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CLIMA E SEGURANÇA NO BRASIL

PARTE DA SÉRIE “WORLD CLIMATE AND SECURITY REPORT 2020”

Um Produto do Grupo de Especialistas do


INTERNATIONAL MILITARY COUNCIL ON CLIMATE AND SECURITY

NOVEMBRO DE 2020

www.imccs.org
CLIMA E SEGURANÇA NO BRASIL
PARTE DA SÉRIE “WORLD CLIMATE AND SECURITY REPORT 2020”

Um Produto do Grupo de Especialistas do


INTERNATIONAL MILITARY COUNCIL ON CLIMATE AND SECURITY

NOVEMBRO DE 2020

Foto de capa:
Oficiais brasileiros do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) inspecionam madeira
associada ao desmatamento ilegal em Espigão do Oeste, Brasil.
F oto : F ernando A ugusto

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O International Military Council on Climate and Security (IMCCS) é um grupo de líderes militares seniores, especialistas
em segurança e instituições de segurança em todo o mundo, dedicado a antecipar, analisar e abordar os riscos de segurança
de mudança climática. O IMCCS é co-liderado por:

Secretária Geral do IMCCS


A Honorável Sherri Goodman
Ex-Vice-Subsecretária de Defesa (Segurança Ambiental)
US Department of Defense
Estrategista Senior, The Center for Climate and Security

Presidente do IMCCS
General Tom Middendorp (aposentado)
Ex-Chefe de Defence of the Netherlands
Membro Associado Senior, Clingendael Institute

O Grupo de Especialistas IMCCS consiste em líderes comprometidos em conduzir análises, políticas e comunicações
sobre clima e segurança, incluindo através do desenvolvimento, publicação e endosso do Relatório Mundial de Clima e
Segurança, bem como outras análises oportunas orientadas por sinais de demanda do IMCCS. O Grupo de Especialistas
IMCCS consiste atualmente em representantes de quatro instituições:

• The Center for Climate and Security (CCS), um instituto do The Council on Strategic Risks (CSR)
• The Planetary Security Initiative at the Netherlands Institute of International Relations (Clingendael)
• The Hague Centre for Strategic Studies (HCSS)
• The French Institute for International and Strategic Affairs (IRIS)

Este relatório deve ser citado como: “Climate and Security in Brazil.” Produto da Expert Group of the International Military
Council on Climate and Security. Autores: Oliver-Leighton Barrett (CCS), Andrea Rezzonico (CCS), Vanessa Pinney (CCS),
e Francesco Femia (CCS). Editado por Francesco Femia e Shiloh Fetzek. Publicado pela Center for Climate and Security,
um instituto do Council on Strategic Risks. Novembro 2020.

© 2020 The Center for Climate and Security (CCS), um instituto do The Council on Strategic Risks

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CONTEÚDO

SUMÁRIO EXECUTIVO 5

O QUADRO REGIONAL 7

DESTAQUE NO BRASIL 12
INTRODUÇÃO 13
O QUADRO NACIONAL 15
DESMATAMENTO ILEGAL E SEGURANÇA 20
PRONTIDÃO PREJUDICADA: AUMENTO DO NÍVEL DO MAR E INUNDAÇÃO 24
DA INFRAESTRUTURA MILITAR

SEGURANÇA ENERGÉTICA E HÍDRICA: MUDANÇA DOS PADRÕES DE CHUVA 26

RESPOSTAS DO GOVERNO BRASILEIRO 28


DESMATAMENTO: UM GOVERNO TRABALHANDO COM OBJETIVOS OPOSTOS 31

RECOMENDAÇÕES PARA O BRASIL 36

CONCLUSÃO 40

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SUMÁRIO EXECUTIVO

A mudança climática é muito mais do que uma questão ambiental; representa um sério desafio à paz
e estabilidade em todo o mundo. Este relatório explora como este desafio pode afetar o maior e mais
populoso Estado da América do Sul, o Brasil. Apesar de reconhecer as ameaças à segurança climática,
o Brasil não está adequadamente preparado para os impactos dos agravantes relacionados às mudanças
climáticas sobre sua segurança, economia, base de recursos naturais ou infraestrutura nacional crítica,
incluindo instalações militares. Este relatório recomenda que a comunidade de segurança brasileira
conduza uma avaliação de risco completa, incluindo riscos para os interesses estratégicos do Brasil como
uma potência média emergente, e desenvolva um plano governamental robusto para abordar a gama
de ameaças que as mudanças climáticas representam para a segurança pública. Também recomenda
que o governo brasileiro se empenhe em um esforço significativo para reduzir o desmatamento e
cumprir as metas climáticas internacionais, a fim de evitar as ramificações de segurança potencialmente
catastróficas das atuais trajetórias de emissão de gases de efeito estufa.1

A comunidade de segurança dos EUA e outros reconheceram que a mudança climática está remodelando a
estratégia de meio ambiente global e têm lidado com uma série de impactos relacionados ao clima quanto
a prontidão, operações e estratégia militares.2 Por exemplo, em 2014, o Departamento de Defesa dos
EUA divulgou seu Roteiro de Adaptação às Mudanças Climáticas – um documento que repetidamente
se referia à mudança climática como um "multiplicador de ameaças" devido ao seu potencial de exacerbar
muitos dos desafios que os militares dos EUA enfrentam em território nacional e no exterior​.3 Em
2010, o Comando das Forças Conjuntas dos EUA publicou uma avaliação fundamental alertando que a
mudança climática havia se tornado "uma das 10 principais tendências enfrentadas pelos líderes militares"
e enfatizou a "urgência" do assunto e a necessidade de seus líderes compreenderem as “incertezas que
estão por vir.”4 Sob a atual administração dos EUA, apesar da falta de preocupação com a mudança
climática por parte da Casa Branca, altos funcionários de defesa continuaram a fazer declarações e ações
significativas reconhecendo os riscos de segurança da mudança climática.5

A mais recente Política Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa de 2020 também
reconhecem que os impactos causados pelas mudanças no clima “podem ter graves consequências
ambientais, sociais, econômicas e políticas, exigindo pronta resposta do Estado.”6 Seu Livro Verde,
publicado pelo Ministério da Defesa, detalha as várias maneiras como as Forças Armadas do Brasil
estão cuidando do meio ambiente em que treinam e operam.7 Os militares brasileiros estão atentos
aos aspectos de como as mudanças climáticas afetarão sua missão; este relatório examina essas questões
em profundidade e destaca a importância de considerar como as mudanças climáticas podem afetar os
interesses estratégicos do Brasil e o ambiente de segurança global e regional.

Este estudo encontra uma série de maneiras pelas quais a segurança do Brasil pode ser impactada
no contexto das mudanças climáticas, desde impactos climáticos diretos, como inundações e secas,
até outras mudanças como a preservação da Floresta Amazônica como sumidouro de carbono. Esses
fatores podem ser importantes para a segurança do Brasil, mas podem ainda não ser bem reconhecidos
neste discurso. Eles incluem:

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• Exposição da infraestrutura militar ribeirinha e costeira a inundações devido ao aumento
do nível do mar e chuvas extremas, e o potencial impacto na prontidão militar e nas missões.
• Os impactos na segurança da aplicação negligente do Estado de Direito, especialmente no
contra-desmatamento, que abre espaço para atividades criminosas transnacionais.
• O impacto da mudança nos padrões de chuva na segurança energética do Brasil, devido à
dependência do país de barragens hidrelétricas – que são cruciais para a transição para a energia
renovável, mas vulneráveis às mudanças nos fluxos dos rios.
• O papel da Floresta Amazônica e dos ciclos de chuva para a segurança hídrica do Brasil,
incluindo o abastecimento de água nos principais centros urbanos.
• As desvantagens potenciais das organizações militares que lideram o contra-desmatamento e
o combate a incêndios em áreas selvagens, em termos de usurpação e sendo menos eficazes do
que as agências civis.

O Brasil é central para o debate sobre mudança climática em sua região, por ser um ator indispensável
nas discussões e acordos regionais de silvicultura, abastecimento de água e energia. Os esforços de
colaboração do país com seus vizinhos no combate a crimes ambientais também destacam o papel
central das forças de segurança do Brasil na governança de recursos regionais e combate ao crime
organizado.

O Brasil tem potencial para liderar na região, não apenas em assuntos amazônicos, mas em traçar um
rumo em direção à resiliência regional aos impactos das mudanças climáticas e na prevenção de suas
possíveis consequências para a segurança. Contudo, o retrocesso do Brasil em suas políticas e práticas
outrora responsáveis de combate ao desmatamento nos últimos anos é de particular preocupação, tanto
para os brasileiros quanto para a comunidade internacional, dada a importância crítica da Floresta
Amazônica para o sistema climático global.

As mudanças climáticas podem ter resultados devastadores de segurança para o Brasil e seus vizinhos,
incluindo suas populações mais vulneráveis, caso não haja um planejamento urgente de contingência
de segurança climática, mitigação sustentável e abrangente dos gases de efeito estufa, investimentos
significativos em adaptação às mudanças climáticas e conservação das florestas. As análises e
recomendações neste relatório têm o objetivo de apoiar as políticas e o planejamento brasileiro a reduzir
e gerenciar significativamente essas ameaças.

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O QUADRO REGIONAL

PRINCIPAIS CONSIDERAÇÕES

• A mudança climática afetará a demanda por capacidades militares regionais e


priorização em todos os conjuntos de missões, com assistência humanitária e missões
de resposta a desastres se tornando mais comuns. Sem esforços coordenados para
mitigar os impactos das mudanças climáticas e para se adaptar às mudanças inevitáveis,
esta sobrecarga das capacidades militares poderá afetar a segurança ambiental de modo
geral na região.

• Desde o transporte aéreo de suprimentos de emergência até o aumento das forças


policiais em estados fronteiriços, as forças militares estão cada vez mais envolvidas em
esforços de resposta humanitária em toda a região.8 Isso continuará à medida que as
mudanças climáticas gerem mais desastres. As organizações militares da região devem
incorporar melhor as pesquisas de segurança climática disponíveis em seus planos e
operações estratégicas.

• As áreas da América do Sul, da América Central e do Caribe que serão mais afetadas
pelas mudanças climáticas sob níveis mais baixos de aquecimento global (1-2°C até
2100) são: i. regiões áridas e secas, ii. países menos desenvolvidos, iii. pequenos estados
insulares e iv. regiões da América do Sul que dependem do escoamento das águas glaciais
e dos padrões de chuva influenciados pelos processos hidrológicos da bacia amazônica.9

• Cidades e comunidades costeiras estão particularmente expostas a desastres naturais


que podem sobrecarregar a capacidade de resposta civil, aumentando a probabilidade
de que os governos direcionem unidades militares para auxiliar em operações de
emergência. Em toda a região, os governos e seus estabelecimentos de segurança e resposta
a emergências estão inadequadamente preparados para gerenciar as consequências dos
desastres naturais causados pelo clima e crises humanitárias.

• A mudança climática provavelmente aumentará a insegurança alimentar e o estresse


hídrico na região, o que pode não apenas aumentar as tensões sociais e políticas, mas
também aumentar a frequência e a escala do deslocamento forçado. Consequentemente,
em alguns cenários, pode levar à intervenção das forças regionais ou internacionais de
estabilização e manutenção da paz.

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De acordo com análises recentes do Painel de Segurança Nacional, Militar e de Inteligência do Center
for Climate and Security, mesmo em cenários mais baixos de aquecimento (1-2°C), a América do Sul, a
América Central e o Caribe enfrentarão graves riscos para sua segurança nas próximas três décadas. Níveis
mais elevados de aquecimento em toda esta região (3-4°C) representarão riscos de segurança regional
catastróficos e provavelmente irreversíveis ao longo do século XXI, de acordo com a mesma avaliação.10 Isso
ocorre porque os impactos das mudanças climáticas podem prejudicar os meios de subsistência, piorar a
insegurança alimentar e hídrica, impulsionar a migração e o deslocamento e sobrecarregar as capacidades do
governo, especialmente onde eles já lutam para atender à demanda. Se esses desafios não forem administrados
adequadamente, eles poderão piorar os fatores subjacentes à insegurança, como pobreza, desigualdades,
marginalização, governança deficiente, protestos, competição por recursos e tensões sociais. Essa dinâmica
pode, por sua vez, piorar alguns dos desafios de segurança da região, incluindo o grave crime organizado
transnacional. Tanto as vulnerabilidades climáticas quanto a transição energética podem dificultar ainda mais
para que governos que estão atualmente frágeis ou falhando, como a Venezuela, estabilizem suas economias
e sistemas políticos. Essas dinâmicas, em alguns cenários, podem contribuir para o risco de violência política,
instabilidade e conflito em algumas partes da região, e podem agravar as tensões interestaduais.

Cenários de
aquecimento / Uma
Avaliação da Ameaça à
Segurança da Mudança
Climática Global (Fev.
de 2020)
The Center for Climate
and Security

Dada a natureza transversal dos impactos das mudanças climáticas e suas complexas interações com
a dinâmica da segurança, é claro que todos os setores dos governos têm a responsabilidade de se
preparar e prevenir os riscos de fragilidade e instabilidade relacionados ao clima.11 Isso é especialmente
verdadeiro à luz das sólidas informações disponíveis sobre as mudanças climáticas futuras e seu impacto
na segurança humana que sustenta a segurança interna. Os atores de defesa e segurança têm um papel
a desempenhar na resposta de todo o governo, especialmente devido ao papel crucial dos militares na
resposta a desastres e no apoio à resiliência a desastres e na resposta a crises humanitárias.

A infraestrutura militar, junto com outra infraestrutura nacional crítica, pode estar exposta aos riscos climáticos,
como tempestades e aumento do nível do mar. Para os militares da região, os riscos à segurança climática
deveriam informar as suposições de planejamento. Para auxiliar nestes processos, este relatório explora como
a variabilidade climática já está agravando a fragilidade ecológica no Brasil e em seus vizinhos, contribuindo
para a insegurança alimentar e hídrica, levando a crises humanitárias mais frequentes e em larga escala.

Como os governos da região estão cientes, os impactos da mudança climática na América do Sul e Central
estão se acelerando, e continuarão a acontecer nas próximas décadas. Em toda a Pan-Amazônia (uma
área que abrange nove países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Suriname, Guiana

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e Guiana Francesa), a variabilidade do clima está levando a secas em regiões que normalmente não as
sofrem e a inundações em regiões geralmente secas.12 Isso prejudica os ciclos de cultivo e colheita em
torno dos quais as vidas de milhões de pessoas em toda a região são organizadas. Na falta de empregos,
saúde e serviços públicos, com o agravamento dos conflitos sobre recursos naturais e terras em alguns
lugares, um grande número de agricultores tem migrado para as cidades na esperança de encontrar
fontes alternativas de renda e, de forma mais geral, para melhorar sua segurança alimentar.13 Nas
cidades, muitos migrantes encontram oportunidades de emprego limitadas, altas taxas de criminalidade
e racismo e correm o risco de pobreza extrema.14 Em muitos casos, essa população que chega não tem
outra alternativa a não ser residir em assentamentos informais, que podem estar localizados em áreas
vulneráveis a desastres naturais, como enchentes, deslizamentos de terra e terremotos.15 A menos que
sejam bem gerenciados, esses desafios podem contribuir para a erosão da segurança humana e nacional.

