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copyright© 2020 por Madson Costa Oliveira (todos os direitos reservados)


Revisão da obra: Meriellie Barros Brandão Oliveira
Diagramação e arte final: Telesforo Rodrigues Martins Filho

Os textos de referência bíblica foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada, 2ª ed.
(Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica.
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida total ou parcialmente ou publicada por
quaisquer meios sem a autorização expressa do autor.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Oliveira, Madson Costa


Não andeis ansiosos: um guia básico para aconselhar pessoas que sofrem com ansiedade /
Madson C. Oliveira – São Luís: MA . Nouthesia Publicações, 2020.
1. Teologia 2. Bíblia 3. Aconselhamento Bíblico 4. Vida Cristã
5. Ministério Pastoral

Índice para Catálogo Sistemático:


1. Teologia
2. Bíblia
3. Aconselhamento Bíblico
4. Vida Cristã
5. Ministério Pastoral

Categoria: Aconselhamento Bíblico / Teologia Prática / Ministério Pastoral

ISBN: 978-65-00-07229-7

Publicação digital: Agosto de 2020


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“Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.”

1Pe 5.7
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Para Lele, Alice e Théo, meus tesouros.


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SUMÁRIO

Prefácio |........................................................................................................................................................7

Apresentação |...............................................................................................................................................9

Entendendo a Ansiedade biblicamente |.................................................................................................11

A ansiedade e a dinâmica moderna |.........................................................................................................16

Quando minhas expectativas são diferentes da realidade |....................................................................24

Quando o futuro me causa medo |...........................................................................................................28

Quando minha vida não me satisfaz |.......................................................................................................32

Quando me sinto desprotegido |..............................................................................................................36

Quando tenho medo |................................................................................................................................40

Quando meu corpo está doente |..............................................................................................................46

Cuidados pastorais para a Ansiedade |.....................................................................................................51

Sobre o autor |.............................................................................................................................................54


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PREFÁCIO

Se sou convidado para falar sobre os problemas da vida a um determinado auditório e


se lá eu perguntar quantos são adúlteros ou acessam sites de pornografia, é muito possível, e mais
provável ainda, que ninguém se manifestará. Mas, se eu perguntar quantos lutam com a ansiedade,
é muito provável que muitas mãos se levantarão indicando que essa é uma batalha contínua e,
muitas vezes, perdida.

A razão disso é que muitos dentro da Igreja do Senhor Jesus Cristo entendem as
duas primeiras possibilidades como um claro pecado, o que é de fato, contudo, talvez não
coloquem a ansiedade no mesmo escaninho. Isso porque a ansiedade é tão comum que muitos
nem a veem mais como um pecado e sim como algo da normalidade da vida.

A palavra traduzida por ansiedade, inquietação, preocupação ou mesmo cuidado tem um


sentido negativo nas Escrituras, cujo olhar concentra-se no sujeito que inquieta-se com o futuro,
tentando controlá-lo, indicando dessa maneira, um pecado – a desconfiança do cuidado de Deus
(e.g. Mt 6.25,31,34; Fp 4.6; 1 Pe 5.7). Porém, a palavra tem igualmente um sentido positivo, pois
aponta para uma preocupação legítima (e.g. 2 Co 11.28; 1 Co 7.32-34, 12.25; Fp 2.20). Este livro
está focado no trato dos aspectos negativos do termo.

Ao escrever sobre esse pecado tão comum e ao mesmo tempo tão tolerado, o Pr.
Madson Oliveira se propôs a olhar para o tópico por uma perspectiva bíblica, oferecendo um
pensar sobre as questões da atualidade que contribuem para a perenização desse pecado, sem,
contudo, perder o referencial bíblico. O ambiente no qual uma pessoa viveu ou vive é, de fato, um
elemento importante e que não pode ser desprezado quando este tópico é abordado. As
circunstâncias trazem agravantes e complicadores. Tais complicadores precisam ser considerados
ao aconselhar quem luta com a ansiedade. Entretanto, ainda que o ambiente seja um elemento
importante, e não deve ser desprezado em todo o processo de aconselhamento, ele não é
determinante. O que é determinante é o que está no coração do homem, isto é, em que ou em
quem ele confia e a que ou a quem quer adorar. São as interpretações das circunstâncias, a maneira
como são compreendidas e as inclinações desse coração que determinam se suas respostas ao
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ambiente serão piedosas ou pecaminosas. Tudo depende do que está no coração de uma pessoa
(Pv 4.23 NVI).

NÃO ANDEIS ANSIOSOS: um guia básico para aconselhar pessoas com Transtorno de
Ansiedade, é um material que será útil a todos os que desejam aconselhar tendo a Palavra de Deus
como suficiente para lidar com as questões do coração do homem. Conhecendo o Pr. Madson e
sabendo de suas convicções quanto à suficiência das Escrituras, sua devoção a Deus e seu desejo
de contribuir para a expansão do Reino de Deus levando seus leitores a uma mais profunda
confiança em Deus e em Sua Palavra, oro para que Deus use este material para a Sua glória e para
o maior bem do Seu povo.

Jayro M. Cáceres
Pastor da Igreja Batista Pedras Vivas (SP), Coordenador do NUTRA (Núcleo de Treinamento,
Recursos e Aconselhamento Bíblico) e Diretor de NUTRA Publicações.
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APRESENTAÇÃO

A ansiedade é um sofrimento silencioso que castiga de forma impiedosa aqueles que


estão aprisionados em suas teias. A cada novo dia mais e mais cristãos lutam contra a ansiedade e
relatam como é difícil vencer esta luta sem ter uma clara orientação sobre o que ela é, como se
manifesta e como trata-la biblicamente.

Esta obra é um guia básico que apresentará de forma bíblica e teológica o tema da
ansiedade e suas implicações servindo para conselheiros cristãos como uma ferramenta de auxílio,
identificação e ajuda bíblica eficaz em seus aconselhamentos. Para pessoas que sofrem com
ansiedade esta obra servirá como um lampejo de graça e esperança divina diante da tempestade da
alma ansiosa. A cada novo capítulo o leitor será apresentado a uma perspectiva bíblica sobre a
ansiedade que o levarão à conculsão de que é possível vencer esta batalha, desde que Deus e sua
Palavra estejam presentes e sejam o foco de toda mudança.

Já na introdução você será levado a perceber a origem da ansiedade e sua relação direta
com o estado natural do homem caído e verá que a Bíblia fala sobre ansiedade mesmo antes de sua
“popularização” no mundo moderno. De fato, mesmo sendo um grande mal percebido em nossos
tempos, ela sempre esteve presente e entender sua origem será também uma boa pista para seu
tratamento, já relatados por Jesus em Mc. 12.30: “Amarás , pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração,
de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.”

O primeiro capítulo trata sobre o problema da ansiedade na dinâmica moderna e como


a vida urbana pós-moderna consumista de alto rendimento tem amplificado antigos gritos da alma
expulsa do jardim e gerado um novo homem, marcado por um velho pecado: o homem
ansiosamente moderno.

A partir desta apresentação os capítulos seguintes se aprofundam na definição


teológica da ansiedade desvendando assim suas inúmeras facetas e apresentando seus mecanismos
de manifestação em distintos contextos, ambientes e situações. Sua relação com o medo do futuro,
necessidade de aceitação, descontentamento com a vontade de Deus, doenças fisicas, idolatria e
sentimento de solidão são temas que são biblicamente tratados aqui.
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Por fim, a obra termina falando sobre o cuidado pastoral com aqueles que sofrem com
ansiedade. Embora ao decorrer da obra vários “insights” tenham sido apresentados que serviram
como estrada para conduzir o coração ansioso ao lugar seguro do Evangelho, no último capítulo
conselheiros e pastores serão levados ao olhar de amor, cuidado e suporte que a Bíblia apresenta
para aqueles que amam a Noiva de Cristo e desejam cuidar de Suas preciosas ovelhas.

Esta obra é indispensável para conselheiros e aconselhados, pastores e ovelhas. Uma


vez que somos diariamente tentados a não confiar em Deus e depender mais de nós mesmos e de
nossa força e potencial, o material produzido aqui certamente será um auxílio na luta contra a
ansiedade e um convite para depender mais do Criador e desfrutar do glorioso trabalho de sua obra
no Calvário. Uma leitura acessível, prática, bíblica e aplicável.

Que ler esse livro ajude você a aliviar o pesado fardo da ansiedade e respirar aliviado
sabendo quem cuida de cada detalhe da sua vida.

Boa leitura!

O autor
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Introdução

ENTENDENDO A ANSIEDADE BIBLICAMENTE

O problema com a ansiedade não é uma exclusividade do homem moderno. Embora


tenha sido enfatizada como um dos grandes males da modernidade o que podemos observar é que
desde a expulsão do Éden o homem provou do amargo sabor da ansiedade sobre sua vida e suas
certezas. Ser expulso do paraíso deixou o homem vulnerável a uma gama de perigos jamais
provados até então e sua vida fora exposta a males terríveis que literalmente trouxeram medo,
sofrimento, dor e todos os tipos de males decorrentes da queda.

No Éden, o homem desfrutava de uma realidade onde tudo era “muito bom” (Gn
1.31) e onde a presença santa de Deus, acessível ao homem e comungante com ele de todos os
aspectos de sua vida, fazia com que a humanidade vivesse a plenitude de sua existência. No jardim,
o homem descansava tranquilamente por saber que o criador providenciara tudo para que sua vida
fosse repleta de alegrias e realizações, mas com o pecado original tudo mudou.

O coração do homem, suas motivações, desejos e vontades foram totalmente


contaminadas pela presença e maldição do pecado. Agora, longe do paraíso, essa crescente e
profunda depravação buscou minimizar seus efeitos devastadores colocando no altar contaminado
do coração humano uma divindade cruel e exigente e que ao mesmo tempo que promete
realizações cobra o alto preço do desgaste e enfado: o egoísmo.

Ao viver essa nova, triste e sofrida realidade o homem passou a preocupar-se


demasiadamente com seu bem-estar, sobrevivência, saúde, emoções e todas as coisas mais. A
punição pelo pecado fez a terra se tornar uma opositora do trabalho do homem (seus benefícios
só seriam extraídos com suor), nem tudo que ela ofereceria seria para o benefício da humanidade
(espinhos e abrolhos) e agora, além disso, o homem deveria buscar abrigo em um lugar inóspito e
cheios de animais que não mais se subjugariam ao domínio do homem sem lutar. Como
consequência disso, o coração do homem passou a não mais confiar no cuidado de Deus e sua
proteção e achou que seus esforços poderiam dar a ele aquilo que perdera no Éden: segurança e
salvação. Isso fica bem claro quando lemos Gn 4.17 e a construção da primeira cidade por Caim.
Longe do jardim, começar uma nova vida, organizada e protegida por muros, segura em seus limites
internos foi o início da caminhada desesperada da humanidade pela plenitude que apenas Deus
poderia lhe oferecer.
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Medo e ansiedade, no início da narrativa bíblica caminharam muito próximos, mas


com distinções gritantes e às vezes confundem alguns e podem soar como uma medida de cautela,
zelo e proteção. O medo manifesto por Adão em Gn 3.10 (a primeira aparição bíblica deste
vocábulo) mostra que Deus dotou sua criação com sentimentos e Adão o exercita aqui diante da
tentativa de preservar-se diante de um perigo iminente e a incapacidade de proteção. Deus estava
vindo santa e gloriosamente e encontraria um homem culpado, depravado e indefeso contra a ira
desse Deus ofendido. Observe que a dinâmica do medo pode ser aplicada em muitas áreas da nossa
vida. Medo de assalto, medo de nadar, de voar de avião. Não saber o que acontecerá conosco e
reconhecendo nossa incapacidade de resistir ou vencer tememos coisas e pessoas.

A ansiedade, por sua vez, é uma tentativa de antecipar possíveis perigos e danos (reais
ou imaginários) e estar preparado, protegido, capacitado para lidar com eles. Na ansiedade nossa
mente é levada a pensar no tamanho da tragédia e todo o seu estrago, mesmo quando ainda nem
sinalizaram sua presença, e em nossa solidão e insignificância, nos faz exercer todo nosso esforço
físico e mental para não ser acometido de forma desprevenida. Passamos a pensar apenas na
desgraça, no problema e na dor, e enquanto isso somos consumidos pelo sentimento dualista em
nosso coração: não conseguirei suportar versus farei tudo para isso não acontecer. Resumidamente:
O resultado devastador da ansiedade é uma vida sem paz!

O pecado manifesto pela ansiedade às vezes é de difícil percepção, mas que claramente
mostra seu potencial na vida de quem sofre deste mal. A pessoa ansiosa é aquela que usa de um
sentimento dado por Deus, o temor e o redireciona para outro foco além do Senhor. Seu coração
passa a temer o futuro, o fracasso, a tristeza, a pobreza, a doença e vive refém destas coisas sem
confiar naquele que é infinitamente poderoso para cuidar de cada detalhe da vida de seus filhos.

Biblicamente, a palavra “ansioso” tem algumas traduções que levam para a mesma
conclusão.

Em Gn 42.21, Is 8.22 e Ez 12.18 a palavra hebraica usada é ‘Tsarah’ com seu


equivalente grego ‘Thlipsis’ que podem ser traduzidos por “pressão, sofrimento causado por aflição,
opressão por problemas, circunstâncias difíceis. Em Lv 26.36 a palavra hebraica é ‘Morek’ e seu
equivalente grego ‘Deilian’ que significam um vergonhoso status de falta de coragem, covardia e
timidez. Em Pv 12.25 e Ez 4.16 o termo usado é ‘Deagah’ e seu equivalente ‘Phóberos’ literalmente
uma sensação de pavor e pânico. Pedro em 1Pe 5.7 usa a palavra grega ‘Merimna’ no sentido de
preocupação exagerada. Todas essas palavras nos levam ao mesmo lugar: ansiedade é um problema
do coração pecaminoso que não confia nos cuidados de Deus e por isso sofre demasiadamente!

