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Maria Márcia Matos Pinto

Literatura Brasileira III

2012
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por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

P729L
v.3

Pinto, Maria Márcia Matos


Literatura brasileira III / Maria Márcia Matos Pinto. – Curitiba, PR: IESDE,
2012.
192 p.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-3335-5

1. Literatura Brasileira – Século XX – História e crítica. 2. Modernismo


(Literatura) – Brasil. 3. Pós-modernismo (Literatura) – História e crítica. 4. Poesia
moderna – Brasil – História e crítica. 5. Prosa brasileira – Século XX – História e
crítica. I. Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino. II. Título.

CDD: 869.909
CDU: 821.134.3(81).09

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.

Todos os direitos reservados.

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O Pós-modernismo
e a literatura brasileira

Conceitos de Pós-modernismo
Antes de falar sobre Pós-modernismo, é preciso fazer uma distinção
entre certos termos (pós-modernidade, pós-moderno e Pós-modernismo)
que sempre se confundem quando se trata do assunto.
Sobre o primeiro, ainda há bastante discussão entre os estudiosos, pois
muitos deles acreditam que os aspectos relativos à modernidade – capita-
lismo, industrialização, vida urbana, governos democráticos – não foram
significativamente alterados, não havendo justificativa para algo chama-
do pós-modernidade.
Já o segundo diz respeito à atmosfera cultural que surgiu por volta de
1950 (esta data não é um consenso entre todos os teóricos) e teria trazi-
do profundas mudanças ao comportamento das pessoas. Jair Ferreira dos
Santos resume os elementos dessa atmosfera que define o pós-moderno:
 Para começar, [o pós-moderno] invadiu o cotidiano com a tecnologia eletrônica de
massa e individual, visando à sua saturação com informações, diversões e serviços.
Na Era da Informática, que é o tratamento computadorizado do conhecimento e da
informação, lidamos mais com signos do que com coisas. O motor a explosão deto-
nou a revolução moderna há um século; o chip, microprocessador com o tamanho
de um confete, está causando o rebu pós-moderno, com a tecnologia programando
cada vez mais o dia a dia.
 Na economia, ele passeia pela ávida sociedade de consumo, agora na fase do con-
sumo personalizado, que tenta a sedução do indivíduo isolado até arrebanhá-lo
para sua moral hedonista – os valores calcados no prazer de usar bens e serviços.
A fábrica, suja, feia, foi o templo moderno; o shopping, feérico em luzes e cores, é o
altar pós-moderno.
 Mas foi na arte que o fantasma pós-moderno, ainda nos anos 1950, começou a cor-
rer mundo. Da arquitetura ele pulou para a pintura e a escultura, daí para o romance
e o resto, sempre satírico, pasticheiro e sem esperança. Os modernistas (vejam Pi-
casso) complicaram a arte por levá-la demasiado a sério. Os pós-modernistas que-
rem rir levianamente de tudo.
 Enfim, o Pós-modernismo ameaça encarnar hoje estilos de vida e de filosofia nos
quais viceja uma ideia tida como arquissinistra: o niilismo, o nada, o vazio, a ausên-
cia de valores e de sentido para a vida. Mortos Deus e os grandes ideais do passado,
o homem moderno valorizou a Arte, a História, o Desenvolvimento, a Consciência
Social para se salvar. Dando adeus a essas ilusões, o homem pós-moderno já sabe
que não existe Céu nem sentido para a História, e assim se entrega ao presente e ao
prazer, ao consumo e ao individualismo. (SANTOS, 2006, p. 9-11)

Quanto ao Pós-modernismo, trata-se de um conceito que se volta mais


diretamente para a produção artística e literária. O próprio nome já estabe-
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Literatura Brasileira III

lece uma ligação com o Modernismo e, nesse sentido, com tudo o que ele signifi-
cou como movimento estético. Seria, então, o Pós-modernismo, uma nova etapa
do Modernismo? Seria ele um movimento de oposição às práticas modernistas e
por isso algo totalmente novo? É esta pergunta que tentaremos responder neste
capítulo, já que o termo tem tudo a ver com a literatura contemporânea.

