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eae aee ve vnbNps o. lee ; baa —Trs oa Pee a sy Me Feet Lata el BO uaa cc ak 74 Dale ect is PR dled ad ssi guid deo na tba vibe Faia CLC Kimi foi 0 fundador de uma nova oF- ate Pd aaa Bae OP ce speci dts rien dade Cae Ned anit danica an = eee eae idéias que s6 se*torna~— meen Dee ae to rr eS eee Dead OF Ae ata mt Be ae eS planetas,e que a Rk Ol Prat es y Pe Be a 8 i oli Te Man pe ae prima, foi ditado por vie a eta ae i er descreveu este processo: «Ele nunca pegou numa pena enquanto com- Fa Mashavi, Recitava onde quer eae Madrassa (escola der- vixe), nas fontes quentes de Iigin, nos To | Bey an A ce PTT ee ae eee Ped eo ’ Py dalabe Aa Ca erareto Ps yi = Os Mestres de Gurdjieff (G* ed) rs = OSufismono Ocidente (2* ee PimrepsCynte avCenCsee RRS Ue Pa tse Cie mts) AY COR Frit! Amuralhado de oe Pence Cher do Mestre Sufi Nasrudin " OCavalo Magico * O Quarto Reino * OCaminho do Buscador m" Cee yr Wea FS eC ets Hoje 20001 — RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL, Jalaluddin Rumi MASNAVI ‘TRADUGAO Ménica Udler Cromberg e Ana Maria Sarda a EpIGoES DERvisit Copyright © 1992 Balgtes Dervish . do original inglés Tedd a par ne Spiritual Couplet of Mauldna i] Ma’ navi, jit Din Mi 1, Riimt,, by E.H. Whinfield Tradugto: ; Monica Udler Cromberg e Ana Maria Sarda Revisto: ‘Monica Udler Cromberg, —— Ramt, Mauléna Jalél-ud-Din, ‘Muhammad 1, 1207 - 1273 ‘Masnavi. Tradugao de Monica Udler Cromberg ‘Ana Maria Sarda, Rio de Janeiro; Edigves Dervish, 1992 400 p. Tradugto da edigto inglesa: Masnavi I Ma’navi. 1. Sufismo. 2. Sufismo-Poesia. L Titulo 18CDD 297.401 — ISBN 85-7213-005-5 PRODUCAO E SUPERVISAO EDITORIAL Attar Sp Madre Seam? 336 454 Sto Paulo SP SUMARIO APRESENTAGAO: PREFACIO NOTA DOS EDITORES MASNAVI Livro! LIVROT Livro LIvROIV LIVROV LIVRO VI NOTAS SOBRE OS SUPLEMENTOS APOCRIFOS DO MASNAVI INDICE 13 am 265 327 E com muito prazer que apresento 0 Masnavi de Maulana Jalaluddin Rumi. Este livro extraordindrio, que tem sido chamado "o Alcordo em persa”, € um dos mais importantes textos fundadores da Tradigao Sufi. O estudo deste livro revela a altura que 0 ser numano pode alcancar em sua busca por um lugar no Grande Desenho do Universo. A cada leitura, camadas mais ¢ ‘mais profundas de significagio tornam-se manifestas, ¢ ‘mais 0 buscador ¢ encorajado a desenvolver niveis de compreensdo ainda mais profundos. Recomendo 0 estudo deste livro para todos aqueles cujos sentimentos os dirigem para 0 caminho do desenvolvimento moral e espiritual. Deve ser lido com atencio e disciplina. Sayed Omar Nagshband PREFACIO Rumi nasceu em Khulm e, logo apés seu nascimento, sua famflia mudou-se para Balkh, a 10 km. de distancia. Seu pai era Nagshband e encadernador por profissdo. Rumi foi educado em ambas as coisas desde sua infancia. Quando completou quinze anos, seu pai o enviou a Gazor- gah, provincia do Afeganistio Ocidental, acompanhado de um tio, que também era encadernador. Gazorgah ocupa um lugar im- portante dentro da Tradicao, pois Id se encontra a tumba do Hodja Abdullah Ansari. Ansar era 0 nome dado aqueles que deixaram Meca para acompanhar 0 Profeta (Mohammed) a Medina. Hoje em dia, este nome € amplamente utilizado em outros paises, porém o verdadeiro significado de Ansar é "Aquele que abandonou tudo". ‘A razio de sua viagem a Gazorgah era que ali havia uma imensa biblioteca e seu tio fora contratado para reencadernar 0s livros. Rumi ali viveu por nove anos, Depois foi a Qandahar para estudar Tafsil, isto é, a "compreensdo do Alcorgo", na mesquita onde esta 0 manto do Profeta. Naquele tempo, esta regio ainda pertencia ao Khorassan, que se extendia por Herat, Hazarayat, Mashad, até o mar Caspio. Sheik Naqshband de toda essa regido era o Sayed Zahir Shah, de quem Rumi tornou-se discfpulo. Zahir Shah ordenou que Rumi fizesse uma viagem de sete anos sem Ihe dizer aonde deveria ir. O dia de seu regresso coinci- div com o funeral de seu Sheik. Pediram-Ihe que fosse a casa de 10 7 MASNAV! - este Ihe havia deixado algumas coisas. Es- hit, i etc) ‘eum manto - 0 manto de um Sheik tas Geely ‘im, Rumi tornou-se o sucessor de Zahir Shah, e Nagsht an as orgah, Herat e Mazar-iSharif pelos sete anos permané seguintes. ‘Ao final do Ramadan, Rumi regressou a Qandahar, onde, na Grande Mesquita, se encontra 0 manto do Profeta, guardado em ‘uma caixa na parede, que ndo pode ser aberta serio na presenca de quatro Sayeds. Naquele ano, quatro Sayeds estavam em Qan- dahar e decidiram abrir a caixa e tirar 0 Manto, e todas as pessoas reuniram-se na Mesquita para vé-lo. Rumi, que estava na Mesqui: ta com as demais pessoas, dirigit-se a alguém a seu lado, a quem do conhecia, e disse: "Amigo, podes levar-me a casa onde estou hospedado, pois fiquei cego?” — "Nao," disse o homem que se vestia todo de verde, "mas vem comigo e iremos a Konya. Dessa maneira, eles partiram, e, quando chegaram a Konya, © Homem Verde Ihe disse: "Agora podes ver, e te proporcionei ainda a habilidade de ver qual é tua missao aqui", e desapareceu. Rumi entio conseguiu uma pequena cabana, onde hoje é a cidade nova de Konya, e comegou a falar as pessoas e a trabalhar e a dar & Alorao VIL12. Iblis €0 nome pessoal de Satands. 