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Os textos de referência bíblica foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada, 2ª ed.
(Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica.
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida total ou parcialmente ou publicada por
quaisquer meios sem a autorização expressa do autor.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
ISBN: 978-65-00-07229-7
“Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.”
1Pe 5.7
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SUMÁRIO
Prefácio |........................................................................................................................................................7
Apresentação |...............................................................................................................................................9
PREFÁCIO
A razão disso é que muitos dentro da Igreja do Senhor Jesus Cristo entendem as
duas primeiras possibilidades como um claro pecado, o que é de fato, contudo, talvez não
coloquem a ansiedade no mesmo escaninho. Isso porque a ansiedade é tão comum que muitos
nem a veem mais como um pecado e sim como algo da normalidade da vida.
Ao escrever sobre esse pecado tão comum e ao mesmo tempo tão tolerado, o Pr.
Madson Oliveira se propôs a olhar para o tópico por uma perspectiva bíblica, oferecendo um
pensar sobre as questões da atualidade que contribuem para a perenização desse pecado, sem,
contudo, perder o referencial bíblico. O ambiente no qual uma pessoa viveu ou vive é, de fato, um
elemento importante e que não pode ser desprezado quando este tópico é abordado. As
circunstâncias trazem agravantes e complicadores. Tais complicadores precisam ser considerados
ao aconselhar quem luta com a ansiedade. Entretanto, ainda que o ambiente seja um elemento
importante, e não deve ser desprezado em todo o processo de aconselhamento, ele não é
determinante. O que é determinante é o que está no coração do homem, isto é, em que ou em
quem ele confia e a que ou a quem quer adorar. São as interpretações das circunstâncias, a maneira
como são compreendidas e as inclinações desse coração que determinam se suas respostas ao
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ambiente serão piedosas ou pecaminosas. Tudo depende do que está no coração de uma pessoa
(Pv 4.23 NVI).
NÃO ANDEIS ANSIOSOS: um guia básico para aconselhar pessoas com Transtorno de
Ansiedade, é um material que será útil a todos os que desejam aconselhar tendo a Palavra de Deus
como suficiente para lidar com as questões do coração do homem. Conhecendo o Pr. Madson e
sabendo de suas convicções quanto à suficiência das Escrituras, sua devoção a Deus e seu desejo
de contribuir para a expansão do Reino de Deus levando seus leitores a uma mais profunda
confiança em Deus e em Sua Palavra, oro para que Deus use este material para a Sua glória e para
o maior bem do Seu povo.
Jayro M. Cáceres
Pastor da Igreja Batista Pedras Vivas (SP), Coordenador do NUTRA (Núcleo de Treinamento,
Recursos e Aconselhamento Bíblico) e Diretor de NUTRA Publicações.
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APRESENTAÇÃO
Esta obra é um guia básico que apresentará de forma bíblica e teológica o tema da
ansiedade e suas implicações servindo para conselheiros cristãos como uma ferramenta de auxílio,
identificação e ajuda bíblica eficaz em seus aconselhamentos. Para pessoas que sofrem com
ansiedade esta obra servirá como um lampejo de graça e esperança divina diante da tempestade da
alma ansiosa. A cada novo capítulo o leitor será apresentado a uma perspectiva bíblica sobre a
ansiedade que o levarão à conculsão de que é possível vencer esta batalha, desde que Deus e sua
Palavra estejam presentes e sejam o foco de toda mudança.
Já na introdução você será levado a perceber a origem da ansiedade e sua relação direta
com o estado natural do homem caído e verá que a Bíblia fala sobre ansiedade mesmo antes de sua
“popularização” no mundo moderno. De fato, mesmo sendo um grande mal percebido em nossos
tempos, ela sempre esteve presente e entender sua origem será também uma boa pista para seu
tratamento, já relatados por Jesus em Mc. 12.30: “Amarás , pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração,
de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.”
Por fim, a obra termina falando sobre o cuidado pastoral com aqueles que sofrem com
ansiedade. Embora ao decorrer da obra vários “insights” tenham sido apresentados que serviram
como estrada para conduzir o coração ansioso ao lugar seguro do Evangelho, no último capítulo
conselheiros e pastores serão levados ao olhar de amor, cuidado e suporte que a Bíblia apresenta
para aqueles que amam a Noiva de Cristo e desejam cuidar de Suas preciosas ovelhas.
Que ler esse livro ajude você a aliviar o pesado fardo da ansiedade e respirar aliviado
sabendo quem cuida de cada detalhe da sua vida.
Boa leitura!
O autor
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Introdução
No Éden, o homem desfrutava de uma realidade onde tudo era “muito bom” (Gn
1.31) e onde a presença santa de Deus, acessível ao homem e comungante com ele de todos os
aspectos de sua vida, fazia com que a humanidade vivesse a plenitude de sua existência. No jardim,
o homem descansava tranquilamente por saber que o criador providenciara tudo para que sua vida
fosse repleta de alegrias e realizações, mas com o pecado original tudo mudou.
A ansiedade, por sua vez, é uma tentativa de antecipar possíveis perigos e danos (reais
ou imaginários) e estar preparado, protegido, capacitado para lidar com eles. Na ansiedade nossa
mente é levada a pensar no tamanho da tragédia e todo o seu estrago, mesmo quando ainda nem
sinalizaram sua presença, e em nossa solidão e insignificância, nos faz exercer todo nosso esforço
físico e mental para não ser acometido de forma desprevenida. Passamos a pensar apenas na
desgraça, no problema e na dor, e enquanto isso somos consumidos pelo sentimento dualista em
nosso coração: não conseguirei suportar versus farei tudo para isso não acontecer. Resumidamente:
O resultado devastador da ansiedade é uma vida sem paz!
O pecado manifesto pela ansiedade às vezes é de difícil percepção, mas que claramente
mostra seu potencial na vida de quem sofre deste mal. A pessoa ansiosa é aquela que usa de um
sentimento dado por Deus, o temor e o redireciona para outro foco além do Senhor. Seu coração
passa a temer o futuro, o fracasso, a tristeza, a pobreza, a doença e vive refém destas coisas sem
confiar naquele que é infinitamente poderoso para cuidar de cada detalhe da vida de seus filhos.
Biblicamente, a palavra “ansioso” tem algumas traduções que levam para a mesma
conclusão.
O dr. John Street no livro Aconselhamento para Mulheres ao falar sobre ansiedade diz:
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Por isso é de fundamental importância que entendamos com clareza duas doutrinas
elementares que nos auxiliarão a tratar do problema da ansiedade: A antropologia bíblica e a
doutrina da Providência divina.
Uma vez que a ansiedade se mostra como um problema ontológico do homem caído,
entender a natureza humana, sua finalidade existencial e os efeitos que o pecado original trouxeram
a toda a humanidade nos mostrarão onde está alojado o grande mal da ansiedade.
Uma boa antropologia nos mostra que o homem fora criado para desfrutar da presença
de Deus, de forma irrestrita e constante. Ser criado e colocado no paraíso significava estar junto de
seu criador e partilhar com ele de uma gama imensurável de experiências plenas. O breve catecismo
de Westminster assim responde à pergunta sobre a finalidade da criação do homem, “o fim
principal do homem é glorificar a Deus e goza-lo para sempre.” Adão e Eva provaram, em parte
de sua existência, da plenitude deste fim. Durante seus dias no jardim o primeiro casal viveu de
forma santa e perfeita uma vida sem medos, receios ou temores e em plena satisfação em Deus,
tendo o criador como fonte de sua felicidade e pureza.
Entretanto, pouco tempo depois, o homem caiu e com a queda e toda as mudanças
que ela trouxe para o homem tudo aquilo fora perdido e angústia, culpa e medo tomaram o lugar
daquilo que era perfeita e plenamente santo na criação humana. Desde então, a ansiedade é um
assunto que marca a humanidade, pois com o pecado veio também todas as suas mazelas e
dolorosas consequências.
Ao termos essa clara compreensão bíblica sobre quem é o homem e o que ele fora
criado para fazer descobrimos então que a ansiedade não é algo que deva ser aceito como “normal”
ou “comum” na vida humana. Pela Escritura aprendemos que o homem fora criado livre deste mal
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STREET, John D. Aconselhamento para mulheres: um guia bíblico e prático. São Paulo: NUTRA publicações,
2018. p.50.
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e ele é consequência do pecado de nossos primeiros pais, não podendo ser considerado algo natural
ou muito menos inevitável. Portanto, qualquer abordagem que tente tratar a ansiedade que não
considere esta realidade bíblica sobre a sua origem em nossa queda e habitando na velha natureza
não será eficiente e se mostrará reducionista.
Entendendo por este prisma teológico, o tratamento eficaz para a ansiedade deverá
passar pela via do arrependimento, confissão e novo nascimento, fazendo com que o coração
ansioso seja trocado pelo Espírito Santo por um novo coração que agora caminhará no verdadeiro
amor que lança fora medos e temores e que começou a desfrutar da reconstrução de um
relacionamento perfeito e eterno com Deus.
Por sua misericórdia e compaixão, mesmo após a ofensa original Deus continuou santa
e amorosamente a cuidar da sua criação providenciando todas as coisas necessárias para que ela
fosse preservada e sustentada. Deus continuou zelando e cuidando de tudo o que era seu e nos
mínimos detalhes ou nas mais gloriosas manifestações Ele continua ativo e operante em seu
domínio. Deus não nos abandonou e não nos deixou em uma vida de sofrimento sem que sua
graça e poder possam estar disponíveis para aquele que o busca.
Essa doutrina, a Providência Divina, nos mostra que o criador não está distante de nós
e jamais irá abandonar a coroa da sua criação – a humanidade. Isso oferece esperança àquele que
está exausto de lutar contra a ansiedade.
