Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Pepitas de
Ouro
Fragmentos de sabedoria em forma de pequenos textos
UNIVERSALISMO
Introdução
As palavras deste livro não precisam de introdução. Elas falam para todos nós:
pepitas de sabedoria sobre o amor, sobre a vida, sobre o mundo em que vivemos
— sobre você e eu. Uma olhadela em qualquer página nos leva para um mundo
novo, o mundo de Osho, o mais brilhante místico de nossa época.
Em outubro de 1985 Osho foi preso por quinze homens fortemente armados,
sem um mandado de prisão, e mantido sem permissão de fiança por doze dias.
Isso começou uma das mais estranhas sagas dos tempos modernos. O longo
braço do poder americano alcançou todo o globo: nem bem o avião de Osho
aterrissava em um país e uma voz americana falava pelo telefone com as
autoridades locais. Vinte e um países “democráticos” se dobraram à pressão e
recusaram hospedagem a Osho.
A certa altura parecia que a Grécia, a terra de Sócrates, poderia ter aprendido
com aquele erro anterior e estaria preparada para permitir que ele ficasse.
‘Eu descobri, durante esse tempo, que você é o mais nobre, o mais gentil e o
mais bravo de todos os homens que passaram por aqui. Especialmente agora
estou certo de que você não está zangado comigo, mas com eles; porque você
sabe quem é responsável. Então agora — você sabe o que eu vim dizer —
adeus, e tente suportar o que tiver que ser, da maneira mais fácil que puder’.
Assim falando, começou a soluçar e voltando-se, foi embora”.
Mas não foi assim; aqueles funcionários da Grécia moderna, assim como seus
colegas americanos que estavam “cumprindo ordens do governo”, não
aprenderam nada. Da mesma maneira como sucedeu com Sócrates, os
sacerdotes e políticos conspiraram para acusar Osho de corromper a juventude
e ameaçar a moral social. Cercado de uma falange de policiais armados que o
estavam escoltando a seu avião, Osho perguntou à imprensa ali reunida: “Que
tipo de cultura é essa que após dois mil anos pode ser corrompida por um homem
que está com um visto de turista de apenas duas semanas?”
E o que Osho fazia, enquanto os políticos e seus homens armados jogavam pela
janela cada noção de seus sagrados “direitos humanos”, na ansiedade de tirar
Osho da terra deles?
Ele estava, como sempre, o mais disponível possível àqueles que o amam, aos
discípulos que sentavam a seus pés sempre que podiam, no país ao qual
pudessem ir. Como refugiados internacionais, eles protegiam o Sócrates deles
o melhor que podiam e transcreviam suas palavras para o benefício de uma
época mais civilizada, de um mundo mais civilizado, que, esperavam, chegaria
um dia.
Aqui está uma amostra dessas palestras. Aqui está uma amostra do homem que
sacerdotes e políticos de todo o mundo tornaram o inimigo público número um.
Aqui está uma amostra de Osho, o homem que as autoridades de todo o mundo
desesperadamente tentam impedir que você descubra por si mesmo. Lendo,
você vai descobrir o porquê.
Swami Devaraj
Colônia
Alemanha Ocidental
Janeiro de 1988
Viva totalmente e viva intensamente, então cada momento se torna dourado e
toda a sua vida se torna uma sequência de momentos dourados.
Uma pessoa assim nunca morre porque ela tem o toque de Midas: tudo o que
toca se torna dourado.
Ao nascer, você não é uma árvore, você é apenas uma semente, você tem de
crescer até chegar ao ponto de seu florescimento, e este florescimento será a
sua alegria, a sua realização.
Este florescimento nada tem a ver com poder, nada tem a ver com dinheiro, nada
tem a ver com política.
Internamente ele não é um, por isso externamente não foi capaz de criar uma
sociedade una, uma humanidade una.
A causa não é externa.
Mas, porque o indivíduo parece ser tão pequeno e a sociedade parece ser tão
grande, as pessoas pensam que podemos mudar a sociedade e então os
indivíduos mudarão.
Não vai ser assim — porque “sociedade” é apenas uma palavra; existem
somente indivíduos, não existe sociedade.
A sociedade não tem alma, você não pode mudar nada nela.
Você pode mudar somente o indivíduo, por menor que ele pareça.
Sinto que um dia alcançaremos uma sociedade que será harmoniosa, que será
muito melhor que todas as idéias produzidas pelos utopistas durante milhares de
anos.
Você nunca está completamente satisfeito com o que você é e com o que a
existência lhe deu porque você tem sido distraído.
Você tem sido dirigido para onde a natureza não tencionava colocá-lo.
Você está tentando ser o que outros queriam que você fosse, mas isso não pode
ser satisfatório.
Quando não é satisfatório, a lógica diz: “Talvez não seja o suficiente — tenha
mais”.
Quando você chega perto começa então a ver que não é assim.
E você foi desencaminhado desde o princípio, assim, não importa o que faça,
você permanecerá infeliz.
Você vê alguém com muito dinheiro: talvez o dinheiro traga alegria, pensa você.
Alguém está fazendo alguma outra coisa e parece muito satisfeito — siga-o.
A sociedade fez uso disso para que você nunca pense sobre o seu próprio
potencial.
Simplesmente seja você mesmo e então não existe tormento, não existe
competição, não existe aborrecimento, porque outros têm mais, porque você tem
menos.
Se você gosta da grama mais verde, não há necessidade de olhar para o outro
lado da cerca; torne a grama mais verde no seu lado da cerca; é tão simples
tornar a grama mais verde.
O homem tem de estar enraizado em seu próprio potencial, seja ele qual for.
E o mundo ficará tão satisfeito que, você mal poderá acreditar.
Estar vivo significa ter senso de humor, ter uma profunda qualidade amorosa,
ter capacidade de brincar.
Sou totalmente contra todas as atitudes que negam a vida; e o respeito pelo
divino tem negado a vida.
Reverência pela vida é o único respeito pelo divino, pois não há nada mais divino
do que a própria vida.
O homem nasce com imensos tesouros, mas também nasce com toda a
herança animal.
Muitos de nossos problemas existem apenas porque nunca olhamos para eles,
nunca focamos nossos olhos neles para entender o que são.
Com uma vida tão pequena, com uma fonte de energia tão pequena, é
simplesmente estúpido desperdiçá-la em tristeza, em raiva, em ódio, em ciúme.
Faça, com sua energia, alguma coisa que o leve mais alto, e, quanto mais alto
você for, mais fontes de energia se tornam disponíveis para você.
Somos todos parte de uma única força vital — parte de uma única existência
oceânica.
O homem continua carregando muitos dos instintos animais — sua raiva, seu
ódio, seu ciúme, sua possessividade, sua astúcia.
O passado animal e o lado humano não podem existir como uma unidade,
porque o lado humano tem exatamente qualidades opostas.
Mas isso permanece apenas uma camada muito fina e a qualquer momento o
animal oculto pode vir à tona: qualquer acidente pode fazê-lo surgir.
Não existe algo rotulado “VERDADE” — que você encontrará um dia, abrirá a
caixa, verá o conteúdo e dirá: “Genial!
Encontrei a verdade!”
Viver de acordo com a verdade é muito perigoso, elas não podem correr o risco.
E ninguém realmente quer ser livre porque liberdade traz responsabilidade, ela
não vem sozinha.
Seja o que ele fizer, seja o que ele for, ele é responsável.
Uma pessoa verdadeiramente não-violenta é aquela que não mata ninguém,
que não fere ninguém, porque ela é contra o matar e contra o ferir.
Mesmo que alguém comece a feri-la, ainda assim, ela é contra o ferir.
Mesmo que alguém comece a matá-la, ainda assim ela é contra o matar; ela não
o permitirá.
Ela nunca iniciará qualquer violência, mas se a violência é iniciada contra ela,
então lutará com unhas e dentes.
Ser você mesmo lhe dá tudo o que você precisa para sentir-se pleno, tudo o
que pode tornar sua vida significativa, com sentido.
Ser você mesmo e crescer de acordo com sua natureza lhe trará a realização de
seu destino.
É imutável.
No dia em que você pára de mudar, de uma maneira sutil, você morre.
Viva sem medo algum do inferno, sem ambição alguma pelo paraíso.
Simplesmente viva.
Mas cometa tantos novos erros quanto você for capaz — não tenha medo,
porque essa é a única maneira pela qual a natureza lhe permite aprender.
Todos são tão infelizes que querem encontrar algum motivo em algum lugar
para explicar a si mesmos por que são infelizes, por que ele é infeliz, por que ela
é infeliz.
Não existe homem perfeito e homem nenhum jamais pode ser perfeito, perfeição
não existe — assim o julgamento é muito fácil.
Você é imperfeito, assim existem coisas que mostram sua imperfeição e então
você fica com raiva, com raiva de si mesmo, com raiva do mundo todo: “Por que
não sou perfeito?”.
E então você olha com uma única idéia — encontrar imperfeição em todos.
E então você quer abrir seu coração — naturalmente, porque, se não abrir seu
coração, não há celebração na sua vida, sua vida é quase morta.
Não existe tensão, existe uma harmonia enorme com a natureza, consigo
mesmo, com tudo da maneira que é.
Por que você não pode ser você mesmo do jeito que é?
Através dos tempos, os pais têm acreditado que os filhos lhes pertencem e
devem ser simplesmente suas cópias-carbono.
Essa é na verdade a obrigação dos pais: ajudar os filhos a não cair na imitação.
Até agora os pais têm apreciado muito o fato de que seus filhos sejam iguais a
eles.
Desse modo, uma vida é desperdiçada; então, o filho não é necessário, o pai
seria o bastante.
De certa maneira, você é muito livre: não pode ser condenado por sua ação.
A religiosidade não é algo em que se acreditar, mas algo a ser vivido, algo a ser
experienciado... não uma crença em sua mente, mas o sabor de todo o seu ser.
Apenas uma pessoa que foi além da mente pode deixar de julgar; caso contrário,
o que lhe parece ser fatual, uma afirmação válida, é simplesmente aparência.
