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CIÊNCIA  IMUNOLOGIA y

Microscopia eletrônica mostra célula tumoral (em branco) sob o ataque de dois linfócitos T,
artificialmente coloridos (em vermelho)

42  z  DEZEMBRO DE 2019


BATALHA
ENTRE
CÉLULAS
Terapia experimental testada pela primeira
vez no Brasil usa o próprio sistema de defesa
do paciente para combater câncer

Ricardo Zorzetto

V
amberto Luiz de Castro não esperava de câncer – um deles, o de Castro. Seu nome é
viver mais muito tempo quando che- complicado: terapia com linfócitos T com recep-
gou ao Hospital de Clínicas da Uni- tores quiméricos de antígeno, ou, em uma versão
versidade de São Paulo em Ribeirão enxuta em inglês, CAR-T cell therapy.
Preto (USP-RP) em agosto deste ano. Tinha um Nesse tratamento, a equipe médica extrai um
câncer avançado e havia perdido quase 20 quilos tipo de célula de defesa – os linfócitos T – do san-
nos meses anteriores. Em 2017, esse funcionário gue do paciente (para evitar rejeição) e o modifica
público aposentado de Belo Horizonte havia sido geneticamente em laboratório para que identifique
diagnosticado com um linfoma decorrente da e destrua as células do tumor. Em indivíduos sau-
proliferação dos linfócitos B. Em pessoas saudá- dáveis, os linfócitos T naturalmente reconhecem
veis, essas células produzem anticorpos contra e eliminam células doentes, como as tumorais.
vírus, bactérias e outros elementos estranhos Estas, no entanto, às vezes escapam dessas senti-
ao organismo. Em pessoas com câncer, porém, nelas do corpo. Nos últimos 30 anos, descobriu-
passam a se multiplicar descontroladamente. -se como dar uma mãozinha para os linfócitos T
Os médicos que inicialmente atenderam Castro executarem a tarefa. Bastava inserir no genoma
tentaram combater a doença com medicamentos deles a receita de uma proteína que fica exposta
e radiação. Com a ineficácia dos tratamentos, em sua superfície externa e tem afinidade com as
RITA ELENA SERDA / INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (NCI) / DUNCAN
COMPREHENSIVE CANCER CENTER AT BAYLOR COLLEGE OF MEDICINE

deram-lhe mais um ano de vida. O aposentado células a serem destruídas – a estratégia funciona
mineiro estava sob cuidados paliativos, receben- bem contra os linfócitos B (ver página 44).
do morfina para suportar a dor, quando seu filho Dominado recentemente pelo grupo da USP, o
Pedro Augusto soube de um tratamento inovador tratamento é uma forma promissora de combater
e arriscado que começaria a ser oferecido de tumores causados por proliferação dos linfócitos
modo experimental no país. B e resistentes a químio e radioterapia. Quem pri-
Em Ribeirão Preto, pesquisadores liderados meiro mostrou sua viabilidade foi o imunologista
pelo hematologista Dimas Tadeu Covas haviam israelense Zelig Eshhar, em 1989. De lá para cá,
concluído pouco tempo antes o desenvolvimen- grupos nos Estados Unidos aperfeiçoaram a ma-
to de uma terapia inédita na América Latina e se nipulação das células e a segurança da terapia,
preparavam para oferecê-la como tratamento testada pela primeira vez em seres humanos há
compassivo (quando se esgotaram as alterna- cerca de 10 anos. O desenvolvimento de variações
tivas terapêuticas) para pessoas com dois tipos do tratamento decolou em 2013 e hoje existem

PESQUISA FAPESP 286  z  43


Reprogramação em laboratório
Manipulação genética direciona células de defesa a
atacarem tumores
Receptor CAR

1 SELEÇÃO DE CÉLULAS 2 PREPARO DO VETOR


O sangue do paciente passa Os pesquisadores incorporam ao
por um processo especial material genético de vírus inativados
de filtragem (aférese), os genes a serem inseridos nos
que separa os linfócitos T, linfócitos T. Em cultura, os vírus
enviados a seguir para a transferem para os linfócitos os
reprogramação genética genes que codificam os receptores
quiméricos de antígenos (CAR)

