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Para iniciar os EXERCÍCIOS...

O encontro no CAMINHO de Emaús (Lc.24,13-35)


Dois homens, antigos discípulos, desiludidos, fracassados, dão as costas a tudo
aquilo que lhes havia feito viver até então. Deixam para trás Jerusalém e a
comunidade, e mergulham num caminho deprimente onde já não percebem mais
o sentido de sua existência.
Nesse caminho de tristeza e desânimo Jesus se faz presente.
Ele não teme juntar-se a eles neste caminho, para “fazer estrada” com eles, de maneira anônima.
Ele não tem intenção de discutir com eles, nem busca convertê-los, chamar-lhes a atenção...
Colocando breves questões, Ele se interessa pelo que vivem, pelo seu problema.
Deixa-os falar e escuta-os longamente, dando-lhes tempo para manifestar um desejo não realizado, uma
desilusão que atinge seu coração.
Citando a Escritura, familiar a seus companheiros de viagem, argumenta com eles, sem julgá-los, mas
ilumina-os para perceber o sentido do mistério da vida. Penetrando no problema dos dois discípulos,
Jesus os ajuda a reconhecer neles mesmos o bom desejo, mais forte que a desolação.
Sem impôr-se de nenhuma maneira, com surpreendente discreção, finge prosseguir seu caminho:
despertou neles um desejo e se contenta remetê-los à sua liberdade.
Eles tomam consciência da obscuridade na qual estão avançando.
O desejo brota espontâneo e livre: “fica conosco!”

Há um certo paralelismo entre a maneira de atuar do Ressuscitado e a de S.


Inácio, quando ele propõe os Exercícios. Em ambos os casos há um imenso
respeito à pessoa, uma preocupação minuciosa por tomar como ponto de partida
o que esta pessoa vive, ajudando-a a descobrir por si mesma a “presença de
Deus” em sua vida. Tudo sem atropelar, respeitando o lento desenvolvimento de
uma tomada de consciência pessoal.
Os Exercícios Espirituais são um instrumento pedagógico para ajudar a pessoa a
tomar consciência de si mesma, dos talentos
que lhe confiou o Criador, reavivar os sonhos e projetos,
situar-se pessoalmente na história da Salvação
deixando-se interpelar por Cristo para o seguimento.
Os Exercícios Espirituais caracterizam mais por sua pedagogia que por um
conteúdo teológico; e esta pedagogia busca acompanhar a pessoa na sua
“experiência de Deus”.
Por isso, antes que propôr uma teologia, S. Inácio, nos Exercícios, se interessa pela
pessoa que tem diante de si. É importante que tal pessoa possa “aproveitar-se”,
que seja capaz de liberdade para seguir o desejo profundo que a anima, aberta à
“variedade dos espíritos”, mesmo angustiada porque não encontrou ainda o
sentido de sua vida.
Ainda que sejam profundamente teocêntricos e cristocêntricos, os Exercícios Espirituais
põem o
ser humano no centro. A pedagogia que propõem não tem seu ponto de partida numa
estrutura
eclesiástica ou num “corpo teológico” particular, mas na experiência mesma da pessoa.
Procede por indução, a partir da realidade vivida de maneira única por uma
pessoa precisa, sem outro instrumento específico
que o discernimento. Tem em conta uma situação, um desejo, uma vontade,
algumas possibilidades.
Apoiada sobre estes fatos ela conduz à experiência imediata de Deus,
descobrindo sua presença ativa na pessoa mesma.
Funda-se sobre uma convicção: a Vontade divina não existe
independentemente desta pessoa e de suas circunstâncias, como
se fosse uma entidade externa, que subsistisse por
si mesma.
A originalidade do processo inaciano consiste na possibilidade da pessoa de
encontrar a Deus em si mesma, através daquilo que ela vive.
S. Inácio não confunde Deus com algo no fundo do ser humano, à maneira
panteísta. Deus existe em si mesmo, é o Criador e Senhor de quem “é próprio entrar,
sair, causar moções na alma, atraíndo-a toda ao amor de sua divina majestade” (EE. 330). Ele
age a partir do interior da pessoa, como uma força, um dinamismo, uma
vitalidade.
A consolação espiritual, teste que comprova a decisão generosa, se caracteriza
por um dinamismo vital: moção, amor, aumento. Em outras palavras, trata-se
de um aumento de vitalidade, um empurrão para a frente, que proporciona bem-
estar, regozijo e paz. E isto acontece no ser humano, enquanto totalidade,
abarcando as dimensões corporal, espiritual, psíquica...
Para S. Inácio, o caminho de Deus e o do ser humano coincidem perfeitamente.

Na oração: Ter muita estima e muito amor por aquilo que é mais profundo em você mesmo – a sede do
reflexo
de Deus, o seu “EU” e o seu Centro. Faça exercícios até sentir que você é alguém nobre, prezado,
filho(a) do amor: ser consciente de portar Deus e de ser seu Templo.

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