O dr. John Street no livro Aconselhamento para Mulheres ao falar sobre ansiedade diz:
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A ansiedade é um estado de espírito que nunca é construtivo; ela é sempre destrutiva. É


um ladrão enganador que lhe rouba a alegria, a paciência, o tempo proveitoso, os amigos
pessoais, a família, a paz e a saúde. Mas acima de tudo, para quem é cristã(o), a ansiedade
levanta muitas dúvidas sobre a fidelidade de Deus para ajuda-lo em seu momento de
necessidade. Certamente alguns à sua volta começarão a se perguntar se Deus pode de
fato fazer todas as coisas que você disse que Ele faria. A reputação e o bom nome dEle
sofrem nas mãos da sua ansiedade persistente. Aprender a afastar a ansiedade e descansar
com segurança nas promessas que Ele tem para você é que trará honra e glória ao seu
Deus fiel.1

A percepção concreta sobre o problema da ansiedade e como a Bíblia a apresenta


como tendo uma relação direta com o coração pecaminoso que insiste em confiar mais em si do
que nos cuidados daquele que o criou nos fará entender o caminho de tratamento e ajuda para
pessoas que sofrem deste terrível mal.

Por isso é de fundamental importância que entendamos com clareza duas doutrinas
elementares que nos auxiliarão a tratar do problema da ansiedade: A antropologia bíblica e a
doutrina da Providência divina.

Uma vez que a ansiedade se mostra como um problema ontológico do homem caído,
entender a natureza humana, sua finalidade existencial e os efeitos que o pecado original trouxeram
a toda a humanidade nos mostrarão onde está alojado o grande mal da ansiedade.

Uma boa antropologia nos mostra que o homem fora criado para desfrutar da presença
de Deus, de forma irrestrita e constante. Ser criado e colocado no paraíso significava estar junto de
seu criador e partilhar com ele de uma gama imensurável de experiências plenas. O breve catecismo
de Westminster assim responde à pergunta sobre a finalidade da criação do homem, “o fim
principal do homem é glorificar a Deus e goza-lo para sempre.” Adão e Eva provaram, em parte
de sua existência, da plenitude deste fim. Durante seus dias no jardim o primeiro casal viveu de
forma santa e perfeita uma vida sem medos, receios ou temores e em plena satisfação em Deus,
tendo o criador como fonte de sua felicidade e pureza.

Entretanto, pouco tempo depois, o homem caiu e com a queda e toda as mudanças
que ela trouxe para o homem tudo aquilo fora perdido e angústia, culpa e medo tomaram o lugar
daquilo que era perfeita e plenamente santo na criação humana. Desde então, a ansiedade é um
assunto que marca a humanidade, pois com o pecado veio também todas as suas mazelas e
dolorosas consequências.

Ao termos essa clara compreensão bíblica sobre quem é o homem e o que ele fora
criado para fazer descobrimos então que a ansiedade não é algo que deva ser aceito como “normal”
ou “comum” na vida humana. Pela Escritura aprendemos que o homem fora criado livre deste mal

1
STREET, John D. Aconselhamento para mulheres: um guia bíblico e prático. São Paulo: NUTRA publicações,
2018. p.50.
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e ele é consequência do pecado de nossos primeiros pais, não podendo ser considerado algo natural
ou muito menos inevitável. Portanto, qualquer abordagem que tente tratar a ansiedade que não
considere esta realidade bíblica sobre a sua origem em nossa queda e habitando na velha natureza
não será eficiente e se mostrará reducionista.

Entendendo por este prisma teológico, o tratamento eficaz para a ansiedade deverá
passar pela via do arrependimento, confissão e novo nascimento, fazendo com que o coração
ansioso seja trocado pelo Espírito Santo por um novo coração que agora caminhará no verdadeiro
amor que lança fora medos e temores e que começou a desfrutar da reconstrução de um
relacionamento perfeito e eterno com Deus.

Por sua misericórdia e compaixão, mesmo após a ofensa original Deus continuou santa
e amorosamente a cuidar da sua criação providenciando todas as coisas necessárias para que ela
fosse preservada e sustentada. Deus continuou zelando e cuidando de tudo o que era seu e nos
mínimos detalhes ou nas mais gloriosas manifestações Ele continua ativo e operante em seu
domínio. Deus não nos abandonou e não nos deixou em uma vida de sofrimento sem que sua
graça e poder possam estar disponíveis para aquele que o busca.

Essa doutrina, a Providência Divina, nos mostra que o criador não está distante de nós
e jamais irá abandonar a coroa da sua criação – a humanidade. Isso oferece esperança àquele que
está exausto de lutar contra a ansiedade.

Ao conhecermos esta maravilhosa doutrina saberemos que mesmo sofrendo as


inevitáveis consequências do pecado original teremos esperança na luta contra a ansiedade, pois o
criador continua acessível em seus cuidados e nos deu tudo o que precisávamos para alcançar a
felicidade eterna – Jesus Cristo. E em Cristo ele se mostra acessível e presente, pronto a ouvir o
clamor daquele que está angustiado mostrando-se um socorro bem presente na hora da angústia.

Essa abordagem teológica nos ensina que qualquer abordagem para tratar da ansiedade
que não apresente a esperança de um cuidado divino acessível, paternal, amoroso e presente que
será capaz de arrancar fora todo sofrimento e preencher com seu bálsamo curador toda dor que o
pecado causou no coração ansioso não será profunda o suficiente a ponto de chegar no cerne da
situação. Apenas apresentando Deus e seus cuidados ao coração ansioso é que podemos ter alguma
possibilidade de mudança e tratamento.

Concluindo, biblicamente a ansiedade origina-se no coração do homem caído e teve


início com o pecado e terá fim apenas em Cristo. Não é necessariamente causada pelas
particularidades dos tempos ou de desafios externos, mas antes, originada em uma postura do
coração, uma atitude de espírito rebelde, uma forma de viver e enxergar a realidade longe de Deus.
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As situações fora do paraíso só externaram o que já havia encontrado um lugar no coração. Em


todos os tempos e épocas, desde que saímos do paraíso, a ansiedade nos assola e sua cura está
apenas naquele que poderosamente cuida de nós. Compreender biblicamente o que é a ansiedade
é um bom começo para vence-la de forma definitiva.
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Capítulo 1

A ANSIEDADE E A DINÂMICA MODERNA

A humanidade tem sofrido com a dinâmica de seu tempo. Vivemos um momento


global onde sempre temos muito a fazer e pouco tempo para executar. Pessoas andam ocupadas
demais, atarefadas demais e sempre com um déficit de produtividade em muitas áreas da sua vida.

Está cada vez mais comum pessoas afirmarem que estão “cheias de coisas para fazer”
e, com as agendas amarrotadas de compromisso, vivem à mercê de realizar o máximo de coisas no
mínimo de tempo. Quase não temos tempo livre, momentos de contemplação ou de solitude, ao
invés disso, movimentamos nossos relógios para resolver pendências de coisas que não
conseguimos realizar no prazo determinado.

Vivemos a era do dinamismo, das múltiplas tarefas e de uma cobrança externa e


interior por melhores resultados imediatos dos investimentos que fazemos no menor espaço de
tempo possível. Tem sido assim na vida profissional, acadêmica, emocional e nos últimos dias até
mesmo na espiritual. Não temos tempo a perder com coisas que demoram demais para dar
resultado. Comemos mais fast food porque não temos mais tempo ou paciência para fazer nossa
própria comida, não temos mais tempo para enfrentar longas filas e preferimos os atendimentos
on line, não gastamos mais tempo esperando uma mesa no restaurante então preferimos um drive
thru, não nos dedicamos mais a relacionamentos longos porque demandam muito esforço e por
isso preferimos apenas um match, buscamos sempre as melhores conexões wi fi porque não
podemos nos desatualizar na rapidez das informações virtuais, criamos até um deus que funciona
tão rápido para atender nossa vontade que basta ofertar que ele obedece. Esses e outros tantos
exemplos são a definição daquilo que se tornou a vida moderna. Uma vida acelerada!

Imagine agora a vida de um jovem comum em nossos dias. Ele acorda às cinco e meia
da manhã para poder chegar à faculdade em menos de duas horas. O cansaço da noite anterior o
faz ter muita vontade de ficar deitado em sua cama por apenas mais dez minutos que acabaram
custando muito caro quando ele percebeu que cochilou por mais de trinta minutos. De súbito, ele
se levanta às pressas e toma um banho rápido e quase que instantaneamente consegue comer alguns
poucos biscoitos com um gole de café e desesperadamente sai para não perder o coletivo que o
levará para seu destino. Já a caminho, espremido por uma multidão também apressada dentro do
coletivo ele lembra que naquele dia terá duas importantes avaliações na faculdade e uma pilha
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imensa de páginas para ler de uma disciplina que ele está no limite da reprovação por não conseguir
acompanhar o andamento da turma.

Ao chegar na faculdade as aulas e os conteúdos inundam seu caderno de anotações e


o enchem de preocupação pela quantidade de exigências dos professores para aprovação naquele
difícil semestre. A sirene dispara e já é meio-dia.

Longe de ter uma refeição tranquila e nutritiva, aquele jovem compra um sanduíche e
uma latinha de refrigerante na lanchonete da faculdade para comer a caminho da estação do metrô
que o levará a seu emprego de meio período, necessário para custear seus estudos. Nesse intervalo
de menos de uma hora ele tem que comer, caminhar até o metrô transitando rapidamente entre
pessoas, carros e ônibus, responder mensagens de whatsapp de sua namorada que o tem cobrado
um pouco mais de atenção e carinho, de amigos e de seus inúmeros grupos enquanto se preocupa
em não ser assaltado no aguardo da condução.

Já no trabalho ele se depara com a pilha de coisas que tem para fazer sob a sua mesa
com o título de “Urgente”. Seu chefe o pressiona de todas as formas para que prazos e metas sejam
cumpridos. Inúmeras ligações, milhares de teclas digitadas no teclado de seu notebook, cálculos,
números, cobranças, medo de perder o emprego e não conseguir pagar suas contas, disputas
internas, xícaras e xícaras de cafezinho para o manter acelerado e acordado. São dezenove horas e
o dia de serviço terminou.

A hora seguinte é de intenso trânsito e cansaço. Seu corpo está jogado sobre uma
cadeira que por sorte conseguiu livre no ônibus que o levará para o cursinho preparatório para
concursos públicos, onde lá investirá tempo e concentração para alcançar uma boa nota em uma
prova contra milhares de concorrentes para um emprego federal. Como ele, dezenas de outras
pessoas estão na mesma situação dentro daquele coletivo e em meio ao clima mórbido e
desestimulante ele aproveita para ler algumas páginas de um dos muitos livros da faculdade. O
sono o domina e ele encosta sua cabeça na janela por apenas alguns minutos.

No fim desse dia comum, depois de tantas coisas realizadas esse jovem chega em casa
e agora, já quase às vinte e três horas, dedica as últimas energias do dia para as tarefas do dia
seguinte, atualizar-se nas redes sociais, fazer seu devocional, terminar coisas que não conseguiu
fazer durante o expediente de trabalho que deverão estar sob a mesa do chefe no dia seguinte e
estudar para o tão sonhado concurso público que ele imagina que mudará sua vida. Já é uma hora
da manhã e ele exausto se joga na cama onde dentro de poucas horas será acordado pelo seu
despertador. Sua última atitude daquele dia foi orar pedindo a Deus forças para aguentar um novo
dia.
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Parece assustador, mas essa é a vida “comum” de um jovem de nossos dias. Eu mesmo
já vivi assim e tenho certeza que você ou alguém bem próximo vive essa mesma rotina pesada e
cheia de cobranças. A vida urbana trouxe para a humanidade um peso que tem gerado um novo
tipo de ser: um homem cansado com o dia de hoje, incerto e inseguro sobre o dia de amanhã.
Vivemos com um peso enorme sobre nossas escolhas, ações e futuro. Estamos escravizados por
um sentimento de que só seremos felizes se alcançarmos resultados e conquistarmos as melhores
coisas.

Certamente toda essa pressão trará alguma consequência física e emocional para quem
vive assim. Não conseguirá viver “ileso” a essa guerra alguém que enfrenta tantas demandas com
poucas certezas em sua vida. Nosso corpo não está adaptado para esse novo estilo de vida e toda
essa nova demanda existencial que exige tanto não apenas de nossa saúde física, mas também
emocional.

Ao pensar em ansiedade e sua manifestação precisamos ressaltar que a Ansiedade é um


problema que afeta nosso corpo e nossa alma. Inicialmente, podemos defini-la, como: “um estado de
apreensão intensa, incerteza e medo, resultante da antecipação de um evento ou uma situação
ameaçadora, real ou irreal, numa intensidade tal que interrompe o funcionamento normal das
funções físicas e emocionais.”2

Como um problema que atinge todo nosso ser, a começar pelas emoções a ansiedade
gera medo e insegurança, sensação de apreensão e impotência, medo de morrer e sensação de estar
morrendo, confusão mental momentânea, sentimentos de perigo iminente ou ataques de pânico e
em nosso corpo, a ansiedade se manifesta a partir de sintomas claramente perceptíveis: aumento
do ritmo cardíaco, vertigem, sudorese, náuseas, sensação de fraqueza, respiração acelerada,
tremores, parestesia, dor toráxica, sensação de asfixia e calafrios.

Tanta pressão social e desejo por ser/ter colocam o homem moderno em um ritmo
frenético de preocupação com o amanhã e suas incertezas. Fomos dominados pelo sentimento de
controle das coisas a fim de que elas não se voltem contra nós ou mesmo sejam tiradas de nós.
Queremos ter certezas sobre nossa saúde, finanças, investimentos, felicidade e nosso amanhã. Nos
tornamos extremamente preocupados com o dia de amanhã que nos ocupamos demasiadamente
no dia de hoje e não temos percebido como esse estilo de vida tem nos adoecido como
humanidade.

2
WALLECE, Jocelyn. Ataques de ansiedade e pânico: confiando em Deus quando você tem medo. São José dos
Campos, SP: Ed. Fiel.2018. p. 17.
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O que chamamos de ansiedade pode ser interpretado de várias formas, mas todas elas
têm um denominador comum de sua manifestação e estão ligados à nossa percepção de realidade
sobre o futuro. Podemos afirmar que a ansiedade é o medo do trem da nossa vida descarrilhar e não ter quem nos
ajude a permanecer nos trilhos!