50. Aleordo XCIX 1-4 UVROI — HisTORIA xi 7 71 O fil6sofo (eu digo) nega isso em seu orgulho intelectual Dize a ele: “Vai, quebra tua cabeca contra uma parede!” A fala da dgua, da terra, da lama, E audivel aos ouvidos dos homens de coracao! fildsofo, que nega a Divina Providéncia, Nao participa das percep¢des dos santos, Ele diz que os lampejos das imaginacdes mérbidas dos homens Instilam muitas fantasias vas em suas mentes, Mas, ao contrario, é sua perversidade e falta de fé Que implantam nele a fantasia va dessa negaco. O filosofo nega a existéncia do demonio; Enquanto isso, o demnio dele se ri Se nao viste 0 deménio, olha para ti mesmo; Sem ajuda do demonio, ‘Como veio esse turbante azul” parar em tua testa? ‘Quem tem uma diivida ou inquietude em seu coracdo E secretamente um negador e um fildsofo. Por vezes demonstra firmeza em sua fé, Mas esse leve traco de filosofia obscurece sua face. ‘Tem cuidado, 6 crente! Isso espreita também em ti; Podes desenvolver intimeros estados da mente. Todas as setenta e duas heresias espreitam dentro de ti; Cuida para que um dia elas ndo prevalecam! Aquele em cujo peito cresceu a folha da fé verdadeira Deve tremer como fotha de temor a essa catistrofe. Ris-te de Iblis e do demonio, Porque a teus préprias olhos & um bom homem; Mas quando tua alma relatar tuas miserdveis faltas, Que lamentagaio provocards entre os fidis! Os vendedores de ouro falso esperam sorrindo em suas lojas, Porque a pedra-de-toque ainda nao esti vista. © Velador de pecados! Nao tires de nés 0 véu; Ajuda-nos no Dia do Juizo! 51. Turbantes azuis eram considerades sinal de hipoerisia (Hafiz, Odes). ap MASNAVE HISTORIA XIV 0s ARTISTAS CHINESES E OS GREGOs ce os discutiam diante do Sultao quai Os chineses ¢ ee decidir a disputa, 0 Sultio desta les era melhor Pi pintada por cada um. Os chineses compraran, uma casa para tas ¢ coloriram sua casa do modo mais elaborado todo tipo de Tis, por seu lado, no usaram nenhuma cor, mas possivel. Os atm limpar as paredes de sua casa de toda a sujeira cor eraniay até que estivessem limpas e brilhantes como os céys ee aie cases foram oferecidas para a inspegio do Sultio, Onn Tee pelos chineses foi muito admirada; mas a cac, ren prémio, pois todas as cores da outra casa refle- arr e nas suas paredes com uma infindavel variedade de tons ¢ matizes, © CONHECIMENTO DO CORACAO £ PREFERIVEL AO CONHECIMENTO DAS ESCOLAS Oconhecimento dos homens de coracdo os mantém eretos, Oconhecimento dos homens do corpo os faz. arquear. Quando é conhecimento do coraco, é um amigo; Quando ¢ do corpo, um fardo. Deus diz: “Como um asno carregado de livros”;* Oconhecimento que nao é d’Ele é um fardo. O.conhecimento que nao vem imediatamente d’Ele Nao dura mais que o carmim da prostituta. Porém, se suportares este fardo com 0 es Ele serd removido, e alcancards a alegria. Cuida de nao carregar esse fardo por pura vaidade, F verds uma fartura de conhecimento verdadeiro dentro dele. Quando montares 0 corcel desse conhecimento verdadeir0, 2 ‘Neoitetxis, “ee UIVROT — HISTORIA xiv / 73 Logo 0 fardo caird de tuas costas, Se nao beberes de Sua taca, como escapards aos desejos da carne? Tu, que nada mais queres d’Ele senao dizer Seu nome. ‘© que sugerem Seu nome e Sua fama? A idéia dEle! E Sua idéia te guia para a uniao com Ele. Conheces um guia sem algo para o qual ele guia? Se nao houvesse estradas, nao haveria ghuls.”> Conheces um nome sem algo que responda a ele? Algum dia colheste uma rosa de R, 0,5 A? Tu pronuncias Seu nome; vai, busca a realidade di Procura a lua no céu, e nao na égua! Se desejas elevar-te acima de meros nomes ¢ letras, Liberta-te do eu de um golpe s6! Como uma espada, sé ferro sem traco de flacidez; Como um espelho de ago, esfrega dele toda ferrugem com contricSo; Purifica-te de todos os atributos do eu, Para que possas ver tua prépria esséncia brilhante! Sim, vé em teu corag3o 0 conhecimento do Profeta, Sem livro, sem tutor, sem preceptor. O Profeta disse: “E um dos meus, lesignada por ele! aquele que est comigo em temperament ¢ Lespirito. Sua alma me contempla na mesma luz Em que eu préprio o contemplo, — ‘Sem tradigdes, nem escrituras, nem historias, Na fonte da égua da vida”. Aprende o mistério: “Ontem a noite eu era um curdo, E esta manha tornei-me um drabe”.* Esse mistério de “ontem a noite” e “esta manha” Dirige-te para 0 caminho que te leva a Deus. 59. GHUL: especie de vampiro que, segundo orientais, devora os mortos durante a noite. Syad Abul Wafa, um curdo analfabeto, encontrou um papel com as Palavras Bismillah inscritas e, depois de passar a noite em oraglo, foi ‘sapaz ce entender o arabe (Comentador de Lucknow). 54, _—_ NAVI na) MASS exemplo desse conhecimento secreto, m Mas se queres U gregos e dos chineses. uve a historia dos HISTORIA XV CONSELHOS DE RESERVA DO PROFETA A SEU ESCRAVO LIBERTO ZAID ‘Ao amanhecer, 0 Profeta disse a Zaid: “Como estas esta manha, 6 discfpulo puro?” Ele respondeu: “Teu fiel escravo eu sou”. De novo ele disse: "Se o jardim da fé floresceu, mostra um sinal disso”. Ele respondeu: “Estive sedento muitos dias, A noite, nao dormia com a dor ardente do amor; Ento passei por dias e noites, Como a ponta de uma espada ricocheteia num escudo. Pois nesse estado, toda fé é uma, Cem mil anos ¢ um momento sao um s6; Mundo sem comeco e mundo sem fim sao um; ‘A razo nao encontra acesso quando a mente est assim perdida”. Profeta insistiu novamente com Zaid que este Ihe desse algum presente daquele lugar celeste, como testemunho de que realmente estivera Id em espirito. Zaid respondeu que vira 0s oito céus e 0s sete infernos, e o destino de todos os homens, fadados 0 céu € ao inferno. “O corpo", disse ele, “6 comc uma mae ¢ a alma seu bebé; a morte é 0 momento do parto, quando se tora ‘manifesto a que classe pertence a alma do bebé”. Assim como no dia do julgamento seré manifesto a todos os homens se determi- ‘ada alma pertence aos salvos ou aos perdidos, tudo isso agor™ ra claro e manifesto para ele. 7 he Buntow ento ao Profeta se deveria tornar pablico es5@ 5.0 Pre aa secreto a todos os homens, ou se deveria cala™ isse-lhe que se calasse. Zaid, porém, comegou 4 seu LIVROT — HISTORIA xv / 75 descrever em detalhes a visio do dltimo julgamento, que ele vira em espifito, ¢ 0 Profeta ordenou-the novamente que parasse, acres- centando que “Deus ndo tem vergonha de dizer a verdade”," ¢ permite que Seu Profeta diga a verdade, mas que seria errado Zaid divulgar os segredos vistos numa visio extitica. Zaid res pondeu que era impossivel para alguém que contemplara uma vez. 0 Sol da Verdade guardar segredo de sua visdo. Mas o Profeta ‘em resposta ensinou-Ihe que todos os homens so senhores de suas préprias vontades, e que ele nao deveria revelar 0 que Deus determinou que se mantivesse em segredo até o Ultimo Dia, para até entdo deixar 0s homens sob o estimulo da esperanca ¢ do medo, e dar-lhes o mérito de “crer no invisivel”.