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‘Copyright © 2010 Wander Melo Miranda __Diritos reservados Eproibida a reprodugio 9.610 de 19 de Fevereiro de 1908. sm aulorizago, por esrto, da editoa, Dados Introac (Cimaca Br Catalogacdo na Publicago (exe) ra do Livro, sn Brasil) ‘Miranda, Wander Malo Para Las, ‘Ana Luisa, Ana Helena e Joo Audio, 1. Ensaio Literatura brasileira 865.94 Printed in Brazil Fal felto.0 deposita legal A Liberdade do Pastiche A Organizagéo do Poder Apéerifo (APO) dedica-se com afinco, desde sua fundagio, A busca de livros secretos e A captura e ‘cagio de manuscritos. Embora sua central de operagdes se localize ‘estrategicamente no Japo, em razao da reconhecida habilidade dos japoneses em fabricar réplicas perfeitas de produtos alheios, a APO ramifica-se por toda parte, inundando 0 mundo de textos apécrifos. Cindida por lutas internas, divide-se atualmente em dois grupos ri- vais ~a seita dos Tuminados e a seita dos Niilistas. Os primeiros, se- uazes do Arcanjo da Luz, acreditam que & no meio dos livros felsos ae se encontram 0s poucos livros verdadeiros; os segundos, sequa- zes do Arconte da Sombra, creem que somente a contrafagio, a mis- .¢3o a mentira intencionais podem representat, em um livro, a verdade nao contaminada pelas pseudoverdades dominantes. “Apesar dessas inevitiveis nuances ideoldgiens, ambas as faccbes partilham fervorosamente do sonho de Ermes Marana, seu funda- ou seja, o de uma literatura toda de apéerifos,falsas atribuigées, fagdes, cépias, plagios, pastiches. Dessa organizagio imagind- ia, criada por Italo Calvino em Se una Noite d‘Inverno un Vieggiatore 1979), poderia fazer parte um grupo eclético de escritores e textos, ‘9 comecar pelo proprio Calvino e seu livro, junto, por exemplo, com 131 Nome Della Rosa (1980), Ricardo Pi ano Santiago e Em Liberdade (1981), deixando claro qui lugar de decano ou presidente de honra caberia sem diivida e direito adquirido a Borges ou a seu alter ego Menard. Inseridos no espaco do que John Barth chama de exaustfo', esses textos tém como heranga o esgotamento da experiénd do eu singular e da pritica estilistica de expressio estritamente pe: soal dessa mesma experiéncia. Sao filhos, até certo ponto constea ios” cla Modernidade, dos monstros | sagrados, reificados e ja institucionalizados que deram por conclutdi | © ciclo de invengao dos estilos que ainda podiam ser inventados. | que resta a eles, de novo, sendo apilhagem e o pastiche a0 innit d estilos 05 mais variados — eruditos ou populares ~ para que o siléncia | | seja vencido, para que histérias possam ainda ser contadas? ‘A vocacio ou a tentagdo maior a que sucumbe, com prazer e an= teratura dos, dos “pais sibios e aut giistia, quem conta essas histdrias & a do copista, q tems poraneamente em duas dimenses temporais ~ a da escrita e a da leitura. Copista e também investigadlor, o narrador identifica-se entio com 0 leitor, na tarefa de escarafunchar arquivos ¢ textos, levantar dados, fazer conjecturas, seguir pistas labirinticas, decifrar maecicas, correr atras de cartas e didrios perdidos, maquinar, tramar, fraudar.,. Quem 0 criminoso, quem o detetive, nessa relacao del a, delituosa ¢ transgressora com a cultura? Nada mais natural, portanto, que esses textos assumam e incorpo- rem a forma de um g@nero como o romance policial, em que a figura do leitor é sempre tematizada ou dramatizada, pois se é a0 detetive que cabe decifrar os dados pata a solucdo do enigma a ser decifrado, sua de- cifraglo faz-se simultanea aquela empreendida pelo leitor no desenro- Jar da leitura. Historia de conjectura por exceléncia, a narrativa policial

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