O apóstolo Pedro ao perceber os perigos para uma vida que se sente desamparada
diante de tantos desafios exorta seus leitores a terem uma certeza elementar em seus corações
convertidos ao Senhor. Ele diz em 1Pe 5.7: “lançando sobre ele toda vossa ansiedade, porque ele tem cuidado
de vós.” A ansiedade conforme apresentada pelo apóstolo manifesta-se a partir de um aglomerado
de desejos e expectativas conflitados pelo medo de não os alcançar. Observemos que mesmo em
seu tempo o apóstolo destaca o grande problema da ansiedade. Para que não culpemos os tempos
modernos e suas dinâmicas contemporâneas como a grande causa da ansiedade Pedro mostra que
ela está diretamente ligada ao relacionamento com Deus e o erro de não confiar nele, independente
de tempos ou épocas e basicamente consiste no pecado de não depositar nossas vidas e nossos
medos em suas poderosas mãos.

Em uma sociedade que nos impulsiona a termos mais coisas e sermos sempre “acima
da média” inevitavelmente nos deparamos, cedo ou tarde, com a seguinte pergunta: E seu eu não
conseguir? E se não der certo? E se eu nunca alcançar? O que será de mim no futuro? Perguntas
assim surgem explícita ou implicitamente nas cobranças sociais de uma civilização acelerada e
extremamente exigente. Vivemos atormentados pelo medo de não conseguir, medo de fracassar,
medo de não ter, medo de sofrer por não ter... São tantos medos que a vida se tornou um peso
para muitos ao nosso redor. Ao olhar para os temores dessa vida conseguimos identificar quais
pilares elevaram a ansiedade a níveis patológicos ao redor do mundo e um desses pilares, tão
presente em nosso pensamento é: temos medo de que algo acabe dando errado e nos cause algum
mal!

Imagine por um instante a seguinte situação: Um pai de família com um orçamento


familiar apertado e comprometido teve que arcar recentemente com um caro tratamento médico
para seu filho caçula. Ele trabalha em uma empresa altamente competitiva vivendo um momento
de recessão. A crise no mercado fez com que a diretoria do seu setor começasse a fazer cortes na
folha de funcionários. Em um dia cheio de tarefas exaustivas, seu chefe solicitou logo cedo um
importante relatório para uma reunião com outros diretores que aconteceria no dia seguinte, logo
cedo, em uma cidade não muito distante dali. Diante de tantas demandas, já a caminho de casa,
esse dedicado e preocupado pai de família lembra que esqueceu de enviar o relatório para seu chefe
e que, nesse clima de instabilidade na empresa, uma falha grave como essa poderia lhe custar o
emprego. Diante dessa ideia (a de que o esquecimento de entregar o relatório lhe causará demissão!)
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este jovem senhor pensa nas prestações da casa, na educação dos filhos, nas prestações em aberto
do hospital, alimentação da família, contas de luz, água, remédios... Seu coração dispara, sua vista
escurece por alguns segundos, ele se sente ameaçado, começa a suar frio, seu sono é atrapalhado,
seu corpo reage com dores estomacais e tremedeira, seu apetite e seu humor são automaticamente
alterados. Sua mente começa a transformar o que antes era apenas uma ideia em certeza e cada vez
mais ele se convence de que será demitido. O que ele mais deseja é que o dia amanheça para que
ele tente contornar a situação que lhe trouxe medo de perder o emprego e consequentemente não
ter dinheiro para suprir as necessidades da família e se afundar em dívidas. Isso é a ansiedade
experimentada na prática pelo medo de coisas ruins acontecerem!

A sociedade materialista que tenta a todo instante expulsar Deus de seu coração
redirecionou seus temores para longe do criador e passou a temer fatos, coisas, possibilidades e
outros homens. Antes da queda deveríamos dedicar nosso temor ao Senhor e confiar em seu
governo e provisão, mas com o pecado original, literalmente, nos tornamos adoradores de criaturas
em lugar de adorar ao Criador. Nosso temor nos torna adoradores do que tememos e hoje estamos
vivendo uma sociedade idólatra com um tipo de fé deficiente que, ao invés de gerar tranquilidade
e esperança gera medo e insegurança. Ansiedade é uma forma de idolatria a deuses falsos que não conseguem
cumprir o que prometem.

A alternativa apresentada por Pedro está diretamente ligada a um sólido fundamento


que apenas o cristão possui ao confiar que existe um Deus que cuida daqueles que são seus e jamais
deixará desamparado quem confia em seu governo e controle. Nossas capacidades e forças podem
até nos dar alguma pseudo-segurança ou estabilidade, mas o apóstolo incentiva seus leitores a
colocarem, naquele que é Todo-poderoso e Senhor sobre o Universo, seus anseios e desejos para
que assim estejam descansados. A ansiedade é, portanto, um desejo desesperado por ter segurança sobre o
amanhã.

Não podemos, entretanto, afirmar que o capitalismo seja o grande causador da


ansiedade. Longe disso! Não foi o modo de vida capitalista que trouxe ao homem o desejo de ter
e ser, talvez ele tenha tornado esse desejo algo legitimado por uma sociedade, mas bem antes do
capitalismo já existiam pessoas ansiosas (Jo. 14.27). A questão é bem mais profunda e complexa e
ultrapassa questões de sistemas econômicos ao chegar às raízes do coração, fonte dos desejos e
motivações humanas. No coração e sua forma de encarar a realidade é que a ansiedade começa a
manifestar seu percurso. Ela começa na compreensão de que uma vida totalmente sob controle é
uma vida feliz.

Ao desejar agir por conta própria e tomar suas decisões à parte daquilo que Deus os
havia orientado Adão e Eva inauguraram uma modalidade de viver – a vida pautada na
21

confiabilidade das nossas decisões. Claramente essa modalidade de vida se mostrou falha assim que
fora inaugurada e o capítulo três do livro de Gênesis nos revela isso. Mas ao serem expulsos do
Jardim, a humanidade passou a travar uma dispendiosa luta contra o meio ambiente e suas forças
para sobreviver no agora mundo hostil à sua presença. Cada caçada bem-sucedida, cada colheita e
plantio que devam bons resultados, cada avanço tecnológico e domínio sobre animais e
ecossistemas eram grandes vitórias comemoradas e protegidas com todas as forças.

O homem, agora tendo que suar e viver em fadigas para obter as coisas da terra, lutar
contra espinhos e abrolhos, via sua vida como um embate pela sobrevivência e essa postura trouxe
um elemento novo ao seu coração dominado pelo pecado: Controlar as coisas os trazia felicidade.
Ter sempre água potável por perto, uma fogueira acesa para cozinhar os alimentos, aquecer do frio
e iluminar durante a noite escura, abrigos resistentes às intempéries do ambiente amaldiçoado com
extremos climáticos, reservas alimentares e armas eficazes para sua defesa foram as primeiras
medidas para tentar controlar tudo ao seu redor e desde então, o homem tem o mesmo
comportamento e a mesma necessidade de ter tudo sob seu controle para viver uma vida “feliz”.

O medo de circunstâncias que podem pôr à prova nosso controle e esforço geram um
desconforto profundo em nosso coração que não mais confia no governo de Deus e se manifesta
em nossas emoções, atitudes e pensamentos e quando tais medos se transformam em ansiedade
estamos inconscientemente declarando que Deus não é bom ou forte o suficiente para cuidar de
nossas demandas afim de nos livrar de algo ruim que possa nos acontecer. Queremos ter a certeza
de que vencemos as demandas e estamos com o controle de tudo que acontece ao nosso redor.
Uma vez lançados para fora do jardim queremos fazer do mundo o nosso jardim.

O problema dessa postura do coração é que faz de nós seres humanos iludidos sobre
nosso senhorio das coisas ao nosso redor. Vivemos buscando controlar coisas e pessoas, não mais
com o propósito de cumprir o mandato cultural de Deus, mas como uma tentativa tirânica de
tornar “célebre nosso nome acima de toda a criação”. Tentamos dominar a força dos rios, mares e
ventos, o clima e o meio ambiente, nos dedicamos a entender e controlar a vida aqui na terra e no
espaço, acima e abaixo do mar. Gastamos cifras estratosféricas na busca pela vida longa e pelo fim
das doenças. Mergulhamos na mente humana para entender seus mistérios e poder guia-la à nosso
comando. Esse tipo de postura, ao longo dos séculos, tem gerado na humanidade um desejo pueril
de ter tudo sob seu domínio. E estamos agora provando o resultado dessa vontade pecaminosa de
controle. Percebemos então que a Ansiedade é fruto de um coração orgulhoso que se acha autossuficiente e que
quer ter tudo sob seu domínio.

Outra consideração importante quando falamos sobre ansiedade é a sua relação com
a escassez. A ansiedade é o desejo de ter tudo e não sentir falta de nada. Ao longo de uma trajetória histórica
22

de acumulação de coisas e da sensação de segurança por aquilo que possuímos, a humanidade


passou a depositar sua felicidade na ausência de privações ou na tranquilidade da bonança.

Somos incentivados a sempre termos tudo o que precisamos, nos protegermos com a
segurança de coisas adquiridas e temos visto as dificuldades e tribulações dessa vida como algo
contrário à nossa felicidade. Levamos isso a patamares tão elevados que movimentos teológicos
contemporâneos conseguem relacionar a vida com Deus com uma vida de prosperidade. Ser feliz
é estar com Deus e estar com Deus é você ter tudo o que deseja, determina e exige, dizem eles!

A vida moderna nos bombardeia com a constante mensagem que adquirir o máximo
de coisas trazem um retorno à uma vida edêmica. Quantos de nós não já ouvimos alguém afirmar
que queria ter isso ou aquilo a mais em sua vida para poder ser mais feliz. Uma casa mais bonita,
um carro mais moderno, um celular mais atual, um corpo melhor, uma família diferente, um salário
diferenciado ... são inúmeras as queixas que nossa sociedade faz sobre o motivo de sua infelicidade
e gastamos mais tempo olhando para as coisas que não temos do que apreciando e agradecendo
pelo que temos alcançado.

O desejo de ter tudo faz com que pessoas façam de tudo para realizar seus desejos.
Sacrificamos tempo com a família para trabalhar mais no intuito de dar um futuro melhor para a
família que não temo tido como desfrutar da presença agora. Ter tudo e não sentir falta de nada
traz para nosso coração a sensação de não depender de ninguém, traz a certeza de que tudo que eu
preciso eu mesmo posso conquistar e que tudo que eu preciso eu sou capaz de ter. Temos
modelado nossa geração a não mais depender de Deus e de sua graça misericordiosa e temos medo
de que alguma coisa nos falte e atrapalhe a nossa felicidade. Não acreditamos mais que o Senhor é
o bom pastor que não nos deixa faltar nada e por isso estamos adoecendo. Ter medo das coisas
que não temos com medo de sem elas sermos infelizes é uma das grandes causas de uma geração
ansiosa. Vivemos intensamente para ter com o medo de não conseguir. Isso é ansiedade como
visão de mundo.

Diante do exposto, nós pastores, líderes e conselheiros temos em mãos o grande


desafio de compreender as múltiplas manifestações da ansiedade, afinal de contas, crentes também
tem sofrido seus ataques e é cada vez maior o número de casos de cristãos sucumbindo a esse
grande mal. Nossas igrejas são compostas por seres humanos imersos em uma cultura que tenta os
devorar com todas as pressões acima citadas. Nossos adolescentes e jovens são pressionados na
escola, família e amigos, nossos pais e mães vivem o dinamismo dessa sociedade reinterpretada e
temem não acompanharem esse ritmo frenético. Nossos idosos lutam para não caírem no
ostracismo e não conseguem mais acompanhar o mundo ao seu redor. Vivemos no mundo e
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devemos ser sal e luz no meio dele. Saber lidar com pessoas que sofrem com ansiedade nos ajudará
a pastorear com mais eficiência o rebanho de Cristo confiado a nós.

Os capítulos seguintes são percepções pastorais sobre ansiedade e como podemos


biblicamente ajudar os que sofrem.
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Capítulo 2

QUANDO MINHAS EXPECTATIVAS SÃO


DIFERENTES DA REALIDADE

Ansiedade é o resultado da expectativa versus a realidade potencializada pela cobrança


que está sendo feita para alcançar o resultado.

Como dito anteriormente, o modo de vida de grande parte da população mundial está
ligado a uma atitude de busca por tranquilidade, sossego, estabilidade e segurança no futuro. Temos
vivido em prol do amanhã e essa forma de viver tem criado imensas expectativas sobre nosso
futuro. Desde cedo somos ensinados a pensar no amanhã e fazer escolhas e decisões que nos gerem
algum benefício num futuro próximo ou distante. A forma como administramos nossas finanças,
o curso que escolheremos na faculdade, as amizades que construiremos ao longo da vida, a quem
nós daremos nosso coração em relacionamento... Isso é errado? De forma nenhuma! A grande
questão é que alguns, no desejo por um futuro melhor criam expectativas irreais ou pecaminosas
em relação ao amanhã e passam a não desfrutar ou viver com contentamento a realidade do hoje.

Por expectativas irreais quero dizer aquelas projeções de futuro que tem ares
messiânicos para nós. Por exemplo, um jovem morador de uma comunidade periférica que vive
em um lar com poucos recursos e com algumas dificuldades e gera em seu coração uma expectativa
de que sua vida só será melhor ou mais feliz quando ele conseguir um bom emprego, uma boa
casa, muito dinheiro e estabilidade. Ao projetar toda sua felicidade e resolução de problemas em
uma expectativa que, embora solucione alguns de seus problemas, não seja a “maior” solução de
seus desconfortos, esse jovem passa a viver em uma busca desmedida para alcançar seu objetivo.
Nada é mais importante para ele do que alcançar o que o seu coração deseja. Seu combustível será
suprir as expectativas de uma vida feliz que ele projetou em seu coração. A questão é que uma vez
achando que sua expectativa mudará a sua vida de uma forma completa e total esse jovem
desconsidera que o maior dos problemas de nossa vida não está reduzido à falta de dinheiro ou
coisas afins. Ao viver com o foco em uma expectativa irreal aquele jovem passa a desprezar a
realidade e não a aceita-la como vontade de Deus para sua vida e, progressivamente, não se dá
conta que seu parâmetro de felicidade é aquilo que o mundo o apresenta como sendo uma vida
feliz. O desejo por desfrutar de uma vida “no padrão dos comerciais de creme dental” o fazem
sonhar com um futuro que pode nunca ser alcançado e por conta disso serem o motivo de sua
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constante insatisfação, infelicidade e uma vida de ansiedade. Em outras palavras, esse jovem, como
tantos outros, viverá uma vida com seu coração ancorado em um lugar errado e por isso Jesus nos
adverte sobre depositar nossas expectativas em tesouros que podem realmente ter um valor eterno
em Mt 6.21 – “porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”

Por expectativas pecaminosas quero discorrer sobre aqueles desejos em nosso coração
que se tornam ídolos de satisfação em nossa agenda de vida e que enquanto não alcançados nãos
nos permitem ver graça e beleza divina em nosso cotidiano. Imagine uma jovem que é
extremamente descontente com o tamanho e o formato do seu nariz (em uma sociedade imagética
e hedonista, uma insatisfação como essa pode ser o trampolim para muitas insatisfações e
problemas emocionais).