Olhando, por exemplo, para a Venezuela, os fatores que levaram à mais significativa crise humanitária
multinacional que a América do Sul já enfrentou, são impulsionados principalmente pelas condições políticas
e econômicas.16 17 Embora pouco relatadas pela mídia, essas condições também foram agravadas pelo evento El
Niño que começou em 2015. O El Niño criou condições mais secas do que o normal na Venezuela, reduzindo
os níveis de precipitação em regiões onde a maior e mais produtiva usina hidrelétrica do país (A Hidrelétrica
de Guri) está localizada.18 A longa seca interrompeu os processos de captação de água e contribuiu para sérios
problemas de produção e distribuição de energia em todo o país de quase 30 milhões de habitantes.19 Dentro da
Venezuela, e em muitas cidades fronteiriças de países vizinhos, forças militares foram desdobradas em resposta
à crise humanitária, em alguns casos de formas que infringiam o asilo e os direitos humanos dos refugiados.20

Casa com uma família em um pequeno vilarejo nas montanhas de Copan, Honduras, na fronteira com a Guatemala.
André Schütte / Domínio Público via Wikimedia Commons

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Além de exacerbar as crises emergentes, os impactos climáticos também podem reforçar os padrões existentes
de maneiras que criem novos desafios. Por exemplo, as mudanças climáticas podem aumentar a migração
como uma estratégia para diversificar os meios de subsistência e buscar a segurança humana. De acordo com
o Banco Mundial, o número de “migrantes climáticos” no México e na América Central pode aumentar
de 2020 a 2050, com a região testemunhando uma média de 1,4 a 2,1 milhões de migrantes climáticos até
2050.21 Embora a decisão de migrar seja inerentemente multicausal e não possa ser atribuída apenas aos
impactos climáticos, os choques climáticos e agravantes (por exemplo, tempestades e secas) continuarão a
impulsionar a mobilidade humana. Em um cenário de alta emissão, até o final do século, a América Central
poderia experimentar aumentos dramáticos na migração climática devido ao agravamento dos impactos
da seca sobre a disponibilidade de água e produtividade agrícola.22 Na parte sul do hemisfério, um modelo
sugeriu que, para o período 1970-2010, a Argentina e o Brasil experimentaram mudanças de deslocamento
populacional relacionadas a desvios da disponibilidade de água em relação às condições "normais".23

A migração é uma estratégia de adaptação importante em um clima em mudança, mas também pode
criar tensões adicionais nas áreas de destino, conforme indicado acima. Espera-se que a grande maioria
dos migrantes climáticos na região se movam internamente (dentro de seus próprios países), aumentando
as pressões de recursos em cidades densamente povoadas. Os Estados da América Central e do Caribe
provavelmente passarão por crises humanitárias relacionadas ao clima mais frequentes e em larga escala,
devido à sua alta exposição e baixa capacidade de enfrentamento. O Índice de Risco Climático Global,
criado pela organização sem fins lucrativos German Watch, constatou que entre 1994 e 2013, Honduras
foi o país mais afetado pela mudança climática no mundo, sendo a Nicarágua o quarto, a República
Dominicana o oitavo e a Guatemala o nono. O estudo também constatou que, no período de 1999 a
2018, Porto Rico e Haiti foram os primeiros classificados na região em risco climático.24

Desastres são outra questão relacionada que provavelmente impactará a segurança regional aumentando a
demanda por resposta militar aos mesmos, enquanto ameaça a infraestrutura militar. Muitos estados da região
têm uma forte cultura de preparação e resiliência para desastres, mas a escala e o ritmo dos desastres relacionados
ao clima podem sobrecarregar essas capacidades de enfrentamento. Isso é especialmente verdadeiro em países
cujas economias dependem de setores sensíveis ao clima, como agricultura, pesca ou turismo e onde a contração
do PIB, causado pelo impactos climáticos nesses setores ou de desastres agravados, podem deixar menos recursos
para a redução do risco de desastres e resiliência. Exemplos recentes incluem a experiência de Porto Rico com
o furacão Maria (2017), onde mais de 3.000 pessoas morreram;25 e nas Bahamas (2019), quando um furacão
de categoria 5 causou mais de 50 mortes e deixou 14.000 desabrigados.26 Dadas as projeções de mudanças
climáticas para a região, os riscos de desastres e crises humanitárias tendem a aumentar significativamente. Isso
aumentará a demanda por resposta dos militares e das agências de gestão de emergências civis.

Nos últimos cinco anos, os estados regionais têm apelado repetidamente aos seus militares, bem como aos
aliados, para apoiar as agências civis locais na gestão de crises humanitárias. Em alguns casos, os militares
receberam ordens de assumir o controle das áreas de recebimento, como foi o caso em fevereiro de 2018
no estado do norte do Brasil, Roraima, quando o então presidente interino, Michel Temer, declarou uma
“emergência social” e colocou os militares e polícia responsável pela maioria das operações relacionadas
com refugiados.27 Em 2019, o então recém-eleito presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, foi criticado por
militarizar a fronteira à medida que os confrontos por ajuda humanitária se intensificavam. O movimento
de tropas para a fronteira do Brasil com a Venezuela, combinado com a retórica acirrada entre Bolsonaro
e o presidente venezuelano, aumentaram o risco de confronto entre os dois países sul-americanos.28

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Desde o transporte aéreo de
suprimentos de emergência até
o apoio às forças policiais em
estados fronteiriços, as forças
militares estão se envolvendo
em mais esforços de resposta
humanitária em toda a região.29

Existem alguns serviços em que


as forças armadas de alguns países
estão melhor posicionadas para
servir ao bem público em tempos
de crise, por exemplo, implantação
em larga escala de mão de obra
geral e especializada, experiência em
operações de segurança, transporte
aéreo pesado e transporte geral de
suprimentos de socorro. Em um
número crescente de cenários,
especialmente à medida que o
clima muda, os militares terão cada
vez mais a tarefa de apoiar agências
de resposta / gestão de emergência
para salvar vidas e restaurar a ordem.

Contudo, as instalações militares


também são vulneráveis aos
impactos climáticos, especialmente
as instalações costeiras.30 Essas
Resposta a nível de país / Alto Comissariado das Nações Unidas vulnerabilidades precisam ser
para Refugiados (ACNUR) avaliadas e abordadas dentro de um
planejamento nacional mais amplo
de redução de risco de desastres.

O apoio militar para lidar com a mudança climática e a segurança pode ser particularmente importante no Brasil.
Se combinado com o respeito pelas normas humanitárias, seu envolvimento poderia aumentar a resiliência no
país e na região e apoiar os esforços internacionais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e preservar
os sumidouros de carbono, que são um imperativo de segurança internacional. Este é particularmente o caso
por causa das capacidades das Forças Armadas brasileiras, incluindo seu apoio tradicional às agências civis de
aplicação da lei no combate a crimes ambientais e apoio às operações de resposta a desastres. A seção a seguir
explora esses desafios e oportunidades, bem como as opções estratégicas e políticas disponíveis para o Brasil, que
enfrenta um futuro de segurança cada vez mais influenciado pelas mudanças climáticas.

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DESTAQUE NO BRASIL

PRINCIPAIS CONSIDERAÇÕES

• A mudança climática não terá apenas graves consequências ambientais, sociais, econômicas e
políticas, exigindo respostas imediatas do Estado brasileiro, mas seus efeitos serão sentidos em toda
a gama de operações das Forças Armadas brasileiras. Isso inclui missões operacionais, treinamento e
projeto de instalação e manutenção. As Forças Armadas brasileiras precisam se preparar para esses riscos.

• Embora nas últimas décadas o Brasil tenha feito progresso em uma série de metas ambientais e
de sustentabilidade (contra-desmatamento e aumento da geração de energia renovável), o Brasil
está atualmente a caminho de perder suas metas de conservação florestal devido ao retrocesso
no uso da terra e no setor florestal.31 O desmatamento ilegal apresenta o maior risco ambiental
para o Brasil, mas também representa uma ameaça à segurança pública, dados os impactos de
tal atividade criminosa em larga escala sobre a legitimidade do Estado.32

• Os crimes cometidos em escala industrial minam a estabilidade e a legitimidade do Estado.


Nesse contexto, o desmatamento ilegal deve ser enfrentado com a reintrodução da estrutura contra
desmatamento que teve sucesso na maior parte das duas décadas anteriores. Neste contexto, o
governo brasileiro deveria se envolver em um esforço significativo para reduzir o desmatamento
e cumprir com as metas climáticas internacionais, a fim de evitar as ramificações de segurança
potencialmente catastróficas das atuais trajetórias de emissão de gases de efeito estufa.

• A maioria dos recursos de patrulha costeira e ribeirinha do país são ancorados e lançados em
instalações navais que estão expostas a riscos relacionados ao aumento do nível do mar e inundações
mais frequentes e severas dos rios. Isso pode reduzir a prontidão e a capacidade da Marinha do Brasil de
cumprir suas principais obrigações, incluindo salvaguardar a riqueza mineral submarina e responder
de forma eficaz à criminalidade ilícita próxima ao rio e desastres naturais/crises humanitárias.

• As mudanças climáticas e a variabilidade da precipitação ameaçam a segurança da água e


a produtividade agrícola em grandes partes do Brasil. Essa vulnerabilidade, combinada com
outros desafios, pode resultar em crises hídrica e alimentar. Sob algumas condições, isso pode
contribuir para a agitação política, o que pode colocar tensões significativas na capacidade do
governo federal de ajudar os governos locais a fornecer bens e serviços públicos.

• O interesse da comunidade internacional pelos assuntos da Amazônia aumentou sob a


administração Bolsonaro, devido ao enfraquecimento sistemático do presidente dos departamentos
e agências civis tradicionalmente responsáveis pelos programas de contra desmatamento do país.
O desinteresse do governo Bolsonaro em conter o desmatamento ilegal fere a internacionalização
do Brasil, no momento em que busca participar de fóruns e processos decisórios internacionais.

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INTRODUÇÃO

As mudanças climáticas apresentam ameaças diretas e indiretas à segurança pública do Brasil. Os


desafios de desenvolvimento e segurança que o Brasil e seus vizinhos já enfrentam serão agravados por
precipitação mais variável, condições mais secas, aumento da temperatura, aumento do nível do mar
e eventos climáticos mais extremos. Esses eventos não apenas contribuem para condições que possam
aumentar a insegurança em partes do Brasil (e em seus estados vizinhos), mas também prejudicam a
prontidão militar, especialmente das forças navais.

Para os militares, um dos impactos mais imediatos é um aumento na demanda por resposta a desastres
relacionados às mudanças climáticas. Como as Forças Armadas brasileiras são uma parte significativa da
resposta do Estado aos desastres naturais, é importante avaliar como as mudanças climáticas podem tornar
esses desastres mais frequentes e mais devastadores. À medida que o nível do mar sobe, as tempestades
costeiras se intensificam, e eventos de chuva mais extremos ocorrem no interior, a infraestrutura militar
também é vulnerável, com as instalações costeiras e ribeirinhas podendo inundar com mais frequência.

Os impactos mais amplos das mudanças climáticas na segurança internacional também podem afetar a
requisição das Forças Armadas brasileiras. Impactos mais intensos das mudanças climáticas em regiões
frágeis podem aumentar a demanda por ajuda humanitária global e operações de apoio à manutenção
da paz. Dada a tradição do Brasil de participar de – e em alguns casos, liderar – grandes operações
de manutenção da paz em todo o mundo, pode ser que a demanda para que o Brasil e suas tropas
contribuam para missões como estas aumente significativamente.

Para o Brasil, os efeitos das mudanças


climáticas, como a seca, já estão convergindo
com outros fatores de instabilidade. Como
exemplos, cita-se a contração econômica
(agravada no momento em que este artigo
foi escrito por COVID-19), pobreza, tensões
e desgastes políticos e atividades ilícitas em
seus vastos espaços urbanos e de fronteira,
em maneiras que poderiam aumentar o
risco de crises humanitárias. Sem uma
atenção significativa ao fortalecimento das
agências civis de resposta a emergências e
gestão de recursos insuficientes, essas crises
podem sobrecarregá-los, o que poderia, em
alguns cenários, levar o governo a aumentar
o envio doméstico de forças militares. O
Brasil também foi recentemente lembrado
de que crises em países vizinhos, como a
Venezuela, podem se espalhar além de suas
fronteiras, causando algumas tensões ou
violência transfronteiriças.
Mapa Político do Brasil. www.onestopmap.com

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Por um lado, os recursos militares podem ser uma força poderosa no apoio ao Estado de Direito e na
proteção contra atividades ilegais e desmatamento na Amazônia. Por outro lado, há pontos sensíveis
a serem considerados em torno da transparência dessas atividades, respeito às normas democráticas
e extrapolação do controle militar, bem como preocupações com a manutenção das capacidades
militares para suas atribuições tradicionais e como evitar que sejam sobrecarregados. Encontrar o
equilíbrio apropriado no qual os militares brasileiros estão disponíveis para apoiar essas missões quando
necessário é importante, especialmente devido à sua influência na segurança interna e internacional.
Outra consideração para atingir esse equilíbrio é que o público brasileiro pode perder a fé nas Forças
Armadas se forem percebidas como ineficazes em cumprir sua missão de conter o desmatamento ilegal.
Diante desses riscos e compensações, o governo brasileiro deve revigorar os órgãos tradicionalmente
responsáveis ​​pelo combate aos crimes ambientais (desmatamento, incêndios, tráfico de animais silvestres
etc.) para que o esforço tenha êxito com o nível adequado de apoio militar – ao mesmo tempo que evita
a dependência excessiva dos militares.

Embora a interação entre mudança climática e degradação ambiental (por exemplo, desmatamento)
tenha sido reconhecida pelas Forças Armadas brasileiras, a doutrina, planos e políticas militares precisam
ser adaptados para responder de uma forma que seja compatível com as ameaças que representam para a
segurança interna. As Forças Armadas brasileiras têm a oportunidade de desempenhar um papel nacional
e regional construtivo na prevenção do desmatamento e no enfrentamento das ameaças à segurança
relacionadas às mudanças climáticas. Dado o papel dos militares na compreensão e abordagem das ameaças
ao país e seus interesses nacionais, eles deveriam examinar minuciosamente os riscos à segurança climática
e incorporar esta questão em uma abordagem governamental mais ampla para as mudanças climáticas.

O Corveta Barroso - construído pela Marinha do Brasil. Domínio Público via Wikimedia Commons

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O QUADRO NACIONAL

O Brasil é o peso-pesado da região em termos geográficos e econômicos. É de longe o maior país da América
do Sul, o quinto maior país do mundo em área com 8,5 milhões de quilômetros quadrados (3,2 milhões de
milhas quadradas), e é o sexto mais populoso com mais de 210 milhões de pessoas (aproximadamente 49%
da população da América do Sul).33 O Brasil também é a nona maior economia do mundo em PIB nominal
e a sétima em Paridade de Poder de Compra (PPP), tornando o Brasil a maior economia da região.34

Como a nação com a maior porção da bacia amazônica (aproximadamente 60%), o Brasil aproveitou
os generosos fluxos de chuvas e rios que as florestas fornecem e agora é um líder mundial na produção
de energia renovável e não renovável.35 As descobertas de campos de petróleo da camada pré-sal (as
maiores reservas de petróleo e gás do Brasil) há mais de uma década na Zona Econômica Exclusiva
(ZEE) do Brasil aumentaram a economia e importância política do país. O interesse do Brasil em
explorar os recursos disponíveis no fundo do mar de sua plataforma continental, uma área de cerca de
dois terços do tamanho de sua massa terrestre, influencia a decisão de desenvolver um submarino de
propulsão nuclear e renovar sua frota de submarinos convencionais, dada a necessidade de proteção
militar e apoio logístico para operações extrativas remotas.36

O Brasil, junto com a Rússia, Índia, China e África do Sul, é uma das cinco economias globais emergentes
denominadas “BRICS,”37 e por causa de sua economia em crescimento e influência, o Brasil teve sucesso na
formação do clima global, finanças e agendas comerciais.38 Nas últimas duas décadas, os líderes brasileiros
também exerceram considerável influência internacional em questões relacionadas ao comércio e ao
meio ambiente, em parte devido à importância da Amazônia para o sistema climático global.39

Os Estados em desenvolvimento há muito buscam no Brasil a liderança nas principais questões globais,
como as mudanças climáticas, e como uma voz do Sul Global em questões de segurança internacional. No
entanto, a percepção do Brasil como um ator esclarecido no cenário mundial está mudando rapidamente.

A influência global e o prestígio do Brasil (e seus esforços para desempenhar um papel de liderança no
cenário global) estão sendo prejudicados devido ao forte eixo de seu governo atual de apoiar iniciativas
internacionais cruciais, como a agenda contra desmatamento. As políticas ambientais do governo
Bolsonaro estão desalinhadas com a meta de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do
Brasil junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), meta
a qual visa reduzir o desmatamento ilegal a zero antes de 2030.

