
Novo no corpo é desdobrar as possibilidades em que se encontra, conseguindo a
consciência de si, libertando-se das condensações grosseiras da ignorância, e, por
mudança da área evolutiva moral, surge a imperiosa necessidade de,
conscientemente, comandar o corpo, mantendo o bem estar psicofísico, no qual
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está inserido e que também faz parte da fatalidade evolutiva, ao mesmo tempo
convidando o ser a conscientização de si mesmo, e, a sua natural integração no
conjunto cósmico, contribuindo para a preservação da Unidade Universal.
Esse processo é todavia semelhante a um parto transcendental, um renascimento
espiritual de si mesmo, gerador de aflições no começo, a fim de facultar e favorecer
a vida logo mais. Naturalmente, para sair da inconsciência, da instrospecção para a
lucidez, ocorre um choque entre como se está e o que se é . É um resultado
momentâneo de desequilíbrio emocional, que decorre da saudade de como se vive e
ansiedade pelo que se pretende e deverá alcançar. Estabelece-se quase sempre um
conflito interior, no qual predomina o passado com suas heranças atávicas, às quais
se estava habituado, e entre os apelos da felicidade ensejada, liberada de formas e
limites, porém ainda desconhecida.

Nesse sentido, a mente individual é a geradora das energias de que se constitui,


resultando no equilíbrio de todo o seu equipamento, onde cada órgão que constitui o
conjunto é interdependente dos demais, onde cada célula tem sua função específica
resultante da ordem e do equilíbrio dessa mesma mente. Dessa forma,
harmonizando-se o indivíduo psicofisicamente, desenvolvendo as suas
potencialidades, identificando a sua anatomia com a sua psicologia individual, o
emocional com o espiritual, propiciará compensações futuras em forma de equilíbrio
e paz. O conflito e a doença pode, portanto, ter a função psicológica evolutiva,
sem fator cármico, decorrendo do doloroso processo inevitável da evolução, para o
renascer do si, nesse parto transcendental.

A morte é apenas fenômeno biológico a transferir o ser para uma outra realidade,
sem consumpção da vida. Nesta nova visão, o ser deixa de ser a massa, apenas
celular, para tornar-se um complexo com predominância do princípio eterno. A
psicologia espírita dedicada ao conhecimento do homem integral: Espírito –
Perispírito – Matéria, amplia os horizontes da vida orgânica a se desdobrar além
túmulo e antes do corpo, com infinitas possibilidades de progresso, no rumo da
perfeição.

Seja qual for a situação em que te encontres, agradece a Deus a atual conjuntura
expiatória ou provacional utilizando-te do tempo com sabedoria e discernimento, de
modo a construíres o futuro, desde que o presente se te afigure afligente ou
doloroso. O que hoje possuis vem de ontem, edificando para amanhã através do uso
que faças das faculdades ao teu alcance. A reencarnação constitui concessão superior
que a todos nós cabe zelar e cultivar desdobrando recursos, esforçando-se para em
equilíbrio cooperar a favor do conjunto, entesourando aquisições mediante as quais
poderá planar logo mais nas Regiões Felizes, livre dos retornos dolorosos e
recomeços difíceis, pleno em si mesmo.

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16 - EV. Cap. VII Item 11 – O orgulho e a humildade
Complementar: Autodescobrimento ‘’Realidade e Ilusão’’
Enfoque: Personalidade e Individualidade, Ego e Espírito.
Então Jesus disse: Eu vos rendo glória, meu Pai, Senhor do céu e da Terra, por
haverdes ocultado essas coisas aos sábios e aos prudentes, e por as haver revelado
aos simples e aos pequenos. Mateus, cap. XI, v.25. O Evangelho Segundo o
Espiritismo, explica que se deve entender por sábios e prudentes aqueles mais aptos
em aparência a compreender os ensinamentos, porém, envaidecidos da sua ciência
mundana, e, que se crêem prudentes porque negam tratando Deus de igual para
igual; e aos simples e pequenos, os humildes diante de Deus que não se crêem
envaidecidos, superiores e orgulhosos.

A humildade é uma virtude muito esquecida entre vós. Sem a humildade se adornais
de virtudes que não tendes, como se trouxésseis um vestuário para esconder as
vossas deformidades. O orgulho é o terrível adversário da humildade, crê-se
merecedor de títulos e recompensas, e quando não as tem acusam Deus de injustiça.
Disfarça-se o orgulho, insinua-se maquiavélico disfarçado de melindre, nas suas
suscetibilidades, infiltra-se na mente, nem sempre se desvelando em toda a sua
purulência. Sua sombra obscurece a visão dos fatos e acontecimentos, alterando os
contornos e criando fantasmas que são apenas ilusão. Vitaliza-se de falsas idéias de
honradez, que na verdade são caprichos mesquinhos.

Está em todo lugar, porque gerado no íntimo do homem pelas suas imperfeições,
alimenta-se das diatribes que arremessa e nela se compraz, para logo mais gerar
remorsos, acanhamento, inquietação, dificuldade em reparar ou refazer o caminho,
conclamando à fuga, à debandada, aos conflitos deprimentes.

Sob disfarce algum, não agasalhes o orgulho, nunca, pois que ele é o inimigo mais
hábil prevenido contra o teu progresso espiritual.

REALIDADE E ILUSÃO
A interpretação da realidade mais se aclara, quanto melhor se penetra na realidade
das coisas, mudando-se as aparências. Isto ocorre no mundo material e mesmo no
psicológico. Sob a máscara da personalidade, encontram-se expressões
insuspeitáveis da realidade, que somente um percepção profunda se consegue
identificar.
Alterna-se a criatura em um complexo de expressões, variando de acordo com as
circunstâncias e acontecimentos, desvelando a realidade de cada indivíduo. Nesta
viagem o Espírito assume inumeráveis expressões, que lhe imprime características, a
princípio inconscientemente, para logo mais, lúcido, burilá-las e ultrapassá-las,
fixando as de valores legítimos – aqueles de duração permanentes – enquanto que
os transitórios, servem apenas de recursos pedagógicos para aprendizagem. O
grande desafio portanto, constitui na seleção dos valores, a identificação com os
comportamentos éticos e morais recomendáveis.
Os preconceitos criaram uma rede de conceituações hipócritas, confundindo códigos
sociais com os morais, criando campos aos escapismos e justificativas, porém
geradores de consciência de culpa. Tal comportamento gera condutas cínicas,
ausência de padrões corretos, universais, ensejando os desvarios, o pessimismo, a
agressividade, os homens-aparência, com suas fobias, ansiedades, e sua solidão.

PERSONALIDADE E INDIVIDUALIDADE
Sob a personalidade do ser (ego) jaz a realidade profunda (o espírito/a
individualidade). A personalidade resulta da experiência de cada etapa, mas a
individualidade é a soma de todas as realizações nas sucessivas reencarnações.

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A personalidade é transitória, está em permanente representatividade dos conteúdos
mentais, pelas imposições das leis e costumes de cada época e cultura, representa a
aparência para ser conhecida, definidora de experiências nos sexos, na cultura, na
inteligência, na arte e no relacionamento pessoal, não raro, em distonia com o eu
profundo e real.
A individualidade é o ser pleno e potente, imperecível, é o espírito em si mesmo que
reúne as demais dimensões e sabe conscientemente o que fazer, quando fazê-lo e
como realizá-lo, para ser a pessoa integral, ideal, que supera os condicionamentos e
comportamentos pessoais, de consciência livre, é o ser total, como pessoa é
transitória, como individualidade é eterna.

IDENTIFICAÇÃO E DESINDENTIFICAÇÃO
É de Paulo, II Cor. 12,10 a expressão: .”porque estou fraco, então é que sou
forte’’. Pela oposição do Apóstolo, entendemos que os fortes no mundo são os
fracos na fé, tanto quanto nela são fortes os que no mundo são fracos, porque a
nossa fortaleza no mundo, geralmente, é presunção, orgulho; e a nossa ‘’fraqueza’’
desejável: é humildade, singeleza, simplicidade de coração, é um bem. Mas, nosso
coração geralmente é quase sempre orgulhoso, nosso espírito, não raro, soberbo,
temos a convicção de que sabemos muita coisa. O orgulho é anti-espiritual, espiritual
é a humildade, mas esta não é o oposto daquele. Se eu disser que sou humilde, disto
estou me orgulhando, é um contra-senso; podemos contudo viver humildemente
pela compreensão do nosso orgulho, da nossa vaidade, da nossa presunção, como já
se disse um sábio da Antigüidade: “Só o que sei é que nada sei”. (Sócrates).
Esta forma de abarcar o conhecimento de forma negativa (afirmando não ter ainda o
conhecimento) é uma forma sábia de compreendê-lo em essência e realidade,
identificando-nos com o que realmente sabemos e somos e desindentificando-nos
com as nossas ilusões; se quero ser bom, por exemplo, observo-me negativamente
no percebimento de que ‘’não sou bom’’. Não sei o que bondade, mas posso perceber
o que ela não é. Da mesma forma será com todo o cortejo do nosso desamor, da
nossa desatenção, da nossa inveja, da nossa preguiça........ e do nosso orgulho e da
nossa falta de humildade.

A identificação assinala o estágio de evolução cada pessoa, que deve liberar-se


daqueles valores, desindentificando-se dos hábitos milenares, fixados, alguns,
atavicamente, aos painéis do ser, gerando falsas necessidades, que se tornam
fundamentais, portanto responsáveis pelo sofrimento. A identificação com a
impermanência da vida física gera a ilusão, e a sua desindentificação induz à
conquista de patamares elevados, metafísicos, nos quais o ser se autoencontra e se
realiza.

O amadurecimento ocorre com o exercício da mente ampliando-lhe a capacidade de


discernir, e o amadurecimento moral torna-se responsável pela superação dos
instintos, das sensações grosseiras, imediatistas, portanto egóicas. A sua escala de
valores, rompe com os limites das conveniências, para apoiar-se na ética universal,
perene, que tem por base, Deus, os seres, a natureza e o próprio indivíduo,
compreendendo que o limite da própria liberdade começa na fronteira do direito
alheio, nunca aspirando para si o que não gostaria de receber de outrem.

O indivíduo não pode viver sem relacionamentos, pois que, por contrário, aliena-se.
O seu progresso deflui dos contatos com a natureza e com as criaturas, dos seus
inter-relacionamentos pessoais. Indispensável os encontros e experiências em grupos
gerando adaptação e convivência salutar com outras pessoas. Por isso todos
nascemos e renascemos nos núcleos familiares e sociais de que necessitamos para
aprimorar-se e não conforme se assevera tradicionalmente: que merecemos.

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Vencida a etapa da maturidade moral verdadeira, indispensável para autorrealização
do ser e da sociedade em geral, a maturidade social surge, porque autoconhecendo-
se e autotrabalhando-se, o homem psicológico torna-se harmônico no grupo,
proporcionando bem estar a sua volta e alegria de viver.

O autodescobrimento tem por finalidade conscientizar a pessoa a respeito do que


necessita, de como realiza-lo e quando dar início à nova fase (humildade) uma
tomada de consciência, do que se é, e de como se está, saindo dos estados de
acomodação, nos quais não se dá conta dos incalculáveis possibilidades que lhe estão
ao alcance. O autoencontro deve ser logrado através da meditação reflexível, do
esforço para fixar a mente nas idéias positivas, buscando saber quem se é, e qual a
finalidade da sua existência corporal e do futuro que a aguarda.

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17 - EV. Cap. XI Item 8 – A lei de Amor
Complementar: Autodescobrimento ‘’Força criadora’’
Enfoque: Instinto, emoções, sentimentos e expressões do amor.

O amor resume inteiramente a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por


excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso. No seu
início, o homem não tem senão instintos; mais avançado e corrompido, só tem
sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o ponto delicado do
sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior
que condensa e reúne em seu foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-
humanas. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e aniquila as
misérias sociais. O amor é de essência divina, e, desde o primeiro até o último
possuís no fundo do coração a chama desse fogo sagrado.
“Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento, instruí-vos, eis o
segundo!’’
Ensino dado pelo Espírito de Verdade.
REFLEXÃO
Qual a essência do amor? Ciúme é Amor? O que significa amar-se a si mesmo e ao
próximo?

O verbo amar é um verbo intransitivo, ou seja; exprime uma ação que não passa do
sujeito a nenhum objeto; o amor em si, o estado de amor, não é direcionado, não é
o amor que geralmente conhecemos. Ele basta a si mesmo, é uma benção para seu
fulcro, o centro de sua irradiação e para aqueles que dele se aproxima. No estado de
Amor, o sujeito não ama uma pessoa ou coisa, ele Ama intransitivamente, sem
cogitar da reciprocidade. Assim é o verdadeiro amor. Nem diríamos ‘’verdadeiro’’,
porque não existe falso e verdadeiro amor. Existe o amor; temos de amar por amor
do próprio amor.

O amor nada tem a ver com o ciúme, não existe amor-apego, amor-ciúme . Ciúme
vem de cio, que designa a época de exacerbação do apetite sexual nos animais. De
fato é um impulso egoístico, puramente animal: o ciumento quer a ‘’posse’’ do objeto
que diz amar. Mas posse não é amor, tanto que se estende aos bens materiais em
geral: o indivíduo tem ciúmes desde do seu isqueiro até.....tudo que lhe pertence, de
tal forma isso se enraíza que passa a ter ciúmes do sucesso alheio, da alheia fama,
da riqueza e da simpatia do outro. O ciumento é um desamado, agarra-se
desesperadamente ao que lhe confere um sentimento de segurança, e se lhe tiram,
enlouquece, e mata – mata inclusive o objeto do seu amor.

Em se tratando do amor, é justamente o contrário: Amar é derivado do latim AMO,


que é uma contração de: A+ME+O, isto é, ‘’saio de mim’’. Amar é sair de si mesmo,
nunca ensimesmar-se em si próprio, ser egoísta, egocêntrico.

‘’O amor ao próximo como a ti mesmo’’ é a chamada ‘’regra áurea’’ dos


ensinamentos do Cristo, porque consubstancia um ensino consagrado. Não é a regra,
ou um conjunto de regras, que faz de você um ser integro e feliz, mas sim através
da sua vivência especial, e o amor ao próximo decorre do seu autoamor. Quando
procuro conhecer a mim mesmo, gosto de mim; quando gosto de mim, os outros
também gostam. Aceitarmo-nos como somos em essência é uma manifestação do
amor. Dissemos: como somos em essência, isto é, como Deus nos criou; porque
depois, conforme vamos crescendo, adquirimos uma série de coisas que não são da
nossa essência, coisas que podemos mudar quando nos causa sofrimentos, os vícios
por exemplo. Para começar, você precisa gostar de você mesmo, da sua própria
vida, sem nenhuma comparação com quem quer que seja, aparentemente maior ou
menor que você. Não precisamos querer levar a melhor, mas sim desenvolver as
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nossas reais aptidões, conhecendo-as, para não aconteça estarmos nos colocando no
lugar impróprio, insistindo em fazer coisas que aborrecemos, ou criando sonhos que
não podemos realizar.

O gostar de si mesmo, não é uma atitude egoísta, egocêntrica, porque o fazer girar
tudo em torno de si não é bom. Não existem receitas de felicidade, nem métodos,
nem sistemas. Existe isso sim, um empenho, um entusiasmo nesse aprofundamento,
como algo vital, que depende de nossa disposição. Não é preciso complicar.
Comecemos com as coisas mais triviais, partindo de dentro para fora e examinemos
as nossas atitudes exteriores. Temos de saber como falamos, como ouvimos, como
nos sentamos, como respondemos, como apertamos a mão do nosso próximo, em
suma: como somos realmente. Mas, veja bem, não se trata de examinarmos tudo
isso para em seguida nos reprimirmos. Na repressão não há amor, há mal estar,
infelicidade. Não sejamos juizes severos de nós mesmos. Nada de condenações
apressadas, ou justificações. Existe uma terceira atitude: a do observador; que não
condena e nem justifica, embora não lhe seja indiferente. Observa, avalia, sabe dos
seus efeitos gerais. Mantém-se com grande interesse, intenso entusiasmo, mantendo
um sorriso racional de si mesmo que contribui para o seu desenvolvimento mental e
sua conseqüente libertação de todo sofrimento. Muitas vezes não sorrimos, porque
somos desamorosos, porque não temos afeto. Quando percebemos
verdadeiramente, que não temos afeto, já o temos, e o sorriso sincero é a sua
conseqüência, porque surge espontaneamente do nosso afeto. O aperto de mão, o
sorriso, são próprios de pessoas afetuosas. Observe então, como você faz isso, e
descobrirá muita coisa a seu respeito. Lembre-se: é o amor que anula os nossos
defeitos. O desejo de ajudar, de ser útil, de ser bom e prestativo é que fará com os
outros ajam da mesma forma para com você. Liberte-se das emoções negativas, das
angustias, das fobias, das ansiedades, e passe a viver mais intensamente. Examine-
se interessadamente a tudo isso, porque desse exame surgirão as qualidades
necessárias para a efetiva realização do seu objetivo, e transformar em ato a graça e
a beleza que desde sempre existem dentro de nós mesmos e que se revelam natural
e espontaneamente quando percebemos que ainda não fazem parte da nossa
individualidade.

‘’AMOR: FORÇA CRIADORA’’


No inevitável processo da evolução, o ser humano toma consciência de si,
identificando-se com a realidade de si mesmo e conseqüentemente com o
entendimento dos objetivos da vida. Neste desafio, reconhece os próprios recursos
intelecto-morais disponíveis e o comportamento decorrente dos vícios, das paixões
primitivas e da indiferença, todos eles remanescentes dos níveis de sono.

O apóstolo Paulo escreve aos Romanos, 13:11: Digo isto, porque sabeis o tempo,
que já é hora de vós despertardes do sono. E em Efésios 5:14: Desperta, tu que
dormes, e levanta-te entre os mortos. No Evangelho, o estado de sono representa
espiritualmente a paralisia da alma, peso na consciência individual e prejuízo na
coletiva; representa aqueles que embora vivendo, são mortos para a realidade do Si,
cadáveres que respiram, transitam pelo mundo hibernando, sonambúlicos,
desconhecendo o estado da sua imortalidade. O nível de sono representa o estado de
consciência coletiva amorfa (conforme bem sintetizou Léon Denis: o psiquismo
dorme no mineral, sonha no vegetal, sente no animal, pensa no homem), onde
existe a predominância dos instintos e das paixões primárias, num nível de sono sem
sonhos, sem autoidentificação, ignorante de si mesmo, numa contínua busca ao
atendimento das necessidades fisiológicas (sensações) em detrimento das emoções
psicológicas enobrecedoras. Neste nível o amor se apresenta fisiológico (do queixo
para baixo), egoístico, atormentador, imprevisível, apaixonado, ciumento, e deflui
do instinto da posse, do uso do prazer egoísta.

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Durante essa luta que se trava, o amor passa a nutrir o candidato. Das suas
manifestações iniciais, rompe ele as algemas da sensação impetuosa, das suas
expressões de primarismos para alterar o conteúdo que exterioriza e vai sublimando
o ser, elegendo outras expressões de felicidade, fora do gozo-cansaço, prazer-
arrependimento, satisfação-frustração, incessantes tormentos. A medida que a
consciência se desenvolve, o amor sai do fisiológico para tornar-se psicológico – do
queixo para cima – diminuindo a posse, crescendo em ideais, superando limites
egoístas, lentamente ascendendo à escalas superiores. Trabalhado pela consciência,
o amor alcança a plenitude criadora, tornando-se libertador, humanitarista, altruísta,
mudando totalmente sua expressão, tornando-se um instrumento de sacrifício do
próprio amor; esquece-se de si mesmo, para atender e iluminar, qual ocorreu com
Jesus Cristo, Francisco de Assis e outros que com amor sacrificial, reencarnaram no
mundo, a fim de ensinarem coragem, resignação, e valor moral à humanidade.

No estado de amor, robustecem-se os impulsos de elevação, espraia-se sem


exigências, todo doação; não necessita de retribuição, nem se entorpece com a
ingratidão; é semelhante ao perfume no ar, cuja origem é desconhecida.
Enternecedor, é agente da felicidade dos outros; assinalado pela paz íntima é dínamo
de emoções transcendentes, gerador da harmonia. No ser psicologicamente
amadurecido direciona os ideais, sustentando-os em todos os embates, a sua
irradiação, acalma, dulcifica, sustenta; porque se origina em Deus, a Fonte Geradora
da Vida.

Registra a história, que no ano de 403, quando das homenagens ao Imperador,


foram exibidas lutas de gladiadores que deveriam matar-se. Quando os primeiros
lutadores se apresentaram, um homem humilde atirou-se das galerias e começou a
suplicar-lhes que não se matassem. O estupor tomou conta da multidão, que ferozes,
atirou-lhe pedras e tudo quanto pudessem, pedindo a morte do intruso, de imediato,
assassinado para delírio geral. Apesar do terrível desfecho, aquele foi o último
espetáculo dantesco do gênero, e as lutas de gladiadores foram finalmente abolidas.
O sacrifício de amor do anônimo foi o responsável pela radical mudança de hábitos
na época.

Ressurgiram, sem dúvida, outras formas de luta, que ainda predominam por causa
dos instintos do homem, mas que no futuro não distante, serão proibidas como
resultado da força do amor. Assim também, as guerras, as lutas fratricidas, os
conflitos domésticos e sociais, quando a consciência de justiça suplantar as
tendências destrutivas...... O amor vencerá.

AUTODESCOBRIMENTO E O AMOR
O autoconhecimento faz-se acompanhar do desejo de transmutar as emoções servis
em sentimentos sutis, as energias deletérias em outras carregadas de aspirações
criativas, na reprodução biológica consciente responsável, na arte dignificante, na
cultura que eleva, ou seja, o ser diafaniza-se, saindo dos impulsos da animalidade
para as conquistas da angelitude.

O autodescobrimento amplia o discernimento, ensejando avançar, mesmo com


sacrifícios, não mais resultante de um sofrimento com dor, mas de uma experiência
valiosa para novas e futuras realizações, sacrificando-se pelo bem por uma
preferência feliz, com coragem e decisão a fim de extirpar a carga de inferioridade, e

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seus correspondentes sofrimentos desnecessários: infortúnio, insatisfação,
ansiedade, tormento, por serem destituídos de valor e de edificação real.

O autodescobrimento, proporciona o Autoamor. Sob o seu direcionamento o


sofrimento se descaracteriza e perde o seu conteúdo atormentante que ainda o
assinala, passando a ser um élan de alegria e de felicidade. A consciência desperta –
que alcançou a maturidade psicológica – entrega-se ao afã, sem interesse de
retribuição ou de aplauso, profundamente pacificada pela força criadora máxima que
é o amor, ama-se e perdoa-se quando de surpreende em erro, pois que percebe não
ser especial ou alguém irretorquível, compreendendo que o trabalho de elevação se
dá mediante as experiências de erros e de acertos, proporcionando tolerância, nunca
porém complacente com esses equívocos, a ponto de os não querer corrigir.

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18 - EV. Cap. XVII Item 10 – O homem no mundo
Complementar: Autodescobrimento ‘’Programa de Saúde’’
Enfoque: Conduta mental e moral.
Um sentimento de piedade deve animar o coração daqueles que se reúnem sob os
olhos do Senhor e implorar a assistência dos bons Espíritos. Purificai os vossos
corações, não deixeis neles demorar nenhum pensamento mundano ou fútil; elevai
vosso espírito até àqueles a quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as
disposições necessárias, possam lançar a semente que deve germinar em vossos
corações e dar frutos de caridade e de justiça.
Não creiais, todavia, que em vos exortando sem cessar à prece e à evocação mental,
nós vos exortamos a viver uma vida mística que vos mantenha fora das leis da
sociedade em que estais condenado a viver. Não, vivei com os homens de vossa
época, como devem viver os homens; sacrificai às necessidades, mesmo às
frivolidades do dia, mas sacrificai-as com um sentimento de pureza que as
possa santificar. Fostes chamados a entrar em contato com espíritos de natureza
diferente, de caracteres opostos; não choqueis nenhum daqueles com os quais vos
encontrardes. Sede alegres, sede felizes, mas da alegria que dá uma boa
consciência, da felicidade do herdeiro do céu contando os dias que o aproximam de
sua herança.
A virtude não consiste em tomar um aspecto severo e lúgubre, em repelir os
prazeres que as vossas condições humanas permitem; basta informar todos os atos
da vida ao Criador que deu essa vida; basta, quando se começa ou acaba uma obra,
elevar o pensamento até esse Criador e lhe pedir, num impulso d’alma, seja sua
proteção para ser bem sucedido, seja sua bênção para a obra terminada. O quer que
fazeis, remontai até à fonte de todas as coisas; nada façais sem que a lembrança de
Deus venha purificar e santificar vossos atos.
Não imagineis, pois, que para viver em comunicação constante conosco, para viver
sob o olhar do Senhor, seja preciso envergar o cilício e se cobrir de cinzas; não, não,
ainda uma vez; sede felizes segundo as necessidades da Humanidade, mas que em
vossa felicidade não entre jamais nem um pensamento, nem um ato que possa
ofendê-lo, ou fazer velar a face daqueles que vos amam e que vos dirigem. Deus é
amor e abençoa aqueles que amam santamente. (um espírito protetor).