Tal jovem, apesar de ser uma excelente filha, aluna, cristã e amiga não consegue se
olhar no espelho e não criticar a si mesma por conta do seu nariz. À medida que o tempo passa,
ela se torna cada vez mais decidida que uma cirurgia de rinoplastia resolverá seus problemas e que
com um novo nariz ela terá paz interior e será melhor aceita nas redes sociais e se tornará mais
popular e desejada. Detalhe importante é que não há problemas na decisão por cirurgias estéticas
que oferecem uma qualidade de vida melhor para quem as busca. Por exemplo, correção de lábios
leporinos, cicatrizes de acidentes, correções de mama e retirada de excesso de pele após severa
perda de peso, etc. A questão aqui mensurada habita no desejo do coração pelo que a cirurgia vai
oferecer.

Suas expectativas se tornam uma obsessão e ela passa a viver projetando na cirurgia
remodeladora um altar para sua felicidade. Sua aparência futura se torna seu ídolo e sua fonte de
alegria e a faz não ser satisfeita ou aceitar como Deus a criou e não consegue ver quantas outras
qualidades ela possui que superam o tamanho ou formato do seu nariz. Seu coração corre o sério
risco de achar que Deus não a fez de um modo “perfeito” e que agora, por conta desse descuido
divino ela tem que arcar com as penosas consequências de uma realidade dolorida diante do espelho
ou das fotos de um rosto que não a traz alegrias. Seu coração começa a ver uma possibilidade de
com o auxílio da medicina reparar o defeito de Deus e alcançar a satisfação de uma imagem perfeita.
Ela não é feliz agora porque não consegue viver a realidade pelas lentes da vontade e dos
ensinamentos divinos em sua vida. Está tão decidida a ser feliz somente quando suas expectativas
físicas forem alcançadas que não desfruta do cuidado, zelo e amor divino por ela hoje, assim como
ela é.

Essa jovem, assim como tantas outras em diferentes expectativas pecaminosas, vive
pelas cobranças estéticas e a expectativa de atender as demandas de seu coração. Seu olhar está
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direcionado para um horizonte perdido e certamente não aprendeu com as palavras escritas em
1Sm 16.7 – “porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração.”

O que os dois casos tem em comum que podem nos apontar para o comportamento
ansioso da nossa geração? Eles são cobrados interna e externamente de forma intensa para viverem
de acordo com as demandas impostas pela sociedade para serem felizes, belos, socialmente aceitos,
virtualmente influenciadores, bem-sucedidos e tranquilos. Esses e outros casos semelhantes de
expectativas redentivas versus uma realidade frustrante tem gerado corações cada vez mais ansiosos
pelo dia de amanhã que livrarão nossos corpos e nossas emoções das dores do dia de hoje. Os
padrões cada vez mais distantes de Deus e seu cuidado tem proporcionado a toda uma geração as
dores da insatisfação e da inquietude da alma.

Na condição de conselheiro bíblicos, líderes e pastores devemos perceber com clareza


nas pessoas que nos rodeiam e sofrem em algum nível com transtornos de ansiedade o grau de
insatisfação com a realidade que vivem, quer física, emocional ou socialmente e destacar como elas
não conseguem perceber que a realidade que vivem, por mais diferente que seja da expectativa do
seu coração é uma dádiva divina e uma forma de aprendizado para comunhão e santificação. Pedro,
levando uma mensagem de consolo sobre a realidade e seus aprendizados para seus discípulos
escreveu: “visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade,
pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude.” (2Pe 1.3).

Toda realidade, deve ser vivida como uma oportunidade de crescimento e louvor a
Deus e isso o sujeito ansioso deve aprender cotidianamente. Ele acha que sua realidade é um fardo
ou motivo de sua tristeza porque não aprendeu a olhar para sua vida como uma dádiva e uma
oportunidade de glorificar a Deus em todas as coisas. Ao pastorear pessoas ansiosas devemos
apresenta-las a um Deus que nos permite viver graça sobre graça mesmo em momentos de extrema
dificuldade porque Ele é um Deus que nos salvou e nos livrou de uma condenação eterna que era
certa sobre nós. Ao desprezar a realidade como uma forma de Deus nos ensinar sobre sua glória,
nossa total dependência dele, nosso destino final e sua promessa de redenção em Cristo a pessoa
com ansiedade não consegue desfrutar da segurança da salvação e amor de Deus. Alguém certa vez
já disse: Deus nos permite sofrer aqui para desejarmos estar mais perto dEle no céu! Se a realidade
é adversa, ela nos ensina sobre confiar nos propósitos eternos de Deus e a certeza de que todas as
coisas estão debaixo de sua vontade e poder.

A pobreza, um defeito genético, doenças de diagnósticos desfavoráveis, uma situação


social ou familiar vulnerável não devem ser motivos de murmuração ou ofensas a Deus, mas
certamente ricas oportunidades, mesmo que dolorosas em muitos aspectos, para demonstrarmos
onde nosso coração repousa.
27

Como parte da ajuda devemos também perceber o peso das demandas e desejos que
o coração exerce sobre a pessoa que sofre com ansiedade e como a pessoa tem internalizado tudo
isso. Viver para responder a tão insaciáveis desejos como as que nossa geração tem vivido em várias
áreas de suas vidas inevitavelmente levarão a um momento de exaustão física ou emocional. Diante
dessas cobranças nos vemos obrigados a apresentar respostas favoráveis e significativas e o preço
a ser pago por isso às vezes é alto e caro demais. Ajudar nossos aconselhados que sofrem com
ansiedade a saberem administrar entre verdadeiras e falsas, válidas ou inválidas, coerentes ou
incoerentes, boas ou más, certas ou erradas os anseios que permeiam seus pensamentos os ajudarão
a viver a vida olhando para o horizonte correto e não apenas preocupado em responder a essas
demandas que em sua maioria são inacessíveis e inalcançáveis para a maioria de nós. Ter o coração
focado em realizar coisas corretas e que contribuirão para o nosso bem-estar deve ser uma
prioridade para o cristão que entende que sua existência deve ser vivida para a glória de Deus.
Como está escrito em Gl 1.10: “Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou de Deus? Ou procuro
agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.”
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Capítulo 3

QUANDO O FUTURO ME CAUSA MEDO

A ansiedade é fruto do medo do futuro geralmente manifesto pelas frustações do


presente.

Alguma vez você já se deparou com consecutivos erros que parecia que nada mais iria
dar certo em sua vida? Alguma vez você já insistiu em algum projeto cujos resultados foram tão
insatisfatórios que lhe desanimaram em continuar? Já se sentiu tão para baixo com resultados
insatisfatórios que não conseguia contemplar outra alternativa de sucesso?

Essas perguntas podem exemplificar o que pessoas ansiosas, que temem o futuro,
pensam diante de frustrações que vivem no presente. Os fracassos, ou melhor, os resultados
diferentes do imaginado tendem a nos fazer temer o que será de nós se aquilo em que estamos
investindo tanto esforço e atenção não der certo, ou fugir do que planejamos.

Um exemplo disso pode ser observado quando tais frustrações se dão na esfera das
emoções e relacionamentos. Uma pessoa que teve muitas desilusões sentimentais ao longo da
juventude, onde seus parceiros só a machucaram com mentiras e traições, pode imaginar que
futuros relacionamentos só trarão mais dor e sofrimento e, portanto, teme jamais encontrar um
amor verdadeiro e acabe sofrendo com a solidão. Outro exemplo é de alguém que por conta de
uma quebra de confiança em uma amizade sólida que acabou trazendo muita dor e sofrimento faça
com que ela tema não conseguir confiar mais em outras pessoas e ser alguém isolado socialmente.
Frustrações em nossa história nos fazem temer o futuro.

Em outra perspectiva, a visão de futuro de alguns pode ser marcada pelo pessimismo
e pelo medo dos males que podem ocorrer. Desvalorização monetária, mudanças de governo,
alterações climáticas, altos índices de desemprego, dentre tantas outras coisas podem perturbar a
paz e a tranquilidade daqueles que depositam em tais coisas o seu futuro. Quando pensamos no
futuro somos levados a pensar em uma infinita gama de possibilidades e tememos que essa
magnitude possa nos afetar de forma negativa. Tememos o amanhã e isso nos faz ficar ansiosos
para saber como ele será!
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Um sujeito ansioso, que tem medo do futuro, geralmente se deu conta de sua
insignificância em relação à tantas coisas que podem sair do seu controle e como boa parte de sua
felicidade não depende simplesmente de sua boa vontade ou de seus esforços.

Deixe-me compartilhar uma lembrança: Certa vez atendi em meu gabinete um jovem
recém-casado. Ele e sua esposa decidiram se unir em matrimônio por entenderem que já haviam
alcançado maturidade para tal decisão. Com o orçamento apertado e um salário justíssimo para
arcar com as contas do mês aquele casal conseguiu alugar um pequeno apartamento e comprar
uma mobília discreta. A vida a dois não era fácil, não havia dinheiro sobrando para viagens de fim
de ano ou presentes caros e luxuosos, mas mesmo assim tudo parecia estar sob controle. Os dois
estavam felizes, viviam a realidade do início de uma vida a dois, os empregos estavam garantidos e
a rotina estava amena e leve. Um dia, tudo pareceu mudar. A notícia da primeira gravidez, que não
foi programada pelo casal, ao invés de trazer alegria e felicidade trouxe àquele jovem o oposto
disso. Diante da notícia ele imediatamente pensou em todas as dificuldades que teriam que
enfrentar com a chegada de um filho. Ele pensou no seu baixo salário, no orçamento mensal
apertado, no preço da mobília do quarto de um bebê, nas fraldas, leite, cuidados médicos, parto, o
que aconteceria se ele fosse demitido ou houvesse alguma complicação durante a gestação e toda
essa enxurrada de preocupações futuras o levaram a um ataque de ansiedade.

As frustrações de hoje (a realidade de viver uma vida “apertada” não tendo tanta folga
no orçamento familiar como imaginava e o peso das despesas mensais cada vez mais crescentes)
fazem ele ter medo do futuro (não conseguir sustentar sua família de forma digna).

Ao recebe-lo em meu gabinete e ao longo das sessões de aconselhamento detectei que


a fonte de toda aquela ansiedade estava ligada ao medo do que o futuro lhe reservava e da
possibilidade de não conseguir suprir todas as demandas que surgiriam com a chegada do bebê.
Percebemos juntos que a notícia da gravidez de sua esposa o pegou desprevenido e não fazia parte
do seu “planejamento” de uma vida feliz naquele momento. Quando aquele jovem percebeu sua
insignificância quanto a questões futuras e a frágil tentativa de viver uma vida “planejada” a
ansiedade foi a resposta imediata em seu corpo e emoções.

Durante os aconselhamentos olhamos juntos para o que a Bíblia dizia sobre esse
assunto e aquele jovem descobriu verdades tremendas. Seu medo do futuro era proporcional à sua
falta de compreensão sobre quem era Deus e o que Ele podia fazer. Seus temores estavam baseados
na frágil imaginação de que as coisas certamente iriam dar errado e tomariam o rumo mais pesado
possível, e por fim, sua ansiedade estava conjugada com a incorreta visão de mundo de que ele e
seus esforços é que garantiriam um futuro brilhante para sua família.
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Quando começamos a perceber quem Deus realmente é e o que Ele pode fazer a favor
dos seus eleitos então descobrimos a doutrina do cuidado paternal de Deus e seu pastoreio com
suas ovelhas aquele jovem começou a ter outra visão do futuro. Ele não mais temia o que estava
por vir porque agora conheceu um Deus que tem tudo sob seu controle e que através do apóstolo
Paulo nos garante que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito. (Rm 8.28).

Aquele jovem aprendeu que mesmo não planejado por eles dois, a criança que agora
era gerada no ventre de sua jovem esposa fora planejada por Deus e que o Autor da Vida sabia
exatamente o que estava fazendo na vida daquele casal. Tudo que eles viveriam dali para a frente
certamente não seria surpresa para Deus, ao contrário disso, por ele ser um bom pastor ele cuidaria
de todos os detalhes para que aquele casal desfrutasse da bênção da paternidade sob o cuidado
divino. Ao terminarmos nosso programa de aconselhamento aquele jovem deixou de temer o
futuro e passou a confiar mais na providência e cuidado divino. Hoje ele, esposa e filho vivem uma
vida simples e feliz.

Como conselheiros devemos perceber a maneira como nosso aconselhado que sofre
com ansiedade projeta o futuro e o que ele deseja alcançar ou fugir. Uma grande contribuição na
cura para a ansiedade que podemos oferecer ao nossos aconselhados é ensina-lo a confiar no Deus
revelado nas Escrituras que se mostra perfeitamente grandioso, mas que ao mesmo tempo se
importa com nossos medos e anseios. Ao apresentar a grandiosa majestade divina e como Ele cuida
de forma pessoal e íntima de cada um de seus filhos descortinamos àqueles que sofrem de ansiedade
por medo do futuro uma forma de viver o hoje que os permitam estarem seguros em Cristo para
o amanhã. A ansiedade é vencida pela segurança do cuidado divino.