Essa abordagem teológica nos ensina que qualquer abordagem para tratar da ansiedade
que não apresente a esperança de um cuidado divino acessível, paternal, amoroso e presente que
será capaz de arrancar fora todo sofrimento e preencher com seu bálsamo curador toda dor que o
pecado causou no coração ansioso não será profunda o suficiente a ponto de chegar no cerne da
situação. Apenas apresentando Deus e seus cuidados ao coração ansioso é que podemos ter alguma
possibilidade de mudança e tratamento.
Capítulo 1
Está cada vez mais comum pessoas afirmarem que estão “cheias de coisas para fazer”
e, com as agendas amarrotadas de compromisso, vivem à mercê de realizar o máximo de coisas no
mínimo de tempo. Quase não temos tempo livre, momentos de contemplação ou de solitude, ao
invés disso, movimentamos nossos relógios para resolver pendências de coisas que não
conseguimos realizar no prazo determinado.
Imagine agora a vida de um jovem comum em nossos dias. Ele acorda às cinco e meia
da manhã para poder chegar à faculdade em menos de duas horas. O cansaço da noite anterior o
faz ter muita vontade de ficar deitado em sua cama por apenas mais dez minutos que acabaram
custando muito caro quando ele percebeu que cochilou por mais de trinta minutos. De súbito, ele
se levanta às pressas e toma um banho rápido e quase que instantaneamente consegue comer alguns
poucos biscoitos com um gole de café e desesperadamente sai para não perder o coletivo que o
levará para seu destino. Já a caminho, espremido por uma multidão também apressada dentro do
coletivo ele lembra que naquele dia terá duas importantes avaliações na faculdade e uma pilha
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imensa de páginas para ler de uma disciplina que ele está no limite da reprovação por não conseguir
acompanhar o andamento da turma.
Longe de ter uma refeição tranquila e nutritiva, aquele jovem compra um sanduíche e
uma latinha de refrigerante na lanchonete da faculdade para comer a caminho da estação do metrô
que o levará a seu emprego de meio período, necessário para custear seus estudos. Nesse intervalo
de menos de uma hora ele tem que comer, caminhar até o metrô transitando rapidamente entre
pessoas, carros e ônibus, responder mensagens de whatsapp de sua namorada que o tem cobrado
um pouco mais de atenção e carinho, de amigos e de seus inúmeros grupos enquanto se preocupa
em não ser assaltado no aguardo da condução.
Já no trabalho ele se depara com a pilha de coisas que tem para fazer sob a sua mesa
com o título de “Urgente”. Seu chefe o pressiona de todas as formas para que prazos e metas sejam
cumpridos. Inúmeras ligações, milhares de teclas digitadas no teclado de seu notebook, cálculos,
números, cobranças, medo de perder o emprego e não conseguir pagar suas contas, disputas
internas, xícaras e xícaras de cafezinho para o manter acelerado e acordado. São dezenove horas e
o dia de serviço terminou.
A hora seguinte é de intenso trânsito e cansaço. Seu corpo está jogado sobre uma
cadeira que por sorte conseguiu livre no ônibus que o levará para o cursinho preparatório para
concursos públicos, onde lá investirá tempo e concentração para alcançar uma boa nota em uma
prova contra milhares de concorrentes para um emprego federal. Como ele, dezenas de outras
pessoas estão na mesma situação dentro daquele coletivo e em meio ao clima mórbido e
desestimulante ele aproveita para ler algumas páginas de um dos muitos livros da faculdade. O
sono o domina e ele encosta sua cabeça na janela por apenas alguns minutos.
No fim desse dia comum, depois de tantas coisas realizadas esse jovem chega em casa
e agora, já quase às vinte e três horas, dedica as últimas energias do dia para as tarefas do dia
seguinte, atualizar-se nas redes sociais, fazer seu devocional, terminar coisas que não conseguiu
fazer durante o expediente de trabalho que deverão estar sob a mesa do chefe no dia seguinte e
estudar para o tão sonhado concurso público que ele imagina que mudará sua vida. Já é uma hora
da manhã e ele exausto se joga na cama onde dentro de poucas horas será acordado pelo seu
despertador. Sua última atitude daquele dia foi orar pedindo a Deus forças para aguentar um novo
dia.
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Parece assustador, mas essa é a vida “comum” de um jovem de nossos dias. Eu mesmo
já vivi assim e tenho certeza que você ou alguém bem próximo vive essa mesma rotina pesada e
cheia de cobranças. A vida urbana trouxe para a humanidade um peso que tem gerado um novo
tipo de ser: um homem cansado com o dia de hoje, incerto e inseguro sobre o dia de amanhã.
Vivemos com um peso enorme sobre nossas escolhas, ações e futuro. Estamos escravizados por
um sentimento de que só seremos felizes se alcançarmos resultados e conquistarmos as melhores
coisas.
Certamente toda essa pressão trará alguma consequência física e emocional para quem
vive assim. Não conseguirá viver “ileso” a essa guerra alguém que enfrenta tantas demandas com
poucas certezas em sua vida. Nosso corpo não está adaptado para esse novo estilo de vida e toda
essa nova demanda existencial que exige tanto não apenas de nossa saúde física, mas também
emocional.
Como um problema que atinge todo nosso ser, a começar pelas emoções a ansiedade
gera medo e insegurança, sensação de apreensão e impotência, medo de morrer e sensação de estar
morrendo, confusão mental momentânea, sentimentos de perigo iminente ou ataques de pânico e
em nosso corpo, a ansiedade se manifesta a partir de sintomas claramente perceptíveis: aumento
do ritmo cardíaco, vertigem, sudorese, náuseas, sensação de fraqueza, respiração acelerada,
tremores, parestesia, dor toráxica, sensação de asfixia e calafrios.
Tanta pressão social e desejo por ser/ter colocam o homem moderno em um ritmo
frenético de preocupação com o amanhã e suas incertezas. Fomos dominados pelo sentimento de
controle das coisas a fim de que elas não se voltem contra nós ou mesmo sejam tiradas de nós.
Queremos ter certezas sobre nossa saúde, finanças, investimentos, felicidade e nosso amanhã. Nos
tornamos extremamente preocupados com o dia de amanhã que nos ocupamos demasiadamente
no dia de hoje e não temos percebido como esse estilo de vida tem nos adoecido como
humanidade.
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WALLECE, Jocelyn. Ataques de ansiedade e pânico: confiando em Deus quando você tem medo. São José dos
Campos, SP: Ed. Fiel.2018. p. 17.
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O que chamamos de ansiedade pode ser interpretado de várias formas, mas todas elas
têm um denominador comum de sua manifestação e estão ligados à nossa percepção de realidade
sobre o futuro. Podemos afirmar que a ansiedade é o medo do trem da nossa vida descarrilhar e não ter quem nos
ajude a permanecer nos trilhos!
O apóstolo Pedro ao perceber os perigos para uma vida que se sente desamparada
diante de tantos desafios exorta seus leitores a terem uma certeza elementar em seus corações
convertidos ao Senhor. Ele diz em 1Pe 5.7: “lançando sobre ele toda vossa ansiedade, porque ele tem cuidado
de vós.” A ansiedade conforme apresentada pelo apóstolo manifesta-se a partir de um aglomerado
de desejos e expectativas conflitados pelo medo de não os alcançar. Observemos que mesmo em
seu tempo o apóstolo destaca o grande problema da ansiedade. Para que não culpemos os tempos
modernos e suas dinâmicas contemporâneas como a grande causa da ansiedade Pedro mostra que
ela está diretamente ligada ao relacionamento com Deus e o erro de não confiar nele, independente
de tempos ou épocas e basicamente consiste no pecado de não depositar nossas vidas e nossos
medos em suas poderosas mãos.
Em uma sociedade que nos impulsiona a termos mais coisas e sermos sempre “acima
da média” inevitavelmente nos deparamos, cedo ou tarde, com a seguinte pergunta: E seu eu não
conseguir? E se não der certo? E se eu nunca alcançar? O que será de mim no futuro? Perguntas
assim surgem explícita ou implicitamente nas cobranças sociais de uma civilização acelerada e
extremamente exigente. Vivemos atormentados pelo medo de não conseguir, medo de fracassar,
medo de não ter, medo de sofrer por não ter... São tantos medos que a vida se tornou um peso
para muitos ao nosso redor. Ao olhar para os temores dessa vida conseguimos identificar quais
pilares elevaram a ansiedade a níveis patológicos ao redor do mundo e um desses pilares, tão
presente em nosso pensamento é: temos medo de que algo acabe dando errado e nos cause algum
mal!
este jovem senhor pensa nas prestações da casa, na educação dos filhos, nas prestações em aberto
do hospital, alimentação da família, contas de luz, água, remédios... Seu coração dispara, sua vista
escurece por alguns segundos, ele se sente ameaçado, começa a suar frio, seu sono é atrapalhado,
seu corpo reage com dores estomacais e tremedeira, seu apetite e seu humor são automaticamente
alterados. Sua mente começa a transformar o que antes era apenas uma ideia em certeza e cada vez
mais ele se convence de que será demitido. O que ele mais deseja é que o dia amanheça para que
ele tente contornar a situação que lhe trouxe medo de perder o emprego e consequentemente não
ter dinheiro para suprir as necessidades da família e se afundar em dívidas. Isso é a ansiedade
experimentada na prática pelo medo de coisas ruins acontecerem!
