C ONTEÚDO

P REFÁCIO 2 Theon de Olamn . . . . . . . . . . 61

O Mundo . . . . . . . . . . . . . . 2 Sten Windborn . . . . . . . . . . . 66
Frida Fura-Olho . . . . . . . . . . 71
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓ - Theon de Olamn . . . . . . . . . . 74
LOGO 3 Byork Leão de Prata . . . . . . . . 76
Byork o Último Leão de Prata . . 3 Sante Salvini . . . . . . . . . . . . 82
Contos de um Bardo, por Theon Aydan - Semente de Carvalho . . 90
de Olamn . . . . . . . . . . . 5 Sten Windborn . . . . . . . . . . . 95
Sten Windborn . . . . . . . . . . . 7 Frida Fura Olho . . . . . . . . . . 100
Aydan Semente de Carvalho . . . 13 Byork o Leão de Prata . . . . . . . 103
Frida Fura-Olho . . . . . . . . . . 18 Frida Fura Olho . . . . . . . . . . 106
Sante Yossif Sabino Nifan Iozzo Theon de Olamn . . . . . . . . . . 108
Salvini . . . . . . . . . . . . . 20 Aydan Semente de Carvalho . . . 113
Cyrus . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Byork – Leão de Prata . . . . . . . 117
Theon de Olamn . . . . . . . . . . 120
E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓ - Frida Fura Olho . . . . . . . . . . 122
RIAS I NCOMPLETAS 34 Sten Windborn . . . . . . . . . . . 125
Frida Fura Olho . . . . . . . . . . 34 Aydan - Semente de Carvalho . . 129
Aydan - Semente de Carvalho . . 35 Sten Windborn . . . . . . . . . . . 134
Theon de Olamn . . . . . . . . . . 41 Cyrus, o Médico . . . . . . . . . . 136
Byork Leão de Prata . . . . . . . . 45 Aydan - Semente de Carvalho . . 140
Sten Windborn . . . . . . . . . . . 49 Theon de Olamn . . . . . . . . . . 142
Frida Fura-Olho . . . . . . . . . . 145
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 54 Cyrus, O Médico . . . . . . . . . . 147
Frida Fura-Olho . . . . . . . . . . 54 Theon de Olamn . . . . . . . . . . 150
Aydan - Semente de Carvalho . . 57 Aydan - Semente de Carvalho . . 152

C ONTEÚDO 1
 P REFÁCIO
relatos de alguns jovens, outros nem tan-
O M UNDO tos, aventureiros e aventureiras que, por
mero acaso tiveram seus destinos ema-
Quando escutamos a palavra “mundo”, ranhados em algum momento de suas
um “mundo” passa por nossa mente. O vidas. Alguns são ótimos contadores de
mundo pode ser o nosso planeta, ou o histórias, outros apenas bons guerreiros
mundo pode um local mais específico, ou conjuradores, mas todos carregam
como o seu lar, a sua fazenda, a sua ta- aquela vontade de descobrir o mundo.
berna, o seu templo. O mundo é pessoal! Data desconhecida, local desconhe-
Cada um carrega o seu mundo ou tem a cido.
sua própria definição de mundo.
O mundo pode ser confortável, tangível
de alguma forma ou pode ser algo hos-
til, inóspito, bucólico, acolhedor, distante
ou explorável. O mundo pode ser uma
montanha a qual deseja ser escalada.
Para muitos o mundo é uma terra des-
conhecida que devemos temer. O seu
mundo é o seu lugar com a sua família
e vizinhos. Para outros o mundo é um
lugar chamativo ou convidativo para ser
desbravado.
Estes desbravadores são chamados de
loucos ou apenas aventureiros. O que faz
um nobre abandonar o conforto e a segu-
rança de suas terras, a sua vassalagem
e partir sem rumo, sem direção. O que
faz um pequenino deixar sua toca e se
aventurar por um mundo cheio de perigos
muitas vezes desconhecidos. Ou o que
faz um grupo de viajantes completamente
distintos se unirem em prol de algo que
não pode ser mensurado em peças de
ouro.
Cada um deles carrega um pouco da
coragem esquecida por muitos, a virtude,
o medo, o receio ou apenas a vontade de
conhecer o que “o mundo” pode oferecer
aqueles poucos corajosos que se aventu-
ram nos vários mundos possíveis.
Nas páginas seguintes constam alguns

2 P REFÁCIO
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO
B YORK O Ú LTIMO L EÃO
DE P RATA
A história de Byork começa há aproxima-
damente 20 anos, humano nascido em
uma família de camponeses na região do
Vale do Cervo precisamente aos redores
do Castelo Mecha do Cervo, pouco se
sabe sobre a família de Byork, pois os
pais de Byork morreram de uma doença
misteriosa quando mesmo tinha 5 anos,
os pais de Byork em seus últtimos dias
entregaram a criança a um pequeno
exército particular que passa pela região
alto intocados de os Leões de Prata.
Os registros oficiais dos Leões de Prata
são mínimos, pois o que sabe desse exér-
cito de mercenários em grande parte é de
seu criador, um Elfo da Lua originário
de Lua Argêntea sendo destacado nos
registros oficiais foi a participação dele
no grupo de heróis que salvaram uma
pessoa importante em Cormyr uma maga
chamada Caladnei que na ocasião foi
sequestrada por um bando de Drows
há muito tempo atrás, antes mesmo da
Praga Mágica e que o mesmo depois
dessas aventuras no Sul voltou a Lua
Argêntea, e com todas as riquezas adqui-
ridas no passado decidiu criar o exército
dos Leões de Prata para combater os
perigos do norte, esse Elfo já não está
entre os vivos e ninguém sabe onde jaz
os corpo do mesmo.
Desde quando Byork entrou nos Leões
de Prata, a situação já era de declínio
no exército há muito tempo o patrono
já tinha morrido sendo Byork a úlltma
criança e o último integrante a entrar
no exército. Quem comandava os Leões
de Prata era um humano de aproxima-
damente 60 anos chamado Rolo Leão
de Prata, todos os membros do exército
tinham em seu sobrenome Leão de Prata,
os Leões de Prata já contaram com
mais de 500 combatentes, porém nos
últimos anos contam com um grupo de
30 combatentes.
Byork após a morte dos pais consi-
derava os Leões de Prata a sua única
família, sua vida foi dentro do grupo foi de
treinamento árduo e longas caminhadas
no norte, sendo que dos 5 aos 10 sua
principal função era de escudeiro dos
demais guerreiros do grupo ajudando-
os a vestir armaduras e afiar espadas,
dos 10 anos em diante começou seu
treinamento com infantaria, sendo que
Byork apresentou facilidades com manu-
seio de armas de grandes desde começo,
aos 15 passou a ser Porta-Estandarte
e aos 18 anos passou a ser o Batedor
do grupo contava agora com apenas 12
integrantes.
Semanas atrás, Byork agora com 20
anos já era um infante completo, porém
nunca tivera participado de uma batalha
de verdade com o moribundo exército dos
Leões de Prata que contava apenas com
10 integrantes todos humanos, o grupo
está se dirigindo ao Vale do Cervo local
aonde Byork nasceu passando pela cida-
dela de Adbar para compra de manTim-
mentos, Rolo o antigo líder mencionou
que o Vale do Cervo seria o local ideal
para que os Leões de Prata consigam
serviços e a gloria do passado e por isso
da viagem sem um trabalho ao certo.
Após passagem na cidadela de Adbar,
o grupo foi contratado para escoltar uma
caravana que também iria ao Vale do
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 3
 tou um palco de sangue e destroços, não
havia vivos no local, Byork procurou por
seus companheiros e encontrou apenas o
velho Rolo agonizando, dizendo que não
viu e nem escutou que os atacou, em seus
úlTimmos momentos de vida entregou o
estandarte com um desenho de um Leão
prata com uma espada, e pediu para que
Byork reconstrua o exército dos Leões de
Prata.
Agora Byork carrega o estandarte em
uma lança longa que fica presa nas
costas em direção ao Vale do Cervo....

Cervo, no quarto dia de viagem perto

da Floresta Gelada todos tiveram que
parar por causa de uma nevasca estava
fechando o a passagem para o vale na
região e Byork foi incumbido de conseguir
algum tipo de caça para o grupo naquele
dia.
Byork mesmo não sendo o melhor
caçador conseguiu abater um cervo antes
do meio-dia e já estava voltando para
local onde estava parada a caravana,
a uns 20 minutos de chegar ao local
começou a escutar barulhos de gritos e
combate começou a correr em direção
ao local da caravana, chegando perto
começou a observa uma fumaça subindo
do local.
Chegando onde estava a caravana avis-

4 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO

C ONTOS DE UM B ARDO ,
POR T HEON DE O LAMN
L UA A RGÊNTEA , T AVERNA DO S Á -
TIRO S ORRIDENTE – 1489
Ok, você vai tomar essa úlTimma cerveja,
e vai deitar, amanhã cedo você viajar pro Vale
do Cervo, tem que escrever ainda seu report,
afinal esse é seu trabalho, buscar informações
de todos os locais e encaminhar aos chefões
de Nova Olamn, e convenhamos, já está a um
bom tempo sem enviar nada pra lá.
- Hãm? Desculpe querida, estava
apenas longe na minha mente. Sobre
o que mesmo estávamos falando?
A mulher de cabelos lisos e castanhos
sentada a minha mesa solicita que eu
continue a história.
- Haaa, verdade, ia contar de onde vim
né?!, Então... olhando pra cerveja no
final do copo
- Taverneiro me vê mais um desse, e
outro para bela dama ao meu lado.
A moça a mesa acena com a cabeça
aceitando outra rodada, já havia perdido
as contas de qual rodada seria essa.
Esse idiota não olha para cá, estou
com a caneca levantada e nada de me
servirem, espero que essa noite valha a
pena, amanhã to fud...
- Pegue, leia essas páginas desse diário,
ai fala um pouco dos meus pais, com
licença, vou eu mesmo buscar a bebida
no balcão.
Á GUAS P ROFUNDAS , D ISTRITO DO
C ASTELO , M ONTE DE C LIFFRIDE ,
C ONSERVATÓRIO DE M ÚSICA N OVA
O LAMN - 1469
Sobre meu pai, THON DE OLAMN, ho-
mem simples, zelador do conservatório,
40 anos, e aparentemente sem nada mais
pra acrescentar em sua história de vida.
Sobre minha mãe, ELLIS SIANNODEL,
elfa, 120 anos (aprox 22 entre humanos),
uma versada estudante de música, pra-
ticante de magia élfica, dotada de uma
capacidade rápida de aprendizado, vinda
de uma família nobre entre os elfos da
floresta alta, e de uma linhagem pura e
longa.
Faça seu destino, essa frase define bem
minha mãe, e acho que um pouco de
rebeldia também.
Não sei se foi o destino, a diferença
de estilo de vida, curiosidade sobre uma
raça diferente, ou sei lá o que. Mas,
de onde não se esperava nada, surgiu
um amor, e desse amor um fruto, e foi
assim que nasci, THEON DE OLAMN
SIANNODEL.
Minha família por parte de pai, era
apenas ele, e os que conviviam conosco
no conservatório. Meu pai não possui
um sobrenome especifico, ou não se
lembrava, porque nunca o usou de fato,
e era apenas conhecido como Thon de
Olamn, e mais tarde, apenas como o
Velho Thon.
Era maravilhoso viver no conservatório,
enquanto meu pai cuidava do local, eu
ficava com as crianças para que seus pais
pudessem se dedicar as artes oferecida
por Nova Olamn. Eu aprendia e ensinava
música a eles, e me deleitava com esse
prazer.
Em uma dessas compus minha pri-
meira canção, ONTEM EU TIVE UM
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 5
 D E V OLTA A L UA A RGÊNTEA , T A -
VERNA DO S ÁTIRO S ORRIDENTE –
1489

- Oi, e aí como anda a leitura? ahhhh

interessante essa parte.
A garota interrompe a leitura enquanto
me olha nos olhos, e pergunta o que eu
penso dos meus avós, senão os achava
cruéis demais com uma criança.
- Claro que não, se há algo que eu
aprendi com minha mãe, é que você faz
suas escolhas e isso inclui a forma como
você pensa da vida e das pessoas.
- O que eles fizeram de errado afinal?
Claro que nada, eles estão certos no
ponto de vista deles, afinal de contas,
o que meu pai teria a acrescentar na
vida deles? Ou da filha deles? Nada,
simplesmente isso. Nós corrompemos
SONHO, e caiu no gosto do reitor, que
uma linhagem inteira com um romance
adicionou-a as oficiais canções do con-
simplório e um nascimento de uma cri-
servatório, como uma canção infantil a
ança mista. No lugar dos meus avós
ser ensinada nas aulas para crianças.
talvez eu também me portaria da mesma
Só fui me tocar do meu feito quando
forma, ou não, nunca saberei. Mas o
certo dia a andar pelas ruas de Águas
que importa é que eles são livres para
Profundas, vi uma mãe cantarolar para
pensarem como quiserem, e que eu os
seu filho enquanto o colocava para dor-
amo mesmo assim. E por mais que
mir. Isso meu deu um propósito.
nunca admitam sei que no fundo, eles
Minha família por parte de mãe era bem
são felizes com meu nascimento, pois isso
mais complexa, nobres dos Siannodel
trouxe uma alegria legiTimma para filha
(Córrego Lunar), estruturada e definida.
deles, e disso, nunca poderão reclamar.
Culturas, riquezas, doutrinas, etc, etc,
Os olhos da moça lacrimejam, en-
etc.
quanto eu coloco um copo cheio de cer-
Por mais que não fosse aceito entre
veja a sua frente e pego meus pertences
os elfos, ela fazia questão de me levar
e estendo a mão a ela.
sempre as florestas dos meus avós para
- Já ta tudo pago, inclusive essas
conhecer mais sobre nossa cultura. E
canecas, vamos, vamos subir um pouco,
me ensinava que o valor maior de uma
já esta tarde e preciso descansar.
pessoa, são suas escolhas. Lá eu era
Ela permanece sentada enquanto se
tratado com desprezo de todos, inclusive
lembra que eu partirei amanhã pela
dos meus próprios avós, que me viam
manhã, e me pergunta do resto da minha
como uma fraqueza na linhagem.
história.
- Acho que você já leu o suficiente, mas

6 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO

para resumir, meu pai ainda trabalha em
Nova Olamn, pelo menos eles deixam o
S TEN W INDBORN
velho Thon "trabalhar"por lá, já que a
idade chegou e contrataram outros para S ONHOS S OMBRIOS
ajudá-lo, e meio que ele se sente neces-
Seu capuz azul cobria parcialmente o
sário por lá. Minha mãe vive a vida em
rosto enquanto a capa, presa com fechos
viagens, por vezes para cumprir tabelas
da Ordem ombros, sobre um fundo azul
de compromissos da família, por vezes
celeste, acompanhava seus movimentos
apenas para se divertir, mas sempre volta
rápidos, precisos e mortais. Portando a
para passar um tempo com meu velho, é
Semper Vigilans na sua mão esquerda e
a vida dela, ela faz seus caminhos, não
seu escudo de proteção na outra, sentia-
cabe a mim julgar. Meus avós fingem
se como um só ser: homem, espada e es-
que eu não existo para família deles e
cudo. Destinado a cumprir suas ordens a
seguem suas tradições. Eu me tornei um
qualquer custo, Sten Windborn já estava
MAGNUS ALUMNA, que é uma espécie
cercado por cinco homens armados com
de graduação em Nova Olamn, agora eu
espadas, mas nada o impediria.
continuo meu destino pelo mundo, fim.
Ao mover-se em direção ao primeiro
Vamos?
soldado, com apenas um golpe atraves-
Ela levanta meio que a contragosto,
sara o camisão de malha e com isso
enquanto me abraça e pergunta porque
seu adversário caíra prostrado e morto.
mesmo que eu vou partir.
Com o seu escudo em punho defendeu
- Não posso te dizer querida, caso
o golpe de um soldado que estava à
contrário teria de matá-la.
sua esquerda, e com um golpe preciso
Ela olha assustada enquanto eu a
perfurou o estômago deste, caíra com
abraço e completo:
os olhos fechados, lamentando os seus
- Claro que não pequena, é apenas
pecados. Dois homens já estavam mortos
uma piada de mau gosto, apenas não
no chão, o sangue dos não merecedores
quero preocupá-la com devaneios de um
escorria pela Semper Vigilans, Sten Wind-
viajante. Agora vamos, acredito que o
born estava sereno e calmo, seu rosto não
melhor da noite ainda está por vir.
demonstrava nenhuma expressão.
Com um passo para trás encarou o
terceiro soldado que já estava na sua
frente, esperou o momento correto e es-
quivando perfeitamente do golpe acertou
as costas do homem que urrando de
dor pediu uma morte rápida. Os dois
úlTimmos soldados tentavam flanqueá-lo
seu oponente, no entanto a habilidade
de Sten Windborn era muito superior,
sua movimentação era perfeita, afinal
e contas era apenas um ser (homem,
escudo e arma). Com apenas dois golpes
fatais encerrou o encontro. Ajoelhou-
se e fez uma breve prece agradecendo
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 7
 ao poderoso Helm, por lhe conceder a havia uma vela já apagada, papel e tinta.
benção e graça de manter-se sempre O dia amanhecia como outro qualquer,
vigilante. Ao levantar, limpou sua espada tinha chovido durante à noite, lembrou
e se dirigiu ao fundo do fundo do corredor, que precisava finalizar a conferência do
encontrou o que procurava, um grande estoque de grãos que seu pai havia lhe
salão, com uma mesa enorme ao centro mandado fazer no dia anterior. Não
repleto de pessoas. gostava dessas atividades, mas como
Um grupo de músicos tocava em uma Skari Lackman mais de uma vez lhe
plataforma, e em outra estava uma está- alertou a necessidade de ser prestativo
tua de bronze, uma figura de rara beleza para com o seu pai.
com o dobro de tamanho de um homem
real. Quando Sten Windborn entrou, viu
Ander Storm cumprimentando o artista. B RANDT N IGHT H AMMER
Ninguém notara nada de estranho, era
- Precisamos reforçar nossas defesas no
um nobre, estava trajando seu uniforme
Forte de Helm. Necessitamos de homens
de combate, espada na bainha, escudo
e armas. Novas ameaças foram vistas
sempre em mãos. Mas, na mente de Sten
por nossos batedores e decidimos que
Windborn, tudo mudaria a partir desde
precisamos aumentar a nossa vigília.
dia. Esperou Ander Storm se afastar
Erick Whitehawk, o líder está preocu-
do grupo e em seguida Storm ouviu o
pado. Disse um dos cavaleiros da Ordem
desembainhar de uma espada e viu a
da Manopla.
lâmina contra a sua garganta:
Quem falava era Igor Cavalier, um
- Adeus, Ander Storm, disse Sten
velho amigo de Brandt Night Hammer (pai
Windborn friamente.
de Sten Windborn). Night Hammer era
Ander Storm tentou empurrar Sten
o senhor, um homem sério, de poucas
Windborn para longe e chamar os guar-
palavras, era evidente que na sua juven-
das, mas Sten Windborn cortara sua
tude tinha sido um homem muito forte,
garganta. Agora incapaz até mesmo de
mas a idade tinha lhe alcançado. Já não
gorgolejar, Storm caíra de joelhos, as
possuía força do passado e isso começava
mãos instintivamente agarrando o pes-
a lhe preocupar. Sua esposa a Lady Fiske
coço em uma tentativa inútil de estancar
estava sempre ao lado de seu marido e
o sangue que jorrava. Sten Windborn
costumava tomar algumas decisões mais
cortou a algibeira que estava no cinto
pontuais no lugar dele, o qual mantinha-
do homem ao abrí-la sorriu, finalmente
se mais preocupado com a administração
encontrou o que procurava. Mas agora
geral e necessidade de segurança para
tudo estava em silêncio. A música tinha
sua vila. Sten Windborn, seu filho, não se
sido interrompida quando os convidados
interessava pelos assuntos da das terras
começaram a se virar e a olhar, sem com-
do pai e isso irritava Brandt.
preender ainda o que havia acontecido.
- Talvez, você deva se alistar junto
- Hoje encerro minha vingança! -
à Ordem da Manopla, Sten Windborn.
Mumurrou Sten Windborn.
Aprender a manusear uma espada, jurar
E Sten Windborn sempre acordava ofe-
lealdade a Helm. Disse Brandt Night
gante. Estava sozinho em seu dormitório
Hammer com a sua voz serena e um olhar
como todas as manhãs, ao seu lado
fixo ao Sten Windborn.

8 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO

 Um silêncio tomou conta da sala e não S KARI L ACKMAN
houve resposta verbal de Sten Windborn,
apenas baixou a sua cabeça e manteve-se
Skari Lackman era um sacerdote próximo
sem palavras.
a seus 50 anos e foi destinado a ensinar
- A Ordem da Manopla precisa de
e cuidar de Sten Windborn. Lackman
homens, nós precisamos de bons solda-
era um homem sábio, conhecido pela
dos para nossas defesas, você é jovem
nobreza e também por esconder alguns
e capaz, não entendo a sua falta de
segredos da Casa Mecha Real, pelo ao
interesse. Seria uma honra para nossa
menos era o que o senso comum dizia.
família que você se alistasse à Ordem.
Estava ansioso pelo retorno à corte para
- Mas, senhor, meu pai. Meu trabalho
a festa anual da colheita. Contudo
é aqui, cuidando das nossas terras.
naquele mesmo dia, Sten Windborn ti-
- Trabalho?! Acho que se não fosse
nha contado novamente à Lackman o
Lackman no seu pé, você não faria nada.
sonho que costumava ter: o capuz, a
Um novo silêncio tomou conta do salão,
espada, a morte e o item na algibeira.
enquanto isso Brandt Night Hammer
Não conseguia esquecer, era um sonho
voltou a conversar com Igor Cavalier. E
constante, ele já não sabia se era apenas
o almoço seguiu sem mais interrupções.
imaginação dele ou se era um sonho
Igor Cavalier informou que logo após
recorrente. Lackman lhe censurou disse
o almoço precisaria partir em viagem.
que ele tinha que esquecer esse sonho e
O tempo era curto eles não poderiam
levar a vida normalmente. Mas Lackman
descansar muito.
sabia que Sten Windborn não conseguia
Como dito, logo após o almoço, os cinco
esquecer.
membros da Ordem da Manopla partiram
Antes do almoço Lackman se dirigiu
em direção Sul.
aos celeiros para saber se Sten Windborn
Ao fim do dia, nas primeiras horas
conseguiu finalizar a tarefa de contar
da noite, Brandt Night Hammer demons-
o estoque de grãos. Lá estava Sten
trava, em particular, a sua preocupação
Windborn, deitado sobre os fenos dos
para sua esposa Lady Fiske, a qual
cavalos. Lackman sem pensar duas vezes
escutava-o atentamente. Mas, o que
pegou seu cantil de água e despejou
mais Brandt lamentava era a total falta
sobre Sten Windborn, o qual espantando
de interesse de Sten Windborn pelo cha-
derrubou o vinho que estava ao seu lado.
mado da Ordem da Manopla. Como ele
- Que irresponsabilidade é essa! Tenha
iria defender suas terras e as pessoas
atitude. Levante-se e termine logo esta
que deles dependiam? Brandt sentou-
tarefa. Seu pai lhe espera no salão
se olhando pela janela e de longe viu
principal para o almoço, temos visita.
sombras de várias criaturas a pouca
Sten Windborn com raiva finalizou o
distância da vila, levantou-se e percebeu
trabalho e se dirigiu ao salão principal,
que tudo ficou escuro de repente.
afinal de contas Lackman estava ao seu
- Esposa, estamos sob ataque!
lado monitorando. Algum tempo depois
Lackman retornou aos seus aposentos,
sentou-se na escrivaninha abriu sua
gaveta e em um fundo falso pegou um
pedaço de pergaminho em branco e es-
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 9
 creveu: O tempo está se esgotando, é
preciso tomar providências para que a
ordem prevaleça. Enrolou o pergaminho
e colocou no seu bolso.
Ao se dirigir ao salão principal, Lack-
man contou cinco membros da Ordem
da Manopla estavam presentes. Contudo
apenas um estava em diligência com o
pai de Sten Windborn. Cumprimentou
um dos soldados da Ordem da Manopla
e sentou-se na cadeira que era destinado
à sua pessoa e lá permaneceu.
Coitado do Brandt, pensou Lackman,
gostaria de ajudá-lo mais, a sabedoria de
Brandt não será suficiente para contonar
todos os problemos que a vila possui.
Sten é um inútil, só quer saber de
bebedeiras. Quem irá substituir Brandt
quando ele morrer? Era um pensamento
cotidiano de Lackman. Sentia que de
alguma forma havia falhado com Brandt
e com a Ordem. Precisava de ajuda,
precisava tomar providências o quanto
antes.
S TEN W INDBORN
Não ligava muito para o que o seu pai
dizia, afinal achava que seu pai estava
muito velho, só tinha histórias e mais
histórias para contar. Para seu pai
as leis e costumes eram importantes e
necessariamente teriam que ser boas.
Sten não se importava muito com isso.
Na verdade, ele queria era que o Lackman
fosse logo embora, para que pudesse ficar
mais livre.
Naquela noite bebeu muito e foi direto
para seu cômodo, chegou cambaleando
tomou mais um gole de vinho e capotou
na cama. Perdeu a noção do tempo, não
soube dizer quanto tempo passou, só a
lembrança de Lackman ao lado de sua
cama com um balde de água e gritos:
10 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO
- ACORDE!!!! ACORDE!!!! ACORDE!!!!
Estava tonto, Lackman aparentemente
estava ferido sangrava no braço esquerdo.
Lackman gritava:
- Vamos correr, venha. Estamos sendo
atacados. Venha comigo (gritava Lack-
man).
Sten continuava tonto. Não conseguia
se movimentar direito, as pernas estavam
cambaleantes, mal se apoiava.
- O quê, qqqqquê essssstá aconte-
cendo?
Não obteve resposta, quando saiu da
casa, viu que tudo estava tomado por
fogo e várias criaturas horrendas tinham
invadido a vila. Estavam destruindo tudo,
enxergou homens, mulheres e crianças
serem mortas. Estava muito bêbado para
tentar fazer alguma coisa. Os poucos
homens que estavam lutando estavam
encurralados e sendo mortos um a um.
Lackman o puxava para longe da des-
truição. Em vã uma tentativa de correr
para onde acontecia a batalha acabou
lembrando - sua mãe e seu pai. Era tarde
demais. Lackman segurando-o começou
a gritar:
- ESTÃO MORTOS, SEU PAI, SUA MÃE,
TODOS MORTOS.
Os olhos de Sten encheram-se de lá-
grimas, era sua culpa, foi o primeiro
pensamento que veio na cabeça.
Enquanto eles tentavam correr para
longe de tudo, Sten demorou a perceber
que uma flecha tinha acertado as costas
de Lackman. Depois de algum tempo
conseguiram se afastar o suficiente para
não serem encontrados. Sten ainda
permanecia tonto, cambaleante e com a
enorme sensação de culpa, tinha falhado
como filho, herdeiro e protetor. Como
seu pai sempre dizia, precisamos cuidar
daqueles que acreditam em nós. Tinha
falhado!
 Lackman já estava exausto, tinha per-
dido muito sangue, não conseguia mais
seguir em frente. Sentou-se junto às
raízes de uma árvore e ofegante disse:
- Sten, vá ao Forte de Helm, procure
Javen e, entregue isto. Lackman retirou
um pedaço de papel de seu bolso. No pa-
pel tinha um desenho de o olho de Helm
sobre uma manopla de ouro fechada em
um punho. A morte já estava nos olhos
de Lackman e com um úlTimmo suspiro,
disse:
- Que Helm lhe acompanhe.
Sten chorou, de alguma forma admi-
rava Lackman, tinha perdido sua família
e tudo aquilo que possuía. Esperou um
pouco para tentar recuperar a lucidez,
conseguiu encontrar alguns poucos so-
breviventes e menos amigos ainda. Era
evidente o sofrimento e a angústia nos
olhares dos aldeões, o olhar de repro-
vação, a dor e o desespero. Passaram
a noite escondidos na floresta, ninguém
dormiu.
No dia seguinte conseguiram constatar
a destruição com seus próprios olhos,
não tinha sobrado nada. Os sobreviven-
tes buscavam seus familiares para reali-
zarem os rituais fúnebres, o cenário era
de dor, sofrimento e destruição. Quando
encontrou seus pais, Sten chorou nova-
mente, pediu perdão e pela primeira vez,
tomou às rédeas da situação, cuidou de
todo o funeral e dos demais que ocorrem
naquele dia. Ao fim do dia avisou que
aqueles que quiserem ir com ele deveriam
se dirigir ao Forte Helm para proteção e
recomeço. Já não era mais o mesmo,
algo tinha sido quebrado, Sten sentia o
peso da responsabilidade, algo que nunca
tinha lhe passado.
Ao raiar do dia, juntaram o pouco de
recursos e manTimmentos que conse-
guiram reunir e em comitiva partiram
para o Forte de Helm, seria uma viagem
tranquila, a estrada era protegida, dois
dias e uma noite de viagem chegariam ao
Forte. A viagem decorreu sem maiores
problemas, ao fim do primeiro dia, encon-
traram um grupo de soldados do Forte
os quais lhe concederam proteção até a
chegada no Forte de Helm.
O Forte de Helm ainda é um relativo
pequeno assentamento: um punhado de
ruas que circundam o mercado central,
com paredes robustas de pedra e madeira
por todos os lados. No centro da cidade
está a Ala da Paixão, um amplo mercado
com diversas fileiras de barracas a partir
de seu centro, e uma antiga forca que
não parece muito em uso nos úlTimmos
tempos. O mercado é assim nomeado
devido ao santuário dedicado à Sune,
que uma vez havia em seu limiar. Este
santuário tem sido substituído por um
templo recentemente construído para
a Dama Ruiva, chamado de Salão da
Paixão1 .
J AVEN T ARMIKOS
Ao adentrar o Forte de Helm, Sten foi en-
caminhado a Javen Tarmikos um homem
alto, portando uma armadura de batalha
e uma espada. Em sua armadura estava
esculpido o símbolo de Helm, Javen era
um Paladino de Helm e ao seu lado
tinha um estandarte em vermelho com
a manopla cerrada e o olho de Helm.
Sten entregou o papel que recebera de
Lackman. Tarmikos molhou o dedo com
um líquido que estava sobre a mesa e
esfregou no papel.
- Acredito que Lackman esteja morto.
Afirmou Javen. Sten confirmou com a
cabeça e disse:
- Fomos atacados à noite. Todos
1
Costa da Espada (2015, p. 85).
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 11
 vingar a morte dos meus pais.
- Não sei se lhe posso fornecer a sua
vingança, isso é algo que você deverá
resolver sozinho. Mas, eu preciso de
homens corajosos que podem ser treina-
dos para fazerem parte da Ordem que
tem apenas o objetivo de servir a Helm e
destruir o mal, seja ele qual for. Faça o
treinamento inicial e ao final eu decidirei
se você poderá carregar o estandarte da
Ordem do Olho Dourado e depois fazer o
juramento sagrado. Nosso objetivo segue
o propósito de não ser bastante enfrentar
apenas as ameaças que se expõem. Ao
contrário da Ordem da Manopla, nós
acreditamos que muitas vidas podem ser
morreram, meu pai, minha mãe, Lack-
salvas se os sinais da maldade e aque-
man e muitas outras famílias as quais
les imergidos na escuridão sejam vistos
acreditavam no meu pai...
e destruídos antes que eles abram os
- Eu sabia! Interrompeu Javen. – Eu
portões para ameaças maiores. Eu vejo
avisei a todos que precisávamos atacar o
que você tem potencial. Jure lealdade à
quanto antes, não podemos esperar que
Ordem do Olho Dourado, seja devoto de
as ameaças se concretizem. Temos de
Helm, seja vigilante.
aniquilar o mal antes que ele apareça.
Eu vi o olho de Helm derramar lágrima.
Devemos nos antecipar. A Ordem da
Manopla é precavida demais. Você fez
alguma coisa para evitar essa tragédia
Sten? Você fez algo?
- Não senhor. Respondeu Sten quase
inaudível.
- Então você é o culpado. Javen deu
um soco na mesa e apontando o dedo
para Sten, continuou.
– Você deveria ter protegido sua família,
honrado seu nome. Agora o sangue deles
corre em suas mãos. Pela sua fata de
ação, falta de iniciativa, por isso dezenas
de inocentes foram mortes, vidas que
poderiam ter sido salvas, se você tivesse
agido previamente, com antecedência.
Antes que mal batesse à sua porta. Você
deveria ter protegido os inocentes. O que
você irá fazer? Agora? Neste momento?
- Eu não sei senhor. Quero apenas

12 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO

 EIS O DOGMA DE HELM
Nunca traia a confiança. Seja vigilante. Esteja
de prontidão, espere e guarde cuidadosamente.
Seja justo e diligente na condução de ordens.
Proteja os fracos, pobres, feridos e jovens e
não os sacrifiquem pelos outros ou por você
mesmo. Antecipe os ataques e esteja pronto.
Aprenda sobre seus inimigos. Cuide para
que suas armas possam cumprir seu dever
na hora que forem solicitadas. Planejamento
cuidadoso sempre derrota ações precipitadas.
Sempre obedeça as ordens, obedecendo todas
que seguem os ditames de Helm. Demonstre
excelência e lealdade pura no seu papel como
guardião e protetor.
Aquele discurso tomou a cabeça de
Sten Windborn. Se ele não fosse tão
disciplicente certamente poderia ter feito
algo para evitar a tragédia. Sten estava
decidido queria ser tornar um Paladino
de Helm. E a partir deste momento jurou
lealdade à Ordem do Olho Dourado.
AYDAN S EMENTE DE
C ARVALHO
A S ACERDOTISA E O G RANDE VA -
RÃO
Uma vez a cada milênio, aproximada-
mente, uma sacerdotisa da natureza
nasce com o raríssimo “Dom do Oráculo”.
O Dom do Oráculo é como os silvanistas
chamam a capacidade de Silvanus falar
diretamente através da pessoa, orien-
tando e fazendo revelações em momentos
e situações raras e/ou especiais. Para
tanto, ela é submetida a um treinamento
mais rígido que as demais.
A sacerdotisa é educada e preparada
nos mais altos ensinamentos da fé de
Silvanus, aperfeiçoando seu elo com o
deus, entendendo e sendo uno com toda
a natureza. Durante sua preparação
druídica, ela faz seus votos junto ao
deus e mergulha, muitas vezes, no mais
profundo silêncio para que seu espírito
se ligue com toda a natureza ao seu redor.
É ensinada a sentir cada folha que cai,
cada semente que brota, cada animal que
nasce e que morre.
Sua rigorosa preparação é feita pois,
acredita-se que a sacerdotisa tenha sido
escolhida pelo próprio Pai da Floresta
para que ela seja o mais perfeito elo entre
o altíssimo e este mundo.
Uma parte da preparação é manter
a donzela virgem, não participando de
outros rituais que envolvam sexo, prin-
cipalmente durante a Dança da Dríade,
a fim de que ela possa receber somente
a semente do Grande Varão, o homem
mais capacitado, habilidoso e de maior fé
no Pai Carvalho. Isto acontece durante
o ritual da Dança da Dríade, porém,
Silvanus precisa anunciar através da
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 13
 sacerdotisa o momento na qual ela estará
pronta. Os mais altos arquidruidas dizem
que o Grande Varão se torna, tempora-
riamente, o receptáculo da Árvore Pai
durante o ritual.
O Grande Varão é selecionado entre
os fiéis de da Árvore Pai, durante uma
espécie de competição tão feroz e violenta
quanto a natureza pode ser, na qual são
expostos a testes de fé, força, resistência
e sabedoria. Eles são deixados apenas
com uma adaga e uma pele de animal
para enfrentarem todos os perigos da
natureza, compreendê-la e tornarem-se
uno com ela. Alguns homens chegam a
morrer no processo. A partir de então,
ele se torna o grande defensor daquelas
terras. Ao fim, o úlTimmo homem em
pé (aquele que torna-se uno por ter
compreendido os mistérios naturais) é
levado até a virgem sacerdotisa para o
coito ritualístico.
A sacerdotisa, levada para o grande
círculo de pedras, é mantida embebida
através de ervas e chás para entrar numa
espécie de transe semiconsciente, e para
aguçar sua libido na espera do Grande
Varão. Seu corpo, coberto por um fino
tecido branco, é perfumado com bálsamo
revigorante a fim de que durante o coito
possa anestesiar as dores de seu parceiro,
pois este chegará cheio de feridas e
cansado devido aos desafios enfrentados.
Ao redor do círculo, as demais sacer-
dotisas fazem suas danças com cânticos
druídicos, vestidas somente com finas
roupas de algodão não tingido. A fumaça
das poucas tochas parece acompanhar
seu bailar hipnótico.
Ao avistar o vulto do Grande Varão,
subindo a colina até o grande círculo de
pedras, a sacerdotisa, que não pode ver o
rosto do homem (nem conseguiria direito,
devido às ervas e chás), pega para si a
14 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO
máscara do carvalho e a grande coroa
(chifres de cervo) e, ao aproximar do
Grande Varão, este toma a máscara para
si e a põe, ajoelha-se e então é coroado
pela sacerdotisa. Quando isto acontece,
dizem que o próprio Silvanus toma o
corpo do Grande Varão e copula com sua
escolhida, semeando-a e, possivelmente,
gerando uma criança.
Ao amanhecer, a sacerdotisa levantou-
se e fez oferendas à Árvore Pai, deixando
mel, leite, pão e frutos no pé de um
grande carvalho próximo ao círculo e,
sem olhar a face do homem que fora
possuído por Silvanus, saiu. O homem
que assumiu o papel de deus, é recolhido
e cuidado por demais sacerdotes até que
tenha suas forças recuperadas. Após
isso, cada qual segue seu caminho. O
ritual estava concluído, bastaria saber se
a semente iria germinar.
Dentro de poucos meses, Flor d’Ouro, a
ninfa sacerdotisa com o Dom do Oráculo,
teve sua confirmação quando o sangue
não mais desceu e seu delicado ventre
começou a apontar levemente. Estava
grávida
S EMENTE DE C ARVALHO
No dia de solstício de inverno, nasce o
filho da ninfa e sacerdotisa de Silvanus,
Flor d’Ouro, e do Grande Varão. O garoto
nasce debaixo do mesmo carvalho o qual
sua mãe deixou as oferendas ao deus
após o amanhecer seguinte ao ritual. Foi
lhe dado o nome de Aydan Semente de
Carvalho. Seus cabelos eram da cor da
casca do carvalho e seus olhos tão verdes
quanto suas folhas.
O pequeno cresceu sendo educado nos
costumes e tradições druídicas do Pai
Carvalho, aprendendo sobre os deuses,
a natureza, o ciclo da vida, seus perigos,
sua força e seus poderes. Entendia que
a natureza era uma grande força, bruta
e poderosa, a ser moldada segundo os
poderes e desígnios do Pai da Floresta.
Aprendeu as orações, os dias sagrados,
os rituais, tudo dentro da inTimmidade
dos mais profundos círculos druídicos.
Fez seus votos sagrados e foi iniciado nas
tradições. Desde muito jovem percebeu
seu talento em domar e controlar a força
da natureza. Conseguia sentir suas
delicadezas e até mesmo sua dor.
Sua mãe o orientava, vezes como mãe,
vezes como grande sacerdotisa, acerca
de suas habilidades, ensinamentos, co-
nhecimentos e do mundo. Este úlTimmo
muito o intrigava, tinha vontade de sair
e desbravar, como todo jovem de sua
idade. Ficava curioso sobre os animais e
feras que haviam além do que sua visão
poderia alcançar, na grande colina do
círculo de pedra.
Uma vez sua mãe levou-o ao grande
carvalho, o qual ela fazia oferendas,
na colina do círculo de pedra. Após
uma oração, ela tocou a grande árvore
e esta dobrou-se e mexeu-se como se
a obedecesse. Então a própria árvore
curvou-se para baixar um de seus galhos
oferecendo-o para a ninfa. Ela então
olhou e tocou em um. O galho começou
a retorcer-se até que se desprendeu da
árvore. Flor d’Ouro o apanhou e entregou
ao seu filho, dizendo que este bordão se-
ria uma extensão de seu poder, do poder
da Árvore Pai, um vínculo inquebrável
e que o acompanharia sempre. Desde
então, Aydan sempre carregou consigo,
utilizando, muito além de uma arma, um
cajado, um foco de poder.
Quando já conhecia as feras das flo-
restas, dos campos, das colinas e das
montanhas, fora levado pelo seu pai, o
homem a quem teve o título de Grande
Varão, para conhecer a terra dos grandes
animais. A princípio, pensara que seriam
animais diferentes, porém, ao chegar
lá, viu animais já conhecidos, mas de
tamanho desproporcionalmente grandes
em comparação aos que conhecia. Lobos
do tamanho de ursos! Répteis, arac-
nídeos, mamíferos, aves... todas as
criaturas eram enormes! Até então as
únicas as quais ele era habituado eram
as inteligentes águias e corujas gigantes.
Por um momento sentiu medo de tudo
aquilo, porém, a presença de seu pai ali
fez com que seu coração se confortasse.
Ensinou-lhe a caçar, como lidar com as
feras, respeitá-las, evita-las e a sobrevi-
ver. Era um especialista, afinal, fora ele
o vencedor (escolhido) para ser o Grande
Varão. Após uma temporada ali, vivendo
naquela região, voltara ao seu lar, sua
floresta, seu bosque, junto de sua mãe, e
demais amigos.
Ele sabia que tinha sido concebido
no Grande Ritual que aconteceu no dia
da Dança da Dríade, mas para ele isso
era normal, pois muitos de seus amigos
tinham sido também, porém, para si,
seu pai era o Grande Varão. Nunca o
trataram diferente, nem melhor nem pior,
devido a este fato, mas sempre percebeu
que possuía um domínio um pouco mais
avançado sobre a natureza. Diferente dos
sacerdotes, mesmo quando ele não re-
zava, por estar banhando-se no lago, apa-
nhando frutas, admirando a paisagem, a
flertar com alguma sacerdotisa ou porque
simplesmente havia esquecido, mesmo
assim, “eram concedidas” habilidades a
ele. Achava peculiar esta bênção que
recebera e, sempre tentava ser digno de
tal, principalmente através de suas ações
ao invés de sair pregando ou convertendo
pessoas.
Semente de Carvalho aprendeu sobre
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 15
 os deuses e seus fiéis. Aprendeu que, passadas por eles, sentados ao redor de
mesmo que outras pessoas ou seres uma fogueira em noites estreladas. Seus
venerem outra divindade, isso não dizia ensinamentos sempre eram sábios e vez
respeito a ele, pois fé é acreditar, talvez ou outra contavam sobre o mundo, sobre
mais, fé é a certeza que se deposita em o que viram, experimentaram, perigos,
um deus, em alguém, em alguma causa feras, criaturas e várias outras coisas.
ou no que quer que seja. E mudar isso Aydan tinha um senTimmento de paz
através da imposição ou doutrinação de e completude naquele lugar onde nasceu.
nada adiantaria. Era necessário não ape- Apesar de toda a curiosidade que tinha
nas conhecer, mas compreender, sentir e em desbravar (e sabia que um dia ele
vivenciar a fé. Porém, jamais aceitara que realmente iria), gostava dali pois trazia-
se levantassem contra Silvanus e contra lhe paz, boas memórias e era a personifi-
o que defende. Sabia a diferença entre cação de tudo o que aprendera desde que
usufruir da natureza e usar a natureza. ali nasceu.
Também não gostava de ver atrocida-
des acontecendo, atos vis e malignos,
aquilo o incomodava e fazia de tudo para Q UEDA
combater. Como fora criado tão livre
Durante o outono, quando as árvores
quanto um bicho, salvo estudos, con-
pintam suas folhas em tons que variam
templação, ensinamentos e tudo o que o
do amarelo ao vermelho, Aydan teve a
druidismo envolvia, sentia-se livre para ir
pior de suas quedas. O que o jovem
e vir, sem imposição, sem regras rígidas.
nunca poderia imaginar era que um dos
A natureza era livre e ele aprendeu a ser
altos druidas fosse corrompido por Talos
como ela: livre, bondoso e feroz, quando
na promessa de ascender à divindade.
a situação exigia.
Talos, ferrenho inimigo de Silvanus, fi-
Sempre ouviu de vários druidas que
zera com que Vardon Colina Verdejante,
aquele lugar onde vivia, o bosque, a
um dos arquidruidas, caísse em sua
floresta, as colinas... ali era um lugar
fé e começasse a cobiçar a ascensão.
sagrado. Diziam eles que Silvanus, com
Prometeu ao druida que, se matasse o
todas as mudanças que faz na face deste
Grande Varão, o grande defensor, faria
mundo, jamais tocara ali, pois acreditava
dele seu recipiente e tomaria para si a
que era sua obra prima.
ninfa sacerdotisa com o Dom do Oráculo
Definitivamente era um lugar belo,
para que gerasse um filho seu. Assim o
o qual somente o sonho de algumas
fez.
pessoas poderia alcançar. Era puro,
Por alguns anos ele conspirou em
imaculado, onde animais, fadas, criatu-
silêncio, deixando seu coração apodre-
ras da floresta, druidas e sacerdotisas
cer como a carniça de um animal.
viviam em harmonia. Tinha consigo que
Corrompeu-se e tramou. Ao final, fez com
sempre defenderia aquele lugar sagrado
que o Grande Varão perecesse e a ninfa
de qualquer mácula!
Flor d’Ouro fosse capturada. Isso pegou
Os superiores druídicos sempre trans-
a todos de surpresa, sua ação foi rápida
mitiram muito conhecimento para o jo-
e eficaz, pois sabia que se demorasse não
vem Aydan, conquistando sua confiança
conseguiria. Fora encoberto com a ajuda
e respeito. Adorava ouvir as histórias
do deus Talos, para que ninguém notasse

16 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO

sua movimentação. feição horrível. Uns de profundo pesar,
Aydan conseguiu ver sua mãe quase outros de medo, outros de tristeza, outros
desmaiada, sob o efeito de ervas, ao de desespero. As emoções mesclavam-se
lado de Vardon. Ela conseguiu mirar naquele momento, porém, nenhuma era
seu filho e estender a mão em sinal de boa.
pedido de socorro. Quando percebeu,
sua mãe manifestou o Dom do Oráculo
e sussurrou algumas palavras. Pela
P AR TIDA
distância seria impossível ouvir, porém, Algum tempo após a celebração do re-
o vento carregou as palavras até seus torno do espírito do Grande Varão para o
ouvidos. Elas diziam: “Parta e fique ciclo da vida, Aydan se despediu de seus
forte. Volte e recupere este lugar sagrado. amigos, mestres e conhecidos e partiu.
Remova a mácula e abençoe a terra. Leve Carregava consigo poucas coisas, mas
consigo tuas habilidades e ensinamentos. tinha um apreço muito grande pelos itens
Pois tu és ...” que lhe foram deixados por seus pais.
KABUM! Jurou que ficaria forte, se vingaria de
Enquanto corria até ela Vardon convo- Vardon, resgataria sua mãe e junto de
cou um relâmpago de Talos sobre seu todos removeria a mácula deixada pelo
pai. O estouro e a explosão causada druida que se corrompeu com a promessa
arremessaram o jovem que ia na direção de ascensão feita por Talos.
deles, deixando-o zonzo e cambaleante.
Em seguida mais um relâmpago foi visto,
mas este sobre Vardon Colina Verdejante
e sua mãe, porém, este relâmpago trans-
portara os dois para longe.
Deixando apenas o símbolo sagrado
de Talos ao centro do círculo de pedra,
maculando todo o local. Aos tropeços
foi correndo até seu pai, que estava
queimado e sofrendo muitas dores. Em
suas úlTimmas palavras, pedira que
resgatasse sua mãe, a grande sacerdotisa
e removesse a mácula do local que ele
tanto protegeu. Entregou então a Aydan
sua adaga, já velha e sem fio. A mesma
adaga que usara há anos quando fora
escolhido como Grande Varão. Então
esmoreceu nos braços de Semente de
Carvalho.
Aydan entrou em desespero, seu pai
havia perecido em seus braços, sua mãe
Seu destino era incerto, caminhou na
raptada e seu local sagrado profanado.
direção em que o vento soprava. Buscava
Rapidamente mais pessoas e animais
ser digno da missão que fora confiado a
foram ali chegando. Todos com uma
ele e de todos os poderes e bênçãos que
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 17
 recebeu. Caminhou e buscou conheci-
mento de novas feras, plantas, locais e
F RIDA F URA -O LHO
segredos. Seguiu rumo ao Vale do Cervo,
Frida não tem muitas lembranças de sua
pois quando olhava aos céus, sempre
infância. Praticamente tudo que ela sabe
havia um pássaro que voava naquela
sobre si mesma lhe foi contado por Varak
direção, como se Silvanus o guiasse para
e Rayla, seu pai e sua mãe adotivos e
lá...
humanos.
Certo dia, ainda bem cedo da manhã
Varak andava silenciosamente pela flo-
resta próxima do vilarejo a procura de
uma caça para servir de refeição para ele
e sua esposa. Ambos já tinham certa
idade, mas infelizmente não tinham sido
agraciados pelo Pai de Todos com uma
prole.
Era uma das manhãs mais quentes
do ano naquela região, isso se uma
temperatura próxima de 0o C pode ser
considerada quente, mas assim é a vida
no Vale do Cervo. Depois de encontrar e
capturar uma lebre, ao voltar para casa,
Varak começou a ouvir um murmúrio,
que aumentou para um choro, um choro
agudo, um choro de um bebê.
Varak caminhou na direção do som até
que avistou uma cesta de madeira que
balançava levemente, ao se aproximar
ele viu um minúsculo bebê, enrolado em
uma grossa pele de algum animal, ele
olhou ao redor tentando encontrar quem
havia deixado aquele bebê ali mas não
avistou ninguém.
Varak não pensou duas vezes, pegou a
cesta com o bebê e apressou o passo até
chegar em casa, tentando fazer com que
o bebê parasse de chorar. Ao entrar em
casa, deixou a lebre sobre a mesa e pro-
curou por Rayla para que ela o ajudasse
com aquele bebê. Rayla ficou assustada e
preocupada ao mesmo tempo, sem saber
oque dizer acabou pegando o bebê no
cólo para aquece-lo, preparou um pouco
de mingau e alimentou o bebê. Depois
de quase uma hora o choro cessou.

