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Urbanização brasileira e marginalidade:

os olhares socioeconômico e
sociocultural em contraponto

OLIVEIRA, Aline Meneguini de

Resumo
O artigo problematiza os processos socioeconômicos que desencadearam o desordenamento espacial do
país, destacando a incongruência de um processo modernizador carregado de marginalização e exclusão
social, fenômenos aos quais moradores de periferia e das favelas estão sujeitos desde os primórdios da
urbanização brasileira. Se antes o escravo era destituído da propriedade de terra, na contemporaneidade
a camada pobre da população é desprovida de bens de consumo coletivo urbano e de moradia adequada
para seu modo de vida. Sob forte estigmatização e reprovação social, esses moradores, na maioria traba-
lhadores formais ou informais, sofrem com a espoliação urbana. Em contraponto ao olhar socioeconômico
focado na marginalização e concentração da pobreza, discute-se a ótica dos fatores culturais, a necessidade
de compreender a favela e a periferia como locais repletos de socialização e reordenamento simbólico.

Palavras-chave: urbanização – marginalidade – periferia – favela e identidade.

Abstract
The article search trough the literature to understand an question the socioeconomic process that triggered the
disordering country’s space, as well the congruence of these phenomena with the marginalization and social ex-
clusion, which the residents of suburbs and slums suffer from the early days of Brazilian urbanization. If before
the slave was deprived of land ownership, the contemporary of the poor population is devoid of urban collective
consumptions and good housing suitable for their way of life. Under strong stigma and social disapproval, these re-
sidents mostly formal or informal workers suffer from urban dispossession. Opposing the socioeconomics look about
marginalization and poverty concentrations, we discuss the perspective of cultural factors, the need to understand
the slums and suburbs as places full of socialization and symbolic reordering, so that the resolutions of public in
context are efficient for their citizens.

Keywords: urbanization – marginality – suburbs – slums and identity.

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revistafaac, Bauru, v. 2, n. 1, p. 55-68, abr./set. 2012.
OLIVEIRA, Aline Meneguini de. Urbanização brasileira e marginalidade: os olhares socioeconômico e sociocultural em contraponto.

Introdução os cidadãos na cidade? Quais os serviços públicos


que usufruem? Qual sua condição de trabalho?
Este artigo tem como finalidade problematizar as Qual é a sua renda? O que necessita? Como os mo-
argumentações a respeito da urbanização brasileira
radores agrupam-se e reivindicam melhorias?
a partir de dois aspectos, o socioeconômico e o so-
Tais questionamentos estão diretamente ligados
ciocultural. A fim de compreender a questão da ur-
às raízes históricas da urbanização brasileira. Se-
banização segregadora ocorrida no país, recorre-se
gundo o Censo de 2010, 84,4% da população bra-
a referências teóricas como Kowarick (1985, 1993),
sileira reside no território urbano do país. Analisan-
Maricato (1996), Milton Santos (1994), Magnani
do especificamente o Estado de São Paulo, o grau
(1998), dentre outros. Além de discorrer sobre fato-
de urbanização alcança 95,9% da população.1 Mas,
res socioeconômicos, busca-se esmiuçar o processo
ainda que o Brasil apresente altos índices de urba-
de identificação dos moradores da periferia e da fa-
nização, não se pode ignorar que durante séculos o
vela, os quais se encontram marginalizados, espolia-
país manteve-se estritamente agrário. De modo que
dos, enfim, privados de cidadania. Para tanto, é im-
a história do povo brasileiro está repleta de raízes
portante também compreender de que forma esses
rurais. Foi do campo que se originou a civilização
fenômenos socioeconômicos afetam a formação da
nacional, o que explica o fato de no período co-
identidade e a realidade desses sujeitos.
lonial brasileiro a cidade ser compreendida como
A urbanização brasileira pode ser considerada
emanação de poder e demarcação de território em
reflexo do processo de expansão industrial ou da
um país distante.
implantação do sistema capitalista na América La-
Ao refletir sobre a colonização e a organização
tina, entendido como subdesenvolvimento por ser
territorial brasileira é preciso demarcar o cenário
caracterizado como capitalismo tardio ou depen-
de exclusão social já formulado em sua incipien-
dente. Essa peculiaridade agrava ainda mais a mar-
te urbanização, pois a sociedade colonizada surgiu
ginalização, característica inerente a esse sistema
por meio de um conceito discriminador entre colo-
socioeconômico culminando na superexploração
nizador e colonizado: “tratava-se, portanto de um
da classe trabalhadora por meio de ínfimas remu-
território de segregação – e exploração de rique-
nerações, baixo custo com reprodução da força de
zas, é claro, para os comerciantes e espoliadores”
trabalho, precárias condições de moradia etc. Em
(Sposati, 1998, p.4). A essa cultura colonizadora
contrapartida, considerada a análise de Magnani
deve-se somar o processo de escravidão, no qual
(1998), percebe-se que apesar de a periferia ser en-
eram erradicadas as condições humanas dos negros
tendida como reduto de concentração da pobreza,
africanos, transformados em meros instrumentos
trata-se também de um lócus de socialização, iden-
de obtenção de riqueza.
tificação e compartilhamento de valores e regras de
Nessa mesma perspectiva, Maricato (1996,
convivência social. Dessa forma, os cidadãos inseri-
p.33) alerta para a importância de se compreende-
dos nesse contexto vivenciam a adaptação e o reor-
rem as circunstâncias que propiciaram a passagem
denamento simbólico. Por isso, distanciar-se desses
de Brasil Colônia para país independente, desta-
fatores culturais pode ser um equívoco quando se
cando os seguintes fenômenos: fim da escravidão,
busca sanar os problemas sociais da camada mais
substituição dos escravos pela força de trabalho do
pobre da população.
imigrante europeu e a demanda por trabalhador li-
vre. Tais acontecimentos, além de antecederem o
Urbanização Brasileira: a marcha processo de industrialização e a formação da classe
desenvolvimentista em detrimen- operária, repercutiram na maneira em que foi trata-
to das heranças escravistas da a questão fundiária no país.
Se antes da libertação dos escravos a terra era
“O cidadão é o indivíduo num lugar” (San- destituída de valor – tanto para os portugueses
tos, 2002, p. 123), de modo que a cidadania está quanto para o Império Brasileiro –, sendo neces-
relacionada com o espaço em que se vive, sendo sário apenas sua ocupação ou posse para adquiri-
possível considerar a cidade como o local onde as -la, a partir de 1850 o cenário foi reconfigurado e
necessidades afloram, mas também o lócus de pos-
sibilidades para resolução de conflitos e carências 1 IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/
urbanas. A cidade, entendida como território do ci- home/estatistica/populacao/censo2010/sinopse.
dadão, perpetua as seguintes questões: como vivem pdf>. Acesso em 14 fev. 2012.