Reflexão: O HOMEM NO MUNDO E O HOMEM CÓSMICO


Já nos foi dito em João, 17:14-17, que se deve estar no mundo, sem ser do mundo;
e o Apóstolo repete as palavras do Cristo quando em oração com o Pai: ..’’porque
não são do mundo, como eu não sou do mundo; não peço que os tires do
mundo, mas que os livre do mal; santifica-os na verdade, a tua palavra é a
verdade’’

Difícil mundo este! Difícil viver aqui, a Terra é um mundo nada fácil!. Os seus
residentes no geral se desentendem, hostilizam-se, não se amam, nem sequer se
toleram. Seu gregarismo, sua sociabilidade não decorre ainda da essência da
criatura, e sim por necessidade; convive com os demais, porque precisa. Político e
social à força, no fundo, o ser é individualista e dispersivo, caminha só acompanhado
apenas das suas opiniões, cioso de seus direitos; egoísta, fechado em si mesmo, em
constante defesa; amedrontado, quer segurança física e psicológica. O homem é
uma entidade que dói, tem dores físicas e dores psíquicas que se somatizam.

Sua tranqüilidade decorre do usufruto de uma condição econômica; seus desejos são
o de projeção social, adubados pela inveja; suas ânsias: a de ganho fácil; seus
sonhos: a da ociosidade dourada; a preguiça, é consentida; a luxúria: é justificada; a
gula: incrementada; no geral, somos sonambúlicos nas coisas que são de baixo,
vivemos distraídos no chão desse mundo esplendoroso; é bruto ainda o homem que
aqui se demora. Norteado pelo instinto de sobrevivência e conservação, sujeito ao
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férreo determinismo da Lei e ao arbítrio frágil, move-se pela fome e sede, pelo sexo,
a paixão. Ser inteligente da criação, mas, nos primórdios, ainda, da sua expansão
vivencial, integra ainda uma estranha espécie animal que ainda mata o seu
semelhante e nisto se compraz.

Mas, o homem é a meta da criação: ‘’ser o Homem Cósmico’’, o homem não


fragmentado na sua individuação, na perfeita fusão do self-ego; livre das injunções
contingentes de indecisão e escolha; capaz de vivenciar prazeres e sofrimentos em
alto nível de consciência; o homem cristificado de Paulo, o apóstolo; onde o homem
se faz nova criatura: ‘’Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as
coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo’’, (II Cor. 5, 17); onde o
Cristo, ou Verbo se atualizou em plenitude: ‘’O Reino de Deus está dentro de
Vós’’ (Lucas. 17,20), identificando-se com a Luz ‘’Vós sois a Luz do Mundo’’
(Mateus, 5-14:16) e, é a ‘’Luz que alumia a toda criatura que vem a este
mundo’’ (João, 1,9); é aquele que perdeu o apego às coisas do ego, mascarado pela
personalidade: ‘’perdeu a sua vida para salvá-la’’ (Mateus: 10, 39). O Homem
constelado, elevado à sua natureza cósmica, representativo do produto final da
criação: ‘’O Filho do Homem”, sempre em potência, pressentido, desde os ensinos
mais antigos, idealizado por Sócrates e Platão, no ‘’Superego’’ de Freud, no ‘’Self’’
de Jung, no ‘’Espírito’’ de Kardec e no ‘’Pai’’ de Jesus Cristo ‘’para que sejais
perfeitos, como vosso Pai é perfeito’’.

O HOMEM NO MUNDO - PROGRAMA DE VIDA E DE SAÚDE


A verdadeira saúde não se restringe apenas à harmonia e ao funcionamento dos
órgãos, abrange também a serenidade íntima, o equilíbrio emocional e as aspirações
estéticas, artísticas, culturais, e religiosas. Os pensamentos geram saúde ou toxinas
no organismo de acordo com sua espécie e o perfeito conhecimento das nossas
emoções e pensamentos é condição básica da nossa saúde, ou de pronto
restabelecimento das nossas enfermidades. Assim, pensar bem e corretamente,
permanece como primeiro item de um bem estruturado programa de saúde, a fim de
que as palavras, na conversação, não corrompam os bons costumes, ensejando
ações estimulantes e edificadoras para o bem geral.

A proposta do autodescobrimento estabelece, como ponto de partida, a preservação


ético-moral do indivíduo perante si mesmo, e a valorização da sua capacidade de
discernimento e ação. Discernimento sobre o que deve e pode fazer, não se
permitindo eleger o que agrada, mas não deve, ou aquilo que deve, porém, não
convém executar. Após a descoberta de como proceder, passar à atividade tranqüila,
sem os choques da emoção descontrolada, examinar os recursos da sua realidade
como espírito eterno que é, transitoriamente reencarnado em experiência para
preencher as finalidades da vida. Resguardar-se das altas tensões e sensações
desgastastes, das emoções violentas, poupar-se das descargas infrenes dos desejos,
superando mesmo que pouco a pouco, os impulsos inferiores, exercitar-se na
disciplina da vontade por meio da paciência e da perseverança.
Preservar-se do uso dos alcoólicos e das intoxicações pelo fumo, bem como de
qualquer droga alucinógenas, aditivas. Evitar sobrecarregar o corpo com alimentos
pesados e gordurosos, de assimilação difíceis. O que resulta da autoeducação
perfeita é o homem integral, que pensa, mas também come; e melhor pensa, na
medida exata do que come. Do que come, não de quanto come. Comer para viver, e
viver bem; nunca viver para comer.
Respeitar, e ao mesmo tempo, conduzir o corpo com moderação, poupando-o dos
costumes promíscuos, bem como aos relacionamentos sexuais e afetivos
perturbadores. Manter a higiene, criando e preservando hábitos sadios.
A contribuição mental se faz relevante, porque daí procedem as ordens de comando
e diretrizes de comportamento, equilibrando-se pensamento e ação. Para tanto,
pensar com otimismo, conduzindo as ações que dão nascimento aos hábitos bons,
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responsáveis pela segunda natureza do ser, o homem novo. Cultivar a confiança e a
alegria, irradiar simpatia e esperança, usar a conversação como elemento catalisador
de novas idéias de enobrecimento, estimulando a criatividade, a coragem e a
perseverança no bem. Banir do comportamento, a crítica ácida e destrutiva, os
conceitos chulos, as palavras sarcásticas. Recorrer a oração, vitalizando-se na Fonte
da Vida, meditar em silêncio, absorvendo a resposta divina, inspirando-se para as
metas essenciais da existência, preservando a Paz.
Pode-se estar pleno, embora com alguma dificuldade orgânica, como também
encontrar-se em ordem, porém com alguma dificuldade emocional, cabendo a cada
um agir com consciência e liberdade, na opção de ser feliz, não medindo esforços
para aquisição da saúde, mediante a consciência do dever para consigo mesmo e
para com o próximo, desfrutando-se de saúde e paz.

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19 - EV. Cap. III Item 6 – Causa das misérias humanas
Complementar: Autodescobrimento ‘’Transtornos comportamentais’’
Enfoque: O perispírito como modelador do físico, fixações espirituais, conduta e
ressarcimento.

Tomando-se a Terra como planeta ainda de provas e de expiação, compreende-se


por que ainda as aflições sobrepujam as alegrias. Não se envia a um hospital pessoas
sadias, nem às casas de correção aqueles que não fizeram o mal; e nem os hospitais
e as casas de correção são lugares de prazeres.

Espanta-se em encontrar na Terra, tanta maldade e más paixões, tantas misérias e


enfermidades, e disso se conclui que a humanidade é uma triste coisa. Porém esse
julgamento é limitado e falso: a Terra não representa toda a humanidade, mas sim
uma pequena porção dela. Da mesma forma que numa cidade, toda a população não
está nos hospitais ou nas prisões, toda a humanidade não está sobre a Terra. Assim
como o homem sai do hospital quando está curado e sai da prisão quando cumpre o
seu tempo, o homem deixa a Terra por mundos mais felizes, quando está curado das
suas enfermidades morais.

TRANSTORNOS COMPORTAMENTAIS
Na gênese das seqüelas e enfermidades reconhece-se a ação poderosa da
hereditariedade, gerando transtornos comportamentais, bem como, a fragilidade da
personalidade humana, cede espaço a fixações negativas, obsessivo-compulsivas,
fóbicas, depressivas, que se expressam de diversas formas; mas aprofundando a
sonda da pesquisa, vemo-los também nas experiências evolutivas do ser, pelos
efeitos da conduta reprochável, quando das reencarnações passadas.

Fadado à perfeição, na consciência está impresso os códigos dos deveres que


lhe estabelecem as diretrizes de comportamento. Violadas essas linhas éticas,
automatismos impõem-lhe ressarcimento, recuperação, recomeço, que necessita de
reeducação. Assim encontra-se nos genes e cromossomas, as matrizes fixadoras
daquelas necessidades, renascendo a criatura em grupos que lhe propiciarão pelo
mapa genético, as condições para tal desiderato.

O perispírito modela o organismo de que o espírito tem necessidade, equipando-o


com os neurotransmissores cerebrais capazes de refletir os fenômenos-resgate
indispensáveis para o reequilibrio. Desta forma, cada ser na Terra, possui o corpo
que lhe é necessário para a evolução, não se esquecendo nunca, que, qualquer
pessoa incursa em transtornos psíquicos de comportamento, geradores de
sofrimento, é o devedor em processo de resgate.

Agrava-se o transtorno, face ao nível de culpa, que como um ‘’plug’’ liga o devedor à
vitima, gerando as obsessões, a captação de mensagens telepáticas do adversário,
aumentando mais a sua aflição.

Assim, nos alicerces do inconsciente dormem todos os processos de evolução, as


aquisições psicológicas, em forma de experiências vividas, e toda vez que uma delas
não pode ser assimilada e passou aos arquivos profundos, permanecerá com
possibilidades de emergir nas formas de transtornos comportamentais, em forma de
conflitos.

O conflito é o claro-escuro do que fazer ou não realizar, tendendo sempre para o


desequilíbrio e a aflição. Não digerido, transforma-se em expressão emocional de
desajuste, somatizando doenças orgânicas, portanto necessário é a sua identificação
para posterior eliminação. Só há, no entanto, conflito, quando a consciência não luz
55
discernimento, e, deixa-se conduzir apenas pela emoção ou pelos instintos,
permanecendo sem direcionamento.

A existência é um constante desafio, e todo desafio propõe esforço para a luta, e os


fenômenos conflitivos são efeitos do estágio em que se encontra o espírito
reencarnado. O organismo amoldando-se aos sutis equipamentos espirituais, reflete
a necessidade de progresso que o caracteriza, impelindo-o à incessante
transformação intelecto-moral..

No L. E., Allan Kardec, conforme se lê na pergunta 361, solicitou esclarecimentos dos


Espíritos de Luz:
- Qual a origem das qualidades morais, boas ou más, do homem?
- São as do espírito nele encarnado. Quanto mais puro é esse espírito, tanto mais
propenso ao bem é o homem. O que equivale dizer, que sem conflito.

Desse modo, a superação dos conflitos se dará mediante o esforço do ser em


evolução, através do autodescobrimento, em que se deixe conhecer-se e plenificar.

Reflexão: O HOMEM, A SUA ETERNIDADE E O CORPO ESPIRITUAL


Teria Deus para cada um nós um plano divino?
Se Deus está dentro de nós, por que Dele nos separamos?
Separamo-nos, sim, da ‘’idéia de Deus’’; e o fazemos pelo pensamento, elaborado
nas formas dos desejos, quando nos deixamos envolver demasiadamente pelas
coisas ditas materiais, que são o alvo mais visível (imediato) do nosso senso
aquisitivo, como que nos separamos de Deus, perdemos de ‘’vista’’ o real sentido de
nossa vida, perdemos o contato com a percepção do que seja o nosso destino,
esquecemo-nos de tudo. Esse foco imensurável de energia que nos deu origem,
conferiu-nos uma destinação, que se pode apreender por intuição, mas envolvidos
pelos desejos imediatos, perdemos o contato com essa percepção. Porque a memória
terrena é substancialmente fatual, deslembramo-nos também dos fatos da existência
anterior e ao renascer, tomamos um corpo virgem, e a medida que vamos nos
desenvolvendo, gravamos no campo mental, os fatos dessa existência: o nosso novo
nome, o nome dos pais, dos parentes, os condicionamentos psicológicos em geral, os
impulsos, tudo que nos atinge e em nós se fixa.
Então, se não pensamos no espírito, ou pelo espírito; se apenas o fazemos pelo
estômago, pelo ventre, pelos órgãos sexuais, que consubstanciam os desejos da
matéria densa, nós como que nos afastamos de Deus. Dele nos “reaproximamos”
pela nossa espiritualização, que é a nossa face eterna: esta é a nossa tarefa na
Terra.
Mas, e os fatos das existências passadas?
Ensina o Apostolo: “Há corpos terrestres e corpos celestes. Semeia-se corpo
carnal, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo
espiritual” (Paulo, I Cor.15:40,44). Todos os fatos em nós permanecem.
Permanecem no corpo espiritual; permanecem no corpo energético, perispiritual,
onde integram a memória mais profunda, relembradas no mundo espiritual e nas
terapias de vidas passadas através de processos especiais; mas para a grande
maioria da humanidade, ainda pensamos estar vivendo pela primeira vez. Diríamos:
pregamos uma peça em nós mesmos.
Essas gravações, vez ou outra, vêm a tona, dando lugar a percepções, mais ou
menos claras; e conforme a sua intensidade, extravasam-se em tendências,
prontidões, impulsos e desejos variados, que exigem acurada atenção, uma
contenção de espírito para a sua apreensão. Segundo essas intensidades, vamos
descobrindo as tendências negativas, aquilo em que mais erramos, ou que mais nos
induziu ao erro, forçando-nos a volta ao mundo físico.
Mediante a observação persistente, surpreendo em mim esses defeito maiores, e
trabalho por erradica-los, mediante o autoconhecimento. Devo me observar na vida
56
de relação, descobrir os fatores negativos do meu campus espiritual, anulando-os em
mim, não mais necessitando retornar através das reencarnações retificadoras, aos
planos inferiores da matéria densa, e terei atualizado em mim a condição de
habitabilidade nos mundos superiores, ou criando condições espirituais de vivências
mais altas aqui mesmo, já na Terra.
Somos espíritos antiqüíssimos, custou-nos muito chegar ao estágio em que nos
encontramos. Temos um valor imensurável, somos a inteligência do Universo. Os
espíritos são a força inteligente da criação. Daí o imperativo da nossa dignidade, que
se aprimora pela nossa aplicação constante nas coisas espirituais. Destas podemos
dizer, em sentido restrito, que são as coisas de Deus, porque Deus é Espirito.

57
20 - EV. Cap. V Item 12 – Bem Aventurados os aflitos – Motivos de resignação
Complementar: Autodescobrimento ‘’Terapia da Esperança’’

Por estas palavras: Bem Aventurados os aflitos, porque serão consolados, Jesus
indica, ao mesmo tempo, a compensação que espera aqueles que sofrem , e a
resignação que faz abençoar o sofrimento como o prelúdio da cura. Ainda deve-se
traduzir assim: Vós deveis vos considerar felizes por sofrer, porque as vossas dores
neste mundo, são a dívida das vossas faltas passadas, e essas dores, suportadas
pacientemente sobre a Terra, vos poupam séculos de sofrimento na vida futura.
Deveis pois estar felizes porque Deus transformou vossa dívida permitindo pagá-la
presentemente, o que vos assegura a tranqüilidade para o futuro.

Ao devedor não será mais venturoso suportar a parte que deve, ao invés de se
lamentar? O homem pode abrandar ou aumentar a amargura das suas provas pela
maneira que encara a vida terrestre. O que se coloca no ponto de vista espiritual,
abarca de um golpe de vista a vida corporal; ele a vê como um ponto no infinito,
compreende-lhe a brevidade, e se diz que esse momento penoso, passará bem
depressa, a certeza do futuro mais feliz o sustenta e o encoraja, e ao invés de se
lamentar, agradece ao céu pelas dores que o fazem avançar. O resultado dessa
maneira de encarar a vida é diminuir a importância das coisas desse mundo, de levar
o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com sua posição sem invejar a dos
outros, a atenuar a impressão moral dos reveses e das decepções que experimenta,
haurindo a calma e a resignação.

TERAPIA DA ESPERANÇA
O autoencontro, o despertar de valores, identificação dos objetivos da vida.

Sem a consciência lúcida em torno dos objetivos da existência carnal, o indivíduo


deixa-se dominar pelo ego, que responde pelas incessantes frustrações e
desequilíbrios, fazendo-se vítima da personalidade enfermiça como método de triunfo
na vida de encarnado, por meio dos recursos da fantasia e da bajulação, imitando,
dissimulando seus sentimentos, afivelando a máscara correspondente, variando-a
conforme as circunstâncias e momentos, ocasiões e pessoas. Acostuma-se às
aparências, desloca-se da realidade, a sua escala de valores, padece a perda do
significado, desaparecendo os parâmetros da compreensão, passando a viver
inseguro, com o objetivo de não se permitir identificar, estabelecendo-se então os
conflitos íntimos.

Superado os momentos deste convívio no baile de máscaras a que se reduzem os


seus encontros, a identificação da sua fraqueza, leva-o ao desrespeito por si mesmo,
a perda da autoestima e o transtorno de comportamento, e novamente chamado à
convivência social, oculta este estado interior legítimo e volta à dissimulação aos
jogos das personalidades, nos palcos da sociedade, formas geradoras de distúrbios
nos atores que se apresentam nos dramas e nas comédias do cotidiano.

Porém não é possível ignorar a prevalência do sofrimento disso decorrente. Negam-


se a verdade, recusam autoencontro, fogem do despertar dos valores que se acham
adormecidos, e sucumbem enfim agoniadas, buscando rumos de afirmação; porque
está na natureza humana, a necessidade de paz e o anelo de bem-estar. Enquanto o
ser não abdique destes métodos equivocados, assumindo-se e exteriorizando-se
como é, permanecerá no engano neurotizante. Sejam quais forem as análises e
tratamentos que busque, toda vez que enfrente o grupo social fugirá para o disfarce,
para o uso da persona.

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Estas ocorrências são tão fortes e predominantes, que somente caracteres fortes
conseguem aprofundar a sonda da sua realidade, descobrindo-se, autoencontrando-
se. A identificação com os objetivos da vida, dá-lhe estímulos para a autenticidade,
de realização, sabe que o corpo físico é indumentária transitória (consciente que é
ser espírito encarnado) e com isso descortina o futuro, seguindo-o com firmeza.
Adquire a confiança em si mesmo e no futuro, passando a antecipá-lo desde agora,
com bom ânimo, coragem e sorriso de bem-estar. Adota um comportamento de
autenticidade, seguindo uma linha direcional de atitudes coerentes. Passa a ter
inteireza moral de não valorizar em demasia as pequenas ocorrências, os insucessos
aparentes, e ri de si mesmo com otimismo, enfrentando os obstáculos, que o levam
a transpô-los.

Certamente que na consciência desperta, o ser retirando o personalismo dos seus


atos e a dissimulação do seu comportamento, não pretende chocar ou agredir
ninguém (o que seria apenas mais uma forma de personalismo). Somente deseja ser
íntegro, jovial, vulnerável, apresentando-se como pessoa que busca as outras para
um relacionamento saudável.

O conhecimento racional, lógico, emocional, sobre Deus, sobrevivência e função do


amor ao próximo, conscientiza o ser a respeito da sua humanidade, e da destinação
gloriosa que logrará no futuro. O ser desperto toma Jesus como seu psicoterapeuta
ideal e deixa que brilhe a luz nele escondida, com o que se torna livre e sadio, com
consciência da sua realidade, conquistando a si mesmo.

BEM AVENTURADOS OS QUE CHORAM

Já não se podem reter as lágrimas! Felizes os que choram porque serão consolados!
Mas não se trata de chorar por chorar, que isso de nada adiantaria à evolução. Fora
assim, os que vivem a lamentar-se da vida seriam os mais perfeitos. Nada isso: as
lágrimas enchem os olhos e sobretudo o coração diante do próprio atraso, diante da
verificação de quanto ainda somos involuidos. Além disso, na prisão da matéria, o
espírito compreende sua necessidade imperiosa de evoluir e chora, ainda feliz porque
ao menos compreendeu seu estado e, com essa compreensão tem meios de sair
dele; esses pois serão consolados com a libertação das angustias torturantes, mas ao
mesmo tempo, purificadoras.

Os olhos são a candeia do corpo, e todos os olhos brilham e lágrimas coroa-os.


Todos temos lágrimas acumuladas e muitos as vertem sem cessar, nas rudes
provações, oculta ou publicamente, porque longa é a estrada do sofrimento; rudes e
cruéis os dias em que se vive: espíritos marcados pelo desconforto e desassossego,
corações despedaçados, enfermidades e expiações.

Todos choram e experimentam a paz que advém do pranto. Crêem muitos que o
pranto é vergonha, esquecidos que estão, do pranto da vergonha. Dizem outros que
a lágrima é pequenez que retrata a fraqueza e indignidade; mas a chuva descarrega
as nuvens e enriquece a terra; lava o lodo e vitaliza o pomar. A lágrima é Presença
Divina.

Quando alguém chora, a Lei está justiçando, abrindo rotas de paz nas terras do
espírito. O pranto porém, não pode desatrelar a rebeldia para as arrancadas da
loucura, nem conduzir às ribanceiras do equilíbrio, qual riacho em tumulto semeando
destruição. Chorar é buscar Deus nas regiões da solitude. A sós e junto a Ele.
Ignorado por todos e por Ele lembrado. Sofrido em toda parte, escutado pelos Seus
ouvidos. O pranto fala o que a boca não se atreve a sussurrar. Na impossibilidade de
expressar por palavras, desnudar a alma, esvaziar-se de toda inquietação. Bem
aventurados os que choram, porque serão consolados!
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21 - EV. Cap. III Item 8 – Mundos inferiores e mundos superiores
Complementar: Autodescobrimento ‘’Plenitude - a meta’’
Enfoque: Objetivos educacionais, familiares, sociais, econômicos, artísticos e
espirituais.

A qualificação de superior e de inferior é relativa e não absoluta. Tal mundo é inferior


ou superior a outro em relação a ele pelos que estão acima ou abaixo dele na escala
progressiva. Nos mais atrasados, os seres que neles habitam são rudimentares; tem
a forma humana, mas sem beleza; seus instintos não tem o tempero dos
sentimentos de delicadeza ou benevolência; não tem noção do justo e do injusto; só
a força bruta faz a Lei. Não tem industrias, nem invenções, e despendem a vida na
busca da nutrição. Entretanto não estão abandonados por Deus; no fundo da sua
inteligência jaz, latente, a vaga intuição de um Ser Supremo, que basta para torná-
los superiores; não são seres degradados, mas crianças que crescem.

Há inúmeros graus de mundos, e entre os mais elevados, estão os dos Espíritos


Puros, desmaterializados, onde se tem dificuldade para se reconhecer aqueles que
um dia animaram esses seres primitivos, assim como hoje não se reconhece no
homem atual o seu embrião.

Nos mundos superiores, a vida moral e material são bem diferentes que da Terra. O
corpo é sempre como em toda a parte, em forma humana, porém mais embelezada,
aperfeiçoada e sobretudo purificada, já não tendo mais a materialidade terrestre,
nem sujeitos às doenças, nem às deteriorações; a infância é curta ou quase nula, a
vida é muito mais longa que da Terra, isenta de ansiedades e angústias; a morte não
tem mais o horror da decomposição e sim é objeto de uma transformação feliz; os
sentidos são delicados e tem percepções que neste mundo estão sufocadas. A sua
locomoção é rápida e leve, deslizam, por assim dizer, apenas pelo esforço da
vontade. Podem conservar os traços das vidas passadas e assim se apresentarem à
vontade, mas iluminados por uma luz divina, transfigurados das impressões
interiores, sempre elevadas, irradiando inteligência e vida; gozam de uma lucidez
que os coloca num estado permanente de emancipação e permite-lhes a livre
transmissão do pensamento. As relações nestes mundos, são sempre amigáveis
entre os povos, jamais se perturba o vizinho pela ambição de dominá-lo, não há
guerras, nem senhores, nem escravos, nem privilégios de nascimento. A
superioridade moral e inteligente é que dá a supremacia, onde a autoridade é
sempre respeitada, porque é dada por mérito e se exerce com justiça. Ali o homem
procura se elevar sobretudo acima de si mesmo, aperfeiçoando-se, com uma nobre
ambição. Ninguém sofre a falta do necessário, porque ninguém está em expiação;
numa palavra o mal ali não existe. Em vosso mundo tendes necessidade do mal,
para sentir o bem; da noite para admirar a luz; da doença para apreciar a saúde; nos
mundos superiores estes contrastes não são mais necessários.