18 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO

Varak e Rayla então puderam conversar
com calma sobre oque havia acontecido.
Perceberam então que tratava-se de uma
menina halfling, o tamanho tão diminuto,
os pés um pouco desproporcionais e as
orelhas pontudas deixavam isso claro.
O espanto foi imediato. Halflings são
raros nessa região. Junto com a menina,
que agora dormia, encontraram somente
um cordão de metal trançado com um
pé de coelho empalhado. Resolveram
chamar a menina de Frida e resolveram
cuidar dela como se ela fosse sua própria
filha. Talvez, para compensar a falta de
filhos, o Pai de Todos tenha ouvido as
lamúrias de Rayla e os desejos de Varak,
e tenha lhes enviado aquela pequena
criança: Frida.
Com o passar do tempo, Varak e Rayla
perceberam que Frida era uma criança
"diferente". Passaram a acontecer pe-
quenos efeitos mágicos provocados pela
menina ou que simplesmente aconteciam
na presença dela. Faíscas de fogo saiam
de seus dedos, pequenas bolas de luz
surgiam e objetos voavam.
Os vizinhos começaram a comentar,
histórias falsas começaram a ser con-
tadas pelas ruas a respeito daquela pe-
quena criança. Enquanto isso, Varak e
Rayla faziam tudo que era possível para
cuidar e proteger a menina, mas ela já
percebia oque estava acontecendo e isso
fez com que Frida crescesse tímida e
reclusa.
Quando Frida tinha 14 anos, enquanto
andava pela vizinhança ela ouvi e viu
pessoas apontando pra ela e falando que
ela era algum tipo de aberração, que o
tamanho dela, suas orelhas e oque ela
faziam eram sinais claros de que ela
não deveria viver entre eles. Ela então
voltou correndo e chorando para casa, ao
encontrar seus pais o abraçou e deu um
grito de tristeza.
Nesse momento uma grande tragédia
aconteceu. Ela explodiu em uma bola
de fogo, abraçada aos seus pais que
infelizmente não sobreviveram. Frida so-
mente teve tempo de pegar sua pequena
mochila e correr para longe dali, fugindo
por meio das pernas das pessoas que se
aglomeravam em volta da pequena casa
periférica e em chamas.
A partir de então, Frida passou a viver
nas ruas, se escondendo da maioria das
pessoas e recebendo ajuda de algumas.
Usava roupas usadas, velhas e as vezes
até rasgadas, de crianças humanas. Ga-
nhava um pedaço de pão duro um dia
ou outro. O mais difícil era sobreviver
as noites mais frias. O cobertor de
pele desgastado que ganhou de uma rica
senhora não era suficiente. A companhia
de alguns animais foi oque a mantinha
viva por muitas vezes.
Hoje, com 20 anos, agora na compa-
nhia de seu rato Khalo, Frida sabe se
virar bem na cidade. Se esconde quando
acha necessário, fura os olhos de quem
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 19
 a consegue agarrar e faz alguns bicos
quando precisa. E tudo que ela tem
para se lembrar da sua origem e de
seus pais humanos são o pé de coelho
e uma pequena bola de cristal, que seus
pais haviam lhe dado de presente de
aniversário algumas semanas antes do
acontecido. Frida Fura-olho tem 20
anos, 90cm de altura, pesa 18kg, tem
cabelos curtos, castanhos acobreados e
ondulados. Olhos castanho claros. Usa
roupas doadas por crianças humanas,
às vezes sujas e esfarrapadas. Possui
um rato cinza de esTimmação que está
sempre passando por debaixo de suas
roupas, chamado Khalo. Vive pelos
becos, dormindo escondida em estábu-
los e arranjando comida pelas ruas, se
escondendo dos guardas ou mandando
recados em troca de algumas moedas.
Ela sonha em quem sabe um dia saber
sobre sua origem, sobre seus pais e
também sobre o porquê de seus poderes
mágicos e como controlá-los.
20 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO
S ANTE Y OSSIF S ABINO
N IFAN I OZZO S ALVINI
O RELATO DAS AVENTURAS E DES -
VENTURAS DE UM “ PICCOLO ”
Abandono meu lar com um aperto no
peito; não olho para trás por puro orgulho
esperando que meus pais não notem
meus passos vacilantes em direção à um
caminho sem um destino final certo...
A jornada até o Forte da Vela será
longa... meses... tendo como companhia
e proteção uma grande caravana mer-
cante vinda de Águas Profundas indo até
Scornubel passando pelo Castelo Lança
de Dragão e pela Ponte Boareskyr. Des-
tinos memoráveis! Paisagens belíssimas!
As histórias e lendas ao redor desses
locais são grandiosas... mas isso não
torna esses locais seguros...
A passagem por um território habitado
por trolls comedores de pequeninos e
depois pelo território dos mortos me
deixou de cabelos em pé mas com a
graça de Garl, conseguimos passar ilesos.
Intercorrências resolvidas rapidamente
pelos guardas da caravana sem maiores
complicações. Os outros caravaneiros
dizem que Tymora está viajando escon-
dida em alguma carroça... até perco
meu tempo procurando sem sucesso...
para diversão de meus companheiros de
viagem. Sei que estamos à salvo quando
avistamos um segundo sol iluminando
nosso céu: O Grande Companheiro de
Elturel!
Chegando em Scornubel a caravana se
divide. Alguns descem mais ao sul em
direção a Berdusk. Outros; inclusive eu
que escrevo; embarcamos em balsas e
descemos o Chionthar tendo como porto
final o Portal de Baldur; no entanto
ali permaneço por pouco tempo tam-
bém. Extremamente excitado e ansioso
para ver de perto os grandes salões de
livros do Forte da Vela! Para seguir
nesse úlTimmo trecho arrumo vaga em
outra caravana. Carroças cheias de
ferramentas de mineração e ferraria...
anões pouco amistosos e com senso de
humor questionável... não gostaram nem
um pouco de minhas ilusões. Minha
única intenção era entreter, roubar umas
risadas, passar o tempo... parece que foi
o trecho mais demorado...
Me despeço dos companheiros anões
sem muita cerimônia; eles não fizeram
muita questão. Acho que nem pergunta-
ram meu nome...
Finalmente! O Forte da Vela! Não
consigo acreditar! Após meses longe de
casa! O reduto do conhecimento tão
falado por meus avós... e meu primeiro
real desapontamento ao descobrir que
o fato de eles terem sido considerados
“Amigos do Forte” não autoriza minha
entrada. Após muito debate, um dos
monges questiona o que levo comigo.
Abro meus pertences e jogo tudo sobre
a mesa. Dois livros antigos chamam
atenção dele: os livros de magias de meus
avós... e meu segundo real desapon-
tamento ao entender que terei que me
desfazer deles se quiser entrar. Consigo
manter comigo um pequeno livro de
anotações do meu avô; enigmático ainda
para mim, mas não consigo parar de ler e
folhear para tentar entender e descobrir
alguma pista do que aconteceu...
A biblioteca do Forte da Candela (Vela)
é impressionante! Scaffali (estantes de
livros) e mais scaffali de conoscenza
(conhecimento)! Como não vim para
cá antes?! Libri (livros) e pergamene
(pergaminhos) e brochuras sobre tutto e
qualquer assunto que imaginar! Me perco
em tomos dos mais variados assuntos
e apenas com muita força de vontade
consigo me concentrar para pesquisar o
que procuro. Tenho apenas 10 dias de
permanência garantida aqui...
Mas Garl tem outros planos para mim
e coloca em meu caminho outro enigma;
na forma de uma meio-elfa. Nunca
tinha visto uma assim antes. Exótica.
Enigmática. Meu avô diria que ela tem
“olhos de ressaca”... nunca entendi o
que ele queria dizer com isso... ele disse
que leu em um livro trazido de um outro
plano de existência... meu avô era um
grande fanfarrão... Ela não é daqui...
arrisco até a dizer que ela não é de
lugar nenhum... mostra-se totalmente
desconfortável no local... acredito que se
sinta assim em todo lugar...
Ao longo dos próximos dias continua-
mos nos encontrando em outros locais
do Forte e iniciamos conversa sobre
assuntos em comum e percebemos nossa
ânsia por mais conhecimento. Seu nome
é Shared. Reservada, fala pouco do seu
passado. Isso me instiga ainda mais! O
que ela esconde? Mostra uma incrível
curiosidade por mapas e textos sobre
a geografia, fauna e flora de qualquer
região. Parece querer conhecer tudo
sobre qualquer lugar. Comemoramos
mais um dia de seu ano juntos tomando
vinho de qualidade duvidosa e comendo
carne de porco conservada em gordura
feita ali mesmo.
Nosso tempo no Forte da Vela finda
e somos gentilmente convidados a nos
retirar. Um monge indica a biblioteca
de Elturel como um ótimo local para
continuar nossas pesquisas. Entrega
também uma lista com nomes de livros
que poderiam facilitar nossa próxima
entrada no Forte da Vela; livros espa-
lhados pela Costa da Espada. A lista,
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 21
 inclusive, cita alguns com indicações de
onde poderiam estar. Acho que Tymora
está do meu lado realmente... talvez eu
passe a conversar com ela também.
Nossa próxima parada é Verdeninho.
Uma pequena vila no entroncamento de
rotas de comércio nos Campos Verdes.
Lá pretendo encontrar o livro intitulado
“Terra Natal”, na realidade o manuscrito
original e único contando a história de
um elfo negro que conseguiu negar sua
herança e tornar-se um dos maiores
heróis na superfície. Parece uma história
interessante. Quero saber mais sobre ele.
Entender como tudo verdadeiramente
aconteceu...
E que Garl Glittergold, Mystra, Azuth,
Savras e Tymora mantenham-se co-
nosco...
——————-
Cabelos e barba ruivos que se unem
dando uma aparência quase ferina a
Sante. Para aliviar essa aparência,
quando está em locais civilizados, cos-
tuma usar um creme que assenta seus
cabelos e barba. Pequeno e esguio.
Aparenta fragilidade e de fato é. Pele
morena bronzeada e olhos castanhos.
Costuma fumar um pequeno cachimbo
quando realmente faz tricô.
——————-
Sou (lo sono) Sante Salvini; por alguns
conhecido como (da alcuni conosciuti
come) San; por outros (altri) conhecido
com Sante Yossif Sabino Nifan Iozzo
Salvini.
Nascido (nato) em 30/08/1410DR (mil-
lequattrocentodieci; 79 anos)
Gnomo, filho único de família de con-
feiteiros (pasticciere-i). Desde a infância
interessou-se pelos caminhos (percorsi)
22 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO
da magia quando começou a sonhar com
uma mulher (donna) que dizia ser a
própria Mystra. No entanto (tuttavia),
não teve apoio (supporto) de seus pais
(genitori) já que seu avô (nonno) , Os-
mondo Salvini, mago muito conhecido
(noto) em sua vila (nel mio villaggio),
morreu durante a execução (esecuzione)
de uma magia que estava aprimorando
(migliorando).
Contrariando vontade (contrariamente
alla volontà) de seus pais , sua avó,
Rossela Salvini, o iniciou nos caminhos
arcanos abandonando definitivamente
(sicuramente in partenza) a tradição con-
feiteira da família.
Decide abandonar (decidi di partire) a
família em busca de mais conhecimento
(conoscenza) após falecimento (dopo la
morte) de sua avó que deixa, como
herança (patrimonio) alguns itens que
usava em seus encantamentos (incanto),
como: um diamante, uma pérola (perla)
e seu par de agulhas de tricô os quais
usava como foco arcano. Sua avó fazia
muito tricô e mesclava os movimentos
do tricô para “tricotar” a trama e moldá-
la em suas magias. Sante aprendeu a
canalizar a magia da mesma forma e
usa a agulha de tricô de sua avó como
foco arcano executando os movimentos
de maneira similar.
Seu pai, Oliviero Salvini e sua mãe,
Elgani Tifanolla Salvini despedem-se de
Sante com frieza, quase desdém, mas ele
sabe que no fundo do coração deles há
apenas a incerteza do que um pequeno
(piccolo) gnomo pode fazer em um mundo
de gigantes.
——————-
Seu lar até hoje foi em um piccolo villag-
gio (pequena vila) de gnomos escondida
às margens da Foresta Nebbiosa (Floresta
Nebulosa; Misty Forest), localizada a
oeste do Alto Pântano (High Moor) e ao
sul do rio Delimbiyr. Os frondosos pi-
nheros, típicos dessa floresta, ofereciam
madeira de óTimma qualidade e ótimos
refúgios para uma raça tão reclusa como
os gnomos de floresta, com exceção de
Sante, que achava tudo aquilo muito
tedioso...
O pequeno San invade, com muita
cautela, o estúdio de seus avós. Está
curioso para saber o que eles fazem
ali. Por que se escondem ali por tanto
tempo? Quer entender o que significa os
barulhos que saem de lá quando estão
enclausurados.
——————-
Aos poucos, os tons de cinza invadem
sua vista, permitindo discernir os contor-
nos do ambiente. Não pretende ligar fonte
de luz alguma. Eles não podem saber que
está ou esteve aqui! Está extremamente
entusiasmado com o momento!
Olha ao redor: a cadeira confortável
onde sua nonna faz seu tricô, a cadeira
ao lado onde seu nonno lê histórias para
o “piccolo” San. Logo ali perto uma lareira
e em um pedestal ao lado um caldeirão
de bronze...
Pouco a frente uma pequena mesa e
sobre ela um livro aberto... ao lado
do livro estão as agulhas de sua avó...
sabe que não pode tocar nelas mas a
curiosidade de um “piccolo” gnomo é
extremamente maior do que seu medo
do castigo futuro...
Pega as duas agulhas; uma em cada
mão e como um maestro tenta imitar os
gestos que já viu sua avó fazer centenas
de vezes... percebe que algo está aconte-
cendo... os pelos de seu corpo se eriçam!
Sente um formigamento iniciando na
ponta dos pés... uma pequena brisa
invade a sala! “Piccolo” San tem certeza
de que não deixou fresta alguma aberta!
Uma pequena chama começa a se
formar a sua frente... San, entusiasmado
com o momento, intensifica seus movi-
mentos! A chama então segue aumen-
tando de tamanho até que o estrondo de
uma porta sendo aberta com força invade
o cômodo!
- San! Smettila già! Marmocchio!
A chama recém criada explode como
em um festival de fogos de artifício! As so-
brancelhas de San demoraram algumas
semanas para crescer de novo... mas não
mais que o tempo que ficou de castigo
por ser tão bisbilhoteiro (ficcanaso)...
——————-
- Avós de Sante foram grandes amigos
de Gorion do Forte da Vela;
- Foram Harpistas junto com ele;
- Eram considerados "Amigo do Forte
da Vela"e tinham acesso livre ao local;
- Sante e Shared conheceram Xanthar
no Forte;
——————-
Seu avô desapareceu durante a realiza-
ção de um ritual. Ou foi desintegrado.
Ninguém sabe o que realmente aconteceu.
Ou então sua avó omite essa informação.
Pode estar morto realmente. Como ela.
Ou ter sido levado para outro plano. Ela
pode ter forjado sua morte para ir até ele.
Enfim. Muitas possibilidades. Sante está
usando isso como muleta para desvendar
o mundo como sempre quis e sempre
tendo apoio de sua nonna. Mas essa
pesquisa, apesar de uma muleta, é de
coração. Uniu útil ao agradável (modo de
falar, afinal os véios morreram).
——————-
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 23
 Relacionado ao fato de ter dado os
livros de magia dos avós para garantir
C YRUS
estadia no Forte da Vela:
Infância
- Não foi desapego. Foi necessidade por
A noite daquele outono foi o último dia
um bem maior. Além do que os livros
que o grito e o suspiro de uma mulher
ficarão lá para estudar quando voltar em
foram ouvidos em meio a uma estrada
uma próxima visita. Sante pensa assim.
próxima de Águas Profundas. Morreu
em seu parto em cima de uma carroça
que cavalgava o mais rápido que podia,
pelo menos a criança tinha vindo com
vida. Ao perceber o último suspiro de
sua mulher, o condutor somente olhou
para trás em desespero e viu seu filho
mais velho dormindo e o bebê chorando,
ensanguentado, enquanto sua mulher
jazia morta. Mordendo os próprios lá-
bios, segurou forte as rédeas e bateu a
carroça virando-a para outra direção. Os
galopes foram diminuindo de intensidade
quando fracas luzes iluminavam uma
construção, uma mansão. O condutor
desceu, pegou o bebê e arrancou com
uma adaga o cordão umbilical, arrumou
alguns panos, enrolou nele e o deixou na
escada daquela mansão junto com seu
filho mais velho. Em passos tortos, virou
as costas, e assim, o homem com olhos
vermelhos, uma boina surrada e um
sobretudo cor de areia subia novamente
em sua carroça, em sua face, além da
clara culpa expressada, havia uma marca
que parecia uma pena, indo do queixo
até a orelha. Tão logo quanto deixou
as crianças na porta dessa mansão, os
cascos do cavalo foram ouvidos a máxima
velocidade.
Aquela mansão era um local conhecido,
era uma mansão reformada, agora era
um orfanato, financiado principalmente
pelos Cassalanter de Águas Profundas,
compraram uma mansão mais afastada,
reformaram e fizeram esse projeto social
para conquistarem uma melhor visão
em meio aos jogos político-sociais da

24 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO

cidade como pessoas de bom coração e
altruístas. O orfanato também era finan-
ciado por outros nobres, assim, tendo
um modo de vida até agradável para as
crianças que lá estavam. Infelizmente,
esse orfanato tinha segundas intenções
que ninguém poderia imaginar.
O recém-nascido não tinha um nome,
todavia seu irmão dois anos mais velho
sabia o próprio nome, Yan. Quando o
bebê foi acolhido, deram-lhe um nome:
Cyrus. Ele e seu irmão tinham a mesma
marca de nascença, bem pouco aparente,
como se fosse uma pena que subisse pelo
maxilar direito, mesmo assim, nunca
conseguiram descobrir quem eram seus
pais.
No orfanato os dois acabaram sendo
bem cuidados, tinham uma educação
básica para lidar com números e algumas
palavras, alguns avançando mais que
outros e até mesmo aprendendo a ler,
quem era responsável por isso era Marie,
uma das cuidadoras. A Madre Chefe do
local também era muito presente, Irnna
Cassalanter, não era da família principal
e tinha dedicado a vida a ser uma freira,
veneradora de Lathander. Devido ao
local ser razoavelmente bem subsidiado,
a grande parte da infância das crianças
foram tranquilas e com vários amigos.
Logo no início da infância, Cyrus foi diag-
nosticado com um problema que afetava
seus músculos, uma doença degenerativa
que não deixava o desenvolvimento dos
músculos ocorrer corretamente, fazendo-
o uma criança fraca, de corpo esguio e
pouco desenvolvido, tendo que muitas
vezes andar com ajuda de bengala até
conseguir se estabilizar melhor.
Quando Cyrus tinha seus doze anos,
as plantações de sustendo e terras da
mansão e de outras propriedades dos
Cassalanter começaram a murchar e
serem afetadas por alguma praga, as
crianças mais velhas foram ajudar, entre
elas, seu irmão, Yan. Todavia, algu-
mas semanas depois as crianças que
foram ajudar estavam todas doentes,
com exceção de seu irmão que, por
algum motivo, mesmo tendo ido igual
todas as outras, era o único que não
apresentava nenhum sintoma. Isso fez
tanto Marie quanto Irnna vigiarem o
garoto mais de perto por muito tempo.
Era visto que algo não estava correto,
muitas crianças morreram, cerca de um
terço do orfanato e alguns cuidadores
se contaminaram, mas o garoto, que
foi exposto diretamente não apresentava
nada, tampouco Cyrus, a qual sempre
ficava ao lado de Yan quando estava no
orfanato. Nesse período, a fome assolou
por alguns meses e as condições das
crianças já não eram boas, mesmo assim,
a madre superior sempre ensinava os
ensinamentos de Lathander, da boa-fé
e bons modos, boa conduta entre outras
coisas, assim as crianças do orfanato
eram criadas. Vez ou outra Victorio, seu
filho mais velho e sua esposa iam visitar
o local, olhar as crianças e o local e
também falar com os superiores de lá,
entregar o dinheiro para um período e
provavelmente resolver assuntos admi-
nistrativos enquanto faziam boas vistas.
Nessas idas e vindas, fora o suficiente
para conhecer Osvaldo Cassalanter, filho
mais velho e herdeiro da família a qual
se afeiçoou a conversar com os dois
irmãos. Nessa época houve um surto
de adoções, um recorde. Várias adoções
aconteciam semanalmente e cada vez
mais a esperança das crianças dentro
do orfanato crescia, mas demorou cerca
de três anos para que chegasse a vez dos
irmãos. Quando Yan estava com 17 e
Cyrus com 15, eles foram requisitados.
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 25
 Já trabalhavam para ajudar no que po-
diam no orfanato, mas logo mais Yan
não poderia ficar. A notícia deixava os
dois animados, em certo êxtase até. Mas,
pouco sabiam o que estavam por vir.
Segredos e Sobrenatural
- Até que enfim é hoje Yan! É hoje! –
gritava Cyrus, em animação, enquanto
um sorriso feliz era visto na cara de seu
irmão. Vamos! Pegue as coisas! O
transporte chegou! Vamos! Não fique
pra trás! Não vá se perder agora de noite!
Subi atrás da carroça o mais rápido que
pude, logo meu irmão veio atrás de mim,
o carroceiro e Marie estavam na frente,
Marie vestia uma túnica avermelhada, o
carroceiro era quem sempre pegava os
órfãos, mas nunca tinha falado nada que
eu lembre. Estávamos indo em direção
a águas profundas quando ouvi Marie
cochichar algo em algum idioma estranho
e imediatamente caí no sono.
Acordei com cânticos sendo entoados,
eu estava sobre uma pedra fria, sentia
cheiro de sangue nos arredores, pessoas
vestidas em mantos me arrodeavam, re-
conheci duas faces: Marie e Irnna. Tentei
me mexer, mas estava amarrado ao que
percebi ser um altar. Um símbolo pairava
no teto acima de mim, uma estrela, onde
ressaltava-se somente uma parte estili-
zada de um V com traços para dentro
das pontas superiores. Meu irmão estava
acordado, amordaçado e sendo segurado
por uma das pessoas de manto, olhei
para o lado, vi alguma das crianças que
tinham sido “adotadas”, descartadas em
um canto, apodrecendo, um desespero
bateu em mim, meu corpo tremia e eu
tentava me largar. Não entendia o que
era tudo aquilo, mas uma sensação ruim
percorria todo o meu corpo, que tremia
em medo a cada vez que os cânticos
entoavam fortemente.
26 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO
Irnna se aproximou de mim com uma
adaga curvada, ritualística, onde esta-
vam entalhadas runas que eu não conse-
guia ler, com as duas mãos ela segurava
a adaga em cima de meu peito. Onde
estavam os ensinamentos de Lathander?
Onde estava a bondade, as bençãos em
dar a vida e uma possibilidade de viver e
não em tirar? Era... tudo uma mentira?
Eu me remexia, gritava, tentava clamar
por qualquer entidade que pudesse aten-
der, qualquer uma, eu só queria sair dali!
Eu não queria morrer! E, chamar por
qualquer uma ali foi um grande erro.
Enquanto a faca descia, parecia que
meu clamor tinha sido atendido da pior
maneira possível.
Eu senti meu corpo vibrar e perdi
completamente o controle dele, eu só
conseguia observar e ouvir tudo aquilo,
de minha boca saíam palavras que não
entendia e uma sensação ruim percorria
meu corpo, senti minha marca de nas-
cença queimando, senti o cheiro de fogo e
ouvi as cordas que me prendiam arreben-
tando, junto a adaga se despedaçando
em meu peito e meu corpo explodindo
em chamas. Eu havia sido possuído
por algo. Com a explosão, vi vários
dos cultistas caírem no chão, mortos ou
desmaiados, não sei. Dentro de mim,
eu tentava gritar, tentava pedir socorro,
das salvações, não era aquela que eu
esperava. Dentro de mim, em minha
mente, vi o que estava tomando conta de
meu corpo, naquela experiência exotérica
maldita que pareceu durar tempo demais,
um demônio agarrou minha garganta e
tentava me matar dentro de mim mesmo
para tomar meu corpo. Cada vez, eu
sentia meu corpo arder em chamas e ficar
mais marcado, fora de minha mente, via
o terror de Irnna Cassalanter que pare-
cia permanecer de pé com toda aquela
situação. Vi também ela sair correndo
daquele local e abandonando todos ali.
Meu corpo se moveu, tirou a adaga de
um dos cultistas no chão e o apunhalou
na garganta, bebendo o sangue daquele
que matou. Dentro de mim, eu tentava
resistir e clamar para tudo aquilo acabar.
Quando eu achei que as coisas não
estavam estranhas ou ruins o bastante,
sinto uma força gigantesca atrás de meu
corpo. Uma energia radiante que não
era desse mundo caiu sobre meu corpo
possuído e amaldiçoado, senti garras
cortando meu espírito sem nem mesmo
afetar minha carne, o demônio que eu via
em minha mente se despedaçou, como
se tivesse sido expulso ou morto, não
sei. Meu corpo caiu no chão, ensan-
guentado, olhei para meu irmão, sua
face era de horror extremo, tinha marcas
de queimaduras pelo corpo, sua roupa
estava aos trapos, ele olhou para mim e
simplesmente correu, me abandonando.
Esconder-se para sobreviver
Abandonado pelo próprio irmão após
passar a pior experiência da minha vida
não conseguia nem correr direito, sai
daquele maldito lugar onde estava e dei
de cara por onde menos esperava: a
cidade dos mortos, o cemitério de Águas
Profundas. Andando por lá, eu parecia
ouvir vozes, ouvir gritos, ouvir clamores,
desespero. Não sei se era minha situação
ou o que diabos faziam ali que me deram
arrepios. Eu sabia que tudo estaria
fechado, que eu não poderia sair e que
não conseguiria pular os muros com
meu corpo bom, imagine debilitado como
estava. Eu tentei percorrer pelos lugares,
procurar refúgio e me afastar para poder
não ser achado pelos Cassalanter. Eu
estava com medo, tremendo, e não con-
seguia nem achar meu irmão que estava
sempre ao meu lado e agora havia corrido
de mim.
Me encostei em uma tumba e caí
de sono, quando amanheceu, esperei o
fluxo de pessoas normais entrarem para
fazerem seus piqueniques e no meio do
dia saí de lá, me escondendo pelos becos
de Águas Profundas. Eu sabia que não
podia voltar, sabia que precisava achar
um meio de sair, mas eu tinha em meu
âmago que eles viriam atrás de mim
novamente, que me procurariam e esse
medo me corrói.
Enquanto estava na cidade, pensava
em tudo que poderia fazer, Cassalanters
cultistas malignos, mas como provar
isso? E se não provar, como fazer pagar
as malditas consequências? Eu não
queria vingança, mas não poderia deixar
aquilo correr solto. Eu deveria tentar
algo, foi quando lembrei de outra família
que oferecia informações, diferente dos
Cassalanters que ofertam boatos, essa fa-
mília a partir de boatos tira informações:
os Melshimbers. Eles já haviam feito
algumas doações ao orfanato também
pelo que lembro, então talvez eles fossem
as melhores opções. Fui atrás de alguém
que eu conseguisse chegar e conversar
com eles.
Ofereci os boatos, a localização, as
pessoas e, como recompensa, pedi um
pouco de tempo na academia dos Eltor-
chul, tinha em minha cabeça decidido
me esconder lá, adquirir informação ao
máximo e talvez me tornar um mago para
um dia combater isso. Mesmo sendo
traído, tinha eu meu âmago as palavras
de bondade ditas anteriormente e ensina-
das, tinha em mim que eu deveria fazer
algo para um mundo melhor e isso, era
algo para um mundo melhor.
Conversei com um homem chamado
Elon Melshimbers, não era da família
principal, mas tinha seu certo papel, ele
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 27
 me ofereceu algumas boas moedas de
ouro pelas informações, principalmente
depois que ele conseguiu confirmar o
local. Ele falou que não era muito que
poderia ser feito, mas que as coisas
deveriam seguir aos poucos ao longo
dos anos e, depois, haveria ruína dos
Cassalanters.
Com o dinheiro que consegui, comprei
algumas boas roupas e me matriculei
na academia de magia dos Eltorchul.
Como o ambiente era de reclusão, era
o suficiente para os Cassalanters nunca
me encontrarem. Nesse tempo também
paguei alguém para ir atrás de meu
irmão, todavia, só conseguiam confirmar
que ele estava vivo e que partira cada vez
mais ao norte.
Novos contatos e ascensão
Eu sabia que eu tinha no máximo
um ano e meio ou dois na academia
devido ao dinheiro dado. Nesse meio
tempo procurei informações e tentar
fazer amizades com quem podia, uma
dessas pessoas foi o professor de história
convidado que ficou na academia por seis
meses, Almer Greatoak, elfo clérigo de Tyr
que residia em Jardins de Inverno, acho
que “Greatoak” e “Neverwinter” foram as
únicas palavras que consegui pronunciar
certo em élfico até hoje. Foi ele que em
minhas insistências, me ensinou sobre
simbologias, dogmas e me deu acesso
aos livros onde eu consegui compreender
o que era aquele culto e vi o quão pior
e mais profundo aquilo era e o quão
aterrorizante poderia se tornar. O culto
tratava-se nada mais nada menos que o
Culto dos Nove Infernos, que venerava
Asmodeus. Os sacrifícios de crianças de
algum modo estavam ligados a família
dos Cassalanter e alguma má intenção
eles tinham, todavia, tirando Elon, nin-
guém mais acreditaria em mim pois eu
28 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO
não tinha mais provas. Saber que o
orfanato ainda estava funcionando me
fazia vomitar.
Outra grande personalidade que co-
nheci foi um amigo que estudava comigo,
Loren Eastwind, um meio elfo. Devo
dizer, que mesmo sendo pobre e tendo
problemas por ser negro, sempre conse-
gui me relacionar bem e nunca deixei
ninguém me rebaixar por causa disso, eu
tenho um certo orgulho de mim. Loren
era um dos poucos que não me olhava
estranho, talvez pelo fato de por muitos
ele ser considerado um pária, fizesse
sentir empatia por mim, não posso falar o
mesmo de outros alunos, principalmente
os nobres filhinhos de papai. Loren
foi um cara que me deixou empolgado
nos estudos de magia e me fez aprender
Primordial, sim, gastei meu tempo com
isso e até hoje me pergunto o porquê. Ele
tinha uma balela de língua antiga e não
sei mais o que, mas foi esse cara que
me fez continuar na academia até meu
último centavo e que depois conseguiu
um emprego para mim quando eu tive
que sair. Hoje ele virou um aventureiro,
a última que eu fiquei sabendo era que
ele estava próximo de Lua Argêntea.
Eu passava horas na biblioteca junto
de Almer, ele acabou não me ensinando
só religião, como me ensinou a conversar,
ler e escrever de verdade e não de um
modo meia boca, a me portar diante de
autoridades, a ser uma pessoa justa, a
compreender, como ele sempre falava
“Que a real justiça segue a bondade e,
que se uma justiça viola ou impede a bon-
dade, provavelmente ela não está sendo
tão justa”. Ele foi o mais próximo que eu
pude ter de um pai ou de um grande
tutor pelo pouco tempo que ficou lá.
Depois que ele se foi, passava bastante
tempo na biblioteca, um dia procurando
coisas, acabei em um setor que não podia
estar, bem, a porta estava aberta, alguém
deveria ter esquecido. Mesmo assim eu
entrei. Meu tempo na academia estava
acabando mesmo devido a minha falta
de dinheiro, provavelmente eles nem iam
ter tempo de descobrir que entrei. Fui
procurando livros, tomos, essas coisas,
quando acidentalmente toquei em um
cajado que estava encostado em uma das
prateleiras, um brilho subiu pintando
todas as ranhuras e imperfeições daquele
cajado e quando senti, minha mente
estava em outro lugar.
- Finalmente veio a mim. – Ouvi
uma voz falar em uma sala totalmente
brilhante, mas não entendia o que estava
acontecendo.
- Parece que tem se cuidado bem. Seu
pai vai ficar feliz com isso. – A voz
era calma, transmitia paz. Era uma
voz feminina, mas ao mesmo tempo era
imponente. Eu não conseguia falar,
mesmo não vendo, aquela presença pa-
recia simplesmente demais para que eu
tentasse qualquer coisa.
- Talvez tenha chegado a hora de
fecharmos o acordo, como tem sido
durante tantos e tantos anos para vo-
cês. Você parece estar mais preparado
e está em um bom caminho. Por hora,
não tenho nada a exigir de você, mas
você precisa mais de mim agora que o
contrário. Vá, siga de seu modo e não se
preocupe, os ideais sempre se alinham
mais do que se parece. Siga com o mesmo
pensamento que tem, use o que tem
também pelos outros e não desvie sua
arrogância para pensar somente em você.
É o suficiente por enquanto. – A voz fazia
uma longa pausa. - E antes que você
se vá, saiba meu nome. Eu sou Bharrai,
a Grande Ursa, Celestial Paragon, líder
dos Ursinais. E a partir de agora, pelo
pacto selado há gerações, eu lhe concedo
uma fagulha de meu poder e de meu
conhecimento.
Quando eu voltei, eu estava desespe-
rado, olhei por todos os lados, saí da
biblioteca sem ninguém me ver, todavia
só percebi uma coisa: quando eu saí,
estava com o cajado na mão, claro, passei
por pessoas, eles não perceberam prova-
velmente devido ao fato de eu sempre
andar com algum tipo de bengala, é,
minha doença de fraqueza me afligia até
hoje. Então eu ter um toco na mão, um
cajado, uma bengala, era algo de certo
modo normal para andar e só fui perceber
que era “a bengala errada” quando eu já
estava fora da biblioteca. Claro, aquilo
devia ser só um foco arcano, sabe-se lá
porque guardado numa sala com outros
entulhos que não estavam acessíveis,
mas se meu tempo na academia estava
para acabar, ele havia acabado hoje,
decidi.
Conversei com Loren, ele falou que
poderia me ajudar. Achou uns merca-
dores que junto tinha um amigo dele,
Sulter, um homem que havia vindo dos
desertos do leste. Ele era um médico de
combate e por meio de Loren, consegui
que ele me ensinasse a função enquanto
acompanhava os mercadores pelo mundo.
Eu sabia que tinha algum poder, estava
impregnado em mim, eu já entendia um
tanto de magia e sentia ela fluir. Sabia
que podia canalizá-la pelo cajado e assim,
também podia defender eles enquanto me
aprimorava em outras coisas. Então, com
meus 17 anos eu saí de Águas Profundas
para conhecer o mundo.
Fuga e isolamento
Com os mercadores, eu acabei viajando
muito e aprendendo sobre negociar, sobre
como trabalhar minha fala entre comer-
ciantes, como buscar meios de fazer os
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 29
 melhores negócios, observava bastante,
mas o mais importante de tudo isso
vinha com Sulter, sempre que alguém
se machucava, sofríamos ataques ou
parávamos em cidades para negociar,
ele parava para ajudar pessoas, tratar
ferimentos e doenças. Pouco a pouco eu
fui me afeiçoando a aquilo e indo ajuda-
lo.
Alguém quebrou um osso? Coloque
uma tala. Sangramento? Coagulantes
e bálsamos vão dar uma ajuda rápida
no meio da batalha, depois você trata
melhor! As vezes umas ervas na boca
pra aguentar mais tapa? Sempre bom.
Alguém comeu um cogumelo estranho?
Veneno. Pega o kit de fitoterapia, pro-
cesse ervas, transfira o líquido, tome de
tanto em tanto tempo. A cada cidade
que a gente parava, a cada vez que
algum dos mercenários se machucava e
ao longo dos anos, fui pouco a pouco
aprendendo a tratar pessoas. Vez ou ou-
tra fazíamos simulações de tratamentos
em combate, para que ele pudesse me
pôr sobre pressão de realmente fazer o
certo na hora certa. Não é uma arte de
simplesmente dar medicamentos, ele me
ensinou sobre overdose, sobre quantias,
de como matar alguém tentando curar,
que remover uma flecha sem cuidado
matará um homem – ele disse que ou-
viu coisas assim acontecerem perto de
Phandalim uma vez. E em troca de todo
esse vasto conhecimento de medicina
e de mundo, que dá uma profissão
digna e ajuda tantas pessoas com gestos
simples, eu ensinava sobre arcanismo
para ele. O pouco que eu sabia mesmo
assim demorava para saber. Sulter não
era letrado, todo conhecimento dele era
transmitido em oratória o que tornavam
as coisas bem mais complicadas, mas eu
tinha tempo, eu pensava.
30 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO
Eu realmente gostava de estar junto
a caravana, nunca estávamos parados,
conhecia vários locais, aprendia sobre
o mundo e começava a entender outras
raças, podia ver outras realidades e
ajudar quem precisava enquanto faziam
comércio. Todo lugar precisa de um
médico e pessoas precisavam de cui-
dados, tentava dedicar uma parte do
que eu ganhava para organizações que
ajudavam os outros na região quando
podia e quando não me faria tanta falta
também. Estava a cerca de um ano
e tanto com eles, quando estávamos
indo em direção a Yartar, próximo aos
Pântanos Eternos.
Havia tempo demais que problemas
não aconteciam, e foi naquela noite de lua
cheia que em nosso acampamento, fomos
atacados. Diferente de ataques comuns,
os malditos usavam magia. Ouvi mais
uma vez aquela língua desgraçada que
me lembro até hoje e tenho pesade-
los. Meus dentes cerravam, era óbvio
quem eram. Eles não estavam atrás
de nossos produtos, estavam atrás de
mim, e para isso, teriam que passar
por outras pessoas, então focavam elas.
Perdemos três dois nossos, deles, foram
oito. Por sorte Sulter e Oran, o anão
dono da caravana, tinham contratado
mais guardas habilidosos para aquele
trajeto. Quando acabou, fui confirmar,
eram realmente os desgraçados dos Nove
Infernos. Naquela noite, eu não falei
nada.
Quando chegamos a Yartar, eu tomei
minha decisão, se eles estavam atrás
de mim, até eu me tornar mais capaz
eu deveria andar sozinho e não pôr os
outros em risco. Era tempo de eu tentar
me aprimorar. Agradeci muito a Sulter
e a Oran por aquele tempo com eles
e me despedi. Decidi vagar sozinho,
para que pudesse melhorar, mas não
ficaria simplesmente em uma caverna
recluso. Seria um andarilho solitário,
chegaria há algum lugar, ficaria somente
alguns dias, ajudaria quem eu pudesse e
faria o que tivesse em meu poder, não
me exporia demais a famas ou coisas
assim e logo iria a outro lugar. Tentaria
ganhar algum dinheiro, ajudar ali e aqui,
principalmente vilarejos pequenos, as
vezes cidades grandes, assim, talvez, eles
não me achassem novamente. No fundo,
muito no fundo, talvez eu sinta um terror
quando vejo eles e me falta ainda a
coragem e a força para enfrentar esse
terror dentro de mim.
E durante alguns anos foi isso que fiz.
Recuei meu jeito de viver para não pôr
ninguém em perigo, passei a me dedicar
aos outros e tentar contato com meu
patrono, muitas vezes falhos, mas eu
tinha certeza que quando necessário, ela
entraria em contato. Quando eu estava
para fazer 21, recebi mentalmente uma
levantei meu cajado e proferi as últimas
mensagem de Loren, pedindo se pode-
palavras. As ervas queimavam e o cheiro
ríamos nos encontrar em Lua Argêntea
delas emanava. Os círculos mágicos
em duas semanas, para que ele pudesse
começavam a se desfazer e traçar o rumo
me presentear em meu aniversário e
da magia ritualística no véu, por um
conversar comigo. De certo modo fiquei
momento, minha mente pausou e a cena
surpreso dele lembrar.
de eu sendo possuído voltou a minha
De volta ao mundo
mente, em um piscar de olhos ela se foi e,
Alguns dias antes de entrar na cidade,
quando se foi, a magia estava completa.
após tentar ser roubado umas três vezes
Eu não conseguia acreditar no que via em
por uns Muitas-flechas, novamente eu
minha frente. Nem porque o que era, nem
tentei contatar meu patrono, buscar
pelo formato que era. De algum modo,
por orientação e ajuda. Não houve
aquilo não parecia um ser celeste, mas
exatamente um contato com ela, mas
eu tenho a plena certeza que chamei por
uma intuição. Então a segui, comprei
um! Aquilo... Era, até para os conceitos
algumas coisas numa cidade próxima,
de mundo, estranho. Uma criatura que
ervas, incensos e um pequeno braseiro
parecia ser uma sombra, bidimensional,
de bronze. Comecei o ritual, cada palavra
flutuando com suas asas em um espaço
cantada em celestial, cada gesticulação,
tridimensional, ao tentar tocá-la, meus
cada ponto do ritual como parecia estar
sentidos entravam em confusão. Aquilo
cravado em minha mente e por fim,
tinha largura, espessura e altura, mas
C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 31
 meus olhos não conseguiam ver isso. E
além do mais! Aquilo era... um diabo!
Eu entrei em choque por alguns segun-
dos e um choque maior veio quando a
criatura falou em minha mente. Eu não
consegui responder, era mais uma pe-
gadinha dos demônios! Dos desgraçados
dos cultistas! Aquilo não estava certo! Eu
estava amaldiçoado? O demônio persistia
dentro de mim? Eu tentei me conter,
apertei minhas mãos até sangrarem e
por alguns momentos eu sentir uma
presença maior em mim como se dissesse
que aquilo estava tudo bem e era para
fazer-me entender o que é redenção.
Nesse momento, tinham passado uns
dez segundos talvez? Eu tentei me
comunicar, as palavras demoraram para
sair, eu parecia um completo idiota.
Pouco a pouco recuperei meu estado
normal e consegui compreender a situ-
ação, aquela criatura era um celestial
caído, que caiu na mesma época que
Zariel, mas acabou nunca escalando a
hierarquia infernal e viveu como um
diabrete durante milênios. Por uma certa
vergonha de quem tinha se tornado, ele
não quis me contar seu nome verdadeiro
por enquanto e pediu para chama-lo
somente de Zacharias, ou gato, então
preferi Zacharias, compreendi parte de
seu desconforto, ficamos conversando
por um tempo. Eu devia entender e
processar os motivos por Bharrai ter
me enviado esse diabrete, por ele estar
procurando sua salvação, por ele ter
escolhido não prosseguir e avançar a
hierarquia infernal e também entender
onde eu me encaixaria nesse processo.
Sinto que até hoje não consigo entender
bem tudo isso, mas Zacharias tem sido
um bom companheiro que, para não
assustar as pessoas, geralmente está
invisível ou na forma de um corvo, onde
32 C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO
não parece uma sombra.
Então cheguei à cidade e fui ao ende-
reço onde Loren tinha me dito, infeliz-
mente, ele não estava lá, havia acontecido
uma urgência e ele teria saído em nome
de algum contratante, mas havia deixado
um presente e uma carta com a dona da
pousada. O presente era algo estranho,
eu realmente não conseguia entender as
intenções daquilo. Uma caixa de maneira,
bem adornada com um fundo cerâmico e
uma criatura bizarra lá dentro, um verme
de duas cabeças, uma em cada ponta
do corpo. Aquilo era uma espécie de
brincadeira, ou ele queria me dizer algo?
Talvez fosse uma brincadeira, fechei a
caixa e a guardei. Talvez no futuro
possa encontrar uma resposta decente,
logo abri a carta dele, dizia que soube
de mim por Sulter quando encontrou
ele em Águas Profundas de novo, pedia
desculpas por ter saído as pressas e
também falava que estava preocupado
comigo. Que esperava que eu gostasse do
presente e que deveríamos nos encontrar
logo. Mas, o que mais me chocou foi que
ele falou que algum tempo atrás tinha
visto alguém com a mesma marca que
a minha no queixo e abordou pensando
que era eu, não deu muitas informações
a mais que isso, o que me deixou com
um pouco de raiva, todavia não havia o
que fazer. Mais uma vez eu poderia ter
perdido a chance de encontrar alguém,
provavelmente meu irmão.
Fiquei na cidade alguns dias. Con-
versei bastante com Zacharias nesse pe-
ríodo, era algo que eu não fazia há muito
tempo, conversar. A vantagem é que eu
nem precisava abrir a boca para isso.
Também tentei refletir ao que Bharrai
queria me ensinar sobre “redenção”, mas
não cheguei à conclusão nenhuma até
agora. Devo ter algo reservado em meu
futuro. Sem mais nada para fazer em Lua
Argêntea, depois de alguns dias, como
de costume, saí. Olhei para uma das
estradas, respirei fundo e segui minha
intuição. Dessa vez, decidi não ser mais
o recluso. Decidi que estaria mais pronto
e seria novamente Cyrus, o aventureiro,
Cyrus, o médico. E clamei ao destino
para me guiar aos necessitados.