Nas últimas cinco décadas, quase um quinto da Amazônia foi arrasado para agricultura, extração de
madeira e mineração e, nas taxas atuais, outros 20% da cobertura de árvores da Amazônia serão destruídos
até 2030.40 O presidente, e muitos de seus ministros, filosoficamente, politicamente e ideologicamente
apoiam o desmatamento como um pré-requisito para o crescimento econômico, acreditando que parte
da solução para o alívio da pobreza está em abrir novas áreas florestais para fazendas de gado, agricultura
e indústria madeireira. Este paradigma está em desacordo com as promessas de longa data do Brasil de
reduzir o desmatamento a zero e fazer do Brasil um farol global de conservação do meio ambiente e
resiliência climática.41

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O Ibama apreende 7.387 toras extraídas ilegalmente da Terra Indigina Pirititi, em Roraima. Felipe Werneck/Ibama via Flickr

Devido a um aumento alarmante de desmatamento ilegal sob a administração atual, a campanha de


contra-desmatamento do Brasil não está funcionando bem, não ajudada pelas temporadas de incêndios
de 2019 e 2020. Por causa do que é percebido por muitos líderes nacionais e mundiais como uma
abordagem irresponsável para lidar com a mudança climática (o presidente Bolsonaro expressou
repetidamente oposição ao Acordo de Paris), o Brasil pode perder parte de sua influência global.
Também perde uma oportunidade histórica de emergir como um líder mundial em conservação de
florestas, mudanças climáticas e outros imperativos globais. Perder o controle dessas questões pode não
apenas continuar a prejudicar a posição internacional do Brasil, mas também, impactar o ambiente de
segurança interna.

Os impactos das mudanças climáticas provavelmente afetarão o desempenho econômico do Brasil


e sobrecarregarão os orçamentos e serviços públicos. Altas taxas de pobreza, altas cargas de dívidas,
grandes auxílios financeiros estatais, altas taxas de criminalidade urbana e o aprofundamento das
tensões políticas que dificultam respostas eficazes tornam o Brasil vulnerável a choques, sejam do
mundo natural (como mudança climática ou uma pandemia global) ou outros fatores de desaceleração
econômica. A renda per capita do Brasil já estava em declínio constante antes da pandemia COVID-19
(em 2019, estava 7% abaixo do nível de 2013), e novas quedas são esperadas em 2020 e além.42 Esses
desafios econômicos prejudicarão a capacidade do Brasil de fornecer bens e serviços públicos, apertarão
os orçamentos das instituições de segurança e, de maneira mais geral, testarão a paciência de uma
população cada vez mais inquieta com o crescimento econômico anêmico.

Como exemplo de situação que pode se tornar mais comum com as mudanças climáticas, as fortes
secas no Nordeste (regiões semiáridas) têm causado migrações para o litoral e outras regiões do país,
principalmente para os estados do Sudeste e Amazônia.43 Esses fluxos de migração podem se intensificar, se

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as regiões afetadas experimentarem
condições mais secas por longos
períodos de tempo. Projetos como
a iniciativa de Transposição do Rio
São Francisco, que transfere água
para outra bacia hidrográfica, têm
o objetivo de mitigar o estresse
hídrico em grande parte do
semiárido nordestino, mas podem
ter um custo elevado. A perda
de usinas de geração de energia
hidrelétrica, possível desertificação
em algumas das regiões e conflitos
inter-regionais em torno da
quantidade e qualidade da água
ao longo do novo curso do rio
são algumas das consequências
não intencionais que pode se
manifestar.44 45

A iniciativa de Transposição A Amazônia Legal é a maior floresta tropical contígua do mundo


do Rio São Francisco (e muitas e representa quase 60% do território nacional do Brasil e abriga
12% da população brasileira. É esta região que corre o maior
outras semelhantes) é a evidência risco de desmatamento.
de um governo com capacidade Raphael Lorenzeto de Abreu / Domínio Público via Wikimedia Commons
comprovada de planejar com
antecedência para atender às necessidades emergentes de seu povo, especificamente suas necessidades
de água e energia. No entanto, a magnitude das mudanças climáticas e ambientais projetadas
(agravadas por crimes ambientais) podem anular esses esforços em regiões e estados onde o governo está
adicionando nova infraestrutura de água e energia. A fim de garantir que esses grandes investimentos
em infraestrutura apoiem o bem-estar e a estabilidade econômica no longo prazo, o governo precisará
incorporar os cenários climáticos futuros em seu planejamento. Mudanças climáticas mais extremas,
impulsionadas por falhas em reduzir as emissões e preservar os sumidouros de carbono, tornariam esses
projetos menos viáveis, ao mesmo tempo que agravariam os problemas para os quais foram concebidos.

DESTRUIÇÃO CRIMINOSA NA AMAZÔNIA, TRÁFICO ILÍCITO E SEGURANÇA DO BRASIL

O tamanho e a diversidade do território brasileiro tornam os desafios da segurança climática do


Brasil excepcionais. O Brasil tem aproximadamente 16.885 quilômetros (10.492 milhas) de fronteira
compartilhada com todos os países da América do Sul, exceto dois (Chile e Equador),46 expondo o
Brasil a uma série de desafios relacionados ao controle de fronteiras. No entanto, a maioria das ameaças
convencionais à segurança pública do Brasil não vêm de estados vizinhos, mas de atores não-estatais,
como traficantes de drogas e outros crimes organizados graves, operando dentro e fora do Brasil.

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As organizações criminosas operam desimpedidas em áreas do país onde o Estado não está suficientemente
presente para deter o crime. Nesses espaços sem governo, as organizações ilícitas têm mais liberdade
para aprofundar e expandir suas operações e são encorajadas quando os crimes ambientais ficam
impunes. Alguns dos oito países que fazem fronteira com a Amazônia brasileira também têm problemas
com o tráfico de armas ilegais, cocaína e outras drogas.47 Para combater essa atividade criminosa
transfronteiriça, o governo brasileiro conduz operações interagências entre seus serviços de segurança,
incluindo militares ativos. No entanto, existe uma conexão entre este tipo de atividade criminosa
e outras explorações ilícitas de recursos florestais, incluindo madeira e vida selvagem. É improvável
que essas operações antitráfico sejam capazes de conter com eficácia a expansão e as atividades ilícitas
mais prejudiciais em toda a bacia se a ação de aplicação da lei contra crimes ambientais flagrantes for
reduzida. Esses problemas são piores na extensa bacia amazônica na parte norte do país.

A chamada “Amazônia Legal” (formada por todos os nove estados da bacia amazônica e criada em 1948 para
facilitar uma melhor administração da região amazônica) tem aproximadamente 5 milhões de quilômetros
quadrados e é a maior floresta tropical contígua do mundo. Estima-se que esta região contenha estoques de
carbono estimados em 120 bilhões de toneladas (aproximadamente, dez vezes as emissões globais anuais
de combustíveis fósseis)48 tornando-se um dos sumidouros de carbono mais importantes do mundo.49

A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo; maior do que as duas próximas maiores florestas
tropicais – a Bacia do Congo e a Indonésia – combinadas. A porção do Brasil compreende 60% de
toda a área terrestre da Bacia Amazônica, que é compartilhada pelos vizinhos mais próximos do Brasil.
A bacia cobre nove países: Brasil (58,4%), Peru (12,8%), Bolívia (7,7%), Colômbia (7,1%), Venezuela
(6,1%), Guiana (3,1%), Suriname (2,5%), Guiana Francesa (1,4%) e Equador (1%).50 Com seus 6.400
km (4.000 milhas) de rios e vastas florestas, a Amazônia é um órgão vital dos ciclos hidrológicos da

Operação Verde Brasil 2.


CENSISPAM via a conta oficial no Twitter do Vice-Presidente do Brasil e Presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal

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América do Sul.51 Se o bioma for significativamente desmatado, o equilíbrio ecológico do continente
será interrompido, resultando em consequências diretas e indiretas para as populações do continente.
Isso é especialmente verdadeiro no Brasil, a nação com a maior proporção da Bacia Amazônica e com a
maioria das comunidades residindo dentro ou perto das florestas. As populações indígenas do Brasil estão
particularmente em risco, tanto com o desmatamento quanto com os impactos mais amplos de uma
mudança climática.

Atualmente, existem cerca de 713 áreas reservadas para os povos indígenas – zonas que deveriam ser
protegidas da invasão pela agricultura comercial ou outros interesses. Essas áreas compreendem cerca de
14% do território brasileiro e estão principalmente concentradas na Amazônia.52 Embora a exploração
e extração de minerais em terras indígenas só possam ser aprovadas com a autorização do Congresso
Nacional, após consulta às comunidades indígenas, essas atividades ilegais persistem.53 Segundo uma
organização ambientalista, 72% da mineração ilegal na Amazônia, nos primeiros quatro meses de
2020, ocorreu em terras indígenas ou áreas de conservação.54 Uma nova proposta legislativa autorizaria
a exploração de petróleo e gás e instalaria novas usinas hidrelétricas em territórios indígenas, sem que
as comunidades nativas afetadas tivessem poder de veto sobre sua aprovação.55

A região da Bacia Amazônica está em risco de desmatamento ilegal desenfreado, devido ao seu imenso
tamanho, aos recursos governamentais relativamente limitados ou ao compromisso de policiá-la, e ao
desejo do atual governo de desenvolver grandes porções da região. Nas últimas quatro décadas, quase
20% da Amazônia brasileira (aproximadamente a área da Califórnia) foi destruída devido a fazendas
de gado, extração ilegal de madeira e plantações de soja.56 A expansão desses setores de acordo com
os planos do governo atual aumentaria o desmatamento. Um estudo descobriu que quase 95% do
desmatamento na Amazônia brasileira ocorre dentro de 5,5 quilômetros (3,4 milhas) de estradas e um
quilômetro (0,62 milhas) de rios, uma correlação clara entre desenvolvimento e desmatamento. Este
também é um indicador de que o desenvolvimento da infraestrutura nas florestas (conforme planejado
atualmente)57 também convida a uma expansão do desmatamento legal e ilegal.58

A criação de áreas protegidas nas últimas décadas tem sido necessária e positiva, mas grande parte
da floresta remanescente continua sob ameaça, prejudicando a ecologia e as pessoas que dependem
da floresta para sobreviver. Sem uma aplicação suficiente da lei e sem a vontade política de conter
não apenas o desmatamento, mas outros crimes, como mineração e tráfico de animais selvagens, a
criminalidade persistirá em regiões protegidas e desprotegidas.

Sem se intimidar, o desmatamento ilegal desenfreado é um convite a outras formas de atividade ilegal,
que também podem aumentar rapidamente, dado o atual vácuo fiscalizatório e a retórica de um
presidente que lança sérias dúvidas sobre o compromisso do governo de conter, muito menos acabar, o
desmatamento ilegal. Dada a importância da segurança de preservar a integridade territorial e manter
a segurança interna, crimes flagrantes cometidos em escala deveriam ser entendidos como um claro
desafio às instituições de aplicação da lei e à soberania nacional.

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DESMATAMENTO ILEGAL E SEGURANÇA

Embora nas últimas décadas o Brasil tenha feito progresso em uma série de metas ambientais
(especificamente, contra-desmatamento e aumento da energia renovável), o país está atualmente a caminho
de perder suas metas de conservação florestal por margens significativas, devido à regressão no uso da terra
e setores florestais.59 O desmatamento ilegal e os incêndios que são provocados como parte do processo
de desmatamento e que podem se tornar fora de controle apresentam não apenas sérios riscos ambientais
e de saúde para os brasileiros, mas também introduzem outros sérios riscos à segurança humana. O
desmatamento tem o potencial de não apenas causar danos irreversíveis, como 'savanização' (ou seja, uma
transformação da floresta tropical em savana tropical aberta),60 mas também pode interromper os ciclos
hidrológicos dos quais dependem a vida selvagem, as pessoas e as usinas hidrelétricas.

Durante a maior parte das últimas duas décadas, o Brasil adotou medidas louváveis para conter o
desmatamento legal e ilegal. Em 2002, para controlar melhor as taxas de desmatamento crescentes e,
de forma mais geral, para aumentar significativamente a supervisão da Amazônia, o governo brasileiro
implantou o Centro de Gestão e Operação do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam). O sistema
é parcialmente apoiado pelo Ministério da Defesa do Brasil e gera informações georreferenciadas por
meio de imagens de satélite e levantamentos de aeronaves para desenvolver um quadro operacional de
todo o território brasileiro, especificamente de toda a região amazônica.61

O Censipam também supervisiona a interagência Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia). O sistema tem
duas funções principais: identificar aeronaves suspeitas de tráfico, áreas de incêndios e desmatamento quase
em tempo real, e também pode monitorar o cultivo ilícito em terras florestais através de algoritmos e radares.62

Um membro da brigada de incêndio do IBAMA tenta controlar um incêndio florestal. IBAMA

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Essas informações são compartilhadas com órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); Departamento de Polícia Federal (DPF), Fundação Nacional
do Índio (FUNAI) e também são compartilhadas com entidades regionais e internacionais.63 No
entanto, apesar da capacidade do governo brasileiro de desenvolver um quadro operacional comum de
todo o seu território nacional e de monitorar de perto as tendências de incêndios ilegais, muitas partes
da Amazônia continuam permissivas à exploração porque o Estado não tem uma presença persistente
em todos o território brasileiro.

A mudança climática tornará esses desafios piores. A ‘savanização’ da Amazônia está também sendo
influenciada pela convergência do aumento das temperaturas, estações secas prolongadas e mais
incêndios. Essa transformação teria impactos profundos não apenas para as comunidades indígenas
que habitam as florestas tropicais, mas também regionais e processos ecológicos globais. Sem preservar
a floresta por meio de esforços robustos de contra-desmatamento e gerenciamento eficaz do fogo, as
consequências para a segurança podem ser extremas para o Brasil, América do Sul e Central e Caribe, e
outras partes do mundo expostas às mudanças climáticas e ameaças à segurança climática. A segurança
do Brasil, desde a segurança hídrica nas cidades até o combate ao crime organizado transnacional,
depende de um clima estável e do Estado de Direito. As implicações para a segurança global da perda
da Floresta Amazônica como sumidouro de carbono, e consequente aceleração da desestabilização do
clima, podem ser catastróficas em muitas áreas.64

Depois de décadas de esforços de conservação com apoio internacional que mantiveram as taxas de
desmatamento em níveis toleráveis nos últimos anos, com um um declínio de quase 70% abaixo da média
do período de 1996 a 2005 (considerado o pior ano do desmatamento), a conservação da Amazônia
hoje está em um estado de regressão alarmante.65 A pecuária é o maior motor do desmatamento na
Pan-Amazônia, responsável por 80% das taxas atuais de desmatamento.66 O Brasil é o maior exportador
de carne bovina do mundo e é a indústria da pecuária em expansão que impulsiona grande parte
do desmatamento.67 Os pecuaristas, que exploram o desespero de jovens desempregados, cortam e
queimam grandes áreas de árvores e vegetação rasteira, para criar áreas de pastagens para o gado que
chega. Aproximadamente dois terços das áreas do bioma Amazônia desmatadas entre 1988 e 2014
foram convertidas em pastagens - uma área total equivalente a cinco vezes o tamanho de Portugal.68

Contagens de incêndios
na Amazônia brasileira 1
de janeiro de 2012 - 21 de
agosto de 2019 / NASA
Earth Observatory imagens
de Joshua Stevens, usando
dados MODIS da NASA
EOSDIS / LANCE e GIBS /
Visão de mundo, dados do
Sistema de Gerenciamento
de Recursos de Incêndio
(FIRMS) da NASA EOSDIS e
dados do Banco de Dados
Global de Emissões de
Incêndios (GFED)

www.imccs.org 21
Alguns dos incêndios mais extensos e alarmantes na história recente da Amazônia ocorreram em junho
de 2019, quando incêndios florestais descontrolados, causados principalmente por fazendeiros que
se aproveitavam das fracas políticas anti-desmatamento, destruíram grandes quantidades de terras
florestadas em vários estados. No final de junho de 2019, cerca de 7.000 milhas quadradas de floresta
– uma área ligeiramente menor do que o tamanho de Nova Jersey – foram arrasadas.69

