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Mecânica dos Fluidos

Prof. Giovani Renato Zonta

Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof. Giovani Renato Zonta

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

Z87m
Zonta, Giovani Renato
Mecânica dos fluidos. / Giovani Renato Zonta. – Indaial:
UNIASSELVI, 2019.
246 p.; il.
ISBN 978-85-515-0371-3
1. Mecânica dos fluidos. – Brasil. II. Centro Universitário
Leonardo Da Vinci.
CDD 532

Impresso por:
Apresentação
A Mecânica dos Fluidos é uma das disciplinas do ciclo básico para
qualquer curso de Engenharia. Os temas envolvidos nesta área de estudo
são de grande importância e com diversas aplicações industriais, residen-
ciais, biológicas e ambientais, principalmente em sistemas estáticos (fluidos
em repouso) e dinâmicos (escoamentos). Atualmente, a pesquisa científica na
área da Mecânica dos Fluidos é muito difundida em praticamente todas as
universidades. Entretanto, esta disciplina encontra certo grau de resistência
por parte dos acadêmicos. Esta resistência, em parte, se deve ao fato de que
muitos problemas práticos ou teóricos da mecânica dos fluidos requerem
não apenas um bom conhecimento do assunto, mas certo grau de intuição,
lógica e experiência prática para a compreensão do fenômeno físico e suas
minúcias e particularidades.

O objetivo deste livro de estudos é apresentar os conceitos funda-


mentais e aplicações destes conceitos em problemas práticos de engenharia.
Vários tópicos da Mecânica dos Fluidos serão discutidos teoricamente e apli-
cados em exemplos práticos que, eventualmente, poderão ser desenvolvidos
em atividades experimentais em laboratório. Esta metodologia de ensino, co-
nhecida como Aprendizagem Baseada em Problemas (do inglês, PBL – pro-
blem-based learning), é consagrada na área de Ciências Exatas e Engenharia.
Ao longo dos anos, a Aprendizagem Baseada em Problemas mostrou-se sa-
tisfatória e eficiente no ensino de disciplinas específicas que envolvem apli-
cações práticas na engenharia.

Na Unidade 1, iniciaremos nosso estudo com a definição de fluido,


características e suas propriedades fundamentais: massa específica, peso es-
pecífico, densidade relativa, viscosidade, entre outras. Na sequência, discu-
tiremos tópicos do comportamento do fluido em repouso, forças atuantes,
manometria, pressão do fluido e flutuação.

Na sequência, a Unidade 2 apresentará os fundamentos da cinemá-


tica e dinâmica dos fluidos, definição das características do escoamento, leis
de conservação (balanços de massa e balanços de energia) para o escoamento
interno incompressível, determinação de perdas de carga localizadas e distri-
buídas, além dos tipos mais comuns de problemas de escoamento de fluidos.

Finalmente, na Unidade 3, complementaremos o estudo de escoa-


mento de fluidos em tubulações com a apresentação de exemplos de dimen-
sionamento hidráulico, sistemas de recalque e seleção de bombas centrífu-
gas. Métodos experimentais e dispositivos para a determinação de vazão e
velocidade de escoamento também serão discutidos. A análise dimensional
será discutida com o conceito de homogeneidade dimensional de equações
e com o teorema π de Buckingham, aplicado com o método de repetição de
variáveis para identificação de parâmetros adimensionais, sendo um método
de grande utilidade em diversas áreas de estudo na Engenharia.
III
A disciplina de Mecânica dos Fluidos exige alguns pré-requisitos bá-
sicos, atendidos pelas disciplinas de Álgebra, Cálculo Diferencial e Integral
e Física. Utilizaremos diversos conceitos e analogias destas disciplinas na
Mecânica dos Fluidos.

Esta disciplina integra a matriz curricular obrigatória de cursos de


Engenharia no Brasil há pelo menos 50 anos, e, portanto, dispõe de vasta li-
teratura para estudo, muitas delas em língua portuguesa. Ao longo dos seus
estudos, procure pesquisar estas referências, evitando ficar limitado apenas
ao seu livro de estudos. A apresentação ordenada dos tópicos de estudo des-
ta disciplina permitirá um nivelamento necessário e desenvolverá a habili-
dade necessária a você, acadêmico, para um aperfeiçoamento individual e
independente na área de Mecânica dos Fluidos ao longo do curso.

Bons estudos!

Giovani Renato Zonta

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 - CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E
ESTÁTICA DOS FLUIDOS....................................................................................... 1

TÓPICO 1 - FLUIDO E CONCEITOS................................................................................................. 3


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 3
2 SISTEMA DE UNIDADES................................................................................................................ 5
3 FLUIDOS: DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO............................................................................. 12
3.1 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS............................................................................................... 16
4 LEI DE NEWTON DA VISCOSIDADE........................................................................................ 18
4.1 FLUIDOS NEWTONIANOS E NÃO NEWTONIANOS........................................................ 22
4.2 REOLOGIA BÁSICA.................................................................................................................... 23
5 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO......................................................................................................... 24
RESUMO DO TÓPICO 1.................................................................................................................... 29
AUTOATIVIDADE.............................................................................................................................. 30

TÓPICO 2 - VISCOSIDADE DE FLUIDOS.................................................................................... 33


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................. 33
2 DETERMINAÇÃO DA VISCOSIDADE DE FLUIDOS NEWTONIANOS.......................... 35
2.1 RELAÇÃO ENTRE TORQUE E VISCOSIDADE..................................................................... 35
2.2 DISPOSITIVOS PARA MEDIÇÃO DA VISCOSIDADE – VISCOSÍMETROS..................... 36
2.3 ESCALAS E GRADUAÇÃO DE VISCOSIDADE: SAE . ........................................................ 39
3 TÓPICOS APLICADOS SOBRE LUBRIFICAÇÃO ................................................................... 40
4 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO......................................................................................................... 41
RESUMO DO TÓPICO 2.................................................................................................................... 44
AUTOATIVIDADE.............................................................................................................................. 45

TÓPICO 3 - ESTÁTICA DOS FLUIDOS.......................................................................................... 49


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................. 49
2 PRESSÃO DE UM FLUIDO EM REPOUSO................................................................................ 49
2.1 PRESSÃO EM UM PONTO......................................................................................................... 51
2.2 VARIAÇÃO DA PRESSÃO EM FUNÇÃO DA PROFUNDIDADE...................................... 51
2.3 MANOMETRIA DOS FLUIDOS................................................................................................ 55
3 DISPOSITIVOS PARA MEDIÇÃO DE PRESSÃO MANOMÉTRICA.................................. 56
3.1 MANÔMETROS DE TUBO EM “U”......................................................................................... 56
3.2 MANÔMETRO DE BOURDON................................................................................................. 58
4 FLUTUAÇÃO E EMPUXO............................................................................................................... 58
5 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO......................................................................................................... 62
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................ 66
RESUMO DO TÓPICO 3.................................................................................................................... 68
AUTOATIVIDADE.............................................................................................................................. 69

UNIDADE 2 - ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA..................... 73

TÓPICO 1 - LEIS DE CONSERVAÇÃO........................................................................................... 75


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................. 75
VII
2 BALANÇO DE MASSA EM ESCOAMENTOS – EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE....... 75
3 CONSERVAÇÃO DA MASSA EM ESCOAMENTOS............................................................... 77
4 DEFINIÇÃO DA VAZÃO DE UM FLUIDO................................................................................. 80
5 BALANÇO DE ENERGIA EM ESCOAMENTOS – EQUAÇÃO DE BERNOULLI.............. 81
6 CONSERVAÇÃO DA ENERGIA MECÂNICA EM ESCOAMENTOS................................... 82
7 LIMITAÇÕES E SIMPLIFICAÇÕES ADOTADAS NA EQUAÇÃO DE BERNOULLI....... 93
8 APLICAÇÕES EM ESCOAMENTOS INTERNOS INCOMPRESSÍVEIS
EM REGIME PERMANENTE......................................................................................................... 94
9 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO......................................................................................................... 95
RESUMO DO TÓPICO 1.................................................................................................................. 102
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................ 103

TÓPICO 2 - DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS


PERDAS DE CARGA – PARTE I.............................................................................. 105
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................ 105
2 ESCOAMENTOS EM REGIME LAMINAR E TURBULENTO.............................................. 105
3 DEFINIÇÃO DAS PERDAS DE CARGA................................................................................... 107
4 USO DA EQUAÇÃO DE COLEBROOK-WHITE E DE EQUAÇÕES EMPÍRICAS........... 110
5 USO DO DIAGRAMA DE MOODY........................................................................................... 112
6 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO....................................................................................................... 114
LEITURA COMPLEMENTAR.......................................................................................................... 126
RESUMO DO TÓPICO 2.................................................................................................................. 128
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................ 129

TÓPICO 3 - DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS


PERDAS DE CARGA – PARTE II............................................................................. 133
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................ 133
2 PROBLEMAS TÍPICOS EM ESCOAMENTO DE FLUIDOS................................................. 134
2.1 PROBLEMAS DO TIPO I – DETERMINAÇÃO DA QUEDA DE PRESSÃO OU PERDA DE
CARGA COM VAZÃO E DIÂMETRO DE TUBULAÇÃO................................................... 136
2.2 PROBLEMAS DO TIPO II – DETERMINAÇÃO DA VAZÃO COM PERDA DE CARGA
ESPECIFICADA PARA UM DIÂMETRO DE TUBULAÇÃO CONHECIDO.................... 136
2.3 PROBLEMAS DO TIPO III – DETERMINAÇÃO DO DIÂMETRO DA TUBULAÇÃO COM
VAZÃO ESPECIFICADA PARA UMA DADA PERDA DE CARGA ADMITIDA........... 137
3 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO....................................................................................................... 138
RESUMO DO TÓPICO 3.................................................................................................................. 159
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................ 160

UNIDADE 3 - ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS


CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL................................................................................... 163

TÓPICO 1 - SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS.............................................................. 165


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................ 165
2 DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DA BOMBA CENTRÍFUGA..................................... 166
2.1 FUNCIONAMENTO DE UMA BOMBA CENTRÍFUGA..................................................... 169
2.2 CURVA CARACTERÍSTICA DE BOMBA CENTRÍFUGA E CURVA DO SISTEMA....... 172
3 SELEÇÃO DA BOMBA CENTRÍFUGA PARA UM SISTEMA DE TUBULAÇÃO............ 176
3.1 CÁLCULO DE PARÂMETROS HIDRÁULICOS . ................................................................ 177
3.2 CAVITAÇÃO E CÁLCULO DO NPSH................................................................................... 179
3.3 SELEÇÃO DE BOMBA CENTRÍFUGA ATRAVÉS DE CATÁLOGO
DE FABRICANTES..................................................................................................................... 182

VIII
3.4 USO DE CURVAS CARACTERÍSTICAS PARA SELEÇÃO DE BOMBAS
CENTRÍFUGAS.......................................................................................................................... 182
4 EXEMPOS DE APLICAÇÃO......................................................................................................... 183
RESUMO DO TÓPICO 1.................................................................................................................. 199
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................ 200

TÓPICO 2 - MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO


DE FLUIDOS................................................................................................................ 203
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................ 203
2 CONCEITO....................................................................................................................................... 203
3 DISPOSITIVOS COMUNS PARA MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE
DE FLUIDOS.................................................................................................................................... 205
3.1 TUBO DE PITOT......................................................................................................................... 206
3.2 MEDIDORES DE VAZÃO POR OBSTRUÇÃO: PLACA ORIFÍCIO, BOCAL
E VENTURI.................................................................................................................................. 209
4 OUTROS DISPOSITIVOS PARA MEDIÇÃO DE VAZÃO.................................................... 217
5 EXEMPOS DE APLICAÇÃO......................................................................................................... 220
LEITURA COMPLEMENTAR.......................................................................................................... 224
RESUMO DO TÓPICO 2.................................................................................................................. 226
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................ 227

TÓPICO 3 - ANÁLISE DIMENSIONAL........................................................................................ 229


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................ 229
2 O TEOREMA DOS PI (π) DE BUCKINGHAM......................................................................... 232
2.1 MÉTODO DE REPETIÇÃO DE VARIÁVEIS.......................................................................... 233
3 EXEMPOS DE APLICAÇÃO ........................................................................................................ 235
RESUMO DO TÓPICO 3.................................................................................................................. 241
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................ 242
REFERÊNCIAS.................................................................................................................................... 243

IX
X
UNIDADE 1

CONCEITOS FUNDAMENTAIS,
VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS
FLUIDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• aplicar o sistema de unidades (SI) e os fatores de conversão entre unidades;

• compreender a definição de fluido;

• caracterizar e diferenciar um líquido e um gás;

• definir as propriedades básicas de um fluido, como massa específica, peso


específico e densidade relativa;

• definir a propriedade viscosidade e aplicar o conceito da lei de Newton


da viscosidade em problemas práticos;

• reconhecer os principais tipos de técnicas e dispositivos para medição de


viscosidade de fluidos e a relação entre o torque aplicado e a viscosidade
do fluido;

• diferenciar um fluido newtoniano e um fluido não newtoniano;

• definir a relação entre pressão absoluta, pressão atmosférica e pressão


manométrica;

• determinar a variação de pressão de um fluido em repouso em função da


variação da altura de coluna de fluido;

• reconhecer o princípio de operação de um manômetro de tubo em “U” e


de um manômetro de Bourdon;

• compreender o conceito da força de flutuação ou empuxo do fluido sobre


um corpo submerso.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – FLUIDO E CONCEITOS

TÓPICO 2 – VISCOSIDADE DE FLUIDOS

TÓPICO 3 – ESTÁTICA DOS FLUIDOS

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

FLUIDO E CONCEITOS

1 INTRODUÇÃO
A mecânica dos fluidos é a ciência que trata do comportamento de um
fluido em repouso (estática) e em movimento (dinâmica), além de suas interações
com sólidos e outros fluidos. Neste estudo, muitas analogias com a mecânica
tradicional do corpo rígido serão evidenciadas, conforme ilustradas a seguir.

De acordo com Çengel e Cimbala (2007; 2015), a ciência da mecânica


dos fluidos é subdividida em várias categorias. Por exemplo, o estudo do
movimento de fluidos considerados incompressíveis (tais como líquidos e gases
a baixas velocidades) é chamado de hidrodinâmica. Uma outra subcategoria da
hidrodinâmica, relativa ao estudo de líquidos em tubulações e canais abertos, é
chamada de hidráulica. A dinâmica dos gases estuda o movimento de fluidos com
significativa mudança de densidade (gases a altas velocidades, grandes variações
de temperatura e pressão). A subcategoria aerodinâmica trata do escoamento de
gases (especialmente o ar) a baixa ou alta velocidade sobre corpos e superfícies,
tais como fuselagens de aviões e automóveis. Os escoamentos naturalmente
induzidos também são estudados em subcategorias, como meteorologia,
oceanografia e hidrologia.

Ao iniciar o estudo da mecânica dos fluidos, é interessante que você tente


perceber e associar os conceitos fundamentais desta disciplina com aspectos
do nosso cotidiano. Por exemplo, tente identificar onde você encontra sistemas
estacionários e dinâmicos de fluidos pressurizados na sua vida. Considere o
sistema hidrossanitário de um prédio ou o sistema de distribuição de água de uma
cidade e de sua casa. Preste atenção em um canteiro de obras civis ou, quando
for trocar o óleo de seu carro, como máquinas e dispositivos que operam fluidos
pressurizados são usados para acionamentos diversos. Em escala industrial,
imagine uma refinaria de petróleo e seu complexo sistema de tubulações que
transportam líquidos e gases oriundos do processamento químico. Estes sistemas
utilizam bombas e compressores para transferir fluidos de tanques e reservatórios
para os vários destinos (Figura 1).

3
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 1 – SISTEMA DE TRANSPORTE DE FLUIDOS TÍPICO EM UMA INDÚSTRIA

FONTE: <http://www.cencorefining.org/boiler-feed-water-pumps/>. Acesso em: 17 jul. 2018.

A seguir, um resumo de tópicos e conceitos importantes para o conheci-


mento do futuro engenheiro na área de mecânica dos fluidos:

• A Mecânica dos fluidos é o estudo do comportamento de fluidos em repouso


(estática) ou movimento (dinâmica).
• Fluidos podem ser líquidos ou gases e são caracterizados pelas suas proprieda-
des físicas, tais como massa específica (densidade), peso específico, densidade
relativa (gravidade específica), tensão superficial e viscosidade.
• A análise quantitativa e cálculos desta disciplina podem envolver unidades do
sistema métrico (SI) ou do sistema inglês. É importante ter familiaridade com
ambos e conhecer os principais parâmetros de conversão.
• A estática dos fluidos compreende o estudo da medição de pressão no fluido
(manometria), forças do fluido em superfícies submersas devido à pressão do
fluido, flutuação e estabilidade de corpos.
• Estudo e análise do comportamento de fluidos que escoam em tubulações, du-
tos e canais abertos.
• Definição das formas de energia mecânica associadas ao movimento de um
fluido (energia cinética, potencial e de pressão).

4
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

• Quantificação das perdas de carga (energia) do fluido durante seu escoamento,


sejam elas devido ao atrito com a superfície da tubulação (distribuídas) ou pela
presença de acessórios (curvas, válvulas e outros equipamentos ou obstruções
parciais).

• Dimensionamento de máquinas hidráulicas (bombas) que inserem energia ao


fluido durante o escoamento e aumentam a sua pressão.

• Aproveitamento da energia dos fluidos como força motriz de turbinas ou atu-


adores hidráulicos.

• Dispositivos para medição de pressão, velocidade e vazão do fluido em escoa-


mento para controle do sistema.

2 SISTEMA DE UNIDADES
As grandezas físicas podem ser caracterizadas pelas suas dimensões e as
magnitudes atribuídas às dimensões são chamadas de unidades físicas. Algumas
dimensões básicas, como massa, comprimento, tempo e temperatura, são designa-
das como dimensões primárias ou fundamentais, enquanto outras, como velocida-
de, energia e volume, são expressas em função das dimensões primárias e chama-
das de dimensões secundárias ou dimensões derivadas (ÇENGEL; BOLES, 2013).

Ao longo da história e do desenvolvimento científico, muitos sistemas de


unidades foram criados. Desde a década de 1960, a comunidade científica e de
engenharia empreende grandes esforços para unificar o mundo com um único
sistema de unidades. Entretanto, alguma resistência a esta unificação ainda é
observada e, hoje, ainda existem dois conjuntos de unidades em uso nas aplicações
da Engenharia: o sistema inglês, adotado praticamente apenas nos EUA, e o SI
métrico, também conhecido como Sistema Internacional.

De acordo com Çengel e Boles (2013), o Sistema Internacional (SI) é um


sistema simples e lógico baseado no escalonamento decimal entre as diversas
unidades, utilizado em trabalhos científicos e de engenharia na maioria das
nações industrializadas, incluindo até mesmo a Inglaterra. O sistema inglês,
porém, não tem uma base numérica sistemática aparente, e as diversas unidades
desse sistema estão relacionadas entre si de forma totalmente arbitrária, o que o
torna confuso e difícil de entender para usuários que não estão acostumados.

Em 1971, a Conferência Geral de Pesos e Medidas padronizou sete


quantidades fundamentais de unidades, identificadas conforme a Figura 2.

5
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 2 – AS SETE DIMENSÕES FUNDAMENTAIS NO SISTEMA INTERNACIONAL (SI)

FONTE: Adaptado de Çengel e Boles (2013)

Outra padronização importante no Sistema Internacional (SI) é a escrita de


todos os nomes de unidades na forma minúscula, mesmo as unidades derivadas
de nomes próprios. Porém, a abreviação de uma unidade deve ser escrita com a
primeira letra em maiúscula, caso esta unidade derive de um nome próprio. Por
exemplo, a unidade de força no SI, uma homenagem a Sir Isaac Newton (1647-
1723), é o newton (e não Newton), e sua abreviação é N (ÇENGEL; BOLES, 2013).

Outra regra importante refere-se ao nome completo de uma unidade, que


pode ser colocado no plural, mas não sua abreviação. Por exemplo, o comprimento
de um objeto pode ser 10m ou 10 metros, mas não 10 ms ou 10 metros. Finalmente,
nenhum ponto deve ser usado nas abreviações de unidades, a menos que apareça
no final de uma frase. A abreviação adequada de metro é m (e não m.) (ÇENGEL;
BOLES, 2013).

De acordo com Çengel e Boles (2013), as indústrias envolvidas no comércio


internacional (como as do setor automotivo, de refrigerantes e de bebidas
alcoólicas) passaram rapidamente a utilizar o sistema métrico por questões
econômicas (pois contariam com um único projeto mundial, menor número de
tamanhos, estoques menores etc.). Hoje, quase todos os automóveis fabricados
nos Estados Unidos seguem o sistema métrico. Porém, a maioria das indústrias
desse país resistiu à mudança para o Sistema Internacional (SI), retardando assim
o processo de conversão. Neste livro de estudos será dada ênfase às unidades do
Sistema Internacional (SI).

Sendo o SI baseado em uma relação decimal entre as unidades, os prefixos


usados para expressar os múltiplos e submúltiplos das diversas unidades estão
listados na Figura 3. Estes prefixos são padrão para quaisquer unidades.

6
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

FIGURA 3 – RELAÇÃO DE PREFIXOS EM UNIDADES DO SI

FONTE: Adaptado de Çengel e Boles (2013)

Na Figura 4 estão listadas as unidades das principais quantidades


utilizadas no estudo da mecânica dos fluidos e os fatores de conversão para o
Sistema Internacional e o Sistema inglês.

7
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 4 – FATORES DE CONVERSÃO DE UNIDADES DE DIMENSÕES NO SI E


SISTEMA INGLÊS

FONTE: Adaptado de Mott e Untener (2015)

8
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

Algumas considerações importantes devem ser ressaltadas com base nas in-
formações da Figura 4. Verifica-se que no SI, as unidades de massa, comprimento e
tempo são quilograma (kg), metro (m) e segundo (s), respectivamente. As unidades
respectivas do sistema inglês são libra-massa (lbm), pé (ft) e segundo (s). Embora no
idioma inglês a palavra libra se traduza por pound, o símbolo lb é a abreviação de libra.