C ONTOS E H ISTÓRIAS - U M P RÓLOGO 33

 E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOM -
PLETAS
F RIDA F URA O LHO
C ONDADO DE T HANDRAVSK – C ASA
DA F AMILIA O PEL – T ALVEZ MINHA
NOVA CASA
Depois daquela história toda envolvendo
a praga que dizimou a vila, resolvi passar
um tempo com a Sra. Opel. Ela estava
sozinha, precisando de ajuda, minha
situação não é muito diferente né?! Então
achei que seria bom permanecer ali mais
alguns dias, semanas talvez. Inclusive
a recompensa que recebi (15 PO, 140
PP) depois da divisão do baú de moedas
encaminhado pelo Conde foi bem útil
para ajudar a nos manter. Não que eu
tenha ficado à toa todo esse tempo, fiz um
bico aqui e outro ali sempre que consegui,
mas esses brutos nortenhos ainda estão
se acostumando com a minha presença.
A Sra. Opel teve algumas dificuldades a
princípio para manter a venda de carnes,
mas depois ela acabou conseguindo con-
tratar alguns caçadores que entram na
floresta e trazem a caça para ela. Assim
ela só precisa limpar e vender. Felizmente
parece que tudo está voltando ao normal.
Passei alguns dias de olho naquele mal
caráter do Timm e naquele velho babão.
Eu sei que algum dia todos vão perceber
e saber que tudo o que aconteceu foi
tramado pelo Timm e que as pessoas de
raças diferentes não tiveram nada a ver
com a praga, que tudo foi culpa dele e
que a convivência entre raças deve ser,
ao menos, respeitada.
Eu aproveitei também para passar um
34 E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS
pouco mais de tempo na companhia
de Agatha e de Elisabeth. Eu gosto
muito delas, elas são inteligentes e estou
aprendendo muitas coisas com elas.
Também aproveitei as idas de Agatha
até a casa da mãe para visitar a Sra.
Rosamund. É sempre muito acolhedor e
divertido estar na casa dela. É quentinho,
sempre tem uma comida muito gostosa
e gosto de brincar com os móveis, os
tapetes e as louças. Também gosto muito
de ajudá-la nos afazeres domésticos e
acompanhá-la nas caminhadas.
Felizmente os ataques de ogros acaba-
ram e sabemos bem o porquê. Mas a
morte de Godfrei foi muito triste, uma
injustiça extremamente triste, nunca me
esquecerei do clérigo do bolinho. Por falar
nisso, se sente aqui, vamos tomar o 3o
café da manhã.
Algumas semanas depois que Theon,
Aydan, Byork e Sten foram embora recebi
uma carta de Theon, pelo que ele disse,
ele está precisando de ajuda. Parece que
o pai dele está passando por dificuldades,
acho que ele foi sequestrado ou sumiu,
não entendi bem. Mas parece que ele está
voltando e se ele precisar de ajuda, com
certeza ajudarei, no que eu puder claro,
torcendo para não machucar ninguém.
Ele é uma boa pessoa e se me ajudou
quando eu precisei, com certeza ajudarei
agora que ele está precisando. Respondi
a carta dizendo que vou continuar na
casa da Sra. Opel esperando por ele
com uma sopa quentinha e uma pele
confortável para passar a noite.
Vamos ver o que vai acontecer dessa
vez. Muita maldade alguém sequestrar
um idoso, você não acha?!
Nestes meses em que ficou na Vila as
pessoas começaram a te aceitar melhor os
vínculos da senhora Opel tem ampliado e
graças ao seu tato e graça vocês começaram
a enviar carne para fora da cidade!!
Sua vigília não foi em vão, as coisas na
cidade realmente não estão tranquilas e você
tem ouvido falar que alguém da cidade tem
financiado ataques de ogros a mercadores e
além de roubar as mercadorias tem se feito
escravos nas montanhas!!
Acredita-se que estes escravos não sejam
apenas comercializados com o submundo, mas
também ajudado a construir uma fortaleza
para os Ogros
A coisa piorou, ontem ao que parece uma
pessoa morreu de uma doença muito parecida
com a praga!!
E NTRE
AYDAN - S EMENTE DE
C ARVALHO
O C HAMADO DO E SPÍRITO A NCES -
TRAL
Após o triste episódio no Vale do Cervo,
Aydan se separa do grupo e retorna à
Floresta Alta. Ele busca ainda por pistas
de onde encontrar sua mãe e como se
vingar. Busca uma forma de ficar forte.
Ainda busca o motivo de o pássaro tê-lo
guiado tão ao norte. Seria para ajudar
aquelas pessoas? Seria para aprender
mais sobre pactos e como lidar com
situações assim? Esse tipo de acordo
com entidades malignas nunca é bom.
Talvez a resposta fosse sim para ambas
perguntas.
Coitado do Theon. Como poderia ele tro-
car, provavelmente, alguém tão precioso por
Byork, que acabou de conhecer? Mas creio
que no final todos nós do grupo tenhamos
um pouco de culpa nisso. Aliás, não sei se é
culpa, remorso, consequência dos nossos atos
ou o que quer que seja. De certa forma, isso
me incomoda.
Alguns pensamentos ainda perturbam
Aydan, porém, ele sabe que deve voltar e
fazer sua iniciação nos círculos druídicos.
O jovem druida está ansioso, pois apesar
da união entre os diversos círculos, toda
sua caminhada depende disso.
Aydan sabe que não é ele quem escolhe
a qual círculo pertence, mas sim, seu
espírito. Há um ritual no qual jovens
druidas são expostos para que seus espí-
ritos revelem seu caminho a ser trilhado.
A este ritual dá-se o nome de Chamado
do Espírito Ancestral.
IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS 35
 O caminho de volta é tranquilo e se-
guro, por mais estranho que isso possa
parecer. É como se Silvanus protegesse
seus passos. Conforme o frio intenso vai
ficando para trás, Aydan busca nos céus
uma indicação, uma resposta para seus
questionamentos.
No meio do caminho, junta-se a uma
caravana de anões mercantes que ruma
para o sul, mas que não pretende aden-
trar Floresta Alta. Durante a semana
que passou junto deles, não teve um dia
sequer que a imagem do clérigo anão não
tenha vindo a sua mente.
Já há dois dias da margem da Floresta
Alta, os anões parte para pegar um
caminho a Oeste e Aydan segue só. É
reconfortante a sensação de chegar em
sua floresta, porém, a lembrança de como
sua terra sagrada está e a lembrança de
seus pais faz seu coração pesar muito.
No caminho, Aydan para as margens de
uma pequena cachoeira para banhar-se.
Naquelas águas puras busca limpar sua
mente e seu corpo. Acredita que viu
muita profanação e sabia que teria que
ver mais assim que chegasse.
Segue seu caminho para sua terra
sagrada, agora profanada, seu coração se
entristece ao ver aquela parte sagrada da
floresta agora maculada. Lá, é recebido
por alguns velhos amigos e logo dirige-se
ao túmulo do Grande Varão, seu pai, o
defensor daquelas terras. Seu coração
pesa e ele pega a velha adaga que lhe
foi dada por seu pai, no momento de
sua morte. Reforça sua promessa de
restaurar toda aquela área, resgatar sua
mãe e vingar-se do velho Arquidruida que
se vendeu por poder.
O jovem druida recebe a triste notícia
que neste tempo que estava ausente,
houve uma profecia de que se aquela
terra, pouco a pouco, ano a ano, começa-
36 E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS
ria a dar pequenos sinais de infertilidade.
Que a mácula se espalharia e que muito
esforço seria necessário para recuperar
toda aquela beleza etérea. Os Arquidrui-
das já buscavam junto a Silvanus uma
forma de purificar o local, mas tudo o que
conseguiam, por hora, era fazer com que
a mácula não se espalhasse.
Após repousar de sua longa caminhada,
Aydan é chamado por uma das sacerdoti-
sas que serviam sua mãe, uma das quais
ele costumava flertar. É conduzido até o
conselho dos arquidruidas e lá chegando,
vê quatorze jovens. Todos os que iriam
fazer seu ritual de iniciação nos círculos.
Haviam mais 3 humanos, 4 elfos, 2 meio
elfos, 1 centauro, 1 pixie, 1 nixie e 2
dríades.
A todos é explicado que deveriam seguir
até o rio Corrida do Unicórnio e encontra-
rem o Círculo Ancestral da Verdade. Nele
havia uma pequena nascente na qual
deveriam beber da água e então, em 7
ciclos, deveriam encontrar sua essência
espiritual, seu círculo druídico.
A todos foram entregues pequenos
pacotes de Flor de Ruotra, uma flor
perene de cor laranja avermelhada, de
pétalas largas e curtas, do tamanho de
uma margarida, que nasce de um bulbo
(raiz) fibroso e suculento, semelhante ao
gengibre, mas de sabor amargo e ads-
tringente. De cada bulbo nasce somente
uma flor por vez, que é consumida in
natura para dores de estômago e curar
enjoos. Já o bulbo tem uma propriedade
peculiar: ele faz com que seu corpo seja
purificado de todos os males físicos e
mentais, fazendo que que seu espírito
possa tomar conta e despertar sua es-
sência, seu transcendente. Somente os
verdadeiramente puros de corpo e mente
podem beber a água da nascente do
Círculo Ancestral da Verdade.
 E assim os quinze partiram a caminho
do rio Corrida do Unicórnio para buscar
o círculo de pedra mencionado. Após
alguns dias de caminhada e evitando os
perigos da Floresta Alta e das criaturas
não amigas que lá vivem o grupo chega.
O Círculo possui grandes pedras escuras
irregulares em sua forma, porém, alinha-
das em sua altura, circunferência e espa-
çamento entre si. Há várias inscrições em
druídico encravadas nas pedras, muitas
cobertas por musgos e outras plantas
trepadeiras. O grupo então remove com
magia as plantas e deixam as inscrições
livres para serem lidas após consumirem
a água.
Os druidas pegam o bulbo da Flor
de Ruotra e consomem. Todos ali são
acometidos por um grande enjoo. Muitos
vomitam e passam mal, alguns ficam
tontos e desmaiam e no fim, os 15 caem
dentro do círculo. Aydan vomitou muito e
ao final, caiu sem forças e simplesmente
desmaiou. Durante seu desmaio, sonhou
com tudo o que se passou com seus pais
e seu lar naquele infeliz dia. Sonhou
com o grupo que andou, com a montanha
que atravessaram, com a peste da vila e
com tudo mais. Sonhou também com
vários animais, com a lua e com sua
pele rasgando, seu corpo se contorcendo,
seus ossos estralando e toda a fúria da
natureza tomando conta dele. Sonhou
com um lago que refletia perfeitamente a
lua e mergulhou nele. Teve a sensação
de ter ficado por horas mergulhando,
tentando alcançar a lua dentro do lado,
mas estranhamente conseguia respirar
debaixo d’água. Quando ele sentiu que
estava chegando perto da lua, emergiu e
acordou de supetão.
Aydan acorda ofegante, olha para os
lados e vê que o sol ainda adentra Tim-
midamente a copa das grandes árvores.
E NTRE
Vê também alguns de seus amigos ali
deitados, verifica se estão vivos. "Graças
a Silvanos ainda respiram! Acredito
que ainda estejam passando pela pu-
rificação". Olha ao redor e vê um de
seus colegas de grupo bebendo da fonte
da nascente, este olha pra Aydan, acena
com a cabeça e de repente seus olhos
viram para trás. Ele cai sentado, mas
logo se levanta ainda com os globos
oculares para trás, e parte para dentro
da floresta. "Círculo dos Sonhos, penso
eu".
O jovem druida então parte para a beira
da nascente de água que brota cristalina
dentro do Círculo e suavemente corre
para fora dele. Chegando ali, lê todas
as inscrições nas pedras, ajoelha-se ao
lado da fonte e ao se aproximar, vê seu
rosto refletido pela água, põe suas mãos
em forma de concha, pega da água e bebe.
Levanta-se e percebe que não está mais
dentro do círculo. Está em alguma parte
escura da floresta. Olha para o céu e já é
noite.
Aydan caminha por entre a mata e
busca algum lugar conhecido. Conforme
caminha, começa a ouvir barulho de
muitos animais, porém não vê nenhum.
Tenta concentrar-se e percebe que nem
mesmo o barulho das folhas ou de in-
setos ele ouve. Tudo o que escuta são
os animais. Corre na direção em que
estes barulhos vêm, sente seu coração
pulsar cada vez mais forte e se depara
numa espécie de desfiladeiro. Abaixo vê
grandes animais, de tamanhos colossais,
porém, bastante diferentes. Era como se
fosse a essência deles, como se fosse o
espírito de grandes animais.
Lembrou-se do lugar que fora com
seu pai quando mais jovem, dos meses
que passara conhecendo, observando e
estudando os grandes animais e de tudo
IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS 37
 o que seu pai lhe ensinou. Lembrou-se
dos ensinamentos de sua mãe, a oráculo
de Silvanus, a Grande Sacerdotisa, que
falava sobre a essência verdadeira da
natureza.
Ali, por impulso, o jovem druida afasta-
se um pouco do penhasco, e corre em
direção a ele para saltar, sem medo, ape-
nas seguindo seus "instintos selvagens".
Quando pula, fecha os olhos e sente de
uma só vez, a presença de todos aqueles
espíritos de animais. Como se absorve-se
toda sua essência, ou como se aquela
essência fizesse parte dele. Quando
novamente abre seus olhos, percebe que
está planando sobre a floresta, sua visão
está aguçada e ouve o barulho de batidas
de asas. São as suas.
Ele pousa na forma de um grande
pássaro e começa a correr no meio da
mata. Sente-se livre, forte, ágil. Começa
a ouvir estalos em seus ossos, sua pele
esticando e engrossando, pelos nascendo
e sua face esticando. Estava mais uma
vez transformando-se. Correu até que
encontrou um lago onde espelhava a lua
e mergulhou sem pensar, conseguia respi-
rar e nadar perfeitamente, era fantástica
aquela sensação!
Saiu do lago e continuou correndo pela
mata e sentiu que se transformava em
inúmeros animais, sentia-se uno com a
natureza, sentia toda sua força pulsando
em si. Correu até que encontrou o
Círculo Ancestral da Verdade. Chegou
ali em forma de um grande animal ainda
e viu que alguns de seus companheiros
que haviam saído já estavam aguardando
ali os demais chegarem. Estava com
sua boca suja de sangue, como uma fera
que se alimentara. Quando Aydan se
destransformou foi recebido pelos seus
amigos que ali estavam.
Yelindra: - Círculo da Lua, então!? Eu
38 E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS
também! Disse uma elfa. E veja só!
Parece que alguém andou sentindo fome
e caçando.
Aydan não havia reparado, nem se
lembrava, que caçou e se alimentou em
forma animal. Talvez ainda estivesse
naquela espécie de transe.
Maleyr: - Depois que você bebeu a água,
caiu no chão e começou a se contorcer e
seu corpo começou a se transformar, só
lembro de você sair correndo pro meio da
floresta tropeçando e se retorcendo.
Aydan: - Mas te vi dormindo, Maleyr.
Maleyr: - Sim, sim. Mas acordei com
seus gritos que pareciam de dor. Você
estava do lado da nascente quando abri
meus olhos. Bem, mas sou do Círculo da
Terra.
Aliandra: - Parabéns! Parabéns a todos
nós! Não é mesmo?
Aydan: - Claro!
Calistra: - Alguém sabe quantos dias
passaram?
Urthao: - Pela posição da lua, hoje é o
quinto dia. Vamos aguardas os demais
voltarem, certo? Ainda restam dois dias e
oito regressarem.
No úlTimmo dia, o úlTimmo a chegar
é o pequeno pixie Nursimneblix. Todos
então retornam juntos para concluírem
suas iniciações nos círculos. Dos 15,
2 foram do Círculo do Pastoreio, 4 do
Círculo dos Sonhos, 4 do Círculo da Terra
e 5 do Círculo da Lua.
O retorno foi tranquilo e, assim que
chegaram, um banquete estava posto.
Mel de flor de macieira, pães, leite, vinho,
carne seca e frutas diversas. Após a
ceia, foram levados até o Círculo de Pedra
ritualístico e sagrado para os druidas.
Lá foi concluído o ritual, com danças,
tochas, cânticos, banhos e algumas ervas
especiais queimadas. Começou pela
madrugada ainda, antes do raiar dos
primeiros raios solares com os membros
do Círculo dos Sonhos. Em seguida,
no crepúsculo matinal, seguiu-se com o
Círculo do Pastoreio, à tarde os membros
do Círculo da Terra, à noite os membros
do Círculo da Lua.
Após sua conclusão, todos foram repou-
sar, cansados e desgastados pelo esforço
que fizeram. Seriam conduzidos a cada
um de seus Círculos para fazerem o ritual
de iniciação, cada um da sua forma.
Aydan, juntamente com seus 4 colegas de
círculo foram levados até o Arquidruida
responsável pelo Círculo da Lua.
Lá o ancião explicou que devemos
controlar a fúria selvagem em cada um
e deixar a sabedoria ancestral canali-
zar toda aquela força nativa do espírito.
Explicou também que os Círculos não
eram rivais, mas sim complementares,
diferentes em sua essência e seu espírito,
mas que sempre uniam suas forças.
Após estas e outras explanações a beira
de uma fogueira, apareceram druidas
dos demais Círculos, era de costume ser
conduzido por um Arquidruida acompa-
nhado de druidas de círculos diferentes.
Os cinco foram direcionados até uma
clareira, a uns 500 metros do Lago
da Lua, onde sacerdotisas já entoavam
cânticos e realizavam danças, havia uma
grande fogueira no centro, a qual elas
dançavam ao redor. O batuque de um
tambor feito da casca de um salgueiro
coberta pelo couro de algum animal dava
o ritmo da dança hipnotizante. Lá, elas se
aproximaram dos cinco, despiram suas
roupas e os cobriram com um manto
de algodão não tingido, umedecido por
algum bálsamo cheiroso. Com adagas em
forma de serpentes, sacrificaram cinco
animais que ali estavam sobre o con-
trole dos druidas. Seus gritos pareciam
ser abafados pela batucada hipnótica e
E NTRE
cânticos. Seus órgãos foram arrancados
e após limpos, cobriram os cinco com
suas peles, ainda quentes. Aydan sentiu
um peso sobre sua cabeça, como se a
criatura possuísse grandes e poderosos
chifres.
Não conseguiam ver, pois estava à
noite, o manto e as peles encobriam e
tampavam a visão. Ouvia-se, misturado
às batidas de tambor e aos cânticos, algu-
mas palavras sagradas em druídico, que
pareciam invocações divinas. Pareciam
invocar a força das feras de Silvanus.
Sentiram então um cheiro bastante
peculiar. Foi jogado um maço de ervas
amarradas com cânhamo na fogueira.
Uma fumaça subiu e começou a serpen-
tear e inundar o local. Parecia que as
sacerdotisas conduziam a fumaça com
sua dança.
Elas aproximaram-se de cada um dos
cinco e, um a um, colocavam as mãos
por debaixo das peles e dos mantos. Uma
mão sobre o peito de cada um e a outra
faziam com o polegar como se fosse o
desenho de uma crescente na testa e,
após isso, repousavam a palma da mão
sobre testa de cada um dos iniciandos.
Sentiram seu espírito pulsar e o corpo
tremer. Sentiram a força das feras e, de
súbito, as sacerdotisas, num movimento
brusco, puxaram suas mãos, arrancando
as peles e os mantos, mas como se
também arrancassem algo de dentro dos
iniciandos, ou tentassem extrair algo
de dentro deles. Elas fizeram com que
aquele poder viesse à tona.
Os cinco, agora nus e embebecidos pela
fumaça serpenteante, caíram ajoelhados.
Olharam ao redor e viram as sacerdotisas
se afastando e o Arquidruida chegando
perto de cada um.
- Não deixem a fúria sair! Ele dizia: -
Somente sua força e seu poder! Sejam
IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS 39
 sábios! Sintam a força e unam-se a ela
sem perder suas mentes, sem perder o
controle. Controlem quando e por quanto
tempo querem se transformar! Sintam
o poder, unam-se ao poder, canalizem o
poder! Repetia o Arquidruida.
Cada um ali estava numa luta pessoal,
uma luta de domínio próprio. Yelindra
soltou um grito de súbito e começou a
urrar e se transformar. Salivava furiosa-
mente e foi contida pelo druida do Círculo
dos Sonhos e do Círculo do Pastoreio que
acompanhavam o ritual. O Arquidruida
apenas observava e realizava os cânticos
ritualísticos.
Alguns instantes se passaram e, de
súbito, cada um foi parando de se
contorcer. Aos iniciandos parecia que
várias semanas haviam passado e não
apenas instantes como lhes fora dito.
Levantaram, ainda um pouco aturdidos
e as sacerdotisas foram se aproximando,
cada qual com uma pequena bacia de
um óleo especial, que passaram em todo
o corpo dos iniciandos, misturando com
o sangue que os recobria.
Curiosamente, este óleo foi absorvido
de uma forma extremamente rápida por
seus corpos, deixando uma sensação de
leve calor, porém, ainda estavam sujos
de sangue. Assim que recobraram a
consciência foram para o Lago da Lua. Lá
já haviam sacerdotes esperando cada um.
Aproximaram-se e deitaram sobre uma
esteira. Ali foi tatuado em suas testas o
símbolo sagrado do Círculo da Lua com
uma tinta azul escuro. Sentiram como
se fosse uma leve queimadura na testa,
porém, esta tinta sagrada e especial
sumiria e apareceria somente quando
fossem se transformar e em sua forma
humana. Disseram que poderiam manter
o símbolo em sua forma normal e/ou
animal se quisessem também.
40 E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS
Foram conduzidos até a margem do
lago que refletia toda a magnitude da lua
no céu, o Lago da Lua. Era como um
enorme espelho refletindo cada detalhe
acima de si. Ali banharam e foram mais
uma vez foram purificados. Mergulharam
e renasceram uma nova pessoa, uma
nova vida, um novo poder, um novo cami-
nho! Assim que saíram, já não havia mais
marca alguma em suas testas. Pediram
para que cada um se transformasse em
algum animal a sua escolha e voltassem
ao normal quando solicitado. Assim o
fizeram. Dominaram espiritualmente seu
novo poder e estavam aptos a serem
oficialmente apresentados ao seu Círculo.
Arquidruida: - Parabéns a todos! Muito
esperamos de vocês! Nosso Círculo é
muito poderoso. O Grande Varão, o guar-
dião desta floresta, era do nosso Círculo.
Disse olhando para Aydan. Espero muito
de cada um de vocês. Agora serão di-
recionados para receberem as bênçãos
da natureza, das fadas, dos entes e
das criaturas da floresta, para que estas
bênçãos fortaleçam vosso espírito, vosso
corpo e vossa mente durante toda a longa
caminhada da existência de cada um.
Foram conduzidos e encontraram seus
outros dez colegas para que todos rece-
bessem as bênçãos da natureza, suas
criaturas e de Silvanus. A celebração
foi regada com comida, bebida, cantigas,
danças, ervas aromáticas, coito, histórias
sobre dias passados e profecias sobre
dias vindouros...
Porém, nem toda aquela celebração o
fez esquecer de seus pais, de seu objetivo,
de sua floresta. Sabia ele que além das
tradições, aquela celebração ajudaria a
acalentar o coração de todos, inclusive o
seu. Mas de fato, era difícil voltar para
aquele lugar e saber que seus pais não
estavam mais ali, que corria o risco de
tudo aquilo cair em profanação e perder-
se toda a pureza que ali habitava, toda a
magia, o encanto, ancestralidade e beleza.
Estava triste, apesar de sua conquista,
mas tem fé para seguir em frente, por
onde os ventos o guiarem, rumo ao seu
objetivo.
"Que Silvanus me abençoe e me guie
nas horas difíceis!"
E NTRE
T HEON DE O LAMN
Nas Proximidades de Nova Olamn,
Águas Profundas - 1488
Sentar aos pés de uma árvore e apa-
nhar seu instrumento para tecer as
músicas é algo corriqueiro para Theon,
ali ele encontra seu eu interior e isto lhe
agrada. Contudo fazer parte da escola do
conhecimento de Nova Olamn, vai além
de saber rimar ou tocar um instrumento.
O prazer pelos livros e o apreço pelas
histórias antigas fazem parte do âmago
de seus alunos.
Ainda é cedo, quando Theon se dirige
para o anfiteatro hoje será a formatura
de um bom amigo de infância ou melhor
dizendo uma bela amiga Nakia Hakim,
uma bela menina nascida em Águas
Profundas, sua inteligência se destaca,
muitos a consideram uma verdadeira
máquina de decorar eventos.
Mas, Theon sabe que hoje é um dia
importante, no dia de hoje ela tornará
uma Magnus Alumna. Theon assiste
orgulhoso, não há inveja em seus olhos
apenas admiração, um dia será a vez
dele, e ele sabe que ela estará lá para
retribuir o apoio. Theon, sente o cheiro
do velho se aproximando, mesmo ele não
morando mais no mar a salmoura parece
que impregnou nele.
O velho é uma figura por si só, ele usa
um longo robe cinza pálido, e sobre suas
sobrancelhas vermelhas e grossas, ele
tatuou uma lua e uma estrela.
- Theon, sonhando com o que está por
vir? Acredito que você terá um grande
poder, mas acredito também que ainda
esteja longe do dia de sua formatura.
Preciso de um pouco de sua atenção, você
deve voltar ao Norte, a cidade que outrora
ajudou. E acredito que deva reunir seus
amigos, pois a viajem é dura e perigosa.
IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS 41
 Em Algum Lugar na Estrada de Volta
a Águas Profundas - 1489
Me lembro bem desse dia, Hakim es-
tava linda, foi nesse dia inclusive que
apresentei uma das minhas obras antes
de sua nomeação, ALÉM DO ALÉM. Foi
nesse dia ainda que embaixo de uma
árvore enquanto conversamos nomeei
meu yarting com seu nome. É comum
entre os bardos darem nomes a seus
instrumentos assim como os guerreiros
fazem a suas espadas. E nada mais digno
que o nome daquela a quem admiro e
amo tanto. Quanta saudade no coração,
estou voltando minha cara, logo, logo
poderemos harmonizar nossas histórias
e compor belas canções.
Águas Profundas - 1489
Águas Profundas, dizem que todos os
caminhos levam a essa cidade, a maior
metrópole do norte e quiçá de Faérum.
Ao entrar vejo a minha direita o distrito
das docas, lembro-me de várias noitadas
divertidas por lá, o fedor do mijo em con-
traste com a cerveja derramada, bêbados
rolando ao chão e confusões cotidianas
são os principais marcos dessa região.
Mas subo para o distrito comercial.
Uma rápida passada pela região para
repor alguns insumos gastos, e perambu-
lar um pouco a fazer compras. Apesar
da úlTimma aventura não ter rendido
em sucesso, teve bons espólios. Minha
passagem é rápida pelo comércio, pois
ainda tenho que subir após o distrito do
castelo para ir de encontro a Nova Olamn,
afinal o velho deve estar com saudades
de seu filho. Mas a vontade de ficar em
AP é imensa, então uma rápida passada
no portal do bocejo apenas para apreciar
uma bela cerveja, e cumprimentar Dur-
nan.
Entre Descanso dos Heróis e Vista
da Tempestade, Conservatório de Mú-
42 E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS
sica de Nova Olamn, Distrito do Cas-
telo, Águas Profundas - 1489
Três canecas depois, me encaminho
para o caminho do penhasco, que leva
a Nova Olamn, já posso ouvir os sons
ressoando as paredes do penhasco, são
como guias para os estudantes do con-
servatório. Já vejo o anfiteatro ao longe e
meu coração já salta a boca de tanta ansi-
edade, estar de volta para casa é sempre
reconfortante, e estar longe dos nortistas
é ainda melhor. Já penso na atuação
que farei ao ver meu pai, um descaso
básico como se eu nem tivesse partido a
tanto tempo, ou talvez o garotinho cheio
de novidades para contar? Qual seria
melhor, penso eu. Bem, vamos no feeling
da parada, sentir o movimento.
Estranho ele não está na biblioteca
onde guardamos as pastas com partitu-
ras. Mais estranho ainda a sujeira que
esse local está, ele é muito caprichoso,
e apesar da idade, ele sempre pega nos
pés dos ajudantes da escola. Bom talvez
a idade tenha de fato chegado a ele,
ou ainda, espere em qual mês estamos
mesmo? Não minha mãe não estaria aqui
nessa época do ano, com certeza é a idade
chegando.
Vou de encontro ao reitor da faculdade
para obter informações, mas perco com-
pletamente meu foco sendo invadido por
uma música extremamente familiar. Não
é possível, essa música não poderia ser
tocada por ninguém, somente eu conheço
ela, eu só toquei uma vez essa música e
somente uma pesso......sim, é ela, minha
doce menina, agora reconheço sua voz e
o Timmbre de seu violino.
Nunca vejo nada além da escuridão da
minha alma
Peço que, guiem-me para a parte que for
mais clara
Eu não tenho o controle dos
 pensamentos nem senTimmentos alegria a tristeza. E ela me conta que
Simplesmente eu lhe peço, me leve a o velho partiu atrás de mim para o sul,
sério ou para além do além descobriu que estava num vilarejo no
Sempre fizemos alguns planos de termos Norte e foi para lá. ótimo, chego em águas
juntos uma longa vida profundas e o velho vai para onde eu vim.
Tão longa então, eu esperava mais Obrigado destino, obrigado por essa peça
completa eu não sabia bem articulada. Me lembro do bardo po-
Além de tudo o que vejo, sempre te eta Fiódor Dostoiévski citando “A tragédia
encontro minha menina e a Sátira são irmãs e estão sempre de
Sorridente, sempre em frente, minha acordo, consideradas ao mesmo tempo
mulher, minha querida o nome da verdade”, não sei de qual se
trata agora senão as duas.
Além do Além – Theon de Olamn
Bem agora como farei como essa bela
- Oi hakin? Apenas isso consigo
moça a minha frente, o que direi a ela,
reproduzir no estado de choque que eu
como direi a ela. Somente uma coisa
estava.
passa a minha cabeça nesse maldito
Foi o suficiente para a haste de treino
segundo. Terei de voltar a merda do
do violino ceder, e em disparada ela se
norte, e já sei quem devo contatar.
jogar no meu colo. Me fazendo cair com
42o Quarto, 4o Andar, 2o Pavilhão,
mochila e tudo, mas salvei o yarting a
Nova Olamn, Águas Profundas – 1489
tempo com uma das mãos. O perfume
Ela não diz nada, não faz nada, apenas
dela é inebriante, o toque da sua pele
me vê trocar de roupa após um banho e
é macio, e sua voz é angelical. Porque
me preparando para partir. Sim é doído,
fiquei tanto tempo longe de ti, penso alto.
é extremamente dolorido, mas não há o
- Por onde andou Theon? Todos o pro-
que se fazer. Terei de partir, é do meu
curam. Como você está? Se alimentou?
velho, meu pai que estamos falando. Isso
Está bem mesmo? Espere, não, não,
não é nem nunca será fácil. Mas foram
ainda estou irritada com você, você nem
minhas escolhas que levaram a isso. Sei
se despediu de mim....
o motivo disso, tento não acreditar, mas a
Eu a interrompo com um beijo. E vejo
cobrança veio antes que eu previa. Como
ela derreter em meus braços. Isso a
eu sinto por magoar as pessoas que estão
acalma momentaneamente.
ao meu lado. Dessa vez não foi meu
Café Forte Sulista, Nova Olamn, Dis-
nascimento que decepcionou alguém, e
tríto do Castelo, Águas Profundas –
sim minhas atitudes. A letra vem em
1489
minha mente imediatamente. Sento me
Quanto tempo não sentia o sabor de
ao lado de Hakin na cama, pego o yarting
um bom café sulista, bem diferente
e início a música, ela me olha com
daqueles que encontrei pelas minhas
lagrimas nos olhos. Saca seu violino e
andanças pelo Norte. Ela fala pelos
me acompanha na mais triste melodia
cotovelos de tantas novidades enquanto
que eu já toquei na minha vida. Não
sorri e ameaça levar a xícara a sua boca
precisamos de palavras, a música diz
por várias vezes. Que saudades.
tudo que precisamos dizer para o outro.
Após alguns minutos de conversa per-
gunto de fato onde está meu pai, e seu “Lamento ter de deixá-la minha querida
semblante muda completamente. Da e doce amada Eu temo minhas tristezas
E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS 43
 virem de encontro a sua estada Mas eu
peço que continue guiando vidas como a
sua Tente sempre ver o melhor, do que a
pior em vidas futuras além do além”
Além do Além – Theon de Olamn
Corvo Expresso, Casa de Mensagens,
Distrito Comercial, Águas Profundas –
1489
44 E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS
CARO (A) AMIGO (A),
Quem vós fala é aquele quem a meses atrás
partilhou de uma “missão” para a salvação do
Condado de Thandravsk. De fato, pensei muito
no que escrever para tal carta fazer sentido.
Mas apesar de um bardo, não sou bom em me
expressar com palavras, acredite. Geralmente
a música faz mais por mim que eu por ela, e
quando tendo a colocar palavras a frente elas
acabam por gerar grandes consequências.
Quando ainda na caverna, eu fiz algo, de
certa forma altruísta, mas não necessariamente
verdadeiro. O tal pacto que recusamos, foi aceito
por mim, e isso agora me gera consequências.
Sim estou lhes contando isso de cara, não
porque estou em apuros e preciso da ajuda de
vocês, e não que não esteja, pois de fato estou.
Mas porque sempre vivi só em minha vida, e
nunca tive a necessidade de partilhas nada com
outros. Mas não entendo ainda o porquê vejo
em vocês algo diferencial. Como quando um solo
casa sonoramente com um riff, e a música flui
naturalmente. Precisa de ensaio, muito ensaio
para ser sincero, mas assim nascem as melhores
canções.
Estou voltando ao pequeno condado, estou
indo atrás de meu pai, estou indo atrás de
salvar um velho que não fez nada além de dar
a vida a um ser que provavelmente não deu
valor o suficiente para isso, talvez seja meu
lado élfico, ainda não compreendo, talvez só
divagando novamente.
Quando iniciei meus estudos, compus minha
primeira canção, Ontem Eu Tive Um Sonho, uma
canção infantil, em certa forma, mas que hoje
alguns dos trechos fazem sentido em meu atual
estado de espírito. Espero um dia poder mostrá-
la pessoalmente a vocês, se assim me permitirem.
“Mas todos tinham um mal comum da-
quilo ali em lugar nenhum Nunca íamos
nos encontrar se dali nos separar E o
medo foi que corrompeu e tudo aquilo se
perdeu”
Ontem eu tive um Sonho – Theon de
Olamn
B YORK L EÃO DE P RATA
Não sou de escrever porem após observar
Frida, Theon e Aydan escreviam um
diário decidi começar a escrever também,
comprei um caderno de capa com couro
com pena e tinta.
Após aquela situação estranha que não
sei o que aconteceu com os Leões de
Prata, (foram atacados por que tipo de
coisa?), estou deixando para trás a vila
de Thandravsk no Vale do Cervo aonde
tive as minhas primeiras experiências de
combate que totalizou:
Primeiro Combate - 1 meio-ogro que
quase me matou, junto com valentia
dos meus companheiros e a minha ma-
chadinha que não falhou na testa do
desgraçado, o meio-ogro caiu.
Segundo Combate - o que eu me lembro
desse combate, foi contra 1 meio-ogro e
1 ogro dentro da caverna quando tomei
uma grande porrada na cabeça e quando
acordei estava deitado em uma cama
dentro de outra caverna, nem sei como
estou vivo, porem acho que estou vivo por
causa dos meus companheiros.
Placar: uma meia vitória que quase
morri e uma derrota que nem sei como
não morri...
Nessas duas batalhas estava junto de
aventureiros corajosos no qual inicial-
mente achei que dariam um exército (Me
enganei...).
O que posso falar de Thandravsk, nada
de bom infelizmente, após a praga, após
a morte de inocentes e após tudo que vi
aqui acho que Tyr esqueceu esse lugar
desgraçado no fim do mundo.
Acho que o melhor que faço é me
despedi dos meus novos amigos (amigos?)
e voltar para Cidadela de Adbar para
tentar reconstruir o exército dos Leões
de Prata.
E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS 45
 ——————-
Byork ficou sabendo que uma cara-
vana estaria passando em Thandravsk
indo para Lua Argenta e se ofereceu
para acompanhar até a Cidadela de Ad-
bar, despediu dos novos amigos, mesmo
muito puto com todos por causa de com
deixaram Timm ser o herói.
Porém antes de ir embora avisou aos
companheiros que voltaria para taverna
Cabeça do Gigante que fica na Cida-
dela de Adbar, local aonde por meses
o Exército dos Leões de Prata ficara
hospedados.
Os cincos dias de viagem foram tranqui-
los até a Cidadela Anã, Byork escreveu
em seu diário quando a caravana montou
um acampamento para passar a noite,
o local do acampamento ficava a 300
metros da batalha onde os Leões de Prata
foram dizimados por não se sabe o quê.
——————-
Paramos para passar noite perto do
local que os Leões foram dizimados por
não sei quem ou quê.
Que vida de merda....
O que vou fazer agora?
Será que continuo ou após 2 lutas me
aposento de ser um guerreiro e viro um
agricultor igual meu pai e minha mãe?
Fico imaginando o que Rolo falaria para
mim nessa hora...
Com certeza seria algo do tipo de
honrar meus antigos companheiros que
estão enterrados e ajudar os meus novos
amigos (amigos? estranho escrever isso
de novo...)
Infelizmente Rolo, você não sabe que
esses “meus novos amigos” não dão um
exército, são muito diferentes de um
soldado.
O que mais parece um soldado é Sten
porém é um paladino já tem o seu
46 E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS
caminho, paladinos já fazem parte de um
exército de um deus.
Frida uma pequena acho que uma
halfling não sei é desse tipo, o que tem
displicência tem de poder, acho eu que
ela não sabe muito bem controlar todo
esse poder.
Aydan daquele tipo estranho que vive
na floresta, acho esse tipo seja des-
confiado e rancoroso por regra, mesmo
curando e ajudando sempre que ficar
distante de tudo.
Theon um bardo gente boa, salvei
ele de toma umas porradas, sendo um
bom para contador de histórias foi hábil
com as palavras, porém suas ações são
quanto caóticas.
Mesmo com esses desajustados me
senti em um exército, acho eu que nunca
mais vou vê-los.
Merda Rolo está saindo lagrimas do
meu rosto...
——————-
Dois dias após a parada, Byork chega
na cidadela de Adbar, os guardas au-
torizam Byork a entrar e Adbar e ficar
na região externa periférica da cidadela
perto do Portão Principal onde fica a
taverna da Cabeça do Gigante.
A taverna da Cabeça do Gigante é uma
taverna relativamente grande, sendo um
palacete com 3 andares dentro de uma
grande área murada que além do prédio
principal há um estabulo e uma área de
treino, um velho anão é dono da taverna,
dizem que ele já foi um aventureiro porem
aposentou após levar uma flecha no
joelho...
Byork no momento que entra na ta-
verna escuta o anão gritando no balcão.
- Ei! Humano vem cá!
Byork aproxima do balcão.
 - Humano você não é um dos escudeiro
do Exército dos Leões de Prata? Cadê o
restante deles?
- Sim sou ou era escudeiro do Exército
dos leões de prata, por quê?
- Então humano foi promovido?... tem
um elfo...
O anão cospe no chão...
- Um elfo e uma humana de olhos puxa-
dos procurando o mestre Rolo e o exército
dos Leões, esse elfo alugou a suíte do 3
andar por tempo indeterminado... não
sou fã de elfos sabe, são muitos magros,
porém se esse elfo for honrado e pagar
pela estadia pode ficar aqui até os fins
dos tempos hahah....
O anão começa a rir enquanto limpa o
balcão...
- Rapaz quase me esqueci de uma
coisa, estou devendo um pagamento
para o Rolo, gosto dele mesmo sendo
humano ele é um humano honrado, se
tem uma coisa que odeio mais que as
raças imundas de orcs, gigantes, ogros e
drows e dever algo a alguém ainda mais
alguém com honra. Anões são muito
honrados rapaz preciso falar com ele o
quanto antes, cadê ele?
- Então.... qual é o seu nome mestre
anão eu esqueci???
- O que!... como você esqueceu meu
nome? Sou Orgum o honrado, porém se
alguém te falar que sou o Orgum flecha
no joelho é mentira está certo disso,
onde já viu só porque tomei uma flecha
no joelho quando era uma aventureiro
tenho que ser conhecido como tal... uma
verdadeira falta de respeito para quem já
matou uma dúzia de gigantes....
- Mestre Orgum, meu nome e Byork
sinto informa sou o úlTimmo dos Leões
de Prata... meus antigos companheiros
foram atacados a caminho do Vale do
Vervo não sei porque tipo de criatura
E NTRE
ou ser, no momento do ataque estava
caçando e quando voltei estavam todos
mortos...
A voz de Byork ficar embargada quando
diz a situação ao anão.
- Meus pêsames, com certeza jovem
mestre Byork, foram aqueles malditos
gigantes que vivem perto da espinha do
mundo... atacam sem honra... isso me
lembra de uma história... Ei! Robson a
mesa 2 está pedindo cerveja anda logo
rapaz... então mestre Byork continuando
como forma de pagamento e que devo ao
Rolo e forma de gratidão a uma pessoa
honrada, você pode ficar o tempo que
for necessário em um dos quartos lá no
segundo andar, mas veja bem a comida
e a bebida não é de graça, você tem que
pagar com ouro ou serviços, mesmo com
Robson, isso lá e nome de anão, preciso
de alguém para fazer a segurança...
- Mestre Anão vou aceitar a proposta
do quarto, porem pagarei minha comida
e bebida quando ficar aqui.
Após a conversa com o anão Byork
foi ao encontro do Elfo e da Humana.
Era um Elfo da Lua idoso sendo a
companheira dele era uma humana de
aproximadamente 35 anos com feições
que Byork nunca tinha visto, cabelo liso
escuro com olhos puxados.
- Olá jovem humano, venho de muito
longe e estou à procura do exército dos
Leões de Prata e Rolo, meu nome é
Jarendyl a Luz do Oriente, e o nome da
minha companheira é Sayori Nakuma,
por acaso você está no comando?
Senhor Jarendyl, o que vê aqui e a
totalidade dos Leões de Prata, os antigos
membros estão mortos a menos de 3
semanas.
- Jovem Byork, vejo que não cheguei a
tempo... Não sei se você sabe, mas quem
criou esse exercito foi um elfo chamado
IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS 47
 Lonriendill Luazzul, ele cuidou por muito pode pagar ao jovem Byork, acho posso
tempo do meu pai, eu vasculhando nos treina-lo nas técnicas de luta de Kara
arquivos dele encontrei uma menção que Tur, acho que ele mesmo aparentando
deveria vim a Lua Argenta atrás da antiga ser valente não teve ter tido treinamento
casa de Lonriendill e que deveria procurar adequado, olhe o estado dele até parece
o exercito que ele tinha criado. que tomou uma surra de goblinoides...
O elfo começa a tossir.... - Byork, desculpe minha esposa pe-
- Meu amor não se esforce muito... las palavras, porém ela é uma grande
- Byork preciso da sua ajuda, mas não guerreira de Kara Tur, tenho certeza que
agora, sei que você carrega consigo uma os ensinamentos nas artes de luta de
flâmula com um leão, estou certo? Kara Tur podem salvar sua via algum
Byork olha desconfiado para os dois e dia, aceite o treinamento como forma de
imagina que situação e essa e responde. gratidão.
- Senhor Jarendyl, Rolo me falou do
criador dos Leões de Prata e que seu ——————-
corpo está perdido a muito tempo atrás,
Faz quase 3 meses que não escrevo
e sim carrego essa flamula com o Leão,
nesse diário, não tive tempo. Inicialmente
porém não posso me desfazer dela.
fiquei ofendido com que a Sayori falou
- Entendo Byork, mas não quero a fla-
naquele dia, porém vejo após dias de
mula, quero apena ler o que está escrito
treino que se ela fosse meu inimigo eu
nela, as palavras são chave para encon-
estaria morto a muito tempo.
trar a o corpo de Lonriendill, preciso
Ela vem me ensinando técnicas de
achar o corpo dele para salvar alguém
luta estranhas de uma região longínqua
da morte, serei muito grato a você.
chama Kara Tur e me deu uns livros anti-
Byork retira a flâmula da mochila e o
gos de Bushido sobre código de conduta
elfo Jarendyl diz palavras em uma língua
e honra, porem vejo o sorriso no rosto da
estranha e letras douradas são formadas
Sayori e do elfo Jarendyl quando estou
na flâmula, o mesmo começa a ler em
treinando, o velho anão Orgum fica rindo
comum.
toda vez que desmaio após o treino.
“Na Cidadela de Adbar, olhe para oci-
Todos os finais de tarde Jarendyl conta
dente e quando a lua estiver azul você
histórias de Loriendill quando ficamos na
saberá aonde eu descanso”
rua esperando aparecer a tão lua azul,
A flâmula volta ao normal e Byork
nunca apareceu.
retira da mesa e guarda a flâmula.
Sayori me fala sobre o caminho do
- Mestre Byork, infelizmente vou ter
guerreiro chamado Samurai e que tudo
que ficar nessa cidade de anões até
está descrito no Bushido, que eu nunca
aparecer a bendita lua azul, você foi de
ouvir falar, dizendo ela que esse caminho
muita ajuda não sei como agradecer ou
eleva o espírito do guerreiro sendo foco de
ajudar você reconstrução do exército.
todo poder a honra. Outro dia fui na feira
A humana levanta da cadeira e Byork
de matérias e acabei comprando uma
observa pela primeira vez que ela e uma
mula, até hoje não sei porque comprei
guerreira, com um tipo de espada estra-
essa, porém, Orgum falou que quando
nha pinturas estranhas no braço... - Meu
era uma aventureiro tinha uma mula
amor tenho uma ideia de como a gente
para carrega as coisas e um bode de

48 E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS

montaria que subia montanhas e que eu
deveria ter pelo menos uma mula, todos
os aventureiros têm uma.
De acordo com Orgum eu deveria colo-
car um nome na mula, dizendo ele que
dá azar anda com animal sem nome,
coloquei o nome de Bronilda na mula.
Meu dinheiro acabou tive que fazer a
segurança a noite na taverna, felizmente
ninguém brigou nesses três meses.
——————-
Orgum me acorda com a sutileza de um
anão...
- Ei Byork acorda, chegou essa carta de
águas profundas para você, rapaz você
tem alguma amada em águas profundas
cuidado, as mulheres de lá...
E NTRE
S TEN W INDBORN
U MA NOITE DE CONVERSA
Enquanto a neve caía e o vento soprava
do norte Sten organizava seus pertences,
permanecia cabisbaixo e em silêncio.
Tentava compreender o que tinha aconte-
cido nos úlTimmos dias, tentava manter
a sua mente limpa. Lembrava-se sempre
de agradecer ao poderoso Helm por não
ter sucumbindo nas batalhas que tinha
travado. Sem entender ao certo o seu
papel no meio de tudo isso Sten estava
reflexivo. Dos seus companheiros apenas
a pequenina Frida Fura Olha decidiu
ficar um tempo na casa da Família
Opel. Aydan Semente de Carvalho não
demorou muito e partiu tão logo para a
Floresta Alta, Theon de Olamn partiu sem
deixar maiores detalhes e, o Byork não
sei por onde anda. Sten decidiu então
traçar a sua própria jornada, agradeceu a
hospitalidade da Sra. Opel e recomendou
muito cuidado a pequenina Frida. Esteja
sempre preparada – Frisou Sten à Frida.
E ao meio dia partiu do Condado de
Thandravsk.
Seus pensamentos refletiam o quão
perdido estava, queria ficar sozinho, op-
tou pelo isolamento temporário. Queria
provar a si próprio o seu valor. Ia contra
tudo o que passou a acreditar, mas preci-
sava desse momento sozinho com as suas
preces. Pegou o seu símbolo sagrado,
sentiu o peso da responsabilidade mais
uma vez, ainda se sentia responsável
pelos acontecimentos ruins aos quais foi
submetido. Suas responsabilidades e
seus deveres eram apenas seus, tinha
de aprender a conviver com o peso de
suas decisões e aceitar o seu carma, seja
qual fosse o destino oferecido a ele por
Helm.
IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS 49
 Na estrada caminhava sozinho, vez
ou outra escutava barulhos típicos de
estradas “silenciosas”, gemidos de cri-
aturas e vozes estranhas ao longo das
florestas que circundavam a estrada. O
frio era forte, mas estava muito bem
agasalhado, lembrou-se do Anão Godfrei,
que fim triste tinha levado, poderia tê-
lo protegido? Falhou pifiamente. Sabia
da intenção do povo do condado desde o
início, sabia que isso poderia acontecer
e, não fez nada. Virou as costas para
o perigo imediato e deixou uma boa
pessoa morrer. Isso o lembrou de tudo
o que lhe aconteceu, suas más escolhas
deixaram com que pessoas boas, pessoas
que amava morressem. Onde estava
quando tudo aconteceu? O que fez? Sua
mente tinha pensamentos demais, ora
raiva, ora angústia, ora desespero. Não
conseguiria se concentrar, sua respiração
estava ofegante, estava em uma situação
crítica, precisava fazer algo a respeito.
A noite se aproximava, achou melhor
procurar um bom lugar para levantar
acampamento e passar a noite, não
conhecia muito bem a região que estava,
reconhecia que poderia ser perigoso, mas
já não poderia seguir viagem, o clima não
ajudava, uma tempestade se aproximava.
Caminhou mais algum tempo e por sorte
do destino encontrou a algo que outrora
seria provavelmente uma torre de vigia.
A construção era de pedras e foi feita
há muito tempo, pelo ao menos era o
que achava em razão das circunstâncias,
julgou que seria um bom lugar para ficar.
Ao chegar perto da entrada da torre, suas
pernas travaram por um segundo sentiu
um calafrio na espinha, mas limpou a
mente e encostou na porta de madeira
que fechava a entrada. Empurrou com
um pouco de força e a porta se abriu
sem qualquer dificuldade. Era um salão
50 E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS
mediano, encontrou algumas tochas nas
paredes e as acendeu. Tinha uma mesa
no meio salão com três cadeiras e um
banco, com alguns talheres e pratos, mas
pelo que pode perceber foram usados
há muito tempo. Além disso tinha
uma estante ao fundo e um baú à sua
esquerda. A sua direita encontrou um
cômodo que provavelmente era o aloja-
mento, já não possuía camas, mas ele
deduziu que caberia umas três ou quatro
camas. Uma escada levava a parte de
cima da torre que servia como um local de
vigília e havia também um outro cômodo
que provavelmente servia como despensa.
Depois de fazer a vasculha no local
decidiu que seria um bom lugar para ficar.
Certamente não seria a melhor noite que
iria passar em sua vida, mas por algum
momento esqueceu disso. Pensou em
aproveitar a noite solitária e fria para
acalmar a mente e os pensamentos ruins.
Acendeu a lareira para se aquecer e
procurou algo para comer, bebeu um
pouco de hidromel que carregava consigo
e se sentiu um pouco melhor. Sentou-
se junto à mesa e fez a sua refeição,
ainda era um pouco da comida que a
Sra. Opel lhe oferecera para a viagem,
então a comida era saborosa. O ambiente
agora era acolhedor, a lareira começava
a esquentar o lugar e seu corpo estava
aquecido em razão do hidromel e a boa
refeição e lá ficou um tempo tranquilo.
Após algum tempo o silêncio cessou, pois,
a porta se abrira e entrara um homem
grande, este vestia uma armadura de
batalha, com seu rosto coberto por um
elmo. A armadura era bela e ostentava
um brilho, não em razão das tochas ou
da iluminação contida no salão, mas da
própria armadura, em sua cintura estava
uma espada bastarda, Sten não se sentiu
ameaçado ou em perigo, pelo contrário a
sensação era de segurança.
- Estava procurando um abrigo, tive
sorte, o clima não está tão agradável.
Espero poder passar a noite protegido!
Disse o cavaleiro, com uma voz grave,
mas agradável. Me chamo Helmert, que
a paz esteja em vossos caminhos!
- A paz está ao nosso lado. Que Helm
nos guie essa noite e nos proteja dos
perigos da natureza. Sten procurou
melhores palavras, mas não conseguiu
encontra-las.
Enquanto isso o homem retirara a
sua espada da cintura e a colocava ao
canto do salão, depois caminhou para o
fundo, Sten julgo que ele iria para perto
da lareira. O homem pegou uma das
cadeiras que estavam junto à mesa na
qual Sten ceava e a levou para perto da
lareira e lá ficou um tempo em silêncio.
- Você não me disse teu nome, jovem
aventureiro.
- Ah! Sim. Perdoe a minha falha, me
chamo Sten Windborn. Você aceita uma
dose do hidromel que carrego comigo,
ainda resta um pouco.
Helmert levantou-se e foi até a mesa a
qual Sten estava sentado e aceitou uma
dose da bebida que lhe fora oferecido.
Agradeceu e questionou a Sten se ele
conhecia a história da torre. Sten res-
pondeu que não sabia se havia alguma
história para ser contada.
- Sempre há uma história. Comentou
Helmert. Eu já escutei sobre essa torre
há algum tempo, mas no momento não
me recordo, espero poder lhe contar um
pouco do que eu sei a seu tempo. O nosso
mundo é repleto de histórias, algumas
boas outras ruins. Você mesmo já deve
ter algumas boas histórias para contar,
mesmo com a pouca idade que você
aparenta ter. Me parece que carregas
mais responsabilidades do que deveria,
E NTRE
Sten Windborn.
- As responsabilidades são minhas,
não preciso compartilhá-las com mais
ninguém, tenho os meus motivos e as
minhas razões, espero que entenda. En-
quanto a você, Helmert o que fazes nesta
torre, além de especulações tolas.
Helmert deu uma leve risada e res-
pondeu: - Perdoe a minha intromissão,
jovem Sten. Apenas disse algo que pude
constatar com o teu semblante. Mas, de
qualquer forma lamento se minhas ações
te ofenderam de alguma forma.
- Não me ofendestes. Apenas não tenho
histórias a serem contadas. Pelo ao
menos não tenho histórias boas, apenas
tristes. E muitas dessas tristezas foram
causadas por minhas ações.
- Você não me parece uma pessoa má,
Sten Windborn, como assim tristezas
causadas por tuas ações. Não consigo
sentir o cheiro do sangue em vossas
mãos, muito menos o mal em tuas
palavras. Mas, sim um jovem aventureiro
que almeja o bem para os demais.
Sten, parou por um segundo. Refletiu
bem sobre as palavras até então ditas.
Por algum motivo seu coração estava leve,
sem angústia, se sentia completamente
seguro e confortado. Sem saber ao certo
o motivo, Sten narrou os seus úlTimmos
meses àquele homem que acabara de
conhecer. Contou-lhe tudo sobre o seu
passado, a morte de seus pais, amigos e
família. Narrou sobre o seu alinhamento
à Ordem do Olho Dourado, sobre como
ele via as ações e o que poderia fazer
para evitar que o mal subjugasse os bons
de corações ou inocentes. Contou sobre
sua falha no condado de Thandravsk e
como acreditava que a responsabilidade
de salvar várias vidas era na verdade sua,
não agiu como um verdadeiro Paladino
de Helm e nem tinha agido como tal.
IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS 51
 Por isso estava ali, naquele momento,
almejava se encontrar novamente com
os ensinamentos de sua ordem, honrar
seus pais e sua família que tinha sido
massacrada por falha sua, pelo seu até
então desprezo com as ordens. Mas,
que agora tinha mudado entendia a
virtude presente na vida e em como ela
é importante e que devemos dedica-la a
proteção dos desassistidos.
Helmert ouviu tudo com atenção,
sem interromper Sten sequer uma vez.
Quando ele percebeu que Sten tinha
contado tudo, levantou-se da cadeira e
disse:
- Vou preparar um chá para que nós
possamos beber, tenho certeza que tu
se sentirás melhor após um chá bem
quente.
Sten não soube o que responder, mas
achou que um chá seria de muito bom
agrado. Algum tempo depois Helmert
trouxera o chá, ambos beberam fizeram
um pouco de silêncio e só então Helmert
começou a falar:
- Meu jovem aventureiro, Sten Wind-
born. Não enxergo que todos esses acon-
tecimentos que tu me narraste tenham
sido fruto dos teus atos ou das tuas
omissões. Os humanos são imperfeitos
por natureza, é muito difícil até mesmo
para o homem mais sábio de todos en-
tender a relevância dos teus atos. Quem
dirá de vossas omissões. Até mesmo um
ser sábio pode se equivocar ao avaliar
a atitude dos demais. Por isso as leis
são importantes, elas procuram conceber
uma noção geral do que podemos esperar
dos demais. O que pode garantir que
caso você tivesse agido de modo diverso,
tua família estivesse hoje viva. Ou quem
dirá o fato de obrigar um sacerdote a
ir contra suas crenças poderia ter lhe
garantido a sua vida. Concordo quando
52 E NTRE IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS
diz que é importante manter-se sempre
vigilante, mas por mais vigoroso que
você seja é inimaginável que você consiga
resolver todos os problemas de vosso
mundo. Vejo que você é muito dedicado
e aceita o dever e a obrigação como
um modo de enfrentar os seus desafios.
Acredito que você sabe que é isso que
teu Deus espera de tua servidão. Talvez
eu esteja enxergando algo de muito valor
em um grandioso paladino. Só o fato
de você refletir sobre tuas ações é algo
grandioso que não encontramos em todos
os devotos.
Sten permanecia em silêncio, estava
refletido sobre tudo o que tinha sido dito,
se sentia melhor, suas emoções não eram
confusas, conseguir distinguir o que era
certo e errado novamente. Passou a com-
preender melhor o que ele podia exigir de
si mesmo, estava completamente aliviado.
A cada gole do chá seu coração estava
mais esperançoso e determinado, sentia-
se bem, como há muito tempo não se
sentia, seu destino não poderia ser tão
claro, mas qualquer que fosse ele agora
se considerava pronto para enfrentá-lo.
- Sten, eu estou cansado, conversamos
bastante, acho que irei descansar. Mas,
antes queria lhe sugerir algo. Aqui
próximo tem um pequeno vilarejo, lá as
pessoas são boas, passe uma noite em
uma boa estalagem e depois retorne para
o Condado de Thandravsk. Ainda acho
que você poderá ser muito útil, sem falar
nos seus companheiros, acredito que
vocês são mais fortes juntos, você deve
tomar a frente e protegê-los dos perigos
e auxiliá-los nas decisões difíceis. Bem,
dito isso, irei dormir. Até amanhã meu
jovem aventureiro, que a graça de Helm
lhe abençoe.
Sem muita cerimônia, cada um procu-
rou seu canto. Sten deitou e parecia que
todos os pensamentos e emoções ruins
tinham sido removidas de sua mente e as-
sim adormeceu. Quando acordou o fogo
já tinha consumido toda a lenha, mas
havia uma chaleira quente sob a mesa,
ele provou tinha um sabor diferente do
chá que tomava à noite, tinha acabado de
ser feito. Olhou ao redor e não encontrou
mais Helmert, provavelmente partiu bem
cedo.
Quando sai da torre, o clima tinha
mudado, não estava tão frio como ontem,
o vento não era frio e nem quente, mas
agradável como uma boa brisa. Re-
lembrou do conselho de Helmert e se
dirigiu ao pequeno vilarejo. Depois de
algumas horas de viagem Sten avistou o
que seria o local. Continuou caminhando,
já estava com fome, pensou que poderia
ter uma boa refeição e beber um bom
hidromel. Não demorou muito Sten
adentrou no pequeno vilarejo. O local era
simples e muito bucólico, possuía apenas
uma taberna na qual foi muito bem
recebido. As pessoas eram agradáveis,
os menestréis tocavam músicas felizes,
sobre guerreiros valentes e seus feitos
ou canções sobre comidas e bebidas. A
vida parecia ser boa no local. Conversou
com algumas pessoas, bebeu, comeu
e riu. Ajudou um senhor a carregar
um barril de cerveja e outro a carregar
madeira para uma construção. Ao fim
do dia retornou à estalagem na qual
tinha reservado um quarto, era um local
simples, embora muito bem cuidado.
O dono muito simpático conversou um
pouco com Sten, contou sobre o quão o
inverno tem sido rigoroso, mas que agora
estava tudo bem. A vila estava contente,
os comerciantes estavam empolgados.
Quando o Sr. Alurdy pediu para que Sten
assinasse o recibo da estalagem. Sten riu
e disse que ele precisava corrigir a data,
E NTRE
afinal de contas faltava muitos meses
para aquele dia ainda.
- Meu senhor, a data está correta.
Eu sei disso porquê hoje minha amada
esposa completa mais uma estação de
sua vida.
- Não é possível! Respondeu Sten. Você
está me dizendo que já tem três meses
que eu saí do Condado de Thandravsk?
- Meu senhor, o condado de Than-
dravsk fica a apenas algumas horas de
cavalo. Certamente o senhor deve ter ido
para diversos outros lugares. Afinal de
contas ninguém nunca gastou três meses
de Thandravsk até a nossa pequena vila.
Estava perplexo, como isso poderia ter
acontecido, ele passou apenas uma noite.
Passou praticamente uma noite conver-
sando com aquele homem que encontrara
na torre. Como isso é possível? Já se
passaram três meses! Sten não sabia
responder. Será que ele passou três
meses naquela torre? Sten se dirigiu ao
quarto e dormiu.
Ao amanhecer Sten organizou suas
coisas para retornar ao condado de
Thandravsk, passou antes no Maladur
- Perna de Pau e adquiriu alguns itens
que precisava e partiu. Decidiu passar
na torre de vigia antes lembrava muito
bem do caminho, contudo não encontrou
a torre, procurou por horas a fio. A torre
tinha desaparecido. Caminhou um pouco
mais e ao fim do dia avistou Thandravsk.
IDAS E V INDAS - H ISTÓRIAS I NCOMPLETAS 53
 U MA VIDA PARA SER
F RIDA F URA -O LHO
Alguns dias já se passaram desde que
eu cheguei aqui em Thandravsk. Mas
nenhum desses dias ficaram na minha
memória como esse. Ontem já foi um dia
difícil. O Sr. Opel já estava doente há
alguns dias, mas ontem percebi que ele
estava pior e que os chás e emplastros
que eu e a Sra. Opel estávamos dando
para ele não estavam funcionando. Ras-
par a pele dele já não era uma solução,
os vermes se multiplicavam o tempo todo.
Eu entendi que ele não sobreviveria a
aquela noite, a Sra. Opel provavelmente
também já tinha percebido, mas ela não
queria aceitar. Permaneci ao lado dela,
ajudando no que eu podia, assim como
Suniam.
Infelizmente, depois de algumas horas
que o sol tinha se posto, o Sr. Opel fechou
os olhos pela úlTimma vez, percebi um
longo suspiro e depois disso ele não
estava mais ali. Abracei a Sra. Opel
numa tentativa de acalentá-la no meio
de um choro muito doído. Suniam
tentava se manter firme, mas percebi
uma lágrima escorrer pelo rosto, a qual
ele tentou secar rapidamente.
Percebi também que nesse momento a
flor de Vytem que permanecia na mesa
de cabeceira começara a murchar e secar.
A Sra. Opel já tinha comentado comigo
sobre a bela história de amor entre eles
que aquela flor representava. Ver a flor
murchar foi muito triste. Nós três então
resolvemos enterrá-lo, mesmo que de
forma simples, no jardim nos fundos da
casa deles, enterramos junto aquela flor.
Se ela esteve viva por tanto tempo ao lado
54 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
H ERÓI
dele, deveria nesse momento acompanhá-
lo.
Poucas horas depois, antes mesmo
do sol nascer, enquanto ainda tentava
acalentar a Sra. Opel e Suniam pegava
no sono na sala, a porta foi aberta como
um baque brusco, muitos homens invadi-
ram a casa, gritando coisas absurdas,
culpando o Sr. Opel e toda a família
de ser os responsáveis pela praga, por
destruir a cidade, um velho barbudo
cuspia e babava enquanto esbravejava
coisas horríveis. Os homens que estavam
com ele pegaram Suniam e bateram nele,
bateram muito, quase mataram o menino
na nossa frente, gritavam para mim e
para Sra. Opel não nos aproximarmos,
me agarrei a ela tentando afastá-la, eles
eram tantos, tão grandes, fortes e vio-
lentos que nós duas não podíamos fazer
nada.
Depois de desmaiarem Suniam com
socos e golpes de escudo, começaram
a sair da casa levando ele arrastado,
deixando um rastro de sangue, seguimos
atrás, a Sra. Opel chorando desesperada-
mente e eu tentando acalmá-la e gritando
para os homens pergunto o que estava
acontecendo, mas éramos ignoradas.
Ao chegar no centro da vila, próximo do
poço, vimos um amontoado de pessoas,
ouvimos gritos, choros e palavras de
ordem, essas dadas pelos guardas da
cidade que estavam por ali. No meio da
multidão consegui perceber a presença
do Conde e da Condessa, além que
alguns forasteiros, aqueles três humanos
e o meio-elfo que eu falei outro dia. O
meio-elfo parecia estar bêbado e abraçava
um dos guardas, não entendi o que ele
queria fazer, no final ele quase apanhou
dos guardas, mas acho que ele acabou
aprendendo que os homens daqui não
gostam muito de pessoas de outras raças.
Algumas pessoas, inclusive os foras-
teiros, assim como eu e a Sra. Opel
tentamos interferir na maldade que tenta-
vam fazer com Suniam. Mas infelizmente
não deu muito certo. Ele acabou sendo
pendurado em uma cruz de madeira. Eu
não consigo entender por quê. Ele era
só um menino, um menino bom. A Sra.
Opel ficou devastada, chorava e gritava
para não machucarem seu filho, para
não matarem seu filho, mas infelizmente
atacaram ele com lanças até que ele
morreu. Por todo esse tempo aquele velho
barbudo e babão gritava coisas horríveis,
acusando toda a família, inclusive eu de
sermos culpados pela praga dos vermes.
Mas nós não temos culpa de nada.
Eu e a Sra. Opel tentamos nos aproxi-
mar para resgatarmos o corpo do Suniam
ela praticamente não tinha forças de ficar
em pé, mas a todo momento éramos ame-
açadas pelos guardas que não permitiam
que nos aproximávamos. Não entendo
porque eles são tão maus, o menino já
estava morto, o que mais eles podiam
querer?
Depois que a multidão se dispersou,
aqueles forasteiros se aproximaram, fi-
quei um pouco desconfiada, mas eles
pareceram ser boas pessoas, nos ofe-
receram ajuda para resgatar o corpo,
eu aceitei porque eu mesma não tinha
nenhuma condição de fazer nada, a Sra.
Opel mal conseguia ficar em pé.
Voltamos para casa, coloquei a Sra.
Opel para deitar, mas ela só conseguiu
descansar realmente quando um dos
forasteiros fez um chá, acho que o nome
dele é Aydan, ele parece conhecer bas-
tante sobre plantas, remédios e essas
coisas.
Os outros forasteiros também se apre-
sentaram, o meio-elfo disse se chamar
Theon, os outros dois, se não me engano
são Byork e Sten. Para a gente conseguir
o corpo de Suniam de volta o humano
Byork resolveu falar com aquele velho
babão, pois os guardas não permitiram
retirar o corpo da cruz sem a autorização
dele. Acho que ele foi muito corajoso con-
versar com aquele velho, e fiquei muito
feliz porque ele conseguiu autorização.
Eu fiquei na casa, acompanhando a
Sra. Opel que estava dormindo profun-
damente. Os três humanos e o meio-elfo
foram ao centro da vila buscar o corpo de
Suniam. Demoraram um pouco, eu fiquei
observando da janela, eu imagino que
não tenha sido um trabalho fácil, mesmo
Suniam ainda sendo um adolescente ele
era um meio-ogro e por isso grande e
pesado. Mas eles conseguiram, quando
chegaram na casa, esperamos a Sra.
Opel acordar para podermos fazer o
enterro na presença dela. Eles tentaram
me convencer a enterrar o menino longe
dali, no meio da floresta talvez, mas eu
insisti para que fosse enterrado ao lado
do pai, porque eu sei que essa seria a
vontade da mãe.
Eles me contaram o que tinham ouvido
e visto pela vila. Aydan disse que foi até
a taverna do Corvo Reluzente e que lá
haviam duas cruzes pequenas, do mesmo
jeito da usada para pendurar Suniam
no meio da vila, e o taverneiro disse
que eram uma para mim e a outra para
Godfrei Percival, aquele anão simpático
que usa roupas coloridas e cuida de todo
mundo no Templo de Marthammor Duim.
Eu não consigo entender porque essas
pessoas odeiam tanto a mim, e a todos
que não são humanos. Nós não somos
culpados por essa praga.
Sabendo disso, não podíamos deixar de
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 55
 falar com Godfrei. Dessa vez o humano
com estandarte, Byork, ficou na casa da
família Opel, enquanto eu e os outros
fomos até o Templo. Godfrei é adorável!
Ele nos ofereceu bolinhos e leite de cabra!
Estavam deliciosos! Acho que eu gostaria
de voltar lá para comer mais bolinhos
com leite!
Nós contamos para ele sobre o que
Aydan viu e ouviu na taverna, e pedimos
para ele sair do templo e quem sabe irmos
embora dessa vila. Mas, Godfrei se negou
a sair dali ele disse que ali é o lugar
dele, que ali estão as pessoas que ele
precisa cuidar, que o Deus dele o enviou
para ali. Ele recomendou que fossemos
falar com Agatha, a moça simpática da
floricultura e que talvez ela pudesse nos
ajudar. Se nós conseguirmos achar
uma resposta para a praga, talvez essas
ameaças acabem.
Fomos então para a floricultura. Como
eu disse Agatha é muito simpática e
bonita também. Ela disse para eu não co-
mer muito dos bolinhos de Godfrei, mas
eu falei para ela que eles são deliciosos e
que ela deveria prová-los.
Agatha nos explicou um pouco sobre
acontecimentos da vila, sobre a praga e
sobre porque os humanos dessa vila não
gostam de pessoas de outras raças, eles
acham que a culpa pela praga é nossa,
mas não é. Eu sei que não é. Ela também
ficou revoltada com as ameaças que eu e
Godfrei estávamos sofrendo, ela decidiu
ir conversar com o Conde, pois ele deveria
se posicionar para inibir isso.
Depois de visitar Agatha, os humanos e
o meio-elfo resolveram ir até o Templo de
Vergadain. Eu preferi não ir, o humano
que fica lá não gosta de mim, ele já
foi ruim comigo só porque eu passei
pela porta. Enquanto eu aguardava por
eles, alguém bateu à porta e deixou um
56 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
embrulho, eu tentei ver quem era, mas
não consegui. Eu peguei o embrulho,
coloquei sobre a mesa e abri, era uma
cruz bem pequena, do tamanho das
minhas duas mãos juntas, igualzinha a
cruz do Suniam. Eu fiquei assustada,
mas não fiquei com medo. Assim que
eles voltaram até a casa eu mostrei a
cruz para eles.
Acho que essa ameaça com essa cruz
fez todos ficarem mais nervosos. Acaba-
ram me perguntando o que mais eu co-
nhecia da cidade e eu contei da Elisabeth,
que é parente do Conde e da Condessa,
ela também é uma moça muito simpática.
E contei também da família Dudrik, esses
infelizmente eu não conheço muito por-
que eles não se davam muito bem com a
família Opel então nunca me aproximei
muito.
Nós acabamos indo visitar Elisabeth. A
casa dela é linda, muito grande e confor-
tável, tem tantos livros pelas paredes que
eu não consigo nem mesmo contar. Ela
nos disse que provavelmente Rosamund,
a mãe de Agatha, que mora na floresta
poderia nos ajudar a resolver o problema
da praga.
Nós decidimos dormir essa noite ali
na casa da Sra. Opel e procurar por
Rosamund na manhã seguinte. Mas
antes disse, ao anoitecer a Sra. Opel
despertou, fizemos o enterro de Suniam
e só conseguimos conversar novamente
com Agatha na manhã seguinte.
Uma coisa muito estranha aconteceu
durante a noite, na verdade aconteceu
durante o dia, não sei bem, mas quando
fomos dormir percebemos que uma das
peles que íamos usar como cobertor
possuía agulhas envenenadas no meio
dos pelos, foi uma sorte muito grande,
também porque consegui retirá-las todas.
Aquela pele era diferente das demais, e
depois procurando com mais cuidado,
percebemos que haviam pegadas e ciscos
de neve pela sala. Alguém tinha estado
ali e colocado aquela pele no meio das
outras para nos machucar. Mas não foi
suficiente.
No outro dia saímos para ir procurar a
cabana da Rosamund, mãe da Agatha,
a florista. Seguimos a pé porque nos
disseram que a distância não era longa.
Quando já estávamos avistando a cabana
fomos atacados por um ogro imenso,
e forte, que vinha cavalgando atrás de
nós pela mesma estradinha que nós
estávamos andando. Ele gritava e atirava
lanças! Eu gritei para ele ir embora e
joguei alguns raios de fogo, mas ele não
foi embora, ele acabou morrendo. Nós
ficamos com o cavalo dele que tem uma
sela bem bonita, nem parece de ogro.
AYDAN - S EMENTE DE
C ARVALHO
Após a derrota do meio ogro, logo uma se-
nhora muito esquisita aparece e começa
a nos chamar para adentrarmos sua casa.
A pequena foi. Sten e Byork procuraram
enterrar o ogro no jardim da esquisita
Rosamund, a pedido dela, para que este
servisse de adubo para suas flores e que
não atraísse lobos para perto de sua casa.
Fui atrás do cavalo que ficou por ali
pastando. A priori me pareceu bem
arredio e agressivo, então ofereci-lhe um
pouco de comida e ele logo se acalmou.
Observei o alforje que ele carregava e,
de fato, era o símbolo de Vergadaim.
Logo Theon se aproximou e entrei o
alforje para ele. Começou a olhar o que
tinha dentro e logo pôs tudo de volta e
carregamos para dentro da casa. Amarrei
o cavalo próximo da casa, em uma cerca.
Por fora a casa parecia normal, mas por
dentro era a coisa mais esquisita que eu
já vi. Não sei que tipo de magia estranha
a velha Rosamund usou, mas tudo falava!
As xícaras, as cadeiras, os talheres e
até os tapetes! ATÉ OS TAPETES DE
PELE!!!!!!! Um de um urso e um de
um lobo. E o mais estranho, falavam
a língua comum, e não se comunicavam
como um urso ou um lobo normalmente
fazem. Sua percepção não me pareceu
limitada a de um animal, falavam como
pessoas. Mas eram só peles! Pareciam
sentir até o toque! Não entendo como
eles tinham tato se não possuem nem
mais carne, nem nervos, nem nada! Aliás,
estavam mortos, mas de alguma forma
reanimados. Durante boa parte do tempo
eu fiquei de longe, pensei que poderiam
ser almas aprisionadas em objetos. Como
isso seria possível? Bem, pergunte a um
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 57
 necromante antes de matá-lo (e garanta
que ele continue morto). Fiquei de longe
e nem sequer sentei nas cadeiras ou usei
seus talheres e louças. Mas ali tudo
soava meio estranho. Até os armários
pareciam vivos, sei lá. Apesar da minha
curiosidade, aquilo era algo que não
me transmitia uma boa sensação. Não
conheço esse tipo de feitiço.
Rosamund, após tomar seu chá, pegou
um pó mágico e jogou no ar. Dele come-
çam a surgir formas conforme ela conta a
história dos gigantes que ali viviam, como
entregaram suas terras aos homens, aos
Uthgar, sendo que o Clã dos Cervos foi
quem se tornou mais poderoso que os
demais clãs, porém, o poder corrompe
e este clã não era dos mais confiáveis.
Sedentos por poder, Rosamund disse que
eles buscaram por Surtur, deus gigante
do fogo, irmão gêmeo de Trim. Uma coisa
curiosa sobre a velha era que, pelo que
dizia, ela era realmente muito velha, mas
muito velha mesmo! Com uma vida tão
longa quanto a de um elfo, ou mais. O
que me pareceu bastante estranho, pois,
aparentemente, era uma humana. Sei
que existem druidas veneráveis que en-
velhecem de forma extremamente lenta,
mas Rosamund parecia tão antiga quanto
este mundo.
Uma coisa que me deixou intrigado
era como ela sabia nossos nomes sem
ao menos nos apresentarmos. Ela dizia
que o vento contava para ela. Sabia até
mesmo sobre a minha natureza, minha
origem. Graças a Silvanus, parece que os
demais não estavam prestando atenção
quando ela disse isso.
A esquisita velhinha também contou
sobre Timm, quando perguntamos. Ela
disse que ele veio visitá-la há alguns
meses, 5 meses se não me engano, e
perguntou sobre a localização de Aus-
58 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
tinerdan, um poderoso bruxo que vivia
naquela região. Ela informou a localiza-
ção do bruxo, mas também recomendou
que não o procurasse, pois nada bom
pode vir de alguém que fez pactos com
seres demoníacos. O curioso era que
ela sempre usava seu pó mágico para
ilustrar sua narração sobre as coisas.
Após perguntarmos sua localização ela
disse para irmos até o pé da montanha,
buscássemos rastros dos carneiros e
subíssemos pela trilha até o topo. Lá
em cima deveríamos olhar para o fim do
mundo, quando víssemos uma fumaça
negra, ela marcaria a direção da caverna,
que, quanto mais próximos chegássemos,
mais forte seria o cheiro de morte.
O grupo supôs que indo atrás do
bruxo poderiam obter respostas. Como
isso seria feito? Eu não sei. Dizem
que querem conversar. Não sei se eles
pensam que o bruxo simplesmente vai
começar a falar e responder. Obviamente
alguém que faz pactos para conseguir
poder vai pedir alguma coisa em troca
dessas informações. Ainda não entendi
como eles não repararam nisso. Só sei de
uma coisa: Rosamund nos alertou para
não o desafiar.
Aliás, falando sobre este grupo... bem,
a pequenina me parece um pouco me-
drosa, mas possui um bom coração.
Aparentemente é o tipo de pessoa que
não faria, voluntariamente, mal algum
para quem quer que seja. Percebo que ela
se sente um pouco só e tenta encontrar
o seu lugar no mundo. Sten é quem eu
mais conheço ali, não há tanto tempo,
diga-se de passagem, mas ele gosta de po-
lir o próprio ego quanto à sua aparência.
Bem, vaidade a parte, parece ser uma
pessoa justa, que gosta de organização
e acredita bastante em seu potencial.
Aparentemente gosta de mandar. Aliás,
parece que até arrumou um capacho:
Byork. Bem, ele amargura a perda
do “glorioso” exército que fazia parte.
Procura desesperadamente alguém para
servir e achou em Sten um novo capitão.
Byork é muito preocupado com normas
e leis, não parece uma pessoa que viva a
liberdade, sente a necessidade de seguir
normas, mesmo que estas sejam injustas.
Pelo menos em combate não parece ter
medo. Theon é um meio elfo cheio de si.
Sabe usar as palavras e se acha mais
esperto que os outros. Tenta sempre
sair das situações sem causar conflito,
meio que entrando no jogo dos outros
e tentando enganá-los. É muito bom
com seus instrumentos musicais, de fato,
mas não sei o que ele veio fazer no Norte,
talvez nem ele saiba. Não sei até que
ponto devo confiar nele ou não. Aliás,
ainda não sei em quem posso confiar ali.
Acredito que por hora, terei que confiar
apenas em Silvanus.
Bem, quanto a Timm, após Rosamund
dar a direção e a forma de encontrar o
lugar onde Austinerdan habita, o grupo
entrou em um debate sobre o cavalo
de Timm. Este era um cavalo treinado,
acostumado com batalhas, por isso não
fugiu enquanto combatíamos o meio ogro.
Estavam receosos entre deixar o cavalo
voltar para Timm. Isso poderia ter duas
implicações: a primeira é que deixaria
claro que derrotamos o capacho dele e
que agora temos provas contra ele. A
segunda poderia ser um sinal para não
mexer conosco. Não sabemos como isso
seria interpretado pelo falso clérigo, mas
no final das contas, pegamos tudo do
cavalo e o deixamos regressar pela trilha
para Timm. Uma coisa que me deixou
irritado foi o posicionamento de Byork
quanto a Vergadaim. Ele referiu-se a
ele como um falso deus. Como assim?!
O que Vergadaim tem a ver com isso.
Qual a culpa de seus seguidores? O
culpado é Timm que se diz seu clérigo,
mas pensa somente no lucro próprio e
em trapacear os demais. Não venero
Vergadaim, mas não gosto de desrespeito
a fé alheia, muito menos a minha.
Quando entramos na casa de Rosa-
mund, aconteceu uma coisa surpreen-
dente: a sela falou!!! Neste momento
percebi que não era necromancia. O
curioso é que ela guardava memórias até
de quando foi feita, aliás, dizia que não foi
feita, que nasceu. Isso é muito estranho,
não sei que tipo de magia é essa e se
é confiável. Mas a pouca informação
que conseguimos com a sela, por mais
bizarro que isso possa parecer, é que
Timm estava atrás de nós. O que já
sabíamos, pelos pergaminhos mal feitos
com nossos rostos que haviam no alforje,
assim como um mapa rabiscado para
a casa de Rosamund. Deixamos estes
objetos lá mesmo.
Uma coisa me deixou intrigado sobre o
grupo. Entendo o lado de Frida em querer
ajudar e resolver a situação da praga.
Mas quanto aos demais? O que queriam
com a cidade? Não é que não me importe
com aquele povo, ou que esteja confor-
tável com a estranha situação da vila ou
que não vá ajudar, mas o quão longe iria
por desconhecidos? Para resolver uma
situação que nem era problema deles,
em um lugar que os queriam ou mortos
ou expulsos. Seriam capazes de arriscar
suas vidas por desconhecidos? Por uma
causa? Pelo que acreditam? Por valores
de justiça, liberdade e bondade? Não
sei o que os move nem suas intenções.
Talvez seja por isso que os pássaros me
guiaram para cá desde que saí do seio da
Floresta Alta. Mas também me pergunto:
o que eu tenho com isso? Talvez eu
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 59
 descubra no caminho.
Apesar do meu receio em seguir rumo
ao bruxo, fui voto vencido. Resolvemos
seguir o caminho indicado por Rosa-
mund, caminho este muito complicado
de se trilhar e, que se não fossem pelas
bênçãos de Silvanus, fazendo com que
a natureza ali fosse menos agressiva,
alguns teriam morrido. Montanha acima
Theon desmaia, não aguenta o frio, a
caminhada e nem o ar rarefeito. Nós nos
machucamos, uns mais, outros menos,
mas chegamos relativamente bem, graças
a Silvanus. Carregamos o meio elfo fala-
dor e suas coisas pelo caminho. Era um
peso que não esperávamos ter, mas não
podíamos deixa-lo ali de forma alguma.
Seria o fim para ele, além de uma grande
maldade. Devido a situação de Theon,
resolvemos esperar e descansar um dia a
mais para que ele pudesse recobrar suas
forças e continuar a caminhada.
Ali na montanha, a visão da nascente e
do poente era bela. Visto das alturas,
o sol deitava-se e nascia pintando o
horizonte, tocando toda a natureza e
banhando com seus raios cada canto
de toda aquela vastidão. Quisera eu
neste momento ter a capacidade de me
transformar nas grandes águias e sobre-
voar toda aquela imensidão e sentir os
primeiros raios de sol tocarem minhas
plumas, enquanto deslizava sob o céu.
Já durante a descida, Byork e eu perce-
bemos um vulto, uma sobra enorme que
nos observada de tempos em tempos, fi-
camos atentos para que não sofrêssemos
um ataque surpresa ali nas montanhas.
Ao anoitecer, encontramos uma pequena
caverna e nos recolhemos para passar a
noite e nos proteger do frio. Fizemos uma
fogueira e dividimos em turnos de vigia.
Logo durante o primeiro turno, acor-
damos no susto com gritos de grandes
60 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
criaturas que adentraram a caverna e nos
atacaram. Era um ogro e um meio ogro.
O meio ogro atacou Byork e quase o ma-
tou, porém, ficou incapacitado no chão.
É o segundo combate que Byork cai sem
ao menos fazer algo no combate senão
apanhar. Não sei se ele é inexperiente
em combates, não sabe se posicionar o
qual o problema, mas penso que se todos
de seu exército eram como ele, não me
surpreendo que os Leões de Prata não
existam mais.
Sten tentou recuar para perto de nós,
na luz, e o ogro veio em sua direção
e também o derrubou com um golpe
poderoso. Assim que me pus em pé,
extraí a força e a vida do solo da mon-
tanha para curar Sten. A pequena Frida
tentou usar uma magia, mas esta não
causou muitas feridas na grande criatura.
Theon então usou suas palavras para
convencer aquelas criaturas a não nos
atacarem, falando que queria apenas
conversar com o chefe deles. Eles então
soltaram a informação de um pacto e
Theon disse faria um pacto também, a
fim de convencer as criaturas a não nos
matarem ali.
Naquele momento de tensão, o meio
ogro voltou-se para Byork e iria golpeá-lo
para mata-lo, mas, agindo no impulso,
intervi para pelo menos fazer com que
não o matasse e pudesse dar um fôlego
de vida enquanto pensássemos em algo.
Disse que Byork era um bom soldado e
que de alguma forma poderia ser útil. O
meio ogro resolveu então pegá-lo como
seu escravo após eu curá-lo.
Após isso, estamos sendo levados pelas
duas criaturas para o seu chefe. Não
sei quem é, mas possivelmente, com esta
história de pacto, seja o bruxo. Quero
ver como vamos sair desta situação.
Silvanus não me abandonará.