Os incêndios resultaram em um aumento de 88% no desmatamento em algumas regiões em relação


ao mesmo mês do ano anterior. Esta tendência continuou praticamente inalterada em algumas regiões,
uma vez que os incêndios florestais entre janeiro e maio de 2020 aumentaram mais de 33% em
comparação com o mesmo período de 2019.70

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil (INPE) indicou que os desmatamentos


aumentaram em pelo menos 28% durante o ano de monitoramento de 2020, que vai de agosto a
julho, em comparação com o ano anterior.71 Os incêndios florestais de 2019 e 2020 geraram profunda
preocupação em muitos brasileiros,72 bem como revolta de partidos políticos, da sociedade civil e até
do judiciário brasileiro.73 A insatisfação foi alimentada pelo retrocesso de uma tendência positiva que

Agentes de Obama medem o corte ilegal de madeira na terra indígena Cachoeira Seca, no estado do Pará, na bacia amazônica
do Brasil. Vinicius Mendonza/Ibama via Flickr

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se manteve por anos, ou seja, que o desmatamento havia sido reduzido em 75% entre 2005 e 2014,
colocando o Brasil no caminho para cumprir sua meta de desmatamento ilegal zero até 2030. O
retrocesso começou realmente em 2015, e agora está acelerando sob a administração de Bolsonaro.74

Muitos críticos nacionais e internacionais colocaram a culpa pela temporada de incêndios recorde
diretamente aos pés do presidente Bolsonaro, que expressou publicamente seu ceticismo sobre a
ciência climática. O presidente Bolsonaro também apoia abertamente uma agenda agrícola centrada
na expansão do desmatamento legal para criar mais espaço para a agricultura (principalmente lavouras
de soja) e pecuária.75 Ele também foi criticado por enfraquecer as leis ambientais que os críticos alegam
criar um ambiente muito mais permissivo para a exploração legal e ilegal de terras florestais.76

Além de colocar em risco a ecologia e o abastecimento de água, o novo surto de desmatamento e a


retórica contraproducente do presidente Bolsonaro deterioraram a reputação do Brasil no exterior,
prejudicando os acordos comerciais do país. Em 2 de junho de 2019, o parlamento holandês votou
contra um acordo comercial histórico entre a União Europeia e o Mercosul (ou seja, Brasil, Argentina,
Paraguai e Uruguai), o tratado comercial mais abrangente já negociado entre as duas partes, em
grande parte devido a preocupações sobre desmatamento.77 Embora o acordo tenha sido finalmente
assinado, França, Irlanda e Áustria estavam entre as várias nações que ameaçaram bloquear a ratificação
parlamentar do acordo comercial histórico, a menos que o governo brasileiro fizesse mais para controlar
o desmatamento.78

Se as políticas ambientais do presidente Bolsonaro (ou a falta delas) persistirem, existe a possibilidade
distinta de que um processo de 'savanização' comece em algumas regiões, com a consequência de que
porções antes muito úmidas da Amazônia fiquem mais secas e tenham estações de seca muito mais
longas79 semelhantes às das savanas tropicais da África e da Ásia. Caso este cenário se desdobre, mesmo
que parcialmente, geraria graves consequências para a segurança, incluindo migrações das regiões
florestais, secas que podem afetar o desempenho das hidrelétricas e impactos severos nas principais
regiões agrícolas do Brasil, afetando a segurança alimentar.

A proteção da Amazônia continuará sendo um tema de preocupação dentro e fora do Brasil, devido ao
seu impacto no sistema climático global. As comunidades de segurança da região também deveriam se
preocupar com a destruição ilícita da floresta, uma vez que os autores de crimes ambientais muitas vezes
cometem crimes associados, como a venda ilegal de madeira serrada.80 Esta violação rotineira contribui
para a erosão geral do Estado de Direito, internamente e em toda a extensa região de fronteira do país.
Pode ser do interesse estratégico do Brasil evitar que esta situação se intensifique, em vez de experimentar
as consequências e buscar restaurar o Estado de Direito de um ponto de partida mais fraco.

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PRONTIDÃO PREJUDICADA: AUMENTO DO NÍVEL DO
MAR E INUNDAÇÃO DA INFRAESTRUTURA MILITAR

A mudança climática pode degradar a capacidade das Forças Armadas brasileiras de desempenhar
suas responsabilidades essenciais, incluindo responder a desastres naturais. A elevação do nível do
mar e inundações podem afetar a prontidão das instalações e bases e assim deve ser de preocupação
excepcional para os militares. Como os dados sobre a infraestrutura militar do Brasil e a estrutura
da Força estão ausentes do domínio público, esta seção representa uma avaliação de alto nível da
vulnerabilidade das instalações militares brasileiras aos impactos climáticos e meteorológicos, com base
nas tendências da região, conforme discutido nas avaliações do clima relacionadas à defesa.

Um estudo multinacional com foco na América Latina encomendado pelo Comando Sul dos
Estados Unidos em 2014 afirmou que, “fatores ambientais têm o potencial de afetar diretamente
nossas forças militares, uma vez que somos apoiados pelo ambiente físico em que operamos.”81 Alguns
exemplos de riscos de prontidão discutidos no relatório do Comando Sul incluíram a frequência de
tempestade e inundações afetando os custos de manutenção de estradas, serviços públicos e pistas,
e inundações costeiras e tempestades afetando a infraestrutura costeira. A maioria dos incidentes
de inundações costeiras regionais ocorre devido a tempestades durante eventos climáticos severos,
que estão projetados para se tornar mais frequentes e intensos devido às mudanças climáticas. Além
disso, a elevação do nível do mar torna os impactos das tempestades maiores, uma tendência que
provavelmente já está afetando instalações em toda a América do Sul, incluindo portos e docas
mantidos pela Marinha Brasileira. A Marinha do Brasil também deve avaliar os riscos ambientais
para sua vasta rede de instalações ribeirinhas, uma vez que as mudanças climáticas vão levar a eventos
hidrometeorológicos mais intensos, aumentando o risco de inundações.

O Navio de Assistência Hospitalar Doutor Montenegro chega a Cruzeiro do Sul para atender até 20
mil pessoas em Juruá, Brasil. O navio está ancorado na Estação Naval de Rio Negro, em Manaus, 2 de
maio de 2020. Ismael Medeiros, Defesa Aérea & Naval.

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Um estudo recente que analisou mais de um século dos níveis do rio Amazonas em Manaus (a maior
cidade da bacia amazônica) descobriu que as enchentes extremas que ocorriam aproximadamente a
cada duas décadas na primeira parte do século XX agora estão ocorrendo aproximadamente a cada
quatro anos. Inundações severas afetaram a Bacia Amazônica quase todos os anos de 2009 a 2015.
O estudo atribuiu o aumento das inundações à dinâmica climática regional, especificamente, “uma
combinação de temperaturas mais quentes sobre o Oceano Atlântico e temperaturas mais frias sobre
o Pacífico.”82

A Estação Naval do Rio Negro, localizada na cidade de Manaus, é um exemplo dos tipos de instalações
costeiras que podem ser afetadas negativamente por enchentes mais frequentes. Essa estação não
apenas fornece amarração para embarcações ribeirinhas, mas também fornece serviços de atracação e
reparo para a frota de pequenas embarcações que servem de espinha dorsal para patrulhamento fluvial
e operações de interdição de drogas. Infraestruturas costeiras e ribeirinhas, como a Estação Naval do
Rio Negro, podem enfrentar riscos de prontidão operacional devido principalmente a enchentes, assim
como instalações ribeirinhas muito mais próximas do Oceano Atlântico.

De acordo com a Política Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa de 2020, a Marinha planeja
construir um complexo naval multiuso nas proximidades do Delta do Rio Amazonas, especificamente,
na região da Ilha do Marajó (localizada no estado litorâneo do Pará), devido à região se tornar um
polo de atividades ilícitas, especialmente o tráfico de drogas.83 A infraestrutura portuária marítima e
fluvial naquela região é particularmente vulnerável ao aumento do nível do mar, e os operadores navais
deveriam se preocupar em manter os portos críticos totalmente capacitados para a missão.84 Devido
a essas tendências, novos projetos de infraestrutura naval de águas azuis e marrons, como a instalação
da Ilha do Marajó, precisarão ser projetados para garantir a resiliência aos impactos relacionados ao
aumento do nível do mar.

As instalações militares são “plataformas de projeção de força” que devem ser mantidas em constante
estado de prontidão. Avaliar e lidar com suas vulnerabilidades aos impactos das mudanças climáticas
são ações essenciais para garantir a disponibilidade e funcionalidade contínuas da infraestrutura militar
crítica e garantir que as forças armadas possam continuar a treinar e cumprir suas respectivas missões,
hoje e no futuro.85

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SEGURANÇA ENERGÉTICA E HÍDRICA: MUDANÇA
DOS PADRÕES DE CHUVA
Mudar os padrões de chuva devido às mudanças climáticas e ao desmatamento pode afetar a segurança
energética e hídrica no Brasil, alterando os fluxos dos rios para as instalações hidrelétricas, das quais o
país obtém 70% de sua eletricidade, e colocando em risco o abastecimento de água, como foi visto em
grandes cidades como São Paulo. A variabilidade da precipitação também pode afetar setores econômicos
importantes, como o agronegócio – uma indústria que depende de grandes quantidades de água para
irrigação de safras e criação de gado e contribui com uma porção significativa do PIB do Brasil.

Apesar da disponibilidade variável de água em um território tão vasto, tradicionalmente apenas


algumas regiões, estados e cidades sofrem com a escassez sazonal de água. No entanto, a variabilidade
da precipitação relacionada ao clima, agravada por eventos El Niño, pode expandir as áreas geográficas
impactadas pela seca, com implicações para a geração e distribuição de eletricidade, devido à
hiperdependência do país de usinas hidrelétricas.

Os riscos de água e energia do Brasil são significativos, considerando que as taxas de fluxo de água nas
quatro maiores usinas de energia do país estão projetadas para diminuir significativamente nos próximos
25 anos.86 Segundo um estudo recente, os efeitos das mudanças climáticas neste período podem fazer com
que o Brasil enfrente “secas intensas que transformam hidrelétricas na Amazônia em elefantes brancos, e
causem grandes perdas de safras e epidemias.”87

As considerações de planejamento hídrico


nacional do Brasil são baseadas em chuvas
abundantes, mas à medida que os impactos
das mudanças climáticas (agravados pelo
desmatamento) começam a ocorrer, os ciclos
de precipitação têm maior probabilidade
de variar. Isso pode afetar negativamente o
desempenho das usinas hidrelétricas localizadas
nas ou próximas às regiões afetadas.88 Mais de
70% da eletricidade do país é fornecida por
usinas hidrelétricas89 que estão amplamente
dispersas por todo o país, principalmente
no sul. Existem atualmente 158 usinas em
operação (Ver Fig. 7), 9 em construção e
outras 26 autorizadas a serem construídas90 —
evidências de que o Brasil está aumentando
sua dependência da hidroeletricidade, em
um momento em que a precipitação deve se
tornar mais variável. Aumentar as energias
renováveis, como a hidrelétrica, na matriz
Localização geográfica das usinas hidrelétricas no Brasil. A maioria das energética é vital para os objetivos climáticos
usinas não está localizada na abundante Amazônia, mas concentrada do Brasil, mas o projeto da barragem deve
no sul, relativamente mais seco, onde mega-cidades como São Paulo
e Rio de Janeiro estão localizadas / Agência Nacional de Energia levar em conta a variabilidade climática futura
Elétrica, ( ANEEL). A ANEEL é uma agência do Ministério de Minas
e Energia.

www.imccs.org 26
para garantir o fornecimento consistente de energia e segurança. Com altas taxas de desmatamento (que
diminui as chuvas) e aumento da variabilidade das precipitações, a segurança hídrica e energética brasileira
agora parece menos certa do que quando essas instalações foram originalmente planejadas e projetadas.

Para crédito de administrações anteriores, o Brasil investiu em um sistema de geração e distribuição


de eletricidade adaptável, onde usinas hidrelétricas de baixo desempenho (devido a baixas chuvas ou
outros fatores) podem ser compensadas por usinas em bacias hidrográficas distantes. Isso normalmente
significa que clientes em qualquer parte do país nunca ficam sem energia. No entanto, essa agilidade
da rede embutida pode nem sempre ser suficiente para garantir a distribuição de eletricidade para todo
o Brasil o tempo todo. Isso é especialmente verdadeiro devido à variabilidade da precipitação que se
tornou mais comum em toda a região. Como consequência, os planejadores do governo e profissionais
de segurança deveriam esperar mais interrupções no fornecimento de água e eletricidade e também
deveriam fazer planos para emergências de segurança pública.

A variabilidade das chuvas também resultou no racionamento de água em uma grande cidade, o que
gerou protestos nas ruas. Em 2014, São Paulo (o estado e cidade mais populosos das Américas) passou
por uma seca prolongada, que acabou resultando no racionamento de água em toda a região, afetando
não apenas moradores e empresas, mas também grande parte do setor agrícola.

Moradores da região vivenciaram o primeiro racionamento em mais de 30 anos, devido à falta de água
nos principais reservatórios que atendem a região.91 O medo da falta de água em São Paulo resultou
em protestos de rua pela cidade.92 Em uma gravação que vazou para a imprensa brasileira, o diretor
metropolitano da concessionária de água do estado de São Paulo foi ouvido declarando que a situação
era tão terrível que os moradores da metrópole de mais de 20 milhões de habitantes teriam que fugir.93

Sem estratégias de geração e distribuição de energia, que levem em consideração a mudança nos
padrões de chuva, o setor elétrico brasileiro pode não atender às necessidades crescentes das residências,
empresas e indústrias, resultando potencialmente na perda de confiança na competência do governo. O
setor de segurança brasileiro deve esperar ser encarregado com mais frequência de responder às crises,
o que, em alguns casos, pode resultar na quebra da lei e da ordem.

A usina hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu em Altamira, estado do Pará, Brasil. AP Photo/Andre Penner

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RESPOSTAS DO GOVERNO BRASILEIRO

PRINCIPAIS CONSIDERAÇÕES

• A Política Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa de 2020 reconhece que os


impactos causados pelas mudanças climáticas podem ter sérias consequências “sociais, econômicas
e políticas”, exigindo “pronta resposta do Estado.”94 No entanto, esta apreciação ainda não informa
totalmente os processos de planejamento estratégico, inclusive como as mudanças climáticas
afetarão o planejamento das missões, a prontidão militar e a operacionalidade.95

• Além disso, todas as implicações do reconhecimento da ameaça que as mudanças climáticas


representam para a segurança interna do Brasil não foram refletidas na tomada de decisões em
outras áreas do governo, particularmente em torno do uso da terra, desenvolvimento econômico
e proteção do patrimônio nacional mais importante do Brasil, a Floresta Amazônica.

• Entre 2005 e 2010, o Brasil esteve perto de cumprir todas as suas metas de desmatamento
10 anos antes do previsto. Essa conquista resultou em uma redução nas emissões de carbono
comparável às reduções da União Europeia e dos Estados Unidos. No entanto, esta posição de
liderança na mitigação das mudanças climáticas está em risco devido às recentes decisões tomadas
pela atual administração.96

• O Brasil continua signatário do Acordo Climático de Paris, mas o governo Bolsonaro irritou
os estados que subscrevem grande parte dos esforços de contra-desmatamento da América do Sul,
devido a um aumento acentuado no desmatamento. Isso pode ter repercussões para os interesses
estratégicos do Brasil em avançar como potência média.

• Com relação à sua campanha de contra-desmatamento, o Governo brasileiro está trabalhando


com objetivos cruzados: direcionar os militares participar no que deveria ser uma ação civil, criando
ativamente ao mesmo tempo, um ambiente legal e regulatório permissivo que cria impunidade
e incentiva atores ilícitos que estão prejudicando irreversivelmente a Floresta Tropical. Essa ação
concomitante de agravar o problema e de dificultar a solução aumentou significativamente as
taxas de desmatamento.