No SI, a unidade de força é newton (N) e é definida como a força necessária


para acelerar uma massa de 1 kg a uma taxa de 1 m/s2. No sistema inglês, a unidade de for-
ça é a libra-força (lbf), por definição, a força necessária para acelerar uma massa de 32,174
lbm (1 slug) a uma taxa de 1 pé/s2. É importante não confundir a libra-massa (lbm) com
libra-força (lbf). Geralmente, o contexto do problema esclarece a situação.

Outro ponto de confusão recorrente é em relação ao termo peso, que quase


sempre é utilizado incorretamente para expressar massa. Ao contrário da massa, o
peso é uma força. Ele é a força gravitacional aplicada a um corpo e sua magnitude é
determinada pela segunda lei de Newton, onde peso é igual ao produto da massa do
corpo e a aceleração gravitacional imposta no local. Na Terra, ao nível do mar, pode-
mos adotar a aceleração gravitacional igual a 9,81 m/s².

A principal causa de confusão entre massa e peso é que a massa em geral é


medida indiretamente calculando-se a força da gravidade exercida sobre ela. Essa abor-
dagem também considera que as forças exercidas por outros efeitos, como o empu-
xo, são desprezíveis. Isso é como medir a altitude de um avião por meio da pressão
barométrica. A forma direta apropriada de medir a massa é compará-la a uma massa
conhecida, porém este método é adotado apenas em aplicações muito específicas.

O trabalho, q­ue é uma forma de energia, pode ser definido simplesmente


como o produto da força e distância. Dessa forma, ele tem a unidade newton-metro
(Nm), que é chamada de joule (J). No sistema inglês, a unidade de energia é o Btu (do
inglês British Thermal Unit ou Unidade Térmica Britânica), definido como a energia
necessária para elevar em 1°F a temperatura de 1lbm de água a 68°F. No sistema mé-
trico, a quantidade de energia necessária para elevar em 1°C a temperatura de 1g de
água a 14,5°C é definida como uma caloria (cal).

A unidade da taxa de transferência de energia em relação ao tempo é o joule


por segundo (J/s), que é chamado de watt (W). No caso de a transferência de energia
entre sistemas ser dada na forma de trabalho (e não calor), sua taxa é chamada de
potência. Uma unidade comumente usada para a potência é o cavalo-vapor (hp, do
inglês horse-power), que é equivalente a 746W.

Se você consultar o seu consumo mensal de energia elétrica na conta que


recebe da concessionária que distribui eletricidade, notará que a energia elétrica é
geralmente expressa em quilowatt-hora (kWh), que equivale a 3600 kJ. A técnica de
conversão de unidades compostas ilustrada a seguir pode auxiliar o processo de cál-
culo quando os fatores de conversão são conhecidos.

• Converter 1kWh para kJ:

9
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

kJ
3600 s 1
s
3600 kJ
1 kWh 3600 kJ
1h 1 kW 1

Fazendo o produto dos numeradores e dividindo pelo produto dos


denominadores, cancelamos as unidades e encontramos o valor equivalente de
3600 kJ para 1 kWh de energia.

Outro exemplo:

• Converter 1 milha/galão para km/L:

1,6km 1gal 1,6 km


1 mi gal 0,423 km L
1 mi 3,7854 L 3,7854 L

Um dos motivos do uso da unidade kWh para quantificar a energia é que


o valor da quantidade de energia consumida fica mais curto na conta e de fácil
análise e comparação. Entretanto, quando se trata de geração de energia elétrica,
as unidades de kW e kWh são frequentemente trocadas e isso pode causar algu-
ma confusão.

Para esclarecer esta diferença entre potência e energia, devemos definir


o conceito de taxa e fluxo. De forma geral, a taxa é definida como sendo a razão
entre uma quantidade e o tempo (Equação 1). Por isso definimos a taxa de trans-
ferência de calor como a quantidade de energia térmica (calor) transmitida ao
longo do tempo.

Quantidade
Taxa = (1)
tempo

E
IMPORTANT

Conforme já mencionado, a taxa é chamada de potência quando a quantidade


transmitida ao logo do tempo é energia na forma de trabalho, e não na forma de calor.

O fluxo, por sua vez, é definido como a razão entre a taxa e a respectiva
área de transferência (Equação 2).

Taxa
Fluxo = (2)
Área
10
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

Portanto, no caso da quantidade de energia transferida, sua unidade no


SI será joule e o tempo, segundo. A razão entre quantidade ao longo do tempo
será a taxa de transferência de energia (joule por segundo (J/s) ou watt (W)).
Se, além disso, definirmos qual a área de transferência desta quantidade de
energia ao longo do tempo, poderemos determinar o fluxo de energia (W/m²),
fazendo a razão entre a taxa de transferência de energia (W) e a respectiva área
de transferência (m²).

NOTA

A taxa ou potência nominal é constante em processos em regime permanente


e na maioria dos equipamentos padronizados.

Considere um equipamento elétrico (chuveiro a resistência elétrica) com


uma potência nominal de 4000 W. Este chuveiro consome 4 kWh de eletricidade
quando funciona continuamente por uma hora. Note que kW ou kJ/s é uma
unidade de potência, enquanto kWh é uma unidade de energia.

Podemos utilizar a Equação 1 no seguinte exemplo: Qual a quantidade de


energia, em kWh, que uma usina hidrelétrica com potência de 50 kW gera por ano?

Quantidade
Taxa =
tempo
Quantidade
50kW =
h dias
24 365
dia ano
kWh
Quantidade = 438000
ano

NOTA

A afirmação de que uma usina hidrelétrica gera 50 kW de eletricidade por


ano é incorreta. A afirmação correta seria que a usina hidrelétrica com potência instalada
(nominal) de 50 kW gera 438.000 kWh de eletricidade por ano.

11
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

3 FLUIDOS: DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO


Neste subtópico, discutiremos alguns conceitos intuitivos referentes à
definição e classificação dos fluidos. Responder à pergunta ‘qual é a diferença entre
um sólido e um fluido?’ geralmente é acompanhada de certas incertezas. Mas se a
pergunta for ‘o que é um fluido?’, a resposta se torna um pouco mais complicada.
Para responder à primeira pergunta, dizemos que um sólido é “duro” e não é
facilmente deformado sob aplicação de um esforço de cisalhamento (cortante),
enquanto um fluido é “macio” e é facilmente deformado pela aplicação de um
esforço de cisalhamento.

NOTA

Uma força de cisalhamento ou tangencial (FT) é aquela aplicada em sentido


oposto ou igual, mas em direções diferentes. Imagine você rasgando uma folha de papel
com as mãos. O esforço aplicado para rasgar a folha é cisalhante.

Podemos invocar também a diferença de um sólido e fluido em função


do estado físico da matéria (sólido, líquido, gasoso). Embora bastante descritivas,
essas considerações gerais sobre as diferenças entre sólidos e fluidos não são
muito satisfatórias de um ponto de vista científico ou de engenharia.

NOTA

O tensor tensão de cisalhamento ( τ ) é a força tangencial aplicada sobre uma


área de contato. O tensor tensão normal (θ) é a força normal, aplicada perpendicularmente
à área de contato.

A Figura 5 apresenta um esquema simplificado do estudo da dinâmica


dos corpos e suas subáreas de concentração. Basicamente, o estudo da dinâmica
dos corpos divide-se em dois subgrupos: corpos rígidos, que são aqueles que não
se deformam durante o movimento, por exemplo, uma pedra descrevendo uma
trajetória; e corpos não rígidos, que se deformam durante o movimento. Os corpos
não rígidos dividem-se em elásticos, cuja deformação causada pela força aplicada
durante a trajetória é reversível (geralmente a deformação desses corpos é regida
pela Lei de Hooke) e os fluidos, cuja deformação é irreversível. Nosso estudo

12
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

focará apenas a dinâmica dos fluidos, especialmente dos líquidos. Mesmo com
esta abordagem bem específica dentro desta área de concentração, uma boa base
de cálculo e mecânica básica será solicitada.

FIGURA 5 – ESTUDO DA DINÂMICA DOS CORPOS E SUAS SUBÁREAS DE CONCENTRAÇÃO

FONTE: O autor

Sem considerar as exceções, é possível caracterizar sólidos e fluidos em


um panorama geral, com uma análise microscópica na estrutura molecular dos
materiais. Constatamos que os sólidos têm moléculas densamente espaçadas com
grandes forças coesivas intermoleculares que permitem que o sólido mantenha
sua forma e não seja facilmente deformado por uma força cisalhante. Desta
forma, os sólidos geralmente resistem à deformação e o seu arranjo molecular é
permanente (Figura 6).

FIGURA 6 – CORPO RÍGIDO EM REPOUSO E SOB AÇÃO DE UMA TENSÃO DE CISALHAMENTO

FONTE: O autor

13
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

No entanto, para a matéria no estado líquido, as moléculas estão mais


espaçadas, as forças intermoleculares são menores do que para sólidos, e as
moléculas têm mais liberdade de movimento ou translação em torno umas
das outras. Assim, os líquidos podem ser facilmente deformados pela ação de
uma força cisalhante, mas são considerados incompressíveis, pois a variação de
seu volume com o aumento da pressão é muito pequena (MUNSON; YOUNG;
OKIISHI, 2004; WHITE, 2018).

Gases têm ainda maior espaçamento molecular e liberdade de movimento


com coesão intermolecular insignificante. Suas partículas se movimentam
aleatoriamente e, como consequência, são facilmente deformados sob ação de
uma força. Os gases são compressíveis, visto que qualquer variação de pressão
imposta causa uma considerável variação no seu volume.

Tanto os líquidos quanto os gases são caracterizados como fluidos. Os


fluidos não resistem a uma deformação e o seu arranjo molecular não é permanente
(Figura 7). Uma camada de fluido entre duas placas planas paralelas, na qual a
placa inferior é fixa e a superior é móvel, sendo empurrada pela aplicação de uma
tensão de cisalhamento. Com a aplicação desta força, o fluido é continuamente
deformado e o arranjo molecular não será mais permanente.

A Figura 7 demonstra uma camada de fluido sendo deformada em


função da aplicação de uma tensão de cisalhamento. O arranjo molecular não é
permanente devido à diferença de velocidade das partículas do fluido durante o
escoamento.

FIGURA 7 – DEFORMAÇÃO DE UMA CAMADA DE FLUIDO EM FUNÇÃO DA APLICAÇÃO DE


UMA TENSÃO DE CISALHAMENTO

FONTE: O autor

14
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

Segundo Munson, Young e Okiishi (2004) e Canedo (2012), fluidos são


definidos como substâncias que se deformam continuamente quando uma força
cisalhante de qualquer magnitude atua sobre sua área. Esta deformação contínua
(chamada de escoamento) é definida pela tensão de cisalhamento, já definida.
Quando um sólido sofre a ação de uma tensão de cisalhamento, ele inicialmente
deforma, resiste à deformação e não “escoa” continuamente.

Alguns materiais possuem carcaterísticas peculiares e são mais difíceis de


classificar, por exemplo, alguns tipos de lamas, piche, asfalto, que se comportam
como sólidos se a tensão de cisalhamento aplicada for pequena, mas escoam
quando a tensão de cisalhamento aplicada atinge certo valor crítico.

Na mecânica dos fluidos, o estudo do comportamento de fluidos em


função da tensão de cisalhamento aplicada e a deformação causada se referem à
reologia dos fluidos.

Algumas diferenças entre líquidos e gases são importantes. Em um


líquido, um grupo de moléculas pode se mover em relação ao outro, mas o
volume permanece relativamente constante por causa das fortes forças de coesão
entre as moléculas. Como resultado, um líquido toma a forma do recipiente
em que está acondicionado e sempre forma uma superfície livre (fronteira do
líquido com o sólido ou outro fluido) em um recipiente maior em um campo
gravitacional (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Essa superfície livre, aparentemente
plana e horizontal ao nosso referencial visual, é na verdade curvada, devido aos
efeitos da tensão superficial e forças de atração na superfície livre do líquido. Se
o recipiente for inclinado, uma tensão faz o líquido esparramar para manter esta
superfície livre na horizontal.

Um gás, por outro lado, se expande até encontrar as paredes do recipiente


e preenche todo o espaço disponível. Isso ocorre porque as moléculas de gás são
amplamente espaçadas e as forças coesivas entre elas são muito pequenas. Ao con-
trário de líquidos, um gás em um recipiente aberto não pode formar uma superfície
livre (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Este fenômeno está ilustrado na Figura 8.

15
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 8 – O LÍQUIDO SEMPRE FORMA UMA SUPERFÍCIE LIVRE

Superfície livre

Líquido Gás

FONTE: Çengel e Cimbala (2015, p. 3)

3.1 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS


Neste trecho, definiremos as propriedades fundamentais dos fluidos que
serão usadas em cálculos desta disciplina.

• Massa específica ou densidade (ρ)

m
ρ= (3)
V
A massa específica ou densidade é indicada pela letra grega rho e é a razão
entre a massa do fluido e o volume que ele ocupa. A densidade de um fluido
depende da temperatura e pressão. Para os gases, a densidade é inversamente
proporcional à temperatura e diretamente proporcional à pressão. Para os
líquidos, por serem fluidos incompressíveis, a densidade praticamente não se
altera com a influência da pressão. Em relação à temperatura, a densidade dos
líquidos é inversamente proporcional. Entretanto, esta variação de densidade em
função da temperatura é percentualmente pequena e pode ser desconsiderada
em muitas aplicações práticas. Líquidos, portanto, são considerados fluidos de
densidade constante em muitas aplicações.

• Peso específico (γ)

γ = ρg (4.1)

16
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

O peso específico do fluido é o produto da densidade e da aceleração


gravitacional local. Inserindo a definição de densidade, podemos reescrever a
equação (4), como:

γ = ρg
mg
γ=
V
Peso (4.1)
γ=
V

• Densidade relativa ou gravidade específica (d)

ρ substância
d= (5)
ρ referência

A densidade relativa de um fluido é a razão entre a sua densidade e a den-


sidade de um fluido de referência. Geralmente o fluido de referência usado é água
a 4°C. Nesta temperatura, a água tem seu valor de densidade máxima (1000 kg/
m³). A densidade relativa é um parâmetro adimensional. Se o valor da densidade
relativa de um fluido é menor que “1”, significa que o fluido é “menos denso” do
que a água e em uma mistura com água, este fluido menos denso ficará por cima.

DICAS

Você sabe por que a água tem sua maior densidade na temperatura de 4ºC?
Este fato se deve por características peculiares da substância e pode ser explicado pelo
fenômeno de dilatação anômala da água e pela presença de ligações de hidrogênio na
molécula de água. Vale a pena pesquisar este tópico!

E
IMPORTANT

Pesquise nas referências indicadas outras propriedades dos fluidos: pressão de


vapor, energia e calor específico, coeficiente de compressibilidade, coeficiente de expansão
volumétrica, tensão superficial e capilaridade.

17
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

4 LEI DE NEWTON DA VISCOSIDADE


A Lei de Newton da viscosidade é assim chamada em homenagem a
Sir Isaac Newton, que em seus estudos definiu e modelou matematicamente o
fenômeno de deformação do fluido quando este sofre uma tensão de cisalhamento.
Discutimos anteriormente que sólidos resistem a uma tensão de cisalhamento e,
se a força aplicada não ultrapassar o limite elástico do material, quando cessada
a força, o sólido volta à sua configuração estrutural original.

Os fluidos não resistem à tensão de cisalhamento e sempre se deformarão


continuamente enquanto a força estiver sendo aplicada (BRUNETTI, 2008;
BISTAFA, 2016; FOX et al., 2018).

De acordo com Munson, Young e Okiishi (2004), Potter e Wiggert (2013)


e Potter, Wiggert e Ramadan (2014), quando dois corpos sólidos em contato se
movem em relação um ao outro, uma força de atrito se desenvolve na superfície
de contato dos corpos na direção oposta ao movimento. Para mover uma mesa no
chão, por exemplo, temos que aplicar uma força tangencial sobre a mesa suficiente
para superar a força de atrito. A magnitude da força tangencial necessária para
mover a mesa depende do coeficiente de atrito entre a mesa e o chão.

Uma situação análoga ocorre quando um fluido se move em relação a um


sólido ou quando dois fluidos se movem em relação um ao outro. Existe uma
propriedade que representa a resistência interna de um fluido para o movimento
ou escoamento e essa propriedade é chamada de viscosidade (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007; 2015).

Para formular uma relação matemática entre a viscosidade do fluido e sua


deformação, considere uma camada fluida entre duas grandes placas paralelas
separadas por uma distância, conforme ilustrado na Figura 9. A placa inferior
é mantida fixa e a superior é móvel. Todos os elementos do fluido se deformam
quando sujeitos a uma força de cisalhamento.

NOTA

Imagine o experimento com uma prancha plana de isopor flutuando sobre a


água da piscina e você na borda, empurrando a prancha.

18
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

FIGURA 9 – DEDUÇÃO DA LEI DE NEWTON DA VISCOSIDADE

FONTE: Hibbeler (2016, p. 3)

Uma tensão superficial constante é aplicada na placa superior, enquanto


a placa inferior é mantida fixa. De acordo com este experimento, observa-se que
a placa superior se move continuamente sob a influência da força tangencial
aplicada e com velocidade constante. O fluido possui uma característica de
“grudar” na superfície em contato, chamada de condição de não escorregamento
(FOX et al., 2018; HIBBELER, 2016). O fluido em contato com a placa superior
adere à superfície da placa e se move com ela na mesma velocidade, e a tensão de
cisalhamento agindo sobre esta camada de fluido é dada por:

Ftangencial
τ= (5)
A

Sendo A a área de contato do fluido com a placa.

Entre as camadas do fluido desenvolve-se uma espécie de atrito


(resistência) que dificulta a transferência da quantidade de movimento ao longo
da camada e faz o fluido desenvolver um perfil de velocidade na camada fluida
de determinada espessura (e) (Figura 10).

FIGURA 10 – RESISTÊNCIA QUE OCORRE ENTRE AS CAMADAS DO FLUIDO QUANDO UMA


FORÇA TANGENCIAL OU DE CISALHAMENTO É APLICADA

FONTE: Hibbeler (2016, p. 15)

19
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

O fluido, em contato com a placa inferior, assume a velocidade dessa pla-


ca, que é zero. Em um escoamento laminar e em regime permanente, a velocidade
do fluido entre as placas varia linearmente entre 0 e uma velocidade máxima e
assim o perfil de velocidade e o gradiente de velocidade são proporcionais:

du vmáxima
=
dy e

De acordo com Çengel e Cimbala (2007) e Hibbeler (2016), a deformação


é causada nas camadas do fluido durante um intervalo de tempo (dt), quando os
lados das partículas fluidas ao longo de uma linha vertical MN giram através de
um ângulo (b), enquanto a placa superior move uma distância diferencial (da)
que pode ser expressa como o produto da velocidade máxima e do intervalo de
tempo (Figura 11).

FIGURA 11 – ESQUEMA DO COMPORTAMENTO DIFERENCIAL DO FLUIDO COM ESCOAMENTO


LAMINAR ENTRE DUAS PLACAS PLANAS PARALELAS EM QUE A PLACA SUPERIOR DESLOCA-SE
EM VELOCIDADE CONSTANTE

da
Área A
N N’ u = V Força F
Velocidade

y 

x M u=0
Perfil de velocidade
FONTE: Çengel e Cimbala (2007, p. 41)

O deslocamento angular, deformação ou tensão de cisalhamento do fluido


pode ser definido como:

cateto oposto v dt du dt
dâ ≈ tanb= = máxima =
cateto adjacente e dy

Ou seja, a variação do ângulo formado pela deformação das camadas do


fluido ao longo do tempo (taxa de deformação) é proporcional ao gradiente de
velocidade entre as camadas do fluido:

20
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

d b du
=
dt dy

Experimentalmente, comprova-se que para a maioria dos fluidos, a relação


entre a taxa de deformação (ou gradiente de velocidade) do fluido é proporcional
à tensão de cisalhamento aplicada.

d b du
= ∝τ
dt dy

Desta forma, a constante de proporcionalidade pode ser determinada


através do coeficiente angular da reta de dados experimentais graficados (Figura
12). Esta constante de proporcionalidade (μ) é definida como a viscosidade
dinâmica ou absoluta do fluido.

FIGURA 12 – RELAÇÃO LINEAR ENTRE A TENSÃO DE CISALHAMENTO SOBRE UM FLUIDO E


SUA TAXA DE DEFORMAÇÃO

FONTE: Hibbeler (2016, p. 17)

Quanto maior for o coeficiente angular da reta dos dados, maior será o
valor da viscosidade dinâmica do fluido e este valor será constante em função
da tensão de cisalhamento. Estes fluidos são chamados de fluidos newtonianos.

Portanto, viscosidade é uma propriedade de um fluido que mede a


resistência ao movimento de uma camada muito fina de fluido sobre uma camada
adjacente. Quanto maior a viscosidade do fluido, mais difícil é o escoamento. A
viscosidade dinâmica é expressa no SI na unidade Pa·s ou kg/m·s. Uma unidade
também usual é o poise (P), sendo 1Pa·s = 10P.
21
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

A Lei de Newton da viscosidade, enfim, expressa que em um escoamento


unidimensional de um fluido newtoniano, a tensão de cisalhamento é:

du
τ =m
dy (6)

Na mecânica dos fluidos e na transferência de calor, a razão da viscosidade


dinâmica e a densidade do fluido definem uma outra propriedade específica
chamada viscosidade cinemática (ν). Sua unidade no SI é o m²/s mas utiliza-se
também a unidade stoke (1St = 1cm²/s = 0,0001m²/s).

Em geral, a viscosidade de um fluido depende da temperatura e da pressão,


embora a dependência da pressão seja bastante fraca. A viscosidade de líquidos é
inversamente proporcional em relação à temperatura, enquanto a viscosidade dos
gases é diretamente proporcional em relação à temperatura (Figura 13). Assim, a
viscosidade dos líquidos reduz com o aumento da temperatura e a viscosidade
dos gases aumenta com o aumento da temperatura.