O que se percebe, a princípio, é que o conceito de Pós-modernismo vem


sempre atrelado ao de Modernismo. De fato, os estudiosos do assunto ainda não
conseguem situar com nitidez os limites que separam as construções artísticas
designadas como pós-modernistas e aquelas rotuladas de modernistas. Ocorre
que a difusão da cultura de massa, a explosão do consumo (que passou a ser
mostrado como uma necessidade fundamental da vida humana), a desesperan-
ça nos grandes valores sociais – paz, democracia, justiça, igualdade social (eco-
nômica, racial, sexual) –, tudo isso estimulou o aparecimento de produções ar-
tísticas que enfocassem essas questões. Daí o surgimento do Pós-modernismo,
que seria a configuração da arte e da literatura nesse novo contexto. Entretanto,
muito do que é tido como prática pós-modernista já estava presente no Moder-
nismo, como se verá nos itens a seguir.

Características do Pós-modernismo
Para entender quais são as características que percorrem as produções es-
téticas pós-modernistas, não há como não considerá-las a partir do Modernis-
mo, pois elas dão continuidade a aspectos desta tendência e, em alguns casos,
apenas radicalizam certos procedimentos adotados pelos modernistas. Toman-
do por base o esquema apresentado por Jair Ferreira dos Santos, discutiremos as
semelhanças e diferenças entre os dois movimentos.

Modernismo Pós-Modernismo
Cultura elevada Cotidiano banalizado
Arte Antiarte
Estetização Desestetização
Interpretação Apresentação
Obra/originalidade Processo/pastiche
Forma/abstração Conteúdo/figuração
Hermetismo Fácil compreensão
Conhecimento superior Jogo com a arte
Oposição ao público Participação do público
Crítica cultural Comentário cômico
Afirmação da arte Desvalorização obra/autor

(SANTOS, 2006, p. 41-42)


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O Pós-modernismo e a literatura brasileira

O esquema apresenta os principais elementos que diferenciam Modernismo


e Pós-modernismo. Contudo, em muitos casos não se trata exatamente de uma
oposição entre o primeiro e o segundo, já que o Pós-modernismo toma vários
dos procedimentos modernistas e lhes dá uma nova forma. Vejamos, pois, item a
item, o que eles revelam sobre as propostas estéticas de cada movimento.

Cultura elevada e cotidiano banalizado


Quando Santos fala em cultura elevada no Modernismo, ele quer dizer que,
apesar de trabalharem com situações do dia a dia, os modernistas ainda viam a
arte como algo sublime. No Pós-modernismo, a arte é muitas vezes encarada da
mesma forma que qualquer outra prática cotidiana, confundindo-se com ativi-
dades banais da nossa vida.

Arte e antiarte
Da confusão entre arte e atividades banais decorre a ideia de arte e antiarte.
Apesar de toda a subversão realizada no Modernismo, o objeto artístico conti-
nuou sendo elaborado, pelo menos do ponto de vista material, a partir de ele-
mentos próprios a cada arte – tintas para a pintura; mármore, gesso, madeira,
bronze etc. para a escultura; imagens tomadas de certo ângulo pela câmera para
a fotografia e o cinema; sons extraídos dos instrumentos musicais para a música;
palavras para a literatura. No Pós-modernismo, há uma subversão do ponto de
vista do próprio uso dos materiais.
Vik Muniz.

A Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, segundo a releitura de


Vik Muniz.
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Por exemplo, uma pintura pode ser feita com calda de chocolate ou cabelo
(como os quadros do artista paulistano Vik Muniz), uma escultura pode ser feita
de CDs usados, a câmera passou a ser usada das formas mais inesperadas – tanto
para a fotografia como para o cinema – e a literatura passou a usar técnicas que
misturam palavra e imagem. Alguns desses processos de subversão já eram, en-
tretanto, realizados no Modernismo, pois o Dadaísmo, com seus ready-mades,
abriu espaço para a ideia de antiarte.

Estetização e desestetização
A estetização e a desestetização se ligam à ideia de arte e antiarte, ou seja, no
Pós-modernismo não há uma busca pela valorização estética (não no sentido dos
movimentos artísticos anteriores) e o objeto criado perde o sentido estético que
guiou as artes por séculos, particularmente a sua relação com o belo e o sublime.

