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CRIMINOLOGIA

Sessão 2
CRIMINOLOGIA
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Conteúdos:

Criminalidade violenta

- Definição, prevalência e evolução.

- Teoria do processo civilizacional.

- Teoria clássica.

- Teoria da modernização.

- Teoria das tensões sociais estruturais.

- Teoria da relação idade-crime.


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Crimes violentos – definição e prevalência em Portugal

Para efeitos de estudo da criminalidade violenta é importante começar por


considerar que um crime violento, seja ele qual for, tem invariavelmente como
objetivo, intencional, a obtenção de uma dada vantagem pessoal através da
humilhação, da perseguição, da ameaça ou da agressão. Tal vantagem pode
ser uma espécie de sentimento de justiça (vingança), um controlo ou domínio
abusador ou simplesmente a posse de um bem.
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Nesta unidade curricular iremos apenas estudar os crimes violentos que são
cometidos de forma intencional ou, pelo menos, de forma aparentemente
intencional.

De acordo com as estatísticas da justiça, os crimes violentos, registados em


Portugal pelos órgãos de polícia criminal, correspondem a 24,4% do total de
crimes registados.
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A maioria dos crimes violentos é constituída por crimes de violência doméstica


(33,5% dos crimes contra as pessoas), de ofensa à integridade física simples
(28,1%), de ameaça e coação (17,7%) e de difamação, calúnia e injúria
(6,5%).

A prevalência de crimes violentos tem vindo a diminuir regularmente, nas


sociedades ditas mais desenvolvidas, desde pelo menos o século XIX. O
mesmo tem acontecido em Portugal. Esta diminuição tem contribuído para
uma maior compreensão dos fatores sociais que estão associados à prática
de crimes violentos.
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Teoria do processo civilizacional

As evidências empíricas atualmente disponíveis sugerem que a prevalência


de crimes violentos tende a diminuir à medida que vai emergindo, em cada
sociedade, um crescente autocontrolo individual da violência.

Este crescente autocontrolo é impulsionado por uma cultura de não-violência,


mas também pelo receio das reações dos outros, sendo um desses receios o
de detenção e de punição (legal).
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De acordo com as evidências disponíveis, uma cultura de não-violência não


emerge nem se desenvolve espontaneamente. Ela está associada à forma
como os Estados vão consolidando e legitimando, através de processos
democráticos, um monopólio sobre todas as formas de violência.

O desenvolvimento de uma cultura de não-violência está pois associado ao


uso, efetivo e legítimo, pelo Estado, de violência para punir a violência. Isto é,
da imposição de um custo pessoal elevado, como a privação da liberdade, a
quem recorre à violência sobre outros.
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A existência de relações entre monopólio estatal da violência, cultura de não-


violência e autocontrolo da violência contribui, de acordo com a teoria do
processo civilizacional, desenvolvida a partir das teorizações originais de
Norbert Elias (1939), para explicar parte da diminuição da prevalência de
crimes violentos nas sociedades mais avançadas.
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Teoria clássica

Num sentido semelhante mas anterior à teoria do processo civilizacional, a


designada escola clássica da criminologia, desenvolvida a partir das
teorizações de Cesare Beccaria (1764) e de Jeremy Bentham (1781), assumiu
que o comportamento humano é invariavelmente orientado pela racionalidade
e pela capacidade de escolha racional.
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Consequentemente, a perceção de que uma punição certa, célere e severa se


segue a um comportamento violento pode contribuir para a prevenção do
mesmo. Isto porque tal resposta punitiva tende a fazer aumentar a perceção
sobre os custos, pessoais e sociais, que terá tal comportamento.

De acordo com a teoria clássica, as leis penais são necessárias mas não
suficientes para prevenir comportamentos violentos numa sociedade. A
capacidade das mesmas para prevenir tais comportamentos depende da
perceção que cada ser humano possui sobre a probabilidade de vir a ser
efetivamente punido.
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As evidências científicas disponíveis não são ainda claras sobre o efeito de


punições mais severas na redução de comportamentos violentos.

