Pode significar “lugar solitário” ou “lugar de colocar
em ordem” mas também “falar”. O deserto, ao mesmo tempo, é o lugar do silêncio e também o lugar da palavra. O Senhor na sua pedagogia costuma levar as almas que ele ama para o deserto e ali permite que estas sejam visitadas de forma profunda pela solidão. No deserto tudo é silêncio. Ali a alma amante é forjada no calor da provação. Contudo, ela se torna mais resistente e bela. O silêncio por vezes nos capacita não apenas a ouvir melhor, mas também nos abre a capacidade de enxergar além. Enxergar a beleza escondida em cada traço de nossa história, em cada passo de nossa caminhada muitas vezes tão provada. lançando um olhar na Palavra de Deus, é bonito contemplar a grande obra realizada na vida de Abrão. Um homem simples que no cotidiano de sua vida marcada até mesmo pela dor de não ter filhos, recebe um chamado divino e não um chamado qualquer, mas é convocado a sair de sua terra e ir para uma nova terra que o Senhor mesmo indicaria (cf.Gên 12). E ele partiu. Todo chamado exige renúncias e com Abrão não foi diferente. Mas todo chamado carrega consigo também uma promessa. A ele Deus havia prometido uma terra, uma descendência numerosa e, ainda mais, teria o seu nome associado a uma benção que perpassaria por gerações. Após a partida - exigência básica de uma vocação- Deus o conduz ao Negueb, ou seja, ao deserto. O Senhor leva sempre os seus escolhidos ao deserto para ali formá-los. Deserto é o lugar do abandono, da purificação… É lugar do encontro com Aquele que chama e também consigo mesmo. “O deserto foi criado simplesmente para ser o que é. É o lugar lógico de habitação para o homem que não procura outra coisa senão ser ele próprio - isto é, uma criatura solitária e pobre, dependendo unicamente de Deus, sem nenhum grande projeto que se interponha entre ele e seu Criador." (Thomas Merton) A beleza do deserto talvez consista em percebermos quem realmente somos- a nossa humildade- e a grandeza Daquele que nos chamou. O deserto nos faz depender unicamente de Deus! “Grandes são os desertos, e tudo é deserto. Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo. Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas, Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu. Grandes são os desertos, minha alma! Grandes são os desertos" (Álvaro de Campos). Grande se torna o coração de quem pela experiência do deserto passou e deixou-se interpelar pelo silêncio e pela solidão, e aí encontrou beleza, encontrou- se com Deus. Que saibamos acolher generosamente em nossa vida o chamado “[...]sai da tua terra e vai para a terra que lhe vou indicar[…]”. D eus o eterno chamante continua a passar em nossa vida e a cada instante nos convida a partir. Sejamos pois ousados, afinal, “responder ao chamado de Deus é sempre uma aventura, Deus porém merece esse risco” ( Santa Edith Stein).