Precisamos também ressaltar que essa confiança não implicará que coisas ruins ou
momentos difíceis não possam acontecer em seu futuro. Confiar em Deus não é sinônimo de uma
vida sem sofrimento. O próprio Cristo foi chamado de homem de dores (Is 53.3) e sofreu em
nosso favor, entretanto, confiar em Deus nos fará acreditar que mesmo nos momentos difíceis
Deus está ao nosso lado realizando tudo como lhe apraz e nos permitindo praticar a confiança em
seu grandioso poder.

Outra importante contribuição que nós como pastores e conselheiros podemos


oferecer aos nossos aconselhados está na profunda aplicação de textos bíblicos sobre o assunto.
Tais versículos, de forma bem direta, podem ensinar sobre a relação daquele que ama ao Senhor e
o futuro. “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor. Confia no
Senhor as tuas obras, e os teus desígnios serão estabelecidos” e “o coração do homem traça o seu caminho, mas o
Senhor lhe dirige os passos. (Pv 16.1,3 e 9)”
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O sábio entende o desejo humano de traçar planos, expectativas, metas e trajetórias


para a vida e também compreende o correto lugar onde essas coisas devem estar quando
apresentadas diante do Senhor.

A relação parece ser bem direta e simples. Podemos fazer nossos planos, sonhar com
nosso futuro ou construir expectativas para uma vida tranquila, mas devemos sempre ter em mente
quem é aquele que conhece a eternidade e vive além do traço temporal e que é soberano em sua
vontade e decretos eternos. Foi Ele mesmo quem disse: “desde o princípio anuncio o que há de acontecer
e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam, que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a
minha vontade.” (Is. 46.10). Esclarecer a doutrina da soberania divina ajudará nosso aconselhado a
não temer o futuro, mas sim, amar ao Senhor e descansar nEle!

Ao depositar em Deus a resposta final para os meus planos estou dando a Ele a
condição de pastorear meu coração para não sofrer investindo tempo e esforço naquilo que
certamente não será bom para mim futuramente, embora eu hoje (pela limitação da minha mente
e consciência de futuro) ache que valerá a pena. Ao confiar a Deus minhas escolhas e desejos ele
certamente fará tudo para Sua glória e eu serei totalmente beneficiado em saber que minha vida
futura será um palco de manifestação da graça divina e por fim, deixar que Deus modele meu
caminho de acordo com a Sua Palavra me permitirá encarar o futuro sem medo ou insegurança,
pois o pavimento da Escritura será o caminho que irei andar. Deus dirigindo meus passos me dará
tranquilidade por saber aonde Ele irá me levar - Uma vida para sua glória!
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Capítulo 4

QUANDO MINHA VIDA NÃO ME SATISFAZ

A ansiedade é a manifestação de uma inquietação com a vida atual.

Certamente poucos de nós vivemos a vida de nossos sonhos. Pare e pense um pouco:
Se você tivesse a oportunidade de desenhar uma vida ideal para você e para as pessoas que você
ama palavras como decepções, dores, tristeza, privações, choro talvez não fariam parte de sua obra
de arte.

A dura realidade é que nossa vida nem sempre é como nós imaginamos ou desejamos.
Temos que lidar com uma gama quase que infinita de coisas que colocam em xeque a nossa noção
de uma vida feliz e perfeita. Somos confrontados diariamente por possibilidades que frustram
algumas de nossas expectativas sobre viver feliz o dia de hoje.

Desde o momento que acordamos temos diante de nós o desafio de fazermos escolhas,
das mais comuns às mais complexas, que definirão como chegaremos ao fim de mais um dia. Tudo
o que pensamos, agimos, escolhemos, nos levarão a uma definição de satisfação com a nossa vida
e consequentemente a um status de felicidade. Se fizermos escolhas erradas, certamente
assumiremos as penalidades, mas se fizermos escolhas corretas, receberemos os louros do nosso
sucesso.

Embora nossa vida não seja definida e vivida apenas por decisões momentâneas
precisamos pensar nesta importante relação do homem moderno com a satisfação de sua vida
comum. Precisamos urgentemente refletir sobre o grau de felicidade que as pessoas, ou nós
mesmos sentimos, pautados no nosso cotidiano e no teor de nossas escolhas comuns.

Ao pensar nessa relação podemos caminhar por uma argumentação esclarecedora: A


ansiedade é sinônimo do descontentamento com as coisas da vida.

Na carta de Paulo aos filipenses há uma importante reflexão sobre o contentamento


com a vida e como isso nos livra de uma vida ansiosa. Em Fp 4.11-13 temos o relato paulino sobre
como ele “aprendeu” a viver satisfeito com sua vida independente do momento em que ele
estivesse vivendo.

Talvez eu precise lembrar a você quem foi o apóstolo Paulo e toda a sua saga que
começa como um perseguidor do evangelho que vivia sob as regalias da religiosidade judaica e
33

gozando da paz oferecida aos cidadãos romanos e que, por conta de um encontro com o Senhor,
passa a viver uma vida de privações, perseguições, abandonos e lutas. Paulo, mais do eu ou você,
sentiu na pele as dores de seguir a Cristo (física e emocionalmente). Apedrejamentos,
espancamentos públicos, naufrágio, encarceramentos injustos e no fim da vida abandonado pela
maioria de seus amigos, o apóstolo teve uma vida que para muitos hoje em dia seria uma vida de
sofrimento e dor, e tudo isso pela simples escolha de seguir a Cristo.

Entretanto, mesmo diante destas circunstâncias, o apóstolo diz ter aprendido o


“segredo” para não fazer destas coisas motivos de inquietação ou insatisfação de sua vida atual. Ele
diz assim:
Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer
situação. Tanto sei estar humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas as
circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância
como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.

Qual poderia ter sido esse segredo? Como o apóstolo, mesmo estando preso enquanto
escrevia essa carta a seus irmãos na cidade de Filipos pôde dizer que estava feliz e satisfeito com as
coisas em sua vida?

A primeira grande lição de aprendizado de Paulo está no fato de que o cristão não deve
buscar satisfação na vida da mesma forma como o mundo busca satisfação. O mundo ensina que
uma vida feliz é uma vida sem situações adversas ou dificuldades na caminhada, entretanto a Bíblia
nos ensina que o modo cristão de satisfação está no fato de que mesmo diante de extremas
dificuldades devemos ter um espírito de contentamento e satisfação. O salmista nos diz em Sl
119.71: “Foi me bom ter passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos.” Mesmo diante da aflição
momentânea a vitória sobre a ansiedade está no fato de vermos além das nuvens de tempestade
um Deus que está conduzindo com um propósito soberanamente definido tudo o que acontece ao
meu redor.

Uma segunda importante lição está no fato de que o mundo diz que nossa felicidade
está em conseguir tudo o que desejamos e assim termos a vida perfeita aqui, enquanto que nas
Escrituras somos incentivados a sermos satisfeitos e contentes com a salvação que vem de Deus e
nossa certeza do céu. O anseio por ter tudo para ser feliz hoje gera pessoas inquietas com o que
possuem, pois pensam que felicidade é algo apenas para essa vida. A Bíblia, por outro lado, amplia
nossa percepção de felicidade para o conceito de eternidade e para uma conquista longe das
intempéries desta existência. Pedro lembra seus leitores dessa realidade em sua carta. Ele diz:
34

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que segundo a sua muita
misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo
dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para
vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para
revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se
necessário, sejais contristados por várias provações. (1Pe 1. 3-6).

O que Pedro nos ensina é que enquanto nossos olhos estiverem focando apenas a
satisfação em uma vida aqui, com coisas terrenas e temporárias, por melhores que sejam, elas
sempre nos trarão inquietação e algum grau de insatisfação. Isso tudo porque o melhor que esse
mundo pode nos oferecer nunca estará repleto de totalidade ou plenitude como aquilo que Deus
planejou para seus eleitos. Pedro ensina aqueles irmãos a olharem para a vida em um contexto mais
amplo, superior, em forma de eternidade e assim serem satisfeitos com o que enfrentavam naquela
circunstância que os deixavam tristes e abatidos. Para os apóstolos, mesmo escrevendo para
diferentes públicos, o segredo para vencer a ansiedade pautada na inquietação com a vida atual é
olhar para o horizonte correto – a eternidade e o que Deus preparou para nós.

Voltando para o texto de filipenses Paulo nos diz ter aprendido o segredo para viver
satisfeito em toda e qualquer situação. Aqui está a terceira grande lição para nós.

Paulo aprendeu, com a experiência no Senhor, que as aflições são também


instrumentos nas mãos do Senhor para nos santificar, nos fortalecer e nos levar para mais próximos
dEle. Nas adversidades temos ricas oportunidades de recorrer ao Senhor e provar do seu cuidado,
isso nos torna mais santos!

Na filosofia de vida mundana circunstâncias ruins servem como palco para


murmurações, blasfêmias, descontentamento e pecados. O mundo criou uma imagem antibíblica
que o sofrimento é a prova de que Deus não existe, não se importa conosco e isso é o oposto do
que as Escrituras nos ensinam. Em meio ao sofrimento causado por um mundo caído, Deus nos
agracia com seu amor, bálsamo, proteção, cuidado e presença consoladora e nessas circunstâncias
nos convida a descansar em seus fortes e amorosos braços. Para vencer a ansiedade como
consequência de uma inquietação com a vida atual, nós conselheiros devemos ensinar nossos
aconselhados a desfrutarem da providência e cuidado divino em cada situação que vivem, mesmo
quando sua vida não é como o imaginado. Devemos reforçar que não somos senhores de nossas
vidas e que não temos o controle sobre o que iremos enfrentar no cotidiano, mas podemos olhar
para o horizonte correto com as lentes do Evangelho e descansar e glorificar a Deus com uma vida
de contentamento.
35

Uma quarta e última grande lição é apresentada pelo apóstolo Paulo: “tudo posso naquele
que me fortalece.” (Fp 4.13).

Como temos visto, uma das causas da ansiedade relacionada à insatisfação com a vida
atual está no fato de achar que as coisas do cotidiano que acontecem prejudicando minha felicidade
são uma prova cabal que cada pessoa deste mundo está jogada à sua própria sorte. Paulo,
discordaria dessa forma de encarar a realidade e mais uma vez parece apresentar seu segredo em
forma de uma afirmativa: Ele sabe quem o fortalece!

Posso afirmar, sem medo de estar equivocado que a ansiedade é uma questão teológica. Uma
questão que envolve a doutrina de Deus e seus atributos.

Ao saber quem Deus é e o que Ele faz por aqueles que estão debaixo de sua aliança de
amor nos darão descanso em nossa alma. Conhecer os atributos de onipotência, santidade, cuidado,
onipresença, fidelidade entre outros tantos, fazem com que os cristãos sintam na prática o quanto
somos agraciados por teu um Deus nessa magnitude cuidando de cada detalhe de nossas vidas.
Lucas 12.7 nos dá uma dimensão mais ampla de tamanho poder e gracioso cuidado. Se Deus tem
controle até mesmos dos nossos fios de cabelo certamente tudo que acontece ao nosso redor,
coisas que nos afligem ou nos alegram, passam pelo seu conhecimento e vontade para nossa vida.

Paulo tinha essa certeza e esse era seu grande segredo. Ele sabia que Deus estava do
seu lado e ele sabiam quem era Deus! Tal certeza o permitia ver sua vida e todos os desdobramentos
por uma ótica que não o deixava ansioso, mas descansado no Senhor. Se ele estava enfrentando
tudo aquilo era porque Deus tinha um propósito e Ele mesmo seria seu sustento e provisão em
todos os momentos. Que segurança maravilhosa!

Conselheiros interessados em ajudar pessoas insatisfeitas com seu cotidiano devem


investigar que pontos do hoje não são satisfatórios na vida do seu aconselhado e como suas vidas
giram em torno de uma interpretação errada sobre esses aspectos em suas vidas. Devem perceber
quanta importância o aconselhado dá àquilo que o deixa insatisfeito e não consegue ver todo o
restante. Tendemos a nos fixar em nossos problemas e não mais ir além deles e isso nos torna cada
vez mais ansiosos e mais insatisfeitos. Tais conselheiros devem pautar sua ajuda em demonstrar
que a forma de viver feliz e satisfeita não deve ser aquela que o mundo apresenta, sem problemas,
dificuldade ou escassez, mas reorientar a cosmovisão para perceber os parâmetros bíblicos de uma
vida de contentamento pautada na beleza da eternidade e na segurança de quem é o Deus a quem
o aconselhado serve. A insatisfação e consequentemente a ansiedade só deixarão de existir quando
o foco do olhar e do coração forem redirecionados para a Escritura e para o criador de todas as
coisas.
36

Capítulo 5

QUANDO ME SINTO DESPROTEGIDO

A ansiedade é uma sensação de desproteção.

Nem sempre fui um pastor vivendo integralmente do ministério. Na verdade, durante


a maior parte da minha vida pastoral tive que trabalhar para ter sustento. Apenas há pouco tempo,
dada a demanda ministerial, tive que optar e abandonar minha vida profissional.

Como autônomo tinha uma série de compromissos que dependiam exclusivamente da


minha produtividade. Aluguel da loja, despesas com fornecedores, materiais de trabalho,
funcionários, além das coisas de casa, escola dos filhos, plano de saúde, prestações diversas, comida,
passeios, a lista era imensa. Minha filha mais velha, Alice, em tom de brincadeira me chamava de
“Senhor Boletos”.

Trabalhando no comércio, como microempreendedor, estabilidade era um conceito


distante. Eu vivia a mercê dos clientes, quando havia muitos deles a agenda era cheia e os
rendimentos mensais satisfatórios, mas quando não havia procura, as contas não fechavam, faltava
dinheiro, sobravam cobranças, juros, negociações, etc. Uma vida assim leva muitos a um estado
constante de preocupação. O que será de mim amanhã? Até quando terei forças para lutar? E se
alguma coisa me acontecer e eu não puder mais produzir? São perguntas que constantemente batem
à mente. Não ter respostas ou pensar demasiadamente nelas levarão certamente à ansiedade.

A noção de viver por conta própria, sendo senhor sobre seu destino pode, em algum
momento da história, ter parecido uma boa ideia para a humanidade, mas fez o homem provar da
amarga sensação de desamparo, incerteza e desproteção sobre sua vida.