Na transição deste nosso planeta de provas e de expiações para o de regeneração, o


que deve esperar o Espírita? Qual a sua atitude e comportamentos a serem
vivenciados? Quais devem ser os seus objetivos?

PLENITUDE É A NOSSA META


A mente desperta, consciente da sua responsabilidade, estabelece metas que pouco
a pouco passa a conquistar, à medida que galga aquele patamar de realizações;
constituindo-lhe um renovado e incessante estímulo ao desenvolvimento das suas
potencialidades. Em razão disso, apresenta-se-lhe metas educacionais, familiares,
sociais, econômicas, artísticas e espirituais a que se propõe.

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Porém, toda mudança impõe esforço, ampliação e renovação de paradigmas,
firmando-se na superação dos valores então vigentes, fixando-se em valores que se
constituem em propulsionadores do progresso. A mudança do normalmente aceito e
estabelecido para outro desconhecido, produz reações de tendências a se preservar
os valores nos moldes estabelecidos, na acomodação de que se beneficiam, e por
outro lado a do esforço que se propõe a renovação da paisagem mental, emocional e
cultural retrógrada em que se teima permanecer.

O conhecimento – a cultura e as conquistas tecnológicas da humanidade – no


momento atual duplica-se à cada quatro anos, constituindo um imperativo pesado
para a criatura acompanhar e assimilar as novas informações. Porém, no limiar do
próximo milênio, essas aquisições serão de tal forma, que se fará a duplicação em
apenas vinte meses. Se o homem e a mulher que não se renovem e se não
adaptem ao processo da evolução, ficarão ultrapassados, permanecendo obsoletos.

É preciso ter coragem o indivíduo, na sua reciclagem, reconhecendo-se ultrapassado


no contexto ora eminentemente tecnicista e imediatista, evitando a desumanização e
a robotização do ser, implementando os seus recursos psicológicos, adequando-se as
suas metas aos valores espirituais, ultrapassando os limites-barreiras-corporais, ao
encontro da sua consciência transcendental, renovando-se incessantemente, em
motivação permanente para a sua estruturação do ser real, profundo, vitorioso sobre
si mesmo.

A manutenção dos propósitos de renovação e autoaprimoramento é o resultado de


uma aceitação normal e de todo momento, da necessidade de autodescobrir-se
morrendo para as constrições e ansiedades, os medos e rotinas do cotidiano. Para o
entendimento se si mesmo e da Vida, faz-se necessário um percebimento integral de
cada fato, examina-lo com imparcialidade, na sua condição de fato que é, com uma
mente inocente, sem passado nem futuro, apenas presente, mediante honesta
compreensão, esta é a forma segura de o entender, de o perceber e digeri-lo, sem
julgamento, sem compaixão, sem acusação. Desta ação consciente, de que se
impregna, o homem se plenifica interiormente, sem neurose ou outros quaisquer
fenômenos psicóticos, perturbadores da personalidade e da vida.

As metas educacionais formarão o seu cabedal de conhecimento; as familiares


ensejarão aprendizagem, o desenvolvimento do amor e o inter-relacionamento
pessoal; as sociais ampliarão o círculo afetivo e o crescimento do grupo; as
econômicas fomentarão o equilíbrio financeiro e harmonia entre as pessoas; as
artísticas contribuirão para o embelezamento, o belo, o estético, o ideal; as
espirituais no entanto, coroarão as realizações do seu processo evolutivo levando-o à
plenitude. Estas metas humanas, imediatas, são estimuladoras para a existência
terrestre, e acrescidas da identificação com a Consciência Cósmica, permanecem
como força propulsora para o progresso.

Aos olhos do mundo, os triunfadores talvez sejam aqueles que brilham na Terra sob
os degraus do êxito ilusório, muitas vezes com o coração cheio de angústias e de
dores, mas, somente os que se libertam e amam, atravessam as dificuldades e
ultrapassam as metas iniciais do processo terrestre, permanecem voltados para o
bem geral e transformados interiormente, iluminados pela chama da imortalidade, e
mergulhados na própria causalidade, fruirão real plenitude – sua meta essencial.

Psicoterapeuta Excepcional, Jesus definiu a necessidade de buscar-se primeiro o


reino dos Céus, pois que isso ensejaria a conquista de todas as outras coisas. É óbvio
que, ao se adquirir o essencial, todas as coisas perdem o significado, por se
encontrarem destituídas de valor face ao que somente é fundamental, outrossim,
alertou sobre o imperativo de fazer-se ao próximo o que se gostaria que este lhe
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fizesse, fixando no amor ao processo de libertação, na ação edificante o meio de
crescimento e na oração fortalecedora a energia que proporciona o objetivo, a
perfeita identificação do sentimento com o conhecimento, resultando na conquista do
Eu profundo em sintonia com a Consciência Cósmica.

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22 - EV. Cap. VIII Item 5 – Pecado por pensamento
Complementar: Autodescobrimento ‘’Computação cerebral’’
Enfoque: Os hábitos e os desejos subconscientes. Somatização das enfermidades

Sofrem-se as conseqüências de um pensamento mau não seguido de efeito?

Aprendestes o que foi dito aos antigos: Não cometereis adultério. Mas eu vos digo
que todo aquele que tiver olhado uma mulher com mau desejo por ela, já cometeu
adultério com ela, em seu coração. Mateus, V, 27-28.

Há uma importante distinção a fazer. Ã medida que a alma avança na vida espiritual,
se esclarece e se desposa, pouco a pouco de suas imperfeições, segundo a maior ou
menor boa vontade que emprega no seu livre arbítrio. Todo mau pensamento resulta
pois da imperfeição da criatura, mas esse mau pensamento torna-se para ela uma
ocasião de adiantamento, se o repele com energia, um esforço por apagá-lo e não
cederá se apresentar a ocasião para satisfazê-lo, e depois de ter resistido, sentir-se-
á mais forte e alegre pela sua vitória. Aquele ao contrário, que não tomou boas
resoluções procura a ocasião para o ato mau, e se não o realiza não é por efeito da
sua vontade, mas porque lhe falta a oportunidade; portanto é tão culpado como se o
cometesse.

Em resumo naquele que não concebe mesmo o pensamento do mal, o progresso está
realizado; naquele a quem vem esse pensamento mas o repele, está em vias de
cumprir; naquele enfim que tem esse pensamento e nele se compraz, o mal está
ainda com toda a sua força. Deus que é justo considera todas essas diferenças na
responsabilidade dos atos e dos pensamentos dos homens.

Há uma série de coisas que fazemos e de outras que não fazemos, às vezes com
agrado e não raro com desgosto. Durante largo tempo fazemos determinadas coisas,
de tal forma que esta se torna um hábito. Mas, de repente, esse hábito começa a
prejudicar-nos e então queremos deixá-lo. Enquanto foi agradável, nós o
mantivemos e o justificamos mediante toda espécie de racionalizações. Ao tornar-se
danoso, passamos a condená-lo e queremos erradicá-lo. Mas ele se enraizou e daí a
nossa dificuldade. Ainda não pomos em ação a vontade soberana, ainda não usamos
da nossa liberdade individual, do nosso livre arbítrio e com todo o empenho, com
muito entusiasmo empreendemos a nossa transformação moral. Somente a situação
de emergência criada por uma grave responsabilidade, por uma oportunidade rara,
por um desastre ou por uma morte súbita, poderia despertar os nossos poderes
inertes: na ausência de uma crise semelhante, a nossa propensão natural é dormir a
vida, desperdiçá-la.

O que é o mal em nós? De que forma reconhecê-lo? Como podemos modificar nossos
hábitos?

Responde a Doutrina Espírita: “Reconhece-se o homem de valor pela sua contínua


transformação moral e pelos esforços que faz no sentido de anular suas inclinações
negativas”.

Quando é então que caio em tentação? Não é quando deixo de me observar?


Quando nos tornamos fundamente cônscios de nós mesmos, surpreendo em mim,
por exemplo, o impulso da maledicência. No instante em que vou iniciar a crítica
maldosa, a condenação, percebo o impulso; o percebimento o suspende, fico a
observá-lo, e enquanto eu o observo, não critico, não me culpo, nem me justifico. Se
porém desinteresso-me, deixo de observá-lo, dou expansão à maledicência. Se
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desenvolvo em mim o real interesse por mim mesmo, perceberei o mais
freqüentemente a desatenção, e o percebê-la já é, de novo, atenção. Se no seu
retorno eu me mantiver tão atento quanto da primeira vez, e permanecer atento
durante todos os demais momentos críticos que se hão de suceder, o mal hábito se
enfraquecerá e acabará pode desaparecer, não somos nós que os deixamos, são eles
que nos deixam.
Salvo do latim Salvu, significa ‘’são’’, ‘’que está com saúde’’, e muito atual é o ensino
de Jesus, que diz: salvar-se é curar-se: ‘’Aquele que persistir até o fim, esse será
salvo”;

O SER SUBCONSCIENTE – O PENSAMENTO – O CÉREBRO

O cérebro pode ser comparado a um complexo computador de elevados recursos.


Registra a mente, transformando-a em pensamentos – dedutivos – quando pela
razão e lógica elaboram teorias através de um caso específico e, - indutivo – quando
parte uma teoria para um caso específico. O hábito do pensar desenvolve-lhe as
possibilidades e as idéias ficam digitadas nos sensores do subconsciente e depois
fixam-se nos substratos do inconsciente profundo. O cérebro na sua função de
instrumento da mente reage conforme os imperativos da mente que por ele se
exterioriza. Todos os conteúdos que não puderam ser apreendidos (percebidos) pela
consciência lúcida compõem o subconsciente, e podem permanecer em condição de
recalques (desejos reprimidos), não trabalhados e não digeridos, que liberam-se em
condições especiais: lembranças, recordações, locais visitados, encontros com
pessoas, acontecimentos, enfermidades. O subconsciente é a parte do ser
responsável pela memória mais próxima, pela vida psíquica e sentimental,
comportamento social e moral, aflora nos sonhos, e sua ação é preponderante nos
transtornos que resultam das suas fixações perturbadoras. A preferência mental de
cada um é que elege o padrão do subconsciente, portanto que estabelece a conduta
do indivíduo nos seus inter-relacionamentos pessoal, como na sua vivência
existencial.

Em verdade, a vitória do empenho pessoal começa no plano do desejo mental,


prosseguindo nas tentativas que vão gerar o hábito, realizando-o, tornando-se parte
integrante da nova natureza do ser por fixação automática. O infortúnio é resultado
das ações negativas ou dos comportamentos enfermiços que ainda predominam nos
arquivos do subconsciente, que por sua vez conspiram com firmeza contra as novas
aspirações, inabituais no ser humano por falta de exercício.

Cada um elabora o seu próprio programa de sucesso ou de fracasso, mediante as


suas atitudes que se transformam em bases de segurança conforme as qualidades
vibratórias de que se constituem. Não basta desejar, é preciso insistir e perseverar,
transformando a potência da idéia para que predomine sobre as outras idéias que se
encontram arquivadas comandando o subconsciente e os acontecimentos. Assim
sendo, quem deseje a paz, a saúde, a aquisição dos valores elevados, não cesse de
autoinduzir-se, cultivando os pensamentos vitalizadores das aspirações até anular
aqueles que se encontram nos arquivos do subconsciente, que passará a
exteriorizar-se com os conteúdos correspondentes da atualidade, em novas fixações
psíquicas e emocionais.

O homem se torna aquilo que cultiva no pensamento.

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23- EV. Cap. XVII Item 4 – Os bons espíritas
Complementar: Autodescobrimento ‘’Reciclagem do Subconsciente’’
Enfoque: Reforma Intima.

O Espiritismo bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, conduz o verdadeiro


espírita como o verdadeiro cristão. O Espiritismo não criou nenhuma moral nova;
facilita aos homens a inteligência e a prática moral do Cristo, dando uma fé sólida e
esclarecida.

Mas muitos daqueles que crêem, não compreendem nem as suas conseqüências
nem o seu alcance moral, ou se as compreendem não as aplica a si mesmo. Não se
prende isso a falta de precisão da doutrina; sua essência mesma é a clareza, nada
tem de mistérios e seus iniciados não estão de posse de nenhum segredo oculto, não
precisando de nenhuma inteligência fora do comum para entendê-la.

Aquele que pode ser, com razão, qualificado de verdadeiro e sincero espírita, está
num grau superior de adiantamento moral, domina mais amplamente a matéria, tem
percepção clara do futuro; os princípios da doutrina fazem vibrar nele as fibras;
numa palavra ele é tocado no coração, a sua fé é inabalável, e se esforça ele para se
libertar, e quase sempre o consegue quando tem vontade firme. Reconhece-se o
verdadeiro Espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para
domar suas más inclinações.

REFORMA ÍNTIMA – O ESPÍRITO-ESPÍRITA

A tendência para guardar coisas é inata na criatura, é quase uma compulsão.


Pensando-se no futuro, guarda-se objetos (alguns inúteis); medicamentos (que ficam
sem validade); roupas e calçados usados (para providências posteriores); papéis,
revistas, livros e jornais (para serem lidos um dia.... que talvez nunca chega);
materiais e ferramentas (que nunca são utilizados). Um dia porém, .... só Deus sabe
quando...., a criatura dá-se conta disso tudo e sai-se a distribuir o que pode ser
aproveitado, a eliminar o que é inútil e reservar o que realmente tem interesse
prático. Esse gesto representa uma forma de libertação, de desapego ao secundário,
ao desnecessário e sem valor.

Isso quanto ao que é material, e quanto ao nosso depósito psíquico? Qual a nossa
relação com esse armazém do subconsciente? O que fazer com o nosso entulho
psíquico para tornar a nossa existência mais limpa, livre, desobstruída, mais
saudável?

Um discípulo queixara-se ao mestre que a sua casa pegara fogo e destruíra tudo
quanto tinha. Respondeu-lhe o mestre que agora seria muito mais fácil a ele encarar
a morte com naturalidade, já que havia se desapegado de tudo. A lição diz que é
necessário: que o fogo da lucidez destrua a residência das paixões, onde cada um se
esconde, onde estão depositados os conteúdos perturbadores e fixações
tormentosas, para que cada um encare a existência sem disfarces, com sentimentos
novos abertos a outros valores, a outras conquistas.

Penetrar-se mentalmente, avaliar impressões infantis que ficaram arquivadas na


memória, demitizar as pessoas modelos gravadas, digerir os choques não
absorvidos, os fantasmas criados pela imaginação, os medos cultivados, a fantasia
lúdica; reavaliando os seus significados e selecionando-os, de modo deles a se
libertar, preservando as impressões enriquecedoras e que realmente proporcionem
bem-estar.

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Para essa tarefa, a ação deve ser destituída de autocompaixão, de autocrítica, de
autopunição, de autojustificação, mediante a coragem de quem vislumbra e se dirige
para uma meta de segurança, sem saudades do que passou; deve fazer a seleção do
material e analisá-lo serenamente, a fim de renovar-se.
O espírita tem um comprometimento com o autodescobrimento, para ser feliz,
identificando seus defeitos e suas boas qualidades, sem autopunição, sem
autojulgamento, sem autocondenação.
Pescá-los no seu mundo íntimo, e eliminar aqueles que lhe constituem motivos de
conflitos, deve ser-lhe a meta. Não se sentir infeliz ou desventurado, porém
empenhar-se por atenuar as manifestações primitivas da agressividade e posse,
desenvolvendo os valores que o equipem de harmonia, vivendo bem cada momento,
sem projetos propiciadores de conflitos em relação ao futuro ou programas de
reparação do passado. Simplesmente deve renovar-se sempre, agindo com correção,
sem consciência de culpa, sem autocompaixão, sem ansiedade. Viver o tempo com
dimensão atemporal, em entrega, em confiança, em paz. O pensamento
evangelizado funciona como uma faxina, desobstrui, limpa, como um processo
depurativo, direcionando a estrutura do conhecimento espiritual no sentido de
harmonizá-lo com a Lei Divina.

A sua consciência expressa-se em uma atitude perante a vida, um desvendar de si


mesmo, de quem se é, de onde se encontra, analisando, depois o que se sabe, e
quanto se ignora, equipando-se de lucidez que não permite mecanismos de evasão
da realidade. Não finge que sabe, quando ignora; tampouco aparenta desconhecer,
se sabe. Trata-se portanto, de uma tomada de conhecimento lógico, uma postura
embasada no conhecimento Kardequiano, levando-o à consciência plena do estado
em que se encontra.

Nesta reciclagem, liberta-se dos substratos anestesiastes e perturbadores,


preenchendo os espaços com novos elementos portadores de irradiação equilibrada,
estimuladora, avançando na conquista do ser profundo, interior. Munido do empenho
bem direcionado, pelo pensamento objetivo, claro, sem conflito; aceita o presente,
logrando criar o futuro através das mensagens que arquiva, restabelecendo o
subconsciente com o banco de dados que responderá mais tarde com as
informações corretas do que seja solicitado. A renovação psíquica e moral deve ser
uma atividade constante e natural, para que novos automatismos possam propelir o
ser para os patamares mais elevados e plenificadores que o estão aguardando.

Para tanto, utiliza-se dos importantes recursos da autossugestão positiva, da


visualização, da meditação e da prece que reabastece os valores, que, hoje
arquivados, ressumarão no futuro como sensações de paz, claridade mental,
impulsos generosos e atitudes equilibradas. O ser humano é a imagem do seu
Criador, por possuir a mesma essência imortal, conseqüentemente os preciosos
dons e recursos que levam à perfeição, competindo-lhe unicamente desenvolvê-los e
aprimorá-los.

Ao espírita, cabe compreender o que é ser Espírito e viver como tal – Espírito-
Espírita - conhecer em pensamento e em vontade, o perfil das suas necessidades
íntimas e de cada espírito; a sua linguagem deve ser a de Espírito para Espírito,
onde cada ato planejado está ligado a conjuntura íntima de cada um em
conseqüência dos relacionamentos elaborados em conjunto com outros espíritos, e
ter como diretriz para se conduzir na Doutrina Espírita, o exemplo que dá.

O momento atual é o de compreender as necessidades do Espírito. Estudar para


compreender a dor como fator da ambientação reencarnatória, compreender melhor
o que seja viver para evoluir, compreender a pedagogia do Amor, em cuja
metodologia traz a racionalidade do entendimento que educa o Espírito para que
66
transforme o pensamento, dando origem a novo sentimento ampliando a sua fé
numa estruturação nova de compreensão dos mecanismos trazidos pela Doutrina
Espírita e pela Casa Espírita, escola bendita que ampara os espíritos pelo
esclarecimento.

Se ontem os objetivos eram o de implantar e divulgar a idéia espírita para os


homens, hoje a luta centra-se na modificação do sentimento dos Espíritos utilizando
a força renovadora e saneadora dos postulados Espíritas, que junto ao Evangelho de
Jesus propicia ao Espírito a segurança do entendimento das verdades Espirituais.

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23- EV. Cap. XVII Item 4 – Os bons espíritas

REFORMA ÍNTIMA
QUESTÕES DO ESPÍRITO-ESPÍRITA

Para se conhecer como Espírito, faça-se as seguintes perguntas:

1) Quem sou? De onde vim? Para onde vou? O que faço aqui? Qual a finalidade
dessa existência? O que é o fato de eu ser Espírito?

2) Qual o meu compromisso com esta reencarnação? Quais os fatores (país, cidade,
região, clima, sociedade, família, condição socioeconômica) que influenciaram
nesta minha ambientação reencarnatória? Quais os meus sentimentos em relação
a esses fatores? Por que tenho esses sentimentos? Qual a finalidade do
espiritismo na minha vida? O conhecimento da reencarnação ajudou-me em quê?

3) Como eu vejo a caridade? O trabalho? Como encaro a vida? Como aprendi a


vencer as dificuldades? Eu ainda tenho melindres?

4) O que, como Espírita, devo visar na minha evolução? Quais os fatores que
impedem a minha evolução?

5) Sou Espírito-Espírita, qual a conseqüência de meus atos?

6) Sou Espírito-Espírita, se cometer qualquer deslize quais as conseqüências para


minha evolução?

7) Sou Espírito-Espírita, e se continuar a ser intempestivo e intolerante, qual será a


minha condição espiritual amanhã?

8) Qual a postura do Espírito-Espírita no Lar, quando assumimos o trabalho de


educar aqueles outros espíritos que abraçamos como família?

9) Qual a postura do Espírito-Espírita junto à Assistência Fraterna? De que maneira


devemos evangelizar o outro?

10) Qual a finalidade útil da Doutrina Espírita frente à humanidade?

11) Os meus defeitos são: (analise e relacione as suas maiores dificuldades, os


seus principais defeitos, hábitos e tendências negativas, vícios. etc.) Este
exercício traz o benefício da conscientização e liberação dos aspectos negativos
do ser.

12) Como trabalhar com eles? Como anular estes sentimentos em mim?

13) As minhas qualidades e meus potenciais são: (relacione aquilo que gosta de
fazer, tudo aquilo que faz bem feito, suas boas aptidões, tendências, etc.) como o
outro, este exercício potencializará suas qualidades, fortalecendo a autoconfiança
e autoestima.

14) Como posso desenvolvê-las? Que esforço estou fazendo para melhorar o meu
trabalho íntimo?

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24 - EV. Cap. XXVIII Item 38 – Preces para si mesmo: No momento de dormir.
Complementar: Autodescobrimento ‘’Subconsciente e Sonhos’’

O sono é o repouso do corpo, mas o Espírito, não tem necessidade de repouso.


Enquanto os sentidos estão entorpecidos, a alma se liberta em parte da matéria e
goza das suas faculdades de Espírito. O sono foi dado ao homem para a recuperação
das forças orgânicas e para a reparação das forças morais. Enquanto o corpo
recupera os elementos que perdeu pela atividade na vigília, o Espírito vai se
retemperar entre os outros Espíritos; ele haure no que vê, no que houve, e nos
conselhos que lhe são dados, idéias que reencontra, ao despertar, em estado de
intuição; é o retorno temporário do exilado à sua verdadeira pátria; é o prisioneiro
momentaneamente libertado. Eleve o seu pensamento no momento em que sentir a
aproximação do sono, faça apelo aos conselhos dos bons espíritos e daqueles cuja
memória lhe é cara, a fim de que venham se reunir a eles, e ao despertar se sentirá
mais forte contra o mal, mais coragem contra as adversidades.

O SUBCONSCIENTE E OS SONHOS

Na sua maioria os sonhos são originados na área do subconsciente, e revelam muito


a respeito do ser humano. Nesta faixa estão arquivadas as memórias dos
acontecimentos vividos, liberando-se nos momentos do sono e apresentando-se de
formas variadas. Em impressões agradáveis e salutares, sucessos e alegrias,
aspirações realizadas, desejos satisfeitos e também nas formas perturbadoras de
anseios e medos não digeridos, ocorrências incompreendidas, gestos agressivos,
educação castradora, que se transformaram em conflitos da personalidade.

A libido também desempenha papel importante nesse campo, em razão dos desejos,
das frustrações e dos impulsos sexuais contidos, mal direcionados ou
excessivamente liberados. São ocorrências automáticas, decorrentes de muitos
fatores – exaltação, estresse, depressão, fobias, desejos – que fortemente acionados
liberam do subconsciente as cargas arquivadas, em formas de sonhos, recordações,
memórias.

E sem dúvida, em muitos casos, durante o repouso físico, o Espírito, desdobrando-


se, deslocando-se do corpo físico, realiza viagens e mantém contato com os outros
espíritos (encarnados ou desencarnados), cujas impressões são registradas pelo
cérebro e se representam benéficas gratificantes, no campo onírico.

Mas saindo-se das manifestações mecânicas, pode-se programar os sonhos que se


deseja ter, assim como evitar aqueles que se fazem apavorantes – os pesadelos. A
questão reside nos pensamentos cultivados, armazenados nos depósitos do
subconsciente, e que assumem o controle através de pensamentos e ações
conscientes. O subconsciente não tem os recursos da crítica e do discernimento,
sendo estático, isto é: possui a faculdade de guardar todo o material que se dirige ao
inconsciente; não seleciona o que arquiva, que no entanto aí permanece e pode
assomar à consciência ou direcionar-se aos registros profundos da inconsciência. O
subconsciente aceita qualquer tipo de mensagem, sem reflexão, sem análise de
qualidade. Conforme se pensa acumulam-se as memórias, o que permite a sua
reprogramação.

Estabelecendo-se um programa de sonhos bons, será possível dar ordens ao


subconsciente, ao mesmo tempo racionalizando o material perturbador nele
depositado. Antes de dormir, cumpre sejam fixadas as idéias agradáveis e
positivas, visualizando aquilo com que se deseja sonhar, certamente para
tirar proveito útil no processo de crescimento interior, de progresso cultural,
intelectual, moral e espiritual. Será uma conquista ideal o momento a partir do
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qual o indivíduo esteja consciente da sua realidade, pensando e agindo de forma
lúcida, sem os bloqueios das ilusões, os véus dos medos, as sombras das
frustrações que escondem essa realidade.