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o Estado passou a regular seu acesso: “a terra não drangular e ortogonal, critérios que orientaram a
tinha importância econômica sem os escravos, que, produção do espaço urbano:
independente da terra, eram valiosos, utilizados É com o início da República que se afirma o
também como objeto de penhores e hipotecas” urbanismo modernista segregador. As cidades bra-
(Maricato, 1996, p.35). Para a autora, com a liber- sileiras mais importantes, em especial o Rio de
tação dos escravos a terra começou a ser negociada Janeiro, passam por grandes transformações que
procurarão adaptá-las aos novos tempos, isto é, às
como mercadoria. No entanto, antes da abolição da
novas necessidades econômicas ligadas à adminis-
escravatura sua distribuição era concedida pela Co- tração e exportação dos produtos agrícolas, em es-
roa Portuguesa que, devido à abundância de terras, pecial o café, e o combate às epidemias por meio
realizava apenas um controle mais brando sobre de saneamento. Um cenário que não é determinado
seu uso e produtividade. apenas pela eficácia econômica e sanitária acompa-
Com isso, nota-se que a propriedade da terra nha as mudanças. Busca-se adequar as cidades à fa-
estava diretamente relacionada à mão de obra es- chada progressista e modernizante que a República
crava. Mas, na medida em que os escravos con- requeria e sepultar a simbologia do passado escra-
quistavam uma condição humanizada na socieda- vista (Maricato, 1996, p.38).
de, a propriedade da terra passou a ser regulada
pelo Estado, fato que gerou e continua a ocasio- As epidemias e a densidade habitacional, soma-
nar inúmeros conflitos. Ao refletir sobre a Lei de das à falta de saneamento básico, serviram como
Terras e a abolição dos escravos, a autora também principal argumento para realizar, nesse período, a
esclarece que ambas ocorreram propositadamente limpeza social. Negros, pedintes e desempregados
com apenas uma semana de prazo entre elas. A Lei de modo geral foram expulsos dos locais urbanos
estipulou que as terras devolutas seriam adquiri- centrais, restando-lhes as periferias urbanas, mor-
das mediante compra e venda, o que prejudicou ros e várzeas – territórios ainda não especulados
e impossibilitou a aquisição de propriedades por pelo mercado imobiliário –, o que tornava claro o
trabalhadores livres e sem recursos, nesse caso, os caráter segregador da cidade durante a República.
escravos recém-libertos. A partir desse período, a industrialização é in-
Mesmo diante dos referidos conflitos causados crementada e prevalece principalmente no polo di-
pela Lei de Terras, a urbanização tornou-se mais nâmico. Entendido de forma mais ampla, esse pro-
notável a partir do século XVIII, quando os senho- cesso trata da integração social, criação de mercado
res de engenho e fazendeiros passaram a residir na nacional e expansão de consumo – aspectos que
cidade e a frequentar suas propriedades rurais ape- configuraram uma nova base econômica impulsio-
nas em determinados momentos, como no corte e nada pelo próprio poder público. Conforme Santos
na moenda da cana. No entanto, foram necessários (1996, p.29), entre os anos de 1940 e 1980 ocorreu
mais dois séculos para que a urbanização tomasse uma verdadeira inversão do local de residência da
as características atuais. população brasileira. Comparando-se com a déca-
A partir da segunda metade do século XIX e de- da de 1940, na qual a taxa de urbanização era de
vido à intensificação da produção de café, o país 26,35%, o ano de 1980 alcançou o índice não ima-
distanciou-se da caracterização de “arquipélago”, ginado de 68,86%. Em 40 anos, a população brasi-
no qual os territórios desenvolviam-se cada um por leira triplicou, e a urbana multiplicou-se sete vezes
sua lógica e pelas relações de dependência com o e meia. Entre 1970 e 1980, incorporaram-se mais
mundo exterior. Nesse período, o estado de São de 30 milhões de habitantes ao cenário urbano.
Paulo tornou-se polo dinâmico de grande área mais Do término da Segunda Grande Guerra Mundial
ao sul do país. O território ganhou potencial flui- até o final dos anos 1960, o processo de integração
dez, seja pela malha ferroviária seja pela melhoria do território nacional viabilizou-se, e as estradas de
dos portos e surgimento dos meios de comunicação ferro foram interligadas colocando em contato as
(Santos,1996). regiões polares do país. Soma-se também um ou-
Referenciada por Murilo Marx (1991), Maricato sado programa de investimentos em infraestrutura,
(1996) aponta nesse mesmo período o surgimento que objetivava a substituição de importações para
da necessidade de maior precisão nos loteamentos, formação de um mercado interno. Ainda de acordo
distinção do que seria o chão público e o privado, com Santos (1996), tais investimentos permitiram
alinhamento de fachadas e nivelamento das vias. O um grande avanço na economia nacional.
lote comercializado passou a ser de formato qua- Complementando tal ótica de análise, Maricato

