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As faces da Economia Solidária no Brasil

As faces da Economia Solidária no Brasil


REALIZAÇÃO
Grupo de Pesquisa em Economia Solidária e Cooperativa GERENCIAMENTO ECONÔMICO-FINANCEIRO
Ecosol Aline Pedron
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Assistente Administrativa
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-Graduação
Unisinos

COORDENAÇÃO GERAL
Luiz Inácio Gaiger APOIO INSTITUCIONAL E FINANCEIRO
Doutor em Sociologia Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Edital 05/2010
Unisinos Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento
Coordenador do Grupo de Pesquisa Ecosol – CNPq
Edital Universal 14/2010 – Faixa C
PROJETO E REALIZAÇÃO Bolsa de Produtividade em Pesquisa
Sabrina Stieler Teixeira Bolsas de Iniciação Científica
Graduanda em Jornalismo - Unisinos Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio
Grande do Sul – FAPERGS

AUXILIARES TÉCNICOS*
Cláudio Barcelos Ogando
Graduado em Ciências Sociais | Mestre em Sociologia Política
Assistente de Pesquisa

Bruna Pedroso Thomaz de Oliveira


Graduanda em Nutrição
Bolsista de Iniciação Científica PROBIC / FAPERGS

Angélica Pinheiro
Graduanda em Jornalismo
Diagramação

*Ver entrevistadores que participaram da Pesquisa QSES ao final do álbum.


Prefácio

Uma das principais diferenças entre a economia solidária e o capitalismo é que enquanto
esse se sustenta em sociedades de capitais, a economia solidária sustenta-se em socieda-
des de pessoas. No Brasil, essas pessoas são aquelas que, ao longo da história, organiza-
ram-se social e politicamente para resistir à colonização, à subordinação ou à exclusão so-
cial e construíram organizações sociais e econômicas alternativas ao capitalismo. Estamos
falando de povos e comunidades tradicionais, camponeses, operários, trabalhadores de-
sempregados ou em condições precárias de trabalho, moradores de lixões e catadores de
material reciclável, trabalhadores autônomos (artesãos), pessoas com deficiência, pessoas
com transtornos mentais.
Enfim, a economia solidária é constituída pelas gentes populares, empobrecidas, excluídas
dos resultados do processo de acumulação econômica e que têm organizado movimentos
sociais para lutar por mudanças societárias que promovam a democratização da sociedade
brasileira. Nas palavras de Paul Singer, trata-se de “um verdadeiro resgate humano.”
Esta publicação é representativa das diversas faces da economia solidária em nosso país.
Faces de pessoas marcadas pelo tempo da aspereza da vida, mas fundamentalmente pelo
olhar da esperança. Uma esperança que alimenta as utopias e anima a ação coletiva e so-
lidária.

Equipe SENAES
Apresentação

A Economia Solidária estrutura-se em princípios que valorizam o ser humano. Aqueles


