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INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO

CAMPUS SÃO LUÍS – MONTE CASTELO


DEPARTAMENTO DE MECÂNICA E MATERIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

SOLIDIFICAÇÃO DA ZONA DE FUSÃO NA SOLDAGEM


Antonio de Sousa Leitão Filho - 20201MME.MTC0007
Metalurgia da Soldagem/Departamento de Mecânica e Materiais – DMM/IFMA
Prof. Dr. Waldemir dos Passos Martins

Resumo:
Este trabalho apresenta conceitos relacionados ao fenômeno da solidificação da Zona de Fusão na soldagem a partir
do levantamento bibliográfico. Apresenta exposições básicas acerca da solidificação, procura explicar o equilíbrio e o
não equilíbrio nesse fenômeno e como ocorre a redistribuição de soluto, a solidificação de material puro e de liga, os
modos de solidificação a partir do super-resfriamento e esclarece as formações indesejadas na solidificação, a
microssegração e o bandeamento e, por fim, exemplifica o caminho da solidificação de um sistema binário A–B até o
ponto eutético.

Palavras-chave: zona de fusão, solidificação, soldagem

1. INTRODUÇÃO

A soldagem é um processo tido como complexo, conhecidamente como um dos mais utilizados na indústria
(fabricação e manutenção), sendo versátil e de baixo custo, que tem por fundamento básico termodinâmico a mudança
das superfícies de união em estado líquido (poça de fusão), com uso do calor (pressão ou de ambos) com a solidificação
da poça em seguida. Norton (2013) indica para que uma solda seja considerada boa, é necessário que uma grande massa
do metal de adição penetre no metal de base, formando o cordão de solda, que é a associação entre o metal de adição e o
metal de base.
O estudo dos diversos fenômenos metalúrgicos que ocorrem na soldagem (fusão, difusão, super-resfriamento,
solidificação, etc.) são preocupações recorrentes tanto da indústria, quanto da academia. Tipicamente uma junta soldada
é composta por zonas que se distinguem entre si em sua microestrutura, sendo a microestrutura extensivamente
responsável pelas propriedades físicas e mecânicas da região soldada e influencia em seu desempenho em serviço. A
microestrutura da Zona de Fusão, por exemplo, que compreende a região onde ocorre fusão e solidificação para formar a
junta, está relacionada à composição química do substrato e metal de adição, e à taxa de resfriamento, onde qualquer
mudança afeta sensivelmente na morfologia da microestrutura e consequentemente em sua integridade (AWS, 2001).
A suscetibilidade à fissuração em estruturas soldadas tem muito a ver com sua microestrutura desenvolvida na
solidificação da ZF. Esta fragilização pode estar relacionada aos processos de segregação, à existência de filmes líquidos
na matriz do sólido ou à perda de ductilidade, com presença acentuada de martensita. A expansão térmica, durante o
aquecimento, e a contração, através do resfriamento, podem originar padrões complexos de tensões dentro e no contorno
da solda, dada a importância do ciclo térmico durante a soldagem (LIPPOLD, 2015). Assim, a compreensão inicial desses
mecanismos é fundamental para o estudo da fabricação de soldas com qualidade.

2. OBJETIVOS
Apresentar os conceitos básicos de solidificação da Zona de Fusão na soldagem, discutir o equilíbrio e o não equilíbrio
da solidificação, a redistribuição do soluto durante a solidificação, a solidificação de um material puro, solidificação de
equilíbrio de uma liga, solidificação de não equilíbrio de ligas, consequências do não equilíbrio da solidificação, modos
de solidificação e super-resfriamento constitucional, microssegregação e bandas. Bem como, discorrer sobre o efeito da
taxa de resfriamento e caminho de solidificação.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho foca-se em fazer levantamento bibliográfico em literatura especializada, isto é, em livros, normas,
também em pesquisas acadêmicas e artigos, a fim de dar resposta satisfatória aos objetivos propostos da atividade.