3 EXPRESSÃO DOS RECEPTORES


Alterados geneticamente, os linfócitos
Linfócito T T passam a exibir em sua superfície
receptores CAR, que direcionam essas
células a reconhecerem os linfócitos B

cerca de 680 versões em diferentes estágios de Como nenhuma das terapias está aprovada no
desenvolvimento (ver página 46). Brasil, uma alternativa para Castro seria buscá-
Apesar dessa explosão de possibilidades, só -la no exterior. O problema era o custo. O proce-
duas terapias com células CAR-T são comercia- dimento sairia por quase US$ 1 milhão, afirmou
lizadas para uso clínico. Uma para tratar um ti- o aposentado ao podcast do jornal O Globo, em
po de leucemia (câncer do sangue) e outra para outubro, dias após receber alta do Centro de Te-
combater linfomas, ambos decorrentes da pro- rapia Celular (CTC) da USP em Ribeirão Preto,
liferação de linfócitos B. onde foi tratado com as células CAR-T.
O primeiro foi desenvolvido na Universidade “Em 2018 nosso grupo já havia dominado o
da Pensilvânia, Estados Unidos. Essa terapia foi ciclo de produção dessas células e estava madu-
aprovada pela agência regulatória de medica- ro para atender os primeiros pacientes”, conta
mentos norte-americana (FDA) para leucemia Covas, coordenador do CTC, um dos Centros de
linfoblástica aguda de células B resistente aos Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados
medicamentos convencionais. Lá, o tratamento, pela FAPESP, e atual diretor do Instituto Bu-
chamado Kymriah, sai por US$ 475 mil, fora o tantan. “São poucos os lugares no mundo com
custo hospitalar. Uma revisão publicada em 2018 capacidade de proporcionar esse tratamento.”
no New England Journal of Medicine indica que Por prudência, a equipe adiou a oferta da terapia
de 70% a 90% das pessoas tratadas apresentam em modo compassivo até que o hematologista
regressão do câncer logo após a terapia. Com o Renato Cunha retornasse do NCI, onde passou
tempo, 25% voltam a ter leucemia. uma temporada aprendendo a manejar os efei-
No Instituto Nacional do Câncer (NCI) dos tos colaterais, que são intensos e podem matar.
Estados Unidos, criaram o segundo tratamento, Injetadas no sangue, as células CAR-T iniciam
comercializado com o nome de Yescarta, contra uma perseguição. Quando encontram um linfócito
linfomas de linfócitos B que não cedem às tera- B, aderem a ele e lançam um banho de compostos
pias tradicionais, como o do aposentado mineiro. químicos (citocinas) que o matam – seja ele sau-
Seu custo é de US$ 370 mil, ainda assim proi- dável ou tumoral. Necessário para eliminar as cé-
bitivo para muitos que poderiam se beneficiar lulas tumorais, esse banho químico, a tempestade
dele. Entre 65% e 85% das pessoas com linfoma de citocinas, é um sinal de que o tratamento está
de linfócitos B grandes inicialmente apresentam funcionando. Em níveis elevados, no entanto, esses
redução do tumor, mas só para metade delas a compostos baixam a pressão sanguínea e causam
resposta é completa e duradoura. extravasamento de líquidos para os órgãos.

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4 EXPANSÃO EM CULTURA 6 AÇÃO
Linfócitos T-CAR são cultivados No sangue, os linfócitos T-CAR
por semanas em um líquido rico identificam os linfócitos B (saudáveis ou
em nutrientes até somarem tumorais) e lançam sobre estes um banho
dezenas de milhões de células de compostos químicos que os matam

Célula
cancerígena

Antígeno

5 INFUSÃO
Uma quimioterapia leve é usada para
reduzir a quantidade de linfócitos T no
sangue do paciente, antes da infusão
das células geneticamente modificadas

