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RESUMO
A facilidade de manutenção e a transparência para os usuários das necessidades, prazos e
procedimentos de manutenção são de fundamental importância para qualidade e sustentabilidade dos
edifícios ao longo do tempo. A manutenção é particularmente crítica em habitações de interesse social
(HIS), em que a disponibilidade de recursos dos moradores para reformas e manutenções é limitada. O
artigo aborda a relevância da consideração de fatores de manutenção enquanto procedimentos e
recomendações a serem desenvolvidos durante o processo de projeto, destinados à consolidação de um
manual do usuário para uso dos moradores e operadores (zeladores, administradoras de condomínio,
etc.) além da sua influência na eficiência da gestão da manutenção durante a etapa de uso, uma vez que
o desempenho do edifício é em grande parte determinado pelo projeto. Partindo de uma pesquisa de
avaliação pós-ocupação (APO) em um conjunto habitacional de interesse social e de revisões
bibliográficas sobre identificação e incidência de problemas decorrentes da ausência ou inadequação de
manutenção em HIS, o artigo aborda a importância de, durante o projeto, os projetistas envolvidos
considerarem as implicações das soluções propostas na manutenibilidade dos edifícios na etapa de uso.
Como resultados são discutidos os conceitos no âmbito da manutenção como Projeto da Manutenção
(enquanto Manual de Manutenção preventiva do edifício) e abordados dados empíricos de estudo de
caso relacionando-os às falhas de projeto e que poderiam ser utilizados para retroalimentação de novos
processos de projetos.
ABSTRACT
The transparency of needs, deadlines, maintenance procedures and the easiness of maintenance are
fundamentally important for the buildings’ quality and sustainability through time. Maintenance is
particularly critical in housing projects, in which user’s resources availability for maintenance and
repairs are limited. This paper addresses Building Maintenance Design for housing projects while
procedures and guidelines to be developed during the design process and towards the user’s manual
consolidation as much for residents as for operators (janitors, condominium managers, etc.) and design’s
influence on the maintenance management efficiency during the use of the building as building
performance is determined by the design. Starting from a Post Occupation Evaluation (POE) in a
housing project and bibliographic review about identification and incidence of problems that arise from
the absence or inadequacy of housing projects maintenance, this paper is about the importance of the
designers thinking about the consequences of their decisions and solutions on the maintainability of a
buildings during the design process. As results some concepts like Maintenance Design and the use of
data from POE to feedback new design processes are discussed.
3 MANUTENÇÃO PREDIAL
Manutenção é definida como a combinação de todas as ações técnicas e administrativas
com o objetivo de restaurar ou substituir um item ao estado o qual possa exercer a
função original, com grau satisfatório de desempenho (OTHMAN, 2007 apud
INTERNATIONAL ELECTROMECHANICAL COMISSION, 2006).
Seeley (1976) apud Horner, El-Haram e Munns (1997) que define manutenção predial
como o trabalho realizado para manter, restaurar ou melhorar todas as partes de um
edifício, seus serviços e arredores para um padrão atualmente aceito e para sustentar a
utilidade e valor do edifício.
Uma das variáveis envolvidas nos custos de manutenção é a manutenibilidade, que de
acordo com Rosa (2006), traduz a maior ou menor facilidade de executar as atividades
de intervenção nos equipamentos. Ainda segundo o autor, falhas no processo podem ser
originadas por falhas de projeto; falhas das instalações; falha de pessoal; falhas de
suprimentos; e falhas do usuário.
Dunston et al. (1999) apud Aris (2006) conceitua manutenibilidade como a
característica de projeto que incorpora função, acessibilidade, confiabilidade, facilidade
de uso e reparo em todos os componentes dos sistemas, maximizando custos e
benefícios do ciclo de vida do edifício.
A seguir os objetivos da manutenção descritos por Horner, El-Haram e Munns (1997):
• Assegurar que os edifícios e seus serviços estejam em uma condição segura;
• Assegurar que o edifício esteja em forma para uso;
• Assegurar que a condição do edifício atinja todos os requisitos estatutários;
• Desempenhar o trabalho necessário para manter o valor físico dos edifícios
existentes;
• Desempenhar o trabalho necessário para manter a qualidade do edifício.