A sociedade materialista que tenta a todo instante expulsar Deus de seu coração
redirecionou seus temores para longe do criador e passou a temer fatos, coisas, possibilidades e
outros homens. Antes da queda deveríamos dedicar nosso temor ao Senhor e confiar em seu
governo e provisão, mas com o pecado original, literalmente, nos tornamos adoradores de criaturas
em lugar de adorar ao Criador. Nosso temor nos torna adoradores do que tememos e hoje estamos
vivendo uma sociedade idólatra com um tipo de fé deficiente que, ao invés de gerar tranquilidade
e esperança gera medo e insegurança. Ansiedade é uma forma de idolatria a deuses falsos que não conseguem
cumprir o que prometem.
Ao desejar agir por conta própria e tomar suas decisões à parte daquilo que Deus os
havia orientado Adão e Eva inauguraram uma modalidade de viver – a vida pautada na
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confiabilidade das nossas decisões. Claramente essa modalidade de vida se mostrou falha assim que
fora inaugurada e o capítulo três do livro de Gênesis nos revela isso. Mas ao serem expulsos do
Jardim, a humanidade passou a travar uma dispendiosa luta contra o meio ambiente e suas forças
para sobreviver no agora mundo hostil à sua presença. Cada caçada bem-sucedida, cada colheita e
plantio que devam bons resultados, cada avanço tecnológico e domínio sobre animais e
ecossistemas eram grandes vitórias comemoradas e protegidas com todas as forças.
O homem, agora tendo que suar e viver em fadigas para obter as coisas da terra, lutar
contra espinhos e abrolhos, via sua vida como um embate pela sobrevivência e essa postura trouxe
um elemento novo ao seu coração dominado pelo pecado: Controlar as coisas os trazia felicidade.
Ter sempre água potável por perto, uma fogueira acesa para cozinhar os alimentos, aquecer do frio
e iluminar durante a noite escura, abrigos resistentes às intempéries do ambiente amaldiçoado com
extremos climáticos, reservas alimentares e armas eficazes para sua defesa foram as primeiras
medidas para tentar controlar tudo ao seu redor e desde então, o homem tem o mesmo
comportamento e a mesma necessidade de ter tudo sob seu controle para viver uma vida “feliz”.
O medo de circunstâncias que podem pôr à prova nosso controle e esforço geram um
desconforto profundo em nosso coração que não mais confia no governo de Deus e se manifesta
em nossas emoções, atitudes e pensamentos e quando tais medos se transformam em ansiedade
estamos inconscientemente declarando que Deus não é bom ou forte o suficiente para cuidar de
nossas demandas afim de nos livrar de algo ruim que possa nos acontecer. Queremos ter a certeza
de que vencemos as demandas e estamos com o controle de tudo que acontece ao nosso redor.
Uma vez lançados para fora do jardim queremos fazer do mundo o nosso jardim.
O problema dessa postura do coração é que faz de nós seres humanos iludidos sobre
nosso senhorio das coisas ao nosso redor. Vivemos buscando controlar coisas e pessoas, não mais
com o propósito de cumprir o mandato cultural de Deus, mas como uma tentativa tirânica de
tornar “célebre nosso nome acima de toda a criação”. Tentamos dominar a força dos rios, mares e
ventos, o clima e o meio ambiente, nos dedicamos a entender e controlar a vida aqui na terra e no
espaço, acima e abaixo do mar. Gastamos cifras estratosféricas na busca pela vida longa e pelo fim
das doenças. Mergulhamos na mente humana para entender seus mistérios e poder guia-la à nosso
comando. Esse tipo de postura, ao longo dos séculos, tem gerado na humanidade um desejo pueril
de ter tudo sob seu domínio. E estamos agora provando o resultado dessa vontade pecaminosa de
controle. Percebemos então que a Ansiedade é fruto de um coração orgulhoso que se acha autossuficiente e que
quer ter tudo sob seu domínio.
Outra consideração importante quando falamos sobre ansiedade é a sua relação com
a escassez. A ansiedade é o desejo de ter tudo e não sentir falta de nada. Ao longo de uma trajetória histórica
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Somos incentivados a sempre termos tudo o que precisamos, nos protegermos com a
segurança de coisas adquiridas e temos visto as dificuldades e tribulações dessa vida como algo
contrário à nossa felicidade. Levamos isso a patamares tão elevados que movimentos teológicos
contemporâneos conseguem relacionar a vida com Deus com uma vida de prosperidade. Ser feliz
é estar com Deus e estar com Deus é você ter tudo o que deseja, determina e exige, dizem eles!
A vida moderna nos bombardeia com a constante mensagem que adquirir o máximo
de coisas trazem um retorno à uma vida edêmica. Quantos de nós não já ouvimos alguém afirmar
que queria ter isso ou aquilo a mais em sua vida para poder ser mais feliz. Uma casa mais bonita,
um carro mais moderno, um celular mais atual, um corpo melhor, uma família diferente, um salário
diferenciado ... são inúmeras as queixas que nossa sociedade faz sobre o motivo de sua infelicidade
e gastamos mais tempo olhando para as coisas que não temos do que apreciando e agradecendo
pelo que temos alcançado.
O desejo de ter tudo faz com que pessoas façam de tudo para realizar seus desejos.
Sacrificamos tempo com a família para trabalhar mais no intuito de dar um futuro melhor para a
família que não temo tido como desfrutar da presença agora. Ter tudo e não sentir falta de nada
traz para nosso coração a sensação de não depender de ninguém, traz a certeza de que tudo que eu
preciso eu mesmo posso conquistar e que tudo que eu preciso eu sou capaz de ter. Temos
modelado nossa geração a não mais depender de Deus e de sua graça misericordiosa e temos medo
de que alguma coisa nos falte e atrapalhe a nossa felicidade. Não acreditamos mais que o Senhor é
o bom pastor que não nos deixa faltar nada e por isso estamos adoecendo. Ter medo das coisas
que não temos com medo de sem elas sermos infelizes é uma das grandes causas de uma geração
ansiosa. Vivemos intensamente para ter com o medo de não conseguir. Isso é ansiedade como
visão de mundo.
devemos ser sal e luz no meio dele. Saber lidar com pessoas que sofrem com ansiedade nos ajudará
a pastorear com mais eficiência o rebanho de Cristo confiado a nós.
Capítulo 2
Como dito anteriormente, o modo de vida de grande parte da população mundial está
ligado a uma atitude de busca por tranquilidade, sossego, estabilidade e segurança no futuro. Temos
vivido em prol do amanhã e essa forma de viver tem criado imensas expectativas sobre nosso
futuro. Desde cedo somos ensinados a pensar no amanhã e fazer escolhas e decisões que nos gerem
algum benefício num futuro próximo ou distante. A forma como administramos nossas finanças,
o curso que escolheremos na faculdade, as amizades que construiremos ao longo da vida, a quem
nós daremos nosso coração em relacionamento... Isso é errado? De forma nenhuma! A grande
questão é que alguns, no desejo por um futuro melhor criam expectativas irreais ou pecaminosas
em relação ao amanhã e passam a não desfrutar ou viver com contentamento a realidade do hoje.
Por expectativas irreais quero dizer aquelas projeções de futuro que tem ares
messiânicos para nós. Por exemplo, um jovem morador de uma comunidade periférica que vive
em um lar com poucos recursos e com algumas dificuldades e gera em seu coração uma expectativa
de que sua vida só será melhor ou mais feliz quando ele conseguir um bom emprego, uma boa
casa, muito dinheiro e estabilidade. Ao projetar toda sua felicidade e resolução de problemas em
uma expectativa que, embora solucione alguns de seus problemas, não seja a “maior” solução de
seus desconfortos, esse jovem passa a viver em uma busca desmedida para alcançar seu objetivo.
Nada é mais importante para ele do que alcançar o que o seu coração deseja. Seu combustível será
suprir as expectativas de uma vida feliz que ele projetou em seu coração. A questão é que uma vez
achando que sua expectativa mudará a sua vida de uma forma completa e total esse jovem
desconsidera que o maior dos problemas de nossa vida não está reduzido à falta de dinheiro ou
coisas afins. Ao viver com o foco em uma expectativa irreal aquele jovem passa a desprezar a
realidade e não a aceita-la como vontade de Deus para sua vida e, progressivamente, não se dá
conta que seu parâmetro de felicidade é aquilo que o mundo o apresenta como sendo uma vida
feliz. O desejo por desfrutar de uma vida “no padrão dos comerciais de creme dental” o fazem
sonhar com um futuro que pode nunca ser alcançado e por conta disso serem o motivo de sua
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constante insatisfação, infelicidade e uma vida de ansiedade. Em outras palavras, esse jovem, como
tantos outros, viverá uma vida com seu coração ancorado em um lugar errado e por isso Jesus nos
adverte sobre depositar nossas expectativas em tesouros que podem realmente ter um valor eterno
em Mt 6.21 – “porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”
Por expectativas pecaminosas quero discorrer sobre aqueles desejos em nosso coração
que se tornam ídolos de satisfação em nossa agenda de vida e que enquanto não alcançados nãos
nos permitem ver graça e beleza divina em nosso cotidiano. Imagine uma jovem que é
extremamente descontente com o tamanho e o formato do seu nariz (em uma sociedade imagética
e hedonista, uma insatisfação como essa pode ser o trampolim para muitas insatisfações e
problemas emocionais).
Tal jovem, apesar de ser uma excelente filha, aluna, cristã e amiga não consegue se
olhar no espelho e não criticar a si mesma por conta do seu nariz. À medida que o tempo passa,
ela se torna cada vez mais decidida que uma cirurgia de rinoplastia resolverá seus problemas e que
com um novo nariz ela terá paz interior e será melhor aceita nas redes sociais e se tornará mais
popular e desejada. Detalhe importante é que não há problemas na decisão por cirurgias estéticas
que oferecem uma qualidade de vida melhor para quem as busca. Por exemplo, correção de lábios
leporinos, cicatrizes de acidentes, correções de mama e retirada de excesso de pele após severa
perda de peso, etc. A questão aqui mensurada habita no desejo do coração pelo que a cirurgia vai
oferecer.