que se organizam dessa forma buscam mais do que o trabalho e a geração de renda. Pro-
curam autonomia e sentido para suas vidas.
As escolhas desses trabalhadores e trabalhadoras não são somente alternativas a crises
econômicas, como se afirma sobre quem se organiza através da Economia Solidária. São
escolhas lúcidas de quem vê no trabalho coletivo outra forma de se sustentar e viver. São
pessoas que muitas vezes têm a solidariedade enraizada em sua vida cotidiana desde sem-
pre, mesmo antes do conceito de Economia Solidária ser concebido.
Essa gente luta e faz de tempos difíceis motivo para se fortalecer. Não se abala com suas
dores. Consegue unir a força do seu trabalho com a delicadeza do espírito solidário e sem
perceber, cria a resistência dentro de um sistema econômico que o explora e exclui.
Em 2013, a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) finalizou o segundo Ma-
peamento da Economia Solidária no Brasil. O Mapeamento teve como objetivo propor-
cionar a visibilidade e a articulação da Economia Solidária no País. Tantos dados deram
origem ao Sistema de Informações em Economia Solidária (SIES), permitindo que milhares
de empreendimentos econômicos de base coletiva e autogestionária fossem identificados
e caracterizados. O SIES veio preencher uma lacuna sobre o entendimento da realidade da
Economia Solidária no Brasil.
Percebeu-se, então, a necessidade de conhecer profundamente os atores dessa outra
economia. Para complementar os dados do Mapeamento Nacional de Economia Solidária,
também em 2013, foi realizada uma pesquisa nacional por amostragem. Essa pesquisa fez
parte do Projeto SIES desenvolvido pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em convê-
nio com a SENAES e com execução do Grupo de Pesquisa em Economia Solidária e Coope-
rativa, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais.
Através da aplicação de quase 3 mil questionários, em 16 estados brasileiros e mais de
510 empreendimentos econômicos solidários visitados, pode-se avançar na compreensão
dos impactos sobre as condições de vida e as mudanças provocadas pela participação na
Economia Solidária.
As cinco regiões do Brasil foram percorridas por 60 entrevistadores. Além da coleta dos
dados, todos foram surpreendidos e se deixaram encantar pelas riquezas culturais e natu-
rais do nosso País. Tantas histórias de vida e belas imagens registradas fizeram nascer este
álbum de fotografias, que tem como pano de fundo a Economia Solidária.
Muitas dessas histórias, por si só, dariam um livro. O que tentamos, neste álbum de ima-
gens, é retratar um pouco dessa experiência inesquecível e mostrar a cara da Economia
Solidária, para além dos dados e números.
Este álbum retrata um pouco da vida dessas pessoas e também é dedicado a elas, que
foram as protagonistas desta pesquisa e a quem agradecemos a boa vontade em ter nos
recebido. Esperamos aqui mostrar um pouco das faces da Economia Solidária no Brasil.
Norte

A região Norte quase engole metade do Brasil. Com


a maior extensão territorial, dividida entre sete estados,
abriga a maior floresta tropical do mundo: a Amazôni-
ca. Entre as densas matas e grandes rios, uma imensidão
cultural e étnica é celebrada. As cores vivas pintadas nos
corpos dos índios contrastam com as procissões católicas
que invadem as ruas de algumas cidades.
As estradas de chão são substituídas pelas águas, onde
navegam barcos de todos os tamanhos. Carregam gente,
bichos, comida e muita esperança. O sol presenteia essa
gente que flutua, com o seu nascer, no início do dia, e o
seu até logo, no fim da tarde.
Foram mais de 400 trabalhadores da Economia Soli-
dária visitados nos estados do Pará e Tocantins. O barro
seco que forma a casa é o mesmo que, quando molhado,
impede o transporte de rodar.
Por lá, há mãos fortes que esculpem delicados enfeites
e há mãos que transformam penas e sementes em lindos
colares. Mãos que lutam para manter viva a sua cultura.

