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OSHO

Pepitas de
Ouro
Fragmentos de sabedoria em forma de pequenos textos

UNIVERSALISMO
Introdução

As palavras deste livro não precisam de introdução. Elas falam para todos nós:
pepitas de sabedoria sobre o amor, sobre a vida, sobre o mundo em que vivemos
— sobre você e eu. Uma olhadela em qualquer página nos leva para um mundo
novo, o mundo de Osho, o mais brilhante místico de nossa época.

O que precisa de uma introdução são as extraordinárias circunstâncias nas quais


este livro veio a existir.

Em outubro de 1985 Osho foi preso por quinze homens fortemente armados,
sem um mandado de prisão, e mantido sem permissão de fiança por doze dias.

O cristão fundamentalista Charles Turner, procurador-geral do governo


americano na questão, descrevendo Osho, disse: “Não gostava de olhar para o
sujeito. Ele era pequeno e sem atrativos, mas havia um certo magnetismo nele.
Seus olhos eram luminosos, quase com um brilho satânico. Havia uma sensação
de maldade em volta dele. Vários investigadores disseram-me que tiveram essa
sensação”. E concluiu: “Não encontrei nesse homem uma só característica que
o redimisse. Mesmo em um ladrão ou traficante eu encontraria alguma coisa”.
Pôncio Pilatos foi mais circunspecto.

Tendo arrastado Osho através dos Estados Unidos, em algemas e correntes, o


Departamento de Justiça daquele país justificou-se alegando que ele era
culpado de infringir as leis de imigração americanas. Expulsaram-no do país e o
multaram em quase meio milhão de dólares.

Isso começou uma das mais estranhas sagas dos tempos modernos. O longo
braço do poder americano alcançou todo o globo: nem bem o avião de Osho
aterrissava em um país e uma voz americana falava pelo telefone com as
autoridades locais. Vinte e um países “democráticos” se dobraram à pressão e
recusaram hospedagem a Osho.

A certa altura parecia que a Grécia, a terra de Sócrates, poderia ter aprendido
com aquele erro anterior e estaria preparada para permitir que ele ficasse.

Apesar de tudo, como descreve Platão, na época do envenenamento de


Sócrates pelo Departamento de Justiça de Atenas, vinte e cinco séculos atrás, a
horrível realidade por que passava esse homem começou a ser percebida.
Platão escreve: “Quando o funcionário da prisão entrou e caminhou até ele,
disse: ‘Sócrates, não encontrei nenhuma falta em você, como encontro nos
outros por ficarem com raiva de mim e me amaldiçoarem quando lhes digo para
beber o veneno — cumprindo ordens do governo.

‘Eu descobri, durante esse tempo, que você é o mais nobre, o mais gentil e o
mais bravo de todos os homens que passaram por aqui. Especialmente agora
estou certo de que você não está zangado comigo, mas com eles; porque você
sabe quem é responsável. Então agora — você sabe o que eu vim dizer —
adeus, e tente suportar o que tiver que ser, da maneira mais fácil que puder’.
Assim falando, começou a soluçar e voltando-se, foi embora”.

Mas não foi assim; aqueles funcionários da Grécia moderna, assim como seus
colegas americanos que estavam “cumprindo ordens do governo”, não
aprenderam nada. Da mesma maneira como sucedeu com Sócrates, os
sacerdotes e políticos conspiraram para acusar Osho de corromper a juventude
e ameaçar a moral social. Cercado de uma falange de policiais armados que o
estavam escoltando a seu avião, Osho perguntou à imprensa ali reunida: “Que
tipo de cultura é essa que após dois mil anos pode ser corrompida por um homem
que está com um visto de turista de apenas duas semanas?”

De um país a outro, de um aeroporto a outro, de um grupo de funcionários do


governo armados a outro, de uma prisão a outra, de uma recusa a outra, essa
extraordinária odisséia continuou. Onde quer que Osho fosse, as pessoas o
amavam e rapidamente se reuniam para ouvi-lo falar. Os discípulos, muitas
vezes, ficavam preocupados com o seu mestre, tantas eram as pessoas que
queriam se aproximar dele. O mais rápido possível, as autoridades tratavam de
isolá-lo. Ele passou a ser o homem que todos amavam, mas que ninguém queria.

E o que Osho fazia, enquanto os políticos e seus homens armados jogavam pela
janela cada noção de seus sagrados “direitos humanos”, na ansiedade de tirar
Osho da terra deles?

Ele estava, como sempre, o mais disponível possível àqueles que o amam, aos
discípulos que sentavam a seus pés sempre que podiam, no país ao qual
pudessem ir. Como refugiados internacionais, eles protegiam o Sócrates deles
o melhor que podiam e transcreviam suas palavras para o benefício de uma
época mais civilizada, de um mundo mais civilizado, que, esperavam, chegaria
um dia.

Enquanto funcionários hostis desempenhavam seus repulsivos papéis


históricos, Osho deu aproximadamente duzentos discursos, palavras de uma
paz e beleza sublimes — a ser publicados em meia dúzia de volumes.

Aqui está uma amostra dessas palestras. Aqui está uma amostra do homem que
sacerdotes e políticos de todo o mundo tornaram o inimigo público número um.
Aqui está uma amostra de Osho, o homem que as autoridades de todo o mundo
desesperadamente tentam impedir que você descubra por si mesmo. Lendo,
você vai descobrir o porquê.

Enquanto os representantes da humanidade e suas máquinas políticas


desempenhavam seus jogos sujos e tentavam atacar Osho com o odioso
comportamento deles, Osho em troca oferecia ao mundo apenas flores. Este
livro contém a fragrância dessas flores.

Swami Devaraj
Colônia
Alemanha Ocidental
Janeiro de 1988
Viva totalmente e viva intensamente, então cada momento se torna dourado e
toda a sua vida se torna uma sequência de momentos dourados.

Uma pessoa assim nunca morre porque ela tem o toque de Midas: tudo o que
toca se torna dourado.

A única responsabilidade autêntica é com o seu próprio potencial, a sua


inteligência e consciência — e agir de acordo.

Ao nascer, você não é uma árvore, você é apenas uma semente, você tem de
crescer até chegar ao ponto de seu florescimento, e este florescimento será a
sua alegria, a sua realização.

Este florescimento nada tem a ver com poder, nada tem a ver com dinheiro, nada
tem a ver com política.

Tem a ver totalmente com você: é um desenvolvimento individual.

Você tem de se tornar uma celebração em si mesmo.

O anseio por uma utopia é basicamente o anseio pela harmonia no indivíduo e


na sociedade.

A harmonia nunca existiu, sempre houve o caos.

A sociedade foi dividida em culturas diferentes, religiões diferentes, nações


diferentes — e todas baseadas em superstições.

Nenhuma das divisões é válida.

Essas divisões mostram, entretanto, que o homem está dividido internamente.

São projeções de seu próprio conflito interno.

Internamente ele não é um, por isso externamente não foi capaz de criar uma
sociedade una, uma humanidade una.
A causa não é externa.

O exterior é simplesmente o reflexo do homem interior.

Ninguém tem dado muita atenção ao indivíduo.


E isso é a raiz de todos os problemas.

Mas, porque o indivíduo parece ser tão pequeno e a sociedade parece ser tão
grande, as pessoas pensam que podemos mudar a sociedade e então os
indivíduos mudarão.

Não vai ser assim — porque “sociedade” é apenas uma palavra; existem
somente indivíduos, não existe sociedade.

A sociedade não tem alma, você não pode mudar nada nela.

Você pode mudar somente o indivíduo, por menor que ele pareça.

E, conhecendo a ciência de como mudar o indivíduo, pode-se aplicá-la a todos


os indivíduos, em todo lugar.

Sinto que um dia alcançaremos uma sociedade que será harmoniosa, que será
muito melhor que todas as idéias produzidas pelos utopistas durante milhares de
anos.

A realidade será muito mais bela.

Você nunca está completamente satisfeito com o que você é e com o que a
existência lhe deu porque você tem sido distraído.

Você tem sido dirigido para onde a natureza não tencionava colocá-lo.

Você não está se movendo em direção ao seu próprio potencial.

Você está tentando ser o que outros queriam que você fosse, mas isso não pode
ser satisfatório.

Quando não é satisfatório, a lógica diz: “Talvez não seja o suficiente — tenha
mais”.

E você vai em busca de mais e você começa a olhar em volta.

E todos estão usando uma máscara sorridente, aparentando felicidade, assim,


todos estão enganando aos outros.
Você também usa uma máscara, então os outros pensam que você é mais feliz;
você pensa que os outros são mais felizes.

Do outro lado da cerca, a grama parece mais verde.

Eles olham a sua grama e ela parece mais verde.

Parece realmente mais verde, mais espessa, melhor.

Essa é a ilusão que a distância cria.

Quando você chega perto começa então a ver que não é assim.

Mas as pessoas mantêm os outros a distância.

Mesmo amigos, mesmo amantes, mantêm distância entre si.

Muita proximidade será perigoso; os outros podem ver a sua realidade.

E você foi desencaminhado desde o princípio, assim, não importa o que faça,
você permanecerá infeliz.

Você vê alguém com muito dinheiro: talvez o dinheiro traga alegria, pensa você.

Olhe aquela pessoa... como parece feliz.

Então corra atrás do dinheiro.

Alguém tem mais saúde — corra atrás da saúde.

Alguém está fazendo alguma outra coisa e parece muito satisfeito — siga-o.

Mas são sempre os outros.

A sociedade fez uso disso para que você nunca pense sobre o seu próprio
potencial.

E todo o tormento é que você não está sendo você mesmo.

Simplesmente seja você mesmo e então não existe tormento, não existe
competição, não existe aborrecimento, porque outros têm mais, porque você tem
menos.

Se você gosta da grama mais verde, não há necessidade de olhar para o outro
lado da cerca; torne a grama mais verde no seu lado da cerca; é tão simples
tornar a grama mais verde.

O homem tem de estar enraizado em seu próprio potencial, seja ele qual for.
E o mundo ficará tão satisfeito que, você mal poderá acreditar.

Estar vivo significa ter senso de humor, ter uma profunda qualidade amorosa,
ter capacidade de brincar.

Sou totalmente contra todas as atitudes que negam a vida; e o respeito pelo
divino tem negado a vida.

Para torná-lo afirmativo da vida, a brincadeira, o senso de humor, o amor e o


respeito devem estar todos reunidos.

Reverência pela vida é o único respeito pelo divino, pois não há nada mais divino
do que a própria vida.

O homem nasce com imensos tesouros, mas também nasce com toda a
herança animal.

De algum modo temos de nos esvaziar da herança animal e criar um espaço


para que o tesouro venha à consciência e seja compartilhado — porque uma das
qualidades do tesouro é: quanto mais você compartilha, mais você tem.

Muitos de nossos problemas existem apenas porque nunca olhamos para eles,
nunca focamos nossos olhos neles para entender o que são.

Dê vida a coisas que são belas.

Não dê vida a coisas feias.

Você não tem muito tempo, muita energia para desperdiçar.

Com uma vida tão pequena, com uma fonte de energia tão pequena, é
simplesmente estúpido desperdiçá-la em tristeza, em raiva, em ódio, em ciúme.

Use-a em amor, use-a em alguma ação criativa, use-a em amizade, use-a em


meditação.

Faça, com sua energia, alguma coisa que o leve mais alto, e, quanto mais alto
você for, mais fontes de energia se tornam disponíveis para você.

Está em suas mãos.

Nenhum homem é uma ilha.


Isso deve ser lembrado como uma das verdades fundamentais da vida.

Estou enfatizando-a porque tendemos a esquecê-la.

Somos todos parte de uma única força vital — parte de uma única existência
oceânica.

Basicamente, porque nas profundezas de nossas raízes somos um só, a


possibilidade do amor aparece.

Se não fôssemos um, não haveria possibilidade de amor.

O homem continua carregando muitos dos instintos animais — sua raiva, seu
ódio, seu ciúme, sua possessividade, sua astúcia.

Tudo o que tem sido condenado no homem parece pertencer a um inconsciente


muito profundamente enraizado.

E todo o trabalho da alquimia espiritual está em como se livrar do passado


animal.

A menos que se livre do passado animal, o homem permanecerá dividido.

O passado animal e o lado humano não podem existir como uma unidade,
porque o lado humano tem exatamente qualidades opostas.

Então, tudo o que o homem pode fazer é tornar-se um hipócrita.

Com relação ao comportamento aparente ele segue os ideais do lado humano


— de amor e verdade, liberdade, não possessividade, compaixão.

Mas isso permanece apenas uma camada muito fina e a qualquer momento o
animal oculto pode vir à tona: qualquer acidente pode fazê-lo surgir.

E, ele vindo ou não à tona, a consciência interior está dividida.

Essa consciência dividida tem criado o anseio e a questão: como o indivíduo


pode se tornar um todo harmonioso?

E o mesmo é verdadeiro sobre a sociedade inteira: como podemos tornar a


sociedade um todo harmonioso — onde não existam guerra, conflito, classes;
não existam divisões de cor, casta, religião, nação?

Em vez de pensar em termos de revolução e mudança da sociedade, de sua


estrutura, deveríamos pensar mais em meditação e em mudar o indivíduo.

Essa é a única maneira possível de algum dia podermos abandonar todas as


divisões na sociedade.
Mas antes devem ser abandonadas no indivíduo — e podem ser abandonadas.

Não existe algo rotulado “VERDADE” — que você encontrará um dia, abrirá a
caixa, verá o conteúdo e dirá: “Genial!

Encontrei a verdade!”

Não existe tal caixa.

É evidente a razão pela qual as pessoas falam sobre a verdade enquanto


permanecem num mundo de mentiras.

Existe em seu coração um anseio pela verdade; as pessoas estão


envergonhadas frente a si mesmas por não estarem sendo verdadeiras, então
falam sobre a verdade.

Mas é mera conversa.

Viver de acordo com a verdade é muito perigoso, elas não podem correr o risco.

E é a mesma situação com a liberdade.

Todos querem a liberdade — enquanto se trata de palavras —, mas ninguém é


realmente livre.

E ninguém realmente quer ser livre porque liberdade traz responsabilidade, ela
não vem sozinha.

E ser dependente é simples; a responsabilidade não está em você, a


responsabilidade está na pessoa da qual você é dependente.

Assim, as pessoas construíram uma maneira de viver esquizofrênica.

Elas falam sobre a verdade, falam sobre a liberdade — e vivem em mentiras e


vivem em escravidão... vários tipos de escravidão, porque cada escravidão
liberta você de alguma responsabilidade.

Um homem que realmente quer ser livre tem de aceitar responsabilidades


imensas.

Ele não pode descarregar suas responsabilidades em ninguém mais.

Seja o que ele fizer, seja o que ele for, ele é responsável.
Uma pessoa verdadeiramente não-violenta é aquela que não mata ninguém,
que não fere ninguém, porque ela é contra o matar e contra o ferir.

Mesmo que alguém comece a feri-la, ainda assim, ela é contra o ferir.

Mesmo que alguém comece a matá-la, ainda assim ela é contra o matar; ela não
o permitirá.

Ela nunca iniciará qualquer violência, mas se a violência é iniciada contra ela,
então lutará com unhas e dentes.

Somente assim as pessoas não-violentas podem permanecer independentes; de


outro modo serão escravas e pobres e continuamente roubadas.

Ser você mesmo lhe dá tudo o que você precisa para sentir-se pleno, tudo o
que pode tornar sua vida significativa, com sentido.

Ser você mesmo e crescer de acordo com sua natureza lhe trará a realização de
seu destino.

Seja imprevisível e esteja em constante mudança.


Nunca pare de mudar e nunca pare de ser imprevisível; somente assim a vida
pode ser uma alegria.

No momento em que você se torna previsível, torna-se uma máquina.

Uma máquina é previsível.

Era a mesma ontem, é a mesma hoje, será a mesma amanhã.

É imutável.

Estar mudando a cada momento é prerrogativa apenas do homem.

No dia em que você pára de mudar, de uma maneira sutil, você morre.

Ponha tudo em jogo.


Seja um jogador!

Arrisque tudo porque o próximo momento não é certo.


Por que então se aborrecer?

Por que ficar preocupado?

Viva perigosamente, viva com alegria.

Viva sem medo, viva sem culpa.

Viva sem medo algum do inferno, sem ambição alguma pelo paraíso.

Simplesmente viva.

Cada erro é uma oportunidade para aprender.


Apenas não cometa o mesmo erro várias vezes — isso é estupidez.

Mas cometa tantos novos erros quanto você for capaz — não tenha medo,
porque essa é a única maneira pela qual a natureza lhe permite aprender.

A religiosidade significa simplesmente um desafio para crescer, um desafio para


a semente chegar à sua expressão suprema, explodir em milhares de flores e
liberar a fragrância que estava escondida.

Essa fragrância eu chamo de religiosidade.

Todos são tão infelizes que querem encontrar algum motivo em algum lugar
para explicar a si mesmos por que são infelizes, por que ele é infeliz, por que ela
é infeliz.

E a sociedade deu-lhe uma boa estratégia: julgue.

Em primeiro lugar, naturalmente, você julga a si mesmo a respeito de tudo.

Não existe homem perfeito e homem nenhum jamais pode ser perfeito, perfeição
não existe — assim o julgamento é muito fácil.

Você é imperfeito, assim existem coisas que mostram sua imperfeição e então
você fica com raiva, com raiva de si mesmo, com raiva do mundo todo: “Por que
não sou perfeito?”.

E então você olha com uma única idéia — encontrar imperfeição em todos.
E então você quer abrir seu coração — naturalmente, porque, se não abrir seu
coração, não há celebração na sua vida, sua vida é quase morta.

Mas você não pode fazê-lo diretamente.

Você terá de destruir toda essa educação, desde as próprias raízes.

O primeiro passo então é: pare de julgar a si mesmo.

Em vez de julgar, comece a aceitar a si mesmo.

Em vez de julgar, comece a aceitar a si mesmo com todas as imperfeições, com


todas as fraquezas, todos os erros, todos os fracassos.

Não exija perfeição de si mesmo, isso é simplesmente pedir o impossível, e


então você ficará frustrado.

Apesar de tudo, você é um ser humano.

Olhe simplesmente para os animais, para os pássaros: nenhum deles está


preocupado, triste ou frustrado.

Você não vê um búfalo ficando maluco.

Ele está perfeitamente satisfeito mascando o mesmo pasto todo o dia.

Ele é quase iluminado!

Não existe tensão, existe uma harmonia enorme com a natureza, consigo
mesmo, com tudo da maneira que é.

Búfalos não formam partidos para revolucionar o mundo, para transformar


búfalos em superbúfalos, para tornar búfalos religiosos, virtuosos.

Nenhum animal tem a menor preocupação com as idéias humanas.

E eles devem estar todos rindo; “O que aconteceu com você?

Por que você não pode ser você mesmo do jeito que é?

Qual é a necessidade de ser outra pessoa?”

O primeiro passo, então, é uma profunda aceitação de si mesmos.

Não condene a sensualidade.


Ela tem sido condenada pelo mundo todo e, devido à sua condenação, a energia
que pode florescer na sensualidade dirige-se para as perversões, o ciúme, a
raiva, o ódio — um tipo de vida que é seco e sem sabor.

A sensualidade é uma das maiores bênçãos para a humanidade.

Ela é sua sensibilidade, é sua consciência.

Ela é sua consciência filtrando-se através do corpo.

Através dos tempos, os pais têm acreditado que os filhos lhes pertencem e
devem ser simplesmente suas cópias-carbono.

Uma cópia-carbono não é algo belo e a existência não acredita em cópias-


carbono — ela vibra na originalidade.

Você tem de ajudar os filhos a crescer além de você.

Você tem de ajudá-los a não o imitarem.

Essa é na verdade a obrigação dos pais: ajudar os filhos a não cair na imitação.

As crianças são imitadoras, e, naturalmente, quem elas vão imitar?

Os pais são as pessoas mais próximas.

Até agora os pais têm apreciado muito o fato de que seus filhos sejam iguais a
eles.

O pai sente-se orgulhoso porque seu filho é exatamente como ele.

Desse modo, uma vida é desperdiçada; então, o filho não é necessário, o pai
seria o bastante.

Devido a essa concepção errônea de orgulho com o fato de os filhos imitarem


os pais, nós criamos uma sociedade de imitadores.

A obediência não precisa de inteligência.


Todas as máquinas são obedientes.

Ninguém jamais ouviu dizer de uma máquina desobediente.

A obediência é também simples.

Tira-lhe o peso de qualquer responsabilidade.


Não é preciso reagir, você simplesmente tem de fazer o que está sendo dito.

A responsabilidade fica com a fonte de onde a ordem vem.

De certa maneira, você é muito livre: não pode ser condenado por sua ação.

A religiosidade não é algo em que se acreditar, mas algo a ser vivido, algo a ser
experienciado... não uma crença em sua mente, mas o sabor de todo o seu ser.

A mente não pode deixar de julgar.


Se você a força a ser não-julgadora, surgirá um bloqueio em sua inteligência.

Então a mente não pode funcionar de maneira perfeita.

A ausência de julgamento não é algo que pertença à área da mente.

Apenas uma pessoa que foi além da mente pode deixar de julgar; caso contrário,
o que lhe parece ser fatual, uma afirmação válida, é simplesmente aparência.

Tudo o que a mente decide ou declara está poluído pelos seus condicionamentos
e seus preconceitos — é isso o que a torna julgadora.

Por exemplo, você vê um ladrão.

É fato que ele está roubando — nenhuma dúvida a respeito —, e você faz uma
afirmação sobre o ladrão.

E certamente roubar não é bom; assim, quando você chama um homem de


ladrão, sua mente diz: “Você está certo; sua afirmação é verdadeira”.

Mas por que um ladrão é mau?

E o que é maldade?

Por que ele foi forçado a roubar?

E a ação de roubar é uma ação isolada.

Com base em uma única ação você está fazendo um julgamento sobre o todo
do indivíduo.

Você o está chamando de ladrão.

Ele faz muitas outras coisas que não somente roubar.


Ele pode ser um bom pintor, pode ser um bom carpinteiro, pode ser um bom
cantor, um bom dançarino — pode ter mil e uma qualidades.

O homem inteiro é muito vasto e o roubar é uma ação isolada.

Com base em uma ação isolada você não pode fazer uma afirmação sobre a
pessoa inteira.

Você não conhece absolutamente a pessoa e você nem mesmo sabe em que
condições a ação aconteceu.

Talvez naquelas condições você também tivesse roubado.

Talvez naquelas condições o roubar não fosse mau... porque toda a ação é
subordinada a condições.

Se você olhar ao redor do mundo e observar os diferentes condicionamentos das


pessoas e suas idéias de bom e mau, certo e errado, pela primeira vez você será
capaz de perceber que sua mente é também parte de determinada parcela da
humanidade.