Suas expectativas se tornam uma obsessão e ela passa a viver projetando na cirurgia
remodeladora um altar para sua felicidade. Sua aparência futura se torna seu ídolo e sua fonte de
alegria e a faz não ser satisfeita ou aceitar como Deus a criou e não consegue ver quantas outras
qualidades ela possui que superam o tamanho ou formato do seu nariz. Seu coração corre o sério
risco de achar que Deus não a fez de um modo “perfeito” e que agora, por conta desse descuido
divino ela tem que arcar com as penosas consequências de uma realidade dolorida diante do espelho
ou das fotos de um rosto que não a traz alegrias. Seu coração começa a ver uma possibilidade de
com o auxílio da medicina reparar o defeito de Deus e alcançar a satisfação de uma imagem perfeita.
Ela não é feliz agora porque não consegue viver a realidade pelas lentes da vontade e dos
ensinamentos divinos em sua vida. Está tão decidida a ser feliz somente quando suas expectativas
físicas forem alcançadas que não desfruta do cuidado, zelo e amor divino por ela hoje, assim como
ela é.
Essa jovem, assim como tantas outras em diferentes expectativas pecaminosas, vive
pelas cobranças estéticas e a expectativa de atender as demandas de seu coração. Seu olhar está
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direcionado para um horizonte perdido e certamente não aprendeu com as palavras escritas em
1Sm 16.7 – “porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração.”
O que os dois casos tem em comum que podem nos apontar para o comportamento
ansioso da nossa geração? Eles são cobrados interna e externamente de forma intensa para viverem
de acordo com as demandas impostas pela sociedade para serem felizes, belos, socialmente aceitos,
virtualmente influenciadores, bem-sucedidos e tranquilos. Esses e outros casos semelhantes de
expectativas redentivas versus uma realidade frustrante tem gerado corações cada vez mais ansiosos
pelo dia de amanhã que livrarão nossos corpos e nossas emoções das dores do dia de hoje. Os
padrões cada vez mais distantes de Deus e seu cuidado tem proporcionado a toda uma geração as
dores da insatisfação e da inquietude da alma.
Toda realidade, deve ser vivida como uma oportunidade de crescimento e louvor a
Deus e isso o sujeito ansioso deve aprender cotidianamente. Ele acha que sua realidade é um fardo
ou motivo de sua tristeza porque não aprendeu a olhar para sua vida como uma dádiva e uma
oportunidade de glorificar a Deus em todas as coisas. Ao pastorear pessoas ansiosas devemos
apresenta-las a um Deus que nos permite viver graça sobre graça mesmo em momentos de extrema
dificuldade porque Ele é um Deus que nos salvou e nos livrou de uma condenação eterna que era
certa sobre nós. Ao desprezar a realidade como uma forma de Deus nos ensinar sobre sua glória,
nossa total dependência dele, nosso destino final e sua promessa de redenção em Cristo a pessoa
com ansiedade não consegue desfrutar da segurança da salvação e amor de Deus. Alguém certa vez
já disse: Deus nos permite sofrer aqui para desejarmos estar mais perto dEle no céu! Se a realidade
é adversa, ela nos ensina sobre confiar nos propósitos eternos de Deus e a certeza de que todas as
coisas estão debaixo de sua vontade e poder.
Como parte da ajuda devemos também perceber o peso das demandas e desejos que
o coração exerce sobre a pessoa que sofre com ansiedade e como a pessoa tem internalizado tudo
isso. Viver para responder a tão insaciáveis desejos como as que nossa geração tem vivido em várias
áreas de suas vidas inevitavelmente levarão a um momento de exaustão física ou emocional. Diante
dessas cobranças nos vemos obrigados a apresentar respostas favoráveis e significativas e o preço
a ser pago por isso às vezes é alto e caro demais. Ajudar nossos aconselhados que sofrem com
ansiedade a saberem administrar entre verdadeiras e falsas, válidas ou inválidas, coerentes ou
incoerentes, boas ou más, certas ou erradas os anseios que permeiam seus pensamentos os ajudarão
a viver a vida olhando para o horizonte correto e não apenas preocupado em responder a essas
demandas que em sua maioria são inacessíveis e inalcançáveis para a maioria de nós. Ter o coração
focado em realizar coisas corretas e que contribuirão para o nosso bem-estar deve ser uma
prioridade para o cristão que entende que sua existência deve ser vivida para a glória de Deus.
Como está escrito em Gl 1.10: “Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou de Deus? Ou procuro
agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.”
28
Capítulo 3
Alguma vez você já se deparou com consecutivos erros que parecia que nada mais iria
dar certo em sua vida? Alguma vez você já insistiu em algum projeto cujos resultados foram tão
insatisfatórios que lhe desanimaram em continuar? Já se sentiu tão para baixo com resultados
insatisfatórios que não conseguia contemplar outra alternativa de sucesso?
Essas perguntas podem exemplificar o que pessoas ansiosas, que temem o futuro,
pensam diante de frustrações que vivem no presente. Os fracassos, ou melhor, os resultados
diferentes do imaginado tendem a nos fazer temer o que será de nós se aquilo em que estamos
investindo tanto esforço e atenção não der certo, ou fugir do que planejamos.
Um exemplo disso pode ser observado quando tais frustrações se dão na esfera das
emoções e relacionamentos. Uma pessoa que teve muitas desilusões sentimentais ao longo da
juventude, onde seus parceiros só a machucaram com mentiras e traições, pode imaginar que
futuros relacionamentos só trarão mais dor e sofrimento e, portanto, teme jamais encontrar um
amor verdadeiro e acabe sofrendo com a solidão. Outro exemplo é de alguém que por conta de
uma quebra de confiança em uma amizade sólida que acabou trazendo muita dor e sofrimento faça
com que ela tema não conseguir confiar mais em outras pessoas e ser alguém isolado socialmente.
Frustrações em nossa história nos fazem temer o futuro.
Em outra perspectiva, a visão de futuro de alguns pode ser marcada pelo pessimismo
e pelo medo dos males que podem ocorrer. Desvalorização monetária, mudanças de governo,
alterações climáticas, altos índices de desemprego, dentre tantas outras coisas podem perturbar a
paz e a tranquilidade daqueles que depositam em tais coisas o seu futuro. Quando pensamos no
futuro somos levados a pensar em uma infinita gama de possibilidades e tememos que essa
magnitude possa nos afetar de forma negativa. Tememos o amanhã e isso nos faz ficar ansiosos
para saber como ele será!
29
Um sujeito ansioso, que tem medo do futuro, geralmente se deu conta de sua
insignificância em relação à tantas coisas que podem sair do seu controle e como boa parte de sua
felicidade não depende simplesmente de sua boa vontade ou de seus esforços.
Deixe-me compartilhar uma lembrança: Certa vez atendi em meu gabinete um jovem
recém-casado. Ele e sua esposa decidiram se unir em matrimônio por entenderem que já haviam
alcançado maturidade para tal decisão. Com o orçamento apertado e um salário justíssimo para
arcar com as contas do mês aquele casal conseguiu alugar um pequeno apartamento e comprar
uma mobília discreta. A vida a dois não era fácil, não havia dinheiro sobrando para viagens de fim
de ano ou presentes caros e luxuosos, mas mesmo assim tudo parecia estar sob controle. Os dois
estavam felizes, viviam a realidade do início de uma vida a dois, os empregos estavam garantidos e
a rotina estava amena e leve. Um dia, tudo pareceu mudar. A notícia da primeira gravidez, que não
foi programada pelo casal, ao invés de trazer alegria e felicidade trouxe àquele jovem o oposto
disso. Diante da notícia ele imediatamente pensou em todas as dificuldades que teriam que
enfrentar com a chegada de um filho. Ele pensou no seu baixo salário, no orçamento mensal
apertado, no preço da mobília do quarto de um bebê, nas fraldas, leite, cuidados médicos, parto, o
que aconteceria se ele fosse demitido ou houvesse alguma complicação durante a gestação e toda
essa enxurrada de preocupações futuras o levaram a um ataque de ansiedade.
As frustrações de hoje (a realidade de viver uma vida “apertada” não tendo tanta folga
no orçamento familiar como imaginava e o peso das despesas mensais cada vez mais crescentes)
fazem ele ter medo do futuro (não conseguir sustentar sua família de forma digna).
Durante os aconselhamentos olhamos juntos para o que a Bíblia dizia sobre esse
assunto e aquele jovem descobriu verdades tremendas. Seu medo do futuro era proporcional à sua
falta de compreensão sobre quem era Deus e o que Ele podia fazer. Seus temores estavam baseados
na frágil imaginação de que as coisas certamente iriam dar errado e tomariam o rumo mais pesado
possível, e por fim, sua ansiedade estava conjugada com a incorreta visão de mundo de que ele e
seus esforços é que garantiriam um futuro brilhante para sua família.
30
Quando começamos a perceber quem Deus realmente é e o que Ele pode fazer a favor
dos seus eleitos então descobrimos a doutrina do cuidado paternal de Deus e seu pastoreio com
suas ovelhas aquele jovem começou a ter outra visão do futuro. Ele não mais temia o que estava
por vir porque agora conheceu um Deus que tem tudo sob seu controle e que através do apóstolo
Paulo nos garante que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito. (Rm 8.28).