Maracanã, PA | Foto: Hugo Luiz Cordovil de Freitas


Pôr do sol no Rio Tocantins | Cametá, PA| Foto: João José Corrêa
Nacser do sol no Rio Tocantins
Comunidade Quilombola do Bailique
Baião, PA
Foto: João José Corrêa
Raimundo do Espírito Santo Dias
Cooperativa de Fruticultores de Abaetetuba
Abaetetuba,PA
Foto: João José Corrêa
As três índias Xipaya seguram firme em suas mãos mais do que colares e
enfeites. Seguram a cultura de um povo. São sobreviventes sem a certeza dos
seus anos de vida e que há pouco tempo conseguiram registrar suas existências
em documentos oficiais.
Seus olhos carregam o peso de quem viu o seu povo definhando. Sofreram
com a ambição de posseiros e grileiros que no passado invadiram suas terras.
A luta permanente é para sustentar a cultura de seus ancestrais. Produzem ar-
tesanato para sobreviverem e ensinam os jovens a arte Xipaya, na Associação
Agrícola Representação Índio Regional De Altamira, no Pará.
Apesar da vida sofrida, não falam com mágoas ou ressentimentos. A auto-
nomia e a autoestima dessas três mulheres mantêm viva a trajetória do seu
povo. As falas saem com a força de quem lutará até o fim para conservar suas
raízes. “Quando morre um ancião, com ele morre um pedaço da história, com
ele morre a língua, as músicas, a dança, as pinturas”.
Foto: João José Corrêa
Jovens voltando da escola
Igarapé Miri, PA
Foto: João José Corrêa
Waldirene Gonçalves da Cruz
Cooperativa Agrícola Resistência de Cametá
Cametá, PA
Foto: João José Corrêa
Rosália da Silva Pontes
Associação de Mulheres de Sampaio
Sampaio, TO
Foto: Manoel Alves de Oliveira
Moacir Moreira da Cunha
Associação Pequenos Agricultores Nova Aliança Castanheira
São Francisco do Pará, PA
Foto: Hugo Luiz Cordovil de Freitas
Nordeste
Nove estados dão forma à região do Nordeste. Suas
terras vestem a diversidade. Por elas passam matas,
coqueirais, dunas, praias e o seco sertão. Tanta plu-
ralidade estende-se à cultura. Por lá, se escuta e dança
forró, frevo, maracatu e axé. Nas palavras escritas e nos
desenhos marcados em pequenos folhetos, a literatura
de cordel grita a delicadeza e a força do povo nordes-
tino.
Cinco estados dessa região foram percorridos em
busca de mais de 1.200 trabalhadores da Economia
Solidária: Alagoas, Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do
Norte. No olhar expressivo dessa gente quase podem-
os sentir o peso dos que sofrem com a falta d’água,
que demora a cair do céu e dificulta o plantio. O povo
persevera e a irrigação salva as lavouras e o gado.
A conquista de direitos básicos, muitas vezes, é fru-
to da organização coletiva. A busca pela água e a ga-
rantia da produção é luta constante de um povo que
planta, pesca, costura, borda, tece e procura seu lugar
à sombra.
Quixadá , CE | Foto: Antônia Lúcia Paz Rodrigues
Ipiranga, AL| Foto: Micheline Maria de Lima
Otoniel Joaquim de Santana
Cooperativa de Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves
Presidente Tancredo Neves, BA
Foto: Geusa da Purificação Pereira
Maria Rosa Perreira
Associação de moradores e produtores do Vale de Boacica
Igreja Noca, AL
Foto: Dacio Luciano Trindade Buarque
Ieda Araújo Sarmento Perreira
Companhia do Bordado de Entre Montes
Piranhas, AL
Foto: Dacio Luciano Trindade Buarque
José Soares Queiroz
Associação Indígena Xucuru Kariri
Palmeira dos Indíos, AL
Foto: Dacio Luciano Trindade Buarque
A timidez é evidenciada pelo sorriso discreto de Marta Chacon da Silva, 34
anos. É na casa de farinha que ela se encontra com os outros sócios da As-
sociação dos Moradores de Ponta de Várzea, no município Vera Cruz, no Rio
Grande do Norte. Reúnem-se para trabalhar.
Sentada na pedra dura, Marta não para um segundo. Ganha por quilo de
mandioca descascada. As mãos delicadas e fortes são protegidas por luvas,
mas a sujeira é inevitável.
A organização dos moradores nasceu da necessidade. Para garantir alguns
direitos à comunidade, a Associação foi criada. A insistência ainda é pela
água, para que a plantação não dependa do período de chuva, mas sim, da
vontade de quem não para.
Foto: Belisa Victoria Nascimento Rocha
Maria Rosa Melo Silva
Assoc. de Desenvolvimento Rural e Comunitário da