FIGURA 13 – VARIAÇÃO DA VISCOSIDADE EM LÍQUIDOS E GASES EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA

FONTE: Çengel e Cimbala (2007, p. 43)

4.1 FLUIDOS NEWTONIANOS E NÃO NEWTONIANOS


Conforme já discutido, os fluidos classificados como newtonianos são
aqueles que possuem uma relação linear entre a tensão de cisalhamento e a sua

22
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

deformação. Os fluidos não newtonianos são aqueles que não apresentam esse
tipo de comportamento. Alguns exemplos são ilustrados na Figura 14.

FIGURA 14 – COMPORTAMENTO DE ALGUNS TIPOS DE FLUIDOS NÃO NEWTONIANOS

FONTE: Çengel e Cimbala (2007, p. 42)

A inclinação da curva no gráfico da Figura 14 é chamada de viscosidade


aparente do fluido, pois ela pode não ser constante. Fluidos para os quais a
viscosidade aparente aumenta com a taxa de cisalhamento (tais como soluções de
água com amido ou areia) são chamados de fluidos dilatantes. Fluidos que têm
sua viscosidade aparente reduzida com o aumento da tensão de cisalhamento (tal
como tintas e soluções de polímero) são referidos como fluidos pseudoplásticos.
Alguns fluidos, como creme dental, podem resistir a uma tensão de cisalhamento
até certo valor e só começar a deformar quando atingirem um determinado valor
de tensão de escoamento ou tensão crítica. Estes fluidos se comportam como um
sólido abaixo da tensão crítica aplicada, mas deformam-se continuamente quando
a tensão de cisalhamento excede a tensão crítica. Estes fluidos são chamados de
plásticos de Bingham (POTTER; WIGGERT, 2018; WHITE, 2011; 2018).

4.2 REOLOGIA BÁSICA


A reologia é a ciência que estuda o comportamento dos fluidos. De forma
geral, os líquidos são fluidos muito mais viscosos do que os gases. Os líquidos,
também de forma geral, são mais sensíveis com a influência da temperatura
sobre sua viscosidade do que os gases. Alguns exemplos desses comportamentos
podem ser analisados na Figura 15.

23
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 15 – COMPORTAMENTO DE ALGUNS TIPOS DE FLUIDOS NÃO NEWTONIANOS

FONTE: Çengel e Cimbala (2015, p. 54)

Com exceção do mercúrio, a maioria dos líquidos apresenta variação


sensível da viscosidade dinâmica ou absoluta com o aumento da temperatura.

5 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
1) Um sistema de dois cilindros concêntricos é usado para medir a viscosidade de
um lubrificante. O cilindro menor, com peso igual a 4 N é mergulhado dentro
do cilindro maior e, após um período transiente inicial, cai com velocidade

24
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

constante de 2m/s. O diâmetro do cilindro maior é 10,1 cm e do cilindro menor


é 10 cm. O cilindro que é mergulhado tem altura de 5 cm. Calcule a viscosidade
dinâmica do lubrificante colocado na folga entre os dois cilindros. Considere
que a deformação no fluido causada pelo cisalhamento do cilindro tem um
perfil linear.

Solução:

FONTE: O autor

Aplicamos um balanço de forças no corpo em movimento com base na 2ª


Lei de Newton. Como o cilindro mergulha no fluido com velocidade constante,
sua aceleração é nula, portanto:

∑F =
ma
∑F =0

O equilíbrio dinâmico do sistema é atingido quando as forças atuantes


no cilindro em movimento são equilibradas. Neste caso, a força peso do cilindro
tem como reação a força tangencial devido ao cisalhamento na camada do fluido.
Desta forma:

25
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

0
Peso − Ftangencial =
Peso = Ftangencial
Inserindo as definições de tensão de cisalhamento e da Lei de Newton da
viscosidade:

=
du (v
τ m= m máxima
− 0)
dy e
F
τ = tangencial
A

A deformação na camada do fluido tendo um perfil linear permite


simplificar a equação da Lei de Newton da viscosidade, pois sendo uma função
linear, cada diferença de velocidade entre as camadas do fluido é igual. Desta
maneira, a determinação da variação total de velocidade do fluido na sua
espessura de camada (deformação) pode ser expressa como:

du
= τ=
Peso A m (π DL )
dy

Peso = m
( vmáxima − 0 )
e
( 2 − 0)
=4 m (π ⋅ 0,1⋅ 0, 05)
0, 0005
ì ≅ 0, 06366 Pa ⋅ s
ì ≅ 0, 6366 P
ì ≅ 63, 66 cP

2) Um sistema de dois cilindros concêntricos é usado para medir a viscosidade de


um lubrificante. O cilindro menor, com peso igual a 4 N, é mergulhado dentro
do cilindro maior e, após um período transiente inicial, cai com velocidade
constante de 2m/s. O diâmetro do cilindro maior é 10,1 cm e do cilindro menor
é 10 cm. O cilindro que é mergulhado tem altura de 5 cm. Calcule a viscosidade
dinâmica do lubrificante colocado na folga entre os dois cilindros. Considere
que a deformação no fluido causada pelo cisalhamento do cilindro tem um
perfil não linear.

26
TÓPICO 1 | FLUIDO E CONCEITOS

Solução:

FONTE: O autor

Aplicamos um balanço de forças no corpo em movimento com base na 2ª


Lei de Newton. Como o cilindro mergulha no fluido com velocidade constante,
sua aceleração é nula, portanto:

∑F =
ma
∑F =0

O equilíbrio dinâmico do sistema é atingido quando as forças atuantes


no cilindro em movimento são equilibradas. Neste caso, a força peso do cilindro
tem como reação a força tangencial devido ao cisalhamento na camada do fluido.
Desta forma:

0
Peso − Ftangencial =
Peso = Ftangencial

Inserindo as definições de tensão de cisalhamento e da Lei de Newton da


viscosidade:

27
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

du
= τ=
Peso A m (π DL )
dy

Como o sistema é baseado em coordenadas cilíndricas, a deformação do


fluido ocorre na direção radial. Portanto, este ajuste da coordenada geométrica
deve ser inserido:

du
Peso = τ A = − m (π 2rL )
dr

A equação diferencial ordinária pode ser resolvida com a separação de


variáveis e integração das funções, definindo também os limites de integração
(contornos do problema):

NOTA

Notamos que o valor da viscosidade dinâmica considerando a deformação


não linear na camada do fluido ficou muito próximo do valor calculado para a deformação
linear (O erro percentual entre os resultados, neste caso, é de 0,5%). Para situações práticas
em que a espessura da camada do fluido é muito pequena, podemos adotar a simplificação
da Lei de Newton, conforme resolução da questão 1.

28
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem diversas aplicações da disciplina de Mecânica dos Fluidos.

• Diferentes sistemas de unidades podem ser utilizados na Mecânica dos Fluidos.

• É importante compreender as definições de grandezas físicas utilizadas na


Mecânica dos Fluidos.

• A técnica de conversão de unidades é útil em vários problemas práticos.

• O fluido apresenta características particulares e as características definem


líquidos e gases.

• As principais propriedades dos fluidos devem ser identificadas.

• O conceito de viscosidade do fluido e a dedução da Lei de Newton da


viscosidade são aplicados para compreender o fenômeno de transferência de
quantidade de movimento.

• A reologia de fluidos newtonianos e não newtonianos descreve o comportamento


dos fluidos em função da tensão de cisalhamento e da taxa de deformação.

29
AUTOATIVIDADE

1 A massa específica (densidade) de um óleo hidráulico usado em uma prensa


é 53,1 lbm/ft³ a 68°F. A sua viscosidade dinâmica na mesma temperatura é
32,8 lbm/ft·h. Calcule as seguintes propriedades do óleo nas unidades entre
parênteses:

a) massa específica (kg/m³)


b) viscosidade dinâmica (Pa·s e cP) e viscosidade cinemática (m²/s e cSt)
c) Compare as propriedades físicas do óleo com as da água a 20°C (ρ = 998,2
kg/m³ e μ = 1 cP). O óleo é mais denso que a água? O óleo é mais viscoso
que a água?

Adote: 1 lbm = 0,4536kg 1 ft = 0,3048m

2 Uma placa plana quadrada com 5 m de lado e massa de 2 kg desliza sobre


uma fina película de óleo em um plano inclinado com ângulo de 30°. A
velocidade da placa é de 2 m/s e constante. Qual a viscosidade dinâmica (μ)
de óleo se a espessura da película é 2 mm? Considere g=10m/s².

2mm

2m/s 20 N

30°

FONTE: Brunetti (2008, p. 12)

3 Em um experimento no laboratório de reologia, um cilindro com massa de 350


g, diâmetro de 9 cm e altura de 8 cm é inserido dentro de um cilindro maior,
com diâmetro de 9,3 cm. No espaço vazio entre os dois cilindros concêntricos
é inserido um óleo lubrificante com viscosidade dinâmica (μ) de 80 cP. Em um
dado momento, o cilindro menor é largado e após um curto tempo de queda,
adquire uma velocidade constante. Com base na Lei de Newton da viscosidade
e na deformação causada no fluido pelo cilindro descendente, calcule:

a) A velocidade máxima que este corpo atinge, considerando que o perfil de


velocidade formado no fluido seja linear.

30
b) A velocidade máxima que este corpo atinge, considerando que o perfil de
velocidade formado no fluido seja não linear.
c) O laboratório de reologia estabelece um erro percentual máximo de 0,5%
na comparação entre as duas metodologias empregadas no procedimento
experimental e no cálculo para determinação da velocidade do cilindro.
Com base neste critério, você adotaria a simplificação da Lei de Newton da
viscosidade para este caso? Justifique.

FONTE: O autor

4 Um pistão com peso de 93,41 N escorrega por dentro de um tubo lubrificado.


As dimensões do pistão estão ilustradas a seguir. A folga entre o pistão e o
tubo é de 0,0254 mm e é preenchida por um lubrificante. A partir da velocidade
máxima de 6,4m/s, o pistão começa a desacelerar a 0,64008 m/s². Calcule a
viscosidade do lubrificante.

15,24 cm

12,7 cm

FONTE: Adaptado de Brunetti (2008)

31
32
UNIDADE 1
TÓPICO 2

VISCOSIDADE DE FLUIDOS

1 INTRODUÇÃO
Duas grandes subcategorias de fluidos não newtonianos são chamadas de
fluidos dependentes do tempo e independentes do tempo. Fluidos independentes
do tempo têm uma viscosidade constante em uma dada tensão de cisalhamento e
esta viscosidade não muda com o tempo. Os três tipos de fluidos independentes
do tempo são os fluidos não newtonianos definidos no Tópico 1:

• Pseudoplástico: Conforme mostrado na Figura 14, a curva começa


abruptamente, indicando uma alta viscosidade aparente. A partir de certo
valor de tensão de cisalhamento, a inclinação diminui com o aumento do
gradiente de velocidade. Exemplos de fluidos com este comportamento são
plasma sanguíneo, polímeros, látex, xaropes, adesivos, melaço e tintas.
• Dilatantes: Conforme mostrado na Figura 14, a curva começa com uma baixa
inclinação, indicando uma baixa viscosidade aparente. A partir de certo valor
de tensão de cisalhamento, a inclinação aumenta com o aumento do gradiente
de velocidade. Exemplos de fluidos com este comportamento são lamas com
altas concentrações de sólidos, como amido de milho, amido em água.
• Fluidos de Bingham: Conforme mostrado na Figura 14, os fluidos de Bingham
requerem um nível de tensão mínima de cisalhamento antes do início da
deformação. Após iniciada a deformação, esta é essencialmente linear, com a
inclinação da curva indicando uma viscosidade aparente constante. Exemplos
de fluidos de Bingham são chocolate, mostarda, maionese, creme dental,
asfalto, algumas graxas e lodos de esgoto.

Fluidos dependentes do tempo são muito difíceis de analisar porque


viscosidade aparente varia com o tempo, com a deformação e temperatura.
Exemplos de fluidos dependentes do tempo são alguns óleos crus a baixas
temperaturas, tinta da impressora, náilon líquido e outras soluções de polímero,
algumas geleias, farinha massa, alguns tipos de graxas e tintas.

A Figura 16 ilustra o comportamento de dois tipos de fluidos dependentes


do tempo em que, em cada caso, a temperatura é mantida constante. O eixo
vertical é a viscosidade dinâmica aparente e o eixo horizontal é o tempo. Antes
da linha pontilhada das curvas, a viscosidade dos fluidos é estável e a tensão
de cisalhamento é mantida constante. Quando a tensão de cisalhamento
começa a aumentar, a viscosidade aparente muda; aumentando ou diminuindo

33
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

dependendo do tipo de fluido. Os fluidos dependentes do tempo demoram um


determinado tempo para atingir uma nova viscosidade de equilíbrio devido à
variação na tensão de cisalhamento. Basicamente existem dois tipos de fluidos
dependentes do tempo:

• Fluidos Tixotrópicos: É o fluido em que a viscosidade aparente diminui com o


tempo quando uma taxa de cisalhamento maior é aplicada. Quando a tensão é
retirada, eles voltam a ficar mais viscosos. Este é o mais comum tipo de fluido
dependente do tempo. Emulsões e soluções proteicas se enquadram nessas
características.
• Fluidos Reopéticos: É o fluido em que a viscosidade aparente aumenta com o
tempo quando uma taxa de cisalhamento maior é aplicada. Quando a tensão
é retirada, eles voltam a ficar menos viscosos. Fluidos Reopéticos são muito
raros e a argila bentonita é um exemplo.

FIGURA 16 – COMPORTAMENTO DE FLUIDOS DEPENDENTES DO TEMPO

FONTE: Adaptado de Mott e Untener (2015)

NOTA

Outra classe de fluidos não newtonianos com comportamento específico é


chamada de fluidos viscoelásticos. São fluidos que possuem características de líquidos
viscosos com propriedades elásticas e de sólidos com propriedades viscosas, ou seja, possuem
propriedades elásticas e viscosas acopladas. Estas substâncias quando submetidas à tensão
de cisalhamento sofrem uma deformação, e quando esta cessa, ocorre certa recuperação
da deformação sofrida, típico de um comportamento de corpo elástico, e não de um fluido.

34
TÓPICO 2 | VISCOSIDADE DE FLUIDOS

2 DETERMINAÇÃO DA VISCOSIDADE DE FLUIDOS


NEWTONIANOS
Fluidos newtonianos (que têm o comportamento reológico baseado na Lei
de Newton da viscosidade) podem ter sua viscosidade determinada com base
em vários experimentos e com auxílio de dispositivos específicos chamados de
viscosímetros. Analisaremos alguns casos a seguir.

2.1 RELAÇÃO ENTRE TORQUE E VISCOSIDADE


Podemos relacionar o torque aplicado para rotacionar um eixo que está
acoplado em um mancal lubrificado. A espessura do fluido oferece uma resistência
ao movimento do eixo e, desta forma, o torque necessário para rotacionar o eixo
a uma velocidade angular constante é proporcional à viscosidade dinâmica do
lubrificante. A dedução matemática parte do princípio do torque, que na física
pode ser definido como uma energia mecânica associada ao produto de uma
força aplicada ao longo de uma distância (momento ou braço de alavanca).

Torque= F ⋅ ∆s
Torque
= Ftangencial ⋅ r
= τ A⋅ r
Torque
v
Torque = m máx ⋅ (π DL ) ⋅ r
e

Devemos recordar que a velocidade do movimento rotacional do eixo é


uma velocidade angular (ω), e não uma velocidade linear ou tangencial. A relação
entre a velocidade linear e a velocidade angular é:

v= ω ⋅ r , onde “r” é o raio do eixo.

A velocidade angular é dada em radiano/s, sendo a unidade radiano a razão


entre o comprimento do arco equivalente ao raio da circunferência e o próprio valor
do raio. O radiano é uma medida angular, assim como o grau, e é um número
adimensional.

Inserindo esta definição e rearranjando a equação:

ω ⋅r
Torque = m ⋅ (π 2rL ) ⋅ r
e

m ω r3 π 2 L (8)
Torque =
e
35
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

Uma análise dimensional com as unidades das grandezas envolvidas


comprova que o torque pode ser relacionado com a viscosidade do fluido através
da equação (8).

rad
Pa ⋅ s × × m3 × m
s N
Torque = = Pa ⋅ m3 = 2 ⋅ m3 = Nm = J
m m

Se multiplicarmos o torque aplicado para rotacionar um eixo pela sua


velocidade angular, determinamos a potência de eixo necessária ao motor para
executar esta ação:

Weixo Torque ⋅ ω
= (8)

Com uma análise dimensional para validação:

rad J
W eixo =⋅
J == W
s s

2.2 DISPOSITIVOS PARA MEDIÇÃO DA VISCOSIDADE –


VISCOSÍMETROS
Procedimentos e equipamentos para medir a viscosidade são numerosos.
A maioria emprega princípios fundamentais da mecânica dos fluidos e proprieda-
des dos fluidos para a medição da viscosidade em suas unidades básicas. Outras
indicam apenas valores relativos para a viscosidade, que podem ser usados para
comparar diferentes fluidos.

Os dispositivos usados para determinação da viscosidade de fluidos são


chamados de viscosímetros ou reômetros. Alguns são projetados para uso labora-
torial e outros podem ser instalados diretamente em um processo industrial, para
medição constante da viscosidade e garantir a qualidade de determinado produto.

Algumas normas internacionais que padronizam metodologias e testes


destes dispositivos são adotadas. As principais normas e parâmetros são editados e
publicados por entidades como a ASTM (American Society for Testing and Materials),
norte-americana; DIN (Deutsches Institut für Normung), alemã; SAE (Society of Auto-
motive Enigneers), que normatiza testes em óleos, lubrificantes e combustíveis, e a
ISO (International Organization for Standardization), para padronização da qualidade.

• Viscosímetro de tambor rotativo ou giratório: é representado na Figura 17.

36
TÓPICO 2 | VISCOSIDADE DE FLUIDOS

FIGURA 17 – VISCOSÍMETRO DE TAMBOR ROTATIVO

FONTE: <https://pt.made-in-china.com/co_nanbei-china/image_Rotating-Drum-Viscometer-for-
Testing-Latex-Viscosity_esgegoniy_fjLTcBuwarpH.html>. Acesso em: 31 jul. 2018.

O copo externo é mantido em posição enquanto o motor aciona o tambor


rotativo. A folga entre o tambor de rotação e o copo é pequena. A parte do fluido
em contato com o copo externo é estacionária, enquanto o líquido em contato com
a superfície do tambor interno se move a uma velocidade determinada. Com o
cisalhamento causado, um gradiente de velocidade ocorre na camada de fluido.
A viscosidade do fluido pode ser relacionada com o torque aplicado para girar o
tambor rotativo.

• Viscosímetro de tubo capilar (viscosímetro de Ostwald): É representado na


Figura 18 e a viscosidade do líquido é calculada através da Lei de Poiseuille
para escoamentos laminares. Dois reservatórios são conectados por um longo
e pequeno tubo de diâmetro capilar. Como o fluido flui através do tubo com
uma velocidade constante, alguma energia é dissipada, causando uma queda
de pressão que pode ser medida com manômetros. A magnitude da queda
de pressão está relacionada com a viscosidade do fluido. Existem diversas
configurações para este tipo de viscosímetro.
37
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 18 – VISCOSÍMETRO DE TUBO CAPILAR

FONTE: <http://bit.ly/2J9m6xQ>. Acesso em: 31 jul. 2018.

• Viscosímetro de queda de uma esfera (viscosímetro de Stokes): É representado


na Figura 19.

FIGURA 19 – ESQUEMA DE UM VISCOSÍMETRO DE STOKES

FONTE: <https://gardco.com/pages/viscosity/vi/bf_fallingball.cfm>. Acesso em: 31 jul. 2018.

38
TÓPICO 2 | VISCOSIDADE DE FLUIDOS

O conceito do viscosímetro é de que um corpo cai em um fluido sob a


influência da gravidade e acelerará até que a força descendente (seu peso) seja
apenas equilibrado pela força de empuxo e a força de arrasto viscoso do flui-
do agindo para cima. Sua velocidade neste momento de equilíbrio dinâmico é
chamada de terminal. O viscosímetro de Stokes usa este princípio, fazendo com
que uma esfera caia livremente através do fluido para medir o tempo necessário
que a esfera leva para percorrer uma certa distância conhecida. Assim, a veloci-
dade pode ser calculada. Vários tipos e tamanhos de esferas estão disponíveis
para permitir que o viscosímetro seja usado para fluidos com uma ampla varia-
ção de viscosidade.

NOTA

Pesquise também outros dois tipos comuns de viscosímetros: o copo Ford e o


viscosímetro universal Saybolt.

2.3 ESCALAS E GRADUAÇÃO DE VISCOSIDADE: SAE


A SAE (Society of Automotive Engineers), ou Sociedade dos Engenheiros
Automotivos, desenvolveu um sistema de classificação para óleos e lubrificantes
de motores automotivos que indica a viscosidade dos óleos em várias
temperaturas de uso. Este sistema é mundialmente utilizado pela indústria de
óleos e lubrificantes.

É comum encontrarmos graduações para viscosidade de óleos de motor


que informam óleo 0W, 5W, 15W, 20W, 25W, 20, 30, 40, 50, 60. Outros valores
comuns, para lubrificantes de engrenagens e transmissões, são 70W, 75W, 80W,
85W, 80, 85, 90, 110, 140, 190, 250. Óleos com um sufixo ‘W’ são utilizados em
países com climas muito frios e são baseados na máxima viscosidade dinâmica
a temperaturas baixas (entre -10ºC e -40ºC) sob condições que simulam tanto a
partida de um motor e o bombeamento do óleo pela bomba de óleo. Estes óleos
também devem atingir certo valor de viscosidade cinemática acima de uma
temperatura de 100 ºC.

Óleos sem o sufixo ‘W’ são classificados de acordo com a viscosidade


a altas temperaturas por dois diferentes testes: a viscosidade cinemática sob
condições de baixo cisalhamento à temperatura de 100ºC e a viscosidade
dinâmica sob condições de alta tensão de cisalhamento a 65,5ºC. Estas condições
de testes simulam condições de altas temperaturas e altas taxas de cisalhamento
nos mancais e nas superfícies deslizantes das máquinas e engrenagens.

39
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

Óleos multiviscosos, comuns no Brasil, devem atender requisitos de am-


bos os testes, a baixas e altas temperaturas. O óleo de motor 10W40 é um exemplo.