• Há um papel importante para os militares nas campanhas de proteção ambiental e no apoio às


agências civis. No entanto, é melhor deixar a liderança dos esforços de contra-desmatamento para
as agências autorizadas pela legislatura e treinadas especificamente para essas missões, até porque
são mais eficazes nisso. O governo brasileiro deve melhor equipar, equipar e financiar as entidades
mais responsáveis pelo combate aos crimes ambientais, para que essas agências possam voltar a
liderar a campanha, continuando a ter os militares num valioso papel de apoio.

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Desmatamento Brasileiro Acumulado – todos os estados da Amazônia

A Política Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa de 2020 reconhecem que as mudanças
climáticas têm “consequências ambientais, sociais, econômicas e políticas, exigindo que o Estado
responda prontamente,97 um reconhecimento de que as mudanças climáticas terão consequências em
vários domínios. Dados os riscos para a segurança pública do Brasil e o papel da Floresta Amazônica no
sistema climático global, é do interesse brasileiro conter o desmatamento e, ao mesmo tempo, abordar
outras consequências ambientais, sociais, econômicas e políticas das mudanças climáticas para sua a
segurança. Também é fundamental que o governo revigore totalmente os departamentos e agências
tradicionalmente responsáveis pela campanha anti-desmatamento do país (por exemplo, IBAMA).
Essas ações seriam um passo importante para restabelecer o controle do desmatamento ilegal e outros
crimes para os quais o desmatamento é um passo fundamental.

Antes do Presidente Bolsonaro, sucessivos governos apoiaram uma agenda global de redução de
emissões, incluindo a adesão aos compromissos do Brasil com o Acordo de Paris sobre o Clima. Embora
o presidente Bolsonaro tenha ameaçado deixar o acordo durante sua campanha presidencial, o Brasil
continua signatário do marco do pacto climático global. No entanto, por causa da condição atual dos
esforços de contra-desmatamento do Brasil, as metas estabelecidas pelos governos anteriores para o país
provavelmente serão perdidas. Esses compromissos incluem uma meta de desmatamento ilegal zero na
Amazônia até 2030 e um compromisso para 2020 de reduzir as taxas de desmatamento em 80% entre
os níveis de 1996-2005.98

A estratégia contra-desmatamento incluiu restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas;


e fortalecer o cumprimento do Código Florestal nos níveis federal, estadual e municipal.99 Mais
importante, a estratégia incluiu o fortalecimento de leis e políticas para atingir o desmatamento ilegal
zero na Amazônia brasileira até 2030 e a restauração e reflorestamento de 12 milhões de hectares de
florestas até 2030.100 Estudos sugerem que o esforço para atingir essas metas ficará aquém, uma vez que
o desmatamento está aumentando.101

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Decisões recentes do governo Bolsonaro vão contra o legado do Brasil de planejamento e disciplina
no que diz respeito à custódia ambiental, energia renovável e cortes de emissão de carbono. Em 2019,
como parte de um amplo congelamento de gastos, o governo Bolsonaro cortou orçamentos que
financiam programas de proteção ambiental, ao mesmo tempo em que cortou fundos para o Plano
Nacional de Mudança Climática do Brasil em mais de quarenta por cento.102 Na esteira do retrocesso
nas políticas de combate ao desmatamento e fiscalização, as Nações Unidas observaram que o louvável
histórico do Brasil pós-2004 na redução da destruição e emissões florestais “parou” em algumas regiões
e os aumentos de emissões resultantes aceleraram recentemente “com a estação seca de 2019 quebrando
recordes de desmatamento e incêndios florestais.”103

Para sinalizar que levou a sério a questão do desmatamento, em setembro de 2019, depois que incêndios
destruíram mais de 7.604 quilômetros quadrados (2.970 milhas quadradas) da Floresta Tropical
brasileira (representando um aumento de 85% em relação ao mesmo período do ano anterior), o
Brasil e seis de seus vizinhos mais próximos (Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname)
assinaram um pacto estabelecendo uma rede de resposta a desastres de incêndios florestais e serviço de
monitoramento por satélite para aumentar a consciência situacional de incêndios florestais em toda
a bacia. De acordo com o presidente colombiano Iván Duque, que sediou a cúpula de Letícia que
tratou desses temas, “esta reunião viverá como um mecanismo de coordenação para os presidentes que
compartilham esse tesouro – a Amazônia."104

No mesmo mês, os EUA e o Brasil concordaram em promover o desenvolvimento do setor privado


na Amazônia, um fundo de conservação da biodiversidade de US $ 100 milhões para a Amazônia
liderado pelo setor privado.105 Na época, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo,
disse que “abrir a floresta para o desenvolvimento econômico era a única forma de protegê-la”. Grupos
ambientalistas criticaram este plano, alegando que o acordo é um esquema para explorar a Amazônia
para mineração, extração de madeira e exploração agrícola, e que viola a autodeterminação dos povos
indígenas que residem na Amazônia.106

Além de aberturas diplomáticas e pactos de desenvolvimento do setor privado, os esforços do Brasil


para conter o desmatamento incluem cada vez mais a força e o alcance de seus 300 mil militares, o
maior efetivo da região. O Exército, a Marinha e a Força Aérea combatem regularmente as atividades
extrativas ilegais (exploração madeireira, mineração etc.) em todo o Brasil, em parceria com órgãos
civis.107 Um exemplo relativamente novo dessa cooperação é o Projeto Patrulha da Amazônia, uma
operação multinacional que visa posicionar as marinhas participantes para proteger as florestas, por
meio do intercâmbio de tecnologia militar e colaboração.108 A característica definidora deste acordo
transnacional será a construção de um navio projetado para patrulhar as hidrovias amazônicas
compartilhadas do Brasil, Colômbia e Peru contra traficantes de drogas e outras ameaças criminosas.109

Mais notavelmente, em 2019, a administração Bolsonaro lançou várias campanhas de defesa


ambiental de alta visibilidade e dependentes de militares110 — embora, somente após considerável
pressão nacional e internacional – para achatar a curva de desmatamento.111 No entanto, esses esforços
contínuos estão falhando em atingir a redução desejada em incêndios ilegais e desmatamento, em
grande parte devido a políticas e estruturas legislativas sem apoio, agências ambientais deliberadamente
enfraquecidas e a retórica contraproducente do presidente, que os críticos argumentam apenas encoraja
o desmatamento112 e outras atividades ilegais.

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DESMATAMENTO: UM GOVERNO TRABALHANDO
COM OBJETIVOS OPOSTOS

O governo Bolsonaro está trabalhando com objetivos opostos em sua atual resposta ao desmatamento,
tanto direcionando os militares para liderar o que seria mais eficaz com uma ação civil, mas também
criando ativamente um ambiente legal e regulatório permissivo que apenas cria impunidade e incentiva
os atores ilícitos. Este agravamento do problema concomitante ao impedimento de solução é prejudicial
aos compromissos do Brasil para conter o desmatamento (de acordo com seus compromissos do
NDC113) e resultará em um ambiente muito mais permissivo para os infratores. Isso, por sua vez, pode
ter repercussões para os interesses estratégicos do Brasil em avançar como potência média.

O enfraquecimento de organizações de fiscalização como o IBAMA e o Instituto Chico Mendes de


Conservação da Biodiversidade, ambos vinculados ao Ministério do Meio Ambiente, tem causado
grande aborrecimento entre os atores da sociedade civil e outras entidades comprometidas com a
conservação da Amazônia.114 Críticos temem que outras proteções, como Código Florestal, Lei de
Terras Indígenas, Lei de Licenças Ambientais e Medidas de Destinação de Terras Públicas sejam as
próximas na fila a serem desmanteladas.115

A redução do número de escritórios regionais que administram as 334 unidades de conservação do país
de onze para cinco é outro exemplo da desconfiança do governo Bolsonaro em relação aos especialistas
ambientais ou um esforço intencional para descarrilar os mecanismos contra-desmatamento e de
conservação de longa data do país.116 Um relatório recente constatou que “nenhum grande ataque contra
atividades ilegais por parte dos militares foi realizado” e que a pena emitida por violações ambientais
foi reduzida em quase 50% em relação às multas de 2016.117 O efeito final de mudanças drásticas nas
instituições e processos mais responsáveis pela campanha de contra-desmatamento do Brasil é criar um
caminho aberto para o desmatamento ilegal e outros crimes.

Para avaliar mais plenamente a extensão do recente retrocesso nas proteções florestais, considere que
em 2000, o Brasil estabeleceu a maior rede mundial de áreas protegidas, a maioria das quais estavam
localizadas na região amazônica. Entre 2004 e 2012, o Brasil reduziu as taxas de desmatamento na
Amazônia em mais de dois terços, ao mesmo tempo em que voltou a crescer muitos milhões de
hectares de florestas que haviam sido derrubadas anteriormente.118 Esta campanha incluiu melhores
colaborações internacionais, monitoramento por satélite, aplicação da lei e incentivos financeiros para
respeitar as leis ambientais.

Além disso, o Ministério da Defesa utilizou tecnologia do Centro de Operações e Gestão do Sistema
de Proteção da Amazônia (CENSIPAM), que possui três núcleos regionais em Manaus, Belém e Porto
Velho, para identificar focos de incêndios e apreender os responsáveis pelo desmatamento ilegal.119
Durante este período, a Pan-Amazônia também recebeu proteções substanciais de várias iniciativas de
conservação europeias, incluindo os projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação
(REDD +) sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), e
compensações baseadas no desempenho da Noruega para reduzir o desmatamento, que contribuiu
com mais de $ 1 bilhão de dólares entre 2008 e 2017.120

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No entanto, no final de 2019, os benfeitores do fundo, Alemanha e Noruega, ameaçaram suspender
o programa por causa de políticas aprovadas pelo presidente Bolsonaro, que segundo a unidade do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (INPE), levaram à destruição de 9.762 quadrados
quilômetros (3.769 milhas quadradas) de floresta antiga, aproximadamente uma área do tamanho da
Ilha Grande do Havaí.121

Esses desenvolvimentos tiveram consequências diplomáticas e econômicas para o Brasil e colocam


em risco não apenas a porção brasileira do bioma Amazônico, mas também a dinâmica climática
regional e global. No auge da crise de 2019, o presidente Bolsonaro enfrentou duras críticas domésticas
e internacionais por essas políticas. Para acalmar seus críticos (e também para garantir que bilhões
em financiamento para os esforços de desmatamento continuem a fluir para o Brasil de doadores
internacionais), o presidente Bolsonaro encarregou os militares de liderar a campanha nacional de
contra-desmatamento. No entanto, apesar dos melhores esforços dos militares, essa estratégia não reduziu
efetivamente a taxa de desmatamento e suscitou sérias preocupações sobre o papel desproporcional que
os militares assumiram nos esforços de preservação da floresta.

CONTRA-DESMATAMENTO COMANDADO POR MILITARES: MENOS EFETIVO

O trabalho militar brasileiro em conjunto com agências civis de aplicação da lei ambiental não é novidade.
No passado, organizações militares e policiais participaram de operações de contra-desmatamento em
todo o Brasil em conjunto com autoridades ambientais como o IBAMA e o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio). No governo do presidente Bolsonaro, os papéis parecem ter
se invertido, com o pessoal militar liderando essas operações. O número crescente de militares ativos
e reservistas designados não apenas para órgãos ambientais, mas para cargos-chave em todo o governo
federal, levantou preocupações em alguns círculos desde que Bolsonaro assumiu a presidência no início
de 2019.122

Críticos apontam que o número de militares nomeados para cargos importantes do governo superou
a proporção militar/civil que existia durante a ditadura militar brasileira (1964-1985).123 Uma
preocupação é que o pessoal militar pode não ter as credenciais (ou seja, experiência, educação ou
habilidades técnicas) para ocupar cargos dentro das organizações responsáveis pelo planejamento e
gestão das operações de contra-desmatamento.

Outras preocupações dizem respeito à transparência que pode ser perdida se uma instituição que, por
sua natureza é insular, realiza uma campanha que exige o compartilhamento sustentado de informações
com partes interessadas externas, especialmente porque as tendências de desmatamento no Brasil são de
interesse global.124 Embora haja um papel para a participação dos militares nas campanhas de proteção
ambiental, é melhor deixar a liderança da campanha de contra-desmatamento no Brasil a cargo dos
departamentos e agências autorizadas pela legislatura e treinadas para tais missões.

No entanto, a administração Bolsonaro não foi influenciada por essas preocupações. No final de
2019, o presidente Bolsonaro anunciou a criação de um Conselho da Amazônia, presidido pelo vice-
presidente Hamilton Mourão, General da reserva do Exército. O Conselho atualmente supervisiona “as

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Operação Verde Brasil 2 IBAMA

atividades de todos os ministérios envolvidos na proteção, defesa e desenvolvimento, e desenvolvimento


sustentável da Amazônia.”125 A criação desse Conselho, liderado pelo vice-presidente, demonstrou que
o governo Bolsonaro julgou necessário sinalizar para os cidadãos brasileiros, e para o mundo, que
levava o desmatamento a sério e que cuidaria da questão em seu próprio caminho.

Também demonstrou o favorecimento do presidente e a confiança nos militares. Em fevereiro de 2020,


havia sete militares da ativa ou militares da reserva no gabinete de 20 membros, sem incluir o vice-
presidente Mourão. O fato de o presidente ter escolhido seu vice-presidente para liderar a campanha
altamente visível contra-desmatamento do país sinalizou que ele tinha fé na liderança militar para
conter o aumento do desmatamento. Em maio de 2020, o presidente aprovou a Operação Verde Brasil
2, uma continuação da campanha do final de 2019 com o mesmo nome.126

O último desdobramento da operação contou com mais de 3.800 militares e com a Polícia Federal,
IBAMA, ICMBio e secretarias estaduais de meio ambiente. O trabalho interagências realizou
“fiscalizações e apreensões em madeireiras, serrarias e minas em cinco estados, incluindo o estado do

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Pará, região com maiores taxas de desmatamento.”127 No início de junho de 2020, a Operação Verde
Brasil 2 apreendeu 2.811 metros cúbicos de madeira, 46 tratores, 43 caminhões e 16 embarcações e
aplicou um valor total de 66.000.000 milhões de reais (ou aproximadamente $ 11.800.000 USD) em
multas ambientais.128

A campanha contra o desmatamento foi estendida até 15 de julho de 2020 e, devido a um aumento
nos incêndios florestais, o vice-presidente Mourão sugeriu que a operação pode ser repetida várias
vezes. Embora a incerteza permaneça sobre por quanto tempo esse General da reserva estará liderando
o esforço de contra-desmatamento, está claro que mesmo depois de duas operações altamente visíveis
e bem financiadas de um esforço militar de fato liderado, os números do desmatamento em 2020 na
região do Pantanal (a maior área úmida tropical do mundo) ultrapassaram os números de 2019 em
quase 30%, e a região experimentou um aumento de 192% nas queimadas. A tendência é ainda mais
alarmante porque em 2019 o Pantanal teve um aumento de seis vezes nos incêndios ao longo do ano.129

De forma mais ampla, julho de 2020 registrou um aumento de 30% em incêndios em comparação com
o mesmo mês de 2019. Como uma indicação adicional, os incêndios aumentaram quase 80% em terras
indígenas e 50% em reservas naturais protegidas em comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Essas tendências são um claro indicador de que muitos esforços e ações são necessários para recuperar
o controle das queimadas ilegais e do desmatamento.130 O fato dos militares brasileiros serem a face da
campanha contra-desmatamento de maior risco do mundo apresenta um paradoxo interessante. Por
um lado, é percebido nacional e internacionalmente como líder do esforço de contra-desmatamento,
mas, por outro lado, sua incapacidade de conter o desmatamento ilegal cria uma percepção de que não
está à altura da tarefa.

FORÇAS ARMADAS: UMA FERRAMENTA AFIADA, MAS NÃO A PRINCIPAL

É de se esperar que governos com recursos cada vez mais limitados possam recorrer a seus militares
para apoiar funções domésticas não relacionadas ao combate, como a resposta a desastres naturais. No
entanto, o fato de os militares brasileiros assumirem múltiplas e cada vez mais domésticas operações de
Garantia da Lei e da Ordem (incluindo conservação florestal e policiamento), em uma sociedade com
uma história recente de tomada de controle extra-democrática, é perturbador para muitos brasileiros.