“Um efeito adverso preocupante é o edema cere- primeiros usos bem-sucedidos em humanos leva-
bral”, relata o imunologista norte-americano Ken- ram o grupo de Ribeirão a investir no domínio das
neth Gollob, chefe do Grupo de Imuno-oncologia etapas necessárias para, de modo independente,
Translacional do ACCamargo Cancer Center, em criar uma linha de produção de células CAR-T.
São Paulo, que busca novos alvos para as células Uma forma de produzir essas células exige o
CAR-T. “Para lidar com esses efeitos, é preciso uso de vírus. São eles que inserem no genoma
ter uma equipe clínica bem preparada, além de dos linfócitos T os genes com a receita das pro-
acesso rápido a uma unidade de terapia intensiva teínas que os direcionam contra os linfócitos B.
e a medicamentos para controlar os efeitos cola- Em geral, cada grupo de pesquisa ou empresa
terais da tempestade de citocinas”, afirma Covas. farmacêutica desenvolve uma estratégia de pro-
Quando Castro foi à primeira consulta em Ri- dução e patenteia suas etapas ou as mantém em
beirão, o grupo do CTC já tinha linfócitos T de segredo. Por essa razão, a equipe da USP optou
outros pacientes em preparo para o primeiro tra- por criar a sua própria. “Inicialmente, pensamos
tamento. A gravidade de seu caso, porém, levou em comprar os vírus de laboratórios norte-ame-
os médicos a alterarem a ordem dos procedimen- ricanos”, conta a bióloga Virginia Picanço e Cas-
tos. O linfoma havia progredido rapidamente e tro, do CTC, coautora do livro Chimeric antigen
tomado o interior dos ossos. O paciente sentia receptor T Cells, a ser publicado em 2020 (editora
dores excruciantes e febre intermitente, além de Humana Press). “Como a importação é complexa
suores que, à noite, encharcavam sua roupa e a ca- e cara, decidimos desenvolver aqui essa etapa.”
ma. “Nesse estágio, as células tumorais se repro- Foram necessários quatro anos de trabalho, in-
duzem tão rapidamente e têm um metabolismo clusive com o treinamento no exterior, para do-
INFOGRÁFICO E ILUSTRAÇÃO ALEXANDRE AFFONSO

tão elevado que é como se o paciente praticasse minar as etapas de produção do vetor viral e de
atividade física durante o sono”, relata Covas. multiplicação dos linfócitos T geneticamente
A decisão de oferecer o tratamento havia sido modificados. Picanço e Castro passou um perío-
precedida de longo preparo. Estruturado há duas do na Universidade Purdue, nos Estados Unidos,
décadas, o CTC tem ampla experiência em trans- aprendendo a preparar o vírus, enquanto a química
plantes de medula óssea e havia sido pioneiro no Amanda Mizukami foi para a Universidade de Wa-
país no uso de células-tronco para tratar doenças shington treinar o cultivo dos linfócitos genetica-
autoimunes, como o diabetes tipo 1. O aprimora- mente modificados. As duas etapas são essenciais
mento na produção de células CAR-T, os resultados ao desenvolvimento da terapia e, no retorno ao Bra-
promissores nos testes in vitro e com animais e os sil, as pesquisadoras as implantaram em Ribeirão.