Os requisitos de valores de viscosidade máxima a baixa temperatura para


óleos estão relacionados com a capacidade do óleo de escoar para as superfícies
que necessitam de lubrificação no motor durante partidas a frio do motor. Caso
contrário, o óleo pode ser tão viscoso que não conseguirá fluir para os espaços a
serem lubrificados.

De forma geral, em países temperados, o óleo usado no inverno deve


ser menos viscoso do que o usado no verão, além de atender características de
proteção nos sistemas mecânicos do motor.

Óleos multiviscosos, projetados para operar em amplas faixas de


temperatura, têm aditivos especiais para aumentar a viscosidade. Um exemplo
é o óleo de motor multiviscoso 5W40, que deve atender a rigorosos limites de
viscosidade à baixa temperatura mantendo uma viscosidade suficientemente
alta em temperaturas de funcionamento do motor para uma lubrificação eficaz.
Geralmente, a obtenção de características específicas de óleos multiviscosos exige
a mistura de materiais poliméricos com o petróleo.

NOTA

Faça uma pesquisa sobre as tabelas de graduação SAE e o conceito de Índice


de Viscosidade, outro parâmetro usado nesta graduação.

3 TÓPICOS APLICADOS SOBRE LUBRIFICAÇÃO


Alguns fluidos desenvolvidos recentemente são chamados de fluidos ati-
vamente ajustáveis. São aqueles para as quais as propriedades reológicas, par-
ticularmente a viscosidade, podem ser alteradas ativamente, com a variação de
uma corrente elétrica ou mudando o campo magnético em torno do fluido. Ajus-
tes podem ser feitos manualmente ou remotamente através de um sistema com-
putacional e são totalmente reversíveis.

Aplicações recentes na indústria automobilística incluem amortecedores


“mais duros ou macios” que se ajustam de acordo com a carga variável do veí-
culo. O aumento no amortecimento também pode ser executado para reduzir a
instabilidade de viagens em locais irregulares (off-road).

40
TÓPICO 2 | VISCOSIDADE DE FLUIDOS

Usos em estruturas de edifícios e pontes para minimizar a vibração causa-


da pelas intempéries e em dispositvos protéticos para pessoas com necessidades
especiais também são aplicações desses tipos de fluidos.

Dois tipos principais de fluidos com estas características são:

• Fluidos eletrorreológicos (ERP): Estas são suspensões com partículas finas,


como amido, polímeros e cerâmicas em um óleo não condutor, tal como óleo
mineral ou óleo de silicone. As propriedades dos fluidos são controladas ​​pela
aplicação de corrente elétrica. Quando nenhuma corrente é aplicada, eles se
comportam como outros líquidos. Mas quando uma corrente é aplicada, eles
viram um gel e se comportam com características de um sólido.
• Fluidos magnetorreológicos (MRF): São fluidos similares aos fluidos
eletrorreológicos que contêm partículas suspensas em um determinado fluido.
No entanto, neste caso as partículas são pó de ferro fino. O fluido pode ser um
óleo de petróleo, óleo de silicone ou água. Quando não há campo magnético
presente, o fluido magnetorreológico se comporta como outros fluidos, com
uma viscosidade que varia de 0,2Pa·s a 0,3Pa·s a 25 ºC. A presença de um campo
magnético pode fazer com que o fluido se torne virtualmente sólido de modo
que ele pode suportar uma tensão de cisalhamento de até 100.000Pa. A mudança
de característica no fluido pode ser controlada eletronica e instantaneamente.

A nanotecnologia também é aplicada para atingir características


desejáveis em um fluido. São os chamados nanofluidos. Os nanofluidos contêm
nanopartículas (menos de 100nm de diâmetro) em um fluido base, que pode ser
água, etilenoglicol, óleos sintéticos, lubrificantes, entre outros.

O material das nanopartículas pode ser metal, como alumínio e cobre,


carboneto de silício, dióxido de alumínio, óxido de cobre, grafite, nanotubos de
carbono e vários outros. As nanopartículas têm uma razão superfície/volume muito
maior do que a de fluidos convencionais, misturas ou suspensões, intensificando
propriedades físicas do fluido, por exemplo, a condutividade térmica.

O principal uso de nanofluidos é melhorar o desempenho geral de fluidos


usados ​​para resfriar dispositivos eletrônicos. Usados em sistemas lubrificantes,
os nanofluidos melhoram características do escoamento sem alterar o grau de
proteção e lubrificação, além de dissipar o calor em superfícies críticas. Pesquisas
e aplicações nas áreas biomédicas e de controle ambiental também estão sendo
aperfeiçoadas.

4 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
1) Peso específico e densidade relativa são duas propriedades comumente
utilizadas nos cálculos da mecânica dos fluidos. Considere um fluido com
densidade igual a 886 kg/m³. Qual é o seu peso específico e sua densidade
relativa (referência à água a 4ºC), respectivamente? Adote g=10m/s² e densidade
da água de referência igual a 1000 kg/m³.
41
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

Solução:

N
γ= 886 kg ⋅10 m =
ρg = 8860
m³ s² m³
ρ fluido 886 kg
=d = = m³ 0,886
ρ referência 1000 kg

2) A viscosidade de um fluido é medida com um viscosímetro construído com


dois cilindros concêntricos de 75 cm de altura. O diâmetro do cilindro interno é
15 cm e a folga (espessura de fluido) entre os dois cilindros é 0,12 cm. O cilindro
interno é rotacionado a 200 rpm (rotações por minuto) e o torque medido é
de 0,8 Nm. Considere a densidade do fluido igual a 820 kg/m³. Determine a
viscosidade dinâmica e cinemática do fluido e a potência de eixo necessária
para rotacionar o cilindro interno.

Solução:

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

42
TÓPICO 2 | VISCOSIDADE DE FLUIDOS

Aplicando a equação que relaciona torque e viscosidade do fluido:

m ω r3 π 2 L
Torque =
e
 200 ⋅ 2π

m ⋅  ⋅ 0, 075 ⋅ π ⋅ 2 ⋅ 0, 75
3

0,8 =  60 
0, 0012
= m 0, 023 Pa ⋅ s ≈ 23 cP

Cálculo da potência de eixo necessária:

Weixo Torque ⋅ ω
=
 200 ⋅ 2π  rad
Weixo 0,8 Nm ⋅ 
= 
 60  s
= 16, 75 Nm= J= W
Weixo
s s

43
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os fluidos não newtonianos constituem uma classe de fluidos especiais com


características e comportamentos peculiares.

• Existe uma relação entre o torque aplicado para movimentar um eixo em


mancal lubrificado e a viscosidade do fluido.

• Os principais viscosímetros utilizados para determinação de viscosidade de


fluidos possuem princípios de operação distintos, indicados para cada do tipo
de aplicação.

• A graduação SAE é utilizada para a classificação de óleos e lubrificantes


automotivos em função da viscosidade.

• A lei de Newton da viscosidade é aplicada em problemas que envolvem


lubrificantes e lubrificação de mecanismos.

44
AUTOATIVIDADE

1 Um mancal acoplado a um eixo de acionamento está lubrificado com um


óleo de viscosidade igual a 0,1 Pa·s a 25ºC, que é a temperatura do sistema
quando iniciada a operação (start-up). Após o sistema de acionamento atingir
o regime permanente de operação, a temperatura do lubrificante se eleva para
80ºC, o que reduz a viscosidade do óleo lubrificante para 0,008 Pa·s. Considere
o comprimento do mancal igual a 30 cm, o diâmetro do eixo de acionamento
igual a 8 cm, a folga média entre o eixo e o mancal é de 0,8 mm e a velocidade
angular do eixo igual a 500 rpm. Determine:

a) O torque necessário para o eixo de acionamento vencer o atrito com o


lubrificante na condição de start-up e durante o regime permanente de
operação.
b) A potência de eixo necessária para o eixo de acionamento vencer o atrito
com o lubrificante na condição de start-up e durante o regime permanente
de operação.
c) Qual o percentual de economia de energia quando o sistema atinge o regime
permanente de operação devido à redução da viscosidade do lubrificante
em função do aumento da temperatura?

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

2 Uma esteira para transporte de finos minérios tem largura de 60 cm e se


movimenta parcialmente em contato com uma lâmina de água, conforme as
figuras a seguir. Calcule a potência mínima necessária que deve ser aplicada
para acionar a esteira e vencer a resistência da lâmina de água. Considere que

45
a viscosidade dinâmica da água é 1,31x10-3 kg/ms; o comprimento da correia é
4 m; a espessura da lâmina de água é de 2 mm e a velocidade da correia é de
10 m/s. Adote 1hp = 746W.

DIAGRAMA ESQUEMÁTICO DA ESTEIRA

FONTE: Adaptado de Bistafa (2016)

VISTA DA LARGURA DA ESTEIRA

60cm

FONTE: Adaptado de: <http://bit.ly/2xz7Rvv>. Acesso em: 31 jul. 2018.

3 Um bloco desliza para baixo em um plano inclinado sobre uma fina película
de óleo lubrificante, conforme ilustrado na figura a seguir. Considerando
um perfil de velocidade linear no filme de fluido, responda o solicitado com
auxílio da Tabela 1 e da Lei de Newton da viscosidade.

a) Deduza uma equação que permita calcular a velocidade de escorregamento


do bloco. Considere aceleração do bloco igual a zero.

46
b) Determine a velocidade de escorregamento do bloco se a massa dele é de 6
kg, a sua superfície de contato com o óleo é de 35 cm², o ângulo θ é de 15º e
o óleo (SAE 30) tem uma espessura de película de 1mm a uma temperatura
de 20ºC.

VISCOSIDADE DO ÓLEO SAE 30 A DIFERENTES TEMPERATURAS

T,°C 0 20 40 60 80 100

m,kg/(m.s) 2,00 0,40 0,11 0,042 0,017 0,0095

FONTE: White (2011, p. 47)

Filme de líquido
de espessura e

Área A de contato
do bloco
θ
FONTE: White (2011, p. 47)

47
48
UNIDADE 1
TÓPICO 3

ESTÁTICA DOS FLUIDOS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, direcionaremos nosso estudo em algumas áreas de maior
aplicação da estática dos fluidos, tais como forças aplicadas pelo fluido em
repouso, definição de pressão do fluido, diferença entre pressão absoluta e
manométrica, pressão em um ponto, dedução matemática da equação geral da
manometria (variação da pressão do fluido com a profundidade), principais
dispositivos para medição de pressão e força de flutuação (empuxo).

A estática dos fluidos aborda os problemas da Mecânica dos Fluidos que


não envolvem movimentos. Tais problemas tratam da distribuição da pressão em
um fluido estático e seus efeitos sobre as superfícies sólidas e corpos flutuantes e
submersos. Quando a velocidade do fluido é nula, a variação de pressão se deve
apenas ao peso do fluido. Conhecido o fluido em um dado campo gravitacional, a
pressão pode ser facilmente calculada por integração da equação da manometria.

2 PRESSÃO DE UM FLUIDO EM REPOUSO


A pressão é definida como uma força normal exercida por um fluido por
unidade de área. Como a pressão é definida como força por unidade de área,
ela tem a unidade de newton por metro quadrado (N/m²), que é chamado um
pascal (Pa).

Existem diversas unidades de pressão no SI e no Sistema inglês que são


empregadas na mecânica dos fluidos e é importante conhecer os parâmetros de
conversão entre elas. A Figura 20 apresenta estas informações.

49
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 20 – FATORES DE CONVERSÃO DAS PRINCIPAIS UNIDADES DE PRESSÃO

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

A pressão real em uma dada posição é chamada de pressão absoluta e é


medida em relação ao vácuo absoluto (isto é, pressão zero absoluta). A maioria
dos dispositivos de medição de pressão, no entanto, é calibrada para ler “zero” na
atmosfera e, assim, há diferença entre o valor da pressão absoluta e da pressão
atmosférica local. Essa diferença é chamada pressão manométrica (ou efetiva). A
pressão manométrica pode ser positiva ou negativa, mas as pressões abaixo da
pressão atmosférica são, às vezes, chamadas de pressões de vácuo e medidas por
medidores de vácuo (BRAGA FILHO, 2012).

FIGURA 21 – COMPARAÇÃO ENTRE PRESSÕES MANOMÉTRICAS E PRESSÃO ABSOLUTA

FONTE: Adaptado de Mott e Untener (2015)

50
TÓPICO 3 | ESTÁTICA DOS FLUIDOS

Para ilustrar este conceito, o medidor usado para medir a pressão do ar


em um pneu de automóvel registra a pressão manométrica. Portanto, a leitura
comum de 32psi quando calibramos o pneu indica uma pressão de 32psi acima
da pressão atmosférica. Em um local onde a pressão atmosférica é de 14,7psi, por
exemplo, a pressão absoluta no pneu será de 46,7psi. Nas unidades do Sistema
inglês, muitas vezes o subíndice “a” é usado para indicar um valor de pressão
absoluta (psia) e "g" para indicar um valor de pressão manométrica (psig).

2.1 PRESSÃO EM UM PONTO


A pressão é uma força de compressão por unidade de área e dá a
impressão de ser um vetor (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; 2015; BISTAFA, 2016).
No entanto, a pressão em qualquer ponto de um fluido é a mesma em todas
as direções. Desta forma, definimos que a pressão tem uma magnitude, mas
não uma direção específica, sendo assim, a pressão é uma grandeza escalar.
A pressão sobre um ponto no fluido tem a mesma magnitude em todas as
direções. Esse resultado é aplicável a fluidos em movimento, bem como fluidos
em repouso, pois a pressão é escalar, não um vetor (ÇENGEL; CIMBALA, 2007;
2015; ROMA, 2006; WHITE, 2011; 2018).

A seguir, faremos uma dedução matemática aplicada a estas


considerações.

2.2 VARIAÇÃO DA PRESSÃO EM FUNÇÃO DA PROFUNDIDADE


Todos sabemos que a pressão em um fluido em repouso não muda na
direção horizontal. No entanto, este não é o caso na direção vertical em um campo
de gravidade. A pressão em um fluido aumenta com a profundidade porque uma
maior coluna (mais massa) de fluido repousa sobre camadas mais profundas e
o efeito desse "peso extra" em uma camada mais profunda é balanceado por
um aumento na pressão. Isso pode ser demonstrado considerando uma análise
diferencial em um elemento infinitesimal de fluido em equilíbrio de forças,
conforme ilustra a Figura 22.

51
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 22 – ELEMENTO DIFERENCIAL DE FLUIDO E A ANÁLISE DAS PRESSÕES


EM TODAS AS DIREÇÕES

FONTE: O autor

Para um fluido em repouso (equilíbrio estático), o somatório de forças


atuantes em um elemento diferencial deve ser igual a zero.

0
∑ Felemento infinitesimal =

As forças atuantes são: a força peso (massa do fluido sob ação da


aceleração da gravidade) e as forças superficiais do fluido nas faces do elemento
infinitesimal. Portanto, inserindo no balanço de forças, temos:

0
Fsuperficiais + Pesoelemento infinitesimal =
( Px − Px +∆x ) ⋅ ∆y∆z + ( Py − Py +∆y ) ⋅ ∆x∆z + ( Pz − Pz +∆z ) ⋅ ∆x∆y + γ V = 0

Dividindo a equação pelo volume do elemento infinitesimal: V =∆x∆y∆z

( Px − Px +∆x ) + ( Py − Py +∆y ) + ( Pz − Pz +∆z ) + ρ g =


0
∆x ∆y ∆z

Aplicando o conceito de limite de função para obter a taxa de variação da


pressão do fluido em função de cada direção, ou seja, o gradiente da pressão nas
três direções:

52
TÓPICO 3 | ESTÁTICA DOS FLUIDOS

f n +∆n − f n df
lim =
∆n →0 ∆n dn

lim x
( P − Px +∆x ) + lim ( Py − Py +∆y ) + lim ( Pz − Pz +∆z ) + ρ g =
0
∆x →0 ∆x ∆y →0 ∆y ∆z →0 ∆z
∂P ∂P ∂P
− − − + ρg = 0
∂x ∂y ∂z

De forma compacta, podemos escrever a notação matemática em termos


do gradiente da pressão:

∇P =− ρ g

Sendo:

∂P
Plano isobárico. = ρ= gx 0
Sem variação de ∂x
pressão. ∂P
= ρ= gz 0
∂z
∂P
= ρgy
∂y

Neste caso:

dP
= −ρ g y
dy

Como a aceleração gravitacional na direção “y” e o vetor unitário nesta


direção possuem sentidos contrários, gy = -g.

dP = ρ gdy

Portanto, a variação de pressão em um fluido se dá apenas na direção


vertical (eixo y). Aplicando esta dedução para calcular a diferença de pressão
entre os pontos 1 e 2 de um líquido dentro de um recipiente aberto à pressão
atmosférica (Figura 23):

53
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 23 – A PRESSÃO DE UM PONTO EM UM LÍQUIDO EM REPOUSO AUMENTA


LINEARMENTE A PARTIR DA SUPERFÍCIE LIVRE

P1 = Patm
1

2 P2 = Patm + pgh

FONTE: Çengel e Cimbala (2007, p. 60)

dP = ρ gdy
P = P2 y =h

=P P1=y 0
∫ dP = ρ g ∫ dy

ρ gh
P2 − P1 = (10)

A equação 10 é a equação fundamental da manometria utilizada para


determinação da pressão em um fluido com vários dispositivos, entre eles, os
manômetros de tubo em “U”. Pode ser usada também para determinar a diferença
de pressão entre dois pontos do fluido, que depende apenas da diferença de altura
entre estes dois pontos, uma vez que a densidade em líquidos e a aceleração da
gravidade são consideradas constantes.

NOTA

Você conhece o paradoxo de Pascal? Ele estabelece que a pressão do fluido


na base de um reservatório só depende da altura vertical de coluna de fluido e do tipo de
fluido, e não depende da geometria ou tamanho do reservatório. A Figura 24 ilustra vários
reservatórios de diferentes tamanhos e com volumes de água diferentes. Porém, a pressão
da água na base de cada reservatório é igual!

54
TÓPICO 3 | ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 24 – A PRESSÃO É A MESMA NA BASE DE TODOS OS RESERVATÓRIOS SE O FLUIDO


CONTIDO EM CADA RESERVATÓRIO FOR O MESMO

FONTE: Mott e Untener (2015, p. 45)

2.3 MANOMETRIA DOS FLUIDOS


A manometria é o estudo da medição da pressão dos fluidos. A equação
10 é uma forma útil para calcular a pressão dos fluidos em várias aplicações.
Algumas considerações sobre a sua utilização merecem ser ressaltadas:

• a equação 10 é válida apenas para um líquido homogêneo em repouso;


• dois pontos no mesmo nível horizontal em um mesmo fluido têm a mesma
pressão;
• a mudança de pressão é diretamente proporcional ao peso específico (γ = ρg)
do líquido;
• a pressão varia linearmente com a mudança de elevação ou profundidade;
• quanto maior a altura da coluna de fluido sobre um ponto, maior será a pressão
sobre o ponto (Isso é o que acontece quando você vai mais fundo em uma
piscina).

No aspecto mais criterioso, a equação 10 não se aplica a gases porque já


discutimos que densidade de um gás muda com a variação de pressão (Tópico 1).
Para um estudo mais elaborado, é necessário conhecer as relações matemáticas
entre a mudança na pressão e a mudança no peso específico do gás, o que
muda dependendo do tipo de gás. Este tipo de estudo requer uma análise de
propriedades termodinâmicas do fluido.

Contudo, é necessária uma grande mudança na altura da coluna do


gás para produzir uma mudança significativa na pressão no gás. Por exemplo,

55
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

um aumento na elevação de 300 m na atmosfera provoca uma diminuição na


pressão do ar de apenas 3,45kPa ou 0,5psi. Este valor é muito baixo. Portanto, em
aplicações mais práticas, podemos assumir que a pressão de um gás é uniforme,
como se este fosse um fluido incompressível.

ATENCAO

A manometria será usada também no estudo do fluido em movimento e


escoamentos (dinâmica dos fluidos).

3 DISPOSITIVOS PARA MEDIÇÃO DE PRESSÃO


MANOMÉTRICA
Os manômetros geralmente utilizam a relação entre uma mudança
de pressão e uma mudança na elevação em um fluido estático. Dispositivos
de medição mais modernos (chamados de transdutores de pressão) utilizam
outras grandezas físicas para relacionar com a pressão ou diferença de pressão
em fluidos.

3.1 MANÔMETROS DE TUBO EM “U”


O tipo mais simples de manômetro é o de tubo em “U”. Uma extremidade
do tubo em “U” está conectada ao ponto onde a pressão deve ser medida e a
outra extremidade é deixada aberta para a atmosfera (ou conectada a outro
ponto de tomada de pressão, para então verificar a diferença de pressão entre
os dois pontos). Este tipo de manômetro é indicado para baixas ou moderadas
diferenças de pressão. O tubo contém um líquido chamado fluido de medição
(ou manométrico), que não é miscível no fluido cuja pressão deve ser medida. Os
fluidos manométricos mais comuns são água, mercúrio e óleos leves.

Considere o manômetro ilustrado na Figura 25 que é usado para medir a


pressão no tanque. Como os efeitos gravitacionais dos gases são insignificantes,
a pressão em qualquer lugar no tanque na posição 1 tem o mesmo valor. Além
disso, já que a pressão em um fluido não varia na direção horizontal dentro de
um fluido, a pressão no ponto 2 é a mesma que a pressão no ponto 1 (P2 = P1).

56
TÓPICO 3 | ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 25 – ESQUEMA BÁSICO DE UM MANÔMETRO DE TUBO EM “U”

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

A coluna de fluido diferencial da altura “h” está em equilíbrio estático e é


aberta para a atmosfera. Então a pressão no ponto 2 é determinada diretamente
pela aplicação da equação fundamental da manometria:

=P2 Patmosférica + ρ g h

De acordo com Fox et al. (2018), a área da seção transversal do tubo não
tem efeito sobre a altura diferencial “h”, nem sobre a pressão exercida pelo
fluido. No entanto, recomenda-se que o diâmetro do tubo do manômetro seja
suficientemente grande (maior que 5 mm) para garantir que os efeitos da tensão
superficial e capilaridade não se manifestem e interfiram na leitura da pressão.
Alguns manômetros de tubo em “U” podem ser inclinados para aumentar a
precisão em pequenas variações de pressão.