No contexto do desafio do desmatamento do país, as Forças Armadas brasileiras são um componente


da promoção do Estado de Direito e da presença do Estado, mas não se pode esperar que resolvam
o que é em grande parte um desafio legal, político e de policiamento civil. O próprio vice-presidente
Mourão expressou reservas sobre os militares terem um papel tão importante na campanha de contra-
desmatamento do país, especialmente na ausência de uma legislação de apoio, explicando em um
comunicado de imprensa de 25 de maio de 2020 que embora os “produtos do desmatamento e os
meios que o permitem possam ser capturados”, esta abordagem “tem eficácia limitada se não for
possível identificar os infratores.”

O vice-presidente também expressou frustração com o que descreveu como “a falta de recursos
operacionais e humanos dos órgãos de fiscalização ambiental” para lidar com o desmatamento – um

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reconhecimento de que os órgãos mais responsáveis pelo policiamento da Amazônia carecem de pessoal.
É interessante notar que o vice-presidente expressou o compromisso do governo Bolsonaro em dar
continuidade a essas ações contra-desmatamento até o final de seu primeiro mandato – um momento
em que ele espera que, o por ele chamado de “processo de revigoramento dos órgãos ambientais”, seja
completado.

Seu desejo expresso é que a Força Nacional do Meio Ambiente, uma agência civil, mantenha as taxas
de desmatamento em níveis aceitáveis sem o uso das Forças Armadas (não se sabe se a declaração
do vice-presidente é uma reafirmação do compromisso do governo com as NDCs – Contribuições
Nacionalmente Determinadas – do Brasil com Acordo de Paris). No entanto, no momento da redação
do presente documento, não havia evidências claras de que o governo tivesse vontade política para
fazer as reformas necessárias; especificamente no que diz respeito ao fornecimento às agências civis
tradicionalmente responsáveis pela ação de fiscalização os recursos e o apoio legal e regulatório
necessário para o sucesso.

Isso significa que retornar ao esquema que restringiu o desmatamento ilegal por mais de uma década é
improvável no curto prazo. Como consequência, as altas taxas de incêndios florestais e desmatamento (e
todos os riscos à segurança que eles trazem) provavelmente continuarão, com resultados potencialmente
devastadores para o Brasil e para a agenda de ação climática mundial. Isso provavelmente levará a mais
aspereza entre o governo Bolsonaro e as potências ocidentais, perda de fé no Brasil como campeão das
prioridades do mundo em desenvolvimento e prejudicará o potencial do Brasil de ser um ator influente
no cenário global. Em um momento em que os países estão mostrando liderança ao fazer anúncios
importantes sobre os compromissos climáticos nacionais, deixar de proteger a Floresta Amazônica de
forma eficaz e democraticamente legítima diminui a posição internacional do Brasil.

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RECOMENDAÇÕES PARA O BRASIL

PRINCIPAIS CONSIDERAÇÕES

• As decisões de ação climática tomadas nos próximos anos determinarão se os impactos


climáticos das próximas décadas serão mais administráveis ou potencialmente catastróficos.
Dada a importância da Amazônia para o sistema climático global, é do interesse estratégico e de
segurança do Brasil retornar à sua política de liderança mundial de combate ao desmatamento.

• Ao impulsionar rupturas econômicas significativas, estressando as capacidades do Estado e


sobrecarregando o contrato social entre governos e cidadãos, as mudanças climáticas terão consequências
sociais, políticas e de segurança significativas, bem como impactos ambientais. Para contribuir com uma
postura preventiva de todo o governo, as Forças Armadas deveriam avaliar os impactos diretos e indiretos
das mudanças climáticas em suas operações e prontidão e na segurança do Brasil de forma mais ampla.

• Dadas as ameaças que as mudanças climáticas representam para o quadro de segurança humana
e nacional do Brasil, a comunidade de segurança brasileira deve se comprometer a trabalhar com
suas contrapartes civis para reduzir a escala e o escopo das mudanças climáticas, se adaptar a
impactos inevitáveis, como o aumento do nível do mar, e fazê-lo em uma maneira que é sensível
às preocupações humanitárias e que respeita as normas democráticas.

• A incorporação da escassez de recursos climáticos e das considerações do impacto da prontidão


militar nos processos de planejamento estratégico e nos currículos profissionais de educação
militar é um investimento importante não apenas para tornar a infraestrutura, a prontidão e as
operações das Forças Armadas do Brasil resistentes às mudanças climáticas, mas também garantir
que os líderes estejam preparados para melhor servir um público que será cada vez mais estressado
pela escassez de recursos relacionados com o clima.131

• Altos funcionários militares (incluindo veteranos) devem defender que os líderes dos mais
altos níveis dos governos federal, estadual e municipal adotem respostas adequadas a curto prazo
aos riscos de segurança climática. Esta defesa deve promover uma infraestrutura do setor público
(incluindo o militar) e instituições resistente às mudanças climáticas. Deve também tornar os
órgãos e processos ecológicos, dos quais a segurança humana e a segurança interna dependem,
resistente às mudanças climáticas.132

• As Forças Armadas brasileiras deveriam promover a discussão sobre as dimensões mais amplas de
segurança das mudanças climáticas e se tornar um ponto focal para discussões e desenvolvimento
de políticas no combate aos crimes ambientais da Pan-Amazônia que colocam em risco o sistema
climático global, bem como a segurança pública no Brasil. O Brasil está em uma posição única para
liderar tal esforço, não apenas na América do Sul, mas em toda a Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), onde já possui fortes laços culturais, de defesa e diplomáticos.

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Com sua segurança e interesses nacionais em jogo, é vital que o governo brasileiro retorne a uma
estratégia de longo prazo para conter o desmatamento. As críticas internacionais à postura do Brasil em
relação à proteção florestal podem muito bem se intensificar, caso o Brasil não volte a uma trajetória
que cumpra seus compromissos com o NDC. A comunidade internacional também pode exercer
pressão sobre o Brasil nesses assuntos, aumentando as consequências diplomáticas e comerciais da
inação. Diante disso, também é do interesse do Brasil se engajar positivamente com os organismos
nacionais e multilaterais que têm parceria com o Brasil nos esforços de preservação florestal; esses
acordos forneceram centenas de milhões de dólares para uma série de esforços de preservação e serão
necessários para sustentar uma campanha de contra-desmatamento de longo prazo

O desenvolvimento de uma estratégia abrangente que aborde os outros riscos à segurança climática,
discutidos nesta publicação, incluindo segurança hídrica, alimentar e energética, seria do interesse do
Brasil. Abaixo estão várias recomendações de políticas oferecidas ao Ministério da Defesa do Brasil e a
outros órgãos do governo de formulação de políticas para consideração

1. Avaliação de Riscos de Segurança Climática para o Brasil: O Ministério da Defesa deveria


conduzir uma avaliação completa de segurança e inteligência dos principais riscos para a segurança
climática do Brasil. Esta avaliação deveria explorar essas ligações de vários ângulos. Deveria incluir
impactos relacionados ao clima na infraestrutura nacional crítica do Brasil (incluindo infraestrutura
militar atual e planejada); no abastecimento de alimentos, água e energia; e avaliar como essas
mudanças podem interagir com os impulsionadores dos principais desafios de segurança pública
do Brasil, incluindo crime organizado grave, atividade criminosa transnacional, altos níveis de
violência e fragilidade em estados vizinhos. Com base neste estudo, o governo brasileiro deveria
explorar mais como o Brasil pode perseguir seus interesses nacionais em um futuro com mudanças
climáticas, considerando seu potencial de liderança em questões críticas de conservação, bem como
combustíveis alternativos e a transição energética.

Muitas comunidades de segurança de outros países realizaram estudos semelhantes. Na última


década, o Departamento de Defesa dos EUA encomendou vários estudos e avaliações que indicam
a variedade de maneiras pelas quais o clima pode impactar a segurança pública. Por exemplo,
avaliações estratégicas como o Relatório Sobre os Efeitos de um Clima em Mudança para o
Departamento de Defesa(2019)133 reconheceu que os “efeitos de uma mudança climática são uma
questão de segurança nacional com impactos potenciais para o Departamento de Defesa (DoD)” e
reconheceu que os militares dos EUA devem ser “capazes de adaptar as operações atuais e futuras”,
incluindo aquelas moldados por ameaças relacionadas ao clima. Uma avaliação detalhada das
vulnerabilidades do Brasil forneceria uma base para o planejamento de defesa e segurança em um
ambiente cada vez mais moldado pelas mudanças climáticas.

2. Demonstrar Liderança Climática Regional: A política externa brasileira tradicionalmente


prioriza o diálogo e a cooperação como instrumentos essenciais para a construção de confiança
e, fundamentalmente, a promoção da paz. No espírito dessa abordagem, o governo brasileiro
(incluindo o Ministério da Defesa e o Ministério das Relações Exteriores) deveria considerar liderar
a elaboração e implementação de um Plano de Segurança Climática regional para a América do
Sul – baseado no exemplo do “Clima Plano de Segurança para a América ”, desenvolvido pelo

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apartidário Grupo Consultivo de Segurança Climática do Center for Climate and Security.134
A colaboração para enfrentar as ameaças relacionadas ao clima melhorará a interoperabilidade
transfronteiriça e tornará os esforços regionais para combater os riscos à segurança climática e
os crimes ambientais mais eficazes. O Brasil já tem relacionamentos e interação robustos com a
maioria dos países da região (principalmente as nações que compartilham as bacias do Amazonas e
do Rio da Prata) e historicamente promove o discurso sobre o meio ambiente. Deixar de assumir
um papel de liderança nos assuntos da Pan-Amazônia cria o risco de que outros estados ou
instituições multinacionais preencham o vácuo, deixando o Brasil como um espectador em sua
própria vizinhança.

3. Demonstrar Valorização dos Riscos Climáticos: Os militares brasileiros deveriam demonstrar


em retórica e ações seu compromisso com o combate à ameaça das mudanças climáticas, pois
o fenômeno representa um risco claro para a segurança pública do Brasil. Os principais líderes
militares, incluindo membros do Conselho de Defesa Nacional do Brasil (a referência para segurança
interna mais importante do presidente) e o conselho consultivo de política externa, deveriam
promover discussões e ações para compreender e abordar o impacto das mudanças climáticas na
segurança interna. Posteriormente, as implicações desta questão para a segurança pública deveriam
ser legitimadas ao serem abordadas na Política de Defesa Nacional, Estratégia de Defesa Nacional
e no Livro Branco de Defesa Nacional.

As instituições acadêmicas de defesa, em particular, deveriam desempenhar um papel central


na promoção e informar o discurso de segurança climática e também podem contribuir para
avaliações militares e estratégias de mitigação destinadas a enfrentar a ameaça. Incorporar a escassez
de recursos impulsionada pelo clima e considerações sobre o impacto da prontidão militar em
programas de desenvolvimento profissional nas instituições educacionais militares também seria
um investimento importante não apenas para tornar a infraestrutura das Forças Armadas brasileiras
“impermeváveis” ou seja, preparadas para as intempéries das mudanças climáticas, mas também
para garantir que os líderes estejam preparados para melhor servir um público que será cada vez
mais estressado pela escassez de recursos relacionados ao clima.

4. Renovar a Liderança no Combate ao Desmatamento: A segurança do Brasil, assim como a


segurança de sua vizinhança e do globo, está inextricavelmente ligada à saúde da Amazônia.
A posição internacional do Brasil e os interesses estratégicos em todo o mundo também estão
inextricavelmente ligados ao fato de ele desempenhar ou não um papel de liderança na proteção
da Amazônia e cumprir e superar as metas de mudança climática estabelecidas em Paris. O Brasil
deveria, portanto, renovar sua liderança no combate ao desmatamento e se comprometer a reduzir
as emissões de gases de efeito estufa na escala necessária para evitar consequências imprevisíveis de
segurança relacionadas ao clima para o Brasil e seus vizinhos.

5. Extensão Acadêmica: No espírito de contribuir para o fortalecimento da cooperação entre os


países da América do Sul e, de forma mais ampla, para a redução das tensões e da pacificação, os
militares brasileiros poderiam servir como facilitadores do discurso regional sobre desmatamento e
mudanças climáticas. A comunidade acadêmica (militar e civil), o setor privado e as organizações

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sem fins lucrativos podem enriquecer esse debate e contribuir para a formulação de soluções para
que tenham legitimidade aos olhos da sociedade em geral. Na frente internacional, organizações
como o International Military Council on Climate and Security (IMCCS) – uma rede de líderes
militares de alto escalão em todo o mundo que conduzem políticas de apoio a ações sobre as
implicações de segurança de um clima em mudança (o Grupo de Peritos do qual está publicando
este relatório) – deveriam ser engajadas e aproveitadas para aumentar o conhecimento institucional
militar brasileiro sobre os impactos das mudanças climáticas na segurança.135

A fim de avaliar e abordar totalmente esses riscos, as instituições regionais de segurança, incluindo
instituições acadêmicas de defesa, devem incorporar temas de segurança climática em suas pesquisas.
Este trabalho deve examinar os impactos das mudanças climáticas em:

• As mudanças no domínio marítimo e nas considerações de segurança marítima;


• Integridade territorial e disputas de fronteira que afetam a região em geral, e o Brasil especificamente;
• Estratégia militar e questões relacionadas com o planejamento, treinamento e equipamentos,
com foco em como os conjuntos de missão irão evoluir, bem como os impactos climáticos nas
instalações;
• Análise contínua da força e potencial enfraquecimento das instituições e normas internacionais;
• Questões de ciência e tecnologia (C&T), incluindo as desvantagens potenciais de defesa
usando tecnologias civis, por ex. aqueles para contra-desmatamento. Esta poderia ser uma
área frutífera de colaboração com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, dada a
importância da cooperação em C&T entre militares parceiros para lidar com os riscos à
segurança climática.

As recomendações acima não são apenas pontos de partida para que os militares brasileiros contribuam
para mitigar as consequências das mudanças climáticas para a segurança, mas também são iniciativas
que aumentarão ainda mais a reputação dos militares brasileiros como guardiões responsáveis do bem-
estar da nação e líderes globais de pensamento e ação. O Brasil tem uma oportunidade histórica de
liderar pelo exemplo; reunir não apenas o Brasil, mas também liderar uma região em transição para
criar um futuro mais seguro e resiliente ao clima.

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CONCLUSÃO

Os impactos das mudanças climáticas podem emergir como um grande impulsionador da instabilidade
no século XXI, se as respostas para minimizar esses riscos não forem proporcionais à ameaça.136 Ao
minar os meios de subsistência, impulsionar rupturas econômicas significativas, sobrecarregar as
capacidades do Estado e desafiar o contrato social entre governos e cidadãos, a mudança climática terá
consequências sociais, políticas e de segurança, bem como impactos ambientais. Por essas razões, as
mudanças climáticas são entendidas como um “multiplicador de ameaças” para a instabilidade.137

As dimensões de segurança das mudanças climáticas vão além daquelas relacionadas às mudanças
nos padrões climáticos. A adaptação e mitigação das mudanças climáticas também trará mudanças
nos mercados de energia e na distribuição de recursos, por exemplo, aumentando o valor estratégico
de minerais como o lítio, ou exigindo decisões sobre quais setores se beneficiam mais de projetos
hidrelétricos. Essas consequências mais amplas de um clima em mudança podem alterar a dinâmica de
poder e dar origem a novas queixas, o que pode exigir capacidade institucional adicional para antecipar
e administrar pacificamente. No Brasil, as interações da mudança climática com a missão militar, até
agora, foram entendidas principalmente em relação à assistência humanitária e resposta a desastres.
Como este relatório ilustra, ampliar a abertura para considerar outras consequências dos impactos do
clima e integrar o clima na política e no planejamento de defesa pode apoiar avaliações de risco mais
abrangentes e respostas intersetoriais às ameaças à segurança climática.