Comunidade de Bebedouro
Conceição do Almeida, BA
Foto: Karlla Miranda da Costa
Associação Comunitária Rural de Rogante
Santa Bárbara, BA
Foto: Geusa da Purificação Pereira
Raimunda Silva da Cruz
Associação Quilombola de Afrodescendentes da Região de Tremembé
Maraú, BA
Foto: Rogério Silva Fiaes
Antônio Sena da Silva
Assoc. dos Produtores de Mudas Frutíferas em Geral, mudas Ornamentais e outras de Pacajus
Pacajus, CE
Foto: Luciana Eugênio Rogério
Associação Zé Pequeno de Artesanato
Limoeiro do Norte, CE
Foto: Antônia Lúcia Paz Rodrigues
Associação de Desenvolvimento Comunitário Dois do
Bairro São Sebastião
Ubajara, CE
Foto: Luciana Eugênio Rogério
Associação Comunitária dos Produtores de Buracão
São Miguel, RN
Foto: Miriam Moura Vital
Associação de São José dos Famas
Iracema, RN
Foto: Miriam Moura Vital
Associação de Desenvolvimento Comunitário Dois do Bairro São Sebastião
Ubajara, CE
Foto: Luciana Eugênio Rogério
Associação Comunitária dos Trabalahdores
Rurais de Recreio
Sobral, CE
Foto: Luciana Eugênio Rogério
A pele de dona Alzira Luiza da Silva denuncia os anos já vividos. Aos 73,
suas mãos ainda tecem com agilidade as palhas de Carnaúba. Vende suas
peças tramadas na Cooperativa de Produção Artesanal Auto Sustentável,
em Itajá, no Rio Grande do Norte.
O trançado passou gerações. Aprendeu com a mãe, ensinou as suas fil-
has e o seu motivo de alegria é ver a neta brincar com as fibras secas. Dona
Alzira dava múltiplas formas às palhas, fazia esteiras, tapetes, chapéus e
bonecas.
Hoje precisa desacelerar, sua saúde já não é mais a mesma. Compra a
palha, porque do pé já não consegue colher. Mesmo assim, dona Alzira car-
rega o sorriso e o humor de quem não se deixa abalar por pouca coisa.
Foto: Marta Simone Vital Barreto
Associação Cooperativista do Assentamento Malacacheta Boa Vista
Russas, CE
Foto: Antônia Lúcia Paz Rodrigues
Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Tabuleiro e Corrego
Altaneira, CE
Foto: Heliane Aragão Pereira
Associação dos Criadores e Aquicultores de Paulistana
Paulistana, PI
Foto: Solange Maria da Silva do Nascimento
Associação de Desenvolvimento Comunitário do Assentamento Flores
Uruçuí, PI
Foto: José Francisco Pereira de Sousa
Petronilo Areolino Patricio
Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Chapada Nova I
Campo Grande do Piauí , PI
Foto: Ivan Lopes Gomes da Silva
Manoel Barbosa
Cooperativa Agropecuária do Pólo de Remanso
Remanso, BA
Foto: Ivan Lopes Gomes da Silva
Associação das Mulheres Produtoras Rurais Pacauensses
Caracol, PI
Foto: José Francisco Pereira de Sousa
Gilvomar Gomes de Brito
Colônia de Pescadores Z 19
Foto: Daliane Deyse de Lima Pessoa
Maria Perreira dos Santos
Associação dos Moradores e Produtores do Vale do Boacica
Igreja Nova, AL
Foto: Dacio Luciano Trindade Buarque
Antônio Avelino Silva
Associação Comunitária dos Pescadores de Caraú I
São Rafael, RN
Foto: Belisa Victoria Nascimento Rocha
João Antônio dos Santos costura há 17 anos. Foi a alternativa ao desemprego.
Comprou uma máquina e nunca mais parou. É o único homem na Associação Can-
guararte de Artesãs, em Canguaretama, no Rio Grande do Norte.
No início não se aventurava. João só fazia pequenos reparos em roupas. Os pedi-
dos aumentaram. Aprendeu a tirar medidas e logo havia peças de pronta-entrega.
Hoje, compartilha o espaço da Associação com quem produz bonecas de pano,
bolsas e luminárias. João ainda sonha com uma loja e sua própria confecção.
Foto: Daliane Deyse de Lima Pessoa
Cooperativa de Produção Artesanal Auto Sustentável
Itajá, RN
Foto: Marta Simone Vital Barreto
José Raimundo da Silva
Associação Moacir Avelino Bezerra
Afonso Bezera, RN
Foto: Belisa Victoria Nascimento Rocha
Centro Oeste
Três estados têm suas terras rasgadas pela vege-
tação do cerrado: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e
Goiás. Três estados que juntos com a planejada Capital
do País, Brasília, compõem o Centro-Oeste brasileiro.
Pelas terras de Mato Grosso, a natureza esbalda-se
desenhando o Pantanal, um dos mais ricos ecossiste-
mas do Brasil. É nesse cenário que o pássaro Tuiuiú
exibe sua ousada combinação de cores: preto, ver-