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Na USP, Picanço e Castro e sua equipe apren- Quatro dias mais tarde, ele estava melhor e passou
deram a gerar uma versão inofensiva do vírus da para a enfermaria. “Um mês depois da infusão não
imunodeficiência humana (HIV) para inserir os havia mais evidência de linfócitos B neoplásicos
genes nos linfócitos T. O engenheiro biotecnoló- no sangue e os exames de imagem mostravam
gico Pablo Moço produziu uma variante do vírus uma redução drástica do linfoma”, afirma Covas.
livre dos genes que o tornam nocivo e Mariane Em 11 de outubro, Castro teve alta e foi para
Tirapelle, também engenheira biotecnológica, tra- casa. Considerado em remissão clínica e com evo-
balha para aprimorar a produção e torná-la mais lução favorável, será acompanhado pelos médicos
barata. Após incorporar ao material genético do de Ribeirão pelos próximos anos. A proteção das
vírus os genes a serem inseridos nos linfócitos T, células CAR-T deve durar enquanto elas perma-
coube a Mizukami multiplicar em laboratório as necerem vivas no organismo. Parte das pessoas
células geneticamente modificadas. Nos testes in que passam pelo tratamento, porém, pode voltar a
vitro, as células CAR-T do CTC eliminaram 90% ter o mesmo tumor – seja porque as células CAR-
dos linfócitos B em um dia. Segundo os resultados -T se tornam inativas, seja porque as células neo-
publicados em outubro na revista Hematology, plásicas sofreram alterações que lhes permitem
Transfusion and Cell Therapy, elas também con- driblar os linfócitos geneticamente modificados.
trolaram o linfoma de células B em camundongos. “Esse resultado é um indício importante de
“Esse passo tecnológico fundamental foi pos- que a terapia funciona”, afirma o biomédico Mar-
sível porque já tínhamos expertise em montagem tín Bonamino, do Instituto Nacional do Câncer
e manipulação de vetores virais e no cultivo de (Inca), no Rio de Janeiro. “Como o tratamento
células em biorreatores, tudo seguindo as boas é recente, ainda é cedo para saber se haverá re-
práticas de fabricação exigidas para terapia em cidiva”, pondera o pesquisador, que há 15 anos
seres humanos, desenvolvidas para a realização trabalha no desenvolvimento de células CAR-T.
de transplantes de medula óssea”, relata Covas.
“Dominamos todo o ciclo e só conseguimos fazer SISTEMA ROBOTIZADO
isso no setor público de saúde por causa do in- “O caso tratado em Ribeirão mostra que a ciência
vestimento em pesquisa feito por agências finan- brasileira tem capacidade de desenvolver tera-
ciadoras como a FAPESP e o Conselho Nacional pias altamente sofisticadas”, comenta Kenneth
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Gollob, que, com o hematologista Jayr Schmidt
[CNPq].” Ao todo, 20 pessoas do Cepid atuaram Filho, trabalha para implantar um centro de imu-
para desenvolver o tratamento: cinco médicos, noterapia celular no ACCamargo.
cinco pesquisadores, sete alunos de pós-gradua- Para o hematologista Nelson Hamerschlak, da
ção e estagiários em pós-doutoramento, além de Faculdade de Ciências da Saúde ligada ao Hos-
três técnicos de laboratório. pital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, é o
No início de agosto, a equipe médica do CTC coroamento do esforço de um grupo com grande
coletou linfócitos T de Vamberto Castro e os en- experiência em terapia celular. No Einstein, as
viou ao laboratório para serem geneticamente equipes de Hamerschlak e da biomédica Luciana
manipulados. Cerca de 40 dias mais tarde, em Marti criaram recentemente vetores e construí-
9 de setembro, o aposentado foi internado para ram sequências de DNA codificando fragmentos
receber suas células de volta, agora transforma- de uma proteína de um vírus (citomegalovírus)
das em CAR-T. Dois dias após a infusão, o efeito para serem inseridos em linfócitos T. O procedi-
começou a se tornar evidente: foi possível redu- mento deve levar os linfócitos T a atacarem tan-
zir a morfina e veio a tempestade de citocinas. to os linfócitos B quanto o citomegalovírus, que
Castro entrou em choque circulatório. A pressão pode danificar órgãos de pessoas submetidas a
sanguínea baixou e foi preciso hidratá-lo, além de transplante de medula óssea. Em vez de montar
administrar anticorpos para conter as citocinas. uma estrutura complexa como a da USP, o grupo

Terapia em 81

avaliação 63
53
261 testes com 40
pacientes estavam
em andamento entre
9 8
2009 e 2019 1 2 0 3 1
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