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(1996) assinala que entre 1940 e 1980 o PIB brasi- pulação, possuíam maior poder de atração. São Pau-
leiro crescia 7% ao ano e índices como mortalida- lo, a mais rica do país, recebeu entre 1970 e 1980
de e natalidade apresentavam quedas significativas. 17,37% do total de migrantes do país, o dobro dos
No entanto, mesmo com estatísticas favoráveis, a que optaram pelo Rio de Janeiro (Santos, 1996).
desigualdade aprofundava-se e se acentuava entre Se nos primórdios da urbanização as cidades
os moradores das zonas urbanas. A respeito dessa eram consideradas habitat dos notáveis (o padre,
incoerência entre índices demográficos e acentuada o juiz, o telegrafista, os fazendeiros, dentre outros),
desigualdade: com o ímpeto do desenvolvimento, elas passaram a
ser dotadas de características econômicas, nas quais
A dinâmica de produção dos espaços urbanos, ao o capital de giro, a disponibilidade de mão de obra
gerar uma melhoria, cria simultaneamente e cons- diversificada, os bancários, os comerciantes e outras
tantemente milhares de desalojados e desapropria- figuras representativas reconfiguraram seu espaço
dos que cedem seus locais de moradia para grupos
urbano, que passou a estar diretamente relacionado
de renda que podem pagar o preço de um progresso
que se opera através de uma enorme especulação ao processo de produção industrial e de indústrias
imobiliária. Tal trama urbana só pode levar à fi xação agrícolas não urbanas.
das camadas pobres em zonas desprovidas de servi- A partir da exposição desse recorte histórico,
ços públicos, até o dia em que, com o crescimento nota-se que a herança de três séculos e meio fun-
da metrópole, também desses locais tenderão a ser dados na exploração dos recursos naturais com o
expulsos se porventura sua iniciativa política ainda trabalho direto do homem cedeu espaço, a partir da
continuar bloqueada (Kowarick, 1985, p.85). marcha de produção, à implantação do meio téc-
nico, da tecnologia mecanizada, o que alterou de
Infere-se que na medida em que a industriali- forma definitiva o espaço do cidadão, modificando
zação intensificava-se no país, ampliavam-se tam- tanto seu modo de vida como o uso do território.
bém as migrações internas, nas quais contingentes
populacionais eram atraídos por melhores condi-
ções de vida nos centros urbanos. Porém, com a
Expansão industrial e margina-
especulação imobiliária, essa população passou a lidade: processos inerentes ao
apropriar-se dos locais periféricos e decadentes das capitalismo dependente da Amé-
metrópoles, originando os bairros de periferia.
rica Latina
A respeito da intensificação do processo indus-
trial, o golpe de Estado realizado pelos militares em Inerente ao processo de desenvolvimento do
1964 foi marcado como a grande alavanca do rápi- país se situa a expansão das desigualdades sociais e
do desenvolvimento nacional, pois criou condições a marginalização nas zonas urbanas, fenômenos que
para que o país se integrasse ao movimento de inter- transformaram as cidades em lócus da acumulação
nacionalização. Assim, a economia desenvolveu-se capitalista. Porém, na mesma medida, tornaram-se
tanto para atender um mercado interno em expan- aglomerados densos de espoliação urbana, de modo
são, quanto para satisfazer as demandas do exterior. que “o desenvolvimento urbano desigual em vez de
Além de produtos industrializados, aqueles agríco- eliminar a herança do atraso, reproduziu-a e deu-lhe
las não tradicionais como a soja e os cítricos foram novas confirmações” (Maricato, 1996, p.31).
exportados graças à modernização no campo, o que Baseada nas argumentações de Fernandes
multiplicou a produtividade. Produtos tradicionais (1977), Maricato (1996) desenvolveu um pensa-
como café, algodão, cacau, trigo, hortaliças, dentre mento que revela uma modernização nacional com
outros também foram atingidos pela mecanização resquícios do arcaico, sendo essa uma característica
agrícola. Assim, “a população aumentada, a classe do capitalismo periférico e dependente, no qual a
média ampliada, a sedução dos pobres por um con- modernização foi processada de forma segmentada
sumo diversificado e ajudado por sistemas extensi- de acordo com o ritmo da fusão entre o “antigo”
vos de crédito servem como impulsão à expansão e o “moderno”. Dessa forma, o capitalismo latino-
industrial” (Santos, 1996, p.36). -americano, quando comparado aos de países cen-
Esse período desenvolvimentista fez com que a trais, revela uma trilha histórica distinta marcada
classe média e os pobres fossem redistribuídos pelo por fenômenos enraizados na marginalidade.
espaço urbano e, com isso, as cidades grandes, ca- A intensificação do processo industrial nos paí-
pazes de acolher a camada mais empobrecida da po- ses da América Latina culminou com a liberação de

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parte da força de trabalho de produção “tradicio- Além de excludente, a dependência dos países
nal”. Mas essa parcela de trabalhadores não conse- latino-americanos é capaz de articular e manter re-
guiu ser assalariada e, por isso, buscou novas rela- lações de trabalho “arcaicas” entrosadas no acúmulo
ções de produção, muitas vezes, arcaicas e no setor de capital. Essa exclusão revela um cenário no qual
terciário. Assim, tornaram-se autônomos, presta- a industrialização encontra-se em nível poupador
dores de serviços, empregados domésticos, desem- de mão de obra, gerando uma quantidade pequena
pregados, trabalhadores informais, dentre outras de empregos assalariados. Daí o interesse em pre-
categorias que formaram o cenário urbano de tra- servar e criar formas não “capitalistas” de obtenção
balho latino-americano. Segundo Kowarick (1985), de riqueza, e assim “conferir ao capital estrangeiro a
compreender a fusão entre o arcaico e o moderno responsabilidade única no processo de marginaliza-
como “mundos” distintos dentro do capitalismo é ção social parece abusivo” (Kowarick, 1985, p.75).
um equívoco, pois a manutenção dessas formas tra- Seria mais pertinente afirmar, segundo o autor, que a
dicionais e a criação de outras estão integradas no configuração histórica dos países latino-americanos
modo de produção que, mesmo nitidamente capi- instiga as desigualdades e as contradições oriundas
talista em seu processo de acumulação, integra as do próprio sistema econômico.
novas formas, articula-as e delas se alimenta. Por- A marginalidade traçada por esse autor condiz
tanto, a lógica capitalista além de gerar e manter com o processo de inserção no sistema produtivo,
estilos tradicionais não capitalistas na divisão social porém, tal escolha exclui outros critérios possíveis
do trabalho integra-as no processo de acumulação. de serem analisados, como a baixa remuneração
Tal integração não significa que a marginali- e as precárias condições de consumo, sejam elas
dade seja solucionada, pelo contrário, desnuda os materiais ou culturais. Em síntese, pode-se inferir
países desenvolvidos pelo fato de eles possuírem o que o sistema produtivo define as classes sociais na
capitalismo vinculado a ela. Mas a realidade latino- medida em que, para acumular capital, explora-se
-americana acarreta um fator que agrava ainda mais a força de trabalho por meio da mais valia2 viável
a marginalidade: para tal feito, de modo que o excedente disponível
é incorporado. Assim os sujeitos podem ser clas-
Ao analisar as sociedades latino-americanas,
sificados como trabalhadores não marginais (assa-
avança no sentido de categorizar novos processos
que geram marginalidade decorrentes do fato de o lariados) e marginais (não assalariados) por suas
sistema, além de ser capitalista, ser também depen- relações de trabalho não serem categorizadas como
dente. Em outras palavras, a marginalidade teria plenamente capitalistas.
uma significação particular nas formações sociais Compartilhando essas convicções, Maricato
do continente na medida em que estas são marcadas (1996) explicita que o crescimento econômico na-
por uma situação de dependência (Kowarick,1985, cional mostra-se profundamente concentrador de
p. 61). poder, riqueza e terra. Diferentemente da exclusão
que ocorre nos países centrais, no Brasil o “fordismo
Compreende-se então que a dependência a partir periférico” desenvolveu-se com a exclusão social,
de sua vertente estrutural é inerente à dinâmica entre em suma, como “modernização com exclusão”. E
dominante e dominado. Nessa perspectiva, domina- ainda acrescenta que “a industrialização com baixos
do é atribuído à característica de receptor, e com isso, salários é predatória com a força de trabalho, inci-
os sistemas político e econômico encontram-se vin- dindo em altas rotatividades, ausência de treinamen-
culados tanto no plano interno quanto no externo. to e más condições de trabalho” (Maricato, 1996,
O conceito de dependência aproxima-se do sentido p.39). De um lado o trabalhador não marginal era
de subdesenvolvido, não cabendo aqui abordar as superexplorado e, de outro, o marginal vinculado
diversas linhas teóricas sobre as relações de depen- à tecnologia rudimentar ou a unidades produtivas
dência entre países centrais e latino-americanos. O autônomas, mesmo não assalariados, cuja renda não
que se observa na industrialização incipiente como poderia ser considerada inferior ao assalariado.
relação de dependência é a exportação de matérias-
-primas e produtos agrícolas e a intensa importação 2 Entendida como expropriação do trabalho, obten-
de produtos industrializados, os quais revelam um ção de lucro por meio da mão de obra. Para uma
processo comercial controlado pelos interesses dos compreensão mais detalhada, ver: MARX, K. O
países dominantes (centrais), os quais ditavam limi- capital. Coleção Os economistas. São Paulo: Nova
tes à industrialização (Kowarick, 1985). Cultural, 1988.