Sem sombra de dúvidas é pesado viver sem ter aquela gostosa sensação de estar
protegido por alguém poderoso o bastante que me permita descansar sob seus cuidados. Vejo isso
manifesto em meu lar, meus filhos e minha esposa relatam sempre que viajo que as noites não são
bem dormidas sem a presença do pai, marido e chefe do lar. Eles se sentem protegidos com minha
presença.

Pensando nessa relação de proteção e descanso foi que Davi escreveu o famoso Salmo
23. Davi sabia que era um pastor dedicado que dava tudo o que ele podia dar para o bem estar de
suas ovelhas. Entretanto, haviam circunstâncias que iam além das forças de Davi. Uma enchente
37

de grandes proporções, uma estação seca prolongada, uma peste disseminada no meio do rebanho.
Tais coisas iam além dos poderes do jovem Davi e ao olhar para sua vida e sua relação com Deus
ele aplicou o mesmo princípio e concluiu: “O Senhor Todo-Poderoso é quem cuida de mim, Ele não deixará
que falte nada do que preciso para viver.” (Sl 23.1). Davi sabia que Deus sendo o Adonai todas as coisas
estavam debaixo de seu poder e que nenhuma intempérie seria grande demais para deixar Deus
sem ação, como algumas intempéries fugiam do controle de Davi. Ele sabia que poderia descansar
nos pastos que o Senhor o conduzia porque Deus era o bom pastor. Como disse certa vez J.C.
Ryle: “o homem que pode dizer com ousadia: O Senhor é o meu pastor também é aquele que será
capaz de acrescentar: Nada me faltará.”3

A cultura moderna e seu discurso de que Deus está morto ou distante acabou
acentuando no coração do homem a atitude pecaminosa de independência de pastoreio que vem
do Senhor. A humanidade não se sente mais protegida dos perigos do caminho, dos mercenários
e das feras descritas em Jo 10. 1-18. Estamos lançados à própria sorte e responsáveis por nosso
sucesso, sozinhos em meio à grande selva que é nossa vida. Um jeito muito triste de viver!

Dois relatos nos evangelhos apresentam um pouco mais desse modo de viver e seus
malefícios às nossas emoções. Os dois descritos por Lucas e ambos mostram características
importantes ligadas a ansiedade potencializadas pela sensação de desproteção.

O primeiro deles está escrito em Lc 12.22-34 relatando o discurso de Jesus sobre a


ansiosa solicitude pela vida.

O verso 22 mostra-se uma orientação voltada para os discípulos de Jesus, em seu


contexto e tempo, mas manifestando a mesma condição pecaminosa que a cultura moderna apenas
catalisou. Na unidade anterior um certo homem que estava no meio da multidão indagou Jesus
sobre uma questão de herança familiar. Cristo respondeu àquele homem aplicando lições sobre
avareza e acúmulos de tesouros nessa terra que não serão suficientes para livra-lo do dia do Juízo
final. O homem queria ter estabilidade e garantias financeiras aqui e Jesus o adverte a pensar na
futilidade desse pensamento.

Falando agora aos seus, Jesus os adverte quanto ao foco, à compreensão da vida e
sobre a certeza de quem é Deus.

Ao falar sobre foco, o verso nos mostra como devemos “andar”. Jesus apresenta para
seus discípulos uma forma saudável de “caminhar” nessa vida. Ele diz que essa caminhada é um
exercício diário, contínuo, uma construção. Ele diz para “não andarmos ansiosos pela vossa vida”,

3
RYLE, J.C. Meditações no Evangelho de Lucas. São José dos Campos, SP: Fiel, 2018.p.319.
38

em outras palavras, “andem livres de preocupações desnecessárias a vocês sobre a vida”. O mestre
ensina que a ansiedade é uma forma de caminhar preocupando-se demasiadamente com coisas triviais sobre nossa
vida. Ele ensina que aquele que o segue não anda pensando demais nas coisas terrenas ou
preocupando-se demasiadamente com coisas sobre sua vida. E isso por quê? O verdadeiro
discípulo de Jesus ao ouvir seu chamado torna-o Senhor soberano não só sobre a sua fé ou sua
“religião”, mas sobre seus desejos, vontades, atitudes e seu futuro. O discípulo de Cristo não tem
preocupações demasiadas sobre o dia de amanhã porque agora caminha ao lado do Senhor da Vida,
o Bom pastor, o Deus da Provisão, o Grande Eu Sou, O Rei dos Reis. O foco da sua vida muda
de uma visão centrada em si e nas suas coisas para Deus e as coisas de seu Reino!

A conversão como mudança de mentalidade consegue alterar a forma como vemos a


própria vida. Para os que estão distantes do Evangelho o que resta é aproveitar o tempo de
“liberdade e alegria” aqui. O que os aguarda é condenação e sofrimento eterno. Por isso
preocupações sobre a vida, como pagarão suas contas, viverão com saúde, desfrutarão de uma
felicidade depende totalmente deles e de suas forças. Sem Cristo, o homem natural está
desprotegido e sendo massacrado pelo mundo, pelos desejos pecaminosos de sua carne e pelo
diabo. Longe de Cristo não há mão amiga zelando e cuidando do homem pecador.

Dos versos 23 ao 28 Cristo ensina a seus discípulos como eles devem compreender o
que é a vida e faz isso de forma muito simples. Ele ensina o conceito de uma vida supratemporal,
eterna, mais ampla do que as coisas que vivemos aqui. Comida, conforto, proteção, saúde, todas
essas coisas são reinterpretadas como não sendo o fundamento da vida em si. São secundárias,
passageiras, pequenas demais.

Quando nos sentimos desprotegidos e responsáveis pelo nosso bem-estar queremos


dar conta de todos os aspectos que nos rodeiam. Queremos ter aquela sensação de que temos tudo
nosso controle e sendo assim, não apenas nos sentimos protegidos, mas protegeremos tudo ao
nosso redor.

Observe que no verso 26 Cristo faz uma observação importante quanto a esse desejo
por aqueles que não se sentem protegidos por Deus. Ele acabara de falar sobre a limitação da vida
e o total controle de Deus sobre o futuro (Sl 139.16) e um pouco antes sobre como Deus cuida até
mesmo de aves que nós não costumamos nos importar e conclui com uma pergunta: “Se, portanto,
nada podeis fazer quanto às coisas mínimas, porque andais ansiosos pelas outras?”. Seu
questionamento é digno de observação. Podemos pensar em sua pergunta nestes termos: “Se vocês
não conseguem cuidar de tantas coisas como Deus tem cuidado e sequer podem mudar o que Ele
já determinou, porque duvidar que Ele cuidará de vocês?”
39

A ansiedade advinda pelo sentimento de desproteção é imediatamente destruída


quando entendemos claramente o tamanho da atenção paternal de Deus para sua criação e seus
filhos amados. Ao descobrirmos como Deus age governando soberana e detalhadamente cada
pedaço daquilo que é seu certamente descansaremos em suas mãos sabendo que Ele tem cuidado
de nós. A ansiedade é sim, uma questão teológica. Quanto mais conheço ao Senhor menos espaço
para a ansiedade haverá em minhas emoções.

Por fim, Jesus faz a distinção entre os gentios - descrentes que não tem Deus como
pai e senhor de suas vidas - e seus discípulos (Lc 12.30). Note que os gentios é que andam ansiosos.
Por estarem desprotegidos, vivendo na enganação de uma geração que afastou de nossa cultura,
arte, política e educação a figura desse Deus descrito por Jesus, tais pessoas sofrem por não terem
onde descansar suas expectativas e emoções.

O cristão - aquele que tem um Pai que sabe de tudo que seus filhos necessitam – não
anda assim pois sabe que aquele que assumiu a paternidade espiritual de seus eleitos trabalha
constantemente garantindo que tudo esteja em perfeita obediência à sua vontade, fazendo assim
que todas as coisas cooperem para o bem de seus filhos. (Rm 8.28). Os cristãos não devem ser
ansiosos por confiarem no conceito da paternidade divina.

O segundo relato é aquele sobre os discípulos a caminho de Emaús e está registrado


em Lc 24.13-35. Não quero me estender muito comentando essa perícope, mas preciso que
observemos um detalhe importante. O sentimento de não terem mais perto de si a figura de Jesus
trouxe àqueles discípulos e a tantos outros que não são mencionados ali um sentimento de tristeza,
preocupação e desproteção. Ao descreverem os relatos conseguimos notar que longe de Cristo
aqueles discípulos sentiam-se inseguros quanto ao futuro. No desfecho da narrativa, quando Jesus
se revela a eles, observamos que eles voltam a ter esperança e certeza de cuidado. Sua alegria e
renovada e seu ânimo reestabelecido. Ter Cristo por perto traz um profundo sentimento de
proteção e segurança que nos livra de toda ansiedade!

Pastores e conselheiros que desejam ajudar pessoas que sofrem de ansiedade por se
sentirem desprotegidas devem perceber o quanto a pessoa se sente responsável pelo seu futuro e
como ela imagina estar sozinha nessa caminhada. Devem leva-la a conhecer um Deus que não
abandona aqueles que são seus e, como Todo-Poderoso e grandioso pai de amor cuida de seus
filhos de uma forma tão graciosa que nos providenciou o cordeiro que tira o pecado do mundo
para que não nos sentíssemos desprotegidos nem nessa vida e nem na eterna.
40

Capítulo 6

QUANDO TENHO MEDO

A ansiedade pode ser fruto do medo.

Lembro-me do dia em que meu celular tocou no meio da madrugada e de forma


insistente conseguiu me acordar. Eram quase três horas da manhã e do outro lado da linha uma
jovem recém-convertida da igreja pedindo socorro. Ainda sonolento busquei entender o contexto
da ligação. Do outro lado da linha a voz chorosa e a respiração acelerada não se faziam entender
claramente. Passados alguns minutos pude compreender um pouco da dor que estava afligindo
aquela jovem no meio da madrugada e por um breve período de tempo procurei acalma-la entre
diálogo e oração definindo assim um horário na manhã seguinte para conversarmos.

Durante a sessão de aconselhamento ouvi atentamente a história daquela jovem e


percebi o medo que ela tinha das consequências caso uma situação do seu passado fosse descoberta.
A crise em seu relacionamento conjugal e possivelmente o término de seu casamento gerou nela
uma ansiedade por causa do medo de seus atos.

A verdade é que fazemos de tudo para manter nossa reputação e nossa índole diante
das pessoas ao nosso redor. Jamais queremos ser constrangidos ou envergonhados publicamente
ou, pior ainda, ter nossa imagem exposta ao ridículo. Rótulos como mentiroso, incapaz, infiel, são
marcas que não queremos agregar à nossa imagem.

Um grande problema surge quando diante de uma situação onde nós sabemos que
erramos, tentamos encobrir nossos erros para que não sejamos desqualificados. Dependendo do
cargo que ocupo na empresa, na liderança da igreja, na vizinhança ou até mesmo na família, alguns
erros podem ter consequências graves e duras ou, quando esse erro tem ares de pecado, tendem a
ser tratados com mais severidade e isso colocará em risco nossa imagem e reputação.

Diante disso, devemos pensar na ansiedade decorrente do medo em três grandes


aspectos: O que penso sobre mim, porque tenho medo e de quem tenho medo.

Pensando corretamente sobre esses aspectos teremos condições de entender o


mecanismo da ansiedade e podemos tratar biblicamente dela.

Quando tenho uma compreensão errada sobre mim certamente viverei todas as
minhas relações interpessoais pautadas nessa falsa premissa sobre quem eu sou. Na medida em que
41

construímos uma perspectiva diferente daquela que a Bíblia fala sobre nós tenderemos a manter
aquilo que construímos ao redor da nossa imagem e faremos de tudo para mantê-la e preserva-la.
Quando nossas falhas ameaçarem quem nós achamos que somos faremos de tudo para encobri-
las e na medida que as pessoas chegarem perto dessa zona de perigo, a ansiedade será a resposta
natural, até que a zona de perigo seja protegida.

Talvez você já tenha ouvido falar sobre autoestima e como em tempos de tantos
coachings assumindo os púlpitos evangélicos esse assunto tem sido valorizado entre os cristãos.
Mensagens como: Você é especial! Explore todo seu potencial! Você é o centro do amor de Deus!
Valorize quem você é! Sinta-se bem consigo mesmo! Soam bonito aos ouvidos e são muito
palatáveis, mas certamente são afirmações mundanas profanando altares cristãos. Tais
“pregadores” chegam a afirmar que uma autoestima apropriada é o segredo para resolver a maioria
dos nossos problemas, inclusive de nossos pecados! Enquanto escrevia este capítulo recebi em meu
celular um vídeo de um desses coachings disfarçado de pregador que disse: “Quando eu olho para
Deus eu me sinto tão justo que não me sinto inferior a Ele!” Note o teor da mensagem: Você deve ter tanto
amor próprio e tanto valor em si a ponto de entender que Deus e você são iguais! Isso é um
absurdo! Uma blasfêmia! Um discurso humanista disfarçado de pregação evangélica.

Quando pensamos em autoestima estamos pensando exatamente em uma maneira de


dar a nós mesmos um valor que nós achamos que temos, independente do que outros digam. É
ser o centro das coisas, é fazer com que tudo gire em torno de mim. Autoestima é sinônimo de
amor próprio, autovalorização, egoísmo e idolatria do ego.

Pensar erroneamente sobre si, distante daquilo que a Bíblia apresenta ser o homem,
tem causado muitos males no meio cristão. Temas como autorrealização e autoaceitação tem
motivado pessoas a negarem verdades elementares da fé e viver em busca de si e de suas realizações.
Ao contrário do que nos orienta Mt 6.33 – “buscai, pois em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça,
e todas estas coisas vos serão acrescentadas” – a massificação de uma pseudoteologia do coaching,
valorizando o eu e suas demandas, tem ensinado pessoas a pensarem mais em si, buscarem suas
realizações pessoais, viverem focadas no eu. E nessa construção de uma imagem equivocada do
homem e qual a verdadeira estima ele deve ter sobre si é que se justificam a crescente demanda de
pessoas ansiosas diante de seus medos.