4. REVISÃO DE LITERATURA

4.1 Conceitos iniciais de solidificação

O processo de soldagem por fusão envolve a ocorrência de múltiplos fenômenos metalúrgicos simultaneamente. De
sorte que é na soldagem que alterações microestruturais podem influenciar em sua estabilidade macromecânica. Fazendo
um exame em uma junta soldada de topo, por exemplo, é possível observar as regiões microestruturais resultantes desse
processo, demonstradas na Fig. 01.
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Figura 01. Esquema inicial das regiões de uma junta soldada (soldagem por fusão)

Fonte: American Welding Society – AWS (2001)

A Fig. 01 mostra a Zona de Fusão (ZF), que está relacionada ao derretimento do metal de adição (e parcialmente do
metal de base), a Zona Termicamente Afetada (ZTA), apesar de não derretida, é afetada pelo calor oriundo do processo
de união, sendo que boa parte do metal de base não é afetado. Conforme Savage et al. (1976), as regiões ZF e ZTA ainda
podem ser subdivididas, conforme apresenta a Fig. 02.

Figura 02. Regiões de uma junta soldada

Fonte: American Welding Society – AWS (2001)

Modernamente Lippold (2015) ilustra a terminologia da microestrutura de uma junta soldada, identificando-as
conforme Fig. 03.

Figura 03. Ilustração das microestruturas de uma junta soldada

Fonte: Lippold (2015)


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A Fig. 03 expõe que a ZF é formada por duas regiões, a saber, a porção composta pelo metal de base e o metal de
adição, completamente fundidos, circundada de uma região derretida e solidificada que não é misturada ao metal de base.
A ZTA subdivide-se em zona parcialmente fundida e zona verdadeira afetada pelo calor, sendo esta última composta pela
região de grãos grossos e região de grãos finos. Destaca-se que é na região de grãos grossos, que na maioria dos sistemas,
que sofre mais fragilização durante a soldagem (FLEMINGS, 1974). Ainda existe em alguns casos, uma zona muito
estreita que pode exibir uma microestrutura muito distinta das demais regiões circundantes chamada de zona de transição.
A ZF é descrita como a região onde ocorre a fusão e a solidificação para formar a junta (ou a solda propriamente dita).
Representando a região onde ocorre a fusão completa e solidificação durante o processo de soldagem.
A morfologia da microestrutura da ZF está relacionada às condições de composição química do metal e da taxa de
resfriamento com que é submetido, onde pequenas diferenças podem impactar intimamente na microestrutura e
propriedades. Segundo aponta Cunha (1985), essas modificações ocorrem devido ao fato de que o metal de base é alterado
consideravelmente conforme é exposto à temperatura da soldagem, isto é, a um fator temperatura-tempo. À medida que
a temperatura vai diminuindo, o fenômeno da solidificação vai acontecendo. A solidificação da ZF acontece via
mecanismos de nucleação e crescimento de novas fases, desde a interface sólido-líquido (S-L) por meio de tensões
superficiais. O início de solidificação da zona de fusão pode acontecer pela nucleação homogênea, nucleação heterogênea
e crescimento epitaxial.
Existem vários requisitos para solidificação. Primeiro, é necessário nuclear ou formar espécies sólidas dentro da fase
líquida. Uma vez que o sólido inicial se forma e a transformação de líquido em sólido prossegue, é necessário que o calor
de fusão gerado pela transformação seja removido ou dissipado. Isso normalmente ocorre por condução através do sólido
para longe da frente de solidificação. O crescimento da solidificação por nucleação homogênea é o mais raro, porque
depende de um super-resfriamento e ângulo de molhamento próximo de 180°. A nucleação heterogênea ocorre em ângulos
de molhamento próximos a 90°, onde a superfície sólida age como núcleo de solidificação para o líquido em contato. Já
o crescimento epitaxial é favorável para a soldagem, visto que propicia uma continuidade dos grãos desde o metal de
base, isto é, os grãos da ZF desenvolvem-se com a mesma orientação cristalina da ZTA (NEVES et al., 2009), como
ilustra a Fig. 04.