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Observa-se, portanto, que no cerne do capita- que, paralelamente ao processo de desenvolvimen-


lismo dependente está a criação de uma parcela ex- to industrial, transcorreu na mesma medida a ur-
cedente da força de trabalho disponível e esta, por banização brasileira, ambos com a pesada carga da
não ser necessária ao sistema produtivo, torna-se marginalidade e da exclusão social. Desse modo,
dispensável à expansão industrial. Por ser abun- o indivíduo atraído para as cidades por melhores
dante, não se trata de um excedente de “reserva”, condições de vida era rechaçado dos segmentos
o que culmina na marginalidade social. Enquanto industriais e dos centros urbanos. Dessa mesma
o processo capitalista explora de forma excessiva perspectiva analítica, “a evolução dos aconteci-
a força de trabalho proletária e repassa diminutos mentos mostrou que, ao lado de intenso cresci-
aumentos salariais, ele se revigora e é incrementado mento econômico, o processo de urbanização com
pela mais valia concentradora que não é vinculada crescimento da desigualdade resultou numa inédi-
à quantidade de mão de obra, e sim à qualidade da ta e gigantesca concentração espacial da pobreza”
evolução tecnológica. (Maricato, 1996, p.55).
O acúmulo de capital não fica imune nessa re-
O homem marginal em meio à flexão, pois a condição de vida do indivíduo está
diretamente relacionada à dinâmica das relações
urbanização segregadora de trabalho e ao acesso aos benefícios referentes à
Adaptando-se ao novo cenário econômico, o expansão urbana. A expansão urbana desordenada
contingente supérfluo para o desenvolvimento in- pode ser considerada, portanto, o reflexo de um
dustrial reinventou sua existência e transfigurou as desenvolvimento caótico. Alijadas dos centros urba-
formas de trabalho para o próprio sustento. Con- nos, seja pelos baixos salários ou pela ocupação não
sequentemente, o sujeito pertencente ao grupo completamente capitalista, a parcela da população à
“marginal” foi excluído dos benefícios inerentes à margem da marcha desenvolvimentista passa a ocu-
sociedade urbana. Diante desse embate, Kowarick par zonas periféricas, e o pobre, em meio a intensas
(1985, p.26), referenciado por Park (1948 p.13- transfigurações sociais e econômicas, forja um espa-
26), busca compreender a personalidade e os con- ço para reproduzir sua força de trabalho. A respeito
flitos vivenciados pelo “homem marginal”. Ele é dos inúmeros entraves nos ambientes periféricos:
conceituado como o sujeito que coexiste em dois
“mundos”, duas culturas e também em grupos, Morar na periferia é se condenar duas vezes à
classes sociais, seitas religiosas e comunidades e, pobreza. À pobreza gerada pelo modelo econômico,
por isso, está sob pressão por um reajuste constan- segmentador do mercado de trabalho e das classes
te e deslocação social. Caso não esteja reajustado sociais, superpõe-se a pobreza gerada pelo mode-
ao novo grupo, esse homem, já em conflito com lo territorial. Este, afinal, determina quem deve ser
mais ou menos pobre somente por morar neste ou
o grupo ao qual pertencia, encontra-se à margem
naquele lugar. Onde os bens sociais existem apenas
de ambos e não pode ser considerado integrado na forma mercantil, reduz-se o número dos que po-
a nenhum deles. Tal fato ocorre também com a tencialmente lhes têm acesso, os quais se tornam
modernização capitalista, pois o intenso ritmo de ainda mais pobres por terem de pagar o que, em
transformação social acirra a competição econômi- condições democráticas normais, teria de lhe ser
ca e a pluralidade de valores e códigos. Por possuir entregue gratuitamente pelo poder público (Santos,
cunho psicológico, a teoria do “homem marginal” 2002, p.115).
pouco contribui para resultados mais concretos,
mas permite inferir que “trata-se da integração Nesse sentido, ao habitar zonas periféricas, a
de ‘minorias’ ou de ‘subordinados’ que têm como população excedente dos sistemas produtivos in-
ponto de referência os grupos de maior prestígio e dustriais também proporciona infraestrutura de
poder” (Kowarick, 1985, p.28-29). custos compensadores para o capital. Isso acarre-
A marginalização afeta a consciência dos su- ta a redução de gastos com a reprodução da força
jeitos, incentivando o inconformismo de deter- de trabalho, considerando que o morador da zona
minados integrantes de certos grupos: “em ultima urbana possui um custo urbano referente à utili-
análise, marginais seriam aqueles que se sentem zação de serviços púbicos, moradia, transporte,
excluídos, independentemente de sua posição so- entre outros. De outro lado, ao exercer uma ativi-
cial e da dimensão dos entraves que estão sujeitos” dade autônoma como confecção de roupas, reparos
(Kowarick, 1985, p.30). Nesse sentido, infere-se domésticos, comercialização de alimentos, a classe