A referência da Política Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa de 2020 às graves


consequências ambientais, sociais, econômicas e políticas das mudanças climáticas é um passo positivo
que deve ser construído para que um quadro abrangente de segurança climática possa ser estabelecido.
Todos os ramos das Forças Armadas deveriam avaliar como as mudanças climáticas afetarão suas
respectivas instituições e como esses impactos podem ser melhor tratados.138 Dado o papel central
que a defesa desempenha na resposta a desastres, há uma base sólida para desenvolver capacidades
adicionais para se adaptar a um futuro com mudanças climáticas e às crescentes demandas nesta área.
Dentro do governo, é responsabilidade da instituição de defesa avaliar o futuro cenário de segurança
nacional e internacional, não apenas para informar suas próprias capacidades de planejamento. Essa
função fornece uma oportunidade de liderança para a defesa incorporar as mudanças climáticas a um
planejamento governamental mais amplo, como uma ameaça à segurança de alta probabilidade e alto
impacto que requer uma resposta robusta do desenvolvimento e de outros setores.

Por último, sem mitigação urgente e sustentada dos gases de efeito estufa, política de apoio e
planejamento de todos os setores do governo, incluindo o setor de defesa, as mudanças climáticas terão
consequências terríveis para o Brasil. No entanto, com a previsão disponível hoje, há tempo para tomar
medidas preventivas para que os piores cenários não ocorram e para garantir que a segurança pública
seja mantido em toda a região.

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NOTES

1  Guy, Kate et al. “A Security Threat Assessment of Global Climate Change: How Likely Warming Scenarios Indicate a Catastrophic Security
Future.” Product of the National Security, Military, and Intelligence Panel on Climate Change. Editado por Femia, Francesco e Werrell,
Caitlin. The Center for Climate and Security, um instituto do Council on Strategic Risks.
2  “Resource Hub,” The Center for Climate & Security, 23 de Janeiro, 2012, https://climateandsecurity.org/resources/
3  Department of Defense, “2014 Climate Change Adaptation Roadmap,” Department of Defense, Junho de 2014, https://www.acq.osd.mil/
eie/downloads/CCARprint_wForward_e.pdf
4  “Joint Operating Environment 2010,” JFCOM, 2010, http://www.jfcom.mil/newslink/storyarchive/2010/JOE_2010_o.pdf
5  Francesco Femia e Caitlin Werrell, “Update: Chronology of U.S. Military Statements and Actions on Climate and Security: Jan 2017-
Out 2019,” The Center for Climate and Security, 1 de Novembro, 2019. https://climateandsecurity.org/2019/11/update-chronology-of-u-s-
military-statements-and-actions-on-climate-change-and-security-jan-2017-november-2019/
6  Ministério da Defesa, “Política Nacional de Defesa Estratégia Nacional de Defesa” Ministério da Defesa (Brasil), 22 de junho, 2020, https://
www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/copy_of_estado-e-defesa/pnd_end_congresso_.pdf
7  “Livro Verde da Defesa: boas práticas em Gestão Ambiental,” Ministério da Defesa, 15 de julho de 2019, http://www.dpima.eb.mil.br/index.
php/en/livro-verde-da-defesa
8  Oliver Leighton Barrett, “2017 Hurricanes: Military Increasingly Getting Its Feet Wet,” The Center for Climate and Security, outubro, 2017
https://climateandsecurity.org/2017/10/2017-hurricanes-military-increasingly-getting-its-feet-wet/
9  Guy, Kate et al. “A Security Threat Assessment of Global Climate Change: How Likely Warming Scenarios Indicate a Catastrophic Security
Future.” Product of the National Security, Military, and Intelligence Panel on Climate Change. Editado por Femia, Francesco e Werrell,
Caitlin. The Center for Climate and Security, um instituto do Council on Strategic Risks.
10  Guy et al., op cit.
11  Caitlin Werrell e Francesco Femia, “The Responsibility to Prepare and Prevent: A Climate Security Governance Framework for the 21st
Century,” The Center for Climate and Security, outubro de 2019, https://climateandsecurity.org/the-responsibility-to-prepare-and-prevent-a-
climate-security-governance-framework-for-the-21st-century/.
12  Adriano Gambarini, “Forests Burn, Soils Dwindle and People Suffer,” WWF Living Amazon Initiative, https://wwf.panda.org/knowledge_
hub/where_we_work/amazon/amazon_threats/
13  Edgardo Ayala, “Climate Change Forces Central American Farmers to Migrate,” Green Watch, 02 de janeiro, 2019. https://greenwatchbd.
com/climate-change-forces-central-american-farmers-to-migrate/
14  “Migration from rural areas to cities: challenges and opportunities,” International Organization For Migration, 2016, https://eurosocial.eu/
actualidad/la-covid-19-en-los-asentamientos-precarios-y-la-vivienda-social-en-america-central-y-republica-dominicana/
15  Ibid.
16  “With Venezuela Buckling under Severe Shortages, Security Council Emergency Session Calls for Political Solution to End Crisis, as
Divisions Emerge over Path Forward,” U.N. Security Council, janeiro 2019, https://www.un.org/press/en/2019/sc13680.doc.htm
17  Adriana Abdenur e Robert Muggah, “Brazil and Venezuela clash over migrants, humanitarian aid and closed borders,” Igarape, 08 de
março, 2019, https://igarape.org.br/brazil-and-venezuela-clash-over-migrants-humanitarian-aid-and-closed-borders/
18  Oliver Leighton Barrett, “Venezuela: Drought, Mismanagement and Political Instability,” 07 fevereiro. 2019, The Center For Climate And
Security, https://climateandsecurity.org/2019/02/drought-mismanagement-and-political-instability-in-venezuela/
19  Ibid.
20  “Venezuela 2019,” Amnesty International, 2019, https://www.amnesty.org/en/countries/americas/venezuela/report-venezuela/
21  Kanta Kumari Rigaud, Alex de Sherbinin, Bryan Jones, Jonas Bergmann, Viviane Clement, Kayly Ober, Jacob Schewe,
Susana Adamo, Brent McCusker, Silke Heuser, e Amelia Midgley, “Groundswell,” World Bank Group, 2018, https://openknowledge.
worldbank.org/handle/10986/29461
22  Ibid.
23  Ibid.
24  David Eckstein, Vera Künzel, Laura Schäfer, Maik Winges, “Global Climate Risk Index,” German Watch, 2020, https://www.germanwatch.
org/sites/germanwatch.org/files/20-2-01e%20Global%20Climate%20Risk%20Index%202020_14.pdf
25  Anna Giaritelli, “Nearly 3,000 in Puerto Rico died as a result of Hurricane Maria: Report,” The Washington Examiner, 28 de agosto, 2018,
https://www.washingtonexaminer.com/news/nearly-3-000-in-puerto-rico-died-as-a-result-of-hurricane-maria-report

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26  Amy Bennett Williams, “Hurricane Dorian: Bahamas works to recover a month after Cat 5 storm,” Fort Myers News Press, 01 de outubro,
2019, https://www.msn.com/en-us/travel/article/hurricane-dorian-bahamas-works-to-recover-a-month-after-cat-5-storm/ar-AAI7bnA
27  Moises Rendon e Michael A. Matera, “The Venezuelan Refugee Crisis: The View from Brazil,” The Center for Strategic and International
Studies, 18 de maio, 2018, https://www.csis.org/analysis/venezuelan-refugee-crisis-view-brazil
28  Adriana Abdenur and Robert Muggah, “Brazil and Venezuela clash over migrants, humanitarian aid and closed borders,” Igarape, 08 de
março, 2019, https://igarape.org.br/brazil-and-venezuela-clash-over-migrants-humanitarian-aid-and-closed-borders/
29  Oliver Leighton Barrett, “2017 Hurricanes: Military Increasingly Getting Its Feet Wet,” The Center for Climate and Security, outubro,
2017, https://climateandsecurity.org/2017/10/2017-hurricanes-military-increasingly-getting-its-feet-wet/
30  Ibid.
31  “Climate Action Tracker: Brazil 2019,” Climate Action Tracker, dezembro, 2019, https://climateactiontracker.org/countries/brazil/
32  Vishal Tiwari, “2019 INPE Report Shows Amazon Forest Fire Increased By 30% This Year,” Republic World, 01 de Janeiro, 2020, https://
www.republicworld.com/world-news/rest-of-the-world-news/2019-inpe-report-shows-amazon-forest-fire-increased-by-30-percent-this-year.html
33  Benjamin Elisha Sawe, “World Population Prospect,” 2020, United Nations, https://population.un.org/wpp/
34  The Economy of Brazil,” World Atlas, 25 de Abril, 2017, https://www.worldatlas.com/articles/the-economy-of-brazil.html#:~:text=Brazil%20
has%20the%20largest%20economy%20in%20Latin%20America,regarded%20as%20the%20five%20primary%20emerging%20
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35  Marina Pomela, “Energy Sources In Brazil,” Brazil Business, 13 de maio, 2015, https://thebrazilbusiness.com/article/energy-sources-in-
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36  Andrea Rezzonico e Meggen Watt Petersen, “Brazil: A Climate, Nuclear, and Security Hotspot,” The Council on Strategic Risks,
Briefer No. 11, 26 de outubro, 2020, https://climateandsecurity.org/wp-content/uploads/2020/10/Brazil-A-Climate-Nuclear-and-Security-
Hotspot_BRIEFER-11_2020_10_26.pdf.
37  The Economy of Brazil,” World Atlas, 25 de Abril, 2017, https://www.worldatlas.com/articles/the-economy-of-brazil.html#:~:text=Brazil%20
has%20the%20largest%20economy%20in%20Latin%20America,regarded%20as%20the%20five%20primary%20emerging%20
global%20economies.
38  “Introduction: Lula’s Legacy in Brazil,” The North American Congress on Latin America, 12 de maio, 2011, https://nacla.org/article/
introduction-lula%E2%80%99s-legacy-brazil
39  Sue Branford, “Lula's last challenge: the Amazon” Open Democracy, 09 de dezembro, https://www.opendemocracy.net/en/lulas-last-
challenge-amazon/
40  Robert Muggah, Adrianna Abdenur, e Ilona Szabo, “Fighting Climate Change Means Fighting Organized Crime,” Project Syndicate,
02 de maio, 2019, https://www.project-syndicate.org/commentary/amazon-illegal-mining-climate-change-by-robert-muggah-et-al-2019-
03?barrier=accesspaylog
41  Fen Montaigne,“Will Deforestation and Warming Push the Amazon to a Tipping Point?” Yale School of Forestry and Environmental Studies,
04 de setembro, 2019, https://e360.yale.edu/features/will-deforestation-and-warming-push-the-amazon-to-a-tipping-point
42  Carlos Antonio Luque, Simao Silber, Francisco Vidal Luna, et al., “The Roots of Brazil’s Economic Crisis,” Project Syndicate, 28 de
agosto, 2020, https://www.project-syndicate.org/commentary/brazil-economic-growth-crisis-since-2013-by-carlos-antonio-luque-et-al-
2020-08?barrier=accesspaylog
43  “Drought Region (Brazil),” Encyclopedia of Latin American History and Culture, 16 de outubro, 2020, https://www.encyclopedia.com/
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44  Virgínia Barbosa, “Transposition of São Francisco River,” 27 de setembro, 2011, Joaquim Nabuco Foundation, http://basilio.fundaj.gov.
br/pesquisaescolar_en/index.php?option=com_content&id=1321:transposition-sao-francisco-river
45  Maria Goretti Sabino Cordeiro, “Transposition of the São Francisco River, Brazil: causes and consequences of a project,” Universidade
Estadual de Alagoa, 2017, https://core.ac.uk/display/201211335
46  “World Factbook - Brazil,” Central Intelligence Agency (CIA), https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/br.html.
47  “Defesa Nacional, Vigilância de Fronteiras e Segurança Pública: o papel das Forças Armadas,” Fundação FHC, 05 de junho, 2017, https://
fundacaofhc.org.br/iniciativas/debates/defesa-nacional-vigilancia-de-fronteiras-e-seguranca-publica-o-papel-das-forcas-armadas-
48  “Brazil and the Amazon Forest,” GreenPeace, 2020, https://www.greenpeace.org/usa/issues/brazil-and-the-amazon-forest/
49  “Brazil Protects the Amazon,” The World Bank, 9 de outubro, 2013, https://www.worldbank.org/en/results/2013/10/09/Brazil-protects-
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50  “Land use Status and Trends in Amazonia,” Amazonia Security Agenda Project, janeiro 2013, https://web.archive.org/web/20160319140931/
http://segamazonia.org/sites/default/files/press_releases/land_use_status_and_trends_in_amazonia.pdf
51  Amy Tikkanen, “How Long Is the Amazon River?” Encyclopædia Britannica, https://www.britannica.com/story/how-long-is-the-amazon-river.

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52  “Indigenous World 2019: Brazil,” International Work Group for Indigenous Affairs, 24 de abril, 2019, https://www.iwgia.org/en/brazil/3391-
iw2019-brazil
53  Ibid.
54  “Brazil suspends raid on illegal miners in Amazon indigenous land,” 07 de julho, 2020, Discourse on Development, https://www.
devdiscourse.com/article/business/1159915-brazil-suspends-raid-on-illegal-miners-in-amazon-indigenous-land
55  Ernesto Londoño e Letícia Casado, “As Bolsonaro Keeps Amazon Vows, Brazil’s Indigenous Fear ‘Ethnocide’, NY Times, 04 de abril, 2020,
https://www.nytimes.com/2020/04/19/world/americas/bolsonaro-brazil-amazon-indigenous.html
56  “Logging permit fraud threatens timber species in Brazilian Amazon,” Oregon State University, 15 de agosto, 2018,
https://phys.org/news/2018-08-fraud-threatens-timber-species-brazilian.html
57  Allison Jackson“Brazil highways drive Amazon development—and destruction,” Phys.org, 8 de outubro, 2019, https://phys.org/
news/2019-10-brazil-highways-amazon-developmentand-destruction.html
58  Christopher Barbera, Mark Cochranea, Carlos Souza Jr., William Laurance, “Roads, deforestation, and the mitigating effect of protected
areas in the Amazon,” Biological Conservation. 08 de março, 2014. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S000632071400264X
59  “Climate Action Tracker: Brazil 2019,” Climate Action Tracker, dezembro, 2019, https://climateactiontracker.org/countries/brazil/
60  Carlos A. Nobre, Gilvan Sampaio, Laura S. Borma, Juan Carlos Castilla-Rubio, José S. Silva e Manoel Cardosoc. Land-Use and Climate
Change Risks in the Amazon and the Need of a Novel Sustainable Development Paradigm. The Proceedings of the National Academy of Sciences
(PNAS), 27 de setembro, 2016, https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5047175/.
61  “UNODC and Censipam to formalise partnership to combat drug cultivation in the Amazon,” UNODC. 4 de setembro, 2019. http://www.
unodc.org/lpo-brazil/en/frontpage/2019/09/unodc-and-censipam-to-formalise-partnership-to-combat-drug-cultivation-in-the-amazon.html
62  Ibid.
63  Ibid.
64  Carlos A. Nobre, Gilvan Sampaio, Laura S. Borma, Juan Carlos Castilla-Rubio, José S. Silva e Manoel Cardosoc. Land-Use and Climate
Change Risks in the Amazon and the Need of a Novel Sustainable Development Paradigm. The Proceedings of the National Academy of Sciences
(PNAS). 27 de setembro, 2016, https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5047175/
65  Daniel C. Nepstad, David G. McGrathand Britaldo Soare-Filho, “Systemic Conservation, REDD, and the Future of the Amazon
Basin,” Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazonia, International Program, The Woods Hole Research Center, Centro de Sensoriamento Remoto,
Universidade Federal de Minas Gerais, 2011, http://faculty.washington.edu/timbillo/Readings%20and%20documents/CO2%20and%20
Forests%20readings/Nepstad%20et%20al.%202011%20Cons%20Bio%20REDD%20essay.pdf.
66  “Cattle Ranching in the Amazon Region,” Yale School of the Environment, https://globalforestatlas.yale.edu/amazon/land-use/cattle-ranching
67  Katharina Buchholz, “MEAT The Biggest Exporters of Beef in the World,” Statista, 30 de julho, https://www.statista.com/chart/19122/
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68  Richard Pearshouse, “Illegal Cattle Ranching Is Destroying the Amazon Rainforest – and Putting Our Planet at Risk,” Independent, 26 de
novembro, 2019, https://www.independent.co.uk/voices/amazon-rainforest-brazil-environment-cattle-ranching-a9218326.html.
69  Megan Hall, Dana Altoami, Molly Magid, “Why Did The Fires In The Amazon Happen This Summer, And Are They Normal?” The Public’s
Radio, 11 de novembro,, 2019, https://thepublicsradio.org/episode/why-did-the-fires-in-the-amazon-happen-this-summer-and-are-they-normal
70  “Brazilian Amazon Sees Worst June in 13 Years for Forest Fires,” Phys.org. 2 de julho, 2020, https://phys.org/news/2020-07-brazilian-
amazon-worst-june-years.html.
71  Herton Escobar, “Illegal deforestation in Brazil soars amid climate of impunity,” Science Mag. 05 de agosto, 2020, https://www.sciencemag.
org/news/2020/08/illegal-deforestation-brazil-soars-amid-climate-impunity
72  Stefan Lovgrea, “Near the Amazon fires, residents are sick, worried, and angry,” National Geographic, 23 de agosto, 2019. https://www.
nationalgeographic.com/environment/2019/08/near-brazil-amazon-fires-residents-sick-worried-angry/
73  Anonymous, “Unpublished confidential document,” 27 de agosto, 2020.
74  Fen Montaigne, “Will Deforestation and Warming Push the Amazon to a Tipping Point?” Yale School of Forestry and Environmental
Studies, 04 de setembro, 2019, https://e360.yale.edu/features/will-deforestation-and-warming-push-the-amazon-to-a-tipping-point
75  Julianna Santos, “The Big Picture of the Amazon Fires,” Phys.org, 25 de setembro, 2019, https://phys.org/news/2019-09-big-picture-amazon.
html.
76  Mariana Simões, “Brazil’s Bolsonaro on the Environment, in His Own Words,” NY Times, 27 de agosto, 2019, https://www.nytimes.
com/2019/08/27/world/americas/bolsonaro-brazil-environment.html