Figura 04. Esquema ilustrado da nucleação epitaxial

Fonte: Lippold (2015)

4.2 Redistribuição de soluto, equilíbrio e não equilíbrio, modos de solidificação e super-resfriamento constitucional

Durante a solidificação de uma liga, também é necessário redistribuir o soluto entre líquido e sólido, uma vez que a
composição do líquido e do sólido em contato na frente de solidificação muda continuamente conforme a temperatura
diminui dentro da faixa de solidificação. Essa redistribuição resultará em variação local na composição da estrutura
solidificada, isto é, se o sólido não tiver tempo para atingir sua composição de equilíbrio, o que é comum na maioria dos
processos de soldagem. À medida que um líquido de composição uniforme solidifica, o sólido resultante raramente é
uniforme em composição. Os átomos de soluto no líquido são redistribuídos durante a solidificação, onde uma série de
parâmetros são fundamentais no desenvolvimento da microestrutura e nessa redistribuição, são eles:
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Cs
k (1)
CL
onde:
k é o coeficiente de redistribuição do soluto ou coeficiente de equilíbrio de segregação;
C S é a composição do sólido na interface S-L;
C L é a composição do líquido na interface S-L.
Para a maioria dos sistemas de liga, k varia conforme a temperatura. Tipicamente o valor de k é um valor médio
entre as linhas liquidus e solidus do diagrama de fases. Quando k  1 , o soluto se divide em líquido, enquanto para k  1
o soluto se esgota no líquido. Ao se aproximar de 1, a redistribuição do soluto é reduzida na solidificação.

dT
G (2)
dx

onde:
G é o gradiente térmico ou gradiente de temperatura no líquido.
Durante a solidificação da solda, o gradiente G L é normalmente positivo, pois a poça de fusão é superaquecida pela
fonte de calor de soldagem.

dx
R (3)
dt

onde:
R é a taxa de crescimento de solidificação ou velocidade de solidificação, que é definida pela rapidez com que a
interface S-L se move durante o processo de solidificação.
O vetor produto do gradiente térmico e a taxa de crescimento de solidificação é dado por:

dT dx dT
  (4)
dx dt dt

isto é,

dT
GR  (5)
dt

onde:
GL  R é a taxa de resfriamento local, que tem influência nas dimensões da subestrutura de solidificação, como o
espaçamento dos braços dendríticos.
Dendritas têm forma fundamentalmente tridimensional e são ramificações do sólido que crescem em relação à fase
líquida, na solidificação. Quando o intervalo de solidificação é grande, a formação característica de dendritas leva ao
aparecimento de microporosidades. Se o intervalo é pequeno, no espaçamento entre as dendritas podem ocorrer
macroporosidades. Este defeito de solidificação, também se dá ao fato de que é difícil a penetração completa do metal
líquido por entre as dendritas, sendo proporcional ao intervalo de solidificação, que é a diferença entre liquidus e solidus
no diagrama de fases. De modo que, o equilíbrio de solidificação ocorre em casos onde há difusão completa do soluto no
líquido (KUO, 2003). No metal puro, a solidificação não ocorre de forma imediata, sendo necessário que o líquido passe
por um super-resfriamento para que a solidificação tenha início (BRANDI; MELLO, 2004). O super-resfriamento T é
dado pela Eq. 6.

T  TG  T  TK (6)

onde:
 TG é o super-resfriamento que ocorre devido ao enriquecimento do soluto no líquido interdendrítico
(constitucional);
 T é o super-resfriamento devido ao raio de curvatura;
TK é o super-resfriamento cinético, que é nulo para os metais.
Principalmente é o grau de super-resfriamento constitucional que governa a morfologia de solidificação da ZF, isto
é, tem a ver com a forma particular como as dendritas crescem, que pode ser planar, celular, celular dendrítico, colunar
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dendrítico e dendrítico equiaxial. O super-resfriamento é controlado pela composição do soluto CO , gradiente térmico
G e a velocidade de solidificação R . No caso de R apresentar valores grandes, o super-resfriamento é praticamente
nulo. Observando a Eq. 5, como G L e R são inversamente proporcionais, os modos de solidificação são estudos como
sendo a relação G / R . Para valores baixos desta relação, diz-se que o líquido está resfriado constitucionalmente e é
instável no crescimento dendrítico. De outra forma, se o valor desta relação for alto, o crescimento da interface é
considerado estável (BRANDI; MELLO, 2004). A Fig. 05 exemplifica os modos de solidificação.