Aquele jovem aprendeu que mesmo não planejado por eles dois, a criança que agora
era gerada no ventre de sua jovem esposa fora planejada por Deus e que o Autor da Vida sabia
exatamente o que estava fazendo na vida daquele casal. Tudo que eles viveriam dali para a frente
certamente não seria surpresa para Deus, ao contrário disso, por ele ser um bom pastor ele cuidaria
de todos os detalhes para que aquele casal desfrutasse da bênção da paternidade sob o cuidado
divino. Ao terminarmos nosso programa de aconselhamento aquele jovem deixou de temer o
futuro e passou a confiar mais na providência e cuidado divino. Hoje ele, esposa e filho vivem uma
vida simples e feliz.
Como conselheiros devemos perceber a maneira como nosso aconselhado que sofre
com ansiedade projeta o futuro e o que ele deseja alcançar ou fugir. Uma grande contribuição na
cura para a ansiedade que podemos oferecer ao nossos aconselhados é ensina-lo a confiar no Deus
revelado nas Escrituras que se mostra perfeitamente grandioso, mas que ao mesmo tempo se
importa com nossos medos e anseios. Ao apresentar a grandiosa majestade divina e como Ele cuida
de forma pessoal e íntima de cada um de seus filhos descortinamos àqueles que sofrem de ansiedade
por medo do futuro uma forma de viver o hoje que os permitam estarem seguros em Cristo para
o amanhã. A ansiedade é vencida pela segurança do cuidado divino.
Precisamos também ressaltar que essa confiança não implicará que coisas ruins ou
momentos difíceis não possam acontecer em seu futuro. Confiar em Deus não é sinônimo de uma
vida sem sofrimento. O próprio Cristo foi chamado de homem de dores (Is 53.3) e sofreu em
nosso favor, entretanto, confiar em Deus nos fará acreditar que mesmo nos momentos difíceis
Deus está ao nosso lado realizando tudo como lhe apraz e nos permitindo praticar a confiança em
seu grandioso poder.
A relação parece ser bem direta e simples. Podemos fazer nossos planos, sonhar com
nosso futuro ou construir expectativas para uma vida tranquila, mas devemos sempre ter em mente
quem é aquele que conhece a eternidade e vive além do traço temporal e que é soberano em sua
vontade e decretos eternos. Foi Ele mesmo quem disse: “desde o princípio anuncio o que há de acontecer
e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam, que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a
minha vontade.” (Is. 46.10). Esclarecer a doutrina da soberania divina ajudará nosso aconselhado a
não temer o futuro, mas sim, amar ao Senhor e descansar nEle!
Ao depositar em Deus a resposta final para os meus planos estou dando a Ele a
condição de pastorear meu coração para não sofrer investindo tempo e esforço naquilo que
certamente não será bom para mim futuramente, embora eu hoje (pela limitação da minha mente
e consciência de futuro) ache que valerá a pena. Ao confiar a Deus minhas escolhas e desejos ele
certamente fará tudo para Sua glória e eu serei totalmente beneficiado em saber que minha vida
futura será um palco de manifestação da graça divina e por fim, deixar que Deus modele meu
caminho de acordo com a Sua Palavra me permitirá encarar o futuro sem medo ou insegurança,
pois o pavimento da Escritura será o caminho que irei andar. Deus dirigindo meus passos me dará
tranquilidade por saber aonde Ele irá me levar - Uma vida para sua glória!
32
Capítulo 4
Certamente poucos de nós vivemos a vida de nossos sonhos. Pare e pense um pouco:
Se você tivesse a oportunidade de desenhar uma vida ideal para você e para as pessoas que você
ama palavras como decepções, dores, tristeza, privações, choro talvez não fariam parte de sua obra
de arte.
A dura realidade é que nossa vida nem sempre é como nós imaginamos ou desejamos.
Temos que lidar com uma gama quase que infinita de coisas que colocam em xeque a nossa noção
de uma vida feliz e perfeita. Somos confrontados diariamente por possibilidades que frustram
algumas de nossas expectativas sobre viver feliz o dia de hoje.
Desde o momento que acordamos temos diante de nós o desafio de fazermos escolhas,
das mais comuns às mais complexas, que definirão como chegaremos ao fim de mais um dia. Tudo
o que pensamos, agimos, escolhemos, nos levarão a uma definição de satisfação com a nossa vida
e consequentemente a um status de felicidade. Se fizermos escolhas erradas, certamente
assumiremos as penalidades, mas se fizermos escolhas corretas, receberemos os louros do nosso
sucesso.
Embora nossa vida não seja definida e vivida apenas por decisões momentâneas
precisamos pensar nesta importante relação do homem moderno com a satisfação de sua vida
comum. Precisamos urgentemente refletir sobre o grau de felicidade que as pessoas, ou nós
mesmos sentimos, pautados no nosso cotidiano e no teor de nossas escolhas comuns.
Talvez eu precise lembrar a você quem foi o apóstolo Paulo e toda a sua saga que
começa como um perseguidor do evangelho que vivia sob as regalias da religiosidade judaica e
33
gozando da paz oferecida aos cidadãos romanos e que, por conta de um encontro com o Senhor,
passa a viver uma vida de privações, perseguições, abandonos e lutas. Paulo, mais do eu ou você,
sentiu na pele as dores de seguir a Cristo (física e emocionalmente). Apedrejamentos,
espancamentos públicos, naufrágio, encarceramentos injustos e no fim da vida abandonado pela
maioria de seus amigos, o apóstolo teve uma vida que para muitos hoje em dia seria uma vida de
sofrimento e dor, e tudo isso pela simples escolha de seguir a Cristo.
Qual poderia ter sido esse segredo? Como o apóstolo, mesmo estando preso enquanto
escrevia essa carta a seus irmãos na cidade de Filipos pôde dizer que estava feliz e satisfeito com as
coisas em sua vida?
A primeira grande lição de aprendizado de Paulo está no fato de que o cristão não deve
buscar satisfação na vida da mesma forma como o mundo busca satisfação. O mundo ensina que
uma vida feliz é uma vida sem situações adversas ou dificuldades na caminhada, entretanto a Bíblia
nos ensina que o modo cristão de satisfação está no fato de que mesmo diante de extremas
dificuldades devemos ter um espírito de contentamento e satisfação. O salmista nos diz em Sl
119.71: “Foi me bom ter passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos.” Mesmo diante da aflição
momentânea a vitória sobre a ansiedade está no fato de vermos além das nuvens de tempestade
um Deus que está conduzindo com um propósito soberanamente definido tudo o que acontece ao
meu redor.
Uma segunda importante lição está no fato de que o mundo diz que nossa felicidade
está em conseguir tudo o que desejamos e assim termos a vida perfeita aqui, enquanto que nas
Escrituras somos incentivados a sermos satisfeitos e contentes com a salvação que vem de Deus e
nossa certeza do céu. O anseio por ter tudo para ser feliz hoje gera pessoas inquietas com o que
possuem, pois pensam que felicidade é algo apenas para essa vida. A Bíblia, por outro lado, amplia
nossa percepção de felicidade para o conceito de eternidade e para uma conquista longe das
intempéries desta existência. Pedro lembra seus leitores dessa realidade em sua carta. Ele diz:
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Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que segundo a sua muita
misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo
dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para
vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para
revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se
necessário, sejais contristados por várias provações. (1Pe 1. 3-6).
O que Pedro nos ensina é que enquanto nossos olhos estiverem focando apenas a
satisfação em uma vida aqui, com coisas terrenas e temporárias, por melhores que sejam, elas
sempre nos trarão inquietação e algum grau de insatisfação. Isso tudo porque o melhor que esse
mundo pode nos oferecer nunca estará repleto de totalidade ou plenitude como aquilo que Deus
planejou para seus eleitos. Pedro ensina aqueles irmãos a olharem para a vida em um contexto mais
amplo, superior, em forma de eternidade e assim serem satisfeitos com o que enfrentavam naquela
circunstância que os deixavam tristes e abatidos. Para os apóstolos, mesmo escrevendo para
diferentes públicos, o segredo para vencer a ansiedade pautada na inquietação com a vida atual é
olhar para o horizonte correto – a eternidade e o que Deus preparou para nós.
Voltando para o texto de filipenses Paulo nos diz ter aprendido o segredo para viver
satisfeito em toda e qualquer situação. Aqui está a terceira grande lição para nós.
Uma quarta e última grande lição é apresentada pelo apóstolo Paulo: “tudo posso naquele
que me fortalece.” (Fp 4.13).
Como temos visto, uma das causas da ansiedade relacionada à insatisfação com a vida
atual está no fato de achar que as coisas do cotidiano que acontecem prejudicando minha felicidade
são uma prova cabal que cada pessoa deste mundo está jogada à sua própria sorte. Paulo,
discordaria dessa forma de encarar a realidade e mais uma vez parece apresentar seu segredo em
forma de uma afirmativa: Ele sabe quem o fortalece!
Posso afirmar, sem medo de estar equivocado que a ansiedade é uma questão teológica. Uma
questão que envolve a doutrina de Deus e seus atributos.
Ao saber quem Deus é e o que Ele faz por aqueles que estão debaixo de sua aliança de
amor nos darão descanso em nossa alma. Conhecer os atributos de onipotência, santidade, cuidado,
onipresença, fidelidade entre outros tantos, fazem com que os cristãos sintam na prática o quanto
somos agraciados por teu um Deus nessa magnitude cuidando de cada detalhe de nossas vidas.
Lucas 12.7 nos dá uma dimensão mais ampla de tamanho poder e gracioso cuidado. Se Deus tem
controle até mesmos dos nossos fios de cabelo certamente tudo que acontece ao nosso redor,
coisas que nos afligem ou nos alegram, passam pelo seu conhecimento e vontade para nossa vida.