Tudo o que a mente decide ou declara está poluído pelos seus condicionamentos
e seus preconceitos — é isso o que a torna julgadora.
É fato que ele está roubando — nenhuma dúvida a respeito —, e você faz uma
afirmação sobre o ladrão.
E o que é maldade?
Com base em uma única ação você está fazendo um julgamento sobre o todo
do indivíduo.
Com base em uma ação isolada você não pode fazer uma afirmação sobre a
pessoa inteira.
Você não conhece absolutamente a pessoa e você nem mesmo sabe em que
condições a ação aconteceu.
Talvez naquelas condições o roubar não fosse mau... porque toda a ação é
subordinada a condições.
A existência é uma.
São milhões as suas expressões, mas o espírito expresso é o mesmo.
Um dos maiores problemas que o dinheiro cria é que você nunca sabe se você
é desejado ou se o seu dinheiro é desejado.
E é tão difícil resolver isso que a pessoa preferiria não ter dinheiro.
O dinheiro é útil; não é pecado ter dinheiro, não é preciso sentir culpa.
Desfrute-o!
Se alguém o ama, não pergunte se é a você ou a seu dinheiro que ele ama,
porque assim você o coloca numa situação realmente desagradável.
Se ele disser que o ama, você não acreditará; se ele disser que ama seu dinheiro,
você acreditará.
Bem no fundo você continuará suspeitando que ele ama seu dinheiro, e não
você.
Mas nada está errado: o dinheiro é seu, simplesmente como seu nariz é seu,
seus olhos são seus e seu cabelo é seu.
Tente viver uma vida com tão pouca complicação e tão poucos problemas quanto
for possível — e isso está em suas mãos.
Seria certo comparar, se todos os indivíduos fossem iguais — eles não são.
Mesmo gêmeos não são totalmente iguais.
Assim, nós estamos comparando pessoas únicas, e isso cria todo o problema.
Uma das coisas mais difíceis da vida e das mais fundamentais é não dividi-la
entre coisas belas e coisas estúpidas — não dividir de modo algum.
E, para mim, senso de humor é essencial para que uma pessoa seja total.
O tempo todo você está sentado na cadeira de um juiz — e isso o torna sério.
Então as flores são lindas, mas e os espinhos? — eles são parte da existência
das flores.
Mas você divide — assim as flores são lindas e os espinhos se tornam feios.
Existem coisas pequenas que, se você julgar, parecem estúpidas, tolas. Mas
isso é devido ao seu julgamento; elas também preenchem algo essencial.
A mente não pode entender aquilo que está além das palavras; ela pode
entender somente aquilo que é linguística e logicamente certo.
Ela não tem relação com a existência, com a vida, com a realidade.
E, quanto mais profundamente você vive, uma parte maior de seu coração é
envolvida.
Todos não podem ser um Albert Einstein e todos não podem ser um
Rabindranath Tagore.
Mas isso não significa que Rabindranath Tagore é superior porque você não
pode ser ele.
Olhe amorosamente e verá que cada indivíduo tem algo que ninguém mais tem.
Simplesmente faça aquilo que lhe dê prazer — prazer a você e prazer a seu
ambiente.
Simplesmente faça algo que lhe traga uma canção e crie um ritmo de celebração
a seu redor.
Ela não tem princípios, não tem disciplina, não tem leis.
Qualquer idiota pode ser obediente — na realidade, somente idiotas podem ser
obedientes.
Ele está sempre ansiando por algum relacionamento, ansiando por estar com
alguém — com um amigo, com um pai, com uma esposa, com um esposo, com
um filho... com alguém.
Associando-se com tantas multidões, você está tentando esquecer algo que é
de repente lembrado na escuridão — que você nasceu só, que você morrerá só,
que, não importa o que faça, você vive só.
A solitude é algo tão essencial a seu ser que não há maneira de evitá-la.
O que é preciso não é algo com o qual você possa esquecer sua solidão; o que
é preciso é que você se torne consciente de sua solitude — a qual é uma
realidade.
Apenas a palavra “só” imediatamente o lembra de que ela é como uma ferida: é
necessário cobri-la com alguma coisa.
É um vazio e dói.
Assim, tente descobrir seu centro mais profundo, onde você está sempre só,
sempre esteve só.
Mas é tão pleno — não é vazio —, é tão pleno, tão completo e tão transbordante
com todas as seivas da vida, com todas as belezas e bênçãos da existência,
que, tendo provado sua solitude, a dor no coração desaparecerá.
Você pode não se dar conta disso hoje, mas um dia, quando você se tornar mais
consciente, você dirá: “Meu Deus!
Ninguém é diferente.
A cobiça é para preencher o vazio — com dinheiro, com casas, com mobília, com
amigos, com amores, com qualquer coisa, porque você não pode viver como um
vazio.
É aterrorizante.
Para ter a sensação de que você tem muito dentro de si, existem somente dois
caminhos.
Você entra em harmonia com o Universo... então você é preenchido com o todo,
com todas as flores e com todas as estrelas.
Mas, se você não fizer isso — e milhões de pessoas não estão fazendo —,
existirá apenas o caminho de encher-se com qualquer lixo.
Uma vez que você tenha compreendido isso, você não se importa com a cobiça.
Você se importa em chegar à comunhão com o todo, de modo que o vazio interior
desapareça.
Por um lado, as pessoas respeitam a pobreza e por outro lado dizem: “Ajude os
pobres”.
Estranho!
Se a pobreza é tão espiritual, então a coisa mais espiritual será tornar pobres
todos os ricos.
Ajude o rico a ser pobre para que ele possa tornar-se espiritual.
Se você não tem dinheiro, você é condenado, toda sua vida é uma maldição.
E a vida inteira você fica tentando ter dinheiro por qualquer meio.
Se você tem dinheiro, isso não muda a coisa básica — você quer mais e não há
fim para o querer mais.
E quando finalmente tem tanto dinheiro — embora não seja o suficiente, nunca
é o suficiente, mas é mais do que tem qualquer outra pessoa — você começa a
se sentir culpado, porque os meios que usou para acumular dinheiro são feios,
desumanos, violentos.
Então agora você tem o dinheiro, mas ele o faz lembrar-se de todos os crimes
que cometeu ao ganhá-lo.
Isso cria dois tipos de pessoa: o que começa a fazer doações para instituições
de caridade a fim de se livrar da culpa e o que se sente tão culpado que ou fica
louco ou se suicida.
E o estranho é que ele trabalhou a vida inteira para conseguir todo esse dinheiro,
porque a sociedade provoca o desejo, a ambição de ser rico, de ser poderoso.
E o dinheiro traz poder; ele pode comprar tudo, exceto aquelas poucas coisas
que não podem ser compradas.
A meditação não pode ser comprada, nem o amor, nem a amizade, nem a
gratidão pode ser comprada — mas ninguém se preocupa com essas coisas.
Simplesmente olhe para a existência e sua abundância.
Qual é a necessidade de tantas flores no mundo?
A natureza não é ascética; ela está dançando em toda parte — no oceano, nas
árvores.
Está cantando em toda parte — no vento passando através dos pinheiros, nos
pássaros...
Você não está em harmonia com o todo; e somente essa harmonia com o todo
pode torná-lo virtuoso.
Para mim a cobiça não é absolutamente um desejo, então você não precisa fazer
nada a respeito.
Você tem de compreender esse vazio que você está tentando preencher e fazer
a pergunta: Por que estou vazio?
Então seja existencial, flua e mova-se para mais perto da existência, em silêncio
e paz, em meditação.
E um dia você perceberá que está tão pleno, muitíssimo pleno, transbordando
de contentamento, de êxtase, de bênçãos.
Você tem tanto que pode dar para o mundo inteiro e mesmo assim não se
esgotará.
Nesse dia, pela primeira vez, você não sentirá nenhuma cobiça — por dinheiro,
por comida, por coisas — por nada.
Você viverá, não com uma ambição que não pode ser preenchida, com uma
ferida que não pode ser curada; você viverá com naturalidade e o que for preciso
você encontrará.
E eu não consigo imaginar uma pessoa que possa ter tudo neste mundo.
Você é aceito pelo Sol, você é aceito pela Lua, você é aceito pelas árvores, você
é aceito pelo oceano, você é aceito pela Terra.
Deleite-se nele.
Você deveria trabalhar não para ser reconhecido, mas porque você sente prazer
em ser criativo.
Se todos aprendessem esta simples arte — de gostar do seu trabalho, seja ele
qual for, divertindo-se com ele, sem esperar nenhum reconhecimento —,
teríamos um mundo mais lindo e celebrativo.
Aquilo que você está fazendo não é bom porque você gosta, porque você o faz
com perfeição, mas porque o mundo reconhece isso, recompensa-o, dá-lhe
medalhas de ouro, prêmios Nobel.
Para essas pequenas coisas não há recompensas, títulos dados pelos governos,
graus honorários dados pelas universidades.
Qualquer pessoa que tenha algum senso de sua individualidade vive pelo seu
próprio amor, pelo seu próprio trabalho, sem se importar absolutamente com o
que os outros pensam disso.
Não estávamos segurando nada, mas colocando todo o nosso ser no ato.
Não existe a questão do “deveria ser”, porque quem somos nós para impor
qualquer “deveria” em alguém?
Se a existência o aceita como você é, então quem sou eu para não aceitá-lo?
Não é preciso que ele seja outra pessoa para ser aceito; ele já é aceito.
Não há uma só pessoa no mundo, por mais pobre, que não tenha nada a
oferecer.
Por que não criar uma vida na qual o dinheiro não determine uma hierarquia,
mas simplesmente dê mais e mais oportunidades para todos?
Elas querem provar que são alguém, que a palavra delas é a lei.
Todas essas responsabilidades não vão ser uma carga para você.
Todas elas vão torná-lo mais maduro, mais centrado, mais enraizado, um
indivíduo mais lindo.