Figura 05. a) Diagrama esquemático dos diferentes modos de solidificação; b) Região de super-resfriamento
constitucional em relação ao gradiente de temperatura

Fonte: Neves et al. (2009)

O gradiente de temperatura G influencia na redução da região de super-resfriamento constitucional, e favorece o


crescimento planar. São as medidas de G e R que também são responsáveis pelo espaçamento d dos braços dendríticos.
Cada grão é composto de uma dendrita, com inúmeros braços ramificados orientados muito próximos entre si. É o
espaçamento d entre as ramificações que definem as propriedades mecânicas do material (BRANDI; MELLO, 2004). O
espaçamento d é dado por:

d  a  G  R 
n
(7)

onde:
a é constante;
n assume 0,5 para braços primários, 0,5 a 0,33 para braços secundários.
No metal puro, durante a solidificação, a interface S-L é comumente plana (ou planar). Na solidificação de uma liga,
a interface S-L, ou seja, o modo de solidificação pode assumir modo planar, celular ou dendrítico. A fim de observar esta
ocorrência, a Fig. 06 mostra microestruturas de algumas ligas.

Figura 06. Microestruturas de solidificação em ligas: a) seção transversal solidificada (celular) de uma liga Pb-
Sn; b) Colunar dendrítico em liga de Ni; c) Dendrítico equiaxial em liga de Mg-Zn; d) Visualização
tridimensional de dendritas em superliga de à base de Ni.
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Fonte: Kou (2003)

Ainda conforme Kuo (2003), à medida que há incremento do grau de super-resfriamento constitucional, o modo de
solidificação é alterado, existindo uma zona, chamada pastosa, nos modos onde há formação de dendritas (colunar e
equiaxial), como destaca a Fig. 07.

Figura 07. Modos de solidificação dos metais

Fonte: Kou (2003)


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Chalmers (1964) lembra que os modos de solidificação são determinados em virtude do grau de super-resfriamento
constitucional, que depende do gradiente térmico, velocidade de solidificação e concentração do soluto na fase sólida e
líquida. Kuo (2003) observou os modos básicos de solidificação na Fig. 08 a partir da interface S-L durante a solidificação
usando materiais orgânicos transparentes que se solidificam semelhante aos metais.

Figura 08. Modos básicos de solidificação: a) solidificação planar em tetrabrometo de carbono; b) solidificação
celular de tetrabrometo de carbono com pequena quantidade de impureza; c) solidificação dendrítica colunar de
tetrabrometo de carbono com várias impurezas percentuais; d) solidificação dendrítica equiaxial de ciclohexanol
com impureza

Fonte: Kou (2003)