NOTA

Pesquise sobre os barômetros, dispositivos usados para medir a pressão


atmosférica local.

57
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

3.2 MANÔMETRO DE BOURDON


Outro tipo de dispositivo de medição de pressão mecânica comumente
usado é o manômetro de tubo de Bourdon. Ele consiste em um tubo metálico
oco dobrado, enrolado ou torcido, cuja extremidade está fechada e conectada a
um dispositivo indicador. Quando o tubo está aberto para a atmosfera, o tubo
é desviado, e o ponteiro indicador no mostrador neste estado é calibrado para
marcar o valor “zero” (pressão manométrica). Quando o fluido dentro do tubo
é pressurizado, o tubo estica e move o ponteiro indicador proporcionalmente à
pressão aplicada (Figura 26).

FIGURA 26 – VISÃO FRONTAL E PARTES INTERNAS DO MECANISMO DE OPERAÇÃO DE UM


MANÔMETRO DE TUBO DE BOURDON

FONTE: Adaptado de Mott e Untener (2015)

Sensores de pressão modernos, chamados transdutores de pressão,


usam várias técnicas para converter o efeito de pressão em um efeito como uma
alteração na tensão, resistência ou capacitância. Transdutores de pressão são
menores e mais rápidos e, geralmente, são mais sensíveis, confiáveis e precisos
do que os manômetros de atuação puramente mecânica.

4 FLUTUAÇÃO E EMPUXO
Sempre que um corpo está flutuando ou completamente submerso em
um fluido, está sujeito a uma força de flutuação (ou força de empuxo) que tende
a empurrá-lo para cima, ajudando a sustentação. A força de flutuação é causada

58
TÓPICO 3 | ESTÁTICA DOS FLUIDOS

pelo aumento da pressão com a profundidade de um fluido e tem uma magnitude


igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo e sempre na direção vertical para
cima. Arquimedes foi quem interpretou e estabeleceu este princípio na Grécia
antiga. A seguir, faremos a dedução da força de flutuação (Figura 27).

FIGURA 27 – FORÇA DE FLUTUAÇÃO ATUANTE SOBRE UM CORPO SÓLIDO SUBMERSO

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007) e Munson, Young e Okiishi (2004)

Considere uma placa plana submersa, com espessura “h” e área superficial
“A”. Conforme deduzido nos tópicos sobre manometria, a pressão de um fluido
sobre um ponto depende apenas da altura de coluna de fluido sobre ele (Equação
10). Portanto, fazendo um balanço de forças exercidas pelo fluido na área inferior
e superior da placa plana submersa, podemos deduzir a força resultante, que é a
força de flutuação. Note que a pressão executada pelo fluido na área inferior da
placa plana é maior do que a pressão na área superior, pois a altura de coluna de
fluido é maior (h+s).

Fflutuação
= Finf erior − Fsup erior
Fflutuação
= ( PA)inf erior − ( PA)sup erior

Inserindo a definição de pressão manométrica:

F= flutuação
 ρ fluido g ( h + s ) ⋅ A −  ρ fluido gh ⋅ A
Fflutuação = ρ fluido g h A + ρ fluido g s A − ρ fluido g h A

Sendo Vcorpo = A × s
(11)
Fflutuação = ρ fluido g Vcorpo

59
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

O volume do corpo submerso corresponde ao volume de fluido deslocado.

Vcorpo = V fluido deslocado

Portanto, a força de flutuação atuante sobre um corpo submerso é


proporcional à densidade do fluido e ao volume de líquido deslocado pelo corpo.

É importante ressaltar que a força de flutuação sobre corpos submersos


ocorre em líquidos e gases. Entretanto, dadas as baixas densidades dos gases, a
sua influência na maioria das aplicações é desprezível.

NOTA

A força de flutuação em gases e no ar é considerada em fenômenos


específicos, como correntes de convecção (ar quente sobe e ar frio desce), balões
que flutuam devido ao aquecimento do ar ou uso de gases leves, como o hélio, e em
fenômenos atmosféricos e meteorológicos.

Com a definição de que a força de flutuação atuando em um corpo


submerso em um fluido é igual ao volume (ou peso) do fluido deslocado pelo
corpo e sempre age para cima, podemos definir a seguinte relação de propriedades
do fluido e do corpo:

Fflutuação = Pesocorpo
ρ fluido gV fluido
= deslocado γ=
corpo Vcorpo ρcorpo gVcorpo

ρcorpo V fluido deslocado


= (12)
ρ fluido Vcorpo

Com a relação da equação 12, podemos analisar três casos (Figura 28):

60
TÓPICO 3 | ESTÁTICA DOS FLUIDOS

FIGURA 28 – FORÇA DE FLUTUAÇÃO ATUANTE SOBRE UM CORPO SÓLIDO SUBMERSO OU


UMA PARTÍCULA DE FLUIDO COM O MESMO VOLUME DO CORPO SÓLIDO É IDÊNTICA

FONTE: Çengel e Cimbala (2007, p. 78)

• Seρcorpo > ρ fluido

Então, para alcançar a flutuação, o volume de fluido que deve ser deslocado
é maior do que o volume do corpo. A razão de densidade é maior que “1”, então,
o corpo flutuante fica completamente submerso e o corpo afunda totalmente.

• Seρcorpo = ρ fluido

Assim, para alcançar a flutuação, o volume de fluido que deve ser


deslocado é igual ao volume do corpo. A razão de densidade é igual a “1”, logo,
o corpo flutuante fica completamente submerso e permanece em repouso em
qualquer ponto do fluido. Portanto, o corpo permanece estável (suspenso) e
completamente submerso no fluido.

• Seρcorpo < ρ fluido

Desse modo, para alcançar a flutuação, o volume de fluido que deve ser
deslocado é menor do que o volume do corpo. A razão de densidade é menor que
“1”, então o corpo flutuante sobe para a superfície do fluido e, portanto, flutua.
Neste caso, para calcularmos o percentual do volume do corpo que fica submerso,
basta calcular a razão entre a densidade do corpo e a densidade do fluido.

61
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

5 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
1) O manômetro é o instrumento utilizado na mecânica dos fluidos para se
efetuar a medição da pressão efetiva ou manométrica. Com base no manômetro
ilustrado na figura a seguir, determine a diferença de pressão (ΔP) entre os
pontos A e B. Todos os fluidos estão à temperatura de 20ºC. Assuma g=10m/s².

Dados:
ρBenzeno = 864 kg/m³
ρMercúrio = 13600 kg/m³
ρQuerosene = 785 kg/m³
ρÁgua = 1000 kg/m³
ρAr = 1,2 kg/m³

Solução:

FONTE: Çengel e Cimbala (2007, p. 99)

De acordo com a equação fundamental da manometria, faz-se a


substituição das densidades e alturas de coluna de fluido indicadas:

PA + ( ρ gh ) Benzeno − ( ρ gh )Mercúrio − ( ρ gh )Querosene + ( ρ gh ) Água − ( ρ gh ) Ar =


PB

PA + ( 864 ⋅10 ⋅ 0, 2 ) − (13600 ⋅10 ⋅ 0, 08 ) − ( 785 ⋅10 ⋅ 0,32 ) + (1000 ⋅10 ⋅ 0, 26 ) −

− (1, 2 ⋅10 ⋅ 0, 09 ) =
PB

PA − PB = 9065, 08 Pa
∆PA− B =

62
TÓPICO 3 | ESTÁTICA DOS FLUIDOS

2) O manômetro é o instrumento utilizado na mecânica dos fluidos para se


efetuar a medição da pressão efetiva ou manométrica. Determine a leitura de
diferencial de pressão entre A e B do manômetro ilustrado a seguir. O óleo,
mercúrio e água possuem massas específicas de 900 kg/m³, 13600 kg/m³ e 1000
kg/m³, respectivamente. Adote g=10m/s².

Solução:

FONTE: Munson, Young e Okiishi (2004, p. 88)

De acordo com a equação fundamental da manometria, faz-se a


substituição das densidades e alturas de coluna de fluido indicadas:

PA + ( ρ gh )Óleo + ( ρ gh )Mercúrio − ( ρ gh ) Água =


PB

PA + ( 900 ⋅10 ⋅ 0,1) + (13600 ⋅10 ⋅ ( sen30º ⋅0, 05 ) ) − (1000 ⋅10 ⋅ 0, 08 ) =


PB

PB − PA = 3500 Pa
∆PB − A =

3) Um guindaste é usado para posicionar estruturas de concreto no fundo do mar


em um projeto de construção de pilares submarinos. Determine a tensão (ou
força de tração) no cabo do guindaste quando o bloco de concreto de dimensões
(0,4 m x 0,4 m x 3 m) está suspenso no ar e quando ele está completamente
submerso na água. A densidade da água do mar é 1025 kg/m³ e a densidade do
concreto é 2300 kg/m³.

63
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

Solução:

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

Bloco de concreto suspenso no ar:

FTração = Pesocorpo
FTração = γ Vcorpo
FTração = 2300 ⋅10 ⋅ 0, 4 ⋅ 0, 4 ⋅ 3
FTração = 11040 N

Bloco de concreto completamente submerso na água:

FTração Pesocorpo − Fflutuação


=
F=
Tração γ Vcorpo − ρ gVlíquido deslocado
FTração= ( 2300 ⋅10 ⋅ 0, 4 ⋅ 0, 4 ⋅ 3) − (1025 ⋅10 ⋅ 0, 4 ⋅ 0, 4 ⋅ 3)
FTração = 6120 N

4) Um grande bloco cúbico de gelo (iceberg) está flutuando na água do mar. A


densidade da água do mar é 1025 kg/m³ e a densidade do gelo é 920 kg/m³.
Se 10 cm de altura do bloco estão acima (fora) da superfície da água, calcule a
altura do bloco de gelo que está submersa.

64
TÓPICO 3 | ESTÁTICA DOS FLUIDOS

Solução:

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

ρcorpo V fluido deslocado


=
ρ fluido Vcorpo

Como o bloco de gelo é cúbico, o volume do corpo é calculado pelo


produto da área de base (A) e a sua altura total (h+0,1m).

920 A⋅h
=
1025 A ⋅ ( h + 0,1)
1025
= h 920h + 9200
9200
=h = 0,8762m
(1025 − 920 )

Portanto, a altura do bloco de gelo submersa é 87,62 cm.

65
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS, VISCOSIDADE E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

LEITURA COMPLEMENTAR

Tensão superficial e capilaridade

A tensão superficial da água pode ser identificada quando vemos


pequenos insetos “caminhando” sobre a água ou quando colocamos um objeto
sobre a superfície livre do líquido e ele premanece “apoiado” na superfície
quando deveria afundar. Por exemplo, é fácil colocar uma pequena agulha na
superfície da água para que seja suportada pela tensão superficial. Note que a
agulha, neste caso, não é significativamente suportada pela força de flutuação
(empuxo). Se a agulha estiver submersa, ela afundará rapidamente. Da mesma
forma, se você colocar uma pequena quantidade de detergente ou outro tensoativo
na água quando a agulha é suportada, ela irá afundar quase que imediatamente.
Os detergentes reduzem a tensão superficial dos líquidos, melhorando a sua
capacidade de “molhar” as superfícies.

Podemos imaginar a tensão superficial como um filme na interface entre


a superfície livre do líquido e o ar acima dele. As moléculas de líquido abaixo
da superfície são atraídas para cada molécula adjacente e para a superfície do
reservatório. Quantitativamente, a tensão superficial é medida como o trabalho
por unidade de área necessário para mover moléculas inferiores para superfície
do líquido. Isto resulta em unidades de força por unidade de comprimento, como
N/m ou lbf/ft.

A tensão superficial é também a razão pela qual as gotículas de água


assumem uma forma quase esférica. Além disso, outro fenômeno interessante,
a capilaridade, depende da tensão superficial. A ascensão ou depressão da
superfície de um líquido dentro de um tubo capilar (muito fino) é explicada
por esse fenômeno. A superfície livre de um líquido em um tubo de pequeno
diâmetro assumirá uma forma curva, que depende da tensão superficial do
líquido. A superfície de água estabelece uma cavidade que dá a impressão de
o líquido “escalar” as paredes do tubo por uma pequena distância (formando o
menisco). O mercúrio, por exemplo, tem um comportamento inverso, impedindo
a ascensão da superfície do líquido pela parede do tubo. A imagem a seguir
ilustra o fenômeno descrito:

66
TÓPICO 3 | ESTÁTICA DOS FLUIDOS

A adesão do líquido às paredes do tubo contribui para esse comportamento.


O movimento de líquidos dentro de pequenos espaços depende desta ação capilar.
Vários fenômenos são explicados pela tensão superficial de líquidos e ação de
capilaridade correspondente: O movimento dos líquidos nos solos, o transporte
de seiva e nutrientes da raiz das plantas para seus galhos e folhas e a umidade
transferida através de certas fibras têxteis (algodão).

FONTE: MOTT; UNTENER. Applied Fluid Mechanics. 7. ed. Pearson Education Limited, 2015. p. 14-15.

67
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A pressão é uma força de compressão por unidade de área e a pressão em


qualquer ponto do fluido é igual em todas as direções.

• A pressão manométrica de um fluido pode ser relacionada com a altura de


coluna de fluido.

• A manometria tem diversas aplicações na Engenharia.

• O manômetro de tubo em “U” e o manômetro de Bourdon são os dispositivos


mais comuns para medição da pressão de um fluido.

• Todos os corpos submersos em um fluido sofrem a ação de uma força resultante


de flutuação exercida pelo fluido.

68
AUTOATIVIDADE

1 A diferença de pressão manométrica entre uma tubulação escoando óleo e


outra tubulação escoando água é determinada pelo manômetro de duplo fluido
ilustrado a seguir. Para os dados fluidos e alturas de coluna especificadas,
calcule a diferença de pressão entre o tubo B e o tubo A (ΔP = PB - PA). Assuma
g = 10m/s².

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

2 Transdutores de pressão são normalmente usados para medir a pressão


gerando sinais elétricos que, em geral, encontram-se na faixa de 4 mA a 20
mA, em resposta à pressão aplicada. O sistema cujo esquema é ilustrado a
seguir pode ser usado para calibrar transdutores de pressão. Um recipiente
rígido é preenchido com ar pressurizado e a pressão é medida pelo manômetro
de tubo em “U” a ele conectado. Uma válvula é usada para regular a
pressão do recipiente. Tanto a pressão quanto o sinal elétrico são medidos
simultaneamente para diversas condições e os resultados são tabelados. Para
o conjunto de medições fornecido na tabela a seguir, responda:

a) Obtenha a equação da curva de calibração na forma de P = aI ± b, onde a e


b são constantes, P é a pressão em Pa e I a intensidade da corrente elétrica,
em mA.
b) Calcule a pressão, em Pascal e em bar, que corresponde a um sinal de 13
mA, indicando a altura da coluna de mercúrio atingida nessa pressão.

69
DADOS OBTIDOS EXPERIMENTALMENTE PARA OBTENÇÃO DA CURVA DE CALIBRAÇÃO
DO TRANSDUTOR DE PRESSÃO

h (cmHg) i (mA)
2,8 4,21
18,15 5,78
29,78 6,97
41,31 8,15
76,59 11,76
102,7 14,43
114,9 15,68
136,2 17,86
145,8 18,84
153,6 19,64

DISPOSITIVO EXPERIMENTAL PARA CALIBRAÇÃO DO TRANSDUTOR DE PRESSÃO

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

3 Um tanque foi completamente cheio com tetracloreto de carbono. Após isso


ele foi fechado no topo, eliminando o contato da superfície livre com o ar

70
atmosférico. A válvula B foi então aberta, permitindo que o nível de líquido
no tanque reduzisse lentamente, conforme ilustrado a seguir. Com base nesta
situação, responda:

a) Se a válvula B for fechada, criando um espaço de vácuo no topo do tanque


(ponto A), determine a pressão do líquido sobre a válvula quando h=7,62m.
b) Determine em que nível “h” o tetracloreto deixará de sair do tanque se a
válvula B permanecer aberta. Considere a Patmosférica igual a 101325Pa.
c) Se o tanque for cilíndrico com diâmetro de 2,1m determine o volume de
tetracloreto, em litros, que sai do tanque entre as condições propostas nas
letras “a” e “b”.
d) Por que o tetracloreto não reduz o nível abaixo do valor de “h” calculado no
item “b”?

Dados: ρtetracloreto de carbono = 1600kg/m³

π D2
Vcilindro = h
4

FONTE: Hibbeler (2016, p. 94)

71
4 Calcule a diferença de pressão entre os pontos “A” e “B” no manômetro
diferencial ilustrado pela figura a seguir. A densidade relativa dos fluidos está
indicada entre parênteses.

FONTE: Adaptado de Potter, Wiggert e Ramadan (2014)

5 O tanque de um automóvel tem o nível de combustível registrado através


de uma relação proporcional com a pressão manométrica no fundo do tanque.
Esta pressão é medida através de um sensor instalado, conforme ilustrado a
seguir. Neste caso, como o tanque é aberto à pressão atmosférica por uma
ventosa, o espaço remanescente no topo do tanque é preenchido com ar
quando ele não está completamente cheio de combustível. A altura total do
tanque é de 32 cm. Se o tanque está contaminado no fundo com uma coluna
de água de 3 cm, proveniente de combustível adulterado, qual a altura, em
centímetros, da coluna de ar no topo do tanque quando o marcador do painel
do carro indica “tanque cheio”? Adote ρcombustível = 667kg/m³; ρar = 1,18kg/m³.

FONTE: Adaptado de Potter, Wiggert e Ramadan (2014)

72
UNIDADE 2

ESCOAMENTO DE FLUIDOS –
CINEMÁTICA E DINÂMICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender as leis de conservação aplicadas ao escoamento de fluidos;


• caracterizar o balanço de massa em um escoamento incompressível em
regime permanente e balancear as vazões de entrada e saída do sistema;
• definir a equação da continuidade e as equações para cálculo de vazão do
fluido;
• caracterizar o balanço de energia em um escoamento incompressível em
regime permanente e reconhecer as formas de energia mecânica associa-
das ao escoamento de um fluido;
• definir a equação de Bernoulli, suas limitações e aplicações práticas;
• caracterizar um escoamento em regime laminar ou turbulento a partir do
cálculo do número de Reynolds (Re);
• definir o conceito de perda de carga de um escoamento em tubulações e
definir os requisitos de potência do escoamento e da máquina hidráulica;
• diferenciar e determinar os dois tipos de perdas de carga (localizadas e
distribuídas) em um sistema de escoamento de fluidos;
• compreender a relação entre o fator de atrito de Darcy (fD), o número de
Reynolds (Re) e a rugosidade relativa da tubulação (ε/D);
• utilizar metodologias para calcular o fator de atrito de Darcy (fD), tais
como o uso de equações empíricas ou o diagrama de Moody;
• identificar os parâmetros conhecidos e variáveis a serem determinadas
dos três principais problemas típicos de escoamentos de fluidos;
• aplicar metodologias para solucionar problemas práticos de escoamentos
de fluidos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades que têm o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – LEIS DE CONSERVAÇÃO

TÓPICO 2 – DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO


DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

TÓPICO 3 – DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO


DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

73
74
UNIDADE 2
TÓPICO 1

LEIS DE CONSERVAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Segundo Çengel e Cimbala (2007), define-se cinemática dos fluidos como
a descrição do movimento dos fluidos e sem considerar as forças e momentos
atuantes que causam o movimento. Os diversos conceitos cinemáticos e proprie-
dades fundamentais (como as taxas de translação, de rotação, de deformação
linear e de deformação por cisalhamento), que descrevem as características de
um escoamento de fluidos em uma abordagem matemática e analítica podem ser
consultados nas referências da unidade. Nesta unidade apresentaremos os con-
ceitos mais aplicados da cinemática dos fluidos em escoamentos incompressíveis
em regime permanente.

Na dinâmica dos fluidos, utilizaremos os conceitos de balanço de massa


e balanço de energia para descrever o movimento de um fluido considerando as
forças atuantes e, assim, aplicar uma metodologia de dimensionamento para um
sistema de escoamento de fluidos incompressíveis em regime permanente.

Entre os aspectos mais importantes no estudo estão a interpretação das


formas de energias mecânicas associadas ao escoamento de um fluido (energia
potencial, energia cinética e energia de pressão ou de escoamento) descritas na
equação de Bernoulli, o princípio de conservação de energia durante um esco-
amento e suas aplicações e o princípio de conservação de massa, descrito pela
equação da continuidade.

Çengel e Cimbala (2015) definem as leis de conservação como as leis de


conservação de massa, de energia e de impulso. Tais leis podem ser aplicadas a
uma quantidade de matéria chamada de sistema fechado e em regiões no espaço
chamadas de volumes de controle. As leis de conservação são também chamadas
de equações de equilíbrio, já que qualquer quantidade conservada deve equili-
brada durante um processo.

2 BALANÇO DE MASSA EM ESCOAMENTOS – EQUAÇÃO


DA CONTINUIDADE
A equação da continuidade para a hipótese do escoamento em regime
permanente (vazão constante e propriedades do fluido invariáveis ao longo do
tempo) ilustra que a massa de fluido que escoa por uma seção de um tubo de
75
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

corrente a montante (1) é igual à massa de fluido que escoa por uma seção de um
tubo de corrente a jusante (2). Podemos definir como o princípio da conservação da
massa do fluido. O balanço de massa em um escoamento em regime permanente
pode ser realizado efetuando as seções de entrada e saída do escoamento.

FIGURA 1 – PRINCÍPIO DO BALANÇO DE MASSA APLICADO AO ESCOAMENTO DE UM FLUIDO


EM REGIME PERMANENTE

FONTE: O autor

A quantidade de massa que flui através de uma seção transversal


por unidade de tempo é chamada de vazão mássica, denotada por Q ou m 
, dependendo da referência. Geralmente, o ponto sobre a letra indica uma
quantidade ao longo do tempo (taxa). O fluxo é definido como a taxa ao longo de
uma área de transferência da quantidade.