T HEON DE O LAMN
Vale do Cervo, Caverna Desconhecida
(1489)
Todos vivos? dou uma última olhada ao
redor, sim, aparentemente apenas alguns
apagados, mas vivos. ótimo primeira
parte ok, agora bora ver o que segue.
Após longa caminhada chegamos à
caverna, a tal caverna com a fumaça e
onde o provável necromante, pelo menos
assim o denominamos, se encontra, um
odor insuportável emana da entrada. Os
ogros carregam Byork no ombro e entram
como se não se importasse se estamos ou
não acompanhando-os, mas eles estão
com Byork, não temos opção a não
ser seguir. Sten carrega a pequenina
enquanto eu e Aydan o seguimos. Ainda
sofro bastante com esse clima, saudades
de tomar uma bebida boa no calor de
Águas Profundas, que lugar horrível para
se estar.
Um grande tapete de peles cobre a
entrada da caverna, adentro e vejo um
ambiente cheio de ossos e dentes de
animais, os ogros possuem um costume
muito estranho mesmo. Nota mental,
colocar essas descrições em meu diário
posteriormente para encaminhar para
Nova Olahm. Beleza vamos seguir o cami-
nho, ninguém ao meu lado, o que diabos
esse povo ta fazendo. Provavelmente o
druida com seu longo discurso sobre a
vida e a sensações do mundo empacou
porque viu uma pedra falante. Me deu
saudades do anão dos bolinhos nesse
momento, até pensei em comer o bolinho
de presente nesse momento, mas seria
imprudente da minha parte. Aliás, como
ele está nesse momento, haviam cruzes
sendo construídas para ele, a pequenina
e a mim lá na vila. Temos que acelerar.
Volto pela passagem e vejo o druida
novamente estático olhando uma pele
de animal como se nunca tivesse visto
uma. Ele me explica que são peles de
anões, e começa a divagar novamente
sobre o problema. Está no inferno abraça
o capeta amigo, e estamos literalmente
na boca do inferno, bora seguir e ver a
treta no fim do túnel. Consigo convence-
los a avançar, sem mim aqui esse grupo
ainda estaria na vila pensando no que
fazer. Novamente ele começa a contar
sobre os ossos e dentes que vi me falando
sobre o que se trata. Dessa vez eu
literalmente interrompo ele. Bora seguir,
não quero nem saber do que isso se trata,
por favor, foco. Nota mental, encontrar
novos membros, esse grupo anda devagar
quase parando. Tenho um certo apreço
pelo Leão, ele é bem honrado, e de certa
forma um carinho pela pequenina, não
sei o que é, mas acredito que ela vê a vida
de uma forma pura e tendo a cuidar dela
como se fosse uma irmã mais nova que
nunca tive.
Passamos por um grupo de anões
trabalhando acorrentados as pernas, por
livre e espontânea pressão sou selecio-
nado a conversar com eles. E então me
surpreende o fato de terem suas bocas
costuradas e línguas cortadas. Escravos
provavelmente, nada a ser tirado de
informação daqui. Seguimos e vemos
dois elfos derretendo peças de ouro em
uma fornalha. Novamente sou “indicado”
a conversar com eles, mas dessa vez
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 61
 eles não possuem nem correntes nem
costuras em suas bocas. Chego de forma
amigável para conversar com eles, um
deles se posiciona a frente e em poucas
palavras tenta me provar que esta ali por
que quer, e quer tomar o lugar daquele
que comanda a caverna. Pobre coitado,
largar as belezas das florestas para viver
sob uma montanha asquerosa e ainda se
considerar livre, é pior que a escravidão,
é se enganar. Volto de encontro ao grupo
sem muito a acrescentar de informação.
Olho Frida ainda sendo carregada por
Sten, e digo: - Sten, acorda a moça
aí, acho que ela já tem condições de
caminhar sozinha.
Ele assim o faz com seu dom, massa,
temos um curandeiro no grupo de fato,
agora começo a entender melhor cada um.
Vamos seguindo o corredor em direção
as próximas salas, até chegar ao salão
principal.
quero de volta.
Uma grande câmara com tudo que um
Primeiro negociar a vida do leão. Con-
mestre ogro pode querer se encontra a
versar vai e conversa vem e me vejo num
frente, trono de ferro? Check. Animais
dilema, entregar algo que amo em troca
mortos? Check. Local de sacrifícios?
dessa vida. Bem, é difícil, mas é um
Check. Criatura no trono com olhar
cara de coração puro. Não acho que
aterrorizante? Check. Amigo indefeso aos
esse negociador de tratos que falo com
pés do mestre das trevas? Check. Beleza,
diabos queria meu instrumento musical.
esse é o palco do show. Hora de atuar.
Acho que ele fala de algo mais sério. Olho
Respiro fundo, encarno o personagem e
para traz ninguém diz nada. Certo estão
é hora de agir.
comportados, mas agora uma ideia viria
Reverencio o astro da cena, como deve
bem a calhar. Como meu velho me dizia,
ser, olho para traz o grupo está calado.
um passo de cada vez. Bora lá, aceito
ótimo, ninguém para atrapalhar. Ele
esse trato aí, depois vou pensar em como
pede oferenda, oferece uma peça de ouro
resolver isso. Acordo com um negociador
e faço uma apresentação musical de
mediador do diabo dando algo que não
forma a agrada-lo. Ele aceita de certa
sei o que é, mas suspeito que seja um
forma, plateia exigente. Fazer o que, é o
ente querido, em troca de um humano de
que tem para hoje, já tive apresentações
bom coração que apenas luta pela justiça.
mais desastrosas que essa, lembro de
Check. Espero que não me arrependa
uma vez que alguém saiu sujo de tinta
disso. Uma mancha de S, provavelmente
e a briga comeu solta na taverna. Bons
Surtur, aparece em minha mão, como
tempos, ahhh Águas Profundas, como te
prova de selar o acordo. Isso não é nada

62 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

bom, pode ser um truque barato por
parte dele, ou de fato ele é esse mediador
de planos. Mantenho essa mancha em
segredo do grupo.
Passo dois, Timm. Bem bora lá mes-
tre das trevas o que tem a dizer de
Timm? Ele revela que Timm fez um
pacto com ele para que pudesse ter poder
para se tornar famoso no condado de
thandravsk. Também colocou no trato
que as benesses fossem tidas como do
seu Deus Vergadain. Mas não contou o
que seria colocado em troca. Era essa
a informação crucial que vim procurar.
Após muita conversar e pouca solução.
Consigo convencer o mediador, que se
denomina como Austinerdan, a nos dar
um dia de prazo para conversarmos. Ele
nos concede e ainda nos oferece cama,
comida e descanso garantidos. Agora vejo
porque alguns ficam por aqui, tem tudo, e
sem a discriminação do condado. Forma
estranha de pensar, mas faz sentido.
Vamos para um quarto reservado re-
gado a carne e queijo defumado e vinho.
É ótimo ver a pequenina comendo como
se não houvesse amanhã, já tinha ouvido
sobre a fome dos halflings, mas é a
primeira vez que tenho a oportunidade
de acompanhar um de perto. É um
acalanto após tantos sofrimentos que
passamos. O lugar é quente e de certa
forma aconchegante.
Aydan, não compreende minha atitude,
e vem com questionamentos infinitos
sobre ela. Tentando entender melhor
o porque de eu ter aceitado o pacto.
Bom na real nem eu sei ao certo. Mas
não poderia deixar o Byork sofrer nas
mãos dos ogros. Não depois que ele
me defendeu em praça pública, não
depois de eles terem me ajudado na
escalada das montanhas, não após eu
ter visto aqueles anões com suas bocas
costuradas. Nunca saberei ao certo sobre
o que me motivou a essa ação, mas quero
acreditar que tenha sido isso. Peço para
que eles não contem ao Leão sobre meu
pacto, não fiz isso para que ele tenha uma
divida comigo, menos ainda por caridade
exibicionista. Entendo o ponto do druida,
ele ainda não entende como é o mundo
de verdade. Viveu muito tempo no mato,
agora está conhecendo a civilização, e
ainda tem aquela parada que Rosamund
disse sobre ele ser um celestial, talvez
isso impacte na falta de empatia dele com
as pessoas. Mas isso é algo que acredito
que possa ajudá-lo a melhorar.
Muito papo em vão após isso, nova-
mente discussões infinitas e nenhuma
solução. Após algumas horas temos dois
planos:
A – Fazer um pacto com senhor das
trevas em troca da informação da contra-
parte do Timm.
B – Retornar a vila e confrontar Timm e
descobrir seus planos.
De certa forma um plano C, que seria
liberar o Leão para interrogar o Timm,
de uma forma menos convencional. Ele
é um soldado, sabe bem como extrair
informação de alguém.
Voltamos para sala do Austinerdan,
para tentar o plano A. ele sugere o pacto
com a contraproposta. “Ele nos contaria
sobre a parte ao qual Timm sofreria, e
ele teria o direito a decidir sobre a vida
dele”. Bem confuso isso de fato, muitas
nuances aí, mas acho que seria um bom
acordo. Aydan novamente não aceita.
E após longa discussão decidimos não
aceitar a proposta e partir. Voltamos para
o quarto novamente para pegar nossas
coisas e partir. Aviso ao grupo que vou
falar com o elfo e peço para ir sozinho.
Bom, bora lá, todo mundo tem seus
métodos né, eu disse para o Aydan que
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 63
 tenho meus métodos, mas que de forma
alguma eu seria um traidor. Mas ele não
queria aceitar o trato, e eu não queria
que ele agisse contra a vontade dele.
Então fiz o trato sozinho com o mestre
das trevas. E descobri a informação
que precisávamos. “Timm teria que
sacrificar sua esposa e com isso a vila
seria salva”. Quem diria que esse canalha
poderia amar alguém além dele mesmo.
Mas o fato de ele não ter cumprido o
trato mostra que ele realmente ama essa
pessoa. Interessante, talvez seja ali que
eu deva trabalhar. Agora as coisas estão
mais fáceis. Vamos direto para o condado
e eu resolvo isso em dois tempos.
VALE DO C ERVO , C ONDADO DE
T HANDRAVSK (1489)
Para variar, não vamos ao objetivo direto,
e damos uma passada na casa da bruxa,
para trocar ideia com ela. De fato, nem
quero entrar lá, ela causa arrepios, e
não é o tipo de pessoas que sabe manter
segredo. Afinal já soltou a língua falando
do druida e do próprio Timm. Fico do
lado de fora, eles entram, conversam
por minutos e saem correndo para vila.
Dizendo que a mesma está em risco.
ParTimmos então para vila.
Chegando ao centro, na praça, fico sem
chão. Minha promessa foi quebrada. O
anão está morto crucificado. Eu falhei.
Tinha prometido a ele que o salvaria, e
que daria um bom lugar para ele viver.
Mas dessa vez não fui rápido o suficiente.
Isso me quebra por dentro. E a partir dali
nada mais faz sentido.
Vamos a igreja do Timm para tentar
conversar, peço ao grupo que aguarde
enquanto eu e o Leão falamos com ele. O
grupo espera ao lado de fora. Algumas
pessoas do condado nos dão as boas
64 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
vindas clássicas deles, com pedras e
bostas arremessadas sobre mim e a pe-
quenina. Por sorte e devido seu tamanho,
ela se esquiva de tudo. Eu nem faço
questão de me mover. Apenas contenho
minha raiva e lembro dos tempos que
passei com meus parentes na floresta.
Não chegavam a ser tão baixos nos seus
preconceitos, eles eram mais afiados com
a palavra que com seus gestos. Dariam
uma aula de como machucar de fato
alguém para esses nortenhos simplórios.
Contenho-me, e entra na igreja. Timm
não se encontra, está na casa dele com
sua amada, informa uma servente da
igreja. Voltamos aos outros. Percebo que
Aydan está fora de si, muito furioso com
a situação toda. O anão aparentemente
mexeu bastante com ele. Torno a tentar
entender a situação, mas como sempre o
tempo urge e isso ficara para depois.
ParTimmos para casa do Timm, duas
horas de viagem. Um local digno de
quem rouba dos pobres para si mesmo.
Clássico. Ao adentrar os mais atentos
notam armadilhas com bestas apontando
a porteira. O grupo sendo útil, que
bom, nos evitou ferimentos. Uso um
truque simples para abrir a cancela e
ela ativar as armadilhas sem que nos
machuquemos, quem bom, eu sendo útil
para o grupo. Adentramos a casa.
O local é como uma casa assombrada,
com direito a gritos altos, odor forte, e
monstruosidades no caminho. Sinto falta
da caverna do ogro, era mais receptível.
A cena em si é chocante. Uma grande
aberração sugando ossos e Timm ao lado
dela passando a mão na sua cabeça e cho-
ramingando, claro, é a esposa dele. Ao
lado um armário segurando uma clava,
seu guarda costa, claro, não poderia estar
sozinho.
Ok, hora da atuação, começo a aquecer
a garganta e usar meu trunfo de uma vez, para meus companheiros, a pequenina
tomo a frente e antes que eu pudesse esboça ação, e os demais? Sten e Byork
falar qualquer coisa, o desgraçado se não se movem, prometeram que não
entrega completamente. Fala do sa- iam interferir pois tinha feito um acordo.
crifício, fala da morte da vila, fala do Nem tenho como questionar uma palavra
arrependimento, fala tudo, literalmente dada, faço isso tempo todo. Aydan? Nem
tudo. Merda. Merda de novo. O cara nem uma palha. Ok, belo grupo. Timm vai
para isso serve. Bora ver onde vai dar. embora ileso receber sua glória. A vila é
Respiro fundo e deixa a cena acontecer, salva e todos viverão felizes uma mentira.
vendo onde posso entrar. Aydan toma a Preciso ir embora desse lugar, alguém
frente e começa a negociar, acho que eu mais importante me espera em Águas
faria melhor que ele nessa situação, mas Profundas, e aqui só encontrei injustiça
a essa altura meu plano já estava fora e preconceito. Vou partir imediatamente.
de ação, de certa forma agradeço por ele Fico uns dois dias no máximo para
ter tomado a frente nessa. A proposta, me organizar e recebemos uma carta
sacrifique sua esposa e salve a vila, seja do regente nos parabenizando e com
o campeão da vila. ótimo, depois que ele um baú com uma recompensa farta.
sacrificar vemos de fato o que podemos Posteriormente Ágata nos diz saber a
fazer, penso eu. O leão fica indignado, verdade e para sermos pacientes que
quer a justiça sobre ele, mas não quer a verdade um dia virá tona. Nesse
dar o braço a torcer em nada. Sten volta mundinho aqui? Duvido muito, essa
a falar, mas nada muda, melhor ter ficado gente não vê a verdade nem se quiser.
calado. A pequena, apenas mostra sua Mas isso não é mais um problema meu.
indignação. É a primeira vez que a vejo Quero somente voltar para o calor do Sul
furiosa. Conversa de cá e conversa de e nunca mais voltar aqui. Obrigado por
lá, mas novamente uma longa discussão nada condado de Thandravsk.
sem resolver nada, precisamos ser mais
práticos.
No frigir das coisas, chegamos a um
acordo. Ele sacrificaria a esposa, salvaria
a vila e se consagraria o herói do condado.
ótimo, salvamos a vila e depois matamos
esse desgraçado. Sten e Byork veriam ele
receber seu julgamento, ele seria sagrado
com um mártir e salvador da vila, e
nós teríamos salvado a vila. Tudo certo,
vamos esperar agora o sacrifício.
Ele sacrifica a mulher, de certa forma
isso da até um pouco de dó, afinal
de conta esse cara realmente amava
essa mulher. Fim, ela está morta, um
som estrondoso de uma voz dizendo ser
Vergadain salva a vila e da os créditos a
Timm. ótimo, saco minha espada e olho

U MA VIDA PARA SER H ERÓI 65

 wargs à frente, baforando um vapor
S TEN W INDBORN quente saindo de suas bocas, logo atrás
surge um humano cavalgando um cavalo
Retorno ao Condado de Thandravsk,
e ao seu lado um Ogro enorme com um
Lá e de Volta
aríete. Eis que não acredito no que vejo,
Quando estava voltando ao Condado
quando escuto uma voz já conhecida.
de Thandravsk após os três meses que
- Ora Ora, não acredito que vocês
passamos afastados encontrei Byork na
retornaram? Era a voz de Timm.
trilha, conversamos um pouco sobre o
Fiquei impressionado ao escutar tais
tempo que ficamos ausentes nos nossos
palavras, olhei para Byork e me preparei
afazeres pessoais e, logo em seguida
para batalha, vou matá-lo agora, nem
apareceram Aydan Semente de Carvalho
que seja a úlTimma coisa que faço. Theon
e Theon de Olamn, como estava próximo
começou a conversar com Timm, mas
do anoitecer decidimos levantar acampa-
não escutei nenhuma palavra. Dou dois
mento. Byork e Aydan trouxeram para o
passos à frente e questiono Timm, sobre
norte mulas de cargas, fiquei preocupado,
o que ele realmente queria conosco. Sua
será que estes animais irão sobreviver ao
resposta foi clara, não queria que nós
frio do Norte?
voltássemos ao Condado, pois sabíamos
Passamos a noite no frio, mas prote-
a verdade. Olho para Byork novamente,
gidos estávamos mais bem equipados,
mas ele não esboça nenhuma reação.
aparentemente os companheiros apren-
Quando olho novamente para Timm ele
deram a como suportar melhor o clima do
começa a recuar, mas o enorme Ogro com
norte. Theon nos contou um pouco mais
o aríete assume a dianteira. Ficou claro
sobre o pai dele, de alguma forma achei
o que iria acontecer, tínhamos que matar
que ele estava diferente, mais introspec-
essa criatura para poder ir no encalço de
tivo do que antes, acabei comentando
Timm.
sobre isso com o Aydan. Talvez fosse
Enxergo algo atingir a perna do Ogro
impressão minha, mas não sei. Na
e percebo que ele começa a caminhar
verdade nem me recordo de quando nos
com um pouco de dificuldade. Theon
conhecemos foram tantas decisões ruins
tenta passar ao meu lado, mas o impeço
que tomamos, sem falar na praga que
e digo para ele ficar na retaguarda e
atingiu o Condado e as agressões as
nesse momento ele pega seu instrumento
quais ele e a pequeninha foram submeti-
musical e começa a tocar uma música.
dos. Tenho um apreço por essas pessoas
Aquela música mexeu com minha mente
já passamos por muito juntos, alguns
e corpo, senti minha espada mais leve
companheiros quase caíram em batalha e
e poderosa meus braços mais ágeis. Ao
mesmo assim continuamos juntos. Antes
meu lado esquerdo vejo Byork atirar uma
de dormir Theon tocou uma canção triste
lança em direção ao Ogro, mas ela cai
e cheia de lamentos.
logo na minha frente, pensei que ele devia
O dia amanheceu com uma nevasca
ter bebido demais a noite passada, pois
leve e uma névoa típica da época, fizemos
não vejo outro motivo para uma lança
o desjejum e antes de começarmos a
ser atirada ao chão daquela forma. En-
desmontar o acampamento Byork chama
quanto isso a criatura caminha em nossa
a nossa atenção para a trilha. Quando
direção e Aydan vai ao seu encontro mas,
a névoa começa a dissipar surgem dois

66 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

 sem sucesso, começo a questionar as
habilidades do Leão de Prata:
- Byork, que raios você está fazendo!
Grito para ele, que depois tenta se
posicionar atrás do Ogro. Do outro lado,
vejo Aydan passando pelas costas do
Ogro e grito novamente:
- Aydan, atrapalhe o Ogro, confunda-o
de alguma forma!
Aydan joga alguns gravetos no Ogro, os
quais começam a serpentear na criatura,
mas era tarde demais Ogro acerta o
aríete em Theon, como se ele quisesse
esmagá-lo. Sangue é jorrado, o Ogro
urra e olha em direção ao Theon com
seus olhos vermelhos de ódio e cuspindo
entre palavras inteligíveis. Uma coisa
é certa, Theon irá morrer, preciso fazer
algo rápido. Empurro Theon para trás
com o meu escudo, ele ficou bem ferido,
mas está vivo. Agora é a minha vez, vou
para logo à nossa frente. Esses meus
matar essa criatura e vingar o Theon,
companheiros ficaram malucos, querem
irei mostrar para aquele Timm maldito
enfrentar o Ogro em um combate corpo
que sou capaz de enfrentar qualquer
a corpo sem armadura ou escudos, irão
monstro que por ventura ele coloque na
morrer no primeiro golpe.
minha frente. Bato minha espada no meu
A única alternativa que me resta é me
escuto e grito a Helm, bato novamente,
posicionar à frente e chamar o combate
mas o barulho não é de metal, mas
para minha responsabilidade. Coloco
sim trovões! Abandono a minha posição
um pergaminho sob meu escudo, faço
de defesa, levanto a minha espada e
a prece ao grande e poderoso Helm para
salto para golpear o Ogro, com um golpe
que me proteja diante do perigo que se
certeiro. A espada já não é leve, seu peso
apresenta à minha frente. Em seguida
carrega o poder e a força dos trovões,
corro em direção ao Ogro e o ataco com
quando golpeio a criatura sinto a carne
minha espada, o golpe não foi tão preciso
dela sendo cortada como se eu estivesse
o quanto eu pensei. Olho ao meu lado e
cortando um bife macio de um carneiro.
Theon aparece, eu grito para ele recuar,
Minha espada é banhada de sangue, o
mas ele não obedece e tenta atacar o
Ogro urra de dor, e tenta levantar sua
Ogro, que começa a girar seu aríete,
cabeça para os céus como se quisesse
sob sua cabeça. Não acredito que ele
pedir perdão, ele deixa cair o aríete e
tentará acertar o Theon. Enquanto isso
cai de joelhos prostrado diante da minha
enxergo uma luz vindo pelas costas do
espada, uma poça de sangue começa
Ogro, escuto um urro e sinto cheiro de
a surgir, escuto outro urro da criatura,
carne queimada. Byork aparece ao meu
percebo que ele foi golpeado pelas costas
lado e tenta atacar o Ogro e novamente
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 67
 por Byork. Em seus olhos não há mais
vida, o chão que antes era branco, agora
se forma uma poça vermelha e fétida de
sangue de Ogro. Ele consegue soltar um
úlTimmo urro de dor e desespero o que
é abafado pelos trovões que emanam da
minha espada. A criatura está morta aos
meus pés. Me viro para o Theon:
- Você está bem? Deixe-me ajudá-lo
Theon.
Theon, levanta o braço com a palma
da mão aberta, não quer que eu chegue
perto.
Não precisa. Posso me virar sozinho,
Sten, paladino, só preciso descansar um
pouco.
Tento novamente ajudar, mas Theon
não aceita. Ao me virar para o restante do
grupo enxergo a pequenina e a Sra. Opel
e descubro que era ela que tinha atacado
o Ogro de longe, estava escondida e
acabou ajudando bastante no combate
contra a criatura. Tentamos nos atualizar
rapidamente sobre os assuntos da vila,
Frida comenta sobre uma nova praga que
começou a assolar novamente o Condado,
mas poucas pessoas sabem. Os morado-
res da vila passam a cultuar o Templo de
Vergadain e começaram a abandonar a
fé antiga, o poder e influência de Timm
agora é enorme, além disso Fryda nos
conta que o Duque a incumbiu de inves-
tigar sobre essa nova praga. Enquanto
isso Theon não quer ir para o Condado,
mas sim voltar à montanha em busca do
demônio. Me questiono qual o real motivo
dessa vontade. De qualquer o grupo opta
em ir para o Condado, Fryda insiste.
Ao chegar no Condado enxergamos um
enorme Templo para culto de Vergadain
e passamos em frente ao templo de
Marthammor Duim, aparentemente está
quase abandonado. Me lembro do anão,
Godfrei, faço uma breve referência e
68 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
relembro novamente das minhas falhas
em razão da omissão. Percebo que um
moleque acompanha a gente a uma breve
distância, questiono a Fryda quem seria
ela me responde que presta serviço ao
Sr. Rudek, me dirijo a criança para saber
o que ela deseja. Meio que escolhendo
as palavras, o moleque informa que o Sr.
Rudek deseja ter uma audiência comigo
em sua residência, com exceção dos
estrangeiros. Retorno aos demais grupos
e chamo o Aydan para me acompanhar.
Ao chegar na residência do Sr. Rudek,
me impressiona pela grandiosidade do
local, um jardim enorme somos bem
recebidos com dois servos. Eles nos
guiam até casarão, os servos nos recebem
com cuidados que não estou acostumado,
nossos casacos são guardados e nos
oferecem um vinho quente. O grande
salão é aquecido por gárgulas que foram
esculpidos em pedras ígneas. Um senhor
muito bem vestido aparece e com uma
voz baixa e me questiona o real motivo
de retornar ao condado. Tendo inventar
uma história, não sei qual o real motivo
da nossa visita. Rudek me confronta,
sabe que minto, decido então abrir o jogo
e, digo a verdade:
- Retornei ao condado para matar
Timm, ele é uma farsa um charlatão. Ele
é o causador da praga e de todas as dores
que este Condado passou, queremos
matá-lo.
Rudek, respira fundo e inicia:
- Aquele farsante há anos, com a
sua voz calma e jeito manso de ser,
seduziu uma bela donzela e a enganou.
Mesmo contra a vontade da família ela
se apaixonou por Timm. Quero oferecer
um acordo, quantos vocês querem para
acabar com a vida dele. Eu estou
disposto a lhes pagar mil peças de ouro
para quem o matá-lo. Desejo a minha
vingança.
Se matarmos o Timm, os seus pro-
blemas serão resolvidos bem como os
problemas do condado?
Sr. Rudek, pensa muito bem antes de
responder, aparentemente ele começa a
escolher as palavras. O que antes era
um diálogo sem meias-verdades, agora
sinto que ele omite algo. De fato o desejo
dele é a morte de Timm, mas talvez ele
tenha outras intenções quanto à morte de
Timm. Ele começa a ficar muito nervoso
quando Aydan o confronta. Pelo jeito
Aydan também percebe que ele começou
a mentir sobre algo. Não sinto mais
confiança nas palavras do Sr. Rudek:
- Sr. Rudek. Não irei aceitar o seu
dinheiro. Quando digo isso, os olhos
dele inflamam de raiva, ele joga a taça
de cobre incrustada de joias no chão e
diz algo que não consegui compreender,
apontando para a porta de saída, mas,
continuo:
- Mas, lhe digo uma coisa. Você terá a
sua vingança. Irei matar Timm, essa é a
minha palavra. Reverencio o Sr. Rudek,
afinal de contas ele é um conde. Olho
para o Aydan e viro as costas.
Aydan propõe um outro acordo e ofe-
rece a sua vida caso ele não mate o
Timm. Reconheço que não gostei desse
acordo, achei muito imprudente da parte
de Aydan, tínhamos combinado de não
fazer nenhum acordo em nome do grupo
de forma impensada. Aydan me disse
que não o fez em nome do grupo, mas
em seu nome. De todo modo eu garanti a
Aydan que Timm seria morto pela minha
espada. Aydan pediu discrição quando a
esse acordo e eu dei a minha palavra.
Retornamos a casa da Sra. Opel narro
o acontecido aos demais companheiros
e Byork não gostou do fato de eu ter
rejeitado a proposta do Conde Rudek,
pois ele poderia financiar o objetivo dele
de reestruturar o exército dos Leões de
Prata. Theon também não, argumentou
que nós já temos como um dos objetivos
acabar com a vida de Timm, receber por
isso seria um bônus que não prejudicaria
em nada a nossa missão.
Entendo a visão dos meus companhei-
ros e não espero que todos concordem
com meus atos. Não faria um acordo
com alguém que não transmita confiança,
como terei a certeza de que não seria
enganado ou pior, fizesse algo para preju-
dicar terceiro sem que eu saiba. Jamais
faria um acordo desse. Prefiro declinar de
uma missão desse tipo do que manchar
a minha honra ou descumprir a minha
palavra. Encontrarei outros tesouros
maiores do que o oferecido pelo Conde
Rudek.
O pior estava por vir. Fryda comentou
que um dos seus caçadores ao se dirigir
ao Armazém, encontrou a sra. Arlev e
confirmou que a esposa de Timm estava
viva no jardim e inclusive conversou com
a mesma. Levei um susto! Será que
Timm realizou um novo pacto? Ou foi
tudo uma encenação!? Com a esposa
de Timm, tudo muda. Aydan levanta
a hipótese de ter sido o Conde Rudek.
Discordo de Aydan veementemente.
Theon não vê relevância em tudo isso,
para ele o problema tem origem no Ogro-
Bruxo. Byork também tem essa mesma
impressão, enquanto isso o grupo começa
a discutir sobre tudo o que fizemos. Entre
uma e outra discussão, Fryda afirma que
um dos caçadores dela viu um homem
com as características do pai de Theon
se dirigindo a Taverna Corvo Reluzente.
Particularmente discordo de tudo isso.
Fryda relembra o grupo do quanto a
taverna pode ser perigoso para os estran-
geiros, inclusive ela. Com tudo isso, não
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 69
 posso deixar Theon ir até a taverna, não
nessas condições, certamente ele seria
morto apenas por adentrar à taverna.
Impeço Theon de sair e combinamos de
ir até Taverna, eu, Byork e Aydan.
Na taverna apenas perdemos tempo,
Byork tenta obter alguma informação,
mas não tem sucesso para Byork o dono
da taverna mente descaradamente, na
minha opinião Byork não está nos seus
melhores momentos. Tira conclusões
equivocadas de conversas claramente
pontuadas, para ele precisamos retornar
até o Ogro-Bruxo e tentar obter novas
informações. Tento convencer o restante
do grupo para ir até o Templo de Verga-
dain e encontrar Timm. Aydan começa a
demonstrar preocupação com as ações de
Theon, para ele Theon pode fazer algo que
colocaria sua vida em perigo, principal-
mente em razão do desaparecimento do
seu pai. Aydan concorda comigo, Theon
não está raciocinando direito.
Passamos no Templo de Vergadain é
uma estrutura enorme e diversas pessoas
movimentam o lugar. Mais ao fundo
tapumes impedem a passagem, em um
lance de estupidez tento criar uma cena
para que Aydan tente adentrar ainda
mais ao templo, mas sou infeliz na minha
ação. Byork fica zangado, me resta
pedir desculpas. Retornamos a casa da
Sra. Opel, sem nenhuma informação
relevante. Aydan decide retornar ao
templo sozinho. Frida sai para conversar
com a Sra. Arlev e Byork se dirige ao
templo do deus antigo Aman. Depois de
algum tempo os companheiros retornam,
Dentre todas as informações recebidas as
mais relevantes se referem a de que todo
o templo de Vergadain já foi finalizado,
mas uma criatura gigante protege alguma
coisa dentro do templo. O clérigo do
templo do deus antigo Aman aparente-
70 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
mente foi amaldiçoado com uma nova
praga. E a informação mais relevante
de todas é a de que a esposa de Timm
está viva e aparentemente toda aquela
conversa do Sr. Rudek de busca de
vingança na verdade é apenas uma forma
de garantir que Timm não suba ao posto
de Conde do Condado. Eu tinha razão,
Rudek escondia algo embora eu sinta
desprezo pelo Timm, agi corretamente
em não aceitar o acordo com o Rudek.
O grupo começa a ficar nervoso, des-
cubro que a maioria aprova a ideia de
Theon de se dirigir ao Ogro-Bruxo nas
montanhas. Há uma grande discussão
no grupo sobre o real motivo de termos
voltado para o Condado que afinal de
contas diz respeito à carta de Theon
por causa do desaparecimento do pai
dele. Contudo em razão da descoberta
de que há um negócio escravagista na
região gerenciado pelo proprietário da
Taverna Corvo Reluzente, começamos a
acreditar que o pai dele foi negociado de
alguma forma. Decidimos então esperar
o anoitecer e se dirigir à taverna corvo
reluzente.
Anoitece e se dirigirmos à dita taverna,
contudo ao chegarmos no local espera-
mos até o úlTimmo cliente e por incrível
que pareça o úlTimmo a sair da taverna
era um gigante o qual estava completa-
mente bêbado. Ele aponta para o grupo
e começa a ameaçar o grupo completa-
mente bêbado. Aydan diz que era essa
criatura que estava protegendo o templo
de Vergadain. Byork diz que é uma
boa hora matarmos o gigante. Discordo
veementemente. Fryda, Theon e Aydan
concordam com Byork. Questiono Byork
sobre sua honra, não vejo honra alguma
em combater um adversário que não tem
nenhuma condição de lutar. Pergunto a
ele se é assim que ele o vê como líder dos
Leões de Prata. Byork é um guerreiro
que teme a morte. Ele passou por muita
F RIDA F URA -O LHO
coisa viu seus companheiros de batalha
Já tinha acontecido tanta coisa naquela
serem dizimados. Mas, mesmo assim isso
noite, mas nunca imaginei que termi-
não justifica. Tento convencer o restante
naria como terminou. Não tinha o
do grupo, falho. Então não participo
que fazer a não ser entrar no templo.
da covardia. O grupo sai e adentro na
Lá dentro o batistério estava arrastado
taverna.
para o lado e de baixo dele uma escada
Me encho de raiva quero esmurrar o
surgia. Percebemos que ali havia um
proprietário da taverna, para resolver
cheiro de óleo, e olhando melhor, um
logo essa questão. Olho para o pro-
sistema de iluminação “automático” feito
prietário não é um simples nortista é
com canaletas cheias que óleo que ao
um guerreiro que viveu muitos invernos
ser acendido com fogo iluminaria todo
e lutou muitas guerras. Vejo diversos
o espaço. Achei melhor seguirmos com
escudos e espadas penduradas na parede
tochas normais, não sei o que mais isso
e penso bem: será uma péssima ideia,
poderia acionar.
ele ainda é muito forte e tem muita
Assim que terminamos de descer as
experiência.
escadas demos de cara com um outro
- Estamos fechados! Diz o proprietário.
jovem gigante. Paro para pensar por-
Não quero muito papo. E já ofereço
que um humano que se diz sacerdote
algumas peças de ouro pela informação
de um deus anão tem tantos gigantes
dos escravos que são negociados por ele,
trabalhando para ele.
em especial um sulista. Ele nega. Mas,
Theon tentou até conversar e persuadir
não quero papo, digo que sei que ele
o gigante, mas não funcionou muito bem.
negocia e tenho interesse. Ele não me
Eu gosto de como ele tenta evitar comba-
garante nada, mas diz que em alguns
tes. Por outro lado, eu não sei usar armas
dias trará alguma informação sobre o
muito bem, nem gosto também, mas
pedi.
minhas magias nem sempre acontecem
Saio da taverna e me dirijo ao Templo
como eu espero ou como das vezes ante-
ao chegar no local não vejo o gigante, mas
riores, por isso receio fazer alguma coisa
vejo sangue. Abaixo a cabeça e passo
quando estou próxima demais de outras
pelo grupo sem dizer uma palavra. Sei
pessoas, eu sabia que não teríamos como
que eles mataram o jovem gigante, não
passar por esse gigante sem um combate,
precisam me contar nada e nem quero
mas preferi tentar me esconder e deixar
escutar uma palavra deles. Adentro ao
por conta dos meus amigos, eles são
templo e vejo que o batistério foi movido
grandes e cheios de armaduras, um só
me dirijo até o local e encontro uma
inimigo não seria muito difícil, mesmo
escada em espiral, começo a descer e o
assim segurando a respiração tentei me
grupo aparece logo atrás.
proteger ainda mais com minha energia
mágica e dessa vez vários bichinhos
cobriram meu corpo, foi meio incômodo,
faziam cócegas por se rastejarem sobre
mim, alguns emaranharam no me meu
cabelo e ficaram debaixo da minha roupa,
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 71
 percebi que meus amigos acharam isso
estranho, não parei pra explicar, nem sei
se conseguiria, mas como previ o gigante
foi derrotado.
Essa primeira sala não era muito
grande, tinha cortinas cobrindo as pa-
redes, um lugar para se lavar e trocar de
roupas, tinham várias túnicas pendura-
das nas paredes, óbvio que qualquer uma
ficava muito grande para mim.
A próxima sala que entramos era mais
ou menos o dobro do tamanho do ante-
rior, mas ali havia um grande baú, na
forma de uma cabeça de dragão, com
um tubo de ferro que vinha do teto,
entendemos que ali era onde as moedas
doadas pelas pessoas para o templo
iam parar vindo do andar superior, foi
meio tentador pegar algumas delas, mas
Theon percebeu que haviam armadilhas
ali, achamos melhor continuar, carregar
aquilo por não sei quanto tempo não seria
fácil, dali podíamos ver uma outra porta e
um corredor. Preferimos entrar na porta
porque o caminho correto parecia o cor-
redor, mas se houvesse alguém naquela
sala ela poderia nos pegar desprevenidos
pela retaguarda.
Essa parecia ser a decisão correta,
mas infelizmente foi um erro. Essa sala
parecia um quarto para gigantes, com
várias camas gigantes, e um deles estava
ali, falava sem parar, esses gigantes
falam demais, não houve como fugir
desse combate também. Theon percebeu
que o gigante possuía um bracelete com o
símbolo de sua escola (Nova Olamn), acho
que isso acendeu alguma coisa dentro
dele, no entanto esse combate foi mortal
para ele. Nunca achei que perderia um
amigo assim. Mas matamos o gigante,
peguei o bracelete e enxuguei as lágrimas,
aquilo não ficaria assim, estou de saco
cheio desse Timm jogando praga, usando
72 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
e matando pessoas, destruindo a vila
toda, as pessoas que eu amo.
Deixamos o corpo dele envolto em uma
das túnicas na sala anterior, fora do
caminho de alguém que pudesse encon-
trar facilmente e continuamos o caminho,
aquilo tinha que ter um fim. Depois
daquele corredor chegamos em uma sala
que parecia uma biblioteca, prateleiras
com livros e objetos e um meio-ogro que a
limpava acompanhado de um worg, mais
um combate, mas esse meio-ogro parecia
só um serviçal mesmo, infelizmente ele
estava no nosso caminho, ainda mais
acompanhado de um animal tão mau.
Pela primeira vez vi Aydan se transfor-
mar num lobo, isso parece fantástico e
talvez menos perigoso do que eu costumo
fazer, infelizmente o máximo que eu me
transformei foi uma ovelha, e mesmo
assim, foi sem querer.
Nessa sala tinha uma mesa com um
mecanismo de chaves, felizmente escolhi
a chave certa e a movimentei no sentido
correto, a armadilha que estava ligada
ali foi desativada e a próxima porta foi
aberta. Enfim, encontramos ali o que
estávamos procurando, Timm acompa-
nhado de seus capachos e de outra
criatura fedorenta, envolta em moscas
e vermes. Assumi a posição de negociar
com ele, mesmo querendo explodir ele
em uma bola de fogo, não contei o que
havia acontecido com Theon, mas não
sou boa nisso, involuntariamente meus
olhos piscam de forma acelerada e eu
não sei escolher as palavras muito bem.
No final ele ofereceu uma poção, dizendo
que era para dá-la a Theon, e disse que se
matarmos Rudhek e trouxermos a filha
dele de volta para Timm (sua esposa) ele
libertaria o pai de Theon. Eu não soube
o que fazer, o mais importante naquele
momento era trazer Theon de volta, pois
estávamos ali, juntos novamente, para
salvar o pai dele e aquele bracelete era
uma pista de que ele deveria estar por
perto.
Respirei fundo, aceitei a poção e volta-
mos até onde tínhamos deixado o corpo
dele. E felizmente ele voltou assim que
dei o conteúdo da poção. Tentei explicar
rapidamente para ele o que havia aconte-
cido e então retornamos para encontrar
Timm novamente. Dessa vez ele não
estava mais na mesma sala, mas em
outra bem maior. Ao entrar encontramos
novamente Timm com seus capangas
e aquela criatura disforme e fedorenta.
Dessa vez Theon assumiu a conversa e
no final pediu 2 dias de tempo para tomar
uma decisão acerca da proposta feita por
Timm e ele aceitou.
Voltamos para casa para descansar
e pensar um pouco mais sobre o que
faríamos agora. Infelizmente percebi que
dessa vez Sra. Opel foi atingida pela
praga, ela está com febre e tossindo
muito, ela tem só alguns dias de vida se
não resolvermos essa nova praga, dessa
vez provocada por Rudhek.
Aproveitei para pedir os meus caça-
dores que me trouxessem informações
sobre o paradeiro da filha do Rudhek
e do pai de Theon. Quanto à filha do
Rudhek, me avisaram que ela está sã e
salva na casa do pai, mas nesse processo
um dos meus caçadores foi morto por
Rudhek. Quanto ao pai de Theon não tive
muitas informações das quais ainda não
sabíamos, ele está em uma das fazendas
de Timm, mantido em cativeiro.
Aydan comentou que na úlTimma vez
que foi até a casa dos Rudhek fez um
acordo que mataria Timm, ou então
pagaria com a própria vida. Não entendi
muito bem o que ele sairia ganhando com
essa promessa, seria algo sobre a vila não
sofrer mais com pragas e ser respeitosa
com criaturas de raças diferentes, não sei
o quanto de poder ele teria para garantir
isso, mas que ele quer ser o novo conde
não é novidade.
Eu pensei num plano com o qual
conseguiríamos resolver as duas coisas
ao mesmo tempo, Timm e Rudhek. Falei
para Aydan e Sten voltar a conversar com
Rudhek propondo que, de alguma forma,
forjaríamos a morte dele e levaríamos
a filha dele até Timm, abrindo assim a
guarda dele, quando então mataríamos
Timm. Por outro lado, depois mataríamos
Rudhek para assim acabar com a nova
praga.
Infelizmente a conversa com Rudhek
não foi tão proveitosa quanto imaginei
que seria. Está difícil decidir então o que
vamos fazer: Por um lado, se matarmos
Timm, o pai de Theon morre e a vida
de Aydan está salva, mas a Sra. Opel e
as outras pessoas da vila vão continuar
sofrendo e morrendo com a praga. Se
matarmos Ruhdek, o pai de Theon será
liberto, Aydan será condenado, mas a
Sra. Opel e toda a vila será poupada da
praga que será extinta.
É claro que nem um nem outro são
boas pessoas, mas, infelizmente, nessa
situação, considerando que a Sra. Opel
é minha nova família e que me reuni
novamente com esse grupo pelo pedido de
Theon, mesmo ele dizendo que já fizemos
a nossa parte e que estamos liberados
do pedido, não há outra escolha para
mim que não seja, acabar primeiro com
Rudhek.
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 73
 um poço da lua a um dia e meio de
T HEON DE O LAMN viagem da casa de Rosamund, e que
nesse poço podemos encontrar a salvação
Vale do Cervo, Casa da Frida (1489)
para a vida de Aydan. Interessante penso
Até que aqui é um lugar aconchegante,
eu, agora temos uma alternativa que não
uma casa onde vive uma pequenina e
estava disposta a mesa. Decidimos em
uma senhora, numa vila ao extremo
grupo a partir para a casa de Rosamund
norte, com um frio de doer os ossos.
para pegar mais informações do local.
Sinto falta, muita falta do sul, do calor
Chegando a casa de Rosamund ja
na pele ao acordar, do som das águas
me perco novamente em pensamentos,
batendo no rochedo, e das tavernas. Ah
eu gosto dessa casa, ela é intrigante e
como sinto saudades de entrar numa
mágica, duas coisas que aprecio. Quando
taverna e tomar uma boa cerveja e ouvir
avistamos a casa algo vejo algo que
histórias de viajantes enquanto alguns
parece história dos bêbados da taverna,
resolvem se engalfinhar por besteiras.
realmente ninguém acreditaria em mim
Quantas vezes fiquei ao final para ajudar
seu eu não tivesse testemunhas comigo.
a recolher os bêbados, quando eu não era
Um fogão vem em disparada contra nós
um desses, e os copos sujos das mesas.
com a tampa do forno balançando irri-
- Theon? Você está nos ouvindo?
tadamente com um objetivo apenas, nos
Sou interrompido pela voz aguda da
devorar. Não o suficiente em cima dele,
pequenina tentando me trazer de volta
um bule fervendo gritando:
a realidade enquanto eu me perdia nos
- Maaaateeee toooodooss! Eles têm que
meus devaneios.
nos devolver a madame riso!
- Sim, claro que estou, é sobre essa
Sim caro leitor, um fogão e um bule
questão mesmo que eu estava aqui a
tenta nos matar, ok, é o que temos para
pensar. Acho que temos que decidir logo,
hoje. Tento é claro impedir esse combate
pois o tempo urge.
desnecessário, aviso a Frida para se
E voltamos a reunião de qual será
esconder nos arbustos e quando tiver
nosso próximo passo. Se vamos atrás
oportunidade ir de encontro a casa pro-
de Rodhek ou Timm. É claro o que
curar a Rosamund para que ela impeça
devo fazer, mas quando a vida de um
que "quebremos"seus móveis.
amigo também está em jogo, não posso
Apesar de tanto tentar o dialogo o
decidir nada que inclua o destino dele.
combate é inevitável e lutamos por algum
Assim sendo declaro meu apoio a Aydan.
tempo contra esses objetos animados. O
Quando somos surpreendidos por um
Fogão bafora o calor do seu forno e é
pequeno pássaro de cores belas aden-
bem efetivo, mas estamos ao final por
trando a casa, e para nossa surpresa se
vencer a batalha. Quando a porta da
tornando uma bela mulher. Dou aquela
casa pede para que parem, Frida havia
ajeitada na roupa, no cabelo e me preparo
chegado a casa e conseguido acalmar
para falar, quando ela se direciona ao
as coisas por lá. Bem, meu plano
druida chamando o de divindade, esco-
deu certo, novamente, mas não posso
lhido e blá blá blá. Maldito selvagem,
tirar o mérito da pequenina, ela está
não sei o que as mulheres veem nesses
aprendendo rápido comigo, ainda precisa
dreads e odor de terra.
lapidar um pouco, mas está aprendendo.
Ela se chama Rouxinol e conta sobre

74 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

 Enquanto todos adentram a casa, en-
contro alguns rastros na estrada a frente
da casa, um humanoide a cavalo. Dentro
da casa eles nos dizem que um grupo
a cavalo levou a madame riso e que
eles fugiram a menos de três horas.
Sempre atrasados penso eu. Apesar das
informações não baterem imagino que ou
seja alguma euforia deles, ou uma magia
de ilusão. ParTimmos para resgatar a
Rosamund.
Sigo os rastros através de um caminho
que adentra a floresta, mas o dia se passa
mais rápido e devido à ausência do sol
aqui eles são mais curtos, o que nos leva
a necessidade de um descanso forçado,
mas de fato precisávamos. Aquele velho
esquema de ronda noturna e enquanto
estou a descansar sou acordado em
meio um combate com um meio ogro
e um meio gigante, um deles montado
na vassoura mágica da Madame Riso,
chamado vassorito. Outro combate árduo
e tenso, mas que obtemos sucesso.
Ao final com os inimigos caídos, o
vassorito nos explica que saiu em busca
da madame a certa distância, mas ele foi
surpreendido por essas criaturas em uma
emboscada e acabou sendo prisioneiro
deles. Frida fica com vassorito pois ela
tinha mais afinidade a ele que o restante
do grupo. Voltamos a nosso descanso e
parTimmos pela manhã cedo. Ainda na
madrugada lembro-me do velho e o que
ele pode estar passando nesse momento.
“Vou conseguir sua liberdade velho, não
importa a que custo, eu irei te buscar”.
Durante a manhã vejo uma fumaça
ao longe, em direção ao nosso caminho.
Isso nos dá um guia mais preciso, mas
também um temor de que possa ser tarde
demais. Aceleramos o passo para não
chegarmos tarde demais.
Chegamos enfim a entrada de uma
caverna de onde a fumaça vem, o druida
se aproxima, para checar, e ele ouve a
Rosamund conversando com uma cria-
tura, ele não é tão furtivo quanto pensa e
isso revela nossa presença. Sem muitas
delongas para conversa ou quaisquer
coisas do tipo, nosso oponente se posta
para fora da caverna e nos desafia. Esse
combate é o mais acirrado de todos,
o inimigo possui muitas arTimmanhas,
mas ao final obtemos êxito, acredito que
nosso grupo está aprendendo a trabalhar
juntos, mas ainda existem notas foras
nessa canção, requer mais ensaio, mas a
apresentação em si foi satisfatória, longe
de um espetáculo, mas foi um bom show.
Resgatamos a madame riso e voltamos
para casa dela.
Ela nos conta histórias do início de
tudo. Ao qual sabemos que o inimigo
buscava uma arma que é capaz de ferir
Rodhek. Provavelmente ele trabalha pra
Timm. Mas não devemos ir atrás dessa
arma ainda pois ela é guardada por uma
criatura mística que toma a posse do
corpo de outras pessoas e vive a sua vida,
um desafio ao qual ainda não estamos
aptos a superar. Devemos seguir para o
local do poço da lua para libertar Aydan
do ritual. Esse é nosso objetivo, nossa
sina, e assim sendo teremos de cumprir.
Antes a qualquer coisa, precisamos con-
versar, ensaiar, nos organizar para que
esse ato não seja em vão, afinal, é para
isso que estamos aqui, para sermos as
estrelas dessa grande peça desenhada
pelos deuses.
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 75
 da montanha não estão fazendo bem ao
B YORK L EÃO DE P RATA Theon, ele discuti comigo me chamando
de surdo e avisa que vai averiguar a
Depois de tudo que aconteceu de estra-
situação do lado de fora da caverna,
nho estamos em uma nova missão para
aviso a ele que isso tem cara e cheiro
salvar o Aydan, começamos a subir a
de armadilha, após fechar minha boca eu
montanha essa manhã olho para o Theon
começo a escutar choro e lamurias com
e imagino o quanto ele deve estar feliz em
um adendo, uivos de lobos no conjunto
subir de novo essa montanha.
de sons, penso nesse momento que al-
No começo da subida noto algo es-
guém não muito sortudo está prestes a
tranho em Frida, ela está carregando
virar comida de lobo.
um novo objeto em seu cordão, um
Acordo os outros e falo do ocorrido,
bebe xicara que avisa que tem a grande
e minha consciência diz que o certo a
capacidade de 30 ml, imagino que deve
fazer e tentar ajudar essa pobre alma
ser um dos utensílios maravilhosos de
que chora e clama pela vida. Corremos
Rosamont que quis se aventurar junto do
para ajudar e não muito longe avistamos
nosso exército.
em um nível abaixo do caminho que
Como imaginei Theon está receoso
serpenteia a montanha uma criatura
em subir a montanha, todos olharam
aparentemente do tamanho da Frida,
e aconselharam Theon ir no Vassourito
porém com uma cabeça avantajada em
(a vassoura voadora), porém lendário
relação ao seu corpo se segurando em
orgulho besta da parte élfica de Theon
um tronco seco como pode para não virar
fez valer no momento e ele não quis ir
o jantar de 3 lobos.
com Frida no Vassourito, acho que vamos
Sten prontamente amarrar uma corda
carrega-lo mais uma vez no braço...
na cintura e pede para segura a corda,
Subimos o dia inteiro e chegamos a
pois o mesmo irar descer e salvar a cria-
uma caverna para passar a noite, e por
tura, nesse exato momento vejo o quanto
milagres de Tyr, Theon não caiu estou
eu e Sten estávamos sendo idiotas, pois
muito orgulhoso dele aposto que vai virar
Frida voando com toda destreza no Vas-
um guerreiro com os meus treinamentos.
sourito acaba de salvar o cabeçudinho
Theon ficou fica com o primeiro turno
sem o mínimo de dificuldade.
de vigília, vou dormi calmo confio na
Voltamos para a caverna com esse novo
capacidade de todos do exército dos Leões
ser, e quando tudo fica calmo Vassourito
de Prata e Theon é o Grão-Bardo dos
compara o tamanho da cabeça de ser com
Leões, acho que uma hora ou outra,
os pés de Frida, acho essa comparação
todos vão assinar o contrato dos Leões de
um tanto rude, porém uma vassoura
Prata porém certeza que o ultimo será o
voadora que fala tem um humor um
Aydan o antissocial.
quanto peculiar as vezes.
Estava começando a sonhar com ninfas
O novo pequenino diz seu nome
me dando uvas e mel fresco, porém o
e fala que um Gnomo, não presto a
maluco do Theon me acorda com a cara
atenção nome inteiro do Gnomo apenas
de assustado, logo pensei que seriamos
no primeiro nome que é Sante, acho
atacados, entretanto Theon diz que está
engraçado da maneira que fala e pelo
ouvindo choros e lamurias, não ouço
tamanho da cabeça com seus cabelos
nada, nesse momento acho que os ares