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marginal passa a se reproduzir com níveis mínimos o governo do Estado de São Paulo agiu conforme
de subsistência, fazendo com que o capital remune- tais apontamentos.
re-os a preços ínfimos, exacerbando assim os níveis O direito à cidade para todos passa pela pro-
de acumulação (Kowarick, 1985). blemática da urbanização desordenada e condição
Concomitante à pauperização absoluta ou rela- à moradia legal. Mesmo que a ilegalidade em mui-
tiva da classe trabalhadora, seja ela marginal ou não tos casos seja tolerada, seu reconhecimento é raro,
marginal, encontra-se o problema habitacional. A pois “é evidente que estamos diante de um conflito
“desordem” urbana desenfreada avança nas cidades generalizado que exigirá alguma resolução insti-
de modo segregador, assim como a industrializa- tucional à proporção das relações democráticas se
ção. Tanto o trabalhador terciário informal quanto ampliem e com elas a universalização dos direitos
o assalariado são remetidos à busca de uma mora- como reza a Constituição” (Maricato, 1996, p. 70).
dia com custo viável às suas respectivas rendas, po- Se em séculos passados o acesso à terra preteriu
rém, como o mercado imobiliário especulativo não os escravos, na contemporaneidade a questão da
permite o acesso às áreas legalizadas devido à baixa terra continua a ser alimento de desigualdades en-
remuneração de ambos, a produção ilegal torna-se tre classes sociais. Para Kowarick (1985, 1993), as
a única alternativa: “a desordem dos assentamen- ocorrências contraditórias realizadas pelos deten-
tos populares urbanos tem uma ordem necessária, tores dos modos de produção geram a espoliação
justificada pela própria razão de ser do modo de urbana, que pode ser compreendida como a so-
acumulação e sua reprodução ampliada do capital” matória das extorsões que se engendram por meio
(Gohn, 1985, p. 69). da deficiência ou precariedade de serviços de con-
Torna-se claro que a periferia é o destino dos sumo coletivos socialmente necessários para vida
pobres, da parcela da população à margem da so- urbana. Nesse sentido, a autoconstrução em áreas
ciedade desintegrada dos avanços econômicos, regulares ou irregulares torna-se a única saída do
sendo que, mediante ao sistema de incongruências, homem marginal. Além de pagar altos preços pela
eles encontram na ilegalidade a alternativa para so- carência de equipamentos urbanos, este precisa
breviver. E a ilegalidade é o eixo que complementa custear a construção da casa própria, o que muitas
a reflexão sobre marginalização, exclusão e segre- vezes acarreta endividamento devido à deteriora-
gação. Nessa seara de compreensão é pertinente ção de sua remuneração, restando apenas a alter-
refletir a respeito do papel do Estado, que, diante nativa do prolongamento da sua já extensa jornada
da ocupação ilegal, mostra-se tolerante, no entan- de trabalho. Despender muitas horas para se loco-
to, segundo Maricato (1996), está longe de ser um mover até o trabalho e confeccionar sua moradia
aparato respeitador das carências habitacionais e têm como consequência o desgaste ao qual pre-
dos direitos humanos. cisa submeter-se o homem marginal para que lhe
Para comprovar tal postura basta observar a es- seja garantido um direito essencial à sua existência
cassez de serviços públicos e obras de infraestrutu- (Kowarick, 1993).
ra urbana nas zonas periféricas. Infere-se, portanto, Em suma, a periferia é a fórmula encontrada
que a tolerância estatal é determinada pela especu- pelas classes dominantes de reproduzir a força de
lação imobiliária e, a partir do momento que a área trabalho com mínimos gastos possíveis e, por con-
ocupada ilegalmente passa a interessar ao mercado, sequência, o resultado é uma urbanização desen-
o Estado não mais ignora e tolera as ocupações. Um freada e desordenada. Para Santos (2002, p. 105-
caso interessante ocorrido recentemente é a deso- 106), ao invés de ser instrumento de igualdade
cupação e a reintegração de posse do “bairro perifé- individual e de fortalecimento da cidadania, o terri-
rico” Pinheirinho,3 em São José dos Campos, onde tório perpassa a história e se mantém em seu papel
perverso alojando e criando desigualdades sociais.
3 A reintegração de posse do bairro Pinheirinho em Porém, em meio ao mundo de antagonismos e cer-
São José dos Campos (SP) foi realizada em janeiro cas imaginárias, a periferia não é a única forma de
de 2012, e a retirada das famílias foi intensamente produção e ocupação de território na teia urbana.
divulgada na mídia devido às violações aos direi- Espaços longínquos podem ser trocados facilmente
tos humanos dos moradores. Mais informações por encostas de morros próximos ao centro urbano,
podem ser consultadas: <http://www.estadao.com. o que resulta em contrastes entre cenários opostos
br/noticias/nacional,pinheirinho-opoe-sao-paulo-
e, dessa forma, a pobreza escancara-se e passa a ser
a-dilma-e-ao-planalto,828173,0.htm>. Acesso em
24 fev. 2012.
vizinha da concentração de riqueza.

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OLIVEIRA, Aline Meneguini de. Urbanização brasileira e marginalidade: os olhares socioeconômico e sociocultural em contraponto.