FONTES  PICANÇO-CASTRO V. ET AL. HUMAN VACCINES & IMMUNOTHERAPEUTICS. 2019

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e sua equipe mostraram que talvez seja possível
Conhecimento protegido saltar a etapa de multiplicação in vitro das células
CAR-T, o que consome dias de preparo e pode
Até setembro de 2018 haviam sido registradas 1.624 exauri-las. “Estamos caracterizando cada etapa
patentes ligadas a terapias com células CAR-T desses protocolos antes de testá-los em pacien-
tes”, afirma o pesquisador do Inca.
292 Caso os estudos em andamento confirmem a
953 China eficácia das células CAR-T contra leucemias e
EUA
linfomas, essa terapia pode se tornar uma alter-
120 nativa ao uso de anticorpos, que precisam ser
Distribuição
de patentes
Reino Unido administrados por toda a vida, e ao transplante
por país de medula óssea, mais agressivo. Cálculos ini-
259
ciais feitos por Bonamino indicam que cerca de
Outros
países 900 brasileiros com um desses tipos de câncer
poderiam ser candidatos ao tratamento com as
células geneticamente modificadas a cada ano.
Um desafio será torná-lo acessível a mais pes-
FONTE  PICANÇO-CASTRO V; ET AL. HUMAN VACCINES & IMMUNOTHERAPEUTICS. 2019
soas. “No momento, cada país busca uma saída”,
diz Covas. Ele estima que a terapia aplicada em
do Einstein optou por adquirir um equipamento Ribeirão Preto tenha saído por menos de R$ 100
que produz essas células de modo automatizado mil. Esse valor inclui os gastos hospitalares e com
e está teste em centros norte-americanos. insumos, além do tempo de trabalho da equipe, e
Resultados promissores do tratamento levaram é inferior ao do tratamento comercial por apro-
a uma diversificação de técnicas de produção e veitar a infraestrutura disponível na universidade.
de alvos das CAR-T. Em setembro de 2018, havia Na Inglaterra, por exemplo, o governo nego-
679 terapias distintas, envolvendo 1.624 patentes ciou com as empresas farmacêuticas a compra
(ver gráficos), segundo levantamento feito pelos dos tratamentos por valor inferior ao de mercado
grupos de Picanço e Castro e da pesquisadora para oferecer no sistema público de saúde. Para
na área de gestão de inovação e empreendedo- Gollob, do ACCamargo, os preços devem cair se
rismo Geciane Porto, da Faculdade de Econo- os resultados continuarem positivos e a popu-
mia, Administração e Contabilidade da USP-RP. lação exigir acesso ao tratamento. “A criação de
Publicado em novembro na Human Vaccines & plataformas nacionais que permitam produzir
Immunotherapeutics, o trabalho indica que parte células CAR-T em grande escala também pode
importante desses tratamentos (218) tinha como ajudar a diminuir o custo”, argumenta.
alvo os linfócitos B, associados aos tumores he- Hoje a equipe de Ribeirão Preto estima ter ca-
matológicos. Outros 95, no entanto, haviam sido pacidade de tratar dois pacientes a cada 40 dias
desenvolvidos – e estavam em estágios iniciais (ela não informa se já iniciou outro tratamento)
de teste – contra tumores sólidos, que atingem porque a capacidade de produção das células ain-
o cérebro, a mama e outros órgãos. da é pequena. “Nosso grupo dominou todo o ciclo
Além de tentar ampliar as possibilidades da te- de produção dessas células. Precisamos ampliar
rapia, diferentes grupos buscam técnicas mais sim- a capacidade de produção, com um investimento
ples e seguras de alterar os linfócitos T. No Inca, a relativamente modesto”, explica Covas. Estima-se
equipe de Bonamino trabalha em uma estratégia que seriam necessários cerca de R$ 10 milhões.
de produção de células CAR-T que dispensa o uso Por ora, é difícil calcular a potencial economia que
de vírus. A técnica se vale de fragmentos de DNA o tratamento poderia gerar para o setor público
chamados transposons para inserir os genes dese- de saúde. “O paciente que tratamos estava com
jados nos linfócitos T. Os transposons mudam de câncer havia dois anos e tinha passado por qua-
posição no genoma. Tempos atrás, porém, foi de- tro terapias diferentes no SUS”, lembra Covas. n
senvolvida uma variedade apelidada de “bela ador-
mecida”, que pode ser aplicada terapeuticamente.
Com essa estratégia, o grupo do Inca produziu Projetos
células CAR-T, que, ao mesmo tempo, combatem 1. Centro de Terapia Celular (CTC) (n° 13/08135-2); Modalidade Centro
linfócitos B neoplásicos e o vírus Epstein-Barr, de Pesquisa, Inovação e Difusão; Pesquisador responsável Dimas
que pode causar leucemia em pessoas com o siste- Tadeu Covas (USP); Investimento R$ 45.925.435,79.
2. INCT 2014: Em células-tronco e terapia celular no câncer (nº
ma imunológico debilitado. Essas células CAR-T 14/50947-7); Modalidade Projeto Temático; Pesquisador respon-
se mostraram eficientes em testes com células in sável Dimas Tadeu Covas (USP); Investimento R$ 3.324.699,34
vitro e em camundongos com leucemia, segundo (CNPq/FAPESP).

estudo publicado em abril na Human Gene The- Os artigos científicos consultados para esta reportagem estão listados
rapy. Em um trabalho mais recente, Bonamino na versão on-line.

PESQUISA FAPESP 286  z  47

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