76 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

vermelhos daria um ótimo Bufão para o
Leões, será que os Leões estão deixando
de ser um exército para virar um Circo,
não... não! Porém começo a ouvir a
história de Sante de como foi para aqui
no Norte através de um Portal.
Sante Salvini lendo o contrato dos Leões
de Prata.
Não vejo perigo em Sante, apenas
vejo que ele é mais um dos incontáveis
azarados que tiveram a infelicidade de
acabar aqui no Norte. E como não vi
maldade nele seria uma óTimma ter mais
um novo integrante nos Leões de Prata,
tomara que ele não morra tão cedo.
Chego próximo de Sante e ofereço o
contrato de serviço para participar do
Leões de Prata, Aydan fica puto e nesse
momento vem tirar satisfação comigo,
resmungando que nem conhecemos di-
reito o gnomo e já estou colocando no
exército, não dei a mínima para o res-
mungo de Aydan pois lembrei de um dos
grandes ensinamentos de Rolo que dizia
o seguinte “Jovem você é responsável por
toda vida que você salva”. Sante ler o
contrato e assina e depois ouço que o
mesmo e seguidor de Mystra, não muito
familiarizado com divindade, porém o
nomeio Sir Erudito Sargento Leão.
Conseguimos descansar pouco e após
o café da manhã continuamos a subir a
montanha com um novo companheiro, a
subida foi tranquila até o sol está a pino
no céu quando o grupo avistou troncos
de árvores obstruindo a estrada, olhei
para o Sten e comentei que tem cara de
ser uma armadilha.
Frida e Sante voando no Vassourito
foram observar a frente a situação do ca-
minho, os dois voltaram com a seguintes
informações: Aparentemente tem mais de
16 bois almiscarados, existe um grande
círculo após os troncos e nesse círculo a
neve tem um jeito diferente do restante
do caminho com a aparência de ser mais
nova. Frida diz ainda que tem 3 lagartos
quadrupedes se preparando para atacar
os bois, acho eu que essa armadilha é
para os bois os lagartos devem está com
fome.
Eu, Aydan e Theon atravessamos a
muralha de troncos que obstruía o ca-
minho, Sten não atravessou não sei o
porquê disso, porém Aydan foi verificar a
situação dessa neve a frente, ele foi até
onde Frida e Sante estavam planando,
nesse exato momento me distrai com
ambiente e me enganei achando que o
Aydan tinha me chamado.
Quando cheguei ao lado de Aydan um
barulho estranho e o chão começou a
tremer, Aydan e Eu pulamos para a
encosta e seguramos, olhei para baixo e vi
a burrice que fiz, um grande buraco tinha
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 77
 se aberto no chão também vi a cara do
Aydan. Ele estava me crucificando com
os olhos pela cagada que fiz, esse tipo de
coisa acontece até nos melhores exércitos
e outra estou nessa viagem por causa do
pacto que ele fez em Thrandasvk então
estamos empatados, mas devo pedir des-
culpas mesmo assim se sobrevivermos e
claro.
Olho para cima e vejo 2 lagartos, a
armadilha era para gente mesmo, eu e
Aydan pulamos para baixo e uma peleja
começa com Sten, Theon e os 2 lagartos,
olho para Aydan e tenho certeza que
ele não se atentou ainda que os Bois
Almiscarados vão nos pisotear, e estamos
ferrados imaginei, olho para cima e vejo
um raio vermelho indo em direção aos
Bois almiscarados, acho que Frida salvou
a minha pele e a de Aydan.
Olho para Aydan segurando um dos
lagartos para não cair no foço, que merda
ele está fazendo penso eu, porém Aydan
deve ter uma boa razão para isso.
Sten e Theon vencem o combate sem
muitos problemas, após o feito fui pedi
desculpas e retiro um dos lagartos que
caiu encima do Aydan, porém algo me
chama a atenção e Aydan fica resmun-
gando, eu falo que achei algo no chão
e depois ajudo ele, após pegar uma
algibeira no chão eu tiro o lagarto e vejo
a cara do Aydan de poucos amigos.
Após que o ânimo da batalha acabou,
eu olho a algibeira e vejo um anel estra-
nho, mostro para todos o anel, Aydan
78 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
analisa diz que esse anel parece ser o
de um grande herói antigo que concede-
ria uma habilidade especial para quem
usa-se, olhei e pensei em colocá-lo no
momento porém acho que se desse algo
errado com isso minha cota de burrice
no dia já tinha acabado acho melhor não
colocar o anel até presente momento.
Sten pediu o anel e no momento de
impulsividade coloca o anel no dedo,
nunca achei que o Sten agiria de forma
tão imprudente, porém não aconteceu
nada de ruim, exceto que as pernas dele
estão estranhas, Sten tira o anel e as
pernas dele voltam ao normal.
Continuamos a caminhada até chegar
em um lugar chamado a vastidão de
gelo, aonde só vejo uma planície de gelo
que vai até onde minha visão alcança,
aparentemente não existe caminho nesse
ermo gelado, paramos e Aydan começa
a fazer um ritual para achar o caminho
correto para o Poço da Lua.
Ele terminar e fala que quem confia em
Silvanus deve seguir atrás dele pisando
aonde ele pisa, eu não sou muito religioso
igual Sten ou o Aydan e mesmo seguindo
Tyr acho que Silvanus não seja um Deus
ou uma Deusa má por isso pela justiça,
honra e confiança seguirei o Aydan de
perto.
Sten não gostou muito do ritual para
um deus diferente do dele então e ficou
acompanhando grupo por úlTimmo. Ca-
minhamos por muito o tempo até o meio-
dia, mesmo o sol estando a pino o frio
continua forte, Aydan para e faz de novo
o ritual a Silvanus, e de novo vou atrás do
Aydan, ele pode ser um cara antissocial
as vezes e achando superior aos outros
em algumas ocasiões que me dá muita
vontade dá um murro na cara dele igual
a que tenho de dá na cara do Theon pelo
jeito suicida dele, porém como o resto
considero-o como amigo e como membro
honorário dos Leões de Prata até que ele
assine o contrato e se torne um membro
pleno vou seguir e proteger ele como faço
com os outros.
Continuamos a caminhar e sinto que
o gelo está rachando de baixo dos meus
pés, não fico com medo porque confio
a minha vida nas habilidades de Aydan,
até o momento que avisto o que parecer
ser um verme, este pula no gelo saltando
de um lado para o outro, olho para o
grupo e vejo que a galera está um pouco
apreensiva, menos Frida e Sante que
estão voando no Vassourito.
Continuamos a caminhada por mais
1 hora e o bicho lá ao longe continua
saltando de um lado para outro, até o
gelo começa a quebra e aparece um desse
vermes pulam do gelo atrás da gente,
por sorte já estamos chegando nas áreas
rochosas, porém o gelo quebra e Sten
está em encima de um pedaço que se
desprendeu indo em direção ao monstro,
fui o mais rápido possível pegar a corda
para ajudar o Sten e de novo Frida com o
Vassourito voando resgatam Sten e todos
nós ficamos a salvo nas rochas.
E nossa jornada continua até o mo-
mento que avisto um anão ao longe com
um elmo peculiar para não falar estranho,
Aydan aparentemente reconhece esse
anão e o grupo aproxima-se do acampa-
mento com 3 tendas e uma fogueira ao
centro.
O anão se apresenta a todos como
Bartrin Hellkral do enclave esmeralda,
adendo pelo meu pouco conhecimento
achava que não existia Druidas Anões, e
com sua típica de anão Bartrin explica
que está escavando um túnel até um
templo chamado Rotun-Shûl, pois lá
existe um Poço da Lua que ajudará o
nosso amigo Aydan.
Me prontifico a ajudar na escavação,
porém Bartrin pergunta se sou capaz
conjurar algum tipo de magia de fogo
ou calor, expliquei que tenho orgulho de
pelo menos saber ler e escrever imagina
conjurar magia.
Frida e o novato Sante sabem conjurar
magia e foram ajudar nas escavações
junto com Bartrin, nesse momento Sten
me explica que Rotun-Shûl é um templo
antigo feito pelos deuses dos gigantes e
que...
Não consegui presta atenção na expli-
cação de Sten, pois avistei 4 silhuetas
estranhas no horizonte e aparentemente
Aydan também os viu, Aydan enxergou
melhor do que eu distinguindo os 4 meio-
ogros no horizonte e que eles estavam
observando a gente naquele lugar, fiquei
apreensivo pois 4 meio-ogros dariam
muito trabalho em caso de uma batalha,
situação que temi pela vida todos os
meus companheiros.
Nós 4 ficamos de guarda até o final
da tarde imaginando que ocorreria um
ataque no meio da noite, porém 3 dos
Meio-Ogros foram embora e o que restou
veio até a gente, aparentemente não
demonstrando perigo.
O Meio-Ogro chega e começa a fa-
lar, não consigo entender nada do que
sai daquela boca grande, mas parece
que Aydan sabe falar a língua de Ogro,
imagino como o Aydan aprendeu essa
língua, e Theon começa a cantar e tocar
também, alguma magia de bardo talvez
um acalmar pessoas, será, ouvir falar
que bardos conseguem fazer a pessoas
dormirem com suas músicas para depois
levarem suas algibeiras, não duvido que
Theon já fez isso hahaha.
Parece que o Meio-ogro ficou entretido
com Theon, se o Meio-Ogro dormi vamos
prendê-lo com certeza, entretanto isso
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 79
 não acontece e Aydan traduz o que o
Meio-Ogro fala. Pelo que consta na
tradução de Aydan nós estamos blasfe-
mando um lugar sagrado para cultura
dos gigantes e dos ogros estando ali,
ele aparentemente acha que nós somos
comerciantes e que existe um vilarejo a
2 horas de viagem dali caso estejamos
perdidos, acho eu que ele não sabe que
estamos cavando fundo para entrar no
templo.
Aydan e Theon conseguem enrolar
o Meio-Ogro dando tempo para Sten
chamar Frida e Sante, ocorre que a
paciência desse Meio-Ogro acaba e ele
dá um ultimato, para gente sair de lá
agora, caso não, ele usar a força gente
sair.
Infelizmente o Meio-Ogro está certo
estamos blasfemando o lugar, porém o
Aydan precisa do poço da lua e nós
lutaremos pelo poço, me posiciono a
frente de todos morrendo de medo, porém
como Rolo já havia me dito a muito tempo
“Todo comandante deve ir à frente de seu
exército em uma batalha, pois Tyr não
acha horando comandantes usarem seus
comandados como escudo”.
Mesmo que causa do Meio-Ogro seja
justa conseguimos vencer o combate,
Theon queria executar o Meio-Ogro, eu
também queria não minto, porém Sten foi
honrado não deixou o Meio-Ogro morre e
assim fizemos um prisioneiro.
Aydan consegue tirar algumas informa-
ções antes que o Meio-Ogro desmaie de
cansaço, no qual resultado foram, que
aquele lugar é de domino de um gigante
chamado Ogri-Foi ele não deixaria essa
situação impune, acho eu que devemos
cavar isso em no máximo 4 horas e ir
embora. De acordo Theon, Ogri-Foi é o
maior de todos os gigantes e que ele teria
expulsado os Orcs daquela região, Aydan
80 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
avisa que o nosso grande amigo Timm faz
negócios com o pessoal da região.
Fomos para o interior da caverna aonde
estava o anão Bartrin, ele informou o que
eu não gostaria de ter ouvido que, que a
escavação no mínimo demoraria 2 dias
para chegar no templo de Rotun-Shûl e
temos apenas 4 horas.
Passou se 30 minutos até alguém ter
a brilhante ideia fingimos que fomos
embora, queimando as tendas e forjando
pegadas de que fomos embora daquele
local, Sante informou que é capaz de
conjurar uma ilusão na porta da caverna
no qual parece está fechado com pedras
na entrada.
Nada ocorreu por 4 dias, sendo que o
anão Bartrin errou em 2 dias o tempo
para escavar tudo, 3 dias até o templo e
mais 1 dia para escavar a porta do grande
templo de Rotun-Shûl, acho que estamos
com sorte.
O Templo de Rotun-Shûl existe um lago
milenar adornado com presas de dragão e
sendo iluminado o local por uma chama
de cor purpura, local muito bonito por
sinal. Bartrin vem com uma péssima
notícia, que para ativar o lago da lua é
necessários 3 dias de ritual, acho que
o Meio-Ogro estava de lorota para gente
não matar ele.
No momento que acabei de pensar
nisso o Vassourito aparece dizendo que
temos problemas na entrada, acho que
Tyr está me punido por essa arrogância
de hoje.
A situação começou a ficar estranha,
Theon sobe junto com Frida e Sante,
aparentemente estão ganhando tempo
com alguma coisa, pois todo o local
começa a tremer. Fica decididos que
eu, Sten e Aydan estaríamos de trás dos
pilares para atacar qualquer coisa tente
parar o ritual no poço da lua.
 Não sei quanto tempo se passou, porém
não foi muito, Sante e Frida voltam e
avisam que Theon está conversando com
uma gigante e ela está descendo junto
com, nesse momento penso se Theon é
burro ou suicida, tomará que não morra.
Sante tenta fazer mais uma de suas
ilusões na porta do templo, porém o
Templo de Rotun-Shûl e grande demais
para que a ilusão funcionasse, então
outros ficam escondidos e em menos de
20 segundos Theon chega acompanhado
de uma gigante.
Sinto que Theon está em perigo, a
gigante se diz filha de Ogri-Foe, sendo
assim uma princesa, porém está agindo
de uma maneira o quanto estranha, pois
parece está mais interessado em saber
o que estamos fazendo do nos expulsa
daquele lugar sagrado.
Ela observa os druidas fazendo o ritual
no poço da lua, e diz que existem duas
situações para utilização de um poço da
lua, uma cura alguém e a outra contatar
uma entidade divina, e como parece
queremos contatar uma entidade divina,
ao que parece para gigante queremos
contatar uma divindade que ocasionará
o consumo de toda energia do lugar.
Nesse momento imaginei que ela iria
atacar tanto Theon como os druidas no
ritual, entretanto não foi o que aconteceu,
ela queria negociar.
E perguntou a Theon se ele estava
sozinho, eu apareci e outros também
apareceram com exceção e claro de Frida,
a gigante ficou furiosa principalmente
comigo me xingou de um nome que eu
não sei o que significa, porém começou a
conversa tanto com Theon e Aydan.
Eu querendo fazer uma média pergun-
tei o nome da gigante, que me respondeu
Yarton sem dá importância para minha,
pensei que nome estranho para uma
gigante, parece ser um nome masculino.
A conversa continua e a gigante Yar-
ton, propõem uma trato extremamente
estranho, dizendo ela que odeia 2 coisas
no mundo, o pai Ogri-Foe e nosso velho
conhecido o Warlock e que se quisermos
usar o poço da lua deveríamos matar o gi-
gante Ogri-Foe para ela seja a nova “Jarl”
da região, caso aceitássemos isso seria
mais um pacto para conta do grupo, ela
fica falando de uma história de uma raça
chamada de bois humanoides chamada
de “Yak” que tinham a capacidade de
possuir o corpo de outro ser, informação
estranha.
A gigante insiste que deve negociar
apenas com Theon sozinhos, e que Theon
deveria ser a garantia caso ataquemos na
surdina, porém muito estranho acontece,
Aydan pergunta o nome da gigante e
a mesma responde Silver-Foi, porém, o
nome que ela tinha me dito era Yarton.
Aydan e o resto do grupo desmascara
o Yak que tomou o corpo de Silver-Foe...
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 81
 se perturbar com as insinuazioni de
S ANTE S ALVINI Aydan e continua sua conversazione com
Theon expondo seus motivi. Percebo que
Inicio essas notas após me recompor dos
estamos em um impasse se deixaremos
eventi do dia de hoje. Foi um dia teso.
que Silverfoe assista ao rituale. Não vejo
Em vários momenti me questionei se
problema nenhum nisso, mas parece que
davvero fiz a escolha certa em abandonar
isso é muito importante para todos os
meu lar. Agora tenho que lidar com
outros. A conversazione finda em uma
essas decisões e andare avanti. Nem
ameaça de Silverfoe e sua posterior saída
conseguiria voltar mesmo. Não tenho
da câmara onde estamos. Ela nos dá
mais direito de escolha.
uma hora para conversarmos e decidir
Aquele que um dia ler essas anotações
nosso destino. Theon solicita que eu
deve prima voltar comigo no tempo al-
marque esse tempo. Sou um orologio
guns dias atrás. Se bem que nem sei
agora? Solícito, desenho uma ampulheta
mais que dia é hoje; já perdi nozione
no chão de areia da câmara; cubro então
disso. Estamos reunidos nas grotte onde
esse desenho com mais areia. Ao revirar
fica o Tempio dos Gigantes de Rotun-
esse pequeno monte, uma ampulheta de
Shûl. Precisamente às margens de um
verdade se materializa. Sinto confiança
Pozzo Lunare. Li pouca coisa sobre
de que minhas habilidades aprimoram
eles mas sei que são territórios onde a
dia a dia. Minha nonna estaria orgo-
magia flui com força. Estou ansioso por
gliosa... Enquanto a ampulheta marca
confirmar isso...
nosso tempo, Frida volta para juntos
A gigante que diz ser Silverfoe in-
de nós trazida por Theon. Inicia então
siste em assistir ao rituale que já está
um fervoroso debate sobre nossas ações
sendo realizado pelos druidas conhecidos
futuras. Pactos e omicidi são colocados
de Aydan, também druida que conheci
em pauta. Não concordo com nada disso,
recentemente; humano extremamente
mas quem daria ouvidos a um piccolo
desconfiado. Parece não gostar de mim.
como eu? A ampulheta desaparece
Não faço muita questão de conhece-
marcando que nossa hora de delibera-
lo melhor sendo assim. Theon, outro
ções findou. Fica então decidido que
humano, é o oposto de Aydan no quesito
Silverfoe poderá assistir ao rituale... Na
simpatia. Gosto muito de conversar com
realidade estávamos com poucas opções.
ele. Conversamos sobre os mais variados
Silverfoe retorna acompanhada por um
assuntos, mas a magia, graças a Mystra,
guarda costas quase tão grande quanto
é nosso assunto preferido.
ela. Espero que ninguém pense que
Enfim, vejo que Theon e Aydan argu-
podemos vence-los em um combate...
mentam com Silverfoe sobre essa curio-
Rituale já em andamento, apenas aju-
sita dela em assistir ao rituale e sua auto-
damos a seguir com o processo. Aydan
rização em permitir que ele seja realizado.
é despido totalmente de suas roupas
Aydan cita no meio da conversazione,
e amarrado pelos pulsos a dois grandi
totalmente fora do contexto, habilidades
ossos que parecem muito com dentes...
de uma outra raça noto alcuni Iaques.
Não consigo imaginar bestia desse porte...
Iaques são seres bufalinos bípedes que
um dragone talvez...
costumam possuir outros corpos. Se-
Os outros druidas ao redor entram
res pericoloso. Silverfoe não parece

82 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

em espécie de trance. Aydan revira os
olhos e do meio de seu peito emerge um
falco translúcido que sobrevoa o local
do rituale. Enquanto sobrevoa, uma
nebbia segue seu camino no ar como a
coda di uno cometa conectando todos os
druidas em trance que passam a levitare.
Fico maravilhado ao ver essa scena...
Una voce potente reverbera pela câmara
ecoando pelos corridori:
- É CHEGADA A HORA DE ABANDO-
NAR TODOS OS VÍCIOS CARNAIS. É
CHEGADA A HORA DE RESTAURAR SIL-
VANUS. DEIXEM A MESQUINHEZ PARA
TRÁS. CONQUISTEN A LIBERDADE. EN-
TREGUEM SUAS VIDAS NAS MÃOS DE
VERDADEIROS AMIGOS. QUE VOCÊS
SEJAM A LUZ NA ESCURIDÃO!
Assim que a voz silencia, os druidas
começam a vomitar compulsivamente.
De seus vômitos levanta uma nebbia
negra que se movimenta para os fundos
da caverna e se materializa em seres
monstruosos. Seres pequenos, bípedes,
sem membros superiores, mas com uma
grande boca cheia de dentes serrilhados.
Eles então rosnam e grunhem focados
nos druidas que os criaram iniciando
combate!
Byork e Sten adiantam-se empu-
nhando suas espadas e colocando-se em
posizione de defesa entre os druidas e os
monstros. Byork brada:
- Leões de Prata! Preparem-se!
Enquanto isso vejo Frida alçando voo
com Vassorito, assim ficando fora do
alcance dos dentes afiados. De seus
dedos parte uma pequena lâmina de gelo
que estilhaça em um dos monstros sem
sucesso.
Vendo a cena desenrolando penso que
poderia eliminar alguns daqueles mons-
tros para que o combate finde mais
rápido e assim poupando o sangue de
meus companheiros. Empunho os anti-
gos focos arcanos de minha nonna, um
em cada mão. Executo os movimentos
ensinados por ela com precisão e fios da
Trama começam a se prender em minhas
agulhas. Miro bem no meio dos quatro
monstros cochichando:
- Assonnato...
Uma nuvem de areia levanta do chão
da câmara e envolve os quatro seres.
Dois deles tombam já roncando tomados
pelo sono arcano de Mystra.
Durante a realização de meu incanto
vejo Theon colocando-se ao lado de Sten
já que ao mesmo tempo um dos monstros
parte em direção a ele. Theon desfere
um golpe certeiro no ser que sangra um
liquido espesso, negro e grita de forma
assustadora. Mais enraivecido ainda
o ser ataca Byork com ferocidade que
defende-se com maestria. Outro dos
monstros também tenta abocanhar Byork
que esquiva-se novamente mantendo-se
ileso... por enquanto... Byork aproveita o
momento e golpeia com força acertando
novamente o monstro que já estava fe-
rido. Ele mantem-se de pé. Maledetto!
Nesse instante Frida voa para fora do
meu campo de visão e ouço sua voz
conjurando algo. Uma seta negra passa
do meu lado! Logo antes de atingir o alvo
ela se inflama irrompendo em chamas
e atingindo novamente o monstro ferido.
Ainda vivo! Sten finalmente resolve agir,
mas seu ataque é ineficaz. Apesar de
acertar o alvo sua espada escorrega pelo
limo que cobre o ser, sem causar dano.
Na intenção de economizar forças,
conjuro um dos primeiros truques que
aprendi:
- Freccia di fuoco!
Quase acerto meus companheiros a
frente. Preciso apurar mais minha mira...
Theon golpeia novamente fazendo o
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 83
 na próxima vez... Sten parte para o
úlTimmo monstro sobrevivente atingindo
em cheio. Por fim, meu raio de fogo
encerra o combate...
Assim que sterminiamo todos aqueles
piccoli demoni um rumore vindo do pozzo
chama nossa atenzione. Todos viram
em direcione a ele preparados para dar
continuidade ao combate. Vemos então
uma árvore frondosa emergindo do meio
do pozzo. Quando está completamente
formada, um pequeno galho se destaca
dela e continua crescendo até tocar no
solo como se fosse formar uma segunda
árvore. Esse galho, então, se desprende
da árvore-madre e começa a assumir um
formato humanoide. O caule se fende
monstro sangrar mais um pouco en-
ao meio formando pernas; acima vemos
quanto os dois seres mantem-se focados
mais galhos brotando do caule central
em Byork. Um deles abocanha sua perna
e formando os braços; seu topo começa
e prende-se nela. Byork vê-se em situa-
a crescer formando uma cabeça e dela
ção desfavorável, solta sua grande espada
partem ramos e vinhas simulando os
no chão e saca sua adaga, enfiando-a
cabelos. Esse piccolo ser, parecendo um
no crânio do monstro. De trás de mim
primo distante do Vassorito, começa a en-
ouço voz calma de Frida e um jato de
corpar e crescer até que finalmente temos
ácido parte na direção dos monstros. Um
à nossa frente a representação de um
deles cai em meio à fumaça de sua carne
humano, mas de proporção gigantesca
queimando.
em armatura de carvalho. Entendem a
Sten ataca ferozmente o monstro que
diferença entre um gigante e um humano
ainda está de pé partindo-o no meio. Sem
gigantesco? Só vendo para entender...
perder tempo segue em direção aos mons-
Esse ser fala olhando fixamente para
tros que dormem na intenção de eliminá-
Aydan e reconhecemos sua voz:
los antes que acordem com todo esse
- POR QUÊ INVOCA TEU PAI?
barulho. Flagro troca de olhares entre
- Preciso ser libertado de um pacto... -
Theon e Silverfoe... não tiro conclusões...
Diz Aydan, com esforço.
Nosso líder, ainda recuperando-se da
- ESSE É TEU DESEJO FINAL? AO
forte mordida do monstro, escorrega e cai
INVÉS DISSO TE OFEREÇO ANTES UMA
no sangue negro que polui o chão. Fre-
ESCOLHA... QUER VER-SE LIVRE DO
neticamente, como um verdadeiro mago
PACTO OU PREFERE VER LIVRE DO
de guerra, Frida conjura flechas de fogo
CÁRCERE O FAMILIAR DE PROTEGIDO
em direção aos monstros que roncam.
TEU?
Uma delas chega no alvo calcinando-
A fala de Aydan a seguir se perde em
o. O cheiro de carne queimada está
meio ao rumore das águas do pozzo e
em toda parte. Gostei dessa magia.
o pouco que consigo ouvir, não entendo
Preciso prestar atenção nos movimentos

84 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

para poder transcrever aqui...
- ESTÁ DECIDIDO! TEU DESEJO ESTÁ
REALIZADO! LEMBRE-SE QUE ESTAS
TERRAS ESTÃO EM DESARMONIA. TUA
OBRIGAÇÃO É RESTAURAR O EQUILI-
BRIO EM MEU NOME! – Diz o humano
divino que cada vez mais acredito ser
o próprio Silvanus! Estamos frente a
frente da personificação de um DEUS!
Quem no mundo pode contar que um
dia presenciou isso?! Chego então à
conclusão de que talvez Aydan tenha se
livrado de um pacto para firmar outro...
Pelo menos é com seu deus...
Aquele que eu suspeito que seja Silva-
nus vai em direção a Theon dizendo:
- ACALME TEU CORAÇÃO. TEU PAI
ESTÁ SEGURO EM SUA CASA.
Assim que termina essa frase, sua
representação humana se solidifica e
passa a ser apenas uma belíssima statua
às bordas do pozzo. Os druidas deveriam
reivindicar esse local pois um verda-
deiro miracolo aconteceu aqui. Nisso os
druidas saem do trance caindo ao chão
desacordados. Silverfoe quebra o silenzio
dizendo:
- Sejam gratos por eu ter permitido
que realizassem o ritual da mesma forma
que sou grata por terem entendido minha
necessidade em presencia-lo. Agora parto
com a certeza do que tenho que fazer.
Theon é o primeiro a perceber que
talvez Aydan precise de ajuda. Vai até
ele desamarrando-o. Tenta dar-lhe água
e alguma comida que são rejeitados pelo
druida semi-consciente.
Silverfoe mantém-se soberana, presun-
çosa; sempre deixando nas entrelinhas
que dependemos dela. Ela cita uma arma
que seria útil aos meus companheiros
para derrotar um rivale deles. A seguir,
abandona o tempio dizendo que retorna-
ria à citta próxima.
Após acalmarmos os nervos, digerimos
toda a informacione recebida nesses úl-
Timmos acontecimenti. Parece que o pai
de Theon estava prigioniero e “Silvanus”
o libertou à pedido de Aydan. Todos
comentam e destilam ódio contra um tal
de Timmm, algum vilão tirano potente e
que apenas a “arma” de Silverfoe pode
derrota-lo. Aydan, então, corrige essa
suposicione e revela que poderíamos
derrotar Timmm sem a “arma” mas te-
ríamos problema com o ogro-bruxo que
acompanha o tal Timmm.
- Ainda não temos capacidade de
destruí-lo... Ele é forte demais para nós...
– Diz aquele que se nomeou líder dos
Leones...
Aydan, agora com mais conviccione
ainda:
- Silvanus nos protegerá!
Os druidas começm a recobrar consci-
ência e admiram, maravilhados, a está-
tua de madeira representando Silvanus.
Conversam entre si tentando entender
tudo que aconteceu e o desfecho do ritu-
ale. Anão druida parece extremamente
insatisfeito ao saber que a finalidade do
rituale não foi inteiramente cumprida...
Aydan permanece preso ao pacto... Ay-
dan agradece com muita calma toda a
ajuda que prestaram.
- Quando o quarto olho for aberto,
toda a verdade se revelará. – diz o
anão. Todos se transformam em aquile
e voam para superfície. Uma revelacione
surpreendente é feita nesse momento:
pelo que entendi, Aydan é um avatar de
Silvanus! Isso não pode estar certo...
Curioso em ver como está a Trama
agora, sento no chão cruzando as pernas,
abro meu libro e empunho meus focos.
Com um movimento de punho um fio da
Trama se enrosca em uma das agulhas.
Passo por cima do pescoço e início o
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 85
 tricotar da Trama que restou nesse local
sagrado e anteriormente banhado pelo
poder de Mystra... Vejo com pesar que
resta muito pouco desse poder... O pozzo
secou realmente...
Caminho para Northgard
ParTimmos do tempio tendo decidido
que Timmm deve morrer mesmo sabendo
que o acesso a ele seria um grande
desafio. Em meio a tudo isso, Theon
finalmente sucumbe ao pessimismo e
começa a reclamar do frio com ênfase.
Devemos encontrar uma taverna o mais
rápido possível. Nunca tinha visto Theon
desse jeito...
No camino para citta outro rivale deles
é citado: Rhudek. Parece que fizeram
muitas inimizades nesse pouco tempo
juntos. Encontramos Silverfoe e se-
guimos com ela. Caminhamos afasta-
dos de Silverfoe mantendo conversacione
discreta. Aydan, sem motivo nenhum,
ameaça seus companheiros de morte! Diz
em ser traído por algum de nós! Onde
ele estava nesse tempo todo? Não viu o
que todos nós fizemos por ele? Até eu
que nem o conheço direito e nem tenho
sua simpatia fiz minha parte! Os deuses
devem estar loucos mesmo... Cada vez
mais aumenta minha antipatia por esse
druida ingrato...
Silverfoe nos interrompe e dita seus
termos. Iremos com ela e sob suas or-
dens. Seremos apresentados como seus
servos perante todos na citta. Garante
que conseguirá audiência com Ogrefoe
onde entregaremos a ele a localizacione
do tempio que acabamos de profanar...
Claro que sem dizer essa parte... Toda a
glória que conquistarmos será em nome
de Silverfoe. Só aí, ela nos colocará
frente a frente com Timmm. Ela comenta
também que o tesouro de seu “pai” é
vasto e que se algum de nós o desafiar
86 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
poderia escolher algo dele. Existe a opci-
one também de roubar o que quisermos e
ela nos ajudaria. A infanzia dessa gigante
não deve ter sido das melhores para odiar
tanto seu “pai” ...
Assim que consigo opportunita, con-
verso com Theon a fim de entender o
emeranhado de histórias entre eles e
Timmm. Theon cita una citta chamada
Thandravsk onde tutto parece ter come-
çado. Ouço então, comentários coraggi-
oso sobre o desafio...
- Eu conseguiria – diz Byork.
- Eu o derrotaria – entoa Sten... os dois
competem para ver qual Leone ronrona
mais alto... De minha parte não quero
saber de desafios; mas estarei lá para
assistir!
Cerca de 2 horas depois alcançamos
as muralhas da citta dos gigantes, toda
em madeira. A montanha protege seus
flancos. NORTHGARD é chamada. Até
para os parâmetros de meus companhei-
ros, tudo parece imenso. Nos dirigimos
rapidamente, seguindo Silverfoe, até uma
taverna. Uma placa de madeira sobre
a porta com o desenho de uma ampu-
lheta quebrada revela seu nome: Relógio
Parado. Silverfoe, sem mais delongas
solicita discricione e parte para ver seu
“amado” padre.
Byork, Sten e Theon, sem perda de
tempo, procuram algum atendente e
após uma calorosa discussione sobre
o tamanho da caneca que iriam usar,
começam a bebedeira. Optaram por uma
caneca do tamanho de um barril... O
cardápio do local é inusitado; enguias,
vitela, cogumelos de cores estranhas;
mas Frida não se perturba e pede um
pouco de quase tutto.
Essa pequena tem apetite! Ao olhar
ao redor, não me sinto confortável; elfos
negros estão entre os fregueses, nos
olhando com certo interesse. Em um
canto, alguns homens dedilham notas
em seus instrumentos musicais. Theon
retira o seu de sua bagagem e começa
a acompanha-los. Nessa hora, aqueles
que bebiam já davam sinais do efeito do
álcool...
Aydan, com sua simpatia de costume,
olha ao redor observando seus compa-
nheiros e faz cara de reprovacione. Dessa
vez concordo com Aydan, mas o restante
está em clima de festa. Parece que
querem esquecer o que lhes espera.... Em
algum momento durante nossa conversa
lembramos de um detalhe importante....
Tínhamos um prigioniero nas cavernas.
Estava bem amarrado e escondido atrás
de algumas pedras. Esquecemos ele lá!
Por Mystra e Azuth! Nem sob orientaci-
one de Garl Glittergold eu pregaria uma
peça dessas em alguém! O remorso passa
logo após mais alguns goles... Os deuses
dele, sejam quais forem, o preservarão...
ou o receberão de braços abertos...
Bebo birra também.... Sendo assim
começo a ficar mais à vontade e sentindo-
me mais seguro. De repente sou atacado!
Alguém me pega pelo colarinho e sou
mergulhado em um barril de birra! No
intervalo desses mergulhos ouço risadas
e percebo quem é o fanfarrão que lidera
tudo: nosso líder! O Leone D’argento
Byork! Aquele que restaurará onore e
glória dos Leones! Acreditam!? Não es-
perava atitude assim de nenhum deles....
Enfim, que Tyr.... Quem ele diz seguir,
julgue seus atos..., mas onore, naquele
momento, não teve... disso tenho certeza!
Graças a Mystra que minha bagagem
estava no chão ou tutto poderia ter sido
destruído. Meu libro de incantesimi
estaria acabado. Preciso fazer uma cópia
urgente! Sendo assim, e percebendo que
ali não era mais meu lugar, decido buscar
um quarto onde possa fazer essa cópia.
Parece que percebendo meu mal-estar
em participar daquele momento, Frida
e Sten me convidam para conhecer a
citta e tentar encontrar artigos úteis para
nossa jornada... Saio da companhia de
meu “líder” satisfeito. Estou pensando
seriamente em abandonar esses Leones.
Atitudes assim não são honradas.
Saímos então perambulando pela citta.
Somos observados constantemente. In-
clusive percebemos estar sendo seguidos
desde saída da taverna. Mantemo-nos
alertas. Alcançamos construcione que
chama nossa atencione: edificacione
grandiosa de portas imensas. Sten diz
ser um quartel ou posto de guarda. De
dentro, brados de guerra confirmam a
suspeita. O símbolo ou emblema osten-
tado na grande porta não me é strano.
Após algum tempo, consigo recordar
sua história e compartilho com meus
companheiros. É a insígnia dos Escudos
da Tempesta ou Lâminas de Gelo. Nor-
malmente trabalham como oficiais dos
gigantes de gelo, mas também tem alguns
trabalhos ilegais no submundo ou no
Subterrâneo Negro ligado ao escravismo.
Lembro-me vagamente de ter lido alguma
relacione com Zhentarins mas não afirmo
certeza. Boato de que costumam treinar
seus escravos com habilidades de escrita
e leitura de forma que serão capazes de
ler documentos oficiais de seus futuros
proprietários; sendo assim saberão de
muitos segredos escondidos deles e isso
será informado inteiramente aos seus
mestres; que, na realidade, são seus reais
donos. Nessa hora, sinto-me extrema-
mente incomodado com o cheiro de birra
que exala de mim...
Um meio-gigante aparece no portal com
cara de pouco amigo. Me confunde com
um rato e Frida, montada em Vassorito,
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 87
 com um mosquito. Exageradamente
rude, como se espera de qualquer uma
dessas raças (sem preconceitos), reforça
sua lealdade ao Jarl Ogrefoe e ordena que
abandonemos o local. Diz que devemos
procurar o Salão de Negócios. Antes disso
encontramos o Templo de Ottar onde
Sten e Frida negociam pedras preciosas
em troca de pociones. A seguir, sigo
com Sten e Frida, que não conseguem
esconder a ansiedade, para o Salão, já
que suspeitam que Timmm estará lá.
Chegamos em um grande pavimento
aberto coberto por tenda negra. Inú-
meras bancas, palanques, mesas com
os itens mais variados expostos pelo
local. Não sei por onde começar a olhar.
Sten aponta um brasão em um canto e
Frida anima-se. Parece ser a insígnia
de Timmm. Procuram em vão... Ele
não está por ali. Algum tempo depois,
entendo que a insígnia não é exclusivi-
dade dele. É na realidade, o brasão de
um deus anão... Ou seja... Não quer
dizer, necessariamente que ele está por
perto. Pode ser de qualquer adorador de
Vergadain... Falo nada para não acalmar
a excitacione deles...
Nos próximos minutos temos uma
conversa sobre Timmm e fico sabendo
que foram eles mesmos que criaram o
vilão-tirano; o rival. Afinal, foram as
aciones deles mesmos que culminaram
com Timmm adquirindo os poderes que
tem agora. Um humano reverenciando
um deus anão! Eles comentam com
desdém e indignacione... Hehe! Nem
exponho minha opinião.
Religiões e crenças são coisas tão pe-
culiares e únicas que prefiro não tecer
comentários. Sou um gnomo! Só por isso
deveria reverenciar Garl e seu panteão
apenas?!
Discordo! Louvo Mystra e Azuth com
88 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
muito orgulho. Deuses de representaci-
one humana! E recentemente tive o pra-
zer de conhecer pessoalmente Silvanus!
Talvez reze por sua ajuda também um dia.
Ah! Não posso esquecer de Tymora. Sua
ajuda tem sido muito importante desde
que abandonei a Nebiosa. Saudade do
cheiro do orvalho de lá.... Acho que vai
demorar para retirar o cheiro de birra
de mim... mantemo-nos sob observaci-
one constante. Um meio-gigante, com
toda sua delicadeza, nos segue desde a
taverna. Comento com meus companhei-
ros, mas eles já estavam cientes. Acho
que não comentaram comigo achando
que eu fosse me assustar.
ParTimmos do mercado em direção ao
chamado Salão do Hidromel (não quero
saber de mais bebidas alcoólicas por
hoje). Logo na entrada vejo que eu e
Frida seremos muito bem recebidos! Uma
placa na entrada retrata os símbolos
clássicos de conjuradores: chapéu pon-
tudo estilo Elminster e varinha. Minha
empolgacione dura pouco.... Entendi a
placa completamente ao inverso. Logo
abaixo dela um aviso em letras menores
diz: CONJURADORES SERÃO EXPUL-
SOS E/OU PUNIDOS. NÃO NECESSARI-
AMENTE NESSA ORDEM.
Obedientes como somos, Sten entra
sozinho. Ficamos do lado de fora sendo
recebidos por olhares de escárnio de
quem entra e sai do local. Após alguns
minutos e várias cusparadas quase acer-
tando nossos pés, Sten reaparece. Face
preocupada. Um pouco pálido. Suando.
Algo aconteceu lá dentro, mas parece não
saber como contar. Frida também nota e
apenas observa.
Finalmente retornamos para taverna
onde estão nossos outros companhei-
ros; provavelmente mais bêbados que
nunca. Ao entrar e conforme espe-
rava, vejo Byork de uma forma que
nuca imaginaria. Aydan mantém sua
compostura enquanto segura cabeça de
Byork próximo a uma cuspideira quase
transbordando de vomito. Deprimente.
Theon, visivelmente embriagado também
tira algumas notas de seu “Hakin” (é
como chama seu instrumento).
Byork, antes de nos ver entrar, vomita
mais uma vez. Relembrando a cena
dos druidas vomitando nas cavernas,
procuro por monstros ao redor... Hehe.
Instintivo. Torcendo para que Byork
vomite bastante e tenha muita dor de
cabeça amanhã. Belo exemplo de um
líder Leone.
Sten pede que todos aproximem-se
e revela o que aconteceu no Salão do
Hidromel. Diz que conversou com Bjorn,
algum líder local, e desafiou Timmm
publicamente para um duelo, como prega
a tradição da região. Nessas horas,
Timmm já deve estar ciente. Byork,
completamente sem controle, pede mais
bebida para comemorar o evento. Acho
melhor sumir daqui rápido. Não me sinto
seguro vendo aquele que se diz nosso
líder e responsável pelo renascimento
dos Leones D’argento nessa situação
deplorável...
Meu lado gnomo, nessa hora, fala mais
alto e Garl sussurra uma brincadeira.
Escondo-me atrás de Theon e mentalizo
um pequeno banco de três pés logo
atrás de Byork... O banco se materializa
rapidamente (estou ficando bom nisso),
mas a brincadeira não dá tão certo
como imaginei... Apesar da bebedeira,
Byork tropeça no banco e após alguns
passos em falso e com ajuda de Theon,
infelizmente, não cai de cara em uma
poça de vomito... Merda! Teria sido
divertido.
Após essa cena, um ser humanoide
bem grande, com feições de pássaro
interrompe nosso círculo e desafia Aydan
para um duelo. Diz querer enfrentar
um verdadeiro Leone. Penso em indicar
Byork para o desafio, mas me conte-
nho... Aydan declina do desafio e o ser,
apresentando-se como Rufus, desdenha
dele chamando-o de “gatinho de prata”.
O atendente da taverna, ao ver o ocorrido,
diz que Aydan deve retirar-se da taverna.
Ninguém que recusa um desfaio pode
permanecer ali. Byork mantem-se alheio
ao que está acontecendo. Onde já se viu
isso!? Que absurdo! Preciso cancelar
aquele contrato. Não quero fazer parte
de uma facção assim. Seria uma grande
vergonha para meus avós que um dia
foram grandes Harpistas.
Vendo a situacione se complicando,
Theon lidera o grupo todo para fora da
taverna. Byork sendo amparado por
ele. Aí, quando tudo parecia não poder
ficar pior, Beshaba dá sua contribuição e
Timmm (ELE MESMO!) se revela! Ao lado
dele um meio-ogro.
Todos surpresos com a aparicione, que
estava dentro da taverna o tempo todo,
e mais surpresos ainda quando Sten,
sem titubear, ataca Timmm! Os olhos
de Timmm, um humano já de meia
idade, brilham e Sten, antes mesmo de
atingir seu alvo, cai ao chão emagrecido,
esquelético, consumido sabe-se lá pelo
que. Sua espada e escudo jazem no chão.
Dessa parte em diante tudo ficou muito
confuso. Timmm falava como se todos
fossem grandes amigos; parece surpreso
com a afronta, mas demonstra pouca
emocione.
Em meio às vestes de Timmm, revela-
se uma máscara que Aydan reconhece
de uma outra situacione. Diz que já en-
frentaram alguém usando aquela mesma
máscara. Seria Timmm?! Isso tudo
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 89
 está me parecendo uma daquelas peças
teatrais que a Família Desiderio Coni-
AYDAN - S EMENTE DE
gliaro encenava na pousada da nossa C ARVALHO
pequena villagio e nonna adorava tanto.
Ela chamava de novela. Era uma peça
nova a cada 15 dias sempre continuando O C ONTO DA G UERRA DO C ERVO
a peça anterior. Cativante!
Após o ocorrido entre Sten e Timmm,
Com mais perguntas do que respostas,
nos deslocamos para a taverna Verme
acompanho todos até uma outra pou-
de Gelo, um nome um tanto quanto
sada; Verme de Gelo. Já é quase fim da
peculiar, mas o que esperar de melhor?
tarde e precisamos refletir muito sobre os
Olhando pela janela à noite, coloco-me
acontecimentos de hoje. Theon, aparen-
pensativo sobre como devemos proceder
temente cansado de toda essa bagunça,
para enfrentar e matar Timmm. A noite
resolve sair para espairecer e comprar
nas montanhas é fria e o vento uiva ao
novas armas. Sigo com ele na esperança
longe como um lobo que anuncia sua
de encontrar o que preciso para fazer a
presença em seu território. Tenho uma
cópia de meu libro de incantesimi. O
estranha impressão de que o poder de
dia foi intenso. Estressante. Tenho cada
Timmm parece aumentar de forma muito
vez mais dúvidas se foi certo abandonar a
rápida. Seriam novos pactos feitos por
Nebiosa. Cada dia que passa sinto menos
ele? A estranha armadura dele, o poder
a presença de minha nonna. Theon
ocular, as habilidades mágicas, ele ser
me empresta algumas moedas e compro
o assassino mascarado, ... onde mais
tudo que preciso. Retornamos à pousada
ele poderia ter conseguido tanto poder
calados. Ambos matutando sobre o que
senão num pacto? Seria ele mesmo
o destino nos reserva para as próximas
um covarde? Pois nos enfrentou sozi-
semanas.
nho quando o encontramos após ele ter
Me recolho ao quarto assim que che-
raptado Rosamund. Mas ele tinha uma
gamos na pousada. Não quero ver mais
arTimmanha, uma escapatória, ... parece
ninguém. Senti na pele a fanfarronice
sempre ter uma escapatória...
de Garl Glittergold hoje. Tenho uma
“Aliás, falando em pactos, não me
curiosita não muito sadia em pensar no
arrependo do que fiz, pois sei que fiz
que ele guarda para mim. Ao começar a
para tornar Thandravsk um lugar melhor.
cópia dos incanti sinto a Trama ao meu
Sinto ainda em minhas costas o peso da
redor e isso me reforça, me impulsiona,
morte do anão clérigo que fazia bolinhos
me revigora. Imagino minha nonna no
com efeitos alucinógenos. Sei que não foi
canto da sala, tecendo seu tricô com
culpa direta nossa, mas ele não merecia.
um sorriso no rosto e cantarolando uma
Acredito que talvez fosse isso que meu
cancione.
pai neste mundo, o Grande Varão, faria.
Como minha nonna sempre dizia:
Isso me conforta de certa forma, pois
- La leggenda dice gli dei di gnomi di
ele era o grande defensor de Floresta
solito cammina tra i mortali sotto forma
Alta. Também não me arrependo de ter
di gnomi comuni. Ricordatelo quando
escolhido a libertação do pai de Theon
maltrattate uno gnomo...”
ao invés da minha. Conheço os riscos
e os esforços empenhados pelo Enclave

90 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

Esmeralda, mas sei como é perder um
pai e estar numa busca de qualquer pista
por sua mãe (neste momento agarro-me
a minha velha adaga sem fio que era de
meu pai e ao cajado que ganhei de minha
mãe), afinal, se não puder ajudar a um
amigo, como vou restaurar o equilíbrio
do Norte? Entendo a dor de Theon e sei
que ele não teria pedido nossa ajuda se
de fato contasse com outras pessoas para
ajudá-lo, mas de toda forma, aceitei seu
pedido de ajuda e cumprimos todos o
que viemos fazer: libertar o pai de Theon.
Porém, no caminho, as coisas não se
desenharam de forma tão simples...”
Penso sobre o que Silvanus, meu pai,
falou-me quando foi invocado. Por que
o Norte é minha responsabilidade? Qual
o desequilíbrio que poderia estar ocor-
rendo? Seria o ogro pactuante e seus
contatos infernais? Essa é a primeira pos-
sibilidade que passa em minha cabeça,
aliás, a única. Afinal, o que mais seria?
Ele parece ser a “fonte de todo mal” no
Norte. Não que os gigantes sejam “boa
gente”, mas eles sempre estiveram ali e
fazem parte deste lugar, até porque eles
fazem o contrapeso da balança. Fecho
meus olhos e peço sabedoria a meu
pai para que eu possa desvendar qual
é esta força que desequilibra o Norte,
assim como, que me dê a capacidade
e competência necessária para tal feito,
afinal, estes meus novos amigos tem
nada a ver com isso, Silvanus foi bem
claro que a responsabilidade é minha.
“Amigos? Sim, amigos. Exceto o
gnomo, é claro. O olho dele tem um brilho
estranho que parece sempre passar algo
em sua mente, e me incomoda não saber,
pois ele anda entre nós. Vou ficar de
olho nele. Os demais, bem, Byork é
uma pessoa confiável, acredito que o
mais confiável dentre todos. Apesar de
fazer algumas burradas às vezes e insistir
nessa história de Leões de Prata. Sten
tem um ímpeto de destruir o mal (em
especial Timmm) a qualquer custo. Vejo-
o um pouco inseguro como nosso líder,
mas é confiável de toda forma. Aliás,
falando em líder, este grupo de fato é um
pouco estranho nesse ponto. O Sten é
o nosso líder dito, porém Byork é o líder
dos Leões de Prata. Theon e o gnomo são
Leões de Prata. Sten não é Leão de Prata.
O que aconteceria se Byork quisesse ir
para um lado e Sten para outro? Quem
Theon seguiria? Aliás, Theon, de todos,
ainda é o que mais tenho o pé atrás.
Ele é meu amigo, sim, mas não gosto
muito dos métodos dele. Acredito que ele
talvez não goste muito dos meus, então
estamos quites, mas a companhia dele é
boa e toca muito bem aquele alaúde com
outro nome. Bem, e Frida... Frida é uma
“criança” com coração bondoso que usa
magias arcanas que machucam, apesar
de não gostar muito de arcanismo, ela
é, dentre todos, a mais simples e sua
simplicidade talvez seja o contrapeso da
complexidade do grupo inteiro. O gnomo,
bem, não o conheço e, portanto, não
confio nele.”
Pela manhã, Silverfoe, ou o Yaque que
possui seu corpo, chega a taverna que
estamos com algumas notícias. Ela diz
que Timmm fez um acordo com seu pai,
Ogrefoe, e invocou um tal de Conto da
Guerra do Cervo para proclamar a fúria
dos gigantes. Disse que, se ele (Timmm)
fosse o novo conde de Thandravsk, o
condado poderia servir de base, de novo
posto avançado de guerra para a invasão
dos gigantes montanha a baixo. Porém,
na cultura dos gigantes somente a força é
respeitada e Ogrefoe propôs um teste de
força para Timmm: recuperar as terras
de Njal, um gigante mago muito poderoso
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 91
 que uma vez o derrotou. Estas terras aqueles que salvaram sua vida, caso
são importantes pois são ricas em um contrário, ele teria virado comida de
minério muito apreciado pelos gigantes, lobos, o que, até o momento, não me
o ferro negro. Silverfoe nos deixa claro parece uma má ideia. Aliás, quando tiver
que seu pai propôs isso a Timmm pois uma oportunidade, vou deixar isso bem
ele mesmo não poderia desafiá-lo uma claro para ele.
segunda vez por aquelas terras, pois já o Theon então interrompe aquela discus-
havia feito e perdido. Timmm seria sua são dizendo que lembrou de uma coisa
cartada e, na pior das hipóteses, Timmm que ele havia lido há muito tempo, sobre
morreria e as coisas ficariam como estão. uma história do Norte que falava de
Byork, então, fala em desafiar o gigante um gigante do gelo mago que, indo na
mago. “Tolo!”, penso eu. Um gigante que contramão de praticamente tudo o que
derrotou Ogrefoe? Apesar de ser uma a cultura gigante prega, ele se devotou
forma de vencer o desafio, não seríamos a uma vida de aventura descendo as
páreo para ele. A outra forma seria montanhas, estudando arcanismo, valo-
atacar Timmm enquanto estivesse fora, rizando o conhecimento e o intelecto ao
em busca de Njal, todavia, sabemos que invés da força e, também, não possuía
ele não anda só, sempre tem sua escolta, a mesma índole dos seus irmãos de
o que dificultaria muito. raça. Talvez isso seja uma vantagem
Falando em matar atacar Timmm, Sten para gente, alguém que podemos dialogar
menciona sobre o desafio feito oficial- e oferecer alguma ajuda, se é que ele
mente por ele a Timmm. Silverfoe diz precisa, ou, pelo menos, um alerta sobre
que se Sten tiver sorte, vai considera-lo o que vai de encontro a ele.
fraco e indigno e não irá aceitar. Nisso
começa uma discussão entre nós, falando
de desafios, do ocorrido com Sten, do
ocorrido comigo na taverna do Relógio
Parado e então Sante, o gnomo, começa a
fazer provocações desnecessárias a Byork
e a mim envolvendo os Leões de Prata.
Não sou de me importar com esse tipo
de provocação infantil e ridícula, afinal,
não existe necessidade nenhuma de ficar
provando quem é mais forte, mas o que
me deixou mais surpreso foi a forma
que ele falou com Byork, falando mal,
inclusive dos Leões de Prata. Disse, até,
que tinha se arrependido de ter assinado
o contrato com Byork e não queria mais
Decidimos então ir atrás de Njal e
fazer parte, pois seu líder não tinha uma
avisá-lo e sobre Timmm. Mas antes de
atitude de líder. Bem, não me importo
irmos, num momento de diálogo, Frida
com os Leões, de fato, mas esse gnomo
nos conta sua triste história, como ela
linguarudo e desaforado poderia mostrar
cresceu, não conheceu seus pais e sua
um pouco mais de respeito para com
luta para sobreviver. Percebo que ela

92 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

só quer ter uma vida tranquila mesmo,
e com muita comida. Questiono-me se
ela anda conosco porque quer ou por-
que talvez estejamos nos tornando uma
família para ela, por mais que nossos
caminhos possam ir na contramão do
que ela tanto quer. Seguindo o caminho
rumo ao encontro com Njal, entre um
pequeno vale, avistamos corvos rodeando
um cavalo morrendo. Imediatamente
olho para o chão para analisar o que pode
ter acontecido ali.
Percebo que ocorreu uma batalha e um
grupo fugiu deixando seu companheiro
para trás. Descobri que o que os atacou
foram... bodes? Sim, são marcas de pa-
tas de bodes! Quando nos aproximamos
percebemos que o cavaleiro estava morto
embaixo do corpo do cavalo. Visto que
os bodes não estavam mais ali, faço uma
pequena prece a Silvanus e encerro a dor
e a agonia daquele cavalo. Ao analisar
seu corpo e do seu cavaleiro, percebo algo
muito estranho, suas feridas parecem
internas, como se fossem feitas de dentro
para fora, como se os ossos estivessem
estourados para fora do corpo e rasgado
a carne.
Estranhamente runas começam a apa-
recer sobre a neve e delas surgem enor-
mes bodes com uma marca parecendo
queimadura, porém, emanavam certo
brilho. Criaturas invocadas ao certo.
Começa uma nova batalha contra sete
enormes bodes invocados. De imediato
balanço meu cajado e ele se transforma
numa vinha com espinhos. Não hesito,
pois meus amigos podem ter o mesmo
fim que este cavaleiro teve. Ataco. O
combate não se mostrou simples, pois
tive que invocar um espírito da floresta
para nos curar (em especial a Byork, para
variar...), porém, nem de longe foi o mais
complicado que tivemos.
Ao fim, percebo pesarem os olhos de
Silvanus sobre mim, sinto que meu pai
ficou triste comigo pelo que fiz com os
bodes. Apesar de serem criaturas invo-
cadas e, sabendo eu que não morreriam
ali caso fossem derrotados, ataquei seres
da natureza sem pedir permissão ao meu
pai para tal. Sinto que, de alguma forma,
terei que pagar por isso.
Após o combate, analisamos com mais
cautela o corpo e encontramos o símbolo
de Vergadaim. Soldados de Timmm na
certa!
A partir deste ponto o caminho se
divide em dois. Um que leva até a
casa de Njal e outro que não sabemos
qual, mas que os soldados de Timmm
seguiram. Seguimos o nosso caminho
original pensando o que os vassalos de
nosso inimigo foram buscar pela outra
trilha.
Começo a avistar ao longe a casa de
Njal, no topo de uma montanha. Parece
um castelo, aliás, de fato o é. Vamos
nos aproximando e percebemos a quão
imensa é sua mansão encravada na
montanha, tão grande que poderíamos
passar, sem dificuldades, pelas frestas
da grade do portão de entrada, afinal, é
uma casa de um gigante.
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 93
 Chamamos e, lentamente, um gigante algumas muito poderosas. Caso haja um
calvo, de pele azulada, apoiado em um embate entre estes dois gigantes eu quero
cajado se aproxima do portão. Ele parece estar bem longe.
ser meio surdo, pois usa um instrumento O gigante de gelo não considera
parecido com um chifre, ou coisa assim, Timmm uma ameaça, porém, não sei o
para ouvir. Quando começa a falar, que esperar. De fato, ele foi, ou ainda é
percebemos que até isso é difícil para ele. um mago muito poderoso, mas seu vigor
Imagino quantos séculos ele possa ter. o deixou há muito tempo. Isso me preo-
Com uma voz trêmula ele pergunta: “A cupa, pois não há como mensurar suas
que devo a visita?”. Theon toma a frente e, capacidades. Já ouvi falar que magos
literalmente, nos convida para entrarmos sempre têm seus truques por debaixo da
na mansão do gigante para tomarmos manga, mas talvez Timmm também os
uma xícara de café. Sem demonstrar tenham. É uma situação complicada até
medo ou desconfiança, o gigante usa de cogitar as possibilidades...
uma magia e abre o portão para nós e Ele nos prepara um quarto para fi-
começamos a segui-lo para dentro de sua carmos ali à noite e parte para realizar
residência. seus afazeres. Observo que ele possui
A mansão do gigante parece abando- corujas gigantes, várias! Bem, acho
nada, muito malcuidada, poeira e sujeira que vou tentar uma aproximação quando
para todos os lados, sinais de quem não ele for alimentá-las, elas são criaturas
consegue e nem se importa mais com inteligentes, gosto bastante delas e, de
arrumação e asseio. Tudo ali é gigante: certa forma, é reconfortante encontrar
móveis, louças, janelas, tapeçarias, en- estas criaturas por aqui.
fim, tudo. Ele começa a preparar o café
com bastante dificuldade e, sempre que
tem que ouvir algo, precisa deixar o que
está fazendo e pegar o seu instrumento
para ouvir.
Durante a conversa, Njal nos relata
que indo pelo outro caminho existe a
morada de um gigante de pedra chamado
Calehdrakulchumráh, ou somente Caleh,
por ser muito difícil de pronunciar. Não
sei se Timmm tentará colocar um gigante
contra o outro e, caso Njal ganhe, ele
ataque na traição, ou se irá atrás de
algum item muito poderoso para matar
o gigante de gelo mago, enfim, é difícil
saber quais são seus planos.
Njal mostra então para nós um de seus
(enormes) livros contendo feitiços de in-
vocações, não entendo muita coisa, mas
pelo tom da conversa parece que ele pode
invocar várias criaturas e, possivelmente,