melho e branco. Em Goiás a paisagem abre espaço às
cachoeiras, riachos e cânions. Todo alívio do colorido
contrasta-se com o cinza dos prédios projetados e a
vida agitada que se leva no Distrito Federal.
Em meio ao asfalto quente, campos verdes e pontes
quebradas, foram visitados mais de 370 trabalhadores
da Economia Solidária em Mato Grosso, Goiás e Distrito
Federal. Para os trabalhadores dessa região, o chapéu
e o boné, além de tapar o sol dos seus olhos, escon-
dem os cabelos brancos que insistem em aparecer. O
verde da horta e o marrom da terra contrastam com o
material reaproveitado nos galpões de reciclagem dos
centros urbanos.
Porto Estrela, MT | Foto: André Felipe Pereira Freitas
Porto Estrela, MT| Foto: André Felipe Pereira Freitas
Maria Isabel Conceição
Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Comunidade Buriti Fundo
Barra do Bugres - MT
Foto: André Felipe Pereira Freitas
Local de reuniões da Associação Padre José Tencat
Santo Afonso, MT
Foto: André Felipe Pereira Freitas
Sônia Sueli Costa de Souza sempre trabalhou com fibra. A da bananeira, a de taboa e a do
seu corpo. Conta com orgulho a trajetória. Em sua fala, dá para sentir a vontade de quem quer
continuar. Ela contribui para manter vivas as técnicas que aprendeu e valoriza a produção local
de artesanato. Atividades que se encontram na Associação dos Produtores e Produtoras Arte-
sanais, a APPA, na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso.
Sônia já viajou o Brasil divulgando o trabalho que nasceu no Movimento Articulado de Mul-
heres da Chapada dos Guimarães. O Mamucha, nascido em 2003, já não existe mais. Seu le-
gado foi o fortalecimento das artesãs da região. A mobilização dos produtores artesanais deu
fruto e nasceu, em 2008, o Centro de Comercialização Solidária. Mesmo ano em que a APPA foi
fundada.
Muitas conquistas se originaram do trabalho coletivo. A troca de experiências entre os ar-
tesãos ultrapassou os tramados das fibras naturais e o trabalhado da cerâmica. Na praça do
município, se não chove, o encontro cultural é garantido com o Projeto Cine Mais Cultura -
sessão de cinema para quem quiser.
As dificuldades não são poucas. Manter o espaço aberto custa. Tempo e dinheiro. “Seria bom
ter um prédio próprio”, fala Sônia, sem cansaço. Mas as possibilidades não se esgotam. Os de-
safios fazem ampliar as atividades como forma de resistência e fibra.
Foto: Sylvio Antônio Kappes
Benedito Teodoro
Associação dos Produtores de Silvio Rodrigues
Alto Paraíso, GO
Foto: Anna Laura Machado Falluh
Fernando Pereira Camargo
Associação dos Pequenos Produtores Rurais Boa Sorte
Goianésia, GO
Foto: Anna Laura Machado Falluh
Mário José dos Santos
Associação dos Pequenos Agricultores do Assentamento São Salvador
Minaçu, GO
Foto: Anna Laura Machado Falluh
José Silvestre de Oliveira
Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Região Bonito do Meio
Hidrolândia , GO
Foto: Anna Laura Machado Falluh
Erezite Fernandes dos Santos
Associação dos Trabalhadores Rurais do Assentamento Verde Vida
Goianésia, GO
Foto: Anna Laura Machado Falluh
Helena Aparecida Moreira Braga
Associação dos Mines e Pequenos Produtores Rurais da Região Serra Dourada
Uruaçu, GO
Foto: Anna Laura Machado Falluh
Fosé Lino Sousa
Assoc. dos Mines e Pequenos Produtores Rurais
da Região Serra Dourada
Povoado de Urualina, GO
Foto: Anna Laura Machado Falluh
Fábio Lalalá
Associação XXXX | São Leopoldo, RS
Foto: Fulano de Tal Cooperativa dos Catadores de Material Reciclável
Reciclamos e Amamos o Meio Ambiente
Goiânia, GO
Foto: André Felipe Pereira Freitas
José Antônio Duarte
Associação dos Pequenos Agricultores e
Agricultores Familiares do Córrego Alegrete
Ceres, GO
Foto: Anna Laura Machado Falluh
Alda Maria Nascimento dos Santos
Associação dos Produtores e Produtoras
Artesanais
Chapada dos Guimasrães, MT
Foto: Sylvio Antônio Kappes
Nilva Neto Siqueira
Grupo de Ccostureirar da Cidade Ocidental
Cidade Ocidental, GO
Foto: Daniela Rueda
José Milton Pereira Costa
Assoc. dos Pequenos Produtores Rurais e Agricultores Familiares do Projeto de Assentamento Vitória
Goianésia, GO
Foto: Anna Laura Machado Falluh
Sudeste