Você tem apenas um momento em suas mãos — o momento real. E você não
terá esse momento de volta. Ou você o vive ou o deixa sem viver.
A criança pode estar pegando conchinhas na praia e seus pais dirão: “Jogue-as
fora.
Ela pode perceber a diferença, pode perceber que seus valores são diferentes.
Ela não consegue perceber por que eles estão tão interessados em dinheiro: “O
que vocês vão fazer com ele?”
E seus pais não conseguem perceber o que ela vai fazer com essas borboletas
ou com essas flores.
O único problema é que ela tem medo de afirmar que está certa.
Elas sabem que poderiam ter arriscado, mas se mostraram covardes, aos
próprios olhos elas caíram, perderam o auto-respeito.
Você não pode ser mais do que total — essa é a última linha.
Toda a sua mente falará em favor das concessões, porque assim fomos
educados, condicionados.
Significa: “Eu dou metade, você dá metade; eu deixo por meio, você deixa por
meio”.
Quando você tem o todo, quando você pode comer o bolo e tê-lo também, por
que então fazer acordo?
Por que não criar uma vida em que o sexo não traga experiências amargas,
ciúmes, fracassos; em que o sexo se torne simplesmente diversão — nada mais
do que qualquer outro jogo, simplesmente um jogo biológico?
Você joga tênis; isso não significa que por toda a sua vida você tenha de jogar
tênis com o mesmo parceiro.
Use toda a oportunidade na vida para elevar sua inteligência, sua consciência.
Em geral o que estamos fazendo é usar cada oportunidade para criar um inferno
para nós mesmos.
Somente você sofre e, devido a seu sofrimento, você faz os outros sofrer.
Quando muitas pessoas que estão vivendo juntas criam sofrimento umas em
relação às outras, ele vai se multiplicando.
Não lhes diga o que está certo e o que está errado — deixe-os descobrir pela
própria experiência.
Uma vez que você entenda que seus filhos não lhe pertencem, que eles
pertencem à existência e você foi simplesmente uma passagem, você tem de
ser grato à existência por havê-lo escolhido para ser uma passagem para umas
poucas crianças lindas.
Elas não vão viver nos mesmos tempos, não vão se defrontar com os mesmos
problemas.
Não as prepare para este mundo, esta sociedade, este tempo, porque então
você estará criando problemas para elas.
A crueldade é um mal-entendido.
Ela surge em nós devido ao medo da morte.
Nós não queremos morrer, assim, antes que outra pessoa o mate, você gostaria
de matá-la — porque o melhor método de defesa é o ataque.
Quando você ataca alguém, seu coração vai se tornando, bem lentamente, cada
vez mais duro e você começa a ter prazer em atacar.
O fenômeno pode ser visto nos animais, devido à mesma competição por
comida, por poder...
Se isso significa violência, então que seja violência, mas a pessoa tem de ser a
primeira.
Então não tem importância; você não precisa correr, você pode deixar o outro ir
à sua frente, porque o pobre-coitado não sabe que o mundo é infinito, que a vida
é infinita.
Na realidade, ao lutar e ser cruel e violento com o outro, você pode perder muito,
porque todo esse processo o endurecerá, fará de seu coração uma pedra.
E o coração, tornado pedra, vai perder tudo o que é grandioso, tudo o que é belo,
tudo o que é extático.
Mas o verdadeiro problema é que também é difícil explicar aos seres humanos
que através da competição, da ambição violenta, chegando sempre em primeiro
lugar você está criando um mundo insano no qual ninguém desfruta nada e todos
permanecem pobres.
Aqueles que querem apenas pensar sobre a vida, sobre o viver, sobre o amor
— para eles o passado e o futuro são perfeitamente belos, porque lhes dão uma
oportunidade perfeita.
Eles podem decorar seu passado, torná-lo tão lindo quanto queiram — embora
eles nunca o tenham vivido.
Assim, para aqueles que querem viver, não existe outra maneira a não ser viver
este momento.
Mas, uma vez que você tenha saboreado os néctares do presente, você não se
importa com perigos.
Uma vez que você esteja em sintonia com a vida, então nada importa.
Para aqueles que querem viver — não pensar a respeito, mas amar; não pensar
a respeito, mas ser; não filosofar a respeito —, não existe alternativa além de
beber o néctar do presente momento.
Ela é tão condensada que, se você viveu sua vida corretamente, você será capaz
de penetrar no mistério da morte.
E o mistério da morte é que ela é apenas uma fachada; dentro está sua
imortalidade, sua vida eterna.
Para mim, a seriedade é uma doença; e o senso de humor torna você mais
humano, mais humilde.
Essa é a diferença.
E isso é o que tem sido feito: as pessoas têm tentado elevar-se acima da
natureza, o que significa acima delas mesmas.
Uma das leis básicas da vida é que tudo o que é mais elevado é muito
vulnerável.
As raízes de uma árvore são muito fortes, mas as flores não são.
As flores são muito vulneráveis — simplesmente uma brisa forte e a flor pode ser
destruída.
Uma pedra não precisa ser protegida, mas, bem a seu lado, a rosa na roseira
tem de ser protegida.
Mas a rosa é tão viva, tão linda, tão colorida, tão atraente.
Eu ensino disciplina para fazer amor da maneira certa, de modo que seu amor
não seja apenas algo biológico que nunca alcança o seu mundo psicológico.
O amor tem potencial para alcançar até mesmo o seu mundo espiritual e, no seu
ápice, ele irá alcançar o seu mundo espiritual.
Quem pela primeira vez experienciou isso deve ter concluído que podem existir
outras maneiras de alcançar o orgasmo — porque o sexo não é necessariamente
uma parte nele.
Ele deve ter observado como o orgasmo acontece e então as coisas ficam muito
claras: no momento em que o orgasmo acontece, o tempo pára, você esquece
o tempo.
E é assim que eu entendo: essa é a maneira pela qual o ser humano deve ter
descoberto pela primeira vez a meditação.
A liberdade simplesmente o torna absolutamente responsável por tudo o que
você é e o que você vai vir a ser.
Existem pessoas que ficam com raiva; essas são as pessoas que criam
revoluções, mudanças na sociedade, no Estado.
Mas todas as suas revoluções fracassaram, porque qualquer coisa que resulte
da raiva está vindo da ignorância.
A tristeza pode mudar para a raiva muito facilmente; a raiva pode mudar para a
tristeza da mesma maneira.
Elas não são duas coisas... talvez dois lados da mesma moeda.
Mas você não precisa ficar triste com isso, pela simples razão de que ficando
triste você se junta a elas, cria mais tristeza.
Sua doença não vai torná-las saudáveis; está simplesmente criando mais
doença.
Sensibilizar-se com a doença delas significa buscar as causas, buscar o que está
criando todo o sofrimento e miséria e ajudá-las a remover essas causas.
E, ao mesmo tempo, você tem de permanecer o mais alegre possível, porque
sua alegria vai ajudá-las, não sua tristeza.
Elas precisam saber que existe uma possibilidade de se estar feliz neste mundo
triste...
Só que nas épocas comuns você está profundamente adormecido, então não
percebe isso.
Você fica sonhando, imaginando lindas coisas para os dias que virão, para o
futuro.
Se você não compreender isso, você pode ficar louco; se você compreender
isso, você pode acordar.
Ficar preocupado não tem razão de ser, porque você estará apenas perdendo
esse momento e não ajudará ninguém.
Os pais querem que seus filhos sejam felizes — só que seu modo de pensar está
errado.
Seus filhos somente podem ser felizes se eles se tornarem aquilo a que vieram
para se tornar.
Eles apenas podem se tornar a semente que estão carregando dentro de si.
Isso é impossível.
O amor dará a elas novas raízes para que se mantenham em pé contra o vento
forte, o sol quente, as chuvas pesadas.
Sempre que houver uma questão de escolha, a cabeça não pode ser escolhida
contra o coração.
Se você está triste, você está errado; se você está alegre, você está certo.
Quando digo: seja animado, seja feliz, alegre-se com o fato de que você não
está na posição de ser miserável e estar sofrendo, tenho um determinado
propósito por detrás disso.
O propósito é que você tem de se tornar um exemplo para aquelas pessoas que
esqueceram completamente que a vida pode também ser uma celebração.
Apesar de toda a escuridão, você ainda pode se livrar dela, você ainda pode
dançar.
A escuridão não pode impedir sua dança; ela não tem força para impedi-lo.
O antigo ditado “Como acima, assim abaixo”, ou vice-versa, contém uma das
verdades mais básicas sobre o misticismo.
Significa que não existe acima, não existe abaixo, que a existência é una.
A existência é indivisível.
As divisões são nossas projeções e nós ficamos tão identificados com elas que
perdemos o contato com o todo.
Nossa mente é simplesmente uma pequena janela abrindo-se para o vasto
universo, mas, quando você olha sempre da janela, a esquadria emoldura o céu
lá fora.
Embora não exista moldura no céu — ele é imoldurável —, para a sua percepção
a esquadria da janela torna-se a moldura da existência.
Elas até mesmo esqueceram que não podem ver sem os óculos, e, se estão
olhando e vendo, isso é a certeza absoluta de que os óculos estão no lugar.
Mas se você usa óculos durante anos, aos poucos, lentamente, eles se tornam
parte de você, tornam-se seus olhos.
Mas cada par de óculos pode dar sua própria cor às coisas.
Você é quem vê por detrás — os óculos não podem ver por si mesmos.
As coisas fora não têm a cor que os óculos estão impondo sobre elas, mas você
se tornou tão identificado com os óculos...
E você está tão perto dela, lá dentro, que a própria proximidade se tornou a
identificação.
E a mente não pode ver a realidade; a mente pode ver apenas seus próprios
preconceitos.
Para a nossa mente, que foi treinada através da educação, qualquer coisa ilógica
está errada, qualquer coisa irracional está errada; somente algo lógico está certo.
Nunca lhe foi dada uma chance para crescer, para que seu potencial se realize.
