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2012
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P729L
v.3
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-3335-5
CDD: 869.909
CDU: 821.134.3(81).09
Conceitos de Pós-modernismo
Antes de falar sobre Pós-modernismo, é preciso fazer uma distinção
entre certos termos (pós-modernidade, pós-moderno e Pós-modernismo)
que sempre se confundem quando se trata do assunto.
Sobre o primeiro, ainda há bastante discussão entre os estudiosos, pois
muitos deles acreditam que os aspectos relativos à modernidade – capita-
lismo, industrialização, vida urbana, governos democráticos – não foram
significativamente alterados, não havendo justificativa para algo chama-
do pós-modernidade.
Já o segundo diz respeito à atmosfera cultural que surgiu por volta de
1950 (esta data não é um consenso entre todos os teóricos) e teria trazi-
do profundas mudanças ao comportamento das pessoas. Jair Ferreira dos
Santos resume os elementos dessa atmosfera que define o pós-moderno:
Para começar, [o pós-moderno] invadiu o cotidiano com a tecnologia eletrônica de
massa e individual, visando à sua saturação com informações, diversões e serviços.
Na Era da Informática, que é o tratamento computadorizado do conhecimento e da
informação, lidamos mais com signos do que com coisas. O motor a explosão deto-
nou a revolução moderna há um século; o chip, microprocessador com o tamanho
de um confete, está causando o rebu pós-moderno, com a tecnologia programando
cada vez mais o dia a dia.
Na economia, ele passeia pela ávida sociedade de consumo, agora na fase do con-
sumo personalizado, que tenta a sedução do indivíduo isolado até arrebanhá-lo
para sua moral hedonista – os valores calcados no prazer de usar bens e serviços.
A fábrica, suja, feia, foi o templo moderno; o shopping, feérico em luzes e cores, é o
altar pós-moderno.
Mas foi na arte que o fantasma pós-moderno, ainda nos anos 1950, começou a cor-
rer mundo. Da arquitetura ele pulou para a pintura e a escultura, daí para o romance
e o resto, sempre satírico, pasticheiro e sem esperança. Os modernistas (vejam Pi-
casso) complicaram a arte por levá-la demasiado a sério. Os pós-modernistas que-
rem rir levianamente de tudo.
Enfim, o Pós-modernismo ameaça encarnar hoje estilos de vida e de filosofia nos
quais viceja uma ideia tida como arquissinistra: o niilismo, o nada, o vazio, a ausên-
cia de valores e de sentido para a vida. Mortos Deus e os grandes ideais do passado,
o homem moderno valorizou a Arte, a História, o Desenvolvimento, a Consciência
Social para se salvar. Dando adeus a essas ilusões, o homem pós-moderno já sabe
que não existe Céu nem sentido para a História, e assim se entrega ao presente e ao
prazer, ao consumo e ao individualismo. (SANTOS, 2006, p. 9-11)
lece uma ligação com o Modernismo e, nesse sentido, com tudo o que ele signifi-
cou como movimento estético. Seria, então, o Pós-modernismo, uma nova etapa
do Modernismo? Seria ele um movimento de oposição às práticas modernistas e
por isso algo totalmente novo? É esta pergunta que tentaremos responder neste
capítulo, já que o termo tem tudo a ver com a literatura contemporânea.
Características do Pós-modernismo
Para entender quais são as características que percorrem as produções es-
téticas pós-modernistas, não há como não considerá-las a partir do Modernis-
mo, pois elas dão continuidade a aspectos desta tendência e, em alguns casos,
apenas radicalizam certos procedimentos adotados pelos modernistas. Toman-
do por base o esquema apresentado por Jair Ferreira dos Santos, discutiremos as
semelhanças e diferenças entre os dois movimentos.
Modernismo Pós-Modernismo
Cultura elevada Cotidiano banalizado
Arte Antiarte
Estetização Desestetização
Interpretação Apresentação
Obra/originalidade Processo/pastiche
Forma/abstração Conteúdo/figuração
Hermetismo Fácil compreensão
Conhecimento superior Jogo com a arte
Oposição ao público Participação do público
Crítica cultural Comentário cômico
Afirmação da arte Desvalorização obra/autor
Arte e antiarte
Da confusão entre arte e atividades banais decorre a ideia de arte e antiarte.