Ela não representa nada sobre a verdade; representa simplesmente aquela


determinada parcela.

E, através dessa mente, tudo o que você vê é visto com julgamento.

A existência é uma.
São milhões as suas expressões, mas o espírito expresso é o mesmo.

É uma divindade com uma infinita variedade de criações.

O dinheiro é uma coisa estranha.


Se você não o tem, a questão é simples — você não o tem, não existe
complicação.

Mas, se você o tem, então certamente ele cria complicações.

Um dos maiores problemas que o dinheiro cria é que você nunca sabe se você
é desejado ou se o seu dinheiro é desejado.

E é tão difícil resolver isso que a pessoa preferiria não ter dinheiro.

Pelo menos a vida seria simples.


Ora, algo como o dinheiro, que poderia ter sido um grande prazer, acabou
tornando-se uma agonia imensa.

Mas não é o dinheiro, é a sua mente.

O dinheiro é útil; não é pecado ter dinheiro, não é preciso sentir culpa.

É desse modo que a mente cria miséria.


Você tem dinheiro?

Desfrute-o!

Se alguém o ama, não pergunte se é a você ou a seu dinheiro que ele ama,
porque assim você o coloca numa situação realmente desagradável.

Se ele disser que o ama, você não acreditará; se ele disser que ama seu dinheiro,
você acreditará.

Mas, se ele ama seu dinheiro, o romance está acabado.

Bem no fundo você continuará suspeitando que ele ama seu dinheiro, e não
você.

Mas nada está errado: o dinheiro é seu, simplesmente como seu nariz é seu,
seus olhos são seus e seu cabelo é seu.

E essa pessoa ama você na sua totalidade.

O dinheiro também é parte de você.

Não o separe, assim não existe problema.

Tente viver uma vida com tão pouca complicação e tão poucos problemas quanto
for possível — e isso está em suas mãos.

Conhecer o mundo inteiro não é nada, comparado com o conhecimento de seu


próprio mistério interior de vida.

A própria idéia de comparação é absolutamente falsa.


Cada indivíduo é único, porque não há mais ninguém como ele.

Seria certo comparar, se todos os indivíduos fossem iguais — eles não são.
Mesmo gêmeos não são totalmente iguais.

É impossível encontrar outra pessoa que seja exatamente como você.

Assim, nós estamos comparando pessoas únicas, e isso cria todo o problema.

Uma das coisas mais difíceis da vida e das mais fundamentais é não dividi-la
entre coisas belas e coisas estúpidas — não dividir de modo algum.

Todas elas são parte de um todo.

É preciso simplesmente um pouco de senso de humor.

E, para mim, senso de humor é essencial para que uma pessoa seja total.

O que há de errado com coisas pequenas, idiotas?

Por que você não pode rir e desfrutá-las?

O tempo todo você está julgando o que é certo, o que é errado.

O tempo todo você está sentado na cadeira de um juiz — e isso o torna sério.

Então as flores são lindas, mas e os espinhos? — eles são parte da existência
das flores.

As flores não existirão sem os espinhos; os espinhos são uma proteção.

Eles têm uma função, um propósito, um significado.

Mas você divide — assim as flores são lindas e os espinhos se tornam feios.

Mas na própria planta a seiva é a mesma para a flor e para os espinhos.

Na existência da planta não há divisão, não há julgamento.

A flor não é favorecida e o espinho não é simplesmente tolerado; ambos são


totalmente aceitos.

E essa deveria ser a abordagem em nossa própria vida.

Existem coisas pequenas que, se você julgar, parecem estúpidas, tolas. Mas
isso é devido ao seu julgamento; elas também preenchem algo essencial.

Toda a função da mente é dividir continuamente.


A função do coração é perceber os vínculos sobre os quais a mente é
completamente cega.

A mente não pode entender aquilo que está além das palavras; ela pode
entender somente aquilo que é linguística e logicamente certo.

Ela não tem relação com a existência, com a vida, com a realidade.

A mente em si mesma é uma ficção.

Você pode viver sem mente.

Você não pode viver sem coração.

E, quanto mais profundamente você vive, uma parte maior de seu coração é
envolvida.

A vida está fluindo, é um rio, um fluxo constante.


As pessoas consideram-se estáticas.

Somente coisas são estáticas, somente a morte é imutável; a vida está


constantemente mudando.

Mais vida — e mais mudança.

Vida em abundância — e uma tremenda mudança a cada momento.

Ninguém é superior, ninguém é inferior e tampouco ninguém é igual.


Cada um é único.

A igualdade é errada do ponto de vista psicológico.

Todos não podem ser um Albert Einstein e todos não podem ser um
Rabindranath Tagore.

Mas isso não significa que Rabindranath Tagore é superior porque você não
pode ser ele.

Rabindranath tampouco pode ser você.

Meu enfoque é que cada um é uma manifestação única.

Assim, deveríamos destruir toda a idéia de superioridade e inferioridade, de


igualdade e desigualdade e substituí-la com um novo conceito de unicidade.
E cada indivíduo é único.

Olhe amorosamente e verá que cada indivíduo tem algo que ninguém mais tem.

Simplesmente faça aquilo que lhe dê prazer — prazer a você e prazer a seu
ambiente.

Simplesmente faça algo que lhe traga uma canção e crie um ritmo de celebração
a seu redor.

Essa vida eu chamo de uma vida religiosa.

Ela não tem princípios, não tem disciplina, não tem leis.

Tem somente uma única abordagem e esta é: viva inteligentemente.

A obediência tem uma simplicidade; a desobediência precisa de um tipo de


inteligência um pouco mais elevado.

Qualquer idiota pode ser obediente — na realidade, somente idiotas podem ser
obedientes.

A pessoa inteligente fatalmente perguntará: “Por quê?

Por que tenho de fazer isso?

E, a menos que eu saiba os motivos e as consequências disso, não me deixarei


envolver”.

Então ela está se tornando responsável.

É absolutamente impossível que um santo seja malandro.


Mas um malandro pode ser santo.

O ser humano ainda não aprendeu a conhecer as belezas da solitude.

Ele está sempre ansiando por algum relacionamento, ansiando por estar com
alguém — com um amigo, com um pai, com uma esposa, com um esposo, com
um filho... com alguém.

Ele criou sociedades, criou clubes — o “Lions Club”, o “Rotary Club”.

Ele criou partidos — políticos, ideológicos.


Criou religiões, igrejas.

Mas a necessidade fundamental de tudo isso é esquecer, de alguma maneira,


que você está só.

Associando-se com tantas multidões, você está tentando esquecer algo que é
de repente lembrado na escuridão — que você nasceu só, que você morrerá só,
que, não importa o que faça, você vive só.

A solitude é algo tão essencial a seu ser que não há maneira de evitá-la.

Todos os esforços dirigidos para evitar a solidão falharam e falharão, porque


são contrários aos fundamentos da vida.

O que é preciso não é algo com o qual você possa esquecer sua solidão; o que
é preciso é que você se torne consciente de sua solitude — a qual é uma
realidade.

E é tão lindo experienciá-la, senti-la, porque ela o liberta da multidão, do outro.

É a nossa libertação do medo de estarmos sós.

Apenas a palavra “só” imediatamente o lembra de que ela é como uma ferida: é
necessário cobri-la com alguma coisa.

É um vazio e dói.

É preciso colocar algo dentro dele.

“Solitude” — a própria palavra — não tem o mesmo sentido de uma ferida, de


um vazio que deve ser preenchido.

Solitude significa simplesmente ser completo.

Você é inteiro; não é preciso ninguém mais para completá-lo.

Assim, tente descobrir seu centro mais profundo, onde você está sempre só,
sempre esteve só.

Na vida, na morte, seja onde você estiver, você estará só.

Mas é tão pleno — não é vazio —, é tão pleno, tão completo e tão transbordante
com todas as seivas da vida, com todas as belezas e bênçãos da existência,
que, tendo provado sua solitude, a dor no coração desaparecerá.

Em seu lugar, um novo ritmo de imensa suavidade, paz, contentamento e bem-


aventurança estará presente.
Isso não significa que uma pessoa que está centrada em sua solitude, completa
em si mesma, não possa fazer amigos — na realidade, somente ela pode fazer
amigos, porque agora essa não é mais uma necessidade, é simplesmente um
compartilhar.

Ela tem tanto, ela pode compartilhar.

Nós somos parte de uma existência.


Não importa quem você esteja ferindo, no final das contas você está ferindo a si
mesmo.

Você pode não se dar conta disso hoje, mas um dia, quando você se tornar mais
consciente, você dirá: “Meu Deus!

Esta ferida foi causada por mim — em mim mesmo.

Você feriu outra pessoa pensando que as pessoas são diferentes.

Ninguém é diferente.

Esta existência inteira é uma unidade cósmica.

A não-violência resulta dessa compreensão.

Quando você está com raiva, você está se punindo.


Você está em brasas, você está destruindo seu coração e as mais elevadas
qualidades dele — e você está cheio de ódio.

O ser humano está preenchido se ele está em harmonia com o Universo.


Se ele não está em harmonia com o Universo, ele está então vazio,
completamente vazio; e desse vazio vem a cobiça.

A cobiça é para preencher o vazio — com dinheiro, com casas, com mobília, com
amigos, com amores, com qualquer coisa, porque você não pode viver como um
vazio.

É aterrorizante.

É uma vida fantasma.


Se você está vazio e não há nada dentro de você, é impossível viver.

Para ter a sensação de que você tem muito dentro de si, existem somente dois
caminhos.

Você entra em harmonia com o Universo... então você é preenchido com o todo,
com todas as flores e com todas as estrelas.

Esse é o verdadeiro preenchimento.

Mas, se você não fizer isso — e milhões de pessoas não estão fazendo —,
existirá apenas o caminho de encher-se com qualquer lixo.

A cobiça significa simplesmente que você está sentindo um profundo vazio e


quer preenchê-lo com qualquer coisa possível; não importa o quê.

Uma vez que você tenha compreendido isso, você não se importa com a cobiça.

Você se importa em chegar à comunhão com o todo, de modo que o vazio interior
desapareça.

Todo o passado da humanidade tem exaltado a pobreza, tornando-a


equivalente à espiritualidade, o que é um completo absurdo.

A espiritualidade é a maior riqueza que pode acontecer a uma pessoa.

Ela contém todas as outras riquezas.

Ela não é contrária a qualquer outra riqueza, é simplesmente contra todos os


tipos de pobreza.

Por um lado, as pessoas respeitam a pobreza e por outro lado dizem: “Ajude os
pobres”.

Estranho!

Se a pobreza é tão espiritual, então a coisa mais espiritual será tornar pobres
todos os ricos.

Ajude o rico a ser pobre para que ele possa tornar-se espiritual.

Por que ajudar os pobres?

Você quer destruir a espiritualidade deles?

Viver em abundância é a única espiritualidade no mundo.


Dinheiro é um assunto carregado pela simples razão de que não fomos capazes
de achar um sistema sadio, no qual o dinheiro possa ser um servo para toda a
humanidade, e não um mestre para poucas pessoas gananciosas.

Dinheiro é um assunto carregado porque a psicologia do homem é cheia de


cobiça.

Caso contrário, o dinheiro é um simples meio de trocar coisas, um meio perfeito;


não há nada de errado nele.

Mas a maneira como o fazemos funcionar parece ser totalmente errada.

Se você não tem dinheiro, você é condenado, toda sua vida é uma maldição.

E a vida inteira você fica tentando ter dinheiro por qualquer meio.

Se você tem dinheiro, isso não muda a coisa básica — você quer mais e não há
fim para o querer mais.

E quando finalmente tem tanto dinheiro — embora não seja o suficiente, nunca
é o suficiente, mas é mais do que tem qualquer outra pessoa — você começa a
se sentir culpado, porque os meios que usou para acumular dinheiro são feios,
desumanos, violentos.

Você explorou, sugou o sangue das pessoas, foi um parasita.

Então agora você tem o dinheiro, mas ele o faz lembrar-se de todos os crimes
que cometeu ao ganhá-lo.

Isso cria dois tipos de pessoa: o que começa a fazer doações para instituições
de caridade a fim de se livrar da culpa e o que se sente tão culpado que ou fica
louco ou se suicida.

Sua própria existência torna-se simplesmente angústia.

Cada respiração se torna pesada.

E o estranho é que ele trabalhou a vida inteira para conseguir todo esse dinheiro,
porque a sociedade provoca o desejo, a ambição de ser rico, de ser poderoso.

E o dinheiro traz poder; ele pode comprar tudo, exceto aquelas poucas coisas
que não podem ser compradas.

Mas ninguém se importa com aquelas coisas.

A meditação não pode ser comprada, nem o amor, nem a amizade, nem a
gratidão pode ser comprada — mas ninguém se preocupa com essas coisas.
Simplesmente olhe para a existência e sua abundância.
Qual é a necessidade de tantas flores no mundo?

Apenas rosas bastariam.

Mas a existência é farta — milhões e milhões de flores, milhões de pássaros,


milhões de animais — tudo em abundância.

A natureza não é ascética; ela está dançando em toda parte — no oceano, nas
árvores.

Está cantando em toda parte — no vento passando através dos pinheiros, nos
pássaros...

Qual é a necessidade de milhões de sistemas solares, de que cada sistema solar


tenha milhões de estrelas?

Parece que não há necessidade, exceto que a abundância é a própria natureza


da existência, que a riqueza é a sua própria essência, que a existência não
acredita em pobreza.

Não considero a cobiça um desejo.


Ela é uma enfermidade existencial.

Você não está em harmonia com o todo; e somente essa harmonia com o todo
pode torná-lo virtuoso.

Para mim a cobiça não é absolutamente um desejo, então você não precisa fazer
nada a respeito.

Você tem de compreender esse vazio que você está tentando preencher e fazer
a pergunta: Por que estou vazio?

A existência toda é tão repleta, por que estou vazio?

Talvez eu tenha me extraviado, não estou mais andando na mesma direção.

Não sou mais existencial — essa é a causa do meu vazio”.

Então seja existencial, flua e mova-se para mais perto da existência, em silêncio
e paz, em meditação.

E um dia você perceberá que está tão pleno, muitíssimo pleno, transbordando
de contentamento, de êxtase, de bênçãos.
Você tem tanto que pode dar para o mundo inteiro e mesmo assim não se
esgotará.

Nesse dia, pela primeira vez, você não sentirá nenhuma cobiça — por dinheiro,
por comida, por coisas — por nada.

Você viverá, não com uma ambição que não pode ser preenchida, com uma
ferida que não pode ser curada; você viverá com naturalidade e o que for preciso
você encontrará.

Todos se sentem inferiores, de uma maneira ou de outra.


E o motivo é que não aceitamos que cada um é único.

Não é uma questão de inferioridade ou superioridade.

Cada um é único à sua maneira — comparar não é o caso.

Nós não temos permitido às pessoas se aceitarem como são.

No momento em que você se aceita como é, sem nenhuma comparação, toda


inferioridade, toda superioridade desaparece.

Na aceitação total de si mesmo, você se livrará desses complexos de


inferioridade e superioridade.

Caso contrário, você sofrerá a sua vida inteira.

E eu não consigo imaginar uma pessoa que possa ter tudo neste mundo.

As pessoas tentaram e falharam totalmente.

Simplesmente seja você mesmo e isso é o bastante.

Você é aceito pelo Sol, você é aceito pela Lua, você é aceito pelas árvores, você
é aceito pelo oceano, você é aceito pela Terra.

O que mais você quer?

Você é aceito por todo este Universo.

Deleite-se nele.

Ser aprovado e ser reconhecido são necessidades de todos.


Toda a nossa vida é estruturada de tal maneira que, a menos que haja
reconhecimento, não somos ninguém, não temos valor.

Nosso trabalho não é importante, mas o reconhecimento sim.

E isso está colocando as coisas de cabeça para baixo.

Nosso trabalho deveria ser importante — uma alegria em si mesmo.

Você deveria trabalhar não para ser reconhecido, mas porque você sente prazer
em ser criativo.

Você aprecia o trabalho pelo próprio trabalho.

Você trabalha se você aprecia o trabalho.

Não espere o reconhecimento.

Se ele vier, não dê muita importância.

Se ele não vier, não pense a respeito.

Sua satisfação deveria ser com o próprio trabalho.

Se todos aprendessem esta simples arte — de gostar do seu trabalho, seja ele
qual for, divertindo-se com ele, sem esperar nenhum reconhecimento —,
teríamos um mundo mais lindo e celebrativo.

Não sendo assim, o mundo o prende a um padrão de miséria.

Aquilo que você está fazendo não é bom porque você gosta, porque você o faz
com perfeição, mas porque o mundo reconhece isso, recompensa-o, dá-lhe
medalhas de ouro, prêmios Nobel.

Todo o valor intrínseco da criatividade foi tirado e milhões de pessoas foram


destruídas — porque você não pode dar milhões de prêmios Nobel.

E você criou o desejo pelo reconhecimento em todos, assim ninguém pode


trabalhar em paz, silenciosamente, apreciando seja lá o que for que esteja
fazendo.

E a vida consiste de pequenas coisas.

Para essas pequenas coisas não há recompensas, títulos dados pelos governos,
graus honorários dados pelas universidades.
Qualquer pessoa que tenha algum senso de sua individualidade vive pelo seu
próprio amor, pelo seu próprio trabalho, sem se importar absolutamente com o
que os outros pensam disso.

O contentamento não está no fato de completar algo; o contentamento está no


fato de que você o desejou com tal intensidade que, enquanto o estava fazendo,
você esqueceu tudo, o mundo inteiro; ele era o único foco de todo o seu ser.

E aí estão seu êxtase e sua recompensa — não na conclusão, não na


permanência de qualquer coisa.

Nesse fluxo mutável da existência, temos de encontrar a cada momento sua


própria recompensa.

Seja o que fizemos, demos o melhor de nós, não fomos parciais.

Não estávamos segurando nada, mas colocando todo o nosso ser no ato.

É aí que está nosso êxtase.

É um fato que cada um é único e cada um tem certa individualidade.


Temos apenas de abandonar as idéias de como as pessoas deveriam ser e
substituí-las pela filosofia de que, sejam como forem, elas são lindas.

Não existe a questão do “deveria ser”, porque quem somos nós para impor
qualquer “deveria” em alguém?

Se a existência o aceita como você é, então quem sou eu para não aceitá-lo?

Assim, simplesmente uma mudança de atitude — e é uma coisa muito simples,


uma vez que faça parte de sua maneira de ver: cada um é único, cada um é da
maneira que é e deveria ser.

Não é preciso que ele seja outra pessoa para ser aceito; ele já é aceito.

A isso eu chamo respeito pela individualidade, respeito pelas pessoas — como


elas são.

A humanidade toda pode ser muito amorosa e alegre se pudermos aceitar as


pessoas como elas são.
Um comunismo que resulte do amor, da inteligência, da generosidade será
verdadeiro.

Um comunismo que vem através da força é falso.

Não há uma só pessoa no mundo, por mais pobre, que não tenha nada a
oferecer.

Por que não criar uma vida na qual o dinheiro não determine uma hierarquia,
mas simplesmente dê mais e mais oportunidades para todos?

As pessoas autoritárias são as pessoas que têm complexo de inferioridade.


Para esconder sua inferioridade, elas impõem sua superioridade.

Elas querem provar que são alguém, que a palavra delas é a lei.

Mas bem no fundo elas são seres muito inferiores.

A natureza certamente não tem hierarquia.


A hierarquia é um jogo da mente humana, porque sem ela o ego não se nutre;
ele morre.

Na natureza tudo tem uma oportunidade, um espaço e ninguém é o chefe.

Ninguém é mestre e ninguém é escravo.

A natureza funciona quase como uma unidade orgânica na qual a individualidade


não é perdida, mas na qual o ego não tem chance de desenvolver-se; por isso
as árvores não têm ego, os pássaros não têm ego, os animais de todas as
espécies não têm ego.

O problema surge com o ser humano.

É um privilégio do ser humano — somente do ser humano — ser só, colocando-


se contra o mundo inteiro se ele sente que está com a verdade.
Se você sente que esse é o caminho que leva à liberdade, aceite então qualquer
tipo de responsabilidade.

Todas essas responsabilidades não vão ser uma carga para você.

Todas elas vão torná-lo mais maduro, mais centrado, mais enraizado, um
indivíduo mais lindo.

Você tem apenas um momento em suas mãos — o momento real. E você não
terá esse momento de volta. Ou você o vive ou o deixa sem viver.

Toda criança compreende que vê o mundo de maneira diferente da de seus


pais.

Isso está absolutamente certo no que se refere à percepção.

Seus valores são diferentes.

A criança pode estar pegando conchinhas na praia e seus pais dirão: “Jogue-as
fora.

Por que você está perdendo tempo?”

E para a criança as conchinhas eram tão lindas!

Ela pode perceber a diferença, pode perceber que seus valores são diferentes.

Os pais estão correndo atrás de dinheiro; ela quer colecionar borboletas.

Ela não consegue perceber por que eles estão tão interessados em dinheiro: “O
que vocês vão fazer com ele?”

E seus pais não conseguem perceber o que ela vai fazer com essas borboletas
ou com essas flores.

Toda criança fica sabendo disto, que existem diferenças.

O único problema é que ela tem medo de afirmar que está certa.

No que se refere à criança, ela deveria ser deixada em paz.

É uma questão de apenas um pouco de coragem — que tampouco está faltando


nas crianças, mas simplesmente toda a sociedade funciona de uma tal maneira
que mesmo uma linda qualidade como a coragem será condenada numa criança.
Se os pais amam verdadeiramente as crianças, eles as ajudarão a ser corajosas
— até corajosas contra eles.

Eles as ajudarão a ser corajosas contra os professores, contra a sociedade,


contra qualquer um que vá destruir sua individualidade.

Lembre-se de nunca fazer concessões.


Fazer concessões é absolutamente contra toda a minha visão.

Veja as pessoas — elas são infelizes porque fizeram concessões em todos os


pontos e não podem se perdoar por as terem feito.

Elas sabem que poderiam ter arriscado, mas se mostraram covardes, aos
próprios olhos elas caíram, perderam o auto-respeito.

É isso que o fazer concessões causa.

Por que deveríamos fazer concessões?

O que temos a perder?

Nesta pequena vida, viva tão totalmente quanto possível.

Não tenha medo de ir ao extremo.

Você não pode ser mais do que total — essa é a última linha.

E não faça concessões.

Toda a sua mente falará em favor das concessões, porque assim fomos
educados, condicionados.

“Fazer concessões” é uma das expressões mais feias em nossa linguagem.

Significa: “Eu dou metade, você dá metade; eu deixo por meio, você deixa por
meio”.