Jay Adams, em seu livro intitulado Autoestima: uma perspectiva bíblica nos alerta sobre essa
questão. Ele diz:
Se minhas “necessidades” precisam ser satisfeitas primeiro e a qualquer custo, antes de
eu ser capaz de servir a outros, como pode se esperar que eu desista da minha vida, dos
42

meus bens, ou ainda do meu bem-estar para servir ao Senhor ou outro cristão? Afinal,
isso exige de mim uma atuação nos níveis mais elevados da autorrealização!
A teoria da necessidade de autoestima (com sua ênfase em ter minhas próprias
necessidades satisfeitas em primeiro lugar), coloca a pessoa no mesmo nível que os
descrentes: “porque os gentios é que procuram todas estas coisas”(Mt. 6.32). 4

A espiritualidade contemporânea que flui desse tipo de mensagem carece


desesperadamente de foco, precisão, sabor e raízes: Foco em Cristo, precisão das Escrituras, sabor
de eternidade e raízes teológicas reformadas. Você pode perguntar: - Porque esse tipo de teologia
centrada no eu não serve como uma estrada que aponta para Deus e satisfaz o anseio humano de
redenção? A resposta é simples e direta: Pelo simples fato dela ser uma espiritualidade
horizontalizada, produzida pela mente humana, e a mente humana caída é fonte de enganos e
tragédias.

O apóstolo Paulo escrevendo em vários contextos distintos, mas falando sobre a


mente humana e consequentemente o que é o homem natural, demonstra que depois da queda,
longe de Cristo e sua cruz, não possuímos adjetivos positivos que nos coloquem em uma posição
de autoestima ou valorização do eu. Tudo o que procede do homem certamente carregará as
impressões digitais de sua natureza pecaminosa. Por isso o apóstolo diz que o real estado da nossa
mente e do nosso ser é:

Rm. 1.28 – Depravado; 2Co 3.14 – endurecido; 2Co 4.4 – cego; Ef 4.17 e 18 –
vaidoso e obscurecido; Cl 1.21 – inimigo da verdade; Cl 2.4 – enganoso; Cl 2.18 –
carnal; 1Tm 6.5 – corrompido e 2Tm 3.8 – corrupto.

Tais afirmações mostram o grande problema de uma fórmula teológica pautada pela
mente e seus desejos e os perigos de buscar em nós algum valor diferente daquilo que a Bíblia diz
que somos. Na teologia reformada temos um termo para isso: Somos totalmente depravados! Todo
nosso ser está maculado pelo pecado e não há nada em nós capaz de nos purificar. Entendendo
esse aspecto sobre nossa real identidade, observamos que qualquer tentativa de promover alguma
mensagem de valorização da autoestima será acompanhada da pecaminosidade daqueles que a
promovem. E tais propagadores:

• não se preocupam com os pensamentos de Deus, mas apenas com os


desejos humanos.

4
ADAMS, Jay E. Autoestima: Uma perspectiva bíblica. São Paulo: ABCB/Nutra Publicações, 2007.p.55.
43

• não tem visão espiritual porque estão cegos olhando para seus desejos de
redenção.
• não são sabeis, mas tolos que buscam entretenimento.
• sequer vivem para Deus, pois ainda estão mortos em seus delitos e pecados
e vivem em busca de si e de um sentido para sua existência.
• não seguem a luz pois andam na escuridão de seus pecados.
• não são possuidores da vida eterna pois ainda trilham o caminho da
condenação.

Qual seria então uma correta visão do eu que servirá de proteção contra pensamentos
ansiosos decorrentes do medo dos meus pecados ou erros?

Há inúmeros textos na Bíblia que escancaram diante de seus leitores o que realmente
o homem é e o que ele deve pensar sobre si. Posso até afirmar que a maioria desses coachings
evangélicos ficariam horrorizados se ouvissem a descrição bíblica sobre quem é o homem. Longe
de ser uma criatura “estimada, de alto valor, extraordinária e totalmente importante em si” a Bíblia
vai mostrar a realidade abominável de quem é a humanidade caída e ela não faz isso na intenção de
diminuir nossa autoestima ou de humilhar os homens e rebaixar o seu valor, mas assim o faz para
que nosso olhar, apreço, valor e estima estejam totalmente firmados em Deus e em sua obra
salvadora.

Leia textos como Ez. 36.31; Sl 51.5; 58.1-5; Rm 3.9-18 e você perceberá que a realidade
humana é humilhante e deplorável e não há beleza em nossa vida longe da graça de Deus. Quando
passamos a ver a nossa vida com essa lente faremos o possível para que Deus nos ajude, nos socorra
e nos ame. Passaremos a ver que a única coisa que podemos ter de boa em nós é o amor gracioso
de Deus derramado abundantemente em nossas vidas e sempre que pensarmos em autodefesa da
nossa imagem ou buscar satisfazer nossas vontades ou “honrar nossa reputação” lembraremos o
que realmente somos e o que Deus fez por nós. Pensaremos corretamente sobre nós e daremos
toda glória e louvor a Ele por sua graça infinita. Olhando biblicamente para quem somos
confiaremos totalmente no amor de Deus que “lança fora todo o medo.” (1Jo 4.18). Não
focaremos em fazer tudo para preservar nosso nome, mas nos dedicaremos para honrar o nome
de Deus em tudo o que fizermos.

Outro importante ponto a ser considerado quando falamos sobre ansiedade causada
por medo é pensar nas causas desses temores e a quem tememos.

Geralmente o que tememos é diretamente proporcional à relevância daquilo que


tememos perder. Deixe-me explicar melhor: Algumas pessoas temem demasiadamente a morte por
44

valorizarem tanto suas vidas e sabem que a morte lhes tirará sua única certeza – é bom estar vivo!
Outras pessoas temem perder seus empregos por imaginarem que a demissão lhes tirará a
possibilidade de sustento ou a dignidade.

Uma forma bíblica de orientar pessoas que sofrem por terem medo é identificar o que
elas mais temem e a partir dessa identificação perceber o que é medo real ou imaginário, realocando
assim, cada temor a seu devido lugar e patamar. No caso que compartilhei no começo do capítulo
podemos identificar a causa do medo daquela jovem. Seu casamento envolvia famílias respeitadas
em nossa cidade pela conduta moral de seus pais, seu marido era um jovem empresário muito bem-
sucedido, o casamento havia sido uma das maiores festas da cidade nos últimos anos, havia
patrimônio, bens, dinheiro. Um episódio revelador do passado que traria uma exposição indesejável
sobre algo que aquela jovem tentava esconder por anos poderia colocar a perder todas essas coisas.
Ela seria envergonhada publicamente, perderia seu marido, acabaria com seu casamento, traria
desonra para seus pais, ficaria “mal-falada” na cidade. Observe que o temor era proporcional àquilo
que ela temia perder.

Nas reuniões de aconselhamento olhamos para as Escrituras e aquela jovem percebeu


que toda sua ansiedade era fruto de um temor irreal. Embora em seu passado existisse algo ruim
aquela jovem foi redirecionada a temer algo muito maior do que apenas sua reputação ou da sua
família. Ela foi levada a temer ofender ao Senhor e desagradar a Sua santidade. Estudar juntamente
com Ela quem era Deus e como Ele em sua santa justiça depositará sua justa ira contra seus
inimigos trouxe uma outra visão sobre o assunto. Pensamos sobre como esse Deus “tão puro de
olhos, que não pode ver o mal” (Hb 1.13), que é tão santo que Nele “não há treva nenhuma” (1Jo
1.5) e que nos “chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9) deu a ela uma nova vida,
um novo recomeço, uma nova mente.

Ao entender essa verdade sobre o ser de Deus, sua santidade e pureza aquela jovem,
recém-convertida, entendeu que como cristã nada era mais importante do que temer e amar ao
Senhor. Ela não deveria temer o que seu marido faria caso descobrisse um episódio de seu passado
que a envergonhava, não deveria temer juízos e palavras degradantes que poderiam rotula-la por
conta de seu passado. Caso fosse necessário as consequências viriam e poderiam ser pesadas para
ela, mas seu coração deveria temer estar com a consciência pura diante de Deus e dos homens em
sua nova vida. Olhamos para a vida do apóstolo Paulo e como sua prioridade era viver para agradar
ao seu Senhor (Fp 3.2-11). Ela aprendeu que em Cristo as coisas velhas tinham passado e que sua
prioridade era não desagradar a Deus em sua nova caminhada. Ela descansou ao saber que o Deus
todo-poderoso não mais a olhava como inimiga e alguém em quem despejaria sua santa ira, mas
agora ela era amada do Pai. Lembro-me da alegria em seu olhar quando ela descobriu Mt 10.28 –
45

“Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno
tanto a alma como o corpo.”

Quando nós conselheiros nos deparamos com pessoas que sofrem com ansiedade por
causa de medos devemos observar àquilo que as pessoas realmente temem e apresenta-las uma
realidade acima de seus temores, por mais sensatos que sejam. A realidade de que deveríamos temer
cair nas mãos de um Deus santo sendo nós pecadores! Certo puritano uma vez falou: “À parte de
Cristo, Deus é terrível!” Nosso verdadeiro temor deveria ser estar diante de um Deus assim tendo
nossas vestes maculadas pelo pecado. Reorientar os temores e apresentar que nosso maior temor já foi superado
na cruz do calvário é uma importante ferramenta na cura da ansiedade.
46

Capítulo 7

QUANDO MEU CORPO ESTÁ DOENTE

A ansiedade é um pecado que atinge as emoções e o corpo físico.

Durante muito tempo a teologia e outras abordagens científicas tentaram particionar


o homem delimitando seus entrelaçamentos existenciais de uma forma dicotômica – corpo e alma,
ou de uma forma tricotômica – corpo, alma e espírito. No entanto, ao tentar compreender os
limites dessa constituição humana temos nos escritos bíblicos várias outras formas que
demonstram a complexidade da questão e do próprio ser humano. O próprio Jesus, ao falar a seus
discípulos sobre o grau de envolvimento que eles deveriam ter com o Evangelho diz: “amarás, pois,
o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a
tua força.”5 O autor aos Hebreus faz uma distinção da figura humana, ao falar sobre o poder
penetrante da Palavra em “alma e espírito, juntas e medulas”6. Essas e outras apresentações sobre a
constituição humana apenas ressaltam a grandeza e complexidade da criação humana e como Deus
é altamente competente para criar um ser assim.

Uma certeza que temos é que independente das partes desta constituição o ser humano
é um ser integral que tem emoções refletidas fisicamente e condições físicas que alteram suas
emoções.

Dois exemplos bastam para entendermos melhor o argumento. Ao receber um


telefonema no meio da madrugada informando o falecimento de um familiar querido o impacto da
notícia nos causa tristeza (emoção) que será refletida em possível choro e incapacidade de voltar a
dormir profundamente (reação física). Ao sentir uma forte enxaqueca (reação física) dificilmente
alguém terá humor (emoção) para assistir uma comédia stand up no teatro e sorrir levemente das
piadas ali contadas. Somos seres integralizados, Deus nos criou assim e nos dotou de
movimentações físicas e emocionais que definem nosso estado momentâneo.

Assim como na depressão endógena, algumas doenças parecem ter como efeitos
colaterais o desajuste hormonal e químico no cérebro e em alguns órgãos do corpo humano (teoria
essa que fora amplamente difundida nos EUA, mas que gera até hoje mais incertezas do que

5
Mc 12.30 (ênfase do autor)
6
Hb 4.12
47

conclusões acadêmicas por falta de provas mais concretas). Ao ser afetado a nível celular o
funcionamento hormonal passa a ser desajustado e a produção de neurotransmissores e
controladores hormonais funcionarão com deficiência podendo assim, afetar o humor do indivíduo
de diversas maneiras. Alterações na tireoide, doenças no pâncreas, baço, intestinos, disfunções
hormonais severas são alguns exemplos de doenças que tem tal capacidade. Embora não seja uma
conclusão unânime no meio científico há de se considerar seus efeitos em alguma medida.

Os medicamentos chamados de “psicoativos”7 são comumente apresentados como


aqueles que fazem parte de uma classe de medicamentos que podem chegar ao tecido cerebral
através da corrente sanguínea e causar o possível “reajuste” nas alterações de humor, pensamentos,
emoções e comportamentos frutos de algum desajuste orgânico promovido por uma patologia.

Entretanto, seria reducionista afirmar que doenças psíquicas sejam exclusivamente


problemas físicos, tanto infantil quanto afirmar que são problemas meramente espirituais. O
cérebro humano, a mais surpreendente máquina percebida até então é muito mais complexo do
que nossa medicina possa definir e é, sem sombra de dúvidas, um universo ainda pouco explorado
pela humanidade. A psiquiatria, com todo o seu esforço, o máximo que tem conseguido fazer é
arranhar a superfície do iceberg e apenas aprendido a minimizar os sintomas das ditas “doenças
psíquicas”. Sem sombra de dúvidas medicamentos aliviam sofrimentos e tormentos de muitas
pessoas, mas isso não quer dizer que os medicamentos são elementos únicos de cura para a
ansiedade ou outros transtornos de humor. Eles podem até desenvolver seu papel de reposição
química, mas não tratam das causas que levaram à ansiedade, mesmo quando elas são fisiológicas.

Não seria errado afirmar aqui que a psiquiatria ou a psicologia não são as únicas formas
de tratar a ansiedade. Existem outros caminhos, mais eficazes, menos invasivos e quimicamente
dependentes. Mas também seria errado dizer que elas em nada ajudam.

Por isso, desprezar a contribuição do avanço da medicina no tratamento das doenças


e achar que Deus não pode utilizar de tais meios para dar melhoria de vida para as pessoas seria
minimizar o poder da graça comum. A Bíblia não condena e nem proíbe o uso de medicamentos,
temos inclusive a utilização da medicina comum nas cartas paulinas para o cuidado de Timóteo
(1Tm 5.23). A questão então, não seria se o uso de medicamentos é bíblico ou não, e sim sobre o
grau de fé e esperança cristãos depositam nos medicamentos na cura de seus problemas.

Quando estivermos diante de alguém que sofre de ansiedade é importante descobrir


ao longo das conversas pastorais como está a saúde física dessa pessoa. É importante que o
conselheiro se certifique, nessa unidade psicossomática que é o ser humano, como esses

7
Alguns nomes também utilizados para esses medicamentos são “psicotrópicos ou psiquiátricos.”
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entrelaçamentos físico-emocionais estão de alguma forma causando algum sofrimento ou


preocupação. Não somos militantes contra ou a favor do uso de medicamentos! Nosso foco não
deve ser esse! Devemos nos ater à reorientação do coração diante das decisões do nosso
aconselhado. Tenho dois casos interessantes para compartilhar.