Dinheiro, guerra, desejo, ambições — você não pode colocar o amor na mesma
categoria.
O amor tem uma nascente separada em seu ser, na qual não existe contradição.
Uma educação autêntica não ensinará apenas à sua mente — porque a mente
pode lhe dar uma boa maneira de ganhar a vida, mas não uma vida boa.
O coração não pode lhe dar uma boa maneira de ganhar a vida, mas pode dar-
lhe uma boa vida.
E não há razão para escolher entre ambos: use a mente para o que ela é feita e
use o coração para o que ele é feito.
E o coração pode ser uma perturbação, ele vai ser uma perturbação.
Para quê?
Os utopistas não são sonhadores, mas os seus assim chamados realistas, que
condenam os utopistas, são estúpidos.
Ambos, porém, estão de acordo em um ponto — que alguma coisa precisa ser
feita na sociedade.
Como eu a vejo, a utopia não é algo que não vai acontecer — é algo que é
possível, mas deveríamos ir às causas, não aos sintomas.
E quando você pode preencher sua vida com amor, com harmonia, com alegria,
quando você pode tornar sua vida uma poesia em si mesma...
Se você não o faz, somente você é responsável por isso, ninguém mais.
E ele começa porque a criança, a pequena criança, não pode amar, não pode
dizer nada, não pode fazer nada — pode apenas receber.
Mas o problema surge porque todos foram crianças e todos têm a mesma ânsia
de receber amor; e ninguém nasce de uma maneira diferente.
Então todos estão pedindo: “Dê-nos amor” e não há ninguém para dar, porque a
outra pessoa foi também educada da mesma maneira.
Então é preciso estar alerta e consciente de que uma simples circunstância de
nascimento não deveria permanecer um constante estado predominante de sua
mente.
O oposto por um lado o atrai e por outro lado faz você sentir-se dependente.
E ninguém quer ser dependente; por isso existe uma luta constante entre os
amantes.
Se você pergunta qual a minha visão do amor... não é mais uma questão de
dialética, de oposição.
E ela foi tão profundamente condicionada que, mesmo que você diga que ela é
igual, ela não vai acreditar.
E o homem que reduziu a mulher a tal estado também não pode amá-la.
Se você pode amar sem ciúme, se você pode amar sem apego, se você pode
amar tanto uma pessoa que a felicidade dela seja a sua felicidade — mesmo que
ela esteja com outra pessoa e seja feliz, isso faz você feliz, porque você a ama
tanto... a felicidade dela é a sua felicidade.
Você ficará feliz porque ela está feliz e você será grata à pessoa que tornou feliz
a pessoa que você ama — você não ficará com ciúme.
Quando está com raiva, uma determinada personalidade o possui e finge ser
você.
Quando está amando, então outra personalidade o possui e finge ser você.
Isso não é apenas confuso para você, mas também para todos que entram em
contato com você, porque eles não podem entender.
E essa não é outra personalidade, porque uma personalidade não pode observar
outra personalidade.
Isso é algo muito interessante e muito básico: uma personalidade não pode
observar outra personalidade, porque elas não têm nenhuma alma.
Você pode mudar suas roupas, mas suas roupas não conseguem saber que
estão sendo trocadas, que agora outra peça de roupa está sendo usada.
Você não é uma personalidade — por isso você pode tornar-se consciente
dessas inúmeras personalidades.
Mas isso também deixa muito claro um ponto: existe algo que fica observando
todo esse jogo de personalidades ao seu redor.
Se você está com raiva, é por que está se esquecendo de observar e está se
identificando com ela — se você observa então a raiva não tem vida; já está
morta, morrendo, desaparecendo.
Permaneça então cada vez mais concentrado em sua observação e todas essas
personalidades desaparecerão.
Então tudo o que fizer você faz totalmente, completamente — você nunca se
arrepende.
E não olhar para eles está lhes dando energia, ter medo deles está lhes dando
energia, estar sempre tentando evitá-los está lhes dando energia — porque você
os está aceitando.
Não é uma questão de ser amoroso com esta pessoa ou com aquela pessoa,
com o amigo ou com o inimigo; a questão é se você é amoroso ou não.
Você se ama?
Você sempre tem apenas um instante em suas mãos; e ele é tão pequeno e tão
fugaz que se você estiver pensando no passado e no futuro você o perderá.
E esta é a única vida e a única realidade que existe.
Não é somente no mundo corrente da política; ela polui até mesmo a sua vida
cotidiana.
Mesmo uma criança pequena começa a sorrir para a mãe, para o pai, com um
sorriso falso.
Não existe profundidade atrás dele; ela sabe que sempre que sorri é
recompensada.
Isso é política.
Ele não lhe tem permitido educação, ele nem mesmo tem permitido que ela ouça
as sagradas escrituras.
Em muitas religiões ele não tem permitido que ela entre no templo; ou, se ele
permitir, ela tem uma seção separada.
Ela não pode estar em igualdade com o homem mesmo diante de Deus.
O homem tentou cortar a liberdade da mulher de todas as maneiras.
Isso é política, não é amor.
Você pode dizer que ama o papagaio, mas você não percebe: você está matando
o papagaio.
Você tirou do papagaio todo o seu céu e lhe deu apenas uma gaiola.
A gaiola pode ser feita de ouro, mas mesmo uma gaiola de ouro não é nada
comparada com a liberdade dos papagaios no céu, movendo-se de árvore em
árvore, cantando seu canto — não o que você quer forçá-los a cantar, mas o que
é natural para eles, o que é autêntico para eles.
Sempre que houver a ânsia de se ter poder sobre outra pessoa, isso é política.
Os pais pensam que amam, mas é apenas em suas mentes, tanto é assim que
eles querem que as crianças sejam obedientes.
Se a obediência é uma qualidade tão grandiosa, por que não deveriam os pais
obedecer aos filhos?
Tudo o que o poder tem a ver com a religião é que ele esconde a política numa
bonita palavra.
O ser humano necessita expor todos os pontos em que a política entrou — e ela
entrou em todo lugar, em todos os relacionamentos.
Você odeia o trabalho, não gosta dele, mas você o está fazendo porque haverá
reconhecimento; você será apreciado, aceito.
Essa é uma estratégia muito astuta para manter as pessoas sob controle.
Faça o que você quer fazer, o que você gosta de fazer e nunca espere
reconhecimento.
Isso é mendigar.
O reconhecimento fará com que você sinta que está indo em direção ao objetivo
certo.
A questão tem a ver com os seus próprios sentimentos internos, nada tem a ver
com o mundo exterior.
E todas essas coisas dependem dos outros; você mesmo está se tornando
dependente.
Ele pode torná-lo um intelectual notável, mas não transformará a sua vida e não
o tornará aberto aos mistérios da existência.
Ela nunca a perde — a admiração que a criança sente olhando para os pássaros,
olhando para as flores, olhando para o céu...
A inteligência também tem de ser, de certa maneira, infantil.
É por isso que eu disse que as qualidades de uma pessoa madura são muito
estranhas, porque “maturidade” dá o sentido de experiente, de idosa, de velha.
Fisicamente ela pode ser velha, mas espiritualmente é uma criança inocente.
Tem algo a ver com a sua jornada interior, com as suas experiências interiores.
Quanto mais uma pessoa entra fundo dentro de si mesma, mais madura ela se
torna.
Quando ela alcança o próprio centro de seu ser, ela se torna perfeitamente
madura.
Mas nesse momento a pessoa desaparece, permanece somente uma presença;
o “self” desaparece, permanece somente o silêncio; o conhecimento
desaparece, permanece somente a inocência.
O artista está criando um perigo para si mesmo e também para aqueles que
serão a sua audiência.
Ele pode ser um pintor, mas sua pintura é maluca; não é resultado de um estado
meditativo.
A mente funciona como uma bicicleta: se você segue pedalando, ela continua;
no momento em que você pára de pedalar, você vai cair.
Eles viverão juntos a vida toda, mas não serão outra coisa senão estranhos,
porque ninguém pode penetrar na solitude do outro.
Você somente pode deixar de ser um estranho se puder penetrar em minha
solitude, ou eu puder penetrar em sua solitude — o que não é possível, não é
existencialmente possível.
Podemos chegar o mais próximo possível, mas, quanto mais próximos nos
tornamos, mais nos tornamos conscientes de nossa estranheza, porque
seremos capazes de perceber melhor: “O outro é desconhecido para mim e
talvez incognoscível”.
Ela ainda não esqueceu aqueles nove meses de absoluta segurança e proteção
— não havia problema, responsabilidade, preocupação com o amanhã.
Para nós, aqueles são nove meses, mas para a criança é uma eternidade.
Ela nada sabe sobre o calendário, nada sabe sobre minutos, horas, dias, meses.
Todos são maiores e poderosos e ela não pode viver sem a ajuda dos outros.
Ela sabe que é dependente; ela perdeu sua independência, sua liberdade.
Uma pessoa madura deveria livrar-se de tudo aquilo que esteja conectado com
o medo.
Sua armadura psicológica não pode ser tirada de você — você lutará por ela.
Somente você pode fazer alguma coisa para abandoná-la e isso quer dizer: olhar
para cada parte dela, para todas as partes dela.
Mas você não encontrará uma única coisa na sua armadura que tenha base na
experiência.
Tudo é medo, de A a Z.
Buscamos a verdade, mas se é a partir do medo, então você não vai encontrá-
la.
Não importa o que você faça, lembre-se de uma coisa: a partir do medo você
não vai crescer, apenas encolherá e morrerá.
Uma pessoa destemida tem tudo o que a vida deseja dar a ela como dádiva.
Agora não existem barreiras; você será banhado com dádivas e, não importa o
que esteja fazendo, você terá uma força, um poder, uma certeza, um formidável
sentimento de autoridade.
O que você precisa entender é o processo de identificação, como se pode ficar
identificado com o que não se é.
Neste momento você está identificado com a mente, pensa que é ela.
Daí o medo.