Na bibliografia é possível encontrar várias denominações e divisões por vários autores
para os tipos de manutenção, Tsang (1995), Horner, El-Haram e Munns (1997), Ferraz
Neto et al (2003), Aris (2006), entre outros, mas tais divisões e denominações acabam
por encaixar-se em duas categorias principais, a manutenção planejada e a não
planejada, ou seja, a manutenção preventiva e a corretiva:
OUTROS 12%
MOTIVOS
30%
ADMINISTRADORA
NÃO 26%
COMUNICADO
70% SOLICITAÇÃO
MORADOR 62%
NÃO ATENDIDA
AS BUILT
DECISÕES DECISÕES DECISÕES
PROJETOS
RETROALIMENTAÇÃO
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo esse artigo, o manual de operação, uso e manutenção é visto a partir de uma
perspectiva de processo de formulação associado ao processo de especificação e
desenvolvimento de projeto, privilegiando a interatividade com as decisões de projeto, a
facilidade e a redução do custo da manutenção a partir das soluções em projeto e não
como um documento a ser formulado posteriormente à concepção e construção do
empreendimento.
Para que o Projeto da Manutenção seja eficaz e econômico é necessário que desde o
início e a cada etapa de um empreendimento sejam coletados informações e dados
relacionados à edificação. Nestas etapas as soluções encontradas e decisões tomadas
influenciam diretamente no grau de manutenibilidade da fase de uso. A qualidade e
viabilidade do Projeto da Manutenção (manuais de usuário, cronogramas de serviços e
manuais do empreendimento) dependerão das considerações e tomadas de decisões
feitas durante o processo de projeto pensando para manutenção.
No que diz respeito a conjuntos habitacionais de interesse social, a valorização dos
fatores de manutenção durante todas as etapas do empreendimento proporciona, além de
um melhor desempenho físico da edificação, um melhor desempenho no que diz
respeito a recursos investidos na manutenção predial, tornando-se ferramenta
fundamental para a sustentabilidade econômica do empreendimento e proporcionando
tarifas condominiais acessíveis para a parcela da população de baixa renda.
Além de viabilizar a elaboração de programas de manutenção eficazes e econômicos,
deve-se atentar para o cumprimento aos mesmos. No que diz respeito às
responsabilidades relacionadas à manutenção da edificação, de acordo com Ferraz Neto
et al. (2003), as administradoras devem assumir as responsabilidades do síndico e dar
suporte técnico para a elaboração e implantação do Programa de Manutenção
Preventiva.
No caso do conjunto habitacional estudado, foi possível detectar falhas relacionadas ao
projeto no que diz respeito a facilitar procedimentos de manutenção bem como uma
comunicação frágil entre administradora e moradores dificultando a identificação e
solução de problemas existentes e reincidentes.
Algumas das patologias encontradas na edificação e os problemas relacionados à
manutenção são de difícil solução, contribuindo para a degradação precoce do
empreendimento e insatisfação do usuário. Isso se dá devido à fragilidade de
comunicação entre usuários e administradora; por falhas de projeto; por falhas de
execução de obra; pela qualidade dos materiais utilizados; e em alguns casos pelo uso
indevido da edificação e suas instalações.
A importante e delicada questão da deficiente comunicação entre administração e
moradores detectada fica como tema a ser aprofundado em próximos trabalhos.
Ferramentas e técnicas de APO, como as utilizadas nessa pesquisa, servem não apenas
para detecção de problemas, mas também são fortes aliadas na retroalimentação de
futuros projetos. Resultados obtidos com essas técnicas deveriam ser levados em
consideração durante as etapas de projeto, contribuindo para eliminação de falhas
anteriormente cometidas em edifícios já construídos, gerando projetos mais robustos,
além de fornecer subsídios para programas de manutenção mais viáveis e melhores
desenvolvidos uma vez que se baseariam em experiências reais. No cenário da
habitação de interesse social, essas ferramentas deveriam ser mais escutadas e
valorizadas na tentativa de alcançar moradias de melhor qualidade e com ciclos de vida
mais duradouros e econômicos.
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AGRADECIMENTO
À CAPES pelo apoio recebido.