* Mais honra sera dada ao sentinela do castelo que executa fielmente sua missio longe da corte do que aqueles cortesios que servem constante- mente sob os olhos do rei. Zaid submeteu-se as ordens do Profeta manteve-se reservado sobre suas visdes extaticas. Anedotas do sébio Luqman, do Rei Salomao e de uma con- flagracao no tempo do Califa Omar completam o capitulo. OS CONSELHOS FINAIS DE RESERVA DO PROFETA © Profeta disse: “Meus companheiros so como as estrelas, Luzes para aqueles que andam no caminho reto, projéteis contra { Sata. Se todo mundo tivesse forga em sua visio Para olhar diretamente para a luz do sol no c&u, Que necessidade haveria de estrelas, 6 humilde!, Para aquele que fosse guiado pela luz do sol? Nem a lua nem os planetas seriam necessirios Aquele que viu diretamente o Sol da Verdade. 55. AlcoroXXXHILS3, 56. Alcorto 13. ———, asnav! cqmotamibém as mavens €38 Sombra: s = declare, cor gntudo me foi revelado!” Alva’ 4 homer, cont caso pre ‘mot . eel do Sle me dee m -omparado a0 Sol, Aids asco Sues ds homer, Embora eu se ‘comparac +e uz 6 frac, para que possas suporté-1a, peas fn ra suport 0501 fescante Fy por asi ciel el Onn VINA: Pomtrtr aenfermidade de vOss0s COFagOe5 Quando te cuares de tua doensa, 7 a ‘owinagre e come o mel PUTO. eas sono et adomado e impo de todo deseo, Dentro dele ‘o Deus da Misericdrdia senta-se em. Seu trono’ Entdo, Deus governa diretamente 0 cora¢ao, Quando este conquistou essa conexdo direta com Ele. Esse tema 6 infinddvel, mas onde est Zaid, Que eu pos dizer he novamente que nao busque a notoriedade? [Néo 6 prudente tomar piblico esses mistérios, Pois aproxima-seo Ukimo Dia para revelar todas essas coisas". ‘Agora ndo encontrarés Zaid, pois ele fugiu, eu um pulo do lugar onde deixou seus sapatos, Perdendo-os em sua pressa, Se fosses Zaid, tu também te terias perdido, Como uma estrela se perde quando o sol britha sobre ela; Peis eno ndo vés trago nem sinal dela, Nao vés seu ugar ou sua trilha na Via Léctea. 'Nossos sentidos e nossos discursos sem fim Sto aniquilados a luz do conhecimento de nosso Rei. ‘Nossos sentidos e nossa razdo dentro de nés ‘Sto como ondas sobre ondas “reunidas diante de nés”.° (Quando a noite retoma e é a hora do despertar do céu, 57. 1s06,oProfeta 5 AleortoXVIN.110 52. Aleomtoxxs, © AeordoXOKvI5s, LIVROI — HISTORIA xvi / 77 ‘As estrelas que estavam escondidas comegam a trabalhar. ‘As pessoas no mundo dormem inconscientes, ‘Com véus sobre seus rostos, adormecidos; ‘Mas quando a manha irromper e 0 sol se erguer, ‘Toda criatura erguerd a cabeca de sua cama; ‘Ao inconsciente, Deus restituiré a consciéncia; E eles se pordo em circulos, como escravos com anéis nas orelhas, Dancando e batendo palmas em cdnticos de louvor, ‘Cantando com alegria: “Nosso Senhor nos restituiu a vidat Despojando-se de sua velha pele e ossos, Como cavaleiros levantando uma nuvem de p6. Todos avangando do Nao-Ser para o Ser, No Ultimo Dia, tanto os gratos quanto os ingratos. HISTORIA XVI AABSTENGAO DE ALI Alli, 0 “Leto de Deus”, lutava certa vez com um chefe mago , no meio do combate, 0 mago cuspiu em sua face. Ali, ao invés de vingar-se dele, imediatamente largou sua espada, para grande surpresa do mago. Quando este perguntou a razo dessa absten- ‘So, Ali disse-Ihe que o “Ledo de Deus” nao destrufa vidas para a satisfacao de sua propria vinganga, mas apenas para realizar a vontade de Deus, e que, sempre que via um motivo justo, detinha sua mao, mesmo no meio da luta, e poupava 0 inimigo. O Profeta, Ali continuou, h4 muito Ihe dissera que ele morreria pela mio do seu proprio cavalarico (Ibn Maljun),e este muitas vezes implorara a Ali para maté-lo e assim salvé-lo de cometer esse grande crime; mas Ali disse que sempre se recusara a faz@lo,j4 que, para ele, ‘morte era tio doce quanto a vida, ¢ ele ndo sentia nenhuma raiva de seu assassino predestinado, que era apenas 0 instrumento do designio eterno de Deus. (© chefe mago, 20 ouvir as palavras de Ali, ficou téo abalado ol _ ~~ f = MasNAVI ye abracou af islamicay mero de cingiienta almas. FETA SUSSURROU AO CAVALARIGO ‘COMO 0 PRO! DE ALI QUE ELE UM DIA ASSASSINARIA SEU SENHOR sussurrou ao ouvido de meu servo “0 ie eg de et PS Jambém avisou, por inspiracdo, a mim, seu amigo, Que a mao de meu servo haveria de me destruir. ‘Meu servo exclamou: ‘O, mata-me primeiro, Para que eu ndo venha a me tomar culpado de tao grave pecado Respondi: ‘Se minha morte deve vir de ti, ‘Como posso eu impedir o fatfdico decreto” Ele caiu a meus pés ¢ exclamou: ‘O bom senhor, Por amor de Deus, parte agora meu corpo em dois, Para que tal maleficio nao possa ser executado por mim, E minha alma arda de angistia por seu amado’. Respondi: ‘O que a pena de Deus escreveu est escrito; Na presenga de seus escritos, 0 conhecimento se confunde; Nao hd édio em minha alma contra ti, Pois nao posso atribuir esse feito a ti; ee de Deus, a mao de Deus € 0 agente. }Posso eu censurar ou aborrecer-me