94 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

 e pensativo no quarto, Aydan semente de
S TEN W INDBORN carvalho, de alguma forma ficou admi-
rado ao ver Njáll, aparentemente conver-
N O E XTREMO N OR TE - C ASTELO sar com uma coruja gigante, enquanto
DO G IGANTE DE G ELO N JÁLL isso, o novato e também pequeno, Sante,
tive a impressão, por algum momento,
O nosso grupo de alguma forma se sentia
que procurava algo no castelo, mas não o
seguro na montanha. O local, embora
vi pegar nada. Somente ao fim do dia foi
fosse localizado no extremo norte, além
que percebi que não pensava em matar
dos confins do mundo, era seguro, um
Timmm, mas somente quando Njáll nos
verdadeiro castelo construído para gigan-
chamou para uma audiência, foi que esse
tes, erguido no topo de uma montanha,
pensamento retornou à minha mente.
protegido por todos os lados. O velho
Quanto desprezo sinto desse homem,
gigante Njáll (não consigo imaginar por
de alguma forma preciso resolver essa
quantos invernos ele passou) aparente-
demanda, não sei se Helm está satisfeito
mente tentava nos agradar. Passou o
com as minhas decisões e minhas ações,
dia tentando limpar e organizar o seu
sinto que estou desapontando minha di-
castelo, mesmo com toda a dificuldade
vindade, a quem jurei lealdade e devoção
que a avançada idade lhe trouxera, de-
plena.
monstrara, pelas suas atitudes, o carinho
O gigante Njáll sentado em sua enorme
e zelo de um bom anfitrião. Era evidente
poltrona nos convidara para uma audiên-
que Njáll, outrora teria sido um mago
cia e nos apresenta diversas informações
de enorme poder, seu nome ainda era
novas, as quais me pegou de surpresa.
lembrado por todos os gigantes e mora-
Pelo que pude notar ele conseguiu tais
dores ao norte e além de suas fronteiras.
informações com a coruja gigante. Njáll
Seu castelo possuía história, os enormes
nos pediu ajuda para invadir a cacho-
livros nas estantes de madeiras esta-
eira e resgatar o filho de seu velho
vam empoeirados, os utensílios (enormes)
amigo gigante (Montanha Falante), o
eram de um bom gosto e de uma óTimma
qual encontrava-se cativo sob ordem de
qualidade que só tinha visto, até então,
Timmm. O plano de Timmm, de acordo
em castelos de nobres humanos. De
com Njáll, era utilizar o filho de seu velho
alguma forma gostaria de passar mais
amigo, para obrigar um confronto entre
tempo conversando com o gigante Njáll,
Montanha Falante e Njáll, para então ele
me senti bem, acolhido, como há algum
(Timmm) conseguir a aprovação de Ogre-
tempo não sentia.
foe o gigante. Não havia dúvidas de que o
O dia passou sem mais problemas, nos
resgate de Pedregulho (filho de Montanha
alojamos em um quarto no primeiro an-
Falante) era extremamente necessário,
dar, fomos bem alimentados. A pequena
poderíamos evitar um confronto direto e
Frida, como sempre, se aproveitou da
os demais desdobramentos que um duelo
boa comida que nos foi oferecida e ainda
entre Montanha Falante e Njáll. Mesmo
ajudou Njáll em algumas tarefas domés-
Njáll deixando claro que o nosso grupo
ticas. Os demais companheiros do grupo
não tem nenhuma obrigação para com ele
ficaram andando pelo castelo. Byork, o
ou para o norte, não havia dúvidas que
úlTimmo leão de prata, cuidou de descan-
este fardo deve ser nosso. Não desejo
sar, Theon de Olamn estava introspectivo
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 95
 que Njáll entre em combate, afinal de
contas, ele quis o exílio, fugiu de todas
as mazelas e se alojou no fim do mundo.
Não seria eu, quem iria trazer a guerra de
volta para o seu mundo, apenas desejo
que ele se mantenha em seu exílio e em
paz consigo. Njáll ao fim, nos pede que
descansemos para que partamos apenas
no dia seguinte. E assim o fizemos.
A manhã, fria como todas as demais,
dificultava o nosso deslocamento, depois
de todo esse tempo na região, começo
a perceber que os demais membros do
grupo aparentemente se acostumaram
ou deixaram de se incomodar com o
frio intenso do Norte. No início não
consigo identificar a trilha na qual es-
tamos caminhando, mas com a ajuda de
Aydan e Byork a trilha começa a ficar
mais visível e perceptível. O grupo se
desloca com cuidado pela trilha, Aydan e
Byork são os homens de frente na ordem
de marcha, Frida e Sante estão voando
no Vassourito e, eu e Theon, vamos na
retaguarda, como úlTimmos homens. A
descida da montanha nos leva a uma
estrada que se transforma em um vale
em U, não temos opção, o único caminho
é seguir e aguardar o que nos espera à
frente. Somos alvos fáceis nesta estrada.
Algum tempo depois Aydan consegue
identificar rastros na trilha os quais indi-
cam que possivelmente dois humanoides
(provavelmente uma humana e um elfo)
estavam sendo arrastados por catorze
gigantes.
O grupo então segue caminhando até
ser interrompido por uma armadilha
rudimentar, perdemos um pouco de
tempo, pois a Frida, cautelosamente nos
orientou a não desarmar a armadilha,
passamos por sobre o fio da armadilha
e voltamos a seguir a trilha com um
pouco mais de cuidado. Pouco tempo
96 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
depois Byork levanta a mão com o punho
cerrado, o comando para que o grupo
pare imediatamente e não faça barulhos,
em seguida um sinal indicando que ele
irá avançar com cuidado. Infelizmente,
no terceiro passo de Byork, escutamos
um clique e o úlTimmo leão de prata é
arrastado por uma corda de aço e pen-
durado de cabeça para baixo no meio do
vale. Dois segundos depois, só escutamos
o urro de dor de Byork, uma corrente
com cravos é disparada de uma fresta
e acerta Byork em cheio, envolvendo a
sua cintura. Imediatamente olho para
o outro lado e vejo que há uma nova
corrente e possivelmente preparada para
ser disparada. Precisamos agir rápido,
Sante lança uma magia no local de qual
a corrente que prende Byork na cintura
foi disparada. Novamente, segundos
depois, escutamos um outro urro de
Byork, a outra corrente acerta novamente
o úlTimmo leão de prata. Enquanto isso
Theon toca alguns acordes em seu hakin
e depois Byork consegue se soltar dessa
segunda corrente, usando apenas a sua
força. Em seguida Frida lança uma magia
na corrente que segurava seus pés, corro
em direção a Byork e não o deixo desabar
ao chão. Ajudo o leão a se recompor, olho
em seus olhos com muita serenidade e
peço que ele tome mais cuidado. Depois
desse empecilho seguimos adiante. O
úlTimmo leão de prata realmente não tem
sorte com armadilhas.
Depois de algumas horas de cami-
nhada a escuridão começa a tomar de
conta da montanha, decidimos acampar
e passar a noite. Encontramos um local
seguro e então levantamos um acampa-
mento provisório para passar a noite.
Não conversamos muito, cada um do
grupo fez seus deveres com cuidado para
não atrair atenção de seres indesejados,
os turnos e as horas se passam sem cobertas pela água da cachoeira volte e dê
problemas, mesmo com as intempéries algum sinal para a Frida imediatamente.
do tempo e da montanha. O clima E assim fizemos.
extremamente frio da montanha não é A escada não nos fornece dificuldade
convidativo para uma boa noite de sono, durante sua subida. Enquanto cami-
fazendo com que o grupo não consiga nhávamos Frida estava sobrevoando com
realizar um bom descanso durante a Vassourito e observando as ameias, pas-
noite. samos pela primeira passagem por trás
Pela manhã, o frio ainda é intenso, da queda d’agua. Continuamos a subir
levantamos acampamento e iniciamos e ao chegar no segundo ponto por detrás
a caminhada logo na primeira hora do da cachoeira conseguimos escutar um
dia. Com pouco tempo de caminhada barulho de uma criatura se mover. O
avistamos o que seria a cachoeira a qual barulho vinha de uma porta de madeira.
o gigante Njáll comentara conosco. Este Nesse ponto conseguimos escutar um
provavelmente é o local que Pedregulho forte barulho de água que provavelmente
está sendo mantido prisioneiro. O perigo vinha de dentro da caverna.
está à nossa frente. O local é com-
pletamente inóspito, a neve cobre todo
o ambiente, o frio faz com a água em
alguns pontos esteja congelada e outros
não. A queda d’agua não é tão elevada,
talvez uns 15 ou 20 metros de altura.
Depois de algum tempo observando o
grupo avista, o que seria uma escada que
leva em direção ao topo da cachoeira. A
escada visivelmente foi construída, afinal
de contas em alguns pontos ela passa
por trás da queda d’agua, num traçado
proposital. Frida e Sante levantam voo
no Vassourito quase na altura do topo
da encosta e algum tempo depois eles
retornam:
- Amigos, o caminho é esse mesmo.
Afirma Frida. Contudo teremos um
problema, visivelmente foram feitas duas
ameias nas quais aparentemente há cri-
Rapidamente percebo que a criatura
aturas grandes nos observando. Frida
não notou a nossa presença, aviso aos
aponta os pontos estratégicos de obser-
companheiros que irei abrir a porta e
vação.
eles devem atacar qualquer coisa que
- Então que assim seja. Vamos subir
apareça na nossa frente. Ao abrir a porta
pelas escadas enquanto vocês nos forne-
a criatura que nos espreitava era um ser
cem cobertura. Theon fique por úlTimmo
gigante, seus braços eram tão grandes
na ordem de marcha, caso tenhamos
que suas mãos quase encostavam no
algum problema nas passagens que são
chão. Suas mãos possuíam garras,
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 97
 mas também membranas que lembravam
nadadeiras entre os seus dedos. Um
cheiro de peixe impregna o local.
Pegamos a criatura de surpresa, será
fácil destruir esse monstro. Mas, Byork
erra novamente o alvo ao lançar sua
azagaia. Aydan laça a criatura com um
emaranhado de espinhos, ela urra de
dor, Aydan chicoteia a besta puxando-
a para a minha frente e, uma flecha por
fim acerta o ombro do monstro. Agora
que a criatura está ao meu lado, percebo
que é um troll, mas com escamas e uma
pele grossa com um cheiro de peixe podre.
O troll se livra do chicote e ataca grave-
mente Byork (que havia se posicionado
ao meu lado) com suas duas garras, fico
impressionado com a força do monstro,
pois ele crava suas garras no peito de
Byork, atravessando sua armadura e
o levanta a altura dos meus ombros e
em seguida morde o braço do guerreiro,
vejo o sangue escorrer pela armadura
de Byork. Aproveito a oportunidade,
saco a Semper Vigilans que é rodeada
por trovões, uso todas as minhas forças
e habilidades para realizar um ataque
preciso no peito do troll, que é arremes-
sado de volta para a caverna. Byork
ainda está de pé ao meu lado e, aproveita
que a criatura estava se recompondo e
tenta acertá-la, mas de alguma forma o
troll consegue se defender dos golpes do
úlTimmo leão de prata. Vejo novamente
um chicote de espinhos passar ao meu
lado, a criatura é rodeada por espinhos e
trazida à minha frente. Me posiciono em
defesa pois sei que ela irá me atacar, mas
antes disso acontecer, explosões surgem
no peito do troll que já não demonstra
qualquer tipo de dor, mas apenas ódio
e uma vontade de matar aqueles seres
que estão na sua frente. O monstro
ataca novamente Byork, ele realmente
98 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
quer matar o leão de prata, que tenta
revidar e dessa vez seu golpe acerta a
criatura, mas mesmo assim Byork ainda
é atingido pelas garras do troll. Antes do
meu ataque acontecer vejo a criatura ser
atingida por outras explosões, aproveito
o momento e acerto o troll com mais
um golpe certeiro enquanto Theon acerta
uma nova flecha na criatura. Olho para
o lado e tenho a impressionante visão
de Aydan se transformando em um lobo
enorme que empurra eu e Byork para
trás. A criatura ainda tem forças para
se manter em pé e ataca gravemente o
lobo que revida imediatamente mordendo
o ventre do troll, enxergo um pedaço
da carne da criatura ser jogada para
cima pelo lobo atroz, sangue é espirrado
nas paredes. Uma batalha de criaturas
gigantes está acontecendo e Byork recua
para lançar outra azagaia que, incrivel-
mente acerta o lobo e não o troll. O
troll gravemente ferido pega um cantil
que estava na sua cintura, mas antes de
beber, é atingido por diversas explosões
em seu peito e desfalece ao chão.
A adentrar na caverna, a iluminação
se torna precária, acendo a lanterna e
entrego para Byork e quatro caminhos
surgem à nossa frente, dois à esquerda
e outros dois à nossa direita. O lobo
atroz (Aydan) aponta o focinho para
uma escada que surge a nossa esquerda.
Byork conversa com o lobo atroz de
uma forma impressionante. Ele pede
para que o lobo bata a pata no chão
uma vez para sim e, duas para não. E
de uma forma muito inteligente Byork
entende que o lobo farejou criaturas nos
caminhos da esquerda. Decidimos então
ir pelos caminhos da direita primeiro. Na
primeira escada encontramos uma sala
com alguns estoques de manTimmentos
e um barril com água salgada, decidimos
derramar a água salgada e ir para a
próxima escada. Theon nos disse que
provavelmente o troll que acabamos de
enfrentar só consegue se regenerar caso
esteja em contato com água salgada.
Retornamos e adentramos no segundo
caminho à direita. Aqui é uma escada
íngreme em declive, descemos com um
cuidado tremendo e, em algum momento
escutamos gritos de dores de animais.
Por um momento o grupo pensa em
voltar, mas peço para o Theon descer com
cautela para verificar o que pode está
acontecendo. Theon com um pouco de
relutância começa a descer lentamente e,
ao fim da escada ele para e espreita por
algum tempo, em seguida retorna, sua
expressão é de medo misturada com uma
certa angústia. Ao subirmos de volta,
Theon nos conta o que viu, horrorizado
ao descrever a cena:
- Não me lembro de ter visto essas cria-
turas em algum local, o ritual demoníaco
que foi feito, fez com quatro meio-ogros
fossem esticados, com ossos e garras de
morcegos saindo de seus corpos, crânios
e têmporas. Em seguida, esses meio-
ogros, tiveram suas cabeças arrancadas.
Mas, suas cabeças não eram mais de
meio-ogros, elas foram transformadas em
cabeças horrendas com asas de morcego,
tentáculos, cifres em suas têmporas com
olhos em chamas verdes infernais e com
presas enormes e pontiagudas.
Escuto atentamente a descrição de
Theon e tento de alguma forma lhe
amenizar, pois digo que não se trata de
um ritual demoníaco, mas sim criaturas
demoníacas conhecidas por Vargouille
que se reproduzem matando outros seres.
Provavelmente estas criaturas demonía-
cas aproveitaram a conjuração de algum
mago e saíram das profundezas. Agora
teremos que tomar ainda mais cuidado,
pois caso os Vargouille nos ataquem
eles podem tentar nos transformar em
demônios.
Mesmo assim percebo que Theon con-
tinua preocupado ele fica olhando de
um lado para o outro, como se estivesse
esperando um ataque vindo de suas cos-
tas. Esperamos um pouco e decidimos
ir pelo outro caminho que é uma escada
em aclive. Frida pede que os guerreiros
montem no lobo atroz evitando assim
que façamos barulho em razão de nossas
armaduras. Começamos a subir as
escadas sem nenhum barulho e quando
chegamos no úlTimmo degrau Theon,
que visivelmente permanece incomodado
e preocupado com os vargouilles, esbarra
seu hakin na parede da caverna e o
barulho é audível de qualquer lugar da
caverna. Dois ou três segundos depois
um troll aparece à nossa frente e ataca o
Byork. De forma impressionante o Byork
defende o golpe e institivamente contra-
ataca o troll. O lobo atroz fica em pé em
suas patas traseiras e morde gravemente
o troll ao tentar arrancar um pedaço
do braço da criatura ele se desequilibra
e nos derruba. Caímos rolando pela
escada, olho para o lado e vejo que
Aydan retornou a sua forma humana
natural. Byork levanta e vai correndo
em direção ao troll, contudo ele ao atacar
se desequilibra e rola novamente escada
abaixo. Olho para o chão, ajudo Byork
a se levantar e com meus poderes e a
proteção de Helm, o abençoo, uma luz
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 99
 surge da minha mão e toca o úlTimmo
leão de prata:
F RIDA F URA O LHO
- Byork, meu jovem guerreiro, que
Estávamos na caverna, depois que ma-
o grande e poderoso Helm cure seus
tamos dois trolls aquáticos esquisitos,
ferimentos de batalha e juntos possamos
continuamos andando por aqueles cor-
destruir essa criatura miserável.
redores e escadarias. Encontramos cri-
Quando olho para cima, vejo Frida
aturas horríveis cheias de tentáculos,
tocar no troll completamente imobilizado
pareciam uma mistura de ogros com
e, em seguida ele rola pela escada abaixo.
vermes gigantes e fedorentos, uma coleira
Como a Frida conseguiu empurrar uma
de ferro prendia eles pelo pescoço. Eles
criatura desse tamanho? Fico impressio-
nos atacaram quando tentamos passar
nado com o poder dos pequeninos desde
por eles e então Sten e Byork foram
grupo. Theon estoca com sua rapieira
pra cima deles, eles eram assustadores,
o troll que não apresenta qualquer sinal
mas felizmente pegavam fogo facilmente.
de defesa em seguida Aydan se levanta e
Eu fiquei bem aliviada porque mesmo
também acerta o troll com sua cimitarra.
usando minhas magias nada de estranho
Byork tenta acertar a criatura, mas sem
aconteceu dessa vez.
sucesso. Eu me movimento até a criatura
Aydan conjurou uma pequena fada
que não demonstra qualquer sinal de luta
translucida que emana luz, próxima do
e encerro o combate. Olho para o nosso
Sten porque ele infelizmente levou um
grupo ao redor do troll e percebo que
golpe muito forte desses bichos fedoren-
de alguma forma estamos dando certo.
tos e acabou caindo no meio do combate.
Mesmo com todos os problemas que nos
Eu fiquei encantada pela fadinha, ela é
acometeram, mesmo com todos os em-
tão bonita e ainda faz bem pra quem está
pecilhos dessa jornada sem fim, o grupo
machucado. Eu queria ter uma fadinha
permanece junto. Sob qual pretexto esse
dessa também.
grupo se uniu e permanece unido? Em
Theon está sempre incentivando a to-
tão pouco tempo, já passamos por tantas
dos a lutarem melhor, a serem bravos e
coisas. Desde o condado de Thandravsk
corajosos, tudo o que ele diz parece que
até Norhgard caminhamos juntos em
esquenta nossos corações, a música que
busca do miserável Timmm. Acredito
ele canta e toca faz com que a gente se
que o fim dele está próximo, o sangue
sinta motivado, eu gosto de esta próxima
de Timmm logo estará em minhas mãos.
dele.
Durante o combate, quando as coisas
pareciam difíceis, Byork levantou o es-
tandarte dos leões de prata e espíritos
em forma de leões ficaram pairando
sobre cada um daqueles que estavam
no combate corpo-a-corpo. Nunca tinha
visto isso ainda, mas achei lindo também,
estou ficando impressionada com as coi-
sas bonitas que esses marmanjos estão
fazendo.
Aydan mais uma vez se transforou

100 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

em um lobo, acho que gosto mais dele
nessa forma, ele é consideravelmente
mais simpático e fofinho.
Depois que essas criaturas morreram
acabamos seguindo outra escada acima,
e mais um troll aquático guardava uma
caverna organizada como se fosse um
quarto, com uma cama grande, mesa com
papéis que o Theon disse serem croquis
de uma estátua de Vergadain e outra de
Timm.
Tinha um baú com roupas, uma fo-
gueira de pedras ígneas. Parece que
era um lugar feito para receber alguém
importante. O troll aquático foi morto
rapidamente por Sten e Byork. Eu mais
uma vez consegui passar por debaixo das
pernas dele, dei um choque e ele não
conseguiu me pegar!
Continuamos então andando pelos tú-
neis tortos dessa caverna, procurando
por Pedregulho, mas acabamos encon-
trando muitos ogros que vieram para
cima de mim, tentei fugir, mas não
consegui, me acertaram com azagaias e
machados até que eu não vi mais nada.
De repente eu ouvi a voz do Theon,
eu pensei que tinha morrido, mas a voz
dele me fez acordar, sai correndo de perto
dos ogros tentando me juntar a Theon e
Byork mas acabei sendo acertada de novo
nas costas e novamente cai e apaguei.
Mais uma vez ouvi a voz de Theon
chamando por mim, quando abri os
olhos eu estava no tipo de um quarto,
com algumas camas, nesse lugar havia
uma mulher desmaiada, eu me escondi
debaixo de uma das camas e torci para
que meus amigos conseguissem derrotar
aqueles ogros horríveis.
Eu estava muito cansada e machucada,
tentava respirar baixinho para que os
ogros não me encontrassem. Fiquei com
dó da moça que estava ali, ela estava
muito machucada também. Um dos
ogros a pegaram e disse que ia matá-la
se eles não parassem de atacar.
Eu queria jogar mais um raio de fogo
nele, mas fiquei com medo de acertar a
moça ou de que ele descobrisse que eu
estava escondida embaixo de uma das
camas. Eu torci para que Theon, Sten,
Byork e Aydan conseguissem salvar a
moça.
Enfim eles negociaram algo com aque-
les ogros horríveis, e quando ouvi Aydan
chamar por mim sai de baixo da cama.
Encontrei então com eles e a moça estava
ali ainda, viva também. Fiquei feliz por
ela e orgulhosa dos meus amigos que
salvaram a vida dela.
Theon então se aproximou de mim e
me deu um pedaço de bolo tão gostoso,
acho que nunca comi algo tão bom, eu
agradeci e dei um abraço nele, eu gosto
dele, ele é uma pessoa boa, e eu estava
com muita fome mesmo.
Sentamos então para descansar en-
quanto Aydan invocava sua fadinha para
nos curara novamente e a mulher, Lida
Cora, agradecia por ter sido salva e
explicava que ela é uma Arauto de Faë-
run, não sei bem o que isso significa,
mas deve ser algo importante, ela disse
também que chegou aqui procurando
pelos famosos e antigos Leões de Prata.
Eu achava que isso era coisa inventada
pelo Byork. Mas ela disse que preci-
sava informar o líder das suas posses
e precisava saber de suas intenções. Ela
disse que veio de próximo do Rio Rauvim,
eu não sei onde é mas deve ser longe.
E que no meio do caminho foi atacada
por um meio ogros em uma vassoura
voadora. Acho que ela não percebeu
que essa vassoura era o vassourito. Ela
continuou falando e falando enquanto
eu comia, estava realmente com muita
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 101
 fome. Mas consegui entender que ela
foi então levada por esses meio ogros
para uma cidade liderada por um gigante
de gelo e depois vendida para Timm
e então torturada sobre alguma coisa
que ela não sabia. Fiquei com dó dela,
ninguém merece esse tipo de coisa. Timm
realmente é uma pessoa muito ruim.
Ela continuou falando ainda um monte
de coisa, mas eu acabei me distraindo
com Khalo e com Cup, mas me lembro
dela ter falado algo sobre três gigantes
que estavam aqui mais cedo, sobre Timm
ficar atento com Njárl e seus aliados,
acho que isso era sobre a gente.
Minha atenção voltou para ela quando
ela disse que estava indo para Than-
dravsk a procura de uma senhora co-
merciante chamada Sra. Opel, porque
as carnes que ela vendia estavam sendo
elogiadas até além dos vales, eu disse
pra ela que a Sra. Opel é minha amiga
e que ela talvez poderia contar comigo,
mas ela disse que somente poderia falar
102 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
diretamente com a Sra. Opel. Eu falei
então que ela poderia seguir com a gente,
que uma hora eu voltaria pra casa e então
encontraríamos a Sra. Opel.
Explicamos pra ela que antes disso
precisamos resolver o que viemos resolver
aqui, que era acabar definitivamente com
Timm porque ele já tinha causado muito
problemas. Ela concordou em seguir
conosco. Eu fiquei bem feliz, bom ter
uma mulher por perto quando se anda
só com 4 marmanjos.
Theon então se encostou numa das
paredes e começou a tocar uma bonita
música, eu estava bem cansada, estendi
meu saco de dormir ao lado dele, coloquei
o vassourito, Khalo e Cup ao meu lado
para que se aquecessem também e en-
quanto conversava com eles explicando
que eles tinham sido muito corajosos e
que tudo ia ficar bem, não conseguia
para de pensar na Sra. Opel, espero
que ela esteja bem e que Rouxinol esteja
cuidando bem dela. Eu ainda estou com
esse colar, Rouxinol disse que eu saberia
o momento de usá-lo, mas tenho medo
de não saber.
São tempos escuros,
todo o cinza que percorre os túneis
senTimmentos segurados
mau posso conter meus instintos
Ser ser ser
Ser o melhor
Nós vamos ser
Ser ser ser
Ser o melhor
E proteger
espero que possamos ressurgir
devemos proteger nosso bando
os leões devem se manter unidos
defendendo seus filhotes
 Deitada ali no meu saco de dormir,
Khalo e Cup se acomodaram de baixo do
meu braço e enquanto eu acompanhava
cantando baixinho a música que Theon
tocava acabei pegando no sono.
B YORK O L EÃO DE
P RATA
Continuamos nessa Caverna a procura
do desgraçado do Timm, quando Aydan
junto com a nova companheira Lida Cora
ouve um som estranho dizem que deve
ter um caminho atrás da cachoeira. Peço
para que o Aydan guie o grupo da mesma
forma que guiou no gelo da vez passada.
Observo Lida Cora e penso como ela e
bonita, faz muito tempo que não vejo uma
mulher bonita assim.
No meio dos meus devaneios com Lida,
Frida avisa que sentiu uma lufada de ar
vindo de uma direção oposta que estamos
e avisa que melhor o grupo averigue essa
passagem de ar.
Sinceramente não vou opinar pois es-
tou perdido nessa caverna, tomara que
ninguém se machuque aqui.
Chego perto de Lida Cora sinto o cheiro
de orc, sangue e lagrimas um cheiro
estranho para uma donzela, de novo
Frida interrompe o meu pensamento em
Lida com o seu olhar de espanto e diz que
ouviu um gigante, eu indago que pode ser
o gigante Pedregulho estamos tentando
resgatar.
Vejo Aydan criando chamas do seu ca-
jado, informou que alguém está xingando
em gigante, e nesse momento vi uma
pedra do tamanho do Sante voando.
Aconselho não irem com ameaça ao
provável gigante, Theon e Aydan vão se
comunicar com o provável amigo, eu e
Sante ficamos retaguarda do grupo, po-
rem o gnomo rapidamente fica entediado
e vai ver o gigante, penso que se eu apa-
recer nesse momento posso atrapalhar
pois estou com uma armadura e uma
espada posso ser visto como perigo por
essa criatura.
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 103
 Estou apreensivo, não estou escutando
a conversa entre o Aydan, Theon e o
Gigante, só estou ouvindo barulhos e
ecos. Ouvi um trovão vindo da sala e
vejo um pé gigante, acho que a situação
está ficando complicada lá dentro.
Vejo que Theon volta da sala, diz que o
gigante está trabalhando como escultor a
serviço de Timm, porem achamos que o
gigante está sendo enganado por Timm
de alguma forma não estaria conseguindo
esculpir a obra que foi contratado por
motivo de alguma praga ou magia, não
sei ao certo.
Penso que ainda bem, não apareci
acho que com uma armadura e uma
espada grande causaria algum receio
desse gigante, o mesmo parecer ser aliado
do Timm e não gostar muito do povo da
superfície, decidimos então que devemos
deixar o gigante quieto sem causar al-
guma imolação a tal criatura.
Theon e Aydan voltam a falar com
o gigante e o restante de nós ficamos
esperando, até que eles voltam.
Estamos indo atrás de Timm depois
desse encontro parece que o gigante deu
as coordenadas de aonde Timm estaria
se escondendo.
Aydan e Lida descem as escadas, vejo
pequenos vultos e a Lida caindo no chão
perto do Aydan, rezo para Tyr que essa
moça esteja bem, porém nesse momento
ouço grito estranho e vejo Frida e Aydan
estranhos e posteriormente observo a
cena mais bizarra da minha vida, uma
cabeça de orc com assas beijando o
Aydan, e outra dessas cabeças aparecem
e tentam beijar a pequenina da Frita,
mas com mais habilidade que Aydan, a
pequena esquiva desse beijo.
Meu ímpeto nessa situação e salvar a
pequena Frida e ataco esse bicho estra-
nho, porém escorrego em uma gosma
104 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
estranha e por Tyr não acerto a Frida,
e cabeça vendo minha espada descendo
em direção a ela esquiva e tenta me
morde porem os dentes cravam em minha
armadura e graças a Tyr não sofro nada.
Vejo Theon tentanto ajudar o Aydan em
vão, entretanto, o grande bardo dos Leões
toca uma música e vitalidade retorna ao
corpo de Lida Cora, e no mesmo momento
dessa música ouso outro som diferente
porem do grande pequeno mago dos
Leões Sante com uma canção de dormir
que derruba em um sono profundo duas
dessas criaturas e Lida Cora, pois mesma
estava no epicentro da magia de Sante.
Uma das cabeças gritam, no fundo
a minha alma sinto um senTimmento
estranho de medo, porem como sou um
Leão não tenho medo disso e ataco com
muito receio essa cabeça para não acerta
a pequena Frida. A situação desse
combate está caótica vejo um chicote
de espinhos voando e barulho de dentes
quebrando nessa confusão toda não se
basta o beijo do Aydan o Theon está
caçoando da cabeça voadora e por mais
impressionante que pareça faz efeito
nessa criatura.
Olho do meu lado o Sante com nenhum
zelo ou cuidado com a Frida e lança uma
magia na mais pura irresponsabilidade
de gnomo e na sorte acerta a criatura
infligindo danos consideráveis, nesse
momento de sorte e imprudência vejo
Frida sai correndo e lança uma magia na
criatura e também acerta o desgraçado,
acho que Tyr está olhando por nos agora.
Olho para essa criatura uso minha
espada como um bastão e separo a
cabeça voadora em duas, aproveitando
balanço da espada ataco outra criatura
que está encima do Aydan, vendo a
espada indo na direção da criatura Aydan
aproveita foco da criatura e acerta a
mesma com seu cajado, deslocando a de
lugar fazendo que eu erre o ataque.
Vejo a rapieira de Theon furando um
dos olhos da cabeça voadora que no
ímpeto desespero me morde, Frida vê
criatura em um angulo bom e solta um
raio que pulveriza a criatura, porem a
mesma continua
voando, porem finalizo sem muita di-
ficuldade a úlTimma das cabeças e vou
ver a situação da Lida Cora, felizmente
ela está viva.
Esperamos um tempo para cura nossas
feridas e fui ver o estado do Aydan após
beijo do vargouille, nome da criatura que
o Aydan falou, porém o mesmo indagou
sobre a futura batalha com Timmm e
qual seria a estratégia de combate.
Eu, Aydan e Theon ficamos discutindo
e, a melhor forma seria atacar com tudo
principalmente com magia, Frida lembra
do colar que Timmm o faz escapar, sendo
Sante o escolhido para retirar o colar do
Timmm voando com o Vassourito.
Após a reunião Theon começa a cantar
uma música:
"São tempos escuros, todo
o cinza que percorre os
tuneis senTimmentos segurados
Instintos não controlados
Ser ser ser
Ser o melhor
Nós vamos ser
Ser ser ser
Ser o melhor
E proteger
Espero que possamos ressurgir
Nosso bando deve se reunir
Leões juntos são mais fortes
Protegem seus filhotes"
Antes de seguirmos Lida Cora conjura
luz na minha espada e vejo o elevador que
o gigante havia dito, e antes de descer
Aydan conjurar uma magia que tem a
forma de uma fada que tem o efeito de
curar todos os companheiros.
Decidimos que não vamos usar o eleva-
dor e sim o Vassourito para não causar
o barulho do elevador, vamos de 2 em
2, espero que o Vassourito consiga levar
todos de forma segura.
Vejo um diferente dos andares de cima,
uma caverna bem iluminada e cheio de
espelhos, o local é belo porem a alma
impura de Timm mácula esse lugar.
Vejo Timm, um anão cinza dentro
máquina e um reflexo corrupto do meu
ser. Meu primeiro impulso e de jogar
uma azagaia no maldito do Timm parece
que não surtiu muito efeito, os outros 2
atacam o meu companheiro Aydan, então
Timm aparentemente assustado conjura
escuridão e tudo fica escuro.
Lida e Theon descem, e Theon e co-
piado igual a mim, a escuridão e dissi-
pada e vejo o maldito do Timm tentando
escapar porem Aydan consegue pegar
o maldito, vejo que o resto da equipe
chegou o combate e um Sten corrupto
também apareceu desses espelhos.
Vejo o Theon corrupto atacando a Frida
e a força dela esvaindo, temo que não
conseguiremos ganhar esse combate, vou
lutar até morte. Minha começam a quei-
mar e vejo minha espada está em chamas
jogo ela no chão e pego estandarte e rogo
auxílio espíritos dos antigos leões nesse
combate, vejo lida soltando raios de fogo
no desgraçado do Timm.
Olho para Timm aproveita que minha
imagem corrupta está atacando Theon
e tenta fugir na jangada, olho atônito
pois estou impossibilitado de usar minha
espada e acabaram minhas azagaias.
Vejo Theon pulando e se esquivando e
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 105
 deixando na minha mão a rapieira e após
esse feito de malabarismo vejo que com
F RIDA F URA O LHO
o poder interno de sua voz ele destrói a
Enfim consegui me afastar do combate
cópia corrupta do Sten.
com o vassourito e Sante e fui em direção
Grito para Sante atacar a minha ima-
a saída seguindo o curso do riacho e só
gem e salvar o Aydan, Sante imediata-
consegui encontrar Aydan na em forma
mente solta um raio em direção a imagem
de lobo, perguntei se o Timmm havia
corrupta e a destrói.
fugido e ele só acenou com a cabeça,
Aydan se transforma em um lobo e
voltamos então para dentro da caverna
corre em direção ao Timmm. Pego a
onde Theon cuidava de Byork caído no
rapieira do Theon e tento atacar o anão
chão, Lida olhava envolta parecendo
cinza dentro da máquina e não acerto,
preocupada e confusa.
por causa do peso e do balanço da
Depois que Byork estava um pouco
rapieira.
melhor começaram a olhar as caixas
Mando Lida atacar a imagem do Theon
e flâmulas com o símbolo dos Leões
e ela lança raios em direção a imagem
de Prata, disseram que eram falsas e
corrupta, porem a mesma não é des-
resolveram queimar.
truída. Após isso digo para Frida atacar
Aydan voltou a forma humana, dizendo
a imagem do Theon e ela lança misseis
que Timmm fugiu mais uma vez usando
mágicos na Imagem, porem essa imagem
uma das contas de seu colar e Aydan
parece ser mais resistente do que as
ficou bravo com o grupo porque não
outras.
foram atrás do Timmm, Theon e Byork
Mando Theon atacar a imagem dele, e
explicaram que estavam envolvidos em
ele faz o mesmo ataque de voz e destrói
combate e que não era simples ir atrás
aquela imagem, dizendo e claro "bem só
dele.
pode existir um de nós, então morra".
Aydan falou algo sobre deixar claro que
Tomo o que parecer ser um soco da
ele não é um Leão de Prata.
grande máquina e ela abre a guarda
Sabe, eu nunca me importei muito com
e finalmente consigo acerta o anão lá
isso, porque considero eles meus amigos,
dentro.
se eles se preocupam e cuidam de mim
Ordeno que os Leões deem apoio ao
eu também vou me preocupar e cuidar
Aydan, Lida Cora ataca com 3 raios de
deles. Mas agora eu percebi, Aydan faz
fogo no anão queimando-o, e maquina
questão de não ser denominado como
automaticamente como forma de prote-
alguém que faz parte do grupo. Theon ao
ção me dá outro soco só que no estomago,
contrário está sempre exaltando o nome
sinto que minha vida quase se esvai após
dos Leões de Prata, Byork é o próprio
esse soco porem lutarei até morte aqui
pois anda com o estandarte, enquanto
nesse local.
Sten parece estar satisfeito em fazer parte
As úlTimmas coisas que vejo são Frida
desse grupo chamado Leões de Prata.
e Sante saem voando no Vassourito a
Se não me engano Sante assinou um
procura de do Aydan que está fora com
papel dizendo que também faz parte do
desgraçado do Timm....
grupo dos Leões de Prata, mas, se eu
me lembro bem, ninguém nunca me
perguntou se eu queria participar, antes

106 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

eu pensava que precisava ter armadura
pra fazer parte desse grupo que eles
chamam de Leão de Prata, mas agora eu
acho que o que vale mesmo é a amizade.
Então eu acho que faço parte desse grupo,
mesmo sem saber muito bem qual meu
papel nele.
Mas, depois de tudo isso que eu disse,
o ponto é que fiquei me perguntando
porque o Aydan faz questão de ressaltar
em alto e bom som, com todas as letras,
que ele não faz parte?
Não consigo entender.
Eu sabia que a primeira coisa a se fazer
era tirar o colar dele, mas acabei espe-
rando que Sante seguisse o combinado,
ou que o próprio Aydan que chegou mais
próximo arrancasse o colar, mas acho
que ninguém se lembrou, e as coisas
não aconteceram como esperávamos, da
próxima vez eu mesma farei isso.
Aydan comentou que Timmm tentou
um acordo com ele, dizendo que mataria
Njál se nós não deixássemos de persegui-
lo. Mas, não existe mais possibilidade
de acordo com Timmm, ele é um grande
mentiroso e todo acordo com ele sempre
tem um detalhe não explicado ou um
revés.
A cada acordo que fazemos ele amaldi-
çoa ou mata um novo amigo que fazemos.
Isso só vai acabar quando acabarmos de
uma vez por toda com Timmm.
Resolvemos então voltar para a casa de
Njál, procurar por ele, ver se ele estava
bem e se ainda podíamos fazer algo por
ele.
No caminho, percebi que a cabeça do
Aydan estava esquisita, o pescoço dele
estava esticado, mencionei essa situação
para os outros e disseram que isso era
resultado do combate contra aquelas ca-
beças voadoras e que se nada fosse feito
em pouco tempo a cabeça dele também
se soltaria do pescoço, criaria asas e
voaria para nos atacar também. Claro
que Aydan morreria nesse processo.
Então eu me lembrei do colar da Rou-
xinol que estava em meu pescoço, me
lembrei que ela me disse que eu saberia
o momento e como usá-lo. Mas eu me
lembrei também do quanto ele insistiu
que ele não faz parte do grupo dos Leões
de Prata. Pelo que me parece Aydan é
muito confuso, às vezes parece que quer
estar próximo enquanto temos algo a
oferecer, mas por outro lado ele faz coisas
como quando ele optou por salvar a vida
do pai do Theon ao invés da dele, eu
não consigo entender, mas mesmo assim
eu entreguei o colar para Aydan, e ao
colocar no pescoço todos os males que
estavam sobre ele sumiram, a maldição
do vargouille e o pacto com Rhoudek, foi
o que ele disse.
Ao nos aproximarmos da montanha de
Njál os moradores da pequena vila aos
pés da montanha nos alertaram sobre
um rastro de corpos subindo a montanha
e que não viram Njal nos úlTimmos dois
dias.
Subi então a encosta da montanha
com o vassourito para observar e vi uma
grande criatura, que parecia um tatu
misturado com uma tartaruga, mistu-
rado com as feições de Njal. Voltei então
para junto do grupo e expliquei sobre o
que eu vi, mas como nunca tinha visto
nada parecido, Aydan e Theon decidiram
subir com o vassourito e ver melhor o que
estava acontecendo lá encima.
Depois de um bom tempo eles voltaram
pelo desfiladeiro, descrevendo a destrui-
ção que aquela criatura, acho que eles
chamam de bulette, fez montanha acima.
Decidimos então subir todos usando o
vassourito, primeiro subi eu e Sante, até
a janela do quarto onde estávamos antes,
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 107
 vassourito voltou então para buscar os
demais. Pouco tempo depois Aydan e
Theon chegam no quarto e na úlTimma
viagem Byork e Lida.
Procurei por Njál pela casa, não encon-
tramos por ele, mas encontramos marcas
de garras semelhantes às do bulette, coi-
sas quebradas, roupas rasgadas, infeliz-
mente chegamos à conclusão que aquele
bulette é o próprio Njál amaldiçoado por
Timmm.
Infelizmente enquanto Njál estiver aqui
em forma de bulette ele destruirá toda
a vila aos pés da montanha, mas não
é culpa dele, ele foi mais um amigo
amaldiçoado por Timmm. Enquanto não
matarmos Timmm ele continuará agindo
dessa forma.
Eu vou atrás dele onde quer que seja.
Meus amigos são muito importantes pra
mim, para que ele continue fazendo o que
ele está fazendo.
108 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
T HEON DE O LAMN
Casa De Njál, Montanhas, Extremo
Norte Faërun - 1489
Então estamos todos aqui, casa do
Njal, outrora um local de conforto e
tranquilidade. Um amigo de verdade
que nos ofereceu tudo sem nem mesmo
questionar nossas origens. Lembro-me
ainda de estar sentado a essa beiral da
janela do quarto apreciando a vista do
lado de fora. Bons tempos.
Bons tempos aqueles em que as pes-
soas não julgavam pela aparência. Bons
tempos aqueles que não haviam corrup-
ções e disputa por poderes. Bons tempos
aqueles em que crianças corriam pelas
ruas com seus corações leves e inocentes.
Bons tempos, bons tempos.
Hoje estamos aqui novamente, mas
dessa vez com um objetivo diferente, sim
meu caro diário, hoje estamos para matar
esse amigo. Não sabe o quão difícil é
para mim isso, não só para mim, não
seja egoísta Theon, veja os olhos da
pequenina, ela segura pra não cair em
lagrimas. Essa talvez seja uma das piores
decisões da minha vida, e talvez seja um
dos piores e mais dolorosos momentos
que passarei.
Fora Da Casa De Njál, Montanhas,
Extremo Norte Faërun - 1489
Do lado de fora nos posicionamos estra-
tegicamente pra encontrar nosso amigo,
na verdade agora ele é uma criatura
diferente, magicamente modificada ele
se tornou um bullete. Uma espécie de
tatu tubarão das terras, que mergulha
por tuneis abaixo da superfície e salta
apenas em bote para alimentar-se de
suas viTimmas.
Meu capitão Bjork, posiciona a frente,
brande sua espada e bate com ela no
escudo que estampa o rosto de um leão
enquanto grita: “apareça Njal, venha
me pegar, venha amigo, é nossa única
opção”.
Enquanto eu saco minha rapineira e
antes de sacar minha espada curta, ouço
o tremor no chão e o bote dele em direção
a Bjork, que muito atento, esquiva-se
sagazmente, claro, alguns ferimentos o
atingem, a pele do bullete é dura como o
aço e tanto afiada quanto um diamante.
Enxugo meus olhos, e parto pra cima.
Sons de palavras magicas são conju-
radas atrás de mim por Lidda e Frida,
e vejo os raios passarem ao meu redor
enquanto explodem no peito da criatura.
Nunca ouvi Frida conjurar suas magias
com voz tão tremula em todo esse tempo.
Aproximo-me correndo da criatura e salto
no ar para cravar minha espada nele.
Obtenho êxito, mas não o suficiente, sua
carapaça é quase impenetrável e a minha
espada mal arranha, a segunda então,
ataquei de forma rápida, mas quase
quebra a ponta em conflito com a couraça
da criatura.
Vejo mais algumas raios e espadas e
a criatura se debatendo, quando vejo
meu capitão olhando pra mim e dizendo:
“Cuidado Theon, cuidado leão....” quando
olho de volta a criatura é tarde demais,
vejo sua grande bocarra em direção ao
meu dorso e suas presas enfincando em
minha carne, posso sentir o barulho de
ossos quebrando enquanto sou arremes-
sado para o ar. De lá de cima, tenho a
impressão de ver uma lagrima escorrer
dos olhos da criatura, talvez seja verdade,
talvez sejam só devaneios de uma bardo
que quer acreditar que ainda existe uma
amigo por baixo da pele daquela criatura.
Eu sinto ter falhado Njal.
Em Algum Lugar Nos Planos, Tempo
Indeterminado
Não sei as crenças das pessoas ao certo,
nem a sua leitor ávido que possui esse
diário em mãos hoje. Eu penso ape-
nas que simplesmente desaparecemos no
nada. Simples assim, como se fosse terra
jogada ao vento. Não vejo nada nesse
momento, não sinto nada, não ouço nada.
Até então.
Uma pequena luz brilha a frente em
meio a toda essa escuridão, uma zunido
parecendo um cintilar de asas de um
beija flor preenche o ambiente, e palavras
ao fundo incompreensíveis por mim no
momento vão se tornando mais claras.
Aydan, e seus espirito feérico vem me
resgatar. Minha alma pensa se devo
voltar. Não sei ao certo se estou morto ou
inconsciente, foi tudo tão rápido. Lembro-
me de Frida e do Njal, não consegui
fazer ainda o que prometi. Lembro-me
de Timm e de todas as pessoas boas
que morreram por conta de seu egoísmo,
então não posso ser egoísta a esse ponto,
eu sigo a luz e acordo.
Fora Da Casa De Njal, Montanhas,
Extremo Norte Faërun - 1489
Quando retorno a consciência vejo meu
capitão coberto de sangue engalfinhado
com o bullete, vulgo Njal, estou caído e
minha rapieira a um braço de distância
de mim. Alcanço-a, levanto-me, inspiro-
o. Isso é tudo que posso fazer nesse
momento. Uma rajada de energia entrela-
çada passa a minha frente explodindo na
couraça dura do bullete, e ele por fim cai,
olho pra traz e vejo o faiscar das mãos de
Lidda terminando seu movimento. Esta
feito.
Levantamo-nos, nos aproximamos, ve-
mos o bullete voltar a forma normal de
Njal, Frida vem correndo e ajoelha-se
em frente a ele, pedindo desculpas pelos
ataques. Nós obtivemos êxito, será? Mal
temos tempo de planejar sobre o funeral
do nosso amigo, a casa dele começar a
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 109
 desmontar, telhados, paredes, janelas e
portas, seguido disso a montanha treme,
e uma grande fenda contorna nossos cor-
pos até chegar ao corpo de Njal. Como se
a montanha quisesse engolir apenas ele,
traze-lo de volta pra casa, enterrando-o
junto com tudo ali que ele construiu todo
esse tempo. Mal tenho tempo de dizer
adeus vendo seu corpo despencando na
escuridão da fenda. Adeus amigo, é tudo
que digo.
Descemos a montanha e a chuva chega,
e logo engrossa, abraço a pequenina.
Quando chegamos ao pé da montanha
vemos um enorme mamute a nossa
frente, e em cima dele, Silverfoe. Que
hora perfeita pra chegar. Ela demonstra
em seu semblante que sente pela nossa
perda e pede pra acompanharmo-la até
uma cabana num vilarejo próximo. Segui-
mos seus passos, em meio à caminhada
somente uma coisa esta na minha mente.
Timm merece morrer, esse é meu único
objetivo em vida, eu te juro que o matarei
em seu nome Njal, e de todos aqueles que
ele prejudicou.
Vilarejo No Pé Da Montanha, Monta-
nhas Geladas, Extremo Norte Faërun –
1489
Adentramos a tenda, um local espaçoso
e confortável, típico para gigantes, o que
pra nós se torna mais farto ainda. Pego
uma das peles de animais e aqueço a
pequena. Depois sentamos pra dialogar
com Silverfoe.
Ela nos explica que com a morte de
Njal, os gigantes liderados por seu pai
Ogrefoe estão livres pra descerem e inva-
dir as vilas e cidades próximas, e pede
pra que vamos até um castelo da Rainha
Briana pedir pra que ela intervenha em
nome do povo.
Essa criatura, Yake, que domina o
corpo da gigante Silverfoe, nunca foi
110 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
confiável, e agora ela simplesmente quer
fazer um ato altruísta pela população do
norte? Não há menor possibilidade de
confia nela. Nunca houve e não será
agora que vou acreditar nela. Ouço em
minha mente Frida usando uma magia
mental pra me informar que não aceitará
nada que Silverfoe pedir, ela só quer
ir atrás de Timm, e vingar a morte de
Njal. Acalmo-a com um sorriso, e digo
mentalmente que nunca a abandonarei,
e que ela possui uma amigo nessa busca.
Deixo Bjork e Aydan conversar com
Silverfoe, mas deixo claro que Frida e
eu não participaremos de tal missão e
que seguiremos com ou sem eles atrás de
Timm.
Após conversarem com Silverfoe a
sós, eles retornam e nos contam seus
planos. Eles pretendem ir ao castelo,
mas antes nos acompanharam em nossa
missão. E ao final se quisermos podere-
mos acompanha-lo ou não durante sua
próxima missão. Bjork se aproxima de
mim, e diz que sou aliado muito leal, e
um nobre amigo, mas não exigira de mim
que o acompanhe forçadamente para o
próximo passo.
Eu dou um sorriso amigável a ele e
digo:
“Meu capitão! Você é um homem nobre,
o líder sobrevivente dos leões de pratas,
é um orgulho pertencer a seu batalhão.
Mas eu sou um bardo, um contador de
histórias, essa é minha função, viajar
pelo mundo e trazer historias e feitos
pros livros, pra que eles possam percorrer
eternamente a novos aventureiros futu-
ros. Minha historia com você capitão
acaba com Timm. Essa é minha história,
o mundo saberá o que os leões fizeram
para acabar com ele. Um falastrão
aproveitador que teve tudo de forma fácil
e enganadora e que perderá tudo pelas
nossas mãos. Essa é a grande história
das aventuras de Theon de Olahm e os
Leões de Prata no Norte de Faerum, e com
ela encerra-se meu capitulo pelo norte.
A historia da guerra entre os gigantes
e as populações do norte, não cabem
a minha pessoa escrever, você terá que
encontrar outro bardo para isso. Você
é um ótimo amigo, sou agradecido pela
honra de participar dos Leões de Prata.
Ao final de tudo isso partirei de volta ao
sul.”
Abraçamo-nos e tenho que segurar
seco o nó na garganta e conter as la-
grimas. Mas assim é o destino, tenho
certeza que ele se dará bem por aqui sem
mim. Recolho-me pra noite ao lado de
Frida e Lidda. E componho em um tom
mais melodioso uma canção de partida.
“Tenho que partir
Os leões estão aqui
Tenho que partir
Sou leão mais não daqui
. não vence-lo, os ferimos bastante, e co-
O frio está aqui
Não em clima, em alma sim
Meus destino não é aqui
Tenho que partir
. proposta. Ela deve ir ao conselho dela
A corrupção está nesse lugar
Não devemos nunca nos aquietar
Nosso objetivo é subjugar
Timm eh nosso alvo, vamos encontrar
Penso em minha casa, em me afastar
Estou preso aqui não posso respirar
Hakin me espera em algum lugar
Logo estou de volta, preciso te encontrar
. fazer parte de suas ações. E ela acredita
Não estar aqui
Tenho que partir
Leões estão aqui
Não posso mais partir
Despedida, by Theon de Olahm
Vale Do Cervo, Condado De Than-
dravsk - 1489
Estamos de volta ao condado, depois
de ter percorrido o extremo norte, esse
local se torna de certa forma agradável.
Voltamos a casa da senhora Opel, e
Frida sorri após longo tempo. Ela nos
explica que repentinamente as pessoas
voltaram a melhorar. A doença foi embora
como uma gripe passageira. E que ela
se sente pronta pra viver mais longos
anos. Descansamos por essa noite por
ali mesmo.
Durante dois dias procuramos inces-
santemente por Timm, mas desde que
ele subiu ao norte ele não retornou. Ele
mantém-se foragido daqui. A nossa
batalha contra ele nas cavernas teve um
efeito maior que esperávamos, apesar de
nosco tendo matado Njal, aparentemente
ele perdeu o apoio de Ogrefoe e outros
gigantes também.
Estamos sem rastros desse maldito
novamente, Lidda intervém e faz uma
para manter informações sobre suas
notas. Aparentemente ela, assim como
eu, possui superiores aos quais deve
manter informados. Nota mental, devo
mandar uma carta amanha pela manhã
para o colégio de Nova Olahm. Ela nos
pede que a acompanhe como escolta,
e que o caminho passara próximo ao
castelo, assim Aydan e Bjork já poderão
que nesse caminho podemos buscar mais
informações sobre Timm. Visto tamanha
rede de opções que temos decidimos ir
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 111
 junto com ela.
Caminho Ao Castelo Da Rainha Bri-
ana, Algum Lugar Na Estrada Do Norte,
1489
Durante nossa caminhada pela estrada
que leva ao castelo da rainha, encon-
tramos um grupo de Ogros da Carniça
cheirando alguns corpos mortos no chão.
Evitamos o combate, seguimos caute-
losamente próximo a um dos corpos e
notamos claramente que eles não foram
mortos por essas criaturas, mas sim por
outras.
Os Ogros se incomodam com nossa pre-
sença e fogem pro mato. Provavelmente
eles são obras de Timm, pois são ma-
gicamente modificados. Mas decidimos
por deixa-los irem e nos acampar em um
local próximo a estrada.
Durante nossa ronda, no turno de
Frida, ela me acorda dizendo ter ouvido
gritos de uma mulher na escuridão. Peço
que ela acorde os demais e parto fur-
tivamente em direção aos gritos. Vejo
uma fogueira na ravina abaixo e um casal
de vampiros atacando uma mulher. Os
demais companheiros chegam e decidi-
mos por sair sem incomodar aqueles lá
embaixo. A pequena Frida enfurece, se
ilumina de forma como nunca visto antes,
quase cegando nossos olhos e dispara
raios mágicos de suas pequeninas mãos
em direção as criaturas, gritando pra eles
deixarem ela em paz.
Vendo a situação grito por Aydan, que
nesse momento já estava mais distante
seguindo o plano nosso de não mexer
com tais criaturas. Vejo o voltando e
resmungando algo como, ela não salvar
uma vila, mas sim uma mulher. Sei
que ele não pensa isso por mau, é do
feitio dele ser assim, ele é uma espécie
de semideus solitário das florestas, ele
nunca passou por abusos corporais, nos
112 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
homens não entendemos os sofrimentos
que as mulheres passam no dia a dia,
simplesmente lhe pagamos bebidas e al-
guns trocados e a possuímos. Mas nunca
paramos pra ver o lado delas, e vejo nos
olhos de Frida e Lidda, que dessa vez,
nos podemos olhar por elas ao invés de
questionar. Salvar uma pessoa inocente
e indefesa, é completamente de salvar um
vila inteira com um poderio muito maior
e contatos de outros aventureiros, a vida
dessa mulher cabe apenas a nós decidir
se vale ou não a pena. Eu escolho por
ficar e lutar.
O combate é ferrenho, a criatura por di-
versas vezes tenta dominar minha mente,
mas os encantamentos de proteção pro-
feridos em mim enquanto criança ainda,
me fazem esquivar de seus ataques men-
tais. E com um excelente trabalho de
grupo nos obtemos sucesso. A mulher
nos agradece, e fala de forma nervosa
varias coisas desconexas, e que seu nome
é Carmelia, fala sobre uma criatura que
ela chama de Fera, e que essa corre
perigo. Mas que ela é boa de coração
e não merece sofrer.
Bom, um caso de cada vez, vamos
deitar e descansar e amanha pensamos
melhor nisso. Por mais que eu tente
deixar o norte, o norte parece não fazer
questão alguma que eu saia dele.
 ou pelo menos de pistas que nos levem
AYDAN S EMENTE DE
até ele. O grupo decide marchar para a
C ARVALHO casa da Fera ao amanhecer. Theon está
um tanto quanto agitado por conduzir a
missão, por ordem de seu líder Byork.
A VAMPIRA E A F ERA O grupo estava bastante preocupado
com a história da mulher e com as notí-
“Acabou-se. Uma das criaturas fugiu e
cias sobre Timm, e ninguém se lembrou
outra foi morta e virou cinzas. Ainda bem
das duas pessoas que ali morreram. A
que ninguém se feriu mortalmente pela
noite passou e os corpos começaram a
imprudência e impulsividade de Frida.
feder. Pedi ajuda ao grupo para que
Não entendi o motivo dela ter ficado e
pudéssemos, minimamente, enterrá-las
escolhido lutar, ela que sempre é boa
e dar um descanso para seus espíritos,
em esconder-se (apesar de nunca ter
para que pudessem seguir para junto de
nos abandonado em combate algum).
sua divindade, seja qual for. Assim que o
Não entendo o motivo de ela lutar por
fizemos, partimos. Seguindo ao caminho
uma pessoa e não querer sequer avisar
indicado, encontramos um belo palacete
a rainha sobre a descida dos gigantes
que foi “tomado” pelo bosque. Não que
ao Vale do Cervo e salvar centenas de
eu ache ruim, para mim isso é lindo e
vidas. Não entendo como uma pode valer
maravilhoso. A natureza prevalecendo,
mais que centenas...”. Meu pensamento
crescendo e se fortificando. Quando olho
é interrompido por Theon que segura
para meus companheiros, percebo que
meu braço quando íamos regressar ao
Fria e Theon arregalam seus olhos por
acampamento.
algum motivo. Devem ter notado algo.
- Aydan, obrigado por ter voltado e
Nos aproximamos um pouco mais e
lutado.
começamos a ouvir uma música muito
- Não precisa agradecer, Theon. Apesar
bela sendo cantada numa língua que
de não concordar com a atitude da
não conheço. Ela parece nos conduzir e
pequena, vocês são meus amigos e não
encantar... instintivamente tampamos os
os abandonaria em combate.
ouvidos, exceto Byork e Lida, que conge-
- Mesmo assim, obrigado.
laram imóveis. Lida conseguiu safar-se,
Gratidão é um sentimento bom e puro.
mas Byork precisou de um sacolejo. Nos
Fico feliz por isso, mas fico pensativo
aproximamos e tudo está estranhamente
com a possibilidade de talvez eles não
muito escuro. Não consigo ver muita
esperarem isso de mim. De toda forma,
coisa. Quando acendemos uma tocha,
não os deixaria ali para morrer, mesmo
nos deparamos com o portão do palacete.
que eles não acreditassem nisso.
Cuidadosamente avançamos e, quando
Após o fim da batalha voltamos para
Sten tomou a dianteira, foi rapidamente
o acampamento e ao chegar lá a mulher
atacado pelo vampiro que havíamos en-
conta sua história e a história de um ser
frentado na noite passada. Sten ficou
chamado simplesmente de “Fera”. Não
imóvel, paralisado. Vimos então uma
me sinto compelido a ajuda-la, necessari-
mulher com pele bastante pálida, rosto
amente, mas ela fala de alguém que, ao
belo e cabelos negros em cima do chafariz,
que tudo indica, parece ser Timm. Isso
segurando na estátua de golfinho que
me faz querer ir até lá atrás desse maldito
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 113
 cuspia água pela boca. Parecia uma
luta dela contra alguma coisa mágica
ali. Repentinamente, tudo ilumina e o
combate começa efetivamente.
Avançamos e atacamos. Byork investe
contra a mulher, mas parece que seus
golpes, por mais efetivos que pareçam
ser, não fazem tanto efeito nela. Re-
solvo então utilizar magia neste combate,
mesmo que Theon, com sua música
e suas palavras, me incentive a virar
um lobo e atacar. Vejo vários projéteis
mágicos de Frida e Lida passando por
nós rapidamente e acertando em cheio os
inimigos. Uso minha magia de energia
sagrada para queimar e obliterar essa
criatura morta-viva, mas estranhamente
ela não é vulnerável como demais mortos-
vivos a essa energia.
Theon libera Sten de sua condição e
continua nos empurrando e incentivando
ao combate. Enquanto Byork começa a
olhar de forma diferente para a mulher.
Ele a beija. Deve ter sido enfeitiçado!
O combate continua e minha magia
mais uma vez acerta a mulher, enquanto
os projéteis mágicos eliminam o outro
vampiro que havia escapado.
Uma coisa estranha foi que, já no final
da batalha, concentrei energia em meu
cajado, o girei sobre a cabeça e quando
ele ficou em brasa, bati com ele no chão,
as pequenas pedras que ali romperam-
se e absorveram a energia voaram for-
temente em direção à vampira, porém,
Byork jogou-se na frente dela levando
todo o dano e machucando-se muito.
Porém, ao receber o dano de minha
magia radiante que estava sobre ela, foi
o suficiente para que ela se arrastasse
para trás em direção à Fera ali caída. A
vampira estava muito machucada pelas
magias de todos ali.
Uma cena um tanto peculiar sucedeu-
114 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
se ao nosso combate. A Fera grita:
- Muraaaaaa!
A mulher levanta e com muito esforço
dirige-se para Fera, que grita doloro-
samente o nome da mulher. O que
não esperávamos era o urro de Mura,
a vampira, que numa onda sonora nos
empurrou fortemente para trás.
Ela salta com suas garras apontadas
para a Fera, porém, ela tombou nos
braços da grande criatura que pegou
um pedaço de madeira pontiaguda ali
próximo e cravou no peito de Mura. Ela
tentou tirar a estava sem sucesso, porém,
com a força de seu último suspiro, ela
beijou a Fera e faleceu. Um forte brilho
irradiou e a vampira virou cinzas e a
Fera voltou para sua forma humana. A
maldição foi quebrada.
Príncipe Briët é seu nome. Convidou-
nos para entrar e nos contou sua triste
história e como era chamado e tratado
pelas pessoas. A casa era toda encantada,
as coisas se mexiam sozinhas e faziam
as coisas sozinhas, como a de Rosamund.
Falou que era filho de um famoso ladrão
e que uma vez foi saquear um templo
de Uthgar, nisso, seus companheiros o
convenceram em violar a sacerdotisa que,
ao fazê-la, o amaldiçoou transformando-o
naquela criatura.
Ele acabou ficando sozinho em sua
casa encantada. Contou sua história de
amores e desilusões, e que somente o
verdadeiro amor poderia livrá-lo de sua
maldição. Estranhamente a mulher que
o amou de verdade era uma criatura
sinistra da noite. Ela estava lutando
contra a casa e que se não chegássemos
ela a teria destruído. Ele não parece
uma pessoa má, somente está cansado
e profundamente triste. Espero que de
alguma forma ele possa encontrar sua
cura.
 Nos oferece comida enquanto conversa-
mos e ele fala sobre Timm. Disse que ele
o buscou achando que ele era um gigante,
porém, negou. Falou que se mudasse
de ideia poderia ir para o Castelo de
Hartwick e buscar o templo de Vergadaim.
Ele nos contou que a casa sussurrou que
Timm era maligno e que nós somos, em
boa parte, bondosos.
Após isso, ele gentilmente nos oferece
estadia na casa e sua amizade. Porém,
temos que marchar para o Castelo de
Hartwick o quanto antes. Nos orientou
para seguirmos pela manhã com o sol
sobre nossa orelha esquerda e depois do
meio dia sobre nossa orelha direita.