Mas por quê?

Quando você tem o todo, quando você pode comer o bolo e tê-lo também, por
que então fazer acordo?

Simplesmente um pouco de coragem, simplesmente um pouco de atrevimento


— e isso apenas no começo.
Uma vez que você tenha experienciado a beleza de não fazer concessões e a
dignidade, a integridade e a individualidade que isso traz, pela primeira vez você
sentirá que tem raízes, que vive a partir de um centro que é seu.

A pessoa infeliz é facilmente escravizada.


A pessoa alegre, a pessoa extática, não pode ser escravizada.

Por que não criar uma vida em que o sexo não traga experiências amargas,
ciúmes, fracassos; em que o sexo se torne simplesmente diversão — nada mais
do que qualquer outro jogo, simplesmente um jogo biológico?

Você joga tênis; isso não significa que por toda a sua vida você tenha de jogar
tênis com o mesmo parceiro.

A vida deveria ser mais rica.

Somente um pouco de compreensão é necessária e o amor não será um


problema, o sexo não será um tabu.

A mente é simplesmente uma coleção de memórias do passado e, a partir


dessas memórias, imaginações sobre o futuro.

Use toda a oportunidade na vida para elevar sua inteligência, sua consciência.
Em geral o que estamos fazendo é usar cada oportunidade para criar um inferno
para nós mesmos.

Somente você sofre e, devido a seu sofrimento, você faz os outros sofrer.

Quando muitas pessoas que estão vivendo juntas criam sofrimento umas em
relação às outras, ele vai se multiplicando.

Dessa maneira é que o mundo todo se tornou um inferno.

Isso pode ser mudado instantaneamente; simplesmente a coisa básica tem de


ser entendida: sem inteligência, não existe paraíso.
A função dos pais não é ajudar os filhos a crescer; eles crescerão sem você.
Sua função é apoiar, nutrir, ajudar o que já está crescendo.

Não dê direções e não dê ideais.

Não lhes diga o que está certo e o que está errado — deixe-os descobrir pela
própria experiência.

A idéia toda de que os filhos são sua propriedade está errada.


Eles nascem através de você, mas não pertencem a você.

Você tem um passado; eles têm somente um futuro.

Eles não vão viver à sua maneira.

Viver à sua maneira será quase equivalente a não viver absolutamente.

Eles têm de viver de acordo com eles mesmos— em liberdade, em


responsabilidade, em perigo, em desafio.

Uma vez que você entenda que seus filhos não lhe pertencem, que eles
pertencem à existência e você foi simplesmente uma passagem, você tem de
ser grato à existência por havê-lo escolhido para ser uma passagem para umas
poucas crianças lindas.

Não interfira no crescimento delas, no seu potencial.

Não se imponha sobre elas.

Elas não vão viver nos mesmos tempos, não vão se defrontar com os mesmos
problemas.

Elas vão ser parte de um outro mundo.

Não as prepare para este mundo, esta sociedade, este tempo, porque então
você estará criando problemas para elas.

Elas se sentirão deslocadas, não qualificadas.

A crueldade é um mal-entendido.
Ela surge em nós devido ao medo da morte.

Nós não queremos morrer, assim, antes que outra pessoa o mate, você gostaria
de matá-la — porque o melhor método de defesa é o ataque.

E você não sabe quem vai atacá-lo.

No reino animal, no mundo humano, existe uma tremenda competição; então as


pessoas simplesmente seguem atacando, não interessando a quem atacam ou
se seriam realmente atacadas.

Mas não há um modo de descobrir — é melhor não se arriscar.

Quando você ataca alguém, seu coração vai se tornando, bem lentamente, cada
vez mais duro e você começa a ter prazer em atacar.

O fenômeno pode ser visto nos animais, devido à mesma competição por
comida, por poder...

A crueldade nada mais é do que um espírito competitivo para ser o primeiro.

Se isso significa violência, então que seja violência, mas a pessoa tem de ser a
primeira.

Isso ocorre nos animais, ocorre no homem.

Mas por que essa corrida para ser o primeiro?

A razão existencial é a morte.

A crueldade somente desaparece — e é desse modo que eu encontro pista


sobre por que existe crueldade — quando você sabe que a morte não existe.

Quando você experiencia algo imortal em você, toda a crueldade desaparece.

Então não tem importância; você não precisa correr, você pode deixar o outro ir
à sua frente, porque o pobre-coitado não sabe que o mundo é infinito, que a vida
é infinita.

Não há maneira de perder nada; se não acontecer hoje, acontecerá amanhã.

Mas você não pode perder nada, se você entender.

Na realidade, ao lutar e ser cruel e violento com o outro, você pode perder muito,
porque todo esse processo o endurecerá, fará de seu coração uma pedra.
E o coração, tornado pedra, vai perder tudo o que é grandioso, tudo o que é belo,
tudo o que é extático.

É difícil explicar aos animais.

Mas o verdadeiro problema é que também é difícil explicar aos seres humanos
que através da competição, da ambição violenta, chegando sempre em primeiro
lugar você está criando um mundo insano no qual ninguém desfruta nada e todos
permanecem pobres.

A única maneira de fazer as pessoas entender é ajudando-as a sentir o ser


imortal delas, e imediatamente toda a crueldade desaparecerá.

É a idéia de uma vida curta que está criando o problema.

Se você tem infinidade em ambos os extremos — passado e futuro —, não há


necessidade de ter pressa, nem necessidade de competir.

A vida é tamanha e tão completa... você não pode exauri-la.

Aqueles que querem apenas pensar sobre a vida, sobre o viver, sobre o amor
— para eles o passado e o futuro são perfeitamente belos, porque lhes dão uma
oportunidade perfeita.

Eles podem decorar seu passado, torná-lo tão lindo quanto queiram — embora
eles nunca o tenham vivido.

Quando ele estava presente, eles não estavam lá.

Essas são apenas sombras, reflexos.

Eles estavam correndo continuamente e, enquanto corriam, viram algumas


coisas que eles pensam que viveram.

No passado, somente a morte é a realidade, não a vida.

No futuro também, somente a morte é a realidade, não a vida.

Para preencher o vazio, aqueles que perderam o viver no passado começam


automaticamente a sonhar sobre o futuro.

O futuro deles é somente uma projeção resultante do passado.

Tudo o que eles perderam no passado, esperam encontrar no futuro; e entre


essas duas inexistências está o pequeno momento existente, que é a vida.
Considera-se que o tempo se divide em três partes — o passado, o presente e
o futuro —, o que está errado.

O tempo consiste somente de passado e futuro.

É a vida que consiste do presente.

Assim, para aqueles que querem viver, não existe outra maneira a não ser viver
este momento.

Somente o presente é existencial.

O passado é simplesmente uma coleção de memórias e o futuro nada é além de


sua imaginação, de seus sonhos.

A realidade está aqui e agora.

O presente não tem nada a ver com tempo.


Se você está simplesmente aqui neste momento, não existe o tempo.

Existe imenso silêncio, quietude, ausência de movimento; nada está passando,


tudo subitamente parou.

O presente lhe dá a oportunidade de mergulhar fundo na água da vida, ou de


voar alto no céu da vida.

Mas em ambos os lados existem perigos — “passado” e “futuro” são as palavras


mais perigosas na língua humana.

Entre o passado e o futuro, viver no presente é quase como caminhar numa


corda bamba; existe perigo em ambos os lados.

Mas, uma vez que você tenha saboreado os néctares do presente, você não se
importa com perigos.

Uma vez que você esteja em sintonia com a vida, então nada importa.

E, para mim, a vida é tudo o que existe.

Para aqueles que querem viver — não pensar a respeito, mas amar; não pensar
a respeito, mas ser; não filosofar a respeito —, não existe alternativa além de
beber o néctar do presente momento.

Beba-o completamente, porque ele não vai voltar.


Quando vai embora, vai-se para sempre.

A vida se estende por setenta, oitenta anos; a morte acontece em um único


momento.

Ela é tão condensada que, se você viveu sua vida corretamente, você será capaz
de penetrar no mistério da morte.

E o mistério da morte é que ela é apenas uma fachada; dentro está sua
imortalidade, sua vida eterna.

Não penso muito sobre o futuro porque o futuro nasce do presente.


Se pudermos cuidar do presente, estaremos cuidando do futuro.

O futuro não virá do nada; ele vai surgir deste momento.

Se este momento é belo, silencioso, extático, o próximo momento será


necessariamente mais silencioso, mais extático.

Para mim, a seriedade é uma doença; e o senso de humor torna você mais
humano, mais humilde.

O senso de humor, a meu ver, é uma das partes mais essenciais da


religiosidade.

O ser humano não precisa transcender a natureza.


Eu digo a você: ele tem de realizar a natureza — o que nenhum animal pode
fazer.

Essa é a diferença.

Você nasce como um ser natural.

Você não pode ir acima de você mesmo.

É como puxá-lo para cima puxando-o pelas pernas.


Talvez você possa saltar um pouco, mas, mais cedo ou mais tarde, você vai cair
no chão e talvez tenha algumas fraturas.

Você não pode voar.

E isso é o que tem sido feito: as pessoas têm tentado elevar-se acima da
natureza, o que significa acima delas mesmas.

Mas elas não são separadas da natureza.

O ser humano tem a capacidade, a inteligência, a liberdade para vivenciar — se


você vivenciou totalmente a natureza, você chegou em casa.

A natureza é a sua casa.

Uma das leis básicas da vida é que tudo o que é mais elevado é muito
vulnerável.

As raízes de uma árvore são muito fortes, mas as flores não são.

As flores são muito vulneráveis — simplesmente uma brisa forte e a flor pode ser
destruída.

O mesmo é verdadeiro a respeito da consciência humana.

O ódio é muito forte, mas não o amor.

O amor é exatamente como uma flor — facilmente esmagada por qualquer


pedra, destruída por qualquer animal.

Os valores mais elevados da vida devem ser protegidos.

Os valores mais baixos têm uma certa proteção própria.

Uma pedra não precisa ser protegida, mas, bem a seu lado, a rosa na roseira
tem de ser protegida.

A pedra é morta, não pode tornar-se mais morta.

Ela não precisa de proteção.

Mas a rosa é tão viva, tão linda, tão colorida, tão atraente.

Esse é o perigo — é a sua força, mas é também um convite ao perigo.

Alguém pode colhê-la.

Ninguém apanhará a pedra, mas a rosa pode ser colhida.


O amor deveria ser feito no ápice e isso requer certa disciplina.
As pessoas têm usado disciplina para não fazer amor.

Eu ensino disciplina para fazer amor da maneira certa, de modo que seu amor
não seja apenas algo biológico que nunca alcança o seu mundo psicológico.

O amor tem potencial para alcançar até mesmo o seu mundo espiritual e, no seu
ápice, ele irá alcançar o seu mundo espiritual.

O orgasmo não é algo necessário à reprodução.


É algo que abre uma janela à evolução superior da consciência.

A experiência do orgasmo é sempre não-sexual.


Mesmo que você a tenha alcançado através do sexo, o orgasmo em si não tem
sexualidade.

Isso dá o insight de que pode haver possibilidades de alcançá-lo através de


meios não-sexuais, porque o orgasmo em si não é sexual, e assim a sexualidade
não é necessariamente o único caminho.

Quem pela primeira vez experienciou isso deve ter concluído que podem existir
outras maneiras de alcançar o orgasmo — porque o sexo não é necessariamente
uma parte nele.

Ele não deixa nenhuma cor, nenhuma impressão de sexo em si.

Ele deve ter observado como o orgasmo acontece e então as coisas ficam muito
claras: no momento em que o orgasmo acontece, o tempo pára, você esquece
o tempo.

Sua mente pára, você deixa de pensar.

Existe uma imensa tranquilidade e uma enorme consciência.

Qualquer observador passando pela experiência naturalmente pensará: “Se


estas coisas podem ser obtidas sem sexo — consciência, ausência de
pensamento, ausência de tempo —, você alcançará o estado orgásmico
desviando-se da sexualidade”.

E é assim que eu entendo: essa é a maneira pela qual o ser humano deve ter
descoberto pela primeira vez a meditação.
A liberdade simplesmente o torna absolutamente responsável por tudo o que
você é e o que você vai vir a ser.

Existem pessoas que ficam com raiva; essas são as pessoas que criam
revoluções, mudanças na sociedade, no Estado.

Mas todas as suas revoluções fracassaram, porque qualquer coisa que resulte
da raiva está vindo da ignorância.

Isso não vai criar uma mudança autêntica.

Mudar para melhor a partir da raiva é impossível.


Eu quero que você se lembre de uma coisa — de que a tristeza é simplesmente
a raiva de cabeça para baixo.

Ela não é diferente; é a raiva reprimida.

Se você a analisar, você verá então o fato.

A tristeza pode mudar para a raiva muito facilmente; a raiva pode mudar para a
tristeza da mesma maneira.

Elas não são duas coisas... talvez dois lados da mesma moeda.

O mundo está triste, está em miséria.


Existe enorme sofrimento no coração das pessoas.

Mas você não precisa ficar triste com isso, pela simples razão de que ficando
triste você se junta a elas, cria mais tristeza.

Isso não é uma ajuda.

É simplesmente como se as pessoas estivessem doentes e você visse a doença


delas e também ficasse doente.

Sua doença não vai torná-las saudáveis; está simplesmente criando mais
doença.

Sensibilizar-se com a doença delas significa buscar as causas, buscar o que está
criando todo o sofrimento e miséria e ajudá-las a remover essas causas.
E, ao mesmo tempo, você tem de permanecer o mais alegre possível, porque
sua alegria vai ajudá-las, não sua tristeza.

Você tem de estar alegre.

Elas precisam saber que existe uma possibilidade de se estar feliz neste mundo
triste...

A raiva é sempre um sinal de fraqueza.

As épocas de catástrofes tornam você consciente da realidade tal como ela é.


Ela é sempre frágil, todos estão sempre em perigo.

Só que nas épocas comuns você está profundamente adormecido, então não
percebe isso.

Você fica sonhando, imaginando lindas coisas para os dias que virão, para o
futuro.

E nos momentos em que o perigo é iminente você então subitamente se torna


consciente de que talvez não haja futuro, não haja manhã, de que este é o único
momento que você tem.

As épocas de catástrofes são muito reveladoras.

Elas não trazem nada de novo ao mundo, simplesmente o tornam consciente do


mundo como ele é.

Elas despertam você.

Se você não compreender isso, você pode ficar louco; se você compreender
isso, você pode acordar.

Ficar preocupado não tem razão de ser, porque você estará apenas perdendo
esse momento e não ajudará ninguém.

Assim, este é o segredo de como transcender o perigo: comece a viver mais


completa e totalmente, com mais atenção, de modo que você possa encontrar
dentro de você algo que é intocável pela morte.

Esse é o único abrigo, a única segurança, a única garantia.

Então é somente uma questão de como usar tudo.


Seja o que for, use-o corretamente.

O desastre é enorme, o perigo é enorme, mas enorme também é a oportunidade.

Nenhuma ilusão pode sustentar-se contra a realidade.


A realidade vai esmagá-la mais cedo ou mais tarde.

A função de um pai ou de uma mãe é grandiosa, porque eles estão trazendo


um novo convidado para este mundo — que nada sabe, mas traz algum potencial
com ele. A menos que seu potencial se desenvolva, ele ficará infeliz; e nenhum
pai ou mãe pode conceber que seus filhos fiquem infelizes.

Os pais querem que seus filhos sejam felizes — só que seu modo de pensar está
errado.

Eles pensam que se seus filhos se tornarem doutores, se eles se tornarem


professores, engenheiros, cientistas, então eles serão felizes.

Eles não sabem.

Seus filhos somente podem ser felizes se eles se tornarem aquilo a que vieram
para se tornar.

Eles apenas podem se tornar a semente que estão carregando dentro de si.

Julgamentos são feios — ferem as pessoas.


Por um lado você as continua ferindo, machucando e por outro lado você quer o
amor delas, o respeito delas.

Isso é impossível.

Ame-as, respeite-as e talvez seu amor e respeito possam ajudá-las a mudar


muitas das suas fraquezas, muitas das suas falhas, porque o amor dará a elas
uma nova energia, um novo significado, uma nova força.

O amor dará a elas novas raízes para que se mantenham em pé contra o vento
forte, o sol quente, as chuvas pesadas.
Sempre que houver uma questão de escolha, a cabeça não pode ser escolhida
contra o coração.

O coração é o seu relacionamento com a existência e a cabeça é o seu


relacionamento com a sociedade.

Se você está triste, você está errado; se você está alegre, você está certo.

Quando digo: seja animado, seja feliz, alegre-se com o fato de que você não
está na posição de ser miserável e estar sofrendo, tenho um determinado
propósito por detrás disso.

O propósito é que você tem de se tornar um exemplo para aquelas pessoas que
esqueceram completamente que a vida pode também ser uma celebração.

Apesar de toda a escuridão, você ainda pode se livrar dela, você ainda pode
dançar.

A escuridão não pode impedir sua dança; ela não tem força para impedi-lo.

Para mim, esse é o verdadeiro servir.

A mente deveria ser treinada para ser uma serva do coração.


A lógica deveria servir o amor.

E então a vida pode tornar-se um festival de luzes.

O antigo ditado “Como acima, assim abaixo”, ou vice-versa, contém uma das
verdades mais básicas sobre o misticismo.

Significa que não existe acima, não existe abaixo, que a existência é una.

As divisões são criadas pela mente.

A existência é indivisível.

As divisões são nossas projeções e nós ficamos tão identificados com elas que
perdemos o contato com o todo.
Nossa mente é simplesmente uma pequena janela abrindo-se para o vasto
universo, mas, quando você olha sempre da janela, a esquadria emoldura o céu
lá fora.

Embora não exista moldura no céu — ele é imoldurável —, para a sua percepção
a esquadria da janela torna-se a moldura da existência.

É como acontece de vez em quando com as pessoas que usam óculos,


procurando por eles tendo-os no nariz.

Elas até mesmo esqueceram que não podem ver sem os óculos, e, se estão
olhando e vendo, isso é a certeza absoluta de que os óculos estão no lugar.

Mas se você usa óculos durante anos, aos poucos, lentamente, eles se tornam
parte de você, tornam-se seus olhos.

Você não pensa neles como algo separado de você.

Mas cada par de óculos pode dar sua própria cor às coisas.

Você é quem vê por detrás — os óculos não podem ver por si mesmos.

As coisas fora não têm a cor que os óculos estão impondo sobre elas, mas você
se tornou tão identificado com os óculos...

A mente do ser humano é também apenas um instrumento.

Os óculos estão fora do esqueleto, a mente está dentro do esqueleto, de modo


que você não pode tirá-la todo o dia.

E você está tão perto dela, lá dentro, que a própria proximidade se tornou a
identificação.

Assim, tudo aquilo que a mente vê é julgado como sendo a realidade.

E a mente não pode ver a realidade; a mente pode ver apenas seus próprios
preconceitos.

Ela pode ver suas próprias projeções exibidas na tela do mundo.

No mundo, o maior inimigo da verdade é a pessoa erudita — e o maior amigo


é aquele que sabe que nada sabe.
Nós fomos mandados, ensinados, programados de tal maneira que mesmo algo
como o amor tem de ser mental.

O amor é basicamente do coração, mas toda a nossa sociedade tem tentado


desviar-se do coração, porque ele não é lógico, não é racional.

Para a nossa mente, que foi treinada através da educação, qualquer coisa ilógica
está errada, qualquer coisa irracional está errada; somente algo lógico está certo.

E na nossa programação educacional não existe lugar para o coração; apenas


para a mente.

O coração foi praticamente removido da nossa existência, silenciado.

Nunca lhe foi dada uma chance para crescer, para que seu potencial se realize.

Assim, a mente está dominando.

A mente é boa no que se refere ao dinheiro, a mente é boa no que se refere à


guerra, a mente é boa no que se refere às ambições; mas a mente é
absolutamente inútil no que se refere ao amor.

Dinheiro, guerra, desejo, ambições — você não pode colocar o amor na mesma
categoria.

O amor tem uma nascente separada em seu ser, na qual não existe contradição.

Uma educação autêntica não ensinará apenas à sua mente — porque a mente
pode lhe dar uma boa maneira de ganhar a vida, mas não uma vida boa.

O coração não pode lhe dar uma boa maneira de ganhar a vida, mas pode dar-
lhe uma boa vida.

E não há razão para escolher entre ambos: use a mente para o que ela é feita e
use o coração para o que ele é feito.

As religiões, os políticos, os negociantes, os soldados — todos querem que a


mente seja treinada.

E o coração pode ser uma perturbação, ele vai ser uma perturbação.

Se você é um soldado e tem coração, você não pode matar o inimigo.


No momento em que você pega em sua arma para matar alguém, seu coração
dirá: “Assim como você tem uma esposa à sua espera — seus filhos, sua velha
mãe e seu velho pai —, a mulher deste pobre homem deve estar esperando
também; seus filhos, sua velha mãe e seu velho pai devem estar esperando que
ele volte para casa”.

Ele não lhe fez nada e você vai matá-lo.

Para quê?

Para ganhar uma condecoração da academia militar?

Para ser promovido?

Se você imagina a sociedade tornando-se uma sociedade ideal, um paraíso,


parece ser impossível; existem tantos conflitos e parece não haver maneira de
harmonizá-los.

Uma sociedade humana harmoniosa é possível, deveria ser possível, porque


será a melhor oportunidade para todos crescerem, a melhor oportunidade para
cada um ser ele mesmo.

As mais fecundas possibilidades estarão à disposição de todos.

Então parece que da maneira que está a sociedade é absolutamente estúpida.

Os utopistas não são sonhadores, mas os seus assim chamados realistas, que
condenam os utopistas, são estúpidos.

Ambos, porém, estão de acordo em um ponto — que alguma coisa precisa ser
feita na sociedade.

Todos eles estão preocupados com a sociedade — e essa é a falha deles.

Como eu a vejo, a utopia não é algo que não vai acontecer — é algo que é
possível, mas deveríamos ir às causas, não aos sintomas.

E as causas estão nos indivíduos, não na sociedade.

O ser humano esqueceu quem ele verdadeiramente é.


Praticamente tornou-se auto-hipnotizado com uma determinada idéia sobre si
mesmo e carrega essa idéia por toda sua vida, sem saber que isso não é ele,
mas somente uma sombra.
E você não pode realizar sua sombra.

Não há necessidade de nenhuma guerra, de nenhuma luta, não há necessidade


de ciúme, de ódio.

A vida é tão curta e o amor é tão precioso.

E quando você pode preencher sua vida com amor, com harmonia, com alegria,
quando você pode tornar sua vida uma poesia em si mesma...

Se você não o faz, somente você é responsável por isso, ninguém mais.