com o instrumento de Deus?” Ele disse: ‘Se ¢ assim, por que hd represdlia 7°" ‘Respondi: ‘Isso vem de Deus, e é segredo de Deus; Sea Ele desagradam Seus préprios atos, Ele faz de Seu desagrado um paraiso; AFledesagradam Seus préprios atos, a Ele € um Deus tanto de vinganga como de miseric6rdia. ‘dade dos acontecimentos, Ele é 0 Senhor, 61. sto€, porqueal % Poraue aregra de “olho por olha” éimposta no Alcor8o T1178 juntamente com toda sua famflia, em LIVROI — HISTORIA xvi / 79 Neste reino, Ele € 0 Rei que planeja todos os acontecimentos, Se Ele esmaga Seus préprios instrumentos, Faz, os esmagados belos a Sua vista. Aprende o grande mistério de ‘os versiculos que suprimimos Ou te fazemos esquecer, os substituimos por outros melhores’ ° Allei que Deus suprime, Ele trata como se fosse joio, E emseu lugar faz surgir uma rosa. Assim, a noite suprime as atividades do dia, Quando a razo que ilumina nossas mentes se toma inanimada. De novo, a noite é suprimida pela luz do dia, Ea razdo inanimada € reacendida para a vida pelos seus raics, Embora a escuridao produza esse sono e quietude, Nao estd a “Agua da vida” na escuridao?” Nao se refrescam os espiritos nessa mesma escuridao? Nao € esse siléncio o momento das vozes celestiais? Pois de contrarios surgem contrarios, Da escuridao foi criada a luz. ‘As guerras do Profeta trouxeram a paz presente, A paz desses tiltimos tempos resultou daquelas guerras. Esse conquistador de coraces degolou mil cabesas, Para que as cabegas de seu povo pudessem descansar em paz.” DEUS REPREENDE ADAO POR ZOMBAR DE IBLIS A quem quer que chegue a ordem de Deus, Este deverd matar com sua espada até a seu proprio filho. Teme, entdo, e nao insultes os maus, Pois os maus so impotentes diante das ordens de Deus. Diante delas, inclina o pescogo do orgulho. Nao censures nem escamegas aqueles que se extraviam! ©. AlcortolL.106, ©. Aludindoa “égua da vida” guardada por Khidr na tera da escuridzo, go. / MASNAVI Jo lancou um olhar de desprezo e escarnio eee desgracado era ele, sabre Ils, pensando qulo desgragads Sentise importante eorgulhoso de Sy F sortia das acbes do amaldicoado ed iss 0 Deus Todo-Poderoso gritou-Ihe: “O purot, Tu és totalmente ignorante dos mistérios ocultos. Se cu fosse revelar as faltas dos desafortunados, TTeria de arrancar as montanhas de suas bases, E desnudar o segredo de cem Adaos, . E converter cem novos Iblis em muculmanos”. ‘ ‘Adao respondeu: “Arrependo-me de meus olhares de escérnio; ais pensamentos arrogantes ndo serdio meus outra vez. Senhor, perdoa a ousadia de Teu escravo; . ‘Arrependo-me; nao me castigues por essas palavras!” O Tu que ajudas os que buscam ajuda, guia-nos, Pois ndo hd seguranca nem no conhecimento nem na riqueza; “Nao facas nossos coragGes se extraviarem, j4 os tendo uma vez L guiado,* E afasta o mal escrito pela “Pena”. Desvia de nossas almas 0 mal escrito em nossos destinos, Nao nos afastes das tébuas da pureza! © Deus, Tua graca € 0 verdadeiro objeto de nosso desejo; Nao cabe associar outros a Ti, Nada ¢ tao amargo quanto a separacao de Ti, ‘Sem Tua protecao no hé sendo perplexidade. Nossos bens terrenos nos privam de nossos bens celestiais, Nosso corpo rasga as vestes de nossa alma. Ecomo se nossas mios atacassem nossos pés; Sem confianga em Ti, como podemos viver? —— capa a esses grandes perigos, es ssecativa, oo de medos ¢ infortinios, Vive parse m4 ndo goza da unio com 0 Amado, Pre Cega e sozinha na escuridao. &.Alcortoma, Di UIVROI — EPtLoco / a Se Tu nao mostrares 0 caminho, nossa vida er sem Ti € como estar morto! std perdida Se tens queixas de Teus escravos, ETeu direito, 6 Abencoado! Se quisesses chamar 0 sol ea lua de opacos, Se quisesses chamar o reto cipreste de torto, Se quisesses declarar vil o mais alto céu, Ou pobres ricas minas e oceanos, — Tudo isso é verdade em relagao a Tua perfeicao! Teu € 0 dominio e a gloria e a riqueza! Pois ests livre de defeito e nao-ser; ‘Tu das existéncia a coisas nao existentes, E volta a tornd-las nao existentes. EPILOGO Ail Os frutos proibidos foram comidos, E dessa forma a célida vida da razio foi congelada. Um grao de trigo eclipsou o sol de Adio, Da mesma forma com que a Cauda do Dragio™ enfraquece [ obritho da lua. ‘Ve como é delicado 0 coracao, que uma particula de pé Encobriu sua lua com turva obscuridade! Quando o pao ¢ “substancia”, comé-lo nos alimenta; Quando é “forma’” vazia, de nada nos serve. Como o espinheiro verde que é comido pelo camelo, E lhe da prazer, e o alimenta; Quando termina seu verdor e ele resseca, Se for comido pelo camelo no deserto, — ; &. "Os mugulmans consideram que ofruto proibido foi otrigo. 6. — Onodo descendente da lua. iil az_/ MASNAVE Feriri sua boca sem piedade foce de rosas se transformasse em espadas afiadas, Como se um di Quand 0 pao 6 “substancia”, cle ¢ como O espinheiro verde; Guando € “forma”, € como 0 espinho seco € &SPero, ‘ma forma que outrora E tu o comes da mes Costumavas comé-lo, 6 criatura incorrigivell, ma forma, ‘Comes essa coisa seca da mes Sendo que a “substancia” real j4 mesclou-se a0 P6; Misturou-se com o p6, seca, do miolo a casca. 