grenagem econômica e política que deprime os sa-


lários, diminuindo, por conseguinte, os níveis de
consumo, dos quais a moradia é um componente es-
Favela: a cidadania emperrada sencial, torna-se favelado todo indivíduo ou família
diante da exclusão e pobreza que não pode pagar o jogo especulativo do mercado
imobiliário (Kowarick, 1993, p.88).
A favela é facilmente descrita e representada
como lócus da marginalidade e carrega sob sua es-
Ao descrever os favelados como “pobre en-
trutura forte conotação negativa imposta pela so-
tre os pobres”, Kowarick direciona a proble-
ciedade, que a produziu em razão da industrializa-
ção modernizadora. A favela pode ser identificada
mática para o campo da pobreza e da exclusão
como uma “ocupação ilegal, situada nas encostas social. Sob o mesmo prisma de análise, “a po-
de um morro ou localizada em bairro relativamente breza não é um dado marginal, mas estrutu-
central, com moradias precárias, sem infra-estru- ral” (Maricato, 1996, p.104), pois é inerente à
tura e serviços urbanos” (Valladares e Preteceille, modernização capitalista recorrente desde os
2000, p.461). Seu morador, o favelado, é simboli- primeiros ímpetos industriais. Sendo assim, os
zado pelo migrante pobre e semianalfabeto incapaz pobres identificados como marginais deveriam
de integrar-se ao mercado de trabalho formal. Sob ser compreendidos como sujeitos “trabalhado-
essas concepções, ela passou a ser compreendida, res expropriados dos frutos do desenvolvimen-
tanto no meio acadêmico como na mídia, como to econômico e do bem-estar social” (Levinas,
equivalente à pobreza. 2002, p.44). E, por consequência, a pobreza,
A ocupação por meio da autoconstrução é ca-
como retrato implícito da desigualdade e ex-
racterística típica desses conglomerados, geralmen-
pressão da contínua segregação territorial em
te reconhecidos como casas construídas sem recuo
em relação às ruas, uma colada na outra, estreitas contraste com os benefícios coletivos da con-
e sempre dispostas a ganhar mais uma laje; inten- centração de riqueza.
sa aglomeração face às vias centrais de circulação; Nessa mesma ótica, a autora vai além da sua
quando construídas nas encostas dos morros, apre- afirmação de que a pobreza é retrato da desi-
sentam escadas, passagens apertadas e becos, além gualdade e acredita que “exclusão e pobreza são
de inúmeras ligações elétricas no mesmo poste, fenômenos quase indissociáveis ou que, pelo
muitos tubos de PVC nos cantos das passagens e menos, tendem a se reforçar mutuamente” (Le-
fachadas inacabadas contrastando com os interio- vinas, 2002, p.47). Assim, a pobreza é caracte-
res acabados (Gomes, 2003). O ambiente descrito rizada como fato eminentemente urbano, pois
é o meio de sobrevivência desse estrato da popula- sua reprodução é mediada pela reprodução do
ção trabalhadora na cidade, de modo que a favela
modo de vida urbano por meio do dinamismo
significa uma economia nos gastos com habitação,
do mercado de trabalho, pelos mecanismos de
pois o custo para construir ou alugar um barraco
é inferior à moradia na periferia. Outra vantagem proteção social e do pacto de coesão social, os
da favelização é a economia com transporte, já que quais estruturam o conjunto de relações entre
elas tendem a se localizar próximas aos centros de Estado, mercado e sociedade.
empregos. A pobreza pode ser avaliada por critérios
Em síntese, a favela resulta na diminuição de objetivos como falta de renda, de moradia e de
despesas de moradia, do tempo e do custo de lo- capital humano. Já a exclusão é avaliada por
comoção. Tais vantagens podem ser consideradas aspectos subjetivos promotores de sentimentos
ínfimas, quando se leva em conta a precariedade de rejeição, perda de identidade, desvinculação
a qual está exposta essa parcela da população, e é de laços comunitários e sociais, tendo como
temeroso considerar o morador da favela como ci- consequência uma rede de sociabilidade com
dadão urbano, sentido a partir do qual se amplia a quebras de reciprocidade e solidariedade. Nes-
problematização:
se contexto, “a exclusão social não é passível
Pobre dentre os pobres, esse estrato da popu- de mensuração, mas pode ser caracterizada por
lação trabalhadora só pode encontrar na favela a indicadores como a informalidade, a irregula-
solução para subsistir na cidade. Fruto de uma en- ridade, a ilegalidade, a pobreza, a baixa esco-

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OLIVEIRA, Aline Meneguini de. Urbanização brasileira e marginalidade: os olhares socioeconômico e sociocultural em contraponto.

laridade, sobretudo, a ausência da cidadania” te forte, formador de uma representação que


(Maricato, 1996, p.57). condensa os males de uma pobreza excessiva.
Em suma, percebe-se a distinção na concep- Ela é observada pela cidade como uma realida-
ção de pobreza e exclusão, e mesmo que se crie de doentia, uma praga, uma calamidade públi-
um paralelo conceitual entre ambas, a exclu- ca que destoa dos outros ambientes urbanos.
são trata de uma questão mais abrangente por Sob essa perspectiva, “a redemocratização
se referir ao empobrecimento não de bens de não estará completa enquanto todos não se-
consumo, mas de relações sociais, falta e rup- jam considerados igualmente cidadãos, seja
tura de vínculos que definem o lugar e a iden- qual for o lugar em que se encontrem” (Santos,
tidade do indivíduo. Diferentemente, a pobre- 2002, p.121). Para que a ampliação da cidada-
za é estimada por um quadro de carências que nia ocorra, são necessárias profundas transfor-
cresce conforme os níveis de desenvolvimento mações no mercado, no acesso à propriedade
econômico, ao passo que a exclusão torna-se da terra, na produção do espaço e nas relações
mais grave porque está relacionada à perda de entre Estado e sociedade. Além de garantir os
identidade, ao não pertencimento e à perda de direitos contidos no texto da lei e a prática dos
valor intrínseco. direitos fundamentais, é preciso promover a
Desse ponto de vista, Sposati (1998), além cidadania por meio de mudanças estruturais
de compreender a exclusão como negação da e estratégicas, a começar pela participação e
cidadania, acredita que o conceito de exclusão reconhecimento das classes marginalizadas no
atualmente confronta-se diretamente com a âmbito dos centros de decisões a fim de que
concepção de universalidade juntamente com seus direitos fundamentais sejam exercidos. No
os direitos sociais e de cidadania. Para a autora, entanto, para que tal inserção ocorra, os sujei-
pobreza e exclusão possuem uma distinção, a tos residentes na periferia ou na favela preci-
primeira, por conter elementos culturais e éti- sam vencer uma luta diária contra o estigma e
cos, refere-se à estigmatização e à discrimina- os conflitos de identidade que os perseguem e
ção, já a segunda é definida por uma situação lhe são atribuídos pela sociedade.
absoluta ou relativa. Portanto, não são concep-
ções sinônimas, pois a noção de exclusão vai A periferia e a favela sob o olhar
além da capacidade de aquisição relacionada sociocultural
à pobreza, remete-se às condições comporta-
mentais e atitudinais que não estão relaciona- As palavras favela e periferia, assim como fave-
lado e periférico, carregam juízo de valor destinado
das somente a não retenção de bens.
à valoração negativa, desordenada, suja e não po-
É inegável que o padrão de moradia reflete lida. Associa-se também ao favelado à má condu-
todo o processo de exclusão social e discrimi- ta, delinquência e pobreza. Portanto, a sociedade
nação presente na sociedade brasileira. E o fato frequentemente atribui pré-julgamentos, que cul-
de o indivíduo ser identificado como favelado minam na estigmatização, discriminação e exclu-
diante da sociedade desqualifica-o e representa são social desses moradores. O olhar homogêneo
nele certa vulnerabilidade, que o atinge não so- é lançado não apenas para a generalização da po-
mente enquanto morador, mas como cidadão breza, mas para o reconhecimento dos indivíduos
em suas mais distintas facetas. Nesse sentido, pertencentes às áreas empobrecidas. Nesse sentido,
estudos nas periferias e favelas da metrópole atenta-se para construção do imaginário dos cida-
de São Paulo incidam que “face a essa contin- dãos mais privilegiados, através do qual a presença
da favela ou da periferia choca e intimida: “alarma a
gência, o favelado tende a perceber-se no ce-
consciência tranquila, que adivinha no amontoado
nário urbano de São Paulo como uma pessoa de barracos um foco de delinquência, promiscuida-
sem direitos e sem formas de organização para de e vadiagem” (Kowarick, 1993, p.161).
obtê-los” (Kowarick, 1993, p.92). Esse autor Em meio à violência, tráfico de drogas, vadiagem,
aponta que a favela recebe de todos os outros promiscuidade e demais fatores também descobertos
moradores da cidade um estigma extremamen- em qualquer bairro popular da teia urbana, encon-

