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Perguntas e Respostas – Interpretações Distorcidas da Bíblia e Discussões

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Perguntas e Respostas – Sobre Discussões e


Interpretações Distorcidas da Bíblia
Prof. Luiz Gonzaga de Carvalho

Transcrição não revisada ou corrigida pelo professor.

Gugu: A próxima pergunta eu vou resumir porque é um parágrafo enorme. O


aluno está pedindo orientações de como escapar da armadilha de interpretar de
maneira distorcida as Escrituras.

Pergunta: “Conheço muitas pessoas cristãs que mesmo com boa intenção
fazem interpretações completamente distorcidas das Escrituras. Muitas pessoas têm
a mania de citar trechos da Bíblia para justificar opiniões absurdas. Como escapar
dessas armadilhas? Será que rezando para que o Espírito Santo nos ilumine e ajude
resolve o problema?”.

Gugu: Se você é moderado em ter opiniões, só rezar para que o Espírito Santo
lhe ajude certamente vai resolver o problema. Mas se você tem a tendência a se
envolver nas discussões de opinião com muitas pessoas sobre as Escrituras, só rezar
para o Espírito Santo não é suficiente. Para escapar de um problema, além de pedir
para Deus nos ajudar, também devemos tentar evitar o cenário em que o problema
ocorre. É condição para a ajuda divina o fato de que você faça todo o esforço ativo
para se afastar do problema.

Se você não puder evitar, pelas circunstâncias que forem, de discutir com
pessoas que têm as mais estranhas opiniões sobre a Sagrada Escritura,
primeiramente estude muito interpretação da Bíblia: tem que aprender a conhecer o
texto bíblico na sua letra. Leia a Bíblia do começo ao fim regularmente, todo dia um
pouquinho, e quando terminar recomece do zero, para você se habituar ao texto. Só
isso já vai facilitar um monte de coisas, pois você começará a captar quando uma
passagem interpreta outra. Na própria Bíblia, um texto é interpretado por outro texto
muitas vezes, e isso já vai excluir algumas opiniões absurdas.

Depois considere que a Bíblia foi escrita no decorrer de muitos séculos, e em


cada circunstância as palavras tinham um significado: no período de Moisés, por
exemplo, tinham um sentido; mil anos depois elas têm outro, e no período do Cristo
elas têm outro ainda. Ter alguma idéia de qual era o pensamento corrente entre os

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judeus e os cristãos naquela época também facilita muito, porque muitas passagens
estão ali só para confrontar e refutar uma posição que era comum na época, que era
errônea ou contrária a religião.

Resumindo: para evitar esse problema, estude muito a Escritura e tudo o que se
aprendeu sobre ela nos últimos milhares de anos.

Fazendo isso, chegaremos à conclusão “Vou ter que deixar esse negócio para
profissionais”. Porque ninguém tem tempo para fazer o equivalente a uma formação
universitária de estudos bíblicos; e nem há uma universidade ou um curso de estudos
bíblicos que seja bom o bastante para que o sujeito invista o tempo e o dinheiro dele
naquilo. Na prática, o que todo mundo sempre fez no decorrer do tempo é deixar
isso para os profissionais, e quando algum amador dava a sua opinião, se
confrontava a opinião dele com a dos profissionais. Porque se um sujeito que passou
vinte anos estudando o negócio, e não simplesmente deu uma lida numa passagem
ou nem sabe mencionar para mim as outras passagens da Bíblia que tratam do
mesmo assunto, é muito mais digno de crédito. É muito fácil opinar o que quer que
seja com o texto bíblico.

Eu entendo que essa situação de conversamos com as pessoas que citam a


Bíblia de modo completamente descontextualizado para justificar coisas que você
sabe que são contrárias a religião é especialmente difícil. O único jeito de lidar com
isso, se você tiver também a disposição e o tempo para responder a opinião daquela
pessoa, é estar informado o bastante para contrapor uma interpretação errada e dar
argumentos fundados para tal.

Interpretar a Escritura é muito complicado; não é porque você sente que a


Bíblia está dizendo isso ou lhe está mandando fazer aquilo, que basta como garantia
de que o Espírito Santo está consigo; não tome isso como uma prova de que você
tem a bandeira de Deus. Explique isso e deixe a pessoa ter a opinião dela. Note bem:
não temos como controlar a opinião alheia.

Mesmo que num caso ou num outro você esteja preparado, sabe por que aquela
interpretação está errada, sabe as outras passagens da Bíblia que o confirmam, sabe
interpretar, está totalmente informado da questão, e você tem o tempo, a disposição,
o motivo para responder àquela pessoa, não é sempre que você poderá fazê-lo. Por
isso tome cuidado, porque pode ser uma coisa do diabo, que lhe está provocando
para chegar a uma situação em que você não tem a resposta. Ou seja, o outro está
falando uma bobagem em nome da Bíblia e você não sabe responder, e ao tentar
responder, pode cair em uma armadilha diabólica: sair de lá convencido da opinião
idiota do outro, porque você mesmo não tinha argumento.

Então procure evitar a discussão bíblica, a não ser que você esteja bem
preparado, mas muito bem preparado mesmo. E lembre-se que Deus sabe muito
mais a respeito desse assunto, e que tem que ter muito cuidado para interpretar, pois,

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na prática, não tem garantia: Jesus Cristo não está ali do lado confirmando o que a
pessoa diz. Existe sempre um salto entre o texto da Escritura e o que ela está
pensando, e de uma coisa não se deduz a outra. Então, é para tomar cuidado.