No entanto, parece existir uma associação entre probabilidades de deteção,


processamento e punição judicial e prevalência de comportamentos violentos.
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Teoria da modernização

As evidências científicas disponíveis sugerem que a prevalência de crimes


violentos tende a ser mais elevada em sociedades e/ou comunidades menos
desenvolvidas (coletivistas) em que a família/grupo e as normas que
defendem a sua integridade e ‘honra’ se sobrepõem ao indivíduo e ao ‘outro’ e
à integridade e bem-estar destes.
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Inversamente, a prevalência de crimes violentos tende a ser menos elevada


em sociedades e/ou comunidades mais desenvolvidas (individualistas), em
que os interesses e a integridade do indivíduo são mais valorizados e em que
prevalecem valores de empatia e de respeito pelo ‘outro’.

Na sequência das teorizações originais de Émile Durkheim (1893), a teoria da


modernização tem, neste sentido, sugerido que existe também uma
associação entre o grau de coletivismo e/ou de individualismo de uma
sociedade e os crimes violentos que nela ocorrem.
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Teoria das tensões sociais estruturais

Para além do grau de modernização de uma sociedade, tudo indica que a


prevalência de crimes violentos tende a ser mais elevada em sociedades e/ou
comunidades com maiores níveis de privação (económica, social e/ou política)
e/ou de desigualdade.
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Tal parece ocorrer, entre outros motivos, pelo facto de maiores níveis de
privação e/ou de desigualdade induzirem um mais elevado número de
conflitos interpessoais e sociais e estes uma maior probabilidade de
ocorrência de crimes violentos.

A existência de uma provável relação entre privação, desigualdade e violência


foi sugerida por vários teóricos, entre os quais se destaca Robert Merton
(1938).
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Teoria da relação idade-crime

As sociedades menos desenvolvidas e mais desiguais, em termos


económicos, sociais e/ou políticos, tendem a ser demograficamente mais
jovens. Por outro lado, uma parte significativa dos crimes violentos tende a ser
cometida por jovens e por adultos jovens.

A relação existente entre idade e violência, sugerida por autores como Hirschi
e Gottfredson (1983) e Farrington (1986), carece ainda, no entanto, de
evidências científicas um pouco mais robustas.
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As teorias abordadas nesta sessão contribuem, no seu conjunto, para uma maior compreensão da diminuição da
prevalência de crimes violentos nas sociedades mais desenvolvidas.

Para aprofundar os conhecimentos adquiridos aconselha-se a leitura dos seguintes textos:

Ferreira, E. V. (2019). Modelos sociais e modelos criminais europeus - Uma abordagem exploratória. Sociologia, Problemas e Práticas, 90, 31-53
(disponível na Moodle da UL).

Entorf, H., & Spengler, H. (2015). Crime, prosecutors, and the certainty of conviction. European journal of law and economics, 39 (1), 167-201.
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Ferreira, E. (2011). Privação económica e criminalidade: o caso português (1993-2009), Sociologia,


Problemas e Práticas, 67, 107-125 (disponível na Moodle da UL).

Durlauf, S. N., & Nagin, D. S. (2011). Imprisonment and crime: Can both be reduced? Criminology &
Public Policy, 10 (1), 13-54.

Pinker, S. (2011). The better angels of our nature: The decline of violence in history and its causes.
Penguin.

Messner, S. & Rosenfeld, R. (2006). The Present and Future of Institutional-Anomie Theory. Advances in
Criminological Theory, 15, 127-148.

Ferreira, E. (2003). Violência e insegurança urbana: um fenómeno em crescimento ou em


transformação? O caso da Área Metropolitana de Lisboa. CIDADES, Comunidades e Territórios, (7)
(disponível na Moodle da UL).

Eisner, M. (2001). Modernization, Self-Control and Lethal Violence. The Long-Term Dynamics of

European Homicide Rates in Theoretical Perspective. British Journal of Criminology, 41 (4), 618-638.
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Farrington, D. P. (1986). Age and crime. Crime and justice, 7, 189-250.

Hirschi, T., & Gottfredson, M. (1983). Age and the explanation of crime. American journal of
sociology, 89 (3), 552-584.

Não se esqueça de responder ao teste que está na Moodle da UL. Recorda-


se que terá apenas 15 minutos para o fazer, pelo que se recomenda estudo
prévio aprofundado dos conteúdos abordados nesta sessão.

Não se esqueça de submeter as suas respostas, mesmo que não tenha tido
tempo de responder a todas as questões.

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