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tra-se tanto na favela quanto na periferia, de forma dariedade, resistência e preservação cultural. Se na
prioritária, a classe trabalhadora. Esta, mesmo repro- sociedade em geral os favelados não se encontram
duzindo a força de trabalho da maneira em que lhe é acolhidos devido aos fortes estigmas, na favela seus
possível, sofre fortes discriminações e exclusões que habitantes sentem-se pertencentes ao lugar e se
comprometem a formação de sua identidade. No en- identificam com os outros moradores.
tanto, o olhar da sociedade para a favela e a periferia Se a favela carioca e seus processos de repre-
condiz com a visão que seus moradores possuem do sentação social são objetos de estudo para Burgos
lugar onde vivem e de quem são. (2009), a periferia paulistana sob o olhar distinto
Tanto para Hall (2006) quanto para Bauman das supostas crescentes exclusão e marginalização é
(2003), a identidade está sempre em um processo o objeto empírico pesquisado por Magnani (1998),
sem fim, incompleto, em construção e sendo for- que a entende como uma realidade construída por
mado. Ou seja, “a identidade surge não tanto da moradores de diversas origens (migrantes), resulta-
plenitude da identidade que já está dentro de nós do de adaptação e transformação de modos de vida
como indivíduos, mas de uma falta de inteireza que com a rotina exigente do trabalho. Para esse autor,
é ‘preenchida’ a partir de nosso exterior, pelas for- nos bairros periféricos é possível identificar nos co-
mas através das quais nós imaginamos ser vistos por tidianos familiares resquícios de cultura nordestina,
outros” (Hall, 2006, p.10). O sujeito pós-moderno mineira e de outras regiões que, ao se misturar aos
pode estar em contínuo processo de formação de equipamentos urbanos, constroem nova identida-
identidade, que é deslocada e fragmentada. Mas, de, novos laços de parentesco e vizinhança. Nesse
para que ele consiga reconhecer-se como um ser processo fica claro o enfrentamento entre o velho e
autônomo, identifica-se com instâncias mais amplas o novo, cultura rural e sociedade urbana industrial.
como membro de uma sociedade, grupo, classe, Em meio às diversas transformações e ressignifica-
nação ou algo que ele possa reconhecer como per- ções, hábitos permanecem, alguns se modificam e
tencente, ou seja, para que se sinta instintivamente outros se extinguem, implicando no reordenamen-
acolhido (Scruton, 1986 Apud HALL, 2006, p.13). to do estoque simbólico dos moradores de bairros
Diante dessas circunstâncias fluidas, a identifi- periféricos. Diante dessa reordenação de modos de
cação com uma “comunidade” ainda é necessária, vida, é possível analisar o cotidiano desses morado-
pois o olhar do outro ainda interessa e preocupa. res sob outro foco:
Nesse sentido, a identificação comunitária possui a
função de confirmar a propriedade de escolha em- Apesar do interesse despertado ultimamente pe-
prestando parte de sua gravidade à identidade a que las condições de vida das populações dos bairros
confere e, com isso, fornece a “aprovação social”. periféricos, suas associações e movimentos reivin-
Cabe nesse momento ressaltar que os extremos dicativos, existe, entretanto, toda uma realidade que
entre ricos e pobres – seja na modernidade indus- faz parte do cotidiano dessas populações, mas que
trial ou na pós-modernidade global e fluida – con- normalmente escapa às atenções e foge do interesse
político imediato: é o bar da esquina, são os clubes
tinuam assolando a sociedade, “o abismo entre os
de futebol de várzea, as “casas do norte”, os bailes
ricos e os pobres, e entre os mais ricos e os mais populares (forrós, rodas de samba, funk, soul), gru-
pobres se amplia ano a ano tanto entre as socieda- pos de mutirão, danças de devoção ligadas ao ca-
des como dentro delas, em escala global e dentro tolicismo rural, rituais de umbanda e candomblé,
de cada Estado” (Bauman, 2003, p.80). O abismo curandeiros e benzedeiras, sistemas de excursões
social continua perpetuando desigualdades, agora populares, duplas sertanejas, circos, etc. (Magnani,
em meio ao consumismo impiedoso que arremata 1998, p.25).
o sujeito pobre a uma extrema carência de bens e
reconhecimento, e o sufoca de estigmatizações. Já que o crescimento das cidades implicou o
Sob o olhar da classe dominante, a periferia e a crescimento do processo migratório, através do
favela são consideradas lócus de concentração da qual os migrantes concentraram-se em zonas peri-
pobreza, exclusão, delinquência e outros aspectos féricas, compreender a periferia significa entender
negativos. No entanto, o que é a favela, o que é a a latente necessidade de reordenamento simbólico
periferia no olhar do seu morador? Compartilhan- sentida pelos migrantes em sua “nova” realidade.
do desse mesmo questionamento, o pesquisador Mais que um deslocamento geográfico, econômico
Burgos (2009) acredita que, na visão do favelado, ou urbanístico, tal processo culminou em mudan-
as favelas assumem o lugar de acolhimento, soli- ças profundas em seu modo de vida, na forma que

