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POR UM FIM DE BATALHA

«Já são em número demasiado os que vieram ao mundo para combater e separar; o
progresso e valor de cada seita e de cada grupo dependeram talvez desta atitude
discriminadora e intransigente; aceitemos como o melhor que foi possível tudo o que nos
apresenta o passado; mas procuremos que seja outra a atitude que tomarmos; lancemos
sobre a terra uma semente de renovação e de íntimo aperfeiçoamento.
Reservemos para nós a tarefa de compreender e unir; busquemos em cada homem e em
cada povo e em cada crença não o que nela existe de adverso, para que se levantem as
barreiras, mas o que existe de comum de abordável, para que se lancem as estradas da paz;
empreguemos toda a nossa energia em estabelecer um mútuo entendimento; ponhamos de
lado todo o instinto de particularismo e de luta, alarguemos a todos a nossa simpatia.
Reflictamos em que são diferentes os caminhos que toma cada um para seguir em busca da
verdade, em que muitas vezes só um antagonismo de nomes esconde um acordo real. Surja
à luz a íntima corrente tanta vez soterrada e nela nos banhemos. Aprendamos a chamar
irmão ao nosso irmão e façamos apelo ao nosso maior esforço para que se não quebre a
atitude fraternal, para que se não perca o dom de amor, para que se não cerre o coração à
mais perfeita voz que nos chama e solicita.
Não os queremos trazer ao nosso grémio nem ingressar no deles; apenas desejamos que da
melhor compreensão entre uns e outros, do conhecimento das essências, se erga a morada
de um Pai que não distingue entre os eleitos e a todos por igual protege e incita; cada um
ficará em sua lei; só pretendemos que não tome os de leis diferentes por implacáveis
inimigos ou por almas perversas e perdidas; são homens como nós e vão-se dirigindo ao
mesmo fim; desde já os vejamos como futuros companheiros.»
Agostinho da Silva in “Considerações e Outros Textos”, Col. ‘Alfinete’, n.º4, Ed. Assírio &
Alvim, Lisboa, 1988 (pp. 59-60).

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