U M I NCONVENIENTE U RBANO
Seguimos até avistarmos o castelo no
topo de uma ilha no meio do rio gelado.
Há muitas caravanas ali e as pessoas não
parecem muito amistosas nem receptivas.
Há uma cidade às margens do rio com
grandes mansões. Não me sinto muito à
vontade em lugares assim.
Conforme nos aproximamos, mais uma
vez chamamos atenção, talvez por, visivel-
mente, não sermos do Norte. As pessoas
daqui sempre nos olham com muita
estranheza e desconfiança. Lida nos guia
até a estalagem do Gigante Cansado e
nos informa que vai em busca de seu
amigo ali na cidade, um draconato. A
taverna que estamos é de propriedade do
rei e, aparentemente, é bem frequentada.
Enquanto bebemos um pouco um fa-
zendeiro chega até Sten e começa a
contar uma história gaguejando. Disse
que uma tal de “primeiro” estava muito
machucada e precisava de ajuda. Falou
de alguém reverenciado, falou alguém
perdeu a cor e falou para irem ao templo
de Azuth. Estranho ainda ter templos de
Azuth. Com todo o respeito que tenho
pelas divindades e sua imagem, mas é
sabido por toda Faerûn que Azuth foi
derrotado por Asmodeus e que já não é
mais uma divindade. Enfim, não entendi
metade das coisas que ele falou, quando
olho para o lado, vejo que Byork entendeu
tanto quanto eu.
Os dois, Sten e Byork, vão verificar se
podem fornecer ajuda enquanto ficamos
ali na taverna. Theon fez uma música
sobre a vampira e a Fera que enfrenta-
mos, aparentemente a história de amor
e maldições o inspirou. Ele a chamou de
“A bela e a besta”. Aguardamos ali na
taverna Theon, Frida e eu.
Quando Sten e Byork retornam e con-
tam o que descobriram no templo de
Azuth. Contaram uma história de en-
cabular sobre Ilhicamina, a sacerdotisa
de Azuth (nem sabia que ainda restavam
sacerdotes dele), e seu mestre. Eles
haviam aberto um portal até o Plano
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 115
 da Umbra e que tinham uma missão
de ir atrás de um certo contato que
teria informações sobre um bruxo que
atuava no Norte e cada vez mais ganhava
poder. Suspeitamos ser o bruxo ogro
que encontramos há algum tempo. Ela
conta que conseguiu escapar da Umbra,
porém seus companheiros não, e que
seu braço não estava machucado, mas
sim tinha sido “devorado” pela Umbra.
Ofereceu a missão para Sten e Byork,
que estão dispostos a aceita-la. Querem
ir à Umbra e falar com o tal contato para
conseguir informações e tentar resgatar
seus companheiros, se estiverem vivos.
Achei aquilo uma loucura. Como eles
querem ir para Umbra, confiando em
uma total desconhecida para abrir um
portal de entrada e saída. Quem nos
garante que ela vai abrir esse portal na
hora de sairmos? Não entendo como
podem confiar fácil assim em alguém.
Disseram-nos que ela usou uma magia
para que ninguém pudesse mentir, mas
isso não me dá confiança alguma de que
ela vá fazê-lo. Sem falar que estamos ali
com dois objetivos: avisar a rainha sobre
os gigantes e encontrar Timm. Theon
e Frida parecem compartilhar a mesma
opinião. Não podemos nos desviar de
nosso foco mais uma vez.
Os dois foram votos vencidos. Decidi-
mos aguardar Lida voltar para termos
nossa audiência com a rainha. Nisso, um
116 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
velho humano muito bem trajado entra
na taverna e fala com uma das mulheres
que trabalham ali. Ele vem em nossa
direção e pergunta se somos o grupo de
aventureiros recém-chegados e que que-
ria nos contratar para darmos uma surra
em um intendente de Timm na cidade.
Pergunto quem deseja saber e ele vem
vociferando sobre a linguagem dourada,
que pagaria em ouro para fazermos o
serviço, etc., mas Theon aparentemente
não gostou muito do tom de voz dele e
pôs-se em pé e levantou seu tom de voz
para o mesmo que o valho usava. Ele não
gostou muito disso, jogou uma moeda
sobre a mesa, olhou com desdém para o
grupo, virou as costas e saiu. Que velho
louco.
A moça que ele havia falado veio então
nos dizer que ele era o patriarca Ardena
Ula, que era uma pessoa muito rica e
que poderia pagar para dar-nos uma
surra pela afronta. Olho para aquilo sem
entender qual foi a nossa afronta, mas
também sem me preocupar muito com
aquele velho, porém, ele nos trouxe uma
informação que vale mais que o ouro dele:
o intendente de Timm está na cidade.
Acho que já sabemos onde ir enquanto
Lida não regressa...
Que Silvanus guie meus passos e
possa me abençoar, mesmo neste incon-
veniente urbano.
 e concordo com Frida e acho melhor ir
B YORK – L EÃO DE
atrás do intendente de Timm.
P RATA Antes de sairmos da Taverna do Gi-
gante Cansado vejo Theon indo conversa
com à atende, o mesmo após voltar avisa
Após eu e Sten voltarmos do templo de
que o dono da taverna é casado com a
Azuth e de ver aquela relativa discussão
rainha e nesse momento está reunido
entre Theon e o velho nobre na estalagem
com um nobre, que pelos trejeitos que
o grupo acalmou os ânimos e se reuniu
Theon comenta eu acho que pode ser
na mesa daquela calorosa taverna Gi-
Timm. Nesse momento penso sobre o ti-
gante Cansado para decidir quais seriam
tulo de nobreza de Timm e de qual forma
os próximos passos que perseguiríamos.
esse desgraçado poderia usar isso contra
Theon, Aydan e Frida elencaram qua-
a gente, falo sobre esse pensamento a
tro propostas eu fiquei a ouvidos delas,
todos e vamos atrás do mal educado do
ultimamente não estou muito a ter idéias
Ardena Ula na residência dele que fica
que possam ajudar o grupo, sendo elas:
distrito do castelo.
- Esperar a Lida Cora que foi atrás de
Encontramos Ardena Ula com seus
um conhecido.
funcionários olhando para gente com
- Entrar no Plano da Umbra para salvar
cara de poucos amigos, Observo Theon
os membros do Templo de Azuth e conse-
dá um passo a frente e ir conversa
guir informações sobre como enfraquecer
com Ula para arrumar o inconveniente
o Warlock pactuante.
entre ele e a nós, Theon me chama para
- Ir atrás de Ardena Ula e resolver o
conversar com UIa e eu meio sem jeito
mal-entendido, pois o que parece temos
querendo demonstrar nobreza e altivez
um inimigo em comum o desgraçado de
falo sobre o nosso desejo de separar a
outro nobre chamado Timm.
cabeça de Timm do corpo dele que nesse
- Por último conseguir uma reunião
caso a tanto o nosso grupo os Leões de
com o dono dessa taverna que poderia
Prata como o senhor nobre Ula temos um
ser um caminho mais rápido da rainha.
objetivo em comum.
Inicialmente eu estava inclinado em ir
Ula concorda em no que eu digo e
salvar os membros do Templo de Plano
diz que devemos pegar o intendente e
da Umbra, porém do que Frida me diz
ele “trabalhará” nele para tirar as infor-
que Azuth é um deus morto e que toda
mações necessárias desse infeliz e que
essa história poderia ser mentira ou pior
esse intendente estará bebendo em uma
um tipo de armadilha.
taverna fora da cidade.
Mudo de idéia e lembro-me de um livro
Antes de sairmos Ardena Ula avisa
sobre táticas básicas de batalhas no qual
que caso a guarda da cidade pegue a
dizia que "o inimigo do meu inimigo é
gente é para dizer a eles que o nosso
meu amigo"e mesmo que o nobre seja um
grupo trabalha para ele, eu acho que isso
estúpido acho que pode ser interessante
não vai ser necessário, porém não vou
ir conversar com ele.
esquecer-me desse conselho, ele também
Aydan e Theon discorrem que Azuth
da a fisionomia do intendente sendo ele
verdadeiramente não está morto e foi en-
um meio ogro baixo com indumentária de
golido por Asmodeus, porem não entendo
Vergadain provavelmente acompanhando
muito dessas histórias de religião e deus
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 117
 de outros meio ogros.
Chegamos à taverna mencionada e
vimos cinco pessoas além dos quatro
meio ogros de Timm, decidimos então que
a melhor forma de enfrentar esses meio-
ogros sem causar danos aos outros seria
chamá-los para fora da taverna, entre-
tanto quando Aydan está se posicionando
atrás da janela é avistado e reconhecido
pelos meio ogros.
Percebendo que foi avistado Aydan
solta uma magia com areia e brilho
fazendo que os meios ogros fiquem de
cor verde, os mesmos falam impropérios
a Aydan e ele aproveitando da situação
se transforma em um Lobo.
Quando olho para dentro da taverna
vejo um dos meio-ogros correndo em
minha direção com o intuito de acerta
um golpe na minha cabeça. Porém já
aprendi como esses seres desprezíveis
lutam e aproveito o flanco aberto para
desferir um golpe com a minha espada,
Frida atenta ao golpe que dei também
aproveita o desleixo do Meio Ogro e solta
uma magia de fogo queimando a cabeça
do Meio-Ogro e levando-o ao chão sem
vida.
Em seguida outro Meio-Ogro corre e
minha direção proteção dando a opor-
tunidade para Aydan o Lobo derrubá-
lo, e aproveito quando esse Meio-Ogro
está levantando para pular usar o peso
da minha espada para dividi-lo ao meio.
Aproveitando o impulso para frente por
causa do peso espada invisto no inten-
dente meio ogro acertando o queixo dele
com o meu ombro. Frida usa uma das
suas magias para me ajudar e paralisar o
intendente facilitando o meu de aproveito
para desmaiar o meio-ogro intendente
um tapa da minha espada.
Olho para fora da taverna e vejo o
Lobo Aydan arrancado à traquéia de
118 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
outro meio ogro, também observo que
o pessoal da tarvena não ligando muito
para briga que está acontecendo sinto até
que talvez esteja ocorrendo aposta sobre
essa situação.
Após toda essa confusão Theon com-
prar um barril e colocamos o intendente
Meio-ogro nele e levamos de forma cir-
cense até caminho da casa do Ardena
Ula, ele quando nos viu acho engraçado
e gostou da forma rápida e sutil que
chegamos com o Meio-Ogro no barril.
Após o serviço do meio ogro e pagamento,
olha só sou pago para matar os devotos
do Timm que coisa boa, voltamos para
a estalagem do Gigante Cansado como
combinado com Ula para esperar os
próximos passos contra Timm.
Sendo que grupo teria tempo para
resolver coisas pessoais como ir comprar
mantimentos na cidade, eu aproveitei
e fui a um ferreiro para comprar uma
espada longa de prata, lembro de Rolo
falando que todo guerreiro deveria ter
uma em caso de combate contra seres
da noite e vampiros.
Chegando lá percebi que não tinha
moedas suficientes para essa espada,
Theon vendo a situação ofereceu para
pagar o restante que deu entorno de
30 PO, aceitei porem tenho que pagar
o quanto antes, acho muito ruim ficar
devendo alguém ainda mais um dos
membros titulares dos Leões de Prata.
Após um tempo Ardena Ula aparece
na taverna do Gigante Cansado e fala
do plano de Timm de destruir a nossa
reputação através de um bardo Firbolg
em um evento que acontece uma vez
por ano no qual os nobres contam suas
historias para todos da cidade.
Ardena Ula menciona que o tal bardo
encontrará com bando de Timm daqui
três dias então temos um dia de vanta-
gem, Ula também informa que não deve- Por fim ele conta que acredita que há
mos machucar o Bardo Firbolg, porém espírito que habita o Brejo à leste e o
podemos destruir o campamento. Aydan mesmo não seja maligno e nem guarda
propôs que a gente conte a verdadeira um grande Item de poder, mas que acha
historia para o bardo e talvez paguemos que ele sabe de um segredo hediondo no
para o mesmo cante a verdadeira histó- castelo Hartwick e que talvez este segredo
ria. possa ser útil contra Timm.
Decidimos ir destruir o acampamento Frida tira mais informações do Meio-
e conversa com o bardo, viajamos por Ogro, ele chora e se urina pedindo per-
dois dias e encontramos o acampamento dão e admite que mais algumas coisas,
perto de uma grande estátua de Anan, a exemplo que trabalhar para Timm
o acampamento tem dez barracas no há muito chegando a fazer serviços de
qual eu avistei quatro kobolds voadores e seqüestro de pessoas e até um gigante de
um meio ogro perto da estatua, então pedra.
se aproximamos do local da estátua Viro de costas e vou para de trás da
aparecem mais doze kobolds voadores. estátua de Anan, ouço um golpe e depois
Uma coisa interessante acontece o que parecer ser um grande corpo caindo
quando falamos que vamos matar todos ao chão...
que estão do lado de Timm, os Kobolds
oferecem 2 PO para mudar de lado e 5 PO
para atacarem o Meio-Ogro, Frida aceita
a barganha e todos os Kolbods começam
a atacar o Meio-Ogro ao ponto de quase
matá-lo.
Frida paga os Kobolds e montante total
e dividido entre a gente e Theon paga
minha parte, acho eu que estou com
problema agora minha divida com Theon
aumentou em 45 PO totais. Esse Meio-
Ogro pede clemência e se diz arrependido
de tudo que fez e estaria disposto a
ajudar o grupo em dois assuntos sendo
eles. Ele sabe e informa que um Meio-
Ogro chamado Rompe-Olhos tem uma
unidade de ladrões e que pretende matar
todos os mineiros da Mina da Prata da
família Wynn ele tem uma unidade de
cerca de nove saqueadores. Ele não está
acampado muito longe está escondido em
uma caverna próxima, sabendo como ele
é, ele não irá medir forças para roubar e
matar a todos, que podemos salvar todos
desse assalto e ganhar uma recompensa
desse feito.

U MA VIDA PARA SER H ERÓI 119

 expresse sua emoção e eu possa saber
T HEON DE O LAMN que o que estou prestes a fazer será
válido. Ao final de tudo entrego meu
A Função de um Bardo
diário a ele para que ele possa anotar os
Uma estocada firme, um corpo desaba
detalhes e assim contar nossa história.
ao chão. Normalmente em seguida viriam
Antes de partimos converso com Frida
as filiações, postos e conquistas da cria-
e informa-a que após esse conflito com
tura, mas no seu caso. Aqui se vai, um
Timm ser sanado eu partirei para o sul
ogro, último de uma linhagem desconhe-
novamente e caso ela queira ir junto
cida, de lugar nenhum e nenhum feito.
ficaria grato, ela acena positivamente.
Isso é tudo que posso dizer sobre você.
Após partirmos vamos de encontro ao
Após isso analisamos a situação e
brejo, uma energia negativa paira sobre o
temos alguns pontos definidos. Primeiro
local, o esqueleto de um gigante pode ser
aguardar o Bardo e leva-lo para o castelo,
visto com algumas partes a vista do brejo
após isso seguir para o brejo e depois
enquanto outras partes estão afundadas
as minas. O bardo Fribolg chega, e nos
nas águas escuras do brejo. Usamos os
questiona sobre a história que prome-
ossos do gigante como passarela para
teram a ele. Ele diz sobre a versão da
passar entre as ilhas do pântano e
história sobre nós que ele ouviu. E todos
nesse momento, Khalo o ratinho de Frida
encubem a mim a ideia de falar sobre isso
dispara de seu ombro e corre com se
e explicar melhor para ele nossa versão
rejeitasse o pântano sombrio a frente.
dos fatos.
Frida deixa calo em um caixinha com
É muito difícil lembrar todos os de-
ração para o buscarmos na volta do brejo.
talhes, claro que sempre faço minhas
O local é escuro e Byork vai a frente
notas no diário e poderá ser útil. Mas
com uma tocha acessa, iluminando parci-
nesse caso um diário apenas não será
almente o caminho daqueles que não são
o suficiente, devo improvisar. Peço que
agraciados com olhos noturnos como o
todos se posicionem nas escadas abaixo
meu, essa parca iluminação é suficiente
do monumento e eu vejo meu palco,
para nos dá a iluminação de criaturas
meu público, a luz do sol iluminando o
terríveis que atacam nossas mentes. O
ambiente, tudo pronto hora de iniciar o
capitão toma a frente, mas achamos
show.
melhor evitarmos o combate, ele tenta
Olho para todos e várias palavras veem
nos dá tempo de fuga, mas o conflito é
a minha cabeça de forma aleatória, penso
mais pesado que parecia, e por diversas
em um texto típico para enrolar e receber
vezes ele vai ao chão, sempre levantado
vantagens e possivelmente obter nosso
com meus dons através de palavras ins-
êxito nessa conversa. Tomo ar e preparo
piradoras para mantê-lo acordado. Frida
para iniciar meu discurso. Mas na hora
nota um espirito próximo e faz contato,
do início, sinto que não é o momento
conseguindo sua graça, eles nos ajudam
mais adequado para isso e falo com meu
e após árduo combate conseguimos por
coração. Explico sobre minha viagem,
fim vencer nosso desafio.
sobre a chegada ao norte, os preconceitos,
A criatura fantasmagórica apresenta-se
as mortes de inocentes, as falcatruas
como Trevor, diz que foi morto covarde-
de Tim e tudo de forma ampla, apenas
mente por Fardo. Que usurpou seu cargo
para sentir o que o fribolg a minha frente

120 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

com ministro do comércio e o largou seu
espirito para vagar eternamente nessas
terras assim como seus companheiros
que o seguem. Conheço histórias sobre
o ex-ministro Trevor, e sei de suas cor-
rupções e falcatruas, não é flor que se
cheire, mas seu espirito de fato precisa
ser liberto. Ele nos mostra seu corpo
morto e um par de anéis que poderão ser
usados como prova de que encontramos
seu corpo e de seus companheiros comer-
ciantes largados no brejo, e que devemos
usar isso como para incriminar Fardo.
Aceitamos a missão, esses anéis serão
úteis a frente, e podermos usar em nosso
favor e ainda libertar uma alma presa que
pode prejudicar outros por aqui.
Partimos para as minas da família
wynn, ficam cerca de 40 km ao sul em um
local conhecido como o desfiladeiro da
serpente de prata este Canyon, é famoso
em Faerum foi nele que a princesa de
Hartsvale quando jovem foi assediada e
sequestrada. Durante nosso caminho
vemos um gigante do fogo que nos in-
tercepta e nos fornece duas opções, par-
timos ou sermos partidos. Optamos pela
primeira e voltamos para procuramos
novo caminho.
Seguindo por outro caminho guiados
por Aydan, sentimos um odor de carne
sendo assada ainda com pelos por ela,
optamos por continuar, mas tomando
sempre cuidados. Notamos um Kobold
Alado, também conhecido como Urd vigi-
ando a local próxima da entrada. Frida
toma a frente e negocia com um deles, e
obtém informações valiosas sobre o local.
O Urd nos diz que seu grupo está dentro
da mina e que seu líder
Uma criatura grande toma conta dela
e do tesouro deles, ela paga a ele duas
moedas e pede para que ele parta e tire
o dia de folga. Atualmente Frida está se
saindo muito bem nas negociações, talvez
o tempo que ela está passando ao meu
lado esteja lhe fazendo bem.
Ao adentrarmos a caverna, o grupo de
Urds nos atacam e o combate se inicia.
Uma voz grossa pode ser ouvida, alguém
se denominando Rompe Olhos surge em
meio a escuridão para atracar em com-
bate conosco. É possível notar também
a fogueira que originava o odor antes
sentido por nós, mas nesse momento o
odor dessa criatura supera facilmente o
da fogueira.
Após um combate bem executado ob-
temos êxito contra as criaturas maio-
res e alguns dos pequeninos tentam
fugir, sendo abatidos por Aydan. O
pequeno restante se rende e nos explica
o que faziam por ali. Aparentemente
são saqueadores que aproveitavam das
vítimas locais, e eram controlados pelo
Rompe Olhos. Encontramos os pertences
dos demais e entre eles uma máscara
prateada feita com fio de cobre e formato
de borboleta, guardamos acreditando que
possa ser útil futuramente. Digo ao Urd
Kobold sobrevivente para que ele parta
e que mude seus modos de vida, para
que se torne bom, e quando encontrá-
lo novamente, caso continue saqueando
pessoas, eu mesmo o matarei. Aydan
troca algumas conversas comigo sobre o
comportamentos e ideais, e isso é bom,
parece que finalmente começamos a nos
entender.
Enquanto meus companheiros vascu-
lham o local por mais coisas, eu fico
pensando sobre o pequeno sobrevivente.
Será que uma pessoa pode ser mudada?
Essa história ficará para um encontro
futuro quando nos reencontrarmos, só
assim eu terei essa resposta.
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 121
 consciência.
F RIDA F URA O LHO Ele, assim como eu, está com saudade
de Rosamund, prometi para ele que em
Voltamos para a cidade depois da batalha
breve voltaremos a vê-la.
nas minas da família Wynn, eu estava
Byork resolveu que deveríamos aden-
um pouco cansada mas precisávamos
trar, ao abrir a porta um cheiro de comida
encontrar Lida. Antes de entrar na
velha me deu vontade de vomitar.
cidade, naquela região mais afastada,
Aydan disse que lá dentro havia um
próxima da taverna Arroto de Ogro, fo-
gigante da colina. Eu só consegui pensar
mos abordados por um rapaz com um
como esse gigante chegou aqui que é tão
envelope na mão. Ele dizia ser enviado
frio.
por Lida, Theon pagou a ele uma moeda
Ele gritava falava algo em um idioma
de prata e pegamos o envelope.
que eu não entendia, mas Aydan seguia
Lida dizia que estava no castelo, que
traduzindo. O gigante disse que ganhou
tinha descoberto algumas coisas para
essa casa do Timm "Veneno de Cobra".
nos ajudar contra Timm, que tinha se
Só podia ser isso né?! Tentei dizer paro
aproximado do rei, mas que era para
Byork que já tínhamos um papel da Lida
nós aguardamos na taverna/hospedaria.
dizendo que aquela mansão pertence a
Ela disse também que há na cidade uma
ele e que deveríamos ir embora, mas
mansão que é por direito de Byork, por
ele achou que o melhor seria combater
ser o último Leão de Prata. Ela também
mesmo.
mencionou estar com saudades de mim
Aquele gigante deu uma pancada no
e que tem uma nova receita.
Aydan muito forte. Mas o combate
Estou ansiosa por encontrá-la nova-
acabou ficando fácil depois que ele con-
mente.
jurou oito lobos para atacar o gigante!
Na entrada da mansão uma placa
Dessa vez minhas magias não funciona-
pendurada diz: Posto Avançado do Norte
ram muito bem, não consegui acertar
- Leões de Prata. Aydan disse que
meus raiozinhos de fogo, mas também
parece que as portas foram trocadas
não aconteceu nenhum grande problema,
recentemente. Achei isso estranho. En-
fiquei aliviada.
quanto eles conversavam sobre o passado
Depois do combate deixamos Sante e
de Byork, eu só conseguia ouvir meu
Sten cuidando da "casa"do Byork e dos
estomago roncar, aproveitei para comer
Leões de Prata. Seguimos então para
um pouco de ração dividindo com Khalo.
falar com o Sr. Ula sobre Fardo. Ele
Byork resolveu entrar, ao abrir a porta
sugeriu que a gente se juntasse a Fardo
parecia que lá dentro estava ocupado,
contra Timm.
parecia uma ferraria, tinha uma fornalha
Eu não gostei muito dessa ideia, mas
acesa, uma bigorna, fole, escudos e ar-
pode ser uma possibilidade. Pedimos
maduras feitas, mas não havia ninguém
também para o Sr. Ula mandar um
ali naquele momento.
mensageiro para o patriarca da família
Vassourito ficou triste com a presença
Wynn avisando que as minas foram
de um primo (vassoura) jogado num
limpas dos bandidos.
canto, tentei explicar que existem muitos
O Sr. Ula disse que sabendo disso, a
assim no mundo, mas que ele deveria
família Wynn ficará ao nosso lado garan-
ficar feliz porque foi presenteado com a

122 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

tindo assim metade dos conselheiros.
Eu lembrei do pedido da clériga de
Azuth e perguntei para o Sr. Ula se ela
possui poder ou voz dentro do conselho
e ele disse que sim. Então, agora, a
missão de ir para a Umbra parece ser
interessante.
O Sr. Ula dispensou alguns mercená-
rios para trabalhar no Posto Avançado
dos Leões de Prata, claro que nós teremos
que pagar os salários, mas já é uma
boa ajuda, economizou tempo porque
teríamos que ir atrás de trabalhadores
para manter esse local.
Voltamos para o posto para uma reu-
nião. Decidimos primeiro falar com
Fardo, mas enquanto conversávamos
com aquele rapaz apareceu novamente,
o nome dele é Glash, veio trazendo
informação que Tavis, o marido da rainha
ajuda. Eu não me sentia diferente.
queria falar conosco.
Segundo ele, somente um mendigo seria
Glash, assim como eu é um órfão.
a testemunha, Khalim Pitú. Ele pediu en-
Percebi que ele não entende muito sobre
tão que nós investigássemos e fizéssemos
o valor do dinheiro e das coisas. Ele
justiça por elas, o objetivo era resgatar as
parece ser um bom rapaz e talvez até
três sobreviventes.
mesmo útil para nós. Convidei ele então
Ele anotou em um papel o nome do
para ficar conosco e trabalhar para nós.
mendigo, e em outro o nome do Sr.
Eu sei como a vida de um órfão é difícil.
Ula, indicando que ele poderia fazer o
Espero que ele se comporte aqui e sei que
trabalho sujo e justiça caso ele mesmo,
assim ele se dará bem.
Tavis, não pudesse fazer nada. Pedi
Então, fomos para lá. Nós já queríamos
para ele então os nomes e descrição das
falar com Tavis mesmo.
meninas, para que possamos identificá-
Ao chegar na taverna, logo encontra-
las. Pedi também que ele avisasse Lida
mos com ele, fiquei realmente impressi-
que estávamos aguardando pelo contato
onada, ele é realmente grande e bonito,
dela ali na taverna ou no Posto Avançado
mas parecia preocupado.
que já estava sendo organizado por nós.
Ele disse que encontrou com Lida
Theon puxou outros assuntos com Tavis,
durante a manhã e que ela disse que
sobre Timm e Fardo, mas acabei me
nós poderíamos ajudar ele num problema.
distraindo com uma borboleta branca na
Ele estava preocupado porque 4 meninas
janela e quando percebi Theon e Byork já
que "trabalhavam"nas docas quando uma
estavam de saída da taverna.
carruagem parou, matou uma delas e
Saindo dali, fomos falar com Fardo no
levou a força as outras três. Ele ficou
mercado Cervo de Prata. Nós ainda não
realmente triste, chorou e pediu nossa
havíamos vindo aqui, é um lugar bem
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 123
 movimentado, várias lojas e barracas.
Há pessoas andando por todos os lados
também. Além disso, tem bardos to-
cando músicas, mas nenhuma tão bonita
quanto as do Theon.
Mais uma vez um guarda-costa mal-
humorado se desentendeu com Theon
que resolveu ir embora. O guarda pe-
diu alguma identificação de Byork ser
realmente um Leão de Prata, eu percebi
que Theon e Byork ficaram surpresos e
indignados com a petulância, mas eu
sugeri que Byork apresentasse a carta
da Lida.
E assim, conseguimos a atenção e uma
audiência com Fardo. Mas, Theon já
havia indo embora. Vi a dúvida nos
olhos de Byork e então me aproximei dele,
coloquei a mão em seu ombro e disse que
ia dar tudo certo. Byork seguiu com os
guardas enquanto eu voltei para o Posto
seguindo Theon.
Theon está realmente de saco cheio
dessa gente sem modos do norte. Eu por
outro lado passei grande parte da minha
vida sendo enxotada dos lugares, sempre
por pessoas maiores e mais fortes do que
eu, acabei aprendendo que o melhor a
fazer é ignorar e sair, exceto quando se
tem algo além da própria palavra que faça
a pessoa mudar de ideia. E nesse caso
tínhamos a carta da Lida.
Byork voltou, contou que conversou
com Fardo. Tivemos boas e más notí-
cias... Pelo que parece Fardo não gosta do
Timm também, essa é a boa notícia. Mas,
Byork comentou do fantasma do pântano,
e com isso Fardo disse que se a gente
matar o fantasma ele nos entrega o colar
mágico do Timm, aquele que permite ele
fugir dos combates. Byork disse também
que Fardo é um Zentharim. Eu já ouvi
em algum lugar esse nome, parece que é
uma facção má de alguma forma. Essa é
124 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
a notícia ruim.
Eu e Theon fomos então procurar o
bêbado nas docas. Encontramos ele na
taverna, bebendo como imaginávamos.
Sentei ao lado de Theon enquanto ele
tentava tirar algumas informações do
bêbado.
Theon pediu bebidas, eu tentei dar um
gole, mas era muito ruim, engoli porque
não queria criar problemas, mas eu tive
mesmo foi vontade de vomitar. Comi
um pedaço de pão que estava na minha
mochila para tirar o gosto ruim da boca.
O bêbado disse que a carruagem tinha
um nobre dentro, que o nobre já tinha
acertado tudo com as meninas, mas que
quando a mais nova chegou ele a quis
também. A mais velha, Clarita, não
aceitou e atacou os guardas com uma
adaga, eles revidaram, e como já era
previsto mataram Clarita e levaram as
outras.
O bêbado disse que a carruagem car-
regava um nobre clérigo de Verghadain e
que durante a peleja uma moeda com a
cunhagem desse deus anão. Timm, claro,
só podia ser ele. Até hoje não vi pessoa
mais podre do que ele.
Voltamos então para o Posto.
Enfim chegou a hora do almoço!!! É a
melhor parte do dia com certeza! Comi
pães, carne e frutas, estava muito gos-
toso. Fiquei até com a barriga estufada
de tanto que eu comi.
Depois do almoço acordamos Byork
para poder dizer pra ele o que o bêbado
nos contou.
Byork ainda está bem preocupado com
o que o Fardo disse e não quer se envolver
com ele matando o fantasma porque não
quer se envolver com Zentharins, nesse
ponto eu concordo com ele. Não quero
meu nome ligado a mais uma facção,
ainda mais com essa. Sem esquecer que
eu ainda acredito que o fantasma disse a
verdade e esse Fardo é uma pessoa ruim.
S TEN W INDBORN
Resolvemos então resgatar as meninas
Sento na mesa enquanto ocorre uma
que foram levadas por Timm. Fazendo
discussão acalorada entre meus compa-
isso, conseguiremos o apoio de Tavis e
nheiros. Theon levanta os prós e contras
ele é o marido da rainha, já é um apoio
políticos de algumas decisões a serem
importante. Mas antes de ir acho que vou
tomadas, enquanto Aydan não liga para
colocar algumas frutas secas na mochila.
esses desdobramentos políticos que por
Daqui a pouco será o horário do segundo
ventura suas ou nossas ações possam ter
almoço e pode ser que ir até o "templo"de
e a pequenina Frida se preocupa com as
Timm e resgatar as meninas demore.
três mulheres raptadas por Timm. Entre
todas as observações levantadas, uma
das principais ou a principal, é garantir
que nós não sejamos condenados pela
morte de Timm, quando ela ocorrer, pelas
leis de Hartwick.
Pelo que pude constatar temos o apoio
de Ula e Fardo. Além disso a família
Wynn nos defenderia perante o conselho
e, o próprio marido da rainha, Tavis,
embora não possa nos defender perante
o conselho, levaria a nossa voz ao mesmo.
Para Theon, o apoio de somente esses
nobres não é suficiente para garantir a
nossa salvaguarda perante o conselho,
caso consigamos matar o Timm aqui em
Hartwick. Mesmo que, muitos entendam
que Timm deseja ampliar a sua influência
no Norte, o mesmo continua sendo um
nobre. Theon entre uma fala e outra
ressalta a necessidade de ampliarmos
nossos laços com pessoas importantes
de Hartwick.
Após algum tempo discutindo sobre
tudo decidimos ir ao templo que Timm
está construindo na cidade para encon-
trar e resgatar as prostitutas sequestra-
das pelo infeliz, pedido este feito pelo
marido da Rainha, Tavis. Não demora
muito e chegamos ao local do santuário
em construção o qual estava rodeado de
tapumes. Aparentemente não querem
que ninguém veja o que está sendo
feito na construção. Frida rapidamente
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 125
 sobrevoa o local com o Vassourito e nos
indica que devemos ir pelos fundos.
Chegando a fundo empurro a porta
que não estava trancado e o local é
revelado. Um corredor largo e espaçoso
no qual cabem quatro pessoas lado a lado
tranquilamente. O assoalho foi assentado
com pedra muito bem polida, típico das
construções conduzidas por Timm. O
teto da construção deve possuir uns seis
metros de altura, julgo eu. Alguns passos
depois posso identificar que há um salão
mais à frente. Contudo o que chama a
atenção é o cheiro do local. Pude perceber
que do braseiro à frente emana um forte,
mas agradável aroma de ervas finas. O
local é muito bem-acabado, embora sua
iluminação seja realizada com tochas
nas paredes o local é de um bom gosto
impressionante.
Adentramos pelo corredor e Frida se
desloca até bem próximo do braseiro
e encontra algumas caixas. Enquanto
isso Theon abre uma porta que estava
à nossa esquerda e imediatamente nos
pede silêncio, ele escutou ou viu algo.
Aydan se dirige a Theon enquanto eu
passo direto e vou para além do braseiro
no qual Frida se encontrava. Aydan
adentra um pouco na porta e percebe
que a sala à sua esquerda está cheia
de gigantes. Ele avisa para Theon que
nos chama (eu e Frida), enquanto retorno
para os demais companheiros Frida me
entrega uma poção de cura, a qual
guardo rapidamente. Todos estão tensos,
Aydan quase não se movimenta. Theon
ficou na porta observando o local de onde
eu e a Frida retornava. Quando entro na
sala que Aydan comentara, mesmo com
a iluminação precária consigo enxergar,
um gigante monstruoso sentando em
uma cadeira. Olho para Aydan e aviso:
- Se prepare para o combate.
126 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
Minha espada acerta o gigante, antes
mesmo dele ter qualquer tipo de reação.
Em seguida um barulho ensurdecedor de
trovões ecoa da minha espada. O som
claramente poderá ser ouvido por toda a
construção. No mesmo instante escuto
o som estrondoso do hakin do Theon
acompanhando em uníssono os ecos dos
trovões, em uma melodia rítmica vibrante
com uma virtuosa alternância de batidas.
- Chegamos! Braveja Theon o Bardo.
O gigante urra de dor. Mas, percebo
que fui completamente imprudente. Olho
para o lado e vejo mais dois gigantes.
Que Helm esteja convosco. Frida lança
um raio de gelo que passa sob a minha
cabeça e vejo que um dos gigantes ficou
com as pernas congeladas. O combate
será duro.
Olho para trás e enxergo um Lobo
Gigante, Aydan se transformou na besta
fera. Espero um pouco e consigo identi-
ficar o motivo. Uma outra porta se abre
e aparecem mais três gigantes. Bem,
agora tenho certeza que seremos testados.
São seis gigantes neste local. Decido
segurar os três nesta sala. Enquanto
meus companheiros cuidam dos outros.
Decido manter uma postura de defesa,
os três gigantes que estão na sala tentam
me golpear, mas sem sucesso. Hoje e
sempre Helm estará ao meu lado. Eu
só enxergo os martelos dos gigantes
golpearem o meu escudo. Me torno
apenas um, o escudo agora faz parte do
meu corpo. Minha defesa é perfeita os
gigantes tentam e tentam e nenhum deles
me atinge. O combate se desenrola e cada
companheiro se envolve por completo na
batalha.
Com isso escuto Theon começar a
zombar e xingar os gigantes, fico sem
entender essa loucura. Mas, aparente-
mente faz com alguns dos gigantes não
 começam a cair. Frida entre um ataque e
outro me auxilia curando meus ferimen-
tos. Theon mantém a moral do grupo alta.
Enquanto a besta-fera tenta arranca os
braços de mais uma criatura. Um dos
gigantes tenta se render, mas Theon e
Frida o atacam com ódio. E quando sobra
apenas um gigante Frida questiona a ele
onde estão as mulheres. Ele responde
com a voz trêmula e em seguida a besta-
fera do Lobo, já completamente coberta
em sangue, mata o gigante sem pena. O
combate se encerra. Estamos bem feridos
e exauridos. Decidimos fazer um rápido
descanso para recuperar as energias para
seguir em frente. Alguns minutos depois
me sinto bem melhor.
De acordo com a última fala do gigante
Frida nos orienta pela construção até
uma ampla sala, na qual contém duas
estátuas de pedra, quase do tamanho
ou um pouco maior que os gigantes que
consigam fazer nada, eles ficam nervosos
acabamos de encontrar. As estátuas
com a zombaria e erram todos os ata-
estão empunhando em uma mão um
ques. Fico preocupado pois são muitos
escudo e na outra um machado enorme
gigantes. Frida e Aydan se revezam nos
feito em pedras. Entre as duas estátuas
ataques contra os gigantes. O combate se
há uma fonte, a qual julgamos ser um
alonga mais que o esperado, são muitos
batistério. A água é límpida, lavo o meu
gigantes.
rosto. E quando olho para o lado enxergo
Theon esbraveja para que eu ataque,
uma das estátuas se movendo. O som da
Aydan está levando muitos golpes e
pedra causa agonia em nossos ouvidos.
começa a sangrar muito. Frida está
É um barulho de pedra com pedra. O
com o Vassourito, mas não a enxergo.
cabo do machado risca o chão polido,
Preciso abrir mão da minha defesa e
o ruído incomoda a todos. Quando
começar a atacar. Não posso mais apenas
a estátua chega próximo percebo que
segurar os gigantes. Viro as costas para
ela foi talhada por um ótimo artesão,
a sala e ataco o gigante que estava em
não consigo identificar lascas na estátua,
combate corpo a corpo com Aydan e todos
ela também foi polida, uma belíssima
os companheiros se unem contra ele.
estátua.
Instantaneamente o monstro cai. Recebo
É impressionante a cena, mas percebo
um golpe de um gigante, mas estou
que cometi outro erro. Deixei a impressão
bem. Aparece outro gigante que tenta
tirar a minha atenção e concentração.
nos atingir, mas sem sucesso. Este é logo
Pois a estátua levanta o seu machado
exterminado e dessa forma o combate
de pedra e me golpeia. Um golpe pesado,
é conduzido. Um por um os gigantes
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 127
 o machado de pedra se choca com meu
escudo, mas a força e o peso da arma é
demais. Sinto o golpe me acertar forte
me deixando com um zumbido no ouvido
e sangue começa a escorrer. Frida voa
em minha direção gritando algo, mas
não consigo ouvir nada. Ela estende
a mão e nela há uma poção estico a
mão e a bebo imediatamente. Me sinto
revigorado, até o zumbido no ouvido
desaparece. Me viro para a estátua e
a golpeio. O barulho é de aço golpeando
pedra, consigo quebrar algumas lascas
do escudo da estátua a qual permanece
imóvel. Theon e Aydan atacam a mesma
estátua, enquanto observamos a segunda
estátua se movimentar em nossa direção.
sangue. Sinto algo escorrer pelo meu
corpo, um tipo de óleo. Olho para cima e
vejo a Frida jogando algo sobre mim. Me
levanto como se nada tivesse acontecido
e sem pestanejar estou de volto a peleja.
Golpeio a segunda estátua com ódio. O
som é aço golpeando pedra.
Theon grita esbravejando algo que não
entendi direito. Aydan tenta golpear a
estátua sem sucesso. Frida lança algo so-
bre a estátua e ela novamente me golpeia.
Dessa vez consigo me posicionar melhor
mesmo assim o golpe é muito forte. O
que me acerta agora é o que restou do
machado de pedra. Todos atacam a
última estátua e ela se desfaz em pedras
da mesma forma que a primeira.
A pequena Frida pergunta se estou bem
e comenta:
- Nunca vi estátua se mexer, muito
menos caminhar.
Todos riem por algum tempo, mas o
semblante de preocupação retorna a cada
um de nós.
Sigamos em frente ...

Sou golpeado novamente, dessa vez es-

tou preparado e consigo esquivar do golpe
pesado do machado de pedra. O escudo
da estátua agora está completamente
destruído e ataco novamente. O barulho
é aço contra pedra. Aydan, Theon e Frida
atacam a criatura e a mesma é destruída
se desfazendo em pequenos pedaços de
rocha bruta. Quando me viro enxergo o
gume do machado da segunda estátua
vindo em minha direção me acertando
em cheio. O golpe é tão pesado que
me ajoelho enquanto escuto barulho de
pedras caindo no chão. O gume do
machado foi quebrado em pedaços ao me
atingir. Muito sangue escorre pelo meu
rosto. Não consigo enxergar com tanto

128 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

 lo de “milady” ou de “senhora princesa”.
AYDAN - S EMENTE DE Contam que Ying viu Timm “mudar de
C ARVALHO corpo” quando um espírito negro surgiu
no aposento que estava, falavam num idi-
oma incompreensível para ela e pareciam
Após a batalha contra as duas está-
negociar. Quando o espírito desapareceu,
tuas animadas fomos verificar as portas,
Timm chamou seus oficiais, entregou um
Theon se sentiu atraído, compelido ma-
colar de contas para ele, colocou o colar
gicamente por uma das portas. Frida o
numa caixa junto com alguns tesouros e
alertou que havia uma energia negativa
então ordenou que os homens levassem
que drenava a vida das pessoas naquela
o colar, junto com os itens até um xamã
porta e pediu para que ele se afastasse.
gigante que está nos Campos Gelados.
Preocupado eu me aproximei e conversei
Disse que seria crucial que o colar fosse
com ele também. Com um passo de cada
recarregado, pois assim sua imortalidade
vez ele saiu e foi se afastando, mesmo
estaria garantida. Assim que o oficial
parecendo tentado a abri-la.
saiu o espírito negro reapareceu, então
Após isso, seguindo por um corredor,
eles voltaram a conversar e Ying foi
encontramos as garotas num cômodo.
devolvida para o aposento junto das
Elas estavam apavoradas, machucadas,
outras meninas, porém ela sabe que essa
e totalmente abaladas. Quando as vi
montanha é onde está o antigo forte no
estendi a mão e ofereci ajuda, aos poucos
Condado do Jarl Iskald Sver.
elas foram se aproximando assim que
Relatou também que Timm saiu ontem
Frida e Theon chegaram. Ajudamos e
com sua segurança reforçada em 5 vezes,
curamos suas feridas e, assim, elas foram
e, nisso, contou a história para as outras,
depositando confiança em nós. Nos
mas sua voz ficava cada vez mais baixa.
diziam que os gigantes as estupravam
Elas acreditam que o espírito negro ar-
e machucavam (com exceção de Ying),
rancou a voz da menina, por ter contado
coisas grotescas que não gosto de ima-
tudo. A última coisa que ela falou era
ginar. Neste momento fico estático, sem
sua indignação pelo fato de as outras
palavras, sem ações nem reações. É
pessoas não conseguirem ver o espírito
como se tudo isso me fizesse lembrar
negro. Parecia que somente ela e o Timm
sobre minha mãe que foi raptada por
eram capazes de ver.
um maldito que se vendeu por poder.
O Pequeno Diabo e seu Estranho
Que ela pode estar sendo abusada e
Vassalo de Pele Escura
maltratada. Meu coração dispara e um
Deixamos as meninas aos cuidados de
sentimento de medo, misturado com
Tavis, o esposo da rainha, e partimos
raiva e inconformidade toma conta de
para casa de Byork para discutirmos os
mim.
próximos passos que daremos. Durante a
As garotas continuam sua história,
conversa um homem de pele escura apa-
relataram que o mais doentio era feito
rece na porta, chamando por alguém que
por Timm, seu raptor, que levava Ying
o atenda e disse que estamos procurando
para o quarto, a vestia de boneca e
pessoas desaparecidas, que é médico e
brincava com ela, mas não a tocava
que queria oferecer ajuda. Olho estranho
sexualmente. Eles faziam chá, vestiam
pra ele, nunca vi ninguém com pele tão
roupas femininas e ele a obrigava chamá-
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 129
 escura assim, deve ser de uma região
muito além do que eu possa imaginar.
Seu nome é Cyrus e alega que veio de
Águas Profundas.
Theon, como sempre, é um tanto
quanto receptivo às pessoas, principal-
mente se elas se dizem do sul. Observo
calado a conversa entre eles e Byork. Em
um momento estranho palavras ásperas
do Theon sobre mim e as dóceis para o
novato. Finto os olhos do novato e, como
sempre, falo com sinceridade e vejo Byork
chegando com seu infame pergaminho
na tentativa (desesperada?) de vincular
desconhecidos à sua companhia. Viro
as costas e me afasto, como não sou um
Leão de Prata, deixo essas burocracias
ridículas para eles. Vou comer, a barriga
roncando é mais importante que tais
burocracias. Deixo-os conversando e
assim que volto, Frida está terminando
de contar a Byork sobre o ocorrido no
templo.
Quando Frida adentra a casa com o
desconhecido, Theon me chama para
conversar. Tenta introduzir a conversa
falando sobre o efeito que aquela porta no
templo causou nele, que havia um ímpeto
que o compelia para abrir a porta e que
isso havia ficado em sua cabeça, mas
que já estava em si. Em seguida mudou
de assunto e começou a falar de Cyrus,
pediu para que eu desse um “dedinho
de confiança” ao novato, e, tentando não
ser grosseiro nem mal interpretado, disse
que não, se ele quiser que possa dar o
dedo dele, não o meu.
Não consigo confiar nas pessoas assim,
dessa forma tão simples e pacífica de
Theon e, principalmente, de Frida, talvez
eu tenha perdido algo nesse sentido antes
de partir de Floresta Alta, com tudo o
que lá aconteceu. Então ele toca no
assunto sobre eu ser um deus e que eu
130 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
deveria assumir esse papel. Digo a ele
que não vejo dessa forma e que não é bem
assim, tenho pais mortais como qualquer
um tem, nisso saco minha adaga, corto
minha mão e digo: “Veja, Theon, eu
sangro, já viu deuses sangrarem? Você
já me viu sangrar várias vezes, já me viu
quase morrer várias vezes. Eu, assim
como você, sinto dor, sinto fome, sinto
sede, sinto frio, sinto medo, sinto raiva,
sinto ódio, sinto alegria, sinto paixões,
tenho sentimentos humanos como você,
então sou tão humano e mortal como
qualquer um que aqui você possa ver.”.
Ele insiste dizendo que isso é uma “casca”
humana e que minha essência ainda iria
despertar.
Falou também sobre eu ser o “me-
lhor juiz” do grupo, acho que isso foi
uma forma um tanto quanto polida de
dizer que sou o mais desconfiado do
grupo, mas disse que isso manteria o
“balanço” ideal que o grupo precisava,
enfim. Olho para o jovem meio-elfo e, de
alguma forma percebo que ele tenta me
entender, apesar de não concordarmos
com algumas coisas. Decido chamá-lo
para conversar e contar-lhe uma história,
a minha história, para que assim ele
tente entender de uma forma melhor
o meu modo de pensar e agir nessas
situações. Conversamos bastante e ele
também partilhou sua história comigo
contei ao Theon parte de minha história
e ele contou a dele.
Quando voltamos, encontramos Byork
bravo saindo de sua casa, ele fala que
o novato fez um pacto com um demô-
nio!!! E que o novato é a marionete do
demônio que o acompanha!!! E o pior
dessa situação toda é que Byork, no
auge de sua fala, contou-nos que até
ofereceu o contrato dos Leões de Prata
para o demônio assinar!!! Eu não sabia,
neste instante, o que era pior: se ter
um pactuante com o demônio ali ou se
foi o fato de o Byork ter proposto um
“contrato” para ele. Neste instante olho
pra Theon e digo que ele “alguém perdeu
seu dedinho”.
A pequena criatura, que parece um
gato com uma espécie de pequeno cha-
ruto, aparece e fala que viu um grande
poder em mim e me chamou de “Silvani-
nhos”, também falou que poderia me dar
poder para “romper” minha casca. Neste
instante começo a balançar meu cajado
e transformá-lo num chicote de espinhos.
A criatura some da minha vista, ficando
invisível. Tornou-se apenas uma voz, que
revelou que o novato aceitou a proposta
de poder, e que é seu invólucro, e que
precisava disso para poder andar neste
plano.
Cyrus rapidamente tenta explicar sobre
um tal de Baharai, Bagarai, Baxarai, não
entendi direito mas é algo nesse sentido,
que ele teria feito o pacto e que é um
celestial e Zacarias, o “seu” diabo, é um
anjo caído que foi para o inferno e tenta
redenção. A criatura, novamente repete
que quem está sendo usado é na verdade
Cyrus, que buscou poder e fez o acordo.
Theon tenta acalmar a situação e diz
querer ir atrás do bruxo ogro e que
precisa desse diabinho para derrotar o
bruxo gigante. Como assim precisa? Nem
o conhece! Por que precisaria da ajuda de
um diabo? Imediatamente vejo se ele está
enfeitiçado ou algo do tipo, mas não está.
Quando me viro, vejo a fumaça de seu
pequeno charuto em cima do ombro de
Byork, no calor do momento não penso
duas vezes e dou-lhe uma chicotada. Ele
me ameaça dizendo que me arrependerei
disso. Em seguida, ainda invisível, o
pequeno diabo continuou sua história e
disse que nos procurava porque queria
ir atrás de bruxo ogro das montanhas e
que poderia mandá-lo novamente para o
inferno, e que isso era do seu interesse,
além do que, ressaltou, um dia eu iria ter
o troco daquela chicotada.
Fico indignado com a situação e falo
que se forem com o novato, ficarei. Não
confio nele nem no mestre demônio dele,
apesar de Cyrus insistir que ele é um
celestial, um “anjo caído”, o que, no fim
das contas, um anjo caído nada mais é
que um diabo. Theon e Byork falam ao
novato que no fim das contas ele terá que
ganhar a minha confiança, e não a deles.
Cyrus até fala que se um dia minha vida
depender dele, ele a salvará. Alerto-o
que se ele pisar fora da linha, serei seu
carrasco.
Visões de um Futuro Próximo
Fico um tanto quanto perturbado com
toda aquela situação e resolvo sair da
cidade e procurar um lugar que eu possa
respirar, um lugar que não tenha o
fedor das cidades grandes, um lugar
que não tenha perdido sua essência
natural. Caminho até encontrar um
belo bosque com árvores cobertas de
neve. Ali procuro a maior árvore a
vista e começo a enfiar minhas mãos no
chão como se as enterrasse, a fim de
sentir a força que pulsa no solo daquele
lugar, busco o âmago, a essência que não
encontro dentro das muralhas da cidade.
Aperto firme o solo e começo fazer minhas
orações:
“Silvanus! Pai Carvalho! Venho rogar
por tua sabedoria. Me dissestes que
tenho a responsabilidade de trazer o equi-
líbrio para o norte, dê-me uma luz, dê-me
uma direção, preciso da tua sabedoria.
Preciso saber o que fazer e para onde ir,
para que assim eu possa concluir o que
tiver que concluir e ir atrás de resgatar
minha mãe. Dê-me uma direção! Dê-
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 131
 me um sinal! Ouça meus rogos! Aponte-
me o caminho que devo seguir! Dê-me a
sabedoria contida na natureza, para que
eu possa ser uno com ela, para que eu
possa representar a sua beleza e a sua
ferocidade, para que eu possa ser manso
com um pequeno animal e bravo como a
maior das feras, para que eu possa ser
suave como uma brisa e forte como uma
tempestade. Eu te peço, meu pai, preciso
da tua luz neste instante.”.
Então, quando toco minha testa no
chão, sinto como se minha cabeça pren-
desse no solo e como se fosse arrancado
do meu corpo. Vejo-me passando rapi-
damente pelo Vale do Cervo e começo
a ter visões, como flashes. Vejo Timm
sendo morto por nós, vejo nossa luta
contra o ogro bruxo, vejo uma vila pró-
ximo a Thandravsk, aliás, lembra muito
Thandravsk, e nós lutando contra os
gigantes que desceram as montanhas
para proteger a vila e, apesar de toda
nossa luta, nosso esforço para evitar
a chegada dos gigantes, vejo que, no
fim das contas, falharemos nisso. Por
fim, Silvanus me revela Cyrus e Zacarias
lutando ao nosso lado em todas essas
batalhas, não como inimigos, mas como
aliados. Quando volto, sinto como se
batesse numa rocha e caio de costas
no chão coberto de neve. Uso meu
cajado como apoio para levantar, faço
mais algumas preces em agradecimento
e parto de volta para a casa de Byork.
Lá chegando, converso com todos e
falo da visão que tive, das revelações
que Silvanus me concedeu. Também, ao
final, peço desculpas a Cyrus e ao seu
mestre Zacarias por ter agido daquela
forma, e explico que, graças a Silvanus,
consigo aceitá-los como membros do
grupo, mesmo não depositando minha
confiança neles, mas sim em Silvanus.
132 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
Rumo ao Forte Caído
Pegamos todas nossas coisas, armas,
comida e demais itens e, seguindo as
pistas deixadas pelas garotas que resga-
tamos, partimos em direção ao Condado.
Dois dias se passam e avistamos uma
vila encravada na montanha. Ali armas
são proibidas de serem sacadas, e ilu-
sões e encantamentos são punidos com
morte. Passamos sem chamar atenção
e nos dirigimos à primeira estalagem
que encontramos. Theon e Frida vão
conversar com o taverneiro, que nos leva
até um lugar chamado Grande Salão. Lá
parecia haver uma festa no estilo nortista,
com muita briga, gritos e confusão. O
taverneiro nos anuncia como enviados
do Jarl Ula. O Jarl Iskald Sver, na
outra ponta do salão, olha para nós e
se levanta, e, ao que parece, faz um
brinde a nossa presença com uma pa-
lavra que não conheço: “skol”, todos ali
repetem o mesmo e começam a beber e
comer novamente. O Jarl é um homem
extremamente alto, nunca vi um humano
tão alto como ele. Após entregarem-lhe
uma carta, nos convida para ir a um
outro aposento mais reservado para que
possamos conversar. Lá há uma mulher
da minha altura, com olhos cor de gelo e
cabelos cor de ouro, de uma beleza difícil
de encontrar, lembrou-me da época em
que ficava flertando com as sacerdotisas
em Floresta Alta, algumas possuíam uma
beleza bastante similar, porém, não eram
robustas nem altas como a condessa. Ela
amamenta uma criança e o Jarl diz que
devemos mais respeito a ela do que a ele.
Frida conta o motivo pelo qual viemos,
fala sobre o colar e um pouco sobre Timm.
Então ele nos fala que a caravana de
Timm passou por aí um dia ou dois antes
de chegarmos. Perguntaram a ele onde
estava o antigo posto avançado que caiu,
a cerca de 30 anos. Ele indicou a direção estão a serviço de Timm, ele joga sua
e os avisou que desde sua queda o lugar azagaia e o combate inicia.
é habitado por criaturas estranhas e que Que a força e o poder do Pai Carvalho
um clérigo gigante da colina lá habita. nos abençoe!