Um fluido escoa para dentro ou para fora de um volume de controle,


geralmente através da área de seção transversal de tubulações. Na mecânica dos
fluidos fazemos algumas distinções sobre tubos e dutos. De forma geral, um tubo
é um condutor fechado de fluido com área de seção circular, enquanto um duto
pode ter a sua área de seção não circular (retangular, quadrada etc.).

Neste livro de estudos, nós utilizaremos a definição de tubo para indicar


o tipo de sistema de transporte do fluido e sua área de seção transversal sempre
π D2
A π=
será considerada circular, ou seja,= r² em que r é o raio do tubo e D
é o diâmetro do tubo. 4

A vazão mássica do fluido que escoa através de uma área de seção de


tubulação é proporcional à própria área, à densidade do fluido e ao componente
da velocidade do fluxo (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; HIBBELLER, 2016; FOX;

76
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

McDONALD; PRITCHARD; MITCHELL, 2018; WHITE, 2011). Assim, a equação


da continuidade para o escoamento de um fluido em regime permanente é descrita
conforme a figura anterior, ou seja, o produto da densidade, velocidade média
do fluido e da área de seção transversal do escoamento. As equações práticas
aplicadas ao escoamento em regime permanente serão definidas na próxima
seção deste tópico de estudo.

Para o escoamento compressível (gases), a densidade do fluido se altera


durante o escoamento e uma densidade média do fluido deve ser considerada
na seção transversal, além da consideração da variação da densidade (POTTER;
WIGGERT, 2013; ROMA, 2006).

E
IMPORTANT

Quando o escoamento permanente for incompressível (líquido), o balanço de


massa torna-se também um balanço volumétrico. O balanço de massa ou de volume de
fluido pode ser aplicado com o conceito genérico de balanço para um volume de controle:
ENTRADA – SAÍDA = ACÚMULO. A diferença entre a entrada e a saída se refere a uma taxa
líquida, ou seja, a uma diferença das quantidades que entram e saem do sistema ao longo
do tempo. O termo acúmulo se refere à variação da quantidade no sistema ao longo do
tempo, e é geralmente descrito de forma diferencial na mecânica dos fluidos.

3 CONSERVAÇÃO DA MASSA EM ESCOAMENTOS


A partir desta unidade do livro de estudos, vamos considerar os
problemas práticos que envolvem principalmente o escoamento interno de fluidos
incompressíveis em regime permanente. Assim, devemos definir o balanço de
massa para tal tipo de escoamento.

Durante um processo de escoamento em regime permanente, a quantidade


total de massa contida não muda com o tempo. Assim, o princípio de conservação
de massa exige que a quantidade total de massa que entra no volume de controle
seja igual à quantidade total de massa que sai do volume de controle (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007). Imagine uma torneira no jardim com uma mangueira acoplada.
Quando a torneira é aberta, a quantidade de água que sai e entra na mangueira ao
longo do tempo é a mesma quantidade de água que sai da mangueira pelo bocal
de descarga.

77
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

FIGURA 2 – PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DE MASSA PARA UM SISTEMA DE ESCOAMENTO


DE FLUIDO EM REGIME PERMANENTE COM DUAS ENTRADAS E UMA SAÍDA

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2015, p. 191)

Para os principais problemas que envolvem escoamento em regime


permanente, o cerne da abordagem está no cálculo das quantidades de massa
de fluido que escoam ao longo do tempo. É o conceito já definido de vazão
mássica. De acordo com Fox, McDonald, Pritchard e Mitchell (2018), muitos
dispositivos na engenharia contam com apenas uma entrada e uma saída (bocais,
difusores, compressores, bombas e turbinas hidráulicas). Assim, é prática comum
utilizarmos o subscrito “1” para indicar a entrada no dispositivo ou fluxo a
montante da tubulação e o subscrito “2” para indicar a saída do dispositivo ou
fluxo a jusante de uma tubulação.

A equação da continuidade aplicada à discussão do balanço de massa é:


• •
Q1 = Q 2
(1)
ρ1v1 A1 = ρ 2 v2 A2

Quando o escoamento é incompressível, ou seja, de líquidos, a densidade


pode ser assumida como sendo constante ao longo do escoamento, mesmo com
pequenas variações de temperatura. Assim, sem considerar a densidade na
equação da continuidade do balanço massa:

Q1 = Q2
(2)
v1 A1 = v2 A2

( )
Q ou V é a vazão volumétrica do escoamento.
78
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

E
IMPORTANT

Para o dimensionamento hidráulico de bombas centrífugas (Unidade 3), a vazão


volumétrica também é chamada de capacidade da bomba.

Embora não exista uma lei física para o princípio de conservação de vo-
lume, para o escoamento de líquidos em regime permanente, as vazões volu-
métricas de entrada e saída são iguais e permanecem constantes ao longo do
tempo. As vazões mássicas de fluido na entrada e saída de um dispositivo são
iguais quando o regime for permanente. Entretanto, as vazões volumétricas po-
dem ser diferentes no caso de um escoamento de gases devido à densidade dos
gases, que pode variar muito em função da temperatura e pressão. A figura a
seguir ilustra como a vazão volumétrica de um gás na entrada de um compres-
sor é maior do que a vazão volumétrica de saída, apesar da vazão mássica não
se alterar (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; FOX; McDONALD; PRITCHARD; MIT-
CHELL, 2018; WHITE, 2011).

FIGURA 3 – AS VAZÕES EM MASSA SE CONSERVAM EM ESCOAMENTOS PERMANENTES


DE GASES E LÍQUIDOS, PORÉM AS VAZÕES VOLUMÉTRICAS SÓ SE CONSERVAM EM
ESCOAMENTOS PERMANENTES DE LÍQUIDOS

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2015, p. 192)

79
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

4 DEFINIÇÃO DA VAZÃO DE UM FLUIDO


As diferentes formas de calcular a vazão do fluido em um escoamento em
regime permanente são definidas a seguir:

Vazão volumétrica: por definição, é a quantidade de fluido, em volume,


que escoa pela área de seção transversal da tubulação ao longo de um intervalo
de tempo. As unidades mais usuais de vazão volumétrica são m³/s; m³/h, L/s; L/h,
no Sistema Internacional, e gal/min, gal/h, no Sistema Inglês de Unidades. Lembre-
se de que 1 m³ equivale a 1000 L.

V (3)
QVolumétrica =
∆t

A vazão volumétrica também pode ser expressa como o produto da


velocidade média do escoamento (m/s) e a área de seção transversal do tubo
(m²). No caso, a vazão volumétrica será dada em m³/s. Neste livro de estudos
sempre vamos considerar como velocidade média do escoamento os parâmetros
relativos à velocidade do fluido que serão calculados. Para maiores detalhes sobre
a dedução da relação entre vazão e velocidade de fluido, consulte os capítulos
correlacionados a equações de conservação nas referências deste livro de estudos.

QVolumétrica
= vescoamento ⋅ Área (4)

Vazão mássica: por definição, é a quantidade de fluido, em massa, que


escoa pela área de seção transversal da tubulação ao longo de um intervalo de
tempo. As unidades mais usuais de vazão mássica são kg/s; kg/h no Sistema
Internacional.

• m
Q= (5)
∆t

A vazão mássica pode ser relacionada com o produto da densidade do


fluido (kg/m³) e da vazão volumétrica (m³/s) da seguinte maneira:

m ρ ⋅V
=Q = = ρQ
∆t ∆t (6)

Q Mássica = ρ ⋅ QVolumétrica

Vazão em peso: por definição, é a quantidade de fluido, em peso, que


escoa pela área de seção transversal da tubulação ao longo de um intervalo de
tempo. A unidade mais usual de vazão em peso é N/s no Sistema Internacional.
80
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

Peso
Q peso = (7)
∆t

A vazão em peso pode ser relacionada com o produto do peso específico


do fluido (N/m³) e da vazão volumétrica (m³/s) da seguinte maneira:

Peso mg ρVg
Q peso
= = = = γQ
∆t ∆t ∆t (8)
QPeso = γ ⋅ QVolumétrica

5 BALANÇO DE ENERGIA EM ESCOAMENTOS – EQUAÇÃO


DE BERNOULLI
O princípio de conservação de energia é aplicado na definição da equação
da conservação da energia mecânica para escoamentos de fluidos em regime
permanente. Aplicando o mesmo conceito da equação da continuidade para a
hipótese do regime permanente podemos definir a conservação de energia de um
fluido durante o escoamento em regime permanente.

Como a energia pode ser apenas transformada pelo princípio da


preservação da energia (ela se conserva em suas diversas formas), utiliza-se o
princípio da equação, a continuidade para construir uma equação similar para o
balanço de energia de um escoamento. A equação do balanço de energia de um
escoamento e a equação da continuidade são importantes para a determinação
de potência de máquinas hidráulicas, determinação de perdas de carga em
escoamentos, perdas de energia no escoamento e dimensionamento de tubulações
e sistemas de bombeamento de fluido.

Muitos sistemas de escoamento são projetados para transportar um


fluido de um local para outro a uma vazão, velocidade e diferença de elevação.
O sistema pode gerar trabalho mecânico em uma turbina ou pode consumir
trabalho mecânico em uma bomba ou ventilador durante o processo (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007).

Os sistemas de escoamento não envolvem a conversão química ou


térmica em energia mecânica. Ainda, eles não envolvem transferência de calor
em quantidade significativa, escoando fluidos essencialmente em temperatura
constante. Tais sistemas podem ser analisados convenientemente considerando
apenas as formas mecânicas de energia e os efeitos de atrito que causam a perda
ou dissipação de energia mecânica, a perda irreversível, isto é, energia mecânica
convertida em energia térmica que normalmente não pode ser usada para
qualquer finalidade útil (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

81
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

E
IMPORTANT

A energia mecânica é definida como a forma de energia que pode ser convertida
diretamente e completamente em trabalho mecânico por um dispositivo mecânico ideal,
como uma turbina ideal. Energias cinéticas e potenciais são formas comuns de energia
mecânica. A energia térmica, porém, não é uma forma de energia mecânica, uma vez
que não pode ser convertida em trabalho mecânico direta e completamente, conforme
estabelece a 2ª Lei da Termodinâmica (ÇENGEL; BOLES, 2013).

Uma bomba hidráulica transfere energia mecânica para um fluido,


aumentando sua pressão, e uma turbina hidráulica extrai energia mecânica de um
fluido, baixando sua pressão. Portanto, a pressão de um fluido em escoamento
também pode ser definida como uma forma de energia mecância. De fato, a
unidade de pressão no Sistema Internacional, Pa, é equivalente a N/m² ou Nm/
m³ ou J/m³, que é energia por unidade de volume. O produto da pressão e do
volume (P·V) tem unidade de energia (Nm ou J) e o equivalente pressão sobre
densidade (P/ρ) tem a unidade J/kg ou m²/s², que é energia por quantidade de
massa (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Na termodinâmica, energia por quantidade
de massa é chamada de energia específica.

É importante ressaltar que a pressão em si não é uma forma de energia,


mas quando uma força normal atua em uma área de contato surge uma pressão
que age em um fluido através de uma distância, produzindo trabalho. Na
mecânica dos fluidos, determinado tipo de trabalho, oriundo da pressão de um
fluido que desloca um certo volume por uma distância, é chamado de trabalho
de escoamento. É o trabalho mecânico (energia) necessário para empurrar um
fluido para um volume de controle especificado por unidade de massa (POTTER;
WIGGERT, 2013; MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2004). O trabalho de escoamento
é expresso em termos de propriedades do fluido e ele é parte da energia mecânica
de um fluido em escoamento: a energia do escoamento ou “energia de pressão”
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

6 CONSERVAÇÃO DA ENERGIA MECÂNICA EM


ESCOAMENTOS
As formas de energias mecânicas associadas ao fluido em escoamento são:

Energia potencial: energia associada à posição do fluido no campo


gravitacional em relação ao plano horizontal de referência. É traduzida como o
potencial do fluido em realizar um trabalho no sistema de escoamento.

82
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

τ fluido = F * d
τ fluido = Peso * h
τ fluido = m * g * h
τ fluido E=
= potencial mgh

Para quantificar a Energia Potencial no balanço de energia do escoamento,


é importante apenas o diferencial de altura (diferença de energia potencial entre
dois pontos do fluido).

Energia cinética: energia associada ao movimento (velocidade) do fluido.

mv 2
Ecinética =
2

Energia de escoamento ou trabalho de escoamento: energia associada


ao trabalho das forças de pressão, estas que atuam no escoamento do fluido,
conforme já descrito no início da seção.

De forma didática, podemos entender o tipo de energia mecânica associado


ao escoamento do fluido como no intervalo de tempo Δt. O fluido percorre uma
distância Δs sob ação de uma força F, produzindo trabalho no escoamento.

F
=P = F P* A
A
τ F * ∆s
d=
dτ P * A * ∆s
=
τ P * ∆V
d=

O trabalho total ou energia mecânica do fluido em um escoamento é


igual à energia cinética de movimento, energia potencial (o trabalho ou energia
produzida pela ação gravitacional sobre a massa de fluido (força/peso) que está a
determinada altura de um referencial), e a energia de pressão em um fluido é igual
ao trabalho executado pela pressão e volume deslocado a uma certa distância.

A energia mecânica total do escoamento de um fluido é o somatório das


parcelas de energias mecânicas definidas até aqui.

ETOTAL = E potencial + Ecinética + E pressão

mv 2
ETOTAL = mgh + + ∫ PdV
2 V
83
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Para a definição simplificada da equação de energia do escoamento de um


fluido são adotadas, inicialmente, as hipóteses simplificadoras a seguir:

• Escoamento em regime permanente (propriedades do fluido uniformes nas


seções de entrada e saída ao longo do tempo).
• Ausência de máquinas hidráulicas no trecho do escoamento (a máquina
hidráulica fornece ou retira energia do fluido na forma de trabalho. Bombas e
compressores adicionam energia e turbinas retiram energia).
• Sem perdas por atrito do fluido no escoamento.
• Fluido incompressível (líquido).
• Sem trocas térmicas no escoamento.

É importante ressaltar que as simplificações acarretam em desvios dos


resultados quando comparados a resultados experimentais dos fenômenos físicos
reais. Contudo, tais simplificações podem ser adotadas em situações práticas com
resultados aproximados válidos. A eliminação das simplificações deve ser feita
gradualmente, com a inserção de termos correspondentes ao escoamento, que
proporcionarão mais exatidão aos resultados. De acordo com as hipóteses 2, 3 e 5,
no trecho de escoamento não é retirada ou adicionada energia ao fluido. Para que
o regime de escoamento seja permanente, não pode haver variação de energia no
trecho do escoamento, o que significa:

ETOTAL1 = ETOTAL 2
m1v12 m2 v22
m1 gh1 + + ∫ PdV
1 1 = m2 gh2 + + ∫ P2 dV2
2 V
2 V

Como a densidade do fluido é definida como ρ=m/V, então:

m1v12 Pm m v2 P m
m1 gh1 + + 1 1 = m2 gh2 + 2 2 + 2 2
2 ρ1 2 ρ2

De acordo com as hipóteses 1 e 4, no trecho de escoamento o fluido é


incompressível (ρ1=ρ2) e o regime de escoamento é permanente pela equação da
. .
continuidade Q1 = Q2 e balanço de massa (m1=m2).

v12 P1 v2 P
gh1 + + = gh2 + 2 + 2
2 ρ 2 ρ

Como a massa de fluido multiplica cada termo das parcelas de energia


do escoamento do fluido, a massa pode ser eliminada, pois (m1=m2). Divide-se a
equação por “g”. Lembrando que o peso específico do fluido é γ = ρ g .

84
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

v12 P v2 P
h1 + + 1 =h2 + 2 + 2
2g ρ g 2g ρ g
(9)
v2 P v2 P
h1 + 1 + 1 =h2 + 2 + 2
2g γ 2g γ

A Equação 9 é chamada de equação de Bernoulli, usada na mecânica dos


fluidos em dimensionamentos hidráulicos de escoamentos incompressíveis em
regime permanente. Na equação, é definida a expressão de balanço de energia
mecânica de um fluido no escoamento. A soma das energias potencial, cinética e
de escoamento (pressão) de uma partícula de fluido é constante ao longo de uma
linha de corrente durante o escoamento em regime permanente quando os efeitos
de compressibilidade e do atrito do fluido com o tubo são desprezíveis. Os efeitos
de compressibilidade são desprezíveis para o escoamento de líquidos, que são
fluidos incompressíveis e sua densidade permanece praticamente constante ao
longo do escoamento.

E
IMPORTANT

A equação de Bernoulli relaciona as energias vinculadas à altura (potencial),


velocidade (cinética) e pressão entre duas seções do escoamento de um fluido. Quando
o escoamento é incompressível (líquidos), tanto a pressão absoluta quanto a pressão ma-
nométrica podem ser usadas para definir a carga de escoamento (pressão) da equação de
Bernoulli, já que o valor da Patmosférica usada no cálculo da Pabsoluta apareceria em ambos os
lados da equação.

Os termos da equação de Bernoulli podem ser definidos como:

Energia potencial por peso de partícula de fluido

mg mgh E potencial
• =h multiplicando por = =
mg mg Peso

Energia cinética por peso de partícula de fluido

v2 mg mgv 2 mv 2 Ecinética
• = multiplicando por= = =
2g mg 2mg 2 2mg Peso

Energia do escoamento (pressão) por peso de partícula de fluido

85
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

P PV PV PV PV E pressão
• = multiplicando por=
V = = = =
γ γ V ρ gV m gV mg Peso
V

Portanto, a equação de Bernoulli expressa que, ao escoar por uma seção


de entrada uma partícula de fluido de peso unitário, associadas as energias
mecânicas potencial, cinética e de pressão, deve também escoar por uma seção de
saída com o mesmo somatório de energias mecânicas da entrada, caracterizando
que a energia é preservada no escoamento entre as seções de entrada e saída.

De acordo com Çengel e Cimbala (2007), as energias cinética, potencial


e de escoamento (pressão) são formas mecânicas de energia e a equação de
Bernoulli pode ser vista como o princípio de conservação da energia mecânica. É
equivalente ao princípio da conservação geral da energia para sistemas que não
envolvem qualquer conversão de energia mecânica e energia térmica entre si, e
assim, a energia mecânica e a energia térmica são conservadas separadamente.

A equação de Bernoulli afirma que, durante o escoamento constante e


incompressível, sem atrito na tubulação, as várias formas de energia mecânica
são convertidas entre si, mas o seu somatório permanece constante. Em outras
palavras, não há dissipação de energia mecânica durante tais escoamentos, uma
vez que não há atrito que converta energia mecânica em energia térmica sensível
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Evocando a 2º Lei de Newton do movimento, em que trabalho é definido


como a energia transferida para um sistema quando uma força é aplicada ao
longo de uma distância, a equação de Bernoulli pode ser definida como o trabalho
realizado pelas forças de pressão e gravidade sobre a partícula de fluido em
relação ao aumento de energia cinética da partícula (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Apesar das aproximações altamente restritivas usadas em sua derivação, a


equação de Bernoulli é comumente usada na prática desde que, com a equação, os
problemas de escoamento de fluidos podem ser analisados com razoável precisão.
A ação ocorre porque muitos escoamentos de interesse na engenharia prática
são em regime permanente, os efeitos de compressibilidade são relativamente
pequenos e as forças de atrito são insignificantes em algumas regiões de interesse
no escoamento.

As formas análogas da Equação de Bernoulli que podem ser aplicadas são:

• Equação de Bernoulli em termos de unidade de energia mecânica por peso de


partícula de fluido (metros ou mc.a. (metros de coluna de água em aplicações
práticas)

v12 P1 v2 P
h1 + + =h2 + 2 + 2
2g γ 2g γ
86
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

E
IMPORTANT

A unidade m surge nos termos da equação pois temos uma quantidade de


energia por peso de partícula de fluido, ou seja, J/N = Nm/N = m).

Multiplicando cada termo da equação por ρg (peso de partícula de fluido):

• Equação de Bernoulli em termos de unidade de pressão (Pa ou N/m²)

ρ v12 ρ v22
ρ gh1 + + P1 = ρ gh2 + + P2
2 2

• Equação de Bernoulli em termos de unidade de energia mecânica (J ou Nm ou


kg·m²/s²)

m1v12 Pm m2 v22 P2 m2
m1 gh1 + + 1 1
= m2 gh2 + +
2 ρ1 2 ρ2
m1v12 m2 v22
m1 gh1 + + PV
1 1= m2 gh2 + + PV
1 1
2 2

• Equação de Bernoulli em termos de unidade de energia mecânica específica ou


energia por massa de fluido (J/kg ou Nm/kg ou m²/s²)

v12 P1 v2 P
gh1 + + = gh2 + 2 + 2
2 ρ1 2 ρ2

Podemos relacionar o termo de energia de escoamento com a pressão


estática do fluido, que é chamada de carga ou altura de coluna de fluido:

P
= hcoluna de fluido
γ fluido

Definindo, assim, a carga de pressão de um fluido. Então, os termos da


equação de Bernoulli podem ser nomeados:

87
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

• Carga potencial ou carga de elevação no escoamento

h ou ρ gh

• Carga cinética no escoamento

v2 ρv2
ou
2g 2

• Carga de pressão ou de escoamento

P
ou P
γ

A carga hidráulica do fluido no escoamento (H) é o somatório de todas as


cargas (energia) mecânicas do fluido durante o escoamento. É rotina utilizarmos
a letra “H” maiúscula em português devido à referência do termo original na
língua inglesa, que define a carga hidráulica do fluido (Head).

v2 P
h+ + =H
2g γ

H é a energia mecânica total por unidade de peso de fluido em uma seção, ou


seja, a carga total do escoamento na seção. Portanto, a equação de Bernoulli em ter-
mos de carga hidráulica de escoamento pode ser escrita, de forma resumida, como:

H1 = H 2 (10)

E
IMPORTANT

De acordo com as hipóteses simplificadoras, a equação significa que, se entre


duas seções (ponto de entrada e saída) de um escoamento o fluido for incompressível, sem
atritos na tubulação, em regime permanente, sem máquinas hidráulicas realizando trabalho
no trecho entre as seções e sem trocas térmicas no sistema, as cargas do escoamento se
mantêm constantes em qualquer ponto da seção (H1=H2), não havendo ganhos ou perdas
de energia mecânica (carga de escoamento).