Se você está identificado com a mente, então, é claro, se a mente parar, você
se acabará, você deixará de ser.
A realidade é que você não é a mente, você é algo além da mente; assim sendo,
é absolutamente necessário que a mente pare, de modo que, pela primeira vez,
você possa saber que você não é a mente — porque você continua presente.
A realidade é que somos sós, somos estranhos — e o mundo será muito melhor
se aceitarmos a verdade básica de que somos estranhos.
Uma das belezas da vida é sermos todos estranhos e não há maneira de mudar
essa realidade.
É lindo ter estranhos que o amam, ter estranhos como seus amigos, ter
estranhos pelo mundo todo.
É um fato conhecido: você se apaixona por uma pessoa; você não se apaixona
pela pessoa real, você se apaixona pela pessoa de sua imaginação.
Você cria certa aura em volta dela; ela cria certa aura em volta de você.
Tudo parece lindo porque você está fazendo isso lindo, porque você está
sonhando isso, evitando a realidade.
Assim a mulher está se comportando da maneira que o homem deseja que ela
se comporte; o homem está se comportando da maneira que a mulher deseja
que ele se comporte.
Mas você pode fazer isso somente por poucos minutos ou por poucas horas, no
máximo.
Uma vez que você tenha se casado e tenha de viver junto vinte e quatro horas
por dia, torna-se uma carga pesada seguir fingindo algo que você não é.
Mais cedo ou mais tarde isso se torna uma carga e você começa a se vingar.
Você começa a destruir toda aquela imaginação que o homem criou à sua volta,
porque você não quer ser aprisionada nela; você quer ser livre e ser
simplesmente você mesma.
E é a mesma situação com o homem: ele quer ser livre e ser simplesmente ele
mesmo.
Você deixa intocada a privacidade da pessoa, não tenta invadir seu ser interior.
A exigência básica do amor é: “Eu aceito a outra pessoa como ela é”.
E o amor nunca tenta mudar a pessoa em função da própria idéia que se tem do
outro.
Você não tenta cortar a pessoa aqui e ali e deixá-la do tamanho certo — o que
tem sido feito em todos os lugares no mundo inteiro...
Se o ciúme desaparece e o amor ainda permanece, então você tem algo sólido
em sua vida, o qual vale a pena possuir.
Quando você está compartilhando seu contentamento, não cria uma prisão
para ninguém; você simplesmente dá.
Você nem mesmo espera gratidão ou agradecimento, porque está dando não
para conseguir alguma coisa, nem mesmo gratidão.
Você está dando porque está tão repleto... você precisa dar.
Assim, se alguém está grato, é você quem está grato à pessoa que aceitou seu
amor, que aceitou seu presente.
Então isso não o torna um avarento, não cria um novo medo, o de que “eu posso
perder isso”.
Na realidade, quanto mais você o perde, mais águas frescas fluem, vindas de
nascentes sobre as quais você não estava consciente anteriormente.
O amor e o apego não são um; são duas entidades separadas e antagônicas
entre si.
Você tem de estar alerta para não ser manipulado por ninguém, não importa
quão boas sejam as intenções da pessoa.
Ouça-as e agradeça-lhes.
Elas não querem fazer nenhum mal — mas mal é o que acontece.
Você está sofrendo todos os tipos de julgamentos das pessoas e está jogando
esses julgamentos em outras pessoas.
Esse jogo alcançou proporções incríveis e toda a humanidade está sofrendo com
isso.
Se você quer sair desse estado, a primeira coisa é: não julgue a si mesmo.
É simplesmente humano.
Podemos reverter todo o processo: você se aceita e isso o torna capaz de aceitar
os outros.
Ela tem de produzir rosas; não pode produzir margaridas — ela não pode
enganar.
É o momento de glória.
Você não vê o mundo da maneira que ele é — você o vê da maneira que a sua
mente o força a vê-lo.
Todas as religiões estão clamando que o livro delas é escrito pelo próprio Deus.
A menos que você seja capaz de pôr a mente toda de lado e perceber o mundo
diretamente, instantaneamente, com a sua consciência, você nunca será capaz
de perceber a verdade.
Não existe ninguém que seja inferior e não existe ninguém que seja superior —
não existem distinções.
Ele não acumula recipientes, mas bebe o néctar e joga fora o frasco.
Para mim, a pessoa religiosa não é aquela que está acima da natureza, mas a
que é totalmente natural, completamente natural, que vivenciou a natureza em
todas as suas dimensões, que não deixou nada inexplorado.
É preciso viver uma vida natural para alcançar uma morte natural.
A morte natural é a culminação de uma vida vivida naturalmente, sem nenhuma
inibição, sem nenhuma depressão — exatamente da maneira como vivem os
animais, como vivem os pássaros, como vivem as árvores; sem nenhuma
separação —, uma vida de entrega, permitindo que a natureza flua através de
você, sem quaisquer obstruções de sua parte, como se você estivesse ausente
e a vida estivesse se movendo por conta própria.
Em vez de você estar vivendo a vida, a vida vive você; você é secundário.
Temos medo da morte porque sabemos que vamos morrer, e nós não queremos
morrer.
Queremos manter nossos olhos fechados, queremos viver num estado como se
“todos os outros vão morrer, mas eu não”.
As pessoas ficam com medo porque isso as faz lembrar de sua própria morte.
Elas estão tão preocupadas com trivialidades e a morte está chegando; elas
querem aquelas trivialidades para se manterem ocupadas.
Isso funciona como uma cortina: elas não vão morrer, pelo menos não agora, só
mais tarde, “quando acontecer, nós veremos”.
Aceitando a vida em sua totalidade, você também aceita a morte; aceita que ela
é simplesmente um descanso.
Ela muda o corpo, porque agora o corpo não pode ser rejuvenescido apenas
pelo sono comum; ele tornou-se muito velho.
Um homem que vive em função do medo está sempre tremendo por dentro.
Ele está continuamente a ponto de enlouquecer, porque a vida é imensa e, se
você está continuamente amedrontado, então todos os tipos de medo se tornam
disponíveis.
Você pode fazer uma lista enorme e ficará surpreso com o número de medos
presentes e ainda assim você está vivo!
Abandone o medo.
E assim a vida pode se tornar uma luz que vai se aprofundando conforme você
vai crescendo.
A menos que você conheça a verdade de seu ser, nunca sentirá a imensa
bênção da vida.
Se você não puder experienciar a verdade, não será capaz de se conectar com
este vasto cosmo — que é seu lar.
Ele o trouxe ao mundo e tem sobre você a tremenda expectativa de que você
crescerá até o ápice de sua consciência, porque através de você a existência
pode tornar-se consciente.
Nesse silêncio você descobre seu próprio ser — ele é tão vasto quanto o céu.
O seu conhecimento pode ser útil, utilitário, mas não vai ajudá-lo a transformar
o seu ser.
O amor não é uma quantidade, mas uma qualidade e uma qualidade de certa
categoria que cresce ao se dar e morre se você a segura.
Você não entende que tem em abundância, que é uma nuvem de chuva.
Para a nuvem de chuva não importa onde chove — nas pedras, nos jardins, nos
oceanos —, isso não importa.
Não espere, pensando que você dará se alguém lhe pedir — dê!
A coisa mais fundamental a lembrar é: quando você está se sentindo bem, num
estado de êxtase, não comece a pensar que esse vai ser seu estado
permanente.
Quando eles chegam, seja grato; quando eles se forem, agradeça à existência.
Permaneça aberto.
E daí?
Você é afortunado.
Mesmo em sua miséria, lembre-se de que ela não vai ser permanente; ela
também irá embora.
Assim, não fique muito incomodado por ela.
Permaneça tranquilo.
A meditação diz respeito ao próprio âmago de seu ser, o qual não pode ser
dividido em masculino e feminino.
Qualquer que seja o caso, a consciência tem simplesmente de estar alerta sobre
ele.
Apenas por um momento, tente sentir o que estou dizendo: seja simplesmente
um observador.
Não se apegue a nenhum momento por ele ser bonito e não rejeite nenhum
momento por ele ser miserável.
Você vem fazendo isso há vidas e ainda não foi bem-sucedido e nunca será
bem-sucedido, jamais.
Todos os esforços deveriam ser feitos para alcançar este centro mais profundo
do ciclone.
Este é você.
Quando você fica identificado com uma determinada idéia, então você está
doente.
Limpará seu coração de todos os tipos de lixo que as gerações têm jogado sobre
você.
E, uma vez que você se liberta de fazer comparações e distinções, você se torna
leve, toda a sua existência se torna leve.
E aquele que vê está sempre presente, vinte e quatro horas por dia.
Seja o que for que você estiver fazendo, ou não fazendo, ele está presente.
Talvez porque ele tenha estado sempre presente, por isso você o esqueceu.
Em breve você será capaz de permanecer centrado, não será preciso lembrar-
se.
Eu digo a você: não existe o mal e não existem forças malignas no mundo.
Existem apenas pessoas de consciência e pessoas que estão profundamente
adormecidas — e o sono não tem força.
Uma vela acesa pode acender milhões de velas sem perder a sua luz.
A miséria nutre o seu ego — por isso você vê tantas pessoas miseráveis no
mundo.
Para entender o amor, você primeiro deveria ser amoroso; somente então você
pode entender o amor.
Milhões de pessoas estão sofrendo; elas querem ser amadas, mas não sabem
como amar.
Aquilo que o satisfaz não é o que as pessoas dão a você; é o que você dá às
pessoas que satisfaz.
Você pode dar em abundância, inesgotavelmente, pois, quanto mais você dá,
mais refinado, mais cultivado, mais perfumado seu amor se torna.
No momento em que você compreende o que é o amor, em que você
experiencia o que é o amor, você se torna amor.
Então não existe em você necessidade de ser amado e não existe em você
necessidade de precisar ser amoroso; ser amoroso será a sua simples e
espontânea existência, sua própria respiração.
Você não poderá fazer outra coisa; você será simplesmente amoroso.