6 camelo, cuidado com essa erva! ‘APalavra tornou-se turva misturada com a terra; ‘A dgua tomou-se barrenta; fecha a boca do pogo, ‘Até que Deus a faca novamente pura e doce; ‘sim, até que Ele purifique o que Ele tornou impuro. ‘Appaciéncia realizard teu desejo, nao a pressa, Sé paciente, Deus sabe o que ¢ melhor. MASNAVY LIVRO Il PROLOGO | ‘A-composicio deste Masnavi foi adiada por uma estacio.! E preciso tempo para que o sangue se transforme em leite, Até que ressurja tua fortuna, como um recém-nascido, O sangue nao se transforma em leite, doce e agradavel & mente, Quando essa luz de Deus, ‘Hussamuddin, Mudou seu curso e comecou a descer do cume do céu, — ‘Tendo jé ascendido as mais sublimes verdades, — Na auséncia de sua primavera nao se abriram os botdes; ‘Mas quando ele saiu desse mar para a praia, Soou novamente o alatide da poesia do Masnavi. O recomego deste Masnavi polidor dos espiritos, Ocorreu no Dia da “Abertura”. A data do inicio desta obra preciosa 7 Foi o ano de seiscentos e sessenta e dois da Fuga” Nesta data, levantou voo o rouxinol e converteu-se em falcdo; Sim, um falco para cacar estes mistérios. Possa ser no pulso do Rei o pouso deste falcdo, E possa esta porta estar para sempre abertal L, | Oakes denice sua mulher. 1. Catraso deveu-se a dor de Hussamuddin pela morte de que di inicio & era 2. FUGA: Fuga de Mohammed de Meca para Medina, islamca (hep). Ocore en 622d er crt. 36 / MASNAVI HISTORIA 1 © ASNO DO SUFI Depois das anedotas do homem que, no tempo de Omar, confundiu sua pestana com a lua nova, do outro que roubou uma cobra e foi mordido por ela, e do tolo discfpulo de Issa (Jesus) que implorou ao Senhor que Ihe ensinasse o feitigo com que ele ressus- citava os mortos, ve a seguinte hist6ri Um certo sufi, apés um longo dia de viagem, chegou a um monastério, onde resolveu passar a noite, e deu instrugSes estritas a seu servo para que cuidasse muito bem do seu asno e Ihe desse muita palha e forragem. O servo garantiu-lhe que suas minuciosas instrugdes eram desnecessdrias e prometeu cuidar com todo zelo do animal; mas quando seu senhor deu as costas, ele descuidou do asno, ¢ 0 pobre animal passou a noite inteira sem gua nem comida. Conseqiientemente, ficou fraco e incapaz de seguir via- gem na manha seguinte e, apesar dos golpes e chutes que nele descarregaram, nao péde levar seu senhor; antes, teve de ser leva- do. Os outros sufis que estavam viajando com seu dono pensaram que 0 asno no servia mais para nada e, ao chegarem ao lugar onde passariam a noite, venderam o asno a um viajante e, com 0 produto da venda, compraram tochas e iguarias saborosas e fize- ram um banquete. © dono do asno, que ignorava essa transac&o, Participou do banquete e se uniu ao coro cantado pelos outros: “O sno se foi, 0 asno se foi", sem prestar atencao ao sentido das Palavras e seguindo cegamente o exemplo dos outros. Na manha Seguinte, perguntou ao servo acerca do asno, e 0 servo Ihe disse ue fora vendido, supondo que ele jé soubesse, pois, na véspera, © ouvira cantando “o asno se foi” junto com os outros sufis. FecanN” Sutso dessa histéria, so relatadas anedotas em que Deus Giscute com os anjos a criagdo do homem, de um rei que pended Seu falco e foi encontré-lo na casa de um velho pobre, e do Sheik Ahmad Hizrauiya comprando doces para seus credores. oe UVRO Il — HISTORIA 1/67 PORQUE © POETA ESCONDE SUAS DOUTRINAS EM FABULAS OQ que me impede de expor minhas doutrinas Esomente porque: os coragbes de meus ouvintes se inclinam U para outro lado. Seus pensamentos se concentram nesse convidado sufi, Estdo imersos até o pescoco no que ele faz. Por isso, sou obrigado a afastar-me de meu discurso Para essa hist6ria, e expor sua situacgo, Porém, amigo, ndo consideres esse sufi mera forma exterior, Como as criancas que no véem na videira nada mais que passa. © filho, nossos corpos so como uvas secas @ passas; Se & um homem, despoja-te dessas coisas! Se avangares até os puros mistérios de Deus, Seras exaltado além das nove esferas celestias, Ouve agora a forma exterior de minha hist6ria, Mas separa o joio do trigo. PORQUE FORAM ENVIADOS OS PROFETAS Deus enviou os profetas com este propésito: Separar a infidelidade da fé. Deus enviou os profetas a humanidade, Para que pudessem colher 0 gro puro em seus tabuleiros, Fiel e infiel, muculmano e judeu, Antes que viessem os profetas, pareciam todos uma coisa s6. Antes que eles viessem, éramos todos iguais, Ninguém sabia se estava certo ou errado, Circulava livremente tanto a moeda genuina quanto a moeda falsa; © mundo era uma noite, e nds, viajantes na escuridao; Até que o sol dos profetas se ergueu ¢ gritou: “Vai-te, 6 sonoléncia; sé benvinda, 6 luz pura!” Agora o olho vé como distinguir as cores, Vea diferenca entre pedras e rubis. 38 / MASNAVE 0 olho distingue as jéias do pé, Pois 0 pé faz. doer os olhos. ; Os fabricantes de moedas falsas odeiam a luz do dia, ‘Moedas de ouro puro amam a luz do dia, Pois a luz do dia € o espelho que as reflete, Para que possam ver sua propria beleza perfeita, SIGNIFICADO MISTICO DE “LUZ DO DIA” Deus chamou a ressurreigao de “aquele dia”; O dia realga a beleza do vermelho e do amarelo. Por isso, na verdade, “dia” € 0 mistério dos santos; Um dia de suas luas (meses) 6 como anos inteiros. Sabe que 0 “dia” € o reflexo do mistério dos santos, Noite de cerrar os othos, essa de seus segredos ocultos. Por isso, Deus revelou o capitulo “Luz do Dia”,? Sendo luz a luz do coragdo de Mustafa. De outro ponto de vista, essa luz do dia significa “o Amigo”, Sendo também um reflexo do mesmo profeta. Pois, assim como € errado jurar por um ser transitério, Como podemos supor que Deus fale de um ser transit6ri Disse o Amigo de Deus: “Nao amo a deuses que se poem”.