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77  Note: If ratified, the EU-Mercosur treaty — the biggest such global agreement ever negotiated — will create an open market encompassing
780 million people with a Gross Domestic Product (GDP) of US$19 trillion between the two blocs. https://www.foodnavigator.com/
Article/2020/07/22/EU-Mercosur-deal-faces-mounting-opposition-as-soy-and-beef-exports-drive-deforestation-in-Brazil
78  Claire Corkery, “Amazon fires: France and Ireland threaten to block EU trade deal over rainforest destruction,” The National, 23 de agosto,
2019. https://www.thenational.ae/world/the-americas/amazon-fires-france-and-ireland-threaten-to-block-eu-trade-deal-over-rainforest-
destruction-1.901766
79  Fen Montaigne, “Will Deforestation and Warming Push the Amazon to a Tipping Point?” Yale School of Forestry and Environmental
Studies, 04 de setembro, 2019, https://e360.yale.edu/features/will-deforestation-and-warming-push-the-amazon-to-a-tipping-point
80  Scott Wallace, “Inside the faltering fight against illegal Amazon logging,” National Geographic, 28 de agosto, 2019, https://www.
nationalgeographic.com/environment/2019/08/brazil-logging/
81  Oliver-Leighton Barrett, et al. "Environmental and Energy Issues for the Military: Environmental and Energy Security for the Americas,"
United States Southern Command, 12 de março, 2014, https://climateandsecurity.org/wp-content/uploads/2020/08/SOUTHCOM-Report_
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82  “Catastrophic’ Floods Rising on Amazon River, Say Scientists,” Thomson Reuters Foundation,
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83  Ministério da Defesa do Brasil, “Política Nacional de Defesa Estratégia Nacional de Defesa,” 22 de junho, 2020
84  “National Security Implications of Climate-Related Risks and a Changing Climate,” U.S. Department of Defense, 2015. https://archive.
defense.gov/pubs/150724-congressional-report-on-national-implications-of-climate-change.pdf?source=govdelivery
85  “2014 Climate Change Adaptation Roadmap,” Department of Defense, Junho 2014, https://www.acq.osd.mil/eie/downloads/CCARprint_
wForward_e.pdf
86  Sue Branford, “Brazil Faces Serious Power and Crop Losses.,” Climate News Network, 19 de novembro, 2015, https://climatenewsnetwork.
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87  Ibid.
88  Débora Brito, “A água No Brasil: Da abundância à Escassez,” EBC, 25 de outubro, 2018, https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/
noticia/2018-10/agua-no-brasil-da-abundancia-escassez
89  “Hydroelectric plants account for more than 70% of Brazil's electric generation,” EIA, 11 de agosto, 2016, https://www.eia.gov/
todayinenergy/detail.php?id=27472
90  “Hydroelectric Plants Account for More Than 70% of Brazil’s Electric Generation,” U.S. Energy Information Administration, International
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91  Jon Gerberg, “A Megacity Without Water: São Paulo's Drought,” Time Magazine, 13 de outubro, 2015 https://time.com/4054262/
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92  Débora Brito, “A água no Brasil: da abundância à escassez,” Agência Brasil. 25 de outubro, 2018, https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/
noticia/2018-10/agua-no-brasil-da-abundancia-escassez
93  “São Paulo and the 20 million people that live there are literally running out of water and it's getting dangerous,” Business Insider, 19 de
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94  Ministério da Defesa do Brasil, “Política Nacional de Defesa Estratégia Nacional de Defesa”, 22 de junho 2020, https://www.gov.br/
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95  “Livro Verde da Defesa: boas práticas em Gestão Ambiental,” Ministério da Defesa, 15 de julho, 2019, http://www.dpima.eb.mil.br/index.
php/en/livro-verde-da-defesa
96  “Brazil’s Success in Reducing Deforestation,” The Union of Concerned Scientists, setembro, 2019, https://www.ucsusa.org/sites/default/
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97  Ministério da Defesa do Brasil, “Política Nacional de Defesa Estratégia Nacional de Defesa” 22 de junho 2020
98  Brazil Summary,” Climate Action Tracker, 2020, https://climateactiontracker.org/countries/brazil/
99  Steve Zwick, “Brazil’s Climate Plan Focuses On Healthy Forests, With Role Of Markets Uncertain,” Ecosystem Marketplace, 29 de setembro,
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101  Andrea Azevedoa Raoni Rajão, Marcelo Costa, Marcia Macedo, “Limits of Brazil’s Forest Code as a means to end illegal deforestation,”
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103  “Brazil Country Summary,” Climate Action Tracker, 2020, https://climateactiontracker.org/countries/brazil/.
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org/news/2019/0913-amazon-watch-statement-on-brazil-us-plan-for-the-amazon
107  Mariana Alvarenga. Forças Da Defesa Contribuem Para a conservação Da Amazônia E Dos Povos Que Nela Habitam. Ministério da
Defesa, 17 de julho, 2020, https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/noticias/forcas-da-defesa-contribuem-para-a-conservacao-da-amazonia-
e-dos-povos-que-nela-habitam.
108  “Brazil, Colombia, Peru Collaborate on Amazon Patrol Boat Development,” Dialogo. 04 de julho, 2016, https://dialogo-americas.com/
articles/brazil-colombia-peru-collaborate-on-amazon-patrol-boat-development/.
109  Ibid.
110  “Operação Verde Brasil aplica cerca de R$ 142 milhões em multas e combate 1.835 focos de incêndio,” Governo do Brasil, 29 de outubro,
2019. https://www.gov.br/pt-br/noticias/meio-ambiente-e-clima/2019/10/operacao-verde-brasil-aplica-cerca-de-r-142-milhoes-em-multas-
e-combate-1-835-focos-de-incendio
111  “Brazil's President Authorizes Military Operations To Battle Amazon Rainforest Fires,” WBUR. 26 de agosto 2019. https://www.wbur.
org/hereandnow/2019/08/26/amazon-wildfires-brazil-bolsonaro
112  Olivia Rosane,“ Bolsonaro Dismisses Amazon Deforestation as ‘Cultural’,” 25 de novembro, 2019. https://www.globalresearch.ca/
bolsonaro-dismisses-amazon-deforestation-cultural/5695812?print=1
113  “Federative Republic of Brazil Intended Nationally Determined Contribution,” https://www4.unfccc.int/sites/ndcstaging/
PublishedDocuments/Brazil%20First/Brazil%20iNDC%20english%20FINAL.pdf
114  Suzana Camargo, “Prosecutors Target Brazil’s Environment Minister over Dismantling of Protections. Mongabay,” 8 de julho, 2020,
https://news.mongabay.com/2020/07/prosecutors-target-brazils-environment-minister-over-dismantling-of-protections/.
115  Anonymous, “Unpublished confidential document,” 27 de agosto, 2020.
116  Suzana Camargo, “Prosecutors Target Brazil’s Environment Minister over Dismantling of Protections,”Mongabay, 8 de julho, 2020,
https://news.mongabay.com/2020/07/prosecutors-target-brazils-environment-minister-over-dismantling-of-protections/.
117  Sounak Mitra, “Brazil's Effort To Protect Amazon Rainforest Yielding Opposite Effect: Report,” 29 de agosto, 2020, https://www.
republicworld.com/world-news/south-america/brazils-effort-to-protect-amazon-rainforest-yeilding-opposite-effect.html
118  Glenn Hurowitz, “Here’s What Deforestation Looks Like in 2019 – and What We Can Do about It,” Mighty Earth, http://www.
mightyearth.org/heres-what-deforestation-looks-like-in-2019-and-what-we-can-do-about-it/.
119  Nelza Oliviera. Service Members Add New Technologies To Fight Wildfires In The Amazon. Dialogo, 26 de novembro, 2019, https://
dialogo-americas.com/articles/service-members-add-new-technologies-to-fight-wildfires-in-the-amazon/.
120  Juliano Correa, ElíasCisneros, Jan Börner, Alexander Pfaffa, Marcelo Costa e RaoniRajãod, “Valuing REDD+ at Subnational
Level: Amazon Fund Impacts in Alta Floresta, Brazil,” ScienceDirect, julho 2020, https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/
S1389934119301170#:~:text=The%20Amazon%20Fund%2C%20established%20in%202008%20by%20the,per%20year%2C%20
on%20average%2C%20during%202008%20and%202017.
121  Marina Lopes, “Bolsonaro’s Amazon-Sized Spat With Germany and Norway Threatens Europe-South America Trade Deal,” Washington
Post. 20 de agosto, 2019, https://www.washingtonpost.com/world/the_americas/bolsonaros-amazon-sized-spat-with-germany-norway-
threatens-europe-south-america-trade-deal/2019/08/20/cc60ee3c-c2b8-11e9-8bf7-cde2d9e09055_story.html.
122  Mauricio Savarese, Marcelo de Sousa,“As virus spreads, Bolsonaro ties with military under strain,” Associated Press, 13 de julho, 2020,
https://apnews.com/article/2245f42b8c881238b23bb20b983a058c
123  Pedro Martins e Daisy Ribeiro, “What are the threats behind the militarization of the fight against deforestation in Brazil?” Terra
de Direitos, 26 de junho , 2020, https://terradedireitos.org.br/en/news/news/what-are-the-threats-behind-the-militarization-of-the-fight-
against-deforestation-in-brazil/23408
124  Ibid.
125  Rubens Valente, “Mourão Forma Conselho Da Amazônia Com 19 Militares E Sem Ibama E Funai,” UOL, 18 de abril 2020, https://
noticias.uol.com.br/colunas/rubens-valente/2020/04/18/conselho-Amazonia-mourao.htm?Cmpid=copiaecola.
126  “Under Pressure, Brazil’s Bolsonaro Forced to Fight Deforestation,” NY Times, 1 de agosto, 2020, https://www.nytimes.com/2020/08/01/
world/americas/Brazil-amazon-deforestation-bolsonaro.html.
127  Carlos Molinari, Operação De Combate a Crimes Ambientais Será Prorrogada,” 8 de junho, 2020, https://agenciabrasil.ebc.com.br/
geral/noticia/2020-06/operacao-de-combate-crimes-ambientais-sera-prorrogada.

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128  Ibid.
129  “Fires triple in Brazil's Pantanal wetlands in 2020.” Phys.org. 24 de julho, 2020. https://phys.org/news/2020-07-triple-brazil-pantanal-
wetlands.html
130  Joshua Berger, “Brazilian Amazon fires surge in July,” Digital Journal, 1 de agosto, 2020, http://www.digitaljournal.com/news/world/
brazilian-amazon-fires-surge-in-july/article/575748
131  Caitlin Werrell e Francesco Femia, “The Responsibility to Prepare and Prevent: A Climate Security Governance Framework for the
21st Century.” The Council on Strategic Risks/The Center for Climate and Security. Outubro de 2019. https://climateandsecurity.org/ the-
responsibility-to-prepare-and-prevent-a-climate-security-governance-framework-for-the-21st-century/
132  Ibid.
133  “Report on Effects of a Changing Climate to the Department of Defense,” Department of Defense, janeiro 2019, https://media.defense.
gov/2019/Jan/29/2002084200/-1/-1/1/Climate-change-report-2019.PDF
134  “A Climate Security Plan for America,” Washington, DC: The Climate and Security Advisory Group, presidido the Center for Climate and
Security em parceria com George Washington University's Elliott School of International Affairs.
135  See The International Military Council on Climate and Security website, at www.imccs.org
136  Guy, Kate et al. “A Security Threat Assessment of Global Climate Change: How Likely Warming Scenarios Indicate a Catastrophic
Security Future.” Produto do the National Security, Military, and Intelligence Panel on Climate Change. Editado por Femia, Francesco e
Werrell, Caitlin. The Center for Climate and Security, um instituto do the Council on Strategic Risks.
137  “2014 Quadrennial Defense Review (QDR),” Secretary of Defense, 4 de março, 2014, https://archive.defense.gov/pubs/2014_
Quadrennial_Defense_Review.pdf
138  Ministério da Defesa do Brasil, Política Nacional de Defesa Estratégia Nacional de Defesa, 22 de junho 2020, https://www.gov.br/defesa/
pt-br/assuntos/copy_of_estado-e-defesa/pnd_end_congresso_.pdf

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O International Military Council on Climate and Security (IMCCS) é um grupo de líderes militares seniores, especialistas em
segurança e instituições de segurança em todo o mundo, dedicado a antecipar, analisar e abordar os riscos de segurança de mudança
climática. O IMCCS é co-liderado por:

Secretária Geral do IMCCS


A Honorável Sherri Goodman
Ex-Vice-Subsecretária de Defesa (Segurança Ambiental)
US Department of Defense
Estrategista Senior, The Center for Climate and Security

Presidente do IMCCS
General Tom Middendorp (aposentado)
Ex-Chefe de Defence of the Netherlands
Membro Associado Senior, Clingendael Institute

O Grupo de Especialistas IMCCS consiste em líderes comprometidos em conduzir análises, políticas e comunicações sobre clima
e segurança, incluindo através do desenvolvimento, publicação e endosso do Relatório Mundial de Clima e Segurança, bem como
outras análises oportunas orientadas por sinais de demanda do IMCCS. O Grupo de Especialistas IMCCS consiste atualmente em
representantes de quatro instituições:

• The Center for Climate and Security (CCS), um instituto do The Council on Strategic Risks (CSR)
• The Planetary Security Initiative at the Netherlands Institute of International Relations (Clingendael)
• The Hague Centre for Strategic Studies (HCSS)
• The French Institute for International and Strategic Affairs (IRIS)

Este relatório deve ser citado como: “Climate and Security in Brazil.” Produto da Expert Group of the International Military Council
on Climate and Security. Autores: Oliver-Leighton Barrett (CCS), Andrea Rezzonico (CCS), Vanessa Pinney (CCS), e Francesco
Femia (CCS). Editado por Francesco Femia e Shiloh Fetzek. Publicado pela Center for Climate and Security, um instituto do
Council on Strategic Risks. Novembro 2020.

© 2020 The Center for Climate and Security (CCS), um instituto do The Council on Strategic Risks

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