Então, se em troca o amor não vem a você, você não se sentirá ferido, pela
simples razão de que somente a pessoa que se tornou amor pode amar.
Pedir às pessoas que o amem — pessoas que não têm amor em suas vidas, que
não chegaram à fonte de seu ser, onde o amor tem seu santuário... como elas
podem amá-lo?
Elas podem fingir, podem dizer que amam, podem até acreditar que amam.
Porém, mais cedo ou mais tarde, vai ser percebido que é somente fingimento,
que é somente representação, que é hipocrisia.
Talvez não haja intenção de enganá-lo, mas o que a pessoa pode fazer?
Ambos compreendem que é esperado que você ame, para só então você poder
receber amor.
Ambos vão descobrir isso e ambos vão se queixar um do outro, que isso não
está certo.
Aqueles que encontraram a fonte do amor dentro de si mesmos não têm mais
necessidade de ser amados — e eles serão amados.
Eles amarão por nenhuma outra razão além de simplesmente terem muito amor
— assim como uma nuvem de chuva quer chover, assim como uma flor quer
desprender seu perfume, sem desejo de conseguir qualquer coisa.
Agora elas conhecem pelo menos uma pessoa que irradia amor e cujo amor não
é fruto de nenhuma necessidade.
Quanto mais ela compartilha e irradia seu amor, mais ele cresce.
A mente funciona no “ou isso ou aquilo”; ou isso pode estar certo ou seu oposto
pode estar certo.
Ambos, ao mesmo tempo, não podem estar certos no que diz respeito à mente,
à sua lógica, à sua racionalidade. Se a mente é “ou isso ou aquilo”, então o
coração é “isso e aquilo”.
Ele pode ver que não apenas ambos podem estar juntos; na realidade, eles não
são dois.
Ela foi educada, ela foi-lhe dada pela sociedade, não pela existência.
Você tem simplesmente de estar ausente, de modo que a existência possa estar
presente em sua totalidade.
Mas a pessoa da qual estou falando, que tem de desaparecer, não é a sua
realidade, mas somente a sua personalidade, apenas uma idéia em você.
Mas, no momento em que você diz que esse é um lindo pôr-do-sol, você já não
o está mais sentindo; você voltou para a sua entidade do ego — separada e
fechada.
E este é um dos mistérios: que a mente pode falar e não sabe nada, e o coração
sabe tudo e não pode falar.
Talvez saber muito torne difícil o falar; a mente sabe tão pouco, é possível para
ela falar.
Hoje o amor está presente, amanhã não se sabe; pode estar, pode não estar.
Ele é um acontecimento.
Você não pode fazer nada, você não pode criá-lo se ele não estiver presente.
Você ama a mesma pessoa que você odeia; assim, de manhã é ódio, à noite é
amor — e isso é algo muito confuso.
Você nem mesmo entende se ama a pessoa ou se a odeia, porque você faz
ambas as coisas em horas diferentes.
Todos estão em busca daquele amor que vai além do amor e do ódio — mas
estão buscando com a mente e, por isso, são infelizes.
Todos os amantes sentem fracasso, decepção, traição, mas ninguém tem culpa.
É como se alguém estivesse usando os olhos para ouvir música e então ficasse
enfurecido porque não existe música.
Mas os olhos não foram feitos para ouvir, nem os ouvidos foram feitos para ver.
O coração nada tem a ver com negócios — ele está sempre de férias.
Ele pode amar, e pode amar sem nunca transformar seu amor em ódio; ele não
tem o veneno do ódio.
Todos estão buscando por ele, mas somente com o instrumento errado; daí o
fracasso no mundo.
Vivia-se não no presente, mas no futuro: “Tudo o que deve acontecer vai
acontecer amanhã”.
Aquilo que elas estavam esperando nunca aconteceu; provou ser um esperar
por Godot.
Não importa o que você queira que a sua morte seja, deixe primeiro que a sua
vida seja exatamente o mesmo — porque a morte não está separada da vida.
Mas as formas tornam-se inúteis, velhas, mais uma carga do que uma alegria;
então é melhor dar vida a uma forma nova, fresca.
Você está vendo uma árvore; você está aí, a árvore está aí, mas você não
encontra uma coisa mais? — que você está vendo a árvore, que existe uma
testemunha em você que está vendo você vendo a árvore.
Existe também alguma coisa além de ambos — e essa coisa além é a meditação.
Assim, onde quer que você esteja sem um lar, estará, estranhamente, em casa.
As pessoas que estão procurando pelo lar estão sempre caindo em desespero
e finalmente vão sentir:
Constrói-se não apenas uma casa, mas tenta-se torná-la quase uma entidade
viva.
Uma pessoa tenta construir uma casa de acordo com os seus sonhos, que ela
vai ser repleta de calor, que nessa frieza...
O universo todo é tão frio, tão indiferente que você quer criar um pequeno abrigo
para você, onde possa sentir que está sendo cuidado, que alguma coisa o
protege, que tem alguma coisa que lhe pertence, que você é um proprietário,
não um andarilho sem lar.
Mas na realidade esse tipo de idéia vai criar infelicidade em você, porque um dia
você descobrirá que o marido com quem você viveu, a mulher com quem você
viveu — vocês são estranhos.
Com o passar do tempo, ficando juntos, vocês se tornaram cada vez mais
estranhos, porque chegaram a conhecer um ao outro cada vez mais — e agora
não compreendem de modo algum quem é a outra pessoa.
Parece que, quanto mais você se torna familiarizado com a pessoa, mais
consciente se torna de que a sua ignorância sobre o outro é absoluta; não há
maneira de destruí-la.
Seus filhos — você pensou que eles eram seus filhos e um dia descobre que
eles não são seus filhos.
A mente sente-se bem com isso, porque ela está sempre com medo da
mudança, pela simples razão de que não se sabe o que a mudança trará, algo
bom ou mau?
Uma coisa é certa: que a mudança vai desestabilizar o seu mundo de ilusões,
expectativas, sonhos.
Por um instante, parece que o castelo está pronto — mas ele é feito de areia que
se move.
Começamos a sentir que encontramos alguma coisa que vai permanecer sempre
conosco.
Ela não lhe dá oportunidade de aceitar máscaras como sua face verdadeira,
como sua face original.
Elas são como criancinhas que cresceram e continuam usando os pijamas que
foram feitos quando elas eram bebês.
Ora, assim como você cresce, seus pijamas também deveriam crescer.
Mas posso ver que essa não é a situação de uma pessoa apenas; milhões de
pessoas estão vivendo desse modo.
Ninguém está colocando tal dificuldade sobre elas — são seus próprios
princípios.
Ensino-lhes claramente uma vida sem princípios, uma vida de inteligência, a qual
muda com cada mudança a seu redor, de modo que você não tenha um princípio
que crie dificuldades na mudança.
Deveríamos romper com essa morbidez — não importa quão respeitável e antiga
— e redescobrir a totalidade do ser humano.
E isso pode ser feito somente quando juntamos brincadeira com reverência;
quando a brincadeira se torna uma profunda reverência; quando a reverência
não o leva a morrer, a renunciar, mas o leva a exultar, a dançar, a celebrar.
Num relacionamento, ser compreensivo significa que você pode estar errado e
a mulher pode estar certa.
Não é uma garantia de que, simplesmente por ser um homem, você tem o poder
e a autoridade de estar certo.
E quais são as coisas pelas quais você está lutando? — tão pequenas, tão
triviais, que, se alguém lhe perguntar sobre elas, você se sentirá embaraçado.
É bom que haja sempre um hiato; desse modo sempre há alguma coisa para
explorar, alguma coisa para atravessar, alguma ponte para construir.
É silêncio.
Quem vai ensiná-lo a sentar-se silenciosamente?
Essa é a coisa mais difícil do mundo.
Você pode fazer tudo com muita facilidade, mas a coisa mais fácil — sentar-se
silenciosamente — parece ser a mais difícil.
O amor tem de ser uma relação amigável na qual ninguém é superior, na qual
ninguém vai decidir sobre as coisas; na qual ambos estão completamente
conscientes de que são diferentes, de que sua perspectiva de vida é diferente,
de que pensam diferente e, ainda assim — com todas essas diferenças — eles
se amam.
Seja humano e aceite o lado humano da outra pessoa, com toda a fragilidade
que é própria da humanidade.
O outro cometerá erros assim como você comete erros — e você tem de
aprender.
Quando as pessoas falam, querem doutrinar você, porque todo aquele que tem
uma doutrina, bem lá no fundo, tem medo de ela ser ou não verdadeira.
Então ela sente-se à vontade, porque a aritmética é: “Se tantas pessoas estão
encontrando tanto conforto no que eu estou lhes dizendo, então deve haver
alguma verdade nisso”.
As pessoas estão falando aos outros para que elas mesmas consigam acreditar
no que estão dizendo.
Você flui com a existência, você flui com as mudanças da vida, porque não
importa com quem você compartilha.
Pode ser a mesma pessoa amanhã, toda a sua vida a mesma pessoa, ou podem
ser pessoas diferentes.
Assim, seja quem for que esteja perto de você, você dá.
Então você não procura pelo lar — porque o lar é algo lá, bem longe, alguma
coisa que não é você.
Quando você percebe que o lar é uma ilusão, então, em vez de procurar pelo
lar, você começará a procurar pelo ser que nasce sem lar, cujo destino é não ter
um lar.
Esse poder pode ser mundano, político, pode ser de dinheiro... pode ser de ter
domínio espiritual sobre milhões de pessoas — mas a ânsia básica é como
dominar cada vez mais pessoas.
Essa ânsia surge porque você não se conhece e não quer saber que não se
conhece.
Você tem muito medo de se tornar consciente da ignorância que predomina no
próprio centro de seu ser; você escapa dessa escuridão através desses métodos
— desejo por dinheiro, por poder, por respeitabilidade, por honra.
E um homem que tem trevas dentro de si pode fazer qualquer coisa destrutiva.
O outro é o outro.
Nem você quer dominar ninguém, nem quer ser dominado por ninguém.