* Como, entdo, poderia Allah referir-se a um ser transit6rio? Alem disso, as palavras “de noite” significam os véus de Mohammed, Ou seja, o belo corpo terreno que ele carregava; Quando seu sol passou do alto céu Para dentro da noite daquele corpo, disse: “Ele nao te abandonou"; Auniao com Deus surgiu das profundezas dessa desgraca; Essa dédiva foi a palavra: “Ele ndo ficou descontente”. Alcordo XCIIL “Pela luz do diae pela noite, teu Senhor nao teabandonou nem ficou descontente”. Alcorto VI.76: “Quando a noite envolveu (Abrafio), ele viu uma estrela & disse: ‘Eis meu Senhor’ Mas, quando a estrela se ps, disse: ‘Nao amo a deuses que se poem”. HVRO I — HustoRIAT a9 Toda expressdo € 0 sinal de um estado da mente; Esse estado &a mio, a expressio, um instrumento, Os instrumentos do ourives nas méos de um sapateiro Sao como gras de trigo semeados na areia, As ferramentas do sapateiro nas macs de um agricultor Sao como relva diante de um co ou ossos diante de um asno, As palavras “Eu sou a Verdade” foram luz na boca de Mansur? Na boca do Fara6 “sou vosso Senhor, o Altissimo!” Avara na mao de Moisés foi um testemunho, Nas maos dos mégicos, ndo era nada. Por esse motivo, Issa (Jesus) nao ensinou aquele homem tolo As palavras de poder pelas quais ele erguia os mortos, Pois aquele que ¢ ignorante utiliza mal o instrumento; Se esfregares a pederneira na lama nao conseguirds fogo. A mio ¢ o instrumento parecem-se com o aco ea pedemeira; Precisas ter um par; um par necessdrio para gerar, Aquele que nao tem par nem sécio é 0 “Um’, Um némero impar, Um sem discussio! Aquele que diz “um” e “dois”, ¢ assim por diante, Confessa a existéncia do “Um”. Quando a ilusao da visio dupla se desvanece, Os que dizem “um” e “dois” sdo iguais aqueles que dizem “Um". Se tomares “Um” como tua bola no campo de ténis d’Ele, Ela rolaré com os golpes da raquete d’Ele. Sim, a bola que ¢ uniforme e sem falha Gira pelos golpes da mao do Rei. foi blasfémia, O homem de visio dupla, escuta com atencS0, Busca a cura para a tua visio deficiente, ouvindo. 5 Mansur Haley an annus sala rte em Baga 5. Mansur Halla um famoso sufi que oi condenado & morte em Bagelé no ‘ano de 309 d.H. por usar essas palavras. 90 / MASNAVL ram entrada itas Si rag santas que ndo encont Nescores ae que entram nos coragbes cheios de luz, Seeseeles de Sat, pom entram nos oragbes deformades, ed sapatos deformados se ajustam a pés deformados, Por mais que repitas expressbes piedosas, Se & um tolo, elas em nada te afetam; — No, nem que as coloques por escrito, Ou as proclames com alarde; Asabedoria afasta sua face de ti, 6 homem pecador, ‘A sabedoria aparta-se de ti e foge! SOBRE TAQLID, IMITAGAO CEGA OU FRASES FEITAS “6 desgracado, por que nao vieste a mim e me disseste: “Tal ou qual desastre aconteceu?” O servo respondeu: “Por Allah, cansei de tentar Por-te ao par do que acontecera, Mas sempre dizias: 'O asno se foi, meu rapaz!” Junto com 0s outros, em grande excitacao; Ent, fui-me embora pensando que soubesses de tudo E que estivesses satisfeito com a transac, j4 que és um homem. O sufi disse: “Todos cantavam as mesmas palavras, Por isso senti-me impelido a canté-las também, Imité-los cegamente foi minha desgraca, Amaldigoada seja essa cega imitacao!” O efeito de imitar cegamente condutas frivolas Eabandonar a honra Por um pedaco de pio, © éxtase daquele grupo de pessoas lancou um reflexo Que fez 0 coragao desse sufi tornar-se extatico como o deles. Frecisas de muitos reflexos de teus companheiros Para poderes tirar égua desse Oceano incomparavel. O primeiro reflexo lancado 6 apenas cega imitacdio; ee [_sabio”. HVROU — tnstoRta ty 91 Depois de repeti-la muitas vezes, Até té-la assim verificado, ndo a tomes de teus amigos, A gota ainda no transformada ae &m Pétola nao se separa de sua { concha. AMA INFLUENCIA DA AvIDEZ Se queres ter claros 06 olhos ¢ 0s ouvi Arranca o véu obstruidor da avidez! A imitagdo cega desse sufi provinha da avidez; Ela fechou sua mente para a luz pura, Sim, foi a avidez que extraviou esse sufi Eo levou a perda de seu bem e a ruina, Aavidex das iguarias, a avidez daquele canto extatico, Impediram que seu entendimento percebesse a verdad. Sea avidez manchasse a face de um espelho, Esse espelho seria to enganador quanto nés homens somos, Sea balanca fosse dvida por riquezas, Diria ela 0 peso correto de alguma coisa? idos da razao, © Profeta disse: “O meu povo, com toda sinceridade, Nao vos peso retribuicao por minhas profecias; ° Eu sou um guia; Deus compra minha direg3o para vés, Deus vos da minha direso em ambos os mundos. E verdade, um guia merece seu salario; O salatio lhe € devido por guiat-vos no caminho certo. Mas qual é meu salério? A visio do Amigo. Abu Beker ofereceu-me, de fato, quarenta mil moedas de our, Mas nem suas quarenta mil moedas seriam saldrio para a 7 Como poderia eu receber contas de cobre por pérolas do Eden? & AlcoraoXL SI. ns ao Profeta, para ajudar 7 Abu Bekr transferiua posse de todos os seusbens 20 jude a expedigao a Siria. 92 / MASNAVI istéria; ouvi atentamente, un vide COT 08 OVE, Para que Pos td suit cla € um avaro. Todo aa ae decongies nublados pela avidez. ver claramente? Pade nse posgto cog sa VSO, Como cabelo caindo na frente de seus olhos. Vou contar-v HISTORIA I (MENDIGO E OS PRISIONEIROS Um certo mendigo consegui ser admitido em uma prisio e molesava os prescs comendo todos os seus viveres, sem Ihes dei var maa, Por fim, ees apresentaram uma queixa formal a0 Cédi e lhe imploraram que banisse o voraz mendigo da priséo. O Cédi chamou © mendigo 2 sua presenga e perguntou-lhe por que ele ‘no ia para sua propria casa, em vez de viver as custas dos prisio- neiros. O mendigo respondeu que nao tinha casa nem meios de Vida, salvo 0 que conseguia na prisdio; o Cédi ordenou entdo que ele fosse levado por toda a cidade, proclamando-se que ele era um ‘mendigo e que ninguém se deixasse induzir a emprestar-Ihe di- nheiro ou a negociar com ele. Em cumprimento a ordem, os guardas procuraram um c- melo para levé-lo pela cidade e, por fim, induziram um curdo que vendia lenha a emprestar seu camelo para esse propésito. O curdo Consentiu, avido pela recompensa, ¢ 0 mendigo, sentado no came- '0 foi levado por toda a cidade da