O planejamento dessa experiência deverá se suceder através de autos-


sugestão positiva, leitura salutar, exame de consciência para liberar-se dos
sentimentos menos felizes, assenerando-se, e mediante a oração
entregando-se à Divina Essência Criadora. Com a sucessão e exercício
destes requisitos, se farão diluídas as impressões angustiantes e negativas
dos conflitos arquivados, que cedem área a esses novos procedimentos. E
logo mais, integrados nos alicerces da personalidade, volverão à tona, à
consciência, na lucidez, assim como nos sonhos, abrindo possibilidades de
intercâmbio com os outros espíritos, que se sentirão atraídos e buscarão
transmitir mensagens de conforto, de apoio e de beleza.

A mudança psíquica, de uma paisagem perniciosa para outra de qualidade


superior demanda tempo e esforço. A insistência e a qualidade das
mensagens responderão pelos resultados alcançados.

Durante o exercício de reprogramação do nosso subconsciente e dos sonhos,


poderão ocorrer invasões das idéias-hábitos, interferindo negativamente e
desviando o nosso centro de atenção. Amorosamente, deve-se retornar ao
pensamento inicial, motivador da experiência, até criar novos padrões de
conduta mental, que se estabelecem naturais. Fomentando o equilíbrio
psíquico e emocional.

Para a superação dos limites, autossatisfação e realizações felizes é que


estamos reencarnados na Terra, crescendo a esforço pessoal com
tenacidade e valor moral.

A elevação dos pensamentos, o exercício da meditação e da oração antes do


dormir, são fatores importantes na reprogramação dos nossos sonhos, para
que sejamos mais conscientes no comando dos mesmos em nossos
desdobramentos, definido assim nossa maturidade e despertamento
espiritual, tanto no físico como no espiritual, ampliando nosso entendimento
sobre coisas, fatos e pessoas, definindo-nos o roteiro seguro da nossa
conduta espíritos-espíritas que somos.

E em qualquer dificuldade, nunca te digas, creias ou de sintas a sós, lembremo-nos


dos seres sublimes, colocados por Deus para auxiliarem os homens, os nossos Anjos
Guardiães, sintonizando-te com eles, através do pensamento, esforçando-se para
percebê-los, elevando-se pela prece e os sentindo, cujos pensamentos penetraram
tua alma te fazendo sentir a alegria e felicidade que te aguarda depois da luta, luta
essa que batalham conosco pela nossa redenção.

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25 - EV. Cap. X Item 14 – Perdão das ofensas
Complementar: Autodescobrimento ‘’O Passado’’
Enfoque: Aceitação e renovação, arrependimento e reparação, perdão da dívidas.

‘’Bem aventurados aqueles que são misericordiosos, porque eles próprios obterão
misericórdia’’. ‘’Se vos perdoardes aos homens as faltas que eles fazem ...vosso Pai
celestial vos perdoará também...’’. ‘’Se vosso irmão pecou contra vós, ide lhe exibir
sua falta em particular, entre vós e ele; se ele vos escuta, tereis ganho vosso irmão’’.
‘’Reconciliai-vos, o mais depressa, com vosso adversário, enquanto estás a caminho
com ele...’’. ‘’Se pois apresentardes vossa oferenda ao altar, vós vos lembrardes que
vosso irmão tem alguma coisa contra vós, deixai vossa dádiva aí no pé do altar, e ide
antes reconciliar-vos com ele..’’. ‘’Por que vedes um argueiro no olho de vosso irmão,
vós não vedes uma trave no vosso olho..’’. ‘’Não julgueis afim de que não sejais
julgados..’’. Então Pedro se aproximando, lhe disse: Senhor, quantas vezes perdoarei
ao meu irmão? Será até 07 vezes? Jesus lhe respondeu: Eu não vos digo até sete
vezes, mas até setenta vezes sete vezes. Mateus.

Eis um dos ensinos de Jesus que mais deve atingir vossa inteligência e falar mais alto
ao vosso coração. Comparai-a com a oração tão simples e tão grande em suas
aspirações, que Jesus dá aos seus discípulos, e encontrareis sempre o mesmo
pensamento: TU PERDOARÁS SEM LIMITES; perdoarás cada ofensa, ainda que a
ofensa te seja feita freqüentemente; serás brando e humilde de coração, não
medindo jamais sua mansuetude. Perdoai, usai de indulgência, sede caridosos,
generosos, pródigos mesmo no vosso amor.

O PASSADO – O PERDÃO AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO


Todos nós, no passado próximo, envolvemo-nos em problemas e erros, e certamente
também geramos simpatias e agimos corretamente. Agredimos e infelicitamos
pessoas, no entanto, simultaneamente, entendemos e amamos outras, produzindo
vínculos de afeição e cordialidade. Ninguém há, destituído de valores positivos e
conexões emocionais generosas. Mesmo quando os conflitos são decorrentes dos
efeitos reencarnacionistas, a consciência do bem que se haja feito, e ainda poderá
fazer, produz um lenitivo que suaviza os conflitos, facultando a disposição sincera
para reabilitar-se.

No exame dos insucessos, uma atitude deve prevalecer: - a do autoperdão – por


considerar-se que aquela era a maneira que caracterizava o estado de evolução no
qual se encontrava, porquanto, se houvesse mais conquistas, ter-se-ia agido de
forma diferente, sem atropelos nem desaires. O autoperdão é uma necessidade para
luarizar a culpa, o que não implica em acreditar haver agido corretamente, ou
justificar a ação infeliz. Significa dar-se oportunidade de crescimento interior, de
reparação dos prejuízos, de aceitação das próprias estruturas, que deverão ser
fortalecidas. Graças a essa compreensão torna-se mais fácil o perdão dos outros,
sem discussão dos fatores que geraram o atrito, com o imediato e natural
esquecimento do incidente, o perdão verdadeiro.

A técnica da visualização, - o encontro com o prejudicado, encarnado ou não, a


apresentação do arrependimento e os propósitos de não repetir o incidente, com
sincero afeto, - é precioso instrumento para o equilíbrio, com objetivo de
recuperação, e deverá ser repetida com freqüência até o momento em que
desapareça o fator conflitante, preponderando a autoconfiança em relação aos
comportamentos futuros.

Todo acontecimento bem vivido e analisado transforma-se em patrimônio de


experiência valiosa, ensinando quando negativo, a técnica de como não se deve agir
em determinadas situações. Lição anotada, é aprendizagem garantida.
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Reflexão: O PERDÃO
Por que somos tão suscetíveis? Por que nos ofendemos com tanta facilidade?
A suscetibilidade é a manifestação aguda do amor-próprio. Nossos conceitos de
honra e respeitabilidade, nos condicionam psicologicamente e nos opõem quase
sempre ao perdão. Bem considerado, a nossa suscetibilidade, o nosso amor-próprio,
são senão uma das faces do nosso egoísmo, que se preza e se alimenta em circuito
fechado, zeloso de si mesmo, na aparente segurança dos seus conceitos e opiniões,
dos seus deves e não deves, gostos e desgostos, muitas idéias e muitos imperativos
a que nos seguramos e criam a falsa idéia que precisamos estar seguros.

Das dívidas deles (dos meus devedores) para comigo sempre sei; mas nem sempre
das minhas dívidas sei, e as vezes nem quero saber. Diz o Cristo que devemos
perdoar aos nossos devedores: ‘’Pai, perdoa as nossas dívidas, assim como
perdoamos a dos nossos devedores’’. O verbo usado está no presente ativo,
revestindo-se de atemporalidade: ontem, hoje e amanhã perdoamos; não se
estabelece nenhuma condição recíproca, ‘’se perdoarmos’’. O verbo perdoar, do latim
perdonare, dá idéia de movimento: per ‘’através de, intensamente, totalidade’’, como
em percorrer ‘’correr inteiramente’’, perfazer: ‘’completar, fazer tudo’’, em perdurar:
‘’durar sempre’’ e perdoar: ‘’doar-se todo e inteiro’’. Portanto quando digo: Senhor,
perdoai as minhas dívidas, peço a Deus que me doe, me dê, inteiramente essas
dívidas, da mesma forma que as perdôo, as dôo, as dou, intensivamente aos meus
devedores. E quando dizemos “perdoai nossas dívidas’’, mais não estamos fazendo
senão desejar que elas se nos apresentem claramente ao nosso entendimento. É
como se disséssemos: Dai-nos o inteiro conhecimento dos meus males.

‘’Aonde houver ofensa, que eu leve o perdão’’ Da conhecida oração de São


Francisco de Assis, enseja nunca ser ofendido, porque não se reveste da presunção
de se julgar bom, puro e santo. Quando não me agrado do elogio, a crítica não me
fere, por mais acerba e contundente, porque a minha suscetibilidade se enfraquece e
de todo desaparece quando o amor de faz presente em meu coração. ‘’Pois é
perdoando que se é perdoado” Doar-se complemente em espírito. Não lhe atiro
na cara o conhecimento do dano que me provocou, não lhes dou expressão, não os
proclamo em alto e bom som, porque em espírito e verdade eu lhos ‘’perdoei’’,
confio que ele próprio, o meu ofensor, haverá de conhecê-los através de um exame
de consciência que o meu perdão lhe suscitará.

Uma definição de inteligência é: ‘’a capacidade de adequação a situações novas’’. A


nossa transformação psicológica, intelectual, moral e espiritual, inclui essa profícua
maneira de viver, essa constante adequação. Aquele que se fecha no seu egoísmo
nunca se transforma, nunca desveste o homem velho para revestir-se do homem
novo (cf. Paulo, Col. 3, 9-10). O homem novo rompe com o seu passado, renova-se,
percebe claramente os malefícios causados pelos seus conceitos de direitos, de honra
e de respeitabilidade embora os reconheça sempre no seu próximo. ‘’Não se põe
vinho novo em odres velhos, nem remendo de pano novo em tecido antigo; do
contrário, fermenta o vinho e rompem-se os odres; ao lavar-se o tecido, encolhe o
remendo novo e o rasgão é maior’’ (MT. 9, 16-17) Quase não se precisa interpretar
esta parábola de Jesus. Nós somos os odres velhos, satisfeitos com o nosso velho
vinho do nosso conhecimento medíocre, porque antiquados, tradicionais e
tradicionalistas. Somos os tecidos antigos medrosos da renovação.

“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará” (JO. 8, 32). A verdade somos nós
mesmos. Conhecendo-nos, seremos livres, porque o autoconhecimento liberta da
tradição e toda a sua carga de prejuízos. À medida que nos conhecemos, nos
transformamos, amplia-se o nosso tesouro, tesouro que as teias de aranha, a
fuligem, a ferrugem não consomem, e revela-se em plenitude. Dele nós tiramos o
conteúdo inesgotável: a caridade, a benevolência, a condescendência, a bondade, as
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boas qualidades que em todos nós estão em potencial, e então seremos criaturas tão
amorosas que o perdão com o total esquecimento das ofensas, será tão natural em
nós, que nunca precisaremos perdoar, porque simplesmente nunca nos ofenderemos.

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26 - EV. Cap. XXV Item 6 – Observai os pássaros do Céu
Complementar: Autodescobrimento ‘’Incerteza do Futuro’’
Enfoque: Preocupações do dia a dia, realizações no futuro e a atenção no presente.

‘’Por isso vos digo: Não vos inquieteis por saber onde achareis do que comer para o
sustento da vossa vida, nem onde tirareis roupa para cobrir vosso corpo, a vida não
é mais do o alimento, e o corpo mais que a roupa? Observai os pássaros do céu: eles
não semeiam e não colhem, e não amontoam nada nos celeiros, mas vosso Pai
celestial os alimenta; não sois muito mais do que eles? E quem é, dentre vós aquele
que pode, com todos os seus cuidados, aumentar à sua estatura de um côvado?
Observai os lírios dos campos; eles não trabalham e não fiam; e, entretanto, eu vos
declaro que Salomão, mesmo em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles.
Se, pois, Deus tem o cuidado de vestir dessa maneira a erva dos campos, que hoje
existe e que amanhã será lançada no fogo, quanto mais cuidado terá em vos vestir,
oh homens de pouca fé! Não vos inquieteis dizendo: Que comeremos, ou que
beberemos, ou de que nos vestiremos? como fazem os pagãos que procuram todas
essas coisas; porque vosso Pai sabe que delas tendes necessidade. Procurai, pois,
primeiramente o reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas
por acréscimo. Por isso não estejais inquietos pelo dia de amanhã, porque o dia de
amanhã cuidará de si mesmo. A cada dia basta o seu mal. Mateus, Cap. VI.’’

Estas palavras tomadas ao pé da letra seriam a negação de toda previdência,


trabalho e progresso. O homem se reduziria a uma passividade inativa, não
trabalharia suas forças físicas, intelectuais e não sairia na sua condição primitiva. Tal
não poderia ser o ensinamento de Jesus, que estaria em contradição com o que disse
em outro lugar (Batei e abrir-se-vos-á, buscai e achareis, ajuda-te e o céu te
ajudará) e mesmo com as leis da natureza. Deus criou o homem sem roupas e sem
abrigo, mas deu-lhe a inteligência para fabrica-los. Portanto não é isso que quer
dizer esse ensinamento.

No ensinamento acima, Jesus enfatiza a Providência, que não abandona jamais


aqueles que colocam nela sua confiança, mas quer que trabalhem de seu lado. Se
não vem sempre com ajuda material, sempre inspira idéias com as quais se acham
os meios para superar as dificuldades. Deus conhece nossas necessidades e nos dá o
necessário; mas os desejos insaciáveis do homem é que o deixa freqüentemente
infeliz, e serve de lição para o futuro.

INCERTEZA DO FUTURO

Freqüentemente supomos que o nosso futuro está carregado de problemas, de


desafios, exigindo continuar abraçado a um fardo pesado, a uma cruz de
sofrimentos. Isto decorre dos nossos arquivos do passado, quase sempre negativos,
porque ainda não desalojamos dali os hospedes da perturbação e das mensagens de
incertezas e preocupações com o futuro.

O nosso atavismo nos diz.... Um dia,.... Na primeira oportunidade,......que não


acontecem, porque não foram definidos no momento que se aguarda o processo de
crescimento interior, levando-nos a dúvidas de como enfrentá-los, considerando o
futuro com o que se relaciona ao passado. A acomodação aos hábitos, as idéias já
digitadas no subconsciente, as aspirações e valores escondidos, constituem a
desculpa na qual se compraz e a que se está acostumado, trazendo a insatisfação,
permanecendo sem o autoauxílio, transferindo para os demais os seus insucessos, a
sua aceitação sem resistência.

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As somas dos segundos se transformam em milênios. É mais exeqüível realizar-se
uma ação em cada pequeno minuto do que aguardar a sucessão dos anos e não se
fazer nada. Quando se deseja, estabelece-se horário e define-se ocasião, ordem essa
registrada no subconsciente, que faculta a realização do programa estabelecido. A
atitude correta está em viver cada momento intensamente, porquanto, cada minuto
que se acerca e passa, é o futuro chegando e transformando-se.

Aquilo que é definido, deixa de ser vazio, ameaçador. No indefinido os rumos se


confundem e a capacidade de discernir perde a sua escala de valores, não sabe
selecionar a importância da primazia na sua execução, dando curso à instabilidade
emocional, as incertezas e as preocupações.

O que não é possível realizar-se hoje, será feito amanhã, porém sem angustia, sem
remorso. Uma excelente receita de paz, proposta por Jesus: - Não andeis, pois
ansiosos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã a si mesmo trará o seu
cuidado; ao dia bastam os seus próprios males.

A experiência resulta da vivência do fato, e o mal é a tentativa incorreta de


agir na busca do melhor. Assim, em cada instante, ter-se a atenção, os cuidados
que se pretende direcionar para as ocorrências futuras, que acionadas com precisão
hoje, serão eliminadas no futuro. Decisões salutares, atitudes corretas, pensamentos
enobrecedores, variar para o melhor, programam o futuro agradável.

A luta fortalece o caráter e capacita o ser para os contínuos desafios, para o


crescimento de si mesmo. Esse trabalho é intransferível, assim como a sabedoria que
se aprende, mas não se doa. Deve-se recorrer à fixação pela repetição de frases
idealistas, de autossugestão otimista, da prece, da meditação, do serviço de amor ao
próximo e sempre através do amor a si mesmo.

Agindo-se assim, o futuro sempre estará presente, sem quaisquer insegurança ou


incerteza ameaçadora, enriquecido de propostas agradáveis, perspectivas de êxito,
tornadas realidade.

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27 - EV. Cap. XIX Item 1 – O poder da Fé

‘’E Jesus, tendo ameaçado o demônio, ele saiu da criança, que foi curada no mesmo
instante. Então os discípulos vieram encontrar Jesus em particular, e lhe disseram:
Por que não pudemos nós outros, expulsar esse demônio? Jesus lhes respondeu: É
por causa da vossa incredulidade. Porque eu vo-lo digo em verdade: se tivésseis fé
como um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daqui para ai, e
ela se transportaria, e nada vos seria impossível. Mateus, cap. XVII, 14-20) .

Reflexão: “O ESTADO DE FÉ”


O que é a fé? - Fé é crença? - O contrário de fé é a descrença? - Fé é esperança?

A palavra fé, milenar, vem carregada de significados, qualificações, conotações,


atributos que alteraram a sua essência. Por exemplo: a crença – crê aquele que não
sabe – se soubesse e conhecesse não precisaria crer, teria fé, que não é a crença
morta num dogma. A crença é um obstáculo à Verdade; crer em Deus não é achar
Deus. A crença é uma projeção daquilo que o indivíduo tem como conteúdo (temor,
aceitação, desespero, fuga, consolo, exploração, etc.) e isso tem muito pouco
significado, e desta forma não é uma mente livre. A fé em alguma coisa, seria mais a
esperança. O que é o viver, quando se vive preocupado com o amanhã? Se
unicamente o futuro é portador da esperança e vivemos somente para ele, é porque
estamos em desespero, não aceitamos a nossa própria vida e o momento presente é
apenas de sacrifícios para se ter felicidade no futuro; os infelizes é que enchem as
suas vidas com a preocupação do amanhã, a que chamam esperança e isso não pode
ser a Fé..

Qual então a essência da fé?


O homem passível de receber da ajuda da Vida, está propriamente perturbado,
aflito; e nesta perturbação e aflição, não pode entender o que a Vida dele quer. Ela,
a Vida, quer favorecê-lo, mas ele está ansioso, revoltado, amargurado, cheio de
desejos, frustrações, a tudo resistindo, a tudo querendo alterar e mudar
intempestivamente, e fica fechado neste círculo vicioso, embotado. Neste estado não
enxerga, nem escuta o que a Vida lhe quer mostrar e dizer.

Implanta-se o estado de fé no homem, quando ele se faz receptivo, quando está em


paz, sem resistência àquilo que é. O alívio, o bálsamo, o lenitivo, ao homem chega
quando ele se entrega à Vida, sem malícia, em cândida inocência, em ato de fé,
porque nele se intensifica a força que o vivificou quando por ela se deixa permear.
No total despreendimento, dele a Vida cuida.

Da mesma forma que a flor abre-se ao sol para nutrir-se e vivificar, essa
receptividade humana baseia-se na estrita não-resistência. O homem fica com o que
‘’é ’’. Nesta dinâmica passividade, enxerga e escuta, e sobretudo sente, nele a Vida
lhe vai sugerindo, mansamente, os atos por realizar, as decisões a tomar, os
caminhos por seguir, em perfeito estado de fé.

O Evangelho: O PODER DA FÉ

É unicamente no sentido moral que se deve entender o poder da fé. É certo que a
confiança nas próprias forças torna-se capaz de executar coisas. As montanhas que a
fé transporta são as dificuldades, as resistências, a má vontade, os preconceitos,
interesse material, egoísmo, fanatismo, paixões,...etc. a fé robusta dá a
perseverança, a energia e os recursos que fazem vencer esses obstáculos. Noutra
acepção, a fé também, dá confiança no cumprimento das coisas, na certeza de se
atingir seu fim; dá uma lucidez que faz ver. A fé verdadeira, sempre acalma; dá
paciência, inteligência e compreensão das coisas. A fé verdadeira alia-se à
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humildade, com confiança em Deus, porque sabe que é simples instrumento da Sua
vontade. Pelo poder da fé o homem age direta e especialmente na ação magnética,
sobre o fluido, agente universal, lhe modifica as qualidades e lhe dá impulsão.
Pode pela fé dirigida para o bem, operar esses fenômenos estranhos de cura e outros
que podem passar por prodígios, e que não são senão todavia a aplicação da uma lei
natural.
AUTODESCOBRIMENTO E A FÉ

Emprestamos demasiada importância às opiniões dos outros, à aparência, às


conquistas de coisas externas, ao convívio social e disputas insignificantes;
descuidando-se de si mesmo e permanecendo ignorante da nossa realidade
profunda, das nossas potencialidades latentes.

Também a ótica pessimista, de que apenas a nossa vida é existência trabalhosa e


difícil, leva-nos à autocompaixão, depressões, infelicidade, perdendo os parâmetros
do equilíbrio para uma análise correta. A autoestima esmaece, a força de vontade
não impera para reverter a ordem dos pensamentos derrotistas, porém com exceção
das conjunturas expiatórias, comprometimentos físicos e mentais, os acontecimentos
fazem-se experiências para o nosso crescimento interior, onde as provações são
recursos propiciatórios para a evolução; porque se assim não fosse, a vida na Terra
já seria o paraíso desejado e a vida física se tornaria de natureza eterna. A
transitoriedade atesta a limitação do seu curso e a finalidade educativa a que se
destina.

O autodescobrimento enseja humildade perante a vida, sem postura humilhante,


porque faculta a irradiação do amor desde o centro do Si, consciente da sua
realidade e origem divina. Tudo começa na mente. O exercício do bem pensar, a
busca de quem se é, das suas possibilidades, estabelecendo a confiança e a fé no
Poder Criador, de Quem procede, em si mesmo, gerando harmonia e coragem para
os desafios.

Se, descobre-se fragilidade num e noutro ângulo do caráter e da personalidade,


direciona suas resistências nesse rumo e fortalece-se. Errando não se lamenta,
porquanto aprendeu como fazer noutra oportunidade. Não se comprometendo com o
desequilíbrio, igualmente não se culpa por ele, nem a ninguém, descobrindo a valor
da aprendizagem. Acertando, não se glorifica, pois sabe que longo é o caminho pela
frente.

A fé é uma virtude intelectual, que decorre do esforço racional e sobrevive calcada na


razão e na envergadura superior dos fatos que lhe servem de base. A fé que não
reflexiona, perde vitalidade e se transforma em hábito de crer, sem os recursos da
coragem na lutas e do ânimo diante das dificuldades. Tem as suas nascentes no
passado, quando foi iniciada e desenvolvida pela confiança, alimenta-se de
exercícios espirituais e reflexões, da qual se nutre facultando a vivência espiritual,
sem o que esmaece, deperecendo, convertendo-se em acomodação que não suporta
testemunhos do caminho evolutivo, por onde todos transitam. A fé é o elemento
vitalizador dos ideais de enobrecimento e sustentáculo da caridade.

Atavismo primário da vida, é lâmpada acesa no íntimo do espírito que se abre à


sintonia com as fontes inexauríveis do Mundo Espiritual, refletindo-se em renovações
incessantes, até que se firme em diretrizes contra as quais força alguma logra êxito
em extirpá-la. A fé é alimento espiritual de que ninguém pode prescindir.

Reflexão, prece e inspiração – eis os recursos vitais para a problemática da fé


espiritual. Se ainda não consegues a fé que remove montanhas, se te sentes
desfalecido sob o fardo dos problemas, se os conflitos te despeçam os sentimentos, e
77
não encontras a fé , não recalcitres; começa o exercício da confiança, entrega-te à
Deus e, sem reagir, sem arrojar-te na alucinação, perceberás que os débeis lucilares
da claridade espiritual imortalista surgem, atestando a misericórdia do Pai, e, por
fim, dominando-te a totalidade, a ponto de fazer-te carta viva da fé legítima,
clarificando o roteiro sombrio de todas das almas.

Disse Jesus a Jairo, o chefe da sinagoga que pedia socorro a filha considerada morta:
‘’Não temas, crê somente’’, e chegando à casa da enferma despertou-a para a saúde
a vida. Assim, busca Jesus nos momentos difíceis, reveste-te da necessária
humildade, a fim de submeter-te aos impositivos da evolução, embora o sacrifício
que seja necessário oferecer. Não duvides, porém, do auxilio divino, em todos os
dias da tua vida. A fé é uma necessidade imprescindível para a felicidade, fator
essencial para as conquistas íntimas nos rumos da evolução.