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satisfaz suas necessidades e no surgimento de no- tornam-se lócus denso de significação levando-se
vas sociabilidades. Pode-se inferir, à luz de Stuart em consideração que são construídos por relações.
Hall (2006), que se trata de um deslocamento do Para a sociedade ampla, aquela além da soleira
processo de identificação que faz com que o sujeito das casas, os favelados e os moradores das zonas
pobre e migrante reinvente-se, descarte e descubra periféricas são identificados com base em fortes es-
novos “fragmentos identitários”, e assim forme uma tigmas e discriminações como a cultura da violên-
nova identidade. Nesse sentido: cia e a concentração de pobreza. Mas entre os pró-
prios moradores, devido ao campo de mediações
Urge na grande cidade, reconstruir uma nova constituído de regras, normas e valores condizentes
identidade, reconstruir laços de parentesco e vizi- a auto-organização, as pessoas são diferenciadas e
nhança, acostumar-se aos equipamentos urbanos. identificadas de maneira peculiarmente diferente
Nesse processo, junta-se o velho ao novo, tradições da identificação produzida pela interpelação da so-
rurais com valores próprios da sociedade industrial;
ciedade como um todo. Portanto, a favela e a peri-
algumas coisas permanecem, muitas se transfor-
feria, além de serem apenas o habitat da concen-
mam, outras ainda desaparecem.(...) Mais relevante
que lamentar a perda de uma suposta autenticidade, tração da marginalidade e da exclusão, propiciam
no entanto, é tentar analisar as crenças, costumes, o surgimento de associações e movimentos sociais
festas, valores e formas de entretenimento na forma reivindicatórios.
em que se apresentam hoje, pois a cultura, mais que Desconhecer ou ignorar essa significação e tal
uma soma de produtos, é o processo de uma cons- sociabilidade, ou interpretá-las como se não tives-
tante recriação, num espaço socialmente determina- sem importância e fossem comprometedoras da efi-
do (Magnani, 1998, p.25-26). ciência da ação política é analisá-las por meio de
uma lente superficial e distorcida. A compreensão
A trama social desenvolvida pelos moradores de fatores culturais levaria a sociedade e os repre-
da periferia constitui um universo simbólico longe sentantes políticos a avaliarem de forma mais apro-
de ser único e sólido, pelo contrário, encontra-se fundada e coerente as reivindicações por melhores
fragmentado de normas, regras e valores; da coe- condições de vida oriundas de diversos movimen-
xistência de tradições, crenças religiosas e valores tos sociais. Pela análise dos fatores culturais torna-
oriundos da sociedade industrial. Diferentemente -se possível compreender a densidade relacional,
do que ocorre nos bairros urbanos de classe média, as fragmentações e os deslocamentos no processo
nos quais as relações sociais priorizam relações de de identificação. As novas formas de lazer como o
trabalho e não de vizinhança, nos bairros periféri- bar, o baile funk, a dupla sertaneja, a sinuca, dentre
cos a teia de relações combina laços de parentes- outros, revelam um cenário fértil de apropriações,
co, vizinhança e procedência. Já que esses mora- de novas necessidades, confrontando o tradicional
dores estão sujeitos à alta rotatividade do mercado com o moderno e o rural ao urbano.
de trabalho e convivem num ambiente imerso de Em constante adaptação e ressignificação de sua
precariedades, eles tendem a construir vínculos e própria forma de vida, esses sujeitos descartaram e
laços afetivos mais densos. Em vista disso, “é prin- recriaram muitas partes de sua identidade, de acor-
cipalmente o lugar de moradia que concentra as do com o lugar onde passaram a viver. É fato que
pessoas, permitindo o estabelecimento de relações o progresso industrial alimentou-se do acúmulo
mais personalizadas e duradouras que constituem de capital de uma parcela da população excluída
a base da particular identidade produzida no peda- dos benefícios do desenvolvimento, mas nem por
ço” (Magnani, 1998, p.116). O “pedaço” é explici- isso esses indivíduos sobreviveram de forma amor-
tado como território intermediário entre o privado fa, alienada e sem possibilidade de participação.
(a casa) e o púbico, ambiente que desenvolve a so- Pelo olhar dos fatores culturais apresentados nos
ciabilidade básica. estudos dos teóricos referenciados, é possível vis-
Assim como as favelas estudadas por Burgos lumbrar que em meio à sociabilidade desses locais
(2009), Valladares e Preteceille (2000) e outros au- os indivíduos que não recebiam o reconhecimento
tores, as periferias pesquisadas por Magnani (1998) merecido pela sociedade de forma ampla olhavam-
não são configuradas por uma realidade homogê- -se de modo distinto, longe da estigmatização ge-
nea. Pelo contrário, encontram-se repartidas social neralista. E assim os sentimentos de solidariedade
e territorialmente por meio de regras, acontecimen- e de pertencimento tornaram-se instrumentos na
tos, vínculos e eventos. Por conta desses aspectos, formação de suas identidades.

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Considerações Finais por esses moradores. Mais que a negação de uma


cidade ideal, esses lugares são ambientes densos de
Ao compreender o cidadão como o homem
significação e de reordenamento simbólico.
num lugar é importante entender os processos so-
É inegável a associação do lugar onde se vive
cioeconômicos que acarretaram a distribuição e a
à identificação do indivíduo e, diante disso, o ci-
produção do espaço urbano e que culminaram na
dadão é representado não só por sua ocupação no
configuração atual do território brasileiro. Por meio
mercado de trabalho, mas também por sua mora-
de um recorte histórico e com objetivo de construir
dia, fato que reverbera a estigmatização e a discri-
uma linha temporal de importantes acontecimentos
minação baseadas no olhar generalizador. No en-
que propiciaram transformações e instigaram o de-
tanto, sob um olhar mais aprofundado e destituído
sordenamento espacial urbano originando as peri-
ferias e favelas contidas de moradores pertencentes de estigmas compreende-se como um equívoco a
à classe trabalhadora, seja do mercado formal ou fórmula representativa compartilhada na sociedade
informal, destacou-se a colonização, a escravidão/ a respeito das favelas e periferias.
abolição, a imigração europeia, a Lei de Terras, a Mais intrigante do que problematizar as raízes
expansão industrial pós-guerra, a ditadura nacio- da espoliação, segregação e exclusão social sofridas
nal, os intensos processos de migração e êxodo ru- por esses moradores, é investigar o olhar deles para
ral, além de outros fenômenos. si mesmos e para seus vizinhos. Com esse ímpeto
Com a reflexão apresentada, constata-se um ce- motivador e subsidiado pela interpretação dos fa-
nário no qual os moradores que contribuem dia- tores sociais, se buscou revelar um cenário de forte
riamente para a engrenagem do sistema produtivo identificação e acolhimento nas periferias e favelas,
encontram-se contraditoriamente destituídos dos mesmo em meio à desaprovação social. Este artigo
benefícios coletivos da vida urbana. Além de tra- também defende que a densa sociabilidade desses
balhadores, a periferia e a favela também acolhem a lugares formula valores e regras de convivência e
violência, a delinquência, a promiscuidade e o trá- configura estruturalmente o espaço em que esses
fico de drogas, e tais aspectos são evidenciados e moradores vivem. Diante de tais reflexões compre-
generalizados pela sociedade em seu sentido mais ende-se, portanto, que em meio ao processo con-
amplo. Porém, ao identificar esses lugares como temporâneo de formação de identidade fragmen-
lócus da concentração da pobreza e da cultura da tada e deslocada, esses moradores encontram no
violência, ignora-se o fato de que dentro desses am- “pedaço” o abrigo, a aprovação e as formas de lutar
bientes existem nuances, diferenciações e desigual- pela sua cidadania, fazendo com que a percepção
dades. Portanto, representar a periferia e a favela de si mesmo não seja equiparada à representação
com o olhar homogêneo de forte estigmatização de- que a sociedade atribui-lhe de maneira discrimina-
monstra certo distanciamento da realidade vivida tória e estigmatizada.

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Aline Meneguini de Oliveira é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade


de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista, membro do Grupo de Pesquisa Mí-
dia e Sociedade, vinculado ao CNPq, e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP). E-mail: <alinemeneguini@yahoo.com.br>.

Recebido para avaliação em março de 2012. Aprovado para publicação em julho de 2012.

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