manha até a noite, enquanto s¢ Proclamava em persa, Arabe e curdo, que ele era um mendigo. Quando a noite chegou, o curdo exigiu o pagamento, mas o men- igo recusou-se a dar-Ihe o ‘que quer que fosse, observando que S¢ ele tivesse Mantido os o1 aa 1uvidos abertos, devia ter ouvido a procla- Assim, i 5 dia trabathande yn”! levado pela avider. a perder todo um inutilmente, “ee UVROH — HisTORIA It / 93 © OFICIO DE SATA No MUNDO © mendigo disse: “Tua beneficéncia ¢ meu sustento; Para mim, como para os estrangeiros, tua prisfo ¢ um paraiso, Se me banires de tua prisdo em reprovacio, Morrerei de pobreza e aflicao”. Desta forma também disse Iblis a Allah: “Senhor, “Tolera-me até 0 dia da ressurreigaio’ > Pois, nesta prisio do mundo, sinto-me bem, Para que eu possa matar os filhos de meus inimigos. De todo aquele que tem a verdadeira f6 como alimento E como pao para suas provisdes de viagem, Eu roubo com embustes ou logro, Para que ergam gritos amargos de arrependimento. As vezes, eu os ameago com a pobreza,” As vezes, cego seus olhos com trangas ¢ manchas” tenha compaixao; Nesta prisdo, 0 alimento da verdadeira fé 6 escasso, E pelas trapacas deste cio, o pouco que ha se perde. Apesar das preces, dos jejuns e das dores infindaveis, Nosso alimento ¢ todo devorado por ele. Busquemos junto a Allah reftigio de Sata. Ai de nés! Estamos perecendo por sua insoléncia, O co € um eno entanto assume mil formas; Qualquer coisa no qual entre, logo nele se transforma, Seja 0 que for que te faz estremecer, sabe que ele esta ali, O Demonio ests escondido sob sua forma exterior. Quando nao encontra uma forma A mao, penetra em teus [ pensamentos, Para fazer com que te arrastem ao pecado. De teus pensamentos vem a destruicao, ‘wando de tempos em tempos te ocorrem maus pensamentos. S Alcorio VIL 14. Alcorae I. 279, 24 / MASNAVE tos de prazer, por vezes de negocios, tos de ciéncia, por vezes da casa e do lar, de ganho e comércio, de mercadorias e riquezas. de dinheiro e mulheres e filhos, Por veres, pensamentos de sabedoria ou de tristeza, Por vezes, pensamentos de um lar confortavel e roupas finas, Por vezes, pensamentos de tapetes, por vezes de vassouras, Por veres, pensamentos de moinhos, jardins e belas casas, Por veres, de nuvens e nevoeiros, piadas e chistes. Por vezes, pensamentos de paz e de guerra, Por vezes, pensamentos de honra e desgraca. ‘Ah! Expulsa de tua cabeca essas imaginag6es vais, Varre de teu coracdo essas sugestdes malignas. Grita: “Nao hé poder nem forga senao em Deus!” ara afastar 0 Maligno do mundo e de tua propria alma. Por veres, pensament Por vezes, pensament Por vezes, pensamentos Por vezes, pensamentos Por vezes, pensamentos © VERDADEIRO AMADO FAZ EXISTIR TODA BELEZA EXTERIOR E TERRENA Tudo 0 que é percebido pelos sentidos, Ele anula, Mas Ele fixa aquilo que ¢ escondido dos sentidos. O amor do amante é visivel, seu Amado, oculto. O Amigo esté ausente, a agitaco que ele causa, presente. Renuncia a essas afeig&es pelas formas exteriores, O amor nao depende da forma exterior ou do rosto. O que quer que seja amado nao é mera forma vazia, Seja ele da terra ou do céu. ‘Seja qual for a forma pela qual te apaixonaste, Por que a repudias no momento em que a vida a abandona? ‘forma ainda est ali; por que, entio, essa aversao a ela? See —— —— bem o que realmente é amado; Tatton Sa perebida Pelos sentidos exteriores, i que retém seus sentidos devem ainda amélo; LIVROM — HisToRtA I / 95 jA que 0 amor aumenta a constancia, Como pode a constancia falhar se a forma subsiste? Mas a verdade €: 05 raios do sol batem no muro, Eo muro apenas reflete essa luz emprestada. Por que dar teu coragao a meras pedras, 6 Vai! Busca a fonte de luz que brilha sempre! plério? Distingue bem a verdadeira aurora da falsa, Distingue a cor do vinho da cor da taca, Para que, em vez. dos muitos olhos do capricho, Um Ginico olho possa ser aberto por meio da paciencia e da [ constar Entdo contemplards as cores verdadeiras em lugar das falsas, E joias preciosas em vez de pedras. ‘Mas 0 que € uma j6ia? Nao, serés um oceano de pérolas; Sim, um sol que se compara aos céus! O verdadeiro Artifice est escondido em Sua oficina; Entra nessa oficina e contempla-O face a face. Posto que o trabalho desse Artifice estende sobre Ele uma cortina Nao podes vé-Lo fora de Seu trabalho. Como Sua oficina é a morada do Sébio, Quem © procura fora é ignorante d’Ele. ‘Vem, entao; entra em Sua oficina, que é 0 Nao-ser, Para que possas ver 0 Criador e a criago a0 mesmo tempo. Quem viu como é resplandecente a oficina ‘Vé como ¢ escuro seu exterior. O Fara6 rebelde voltou sua face para o ser (egoismo) E forgosamente ficou cego para essa oficina. Por forga, procurou mudar o decreto divino, Esperando desviar o destino de sua porta. Enquanto isso, o destino, diante da impotencia deste homem [ engenhoso, © tempo todo zombava dele em segredo. 