78
28 - EV. Cap. V Item 20 – A felicidade não é deste mundo
Complementar: Autodescobrimento ‘’Insatisfação’’

Não sou feliz! A felicidade não feita para mim! Exclama geralmente o homem em
todas as suas posições sociais. A felicidade não é deste mundo. Nem a fortuna, nem
o poder, nem mesmo a juventude, são condições de felicidade, nem mesmo a soma
das três. Neste mundo, qualquer coisa que se faça, cada um tem a sua parte de
trabalho e de miséria, seu quinhão de sofrimento e de decepções. A terra é um
planeta de provas e expiações, esse globo não encerra senão excepcionalmente as
condições necessárias para a felicidade, nele a felicidade é efêmera. Em geral ela é
uma utopia; o homem sábio é uma raridade neste mundo, o homem absolutamente
feliz nele se encontra menos. Porém é preciso admitir que existem alhures moradas
mais favoráveis, onde o espírito do homem possui plenitude. Deus semeou em
turbilhão esses belos planetas superiores para o qual os vossos esforços e vossas
tendências vos farão gravitar um dia, quando mais purificados e aperfeiçoados. E,
mais, a Terra não está eternamente dedicada a esse estágio, pelos progressos já
verificados, podeis deduzir os progressos futuros. Assim que uma santa emulação
vos anime e cada um despoje energicamente do homem velho, que vossos corações
aspirem a esse objetivo, e um mundo de felicidade já não mais será uma palavra vã.

Reflexão:
Mas, o que é a felicidade? Prazer e gozo dos sentidos? A filosofia do prazer como um
fim em si mesmo? O amor às coisas do mundo? O amor ao bem-bom, ao bel-prazer?
Será a felicidade um estado de virtude? De beatitude? A felicidade é um estado fora
de nós ou está dentro de nós? Por que nunca está onde estamos? Está a felicidade
onde a pomos?

A INSATISFAÇÃO E A INFELICIDADE

O homem moderno sofre, enquanto viaja em naves superconfortáveis fora da


atmosfera e dentro dela, vencendo distancias, interpretando os desafios e enigmas
cósmicos, a vida microscópica, um universo de informações e esclarecimentos. Há
esperança para terríveis enfermidades enquanto surgem novas totalmente
perturbadoras. A perplexidade domina as paisagens humanas. A gritante miséria
econômica e o agressivo abandono social fazem das cidades palco para o crime. Há
uma psicosfera de temor, indiferença pela ordem, pelos valores éticos, pela
existência corporal, e uma grande insatisfação. Desumaniza-se o indivíduo,
entregando-se ao pavor, ou gerando-o, ou ficando indiferente a ele. Os distúrbios de
comportamentos aumentam e o despautério desgoverna.

A rotina, é como ferrugem na engrenagem, que corrói e arrebenta. Disfarçada como


segurança, emperra a evolução, automatiza a mente, cedendo campo ao
‘’mesmismo’’ cansador, reprimente. O homem repete a ação de ontem com igual
intensidade hoje; trabalha no mesmo labor e recompõe idênticos passos; mantém as
mesmas desinteressantes conversações; retorna ao lar ou busca os repetidos
espairecimentos: bar, clube, televisão, jornal, sexo, com frenético receio da solidão,
até alcançar aposentadoria. Deixa-se arrastar pela inutilidade agradável, vitimado
por problemas cardíacos, que resultam das pressões largamente sustentadas ou por
neuroses que a monotonia engendra, deixando-se vitimar, o homem tende assumir
um comportamento ansioso que o desgasta, dando origem aos processos enfermiços.

O individualismo cedeu lugar ao coletivismo consumista, sem identidade, em que os


valores obedecem a novos padrões de crítica e de aceitação para os triunfos
imediatos sob altos preços de destruição do indivíduo como pessoa racional e livre. É
alto o preço na grande luta que se trava no cotidiano. A escala de interesses,
79
apequenando o homem, brinda-o com prêmios que foram estabelecidos pelo sistema
desumano, sem participação do indivíduo como célula viva e pensante do conjunto
geral. As constantes alterações econômicas; a compressão dos gastos; correria pela
disputa, aquisição e manutenção dos cargos; as constantes ameaças de guerras; os
governos corruptos e inescrupulosos; chefes arbitrários; anúncios e estardalhaços
sobre doenças;
prenúncios de tragédias; a catalogação dos crimes e das violências; tudo isso
respondem pela inquietação e pelo medo, constantes ameaças para o ser e seu
grupo, levando-o a permanente ansiedade que deflui das incertezas da vida, por isso
ele não é feliz.

A FELICIDADE E O AUTODESCOBRIMENTO

Para onde o ser se transfere, fugindo, leva-se consigo e reencontra-se, logo mais, no
novo lugar, assim se acostume com a novidade. A autodepreciação é fator
preponderante para a infelicidade pessoal e para seu relacionamento com os outros,
em razão do desrespeito para consigo mesmo. Quem se subestima, supervaloriza os
outros, fazendo confrontos entre si e os demais de forma inadequada, ou projeta a
sua sombra acreditando que todos são iguais, variando-se apenas nas aparências e
habilidade de se mascararem. O seu critério de avaliação é distorcido, doentio, sem
parâmetros do discernimento. A sua autoimagem é incorreta, feita de autopiedade ou
de autopunição, o que se transforma em uma lente defeituosa, que altera a visão do
mundo e das outras criaturas.

O essencial é a coragem de querer despir-se e querer realmente modificar-se,


atitudes que contribuem para um despertamento interior, coroado de êxito mediante
a reprogramação da mente, iniciando-a com a indispensável conceituação da auto-
imagem, reforçada com a disposição de não retroceder, com vontade, uma forma de
dever para consigo mesmo, de reestruturação do programa da vida, do
redescobrimento do Si e da sua eternidade diante do Cosmo. A tolerância, que
resulta da identificação dos valores éticos e das conquistas espirituais, enseja maior
respeito por si mesmo, permitindo-se os limites aos quais não se submete mais,
sem reações inamistosas e aquiescências injustificáveis. E assim a infelicidade e a
insatisfação (irmã gêmea do tédio), nesse campo de reprogramação da mente, com
muita atividade a executar, não encontra área para permanecer e desaparece. As
agressões, os choques sociais e emocionais, mesmo que recebidos, passarão por
critérios novos de avaliação e serão compreendidos, retirando-se deles o que seja
positivo e diluindo os efeitos perturbadores.

Todos somos diferentes uns dos outros, com desafios parecidos, mas não iguais, em
lutas contínuas, no entanto específicas, e a vitória conseguida em um combate não
impede nem evita outros enfrentamentos. A psicologia da religião começa na análise
dos recursos de cada um: sua fé, sua dedicação, seus interesses espirituais, suas
buscas e fugas, seus medos e conflitos.
Quanto mais a pessoa se autopenetra, mais descobre e mais possibilidades tem de
conhecer-se. Essa conquista leva ao infinito, porque vai até o ‘’deus interno’’ que
abre as portas ao entendimento do Criador.

A FELICIDADE: UM ESTADO DE ESPÍRITO

Das coisas do espírito que estão dentro de nós, se constituem em ‘’estados de


espírito’’; não são adquiríveis e refutáveis, não se compram, não se vendem, não se
emprestam, não de dão objetivamente. São inerentes ao espírito. A felicidade é um
estado de espírito, que se reflete num estilo de vida, e como tal não se adquire, não
se compra, não se vende, não se dá. É um outro nome do amor, ou melhor,
compreensão, da inteligência que se funda na não resistência, conceitualmente livre.
80
É bom saber que não sabemos nada. A sincera disposição da nossa ignorância
espiritual, não por afetação, mas pela humildade sincera, põe-nos receptivos para o
percebimento do amplo e do real. Perceber com muita clareza, porém sem
amargura, com muita inteligência o que precisamos para uma convivência feliz,
capaz de conviver com ricos e pobres, sábios e ignorantes, santos e pecadores, belos
e feios, agradáveis e desagradáveis, simpáticos e antipáticos; com amor no coração,
sem nenhuma resistência ao mal, capaz de ser ele próprio, rico ou pobre, feio ou
belo, erudito ou ignaro, não importa: o que importa é o amor no coração, que
floresce no húmus da não resistência, bafejado pela alegria de viver na suave
aceitação de tudo aquilo que é, e aí está, interligando-se , sem fragmentação
alguma, porque esta integração é amor, expandindo-se em natural desejo do bem,
do bom humor, do interesse amoroso pelas coisas, nas noites calmas, pelo gosto da
música, poesia, artes, beleza, natureza; e ele é feliz.

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29 - EV. Cap. XXV Item 1/5 – Ajuda-te, e o Céu te ajudará.
Complementar: Autodescobrimento ‘’Indiferença’’
Enfoque: Terapia do Interesse, doação ao próximo.

Pedi e se vos dará; buscai e achareis; batei à porta e se vos abrirá; porque todo
aquele que pede recebe, o que procura acha, e se abrirá àquele que bater a porta.
...... se, pois vós sendo maus como sois, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos,
com quanto mais forte razão vosso Pai, que está nos céus, dará aos verdadeiros
bens àqueles que lhos pedem. Mateus, Cap. VII, 7

Na infância da humanidade, quando o homem se aplica apenas a procura do seu


alimento, Deus deu ao homem o desejo incessante do melhor, que o impele a buscar
os meios de se melhorar, que o conduziu às invenções, à ciência. Aumenta a sua
inteligência, depura a sua moral, e às necessidades do corpo sucedem-se as
necessidades do espírito. Desta maneira o homem tem o produto das suas obras,
dela terá o mérito e será recompensado segundo tenha feito.

Se Deus tivesse isentado o homem do trabalho, seus membros estariam atrofiados,


sua inteligência não teria se desenvolvido e seu espírito permaneceria na infância
espiritual, no estado do instinto animal. Portanto o principio do ajuda-te e o céu te
ajudará, é o principio do trabalho, do progresso, porque este é filho daquele, e coloca
em ação a inteligência do homem. Aquelas palavras também significam: Pedi a luz
que deve clarear o vosso caminho; pedi a força para resistir ao mal; pedi a
assistência aos bons espíritos; batei a porta e ela será aberta, mas batei e pedi
sinceramente, com fé, fervor e confiança, com humildade.

Os espíritos não vem isentar o homem da lei do trabalho e do progresso, mas


mostrar-lhes o fim que deve atingir e o caminho que a ele conduz, dizendo, caminha
e chegarás; encontrarás pedras de tropeço, olha, e tira-as tu mesmo; nós te
daremos a força necessária se a quiseres empregar.

A INDIFERENÇA – O DESINTERESSE – A APATIA

Nas paisagens emocionais do ser humano, apresenta-se a indiferença, a apatia, o


desinteresse, como estados depressivos, que impede a realização das atividades
habituais, matando o seu interesse por quaisquer objetivos. Isola-o, aliena-o,
tirando-o do mundo objetivo, levando o paciente a patologias mais graves, na
sucessão do tempo. Acostumando-se-lhe, inicia-se uma viciação mental difícil de ser
corrigida, por ter um caráter anestesiante, tóxico, ao longo do tempo.

A viciação que o torna infeliz, resulta em não se preocupar com os outros, nem com
o lugar onde se encontra, com desrespeito a si mesmo, ao próximo e a sociedade.
Sua indiferença inicia-se, as vezes, da acomodação mental, como mecanismo de
defesa, para poupar-se ao trabalho ou a preocupação, caracterizado no conceito do
‘’deixa para lá’’; esquecendo-se que toda questão não resolvida no agora, retorna
depois, complicada. Sua indiferença provém também de vários conflitos, decepções
em relação à própria existência; do cansaço decorrente das tentativas malogradas de
autoafirmação; pelo desamor, em haver aplicado mal os seus sentimentos, como
trocas de interesses ou vigência de paixões; o abandono de si mesmo pela falta de
autoestima; demasiada valorização ao que é secundário em prejuízo do que é
essencial, que é a própria vida.

Há também os casos de infância, onde sentindo-se o ser, desconsiderado,


desamparado, não desenvolve a atitude psicológica da maturidade, sem chances de
triunfar.
82
Porém, ninguém, pode manter a indiferença no inevitável processo da evolução. A
vida é movimento e a parada representa pobreza de percepção dos fenômenos em
volta. Quando a indiferença começar a se sinalizar, faz-se urgente interrompê-la,
aplicando-se a terapia da mudança do centro de interesse emotivo,
despertando outros sentimentos.

Se é o estresse que responde pela sua existência, o relaxamento, acompanhado de


novas propostas de vida, produzirá o efeito salutar, que deve ser utilizado. Se foi o
fracasso, a análise dele em qualquer campo, redunda eficaz, com proveitosa lição
dele, levantando-se para novas tentativas. O fluxo divino da força da vida é
incessante. Qualquer indiferença significa rebeldia, proporcionando hipertrofia do ser
e paralisia da alma.

Nas experiências da afetividade mal direcionada, a escolha do amor sem


recompensa, pelo bem sem gratidão, leva o indivíduo a sair da indiferença para os
ardores da emotividade e da autorrealização. Se por acaso creres que a vida não tem
sentido, nem significado, mesmo assim, num gesto honroso de libertar-se das
algemas da indiferença, deve-se experimentar-se ao dar-se ao próximo, àquele que
deseja viver, a quem, na paralisia e na enfermidade, pede, bate e busca uma quota
mínima de alegria, de companheirismo de afeto e de paz. Em se fazendo, descobre-
se, e encontra-se consigo mesmo no seu próximo, recuperando a razão e o objetivo
para viver em atividade realizadora.

E mesmo que não necessites do teu irmão, o que de forma alguma ocorre, já que
ninguém na Terra se encontra em regime de completista, não poderás passar sem
bater, sem pedir e sem buscar a misericórdia de Nosso Pai, que nunca nos falta, em
considerando as nossas infinitas necessidades.

Cada amanhecer representa formosa concessão de Deus àquele que viu o cair da
tarde e presenciou a aparente vitória da noite sobre a luz. Por isso formular
propósitos salutares e executá-los é impositivo impostergável a favor da própria
evolução, libertando-se da indiferença, enriquecendo-se e preparando-se para a
todas as conjunturas. Ajudando-se o céu te ajudará.

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30 - EV. Cap. V Item 4/5 – Causas atuais das aflições
Complementar: Autodescobrimento ‘’Pânico’’
Enfoque: O medo. As obsessões. Tratamento espiritual

As vicissitudes da vida são de duas espécies, têm duas fontes diferentes: umas têm
sua causa na vida presente, outras fora dela. Os males da natureza do homem,
formam seguramente um notável contingente nas vicissitudes da vida; o homem os
evitará quando trabalhar para seu aprimoramento moral e intelectual. Mas, se há
males dos quais o homem é a causa primeira, há outros que a lei humana não
alcança, mas quer Deus o progresso de todas as criaturas, por isso não deixa ele
impune nenhum desvio do caminho reto, e se todo efeito tem uma causa, essas
misérias devem ter uma causa, e, desde que se admita um Deus justo, essa causa
deve ser justa. Portanto a causa precedendo o efeito, só pode ter sido numa
encarnação anterior, precedente a essa. O homem, pois, nem sempre é punido, ou
punido completamente na sua existência presente, mas não escapa jamais às
conseqüências de suas faltas.

O MEDO

O medo em si mesmo, não é negativo; o desconhecido, pelas características de que


se reveste, pode desencadear momentos de medo, em relação ao futuro ou sob
determinadas circunstâncias, tornando-se, de certo modo, fator de preservação da
vida, ampliação do instinto de autodefesa. Bem canalizado, o medo transforma-se
em prudência, em equilíbrio, auxiliando a discernir qual o comportamento ético
adequado, até o momento em que o amadurecimento emocional o substitui pela
consciência responsável. Quando porém se manifesta irracional, desequilibrando a
pessoa , predominando e apresentando-se na sua expressão patológica, aparece o
medo em forma de distúrbio de pânico, (deus Pan – meio cabra meio homem que
assustava as pessoas, provocando o medo) que na atualidade apresenta-se com alta
incidência, levando expressivo índice de vítimas a aflições inomináveis: ansiedade,
medo, diarréia, vertigens, ataques, etc.

Na infância, por exemplo, mal trabalhada por educação deficiente, converte-se em


perigoso adversário. (Se você não se alimentar direito...; não dormir..., não
proceder bem...., papai e mamãe não gostarão de você, ou, o bicho papão lhe
pega.). A criança incapaz de digerir a informação, passa a ter medo de perder o
amor, de ser devorada, tornando o adolescente inseguro, um adulto que não se
sente credor de carinho, de respeito e de consideração, levando a deformação às
barganhas sentimentais, procurando agradar ao outro, diminuindo-se e
supervalorizando o afeto que busca.

Face às ameaças, o ser permanece tímido, procurando fazer-se bonzinho, não pela
excelência das virtudes, mas por mecanismo de sobrevivência. O medo assim
considerado, por assumir estados incontroláveis e perturbadores. Os fatores
psicossociais, as pressões emocionais, influem tornando o indivíduo amedrontado,
gerando temores injustificáveis, a se refletirem na área correspondente, com
prejuízos sérios.

Naturalmente existem as disfunções fisiológicas e os fatores genéticos responsáveis


por expressões do medo; há, entretanto, síndromes de distúrbio de pânico que
fogem ao esquema convencional, encontrando-se suas causas enraizada no ser que
desconsiderou as Soberanas Leis e se reencarna com predisposição fisiológica,
imprimindo nos gens a necessidade da reparação.

A síndrome do pânico traz também aquelas que tem um componente paranormal,


decorrente das obsessões, a influência perniciosa sobre a vítima, influenciando o seu
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campo mental, transmite-lhe telepaticamente clichês aterradores que vão se fixando
até transformarem-se em cenas vivas, ameaçadoras, que encontram ressonância no
inconsciente profundo, onde estão armazenadas as experiências reencarnatórias, que
desencadeadas emergem, produzindo confusão mental até que o pânico irrompe. Dá-
se, nesse momento a incorporação do invasor, que passa a controlar a vítima.
Quando a ingerência psíquica se faz prolongada, somatiza-se distúrbios fisiológicos
que requerem a terapia especializada.

Indispensável esclarecer que, embora a gravidade da crise, o distúrbio de pânico não


leva o paciente à desencarnação, apesar de dar-lhe essa estranha e dolorosa
sensação.

A terapia de libertação: transformação moral do paciente, a orientação ao agente


(doutrinação evangélica) os recursos da meditação, da oração, do passe, da ação
dignificadora e beneficente.
Mediante uma conduta saudável de respeito ao próximo e à vida, o indivíduo
precata-se dessas interferências; não sendo a morte o aniquilamento da vida, o
espírito prossegue com suas conquistas e limitações, grandezas e misérias. O ser
profundo, autor de todos os acontecimentos em sua volta, é o Espírito, seja qual for
o nome que se lhe atribua.

O medo, portanto, necessita de canalização adequada e seus distúrbios merecem os


cuidados competentes, sendo passíveis de recuperação, a que o indivíduo conquista,
mesmo sofrendo.
A pessoa é, e deve ser amada, assim como é. Naturalmente todo o seu empenho
deve ser direcionado para o crescimento interior e o desenvolvimento dos recursos
que a dignificam – não invejando quem lhe parece melhor - pois alcançará o
mesmo patamar e outros mais elevados – nem se magoando ante a
agressividade dos que se encontram em níveis menores.

Uma reflexão: O AUTODESCOBRIMENTO E O MEDO DE SER NINGUÉM

Essa é uma outra forma de medo. Temos medo, um grande medo de ser ninguém e
presas deste medo, alimentamos a chama da combustão de nossos desejos, nutrindo
uma imensa insatisfação; detestamos a nossa vida, porque somos carentes dos bens
que a outros sobram, ou porque temos males que outros estão isentos.
Manifestamos então os nossos desejos de mudança em algum sentido (ser rico, ser
magro, loiro, ter uma mulher ou marido diferente, ganhar mais, filhos melhores, em
comprar mais e vender mais) pois os nossos desejos são a ponta de lança do nosso
senso aquisitivo hipertrofiado, que se consubstanciam numa grande insatisfação,
insatisfação naquilo que somos daquilo que temos. Queremos então nos realizar de
alguma forma no meio social, detestamos o anonimato, ansiosos por ser
reconhecidos e se possível apontados: ‘’é ele – é ela’’. A ânsia de autoafirmação gera
a insatisfação, e esta é uma resistência à vida.

Presos neste condenável condicionamento psicológico imitativo, comparamo-nos com


os demais: parentes, artistas, celebridades, que passam nos carrões atirando pó e
lama nos que ficam à margem das estradas e da vida. Tornamo-nos insatisfeitos,
neuróticos, meio insanos, e nessa insensatez, culminamos em justificativas e
condenações intempestivas, em conclusões de malogro e somos infelizes.

Nossa vida melhora quando nos tornamos dinamicamente cônscios de que


somos criaturas insatisfeitas. Os nossos pensamentos podem ser apreendidos e
queimados na chama do percebimento. Quando nos pomos quietos, não-resistentes,
interessados, ‘’ouvimos’’, ‘’vemos’’ e ‘’sentimos’’ os pensamentos e os desejos.
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Somos pelo ego, os nossos pensamentos, os nossos desejos, e ao conhecê-los,
conhecemos a nós mesmos. Este autoconhecimento, em sentido figurado é uma
‘’queima’’ dos nosso ego, que se enfraquece, fragiliza-se, perde a força e deixa de
atuar compulsivamente sobre o espírito, a essência mais profunda do ser humano.
Quando o apreendemos intensivamente, começamos a viver uma vida nova,
iniciamo-nos numa nova maneira de viver. Passamos a gostar de nós mesmos, a
imagem no espelho e a noção de si-mesmo nos meandros da mente já não nos causa
repulsa; já não mais nos comparamos a ninguém, a ninguém imitamos, bastamo-
nos a nós próprios. Deixa o temor de existir em nosso espírito, o coração não mais
se turba, temos amor no coração, que embeleza a vida e que na sua essência maior
traduz por vivência com aquilo que ‘’é’’, aquilo que aí esta, com aquilo que aqui
dispomos!

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31 - EV. Cap. IV Item 4 – Ressurreição e Reencarnação
Complementar: Autodescobrimento ‘’Medo da Morte’’
Enfoque: Instinto de conservação - fenômeno da morte – compreensão da vida.

No tempo de Jesus, as idéias dos Judeus sobre a reencarnação não estavam


claramente definidas, porque não tinham senão noções vagas e incompletas sobre a
alma e sua ligação com o corpo. Eles acreditavam que o homem podia reviver, sem
se inteirarem com precisão como isso podia ocorrer e a designavam pela palavra
ressurreição, (veja-se Isaías XXVI, v.19), o que o Espiritismo, mais judiciosamente
chama de reencarnação. Em Mateus XVII e Marcos IX, Jesus fala da volta de Elias
como João Batista, atestando a reencarnação. Na conversa com Nicodemus, fala do
nascer de novo. Sob a designação de ressurreição, o princípio da reencarnação era
uma das crenças fundamentais dos Judeus; que foi confirmado por Jesus e pelos
profetas de maneira formal.

Allan Kardec no livro O Céu e Inferno, traz a seguinte mensagem: ‘’...por isso os
verdadeiros filósofos se exercitam para morrer e a morte não lhes parece de nenhum
modo temível’’. 1ª parte, cp. II e 2ª parte cap. I

O MEDO DA MORTE

O medo da morte resulta do instinto de conservação, que trabalha em favor da


manutenção da vida. A Vida, no entanto, são todos os acontecimentos
existenciais que ocorrem durante a reencarnação – no corpo - como fora dele – em
Espírito.

O desconhecimento da imortalidade, as lendas e fantasias, os mistérios, a ignorância,


vestiram a morte de inusitadas e irreais expressões, que não correspondem à
realidade, compondo-se os funerais, cerimônias, ritos fúnebres, ocultando a face
inevitável da legitimidade imortal. O fenômeno da morte diz respeito ao fatalismo
biológico das transformações moleculares do corpo físico. Com o desaparecimento
dele, suspeitou-se do aniquilamento da essência, como se esta fosse derivada da
matéria, o que é justamente o contrario, pois o Espírito é preexistente à matéria e
através do perispírito reencarna-se novamente.

Em outras circunstâncias, temos as consciências culpadas que temem o reencontro


com a realidade e elaboram, inconscientemente, os mecanismos de evasão da morte.
As vezes se torna tão grave o medo da morte, que portadores de transtornos
psicológicos matam-se para não aguardarem a morte, em terrível atitude paradoxal.

Mas, se não houvesse a morte física, o sentido da vida desapareceria, assim como a
finalidade da vida, da conquista de valores e do desenvolvimento intelecto moral do
ser. A sobrevivência, a morte, a reencarnação – são fenômenos naturais e
conseqüência da vida – e nisso a existência terrestre adquire significado e valor.
Fosse limitada a vida ao período de berço-túmulo, todos os labores perderiam a seu
conteúdo ético e os esforços dariam em nada.

Desse modo enfrentando-se com equilíbrio o conceito da sobrevivência, a morte


desaparece e o medo que possa inspirar transforma-se em emulação para enfrentá-
la com uma atitude psicológica saudável e rica de motivações, quando naturalmente
a morte ocorrer. O medo do fim converte-se em esperança de um novo princípio.

Viver, renascendo todo dia, morrendo sempre para todos os conceitos, opiniões e
ilusões, vivendo com o que ‘’é’’.