Você não tem de ir a nenhum lugar; você tem de parar de ir, de modo que você
possa permanecer onde está, de modo que possa permanecer o que você é.
O amor é quase como uma ponte, que pode cair a qualquer momento; mas ainda
assim é uma ponte.
Se você conseguir usá-la, ela pode levá-lo à confiança, mas, sem ela, você não
pode alcançar a confiança diretamente.
Todo o problema com a mente humana é que ela está constantemente lutando.
Existe uma razão pela qual ela age assim: somente indo contra a corrente o ego
é preenchido.
Indo simplesmente com o fluxo da vida, sem nenhuma luta, deixando a vida guiá-
lo para onde quiser, seu ego desaparecerá.
Você será, você será mais do que é agora — mais autêntico, mais verdadeiro —
mas não haverá um senso de “eu”.
Mesmo o caminho que está sendo criado à medida que você se move pode ser
visto por aqueles que não têm ego.
Mas, quando a mente está limpa do ego, o ser todo torna-se um espelho tão
limpo que mesmo essas pegadas são refletidas nele.
Uma coisa eu sei: a existência não tem objetivo e como parte da existência eu
não posso ter nenhum objetivo.
E a confiança está tão perto da verdade que, se ela for total, então neste mesmo
momento sua confiança se torna a verdade, uma revelação, uma revolução.
O amor é mais suculento que a confiança, mais natural que a confiança, mas a
confiança é uma qualidade mais alta.
Ninguém confia em ninguém; por isso “confiança” tornou-se uma palavra estéril,
não experienciada — apenas uma palavra, sem força, sem sabor.
Quando eu digo “confie”, digo confie apesar da pessoa, apesar de ela ser ou não
digna de confiança.
Na realidade, quando ela não é confiável, então confie... somente assim você
encontrará pela primeira vez algo novo surgindo em sua consciência.
E então a confiança se tornará um fenômeno muito leve, muito mais superior que
o amor, porque não necessita nada do outro.
Somente um ser independente, completamente autônomo, vivendo em
liberdade, pode alcançar a experiência da verdade.
Quando você diz: “Eu te amo”, existe uma corrente sutil de possessividade.
Sem ser dito, é entendido que “agora você é minha propriedade — ninguém mais
deveria amá-lo”.
Pelo contrário, você está dizendo: “Por favor, possua-me, destrua-me enquanto
ego, ajude-me a desaparecer e a dissolver-me em você, de modo que não haja
resistência em relação a você”.
O amor exige.
É uma simples barganha; por isso o medo: “Você não deveria amar mais
ninguém, ninguém mais deveria amá-lo, porque eu não quero que ninguém seja
sócio no meu amor, que ninguém compartilhe o meu amor”.
Por isso o ciúme, a espionagem, a luta, o censurar — tudo aquilo que é feio
continua atrás de uma linda palavra: “amor”.
Quando você diz: “Eu confio em você”, significa: “A partir deste momento minha
luta com você termina.
Na realidade, quanto mais pessoas confiam em mim, mais feliz você ficará.
Quando você diz: “Eu confio em você”, é entendido que você ama.
Quando, porém, você diz que ama, a confiança nada tem a ver com isso.
O amor é lindo se ele vem como uma parte da confiança, porque a confiança
não pode existir sem o amor.
Quando você diz “Eu te amo” não é uma entrega, não é uma disposição para
se dissolver, não é uma prontidão para ser levado a espaços desconhecidos e
incognoscíveis.
Quando, porém, você diz: “Eu confio em você”, é uma entrega profunda, uma
abertura, uma receptividade, uma declaração a você mesmo e ao universo de
que “agora, mesmo que essa pessoa me leve ao inferno, está bem para mim.
Eu confio nela.
No amor, você sempre encontrará as faltas na pessoa que você está amando.
Existe uma possibilidade de dizer alguma coisa errada, de fazer alguma coisa
errada, assim, seja misericordioso comigo, tenha compaixão por mim”.
O mundo de não ir atrás do mais, de não estar atrás de nenhum objetivo à sua
frente, mas simplesmente olhando quem você é, no momento em que você está
e mergulhando no estar presente de sua consciência... esta é a única revolução
e a única religião e a única espiritualidade que existe.
Esta vidinha que você tem pode ser transformada num paraíso.
Esta mesma Terra é o paraíso.
Nosso planeta é o único que originou não apenas vida, não apenas consciência,
mas produziu até mesmo o desabrochar último da consciência, em pessoas
como Gautama Buda, Lao Tzu, Tilopa e muitos mais.
Quando eu digo que, com exceção do ser humano, tudo é a verdade viva — o
oceano, as nuvens, as estrelas, as pedras, as flores —, que tudo nada mais é
que a qualidade da verdade, nada mais que ele próprio, sem máscara, que
somente o ser humano é capaz de enganar os outros, de enganar a si mesmo,
deve-se lembrar que essa é uma grande oportunidade.
Não deve ser condenada, deve ser exaltada, porque, mesmo que uma roseira
ou uma flor-de-lótus queiram mentir, elas não podem.
A verdade delas não é liberdade, a verdade delas é um cativeiro; elas não podem
ir além de seus limites.
Se ele escolher ser verdadeiro, não está escolhendo o cativeiro, está escolhendo
a verdade e a liberdade.
Você pode errar; por isso uma consciência profunda de cada ato, de cada
pensamento, de cada sentimento tem de penetrar você.
Somente o ser humano necessita buscar a verdade; tudo o mais já a tem, mas
a glória da liberdade não existe.
Você se apegará a esses sentimentos — e eles não são permanentes, são parte
de uma roda que está se movendo.
Vamos pegar o dia e a noite como exemplos: se nós escolhemos o dia, o que
podemos fazer para evitar a noite?
A noite chegará.
A noite não traz miséria, é a sua escolha do dia em detrimento da noite que está
criando miséria.
Isso significa que o dia chega, a noite chega, o sucesso chega, o fracasso chega,
os dias de glória chegam, os dias de condenação chegam — e, porque você não
escolheu nada, aquilo que vier estará certo para você, estará sempre bem para
você.
Aos poucos, lentamente, você verá uma distância crescendo em você; a roda
continuará se movendo, mas você não será pego nela.
Você está centrado em si mesmo; não está se agarrando a alguma outra coisa,
não está criando seu centro em algum outro lugar.
O dia é lindo, mas a noite é linda à sua própria maneira — por que não desfrutar
ambos?
A vida é certamente uma arte, a mais grandiosa das artes — e a fórmula mais
curta é a consciência sem escolha, aplicável a todas as situações, a todos os
problemas.
Uma vez que você aceite a vida em sua totalidade — a vida inclui a morte —
então a morte não é contra a vida, mas é simplesmente uma serva, assim como
o sono.
A sua vida é eterna — vai estar aí para todo o sempre —, mas o corpo não é
eterno; ele tem de ser mudado.
Ele torna-se velho e então é melhor ter um corpo novo, uma forma nova, em vez
de se arrastar adiante na velha forma.
“Eu não sei” pode somente ser dito por uma pessoa que sabe perfeitamente.
Mas essas memórias são mortas, porque elas não deram à luz nenhuma
experiência própria.
Qualquer coisa bela, qualquer coisa que o lembre do além, criará um anseio
em você, um anseio que você não pode entender pelo quê.
Você não sabe o nome do objeto, porque na realidade não é por nenhum objeto.
Ouvindo uma bela música, olhando o pôr-do-sol ou simplesmente um pássaro
voando ou lindas rosas, ou sentado em silêncio, um doce sofrimento pode ser
sentido.
O anseio é por tornar-se um com este estado de sentimento, de modo que ele
não seja uma coisa fugaz que vai e vem, mas algo que permanece com você,
que se torna você.
A mesma música que hoje foi doce pode não ser doce amanhã, pode ser
aborrecida depois de amanhã.
Assim, não é a música, é uma outra coisa que foi ativada em você — o anseio
de estar em paz, de ser musical, de ter toda a beleza da existência e tê-la para
sempre.
A vida torna-se uma alegria, uma canção, uma dança, uma celebração — e eu
chamo esta vida de religiosa.
Precisa-se de um ser humano que tenha sido educado sem nenhum sistema de
crença religiosa, sem nenhuma ideologia política.
Para ser a verdade, tem de ser a sua própria, sua própria experiência — você
não pode tomá-la emprestada.
É tudo o que é verdadeiro, tudo o que é sincero e autêntico, tudo o que é amoroso
e compassivo.
A religiosidade inclui tudo aquilo que o puxa para cima, que não o faz parar onde
você está, mas fica sempre lembrando-o de que você tem muito que andar.
Cada lugar em que você faz uma parada a fim de descansar é somente um
descanso durante a noite; pela manhã partimos novamente em peregrinação.
Nós resultamos desta natureza, nós somos parte desta natureza — herdamos
as mesmas qualidades em nossa consciência.
Confiança significa simplesmente que, aconteça o que acontecer, estamos
nisso alegremente.
Não relutantemente, não contra a vontade — então você perde o ponto —, mas
dançando, com uma canção, com uma risada, com amor.
Se ela não realiza nossos desejos, isso significa simplesmente que nossos
desejos estão errados.
Mas, se a existência toda necessita de você, então não há limite para o seu
êxtase.
Se você não estiver presente, então a existência será algo menor e permanecerá
sempre algo menor — ela nunca será completa.
Esse sentimento, de que toda esta imensa existência precisa de você, leva
embora todas as misérias.
Poucas pessoas alcançaram; elas são prova suficiente de que todos podem
alcançar — apenas um pouco de esforço, apenas um pouco de sinceridade,
apenas um pouco de busca.
Tudo está lhe dizendo que a maneira que você está vivendo não é o bastante,
que as coisas que você está fazendo não são tudo, que a sua vida mundana é
somente superficial — sua verdadeira vida permanece, em muitos casos,
intocada.
As pessoas nascem, vivem e morrem sem saber quem elas são.