É apenas uma questão de compreensão; é necessário um simples insight para


não ser arrastado para baixo pelas forças da escuridão, da negatividade, da
destruição.

Simplesmente um pouco de atenção é necessária para devotar-se à criatividade,


ao amor, à sensibilidade e tornar esta pequena vida em uma série de canções
— de modo que você dance em sua vida e sua morte seja o crescendo de sua
dança; de modo que você viva totalmente e morra totalmente, sem queixas, mas
com agradecimento, com gratidão à existência.

Todos querem ser amados.


Esse é um começo errado.

E ele começa porque a criança, a pequena criança, não pode amar, não pode
dizer nada, não pode fazer nada — pode apenas receber.

A experiência de amor de uma criança pequena é a de receber — receber da


mãe, receber do pai, receber dos irmãos, irmãs, receber dos hóspedes, dos
estranhos, mas sempre receber.

Assim a primeira experiência se instala no fundo de seu inconsciente — de que


ela tem de receber amor.

Mas o problema surge porque todos foram crianças e todos têm a mesma ânsia
de receber amor; e ninguém nasce de uma maneira diferente.

Então todos estão pedindo: “Dê-nos amor” e não há ninguém para dar, porque a
outra pessoa foi também educada da mesma maneira.
Então é preciso estar alerta e consciente de que uma simples circunstância de
nascimento não deveria permanecer um constante estado predominante de sua
mente.

Em vez de pedir: “Dê-me amor”, comece a dar amor.

Esqueça sobre receber, simplesmente dê; e, eu lhe garanto, você receberá


muito.

A evolução funciona através de polaridades.


Assim como você não pode caminhar com uma só perna — você necessita de
duas pernas para caminhar —, a existência necessita de pólos opostos —
homem e mulher, vida e morte, amor e ódio — para criar o impulso; do contrário,
haverá silêncio.

O oposto por um lado o atrai e por outro lado faz você sentir-se dependente.

E ninguém quer ser dependente; por isso existe uma luta constante entre os
amantes.

Eles estão tentando dominar um ao outro.

O nome é amor, mas o jogo é política.

O esforço do homem é para dominar a mulher, para reduzi-la a um status inferior,


não permitir que ela cresça, de tal modo que ela sempre permaneça retardada.

A liberdade da mulher da escravidão pelo homem será também uma liberdade


que o homem vai experienciar.

Assim, eu digo que o movimento de liberação da mulher é não apenas de


liberação da mulher, mas também o movimento de liberação do homem; ambos
serão liberados.

A escravidão está amarrando a ambos e existe uma contínua luta.

A mulher encontrou suas estratégias próprias para atormentar o marido, para


ralhar com ele, para rebaixá-lo; e o homem tem sua própria estratégia.

E no meio desses dois campos de batalha estamos esperando que o amor


aconteça.

Passaram-se séculos — o amor não aconteceu, ou aconteceu apenas


raramente.
Esta é a situação do amor comum, que é apenas amor no nome, não uma
realidade.

Se você pergunta qual a minha visão do amor... não é mais uma questão de
dialética, de oposição.

O homem e a mulher são diferentes e complementares.

O homem sozinho é meio, assim como a mulher.

Somente juntos, num profundo sentimento de unicidade, eles sentem totalidade,


perfeição, pela primeira vez.

O que o homem tem feito à mulher, há milhares de anos, é simplesmente


monstruoso.

Ela não pode pensar em si mesma como igual ao homem.

E ela foi tão profundamente condicionada que, mesmo que você diga que ela é
igual, ela não vai acreditar.

Isso tornou-se quase a sua mente, o condicionamento de que ela é menos em


tudo — força física, qualidades intelectuais — tornou-se a sua mente.

E o homem que reduziu a mulher a tal estado também não pode amá-la.

O amor pode existir apenas em igualdade, em amizade.

Se você pode amar sem ciúme, se você pode amar sem apego, se você pode
amar tanto uma pessoa que a felicidade dela seja a sua felicidade — mesmo que
ela esteja com outra pessoa e seja feliz, isso faz você feliz, porque você a ama
tanto... a felicidade dela é a sua felicidade.

Você ficará feliz porque ela está feliz e você será grata à pessoa que tornou feliz
a pessoa que você ama — você não ficará com ciúme.

Então o amor chegou a uma pureza.

Esse amor não pode criar nenhum cativeiro.

E esse amor é simplesmente o abrir do coração a todos os ventos, ao céu inteiro.


O ciúme é muito complicado.
Existem muitos ingredientes nele.

Covardia é um deles; atitudes egoístas é outro; desejo monopolista — não uma


experiência de amor, mas somente de possessividade; uma tendência a ser
competitivo; um medo profundamente enraizado de ser inferior.

Tantas coisas estão envolvidas no ciúme.

O risco deveria ser um dos fundamentos básicos de um verdadeiro ser humano.


No momento em que você vê que as coisas estão ficando estáveis, mova-as.

Você é uma turba, uma multidão.


Você simplesmente tem de olhar mais de perto, mais profundamente e
encontrará muitas pessoas dentro de você.

E todas elas, em algum momento, fingem ser você.

Quando está com raiva, uma determinada personalidade o possui e finge ser
você.

Quando está amando, então outra personalidade o possui e finge ser você.

Isso não é apenas confuso para você, mas também para todos que entram em
contato com você, porque eles não podem entender.

Eles mesmos são uma multidão.

E em cada relacionamento não são duas pessoas se casando, mas duas


multidões se casando.

Vai haver continuamente uma guerra, porque raramente acontecerá — apenas


por acidente — de a sua pessoa amorosa estar no comando e a pessoa amorosa
do outro estar no comando.

Se não for assim, vocês continuam se desencontrando.

Você está amoroso, mas o outro está triste, ou zangado, ou preocupado.

E quando ele está num estado amoroso você não está.


E não há maneira de provocar essas personalidades, elas se movem por conta
própria.

Existe uma determinada rotação dentro de você — se ficar observando, não


interfira com essas personalidades, porque isso criará mais bagunça, mais
confusão...

Simplesmente observe, porque, observando-as, você vai se tornar alerta de que


existe também um observador, que não é uma personalidade, diante do qual
essas personalidades vêm e vão.

E essa não é outra personalidade, porque uma personalidade não pode observar
outra personalidade.

Isso é algo muito interessante e muito básico: uma personalidade não pode
observar outra personalidade, porque elas não têm nenhuma alma.

É como suas roupas.

Você pode mudar suas roupas, mas suas roupas não conseguem saber que
estão sendo trocadas, que agora outra peça de roupa está sendo usada.

Você não é as roupas, então você pode mudá-las.

Você não é uma personalidade — por isso você pode tornar-se consciente
dessas inúmeras personalidades.

Mas isso também deixa muito claro um ponto: existe algo que fica observando
todo esse jogo de personalidades ao seu redor.

E esse algo é você.

Assim, observe essas personalidades, mas lembre-se de que seu estado de


alerta é sua realidade.

Se você pode permanecer alerta da personalidade, essas personalidades


começarão a desaparecer; elas não conseguem viver.

Elas precisam de identificação para permanecer vivas.

Se você está com raiva, é por que está se esquecendo de observar e está se
identificando com ela — se você observa então a raiva não tem vida; já está
morta, morrendo, desaparecendo.
Permaneça então cada vez mais concentrado em sua observação e todas essas
personalidades desaparecerão.

Quando não sobrar nenhuma personalidade, então a sua realidade — o mestre


— chegou em casa.

Então você se comporta sinceramente, autenticamente.

Então tudo o que fizer você faz totalmente, completamente — você nunca se
arrepende.

Você está sempre num humor festivo.

Muitos dos nossos problemas — talvez a maioria de nossos problemas —


existem porque nunca os olhamos face a face, nunca os enfrentamos.

E não olhar para eles está lhes dando energia, ter medo deles está lhes dando
energia, estar sempre tentando evitá-los está lhes dando energia — porque você
os está aceitando.

A sua própria aceitação é a existência deles.

A não ser com a sua aceitação, eles não existem.

Você tem a fonte da energia.

Tudo o que acontece em sua vida necessita da sua energia.

Se você corta a fonte da energia e — em outras palavras isso é o que eu chamo


identificação —, se você não se identifica com nada, imediatamente aquilo se
torna morto, não tem energia própria.

E a não-identificação é o outro lado do estar alerta.

O hábito é fácil, a consciência é difícil — mas apenas no começo.

Nunca nos preocupamos com as raízes do amor e falamos somente sobre as


flores.

Dizemos às pessoas para serem não-violentas, para serem compassivas, para


serem amorosas — de tal maneira que você possa amar seu vizinho, de tal
maneira que você possa amar até seu inimigo.
Falamos sobre as flores, mas ninguém está interessado nas raízes.

A questão é: por que não somos seres amorosos?

Não é uma questão de ser amoroso com esta pessoa ou com aquela pessoa,
com o amigo ou com o inimigo; a questão é se você é amoroso ou não.

Você ama o próprio corpo?

Você já se importou em tocar o próprio corpo carinhosamente?

Você se ama?

Você está errado e tem de se corrigir.

Você é um pecador e tem de se tornar um santo.

Como você pode se amar? — você nem consegue se aceitar.

E essas são as raízes!

As flores plásticas são permanentes — o amor plástico será permanente.

A flor de verdade não é permanente, está mudando a cada momento.

Hoje ela está ali, dançando ao vento e ao sol e na chuva.

Amanhã você não será capaz de encontrá-la.

Ela desapareceu tão misteriosamente como havia aparecido.

O verdadeiro amor é como uma flor verdadeira.

O coração nada sabe do passado, nada sabe do futuro, sabe apenas do


presente.

O coração não tem o conceito de tempo.

Entenda que o passado e o futuro são ambos não-existenciais.


Tudo o que você tem é um instante muito pequeno: este próprio instante.

Você nem mesmo consegue outro instante.

Você sempre tem apenas um instante em suas mãos; e ele é tão pequeno e tão
fugaz que se você estiver pensando no passado e no futuro você o perderá.
E esta é a única vida e a única realidade que existe.

A política é uma doença e deveria ser tratada exatamente como tal.


E ela é mais perigosa do que o câncer.

Mas a política é basicamente suja.

E tem de ser, porque, para um posto, existem milhares de pessoas cobiçando,


almejando.

Então naturalmente elas lutarão, elas matarão, farão qualquer coisa.

Toda a programação da nossa mente está muito errada, pois fomos


programados para ser ambiciosos — e é aí que está a política.

Não é somente no mundo corrente da política; ela polui até mesmo a sua vida
cotidiana.

Mesmo uma criança pequena começa a sorrir para a mãe, para o pai, com um
sorriso falso.

Não existe profundidade atrás dele; ela sabe que sempre que sorri é
recompensada.

Ela aprendeu a primeira regra para ser um político.

Ela ainda está no berço e você lhe ensinou a política.

E então, nos relacionamentos humanos, em todo lugar, a política está presente.

O homem mutilou a mulher.

Isso é política.

A mulher constitui metade da humanidade e o homem não tem o direito de


mutilá-la; mas há séculos ele a vem mutilando.

Ele não lhe tem permitido educação, ele nem mesmo tem permitido que ela ouça
as sagradas escrituras.

Em muitas religiões ele não tem permitido que ela entre no templo; ou, se ele
permitir, ela tem uma seção separada.

Ela não pode estar em igualdade com o homem mesmo diante de Deus.
O homem tentou cortar a liberdade da mulher de todas as maneiras.
Isso é política, não é amor.

Você ama uma mulher, mas não lhe dá liberdade.

Que tipo de amor é este, que tem medo de dar liberdade?

Você a engaiola como a um papagaio.

Você pode dizer que ama o papagaio, mas você não percebe: você está matando
o papagaio.

Você tirou do papagaio todo o seu céu e lhe deu apenas uma gaiola.

A gaiola pode ser feita de ouro, mas mesmo uma gaiola de ouro não é nada
comparada com a liberdade dos papagaios no céu, movendo-se de árvore em
árvore, cantando seu canto — não o que você quer forçá-los a cantar, mas o que
é natural para eles, o que é autêntico para eles.

Metade da humanidade em todos os países, em todas as civilizações, tem sido


destruída pela política da família, que não deixa de ser política.

Sempre que houver a ânsia de se ter poder sobre outra pessoa, isso é política.

O poder é sempre político, mesmo sobre crianças pequenas.

Os pais pensam que amam, mas é apenas em suas mentes, tanto é assim que
eles querem que as crianças sejam obedientes.

E o que significa obediência?

Significa que todo o poder está nas mãos dos pais.

Se a obediência é uma qualidade tão grandiosa, por que não deveriam os pais
obedecer aos filhos?

Se é algo tão religioso, os pais deveriam obedecer aos filhos.

O poder nada tem a ver com a religião.

Tudo o que o poder tem a ver com a religião é que ele esconde a política numa
bonita palavra.

O ser humano necessita expor todos os pontos em que a política entrou — e ela
entrou em todo lugar, em todos os relacionamentos.

Ela contaminou toda a vida e a está continuamente contaminando.


A ambição criada é a de que você deve se tornar alguém no mundo, de que
você deve provar que não é uma pessoa comum, que é extraordinário.

Mas para quê?

A que propósito isso serve?

Serve apenas a um propósito: você se torna poderoso, outros se tornam


subservientes a você.

Você castrou a humanidade toda de diferentes maneiras— e essa castração é


bem política.

As pessoas amam a liberdade — mas ninguém quer a responsabilidade. E elas


vêm juntas, são inseparáveis.

Por que você deveria se preocupar com o reconhecimento?


A preocupação com o reconhecimento tem significado somente se você não ama
o seu trabalho; então ele é significativo, então ele parece ser um substituto.

Você odeia o trabalho, não gosta dele, mas você o está fazendo porque haverá
reconhecimento; você será apreciado, aceito.

Em vez de pensar sobre reconhecimento, reconsidere seu trabalho.

Você gosta dele?

Então esse é o objetivo em si mesmo.

Se você não gosta dele, mude-o então.

Os pais, os professores estão sempre insistindo que você deveria ser


reconhecido, que você deveria ser aceito.

Essa é uma estratégia muito astuta para manter as pessoas sob controle.

Aprenda uma coisa básica.

Faça o que você quer fazer, o que você gosta de fazer e nunca espere
reconhecimento.

Isso é mendigar.

Por que alguém deveria esperar reconhecimento?


Por que alguém deveria ansiar por aceitação?

Olhe profundamente dentro de você.

Talvez você não goste do que está fazendo.

Talvez você esteja com medo de estar no caminho errado.

A aceitação o ajudará a sentir que você está certo.

O reconhecimento fará com que você sinta que está indo em direção ao objetivo
certo.

A questão tem a ver com os seus próprios sentimentos internos, nada tem a ver
com o mundo exterior.

Por que depender dos outros?

E todas essas coisas dependem dos outros; você mesmo está se tornando
dependente.

Quando você evita essa dependência, você se torna um indivíduo — e ser um


indivíduo, vivendo em total liberdade sobre seus próprios pés, bebendo de sua
própria fonte, é o que torna uma pessoa verdadeiramente centrada, enraizada.

E esse é o começo de seu florescimento supremo.

Se a inteligência permanece inocente, é a coisa mais linda possível.


Mas, se a inteligência é contra a inocência, então ela é simplesmente esperteza
e nada mais; não é inteligência.

No momento em que a inocência desaparece, a alma da inteligência se foi, ela


é um cadáver.

É melhor chamá-la simplesmente de “intelecto”.

Ele pode torná-lo um intelectual notável, mas não transformará a sua vida e não
o tornará aberto aos mistérios da existência.

Esses mistérios estão abertos somente à criança inteligente.

E a pessoa verdadeiramente inteligente mantém a sua meninice até o seu último


suspiro.

Ela nunca a perde — a admiração que a criança sente olhando para os pássaros,
olhando para as flores, olhando para o céu...
A inteligência também tem de ser, de certa maneira, infantil.

É uma coisa estranha que a verdade não seja democrática.


O que é verdadeiro não é para ser decidido por votos, pois, assim, jamais
chegaríamos a qualquer verdade.

As pessoas votarão no que é confortável — e mentiras são muito confortáveis,


porque você não precisa fazer nada a respeito delas, você somente precisa
acreditar nelas.

A verdade necessita de grande esforço, descoberta, risco, e é preciso que você


caminhe sozinho por um caminho no qual ninguém antes caminhou.

As qualidades de uma pessoa madura são muito estranhas.


Primeiro, ela não é uma pessoa, ela não é mais um “self”.

Ela tem uma presença, mas não é uma pessoa.

Segundo, ela é mais como uma criança — simples e inocente.

É por isso que eu disse que as qualidades de uma pessoa madura são muito
estranhas, porque “maturidade” dá o sentido de experiente, de idosa, de velha.

Fisicamente ela pode ser velha, mas espiritualmente é uma criança inocente.

Sua maturidade não é simplesmente experiência ganha através da vida — então


ela não seria uma criança, não seria uma presença.

Ela seria uma pessoa experiente, culta, mas não madura.

A maturidade nada tem a ver com suas experiências de vida.

Tem algo a ver com a sua jornada interior, com as suas experiências interiores.

Quanto mais uma pessoa entra fundo dentro de si mesma, mais madura ela se
torna.

Quando ela alcança o próprio centro de seu ser, ela se torna perfeitamente
madura.
Mas nesse momento a pessoa desaparece, permanece somente uma presença;
o “self” desaparece, permanece somente o silêncio; o conhecimento
desaparece, permanece somente a inocência.

Para mim, maturidade é outro nome para realização.

Você chegou à efetivação de seu potencial.

Ele tornou-se real.

A semente fez a longa viagem e floresceu.

A maturidade tem uma fragrância.

Ela dá uma beleza extraordinária ao indivíduo.

Ela dá inteligência, a inteligência mais aguçada possível.

Torna-o somente amor.

Sua ação é amor, sua não-ação é amor.

Sua vida é amor, sua morte é amor.

Ele é simplesmente uma flor de amor.

A música moderna perdeu o encanto porque esqueceu seu propósito básico.


Esqueceu sua origem.

Ela não sabe que tem relação com a meditação.

E o mesmo é verdadeiro a respeito das outras artes.

Todas elas se tornaram não-meditativas e todas elas estão levando as pessoas


à loucura.

O artista está criando um perigo para si mesmo e também para aqueles que
serão a sua audiência.

Ele pode ser um pintor, mas sua pintura é maluca; não é resultado de um estado
meditativo.

Toda a função da mente é dividir continuamente.


A função do coração é perceber o vínculo de união sobre o qual a mente é
completamente cega.
As mentes medíocres não podem ficar loucas.

O pensamento de quietude e silêncio não excita ninguém.


Mas esse não é seu problema pessoal, é o problema da mente humana como
tal, porque estar quieto, estar silencioso significa estar em um estado de não-
mente.

A mente não pode ficar quieta.

Ela necessita estar continuamente pensando, preocupando-se.

A mente funciona como uma bicicleta: se você segue pedalando, ela continua;
no momento em que você pára de pedalar, você vai cair.

A mente é um veículo de duas rodas, exatamente como uma bicicleta; e o seu


pensar é um constante pedalar.

Mesmo que algumas vezes você esteja um pouco silencioso, imediatamente


você começa a se preocupar: “Por que estou silencioso?”

Qualquer coisa servirá para criar preocupação, pensamento, porque a mente só


pode existir de uma maneira — correndo, sempre correndo atrás de alguma
coisa ou correndo de alguma coisa, mas sempre correndo.

Na corrida está a mente.

No momento em que você pára, a mente desaparece.

Tentamos de todas as maneiras nos livrar do sentimento de sermos estranhos.


É por isso que criamos todos os tipos de rituais.

Um homem casa com uma mulher; e o que é o casamento? — apenas um ritual.

Mas por quê?

Porque eles querem se livrar daquela sensação de estranheza e de algum modo


criar uma ponte.

A ponte nunca é criada; eles apenas imaginam que agora um é o marido e a


outra é a esposa, mas eles permanecem estranhos.

Eles viverão juntos a vida toda, mas não serão outra coisa senão estranhos,
porque ninguém pode penetrar na solitude do outro.
Você somente pode deixar de ser um estranho se puder penetrar em minha
solitude, ou eu puder penetrar em sua solitude — o que não é possível, não é
existencialmente possível.

Podemos chegar o mais próximo possível, mas, quanto mais próximos nos
tornamos, mais nos tornamos conscientes de nossa estranheza, porque
seremos capazes de perceber melhor: “O outro é desconhecido para mim e
talvez incognoscível”.

Todos têm um tipo de armadura.


Existem razões para isso.

Primeiramente, a criança nasce completamente desprotegida em um mundo do


qual ela nada sabe.

Naturalmente ela tem medo do desconhecido que está à sua frente.

Ela ainda não esqueceu aqueles nove meses de absoluta segurança e proteção
— não havia problema, responsabilidade, preocupação com o amanhã.

Para nós, aqueles são nove meses, mas para a criança é uma eternidade.

Ela nada sabe sobre o calendário, nada sabe sobre minutos, horas, dias, meses.

Ela viveu uma eternidade em segurança e proteção absolutas, sem nenhuma


responsabilidade.

E então, subitamente, ela é jogada num mundo desconhecido, no qual depende


dos outros para tudo.

É natural que sinta medo.

Todos são maiores e poderosos e ela não pode viver sem a ajuda dos outros.

Ela sabe que é dependente; ela perdeu sua independência, sua liberdade.

Numa determinada altura, a armadura pode ser uma necessidade, mas


conforme você cresce, se não estiver apenas ficando velho, mas também ficando
adulto — crescendo em maturidade —, então começará a perceber o que está
carregando com você.

Olhe de perto e encontrará medo por trás da armadura.

Uma pessoa madura deveria livrar-se de tudo aquilo que esteja conectado com
o medo.

É assim que a maturidade chega.


Simplesmente observe todos os seus atos, todas as suas crenças e descubra se
eles têm base na realidade, na experiência, ou se têm base no medo.

E qualquer coisa baseada no medo tem de ser abandonada imediatamente, sem


pensar duas vezes.

Ela é a sua armadura.

Sua armadura psicológica não pode ser tirada de você — você lutará por ela.
Somente você pode fazer alguma coisa para abandoná-la e isso quer dizer: olhar
para cada parte dela, para todas as partes dela.

Se está baseada no medo, abandone-a então.

Se está baseada na razão, na experiência, na compreensão, então não é algo


para abandonar, mas algo para se tornar parte de seu ser.

Mas você não encontrará uma única coisa na sua armadura que tenha base na
experiência.

Tudo é medo, de A a Z.

E seguimos vivendo a partir do medo; por isso vamos envenenando todas as


experiências.

Amamos alguém, mas a partir do medo.