Brota gente no Sudeste. A região mais populosa do


País constitui-se por quatro estados: Espírito Santo,
Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. O intenso
desenvolvimento da indústria e do comércio na região,
além de gente, faz brotar prédios e asfalto.
Longe do concreto das cidades, as estradas percor-
ridas em Minas Gerais e São Paulo revelaram o suspiro
das belezas naturais do interior dessa região. Mais de
300 trabalhadores da Economia Solidária foram visita-
dos.
Cenas não comuns manifestaram, ao longo da tra-
jetória, a persistência do quase extinto tamanduá-
bandeira e os 96 anos de um senhor de fala mansa. Os
caminhos, onde já escorreram ouro e café no passado,
hoje dão espaço a uma gente que multiplica seus tal-
entos e ofícios.

Santa Fé do Sul, SP | Foto: Marco Aurélio de Oliveira Filho


Muriaé, MG | Foto: Cecília Ribeiro da Silva
Antônio Tadeu Barbosa e sua esposa Maria
Associação Intermunicipal dos Pequenos Agricultores e Trabalhadores Rurais
Muriaé, MG
Foto: Cecília Ribeiro da Silva
Ana Rita de Miranda Pena Lemos
Associação dos produtores da agroindústria do vale do Piranga
Muriaé, MG
Foto: Cecília Ribeiro da Silva
Airton Viera Navas
Associação Intermunicipal dos Pequenos Agricultores e Trabalhadores Rurais
Muriaé, MG
Foto: Cecília Ribeiro da Silva
Luiz Gonçalves
Associação Comunitária e do Produtor
Rural da Matinada
Carandaí, MG
Foto: Cecília Ribeiro da Silva
Esmeraldas, MG
Foto: Cecília Ribeiro da Silva
Maria Leuda Ferreira Neves Tavares
Tramalissa Confecções e Costura
Osasco, SP
Foto: Elizabete de Jesus Rocha
Seu Francisco Ferreira da Silva carregou no olhar o peso de uma vida sofrida. Trabalhou
até os 90 anos, foi até onde sua saúde permitiu. Tinha esperança de ver suas terras produzin-
do vida novamente. Assim, continuava pagando a taxa da Associação dos Pequenos Agricul-
tores do Projeto Cinturão Verde, na Ilha Solteira, em São Paulo. Quem sabe, um dia, pudesse
voltar a utilizar as máquinas e os equipamentos.
Pai de 12 filhos, trabalhou durante anos em uma fazenda. Foram anos difíceis. Todos inic-
iavam suas tarefas quando o sol ainda dormia e só paravam quando a noite chegava.
Foram mais de 30 anos de exploração. Passaram fome onde animais eram abatidos e nem
os ossos sobravam para aqueles que tanto trabalhavam. “Fomos massacrados”, foi o desa-
bafo de dona Maria, filha de 75 anos de Francisco.
Seu Francisco libertou-se quando recebeu um pedaço de terra, fruto de um reassenta-
mento da população atingida pelos empreendimentos de uma hidrelétrica. Nesse novo ped-
aço de chão, seu Francisco garantiu o sustento e a terra para seus filhos. Sete deles ainda
continuam por lá, os outros foram tentar a sorte.
Seu Francisco deixou a sua terra aos 97 anos. Seu corpo não aguentou mais, faleceu no dia
08 de julho de 2014, quando esse livro estava sendo elaborado. Dois dias depois de enterrar
o pai, dona Maria já trabalhava na roça e, com voz firme, disse, como quem fala mais do que
com palavras: “Tudo que a gente tem coragem de plantar, a gente planta”.
Foto: Marco Aurélio Maia Barbosa de Oliveira
Camila Aparecida da Costa
Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis
São Carlos, SP
Foto: Marco Aurélio Maia Barbosa de Oliveira
Adão das Chagas
Central de Triagem Coopermyre
São Paulo, SP
Foto: Marco Aurélio Maia Barbosa de Oliveira
Sul