Para um escoamento em regime permanente, a taxa de variação de energia


mecânica do volume de controle ao longo do tempo é zero (ÇENGEL; CIMBALA,

88
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

2007; HIBBELLER, 2016). A equação geral do balanço de energia (equação


de Bernoulli) aplicada neste tipo de escoamento, considerando a presença de
máquinas hidráulicas, é:

H1 ± H máquina =
H2 (11)

A máquina hidráulica é definida como um dispositivo mecânico entre


as seções do escoamento que adicionam (bomba, ventilador ou compressor) ou
retiram (turbina) energia mecânica do escoamento na forma de trabalho mecânico.

FIGURA 4 – PRINCÍPIO DO BALANÇO DE ENERGIA APLICADO AO ESCOAMENTO DE UM


FLUIDO EM REGIME PERMANENTE COM A PRESENÇA DE MÁQUINA HIDRÁULICA

FONTE: O autor

Para mantermos a igualdade e o somatório de energia constante entre


os pontos 1 e 2 do escoamento, devemos compensar a presença da máquina
hidráulica na equação de Bernoulli. Assim:

H1 + H BOMBA =
H2
H1 − H TURBINA =
H2

H BOMBA = Carga hidráulica ou altura manométrica total da bomba. Energia


mecânica fornecida pela bomba por peso de fluido que atravessa a máquina.

H TURBINA = Carga hidráulica da turbina. Energia mecânica retirada pela


turbina por peso de fluido que atravessa a máquina.

Portanto, se a carga hidráulica da máquina for positiva, ela será uma


bomba (adiciona energia no fluido). Se a carga hidráulica for negativa, a máquina
hidráulica será uma turbina (extrai energia do fluido).

89
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Explicitando o termo carga hidráulica do fluido no escoamento (H) na


equação 11:

 v12 P1   v22 P2 
h
 1 + +  ± H = h
 2 + + 
 2g γ  MÁQUINA
 2g γ 
ou
 P − P   v2 − v2 
=  2 1  +  2 1  + ( h2 − h1 )
H MÁQUINA
 γ   2g 

A presença de uma máquina hidráulica no trecho de escoamento acarreta


em variações na carga de elevação (energia potencial), carga cinética e carga de
escoamento (energia de pressão) do fluido.

A potência de um fluido pode ser definida como o produto da energia


mecânica por peso de partícula de fluido e vazão em peso do escoamento. Nada
mais é do que o trabalho mecânico do fluido ao longo do tempo, que gera uma
taxa ou quantidade de energia ao longo do tempo. A taxa de energia do fluido é
usada para gerar potência em dispositivos como as turbinas hidráulicas. Podemos
equacionar o conceito da seguinte maneira:

• Emecânica Peso fluido


W fluido
= ×
Peso fluido tempo


W fluido car ga hidráulica de escoamento × QPeso

W fluido car ga hidráulica de escoamento × γ fluido × Qvolumétrica


W fluido = H fluido × γ fluido × Qvolumétrica (12)

A unidade de potência de fluido é dada em W ou J/s, uma vez que a carga


hidráulica é dada em m, o peso específico do fluido em N/m³ e a vazão volumétrica
em m³/s.

A transmissão de potência para o fluido a partir da máquina hidráulica


(bombas, ventiladores e compressores) ou para a máquina hidráulica a partir
do fluido (turbinas) nunca ocorre com eficiência igual a 100% em termos de
conversão de energia total em energia útil aproveitável (ÇENGEL; BOLES, 2013;
WHITE, 2011; MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2004).

90
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

Existem perdas de energia irreversíveis associadas aos elementos de


transmissão da máquina hidráulica (a maior parte é perda por atrito mecânico
do eixo e dissipação da energia térmica não aproveitável). Portanto, a potência
recebida ou cedida pelo fluido da máquina hidráulica não é igual à potência total
da máquina instalada (chamada de potência de eixo nas bombas centrífugas).
Assim, definimos o rendimento de uma máquina hidráulica da seguinte forma:

• Para o caso de uma bomba hidráulica: a potência da bomba é maior do que a


potência do fluido. O termo de Perdas no balanço de energia da bomba se refere
às perdas de energia que ocorrem dentro da máquina, devido a ineficiências
nos processos de conversão de energia dos dispositivos (como o atrito mecânico
no mancal do eixo). Tais perdas são levadas em consideração no parâmetro de
eficiência ou rendimento da máquina (η). Portanto:

• •
W=
BOMBA instalada W cedida ao fluido + Perdas
• •
W cedida ao fluido W disponível ou útil
η BOMBA =
= • •
W total da bomba W total

A potência total ou instalada de uma bomba, dada na unidade W,


pode ser calculada em termos de carga hidráulica requisitada pelo fluido para
escoamento no sistema de tubulação. A carga hidráulica disponível da bomba
(altura manométrica total) deve ser igual à carga hidráulica necessária pelo fluido
no sistema.

H ⋅Q ⋅γ
Winstalada da bomba = bomba (13)
η

Com a carga hidráulica da bomba em m ou m c.a., vazão volumétrica em


m³/s e peso específico do fluido em N/m³.

• Para o caso de uma turbina hidráulica: a potência da turbina é menor do que a


potência do fluido. O termo Perdas no balanço de energia da turbina se refere às
perdas de energia que ocorrem dentro da máquina, devido a ineficiências nos
processos de conversão de energia dos dispositivos (como o atrito mecânico
no mancal do eixo). As perdas são levadas em consideração no parâmetro de
eficiência ou rendimento da máquina (η). Portanto:

• •
W TURBINA
= instalada W retirada do fluido + Perdas
• •
W cedida a turbina W disponível ou útil
ηTURBINA =
= • •
W total do fluido W total
91
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

A potência total ou instalada de uma turbina, dada na unidade W, pode ser


calculada em termos de carga hidráulica requisitada pelo fluido para escoamento
no sistema de tubulação. A carga hidráulica útil da turbina deve ser igual à carga
hidráulica do fluido que foi extraída e aproveitada.

Wútil da turbina
= H turbina ⋅ Q ⋅ γ ⋅η (14)

Com a carga hidráulica da turbina em m ou m c.a., vazão volumétrica em


m³/s e peso específico do fluido em N/m³.

E
IMPORTANT

Por convenção, as perdas de energia irreversíveis da bomba ou turbina


são analisadas separadamente das perdas de energia (carga) irreversíveis devido aos
componentes do sistema de tubulação ou ao atrito do fluido na parede do tubo, além da
presença de acessório na tubulação (ÇENGEL; CIMBALA, 2015).

A perda de energia (carga) na tubulação devido ao atrito do fluido em


escoamento em uma tubulação gera uma dissipação de energia térmica, reduz a
carga de escoamento do fluido e provoca uma queda de pressão no escoamento.
Entre dois pontos de um escoamento (ponto 1 e ponto 2), a perda de carga por
atrito no transporte de fluido provoca a dissipação de energia, portanto a carga
hidráulica do fluido reduz ao longo do escoamento (H1 > H2).

Para manter a igualdade de energia do balanço entre o trecho de escoamento


(equação de Bernoulli), deve-se somar um termo relacionado à energia dissipada
ou perdida pelo fluido durante o escoamento. Definimos o termo como as perdas
de carga (Hperdas) do sistema, que serão detalhadas no Tópico 2.

H=
1 H 2 + H perdas
(15)
H perdas
= H1 − H 2

No escoamento em regime permanente entre um trecho sem máquinas e


considerando a perda de carga da tubulação, a energia mecânica de escoamento é
sempre maior a montante (seção 1) e diminui no sentido do escoamento (a jusante,
seção 2). Se entre o trecho de escoamento das seções 1 e 2 existir uma máquina,
a equação do balanço de energia mecânica em termos de cargas (equação de
Bernoulli) será:

92
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

H1 ± H MÁQUINA =
H 2 + H perdas
 v12 P1   v22 P2  (15)
h
 1 + +  ± H = h
 2 + +  + H perdas
 2g γ  MÁQUINA
 2g γ 

A potência dissipada, em função das perdas de carga do fluido na


tubulação, pode ser determinada de forma similar à potência do fluido e da
máquina hidráulica:


W dissipada = H perdas × γ fluido × Qvolumétrica (16)

As perdas de carga e o procedimento de cálculo do termo serão detalhados


no Tópico 2 desta unidade.

7 LIMITAÇÕES E SIMPLIFICAÇÕES ADOTADAS NA EQUAÇÃO


DE BERNOULLI
A equação de Bernoulli é uma das equações mais famosas e utilizadas
na mecânica dos fluidos. Sua versatilidade, simplicidade e facilidade de uso
tornaram-na uma ferramenta muito valiosa para uso na prática. Contudo, os
mesmos atributos tornam a equação suscetível à utilização de forma equivocada.
Çengel e Cimbala (2015) comentam uma série de restrições à aplicabilidade e as
observações devem ser compreendidas. Na sequência, os pontos mais importantes
são destacados:

Escoamento em regime permanente: a primeira limitação da equação


de Bernoulli é que ela só se aplica para escoamentos em regime permanente.
Na prática, ela não deve ser usada em condições de start-up ou parada de um
processo de escoamento ou durante modificações nas condições do escoamento.

Escoamento sem atrito: todo escoamento de fluido envolve algum atrito.


Os efeitos podem ou não ser desprezíveis. Em geral, os efeitos de atrito são
insignificantes para o escoamento em trechos curtos com áreas de seções grandes
e baixas velocidades. Os efeitos de atrito são geralmente significativos em
tubulações com comprimentos grandes, diâmeros pequenos, na região da esteira
a jusante de um objeto, nas seções de escoamento divergente (difusores) devido
à maior possibilidade do fluido se separar das paredes em tais geometrias. Os
efeitos de atrito são também significativos perto de superfícies sólidas, e, portanto,
a equação de Bernoulli é geralmente aplicável ao longo da região central do fluxo,
mas não próxima à superfície. A figura a seguir ilustra os efeitos de atrito e os tipos
de componentes que perturbam a estrutura de linha de corrente do escoamento
em uma seção, tornando inválida a aplicação da equação de Bernoulli (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007; WHITE, 2011).

93
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Ausência de trabalho de eixo: a equação de Bernoulli não é aplicável em


uma seção de escoamento que envolva bomba, turbina, ventilador ou qualquer
outra máquina hidráulica, desde que haja compensação com um termo de carga
hidráulica na equação. Em tais casos, as cargas hidráulicas do fluido na equação
de Bernoulli mudam a montante (entrada) e a jusante (saída) do dispositivo.

Escoamento incompressível: a equação de Bernoulli, de forma geral, deve


ser aplicada apenas para escoamentos de líquidos (incompressíveis), necessitan-
do de ajustes para a aplicação em escoamentos de gases (compressíveis). Entre-
tanto, se o escoamento de gás puder ser considerado incompressível, a equação
é aplicável.

Transferência de calor insignificante: a densidade de um gás é inversa-


mente proporcional à temperatura e, portanto, a equação de Bernoulli não deve
ser usada para seções de escoamento que envolvam mudanças significativas de
temperatura.

FIGURA 5 – LIMITAÇÕES PARA APLICAÇÃO DA EQUAÇÃO DE BERNOULLI

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007, p. 166)

8 APLICAÇÕES EM ESCOAMENTOS INTERNOS


INCOMPRESSÍVEIS EM REGIME PERMANENTE
Como descrito anteriormente, a equação de Bernoulli possui ampla
variedade de aplicações, mesmo com uma série de restrições e limitações de uso.
O principal tópico que envolve a aplicação direta da equação são os escoamentos
de líquidos em tubulações, em regime permanente, ou seja, quando a vazão e
outras propriedades são constantes ao longo do tempo.

94
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

É importante ter uma boa experiência com o uso da equação para


possibilitar a execução de projetos e dimensionamentos hidráulicos corretos.
Então, os tópicos seguintes das Unidade 2 e 3 apresentarão novos conceitos
que demandam a utilização das equações definidas neste tópico. Assim como a
maioria dos tópicos de estudo na Engenharia, a melhor maneira de compreender
tais conceitos é com a aplicação de exercícios. Na próxima seção, exemplos
práticos serão resolvidos e comentados.

9 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
• Calcule a potência instalada da bomba para operar com eficiência de 80%.
Considere o sistema de recalque de água em regime permanente ilustrado a
seguir. Desconsidere as perdas de carga no sistema.

FIGURA 6 – SISTEMA DE RECALQUE DE ÁGUA EM REGIME PERMANENTE

FONTE: O autor

Solução: por comodidade, adotaremos g=10m/s², densidade da água igual


a 1000 kg/m³ e desprezaremos as perdas de carga no sistema. Definindo os pontos
para análise no sistema de recalque:

95
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

FIGURA 7 – PONTOS PARA ANÁLISE NO SISTEMA DE RECALQUE

FONTE: O autor

Com a Equação 13 para cálculo da potência de bomba instalada,


precisamos conhecer a vazão do escoamento e a carga hidráulica da bomba
(altura manométrica total), que é a quantidade total de energia mecânica que a
bomba transfere ao fluido, aumentando sua pressão no escoamento para superar
as resistências do sistema (elevação, perdas de carga e outras).

Portanto, o primeiro passo será aplicar a equação de Bernoulli entre os


pontos 1 e 2 do tubo de Venturi, indicados na seção de recalque do escoamento:

A carga de elevação é anulada pois o tubo de Venturi é horizontal (h1=h2).


Aplicamos a equação da manometria para determinar a diferença de pressão
entre as seções 1 e 2 do tubo de Venturi, conforme o manômetro de tubo em
“U” instalado:

Aplicamos também a equação da continuidade para escoamento de


líquidos em regime permanente nas seções 1 e 2 do tubo de Venturi:

96
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

ou

Para calcular a velocidade do escoamento no recalque, substituímos as


equações (**) e (***) na equação (*):

Com a velocidade determinada (v1 ou v2), calculamos a vazão do


escoamento pelo Venturi, que é constante (Q1=Q2).

Para determinação da carga hidráulica da bomba (altura manométrica


total), aplicamos a equação de Bernoulli nos pontos de sucção e recalque que
possuem os manômetros indicativos de pressão manométrica da tubulação:

97
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Assim, temos:

Desprezando as perdas de carga e a diferença de elevação entre os pontos


adotados na aplicação da equação de Bernoulli na sucção e recalque (os dois
pontos estão praticamente no mesmo nível da bomba):

Para o cálculo da potência instalada da bomba:

• Uma bomba centrífuga transporta água através de uma tubulação de entrada


(sucção) e duas tubulações de saída (recalque), conforme figura a seguir. Todas
as ramificações da tubulação de sucção e recalque podem ser consideradas
na mesma altura do nível da bomba. A pressão de sucção e as pressões das
ramificações do recalque são indicadas através de manômetros de Bourdon
acoplados na tubulação. Qual é a potência instalada da bomba, em kW e em
cv, considerando que ela opera com 85% de eficiência? Despreze as perdas de
carga pela tubulação. Adote 1 cv ≈ 745 W.

FIGURA 8 – BOMBA CENTRÍFUGA

FONTE: Potter e Wiggert (2013, p. 158)


98
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

Solução: Por comodidade, adotaremos g=10m/s² e densidade da água


igual a 1000 kg/m³. Definindo os pontos para análise no sistema sucção e recalque:

Tubo 1 = Pressão manométrica de 120kPa


Tubo 2 = Pressão manométrica de 500kPa
Tubo 3 = Pressão manométrica de 300kPa

Aplicação da equação da continuidade (balanço de massa) para escoamento


de fluido incompressível (líquido) para a determinação da velocidade do fluido
no tubo 2:

Como ρ1 = ρ2 = ρ3

O escoamento é em regime permanente, ou seja, a vazão do escoamento é


constante em todos os tubos. Assim:

Aplicação da equação de Bernoulli (balanço de energia) para escoamento


de fluido incompressível (líquido) para a determinação da carga hidráulica
necessária para a bomba. Desconsideramos as perdas de carga do sistema
(Hperdas = 0):

99
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Como as tubulações de entrada e saída da bomba estão no mesmo nível


da máquina, as cargas de elevação podem ser desprezadas no balanço de energia.

Cálculo da potência instalada da bomba:

• Um manômetro diferencial utiliza óleo como fluido manométrico e é conectado


em dois pontos de uma tubulação que escoa ar em regime permanente,
conforme a figura a seguir. Verifique as condições de equilíbrio do óleo no
manômetro e responda:

a) O óleo do manômetro se moverá como na figura (I) ou na figura (II)? Justifique.

b) Se a direção do escoamento fosse invertida, qual seria a resposta correta?

FIGURA 9 – MANÔMETRO DIFERENCIAL

FONTE: Çengel e Cimbala (2015, p. 232)


100
TÓPICO 1 | LEIS DE CONSERVAÇÃO

Solução:

a) Como o tubo converge para uma área de seção transversal menor, a


velocidade do fluido aumenta para contemplar a equação da continuidade
e manter a vazão constante, garantindo o princípio de conservação da
massa de fluido. Pela equação de Bernoulli, os termos de carga de elevação
são nulos, pois o tubo é horizontal. A carga cinética aumenta devido ao
aumento de velocidade na área menor, o que causa uma redução da carga
de escoamento (pressão) no ponto. Na verdade, uma parcela de carga de
pressão do fluido se converte em carga cinética, aumentando a velocidade
no ponto de menor área do tubo. Portanto, o princípio de conservação de
energia mecânica é atendido. O lado direito do manômetro está conectado
com a área de seção do tubo menor, em que a pressão do escoamento será
menor e a velocidade do fluido será maior. Portanto, a figura (I) é a correta.

b) A análise feita no item “a” da questão é igual neste caso. A direção do


escoamento não interfere nas condições de equilíbrio do manômetro e no
balanço de massa e energia aplicado no escoamento. Portanto, a figura (I)
continua sendo a correta.

101
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• As definições do balanço de massa podem ser simplificadas para um escoamento


de fluido incompressível (líquido) em regime permanente.

• O conceito do balanço de massa é aplicado para a dedução da equação da


continuidade.

• O fluxo volumétrico ou taxa de escoamento de fluidos por uma tubulação é


determinado através do cálculo da vazão volumétrica, vazão mássica ou vazão
em peso do fluido.

• Existem diferentes formas de energia associadas à dinâmica do escoamento de


um fluido e as definições do balanço de energia são aplicadas no escoamento
de fluidos em regime permanente.

• O conceito do balanço de energia é aplicado para a dedução da equação de


Bernoulli.

• A equação de Bernoulli apresenta limitações e simplificações que devem ser


consideradas em determinadas aplicações práticas.

• A presença de máquinas hidráulicas e as perdas de carga na tubulação devem


ser consideradas no balanço de energia representado pela equação de Bernoulli.

• As aplicações práticas da equação da continuidade, equação de Bernoulli


e cálculos de vazão incluem os sistemas de escoamento internos de fluidos
incompressíveis.

102
AUTOATIVIDADE

1 Ar escoa através de um tubo com vazão de 200L/s. O tubo consiste em


duas seções de 20 cm e 10 cm de diâmetro, conectadas por uma redução. A
diferença de pressão do escoamento entre as duas seções do tubo é medida
por um manômetro de tubo em “U” com água (ρ=1000 kg/m³). Desprezando
os efeitos de atrito, determine a altura diferencial de água no manômetro
entre as duas seções da tubulação. A densidade do ar é de 1,2kg/m³.

2 Um tanque cilíndrico, com volume de 1m³, ilustrado na figura a seguir, é


alimentado com água pelas torneiras A e B e é esvaziado pelas torneiras
C e D. A torneira A, sozinha, enche o tanque em quatro horas e, a torneira
B, sozinha, enche o tanque em cinco horas. A torneira C, sozinha, esvazia
o tanque em três horas e a torneira D, sozinha, esvazia o tanque em seis
horas. Com o nível de água no tanque em ¼ da capacidade total, as
quatro torneiras são abertas simultaneamente. Com base nas condições,
responda:

a) O nível de água no tanque vai aumentar, reduzir ou permanecer constante?


Justifique e discuta através dos cálculos de balanço de massa no tanque.

b) Se o nível de água no tanque aumentar ou reduzir, estime o tempo que


levaria para encher ou esvaziar o tanque. Considere que as vazões das
torneiras C e D não variam com o nível de água no tanque.

c) Se o volume do tanque fosse de 2m³, mantendo as condições de operação das


torneiras iguais, os resultados obtidos nos itens “a” e “b” seriam diferentes?
Justifique e discuta através dos cálculos de balanço de massa no tanque.

103
3 Uma torneira aberta despeja água em uma pia de banheiro com vazão
constante de 7,5L/min. A pia possui 3 orifícios (drenos) de descarga que
evitam o transbordamento da água no caso do ralo da pia estar fechado ou
entupido. O diâmetro de cada orifício é de 10mm. Determine a velocidade
média da água em cada orifício se o ralo da pia estiver fechado e o nível de
líquido na pia permanecer constante.

104
UNIDADE 2 TÓPICO 2

DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO


DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

1 INTRODUÇÃO
O objetivo, a partir deste tópico de estudo, é desenvolver os conhecimentos
e habilidades que são necessários para projetar e analisar o desempenho
de sistemas de escoamento de líquidos em tubulação com o uso de bombas
centrífugas em aplicações industriais. Você aprenderá a analisar os efeitos da
pressão, vazão e elevação do fluido no comportamento hidráulico. Um conceito
fundamental usado para analisar sistemas de escoamento em tubulações é a
aplicação da equação do princípio de conservação de energia, através da equação
de Bernoulli, que proporciona uma maneira de explicar a relação entre os três
tipos importantes de energias mecânicas de um fluido em escoamento.

O conceito de perdas de energia ou perdas de carga do fluido será


detalhado neste tópico de estudos. Será apresentada uma metodologia de cálculo
por etapas com o objetivo de quantificar as perdas de carga por tipo e por trecho
de escoamento. A partir da Unidade 3 a metodologia será aplicada em problemas
cujo objetivos são dimensionar e selecionar uma bomba centrífuga adequada
para um determinado sistema de escoamento de líquido.

Algumas definições são importantes em relação à técnica utilizada na


mecânica dos fluidos em relação aos regimes de escoamento.