Isso estraga, envenena.

Buscamos a verdade, mas se é a partir do medo, então você não vai encontrá-
la.

Não importa o que você faça, lembre-se de uma coisa: a partir do medo você
não vai crescer, apenas encolherá e morrerá.

O medo está a serviço da morte.

Uma pessoa destemida tem tudo o que a vida deseja dar a ela como dádiva.
Agora não existem barreiras; você será banhado com dádivas e, não importa o
que esteja fazendo, você terá uma força, um poder, uma certeza, um formidável
sentimento de autoridade.
O que você precisa entender é o processo de identificação, como se pode ficar
identificado com o que não se é.

Neste momento você está identificado com a mente, pensa que é ela.

Daí o medo.

Se você está identificado com a mente, então, é claro, se a mente parar, você
se acabará, você deixará de ser.

E você não conhece nada além da mente.

A realidade é que você não é a mente, você é algo além da mente; assim sendo,
é absolutamente necessário que a mente pare, de modo que, pela primeira vez,
você possa saber que você não é a mente — porque você continua presente.

A mente se foi, você continua presente, e com maior contentamento, maior


glória, mais luz, mais consciência, um ser mais grandioso.

A realidade é que somos sós, somos estranhos — e o mundo será muito melhor
se aceitarmos a verdade básica de que somos estranhos.

E o que há de errado em apaixonar-se por um estranho?

Qual a necessidade de primeiro ter de destruir a sensação de estranheza para,


então, se apaixonar?

Uma das belezas da vida é sermos todos estranhos e não há maneira de mudar
essa realidade.

É lindo ter estranhos que o amam, ter estranhos como seus amigos, ter
estranhos pelo mundo todo.

Então o mundo todo torna-se um mistério — e ele é um mistério.

É um fato conhecido: você se apaixona por uma pessoa; você não se apaixona
pela pessoa real, você se apaixona pela pessoa de sua imaginação.

Enquanto vocês não estão juntos e você a vê de seu terraço, ou encontra a


pessoa na praia por alguns minutos, ou ficam de mãos dadas no cinema, você
começa a sentir: “Fomos feitos um para o outro”.

Mas ninguém é feito para o outro.


Você projeta cada vez mais imaginação em cima da pessoa, inconscientemente.

Você cria certa aura em volta dela; ela cria certa aura em volta de você.

Tudo parece lindo porque você está fazendo isso lindo, porque você está
sonhando isso, evitando a realidade.

E ambos estão tentando de todas as maneiras não perturbar a imaginação do


outro.

Assim a mulher está se comportando da maneira que o homem deseja que ela
se comporte; o homem está se comportando da maneira que a mulher deseja
que ele se comporte.

Mas você pode fazer isso somente por poucos minutos ou por poucas horas, no
máximo.

Uma vez que você tenha se casado e tenha de viver junto vinte e quatro horas
por dia, torna-se uma carga pesada seguir fingindo algo que você não é.

Apenas para corresponder à imaginação do homem ou da mulher, quanto tempo


você pode seguir representando?

Mais cedo ou mais tarde isso se torna uma carga e você começa a se vingar.

Você começa a destruir toda aquela imaginação que o homem criou à sua volta,
porque você não quer ser aprisionada nela; você quer ser livre e ser
simplesmente você mesma.

E é a mesma situação com o homem: ele quer ser livre e ser simplesmente ele
mesmo.

E esse é o conflito constante entre todos os amantes, todas as relações.

O amor permite liberdade.


O amor permite que qualquer coisa que o outro queira fazer, ele possa fazer.

Tudo o que ele quiser — se o deixa em êxtase, a escolha é dele.

Se você ama a pessoa, então não interfere na privacidade dela.

Você deixa intocada a privacidade da pessoa, não tenta invadir seu ser interior.

A exigência básica do amor é: “Eu aceito a outra pessoa como ela é”.

E o amor nunca tenta mudar a pessoa em função da própria idéia que se tem do
outro.
Você não tenta cortar a pessoa aqui e ali e deixá-la do tamanho certo — o que
tem sido feito em todos os lugares no mundo inteiro...

Se você ama, não existem condições.

Se você não ama, então quem é você para impor condições?

Ambas as situações são claras.

Se você ama, então impor condições não é o caso.

Você o ama como ele é.

Se você não ama, então também não há problema.

Ele não é ninguém para você; impor condições não é o caso.

Ele pode fazer tudo o que quiser fazer.

Se o ciúme desaparece e o amor ainda permanece, então você tem algo sólido
em sua vida, o qual vale a pena possuir.

Quando você está compartilhando seu contentamento, não cria uma prisão
para ninguém; você simplesmente dá.

Você nem mesmo espera gratidão ou agradecimento, porque está dando não
para conseguir alguma coisa, nem mesmo gratidão.

Você está dando porque está tão repleto... você precisa dar.

Assim, se alguém está grato, é você quem está grato à pessoa que aceitou seu
amor, que aceitou seu presente.

Ela o aliviou, permitiu a você que a banhasse.

E, quanto mais você compartilha e mais dá, mais você tem.

Então isso não o torna um avarento, não cria um novo medo, o de que “eu posso
perder isso”.

Na realidade, quanto mais você o perde, mais águas frescas fluem, vindas de
nascentes sobre as quais você não estava consciente anteriormente.

Se a existência toda é una e se a existência toma conta das árvores, dos


animais, das montanhas, dos oceanos — desde a menor folhinha de grama até
a maior estrela —, então ela também tomará conta de você.
Por que ser possessivo?

A possessividade mostra simplesmente uma coisa — que você não consegue


confiar na existência.

Você tem de conseguir uma segurança pessoal separada.

Você não pode confiar na existência.

A não-possessividade é basicamente confiança na existência.

Não há necessidade de possuir, porque o todo já é nosso.

Abandone a idéia de que o apego e o amor são uma coisa só.


Eles são inimigos.

É o apego que destrói todo o amor.

Se você alimenta e nutre o apego, o amor será destruído; se você alimenta e


nutre o amor, o apego desaparecerá por si mesmo.

O amor e o apego não são um; são duas entidades separadas e antagônicas
entre si.

E lembre-se sempre da regra básica da vida: se você idolatra alguém, um dia


você se vingará.

Você tem de estar alerta para não ser manipulado por ninguém, não importa
quão boas sejam as intenções da pessoa.

Você tem de salvar a si mesmo de tantas pessoas bem-intencionadas,


benfeitoras, que constantemente o aconselham a ser isso, a ser aquilo.

Ouça-as e agradeça-lhes.

Elas não querem fazer nenhum mal — mas mal é o que acontece.

Simplesmente ouça seu coração.

Esse é o seu único professor.


As pessoas o têm julgado e você aceitou a idéia delas sem um exame
minucioso.

Você está sofrendo todos os tipos de julgamentos das pessoas e está jogando
esses julgamentos em outras pessoas.

Esse jogo alcançou proporções incríveis e toda a humanidade está sofrendo com
isso.

Se você quer sair desse estado, a primeira coisa é: não julgue a si mesmo.

Aceite humildemente sua imperfeição, seus fracassos, seus erros, suas


fraquezas.

Não há necessidade de fingir o contrário.

Seja simplesmente você mesmo: “É assim que eu sou — cheio de medo.

Não consigo sair na noite escura, não consigo ir à floresta densa”.

O que há de errado nisso?

É simplesmente humano.

Quando você se aceita, é capaz de aceitar os outros, porque terá um insight


claro de que eles estão sofrendo da mesma doença.

E, aceitando-os, você irá ajudá-los a aceitar a si mesmos.

Podemos reverter todo o processo: você se aceita e isso o torna capaz de aceitar
os outros.

E, porque alguém os aceita, eles aprendem a beleza da aceitação pela primeira


vez — quanta paz se sente — e começam a aceitar os outros.

Se a humanidade chegar a um ponto em que cada um seja aceito da maneira


que é, praticamente noventa por cento da infelicidade irá simplesmente
desaparecer — ela não tem base— e os corações se abrirão por conta própria,
o amor estará fluindo.

A verdade é sempre pura, una, só.


E existe uma beleza grandiosa, porque a verdade é a própria essência da vida,
da existência, da natureza.

Somente o ser humano mente.


Uma roseira não pode mentir.

Ela tem de produzir rosas; não pode produzir margaridas — ela não pode
enganar.

Não lhe é possível ser de maneira diferente da que é.

Com exceção do ser humano, toda a existência vive em verdade.

A verdade é a religião de toda a existência — exceto a do ser humano.

E, no momento em que um ser humano também decide tornar-se parte da


existência, a verdade torna-se a sua religião.

E essa é a maior revolução possível de acontecer a alguém.

É o momento de glória.

Você não vê o mundo da maneira que ele é — você o vê da maneira que a sua
mente o força a vê-lo.

E isso você pode perceber em toda parte.

Pessoas diferentes são condicionadas de maneiras diferentes; e a mente nada


mais é do que condicionamento.

As pessoas vêem as coisas de acordo com o seu condicionamento — esse


condicionamento é uma determinada coloração.

Nós fazemos distinções; fazemos alguém superior, alguém inferior; o homem é


mais poderoso, a mulher é menos poderosa; alguém é mais inteligente, alguém
é menos.

Raças têm clamado ser o povo escolhido de Deus.

Todas as religiões estão clamando que o livro delas é escrito pelo próprio Deus.

Todas essas coisas, camada sobre camada, formam a sua mente.

A menos que você seja capaz de pôr a mente toda de lado e perceber o mundo
diretamente, instantaneamente, com a sua consciência, você nunca será capaz
de perceber a verdade.

Neste mundo, a coragem maior é colocar a mente de lado.

A pessoa mais valente é a que consegue perceber o mundo sem a barreira da


mente, simplesmente como ele é.
E ele é tremendamente diferente, incrivelmente belo.

Não existe ninguém que seja inferior e não existe ninguém que seja superior —
não existem distinções.

Em geral pensamos que intelectuais são pessoas inteligentes.


Isso não é verdade.

Os intelectuais vivem apenas de palavras mortas.

A inteligência não pode fazer isso.

A inteligência abandona a palavra — que é o cadáver — e toma apenas a sua


vibração viva.

O caminho da pessoa inteligente é o caminho do coração, porque o coração não


está interessado em palavras; está interessado somente no néctar que vem nos
recipientes das palavras.

Ele não acumula recipientes, mas bebe o néctar e joga fora o frasco.

Para mim, a pessoa religiosa não é aquela que está acima da natureza, mas a
que é totalmente natural, completamente natural, que vivenciou a natureza em
todas as suas dimensões, que não deixou nada inexplorado.

É preciso viver uma vida natural para alcançar uma morte natural.
A morte natural é a culminação de uma vida vivida naturalmente, sem nenhuma
inibição, sem nenhuma depressão — exatamente da maneira como vivem os
animais, como vivem os pássaros, como vivem as árvores; sem nenhuma
separação —, uma vida de entrega, permitindo que a natureza flua através de
você, sem quaisquer obstruções de sua parte, como se você estivesse ausente
e a vida estivesse se movendo por conta própria.

Em vez de você estar vivendo a vida, a vida vive você; você é secundário.

Então a culminação será uma morte natural.

A morte refletirá a culminação final, o crescendo de toda a sua vida.

De uma forma condensada, ela é tudo o que você viveu.


Assim, apenas pouquíssimas pessoas no mundo morreram naturalmente,
porque apenas pouquíssimas pessoas viveram naturalmente.

Temos medo da morte porque sabemos que vamos morrer, e nós não queremos
morrer.

Queremos manter nossos olhos fechados, queremos viver num estado como se
“todos os outros vão morrer, mas eu não”.

Essa é a psicologia normal de todo mundo: “Eu não vou morrer”.

Falar na morte é tabu.

As pessoas ficam com medo porque isso as faz lembrar de sua própria morte.

Elas estão tão preocupadas com trivialidades e a morte está chegando; elas
querem aquelas trivialidades para se manterem ocupadas.

Isso funciona como uma cortina: elas não vão morrer, pelo menos não agora, só
mais tarde, “quando acontecer, nós veremos”.

Aceitando a vida em sua totalidade, você também aceita a morte; aceita que ela
é simplesmente um descanso.

O dia todo você trabalhou e à noite você quer descansar — ou não?

O sono diário o rejuvenesce, torna você novamente capaz de funcionar melhor,


eficientemente.

Todo o cansaço se foi, você é novamente jovem.

A morte faz o mesmo em um nível mais profundo.

Ela muda o corpo, porque agora o corpo não pode ser rejuvenescido apenas
pelo sono comum; ele tornou-se muito velho.

É necessária uma mudança mais drástica, é necessário um novo corpo.

Sua energia vital quer uma forma nova.

A morte é simplesmente um sono, de modo que você possa facilmente penetrar


em uma nova forma.

Um homem que vive em função do medo está sempre tremendo por dentro.
Ele está continuamente a ponto de enlouquecer, porque a vida é imensa e, se
você está continuamente amedrontado, então todos os tipos de medo se tornam
disponíveis.

Você pode fazer uma lista enorme e ficará surpreso com o número de medos
presentes e ainda assim você está vivo!

Existem infecções por toda a volta, doenças, perigos, sequestros, terroristas —


e uma vida tão pequena.

E finalmente existe a morte, a qual você não pode evitar.

Toda a sua vida se tornará uma escuridão.

Abandone o medo.

O medo foi absorvido inconscientemente por você na sua infância.

Agora abandone-o conscientemente e seja maduro.

E assim a vida pode se tornar uma luz que vai se aprofundando conforme você
vai crescendo.

A responsabilidade não é um jogo, mas uma das maneiras mais autênticas de


viver — perigosa também.

Para mim, a desobediência é uma grande revolução.


Isso não significa dizer não em todas as situações.

Significa simplesmente decidir fazer algo ou não, se é benéfico fazê-lo ou não.

E assumir a responsabilidade sobre si mesmo.

A menos que você conheça a verdade de seu ser, nunca sentirá a imensa
bênção da vida.

Você nunca será capaz de transbordar de contentamento apenas pela simples


realidade da existência.

Se você não puder experienciar a verdade, não será capaz de se conectar com
este vasto cosmo — que é seu lar.
Ele o trouxe ao mundo e tem sobre você a tremenda expectativa de que você
crescerá até o ápice de sua consciência, porque através de você a existência
pode tornar-se consciente.

Não há outra maneira.

O intelecto é pensamento — e a consciência é descoberta em um estado de


não-pensamento, tão totalmente silencioso que nem mesmo um só pensamento
se move para perturbá-lo.

Nesse silêncio você descobre seu próprio ser — ele é tão vasto quanto o céu.

E conhecê-lo é conhecer algo realmente de valor; em outras palavras, todo o seu


conhecimento é lixo.

O seu conhecimento pode ser útil, utilitário, mas não vai ajudá-lo a transformar
o seu ser.

Ele não pode levá-lo a uma realização, ao contentamento, à iluminação, a um


estado em que você possa dizer: “Cheguei em casa”.

Não existe lar, a menos que o encontremos em nós mesmos.

Dar amor é a linda e verdadeira experiência, porque com ela você é um


imperador.

Receber amor é uma experiência muito pequena, é a experiência de um


mendigo.

Não seja um mendigo, pelo menos tratando-se de amor, seja um imperador,


porque o amor é uma qualidade inesgotável em você.

Você pode dar tanto quanto quiser.

Não tenha a preocupação de que ele se esgotará, de que um dia, de repente,


você descobrirá: “Meu Deus, eu não tenho mais nenhum amor para dar!”

O amor não é uma quantidade, mas uma qualidade e uma qualidade de certa
categoria que cresce ao se dar e morre se você a segura.

Se você é avarento com o amor, ele morre.


Assim, seja realmente esbanjador!

Não se importe para quem dar.

Essa é na verdade a idéia de uma mente mesquinha: “Eu darei amor a


determinadas pessoas que tenham determinadas qualidades”.

Você não entende que tem em abundância, que é uma nuvem de chuva.

Para a nuvem de chuva não importa onde chove — nas pedras, nos jardins, nos
oceanos —, isso não importa.

Ela quer descarregar-se e essa descarga é um tremendo alívio.

Assim, o primeiro segredo é: não peça amor.

Não espere, pensando que você dará se alguém lhe pedir — dê!

A coisa mais fundamental a lembrar é: quando você está se sentindo bem, num
estado de êxtase, não comece a pensar que esse vai ser seu estado
permanente.

Viva o momento alegremente, tão animadamente quanto possível, sabendo que


ele veio e irá embora — assim como uma brisa entra em sua casa, com todo o
seu perfume e frescor, e sai pela outra porta.

Se você começa a pensar em termos de tornar seus momentos de êxtase


permanentes, já começou a destruí-los.

Quando eles chegam, seja grato; quando eles se forem, agradeça à existência.

Permaneça aberto.

Isso acontecerá muitas vezes.

Não seja crítico, não seja um selecionador; permaneça sem escolher.

Sim, haverá momentos em que você se sentirá miserável.

E daí?

Existem pessoas que são miseráveis e que não conheceram sequer um só


momento de êxtase.

Você é afortunado.

Mesmo em sua miséria, lembre-se de que ela não vai ser permanente; ela
também irá embora.
Assim, não fique muito incomodado por ela.

Permaneça tranquilo.

Assim como o dia e a noite, existem momentos de alegria e existem momentos


de tristeza.

Aceite-os como parte da dualidade da natureza, como a própria maneira de ser


das coisas.

E você é simplesmente um observador; nem você se torna a felicidade, nem


você se torna a infelicidade.

A felicidade vem e vai, a infelicidade vem e vai.

Uma coisa permanece sempre presente, sempre e sempre — e este é o


observador, aquele que testemunha.

A meditação diz respeito ao próprio âmago de seu ser, o qual não pode ser
dividido em masculino e feminino.

Consciência é simplesmente consciência.

Um espelho é um espelho — não é masculino, não é feminino —, ele


simplesmente reflete.

A consciência é exatamente como um espelho que reflete.

E meditação é permitir que seu espelho simplesmente reflita, reflita a mente em


ação, reflita o corpo em ação.

Não importa se o corpo é o de um homem ou o de uma mulher; não importa


como a mente funciona — emocional ou logicamente.

Qualquer que seja o caso, a consciência tem simplesmente de estar alerta sobre
ele.

Esse estado de alerta, essa percepção, é meditação.

Lenta, lentamente, fique cada vez mais centrado no observador.


Dias virão e noites virão, vidas virão e mortes virão, o sucesso virá e o fracasso
virá.
Mas se você estiver centrado no observador tudo o mais é um fenômeno
temporário.

Apenas por um momento, tente sentir o que estou dizendo: seja simplesmente
um observador.

Não se apegue a nenhum momento por ele ser bonito e não rejeite nenhum
momento por ele ser miserável.

Pare de fazer isso.

Você vem fazendo isso há vidas e ainda não foi bem-sucedido e nunca será
bem-sucedido, jamais.

A única maneira de ir além é permanecer além, encontrar um lugar de onde você


possa observar todos esses fenômenos mutáveis sem ficar identificado.

A experiência vem e vai — não confie nela.


A menos que você tenha encontrado aquele que experiencia, aquele que está
sentindo a alegria, que está sentindo a dor, que está sentindo o bem-estar, que
está sentindo a tristeza, que é esta consciência...

Todos os esforços deveriam ser feitos para alcançar este centro mais profundo
do ciclone.

Toda sua vida é um ciclone de mudanças, de cenas mudando, de cores


mudando; mas bem no meio do ciclone existe um centro silencioso.

Este é você.

Quando você fica identificado com uma determinada idéia, então você está
doente.

Toda identificação é uma doença mental.

Na realidade, a mente é a sua doença.

Colocar a mente de lado e simplesmente olhar silenciosamente para a realidade,


sem nenhum pensamento, sem nenhum preconceito, é um modo saudável de
ficar familiarizado com ela.

E você encontrará uma realidade totalmente diferente.


A descoberta do real liberará você de muitas imbecilidades, de muitas
superstições.

Limpará seu coração de todos os tipos de lixo que as gerações têm jogado sobre
você.

As doenças se transmitem de uma geração para outra; você herda todo o


passado com todas as suas idéias estúpidas.

Se não fosse assim, não existiria distinção, não existiria comparação.

E, uma vez que você se liberta de fazer comparações e distinções, você se torna
leve, toda a sua existência se torna leve.

Você perde todo o peso.

Você se torna leve a ponto de poder abrir suas asas e voar.

Tudo passa, mas você permanece — você é a realidade.


Tudo é apenas um sonho — sonhos lindos existem, pesadelos existem.

Mas não importa se é um sonho lindo ou um pesadelo, o que importa é aquele


que está vendo o sonho.

Aquele que vê é a única realidade.

Aquele que vê é algo absolutamente eterno.

Apenas um pequeno vislumbre dele e todos os seus problemas começarão a


desaparecer, porque uma perspectiva totalmente nova surgirá, uma nova visão,
um novo estilo de vida, uma nova maneira de ver as coisas, de ver as pessoas,
de responder às situações.

E aquele que vê está sempre presente, vinte e quatro horas por dia.

Seja o que for que você estiver fazendo, ou não fazendo, ele está presente.

Tem estado presente há séculos, desde a eternidade, esperando que você


preste atenção a ele.

Talvez porque ele tenha estado sempre presente, por isso você o esqueceu.

O óbvio é sempre esquecido — lembre-se disso.

Quando você está sentindo um bem-estar, uma euforia, lembre-se dele.

Quando você está infeliz, angustiado, lembre-se dele.


Em todos os climas, em todos os humores, lembre-se dele.

Em breve você será capaz de permanecer centrado, não será preciso lembrar-
se.

E esse é o dia mais grandioso na vida de alguém.

Eu digo a você: não existe o mal e não existem forças malignas no mundo.
Existem apenas pessoas de consciência e pessoas que estão profundamente
adormecidas — e o sono não tem força.

Toda a energia está nas mãos das pessoas despertas.

E uma pessoa desperta pode acordar o mundo inteiro.

Uma vela acesa pode acender milhões de velas sem perder a sua luz.

A miséria nutre o seu ego — por isso você vê tantas pessoas miseráveis no
mundo.

O ponto básico, central, é o ego.

Para entender o amor, você primeiro deveria ser amoroso; somente então você
pode entender o amor.

Milhões de pessoas estão sofrendo; elas querem ser amadas, mas não sabem
como amar.

E o amor não pode existir como um monólogo; é um diálogo, um diálogo muito


harmonioso.

Aquilo que o satisfaz não é o que as pessoas dão a você; é o que você dá às
pessoas que satisfaz.

Não é tornando-se um mendigo que você ficará contente; é tornando-se um


imperador.

E o amor, quando você dá, torna-o um imperador.