Paulo tinha essa certeza e esse era seu grande segredo. Ele sabia que Deus estava do
seu lado e ele sabiam quem era Deus! Tal certeza o permitia ver sua vida e todos os desdobramentos
por uma ótica que não o deixava ansioso, mas descansado no Senhor. Se ele estava enfrentando
tudo aquilo era porque Deus tinha um propósito e Ele mesmo seria seu sustento e provisão em
todos os momentos. Que segurança maravilhosa!
Capítulo 5
A noção de viver por conta própria, sendo senhor sobre seu destino pode, em algum
momento da história, ter parecido uma boa ideia para a humanidade, mas fez o homem provar da
amarga sensação de desamparo, incerteza e desproteção sobre sua vida.
Sem sombra de dúvidas é pesado viver sem ter aquela gostosa sensação de estar
protegido por alguém poderoso o bastante que me permita descansar sob seus cuidados. Vejo isso
manifesto em meu lar, meus filhos e minha esposa relatam sempre que viajo que as noites não são
bem dormidas sem a presença do pai, marido e chefe do lar. Eles se sentem protegidos com minha
presença.
Pensando nessa relação de proteção e descanso foi que Davi escreveu o famoso Salmo
23. Davi sabia que era um pastor dedicado que dava tudo o que ele podia dar para o bem estar de
suas ovelhas. Entretanto, haviam circunstâncias que iam além das forças de Davi. Uma enchente
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de grandes proporções, uma estação seca prolongada, uma peste disseminada no meio do rebanho.
Tais coisas iam além dos poderes do jovem Davi e ao olhar para sua vida e sua relação com Deus
ele aplicou o mesmo princípio e concluiu: “O Senhor Todo-Poderoso é quem cuida de mim, Ele não deixará
que falte nada do que preciso para viver.” (Sl 23.1). Davi sabia que Deus sendo o Adonai todas as coisas
estavam debaixo de seu poder e que nenhuma intempérie seria grande demais para deixar Deus
sem ação, como algumas intempéries fugiam do controle de Davi. Ele sabia que poderia descansar
nos pastos que o Senhor o conduzia porque Deus era o bom pastor. Como disse certa vez J.C.
Ryle: “o homem que pode dizer com ousadia: O Senhor é o meu pastor também é aquele que será
capaz de acrescentar: Nada me faltará.”3
A cultura moderna e seu discurso de que Deus está morto ou distante acabou
acentuando no coração do homem a atitude pecaminosa de independência de pastoreio que vem
do Senhor. A humanidade não se sente mais protegida dos perigos do caminho, dos mercenários
e das feras descritas em Jo 10. 1-18. Estamos lançados à própria sorte e responsáveis por nosso
sucesso, sozinhos em meio à grande selva que é nossa vida. Um jeito muito triste de viver!
Dois relatos nos evangelhos apresentam um pouco mais desse modo de viver e seus
malefícios às nossas emoções. Os dois descritos por Lucas e ambos mostram características
importantes ligadas a ansiedade potencializadas pela sensação de desproteção.
Falando agora aos seus, Jesus os adverte quanto ao foco, à compreensão da vida e
sobre a certeza de quem é Deus.
Ao falar sobre foco, o verso nos mostra como devemos “andar”. Jesus apresenta para
seus discípulos uma forma saudável de “caminhar” nessa vida. Ele diz que essa caminhada é um
exercício diário, contínuo, uma construção. Ele diz para “não andarmos ansiosos pela vossa vida”,
3
RYLE, J.C. Meditações no Evangelho de Lucas. São José dos Campos, SP: Fiel, 2018.p.319.
38
em outras palavras, “andem livres de preocupações desnecessárias a vocês sobre a vida”. O mestre
ensina que a ansiedade é uma forma de caminhar preocupando-se demasiadamente com coisas triviais sobre nossa
vida. Ele ensina que aquele que o segue não anda pensando demais nas coisas terrenas ou
preocupando-se demasiadamente com coisas sobre sua vida. E isso por quê? O verdadeiro
discípulo de Jesus ao ouvir seu chamado torna-o Senhor soberano não só sobre a sua fé ou sua
“religião”, mas sobre seus desejos, vontades, atitudes e seu futuro. O discípulo de Cristo não tem
preocupações demasiadas sobre o dia de amanhã porque agora caminha ao lado do Senhor da Vida,
o Bom pastor, o Deus da Provisão, o Grande Eu Sou, O Rei dos Reis. O foco da sua vida muda
de uma visão centrada em si e nas suas coisas para Deus e as coisas de seu Reino!
Dos versos 23 ao 28 Cristo ensina a seus discípulos como eles devem compreender o
que é a vida e faz isso de forma muito simples. Ele ensina o conceito de uma vida supratemporal,
eterna, mais ampla do que as coisas que vivemos aqui. Comida, conforto, proteção, saúde, todas
essas coisas são reinterpretadas como não sendo o fundamento da vida em si. São secundárias,
passageiras, pequenas demais.
Observe que no verso 26 Cristo faz uma observação importante quanto a esse desejo
por aqueles que não se sentem protegidos por Deus. Ele acabara de falar sobre a limitação da vida
e o total controle de Deus sobre o futuro (Sl 139.16) e um pouco antes sobre como Deus cuida até
mesmo de aves que nós não costumamos nos importar e conclui com uma pergunta: “Se, portanto,
nada podeis fazer quanto às coisas mínimas, porque andais ansiosos pelas outras?”. Seu
questionamento é digno de observação. Podemos pensar em sua pergunta nestes termos: “Se vocês
não conseguem cuidar de tantas coisas como Deus tem cuidado e sequer podem mudar o que Ele
já determinou, porque duvidar que Ele cuidará de vocês?”
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Por fim, Jesus faz a distinção entre os gentios - descrentes que não tem Deus como
pai e senhor de suas vidas - e seus discípulos (Lc 12.30). Note que os gentios é que andam ansiosos.
Por estarem desprotegidos, vivendo na enganação de uma geração que afastou de nossa cultura,
arte, política e educação a figura desse Deus descrito por Jesus, tais pessoas sofrem por não terem
onde descansar suas expectativas e emoções.
O cristão - aquele que tem um Pai que sabe de tudo que seus filhos necessitam – não
anda assim pois sabe que aquele que assumiu a paternidade espiritual de seus eleitos trabalha
constantemente garantindo que tudo esteja em perfeita obediência à sua vontade, fazendo assim
que todas as coisas cooperem para o bem de seus filhos. (Rm 8.28). Os cristãos não devem ser
ansiosos por confiarem no conceito da paternidade divina.
Pastores e conselheiros que desejam ajudar pessoas que sofrem de ansiedade por se
sentirem desprotegidas devem perceber o quanto a pessoa se sente responsável pelo seu futuro e
como ela imagina estar sozinha nessa caminhada. Devem leva-la a conhecer um Deus que não
abandona aqueles que são seus e, como Todo-Poderoso e grandioso pai de amor cuida de seus
filhos de uma forma tão graciosa que nos providenciou o cordeiro que tira o pecado do mundo
para que não nos sentíssemos desprotegidos nem nessa vida e nem na eterna.
40
Capítulo 6
A verdade é que fazemos de tudo para manter nossa reputação e nossa índole diante
das pessoas ao nosso redor. Jamais queremos ser constrangidos ou envergonhados publicamente
ou, pior ainda, ter nossa imagem exposta ao ridículo. Rótulos como mentiroso, incapaz, infiel, são
marcas que não queremos agregar à nossa imagem.
Um grande problema surge quando diante de uma situação onde nós sabemos que
erramos, tentamos encobrir nossos erros para que não sejamos desqualificados. Dependendo do
cargo que ocupo na empresa, na liderança da igreja, na vizinhança ou até mesmo na família, alguns
erros podem ter consequências graves e duras ou, quando esse erro tem ares de pecado, tendem a
ser tratados com mais severidade e isso colocará em risco nossa imagem e reputação.
Quando tenho uma compreensão errada sobre mim certamente viverei todas as
minhas relações interpessoais pautadas nessa falsa premissa sobre quem eu sou. Na medida em que
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construímos uma perspectiva diferente daquela que a Bíblia fala sobre nós tenderemos a manter
aquilo que construímos ao redor da nossa imagem e faremos de tudo para mantê-la e preserva-la.
Quando nossas falhas ameaçarem quem nós achamos que somos faremos de tudo para encobri-
las e na medida que as pessoas chegarem perto dessa zona de perigo, a ansiedade será a resposta
natural, até que a zona de perigo seja protegida.
Talvez você já tenha ouvido falar sobre autoestima e como em tempos de tantos
coachings assumindo os púlpitos evangélicos esse assunto tem sido valorizado entre os cristãos.
Mensagens como: Você é especial! Explore todo seu potencial! Você é o centro do amor de Deus!
Valorize quem você é! Sinta-se bem consigo mesmo! Soam bonito aos ouvidos e são muito
palatáveis, mas certamente são afirmações mundanas profanando altares cristãos. Tais
“pregadores” chegam a afirmar que uma autoestima apropriada é o segredo para resolver a maioria
dos nossos problemas, inclusive de nossos pecados! Enquanto escrevia este capítulo recebi em meu
celular um vídeo de um desses coachings disfarçado de pregador que disse: “Quando eu olho para
Deus eu me sinto tão justo que não me sinto inferior a Ele!” Note o teor da mensagem: Você deve ter tanto
amor próprio e tanto valor em si a ponto de entender que Deus e você são iguais! Isso é um
absurdo! Uma blasfêmia! Um discurso humanista disfarçado de pregação evangélica.