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Reflexão: O MEDO DE MORRER

A constante visão da morte, o sentimento sempre renovado da transitoriedade da


vida, não deveria se constituir num poderoso fator de transformação do homem?
O instinto de conservação cristaliza-se no apego à vida. Diz esse instinto que apegar-
se-lhe é natural. Mas tudo tem um fim, tudo que nasce depois se finda no fenômeno
biológico da morte.

Para cá viemos no processo do nascimento, éramos uma fita virgem, nova,


ganhávamos a luz da vida e nada tínhamos a perder; posteriormente acumulamos,
acrescentamo-nos: nome, identidade, CPF, posição social, prazeres, sonhos
realizações, valores inumeráveis que nos compõem o Eu, ou melhor o EGO, os fatos
que nos configuram a nossa personalidade, e de perdê-los é que temos medo. Então
o nosso temor realmente não é do desconhecido de que se reveste a morte, mas sim
da perda do nosso ‘’conhecido’’ que é aquilo tudo que nos caracteriza a vida, a tudo
isso queremos reter. Não importam que sejam ilusões fagueiras, projeções mentais,
valorizações mutáveis, passageiras. Queremos retê-las e perdê-las é morrer, e nós
queremos é viver, viver segundo o nosso conceito de vida, da vida menor, das coisas
que nos ofuscam, dão-nos um arremedo de segurança física e psíquica.

Nestes componentes buscamos segurança, daí a importância que damos à memória,


à tradição, à pátria, à família, ao status social, às crenças generalizadas que
antropoformizam Deus, de que nos agradamos tanto, pois nelas projetamos o nosso
anseio de permanência. O fato de morrer gente todos os dias não nos transforma,
exatamente por isso: Não é o desconhecido que tememos, mas sim o que
perderemos, o nosso conhecido. Ainda não sabemos o que é a Morte, e o que nos
impede de sabê-lo é precisamente o nosso apego às valorizações que nos
consubstanciam o nosso ‘’eu’’, o nosso reduto conhecido.

A MORTE SERENA

A cor da vida é a cor da morte, morre-se como se vive, e vive-se como se


morre. Saber viver é saber morrer. ‘’Quem achar a sua vida, perdê-la-á;
quem, todavia, a perder, encontrá-la-á’’.

O meio carrega em si o próprio fim, pois é parte do fim, uma vez que é o seu
caminho. Aquele que se apega à vida própria, o faz perder a vida, segundo a
expressão evangélica. A morte lhe parece assim uma perda e por isso o aterroriza,
pois nada é mais terrível que perder. Toda a sua vida é um angustioso ter e reter.
Diante da figura simbólica da morte, do esqueleto com o seu alfanje impiedoso, que
corta as esperanças de uma safra impossível, com a qual sonha viver à farta,
armazenando indefinidamente seus bens, ele se defronta com a sobrevivência
impossível, e então compensa a morte com a esperança imaginária de um continuar,
que o Cristianismo formal lhe oferece. Mas essa esperança não o convence, apenas o
acalenta no perpassar da vida. A morte para o ego é uma contradição viva, em que
morte e vida se misturam, gerando confusão e angústia.

Mas, a morte para o espírito, não é contradição viva, mas uma coerência existencial,
em que a existência se completa na transcendência. A Vida é um projeto existencial,
que atravessa a existência, transformando-se à proporção que transforma o meio,
em busca do alvo da morte. A Morte Serena, pois, só pode ser atingida pela Vida
Serena que permite que a vida inquieta se transforme na vida serena. Na Vida a
morte é apenas um fim relativo ou parcial, em que não há vida própria a acabar,
mas somente um transcender. O que acaba na morte é apenas o ego/personalidade
‘’coisificado’’ no cadáver, enquanto o ser/individualidade se transcende no
interexistencial.
88
O Espírito aprendeu a morrer na vida para encontrar a vida, através do desapego.
Enquanto para a personalidade só há ter e reter, a do espírito é um desapegar
constante, a morte psicológica de todas as suas conceituações e valorizações, um
despojamento, e para ele não parece a morte, um esqueleto com o alfanje, mas sim
a noiva poética, com seu véu e suas flores, convidando-o para a comunhão com a
beleza da vida. Não há ceifa, pois não há o que ceifar, mas sim somente a essência
existencial elaborada no Viver.

Liberto da coisificação do corpo, que se completa na cadaverização, serve-se o


espírito do outro corpo útil, o perispírito, ou corpo espiritual, de natureza
intermediária, semimaterial. O próprio ser, portanto, se completa no fenômeno da
morte, transcendendo-a .

A Morte Serena, é o mudar-se, um simples transferir-se do ser do aqui para


além, outra existência total, dentro do continuar do processo existencial. A vida se
integra na sua verdadeira natureza e no seu sentido, compreendendo-se que a morte
não é uma oposição à Vida, mas uma parte desta, um elo existencial, tão
indispensável ao processo da vida humana. O ser se afirma na morte para uma vida
nova, afirma-se como realização da essência existencial, como atualização de
potencialidades vitais que se projetam ao infinito. O caminho da busca pela morte
serena é o caminho que leva a vida serena, porque a vida serena leva à morte
serena.

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32 - EV. Cap. IX Item 9 – A cólera
Complementar: Autodescobrimento ‘’A raiva’’
Enfoque: Descontrole emocional

O orgulho vos leva a crer mais do que sois, a sofrer uma comparação que possa vos
rebaixar; a vos considerar, ao contrário, de tal modo acima dos vossos irmãos, na
posição social, seja na superioridade pessoal, que algo por menor que seja vos irrita
e vos fere e entregai-vos então à cólera. Em seu frenesi, o homem colérico ataca
tudo, a natureza bruta, até os objetos inanimados, porque não lhe obedecem. Ah! Se
pudesse se ver com sangue frio teria medo de si, ou se acharia ridículo! Se
imaginasse que a cólera não resolve nada, altera a sua saúde, compromete-lhe a
vida, veria que é sua primeira vítima. É falsa a idéia de que não se pode reformar
sua própria natureza, e o homem se crê dispensado de esforçar-se para corrigir seus
defeitos, é por isso que o homem inclinado à cólera, de desculpa, quase sempre, com
o seu temperamento, é ainda uma conseqüência do orgulho que se encontra dentro
dele. Procurai as origens desses acessos de demência que vos assemelham aos
animais, vos fazendo perder o sangue-frio e a razão; procurai e encontrareis, quase
sempre por base , o orgulho ferido. A cólera não exclui certas qualidades do coração,
mas impede de fazer muito bem, e pode levar a fazer muito mal; isso deve bastar
para motivar esforços para dominá-la..

A RAIVA

O conflito é o choque de entendimento e de comportamento entre o que se quer e o


que se é, entre o ego/personalidade e o self/individualidade. Fazendo-se
duradouros esses conflitos, enraízam-se no psiquismo, perturbando o procedimento,
adquirindo expressões patológicas que necessitam de terapias específicas para serem
erradicados.

Neste cometimento, a raiva é um fator de freqüentes conflitos que aparece


repentinamente, provocando altas descargas de adrenalina na corrente sangüínea,
alterando o equilíbrio orgânico e, sobretudo, o emocional.

Ninguém deve envergonhar-se ou conflitar-se por ser vítima da raiva, fenômeno


perfeitamente normal no trânsito humano. O que se deve evitar são o
escamoteamento dela, pela dissimulação, mantendo-a intacta; o desdobramento dos
seus prejuízos pelo remoer; a autocompaixão por sentir-se injustiçado; o desejo de
revide e o desejo de acompanhar o sofrimento do antagonista.

A sensação da raiva atual tem as suas raízes em conflitos não digeridos, que foram
soterrados no subconsciente e que ressurgem sempre que alguma vibração
equivalente atinge o fulcro das lembranças arquivadas. Ressumam assim,
inconscientemente, todos os incidentes desagradáveis que estavam cobertos com a
leve camada de cinzas do esquecimento, no entanto, vivos.

A raiva instala-se com facilidade nas pessoas que perderam a autoestima e se


comprazem no cuidado pela imagem que projetam e não pelo valor de si mesmas.
Nesses casos, a insegurança interior faculta a irascibilidade e vitaliza a dependência
do apoio alheio. Instável, porque em conflito, não racionaliza as ocorrências
desagradáveis, preferindo reagir – lançamento de uma cortina de fumaça para
ocultar a sua deficiência – a agir, afirmando a sua autenticidade.

Toda vez que a raiva é submetida a pressão e não digerida, produz danos no
organismo físico e no emocional. No físico, mediante distúrbios orgânicos (indigestão,
diarréia, acidez, disritmia, falta de apetite ou glutonaria, tumores malignos, – como
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autopunição – etc. No emocional, nervosismo, amargura, ansiedade, depressão... As
ondas mentais perturbadoras da raiva sobre as células, afeta-as, e a inconsciente
necessidade de autopunição facilita-lhes a degenerescência.

Ter raiva é sintoma de ser sensível, e bem canalizá-la, até a sua diluição, é
característica de ser humano, lúcido e saudável. Quando ofendido, o indivíduo deve
expressar os seus sentimentos ao agressor, aos amigos, sem queixa, sem mágoa,
demonstrando ser normal e necessitado de respeito, de consideração como todas as
demais pessoas. Nunca se permita a falsa postura de humildade, fingindo
santificação antes de ter alcançado a plena humanização. Quando se parece, sem
ser, transita-se pelo conflito, inclusive o de inferioridade, avançando-se para os
estados depressivos. Nunca se deve apontar os próprios itens negativos ou
apresentá-los para agradar aos demais ou fazê-los rir, o que será
autodesvalorização.

Humildade não é negação de valores, nem subestima por si próprio, fazendo


caricaturas pejorativas da sua realidade. Ser filho de Deus, encontrar-se em
experiência evolutiva, poder discernir, entre outros logros, constituem bênçãos que
não podem ser desprezadas.

Considerar o ofensor alguém que está de mal consigo mesmo ou enfermo sem dar-se
conta; de deriva-se de uma doença, prejuízo financeiro, traição de um amigo, perda
de algo importante, a resignação não impede que se lhe dê expansão para, logo
após, eliminá-la. Chorar, considerar a ocorrência injusta, descarregar a emoção do
fracasso, gastar a energia em uma corrida ou num trabalho físico estafante, projetar
a imagem do ofensor, elucidando a raiva até diluí-la, são admiráveis recursos, dentre
outros para anular os seus efeitos danosos.

A meditação deve ser buscada, analisando-se as origens do acontecimento,


constatando se teria sido o responsável pelo ocorrido, e ao confirmá-lo, evitar a
autopiedade, contrapondo a lógica e o direito de errar, mas não a permissão de ficar
no engano. A prece de compaixão pelo ofensor e de autofortalecimento possui o
miraculoso condão de diluir as vibrações da raiva, erradicando-a .

Respeitar-se e amar-se são, por fim, os melhores recursos para enfrentar a raiva.
Retê-la nunca! Sem revides, nem mágoas.

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33 - EV. Cap. X Item 4 – Perdoai para que Deus vos perdoe
Complementar: Autodescobrimento ‘’O ressentimento’’
Enfoque: A mágoa e suas conseqüências

A misericórdia é o complemento da doçura, porque aquele que não é misericordioso


não saberia ser brando e pacífico; ela consiste no esquecimento e no perdão das
ofensas. O ódio e o rancor denotam uma alma sem elevação, sem grandeza; o
esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada que está acima dos insultos que
se lhe pode dirigir; uma é sempre ansiosa, de uma suscetibilidade desconfiada e
cheia de fel, a outra é calma, cheia de mansuetude e de caridade.

O RESSENTIMENTO - A MÁGOA

O ressentimento é a raiva não digerida, que torna-se cruel adversário do indivíduo.


Herança de experiências mal suportadas, encontra-se encravada no íntimo do ser,
ramificando-se em expressões variadas e da mesma qualidade perturbadora:
melancolia, frustração, desinteresse, mecanismo de culpa, etc. O ressentimento
agasalha a antipatia, convertendo-se em animosidade crescente, cultivada com
satisfação. Tisna a razão, perturba a ótica dos acontecimentos, que não conseguindo
atingir a quem lhe deu origem, fere o ser no qual se apóia. Tumores de origem
desconhecida, distúrbios de etiologia ignorada, constituem venenos do ressentimento
que se somatizam.

Tudo no Universo é ondas e vibrações, e o equilíbrio procede do Pode Criador, que


vige na sintonia com a ordem e os princípios da harmonia. Cultivando-se a mágoa ,
convertendo-se a raiva em ressentimento, este descarrega vibrações perniciosas,
interrompendo o fluxo normal das ondas que mantêm a interação psicofísica,
desarmonizando o ciclo vital surgindo a distonia, com processos de tumores e
neoplasias malignas.

É necessário vigilância e ação da vontade com real sentimento de humildade – que é


virtude especial – para converter a mágoa em compreensão e tolerância. Cada
pessoa é conforme suas estruturas psicológicas. Desejá-las diferentes, significa
ignorar as próprias possibilidades. De ao outro o direito de errar, como se gostaria de
ter esse mesmo direito. É o melhor que ele pode fazer no presente momento, no
nível de estágio que se encontra.

A medida que desenvolvemos nossos sentimentos de segurança pessoal, harmonia


interior e de autoestima, desaparece o ressentimento por não encontrar mais apoio
nos alicerces do subconsciente. Recomecemos as nossas experiências em que não
tivemos êxito, desarmados do pessimismo e do sentimento de culpa. Todo processo
de conquista para pelos estágios de erro e de acerto, de insucesso e de vitória. Assim
todo ressentimento será vencido pelo exercício da autovalorização, do sentido da
utilidade à Vida, da conscientização do bem, corrigindo a nossa sintonia mental e
mudando a faixa do pensamento.

Humano é todo indivíduo que se considera capaz de errar, de magoar-se, mas


também de erguer-se, saindo do atoleiro sem marcas da passagem pelo terreno
pantanoso e infeliz.

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34 - EV. Cap. V Item 18 – Bem e mal sofrer
Complementar: Autodescobrimento ‘’Lamentação’’
Enfoque: Hábitos negativos : queixas e lamentações; autocompaixão.

“Bem aventurados os aflitos, que deles é o reino dos céus’’


Nestas palavras, com certeza, Jesus não se referia àqueles que sofrem em geral,
porque todos aqueles que estão neste mundo sofrem, estejam sobre o trono ou
sobre a palha; mas poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as
provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desencorajamento é
uma falta. Quando vos atingir um motivo de inquietação ou de contrariedade,
esforçai-vos por superá-lo, e quando chegardes a dominar os ímpetos da
impaciência, da cólera ou do desespero, dizei-vos com justa satisfação: ‘’Eu fui mais
forte’’. Bem aventurados pois os que oportunidade de provarem a sua fé, sua
firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus.

A LAMENTAÇÃO

Entre os hábitos negativos, a lamentação cabe destaque. Vício perturbador, deve ser
combatido com a lucidez da razão não se fazendo justificativas aos argumentos em
que se apóia. As queixas e as lamentações são as tensões geradas pelas cargas de
amargura e ressentimento que guardam esses tóxicos destrutivos, que mais se
avolumam, quanto mais são cultivados.

Aliados à autocompaixão injustificável, apóiam a preguiça física e mental,


considerando-se vítimas da família, da sociedade, das leis e dos governos, ou do
destino. Caso resolvessem adotar o vício do otimismo poderiam ser saudáveis e
ditosas.

Acredita o lamentoso, que as demais pessoas foram agraciadas sem mérito,


preferindo a lamentação ao esforço, opta pela vítima de si mesmo, ao invés de
triunfar sobre os próprios limites. Ninguém alcança patamares superiores sem vencer
os mais baixos, aqueles de difícil acesso. Saísse da autocompaixão e se deslumbraria
com o sol e a natureza convidando-o à vida e à alegria.

A lamentação é um obstáculo voluntário que o indivíduo coloca no seu progresso,


retardando a marcha e abrindo situações perturbadoras e penosas que virão arrancá-
lo mais tarde da inércia e da autocomiseração, porquanto ninguém pode impedir o
crescimento para Deus, que é a fatalidade da vida.

A saúde mental exige esforço pessoal, intransferível, caracterizado pelo real desejo
do equilíbrio. Portanto uma decisiva disposição ao autoencontro e o empenho de
conseguí-lo são os instrumentos hábeis que se coroará de êxito. A vida é rica de
convites ao progresso e à responsabilidade, em iguais condições para todos os
indivíduos, e os imperativos se fazem convites ao reequilibrio à reparação. Esse fluxo
do ir e vir é inevitável até o momento da plenitude, que se atinge mediante a
consciência objetiva, liberando o ser o seu potencial adormecido, ascendendo
moralmente, adquirindo conhecimentos que o intelectualizam a entender as Leis da
Vida, conseguindo sintonizar-se em harmonia com a Consciência Cósmica.

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35 - EV. Cap. V Item 21 – Perda de Pessoas Amadas
Complementar: Autodescobrimento ‘’Perda pela Morte’’

Freqüentemente quando a morte vem ceifar nas vossas famílias, dizemos que Deus
não é justo, que muitas vezes leva os mais jovens, fortes para conservar os que
viveram longos anos plenos decepção; uma vez que leva aqueles que são úteis e
deixa os que não servem para nada; uma vez que parte o coração de uma mãe
privando-a da inocente criatura que lhe fazia toda a sua alegria.
Humanos, tendes necessidades de vos elevar acima do terra-a-terra da vida, para
compreenderdes que o bem, freqüentemente, está onde creres ver o mal. A sábia
previdência onde creres ver a fatalidade. Porque medir a justiça divina pela vossa?
Achais que por simples capricho quer o Senhor dos mundos vos infligir penas cruéis?
Nada se faz sem um objetivo inteligente, cada coisa tem sua razão de ser, sempre
em todas as dores se encontra a razão divina, razão regeneradora. Regozijai-vos ao
invés de se lamentar, quando apraz a Deus retirar um de seus filhos desse vale de
misérias. Não há egoísmo em desejar que ele aí permanecesse para sofrer convosco?
Essa dor se concebe naquele que não tem fé, e que vê na morte uma separação
eterna. Más vós espíritas, sabeis que a alma vive melhor desembaraçada de seu
envoltório corporal, mães sabeis que seus filhos bem amados estão perto de vós,
seus corpos fluídicos vos cercam, seus pensamentos vos protegem, vossas
lembranças os embriaga de alegria; mas também vossas dores os afligem, porque
elas denotam falta de fé e são revolta contra a bondade de Deus.

PERDA PELA MORTE

Profunda e dilaceradora é a dor que decorre da perda de entes queridos. Essa dor
entretanto decorre dentre outros fatores, de atavismos psicológicos, filosóficos e
religiosos, que não educaram o indivíduo a considerar natural, como o é, a
ocorrência que faz parte do processo orgânico pelo qual a Vida se expressa.
Os mortos apenas se transferem de faixa vibratória, deslocam-se temporariamente,
mas não se aniquilam. Continuam a viver, comunicam-se com aqueles que ficaram
na Terra, estabelecem novos liames de intercâmbio, aguardam os afetos e recebem-
nos, por sua vez, quando desencarnam.
Quase sempre se fazem interrogações ilógicas, nessas situações: Por que ele? Por
que eu?.
Ora , todos somos mortais nos equipamentos orgânicos, e o número de óbitos é
expressivo, cada vez alcançando este ou aquele indivíduo, ou alguém do grupo
social. Pela própria lei da probabilidades chega a vez de todos, um a um. É
inevitável.
O próprio verbo ‘’perder’’, encontra-se aqui deslocado. Pessoas não podem deixar de
prosseguir, perdendo-se, no sentindo de coisas que deixam os seus possuidores e
desaparecem. Ninguém pertence a outrem, e somente se perde o que não se tem.
Assim as dores manifestadas na morte de pessoas queridas, possuem altas cargas de
emoções desequilibradas e explodem com caráter autopunitivo, não afetivo. As vezes
a pessoa não era atendida como merecia, e ao morrer, descobre-se em falta, auto-
supliciam-se, fazendo quadros de revolta e desespero. Noutras ocasiões, são os
conflitos retidos que espocam, gerando maior soma desequilíbrios.
Na maioria das oportunidades, no entanto, são os sentimentos naturais de saudade,
de ausência, de ternura, que ferem aqueles que ficam, martirizando-os. É justo que
se sofra a dor da separação, que chore a ausência, que se interrogue em silêncio
como se encontrará na nova situação o ser amado. O desespero no entanto não se
justifica, por não equacionar, nem preencher o vazio que permanece.
São recursos valiosos para a liberação da mágoa decorrente da morte: extravasar a
dor mediante recordações felizes, orvalhadas de lágrimas, reviver episódios
marcantes com ternura, repartir os haveres com os necessitados, envolvê-los em
orações e crescer intimamente, digerida pela esperança do reencontro, da
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comunicação, e graças ao afeto preservado, torna-se luarizada, suavizando-se e
conservando-se somente os sinais da gratidão por se haver fruído da presença
querida.
Evitar-se, pois, a depressão e seus males, ante a morte de alguém afeiçoado, é
prova de amor por quem partiu e não pode ser culpado de haver viajado, sem
consulta prévia ou anuência, conduzido pela Vida ao retorno às origens, para onde
todos seguiremos.

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36 - EV. Cap. V Item 25 – A melancolia
Complementar: Autodescobrimento ‘’Amargura’’
Enfoque: Presença da amargura – alegria de viver

Sabeis por que uma vaga tristeza se apodera por vezes dos vossos corações e vos
faz achar a vida tão amarga? É o vosso espírito que aspira à felicidade e à liberdade,
e que, preso ao corpo que lhe serve de prisão, se extenua em vãos esforços para
dele sair. Mas vendo que são inúteis, cai no desencorajamento, e o corpo,
suportando sua influência, a languidez, o abatimento e uma espécie de apatia se
apoderam de vós, e vos achais infelizes.

Resisti com energia a essas impressões que enfraquecem a vossa vontade. As


aspirações de uma vida melhor são inatas no Espírito, mas não as procureis neste
mundo, esperai pacientemente a liberdade que deve vos ajudar a romper os laços de
mantêm o vosso espírito cativo. Lembrai-vos que tendes uma missão a cumprir na
Terra, uma missão da qual não suspeitais, seja vos devotando à vossa família seja
cumprindo os diversos deveres que Deus vos confiou. Sede fortes e corajosos.
Afrontai as inquietações, os desgostos, os cuidados, francamente; eles são de curta
duração e devem conduzir para perto dos amigos que se regozijarão com a vossa
chegada e estenderão os braços para vos conduzir ao lugar onde os desgostos da
Terra não tem acesso.

AMARGURA

É outro aspecto perturbador no comportamento psicológico do indivíduo. Pode situar-


se nas reminiscências das vidas passadas, em forma de melancolia, saudade,
tristeza, ou pode encontrar-se na atual existência como efeito de traumas de
infância, por submissão imposta, e outros conflitos que remanescem como agentes
propiciadores.

Esses sentimentos devem ser racionalizados, a fim de serem diluídos, recuperando-


se a beleza e a alegria de ser e de viver. Os exercícios freqüentes de pensamentos
otimistas, caminhadas na natureza, ajuda às obras de assistência social e moral, a
autoestima, são programas de excelente estímulos para o restabelecimento da saúde
emocional, livrando-se do azedume e seqüelas da amargura.

A criatura existe para amar, amar-se e ser amada. O amor é vibração de Deus que
perpassa em todas as coisas do Universo. Aquele que se compraz na amargura, não
se ama, será amado, ou amará. Por preferir ser visto pela piedade e pela compaixão,
negando-se embora inconscientemente ao amor.

CONTEÚDOS PERTURBADORES
(Síntese)

A evolução ântropo-sociologica, não se fez acompanhar pelo desenvolvimento


psicológico, que deveria, pelo contrario, precedê-lo. Sendo o ser humano
essencialmente energia pensante, teria ela predominância no comportamento, e
conseqüentemente as suas expressões psicológicas. Mas, criado simples e ignorante,
a sua estrutura original destituída de complexidades, torna lento o seu desabrochar,
fixando cada conquista, de forma que a próxima se apóie na anterior que lhe passa a
constituir alicerce psíquico.

Os sentimentos surgem pouco a pouco, apresentando-se como impulsos e


tendências, que no futuro serão os hábitos estruturados, formadores de novo campo
vibratório a se tornarem ação. O desconhecimento das experiências inibe o ser
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humano psicologicamente, permitindo que verdadeiros algozes psicológicos tomem
campo no comportamento, que se transformam em conflitos, fragmentando o ser: A
raiva, a amargura, o ressentimento, a mágoa, a indiferença, o mau humor, o
abandono de si mesmo

Exigem demorada terapia e grande esforço do seu portador; ou pelo contrário,


refugia-se o indivíduo, evitando-se compromissos sociais e emocionais que acredita
não saber administrar, evitando os contatos saudáveis.

Desequipado de coragem e de estímulos para vencer-se e superar os algozes, mais


se aflige, deixando-se embalar morbidamente para idéias de autocomiseração,
revolta, autopunição, pessimismo, seus companheiros constantes, que se externam
como amargura, insegurança, mal-estar. O abandono de si mesmo é forma de punir
a incapacidade de lutar, recurso de que se serve para punir a família e a sociedade
na qual se encontra.