Lippold, 2015 expõe que são os modos de solidificação que delineiam as diferentes formas morfológicas que podem
existir na interface S-L, que podem ser visíveis quando resfriados à temperatura ambiente, em alguns casos. Sob condições
de baixas taxas de solidificação e gradientes de temperatura altos, pode ocorrer a solidificação de frente planar.
Na maior parte dos casos práticos, a frente planar se divide em outros modos descritos por morfologias celulares ou
dendríticas. O modo de solidificação mais estável é ditado pelo efeito combinado da composição, gradiente de temperatura
e taxa de solidificação (ou velocidade de solidificação).
Os modos mais comuns em soldagem por fusão são os modos dendrítico celular e celular. O modo planar é
considerado instável, pois, em condições reais imediatamente divide-se em frente de crescimento dendrítico ou celular.
O crescimento dendrítico equiaxial também não é muito observado em processos de soldagem, visto que necessita de
grau elevado de super-resfriamento constitucional (LIPPOLD, 2015). A Fig. 09 detalha como se dá o crescimento dos
modos de solidificação na interface S-L.
A solidificação acontece em equilíbrio quando o crescimento na interface S-L é satisfatoriamente lento a ponto de
admitir que o soluto seja de maneira uniforme misturado ao volume de líquido por difusão, e que o movimento do soluto
no sólido formado seja capaz de manter sua composição homogênea e em equilíbrio com a composição do líquido.
Garcia (2001) explica que na prática, esta situação só pode ocorrer se a cinética de avanço da interface S-L é menor
do que a cinética de difusão de soluto no sólido e se a distância de difusão for pequena. As ocorrências que mais se
aproximam desta situação de equilíbrio são aqueles onde o soluto é um intersticial de alta mobilidade atômica, como nos
aços, onde o soluto considerado é o carbono. Por outro lado, se a o deslocamento da interface S-L for rápido, ao passo
que haja a suficiente condição de equilíbrio, haverá a formação de uma camada de soluto próxima à interface.
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Figura 09. Modos de solidificação dos metais

Fonte: Lippold (2015)

4.3 Segregação, macro e microssegregação, bandas, taxa de resfriamento e caminhos da solidificação

Na solidificação ocorre variações de composição química entre líquido e sólido. Esse fenômeno chama-se de
segregação. Quando a segregação ocorre em um nível macroscópico (lingote ou peça fundida), tem-se a
macrossegregação. Já a microssegregação ocorre na diferença de composição química entre o centro da dendrita e as
regiões enriquecidas de soluto, entre os braços dendríticos. Para certo valor de gradiente térmico, a microssegregação é
mais acentuada quanto maior for o intervalo de solidificação da liga. Em paralelo, existe também a microporosidade que
é outro fenômeno que ocorre junto à microssegregação, estando relacionada à contração da solidificação.
A redistribuição do soluto no processo de solidificação resulta em microssegregação. A solidificação nem sempre
ocorre em equilíbrio. De acordo com a teoria, se a solidificação ocorrer em equilíbrio, uma liga de composição CO
solidificaria completamente apenas como a fase  . No caso de não ocorrer o equilíbrio, apesar de CO indicar a
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solidificação somente como  , ao final da solidificação um pouco do eutético (    ) existirá, isto é, uma mistura com
fases com arranjo interpenetrado. A Fig. 10 indica na linha tracejada onde a solidificação pode sofrer desvios, ocasionando
em microssegregação. A seta indica o caminho de solidificação (BRANDI; MELLO, 2004).

Figura 10. Região onde ocorre a microssegregação (α + L) em função do gradiente térmico

Fonte: Brandi; Mello (2004)

Quando a difusão é completa no líquido como no sólido, não há segregação. A consequência da solidificação fora do
equilíbrio é a ocorrência de segregação (distribuição não uniforme de elementos nos grãos). A contração da solidificação
também transmite tensões sobre a estrutura solidificada que pode levar ao surgimento de trincas. Essa contração também
contribui para a tensão residual associada às soldas por fusão. A Fig. 11 exibe exemplos de trinca de solidificação que
podem apresentar-se de maneira macroscópica em juntas soldadas.

Figura 11. Exemplos de trinca de solidificação

Fonte: Petrobras (2017)

Kou (2003) explicita através da Fig. 12 que a microssegregação está relacionada à forma como os modos de
solidificação crescem em volume na interface S-L.
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Figura 12. Elementos de volume para análise de microssegregação:


a) solidificação celular; b) solidificação dendrítica

Fonte: Kuo (2003)

Nesta perspectiva, a solidificação começa a acontecer quando um elemento de volume do material entra em contato
com a ponta da célula ou do braço dendrítico, onde nesse ponto pode ocorrer microssegregação. Em situações em que se
assume completa difusão no líquido e nenhuma no sólido, a fração de eutético f E pode ter a forma de