Outro fato do Modernismo é que o objeto criado era visto como uma forma
que interpretava o mundo (o painel Guernica, de Pablo Picasso, é uma obra que,
ao retratar os males da Guerra Civil Espanhola, torna-se uma interpretação de
todas as guerras). Já os pós-modernistas não demonstram qualquer preocupação
de interpretar a realidade que os cerca. Eles querem apenas mostrar seus objetos
e deixar que o público os aprecie como lhes aprouver, que brinque com a arte.

Obra original e pastiche


Os pós-modernistas também não têm nenhuma aspiração a produzir obras
originais. Assim, não se importam em copiar ou juntar pedaços de criações já
existentes para produzir uma outra (pastiche), já que interessa mais o processo e
o jogo artístico do que a obra em si.

Hermetismo e fácil compreensão


No Modernismo, certas tendências privilegiaram mais a forma do que o con-
teúdo, o que deixava os sentidos ocultos, no plano abstrato, disso decorrendo
o hermetismo, isto é, a dificuldade de o público penetrar a obra e entender a
proposta do artista. Evidentemente, isso não ocorreu com todas as obras mo-
dernistas. Já no Pós-modernismo, o conteúdo é privilegiado. Muitas produções

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O Pós-modernismo e a literatura brasileira

se voltam para as causas raciais, sexuais, ambientais, procurando ser um meio


de integração entre as pessoas e os problemas do mundo. Desse modo, essas
produções são mais figurativas e de mais fácil compreensão, pois apelam direta-
mente às questões que envolvem os seres humanos no seu convívio social – mas
isso não quer dizer, contudo, que toda produção pós-modernista seja figurativa
e de fácil compreensão.

Conhecimento superior e jogo com a arte


Outro ponto importante a marcar a arte pós-modernista é o fato de ela ser
encarada como jogo, isto é, uma grande brincadeira com os materiais e com o
público. Por isso, na maioria dos casos, ela pressupõe a participação desse públi-
co (interatividade) para a sua concretização. Quanto ao Modernismo, suas obras
algumas vezes afastavam o público (não havia exatamente uma oposição, como
diz Santos) por estarem voltadas para questões mais elevadas (“conhecimento
superior”), ficando distantes do alcance popular. Autores brasileiros como João
Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa, mesmo trazendo para suas produções
temas ligados à cultura popular, não conseguiram atrair um grande número de
leitores pela sofisticada elaboração que deram a seus textos.

Crítica cultural e comentário cômico


Apesar de Santos colocar a crítica cultural apenas na coluna do Modernismo,
o Pós-modernismo também a realizou e realiza. A forma, como a arte contempo-
rânea, reflete um esvaziamento de aspirações e de valores na vida atual e pode
ser considerada uma atitude crítica perante uma sociedade vazia de sentido. E
essa crítica está também na atitude cômica, na abordagem debochada e irreve-
rente das situações sociais, no discurso irônico da literatura.

Afirmação da arte
e desvalorização da obra e/ou do autor
Ainda para Santos, enquanto o Modernismo afirma a arte, o Pós-modernismo
desvaloriza a obra e o autor. Isso precisa ser explicado, pois pode levar a uma
leitura errônea. Por mais que o Modernismo tenha causado uma ruptura com

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os meios tradicionais de expressão artística e literária, ele manteve a separação


entre arte e vida e continuou a considerar a arte como uma realização muito es-
pecial do talento humano. No Pós-modernismo, esse limite foi apagado. Arte e
vida se misturam e, desse modo, a arte pode ser produzida por qualquer pessoa,
já que ela faz parte da vida de todos. Além disso, nenhuma obra é criação abso-
luta de um único autor, pois este, para produzi-la, valeu-se do que foi produzido
por muitos outros antes dele, ou seja, a criação artística é, desse modo, vista
como um ato coletivo.

O Pós-modernismo na literatura
As características mencionadas no item anterior também servem para defi-
nir os rumos que a literatura tomou a partir dos anos 1950. Contudo, há certos
elementos que dizem respeito mais diretamente à construção literária. Vamos
estudá-los.