Pensar erroneamente sobre si, distante daquilo que a Bíblia apresenta ser o homem,
tem causado muitos males no meio cristão. Temas como autorrealização e autoaceitação tem
motivado pessoas a negarem verdades elementares da fé e viver em busca de si e de suas realizações.
Ao contrário do que nos orienta Mt 6.33 – “buscai, pois em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça,
e todas estas coisas vos serão acrescentadas” – a massificação de uma pseudoteologia do coaching,
valorizando o eu e suas demandas, tem ensinado pessoas a pensarem mais em si, buscarem suas
realizações pessoais, viverem focadas no eu. E nessa construção de uma imagem equivocada do
homem e qual a verdadeira estima ele deve ter sobre si é que se justificam a crescente demanda de
pessoas ansiosas diante de seus medos.
Jay Adams, em seu livro intitulado Autoestima: uma perspectiva bíblica nos alerta sobre essa
questão. Ele diz:
Se minhas “necessidades” precisam ser satisfeitas primeiro e a qualquer custo, antes de
eu ser capaz de servir a outros, como pode se esperar que eu desista da minha vida, dos
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meus bens, ou ainda do meu bem-estar para servir ao Senhor ou outro cristão? Afinal,
isso exige de mim uma atuação nos níveis mais elevados da autorrealização!
A teoria da necessidade de autoestima (com sua ênfase em ter minhas próprias
necessidades satisfeitas em primeiro lugar), coloca a pessoa no mesmo nível que os
descrentes: “porque os gentios é que procuram todas estas coisas”(Mt. 6.32). 4
Rm. 1.28 – Depravado; 2Co 3.14 – endurecido; 2Co 4.4 – cego; Ef 4.17 e 18 –
vaidoso e obscurecido; Cl 1.21 – inimigo da verdade; Cl 2.4 – enganoso; Cl 2.18 –
carnal; 1Tm 6.5 – corrompido e 2Tm 3.8 – corrupto.
Tais afirmações mostram o grande problema de uma fórmula teológica pautada pela
mente e seus desejos e os perigos de buscar em nós algum valor diferente daquilo que a Bíblia diz
que somos. Na teologia reformada temos um termo para isso: Somos totalmente depravados! Todo
nosso ser está maculado pelo pecado e não há nada em nós capaz de nos purificar. Entendendo
esse aspecto sobre nossa real identidade, observamos que qualquer tentativa de promover alguma
mensagem de valorização da autoestima será acompanhada da pecaminosidade daqueles que a
promovem. E tais propagadores:
4
ADAMS, Jay E. Autoestima: Uma perspectiva bíblica. São Paulo: ABCB/Nutra Publicações, 2007.p.55.
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• não tem visão espiritual porque estão cegos olhando para seus desejos de
redenção.
• não são sabeis, mas tolos que buscam entretenimento.
• sequer vivem para Deus, pois ainda estão mortos em seus delitos e pecados
e vivem em busca de si e de um sentido para sua existência.
• não seguem a luz pois andam na escuridão de seus pecados.
• não são possuidores da vida eterna pois ainda trilham o caminho da
condenação.
Qual seria então uma correta visão do eu que servirá de proteção contra pensamentos
ansiosos decorrentes do medo dos meus pecados ou erros?
Há inúmeros textos na Bíblia que escancaram diante de seus leitores o que realmente
o homem é e o que ele deve pensar sobre si. Posso até afirmar que a maioria desses coachings
evangélicos ficariam horrorizados se ouvissem a descrição bíblica sobre quem é o homem. Longe
de ser uma criatura “estimada, de alto valor, extraordinária e totalmente importante em si” a Bíblia
vai mostrar a realidade abominável de quem é a humanidade caída e ela não faz isso na intenção de
diminuir nossa autoestima ou de humilhar os homens e rebaixar o seu valor, mas assim o faz para
que nosso olhar, apreço, valor e estima estejam totalmente firmados em Deus e em sua obra
salvadora.
Leia textos como Ez. 36.31; Sl 51.5; 58.1-5; Rm 3.9-18 e você perceberá que a realidade
humana é humilhante e deplorável e não há beleza em nossa vida longe da graça de Deus. Quando
passamos a ver a nossa vida com essa lente faremos o possível para que Deus nos ajude, nos socorra
e nos ame. Passaremos a ver que a única coisa que podemos ter de boa em nós é o amor gracioso
de Deus derramado abundantemente em nossas vidas e sempre que pensarmos em autodefesa da
nossa imagem ou buscar satisfazer nossas vontades ou “honrar nossa reputação” lembraremos o
que realmente somos e o que Deus fez por nós. Pensaremos corretamente sobre nós e daremos
toda glória e louvor a Ele por sua graça infinita. Olhando biblicamente para quem somos
confiaremos totalmente no amor de Deus que “lança fora todo o medo.” (1Jo 4.18). Não
focaremos em fazer tudo para preservar nosso nome, mas nos dedicaremos para honrar o nome
de Deus em tudo o que fizermos.
Outro importante ponto a ser considerado quando falamos sobre ansiedade causada
por medo é pensar nas causas desses temores e a quem tememos.
valorizarem tanto suas vidas e sabem que a morte lhes tirará sua única certeza – é bom estar vivo!
Outras pessoas temem perder seus empregos por imaginarem que a demissão lhes tirará a
possibilidade de sustento ou a dignidade.
Uma forma bíblica de orientar pessoas que sofrem por terem medo é identificar o que
elas mais temem e a partir dessa identificação perceber o que é medo real ou imaginário, realocando
assim, cada temor a seu devido lugar e patamar. No caso que compartilhei no começo do capítulo
podemos identificar a causa do medo daquela jovem. Seu casamento envolvia famílias respeitadas
em nossa cidade pela conduta moral de seus pais, seu marido era um jovem empresário muito bem-
sucedido, o casamento havia sido uma das maiores festas da cidade nos últimos anos, havia
patrimônio, bens, dinheiro. Um episódio revelador do passado que traria uma exposição indesejável
sobre algo que aquela jovem tentava esconder por anos poderia colocar a perder todas essas coisas.
Ela seria envergonhada publicamente, perderia seu marido, acabaria com seu casamento, traria
desonra para seus pais, ficaria “mal-falada” na cidade. Observe que o temor era proporcional àquilo
que ela temia perder.
Ao entender essa verdade sobre o ser de Deus, sua santidade e pureza aquela jovem,
recém-convertida, entendeu que como cristã nada era mais importante do que temer e amar ao
Senhor. Ela não deveria temer o que seu marido faria caso descobrisse um episódio de seu passado
que a envergonhava, não deveria temer juízos e palavras degradantes que poderiam rotula-la por
conta de seu passado. Caso fosse necessário as consequências viriam e poderiam ser pesadas para
ela, mas seu coração deveria temer estar com a consciência pura diante de Deus e dos homens em
sua nova vida. Olhamos para a vida do apóstolo Paulo e como sua prioridade era viver para agradar
ao seu Senhor (Fp 3.2-11). Ela aprendeu que em Cristo as coisas velhas tinham passado e que sua
prioridade era não desagradar a Deus em sua nova caminhada. Ela descansou ao saber que o Deus
todo-poderoso não mais a olhava como inimiga e alguém em quem despejaria sua santa ira, mas
agora ela era amada do Pai. Lembro-me da alegria em seu olhar quando ela descobriu Mt 10.28 –
45
“Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno
tanto a alma como o corpo.”
Quando nós conselheiros nos deparamos com pessoas que sofrem com ansiedade por
causa de medos devemos observar àquilo que as pessoas realmente temem e apresenta-las uma
realidade acima de seus temores, por mais sensatos que sejam. A realidade de que deveríamos temer
cair nas mãos de um Deus santo sendo nós pecadores! Certo puritano uma vez falou: “À parte de
Cristo, Deus é terrível!” Nosso verdadeiro temor deveria ser estar diante de um Deus assim tendo
nossas vestes maculadas pelo pecado. Reorientar os temores e apresentar que nosso maior temor já foi superado
na cruz do calvário é uma importante ferramenta na cura da ansiedade.
46
Capítulo 7
Uma certeza que temos é que independente das partes desta constituição o ser humano
é um ser integral que tem emoções refletidas fisicamente e condições físicas que alteram suas
emoções.
Assim como na depressão endógena, algumas doenças parecem ter como efeitos
colaterais o desajuste hormonal e químico no cérebro e em alguns órgãos do corpo humano (teoria
essa que fora amplamente difundida nos EUA, mas que gera até hoje mais incertezas do que
5
Mc 12.30 (ênfase do autor)
6
Hb 4.12
47
conclusões acadêmicas por falta de provas mais concretas). Ao ser afetado a nível celular o
funcionamento hormonal passa a ser desajustado e a produção de neurotransmissores e
controladores hormonais funcionarão com deficiência podendo assim, afetar o humor do indivíduo
de diversas maneiras. Alterações na tireoide, doenças no pâncreas, baço, intestinos, disfunções
hormonais severas são alguns exemplos de doenças que tem tal capacidade. Embora não seja uma
conclusão unânime no meio científico há de se considerar seus efeitos em alguma medida.
Não seria errado afirmar aqui que a psiquiatria ou a psicologia não são as únicas formas
de tratar a ansiedade. Existem outros caminhos, mais eficazes, menos invasivos e quimicamente
dependentes. Mas também seria errado dizer que elas em nada ajudam.
7
Alguns nomes também utilizados para esses medicamentos são “psicotrópicos ou psiquiátricos.”
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Há algum tempo atrás atendi uma certa jovem que ao chegar e relatar o que a trazia a
meu gabinete foi bem enfática:
- Sou depressiva! Faço uso de todos esses medicamentos aqui! (tirando da bolsa e colocando
sobre minha mesa quatro ou cinco medicamentos psicoativos).