1/ 1 k 
 T T 
fE   m L  (8)
 Tm  TE 

onde:
Tm é o ponto de fusão do metal puro;
TL é a temperatura do líquido;
TE é a temperatura eutética;
k é o coeficiente de redistribuição do soluto ou coeficiente de equilíbrio de segregação.
Além da microssegregação, a segregação do soluto também pode ocorrer como consequência das flutuações da taxa
de crescimento causadas por flutuações térmicas. Esse fenômeno chama-se bandeamento, que é uma condição
microestrutural desenvolvida normalmente em aços ligados de resfriamento lento, causada pela segregação de elementos
de liga durante a solidificação (crescimento dendrítico), o que afeta a ductilidade e a tenacidade. Uma forma de prevenir
esse inconveniente está na homogeneidade da composição química do substrato (Kuo, 2003).
Neste sentido, a taxa de resfriamento influencia na integridade da junta soldada, sendo uma medida que deve ser
controlada na soldagem. Principalmente porque é necessário equilibrar o teor de martensita na região de solda,
preservando-a com certa ductilidade. A taxa de resfriamento e a temperatura influem fortemente na estrutura recém
solidificada e no tamanho dos grãos, pois são proporcionais. No ciclo térmico na soldagem, se a taxa de resfriamento for
alta, a probabilidade da ocorrência de trincas também será alta (ESAB, 2005).
Flemings (1974) observou que quanto maior a taxa de resfriamento, isto é, quanto menor o tempo de solidificação,
mais fina se torna a estrutura celular ou dendrítica. A Fig. 13 demonstra o espaçamento do braço dendrítico d em função
da taxa de resfriamento  em três materiais diferentes. A Eq. 7 pode ser reescrita como

d  a  t nf  b   
n
(9)

onde:
a e b são constantes;
t f é o tempo de solidificação;
n assume 0,5 para braços primários, 0,5 a 0,33 para braços secundários.
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Figura 13. Efeito da taxa de resfriamento ou tempo de solidificação no espaçamento do braço dendrítico:
a) para Al-4,5Cu; b) para aço inoxidável 201 e c) para aço inoxidável 310.

Fonte: Kou (2003)

Considerando o diagrama de fase/equilíbrio de um sistema binário A–B mostrado pelas linhas tracejadas na Fig. 14,
à esquerda, a fase de solidificação primária é a  , que solidificará primeiro. À direita,  é a fase primária de solidificação.
O caminho da solidificação da liga CO é representado pela linha sólida, significando dizer que é a direção em que a
composição do líquido altera consoante a temperatura diminui. No passo 1, assumindo um super-resfriamento desprezível,
 começa a se formar a partir da fase líquida até a fase sólida, caminhando até o passo 2, onde a solidificação está
completa, o que representa o ponto eutético (KUO, 2003).

Figura 14. Caminhos da solidificação em um sistema binário A-B

Fonte: Kou (2003)


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5. CONCLUSÕES

Este trabalho apresentou os mecanismos relacionados à solidificação da ZF na soldagem. Mostrou a importância do


entendimento dos fenômenos metalúrgicos envolvidos nesse tipo de processo de fabricação, bem como, as suas
particularidades. Buscou responder questões associadas à preocupação cotidiana da academia e da indústria quanto à
fenomenologia da solidificação na soldagem, que corroborou para uma compreensão inicial mais ampla dos objetivos
deste trabalho. Finalmente, o levantamento da literatura técnica especializada foi indispensável para que se buscasse
responder devidamente cada um dos itens apresentados preliminarmente.

6. REFERÊNCIAS

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Miami, 2001.
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Flemings, M. C. “Solidification Processing”. New York: McGraw-Hill; 1974.
Garcia, A. “Solidificação – Fundamentos e Aplicação”. Editora UNICAMP, Campinas, 2001.
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Neves, M. D. M., Lotto, A., Berretta, J. R., Rossi, W., Junior, N. D. V. “Solidificação da Zona de Fusão na soldagem do
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