Você pode dar em abundância, inesgotavelmente, pois, quanto mais você dá,
mais refinado, mais cultivado, mais perfumado seu amor se torna.
No momento em que você compreende o que é o amor, em que você
experiencia o que é o amor, você se torna amor.

Então não existe em você necessidade de ser amado e não existe em você
necessidade de precisar ser amoroso; ser amoroso será a sua simples e
espontânea existência, sua própria respiração.

Você não poderá fazer outra coisa; você será simplesmente amoroso.

Então, se em troca o amor não vem a você, você não se sentirá ferido, pela
simples razão de que somente a pessoa que se tornou amor pode amar.

Você só pode dar aquilo que tem.

Pedir às pessoas que o amem — pessoas que não têm amor em suas vidas, que
não chegaram à fonte de seu ser, onde o amor tem seu santuário... como elas
podem amá-lo?

Elas podem fingir, podem dizer que amam, podem até acreditar que amam.

Porém, mais cedo ou mais tarde, vai ser percebido que é somente fingimento,
que é somente representação, que é hipocrisia.

Talvez não haja intenção de enganá-lo, mas o que a pessoa pode fazer?

Você pede amor e a outra pessoa também quer amor.

Ambos compreendem que é esperado que você ame, para só então você poder
receber amor.

Assim, ambos tentam de todas as maneiras.

É uma postura, mas uma postura vazia.

Ambos vão descobrir isso e ambos vão se queixar um do outro, que isso não
está certo.

Desde o princípio eram dois mendigos mendigando um para o outro e ambos


têm somente mãos vazias.

O ego é a maior escravidão, o único inferno que conheço.

Aqueles que encontraram a fonte do amor dentro de si mesmos não têm mais
necessidade de ser amados — e eles serão amados.
Eles amarão por nenhuma outra razão além de simplesmente terem muito amor
— assim como uma nuvem de chuva quer chover, assim como uma flor quer
desprender seu perfume, sem desejo de conseguir qualquer coisa.

A recompensa do amor está em amar, não em conseguir amor.

E estes são os mistérios da vida: se uma pessoa é recompensada simplesmente


por amar, muitas a amarão, porque, por estarem em contato com ela, lentamente
começarão a descobrir a fonte dentro de si mesmas.

Agora elas conhecem pelo menos uma pessoa que irradia amor e cujo amor não
é fruto de nenhuma necessidade.

Quanto mais ela compartilha e irradia seu amor, mais ele cresce.

Não pense na verdade como um objeto — ela não é um objeto.


Não está lá — está aqui.

A mente funciona no “ou isso ou aquilo”; ou isso pode estar certo ou seu oposto
pode estar certo.

Ambos, ao mesmo tempo, não podem estar certos no que diz respeito à mente,
à sua lógica, à sua racionalidade. Se a mente é “ou isso ou aquilo”, então o
coração é “isso e aquilo”.

O coração não tem lógica, mas tem sensibilidade, perceptividade.

Ele pode ver que não apenas ambos podem estar juntos; na realidade, eles não
são dois.

É apenas um fenômeno visto de dois aspectos diferentes.

E, se a questão de escolha entre a mente e o coração se levanta, o coração está


sempre certo, porque a mente é uma criação da sociedade.

Ela foi educada, ela foi-lhe dada pela sociedade, não pela existência.

O coração não está poluído.

O coração é pura existência; portanto ele tem sensibilidade.

Olhe do ponto de vista do coração e as contradições começam a se derreter


como gelo.
Eu digo a você: para ser um com o universo, você tem de desaparecer e deixar
que a existência seja.

Você tem simplesmente de estar ausente, de modo que a existência possa estar
presente em sua totalidade.

Mas a pessoa da qual estou falando, que tem de desaparecer, não é a sua
realidade, mas somente a sua personalidade, apenas uma idéia em você.

Na realidade, você já é um com a existência.

Você não pode existir de nenhuma outra maneira — você é a existência.

Mas a personalidade cria uma ilusão e o faz sentir-se separado.

Você pode supor-se separado — a existência lhe dá total liberdade, mesmo


sendo contra ela própria.

Você pode pensar que é uma entidade separada, um ego.

E essa é a barreira que o está impedindo de derreter-se na vastidão que o rodeia


a todo momento.

Olhando para um pôr-do-sol, por um segundo você esquece sua separação;


você é o pôr-do-sol.

Esse é o momento em que você sente a sua beleza.

Mas, no momento em que você diz que esse é um lindo pôr-do-sol, você já não
o está mais sentindo; você voltou para a sua entidade do ego — separada e
fechada.

Agora a mente está falando.

E este é um dos mistérios: que a mente pode falar e não sabe nada, e o coração
sabe tudo e não pode falar.

Talvez saber muito torne difícil o falar; a mente sabe tão pouco, é possível para
ela falar.

A linguagem é suficiente para ela, mas não é suficiente para o coração.

Mas às vezes, sob o impacto de um determinado momento — uma noite


estrelada, um amanhecer, uma linda flor —, só por um instante você esquece
que está separado.

E o próprio esquecimento libera enorme beleza e êxtase.


Nada é permanente na vida, nada pode ser permanente.
Não está em suas mãos tornar algo permanente.

Somente coisas mortas podem ser permanentes.

Quanto mais viva uma coisa, mais fugaz ela é.

Hoje o amor está presente, amanhã não se sabe; pode estar, pode não estar.

Não está em suas mãos controlá-lo.

Ele é um acontecimento.

Você não pode fazer nada, você não pode criá-lo se ele não estiver presente.

Estando ou não estando presente, você é simplesmente impotente.

As pedras podem ser permanentes.

As flores não podem ser.

E o amor não é uma pedra.

É uma flor, e de uma qualidade rara.

O coração é a transcendência da dualidade.


O coração vê as coisas com clareza e o amor é sua qualidade natural — não há
necessidade de treinamento.

E esse amor não tem o ódio como contraparte.

Você é capaz de ir além da dualidade amor/ódio.


No momento eles estão de mãos dadas em sua vida.

Você ama a mesma pessoa que você odeia; assim, de manhã é ódio, à noite é
amor — e isso é algo muito confuso.

Você nem mesmo entende se ama a pessoa ou se a odeia, porque você faz
ambas as coisas em horas diferentes.

Mas essa é a maneira como a mente funciona — ela funciona através de


contradições.
A evolução também funciona através de oposições, mas essas oposições na
existência não são contradições, mas complementares.

O ódio é também um tipo de amor de cabeça para baixo.

O amor que vem da mente é sempre amoródio.


Não são duas palavras, é uma palavra: “amoródio” — nem mesmo um hífen as
divide.

E um amor que vem de seu coração está além de todas as dualidades...

Todos estão em busca daquele amor que vai além do amor e do ódio — mas
estão buscando com a mente e, por isso, são infelizes.

Todos os amantes sentem fracasso, decepção, traição, mas ninguém tem culpa.

A realidade é que está sendo utilizado o instrumento errado.

É como se alguém estivesse usando os olhos para ouvir música e então ficasse
enfurecido porque não existe música.

Mas os olhos não foram feitos para ouvir, nem os ouvidos foram feitos para ver.

A mente é um mecanismo muito sistemático e calculista; nada tem a ver com o


amor.

O amor será um caos, perturbará tudo nela.

O coração nada tem a ver com negócios — ele está sempre de férias.

Ele pode amar, e pode amar sem nunca transformar seu amor em ódio; ele não
tem o veneno do ódio.

Todos estão buscando por ele, mas somente com o instrumento errado; daí o
fracasso no mundo.

E aos poucos as pessoas, vendo que o amor só traz infelicidade, tornam-se


fechadas: “O amor é pura tolice”.

Elas criam uma barreira espessa contra o amor.

Mas perderão todas as alegrias da vida, perderão tudo o que é valioso...


A amizade é o mais puro amor, é a mais alta forma de amor — na qual nada é
pedido, não há nenhuma condição, na qual simplesmente se desfruta o dar.

Recebe-se muito, mas isso é secundário e acontece por conta própria.

Viver sem futuro é a coragem maior.


Somente covardes vivem no futuro.

O passado do homem foi muito covarde.

Vivia-se não no presente, mas no futuro: “Tudo o que deve acontecer vai
acontecer amanhã”.

E com essa esperança as pessoas viveram e morreram.

Aquilo que elas estavam esperando nunca aconteceu; provou ser um esperar
por Godot.

O presente permaneceu inexplorado, não vivido — e esta é a única realidade


que existe.

Não importa o que você queira que a sua morte seja, deixe primeiro que a sua
vida seja exatamente o mesmo — porque a morte não está separada da vida.

A morte não é um fim para a vida, mas somente uma mudança.

A vida continua, tem continuado, sempre continuará.

Mas as formas tornam-se inúteis, velhas, mais uma carga do que uma alegria;
então é melhor dar vida a uma forma nova, fresca.

A morte é uma bênção, não uma maldição.

O método mais simples de meditação é simplesmente um modo de


testemunhar.

Existem cento e doze métodos de meditação, mas o testemunhar é uma parte


essencial em todos os cento e doze métodos.

Assim, para mim, o testemunhar é o único método.


Esses cento e doze métodos são aplicações diferentes do testemunhar.

A essência, o espírito da meditação é aprender a testemunhar.

Você está vendo uma árvore; você está aí, a árvore está aí, mas você não
encontra uma coisa mais? — que você está vendo a árvore, que existe uma
testemunha em você que está vendo você vendo a árvore.

O mundo não é dividido somente entre o objeto e o sujeito.

Existe também alguma coisa além de ambos — e essa coisa além é a meditação.

Não ter lar é ser livre, é liberdade.


Significa que não existe apego, não existe obsessão com nada fora; que você
não está necessitando conseguir algum calor de fora, mas que seu calor está
dentro de você.

Você tem a fonte do calor, não precisa de mais.

Assim, onde quer que você esteja sem um lar, estará, estranhamente, em casa.

As pessoas que estão procurando pelo lar estão sempre caindo em desespero
e finalmente vão sentir:

“Fomos enganados, a vida nos enganou.

De algum modo ela nos deu o desejo de encontrar um lar — e absolutamente


não há um lar, ele simplesmente não existe”.

Tentamos construir um lar de todas as maneiras possíveis: encontramos um


marido, encontramos uma esposa, trazemos filhos ao mundo...

Tenta-se criar uma família — que é um lar psicológico.

Constrói-se não apenas uma casa, mas tenta-se torná-la quase uma entidade
viva.

Uma pessoa tenta construir uma casa de acordo com os seus sonhos, que ela
vai ser repleta de calor, que nessa frieza...

E ela é vasta, a frieza da existência.

O universo todo é tão frio, tão indiferente que você quer criar um pequeno abrigo
para você, onde possa sentir que está sendo cuidado, que alguma coisa o
protege, que tem alguma coisa que lhe pertence, que você é um proprietário,
não um andarilho sem lar.

Mas na realidade esse tipo de idéia vai criar infelicidade em você, porque um dia
você descobrirá que o marido com quem você viveu, a mulher com quem você
viveu — vocês são estranhos.

Mesmo após viverem cinquenta anos juntos, a sensação de estranheza não


desapareceu; pelo contrário, aprofundou-se.

Vocês eram menos estranhos no primeiro dia em que se encontraram.

Com o passar do tempo, ficando juntos, vocês se tornaram cada vez mais
estranhos, porque chegaram a conhecer um ao outro cada vez mais — e agora
não compreendem de modo algum quem é a outra pessoa.

Quanto mais você convive, menos conhece.

Parece que, quanto mais você se torna familiarizado com a pessoa, mais
consciente se torna de que a sua ignorância sobre o outro é absoluta; não há
maneira de destruí-la.

Seus filhos — você pensou que eles eram seus filhos e um dia descobre que
eles não são seus filhos.

Você foi simplesmente uma passagem através da qual eles vieram.

Eles têm sua própria vida — eles são absolutamente estranhos.

Não pertencem a você.

Eles encontrarão seus próprios caminhos e sua própria vida.

Quem está com você?

Ninguém está com ninguém.

Você está sempre numa multidão, mas só.

Estando sozinho ou na multidão, não faz diferença; estando no lar ou


simplesmente sendo um andarilho, não faz diferença.

Para o ego, a solitude nunca é uma alegria.


O ego aprecia apenas quando ele subordina alguém, quando ele pode dizer: “Eu
sou superior a você, maior que você”.

O ego nunca pode apreciar a solitude; em solitude, qual é o propósito de ter um


ego?

Viva e ame e ame total e intensamente — mas nunca contra a liberdade.


A liberdade deveria permanecer o valor supremo.

Continuamente nos tem sido ensinado que o amor é um relacionamento, de


modo que nos acostumamos com essa idéia.

Mas isso não é verdade.

Esse é o tipo mais inferior — muito poluído.

O amor é um estado de ser.

Cada vez que percebemos algo da verdade, há uma dança no coração.


O coração é o único testemunho da verdade.

E ele não pode testemunhar através de palavras.

O coração pode testemunhar à sua própria maneira: através do amor, através


da dança, através da música — não verbalmente.

Ele fala, mas não fala com a linguagem e a lógica.

O tempo é sempre incerto.


Esta é a dificuldade com a mente: a mente quer certeza — e o tempo é sempre
incerto.

Assim, quando apenas por coincidência a mente encontra um pequeno espaço


de certeza, ela sente estabilidade e uma espécie de permanência ilusória a
rodeia.
Ela tende a esquecer a verdadeira natureza da existência e da vida; ela passa a
viver numa espécie de mundo de sonho que começa a assumir a aparência de
realidade.

A mente sente-se bem com isso, porque ela está sempre com medo da
mudança, pela simples razão de que não se sabe o que a mudança trará, algo
bom ou mau?

Uma coisa é certa: que a mudança vai desestabilizar o seu mundo de ilusões,
expectativas, sonhos.

A mente é simplesmente como uma criança brincando à beira-mar, fazendo


castelos na areia.

Por um instante, parece que o castelo está pronto — mas ele é feito de areia que
se move.

A qualquer momento, apenas uma pequena brisa e ele desmoronará.

Mas nós passamos a viver nesse castelo de sonho.

Começamos a sentir que encontramos alguma coisa que vai permanecer sempre
conosco.

Mas o tempo segue perturbando a mente sem parar.

Parece duro, mas é na verdade muito compassivo que a existência permaneça


sempre com você.

Ela não permite que você construa realidades a partir de aparências.

Ela não lhe dá oportunidade de aceitar máscaras como sua face verdadeira,
como sua face original.

As pessoas pensam que permanecer imutáveis em seus princípios lhes dá uma


certa força.

Elas estão erradas.

Isso simplesmente suga toda a força delas.

Elas são as pessoas mais fracas da Terra.

Elas são como criancinhas que cresceram e continuam usando os pijamas que
foram feitos quando elas eram bebês.

Agora elas estão parecendo desajeitadas, estão sentindo alguma dificuldade.


Elas estão segurando seus pijamas todo o tempo porque eles estão caindo
frequentemente e as pessoas estão rindo.

Ora, assim como você cresce, seus pijamas também deveriam crescer.

Mas, porque pijamas não crescem, você tem de trocá-los.

Assim eu não vejo nenhum problema nisso.

Mas posso ver que essa não é a situação de uma pessoa apenas; milhões de
pessoas estão vivendo desse modo.

Elas criam uma disciplina rígida e se metem em apuros.

Ninguém está colocando tal dificuldade sobre elas — são seus próprios
princípios.

Se os abandonam, sentem-se mal; se os seguem, sofrem.

Ensino-lhes claramente uma vida sem princípios, uma vida de inteligência, a qual
muda com cada mudança a seu redor, de modo que você não tenha um princípio
que crie dificuldades na mudança.

Seja absolutamente sem princípios e simplesmente siga a vida e não haverá


miséria em sua vida.

Nós deveríamos romper com o passado — ele foi completamente mórbido.


O ser humano tem vivido uma vida muito doentia, porque criou uma filosofia
muito doentia e a seguiu muito seriamente.

Deveríamos romper com essa morbidez — não importa quão respeitável e antiga
— e redescobrir a totalidade do ser humano.

E isso pode ser feito somente quando juntamos brincadeira com reverência;
quando a brincadeira se torna uma profunda reverência; quando a reverência
não o leva a morrer, a renunciar, mas o leva a exultar, a dançar, a celebrar.

Viva como um guerreiro, dessa maneira ou daquela, mas nunca fazendo


concessões.

É melhor ser derrotado, mas totalmente, do que ser vitorioso através de


concessões.
Essa vitória não lhe dará nada a não ser humilhação; e a derrota sem
concessões ainda lhe dará dignidade.

A vida é misteriosa: às vezes a vitória é simplesmente vergonhosa e a derrota é


uma dignidade, porque a pessoa não fez concessões.

Num relacionamento, ser compreensivo significa que você pode estar errado e
a mulher pode estar certa.

Não é uma garantia de que, simplesmente por ser um homem, você tem o poder
e a autoridade de estar certo.

Nem a mulher tem isso.

Se fôssemos apenas um pouco mais humanos e um pouco mais amigáveis,


poderíamos dizer um ao outro: “Sinto muito”.

E quais são as coisas pelas quais você está lutando? — tão pequenas, tão
triviais, que, se alguém lhe perguntar sobre elas, você se sentirá embaraçado.

Simplesmente abandone a idéia de que tudo deve se ajustar; abandone a idéia


de que vai existir uma harmonia total — porque essas não são coisas boas.

Se tudo se ajusta, vocês ficarão entediados um com o outro.

Se tudo for harmonioso, você perderá todo o sabor do relacionamento.

É bom que as coisas não se ajustem.

É bom que haja sempre um hiato; desse modo sempre há alguma coisa para
explorar, alguma coisa para atravessar, alguma ponte para construir.

Nossas vidas inteiras podem ser uma tremenda investigação um do outro, se


aceitarmos as diferenças, a unicidade básica de cada indivíduo e não fizermos
do amor um tipo de escravidão, mas uma amizade.

A mente pode apenas funcionar com o esperado, com o conhecido.


Quando existe algo inesperado, desconhecido, então ela tem de parar.

E o cessar da mente é o som de uma mão batendo palmas.

É silêncio.
Quem vai ensiná-lo a sentar-se silenciosamente?
Essa é a coisa mais difícil do mundo.

Você pode fazer tudo com muita facilidade, mas a coisa mais fácil — sentar-se
silenciosamente — parece ser a mais difícil.

O amor tem de ser uma relação amigável na qual ninguém é superior, na qual
ninguém vai decidir sobre as coisas; na qual ambos estão completamente
conscientes de que são diferentes, de que sua perspectiva de vida é diferente,
de que pensam diferente e, ainda assim — com todas essas diferenças — eles
se amam.

Então você não encontrará nenhum problema.

Os problemas são criados por nós.

Não tente criar alguma coisa sobre-humana.

Seja humano e aceite o lado humano da outra pessoa, com toda a fragilidade
que é própria da humanidade.

O outro cometerá erros assim como você comete erros — e você tem de
aprender.

Estar juntos é um aprendizado enorme — em perdoar, em esquecer, em


compreender que o outro é tão humano quanto você.

Apenas um pouco de perdão...

Quando as pessoas falam, querem convertê-lo à opinião delas.


Isso é tentar expandir um império sutil.

Quando as pessoas falam, querem doutrinar você, porque todo aquele que tem
uma doutrina, bem lá no fundo, tem medo de ela ser ou não verdadeira.

A única maneira de sentir que ela é verdadeira é quando a pessoa consegue


doutrinar muitas pessoas e pode ver convicção e conversão em seus olhos.

Então ela sente-se à vontade, porque a aritmética é: “Se tantas pessoas estão
encontrando tanto conforto no que eu estou lhes dizendo, então deve haver
alguma verdade nisso”.
As pessoas estão falando aos outros para que elas mesmas consigam acreditar
no que estão dizendo.

A amizade pode ser de dois tipos.


Uma é a amizade na qual você é um mendigo; você precisa de alguma coisa do
outro para aliviar sua solidão.

A outra pessoa também é um mendigo, ela quer o mesmo de você.

E, naturalmente, dois mendigos não podem ajudar um ao outro.

Em breve eles verão que pedir a um mendigo dobrou ou multiplicou a


necessidade.

Em vez de existir um mendigo, agora existem dois.

Se desafortunadamente eles tiverem filhos, então é toda uma companhia de


mendigos que está pedindo — e ninguém tem nada para dar.

Assim, todos estão frustrados e raivosos e todos sentem-se tapeados,


enganados.

E, na realidade, ninguém está tapeando, ninguém está enganando, porque o que


tem você para dar?

O outro tipo de amizade, o outro tipo de amor, tem uma qualidade


completamente diferente.

Não é necessidade; você quer compartilhar porque você tem em abundância.

Um novo tipo de alegria chegou ao seu ser — aquela de compartilhar, da qual


você jamais esteve consciente antes, porque sempre esteve mendigando.

Quando você compartilha, não existe o apego.

Você flui com a existência, você flui com as mudanças da vida, porque não
importa com quem você compartilha.

Pode ser a mesma pessoa amanhã, toda a sua vida a mesma pessoa, ou podem
ser pessoas diferentes.

Não é um contrato, não é um casamento; é simplesmente a partir de sua


plenitude que você quer dar.

Assim, seja quem for que esteja perto de você, você dá.

E o dar é uma enorme alegria.


O ser humano nasce sem lar e permanece toda a sua vida sem lar; o ser
humano morre sem lar.

Aceitar essa verdade traz uma tremenda transformação.

Então você não procura pelo lar — porque o lar é algo lá, bem longe, alguma
coisa que não é você.

E todos estão procurando por um lar.

Quando você percebe que o lar é uma ilusão, então, em vez de procurar pelo
lar, você começará a procurar pelo ser que nasce sem lar, cujo destino é não ter
um lar.

Não existe maneira de construir um lar.

E este é um milagre: no momento em que você se dá conta de que é impossível


construir um lar, então esta existência toda se torna seu lar.

Então, onde quer que você vá, estará em casa.

No mundo dos hábitos, tudo é repetição.


No mundo da consciência, não existe repetição.

Na vida, tudo o que é significativo é absurdo.

Nenhuma pessoa inteligente está interessada em dominar os outros.


Seu interesse primeiro é conhecer a si mesma.

Assim, a mais alta qualidade da inteligência vai em direção ao misticismo e a


mais medíocre vai atrás de poder.

Esse poder pode ser mundano, político, pode ser de dinheiro... pode ser de ter
domínio espiritual sobre milhões de pessoas — mas a ânsia básica é como
dominar cada vez mais pessoas.

Essa ânsia surge porque você não se conhece e não quer saber que não se
conhece.
Você tem muito medo de se tornar consciente da ignorância que predomina no
próprio centro de seu ser; você escapa dessa escuridão através desses métodos
— desejo por dinheiro, por poder, por respeitabilidade, por honra.