Mas a evolução continua. Os mecanismos propiciadores constituem força


propiciadora ao seu desenvolvimento. A princípio incipiente, depois com mais vigor,
por fim, espontaneidade, que se torna característica da personalidade, abrindo
campo para aquisição de valores mais elevados da inteligência e do sentimento.

Para mais eficiência do processo a ser empreendido, uma luta interior deve ser bem
direcionada, firmada nos propósitos de relevância em relação ao futuro, e superação
das marcas do passado. Assim os algozes psicológicos que afetam expressivo
número de pessoas, aguardam decisão e ajuda para arrebentarem as suas amarras
retentivas, que impedem a plenificação da criatura.

A conduta tranqüila, caracterizada pela autoconfiança e naturalidade nas várias


situações, proporciona ao indivíduo bem estar e conquista da espontaneidade. O
desenvolvimento da tolerância, considerando todas as pessoas como seres em
crescimento, com dificuldades no trato consigo mesmas e com os outros.

O aprendizado se faz das experiências que se alternam, produzindo bem ou mal-


estar, sem o qual não se podem definir uma conduta realmente saudável e digna a
ser conseguida, mas o esforço pessoal, no entanto, é fator preponderante para o
sucesso da busca da saúde psicológica.

O aprofundamento sereno na busca de respostas, buscando entender-se,


interrogando-se sobre o porquê de tal procedimento e tentando honestamente mudar
de direção, culminarão nas respostas às informações que não haviam sido detectadas
lucidamente e que passarão a contribuir de forma valiosa na conduta.

Todos experimentam as mesmas pressões e sofrem semelhantes problemas, sendo


que alguns sabem administrá-los, superá-los, vivendo em equilíbrio, sem
escorregarem na rampa da autopunição, da autocompaixão, do auto-
amesquinhamento, e a visão mais dilatada da realidade se faz presente, trazendo
segurança, equilíbrio e bem-estar.

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37 - EV. Cap. XI Item 1 – O maior Mandamento
...o doutor da lei, veio lhe fazer esta pergunta: Mestre, qual é o maior mandamento
da lei? Jesus lhe respondeu: Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração,
de toda a vossa alma e de todo o vosso espírito; é o maior e o primeiro
mandamento. E eis o segundo, que é semelhante àquele: Amareis vosso próximo
como a vós mesmos. Mateus, cap. XXII, v.34 à 40.

O amor resume inteiramente a doutrina de Jesus, é o sentimento por excelência, não


o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne todas
as aspirações e todas as revelações sobre-humanos. A lei de amor substitui a
personalidade na fusão dos seres, aniquila as misérias sociais. Feliz aquele de ama,
porque não conhece nem a angústia da alma, nem a miséria do corpo; seus pés são
leves e vive como transportador para fora de si mesmo.
O amor é de essência divina, substância criadora e mantenedora do Universo, e,
desde o primeiro até o último, possuís no fundo do coração a chama desse fogo
sagrado. Para praticar a lei de amor, tal como Deus a entende, é preciso que
chegueis progressivamente, a amar todos os vossos irmãos, indistintamente. A
tarefa é longa e difícil, mas se cumprirá: Deus o quer, e a lei de amor é o primeiro e
o mais importante preceito de vossa nova doutrina.
Amar no sentido profundo da palavra, é ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos
outros o que se quereria para si mesmo; é procurar ao redor de si o sentido íntimo
de todas as dores para abrandá-las; é encarar a grande família humana como sua.
Amai bastante para serdes amados.

O AMOR

Os sentimentos são conquistas nobres do processo da evolução do ser.


Desenvolvendo-se dos instintos, transformam-se em emoções que alcançam a
beleza, a essência das coisas e da vida.
Na fase inicial do seu desenvolvimento, o ser humano possui as sensações em
predomínio no comportamento, que o liga ao primitivismo, que se exterioriza nas
formas de prazer e dor, satisfação e desgosto; prisioneiro dos desejos imediatos e
mais grosseiros da sobrevivência. Porém lentamente à medida que supera o estágio
inicial, desabrocham-lhe os sentimentos de valores morais, intelectuais, culturais,
artísticos e idealistas. O trânsito pelos impulsos do instinto deixa-lhe
condicionamentos que precisam ser reprogramados, a fim de que as emoções
superem a carga dos desejos e do utilitarismo, e o primeiro e certamente mais
importante dos sentimentos é o amor.

De início, o amor, vincula-se atavicamente aos genitores, aos familiares, ao grupo


social que o protege, às pessoas que lhe propiciam o atendimento das necessidades
fisiológicas. Logo depois, apresenta-se egoístico, ainda ligado aos interesses em
jogo, externando-se em desejo de posse, na ambição pessoal, na eleição do parceiro
sexual, por isso confunde-se ainda hoje, o amor com os jogos do sexo, nos quais
sobressaem as sensações que o entorpecem e o exaurem em facilidade, despertando
as paixões subalternas como o ciúme, o azedume, a inveja, a ira, a insegurança e o
medo.

Por uma herança atávica, grande número de pessoas tem medo do prazer, da
felicidade, por associá-lo ao pecado, à falta de mérito, que se tornaria uma dívida a
resgatar, ou talvez, como sendo uma tentação diabólica para retirar a alma do
caminho do bem. Tal castração punitiva, que se prolongou por muitos séculos, ao ser
vencida, deixou uma certa consciência de culpa, que liberada, vem conduzindo
uma verdadeira legião de gozadores ao desequilíbrio, ao abuso, ao extremo das
aberrações.

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De alguma forma, no amor, há uma natural necessidade de aproximação física, de
contato e de contigüidade com a pessoa querida. O prazer legítimo decorre do amor
pleno, permanente, gerador da felicidade, enquanto que o comum, aquela
necessidade faz-se tormentosa, onde o prazer torna-se imediato, consumidor, fugaz,
devorador de energias e de formação angustiante, e se for estabelecida uma
dependência emocional, logo o amor transforma-se em ansiedade que se confunde
com o verdadeiro sentimento, e, quando diz: eu o amo, na verdade está dizendo:
eu necessito de você, na exigência do: você me deve amar.

O amor atravessa diferentes fases: o infantil, que tem caráter possessivo,


ansiedade afetiva, necessidade de ser amado, o juvenil, que se expressa pela
inquietação, geradora da insegurança, ciúme, incerteza; o maduro, pacificador, que
se entrega sem reservas e faz-se plenificador: confiança, suave-doce e tranqüila, a
alegria natural e sem alarde, exteriorização do bem que se pode e se deve executar,
compaixão dinâmica, a não-posse, a não dependência, não exigência. Há um período
em que se expressa como compensação, na fase intermediária entre a
insegurança e a plenificação, quando dá e recebe, procurando liberar-se da
consciência de culpa.

Na sua globalidade, o amor é sentimento vinculado à individualidade/Espírito,


enquanto a busca do prazer sexual está pertinente ao ego/personalidade,
responsável por todo tipo de posse. O sentimento do amor pode levar a uma
comunhão sexual, sem que isso lhe seja imprescindível.
Quando canalizado pela mente, o amor é o alicerce mais vigoroso na construção da
personalidade sadia, gerador de um comportamento equilibrado propiciando a
satisfação estética das aspirações e ao desenvolvimento das faculdades espirituais
que dormem no eu profundo. Sendo um dínamo gerador de energia criativa e
reparadora, o amor-desejo pode transformar-se, pela potencialidade que possui,
em fonte de vida psíquica e emocional enriquecedora, com recursos que o libertem
do primarismo. Para tanto, faz-se necessidade de controlá-lo, educando-o,
alcançando a meta felicitadora. É imprescindível racionalizá-lo, no qual a lógica, o
pensamento lúcido e a razão se empenham por substituí-lo, descondicionando o
subconsciente, retirando os estratos nele armazenados e substituindo-os por idéias
otimistas e aspirações enobrecedoras. Gerar pensamentos de autoconfiança e gravá-
los pela repetição; estabelecer programas de engrandecimento moral e fixá-los;
corrigir hábitos viciosos; olhar para as pessoas como seres humanos que são e não
como objetos descartáveis; valorizar a experiência da vida evitando-se a
autocompaixão, a subestima pessoal (que esconde os mecanismos da inveja aos
outros); constituem técnicas valiosas para chegar à emoções gratificantes.

Criado o Espírito simples, para adquirir experiências com o esforço próprio, e


renascendo para aprimorar-se sempre, os impositivos da evolução que, enquanto
não viger o amor, se imporão através dos processos aflitivos. O pensamento
irradiado do amor, estimula a produção de enzimas saudáveis, respondendo pela
harmonia de todo o sistema orgânico, superando as toxinas de qualquer natureza,
responsáveis pelos processos degenerativos e pela deficiência imunológica. Face ao
enriquecimento emocional pelo amor, a alegria de viver estimula a produção de
imunoglobulinas, responsáveis pelo estado saudável e ao mesmo tempo que as
vibrações amorosas direciona-se às pessoas enfocadas, que, permitindo-se
sintonizarem-se nesta faixa, beneficiam-se das suas ondas carregadas de vitalidade
salutar. Descobrindo-se o amor, o ser humano faculta-se a sua utilização de forma
consciente em favor de si mesmo como de todas as formas vivas.

A síntese proposta por Jesus: Amar a Deus acima de todas as coisas e ao


próximo como a si mesmo é das mais belas psicoterapia que se conhece: a
Amorterapia. Em virtude da dificuldade do homem em conceber Deus, amando-O
99
em plenitude, realiza esse mister, invertendo a ordem do ensinamento: amando-se
de início, a fim de desenvolver as aptidões que lhe dormem em latência, adquirindo
valores iluminativos, crescendo na direção do amor ao próximo, decorrência natural
do autoamor, já que o outro é extensão dele mesmo, para finalmente amar a Deus,
em uma transcendência incomparável, na qual o amor predomina em todo as
emoções e é o responsável por todos os atos.

O amor é o grande bem a conquistar, possuidor de uma pluralidade de interesses,


em sentimentos de solidariedade, interdependência, afetividade desinteressada,
participação no processo de crescimento da sociedade, expandindo-se em relação à
Natureza, ao próximo, a si mesmo e ao Poder Criador, abrangendo o Cosmo.
Alcançando a plenitude, irradia-se em forma criadora, em intercâmbio com as
energias divinas que mantém o equilíbrio universal, no qual o Espírito se identifica
plenamente com a Vida, fruindo a paz e a integração nela.

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38 - EV. Cap. VI Item 1 – O jugo leve
Complementar: Autodescobrimento ‘’Os sofrimentos’’
Enfoque: Formas de sofrimento – aprendizagem com as experiências

Vinde a mim, todos vós que sofreis e que estais sobrecarregados e u vos aliviarei.
Tomais meu jugo sobre vós, e aprendei de mim que sou brando e humilde de
coração e encontrareis o repouso de vossas almas; porque meu jugo é suave e meu
fardo é leve. (Mateus, XI, V.28:30)

Jesus veio ensinar aos homens que todos os sofrimentos encontram consolação na fé
no futuro, e na confiança na justiça de Deus e também coloca uma condição à sua
assistência e à felicidade que promete aos aflitos; essa condição está na lei que
ensina: seu jugo é observação dessa lei; mas esse jugo é leve e essa lei é suave,
uma vez que impõe o dever do amor e a caridade.

OS SOFRIMENTOS

Os sofrimentos são ocorrências naturais no processo evolutivo, constituindo desafios


às resistências dos seres. Manifestam-se em vários aspectos: físicos, morais,
emocionais e espirituais. Quanto mais elevado o ser, tanto maior a sensibilidade de
que é dotado, possuindo forças para transubstanciá-los e alterar-lhes o ciclo de dor,
passando a ser metodologia de educação, de iluminação.

No físico: são inevitáveis, decorrem dos processos degenerativos da organização


celular e fisiológica, sujeita aos mecanismos de incessantes transformações, invasão
e agressão dos agentes microscópicos destrutivos. Os morais são mais profundos,
abalam os sentimentos nobres, provocando aflição. Impalpáveis, as suas causas
permanecem vigorosas, minando as resistências podendo afetar o corpo, por
somatização. Atuam nos mecanismos da emoção, surgindo então os distúrbios de
natureza psicológica. Os de natureza emocional têm suas matrizes nas existências
passadas, que modelam, nos complexos equipamentos do sistema nervoso, por
intermédio da hereditariedade, a sensibilidade e as distonias que se exteriorizam
como distúrbios psicológicos, psíquicos.... Produzem aflições no grupo social,
alienação do paciente, agressivo ou deprimido, maníaco ou autista, inseguro ou
perseguidor. Somam-se aí as interferências obsessivas que darão lugar a quadros
patológicos complexos e graves. Os de natureza espiritual, têm a sua gênese total
no pretérito, às vezes somadas às atitudes da atualidade. Invariavelmente trazem
conexões com seres desencarnados em processos severos de deterioração da
personalidade.

Em qualquer manifestação, porém, os sofrimentos são efeitos do mecanismo


evolutivo – do desgaste orgânico, da aprendizagem de novas experiências, da
ascensão do ego/personalidade para o self/individualidade. Enquanto predominar o
ego, maior soma deles se fará presente, face à irreflexão, à imaturidade psicológica,
ao desajuste em relação aos valores da personalidade. O sofrimento, seja ele qual
for, demonstra a transitoriedade de tudo, e a respectiva fragilidade do todos os seres
e de todas as coisas que o cercam, alterando expressões existenciais, aprimorando-
as e ampliando-lhes a resistência, os valores que se consolidam. O ser psicológico
sabe desta realidade. O Self identifica-a, porém o ego a escamoteia, fiel ao atavismo
ancestral do seus instintos básicos.

Quando imaturo, nele (no ego) os conflitos encontram mecanismos de evasão da


realidade, dando surgimento a patologias especiais, que a pretexto de ascensão
moral e espiritual, engendram distúrbios masoquistas, crendo que a eleição deles
auxilia na libertação da carne (cilícios, jejuns, solidão, desprezo ao corpo, castrações,
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etc.) refletindo um prazer degenerado, e quando impostos a outros seres a titulo de
salvá-los, não há saúde mental nem espiritual em sua proposta, mas sim, sadismo
cruel.

O amor lenifica a multidão de pecados, acentuou Jesus, com a Sua psicoterapia


positiva. Ele sofreu, não por desejo próprio, mas para ensinar superação das dores,
e, ao jejuar, preparou o organismo para bem suportar os testemunhos morais, sendo
a sua mensagem um hino de louvor à vida, à saúde, ao amor. Jamais se reportou à
busca do sofrimento como recurso de salvação. O sofrimento acontece por efeito da
conduta de cada um.

O sofrimento constitui, desse modo, desafio evolutivo que faz parte da vida, assim
como a anomalia da ostra produz a pérola e o processo doloroso do parto propicia a
vida. Aceitá-lo com resignação dinâmica, através de análise lúcida, e bem direcioná-
lo é proporcionar-se um sentido existencial estimulante, responsável por mais
crescimento interior e maior valorização lógica de si mesmo, sem narcisismo nem
utopias.

A canalização correta do pensamento, a racionalização do sofrimento e a aceitação


deles como processo transitório de evolução, torna-se-lhes a terapia mais eficiente
por propiciar renovação íntima e equilíbrio, ensejando energias próprias para
suportá-los e superá-los. Nesta transformação – a metamorfose que se opera do
rastejar do primarismo para a ascese do raciocínio – o sofrimento se manifesta,
oferecendo um novo tipo de significado e de propósito para a vida. A vida são as
expressões de grandiosa harmonia na variedade de todas as coisas. O ser humano
existe, fadado para a conquista estelar.

A saúde plena e o não-sofrimento são as metas que aguardam o ser no processo de


conquista pelos longos caminhos de sua evolução. A canalização da mente para o
bem – o ideal, o amor – é o antídoto para todos os sofrimentos, porquanto do
pensamento para a ação medeia apenas o primeiro passo..

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39 - EV. Cap. V Item 23 – Os tormentos voluntários
Complementar: Autodescobrimento ‘’Estar e Ser’’
Enfoque: Aparência social – Insegurança – Criticas

O homem está incessantemente em busca da felicidade que lhe escapa, porque a


felicidade sem mescla não existe na Terra. Entretanto, apesar das vicissitudes,
poderia pelo menos gozar de uma felicidade relativa. Mas ele a procura nas coisas
perecíveis e transitórias, ao invés de a procurar nos prazeres da alma, imperecíveis.
Em lugar de a procurar na paz do coração, única felicidade real deste mundo, é ávido
de tudo aquilo que pode agitá-lo e perturbá-lo criando tormentos que não cabe senão
a ele evitar. De muitos tormentos se poupa aquele que sabe se contentar com o que
tem, que vê sem inveja o que não tem, que não procura parecer mais do que é. Ele
está sempre rico porque, olha para baixo e vê quantos têm menos ainda; é calmo,
porque não cria necessidades para si.

‘’Estar e Ser’’

Todos que transitam em experiências humanas, durante o seu curso estão, mas são
a soma das mesmas. Conscientizar-se de que se ‘’é’’ o que se ‘’está’’, constitui
desequilíbrio comportamental. O que se ‘’está’’, deixa-se, passa; o que se ‘’é’’
permanece.

O desajuste emocional e a perda de identidade que predominam na sociedade


contemporânea determinam como ‘’indispensável’’ a conquista de metas
estabelecidas pelo egoísmo, em indisfarçável preocupação de parecerem
proporcionar a felicidade. O triunfo que todos ‘’devem almejar’’, segundo essas
tendências, apresenta-se estatuído em como conseguir-se destaque social,
parecer-se vencedor, tornar-se divertido.

O ser, em si mesmo, é quase secundária importância, desde que a aparência seja


agradável, a posição tenha representatividade e o dinheiro se encarregue de resolver
as situações embaraçosas. Tais objetivos, não passam de disfarces para a luta da
supremacia do ego/personalidade, portador de recalques, deixando-se de libertar o
Self/Individualidade, comprometendo ainda mais nos conflitos.

Seus sentimentos, que deveriam fluir naturalmente, gratificando-o para seu


crescimento interior, permanecem-lhe como adversários que devem ser escondidos,
sejam quais forem, a fim de não ser descoberta a sua personalidade..

O medo das críticas, filho da insegurança, é fator negativo na conduta humana,


responsável por vários dissabores, entre os quais o insucesso nos empreendimentos
e a falta de estímulo para tentá-los. O receio das opiniões bloqueia o indivíduo, que
recua ante possibilidades de crescimento interior de realizações, deixando de ser
feliz para estar sob tormentos crucificadores

A sua conduta é confusa: fugindo das suas dúvidas, torna-se crítico das dos outros,
num processo de transferência de valores internos; procura agradar na presença e
faz-se censor na ausência; insatisfeito, é rude com os que dele dependem, e
bajulador em relação aos que acredita serem superiores; oculta os próprios
sentimentos, a fim de poupar-se a comentários desagradáveis, apresentando-se
dúbio e agradável. Suas opiniões tem como meta atender a todos, concordando com
ambos os litigantes, quando for o caso, parecendo um diplomata hábil, apesar dos
temores íntimos. Gosta de opinar em assuntos que desconhece, como uma
compensação ao conflito, estando sempre no que parece, evitando assumir o que é

103
Pode-se nascer enfermo ou sadio, o que significaria ser. Não obstante, através de
uma boa programação mental, o ser doente pode transformar-se em apenas estar
por um período, sofrer um tipo de conjuntura e deficiência, sendo saudável.

Os sentimentos merecem análise cuidadosa para se tornarem positivos. Sob controle


e direcionamento as emoções tornam-se agentes de compensação e de alívio. A
autocrítica sincera, os exercícios mentais encorajadores, as conversações edificantes,
a naturalidade diante das censuras, proporcionam recursos valiosos para o
descobrimento do Si, dos seus potenciais.

Uma plena conscientização de que todas as pessoas estão sob exame de outras –
que as criticam por inveja, despeito, preguiça, espírito derrotista, embora diversas o
façam com sincero desejo de auxiliar, pelo direito de submeterem à prova o que se
credencia ao conhecimento público – é de grande utilidade. Para ser objeto de crítica,
basta destacar-se, sobressair-se, tornar-se alvo. É confortador alguém ver-se sob
petardos, significando haver rompido com o escudo da mesmice, do igual a todos, do
não chamar a atenção. É ser alguém, ser especial e até ser único.

Jamais se agradará a todos os indivíduos. Os padrões variam ao infinito, há


diferença expressiva de óptica emocional, de interesses, de comportamentos, de
aptidões, mesclados esses aos sentimentos nobres ou inferiores, que influem na
análise de cada objeto, pessoa ou acontecimento. Como se está visto, assim também
se vê. Como se está analisado, da mesma forma se analisa. Essa diferente gama de
observações, no conjunto de organiza em um painel de comportamento geral.

Saudável é aquele que está em permanente esforço para ser melhor, para conquistar
novos patamares, reunindo os tesouros da autoiluminação. Esse não teme
obstáculos, não receia os outros, nem se teme. Renova-se, melhorando o grupo
social e o mundo onde está, mas não lhe pertence, não o detém, nem nele
pára. Ensina-nos Jesus, a mensagem do estar sem ser, do estar sem permanecer,
em João, Cap. 15 e 17 do seu Evangelho: ‘’Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o
que é seu. Mas como não sois do mundo, antes, dele vos escolhi, é por isso que o
mundo vos odeia.’’ ... ‘’ dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois não são do
mundo, assim como eu não sou do mundo; não peço que os tires do mundo, mas
que os guarde do mal, eles não são do mundo, como eu não sou; assim como me
enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo.’’

O ser psicologicamente amadurecido é aquele que segue adiante, seu é o rumo ao


infinito; não se ofende, a ninguém magoa; não se limita, a outrem não obstaculiza;
não desanima, aos demais não perturba. Está sempre vigilante com seus defeitos e
ativo nas ações.

Psicologicamente, quando se está mal, tem-se a possibilidade de transferir-se para


o bem estar. Se, no entanto, se é mau, a luta para a mudança de situação é
gigantesca, demorada, até ocorrer uma transformação de profundidade. Quando se
está bem, de maneira equivalente é preciso esforço para ser bom, permanecendo
útil, agradável, produtivo.

Os pessimistas e frustrados asseveram que o mundo e a sociedade são maus,


responsáveis pelas suas aflições e desditas, quando apenas estão enfermos, em
razão daqueles que aqui se hospedam e os constituem, por enquanto, estarem
distônicos e fora dos compromissos, diante apenas de alguns que são atrasados,
ignorantes e insensíveis. Com o esforço conjugado de todos, porém, ter-se-á uma
vida de bênção e uma humanidade que é boa.

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40 - EV. Cap. XIII Item 11 – A Beneficência

A beneficência vós dará nesse mundo as mais puras e as mais doces alegrias.
Aquelas que não são perturbadas nem pelo remorso, nem pela indiferença. Esse
sentimento que faz com que se olhe outrem como o mesmo olhar com o qual se olha
a si mesmo, que se desnude com alegria para vestir seu irmão. Compreendei quanto
são deliciosas as impressões daquele que vê renascer a alegria, onde um instante
antes, não via senão desespero!. Compreendei quais são as vossas obrigações para
com os vossos irmãos. Ide ao encontro dos infortúnios, ide em socorro das misérias
ocultas sobretudo, e lembrai-vos destas palavras do Salvador: Quando vestirdes um
desses pequeninos, pensai que é a mim que o fazeis.

A ABNEGAÇÃO E A HUMILDADE

O amadurecimento do ser, conduz o homem à verdadeira humildade perante a vida,


na condições de identificação das próprias possibilidades assim como das
inesgotáveis fontes do conhecimento a haurir. Percebe a sua pequenez diante da
grandeza universal, destituído de conflitos, de consciência de culpa, de fugas do ego,
com simplicidade no coração e o respeito cultural por todas as pessoas.

A sua lucidez trabalha pelo bem geral com naturalidade, levando-o à abnegação
quando necessária, sem exibicionismo ou arrogância. Percebe que a finalidade da
vida é alegria de viver, decorrente dos pensamentos e ações meritórios, o que o
propele à autoestima e autodescoberta constante, trabalhando-se sem ansiedades,
fadigas e nem decepção. Não pára na faina a examinar imperfeições, mas elabora
esquemas de aprimoramento com sede de conquistas que não cessam.

Independem, a abnegação e a humildade, de convicções religiosas, embora estas


possam influenciar-lhes, tornando-as acessíveis a todos os indivíduos que adquirem
consciência de si, dignificando o indivíduo, humanizando-o .

Porém, se não expressam evolução ou delas não decorrem, são simulações dos
temperamentos emocionais conflituosos, que as utilizam para mascarar a timidez, o
medo, o complexo de inferioridade, a inveja. Porque se sentem frustrados nas
conquistas e desafios, ocultam-se na abnegação forçada, recheada de reclamações e
exigências, fingindo-se mártires incompreendidos, perseguidos de todos, ricos em
recalques. São presunçosos na sua abnegação e ciosos dela, apresentando propostas
e comportamentos extravagantes, exibicionistas. Ganham o céu, dizem. Isto porque
não têm valores para conquistar e desincumbir-se dos deveres na Terra.