Se você puder também ser silencioso, saberá quem é essa consciência dentro
de você.
A verdadeira prece é somente uma, e esta é viver de tal modo que você começa
a se sentir grato à existência.
Aja mais conscientemente e você estará chegando cada vez mais perto de uma
qualidade que somente pode ser chamada de divindade — não Deus, não uma
pessoa, mas uma qualidade, uma fragrância.
Aja inconscientemente e você estará chegando cada vez mais perto de algo que
não pode ser personificado como demônio, mas pode somente ser chamado de
uma qualidade — o mal.
É melhor, mesmo que o desconhecido prove ser pior do que o conhecido — esse
não é o ponto.
Simplesmente sua mudança do conhecido para o desconhecido, sua presteza
para se mover do conhecido para o desconhecido é o que importa.
Meditação é a resposta.
Tem havido, em todo o mundo, tentativas para criar uma sociedade humana
harmoniosa, mas todas falharam, pela simples razão de que ninguém se
importou sobre o porquê de ela não ser naturalmente harmoniosa.
Assim, a única maneira para uma utopia é sua consciência crescer mais e sua
inconsciência crescer menos, até que finalmente surja um momento em sua vida
em que não sobre nada que seja inconsciente; você é simplesmente pura
consciência.
Mas a parte ativa vai criar tensões, vai criar angústia, tristeza.
Mesmo que você alcance seu objetivo, descobrirá que não alcançou nada —
você simplesmente desperdiçou seu tempo e sua energia.
É a mente inativa que pode lhe dar um lar onde descansar, um abrigo e um lindo
sentimento de que nada tem de ser feito, de que você é bom do jeito que você
é, de que você já está na meta; assim, você nem precisa se mover.
E sua harmonia, sua beleza, sua compaixão, seu amor — todas as suas
qualidades — fatalmente ressoarão por todo o mundo.
Isso é algo fundamental para nos darmos conta de que a verdade pode ser
somente sua própria experiência.
É muito fácil; elas são feitas para você, elas são feitas sob medida para você.
Você terá de mudar em concordância com ela — você terá de passar por uma
transformação.
Uma pessoa com uma mente religiosa será religiosa em suas ações, relações,
em seus pensamentos, sentimentos.
Por isso todo o esforço é como sair da mente, como sair dos não-existenciais e
parar no meio — onde a existência está.
Todas as artes têm sua origem na meditação e todas as artes se afastaram para
longe da meditação — e isso é uma calamidade.
Idealmente todo artista, seja qual for a sua arte específica, deveria encontrar um
caminho em direção à meditação.
Nenhuma pessoa que tenha sido meditativa jamais cometeu suicídio, jamais
enlouqueceu, pela simples razão de que ela está indo em direção a mais
equilíbrio, em direção a mais harmonia interior e, finalmente, em direção à
harmonia absoluta — que é a harmonia da não-mente.
Não há nada mais do que isso, porque isso é paz, é silêncio, é estado de êxtase.
A questão de entrar na não-mente nem se coloca; ela nem foi capaz de observar
toda a mente.
E sem conhecer toda a mente você não pode saltar para a não-mente.
A não-mente é realização.
A não-mente é iluminação.
A não-mente é liberação.
Então por que usar duas palavras? — apenas uma palavra é suficiente.
Se você está pronto para abrir uma nova porta dentro de seu ser, se você está
pronto para escutar com o coração, então tudo o que eu esteja dizendo é tão
simples que não é preciso acreditar, porque não há maneira de desacreditar.
É tão simples que não há maneira de duvidar disso.
Portanto eu sou contra a crença, pela simples razão de que em todos os meus
ensinamentos a crença não é necessária.
Todas as religiões têm ensinado isso — que ser gente significa ir acima da
natureza.
Todo o sucesso delas tem sido em destruir sua beleza espontânea, natural, sua
inocência.
Juntas elas não são nem ignorância, nem astúcia, mas simplesmente uma
receptividade, uma abertura... um coração que é capaz de se maravilhar com a
menor coisa na vida.
É através de seu maravilhar-se que ela chega a saber que a existência não é
apenas matéria, não pode ser.
Essa não é uma conclusão lógica para ela, não é uma crença para ela, mas uma
experiência real.
Uma experiência tão linda, tão misteriosa, tão incomensurável... ela indica
imensa inteligência.
E assim é.
No máximo podemos dizer que a luz é menos escura e que a escuridão é menos
luminosa.
Mas temos de usar alguma coisa que faça somente uma diferença de grau e não
crie nenhuma contradição.
E nós vemos todos os dias a vida se fundindo na morte, tão calmamente, tão
quietamente, sem fazer nenhum estardalhaço.
Todas as separações são feitas pelo ser humano — a existência não faz
separações.
Isto é algo a ser lembrado: quando você experiencia algo para o qual não haja
oposto, você chegou em casa.
Entre essas duas experiências, você será apenas uma bola de futebol — às
vezes sentindo-se feliz, às vezes sentindo-se miserável, mas nunca sabendo,
você mesmo, que existe algo além de ambos, do belo e do depressivo.
Esse é o motivo pelo qual isso não pode ser traduzido em palavras, porque todas
as palavras são dualistas; do contrário, elas não teriam nenhum significado.
Esta é a natureza da linguagem: você não pode ter uma palavra sem ter o seu
oposto.
Se você não tem o oposto, então a palavra não terá nenhum significado.
Duas pessoas pensando são duas; duas pessoas não pensando são uma,
porque não existe separação, não existe fronteira — ambas estão no mesmo
estado.
É estar em identidade.
Mova-se além.
Então você não pode cair; então não há maneira de voltar atrás.
Existem muitas coisas na existência às quais não se pode dar nome, e essas
são as coisas verdadeiras.
Aquilo ao qual se pode dar nome é de uma qualidade mais baixa, de uma
camada mais baixa.
Aquele espaço silencioso que não tem nome... ele contém o amor, contém a
confiança e mais.
Se você volta para trás, a semente o levará bem para o princípio — se é que
existe algum princípio.
Dela, uma nova árvore crescerá e dessa árvore crescerão milhares de sementes
e milhares de árvores.
Uma única semente pode tornar a Terra toda verde ou, podemos até dizer, tornar
o Universo todo verde — tanto está contido numa pequena semente...
O momento presente é uma semente do tempo.
Ele é invisível — por isso não sabemos o que ele contém.
O desconhecido não pode ser perturbado pelo tempo ou por qualquer coisa.
Aqueles que têm medo da escuridão nunca serão capazes de penetrar no seu
próprio ser.
E tem de ser escuridão, não luz, porque a luz vem e vai; uma vez que você tenha
descoberto o ponto de escuridão em você, algo eterno, algo indestrutível, algo
mais do que a vida que você conhece é descoberto.
E uma estratégia para cansar a sua mente ativa — tanto, que ela cai pelo
cansaço; ela reconhece o seu fracasso.
Ela dirá simplesmente que não é possível, a mente é tudo, não existe a não-
mente.
Essa foi uma estratégia para que você não pudesse fazer disso um objetivo.
E, à medida que isso vai se aprofundando, à medida que você se torna cada vez
mais capaz de ter a não-mente, a iluminação vem espontaneamente.
Assim como o amor funciona como um meio para a confiança, a confiança
também funciona como um meio para algo além — para o qual não existe palavra
em nenhum idioma.
É uma experiência.
Não é uma questão de amor, não é uma questão de confiança, mas algo
absolutamente desconhecido para a mente.
Assim, lembre-se: eles são somente meios para um objetivo sem nome.
Mas de repente, quando a confiança é total, você pode ter um vislumbre dele...
A verdade não pode ser dita; assim, tudo o que possa ser dito vai ser uma
mentira linda— linda porque pode conduzir à verdade.
Então eu faço uma demarcação entre mentiras: mentiras lindas e mentiras feias
— mentiras feias que afastam você da verdade e mentiras lindas que aproximam
você da verdade.
Tudo o que é necessário é uma viagem silenciosa para dentro de seu próprio
ser.
E, no momento em que você encontra seu próprio centro, você encontra o centro
de toda a existência.
O extremista é sempre um egoísta.
Como você pode chegar a uma morte natural vivendo uma vida não-natural?
Somente uma pessoa que despertou pode morrer uma morte natural; do
contrário, todas as mortes são não-naturais, porque todas as vidas são não-
naturais.
O você que você percebe quando é um com a existência não é o velho você.
A verdade não é um objeto que você vai encontrar em algum lugar quando
estiver silencioso.
Você está aí e o mundo está aí; tudo o que você vê é um objeto, mas quem está
vendo é o sujeito.
A verdade é subjetividade.
Quando não existe objeto para o seu testemunhar, ele simplesmente volta-se
para você — para a fonte, e esse é o ponto em que a pessoa se torna iluminada.
Vendo o seu ser em sua nudez total, em sua beleza absoluta, sua grandiosidade,
seu silêncio, sua bem-aventurança, seu êxtase — tudo isso está compreendido
na palavra “iluminação”.
Uma vez que você tenha experienciado esse néctar, a mente começa a perder
a garra sobre você, porque você encontrou algo que é qualitativamente tão
elevado, preenche tanto, um contentamento tão extraordinário, que a mente
sente que a sua função terminou.
Sua garra começa a afrouxar; ela começa a se esconder nas sombras e, pouco
a pouco, desaparece.
Você continua a viver, mas agora o seu viver é a cada momento; e o que você
obteve como subproduto naquela pequena brecha da não-mente continua a
crescer.
Eu não estou tentando lhe dar nenhum ideal — que você tem de se tornar isso
ou aquilo.
Estou simplesmente tentando ajudá-lo a ver que você já é o que precisa ser.
Simplesmente abandone todo anseio, todo desejo, toda ambição de ser outra
pessoa, de modo que você possa ser apenas aquilo que você é.
Eu não quero distraí-lo do seu ser.
Quero chegar cada vez mais perto do seu ser, de modo que finalmente apenas
você seja deixado dentro de si mesmo.