A literatura pós-modernista continuou a apresentar um ser humano frag-


mentado, algo que já era próprio do Modernismo. Contudo, essa fragmentação
se acentua na literatura contemporânea, pois na sociedade atual o indivíduo
está cada vez mais dividido entre as inúmeras possibilidades e problemas que
lhe são apresentados, sem enxergar um caminho que o leve de volta à unidade,
à verdade absoluta – que, no passado, era Deus.

E na literatura contemporânea também há uma tendência ao desconstrucio-


nismo, ou seja, a se buscar os vários ângulos pelos quais uma situação, uma per-
sonagem ou outros elementos do texto podem ser considerados. Existem, por
exemplo, obras literárias com dois finais diferentes, como o romance A Mulher do
Tenente Francês (1969), do inglês John Fowles, o que revela o questionamento a
uma construção fechada, na qual o autor é quem define os rumos de sua produ-
ção: o leitor é chamado a participar, escolhendo o final que achar melhor.

Um outro recurso frequente na literatura pós-modernista, mas que já era


amplamente usado no Modernismo – assim como o foi em outras épocas literárias
– é a metalinguagem, isto é, a obra literária remete a si mesma, em uma espécie
de autoexplicação ou autorreflexão. É o que ocorre no poema a seguir, de Ferreira
Gullar:

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O Pós-modernismo e a literatura brasileira

Barulho
Todo poema é feito de ar
apenas:
a mão do poeta
não rasga a madeira
não fere
o metal
a pedra
não tinge de azul
os dedos
quando escreve manhã
ou brisa
ou blusa
de mulher.
O poema
é sem matéria palpável
tudo
o que há nele
é barulho
quando rumoreja
ao sopro da leitura.
(GULLAR, 2008)

Observe que, no poema, o autor se volta para a construção poética ao tentar


definir a matéria de que são feitos os poemas – de algo impalpável, de barulho.
Esse barulho é, na verdade, a leitura e, assim, é o leitor que faz o poema existir.
Este é, pois, um poema metalinguístico.

A literatura pós-modernista também faz amplo uso da intertextualidade, da


paródia e do pastiche.

 Intertextualidade é o diálogo que a obra realiza com outras obras ante-


riores, fazendo referência, ou até trazendo explicitamente, partes desses
textos literários.

 Paródia é uma forma de intertextualidade, como define Affonso Romano


de Santa em Paródia, Paráfrase e Cia. (2003). Contudo, ela muitas vezes tem
o sentido de subversão, feita por meio de recursos cômicos ou da ironia.

 Pastiche: mais uma forma de intertextualidade – é a junção de partes de


outros textos (uma espécie de colagem) para formar um texto novo.

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O livro Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, ao mesmo tempo em que


faz o intertexto com a famosa história de Chapeuzinho Vermelho, é uma paródia
desse conto popular. Veja um breve trecho do texto de Chico:
Era a Chapeuzinho Amarelo
Amarelada de medo.
Tinha medo de tudo,
aquela Chapeuzinho.
Já não ria.
Em festa, não aparecia.
Não subia escada
nem descia
Não estava resfriada
mas tossia.
Ouvia conto de fada
e estremecia.
(BUARQUE, 2003, p. 5)

Como exemplo de pastiche, podemos citar o conto “A verdadeira estória de


Sally can dance (and the kids)”, contido no livro Pedras de Calcutá (1977), de Caio
Fernando Abreu (1948-1996), que é um grande pastiche já a partir do uso da
linguagem, que mistura o português com o inglês e o espanhol. Ademais, a es-
trutura toma elementos da linguagem do cinema e da música.

Outras duas tendências também são características da literatura pós-


-modernista.

Uma delas é a mistura de discursos (político, filosófico, religioso etc.), gêne-


ros e subgêneros literários, e de outras artes (mistura de romance erudito com
romance policial e textos científicos, ou uso de técnicas das artes visuais na lite-
ratura etc.).

Outra tendência é a mistura de elementos da cultura erudita com a popular


e com a cultura de massa (poesia lírica erudita com as cantigas sertanejas e as
músicas populares do rádio e da TV etc.).