Apesar de toda a subversão realizada no Modernismo, o objeto artístico conti-
nuou sendo elaborado, pelo menos do ponto de vista material, a partir de ele-
mentos próprios a cada arte – tintas para a pintura; mármore, gesso, madeira,
bronze etc. para a escultura; imagens tomadas de certo ângulo pela câmera para
a fotografia e o cinema; sons extraídos dos instrumentos musicais para a música;
palavras para a literatura. No Pós-modernismo, há uma subversão do ponto de
vista do próprio uso dos materiais.
Vik Muniz.
Por exemplo, uma pintura pode ser feita com calda de chocolate ou cabelo
(como os quadros do artista paulistano Vik Muniz), uma escultura pode ser feita
de CDs usados, a câmera passou a ser usada das formas mais inesperadas – tanto
para a fotografia como para o cinema – e a literatura passou a usar técnicas que
misturam palavra e imagem. Alguns desses processos de subversão já eram, en-
tretanto, realizados no Modernismo, pois o Dadaísmo, com seus ready-mades,
abriu espaço para a ideia de antiarte.
Estetização e desestetização
A estetização e a desestetização se ligam à ideia de arte e antiarte, ou seja, no
Pós-modernismo não há uma busca pela valorização estética (não no sentido dos
movimentos artísticos anteriores) e o objeto criado perde o sentido estético que
guiou as artes por séculos, particularmente a sua relação com o belo e o sublime.
Outro fato do Modernismo é que o objeto criado era visto como uma forma
que interpretava o mundo (o painel Guernica, de Pablo Picasso, é uma obra que,
ao retratar os males da Guerra Civil Espanhola, torna-se uma interpretação de
todas as guerras). Já os pós-modernistas não demonstram qualquer preocupação
de interpretar a realidade que os cerca. Eles querem apenas mostrar seus objetos
e deixar que o público os aprecie como lhes aprouver, que brinque com a arte.
Afirmação da arte
e desvalorização da obra e/ou do autor
Ainda para Santos, enquanto o Modernismo afirma a arte, o Pós-modernismo
desvaloriza a obra e o autor. Isso precisa ser explicado, pois pode levar a uma
leitura errônea. Por mais que o Modernismo tenha causado uma ruptura com
O Pós-modernismo na literatura
As características mencionadas no item anterior também servem para defi-
nir os rumos que a literatura tomou a partir dos anos 1950. Contudo, há certos
elementos que dizem respeito mais diretamente à construção literária. Vamos
estudá-los.
Barulho
Todo poema é feito de ar
apenas:
a mão do poeta
não rasga a madeira
não fere
o metal
a pedra
não tinge de azul
os dedos
quando escreve manhã
ou brisa
ou blusa
de mulher.
O poema
é sem matéria palpável
tudo
o que há nele
é barulho
quando rumoreja
ao sopro da leitura.
(GULLAR, 2008)
que revê a cultura medieval a partir de fatos ocorridos no interior de uma abadia
beneditina no ano de 1327. Hoje em dia, as livrarias estão lotadas de romances
nesse estilo, pois eles caíram no gosto popular, havendo muitos deles se tornado
best-sellers.
fragmentação;
desconstrucionismo;
utilização de procedimentos metalinguísticos;
amplo uso da intertextualidade, da paródia e do pastiche;
mistura de gêneros, subgêneros e discursos;
mistura da cultura erudita com a popular e a cultura de massa;
revisão crítica da história;
privilégio para o ponto de vista das minorias.
Outro fato sobre a literatura contemporânea é que ainda não há nomes que se
destaquem, como aqueles que estamos acostumados a ouvir quando se trata de
tempos mais remotos – Gregório de Matos (1623-1696), José de Alencar (1829-
-1877), Machado de Assis (1839-1908), Álvares de Azevedo (1857-1913), Mário de
Andrade (1893-1945), Guimarães Rosa (1908-1967), entre tantos outros autores
consagrados da nossa literatura. O problema é mais uma vez a falta de distância
temporal: é preciso algum tempo para que a obra de um autor se firme como
trabalho que supera a sua época e é capaz de despertar o interesse, mesmo pas-
sados séculos de sua produção.
Texto complementar
A seguir, você lerá um trecho do conto “ Corações solitários”, de Rubem Fon-
seca, extraído do livro Feliz Ano Novo (1975). Nele, você poderá observar algumas
das características que marcam a literatura pós-moderna, como o pastiche e a
mistura de discursos, além de elementos da cultura de massa e da sociedade de
consumo.
Corações solitários
(FONSECA, 1999, p. 25-30)