Um pouco antes de Timm, outra pes-

soa perguntou pelo lugar, uma pessoa
querida para o Jarl, o padre Simon,
sacerdote de Stronmaus, que diz ter cui-
dado do local porque uma magia negativa
muito poderosa existe na montanha e
está muito latente. Todavia, o padre foi
e já retornou, mencionou que ele é um
gigante da tempestade.
Por fim, ele nos oferece pouso e comida,
muita comida. Acho que esta foi a
melhor recepção que tivemos desde que
chegamos aqui no Norte. Pela manhã,
antes de irmos, pergunto ao Jarl qual
o tamanho da caravana de Timm, ele
nos informa que possuía mais de 30
homens e alguns ogros. Falou também
para seguirmos a trilha por uns 20km
(um dia de caminhada), e no pé da
montanha encontraremos o Forte Caído.
Agradecemos bastante e partimos.
Na manhã seguinte chegamos ao pé da
montanha. O lugar é bastante escuro e
tem uma trilha estreita que nos leva para
cima. Subimos com cautela e, quando
conseguimos ter um bom ângulo de visão
com boa luminosidade, Cyrus nos avisa
que há um ogro escondido logo acima da
trilha. Ao nos aproximarmos, dois ogros
repletos de correntes se aparecem, Byork
tenta conversar, mas quando falam que
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 133
 tombaram, o que já foi armorial, lojas
S TEN W INDBORN e torres de vigia são hoje apenas ruínas,
tudo o que resta são paredes destruídas
Fiquei para trás, conversei com os com-
e pilhas de destroços. A neve já cobriu
panheiros e pedi que me deixassem um
boa parte de tudo. O companheiro
pouco sozinho. Precisava pensar e refletir
mais novo, Cyrus, nos informou que o
sobre todas as nossas e especialmente
forte é defendido por algumas criaturas.
as minhas ações. Necessitava de um
Caminhamos um pouco mais e avistamo-
tempo sozinho com minha consciência
nos. Meio-Ogros defendem o forte. Theon
em especial com Helm. Estou seguindo
pede a passagem para o Meio-Ogro que
seus ordenamentos da melhor forma
se apresenta como chefe deles. Aydan
possível? Não tenho certeza, estou em
disse que ele se autodenominou Titã.
dúvida. Preciso me empenhar mais,
Theon mais uma vez demonstrou ser
necessito ser Helm neste mundo, neste
um ótimo orador e com diplomacia con-
plano. Como posso seguir em frente
seguiu negociar a nossa passagem por
com essas dúvidas. Me curvo perante
trinta peças de ouro. No meio da con-
Helm novamente, relembro o juramento
versa Theon acabou descobrindo que
sagrado. Decido seguir em frente, não
alguns homens de Timm passaram por
posso mais demorar. O perigo me es-
aqui há algum tempo. Não ficou claro
pera, preciso acompanhar meus amigos.
se o miserável estava junto, fiquei na
Aperto o passo e sigo em frente. O vento,
expectativa.
a neve, o terreno difícil torna tudo mais
Começamos a subir e os Meio-Ogro
difícil.
nos deram passagem. A passagem é
Escuto um som de combate, começo
estreita e com certa dificuldade conse-
a correr em direção ao barulho, mas a
guimos passar pelas criaturas. A passa-
peleja ainda é longe, o vento juntamente
gem tem uma curva acentuada a nossa
com a nevasca atrapalha o meu desloca-
frente e ao virarmos nessa curva nos
mento. A montanha me castiga. Demoro
deparamos com alguns mercenários de
algum tempo, mas felizmente consigo
guarda em uma ponte adiante uns 30
chegar aos meus companheiros. Olho
metros. A ponte é antiga já desgastada
para o lado e enxergo dois enormes ogros.
pelo tempo faz a ligação do caminho por
Todos os meus companheiros estão vivos.
duas grandes montanhas, ela aparenta
Escuto o som leve do dedilhado do hakin
estar em constante uso e tem resistido
do Theon e uma canção melancólica,
bem ao tempo. A ponte em alguns
contudo revigorante. O combate foi duro,
pontos está estragada, mas em condições
vejo que Byork foi duramente ferido, mas
bem melhores que o forte abaixo. Os
o companheiro novato cuidou dele. Ay-
mercenários nos ameaçam, dizendo que
dan, Frida e Theon aparentemente estão
não poderíamos continuar a subir. Um
bem. Passa-se algum tempo e decidimos
deles lança um virote e o mesmo atinge
continuar subindo a montanha.
o solo, logo à nossa frente. A ameaça
Instantes depois enxergamos o Forte
não nos inibe. Frida e Byork avançam.
Caído. Este forte está em ruínas, a
Grito para que eles me esperem e tomo
situação é pior do que a descrita pelos
a dianteira. Sou recebido a virotes de
homens no forte do Jarl Sver, uma ao
besta, mas continuo avançando. Enxergo
lado da outra as estruturas de pedra

134 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

quatro mercenários armados fortemente
com besta e espadas longas. Os mesmos
continuam tentando me atingir, um ou
outro virote acerta o meu escudo. Logo
atrás de mim escuto Aydan sussurrar
algo que não compreendo. Byork está
logo atrás de mim se aproveitando da
minha posição de defesa. Um dos virotes
me atinge a perna, permaneço forte na
minha postura.
Antes de me aproximar do primeiro
mercenário escuto o hakin do Theon, me
sinto mais ágil, a música é vibrante, as
notas são complexas, uma melodia forte
ecoa no desfiladeiro da montanha. Olho
para cima e vejo faíscas de fogo passa-
rem sob a minha cabeça e acertarem
um mercenário que se emaranhara em
algumas plantas que brotaram do chão.
Olho para o mercenário na minha frente,
giro a espada no ar e acerto os dois
primeiros golpes do miserável. O infeliz
me encara, com ódio, rogo a Helm. Um
brilho emana do meu símbolo sagrado e o
golpeio novamente. Meu golpe é certeiro.
Byork se prepara para atingir outro
mercenário enquanto o chicote de espi-
nhos de Aydan acerta o infeliz, que já
começa a jorrar sangue. Theon logo ao
fundo começa a xingar um dos merce-
nários, mas nem isso os abala. São
homens fortes com uma boa armadura.
Começo a perceber que o combate não
será fácil. O vento forte e gélido, aliado
com o desfiladeiro que nos cerca torna
a batalha desafiadora e extremamente
perigosa, um passo em falso, um deslize e
um dos nossos podem cair e, certamente
não sobreviveria.
Uso o meu escudo como proteção para
girar a Semper Vigilans sob minha cabeça
e de encontro ao corpo do segundo
mercenário. Deixo para Byork finalizar o
que eu comecei. Os golpes são certeiros.
O segundo mercenário sente a força e a
ira de um paladino de Helm. O combate
se desenvolve muito bem, considerando a
situação do confronto. Percebo que a cria-
tura diabólica do Cyrus de alguma forma
me auxilia no combate atrapalhando a
concentração dos inimigos.
Os barulhos de metal, fogo, gelo, gritos
e urros vez ou outra são abafados pelo
forte vento da montanha. Ela não deixa
de nos testar. Os dois primeiros caem.
Continuamos a subir o desfiladeiro e en-
contro o terceiro mercenário que acabou
de se soltar das plantas que o Semente
de Carvalho conjurava. Este jogara sua
besta pesada no chão e estava com sua
espada longa em punho em direção ao
meu encontro:
- Seus idiotas vocês arriscam suas
vidas pois não conseguem obedecer um
simples comando de recuar. Grita o
mercenário. Byork o xinga com palavras
de baixo calão, enquanto Theon zomba
do mesmo.
Vou em direção ao mercenário e o
mesmo consegue se esquivar do meu
golpe e por um vacilo meu ele me gol-
peia, sinto o sangue escorrer pela minha
armadura. Giro ao redor do mercenário,
para que Byork consiga acertá-lo. Logo a
nossa frente vejo que o último mercenário
continua preso nas plantas que Aydan
conjurou enquanto é atingido pela magia
da pequena Frida. Não escuto mais a
música de Theon, apenas ele zombar do
mercenário. Byork acerta o mercenário,
mas ele já havia preparado o seu golpe.
Sinto a espada do infeliz me perfurar,
o corte é tão profundo que a dor faz
eu abaixar a minha guarda e acabo
recebendo mais dois golpes certeiros.
Sinto o gosto de sangue na boca, estou
muito ferido. Não tenho certeza se irei so-
breviver. Abaixo minha cabeça e lembro
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 135
 de tudo o que já passei até hoje, relembro
de algumas promessas não cumpridas.
C YRUS , O M ÉDICO
Não tenho certeza se estou cumprindo
O combate com os mercenários tinha
o meu papel como Paladino de Helm
terminado, enquanto o grupo se movia
como prometi. Já não tenho mais forças
para frente, eu cerrava meus olhos para
para continuar, minhas mãos começam
poder enxergar direito por causa da forte
a tremer por causa do frio da montanha,
iluminação refletida na neve do local,
enxergo meu sangue formar uma poça
enquanto passava pelos mercenários fe-
aos meus pés. Seria esse o meu fim.
chava seus olhos e fazia uma prece por
Instantes depois sinto minhas forças
suas almas, eram apenas contratados,
retornarem, minhas feridas se fecham.
não pessoas que realmente apoiavam o
Olho para o meu inimigo. Não é aqui que
sacerdote por seus ideais, enquanto fazia
minha história deixará de ser contada.
minhas preces, Sten tomou a frente e
Golpeio o infeliz com meu escudo e ele
voltou avisando de uma corrente de ar
não entende. Isso é o suficiente meus
que poderia nos empurrar daquela ponte,
golpes o deixam quase morto para que
quando percebeu que seria complicado
Byork acabe com a vida do miserável.
para muitos passarem, recuou esperando
Olho para trás e o último mercenário jaz
o grupo. Sugeriram que amarrassem
ao chão enquanto Aydan com seu cajado
uma corda para passar, Byork agora
faz com que as plantas desapareçam.
como um líder tomou a frente, quase caiu,
Frida aparece voando com o Vassourito
ergueu-se novamente para a ponte amar-
enquanto Theon guarda o seu hakin.
rou a corda, se ele havia falhado com seu
Cyrus diz algumas palavras que não
corpo robusto, eu já sabia qual seria meu
compreendo e decidimos continuar a
destino. Aydan passou como se o vento
subida.
o respeitasse e não soprasse para ele,
de fato é algo impressionante. Todavia,
como tudo que depende de força e em
meu corpo fraco, quase fui arremessado
para fora da ponte, junto a esse destino
veio Theon com todos seus instrumentos
e a pequena Frida. Juro que vi a Hakin
de Theon voando precipício abaixo e vi
a pequena se perder no abismo se não
fosse pela corda travando todos nós, essa
puxada da queda de Frida, por pouco que
a pequena pesasse, quase me derrubou
junto. Com três pendurados, Sten que
havia esperado todos passarem, veio e
pegou a Frida e a mim antes que o pior
acontecesse e continuou seu caminho
com facilidade, não queria imaginar o
que aconteceria se ele não estivesse ali,
o servo de Helm passava um ar de supe-
rioridade e confiança, como se apoiasse

136 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

os problemas do grupo em seus ombros
e os carregasse sem dificuldades.
O frio travava minhas articulações, eu
tentei me abaixar para ver se o vento faria
menos efeito, mas meu corpo negava-se a
cooperar comigo. Mais uma vez eu caí, e
dessa vez, por causa do frio, não fui capaz
de me segurar e fui afligido pelo queimar
da corda em minha cintura, antes essa
dor do que minha vida. Ao ver isso,
Byork veio em prontidão preocupado,
me puxou e transportou para o outro
lado. É um pouco constrangedor, mas
a doença sempre esteve comigo e tenho
que lidar com isso. Sou grato a ele,
pois mesmo com suas desconfianças,
não pensou duas vezes em me salvar.
Logo que passamos continuamos nosso
caminho, Byork soltou palavras leves
para nos animar, Aydan tomou a frente e
avisou de uma energia estranha subindo
a montanha, o líder dos leões de prata,
quando ouviu, já puxou sua espada
pronto para enfrentar a energia invisível
com sua lâmina. Talvez a mente de
guerreiros funcione só na base do aço.
No instante que me aproximo da curva
do caminho, sinto uma energia divina
partindo de um pequeno acampamento,
no qual há um cheiro muito atraente
de comida. Preocupado que possa ser
algum tipo de compulsão ou magia de
efeito maligno, peço para que se possível
alguém use o ritual para identificar a
magia, mas Aydan e Byork decidem sim-
plesmente se aproximar cautelosamente
do local. Logo quando se aproximam,
um gigante aparece lá de dentro, eu em
susto recuo alguns passos para trás e
fico em guarda, mas alguns segundos
passam e a voz trovejante parecia não ser
um inimigo para nós, não por enquanto.
Frida se aproxima sem medo do gigante,
conversando carismaticamente com esse
ser. Chega a ser engraçado a comparação
dos tamanhos de um de perto do outro.
Quando achei que o gigante parecia fazer
algo agressivo ele tira um da bolsa um...
queijo? E solta uma espécie de relâmpago
nele para aquecer? O que diabos está
acontecendo? O Norte é meio bizarro
mesmo. Frida logo para de falar e começa
a comer. “A barriga dela nunca erra”.
Talvez sejam verdadeiras as palavras de
Theon.
Deixo os assuntos do norte para eles
por enquanto, não tenho muito o que
perguntar, não entendo exatamente o que
está acontecendo, mas sei quem é aquele
gigante. É o Padre Simon que havíamos
sido avisados. Ele começa a falar sobre
espíritos do crepúsculo, o matador de
deuses gigantes.
Também fala sobre um xamã secular
que fica no alto da colina e sobre um
bruxo, os outros pareciam conhece-lo
melhor, o sacerdote de Stronmaus en-
tão pede para que tentemos evitar uma
aliança com um bruxo e com um xamã
ogro, algo sobre equilíbrio entre gigantes.
Eu sei lá o que está acontecendo. Cada
vez ele começa a falar mais informações
sobre a história gigante e de seus deuses,
falando como o filho da mãe-de-todos e
do pai-de-todos quer voltar dos infernos,
aparentemente pela mão do velho bruxo.
Um pouco perdido, fico olhando para
os outros ali, vejo que Aydan parecia
de algum modo muito afetado por tudo
aquilo, cerrava seus punhos e perdia
sua compostura padrão, falava também
sobre invocar o próprio Silvanus em terra,
ter invocado na verdade. Como alguém
tem poder para invocar um deus para
terra? Com quem e quão poderosos são
os seres com que comecei a andar? No
fim, o que entendi é que devemos evitar
a aliança porque o bruxo é porta-voz de
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 137
 um deus maligno e quer trazer esse deus da invisibilidade e causar um estouro
novamente e isso seria ruim ao mundo que fere Byork e explode os tímpanos
e aos gigantes. Parece totalmente sem de Frida. A reação foi instantânea,
detalhes, mas é exatamente assim que Zacharias foi ao lado de Frida sabendo
está em minha mente, parece que a cada o que eu gostaria de fazer, Aydan moveu
dia é uma bomba de informação diferente seu espírito de cura para lá e eu, através
que não tenho tempo para absorver. de Zacharias curei-a enquanto expandi
Apressado para sair, Aydan nos chama. minha luz para recuperar um pouco dos
Simon nos dá um último conselho “No ferimentos de Byork, que ainda afetado
alto da montanha, em frente ao Xamã, pelas duras palavras dos bardos e seus
uma palavra errada ao humor dele, será efeitos compulsórios, erra um ataque e
tão pesada como a rocha que despenca em desespero se fere, caindo aos pés do
do céu.”, acho que isso é o suficiente para inimigo.
entendermos o que nos espera. Fazemos
as despedidas formais e voltamos a seguir
nosso caminho enquanto Theon declama
um amor por Aydan em forma de poesia
e faz o druida chorar.
Ao sair da casa do gigante o frio toma
conta de nós novamente. Pelo menos
ainda estava com meu cobertor. Chega-
mos a uma bifurcação, onde dividiam-se
entre um local com um grupo e o trenó,
que mesmo que o gigante diga que não é
uma carruagem, é uma carruagem para
neve, e outro onde só víamos passos.
Aydan toma a frente de rastreio e logo
detecta gente de Timm para onde as
marcas do treno levavam e nos chama.
Parece que teríamos mais um combate.
Quando Byork e Sten não estavam para
tomar a frente, Aydan resolveu fazê-lo,
mas rapidamente foi perfurado e caiu, o
combate se intensificava e os atrasados
Finalmente Sten chegava para acertar
chegavam. Byork parecia ter caído na
o último restante, Theon em desespero
lábia de seres invisíveis, enquanto isso,
vendo seu líder caído puxa seus instru-
quieta e perigosa, Frida com dois relâm-
mentos e mostra como é usar o som
pagos destrói boa parte do exército de
para ferir, infelizmente com todos esses
Timm que havia ficado ali, por retaliação,
esforços não fora possível o eliminar, mas
um dos asseclas atacou fortemente a
com medo da morte o bardo inimigo
pequena, Byork foi tentar defende-la e
parecia ter errado seus tons e por mais
mesmo achando-se fraco, matou-o, isso
que as ondas fossem fortes e atingissem
os deixou em posição perfeita para um
vários de nós, não feriram muito. Frida
dos seres, o último que restava, sair
o queimou e Aydan finalizava com mais

138 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

fogo. Passamos um tempo em meio ao caminho, pelo menos sinto-me mais forte
campo de combate enquanto eu tratava ao lado deles.
os feridos e conversávamos enquanto
Theon declamava sua música que ouvi só
de fundo enquanto me concentrava nos
remédios. Finalizando os tratamentos,
decidimos seguir para onde os rastros
dos trenós levavam.
Adentramos a caverna que estava guar-
dada pelos asseclas e bardos, quando
menos esperamos, fomos surpreendidos
por dois trolls de gelo, bem, pelo menos
eu fui, não foi o caso para o filho da
floresta nem para o líder dos leões que
agiram prontamente quando os viram.
Mesmo atendo a chegada deles, Byork
sofreu vários ataques dos dentes e garras
das criaturas, Sten e o líder dos leões fo-
caram uma das criaturas e rapidamente
eliminaram ela, sobrando somente um
que provavelmente seria eliminado rápido
pelo decorrer das coisas. Engano meu.
Quando menos esperávamos, o troll caído
havia revivido e derrubava Byork com
uma mordida. A cabeça do coitado deve
estar estragada já, de tantas pancadas
e ferimentos. Não sei se nesse ritmo
terá balsamos que resolvam os problemas
de Byork. A ressureição milagrosa do
troll morto gerou mais empecilhos do
que devia, pois impediu que as coisas
se acabassem rápido, dividindo esforços
e ataques e fazendo Aydan e Sten se
ferirem cada vez mais. Para meu alívio,
Frida começou a gritar do nada enquanto
conjurava uma bolinha flamejante e con-
seguiu acabar com as criaturas junto ao
fogo de Aydan. Gritando tanto assim,
creio que vou ter que rever como estão
os curativos e os remédios e se não estão
fazendo mal aos ouvidos dela.
As coisas estão ficando perigosas, nos-
sos recursos estão se acabando e não
parece que estamos nem na metade do

U MA VIDA PARA SER H ERÓI 139

 a voz Frida, rapidamente sua voz começa
AYDAN - S EMENTE DE a ficar mais alta e, de repente, ouço uma
C ARVALHO explosão e um forte calor toma conta do
ambiente acompanhado de um ardor nos
meus olhos. Estou vivo?! Sim!
O Colar da Fuga
“Silvanus, não deixe que este teu filho
Após o combate contra os dois trolls do
caia. Que a força da terra que habita
gelo o diabo de Cyrus (ou mestre dele...
este local faça parte de mim, que do veio
ainda não entendi ao certo a relação
da terra brote a energia necessária para
dos dois) diz que sente alguma energia
revigorar meu corpo ferido!”.
infernal a frente. Cyrus sugere que al-
Nisso sou engolfado pelas rochas e a
guém possa tentar detectar magia. Nisso
energia natural da montanha começa a
eu pego uma pedra e faço um círculo
curar-me. Sinto que a própria montanha
rúnico no chão, deito-me em seu centro
me levanta e, ainda cambaleando um
e me concentro em sentir as todas as
pouco, caminho em direção à Frida. Vejo
forças que perturbam a energia natural
um enorme gigante de pele azul e barba
do local. Sinto que ramos começam
branca. Assim que Byork se aproxima
a cobrir meu corpo e cinco pequenos
com a tocha vejo outro. Rapidamente
vagalumes orbitam minha cabeça.
Byork e Sten derrotam um deles (a habi-
Tomo a frente me concentrando ao
lidade com a espada dos dois é algo que
meu redor, percebo que estamos em
não se pode ignorar) enquanto concentro
uma espécie de ponte de pedra. Há um
no outro usando minha magia para feri-
grande desfiladeiro à minha direita. Dou
lo. Eles tentam atacar Frida, mas ela
poucos passos à frente e um dos meus
consegue se esquivar bem das pedradas
vagalumes se apaga e cai, seguro-o em
deles. Acho que ser pequenino tem suas
minhas mãos e sinto uma aura gélida
vantagens.
se formando. Meus ouvidos conseguem
A precária iluminação do lugar faz-me
perceber duas grandes presenças à me-
perder o gigante de vista, mas parece
dida que sinto crescer sua energia fria a
que ele ainda nos vê, pois continua
frente.
me atacando e fugindo. Não consigo
Mais alguns passos e todos os meus
ver de onde os ataques vêm. Em um
vagalumes caem congelados. De súbito
dos ataques Frida grita e eu me abaixo.
sou atingido por duas grandes rochas, o
Apenas ouço o estrondo da enorme pedra
impacto é tremendo! Com a parca cons-
estilhaçando na parede da caverna atrás
ciência que me resta, percebo que vários
de mim, porém, outra enorme pedra
ossos meus foram quebrados e começo
vem em minha direção e esta é certeira,
a cuspir muito sangue. Tombo ao chão.
fazendo-me perder a concentração na
Tomado pela dor excruciante, a escuridão
magia que feria o gigante. Acho que
começa a tomar conta dos meus olhos, já
nunca fui tão ferido em combates assim.
sem forças para continuarem abertos...
Theon novamente usa sua música e
Ouço ao longe alguém me chamar,
palavras encantadas para me curar. Esta-
seria Silvanus? Apuro meus ouvidos e
mos bastante perdidos e desorganizados
caminho em direção à voz e, à medida
neste combate, a escuridão nos atrapalha
que me aproximo, sinto duas energias me
muito.
revigorando e em seguida ouço baixinho

140 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

 Frida usa alguma magia invocando
Annam – o Pai de Todos – e cresce, a
pequenina parece ter muitos truques!
Byork grita que está o vendo e me apro-
ximo para atacar o infame gigante, mas
a escuridão ainda é minha inimiga.
Na penumbra vejo outra enorme pedra
em minha direção e, outra vez meus
ossos estralam e a dor irrompe por
todo meu corpo. Não há um ponto,
dói tudo. Com a respiração falhando
e engasgando em meu próprio sangue,
mais uma vez caminho em direção à
morte. Porém, antes mesmo da luz
fugir de meus olhos, ouço Theon me
chamando. Compreendo pouca coisa de
suas palavras, que vêm misturadas ao
eco do combate na caverna, mas é mais
que o suficiente para me trazer de volta
e curar-me. Alguns conjuradores usam
suas magias para curar o gigante, mas
Byork, de forma precisa o ataca com sua
espada e ele cai no profundo desfiladeiro,
como o outro após ser abatido. Apenas
um dos conjuradores, que eram bardos,
conseguiu fugir, mas creio que não irá
nos incomodar mais.
A frente encontramos um salão es-
culpido na rocha com várias pinturas
sobrepostas. Há um círculo mágico ali e
algumas caixas ao lado. Byork começa
a mexer nelas e solta uma gargalhada
nos mostrando que encontrou o colar
que o Timm usava para fugir de nós.
Finalmente!
Frida analisa o colar e explica que o
colar tinha magias de teletransporte, mas
que não tem muita utilidade mais até
ser recarregado. A pequenina nos diz
também que o item tem uma espécie
de “vontade” de estar no círculo para
ser recarregado. Byork sugestiona para
destruí-lo e Frida se opõe. Outra vez
Cyrus pede que alguém possa analisar
a magia do local. Enquanto Byork e
Frida discutem sobre destruir ou não
o colar, eu me concentro em detectar a
magia ali. Sinto que do círculo vem uma
forte energia necromântica e, do colar,
magias de encantamento, conjuração e
transmutação, ou seja, ele não está tão
descarregado quanto Frida pensou, até
porque se o colar ainda possui uma
“vontade”, obviamente ainda há magia
nele, não necessariamente magia para
teletransportar, mas algum outro tipo.
Sten analisa as runas e diz que parecem
ser de ogros magos, talvez tenha relação
como bruxo que encontramos.
Montanha Acima
Ao sair da caverna conversamos sobre
subir a montanha rumo ao xamã ou
seguir outro caminho. Decidimos subir
a montanha, e de certa forma isso pesa
em meu coração. Byork percebe e me
pergunta o motivo. Digo que sinto por
eles estarem se arriscando por uma
missão minha, algo que Silvanus me
pediu, não quero que nada ruim aconteça
com eles por minha causa. Nisso Frida
e Byork falam que somos amigos e que
continuaremos juntos. Eles são amigos
de verdade!
O vento começa a soprar cada vez
mais forte ao passo que subimos, peço
a Silvanus que abençoe minha subida
e me guie por estes tortuosos caminhos
nevados. Encontramos um platô com
uma cachoeira congelada e restos de
metal cobertos pela neve. Ao nos apro-
ximar um gigante com duas cabeças e
cinco enormes baratas em coleiras de
couro aparecem. As cabeças discutem
muito entre si e muitas vezes se agridem,
verbalmente e fisicamente. Que criatura
estranha!
E quando dizem que duas cabeças pen-
sam melhor que uma, bem, não parece
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 141
 ser o caso dessa criatura, pois ambas são
estúpidas. Contam que o bruxo invocou
Lanaxis, o próprio titã, e que também
escoltou Timm para recarregar o colar.
Uma das cabeças fala que as baratas
comem metal. Decidimos recuar e pensar
mais a respeito de como agiremos ou a
forma que atacaremos. Que Silvanus
esteja conosco!
142 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
T HEON DE O LAMN
Estávamos subindo a montanha gélida
ainda mais, quanto mais eu subo, mas
sinto meus ossos racharem pelos ventos
frios. A movimentação fica mais lenta e
cantarolo em minha mente minha recente
composição Uma canção a Aydan cujo eu
falo sobre os ventos e naturezas.
Ao chegarmos em uma curva acentu-
ada, encontramos um gigante de duas
cabeças, o nome culto de tal criatura é
Ettin, acompanhado de cinco criaturas
rastejantes similares a baratas, mas que
possuem uma peculiaridade única, ela se
alimenta de metais.
Como de praxe, negociação não é algo
típico aqui no norte, e eles se colocam
bem ríspidos em nossas tentativas de
conversas. Gritam que a passagem
está fechada e que qualquer tentativa
de seguirmos será tratada como nossa
morte. Ainda tento arrancar algumas
informações por ali, as cabeças possuem,
cada um sua própria mente, e entram
em conflitos constantemente entre elas.
Descubro que algo está acontecendo
acima, algo que fortalece ainda mais
o bruxo, meio vago eu sei, mas é o
máximo que obtemos aqui. Cyrus propõe
que recuemos e planejemos, e assim o
fazemos. Assim que em zona segura, nos
organizamos e voltamos de fato para o
combate em si.
Meus amigos partem em direção ao
combate e eu sigo atrás analisando toda
a área, com Hakin em minhas mãos
já penso na melodia ideal para esse
combate, minha estratégia é atrapalhar
o máximo possível as baratas, nome
técnico monstro da ferrugem. Sinto as
cordas de metal geladas e os meus dedos
quase congelados tentando dedilhá-las.
Resolvo então aquecer minhas mãos com
a fricção nas cordas e a inspiração da
canção vem naturalmente. Lanço contra
meus rivais ondas sonoras graves, que os
atordoam atrapalhando seus ataques e
suas concentrações.
O combate é árduo, as baratas corroem
as armas e armaduras dos nossos com-
batentes de frente, enquanto os conjura-
dores causam dano massivo sobre elas,
Todos recompostos partimos para uma
mas os ventos e clima atrapalham nossas
escalada vertical, eu e Aydan inspiramos
visões e mandam nossos efeitos mágicos
o capitão a subir para que possa amarrar
para longe. O Ettin trava uma batalha
uma corda acima para nos facilitar. Aos
firme com nossos dois guerreiros, le-
poucos o grupo vai subindo e eu já me
vando o paladino ao chão e o Byork man-
preparo para subir, e lembro novamente
tem ao seu lado segurando os ataques
da canção e a canto baixinho enquanto
com o escudo. Após muitas tentativas,
escalo. Muita e muita dificuldade, senão
finalmente conseguimos derrubar o Ettin
fosse a corda por me manter em segu-
e consequentemente as baratas roedoras
rança eu teria chegado ao meu fim por
de metal. A batalha deixou vários dos
aqui, mas felizmente chego ao destino.
equipamentos dos nossos combatentes
Vejo após isso o druida mudar sua forma
praticamente inúteis.
para uma aranha, essa é nova, e Frida
Os desgastes dos equipamentos foram
sobe em suas costas e eles escalam com
grandes, então devido a necessidade
grande facilidade pelas paredes.
trocamos alguns armamentos entre nós.
Ao chegarmos todos em segurança
Entrego minha rapieira a Sten e minha
no topo da montanha, avistamos um
armadura ao capitão Byork. Aydan por
acampamento, aparentemente vazio, mas
sua vez me cede uma pele de urso que
um pouco mais de foco percebemos que
ele usa como proteção. Ela me aquece
em uma das barracas roncos podem
mais, apesar do odor de suor, Aydan é
ser notados. Tentamos nos aproximar
um ser da natureza, o asseio não é muito
cautelosamente, mas sem muito efeito,
sua área.
pois alguns deles saem da barraca, mas
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 143
 notamos que existem alguns na escuri-
dão.
Tomo a frente e tento novamente uma
negociação, mas os Ogros são criaturas
cabeças duras, e seguem fielmente as
ordens de seus comandantes, e isso se
torna impossível. Ainda consigo algumas
opções, descermos e desistirmos ou nos
juntarmos a eles nessa jornada para
falar com o bruxo rei da montanha.
Escolhemos a terceira, combate. Byork
parte em direção aos ogros e inicia o
combate.
Frida conjura um relâmpago em di-
reção a dois Ogros e atrai a ira deles,
essas criaturas odeiam naturalmente
conjuradores, mas seguem um bruxo,
a ignorância e discordância deles me
assusta. Uma chuva de azagaias em
direção a pequenina, mas por sorte ela
não é muito afetada. Tomo a frente
dela e inspiro meus companheiros com
a canção Leões Unidos e protejo a nossa
filhote como um bom leão de prata.
Os ataques continuam e os outros
Ogros vão se revelando, uma grande
quantidade agora, e a situação se torna
tensa. Muitos dos nossos caem e são
levantados novamente pelas orações de
Sten, nosso paladino, assim como alguns
deles caem e por lá ficam. Nossos
dons curativos são uteis para manter
o combate ainda ativo. Aydan deixa a
forma de aranha e assume a forma de
uma enorme cobra, dando um ponto de
favor a nosso lado.
Nosso capitão desafia o líder deles e
profere as palavras "Me diga qual a sen-
sação quando eu mijar no seu corpo morto
no chão"e assim parte para cima para
acertá-lo com belíssimos golpes de es-
pada e derrubá-lo no chão, praticamente
determinando o fim desse combate, um
dos mais difíceis que os Leões de Prata
144 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
tiveram.
Mas o combate ainda não havia ter-
minado, e o últimos sobreviventes deles
ainda impõem bastante dificuldade a
nosso grupo, causando danos significa-
tivo em nosso capitão, mas a enorme
cobra o enrola com seu corpo dificultando
seus ataques e permitindo que Byork o
acerte com um golpe final, proferindo
suas últimas palavras "vocês nunca me
farão de escravos", enquanto debruça no
sangue e cai de joelhos em lagrimas de
ódio. Me aproximo e estendo a mão para
levantar novamente nosso capitão.
Após um descanso rápido, decidimos
após isso seguir o caminho mais acima
ainda na montanha, para irmos de en-
contro aos dois que foram informar o rei
da montanha, no intuito de impedir essa
ação deles. Após uma boa caminhada
encontramos um ogro amarrado e morto,
sofreu diversos rasgos e pancadas e logo
adiante o segundo. Bem aparentemente
nossa busca termina por aqui, os mensa-
geiros foram abatidos por outros, talvez
guardas do próprio rei das montanhas,
talvez terceiros envolvidos, isso não im-
porta, eles foram mortos e com isso nosso
objetivo aqui termina.
Voltamos pela tortuosa e fria montanha
e após longa descida finalmente chega-
mos ao pé da montanha, e consequente-
mente após mais caminhada chegamos
a cidade de Hartwick. Nunca pensei que
diria isso, "Mas como é bom voltar para
essa cidade".
 o colar, eu sou boa em me esconder e
F RIDA F URA -O LHO esconder coisas mas, melhor não, eles
vão encontrar ou outra pessoa vai encon-
Chegamos de volta ao forte dos Leões
trar, então achei melhor guardar comigo
de Prata e o Theon já se ofereceu para
de novo e me aproximei da cozinha bem
fazer um pão com ovos e queijo de búfula,
devagar e em silêncio. Consegui ouvir
minha barriga já roncou, o cheiro do
o grupo conversar sobre as missões que
queijo queimadinho é delicioso!
ainda temos a fazer.
Nos reunimos todos na cozinha pra
O convite do senhor Fargo foi deixado
decidir sobre nossos próximos passos,
de lado, ele parece ser uma pessoa
temos várias opções e muita coisa a fazer
traiçoeira e interesseira. Decidiram então
ainda. Mas o assunto voltou a ser o colar
ir falar com Sr. Ulla, eu gosto dessa
que está guardado comigo. Não sei por-
ideia, ele é meio rabugento mas foi muito
que estão tão interessados e preocupados
bom com a gente, a moeda e a carta
com o colar. Aydan tentou pegar o colar e
que ele nos deu foi fundamental para
depois tentou fazer um ritual de detectar
conseguirmos resgatar o colar e destruir
magia, mas demorou tanto, tanto, que eu
todas aquelas criaturas nas montanhas.
não consegui esperar.
Eles mencionaram também que irão até
Peguei o colar de volta e corri pra me
o Templo de Azuth pra tentar ajudar
esconde, achei que o melhor lugar era
a clériga com o problema na Umbra.
atrás do altar. Não tem necessidade de
Enquanto eu estava ali vi o Theon passar
tanto interesse no colar.
e sentar na escada, me procurando e
Theon veio atrás de mim, eu podia
falando comigo que precisávamos nos
ouvir seus passos, ele não me viu mas
preparar pra sair, então me aproximei.
ele sabia que eu estava ali, tocou uma
Agradeci o lanche que estava muito bom
música bonita e disse que eu posso
e ele me repetiu os objetivos do dia: Fazer
contar com ele sempre que eu precisar.
compras, falar com Sr. Ulla e depois ir
Eu gosto muito dele, ele é muito bom
até o templo de Azuth.
comigo e sempre me trás comidas gos-
Fomos então no mercado, eu só com-
tosas. Ele é muito mais gentil do que o
prei algumas frutas secas bem gostosas
Aydan, que fica falando o tempo todo em
enquanto os outros compravam armas,
destruir o colar. Não precisamos destruí-
armaduras, rações e outras coisas.
lo, precisamos levá-lo pra Lida ou pra
Depois fomos encontrar o Sr. Ulla.
Rainha. Depois que ele parou de tocar a
Dessa vez encontramos com ele no es-
música ele saiu, eu me levantei pra olhar
critório dele, ele como sempre rabugento,
pra onde ele ia, e vi o prato com o lanche
mas um “bom dia” com um grande sorriso
encima do altar, peguei rapidamente e
resolve tudo! E enfim, o Sr. Ulla nos
voltei pro meu esconderijo, o lanche
entregou uma carta da própria Rainha
estava delicioso como eu já imaginava,
onde nos autoriza adentrar ao Templo de
Theon além de um bom músico e amigo
Vergadain e capturar Timm, ou em caso
é um bom cozinheiro! Ele é a melhor
de resistência, matá-lo, sem sermos con-
pessoa então.
denados por isso. Voltamos para o Forte
Mas espero que ele não seja convencido
dos Leões então para conversar melhor
pelo Aydan a destruir o colar.
sobre como fazer isso. Resolvemos deixar
Depois de comer pensei em esconder
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 145
 a ida ao Templo de Azuth para depois.
Fomos ao Templo de Vergadain, já
tínhamos entrado aqui quando viemos
resgatar as meninas sequestradas. Dessa
vez, entramos pela porta principal e
assim que entramos encontramos dois
humanos presos numa jaula, acorrenta-
dos, feridos e desacordados. Cada vez
mais eu penso como Timm pode ser tão
malvado.
Byork tomou a frente do grupo en-
quanto Cyrus tentava ajudar os prisionei-
ros. Byork foi atacado por criaturas feitas
de pedra, disseram que são conhecidas
como Gárgulas, eu nunca tinha visto esse
tipo de criatura, achei que meu raio de
fogo não ia funcionar porque são de pedra
né, mas funcionou!
Theon, muito corajoso, junto com
Byork e Sten foram pra cima das gárgulas
que estavam sempre tentando morder e
dar garradas, mas parece que os ataques
com as armas deles não são muito efeti-
vos, o fogo parece funcionar melhor.
Mas, mesmo assim as criaturas são
pequenas e ficam voando o tempo todo,
não é tão fácil acertá-la.
Depois que conseguimos destruir todas
as criaturas de pedra, eu e Cyrus fomos
ajudar o prisioneiro e assim que soltei
as algemas as próprias grades da sela
tomaram vida e começou a nos atacar.
Infelizmente o Sten não resistiu. Cyrus
disse que se alguém conseguisse dissipar
a magia poderia fazer as grades da cadeia
ficarem inertes e Aydan tentou fazer
isso, mas eu conseguia ver os fios de
magia falhando, eu me concentrei nele
e gritei “vai Aydan, você consegue” e
então os fios se fortaleceram, a gema
no centro da criatura perdeu seu brilho
e a criatura caiu imóvel. Pelo que o
Theon mencionou, aquela gema pode ser
removida e a criatura definitivamente
146 U MA VIDA PARA SER H ERÓI
desfeita.
Byork perguntou se deveríamos voltar
pra enterrar o corpo do Sten, mas eu
estava com tanta raiva porque mais um
dos nossos amigos morreu por culpa
do Timm, e não podemos voltar atrás,
precisamos seguir até o objetivo e fazer
esse maldito Timm pagar por todas as
dores que ele já nos causou.
Continuamos o caminho, passamos por
um deposito com caixas e barris, de um
lado um túnel que ainda estava sendo
escavado e do outro lado uma porta
da ferro que eu percebi que não estava
trancada, e dei espaço para os outros
passarem.
Theon abriu a porta e encontramos
Timm, mais uma vez ele vem com um
bla bla bla de negociar, se entregar, ser
julgado... Theon até começou a conversar
com ele, mas Aydan tomou a frente e
conjurou seus lobos na sala. Timm
desfez os lobos do Aydan com um simples
movimento de mão, Byork correu pra
cima dele.
Timm começou a fugir do combate
como um grande cagão que ele é, abriu
uma porta secreta que dava pra uma
sala onde haviam ogros, mas eu estava
focada em destruir o Timm, nada ia
me impedir, nem a escuridão que ele
conjurou sobre nós, todos fizemos uso
de todas as magias que podíamos, eu
estava tão focada que não errei nenhuma
das minhas magias e nada de estranho
aconteceu dessa vez.
Byork acertou muitos golpes com a
espada, Aydan se transformou em lobo
novamente, mas foi Theon com sua
música repleta de verdades e palavras
duras acabou por destruir aquele que
tanto mal fez a nós e a tantas outras
pessoas.
Saímos então desse templo amaldiço-
ado, eu carreguei a cabeça de Timm pelos
cabelos até chegarmos na presença do Sr.
C YRUS , O M ÉDICO
Ula, foi ele que nos entregou a carta de
autorização para fazermos o que preciso
No dia que devíamos comemorar, na ver-
fosse e assim fizemos.
dade encontramos a dor. Mesmo que não
Sigo agora sem nenhum rancor no
esteja há muito tempo, perder uma alma
coração, apenas um grande alívio, mas
acaba sempre doendo, principalmente
sabendo que pessoas e criaturas más
uma que está disposta a dar tudo de si
estão espalhadas por todos os lugares,
por um bem maior. Em minha vida de
mas eu sei que existem muito mais
médico sempre vi muitas mortes, sempre
pessoas boas e que não podemos desistir
vi a dor, o sofrimento e não importa
de lutar por elas e com elas.
quantas vezes você veja as mesmas cenas,
elas doem igual.
Sten Nascido do Vento, paladino de
Helm, alguém disposto a dar o passo ao
perigo antes de qualquer outro. Não sei
até onde estava sua fama, mas em sua
morte, reuniu muitos e vários compar-
tilharam a dor de sua perda. Você não
falhou conosco, nós falhamos com você,
principalmente eu, eu falhei.
Andando com a cabeça de Timm le-
vantada, como se levássemos a caça
do monstro que aterrorizava a cidade
para sermos aplaudidos, nossas cabeças
estavam baixas. Nossa passeata não
demorou muito, pois do mesmo jeito que
a pequena voava levantando a cabeça
decepada, Aydan e Byork carregavam o
corpo pesado para a casa dos leões. En-
quanto velávamos o corpo, Theon abriu
o discurso post mortem enquanto mais
pessoas de Hartwick chegavam: Lida,
Tavis, Ardena Ula, Fargo, vários outros,
pouco a pouco, Frida, eu, esvaziávamos
nossos corações com pequenos discursos.
Quando se deu o momento, Byork fechou
o caixão, levamos o corpo de Sten e fina-
lizamos o sepulcro, em cada pá de terra
sendo jogada, um soluço era ouvido, um
remorso era revivido e a pequena parecia
olhar ao nada, perdido em memórias.
Nesse meio tempo, Theon declarava seu
epitáfio ao leão caído:
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 147
 Não perdemos um companheiro Apenas e o símbolo de Bharrai e clamei por mi-
o deixamos descansar Leão, és digno nha pactuante em celestial: “Ó! Grande
Ursinal, venho mais uma vez em meu
guerreiro Sua luz sempre vai nos guiar
contato contigo, mais uma vez, teu servo
. chama a ti, por tudo que concedeu a mim
Aproveite seus momentos Reveja os e pelas oportunidades me dadas, por me
seus entes Em breve nos veremos permitir a experiência de derrubar um
Novamente Frente a Frente falso profeta, por dar-me a possibilidade
de manter os pertos de mim vivos, mesmo
que por minhas falhas eu tenha deixado
Voltamos a nossa casa, poucos volta-
um morrer tendo a plena capacidade de
ram conosco, um tal de Glash e o Mi-
trazê-lo a nós, peço, mais uma vez, tua
nistro Fargo estavam lá, aparentemente
assistência, traga a este teu protegido
o Ministro queria saber as notícias de
seu servo espiritual! Traga ao teu servo a
Timm e essas coisas que devem ser
assistência dos celestiais em forma de um
importantes para a lei local e da coroa.
pequeno espírito e que pelos poderes que
Esse Glash eu não faço ideia quem seja.
concedeu a mim, sua forma se manifeste
Frida, que estava com as coisas, tomou
ao mundo!” e assim, novamente, meu
a frente e praticamente desconversou
antigo parceiro, Zacharias, manifestou-
dizendo que daria as informações direto
se na frente de mim, depois de alguns
para a rainha. O ministro, ofendido,
minutos de conversa, voltamos para casa
revidou na pequena e Theon com toda
dos leões.
a educação possível mandou ele a merda,
No outro dia, a própria rainha veio
de maneira educada, obviamente.
a casa dos leões, sim, a rainha, em
Nesse momento acabei lembrando do
vez de irmos a ela, ela veio a nós. A
que li nos documentos e no diário de
cada vez vejo que a influência do nome
Timm, se durante o tempo que andei com
dos leões e de quem eu ando junto
os leões eles não tivessem me relatado
parece ser muito, muito grande. Após
uma visão mais pé no chão, as palavras
entregar os documentos que achamos
daquele homem seriam para sentir dó,
a rainha, a pequena Frida começou a
um coitado, mas na verdade ele era
contar a história de perseguição contra
alguém que sempre tentou ascender de
Timm, de maneira bem pouco emocional
todos os modos, em todos os locais, em
e bem direta, o que não me era esperado.
vários templos, sacrificando tudo e até
Depois, assumi, pois aparentemente a
a própria esposa em um pacto para ter
memória dos meus companheiros sobre
poder. Ainda os pontos mais relevantes
as informações de Padre Simon haviam
eram as conexões com o ogro bruxo, o
esvaído de vossas cabeças, e transmiti as
que usaríamos para provar nosso ponto.
informações a rainha que ficou um tanto
Enquanto todos retiraram-se para os
perturbada, deixando isso transparecer.
aposentos, eu decidi tomar um caminho
A rainha começou a contar uma história,
mais afastado, deveria contactar minha
sobre uma guerra e de ogros bobocas,
pactuante e também realizar um pequeno
gobocas, gobokas, sei lá, mas como
ritual. Comprei incensos, carvão e algu-
houve uma guerra ao trono e que Brienne
mas coisas a mais, me retirei para um lo-
foi prometida, sequestrada, salva, e no
cal privativo, arrumei os círculos arcanos

148 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

fim, era para falar que os ogros por muito
tempo estavam desorganizados e aparen-
temente agora estão organizados e vai dar
ruim, no final, um pedido foi dado para
que pudéssemos ir em direção ao covil
inimigo, infiltrando-se em meio aos ogros.
Ela mal terminou de falar e começou um
arranca rabo dos conselheiros, de Fargo,
Ula e Tavis, sobre esconder informações,
sermos ou não aliados, sobre isso ser
uma guerra do norte ou de heróis e
depois um clima de tensão ficou feito
ali, com gente defendendo a gente, Fargo
atacando a gente com palavras, como um
maluco, um clima de tensão se fez e um
silêncio se manteve.
Theon puxou a gente para longe para
conversar, conseguindo um tempo com
a rainha, a habilidade diplomática de
deixar uma rainha esperando no porão de
uma casinha é algo a se levar em conta.
Byork e Frida manifestaram interesse
em ajudar, e quando ouvi as palavras
de Theon, fiquei assustado: “Essa será
minha última missão.”, realmente não
esperava que isso terminasse assim, as
coisas estavam ficando tensas, a morte
de um amigo provavelmente tinha gerado
reviravoltas. No fim, Byork decidiu que
isso era um assunto de heróis e que sal-
variam as pessoas dos ogros, ignorando
o bruxo na umbra, aparentemente talvez
achasse que ele não influencia tanto com
o emissário morto, mas ele ainda era
a voz do crepúsculo. Penso se essa
realmente foi a escolha correta.
Então, fomos em direção a uma espécie
de cidadela, um castelo que acho que
os ogros tinham tomado e feito recons-
trução, Aydan, que depois do enterro de
Sten tinha se retirado para a natureza,
se juntou a nós enquanto explicávamos a
situação. Como de costume, fomos bem
mal recebidos por ogros, Zacharias achou
uma porta lateral a leste e invadimos
por ela, com meu pequeno demônio indo
em frente, ativando uma armadilha de
mãos flamejantes detectada por Frida e,
obviamente, ficando intacto. Lá dentro
dois ogros aríetes nos esperavam. Antes
que eu pudesse reagir, a vassoura de
Frida passava rapidamente, circulando
a mim e a Byork, um dos ogros apro-
veitou e acertou o tronco que carregava
na pequena, jogando-a para meu lado,
sangrando muito.
Aparentemente, os ogros estavam pla-
nejando alguma invasão, já que estavam
construindo vários e vários aríetes. De-
pois do primeiro golpe, não houve muito o
que o ogro pudesse fazer, o outro acertou
Aydan na sua forma de lobo, o que fez ele
aproveitar para ser mordido e derrubado
e depois foi extremamente retalhado por
uma sequência sangrenta de Byork, o
sorriso de Theon era claro com tudo
aquilo, quando ele declamou: “Esse a
quem sigo como capitão, é conhecido
como o grande leão de prata, Byork!” e to-
cou um pouco seu instrumento enquanto
eu cuidava de estancar os sangramentos
e dar remédios para dor para a pequena.
O capitão resolveu abrir a porta que
havia naquela sala depois do Gato de-
tectar cinco ogros arqueiros no espaço
aberto acima de nós, o problema que
havia algo horrendo lá dentro, um ritual
que foi performado para trazer a vida
ogros mortos. Eles eram resistentes, mas
burros. Frida botou fogo naquilo tudo e
banalizou a situação junto as espadadas
pesadas de Byork. Agora, talvez uma
das batalhas mais perigosas estaria em
nossa frente, cinco arqueiros ogros, pelo
menos, e uma distância gigantesca para
cruzarmos até eles. Que os céus estejam
conosco.
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 149
 pequenina Frida, seguindo meus passos
T HEON DE O LAMN com seus olhos para o chão, evitando
ver esse cenário putrido ao nosso arredor.
Adentramos o antigo Castelo de Drak-
Mas ele ouve o barulho do confronto
maw, atualmente um forte repleto de
do capitão e seus olhinhos enchem de
ogros. Pegamos um caminho alternativo
raiva. Ele olha os trolls e grita pra eles
e estamos entrando de forma furtiva para
queimarem. Da ponta de seu pequeno
evitarmos conflitos. Nossa missão é basi-
dedo, uma esfera flamejante cresce e se
camente limpar essa área dos inimigos.
direciona a seus inimigos, explodindo
Então vamos por parte, ao adentramos
sobre eles mas evitando o Byork. Eles
o forte, temos um corredor longo a frente
queimam e se retorcem como se fossem
e uma porta a esquerda. Explorarmos
galhos secos.
a porta e dois ogros nos atacam. Eles
Logo após isso Cyrus também usa seus
não são ogros comuns, estão mortos mas
dons divinos para causar uma grande
revividos por algum tipo de experimento
quantidade de ferimentos nessas criatu-
mágico. A batalha é superada e eu
ras acabando com um deles. Um outro
verifico a sala e chego a conclusão que
troll veem e se junta em combate nesse
eu já deduzia sobre esses experimentos,
confronto. Byork mantém-se firme no
nada a mais por aqui.
confronto contra os trolls em chamas.
Seguindo o corredor encontramos um
Aydan se transforma em um lobo e parte
cruzamento, porta a direita, corredor a
para ajudar Byork no confronto, cra-
frente e a esquerda. Zach, nosso ca-
vando suas garras e dentes nas criaturas.
marada demônio que acompanha Cyrus
Vendo toda essa batalha sangrenta,
parte voando para reconhecimento da
eu coordeno os ataques de todos,
área. No corredor a frente ele encontra
posicionando-os em combate enquanto
alguns ogros, e no corredor a esquerda
incentivo nosso capitão em batalha.
e ele descreve vários outros caminhos
"Mantenha-se de pé capitão, nós conta-
por la. A porta a nossa direita leva a
mos com você, seus ferimentos se tor-
um corredor e consequentemente a um
narão honrosas cicatrizes para minhas
deposito de comidas.
futuras histórias sobre como vencemos
O local é imundo e possui um odor
essa batalha".
horrível, com sangue espalhado pelo chão
A batalha se mantém árdua, e mesmo
e pedaços de carnes em todos os cantos.
com sua regeneração eles vão caindo aos
Decidimos seguir por esse caminho na in-
poucos. Um deles foge pelo corredor, mas
tenção de encontrar um caminho alterna-
o outro bloqueia o nosso caminho. Eles
tivo que nos permita chegar furtivamente
até podem se regenerar facilmente, mas
as criaturas, e pega-las desprevenidas.
eles não fazem isso quando se trata de
Seguindo por esse caminho alternativo
fogo, e nossa pequenina maneja muito
e avistamos Trolls a frente, nosso plano
bem esse elemento. Sendo assim, ela
deu certo, aparentemente eles se uniram
grita para esse troll, "Não adianta me
aos ogros desse forte, o combate inicia.
olhar de cara feia não. Cara feia pra mim
Três trolls a frente e Byork se engalfi-
é fome, Queime!"e ele cai em chamas no
nha com eles, o restante do grupo usa
chão até morrer.
seus dons para causar dano ou auxiliar
Corremos então atrás do fugitivo, que
o capitão no combate. Eis que surge a

150 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

corre para uma sala, mas não foi rápida
o suficiente e nós os alcançamos antes.
Fridda lança novamente outra magia com
chamas e Aydan na forma de lobo rasga
o corpo chamuscado da criatura, dando
fim a ela. Ao adentrarmos a sala encon-
tramos um Gigante de Gelo com uma
imensa espada. Provavelmente é o rei que
procuramos, peço para conversarmos
antes e ele espera o que temos a dizer.
É a primeira vez que vejo um gigante
falando de forma erudita, e ele explica
que foi convidado pelo rei Goboka para
ajuda-lo em seu plano de destruir as
cidades humanas do norte, mas ele
não possui esse interesse. Após breve
conversa ele se posta como neutro e nos
permite passar sem confrontos. Agradeço
a eles e seguimos para a próxima sala, ele
informa que é onde estão os guardas do
rei Goboka, nos preparamos e partimos.
Adentro a sala e vejo diversos ogros
com armas nos esperando para o con-
fronto. Olho o primeiro e digo "Desculpe
senão tenho palavras divertidas, mas
espero que elas lhe causem feridas"e
vejo ele se retorcer com meus efeitos
psíquicos. Eles me notam e dizem sobre
atacar o elfo, eu os corrijo enquanto vejo
Frida atrás de mim conjurando uma bola
de fogo. "Meio elfo idiotas, sou um meio
elfo, agora queimem seus vermes!"A bola
de fogo explode no meio da sala atingindo
todas as criaturas que se desesperam em
apagar suas chamas.
Duas grandes flechas veem em minha
direção, desvio de uma mas a segunda
me atinge em cheio, e sinto o peso da
enorme flecha em meu ombro a ponto de
me ajoelhar. Levanto-me, olho para traz e
digo aos meus companheiros "Avancem".
Aydan em forma de lobo corre para a sala
e rasga o peito de um dos ogros, enquanto
Cyrus revela um novo truque, e tentácu-
los negros surgem na sala arrancando e
arremessando as criaturas pelas paredes.
O capitão Byork brande sua espada larga
e pula cortando um dos ogros.
São várias criaturas, não é possível
contar, o salão é grande e todos estão
focados em vencer, a cidade depende de
nós. Pego o Hakin em minhas mãos e
começo a dedilhar o contrabaixo, e aos
poucos vou aumentando o ritmo até ex-
plodir em um som grave e alto. Durante
a melodia eu inspiro meus companheiros
nessa batalha. "Hoje vocês fazem história,
hoje não haverá companheiros mortos,
e também não haverá sobreviventes por
parte deles. Lutem meus amigos, lutem
meus irmãos, lutem leões".
Essa é uma das maiores batalhas
que os leões ja enfrentaram, explosões
mágicas lançadas por Cyrus e Fridda, o
Imenso lobo Aydan rasga suas presas
com suas garras e presas afiadas en-
quanto nosso capitão Byork brande sua
espada e se banha com o sangue dos seus
inimigos.
Após o intenso combate, enfim vence-
mos os ogros, com o último deles, já sem
forças, tentando socar o capitão, que se
esquiva facilmente do golpe e gira sua
imensa espada decepando o fraco ogro.
U MA VIDA PARA SER H ERÓI 151
 espada de Byork, que se chama Flagelo
AYDAN - S EMENTE DE dos Gigantes. Revelou, inclusive, o
C ARVALHO verdadeiro nome de Rosamund: Grindax.
Por fim, Frida se pronuncia e conta
sua piada, bastante engraçada, inclusive.
Um grito na escuridão, uma voz trove-
Pequeninos são impressionantes, conse-
jante ecoa na sala escura e uma pedra
guem contar piadas até mesmo nessas
colide contra mim e Byork. Dois ogros
horas...
e um outro gigante avançam, porém,
A gigante nos abastece com informa-
assim que volto a minha forma humana,
ções valiosas: nos disse que Goboca
aviso ao grupo, em especial a Theon,
está reunindo os gigantes para descer
que o grandão resmungou em sua língua
as montanhas, que o ogro bruxo está
que não quer lutar. Theon analisa o
prometendo que os gigantes terão sua
combate e fala que se os ogros morrerem,
vingança contra os dragões e tomarão
possivelmente o gigante pare de lutar.
Toril novamente para eles. Segundo ela,
Dito e feito. Os ogros caíram em combate
Thandravsk está condenada, o Jarl de
e conversei com o gigante e ele partiu.
Northgard está esperando apenas um
Voltamos para vistoriar uma sala atrás,
sinal do Pai de Todos.
onde havíamos deixado alguns espólios.
Outra vez aviso ao grupo sobre a visão
Cyrus encontra uma espada e Theon
que tive da descida dos gigantes. Theon
a analisa. Ele disse que é uma arma
tenta animar a todos, porém, o peso da
histórica e valiosíssima feita há muito,
preocupação e da responsabilidade recai
muito tempo atrás por anões e dada a
ainda mais sobre meus ombros. Por que
um valioso aventureiro. A espada foi feita,
Silvanus pediu isso para mim? Seria
especialmente, para matar orcs e gigan-
um teste? Ou seria uma punição pela
tes (inimigos dos anões). Bem, acredito
audácia de o termos invocado num Poço
que essas armas são melhores na mão de
da Lua? Estas perguntas se somam
Byork, como todos do grupo concordam.
às minhas preocupações, mas acho que
Theon, de forma muito formal e teatral
estou começando a pensar como Theon:
entrega-a ao forte guerreiro do nosso
“Quero resolver isso logo e me ver livre do
grupo.
Norte!”. Preciso ir atrás de minha mãe e
Continuamos explorando o castelo em
remover a mácula de Floresta Alta!
busca do rei gigante e chegamos numa
...
varanda, onde havia uma enorme mulher
Seguindo por onde o Zacharias já ha-
usando uma estranha máscara, que em
via investigado, encontramos um templo
uma de suas metades sorri e na outra
com duas criaturas cobras-humanoides.
metade parece triste. Ela parece um
Elas pareciam resistentes contra magias,
gênio da lâmpada das histórias infantis,
então ao invés de usar magias diretas,
com roupas adornadas em ouro. Nos
resolvi invocar meus lobos e ir para a
disse que veio para conversar com o
caçada! Também me transformei numa
rei. Ela nos faz uma proposta: a gente
cobra gigante, porém, os lobos, junto
conta uma piada, se ela gostar, não nos
ao grupo eliminaram rapidamente as
atrapalha. Se não gostar, avisa que
criaturas não exigindo maiores esforços
somos invasores. Durante a conversa,
de minha parte. Estamos cada vez mais
a gigante acaba nos dizendo o nome da

152 U MA VIDA PARA SER H ERÓI

sincronizados em combate, de fato!
Que as bênçãos de Silvanus recaiam
sobre esta terra gelada e que sua sabedo-
ria seja nossa guia!

U MA VIDA PARA SER H ERÓI 153