A literatura pós-modernista é intensamente marcada pela revisão crítica da


história. Nesse sentido, o romance foi a forma privilegiada, voltando-se para
acontecimentos do passado com o objetivo de recontá-los sob uma nova pers-
pectiva. Isso leva ao questionamento do modo como esses acontecimentos
aparecem nos livros de história, o que produz uma atitude crítica para com a
história. Uma das obras mais conhecidas desse tipo de ficção, rotulado como
metaficção historiográfica, é O Nome da Rosa (1980), de Umberto Eco, romance

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O Pós-modernismo e a literatura brasileira

que revê a cultura medieval a partir de fatos ocorridos no interior de uma abadia
beneditina no ano de 1327. Hoje em dia, as livrarias estão lotadas de romances
nesse estilo, pois eles caíram no gosto popular, havendo muitos deles se tornado
best-sellers.

Finalmente, uma tendência também importante da literatura pós-modernista


é a de privilegiar as minorias, abrindo espaço para os problemas que as afetam.
Existem, inclusive, na atualidade, nichos de produção dedicados exclusivamente
a esses grupos – produção feminista, gay, de negros etc.

Em resumo, as características da literatura pós-modernista são:

 fragmentação;
 desconstrucionismo;
 utilização de procedimentos metalinguísticos;
 amplo uso da intertextualidade, da paródia e do pastiche;
 mistura de gêneros, subgêneros e discursos;
 mistura da cultura erudita com a popular e a cultura de massa;
 revisão crítica da história;
 privilégio para o ponto de vista das minorias.

Literatura brasileira e Pós-modernismo


A literatura brasileira contemporânea está envolvida com todos esses even-
tos que servem de contexto às produções artísticas atuais. Como se trata de um
período ainda muito recente da nossa história literária, ainda não é possível de-
terminar efetivamente que rumos ela irá tomar, já que há uma multiplicidade de
tendências que foram se configurando na poesia, na prosa e no teatro desde os
anos 1960.

Quanto aos autores, há alguns que atravessaram o período modernista,


sendo nomes marcantes desse movimento, e que foram se adaptando à nova
atmosfera cultural, moldando suas obras aos novos tempos. Este é o caso de
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), cujo primeiro livro foi publicado em
1930 e que continuou a escrever até os anos 1980. Também Clarice Lispector
(1925-1977), que começou a publicar em 1943, mas teve uma produção bastan-
te consistente nos anos 1960 e 70.

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Outro fato sobre a literatura contemporânea é que ainda não há nomes que se
destaquem, como aqueles que estamos acostumados a ouvir quando se trata de
tempos mais remotos – Gregório de Matos (1623-1696), José de Alencar (1829-
-1877), Machado de Assis (1839-1908), Álvares de Azevedo (1857-1913), Mário de
Andrade (1893-1945), Guimarães Rosa (1908-1967), entre tantos outros autores
consagrados da nossa literatura. O problema é mais uma vez a falta de distância
temporal: é preciso algum tempo para que a obra de um autor se firme como
trabalho que supera a sua época e é capaz de despertar o interesse, mesmo pas-
sados séculos de sua produção.

De qualquer modo, a literatura brasileira contemporânea é bastante ampla,


com vários nomes em evidência, dos quais, para finalizar, citamos alguns.

Na prosa, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Lygia Fagundes Telles, João


Ubaldo Ribeiro, Antônio Callado, Ana Miranda, Márcio Souza, Milton Hatoum,
Chico Buarque, Caio Fernando Abreu e Moacyr Scliar.

Na poesia, Ferreira Gullar, Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari,


Adélia Prado, Affonso Romano de Santana e Hilda Hilst.

No teatro, Nelson Rodrigues, Dias Gomes, Gianfrancesco Guarnieri, Ariano


Suassuna e muitos outros mais.

Texto complementar
A seguir, você lerá um trecho do conto “ Corações solitários”, de Rubem Fon-
seca, extraído do livro Feliz Ano Novo (1975). Nele, você poderá observar algumas
das características que marcam a literatura pós-moderna, como o pastiche e a
mistura de discursos, além de elementos da cultura de massa e da sociedade de
consumo.

Corações solitários
(FONSECA, 1999, p. 25-30)

Eu trabalhava em um jornal popular como repórter de polícia. Há muito


tempo não acontecia na cidade um crime interessante envolvendo uma rica
e linda jovem da sociedade, mortes, desaparecimentos, corrupção, mentiras,
sexo, ambição, dinheiro, violência, escândalo.

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