Mas cada um interpreta as coisas como quer. A minha experiência a esse


respeito, é que a maior parte das pessoas que faz isso, de duas a uma: ou são pessoas
piedosas – e nesse caso eu não posso dizer com certeza absoluta, na maior parte das
vezes, que não é isso que Deus quis dizer para ela naquela circunstância. Porque às
vezes uma interpretação é meio maluca e meio estranha, mas quando você vê todo o
contexto de vida da pessoa, vê que aquilo era o que Deus queria que ela fizesse
naquele momento mesmo; eu não sei como ela conseguiu ver o que tinha que fazer
lendo tal passagem da Escritura, mas Deus sabe. Muitas vezes é assim. Eu já vi isso
acontecer muitas vezes: a interpretação da pessoa é loucura, mas o que está
acontecendo na vida dela é isso, isso e isso... E você se dá conta de que não é
loucura não, é isso mesmo que ela tem que fazer. É nessas horas que você tem que
lembrar de que ninguém é perfeito e o que importa é o rumo geral que a vida está
seguindo.

Então, ou a pessoa é realmente piedosa e aquilo é só uma bobagem mesmo,


aquilo é irrelevante no contexto geral da vida dela e não vai ter nenhuma
conseqüência prática muito grande - ela não é uma pessoa de autoridade que vai
ficar pregando aquilo num púlpito, influenciar muitas pessoas; ou são pessoas que de
fato não são piedosas, não têm religião, e realmente não estão em condição de
interpretar a Bíblia e estão fazendo aquilo só de maldade para provocar o
interlocutor cristão. Essa pessoa não merece a sua resposta.

Você tem que olhar esses dois casos: às vezes é um caso de uma pessoa
piedosa que está fazendo uma má interpretação e que vai prejudicar a vida dela ou
de pessoas imediatamente em torno, e aí nesse caso você tem que fazer o máximo
para esclarecer: “Veja bem, há esse outro lado... não é melhor consultarmos uma
pessoa que entende, para ver se é isso mesmo? será que há algum santo que
interpretou essa passagem da escritura?”. Mas só no caso em que for uma pessoa
piedosa e você veja que essa interpretação vai prejudicá-la concretamente ou as
pessoas em torno. Se assim o for e não vai prejudicar ninguém, deixe – o próprio
Deus não vai olhar aquilo. Ninguém sabe tudo. Porque este sujeito teria que saber
isto, se não faz a menor diferença na vida dele ou nas pessoas em torno? Ele não
tinha que saber: ele pode ter uma opinião errada a esse respeito, sem problemas.

E se for o sujeito irreligioso ou que está de maldade, nem merece resposta! O


sujeito que está de maldade você só responde no caso do debate público, onde você
não quer mostrar a verdade para ele, mas para a audiência, para o público. Ele não
quer saber da verdade! Aí você tem uma dívida para com o público. Mas numa mera
discussão social, deixe o outro pensar o que ele quiser. É assim: o que importa não é
o que você ou o que ele pensa sobre isso, é o que Deus pensa sobre isso. Uma hora o

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sujeito vai morrer e você vai morrer, e aí Deus resolve. Cada um siga do seu próprio
jeito; depois da morte, Deus resolve, Deus julga. Com esse tipo de pessoa só há uma
solução: “Depois da morte nós resolvemos”. Esse sujeito já renunciou a verdade,
está de maldade: ele quer simplesmente que você esqueça a verdade ou que você a
perca. Então, não responda a esses caras.

Isso significa que, na prática, na maior parte dos casos, uma opinião errada
sobre a Escritura não vai exigir uma resposta da nossa parte. É realmente muito mais
importante o número de vezes em que nós temos que interpretar a Bíblia para a
nossa própria orientação, isso sim é muito mais urgente.

As minhas opiniões erradas sobre o assunto são extremamente importantes para


mim; as dos outros, depende do contexto. Só tente resolver e esclarecer se for uma
pessoa piedosa e cuja opinião errada vai prejudicar a ela ou às pessoas em torno. O
sujeito, por exemplo, interpreta, interpreta, e chega à conclusão: “Jesus Cristo não
era Deus”. Se o sujeito for piedoso, é um sujeito que tem religião, aí você tenta
ajudar, porque essa é uma opinião incorreta e grave que pode ter sérias
conseqüências sobre o seu destino depois da morte. Ou às vezes é uma opinião sobre
uma coisa prática e que vai afetar as pessoas em torno com quem ela se relaciona, ou
ela mesma. Fora isso, não tente. Como você vai dar uma resposta a uma coisa que a
própria pessoa não leva a sério?

A minha experiência é que quando eu tentava responder às pessoas que


estavam de maldade nesse negócio, quando eu respondia à questão e ficava claro
que aquela interpretação estava errada, a pessoa mudava para outra interpretação, e
depois para outra. Porque o objetivo dela não era chegar à verdade, não era procurar
o que é mais razoável, o mais próximo do verdadeiro nessa questão. Esse tipo de
pessoa só quer só se confundir, e às vezes lhe confundir. Então deixe ela se
confundir sozinha. Isso não é falta de caridade cristã. Você tem coisas mais
importantes para fazer do que ajudar o sujeito que cospe na sua ajuda. Ajudar o
sujeito que lhe ficará grato é mais importante.

Transcrição: Diego Ossami

Revisão: Caio Graco Purita

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