A mais fria região do Brasil é integrada por Paraná,


Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Forma-se geada
e não raro cai neve no inverno. Além das vestimentas,
a vegetação também sofre influência das baixas tem-
peraturas. Nos locais mais frios, matas de araucárias
se exibem com suas alturas e se destacam no pampa.
Os três estados foram percorridos e mais de 560
trabalhadores da Economia Solidária foram entrevis-
tados. Na paisagem, as plantações de grãos e o gado
no campo se misturam e harmonizam com os trabal-
hadores da terra.
O frio fica para o inverno, porque o povo se esquen-
ta com o calor do trabalho o ano inteiro. Da pesca sai
o sustento e o produto para as renderas, que usam as
velhas redes em forma de arte. Do moinho de pedra
sai a farinha de milho. Da plantação agroecológica sai
o alimento sem veneno e a saúde garantida.

Laguna, SC | Foto: Miriam Abe Alexandre


Pedra Furada | Urubici , SC | Foto: Mirian Abe Alexandre
Aldo Aparecido de Sousa
Cooperativa de Artesões de Guaraqueçaba
Guaraqueçaba, PR
Foto: Maria Izabel Machado
José Carlos Lopes
COOPAF
Itapejara D’Oeste, PR
Foto: Jocemir Porto Dadalt
Paulo Borges de Lima
Associação de Produtores de Corumbatai do Sul
Corumbatai do Sul, PR
Foto: Jocemir Porto Dadalt
Hildo Hech
Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar
com Interação Solidária
Planalto, PR
Foto: Jocemir Porto Dadalt
Associação de Moradores, Agricultores e Pescadores Raízes da terra do Retrovado
São José do Norte, RS
Foto: Sabrina Stieler Teixeira
Associação do Galpão Produtor Rural
Santana da Boa Vista, RS
Foto: Sabrina Stieler Teixeira
Valdir Polis de Antiqueira
Cooperativa de Pescadores e Psicultores de Tapes
Tapes, RS
Foto: Sabrina Stieler Teixeira
Cooperativa de Pescadores e Psicultores de Tapes
Tapes, RS
Foto: Sabrina Stieler Teixeira
Associação de Moradores, Agricultores e Pescadores
Raízes da terra do Retrovado
São José do Norte, RS
Foto: Sabrina Stieler Teixeira
Coopertaiva de Produção e Agropecuária Vista Alegre
Piratini, RS
Foto: Sabrina Stieler Teixeira
Fábio Lalalá
Associação XXXX | São Leopoldo, RS
Asssociação dos Produtores Ecológicos de Anita Garibaldi Foto: Fulano de Tal
Anita Garibalde, SC
Foto: Sirlanda Boza Viapiana
Rubem da Silva Rodrigues
Associação dos Apicultores Pinheirenses
Pinheiro Machado, RS
Foto: Sabrina Stieler Teixeira
Renderas
Pelotas, RS
Foto: Foto: Sabrina Stieler Teixeira
Associação de Moradores, Agricultores e Pescadores Raízes da terra do Retrovado
São José do Norte, RS
Foto: Sabrina Stieler Teixeira
Em 2002, seu José Gedeoni de Oliveira, agricultor de Urubici, em Santa Catarina, foi
hospitalizado durante seis dias. Demoraram a diagnosticá-lo. Seu José tinha sido intoxi-
cado com o veneno que aplicava na sua lavoura. O médico deu duas opções para seu
José: continuar plantando dessa forma, para morrer logo, ou parar de vez.
Seu José parou. Parou por sete anos. Dedicou sua força e tempo à criação de vacas
leiteiras. Em 2008, seu José voltou a plantar. Foi apresentado à agroecologia. Livre dos
venenos e cooperado à Ecoserra, seu José mudou de vida. Hoje afirma que a agroecolo-
gia produz de forma barata e rentável. “A minha saúde vale mais, a saúde dos meus filhos
está garantida”, fala com a voz firme de quem tem certeza do que diz.
Atualmente, seu José e seus quatro filhos produzem mais de 15 tipos de alimentos
que chegam aos pratos de Hospitais, Escolas Infantis e APAE’s, através do Programa de
Aquisição de Alimentos.
Foto: Mirian Abe Alexandre
Associação dos Produtores Rurais de Bocaina do Sul
Bocaina do Sul, SC
Foto: Mirian Abe Alexandre
Moisés Joel Ramos
Cooperativa dos Produtores da Agricultura Familiar de
Consumidores de São Francisco de Paula
São Francisco de Paula, RS
Foto: Lourdes Candida da Silveira
Flaver Antonio Wiggers
Assoc. de Produtores Rurais de Bocaina do Sul
Bocaina do Sul, SC
Foto: Mirian Abe Alexandre
Reci Rogério Córdora
Associação dos Produtores Rurais de Bocaina do Sul
Boicana do Sul, SC
Foto: Mirian Abe Alexandre
Renato Alseni Soares
Associação do Galpão Produtor Rural
Santana da Boa Vista, RS
Foto: Sabrina Stieler Teixeira
Cooperativa de Artesãos Arte Nossa
Guaraqueçaba, PR
Foto: Maria Izabel Machado
Realização:
Grupo Ecosol
ecosol@unisinos.br Organização e textos:
sies.ecosol.org.br Sabrina Stieler Teixeira
blogecosol.wordpress.com sabrinastieler@hotmail.com
Pesquisadores paticipantes