Da mesma forma, a humildade é decantada como forma desprezo por si mesmo, de


desestima, de reação social. Libertar-se de aparências e ser naturalmente humilde,
como Jesus ou Ghandi, não é alienar-se ou ser agressivo contra as demais pessoas e
apresentar-se descuidado, sem higiene, indiferente às conquistas do progresso.
Quem assim se comporta, desvela-se como preguiçoso e não humilde, bem como
aquele que aceita todos os caprichos que se lhe impõem, e embora pareça, não
possui a humildade real, antes tem medo dos enfrentamentos, das lutas, sendo
conivente com as coisas erradas por acomodação, por submissão ou por projeção do
ego que se ufana de ser cordato, humilde, bom e compreensivo.

Ser humilde, não é convir com o erro, com o mal, em silêncio comprometedor. A
indiferença não poucas vezes assume a postura da falsa humildade, permanecendo
fria ante os acontecimentos e alienando a criatura. A abnegação nunca é triste,
porque é terapêutica. Mostra jovialidade, alegria de viver, felicidade em ser útil.
Ajudar, renunciando-se, é estado de júbilo interior, e não uma áspera provação,
mesmo porque ela é sempre oferecida e jamais imposta.
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Da mesma forma, a humildade é cativante, sem aparência. Sente-se-lhe o perfume
primeiro, para poder-se vê-la depois. Quando se é humilde, logra-se a pureza com o
desprezo pelo puritanismo; vive-se a sinceridade, sem a preocupação de agradar;
confia-se no sucesso das realizações, mas não se lhes impõem as propostas. Tudo
transcorre em uma psicosfera de harmonia e naturalidade.

O Amor legitima-as e irradia-se como alta realização plenificadora do sentimento são.

106
41 - EV. Cap. XVII Item 3 – O homem de Bem (Caracteres da perfeição)
Complementar: Autodescobrimento ‘’Infância psicológica’’
Enfoque: Personalidade infantil e amadurecimento psicológico

O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de


caridade. Interroga a sua consciência sobre seus próprios atos; pergunta-se, se não
violou a essas leis; se fez todo o bem que podia; se ninguém tem algo a reclamar
dele; se fez a outrem tudo o que quereria que se fizesse para com ele. Respeita em
seus semelhantes todos os direitos dados pelas leis da Natureza, como gostaria que
os seus fossem respeitados. Tem fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça, na sua
sabedoria e sabe que nada ocorre sem sua permissão e se submete à sua vontade.

Faz o bem pelo bem; retribui o mal com o bem; toma a defesa do fraco contra o
forte, e sacrifica sempre seu interesse à justiça. Encontra satisfação nos benefícios
que presta; nos felizes que faz; na consolação que dá aos aflitos. Ele é bom, humano
e benevolente para com todos e respeita nos outros as convicções sinceras e não
condena a quem não pensa como ele. Não tem ódio, nem rancor, nem desejo de
vingança, perdoa e esquece as ofensas. É indulgente para com as fraquezas alheias
porquê sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência.

Estuda as suas próprias imperfeições e trabalha sem cessar em combatê-las.


Para a compreensão intelecto-material da ciência requer somente olhos para
observar, ao passo que a parte essencial exige certo grau de sensibilidade que se
pode chamar maturidade do senso moral, maturidade independente da idade e do
grau de instrução, porquê é inerente ao desenvolvimento, num sentido especial, do
Espírito encarnado. (itens 3 e 4)

INFÂNCIA PSICOLÓGICA E MATURIDADE PSICOLÓGICA

Os caracteres de perfeição que ensejam o homem de bem, são as do ser lúcido,


amadurecido, desenvolvido intelectual e emocionalmente; porquê este deve
acompanhar aquele, ensejando harmonia do ser, trabalhando para o seu progresso
espiritual na busca da bem-aventurança a que todos aguardam no término da
jornada evolutiva, que é a meta.

Mas, nem sempre, o desenvolvimento emocional acompanha o desenvolvimento


intelectual. Este, o intelectual, quando se é portador de equilíbrio mental, faz-se com
relativa facilidade, através da cultura, do conhecimento, mediante estudo, exercício e
as leituras. No entanto o amadurecimento psicológico é mais complexo, exigindo
contínua atividade moral e cuidadora realização pessoal.

Destaca-se entre outras ocorrências, os atavismos culturais e sociais no que dizem


respeito à infância e à formação da personalidade da criança, que estende a infância
psicológica das criaturas para as outras faixas etárias, com os mais graves problemas
na área do comportamento humano.

Habituada a criança a ter as suas necessidades e anseios resolvidos, imaturamente,


pelos adultos – pais, educadores, familiares, amigos – ou apenas atendidos pela
violência do clã e da sociedade, nega-se a crescer evitando as responsabilidades que
enfrentará. No primeiro caso, porque tudo lhe chega de forma fácil, dilata o período
infantil, acreditando que a vida não passa de um jogo, onde seu estágio egocêntrico
deve prevalecer e não se dá conta da necessária mudança de identidade biológica,
acomodando-se a exigir e ter, recusando-se acrescer, acreditando-se credora de
todos os direitos.

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No segundo caso, sentindo-se defraudada pelo que lhe foi oferecido com má
vontade, azedume ou sistematicamente negado, transfere-se de uma para outra
faixa etária, sem abandonar as seqüelas da sua castração, dos desejos sufocados,
mas, vivos.

Em ambos os acontecimentos, o desenvolvimento emocional não corresponde ao


físico e ao intelectual, que não são afetados pelos fenômenos psicológicos da
imaturidade, sucedendo-se que o indivíduo apresenta-se susceptível, medroso,
instável, ciumento, inseguro, dependente, onde as figuras domésticas do pai e da
mãe permanecem em atividade emocional no inconsciente, resolvendo os problemas
ou atemorizando o indivíduo, mantendo-o distante de tudo quanto possa gerar
decisão, envolvimento responsável, enfrentamento. Fugindo das situações que
exigem definição, busca amparo nas pessoas que considera fortes e são elegidas
como seus heróis ou seus superiores. Cresce-lhe a autocompaixão, num esforço
egoísta de receber carinho e assistência, enriquecendo-se de falsas necessidades.
Instável, ama como fuga, buscando apoio e transfere para a pessoa querida as
responsabilidades e preocupações que lhe são pertinentes.

Outras vezes a imaturidade psicológica reage pela forma da violência, de


agressividade, decorrentes dos caprichos infantis que a vida, no relacionamento
social, não pode atender.

Uma peculiar insensibilidade emocional domina-o, se desloca por evasão psicológica,


do ambiente e das pessoas com quem convive, poupando-se a aflições e somente
considerando os próprios problemas que o comovem, ante a frieza que exterioriza
quando em relação aos sofrimentos dos outros.

Normalmente desamado, guarda a imagem da severidade e rigidez do lar com que


foi educado ou negligenciado, tornando-se ditatorial, indiferente, impiedoso. Reflete
o comportamento ancestral que tiveram para com ele e que agora automaticamente
demonstra, escondendo os próprios conflitos sob a máscara da dureza e da
insensibilidade.

Costuma-se asseverar com certa realidade que, no íntimo, todos os indivíduos são
crianças carentes de amparo, de ternura, de entendimento. Há razões subjacentes
nessa afirmativa, a herança psicológica infantil ficou estratificada no subconsciente,
sem libertação, sem conscientização da sua realidade como ser digno. A criança
insegura, permanece no subconsciente do adulto, dele fazendo um ser infeliz,
impelindo à comportamentos ambivalentes, instáveis, ilógicos. No íntimo ele teme, e
exterioriza agressividade; sente necessidade de carinho e desvela raiva, ódio; precisa
de apoio e amparo, no entanto, foge, isola-se. Por melhor que aja, sempre se cobra
mais, afirmando que se poderia haver desempenhado com perfeição e profundidade.
Essa conduta propõe um dilema que é a dificuldade de como agir, de forma que a si
mesmo se agrade, sem desatender àquele que lhe proporciona algo, embora por
meio da astúcia e da chantagem, com medo de ser descoberto e da rejeição a si
mesmo, como mecanismo punitivo.

Esse adulto que não amadureceu psicologicamente, sente-se deslocado do Si


profundo e do meio social onde se encontra. Caso a pessoa não se resolva pela
decisão de reencontrar-se e amar-se, enfrentando a sua criança interior fazendo-se
crescer, realizar-se, a causa da sua insegurança, identificada na infância que não foi
vivida com felicidade nem amor, persistirá amargurando-lhe a existência, em todos
os seus atos, cada vez apresentando-se sob disfarces diferentes, sob o jugo de um
ego caprichoso, dominador, fonte de autosustentação, escamoteando a inferioridade
através de reações intempestivas, como má formação do caráter psicológico.

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A felicidade, o equilíbrio e auto-realização merecem todo o investimento de esforço
pessoal, de modo a erradicar esses fatores de perturbação que ficaram ignorados,
que, porém continuam pulsantes e dominadores. O homem nasceu para a autor-
realização, e faz parte do grupo social no qual se encontra, a fim de promovê-lo
crescendo com ele e os problemas devem constituir-lhe meio de desenvolvimento,
estímulos-desafios. Fatores que precedem o berço, situam-no nos lares e junto aos
pais que necessita. É indispensável que faça a revisão desses conteúdos psicológicos
com amor a própria infância não superada, que não mais se justificam (não tenho
culpa, não estou acostumado, nada comigo dá certo), diluindo essas fixações
mediante firmações novas, visualizações afáveis, amorosas, crescendo até atingir o
amadurecimento que lhe corresponda à idade real, à segurança de comportamento,
de afetividade, facultando o autoamor, bem como o amor ao próximo.

Esse esforço bem direcionado, graças ao autodescobrimento, pode ser considerado


um renascimento psicológico na vitoriosa reencarnação, cuja meta é
desenvolver os valores potenciais do Espírito, reflexão em torno dos objetivos da
Vida e reparar as opções equivocadas que geraram provas e expiações na passada
experiência carnal, sem medos, nem ambições sem significado real, para a harmonia
do indivíduo que se abre ao Si profundo.

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42 - EV. Cap. XVII Item 1/2 – Caracteres da Perfeição
Complementar: Autodescobrimento ‘’Conquista do Si’’
Enfoque: Fases de consciência

.....’’Sede pois, vós outros, perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito’’.
Mateus, cap. V. 48
‘’O que fica sendo o Espírito depois da sua última encarnação? Perguntou
Kardec aos Espíritos, que responderam: Espírito bem-aventurado; puro
Espírito.’’

Uma vez que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta máxima: Sede
perfeitos como vosso Pai é perfeito, tomada ao pé da letra, pressuporia a
possibilidade de se atingir a perfeição absoluta, tornar-se-lhe-ia um igual, o que é
inadmissível; mas os homens da época de Jesus não teriam compreendido essa
nuança do ensino e Jesus limitou-se a lhes apresentar um modelo e lhes disse para
se esforçarem por alcançá-lo. É preciso pois entender nessas palavras a perfeição
relativa à qual a humanidade é suscetível e que mais a aproxima da Divindade.

E o que consiste essa perfeição? Amar aos inimigos, fazer o bem àqueles que nos
odeiam, orar por aqueles que nos perseguem que são a essência da perfeição, a
caridade em sua mais larga acepção que implica em todas as outras virtudes, de
onde resulta que o grau de perfeição está na razão direta da extensão desse amor.

Todos os vícios, mesmo os simples defeitos, têm seus princípios no egoísmo e no


orgulho e são a negação dessas virtudes e as alteram, porquê superexcitam o
sentimento da personalidade. Em alguns, os laços da matéria são ainda muito
tenazes para permitir a libertação do Espírito das coisas da Terra, por isso não
rompem facilmente com seus hábitos, gostos, não compreendem alguma coisa
melhor do que têm, até mesmo a crença nos Espíritos e na reencarnação é para eles
um simples fato, mas não modifica senão pouco, ou nada as suas tendências
instintivas, entretanto é o primeiro passo que lhes tornará o segundo mais fácil numa
outra existência, melhorando a sua vontade, o seu esforço para libertar-se que
sempre o consegue quanto tem firme vontade.

A CONQUISTA DO SI

O amadurecimento psicológico objetiva a conquista do Si, a harmonia do eu profundo


em relação à sua realidade, à compreensão do divino e do humano nele existentes,
descobrindo a sua causalidade e entregando-se (de forma consciente) ao processo de
evolução, que não cessa.

É um programa de conquistas que se inicia no período de consciência de sono,


passando pelos diversos níveis de progresso (estado de consciência coletiva: amorfa,
instintiva, sensorial; impulsos, mecânica, consciência embrionária, através dos vários
reinos; sono sem sonhos (estado de sono profundo); sono com sonhos: (estado
sonambúlico, mágico, mitológico); consciência de vigília: surge a razão analítica com
predominância do ego; consciência Objetiva: Desperta; Lúcida, Intuitiva,
Transcendental, Cósmica), autodescobrindo-se até o momento da plenitude, quando
consegue sintonizar com a Consciência Divina.

O nascimento da consciência se opera mediante a conjunção dos contrários,


decorrência de uma variada gama de conteúdos psíquicos que formam as impressões
do ser em contato com o ego, e que são percebidas como tal, pelo ego. Daí surgem
os discernimento entre as coisas opostas, o eu e o não-eu, o ego e o inconsciente, o
sujeito e o objeto, a própria pessoa e a outra. Dá-se surgimento ao campo dos
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conflitos, ao sentimento que enfrenta e contesta, tornando-se uma forma altamente
criativa de luta, que culminará na vitória que proporciona satisfação, ampliação e
aprimoramento da vida. Sem essa dualidade, que leva à reflexão, no processo da
individuação, não há aumento real da consciência, que somente opera entrando em
contato com os opostos e os absorvendo. As relações não percebidas pelo ego, são
as inconscientes fazendo parta da psique que representa a totalidade dos conteúdos
psíquicos, que na sua totalidade não estão relacionados com o ego, portanto não são
consciência.

A consciência é o atributo altamente desenvolvido na espécie humana e que se


caracteriza por uma oposição básica, essencial, pelo qual o homem toma em relação
ao mundo, aos estados interiores e subjetivos, cirando possibilidades de níveis mais
altos de integração.
À medida que vão sendo fixados os patamares, onde a estrutura de um serve como
base para o outro, dilatam-se as perspectivas de triunfo do ser, que se identifica com
a vida e alça-se a valores mais expressivos que passa a descobrir e vivenciar.
Abandonando os conflitos, superando-os, começa a fruir do bem estar e da alegria
sem receios, sem inseguranças, libertado dos complexos de culpas, dos prêmios e
dos castigos, a que estava condicionado. Faz-se ausência da angustia e das
incertezas, que favorecem a visão lúcida do sentido existencial e dos objetivos da
vida.

Nesse crescimento, podem ocorrer insucessos, pois a larga adaptação ao trânsito


pelas faixas primeiras leva a choques quando se instala nas zonas superiores, até
aclimatar-se, assim como quem viveu nos baixos vales, demora-se a ambientar-se
nos altos das montanhas, mas, essas ocorrências que podem levar aos saudosismo
dos dias anteriores e suas inquietações, são ocorrências comuns a todas as formas
de vida, a todos os seres vivos.

O ser humano é herdeiro da sua história antropológica, fixado nos atavismos das
experiências primevas do seu desenvolvimento. Por ser igualmente psicológico, a fim
de libertar-se, desdobra-se todos os potenciais e arrebenta essas amarras ancestrais,
despertando o eu adormecido, escravizado aos instintos. Para tanto, impõe-se
todo um curso de realizações pessoais, íntimas, de análise e avaliação dos seus
conteúdos, a eleição daqueles que são imprescindíveis e dos que devem ser
eliminados, disciplinando-se a mente e a vontade, desenvolvendo o Si, sem perda de
quaisquer valores conquistados, enquanto o ego de dilui.

Nas fases primeiras esse ego desempenha papéis relevantes: o da preservação da


vida, dos direitos ao prazer (transitórios), do atendimento das necessidades
(fisiológicas), dos valores pessoais. Infelizmente, fixa-se dominador, e reage com
violência e estertora-se à medida que perde espaço psicológico para o Si, até ser
ultrapassado em vitória culminante. Trata-se de uma batalha no campo da
consciência: as virtudes que são poucas, lutam com os vícios que são muitos, em
sucessivas pelejas até a vitória das primeiras.

Na conquista do Espírito, nele real, o ser humano sempre buscou a sensibilidade


altruística, mediante a superação dos implementos materiais, desenvolvendo os
valores preciosos que nele dormem – herança transcendente da sua origem divina,
espiritual.

O conhecimento dos potenciais que podem ser movimentados para esses tentames e
realizações constituem recursos para o amadurecimento psicológico e despertamento
da consciência, o homem deve adquirir o conhecimento para elevar-se o ser bruto,
tornando-se detentor da consciência e viver a experiência de ser o objeto conhecido.
O seu desconhecimento constitui impedimento para os seres inábeis e imaturos, cujo
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fortalecimento do ego se dá pelas paixões onde se movimenta, alimenta e vicia o ser,
que se compraz às sensações fortes, na busca das compensações imediatas,
características essas, do período primário da evolução, desacostumado que está das
emoções nobres, dos psiquismos refazentes e das aspirações verdadeiras, do
empreendimento do ser inteligente que se propõe ao esforço e decisão, elegendo
entre o que se tem e aquilo que se quer e pode ser alcançado, eliminando os
condicionamentos negativos, substituindo-o por novos, assimilando-os, libertando-
se. Essa libertação ocorre à medida que se desenfeixa dos desejos, das paixões, a
fim de alcançar a realização interior.

A existência só é real quando é consciente para alguém. A tarefa do homem é


conscientizar-se dos conteúdos que pressionam para cima, vindos do inconsciente,
que emergem para o seu crescimento e processo de individuação.
O Si profundo, pleno, é semelhante à transparência que o diamante alcança após
toda a depuração que sofre, libertando-se de toda a imperfeição interna e da ganga
que o reveste, transformando-se pela sutilização molecular. Essa conquista é o
imenso desafio da evolução dos seres.

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43 - EV. Cap. XXIV Item 1/4 – Não coloqueis a candeia sob o alqueire
Complementar: Autodescobrimento ‘’Libertação pessoal’’
Enfoque: Superação do Ego – Identificação dos valores Espirituais

‘’Não se acende uma candeia para colocá-la sob o alqueire; mas se a coloca
sobre um candeeiro, a fim de que ela clareie todos aqueles que estão na
casa’’. Mateus, cap. V, v.15.

Jesus falava por parábolas, porque o povo não estava em estado de compreender
certas coisas; vêem, olham, ouvem e não compreendem; dizer-lhes tudo seria, pois,
inútil no momento; todo ensinamento deve ser proporcional à inteligência daquele a
quem é dirigido. Se os espíritos não dizem tudo ainda ostensivamente, não é porque
haja na Doutrina mistérios reservados, mas porque cada coisa deve vir no seu tempo
oportuno; eles deixam a uma idéia o tempo de amadurecer e de se propagar, e aos
acontecimentos o de lhe preparar a aceitação. Mas se a prudência manda ocultar
momentaneamente, deve cedo ou tarde, ser descoberto, porque, chegados a um
certo grau, os homens procuram, eles mesmos, a luz viva, pois que a obscuridade
lhes pesa. Deus deu a inteligência para compreender e se guiarem na Terra e
raciocinarem a sua fé, portanto, não se deve colocar a candeia sob o alqueire,
porque sem a luz da razão, a fé se enfraquece.

LIBERTAÇÃO PESSOAL

Na Natureza, todos os fenômenos e acontecimentos sucedem normalmente por


encadeamento lógico, sem interrupção. As leis que regem a vida são trabalhadas no
equilíbrio e mesmo o caos, que se apresenta como desordem – por uma nossa visão
limitada – faz parte da harmonia no conteúdo do equilíbrio geral. O caos é aparente
sob o equilíbrio da ordem. Quanto maior for a capacidade de entendimento e de
desapego do ser, mais amplas perspectivas de conquistas e de entendimento
preenche-lhe os espaços abertos a novas realizações, em busca da sua libertação.

A semelhança de alguém que sobe uma montanha, mais ampla se lhe faz a visão,
quanto mais alto, maior a sua conquista, identificando com o Si, que se desvela
manifestando a sua procedência divina.

As questões básicas da existência: Quem é o homem? De onde vem? Para onde


vai?, tornam-se-lhe elucidadas, e o ser recupera a percepção profunda, superando o
ego, dilatando o self, facultando-lhe discernimento próprio, com o conseqüente
triunfo do Espírito sobre a matéria. Nasce então o homem pleno, que ruma ao
infinito, para imagem e semelhança de Deus.

O ser na sua estrutura real é psiquismo puro, com imensas possibilidades. A imersão
no corpo gera-lhe apegos como mecanismos de segurança, apesar da transitoriedade
do corpo. O esquecimento e embotamento da visão espiritual bloqueiam as
aspirações relevantes e retém-no na conquista do prazer e de tudo que culmina em
sensações imediatas. Na juventude, pensa em gozar, na maturidade prossegue com
o rigoroso desejo de aproveitar as energias, na velhice faz-se o quadro depressivo da
amargura – por já não continuar desfrutando dos prazeres – e chega então o
momento do exaurimento, da interrupção pela morte e o enfrentamento da
realidade.

Esse processo de desgaste orgânico é inevitável, prenuncio da experiência


imortalista, que propicia a cada um o encontro com o que é, e não com aquilo que
tem e deixa, com o que pensa, e não com aquilo que gostaria de haver realizado.
Nesse momento irrompe o eu profundo, arrebentando as camadas do inconsciente
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onde estava – caso ainda não tenha sido liberado de forma lúcida – e
estabelece tormentosos conflitos para o ser (energia pensante que é) na área do
psiquismo e espiritual. O despertar do Si, decorre das formulações pensantes,
condutas e ações presentes e os traumas e perturbações decorrem das experiências
anteriores – na atual ou noutras reencarnações.

A saída dos interesses objetivos enseja o infinito campo do mundo subjetivo, o


transcendente. Os olhos da carne enxerga o mundo físico, o exterior, os objetos, as
coisas e as pessoas, preso às sensações imediatas; os olhos do intelecto vêem a
lógica, o filosofar, ampliando as percepções da mente; os olhos interior, contempla o
mundo oculto, a intuição, as realidades transcendentes, extrafísicas, por onde o
Espírito sintoniza e se alimenta com a estrutura da realidade causal, de onde se
originou e para onde retornará.

A visão transpessoal conduz à continuação da vida após a liberação do corpo,


propondo o ser imortal, cujas evidencias se multiplicam nas suas investigações,
apresentando uma preparação psicológica para o enfrentamento dessa realidade que
será alcançada fatalmente.

Nesse sentido a visão da Doutrina Espírita, sintetiza as ciências, interpretando os


enigmas do ser capacitando-o à superação do ego, trazendo-lhe além da visão
transpessoal, a gloriosa conquista da sua individualidade espiritual, mediante a
libertação pessoal das paixões perturbadoras, anestesiantes, escravizadoras.

Estar desperto, liberto, é mais do que encontrar-se vivo, superando os


automatismos, localizando-se nas realizações da inteligência e do sentimento
enobrecido, responsável, não-arrogante, não-submisso, livre das algemas, liberado
das inquietações do passado e do futuro. Nesta visão de autoidentificação, entende
que o largo período de sono é responsável pela existência dos conflitos, das
contradições entre o que pensa e o que faz, entre o que aspira e o que realiza.
A razão propele-o para a tomada de consciência que envolve a libertação das cargas
psicológicas atávicas, passando a fruir emoções que o enlevam em logros íntimos,
degraus e patamares a galgar, tendo em mente o acume que é a perfeita
conscientização de si mesmo, a luz que alumia o mundo.

Certamente experimenta as contingências da vida social, dos prejuízos, das


injunções do corpo, sem que tais ocorrências o desanimem ou o infelicitem. Não
estamos incólumes, nem somos seres privilegiados. Consciente disso, mas se
afervora na busca da harmonia, conquistando outros espaços que antes
permaneciam desconhecidos. Age sempre lúcido, e cada compromisso que assume,
dele se desincumbe em paz, sem a preocupação de vitória exterior. O
aprofundamento da visão da vida é-lhe um crescimento natural e não-perturbador,
totalmente diverso do homem comum, passando da visão transpessoal para a da
espiritual.

Harmonizando-se nas aspirações e lutas, buscas e realizações, o homem consciente


vive integralmente todos os momentos, todas as ações, todos os sentimentos, todas
as aspirações.

Jesus, o Psicoterapeuta Maior, afirmou que se poderia fazer tudo quanto Ele fez,
se se quisesse, bastando empenhar-se e entregar-se a realização. Para tanto,
necessário seria a fé em si mesmo, nos valores intrínsecos, que seriam
desenvolvidos a partir do momento da opção.

A conquista de si mesmo está ao alcance do querer para ser, do esforçar-se para


triunfar, do viver para jamais morrer...
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