Ao perguntar o porquê de tanta medicação ela relatou que após a morte do noivo ela
não conseguiu se reestabelecer emocionalmente e as coisas pioraram a ponto de uma internação
psiquiátrica ter sido a única opção. Ao pergunta-la sobre o que ela mais queria supreendentemente
eu ouvi:
- Quero que o senhor fale para meus pais que estou bem! Que não tem nada de errado comigo!
- E os remédios? Perguntei.
- O que há de errado com eles? Não quero parar de toma-los. Me sinto muito bem com eles!
- Pastor! Obrigada pela ajuda, mas não quero abrir mão dos medicamentos. Eles me fazem bem!
Estou feliz com eles!
Imagine minha situação! Percebi que aquela jovem colocou sob a medicação o segredo
da sua felicidade e completude e não podia fazer nada além de cuidar de forma amorosa e pastoral,
oferecer meu ombro amigo para ajudá-la quando ela precisasse de mim e orar para que Deus a
abençoasse. Eu não estava ali para reprova-la e obriga-la a não tomar mais os medicamentos. Ela
fez a sua escolha e não meu deu espaço para argumentos.
Outra situação interessante foi quando atendi uma senhora passando por um
desgastante processo de divórcio. Sua vida de meia-maratonista jamais nos fez levantar qualquer
suspeita sobre algum problema de saúde. Durante o tempo dos trâmites do divórcio, o desgaste
emocional foi intenso. Insônia, ataques de ansiedade, taquicardia, variação de pressão arterial e dor
no peito e ânsia de vômito estavam se tornando frequentes. No início achamos que era por conta
do momento e das pressões emocionais que estavam sobre ela. Após algumas reuniões de
aconselhamento achamos que seria bom ela procurar um médico para investigar com mais
49
propriedade o que poderia estar acontecendo. Alguns poucos exames foram necessários para
comprovar um sério problema cardíaco que resultou na colocação de stents em seu coração. A ação
rápida em buscar auxilio na medicina salvou aquela irmã e durante todo o processo tratamos dos
medos e dores emocionais do término do seu relacionamento.
O Dr. David Murray em seu livro Crente também tem depressão demonstra essa mesma
preocupação quando o assunto é sofrimento psíquico/emocional:
Nunca adotaríamos essa visão (causa pecaminosa/solução espiritual) ao aconselhar
pessoas com câncer, derrame, fratura exposta, diabetes ou Alzheimer. Como cristãos
reformados, nossa postura padrão é que esses problemas físicos são provavelmente
resultado da vida como criaturas caídas em um mundo caído. Porque nossa postura com
relação a problemas cerebrais tem de ser diferente? Estamos dizendo que o cérebro, o
mais complexo órgão em nosso corpo, de alguma maneira não sofreu os efeitos da
queda?8
Ao pensar assim, Dr. Murray nos leva a pensar que a queda também degenera nosso
cérebro e nem sempre por questões espirituais. O pecado original trouxe degeneração à nossa pele,
nossos ossos, nossos órgãos, inclusive nosso cérebro. Embora o corpo físico não seja o motivo de
pecarmos, alcançar suas demandas para uma vida “sem os efeitos” da queda nos levam a um
comportamento catastroficamente pecaminoso. Paulo orienta seus leitores em Roma a não se
entregarem às paixões do corpo mortal e nem usarem seus corpos como instrumentos de
iniquidade (Rm 6.12-13) em uma demonstração clara de que o corpo realiza aquilo que o coração
deseja.
8
MURRAY, David P. Crente também tem depressão. Recife, PE: Ed. Os Puritanos, 2012.p.31-32.
50
específica para que uma investigação descubra aquilo que nossos olhos e ouvido não podem
perceber.
Capítulo 8
Uma ajuda pastoral efetiva para alguém que sofre com ansiedade não pode
desconsiderar os perigos da atualidade e de como nos tornamos reféns de desejos pecaminosos tão
explorados em nossa cultura consumista, mas também não pode abandonar a compreensão
teológica e bíblica que envolve a ansiedade e seu insistente desejo por autonomia e segurança auto-
promovida. Todo conselheiro deverá conduzir a mente e o coração do seu aconselhado ao ponto
de partida da ansiedade, muito além de situações vividas, mas lá no Éden, na queda que nos
devastou em todos os aspectos e reparar as colunas da confiança e cuidado divino que foram
quebradas quando no jardim fomos expulsos gerando tanto o medo como a ansiedade.
Embora o mundo ache que não precisa de Deus, dos seus cuidados e orientação de
Sua Palavra, nós conselheiros bíblicos temos em nossas mãos a mais poderosa ferramenta que pode
tratar do mal da nossa geração. Tirar Deus do centro da vida do homem moderno e faze-lo achar
que vive por seus próprios méritos castigou nossa geração com intensas e multiformes dores
emocionais e físicas. Desde a filosofia niilista de Nietzsche, passando pela estrutura psíquica de
Freud ou desembocando no ideal social de Marx, tudo o que o século XX ofereceu para o ser
humano como sua grande evolução o levou para mais longe do lugar de proteção divina e o colocou
no grande e deserto vale árido da ansiedade. Somos uma geração doente sem saber a doença que
nos destrói. Aquilo que nos motiva a vencer tem sido o grande inimigo em nossa derrota.
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Temos conosco a formidável bússola que aponta para um cuidado e amor inimaginável
que nos darão a segurança que nada neste mundo pode se igualar. Basta sermos orientados por ela
e descobriremos o poder de Deus amoroso e zeloso que cuida dos detalhes de nossa vida no
passado, presente e futuro.
Tal caminho nem sempre é rápido, sempre é doloroso e requer de nós oração, piedade,
estudo bíblico, seriedade acadêmica, coerência científica e atitude. Na condição de conselheiros
somos desafiados a lidar com o sofrimento de pessoas que amamos, chorar com os que choram e
andar ao seu lado sem desistir de ama-las como Jesus as amou. Aconselhar requer de nós
conselheiros um olhar de empatia e amor, na mesma medida em que identificamos altares que
atrapalham a genuína adoração, e como os antigos profetas, confrontando e denunciando seus
males, exortando nosso aconselhado à fidelidade da Lei.
Quando diante de uma pessoa que sofre com ansiedade devemos sempre construir
sólidas bases bíblicas que terão o poder de destruir os sofismas de nosso tempo e reorientar
corações ansiosos para amar ao Senhor. Não devemos, porém, ignorar aspectos orgânicos que
provoquem essa inquietude da alma. Embora enfermidades não sejam motivos ou fatores
determinantes para pecar (basta lembrarmos de quantos personagens bíblicos em meio a
enfermidades tiveram uma postura de adoração e temor a Deus.) nós conselheiros devemos dar a
elas uma atenção especial e considerar seus efeitos devastadores em corações já inclinados par o
pecado da ansiedade. Bons conselheiros não desprezam a possibilidade de ajudar da medicina e de
outras áreas do cuidado humano na tentativa de resgatar a mente e o coração de seu aconselhado
para o abrigo seguro do Senhor. Devemos, de forma pastoral e discipulativa, através de conselhos,
conversas e orações e acompanhamentos, responder com firmeza e sinceridade aos dilemas de
nosso aconselhado que não o permitem lançar sob Cristo seus medos e temores. Às vezes
falaremos muito, às vezes falaremos pouco, outras vezes não falaremos nada, apenas estaremos lá
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e nossa presença mostrará a imensidão da graça regeneradora e salvadora de Jesus na vida daquele
que está sofrendo.
O cuidado pastoral para a Ansiedade pode às vezes ser o de pedir ajuda também. Pedir
ajuda a outros conselheiros, pastores e profissionais de diferentes áreas. É desejar não apenas o
bem-estar físico, emocional ou relacional, mas a conversão do coração. A cura para a ansiedade
definitivamente é a convicção do cuidado de Deus e uma vida de descanso em suas promessas.
Isso envolve toda as áreas da nossa vida, do prazer sexual a adoração congregacional.
Podemos às vezes perceber que nosso apoio será em segundo plano, como que dos
bastidores, enquanto a medicina ou os remédios desempenham sua função para a glória de Deus.
Focando naquilo que está claro na Escritura sobre quem é Deus e o que Ele faz por nós
ministraremos encorajamento diante do medo e descanso diante dos desafios, ensinaremos a
confissão de pecados e o cuidado com o templo do Espírito, fortaleceremos o cansado diante da
luta e apresentaremos a dimensão da fé que nos faz lançar sobre Cristo toda nossa preocupação!
Somos dEle, Ele nos ama, Ele cuida de nós!
A ênfase dada neste livro mostrou a importância de olharmos para os que sofrem com
compaixão, cuidado e amor. Tal tipo de olhar não será encontrado fora do Evangelho, longe de
Cristo. Por isso é correto afirmar que terapias não curam ansiedade, remédios não atingem seu
ponto central, apenas a Escritura liberta o homem dos seus medos e temores e revela a face de um
Deus gracioso que nos permite chama-lo de Aba Pai. Apenas arautos do Rei tem esse tipo de
preocupação com as pessoas que sofrem. Apenas regenerados tem esse olhar bíblico restaurador.
Somos demonstração visível do amor de Deus na vida das pessoas que nos rodeiam.
Aconselhamento bíblico é mostrar como Jesus faz quando um pecador dá atenção às suas palavras.
Sugiro que para cada ponto aqui apresentado você conselheiro dedique um tempo de
reflexão bíblica e esteja habilmente fundamentado para ajudar os que perecem. O mundo está
teologicamente doente, adoecendo a cada dia mais e mais, nós temos a cura. A Bíblia tem todas as
respostas!
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