Águida Tatiana Costa Heliane Aragão Pereira Marco Aurélio Maia B. de Oliveira Filho
Alex Conceição dos Santos Hugo Luiz Cordovil de Freitas Maria Izabel Machado
Alyson Thiago Almeida Ramos Iraides Rodrigues Leite de Araújo Marta Simone Vital Barreto
André Felipe Pereira Freitas Ivan Lopes Gomes da Silva Micaela Alves Rocha da Costa
Angela Cristina Cordeiro de Souza Jane Gleifa Oliveira Machado Michele Yenara Agostinho
Anna Laura Machado Falluh Jaqueline Morbach Neumann Micheline Maria de Lima
Antônia Lúcia Paz Rodrigues Joana Darc Aguiar de Souza Miriam Abe Alexandre
Antoninha Sirlanda Boza Viapiana João Conrado Dias Fabbri Miriam Moura Vital
Beatriz Ribeiro João José Corrêa Raimunda Beatriz Borba Miranda
Belisa Victoria Nascimento Rocha Jocemir Porto Dadalt Rogério Silva Fiaes
Carmelita Lutkmeier José Francisco Pereira de Sousa Sabrina Abrão de Magalhães
Cecília Ribeiro da Silva Karlla Miranda da Costa Sabrina Stieler Teixeira
Clara Denise de Sousa Pinto Katiane Farias Teixeira Santinho dos Santos Carvalho
Clarice Alves de Lima Keillha Israely Fernandes de Araújo Solange Maria da Silva do Nascimento
Daliane Deyse de Lima Pessoa Kristiany Mariely Bender Sonia de Fátima de Medeiros
Daniela Rueda Leonise Nichele Pereira Vasconcelos
Elizabete de Jesus Rocha Lourdes Candida da Silveira Sylvio Antônio Kappes
Erika Ferreira Moura Luciana Eugênio Rogério Thaisy Perotto Fernandes
Gearlanza Alves Galdino Luciane Rocha Ferreira Tiago da Conceição Souza
Geusa da Purificação Pereira Manoel Alves de Oliveira Wanderley Batista de Carvalho
“Esta publicação é representativa das diversas faces da eco-
nomia solidária em nosso país. Faces de pessoas marcadas pelo
tempo da aspereza da vida, mas fundamentalmente pelo olhar
da esperança. Uma esperança que alimenta as utopias e anima a
ação coletiva e solidária”.
Equipe SENAES

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