96 / MASNAVI Ele assassinou cem mil criangas inocentes Para que a ordem e 0 decreto de Allah fossem contrariados. Para que o profeta Moisés nao nascesse vivo, Ele cometeu mil assassinatos na terra. Ele fez tudo isso, e no entanto Moisés nasceu, E foi protegido de sua ira, Tivesse ele visto a oficina eterna, Teria refreado mao e pé desses vaos expedientes. Dentro de sua casa, estava Moisés sao e salvo, Enquanto ele matava em vao os recém-nascidos do lado de fora. Assim, o escravo dos desejos sensuais que mima seu corpo Imagina que algum outro homem the quer mal, Dizendo ‘este é meu inimigo, e este meu adversétio’, Enquanto é seu proprio corpo seu adversario e inimigo. Ele € como 0 Fara6, e seu corpo como Moisés — Ele corre Id fora gritando: “Onde est meu inimigo?” Enquanto a luxdria esta em sua casa, que € seu corpo, Ele cerra os punhos de raiva dos estranhos. Segue-se uma anedota de um homem que assassinou sua propria mae porque ela estava sempre cometendo adultério com estranhos, e que se justificou alegando que, se nao tivesse feito isso, teria sido obrigado a assassinar estranhos todos 0s dias, e incorrer assim na culpa de derramar sangue. A luxdria € comparada a essa mae devassa; quando ela é climinada fica-se em paz com todos os homens. Em resposta a uma objecio de que, se fosse assim, os profetas e os santos, que venceram a luxéria, ndo teriam sido odiados e oprimidos como foram, observa-se que aqueles que odiavam os profetas, na real dade odiavam a si mesmos, exatamente como 0s doentes brigam com 0 médico, ou os alunos com 0 professor. Os profetas € 05 santos foram criados para testar as disposigdes dos homens, para {que 0s bons possam ser separados dos maus, Os numerosos graus de profetas, de santos ¢ de homens santos so ordenados, como as uv ROM — sustoRta un 97 muitascovtinas que velam a ur de Des, por ¢ torné-lo visivel a todos os graus de vieso rn et Seu brilho 30 humana, HISTORIA tit O REI E SEUS DOIs ESCRaVos Um rei comprou dois escraves, um extremamerte bel outro muito feio. Ele mandou a séncia, interrogou 0 outro. Disseihe que tates : ¢ Primeiro escravo falara muito mal dele, dizendo que ele ea ladrio e mau carter, e per guntou-the se isso era verdade.O segundo escravorespondeu que 0 primeiro era tudo o que havia de bor, suas qualidades inten. res correspondendo a beleza de sua aparéncia exterior, © que 0 que quer que tenha dito ao rei era digno de crédito. O rei respondeu que a beleza era apenas um acidente e que, de acordo com a tradicao, os acidentes “sé duram dois momen- tos”, — que na morte a alma animal é destruida —, que a frase “quem se apresentar com beleza receberd dez vezes seu equiva- lente”"” nao se refere a acidentes exteriores, mas a “substancia”, 3 alma eterna. Em resposta, 0 escravo insistiu que os acidentes das boas obras e dos bons pensamentos gerariam de alguma forma frutos Ro outro mundo, assinalando que 0 pensamento € sempre 0 pre- cursor da obra concluida, pois a planta do arquiteto antecede a construcdo, e 0 desenho do jardineiro, o fruto perfito que resub tard do seu trabalho. Acrescentou que o mundo ¢ apenas 0 pens ‘mento realizado da “Raz3o Universal”. © rei, entdo, despachou o escravo com quem manbvera St Conversa e chamou o outro, dizendo-the que se colegs Alar 8 dele, e perguntou-Ihe o que ele tinha a dizer. 0 escrav> ween aS {ue sew colega era um mentiroso e um canal, & 0 1 ™mandou-o embora, observando que, de acondo com 8 — a ee 10. Alcorao VI. 160. sey 98 / MASNAVI de sua propria lingua”, sua “todo homem se esconde debaixo “A seguranca de um homem lingua trafra sua maldade interior. estd em conter sua lingua.” A SUCESSAO APOSTOLICA DOS PROFETAS E DOS SANTOS Com aquele “fulgor de relampago”,"" Ele acendeu suas almas Para que Adio adquirisse o conhecimento dessa luz. ‘Aquela que brilhou de Adao foi colhida por Seth, E quando viu a luz, Adao fez dele seu vice-rei. Quando Noé recebeu o dom desse brilho, Transformou-se numa alma que trazia as pérolas da tempestade [ do dilavio. Por essa luz a alma de Abraio foi conduzida; Sem medo, ele entrou na ardente fornalha de Nemrod. Quando Ismael buscou essa luz, Pos docilmente a cabeca sob a brilhante adaga de seu pai. ‘Aalma de David foi aquecida por seu calor; (© ferro tornou-se maledvel com a forga de seu tecer.'* Quando Salomao foi nutrido pela fruigdo dessa luz, Os demonios tornaram-se escravos submissos de sua vontade. Quando Jacé curvou a cabega ao decreto divino, Recuperou a visio ao sentir o cheiro de seu filho."? Quando José, semelhante a lua, viu esse sol brilhante, Tornou-se 0 sdbio que era em interpretar sonhos. Quando a vara ganhou poder da mao de Moisés, Devorou, de uma s6 vez, 0 reino do Fara6. Th. Aleorto XXIV. 43. A inspiragao profética ¢ comy a [passa das maos de um para outro. acid 12, Aleorto XI. 80. 13, Aleorto LXXVII.96. LIVRO I] — HISTORIA III / 99 Quando a alma de Jirjis'* conheceu essa luz, Ele sacrificou sua vida sete vezes, e recuperou-a. Quando Zacarias'* orgulhou-se de seu amor por ela, Resgatou sua vida no oco da arvore. ‘Quando Jonas deu um gole dessa taca, Encontrou repouso no ventre do peixe. Quando Joao Batista se encheu com sua ungo, Descansou a cabega na bandeja dourada em ardor por ela. Quando Jetro tomou ciéncia dessa exaltagao, Arriscou sua vida para encontré-la. O paciente J6 deu gracas por sete ancs, Pois em suas desgracas, via sinais de sua aproximagao. Quando Khidr e Elias se orgulharam de té-la obtido, Encontraram a 4gua da vida e munca mais foram vistos. ‘Quando Jesus, filho de Maria, encontrou essa escada ascendente, Elevou-se a altura do quarto céu. Quando Mohammed obteve essa abencoada posse, Num instante ele partiu ao meio o disco da lua."* Quando Abu Bekr converteu-se em exemplo dessa graga, Foi companheiro desse Senhor, e “testemunha fiel”. ‘Quando Omar arrebatou-se com essa beleza, Como uma mente discemiu o verdadeiro do falso."” Quando Osman contemplou essas visdes radiantes, Irradiou luz e tornou-se “senhor das duas Iuzes”.'* Quando Martaza (Ali) brilhou com seu reflexo, Converteu-se no “Ledo de Deus” no dominio da alma. Quando seus dois filhos foram iluminados por essa luz, Ta. Os mugulmanos supdem que Jiris ou Sto Jorge, Khidr ¢ Elias sto 2 ‘mesma pessoa. 15. _Diz-se que profeta Zacaras refugiou-se de seus peregukdores no.ocode uma drvore. 16. AlcoraoLIV. 1. 17. Omarera chamado de “ODiscemidor” 18. Ele recebeu este nome porque teve duasfilhas de Mohammed como suas esposas.

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