E um homem que tem trevas dentro de si pode fazer qualquer coisa destrutiva.

A criatividade é impossível numa pessoa assim, porque a criatividade surge a


partir do seu estar consciente, um pouco alerta, tendo luz, amor.

A criatividade não está interessada absolutamente em dominar ninguém — para


quê?

O outro é o outro.

Nem você quer dominar ninguém, nem quer ser dominado por ninguém.

A liberdade é o próprio sabor de se estar apenas um pouco alerta.


A liberdade é o seu florescimento, sua flor-de-lótus abrindo-se ao sol da manhã.

E, a menos que isso aconteça, você não pode encontrar contentamento,


plenitude, a paz que se sente quando se chega em casa.

E todos estão carregando sua casa dentro de si.

Você não tem de ir a nenhum lugar; você tem de parar de ir, de modo que você
possa permanecer onde está, de modo que possa permanecer o que você é.

Simplesmente seja. E nesse silêncio absoluto de ser estão escondidos todos os


mistérios da existência.

Não busque o lar, porque não existe nenhum.


Busque a você, porque existe um!

O amor ajuda-o a alcançar o lugar no qual a confiança é possível.


Sem o amor, a confiança não é possível.

O amor é quase como uma ponte, que pode cair a qualquer momento; mas ainda
assim é uma ponte.
Se você conseguir usá-la, ela pode levá-lo à confiança, mas, sem ela, você não
pode alcançar a confiança diretamente.

Assim, o amor é uma necessidade, mas, em si mesmo, insuficiente.

Seu uso é como um meio; o final é a confiança.

No momento em que você confia na entrega, no momento em que você pára


de lutar contra a existência, então não precisa se preocupar com nada.

A existência toma conta.

Todo o problema com a mente humana é que ela está constantemente lutando.

Ela está tentando ir contra a corrente.

Existe uma razão pela qual ela age assim: somente indo contra a corrente o ego
é preenchido.

Indo simplesmente com o fluxo da vida, sem nenhuma luta, deixando a vida guiá-
lo para onde quiser, seu ego desaparecerá.

Você será, você será mais do que é agora — mais autêntico, mais verdadeiro —
mas não haverá um senso de “eu”.

E então você será capaz de ver para onde está indo.

Mesmo o caminho que está sendo criado à medida que você se move pode ser
visto por aqueles que não têm ego.

Você pode até ver as pegadas dos pássaros voando no céu.

Eles não fazem pegadas.

Mas, quando a mente está limpa do ego, o ser todo torna-se um espelho tão
limpo que mesmo essas pegadas são refletidas nele.

Uma coisa eu sei: a existência não tem objetivo e como parte da existência eu
não posso ter nenhum objetivo.

No momento em que você tem um objetivo, você se separa da existência.

Então uma gotinha de orvalho está tentando lutar contra o oceano.

Desnecessário é o problema, sem significado é a luta.


Na confiança está implícito tudo o que é lindo no amor.
“Confiança” talvez seja a mais linda palavra na linguagem humana.

E a confiança está tão perto da verdade que, se ela for total, então neste mesmo
momento sua confiança se torna a verdade, uma revelação, uma revolução.

O amor é lindo, mas mutável.


É lindo, mas não podemos contar com ele.

Hoje ele está presente, amanhã ele se foi.

O amor é mais suculento que a confiança, mais natural que a confiança, mas a
confiança é uma qualidade mais alta.

Nos dicionários, “confiança” é quase deturpada; significa confiar em alguém que


é digno de confiança; é mais objetiva — porque a pessoa é confiável, você confia
nela.

Não é sua qualidade, é a qualidade da outra pessoa da qual depende a sua


confiança.

E, porque raramente existem pessoas confiáveis por aí, milhões de pessoas


esqueceram o que é a confiança, não há oportunidade para ela.

É preciso uma pessoa confiável e não existem pessoas confiáveis em nenhum


lugar.

Ninguém confia em ninguém; por isso “confiança” tornou-se uma palavra estéril,
não experienciada — apenas uma palavra, sem força, sem sabor.

Quando eu uso a palavra “confiança”, esta é totalmente diferente: eu não quero


dizer que você confie em alguém que é digno de confiança.

Isso não é confiança.

A pessoa é digna de confiança, assim isso não é um crédito para você.

Quando eu digo “confie”, digo confie apesar da pessoa, apesar de ela ser ou não
digna de confiança.

Na realidade, quando ela não é confiável, então confie... somente assim você
encontrará pela primeira vez algo novo surgindo em sua consciência.

E então a confiança se tornará um fenômeno muito leve, muito mais superior que
o amor, porque não necessita nada do outro.
Somente um ser independente, completamente autônomo, vivendo em
liberdade, pode alcançar a experiência da verdade.

Quando você diz: “Eu te amo”, existe uma corrente sutil de possessividade.
Sem ser dito, é entendido que “agora você é minha propriedade — ninguém mais
deveria amá-lo”.

Na confiança não se coloca a questão de possuir a pessoa na qual você confia.

Pelo contrário, você está dizendo: “Por favor, possua-me, destrua-me enquanto
ego, ajude-me a desaparecer e a dissolver-me em você, de modo que não haja
resistência em relação a você”.

O amor é uma luta constante, uma batalha.

O amor exige.

“Eu te amo” significa: “Você também tem de me amar.

Na realidade, eu o amo somente porque quero que você me ame”.

É uma simples barganha; por isso o medo: “Você não deveria amar mais
ninguém, ninguém mais deveria amá-lo, porque eu não quero que ninguém seja
sócio no meu amor, que ninguém compartilhe o meu amor”.

A mente inconsciente do ser humano segue pensando como se o amor fosse


uma quantidade, como se existisse uma certa quantidade de amor: “Se eu o
amo, então você deve possuir toda a quantidade.

Se eu amo algumas outras pessoas, então a quantidade será distribuída; você


não receberá tudo”.

Por isso o ciúme, a espionagem, a luta, o censurar — tudo aquilo que é feio
continua atrás de uma linda palavra: “amor”.

Na confiança não se levanta a questão de luta.

É realmente uma entrega.

Quando você diz: “Eu confio em você”, significa: “A partir deste momento minha
luta com você termina.

Agora eu sou seu”.


A confiança não é competitiva; portanto não existe ciúme.
Você pode confiar em mim; milhões de pessoas podem confiar em mim.

Na realidade, quanto mais pessoas confiam em mim, mais feliz você ficará.

Você se alegrará que tantas pessoas estejam confiando.

Não é assim com o amor.

A confiança é certamente um valor mais alto que o amor.


Na confiança, o amor está implícito, no amor, porém, a confiança não está
implícita.

Quando você diz: “Eu confio em você”, é entendido que você ama.

Quando, porém, você diz que ama, a confiança nada tem a ver com isso.

Na realidade, seu amor é muito suspeitoso, muito desconfiado, muito


amedrontado, sempre em guarda, observando a pessoa que você ama.

Amantes tornam-se quase detetives.

Eles espionam um ao outro.

O amor é lindo se ele vem como uma parte da confiança, porque a confiança
não pode existir sem o amor.

Quando você diz “Eu te amo” não é uma entrega, não é uma disposição para
se dissolver, não é uma prontidão para ser levado a espaços desconhecidos e
incognoscíveis.

Quando você diz: “Eu te amo”, você se coloca em posição de igualdade e há


uma certa igualdade agressiva nisso.

Quando, porém, você diz: “Eu confio em você”, é uma entrega profunda, uma
abertura, uma receptividade, uma declaração a você mesmo e ao universo de
que “agora, mesmo que essa pessoa me leve ao inferno, está bem para mim.

Eu confio nela.

Se parece o inferno para mim, deve ser a minha falta de visão.

Ela não pode me levar ao inferno”.


Na confiança, você sempre encontrará as faltas em você.

No amor, você sempre encontrará as faltas na pessoa que você está amando.

Na confiança você está sempre, sem dizê-lo, num estado de desculpar-se,


porque: “Eu sou ignorante, estou dormindo, inconsciente.

Existe uma possibilidade de dizer alguma coisa errada, de fazer alguma coisa
errada, assim, seja misericordioso comigo, tenha compaixão por mim”.

A confiança abrange tanto, é tamanho tesouro...

Na verdadeira viagem da vida, a sua própria intuição é seu único professor.

Em vez de ir atrás do buscado, procure pelo buscador.


E, encontrando o buscador, de repente você descobrirá que toda a existência é
seu lar; assim, onde você estiver, estará em casa.

Simplesmente encontrando a si mesmo, você descobrirá que toda a existência


é seu lar.

O mundo do mais é o mundo da pessoa comum.

O mundo de não ir atrás do mais, de não estar atrás de nenhum objetivo à sua
frente, mas simplesmente olhando quem você é, no momento em que você está
e mergulhando no estar presente de sua consciência... esta é a única revolução
e a única religião e a única espiritualidade que existe.

Esta vidinha que você tem pode ser transformada num paraíso.
Esta mesma Terra é o paraíso.

Esta Terra é una, um todo único.


Deveríamos estar orgulhosos de que nosso planeta, neste vasto universo, em
que existem milhões de sistemas solares com milhões e milhões de planetas...

Nosso planeta é o único que originou não apenas vida, não apenas consciência,
mas produziu até mesmo o desabrochar último da consciência, em pessoas
como Gautama Buda, Lao Tzu, Tilopa e muitos mais.

Nós deveríamos estar orgulhosos deste planeta Terra.

Quando eu digo que, com exceção do ser humano, tudo é a verdade viva — o
oceano, as nuvens, as estrelas, as pedras, as flores —, que tudo nada mais é
que a qualidade da verdade, nada mais que ele próprio, sem máscara, que
somente o ser humano é capaz de enganar os outros, de enganar a si mesmo,
deve-se lembrar que essa é uma grande oportunidade.

Não deve ser condenada, deve ser exaltada, porque, mesmo que uma roseira
ou uma flor-de-lótus queiram mentir, elas não podem.

A verdade delas não é liberdade, a verdade delas é um cativeiro; elas não podem
ir além de seus limites.

O ser humano tem a prerrogativa, o privilégio de não ser verdadeiro.

Isso significa que o ser humano tem a liberdade de escolher.

Se ele escolher ser verdadeiro, não está escolhendo o cativeiro, está escolhendo
a verdade e a liberdade.

A liberdade é seu privilégio.

Em toda a existência, ninguém mais tem liberdade.

Mas existem perigos quando você tem oportunidades.

Quando você tem liberdade, você pode errar.

Nenhuma rosa pode errar, nenhuma rocha pode errar.

Você pode errar; por isso uma consciência profunda de cada ato, de cada
pensamento, de cada sentimento tem de penetrar você.

Somente o ser humano necessita buscar a verdade; tudo o mais já a tem, mas
a glória da liberdade não existe.

Você tem de buscá-la e encontrá-la; e, nesse próprio buscar e encontrar, você é


glorioso, você é o próprio coroamento da existência.
A miséria nada é além de escolha.
Você escolhe a experiência do amor, a sensação de êxtase, mas por escolher
você vai ser pego num processo natural.

Você se apegará a esses sentimentos — e eles não são permanentes, são parte
de uma roda que está se movendo.

Vamos pegar o dia e a noite como exemplos: se nós escolhemos o dia, o que
podemos fazer para evitar a noite?

A noite chegará.

A noite não traz miséria, é a sua escolha do dia em detrimento da noite que está
criando miséria.

Cada escolha está fadada a terminar num estado miserável.

O estado de não-escolha é o estado de êxtase.

E o estado de não-escolha é o fluir.

Isso significa que o dia chega, a noite chega, o sucesso chega, o fracasso chega,
os dias de glória chegam, os dias de condenação chegam — e, porque você não
escolheu nada, aquilo que vier estará certo para você, estará sempre bem para
você.

Aos poucos, lentamente, você verá uma distância crescendo em você; a roda
continuará se movendo, mas você não será pego nela.

Não importa a você se é dia ou noite.

Você está centrado em si mesmo; não está se agarrando a alguma outra coisa,
não está criando seu centro em algum outro lugar.

Toda a questão é se você é capaz de viver sem nenhuma escolha.

Seja o que vier, desfrute-o.

Quando ele se for, então outra coisa chega; desfrute-a.

O dia é lindo, mas a noite é linda à sua própria maneira — por que não desfrutar
ambos?

E você pode desfrutar ambos somente se não estiver apegado a um deles.


Assim, somente uma pessoa em estado de não-escolha saboreia a vida em sua
totalidade.

Ela nunca é miserável.

Seja lá o que acontecer, ela encontra uma maneira de desfrutar isso.

E esta é toda a arte da vida — encontrar uma maneira de desfrutá-la.

Mas a condição básica tem de ser lembrada: não-escolha.

Você pode não escolher somente se estiver alerta, consciente, vigilante; do


contrário, você vai cair na escolha.

A vida é certamente uma arte, a mais grandiosa das artes — e a fórmula mais
curta é a consciência sem escolha, aplicável a todas as situações, a todos os
problemas.

Uma vez que você aceite a vida em sua totalidade — a vida inclui a morte —
então a morte não é contra a vida, mas é simplesmente uma serva, assim como
o sono.

A sua vida é eterna — vai estar aí para todo o sempre —, mas o corpo não é
eterno; ele tem de ser mudado.

Ele torna-se velho e então é melhor ter um corpo novo, uma forma nova, em vez
de se arrastar adiante na velha forma.

Um homem de entendimento não terá nenhum problema.

Ele terá somente uma clareza para ver — e os problemas se evaporam.

Um tremendo silêncio é deixado atrás, um silêncio de imensa beleza e imensa


bênção.

A verdade é a maior das ofensoras.

O conhecimento emprestado é ignorância.


A verdade experienciada não o torna instruído, mas humilde.

Quanto mais você conhece, menos alega conhecer.


No dia que conhecê-la perfeitamente, você somente pode dizer: “Eu estou em
absoluta ignorância; eu sou simplesmente uma criança colecionando conchinhas
à beira-mar.

Eu não sei nada”.

“Eu não sei” pode somente ser dito por uma pessoa que sabe perfeitamente.

As pessoas que dizem “Nós sabemos” são pessoas absolutamente ignorantes,


mas suas memórias estão repletas.

Mas essas memórias são mortas, porque elas não deram à luz nenhuma
experiência própria.

Para mim, ser natural é ser espiritual.


Meu esforço é criar a pessoa natural — humana, sem culpa, aceitando todas as
fraquezas, as falhas a que está propenso o ser humano.

Nessa profunda aceitação de seu ser natural está a semente de sua


transformação.

Construímos nossas vidas cheias de coisas mundanas, atos mundanos, porque


não conhecemos um segredo simples que pode transformar a qualidade de tudo
o que fazemos.

E lembre-se: se você não conhece o segredo da transformação, em meio a essas


coisas mundanas, você também é mundano — a menos que você tenha uma
consciência que o torne sagrado e santo, que vai transformar tudo o que você
faz na mesma categoria em que você está.

Então, tudo aquilo que você toca se tornará sagrado.

Tudo aquilo que você faz se tornará santo.

Qualquer coisa bela, qualquer coisa que o lembre do além, criará um anseio
em você, um anseio que você não pode entender pelo quê.

Você não sabe o nome do objeto, porque na realidade não é por nenhum objeto.
Ouvindo uma bela música, olhando o pôr-do-sol ou simplesmente um pássaro
voando ou lindas rosas, ou sentado em silêncio, um doce sofrimento pode ser
sentido.

O anseio é por tornar-se um com este estado de sentimento, de modo que ele
não seja uma coisa fugaz que vai e vem, mas algo que permanece com você,
que se torna você.

A mesma música que hoje foi doce pode não ser doce amanhã, pode ser
aborrecida depois de amanhã.

Assim, não é a música, é uma outra coisa que foi ativada em você — o anseio
de estar em paz, de ser musical, de ter toda a beleza da existência e tê-la para
sempre.

É um anseio espiritual, um anseio pelo além, além de todas as experiências


passageiras; um anseio de parar o tempo e estar aqui e agora, neste momento,
eternamente.

Esta é a verdadeira religiosidade.

Quando sente a existência cara a cara — sem nenhum mediador, sem


nenhuma mente dada por outra pessoa a você — você prova alguma coisa que
o transforma, que o torna iluminado, desperto, que o leva ao ápice da
consciência.

Maior realização não há.

Maior contentamento não há.

Relaxamento mais profundo não há.

Você chegou em casa.

A vida torna-se uma alegria, uma canção, uma dança, uma celebração — e eu
chamo esta vida de religiosa.

Precisa-se de um ser humano que tenha sido educado sem nenhum sistema de
crença religiosa, sem nenhuma ideologia política.

Sua educação é somente um aguçar da inteligência, de modo que um dia ele


possa encontrar sua própria verdade.
E lembre-se: se a verdade não for a sua própria, ela não é a verdade.

Para ser a verdade, tem de ser a sua própria, sua própria experiência — você
não pode tomá-la emprestada.

Deus pode morrer, as religiões podem desaparecer, mas a religiosidade é algo


entrelaçado com a própria existência.

É a beleza do nascer do sol, é a beleza de um pássaro voando, é a beleza de


uma flor-de-lótus se abrindo.

É tudo o que é verdadeiro, tudo o que é sincero e autêntico, tudo o que é amoroso
e compassivo.

A religiosidade inclui tudo aquilo que o puxa para cima, que não o faz parar onde
você está, mas fica sempre lembrando-o de que você tem muito que andar.

Cada lugar em que você faz uma parada a fim de descansar é somente um
descanso durante a noite; pela manhã partimos novamente em peregrinação.

E é uma peregrinação eterna.

Eu quero que todos se tornem ciganos existenciais.


Vocês não precisam de raízes, vocês não são árvores.

Vocês são seres humanos.

A natureza não é angústia, é estado de êxtase.


Não é ansiedade, miséria, sofrimento.

É amor, é deleite, é uma celebração constante.

Nós resultamos desta natureza, nós somos parte desta natureza — herdamos
as mesmas qualidades em nossa consciência.
Confiança significa simplesmente que, aconteça o que acontecer, estamos
nisso alegremente.

Não relutantemente, não contra a vontade — então você perde o ponto —, mas
dançando, com uma canção, com uma risada, com amor.

Tudo o que acontece é para o bem.

A existência não pode agir mal.

Se ela não realiza nossos desejos, isso significa simplesmente que nossos
desejos estão errados.

A maior necessidade do ser humano é ser necessário.


Se alguém necessita de você, você se sente gratificado.

Mas, se a existência toda necessita de você, então não há limite para o seu
êxtase.

E esta existência necessita igualmente de uma folhinha de grama como da maior


estrela; a questão da desigualdade não se levanta.

Ninguém pode substituí-lo.

Se você não estiver presente, então a existência será algo menor e permanecerá
sempre algo menor — ela nunca será completa.

Esse sentimento, de que toda esta imensa existência precisa de você, leva
embora todas as misérias.

Pela primeira vez, você chegou em casa.

A evolução está tentando, através da humanidade, alcançar o apogeu da


consciência.

Poucas pessoas alcançaram; elas são prova suficiente de que todos podem
alcançar — apenas um pouco de esforço, apenas um pouco de sinceridade,
apenas um pouco de busca.

Tudo está lhe dizendo que a maneira que você está vivendo não é o bastante,
que as coisas que você está fazendo não são tudo, que a sua vida mundana é
somente superficial — sua verdadeira vida permanece, em muitos casos,
intocada.
As pessoas nascem, vivem e morrem sem saber quem elas são.

A existência toda é silenciosa.

Se você puder também ser silencioso, saberá quem é essa consciência dentro
de você.

E, sabendo disso, a vida se torna uma alegria, um deleite a cada momento, um


festival de luzes sem fim.

A verdadeira prece é somente uma, e esta é viver de tal modo que você começa
a se sentir grato à existência.

A existência deu-lhe tamanha oportunidade — pela qual você nunca pediu, a


qual você nunca mereceu e mesmo assim você a obteve.

E você desabrochou em milhares de flores e você deixou o mundo com a


fragrância da gratidão.

Aja mais conscientemente e você estará chegando cada vez mais perto de uma
qualidade que somente pode ser chamada de divindade — não Deus, não uma
pessoa, mas uma qualidade, uma fragrância.

Aja inconscientemente e você estará chegando cada vez mais perto de algo que
não pode ser personificado como demônio, mas pode somente ser chamado de
uma qualidade — o mal.

A mente inconsciente comporta-se de maneira errada; a mente consciente


comporta-se de maneira certa.

E a única religião que existe é a arte de transformar a mente inconsciente em


consciência, de modo que você não tenha a dualidade de consciente e
inconsciente, mas tenha somente uma — uma luz pura, uma consciência pura.

E, vindo desta consciência, tudo é divino.

Esteja sempre pronto para se mover do conhecido para o desconhecido — em


qualquer coisa, em qualquer experiência.

É melhor, mesmo que o desconhecido prove ser pior do que o conhecido — esse
não é o ponto.
Simplesmente sua mudança do conhecido para o desconhecido, sua presteza
para se mover do conhecido para o desconhecido é o que importa.

Isso é de imenso valor.

Lembre-se sempre de que o novo é melhor do que o velho.

Eu digo: mesmo que tudo o que é velho seja ouro, esqueça-o.

Escolha o novo — ouro ou não ouro, não importa.

O que importa é a sua escolha: sua escolha em aprender, sua escolha em


experienciar, sua escolha em penetrar na escuridão.

Meditação é a única resposta para todas as questões do ser humano.


Pode ser frustração, pode ser depressão, pode ser tristeza, pode ser o
sentimento de que nada tem significado, pode ser angústia; os problemas podem
ser muitos, mas a resposta é uma.

Meditação é a resposta.

Tem havido, em todo o mundo, tentativas para criar uma sociedade humana
harmoniosa, mas todas falharam, pela simples razão de que ninguém se
importou sobre o porquê de ela não ser naturalmente harmoniosa.

Ela não é harmoniosa porque cada indivíduo é dividido interiormente e suas


divisões são projetadas na sociedade.

E, a menos que dissolvamos as divisões internas do indivíduo, não existe


possibilidade de realizar verdadeiramente uma utopia e criar uma sociedade
harmoniosa no mundo.

Assim, a única maneira para uma utopia é sua consciência crescer mais e sua
inconsciência crescer menos, até que finalmente surja um momento em sua vida
em que não sobre nada que seja inconsciente; você é simplesmente pura
consciência.

Então não existe divisão.

Naturalmente, no mundo, a ação é necessária, não a inação.


Para todo o sucesso é preciso ação, não inação.

Para todas as ambições é preciso ação.

Assim, o mundo todo, pouco a pouco, focalizou-se na parte ativa.

Mas a parte ativa vai criar tensões, vai criar angústia, tristeza.