Há algum tempo atrás atendi uma certa jovem que ao chegar e relatar o que a trazia a
meu gabinete foi bem enfática:

- Sou depressiva! Faço uso de todos esses medicamentos aqui! (tirando da bolsa e colocando
sobre minha mesa quatro ou cinco medicamentos psicoativos).

Ao perguntar o porquê de tanta medicação ela relatou que após a morte do noivo ela
não conseguiu se reestabelecer emocionalmente e as coisas pioraram a ponto de uma internação
psiquiátrica ter sido a única opção. Ao pergunta-la sobre o que ela mais queria supreendentemente
eu ouvi:

- Quero que o senhor fale para meus pais que estou bem! Que não tem nada de errado comigo!

- E os remédios? Perguntei.

- O que há de errado com eles? Não quero parar de toma-los. Me sinto muito bem com eles!

Incrivelmente aquela jovem depositava naquele coquetel de medicamentos a causa de


seu bem-estar e a possibilidade de viver livre deles e ainda assim feliz a fez desistir de nossas
reuniões de aconselhamento. Na última vez que nos vemos ela disse para mim:

- Pastor! Obrigada pela ajuda, mas não quero abrir mão dos medicamentos. Eles me fazem bem!
Estou feliz com eles!

Imagine minha situação! Percebi que aquela jovem colocou sob a medicação o segredo
da sua felicidade e completude e não podia fazer nada além de cuidar de forma amorosa e pastoral,
oferecer meu ombro amigo para ajudá-la quando ela precisasse de mim e orar para que Deus a
abençoasse. Eu não estava ali para reprova-la e obriga-la a não tomar mais os medicamentos. Ela
fez a sua escolha e não meu deu espaço para argumentos.

Outra situação interessante foi quando atendi uma senhora passando por um
desgastante processo de divórcio. Sua vida de meia-maratonista jamais nos fez levantar qualquer
suspeita sobre algum problema de saúde. Durante o tempo dos trâmites do divórcio, o desgaste
emocional foi intenso. Insônia, ataques de ansiedade, taquicardia, variação de pressão arterial e dor
no peito e ânsia de vômito estavam se tornando frequentes. No início achamos que era por conta
do momento e das pressões emocionais que estavam sobre ela. Após algumas reuniões de
aconselhamento achamos que seria bom ela procurar um médico para investigar com mais
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propriedade o que poderia estar acontecendo. Alguns poucos exames foram necessários para
comprovar um sério problema cardíaco que resultou na colocação de stents em seu coração. A ação
rápida em buscar auxilio na medicina salvou aquela irmã e durante todo o processo tratamos dos
medos e dores emocionais do término do seu relacionamento.

O Dr. David Murray em seu livro Crente também tem depressão demonstra essa mesma
preocupação quando o assunto é sofrimento psíquico/emocional:
Nunca adotaríamos essa visão (causa pecaminosa/solução espiritual) ao aconselhar
pessoas com câncer, derrame, fratura exposta, diabetes ou Alzheimer. Como cristãos
reformados, nossa postura padrão é que esses problemas físicos são provavelmente
resultado da vida como criaturas caídas em um mundo caído. Porque nossa postura com
relação a problemas cerebrais tem de ser diferente? Estamos dizendo que o cérebro, o
mais complexo órgão em nosso corpo, de alguma maneira não sofreu os efeitos da
queda?8

Ao pensar assim, Dr. Murray nos leva a pensar que a queda também degenera nosso
cérebro e nem sempre por questões espirituais. O pecado original trouxe degeneração à nossa pele,
nossos ossos, nossos órgãos, inclusive nosso cérebro. Embora o corpo físico não seja o motivo de
pecarmos, alcançar suas demandas para uma vida “sem os efeitos” da queda nos levam a um
comportamento catastroficamente pecaminoso. Paulo orienta seus leitores em Roma a não se
entregarem às paixões do corpo mortal e nem usarem seus corpos como instrumentos de
iniquidade (Rm 6.12-13) em uma demonstração clara de que o corpo realiza aquilo que o coração
deseja.

Será sábio da parte do conselheiro averiguar a saúde de seu aconselhado pensando em


um quadro bem mais amplo de saúde física e emocional. Uma vez gasto o devido tempo e atenção
examinando causas fisiológicas que tem potencializado a preocupação e a ansiedade o conselheiro
então poderá investir no conteúdo teológico do tratamento da ansiedade e assim estará olhando
para o ser humano de forma holística.

Na caminhada de aconselhamento é importante que o olhar perspicaz do conselheiro


observe as mais diferentes características da manifestação da ansiedade e ser, ao mesmo tempo
humilde e sábio se perceber sinais físicos recorrentes, tais como, sudorese, reclamações de
taquicardia, aumento ou baixa da pressão arterial, dores no peito, tremedeiras, entre outros
sintomas já citados anteriormente. Caso, ao longo do aconselhamento esses sintomas não
apresentem melhoras é necessária a orientação para que o aconselhado busque avaliação médica

8
MURRAY, David P. Crente também tem depressão. Recife, PE: Ed. Os Puritanos, 2012.p.31-32.
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específica para que uma investigação descubra aquilo que nossos olhos e ouvido não podem
perceber.

Devemos sempre ter em mente que aconselhamento bíblico é cuidado. Cuidamos de


seres humanos e devemos nos preocupar com a totalidade das pessoas que estão sob nosso
pastoreio!
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Capítulo 8

CUIDADOS PASTORAIS PARA A ANSIEDADE

Ao longo destas páginas tentei apresentar para você a necessidade de um olhar


profundamente pastoral, sensato, bíblico e humanizado quando o assunto é ansiedade.

Entender o tempo em que vivemos, quais suas cobranças, padrões, exigências e


desafios nos fazem perceber o sério risco que corremos quando não somos pastoreados em nossos
corações em relação a questões como futuro, carreira, certezas do amanhã e coisas assim. Vivemos
dias instáveis, inseguros, que trazem medo e insegurança. A ansiedade parece ser inevitável para
pessoas que estão à mercê dessa forma de viver. Na mesma medida, ignorar a profundidade onde
está realmente alojada a ansiedade oferecerá apenas formas paliativas de cuidados. De certa forma
até será possível trazer algum nível de alívio para o cansado, mas não precisará de muito tempo
para que as mesmas ondas bravias comecem a bater no pequeno e frágil barco do coração humano
e ele retorne a naufragar.

Uma ajuda pastoral efetiva para alguém que sofre com ansiedade não pode
desconsiderar os perigos da atualidade e de como nos tornamos reféns de desejos pecaminosos tão
explorados em nossa cultura consumista, mas também não pode abandonar a compreensão
teológica e bíblica que envolve a ansiedade e seu insistente desejo por autonomia e segurança auto-
promovida. Todo conselheiro deverá conduzir a mente e o coração do seu aconselhado ao ponto
de partida da ansiedade, muito além de situações vividas, mas lá no Éden, na queda que nos
devastou em todos os aspectos e reparar as colunas da confiança e cuidado divino que foram
quebradas quando no jardim fomos expulsos gerando tanto o medo como a ansiedade.

Embora o mundo ache que não precisa de Deus, dos seus cuidados e orientação de
Sua Palavra, nós conselheiros bíblicos temos em nossas mãos a mais poderosa ferramenta que pode
tratar do mal da nossa geração. Tirar Deus do centro da vida do homem moderno e faze-lo achar
que vive por seus próprios méritos castigou nossa geração com intensas e multiformes dores
emocionais e físicas. Desde a filosofia niilista de Nietzsche, passando pela estrutura psíquica de
Freud ou desembocando no ideal social de Marx, tudo o que o século XX ofereceu para o ser
humano como sua grande evolução o levou para mais longe do lugar de proteção divina e o colocou
no grande e deserto vale árido da ansiedade. Somos uma geração doente sem saber a doença que
nos destrói. Aquilo que nos motiva a vencer tem sido o grande inimigo em nossa derrota.
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Temos conosco a formidável bússola que aponta para um cuidado e amor inimaginável
que nos darão a segurança que nada neste mundo pode se igualar. Basta sermos orientados por ela
e descobriremos o poder de Deus amoroso e zeloso que cuida dos detalhes de nossa vida no
passado, presente e futuro.

Como conselheiros lidamos com sofrimentos em suas múltiplas manifestações. Em


muitos casos não sabemos plenamente as dimensões desse sofrimento ou suas formas de se
manifestar. Precisamos sempre ter muita atenção, empatia, amor e cautela ao tentar desvendar o
caminho do sofrimento e ajudar os que sofrem. Quanto mais bíblicos formos na interpretação da
dor e do sofrimento melhor será nossa oferta de ajuda e quanto mais sensata for nossa forma de
“ler a realidade” que o aconselhado vive, mais teremos eficiência na condução da mudança do
coração. Temos como alvo maior chegar e mudar o coração, a fonte dos desejos, e retirar de lá
todos os falsos ídolos e males que impedem com que nosso aconselhado possa confiar plenamente
em Deus e seu cuidado.

Tal caminho nem sempre é rápido, sempre é doloroso e requer de nós oração, piedade,
estudo bíblico, seriedade acadêmica, coerência científica e atitude. Na condição de conselheiros
somos desafiados a lidar com o sofrimento de pessoas que amamos, chorar com os que choram e
andar ao seu lado sem desistir de ama-las como Jesus as amou. Aconselhar requer de nós
conselheiros um olhar de empatia e amor, na mesma medida em que identificamos altares que
atrapalham a genuína adoração, e como os antigos profetas, confrontando e denunciando seus
males, exortando nosso aconselhado à fidelidade da Lei.

Quando diante de uma pessoa que sofre com ansiedade devemos sempre construir
sólidas bases bíblicas que terão o poder de destruir os sofismas de nosso tempo e reorientar
corações ansiosos para amar ao Senhor. Não devemos, porém, ignorar aspectos orgânicos que
provoquem essa inquietude da alma. Embora enfermidades não sejam motivos ou fatores
determinantes para pecar (basta lembrarmos de quantos personagens bíblicos em meio a
enfermidades tiveram uma postura de adoração e temor a Deus.) nós conselheiros devemos dar a
elas uma atenção especial e considerar seus efeitos devastadores em corações já inclinados par o
pecado da ansiedade. Bons conselheiros não desprezam a possibilidade de ajudar da medicina e de
outras áreas do cuidado humano na tentativa de resgatar a mente e o coração de seu aconselhado
para o abrigo seguro do Senhor. Devemos, de forma pastoral e discipulativa, através de conselhos,
conversas e orações e acompanhamentos, responder com firmeza e sinceridade aos dilemas de
nosso aconselhado que não o permitem lançar sob Cristo seus medos e temores. Às vezes
falaremos muito, às vezes falaremos pouco, outras vezes não falaremos nada, apenas estaremos lá
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e nossa presença mostrará a imensidão da graça regeneradora e salvadora de Jesus na vida daquele
que está sofrendo.

O cuidado pastoral para a Ansiedade pode às vezes ser o de pedir ajuda também. Pedir
ajuda a outros conselheiros, pastores e profissionais de diferentes áreas. É desejar não apenas o
bem-estar físico, emocional ou relacional, mas a conversão do coração. A cura para a ansiedade
definitivamente é a convicção do cuidado de Deus e uma vida de descanso em suas promessas.
Isso envolve toda as áreas da nossa vida, do prazer sexual a adoração congregacional.

Podemos às vezes perceber que nosso apoio será em segundo plano, como que dos
bastidores, enquanto a medicina ou os remédios desempenham sua função para a glória de Deus.
Focando naquilo que está claro na Escritura sobre quem é Deus e o que Ele faz por nós
ministraremos encorajamento diante do medo e descanso diante dos desafios, ensinaremos a
confissão de pecados e o cuidado com o templo do Espírito, fortaleceremos o cansado diante da
luta e apresentaremos a dimensão da fé que nos faz lançar sobre Cristo toda nossa preocupação!
Somos dEle, Ele nos ama, Ele cuida de nós!

A ênfase dada neste livro mostrou a importância de olharmos para os que sofrem com
compaixão, cuidado e amor. Tal tipo de olhar não será encontrado fora do Evangelho, longe de
Cristo. Por isso é correto afirmar que terapias não curam ansiedade, remédios não atingem seu
ponto central, apenas a Escritura liberta o homem dos seus medos e temores e revela a face de um
Deus gracioso que nos permite chama-lo de Aba Pai. Apenas arautos do Rei tem esse tipo de
preocupação com as pessoas que sofrem. Apenas regenerados tem esse olhar bíblico restaurador.
Somos demonstração visível do amor de Deus na vida das pessoas que nos rodeiam.
Aconselhamento bíblico é mostrar como Jesus faz quando um pecador dá atenção às suas palavras.

Sugiro que para cada ponto aqui apresentado você conselheiro dedique um tempo de
reflexão bíblica e esteja habilmente fundamentado para ajudar os que perecem. O mundo está
teologicamente doente, adoecendo a cada dia mais e mais, nós temos a cura. A Bíblia tem todas as
respostas!

Soli Deo Gloria!


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SOBRE O AUTOR

Madson C. Oliveira é maranhense,


teólogo, pastor titular da Igreja Cristã
Evangélica do Cohatrac – São Luís-MA e
conselheiro bíblico associado à ABCB.
Bacharel em Teologia pelo STEB-MG,
especialista em Teologia Bíblica pelo
CPAJ - Centro Presbiteriano de Pós-
Graduação Andrew Jumper e mestre em
Teologia Pastoral pelo SCEN - Seminário
Cristão Evangélico do Norte. Coordenador
da Especialização em Aconselhamento
Bíblico no SCEN e professor titular das
disciplinas de Aconselhamento Bíblico e
Cosmovisão Bíblica. Casado com Meriellie Brandão, pai de Alice e Théo. Autor de A Sombra do
Luar: um romance teológico; Pecado: Estudos sobre a doutrina bíblica do pecado; Espírito Santo: Sua pessoa e obra
na Bíblia, Igreja e História e Lâmpada para os meus pés: reflexões bíblicas para iluminar o coração.
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