Mesmo que você alcance seu objetivo, descobrirá que não alcançou nada —
você simplesmente desperdiçou seu tempo e sua energia.

A parte ativa da sua mente não pode deixá-lo em um estado de silêncio,


relaxamento, simplesmente tranquilo, em casa.

Isso é impossível para a mente ativa.

É a mente inativa que pode lhe dar um lar onde descansar, um abrigo e um lindo
sentimento de que nada tem de ser feito, de que você é bom do jeito que você
é, de que você já está na meta; assim, você nem precisa se mover.

O mundo pode chegar a uma harmonia se a meditação for amplamente


disseminada e as pessoas forem trazidas a uma consciência de si mesmas.

Isso será uma dimensão totalmente diferente para trabalhar.

Até agora era a revolução.

O ponto era a sociedade, sua estrutura.

Isso falhou repetidas vezes de diferentes maneiras.

Agora deve ser o indivíduo; não a revolução, mas a meditação, a transformação.

E não é tão difícil como as pessoas pensam.

É apenas uma questão de compreender o valor da meditação.

Então é facilmente possível para milhões de pessoas se tornarem não divididas


dentro de si mesmas.

Elas serão o primeiro grupo humano a se tornar harmonioso.

E sua harmonia, sua beleza, sua compaixão, seu amor — todas as suas
qualidades — fatalmente ressoarão por todo o mundo.

A humanidade está em perigo a todo momento.


Ao final deste século, se tivermos sobrevivido, será um milagre.

Isso é algo fundamental para nos darmos conta de que a verdade pode ser
somente sua própria experiência.

Não há outra maneira de obtê-la.

Mentiras você pode obter em abundância — todos os tipos de mentiras, de todas


as cores, de todas as formas e tamanhos, aquela que você preferir.

Elas estão disponíveis e são convenientes.

Você não tem de se adaptar a elas, elas se adaptam a você.

É muito fácil; elas são feitas para você, elas são feitas sob medida para você.

A verdade é um assunto totalmente diferente.

Você terá de se adaptar a ela.

A verdade não conhece acordo.

Você terá de mudar em concordância com ela — você terá de passar por uma
transformação.

Uma pessoa com uma mente religiosa será religiosa em suas ações, relações,
em seus pensamentos, sentimentos.

Ela não precisa de uma igreja, ou sinagoga, ou templo.

O que ela precisa é de uma clareza de visão, um silêncio do coração, uma


experiência de seu próprio ser — porque sua experiência de seu próprio ser a
tornará consciente de que o mundo todo é divino, de que tudo o que existe está
em estágios diferentes de evolução, mas há nela o potencial da vida e o potencial
da consciência.

A mente não conhece três tempos.


Conhece apenas dois: passado e futuro.

O presente é não-existencial para a mente.


O existencial é não-existencial para a mente; e os não-existenciais são
existenciais para a mente.

Por isso todo o esforço é como sair da mente, como sair dos não-existenciais e
parar no meio — onde a existência está.

Como estar no presente? — esse é todo o truque da meditação.

E, no momento em que você está no presente, a iluminação é seu produto


derivado.

Todas as artes têm sua origem na meditação e todas as artes se afastaram para
longe da meditação — e isso é uma calamidade.

Idealmente todo artista, seja qual for a sua arte específica, deveria encontrar um
caminho em direção à meditação.

Mas não parece que seja assim.

Pelo contrário, a maioria dos artistas modernos, músicos, dançarinos, poetas,


escultores, em vez de chegarem até a meditação, terminam na loucura — esse
é o outro extremo oposto à meditação.

E a razão é que, nas fontes originais, os intervalos de silêncio eram importantes,


não as palavras.

Mas, conforme o tempo passou, as palavras se tornaram mais importantes que


os intervalos.

Nenhuma pessoa que tenha sido meditativa jamais cometeu suicídio, jamais
enlouqueceu, pela simples razão de que ela está indo em direção a mais
equilíbrio, em direção a mais harmonia interior e, finalmente, em direção à
harmonia absoluta — que é a harmonia da não-mente.

E alcançar a não-mente é alcançar tudo.

Não há nada mais do que isso, porque isso é paz, é silêncio, é estado de êxtase.

A não-mente é divindade, é imortalidade, é eternidade.

A psicologia ocidental ainda está perambulando ao redor das raízes.


Ela ainda não tocou a folhagem, as flores, os frutos.

A questão de entrar na não-mente nem se coloca; ela nem foi capaz de observar
toda a mente.

E sem conhecer toda a mente você não pode saltar para a não-mente.

A não-mente é realização.

A não-mente é iluminação.

A não-mente é liberação.

Os cientistas nunca serão capazes de compreender a profundeza abismal, a


escuridão e a parte misteriosa de suas próprias mentes.

Se existe somente uma ciência, pode haver somente uma religião.


Se uma ciência é suficiente para explorar o mundo objetivo, uma religião é
suficiente para explorar o mundo interior do ser humano; e essa única religião
não precisa ter nenhum adjetivo — cristã, hindu, taoísta ou qualquer coisa.

Assim como a ciência é simplesmente ciência, a religião é simplesmente religião.

Na realidade, existe somente ciência, com duas dimensões: uma dimensão


trabalhando no mundo exterior, a outra dimensão trabalhando no mundo interior.

Nós podemos até nos livrar da palavra “religião”.

Esta é uma regra fundamental da ciência, de que um mínimo de hipóteses


deveria ser usado.

Então por que usar duas palavras? — apenas uma palavra é suficiente.

E “ciência” é uma palavra linda, significa “conhecer”.

Conhecer o outro é um aspecto, conhecer a si mesmo é outro aspecto, mas


“conhecer” abrange ambos.

Se você está pronto para abrir uma nova porta dentro de seu ser, se você está
pronto para escutar com o coração, então tudo o que eu esteja dizendo é tão
simples que não é preciso acreditar, porque não há maneira de desacreditar.
É tão simples que não há maneira de duvidar disso.

Portanto eu sou contra a crença, pela simples razão de que em todos os meus
ensinamentos a crença não é necessária.

Eu sou totalmente a favor da dúvida, porque dos meus simples ensinamentos


você não pode duvidar.

Nossos condicionamentos não nos permitem ser naturais.


Nossos condicionamentos nos ensinam desde o princípio que temos de ser
alguma coisa mais que a natureza, que ser simplesmente natural é ser animal
— temos de ser sobrenaturais.

E parece muito lógico.

Todas as religiões têm ensinado isso — que ser gente significa ir acima da
natureza.

E elas convenceram, durante séculos, a humanidade a ir acima da natureza.

Ninguém foi bem-sucedido em ir acima da natureza.

Todo o sucesso delas tem sido em destruir sua beleza espontânea, natural, sua
inocência.

Quando uma pessoa madura se torna uma criança novamente... há uma


diferença entre as crianças comuns e as renascidas.

A criança comum é inocente porque é ignorante; e a inocência do renascido é o


maior valor na vida, porque não é ignorância, é pura inteligência.

A inocência sozinha torna-se ignorância.

A inteligência sozinha torna-se astúcia.

Juntas elas não são nem ignorância, nem astúcia, mas simplesmente uma
receptividade, uma abertura... um coração que é capaz de se maravilhar com a
menor coisa na vida.

E a pessoa que conhece a sensação do maravilhar-se, para mim, é a única


pessoa religiosa.

É através de seu maravilhar-se que ela chega a saber que a existência não é
apenas matéria, não pode ser.
Essa não é uma conclusão lógica para ela, não é uma crença para ela, mas uma
experiência real.

Uma experiência tão linda, tão misteriosa, tão incomensurável... ela indica
imensa inteligência.

Mas a existência não é astuta.

É muito simples, é inocente.

Assim, se pudermos guardar estas duas qualidades — inocência e inteligência


— juntas, não necessitaremos de mais nada.

Essas duas nos conduzirão à meta suprema da auto-realização.

Eu gostaria de dizer a você que apenas uma coisa determina um mestre


verdadeiro e essa coisa é que a presença dele pode tornar sua mente
adormecida subitamente viva; a presença dele pode pôr fogo em você.

Pode fazê-lo desabrochar em milhares de flores em apenas um instante.

O instante torna-se tão intenso que é quase igual à eternidade.

Esse é o único modo de determinar — tudo o mais não tem significado.

A mente vê as coisas em preto-e-branco — nada no meio.


Noite e dia — nada no meio.

Vida e morte — nada no meio.

Amor e ódio — nada no meio.

A mente simplesmente divide, fragmenta, corta uma coisa em duas realidades


polarizadas, separadas, torna-as tão contraditórias que parece impossível que
possa existir uma maneira de que elas não sejam separadas, de que elas
possam ser uma só realidade.

A mente tomou somente os dois extremos de uma realidade.

E assim é.

Logicamente, o amor e o ódio são opostos, contraditórios, mas existencialmente


isso não é verdade.

O amor pode se mover facilmente para o ódio, sem nenhuma barreira.


O ódio pode se mover para o amor, assim como as ondas se movem para outras
ondas, sem barreira em nenhum lugar.

É nossa idéia que a luz e a escuridão sejam duas realidades contraditórias.

Isso não é verdade; não há oposição.

No máximo podemos dizer que a luz é menos escura e que a escuridão é menos
luminosa.

Mas temos de usar alguma coisa que faça somente uma diferença de grau e não
crie nenhuma contradição.

E nós vemos todos os dias a vida se fundindo na morte, tão calmamente, tão
quietamente, sem fazer nenhum estardalhaço.

Você nem consegue escutar os passos da morte.

Não pode haver nenhuma contradição.

E aqueles que conhecem, conhecem também o outro lado — que a morte


continua se fundindo em novas formas de vida.

Todas as separações são feitas pelo ser humano — a existência não faz
separações.

Uma vez que comecemos a pensar numa não-separação, numa só realidade —


não dividindo em dualidades, dicotomias —, a cruz de nossa mente pode
desaparecer.

Ninguém o crucificou; você mesmo é responsável, porque você pode largar a


cruz e toda a sua mente pode tornar-se una.

Os pensamentos são substitutos da consciência.

Isto é algo a ser lembrado: quando você experiencia algo para o qual não haja
oposto, você chegou em casa.

Enquanto existir o oposto, você será continuamente despedaçado.

Entre essas duas experiências, você será apenas uma bola de futebol — às
vezes sentindo-se feliz, às vezes sentindo-se miserável, mas nunca sabendo,
você mesmo, que existe algo além de ambos, do belo e do depressivo.
Esse é o motivo pelo qual isso não pode ser traduzido em palavras, porque todas
as palavras são dualistas; do contrário, elas não teriam nenhum significado.

Esta é a natureza da linguagem: você não pode ter uma palavra sem ter o seu
oposto.

Se você não tem o oposto, então a palavra não terá nenhum significado.

Duas pessoas pensando são duas; duas pessoas não pensando são uma,
porque não existe separação, não existe fronteira — ambas estão no mesmo
estado.

Pensamentos serão diferentes, delinearão uma fronteira de separação.

Mas não-pensamento não tem fronteira, não tem separações, diferenças.

Dois seres inocentes são um.

O fenômeno sem nome ao qual a confiança absoluta conduz não é um


relacionamento.

É estar em identidade.

Os dois desaparecem... tornaram-se um círculo, um pólo.


E isso sempre ocorre sem nenhuma informação prévia, acontece
repentinamente, como uma brisa.

Tendo provado isso, porém — que em comparação o amor e a confiança


parecem ser muito pobres —, você conheceu a riqueza.

Pode ter sido somente por poucos segundos, não importa.

O amor não é muito confiável, mas útil.

Use-o e mova-se para a confiança.

Mas a confiança também não é uma prova cem por cento.

Mova-se além.

Então você não pode cair; então não há maneira de voltar atrás.

Então isso é algo que participa da eternidade.


Além do amor e da confiança há um espaço que não é nem objetivo, nem
subjetivo, ele simplesmente está lá.

Existem muitas coisas na existência às quais não se pode dar nome, e essas
são as coisas verdadeiras.

Aquilo ao qual se pode dar nome é de uma qualidade mais baixa, de uma
camada mais baixa.

Aquele espaço silencioso que não tem nome... ele contém o amor, contém a
confiança e mais.

E o “mais” é tão vasto.

Mas ele pode somente chegar, você não pode apanhá-lo.

Experienciar este momento é, ao mesmo tempo, experienciar tudo o que foi e


tudo o que será, porque este momento contém ambos.

Ele contém todo o passado, porque para onde vai o passado?

Ele continua sempre entrando no momento presente.

E ele contém todo o futuro, porque de onde vai vir o futuro?

O próximo momento, o momento seguinte e toda a eternidade crescerão deste


momento.

O momento presente é uma semente que possui todas as árvores do passado,


gerações e gerações de árvores.

Essa semente não veio do nada, ela veio de uma árvore.

Essa árvore veio de outra semente, essa semente, de outra árvore.

Se você volta para trás, a semente o levará bem para o princípio — se é que
existe algum princípio.

O princípio tem estado eternamente aqui.

E essa semente também contém as árvores futuras.

Dela, uma nova árvore crescerá e dessa árvore crescerão milhares de sementes
e milhares de árvores.

Uma única semente pode tornar a Terra toda verde ou, podemos até dizer, tornar
o Universo todo verde — tanto está contido numa pequena semente...
O momento presente é uma semente do tempo.
Ele é invisível — por isso não sabemos o que ele contém.

Ele contém todo o passado; ele contém todo o futuro.

Por isso eu insisto: não pense no passado, não pense no futuro.

Simplesmente permaneça no momento presente e o passado todo é seu e o


futuro todo é seu.

O desconhecido está sempre, continuamente, entrando no seu mundo


conhecido e perturbando-o.

Mas perturba-o apenas porque você não lhe dá as boas-vindas.

Se você puder acolher o desconhecido e se puder abandonar o conhecido...

E sempre o conhecido que é perturbado pelo tempo — não é o desconhecido.

O desconhecido não pode ser perturbado pelo tempo ou por qualquer coisa.

Se você está pronto para dar as boas-vindas ao desconhecido, você conhece o


segredo de permanecer vitorioso em todas as derrotas e em todos os fracassos.

A escuridão tem um silêncio e a escuridão tem uma profundidade.


A escuridão tem paz e a escuridão leva embora todo o seu conhecimento, leva
embora tudo o que você pensou que lhe pertencia.

Ela o leva totalmente para o desconhecido e para o misterioso.

Para mim, a escuridão é um dos mais grandiosos mistérios da existência — bem


mais grandioso do que a luz.

Aqueles que têm medo da escuridão nunca serão capazes de penetrar no seu
próprio ser.

Eles darão voltas e mais voltas e nunca alcançarão a si mesmos.

E tem de ser escuridão, não luz, porque a luz vem e vai; uma vez que você tenha
descoberto o ponto de escuridão em você, algo eterno, algo indestrutível, algo
mais do que a vida que você conhece é descoberto.

Esse algo é a substância básica da qual a existência é feita.


Um koan é um quebra-cabeça que não tem solução; não existe maneira de
resolvê-lo.

E uma estratégia para cansar a sua mente ativa — tanto, que ela cai pelo
cansaço; ela reconhece o seu fracasso.

Nesses momentos o foco pode facilmente ser movido.

Porque a mente se esgotou, você pode mover-se para a não-mente.

Foi por uma determinada razão que os místicos chamaram a meditação de


“não-mente”, porque, se você a chama de meditação, novamente a mente faz
dela um objetivo.

Então você tem de obter a meditação.

Assim, não faz diferença se o objetivo era a iluminação ou a meditação; o


objetivo permanece, o futuro permanece e continua destruindo o presente.

Os místicos que pela primeira vez mudaram de “meditação” para “não-mente”


tiveram um tremendo insight.

Ora, a não-mente não pode ser um objetivo.

A mente não pode tornar isso um objetivo.

É simplesmente absurdo — como pode a mente fazer um objetivo da não-


mente?

Ela dirá simplesmente que não é possível, a mente é tudo, não existe a não-
mente.

Essa foi uma estratégia para que você não pudesse fazer disso um objetivo.

Bem poucas pessoas entenderam a estratégia, de que este é o porquê de a


terem chamado não-mente — para impedir a mente de tornar isso um objetivo.

Assim, esteja cada vez mais num estado de não-mente.

Simplesmente vá removendo memórias, imaginação, para limpar e clarear o


momento presente.

E, à medida que isso vai se aprofundando, à medida que você se torna cada vez
mais capaz de ter a não-mente, a iluminação vem espontaneamente.
Assim como o amor funciona como um meio para a confiança, a confiança
também funciona como um meio para algo além — para o qual não existe palavra
em nenhum idioma.

É uma experiência.

Não é uma questão de amor, não é uma questão de confiança, mas algo
absolutamente desconhecido para a mente.

O amor e a confiança ajudam você a alcançá-lo.

Assim, lembre-se: eles são somente meios para um objetivo sem nome.

Mas de repente, quando a confiança é total, você pode ter um vislumbre dele...

É irresistível; você simplesmente desaparece.

A verdade não pode ser dita; assim, tudo o que possa ser dito vai ser uma
mentira linda— linda porque pode conduzir à verdade.

Então eu faço uma demarcação entre mentiras: mentiras lindas e mentiras feias
— mentiras feias que afastam você da verdade e mentiras lindas que aproximam
você da verdade.

Mas, no que diz respeito à qualidade delas, ambas são mentiras.

Mas essas mentiras lindas funcionam; portanto, de alguma maneira, elas


participam do sabor da verdade.

A verdadeira seiva da vida está dentro de você.


Neste mesmo instante você pode se voltar para dentro, olhar para dentro de você
mesmo.

Nenhuma adoração é necessária, nenhuma prece é necessária.

Tudo o que é necessário é uma viagem silenciosa para dentro de seu próprio
ser.

Eu chamo a isso meditação, uma peregrinação silenciosa ao seu próprio ser.

E, no momento em que você encontra seu próprio centro, você encontra o centro
de toda a existência.
O extremista é sempre um egoísta.

Em determinados momentos você está mais consciente; em determinados


momentos, menos consciente.

Assim é possível criar a situação para estar mais consciente.

Esse é o porquê da consciência tornar-se a base da meditação.

E com a consciência veio a surpresa de que, à medida que você se torna


consciente, os pensamentos desaparecem.

Quando você está totalmente consciente, não existem pensamentos e,


subitamente, o tempo pára.

Como você pode chegar a uma morte natural vivendo uma vida não-natural?

A morte é a opinião dos outros sobre você.

Somente uma pessoa que despertou pode morrer uma morte natural; do
contrário, todas as mortes são não-naturais, porque todas as vidas são não-
naturais.

A morte é simplesmente o ponto de culminação, o crescendo de sua vida.


Ela não é contra a vida, ela não destrói a vida.

Para morrer lindamente, tem-se de viver lindamente.

Para morrer admiravelmente e em exaltação, em êxtase, temos de nos preparar


a vida toda para o êxtase, a exaltação, a admiração.

Quando digo que você tem de desaparecer para a realização do supremo, eu


não quero dizer você; quero dizer o você que você não é.
Quero dizer o você que você pensa que é.

O você que você percebe quando é um com a existência não é o velho você.

Aquele era a sua personalidade e este é a sua individualidade.

Aquele foi dado pela sociedade e este é a natureza, a realidade, um presente da


existência.

A verdade não é um objeto que você vai encontrar em algum lugar quando
estiver silencioso.

A verdade é a sua subjetividade.

Tente simplesmente compreender.

Você está aí e o mundo está aí; tudo o que você vê é um objeto, mas quem está
vendo é o sujeito.

No silêncio, todos os objetos desaparecem — você tem todo o infinito e


simplesmente silêncio.

Ele é repleto de consciência, repleto de presença, repleto de seu ser.

Mas você não encontrará nenhuma coisa que seja a verdade.

Isso se tornaria um objeto — e a verdade nunca é um objeto.

A verdade é subjetividade.

Descobrir sua subjetividade — sem nenhum impedimento ou objeção —, na sua


total infinitude e eternidade, é a verdade.

O testemunhar é encontrar seu espelho interior.


E, uma vez que você o tenha encontrado, milagres começam a acontecer.

Quando você está simplesmente testemunhando os seus pensamentos, eles


desaparecem.

Então, subitamente, existe um extraordinário silêncio que você jamais


conhecera.

Quando você está observando seus estados de ânimo — raiva, tristeza,


felicidade — eles de repente desaparecem e um silêncio ainda mais grandioso
é experienciado.
Quando não existe nada para observar, então a revolução: a energia do
testemunhar volta-se para si mesma, porque não existe nada que a impeça, não
sobrou nenhum objeto.

A palavra “objeto” é linda.

Significa simplesmente aquilo que o impede, que “objeta” você.

Quando não existe objeto para o seu testemunhar, ele simplesmente volta-se
para você — para a fonte, e esse é o ponto em que a pessoa se torna iluminada.

A iluminação é simplesmente o reconhecimento de seu ser, o reconhecimento


da eternidade de seu ser, o reconhecimento de que não houve morte antes, nem
haverá morte novamente — de que a morte é uma ficção.

Vendo o seu ser em sua nudez total, em sua beleza absoluta, sua grandiosidade,
seu silêncio, sua bem-aventurança, seu êxtase — tudo isso está compreendido
na palavra “iluminação”.

Uma vez que você tenha experienciado esse néctar, a mente começa a perder
a garra sobre você, porque você encontrou algo que é qualitativamente tão
elevado, preenche tanto, um contentamento tão extraordinário, que a mente
sente que a sua função terminou.

A mente parece feia, porque só lhe deu miséria, preocupações, ansiedade.

Qual tem sido a sua contribuição para você?

Sua garra começa a afrouxar; ela começa a se esconder nas sombras e, pouco
a pouco, desaparece.

Você continua a viver, mas agora o seu viver é a cada momento; e o que você
obteve como subproduto naquela pequena brecha da não-mente continua a
crescer.

Não existe fim para esse crescimento.

Eu não estou tentando lhe dar nenhum ideal — que você tem de se tornar isso
ou aquilo.

Estou simplesmente tentando ajudá-lo a ver que você já é o que precisa ser.

Simplesmente abandone todo anseio, todo desejo, toda ambição de ser outra
pessoa, de modo que você possa ser apenas aquilo que você é.
Eu não quero distraí-lo do seu ser.

Quero chegar cada vez mais perto do seu ser, de modo que finalmente apenas
você seja deixado dentro de si mesmo.

O desejo enquanto tal é sempre não-espiritual.


Assim, não pode existir nenhum desejo espiritual.

O ser humano é o mais grandioso experimento da existência.


Neste vasto, infinito universo, somente nesta pequena Terra a existência foi
capaz de produzir a humanidade — a qual tem o potencial para tornar-se
totalmente consciente.

A existência espera muito de você.

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