2 ESCOAMENTOS EM REGIME LAMINAR E TURBULENTO


É possível notar que a fumaça de uma chaminé sobe em uma pluma
lisa nos primeiros centímetros e depois começa a flutuar aleatoriamente em
todas as direções à medida que continua sua ascensão. Da mesma forma, uma
inspeção cuidadosa no escoamento de um fluido em tubulações revela que
o escoamento tem um comportamento aerodinâmico em baixas velocidades,
mas se torna caótico e desordenado quando a velocidade é aumentada acima
de um valor crítico.

De acordo com Fox, McDonald, Pritchard e Mitchell (2018), o regime


do escoamento no primeiro caso é chamado de laminar, caracterizado por um
escoamento suave e um movimento do fluido altamente ordenado. No segundo
caso, o escoamento é chamado de turbulento, que é caracterizado por flutuações
de velocidade e movimento altamente desordenado.
105
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

A transição do escoamento laminar para o turbulento não ocorre de


repente. A transição ocorre em alguma região na qual o escoamento flutua entre
os regimes laminares e turbulentos antes de se tornar totalmente turbulento
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Muitos regimes de escoamento encontrados na prática são turbulentos. O


regime de escoamento laminar é encontrado quando fluidos altamente viscosos,
como óleos, escoam em tubos de pequenos diâmetros ou estreitos.

O conceito usado para caracterizar o regime de escoamento do fluido


pode ser verificado experimentalmente injetando algumas pequenas listras
contínuas de corante no escoamento em um tubo de vidro. A famosa experiência
foi realizada pelo engenheiro britânico Osborne Reynolds (1842–1912). A partir
da experiência, é possível observar que a linha de corante forma uma linha reta e
suave a baixas velocidades quando o escoamento é laminar (podemos ver algum
embaçamento por causa de difusão molecular e transferência de massa). A linha
de corante apresenta pequenos surtos de flutuações no regime de escoamento de
transição. No regime turbulento, a linha de corante movimenta-se aleatoriamente,
rapidamente e desordenadamente.

Tais movimentos tortuosos e a dispersão do corante são indicativos


das flutuações no escoamento principal e a mistura rápida de partículas de
fluido a partir de camadas adjacentes. A intensa mistura do fluido em regime
de escoamento turbulento como resultado de flutuações rápidas aumenta a
transferência de movimento entre partículas fluidas, resultando em um aumento
da força de atrito na parede do tubo (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Isso acarreta
em maior necessidade de potência de bombeamento para o fluido. O fator de
atrito atinge um valor máximo quando o fluxo se torna totalmente turbulento.

FIGURA 10 – COMPORTAMENTO DE UM TRAÇO DE CORANTE INSERIDO NO


ESCOAMENTO EM REGIME LAMINAR E TURBULENTO

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007, p. 279)

106
TÓPICO 2 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

A transição do escoamento em regime laminar para turbulento depende


da geometria e rugosidade da parede do tubo, velocidade do fluido, temperatura
da superfície e tipo de fluido, entre outros aspectos. Depois de exaustivos
experimentos na década de 1880, Osborne Reynolds descobriu que o regime de
escoamento depende, principalmente, da razão entre forças inerciais e forças
viscosas do fluido. A relação é um parâmetro adimensional chamado de número
de Reynolds, expresso pela equação:

(17)

Os termos do numerador são densidade, velocidade média do fluido e


diâmetro do tubo, respectivamente. O termo do denominador é a viscosidade
dinâmica do fluido.

Para grandes números de Reynolds, as forças inerciais, que são


proporcionais à densidade do fluido e ao quadrado da velocidade do fluido, são
grandes em relação às forças viscosas e, portanto, as forças viscosas não podem
impedir flutuações rápidas do fluido. Para números pequenos ou moderados de
Reynolds, no entanto, as forças viscosas são grandes para suprimir as flutuações
e manter o fluido "em linha ordenada". Assim, o fluxo é turbulento no primeiro
caso e, laminar, no segundo (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

O número de Reynolds quando o escoamento se torna turbulento é


chamado de número crítico de Reynolds. O valor do número crítico de Reynolds
é diferente para diferentes geometrias e condições de escoamento. Para o
escoamento interno em um tubo circular, o valor geralmente aceito do número
crítico de Reynolds é 2300 (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Não existem valores precisos de números de Reynolds que definem os


regimes de escoamento. A transição de um regime de escoamento laminar para
turbulento vai do grau de perturbação do escoamento por rugosidade da parede
do tubo, vibrações da tubulação e flutuações no escoamento a montante. Os
valores de números de Reynolds adotados na prática para classificação do regime
de escoamento são definidos a seguir:

Re < 2300 ⇒ Regime laminar


2300 ≤ Re ≤ 4000 ⇒ Regime de transição
Re > 4000 ⇒ Regime turbulento

3 DEFINIÇÃO DAS PERDAS DE CARGA


Uma quantidade de interesse na análise do escoamento em tubulação é a
queda de pressão do fluido devido às perdas de carga. O cálculo do parâmetro
107
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

está diretamente relacionado ao requisito de energia do ventilador ou da bomba


para manter o escoamento em regime permanente (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Uma queda de pressão devido a efeitos viscosos representa uma perda de


pressão irreversível. A queda de pressão é proporcional à viscosidade do fluido.
A variação de pressão no fluido seria zero se não houvesse atrito. No caso, a
queda de pressão entre dois pontos é inteiramente devido à viscosidade do fluido
(resistência ao escoamento) (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Na prática, é conveniente expressar a perda de pressão para todos os tipos


de escoamentos internos completamente desenvolvidos (escoamentos laminares
ou turbulentos, em dutos circulares ou não circulares, superfícies lisas ou rugosas,
tubos horizontais ou inclinados etc.).

Na análise de sistemas de tubulação, as perdas de pressão são comumente


expressadas em termos da altura equivalente da coluna de fluido, esta chamada
de perda de carga. Como a diferença de pressão é o produto , uma diferença
de pressão representa uma carga de altura de coluna de fluido .

A perda de carga por atrito de um fluido escoando em uma tubulação é


chamada de perda de carga distribuída (ou perdas de carga maiores). As perdas
de carga distribuídas na tubulação podem ser calculadas a partir da equação de
Darcy-Weisbach:

L v2
hf = fD
DH 2 g (18)

L é o comprimento total da tubulação; DH é o diâmetro hidráulico (para


dutos não circulares) ou diâmetro para tubos circulares; v é a velocidade média
do escoamento e fD é o fator de atrito de Darcy, um parâmetro adimensional que
deve ser calculado.

Para calcular o fator de atrito, utilizamos dois parâmetros dimensionais (o


número de Reynolds, Re e a rugosidade relativa ε/D) em conjunto com a leitura
dos dados inseridos no diagrama de Moody ou pela solução de uma equação
empírica para cálculo do fator de atrito. O diagrama de Moody é uma forma
prática e rápida de determinar o valor do fator de atrito, porém o uso do diagrama
pode apresentar grande imprecisão.

A perda de carga distribuída representa a altura adicional que o fluido


precisa ser elevado por uma bomba, a fim de superar as perdas de atrito no tubo.

Uma vez que a perda de pressão (ou perda de carga) é conhecida, a


potência do bombeamento necessário para superar a perda de pressão do fluido
pode ser calculada da seguinte maneira:
108
TÓPICO 2 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

Segundo a Lei de Poiseuille aplicada para escoamentos em regime


laminar para uma vazão especificada, a queda de pressão e, portanto, a potência
necessária de bombeamento, são proporcionais ao comprimento do tubo e à
viscosidade do fluido, mas são inversamente proporcionais à quarta potência
do raio ou diâmetro do tubo (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Assim, a exigência
de potência de bombeamento para um sistema de tubulação em regime laminar
pode ser reduzida por um fator de 16, dobrando o diâmetro do tubo. Os benefícios
da redução dos custos de energia devem ser ponderados em relação ao aumento
do custo de construção devido ao uso de um tubo de maior diâmetro (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007).

O fluido, em um sistema típico de tubulação, passa por vários acessórios,


válvulas, curvas, cotovelos, tês, entradas, saídas, expansões e contrações, além
das seções retas da tubulação. Tais componentes interrompem o fluxo suave do
fluido e causam perdas de energia (carga) adicionais por causa da separação de
escoamento e devido à mistura (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Em um sistema típico com tubos longos, as perdas são consideradas


menores do que as perdas por atrito. Embora seja geralmente verdade, em alguns
casos as perdas menores podem ser maiores que as perdas por atrito. É o caso,
por exemplo, em sistemas com vários acessórios instalados na tubulação em uma
curta distância (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

A perda de carga introduzida por uma válvula completamente aberta, por


exemplo, pode ser insignificante. Contudo, uma válvula parcialmente fechada
pode causar uma maior perda de carga no sistema, como evidenciado pela
redução da vazão. A dinâmica do escoamento através de válvulas e acessórios
é muito complexa. Assim, tal tipo de perda de carga de acessório é determinado
experimentalmente, geralmente pelos fabricantes (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Enquanto a maioria da perda de energia irreversível ocorre localmente


perto do acessório, parte das perdas ocorre a jusante (após) da válvula devido
a turbilhões de redemoinhos induzidos que são produzidos na válvula e
continuam a jusante. Tais redemoinhos "desperdiçam" energia mecânica porque
são dissipados em calor (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). A instalação de medidores
de pressão ou vazão do fluido na tubulação deve estar distante de acessórios
para evitar a influência dos turbilhões e vórtices. As perdas de carga localizadas
(singulares ou menores) em acessórios da tubulação podem ser calculadas a
partir da equação 19:

v2
hs = k acessório ⋅ ⋅ (n º de acessórios )
2g (19)

109
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

kacessório é uma constante característica de perda de carga do acessório,


definida em laboratório e, geralmente, é um dado fornecido pelo fabricante.

O cálculo do total de perdas de carga na tubulação é o somatório das


perdas de carga localizadas e das perdas de carga distribuídas:

H perdas = ∑ hs + ∑ h f
(20)

E
IMPORTANT

A rugosidade relativa é a rugosidade média da superfície do material dividida


pelo diâmetro do tubo. A rugosidade da superfície do material é a altura média das
saliências da superfície rugosa. O diagrama de Moody contém um quadro com o valor
médio da rugosidade de diversos materiais usados na fabricação de tubulações para
escoamento de fluidos.

4 USO DA EQUAÇÃO DE COLEBROOK-WHITE E DE


EQUAÇÕES EMPÍRICAS
A equação de Colebrook-White é a base utilizada para a construção do
diagrama de Moody. É a equação mais exata para o cálculo do fator de atrito
de Darcy, porém é a mais complexa, devido ao termo do fator de atrito (f) estar
implícito na equação, o que demanda uma série de cálculos para a solução.

Vários autores desenvolveram equações aproximadas a partir da equação


de Colebrook-White para o cálculo do fator de atrito. A vantagem das equações é
que o termo do fator de atrito está explícito na equação, o que facilita a resolução
algébrica. As desvantagens são equações aproximadas, aumentando o erro
relativo ao valor do fator de atrito. As equações empíricas para o cálculo do
fator de atrito de Darcy mais comuns são listadas a seguir, juntamente com a
equação de Colebrook-White. Cada uma das equações tem aplicações específicas,
dependendo das características do escoamento.

Equação de Colebrook-White (1939)

1 ε 2,51 
=−2 ⋅ log  D + 
f  3, 7 Re⋅ f 
 

110
TÓPICO 2 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

Equação de Haaland (1983)

  ε 
1,11

1 6,9  D  
≅ −1,8 ⋅ log  +
f  Re  3, 7  
   

Equação de Churchill (1973)

1 ε 7  
0,9
D 
≅ −2 ⋅ log  +  
f  3, 7  Re  
 

Equação de Swamme-Jai (1976)

1 ε 5, 74 
≅ −2 ⋅ log  D + 0,9 
f  3, 7 Re 
 
Equação de Barr (1972)

1 ε 5,15 
≅ −2 ⋅ log  D + 0,892 
f  3, 7 Re 
 
Equação de Sousa-Cunha-Marques (1999)

ε ε 
1 D 5,16 D 5, 09
≅ −2 ⋅ log  − ⋅ log  + 
f  3, 7 Re  3, 7 Re0,87  
  

As correlações empíricas para escoamento em tubos também podem ser


empregadas para cálculos que envolvem dutos não circulares, desde que suas
seções transversais não sejam demasiadamente grandes (FOX; McDONALD;
PRITCHARD; MITCHELL, 2018). Assim, dutos com seções transversais quadradas
ou retangulares podem ser tratados como dutos circulares se a razão entre a altura
e a largura (aspect ratio ou razão de aspecto) for superior a 0,25 e inferior a 4. As
correlações para escoamento turbulento em tubos são estendidas para uso com
geometrias não circulares pela introdução do conceito de diâmetro hidráulico (DH).
Portanto, o cálculo do diâmetro hidráulico para dutos não circulares é:

4A h
DH = com
= ar e 0, 25 ≤ ar ≤ 4
p b

111
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

A é a área da seção transversal e p é o perímetro molhado, ou seja, o


comprimento de parede em contato com o fluido escoando em qualquer seção
transversal. O fator 4 é introduzido para que o diâmetro hidráulico seja igual
ao diâmetro do duto para um tubo de seção circular. Para um duto circular, A =
πD²/4 e p = πD, de modo que DH=D.

Sob tais condições, as correlações para o escoamento em tubos fornecem


resultados com exatidão aceitáveis para dutos retangulares. Como a fabricação
dos dutos em chapa metálica fina é fácil e barata, eles são comumente usados em
sistemas de aquecimento, ventilação e condicionamento de ar. As perdas causadas
por escoamentos secundários aumentam rapidamente para geometrias mais
extremas, de modo que as correlações não se aplicam a dutos largos e achatados
ou a dutos de seção triangular ou irregular. Dados experimentais devem ser
utilizados quando informações precisas de projeto são requeridas para situações
específicas (FOX; McDONALD; PRITCHARD; MITCHELL, 2018).

5 USO DO DIAGRAMA DE MOODY


Um exemplo do método de leitura do diagrama de Moody é apresentado
na figura a seguir. No exemplo, supomos que o número de Reynolds do
escoamento é Re=91520 ou 9,152x104 em notação científica, como são indicados
os valores de números de Reynolds no eixo horizontal na base do diagrama.
Supomos também que o valor da rugosidade relativa da tubulação é de ε/D =
0,00140625, com indicação no eixo vertical à direita do diagrama.

Para a determinação do fator de atrito de Darcy (fD) nas condições do


escoamento e tubulação, devemos marcar os pontos relativos ao valor de Re e ε/D
no diagrama. Em seguida, a partir do valor de Reynolds encontrado, traçamos
uma linha vertical ascendente (linha destacada em vermelho).

A linha do número de Reynolds vai interceptar outra linha que deve ser
traçada a partir do ponto do diagrama de Moody relativo ao valor da rugosidade
relativa. É importante notar que a linha traçada a partir do valor de ε/D, no sentido
da direita para esquerda, é uma linha reta até a linha tracejada que divide a região
dos escoamentos turbulentos lisos e rugosos. Após cruzar a linha tracejada,
devemos executar uma suave curva ascendente na linha da rugosidade relativa,
acompanhando o sentido das curvas adjacentes até interceptar a linha vertical a
partir do valor de Reynolds (linha destacada em preto).

A partir do ponto de encontro entre as linhas Re e ε/D, traçamos uma nova


linha reta horizontal (linha destacada em verde) até o eixo vertical da esquerda do
diagrama. Estão inseridos os valores de fator de atrito de Darcy (fD). Assim, o
valor de fD pode ser determinado. No exemplo, o valor aproximado do fator de
atrito de Darcy é de fD=0,023.

112
TÓPICO 2 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

É importante ressaltar que a técnica de leitura no diagrama de Moody


é utilizada apenas para escoamento em regime turbulento (Re > 4000). Para
os escoamentos em regime laminar (Re < 2300), que não sofrem influência da
rugosidade relativa da tubulação, o cálculo do fator de atrito é feito apenas
com o número de Reynolds, pois determinado tipo de escoamento é função
apenas do parâmetro adimensional. Para escoamentos laminares, portanto, fD
(fator de atrito de Darcy) e fF (fator de atrito de Fanning), podem ser calculados
da seguinte forma:

Uma maneira de verificar se o diagrama de Moody apresenta valores de


fD ou fF, é verificar a equação na linha do escoamento laminar. Se o numerador
for 64, o fator de atrito é de Darcy; se o numerador for 16, o fator de atrito é
de Fanning.
FIGURA 11 – DIAGRAMA DE MOODY

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007, p. 783)

113
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

FIGURA 12 – DETALHE DA FORMA DE LEITURA DO FATOR DE ATRITO DE DARCY (FD) NO


DIAGRAMA DE MOODY

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007, p. 783)

6 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
• Após uma forte chuva, a água da rua (ρ = 1000 kg/m³ e μ = 0,001
Pa·s) escoa através de um esgoto de drenagem (coletores de água de
temporais) e preenche totalmente um tubo de concreto novo liso de 46cm
de diâmetro. Se a vazão do escoamento de água pelo tubo de concreto é
de 280L/s, calcule:

a) A queda de pressão (P1-P2) para um trecho reto do tubo (ponto 1 para ponto 2
de referência) com comprimento de 30,48m.

b) A queda de pressão (P1-P2) para um trecho inclinado do tubo (ponto 1 para


ponto 2 de referência) com comprimento de 30,48m cuja inclinação causa uma
elevação de 0,61m no ponto 2. Considere o escoamento ascendente.

Considere apenas a perda de carga distribuída relevante para a queda de


pressão do fluido.

Água → ρ = 1000 kg/m³ Concreto novo liso → ε = 0,305 mm

μ = 1x10-3 Pa·s

114
TÓPICO 2 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

Solução: Cálculo da velocidade média do escoamento da água:

Cálculo do fator de atrito para determinação das perdas de cargas


distribuídas em cada caso:

Com os valores de números de Reynolds e rugosidade relativa, podemos


utilizar o diagrama de Moody ou a equação de Haaland (1983) para determinação
do fator de atrito de Darcy. Pela leitura no diagrama de Moody:

Aplicação da equação de Bernoulli para determinação da queda de


pressão entre os pontos do escoamento devido à perda de carga distribuída:

Para o item “a” da questão:

Como o tubo é horizontal e de diâmetro constante; h1=h2 e v1=v2:

115
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Para o item “b” da questão:

O tubo agora possui uma inclinação, causando diferença de elevação entre


os pontos 1 e 2 de referência. O diâmetro é constante, portanto v1=v2:

• Água escoa por uma tubulação inclinada de diâmetro constante, conforme


figura a seguir. O trecho da tubulação considerado para análise não possui
máquinas e acessórios. As condições do escoamento medidas na tubulação são:

- Pressão manométrica do fluido no ponto “a” = 223,39 kPa


- Pressão manométrica do fluido no ponto “b” = 204,77 kPa
- Elevação do ponto “a” = 17,31m
- Elevação do ponto “b” = 20,79m

Com base na equação de Bernoulli e nas perdas de cargas distribuídas,


verifique se o escoamento ocorre de “a” para “b” ou de “b” para “a”. Justifique sua
resposta com base em seus cálculos. Adote g=10m/s² e ρágua = 1000kg/m³.

FIGURA 13 – ÁGUA ESCOA POR UMA TUBULAÇÃO INCLINADA DE DIÂMETRO CONSTANTE

FONTE: O autor

116
TÓPICO 2 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

Solução: para definir a direção do escoamento entre os dois pontos, aplica-


se a equação de Bernoulli para cada uma das situações:

Escoamento de “a” para “b”

Como o diâmetro da tubulação é constante, va=vb:

Escoamento de “b” para “a”

Como o diâmetro da tubulação é constante, va=vb:

Como as perdas de carga sempre devem ser quantidades positivas no


termo da equação de Bernoulli, o escoamento do fluido nas condições propostas
é de “b” para “a”. A carga de elevação maior no ponto “b” converte-se em carga
de pressão no ponto “a”.

• Em uma indústria química, o clorofórmio escoa a uma vazão de 36m³/h por


meio de uma tubulação horizontal de aço carbono comercial (ε=0,046mm)
com 250m de comprimento, conforme ilustra a figura a seguir. A tubulação é
nominal de 4” e schedule 40 (Dinterno=102,3mm). As propriedades do clorofórmio
são: ρ=1470kg/m³ e μ=0,00053Pa·s.

117
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

FIGURA 14 – CLOROFÓRMIO ESCOA A UMA VAZÃO DE 36M³/H POR MEIO DE UMA


TUBULAÇÃO HORIZONTAL DE AÇO CARBONO COMERCIAL (Ε=0,046MM) COM
250M DE COMPRIMENTO

FONTE: O autor

Com os dados, determine:

a) A velocidade média do escoamento na tubulação.


b) O número de Reynolds (Re). Classifique o regime do escoamento.
c) O fator de atrito de Darcy (fD) com o diagrama de Moody.
d) Com a equação de Bernoulli e o fator de atrito, determine a queda de pressão
sofrida pelo fluido no trecho do escoamento. Não há acessórios na tubulação.
e) Considere que a queda de pressão máxima admitida no escoamento do
clorofórmio seja de 0,23bar para cada 100m de tubulação. Sendo a queda de
pressão linearmente proporcional ao comprimento da tubulação, verifique
se o escoamento do clorofórmio contempla a especificação relativa à queda
de pressão máxima. Demonstre o cálculo para justificar sua resposta. Adote
1 bar = 100.000Pa.

Solução:

a)

b)

Como o número de Reynolds é maior que 2100, o escoamento ocorre em


regime turbulento.

118
TÓPICO 2 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

c) Com Re=345025,09 e rugosidade relativa:

Determinamos o fator de atrito através da leitura no diagrama de Moody:

d) Como o tubo é horizontal e de diâmetro constante; h1=h2 e v1=v2:

O fluido perde 0,4727 bar de energia de pressão devido às perdas de


cargas por atrito nos 250m de comprimento de tubulação.

e)
Sendo que a queda de pressão do escoamento varia linearmente em função do
comprimento da tubulação, a verificação pode ser feita da seguinte maneira:

0,23bar (queda de pressão máxima admitida)----------100m de tubo


0,4727 bar (queda de pressão no escoamento)---------- “X” m
X=205,52m

Seria o comprimento da tubulação para uma queda de pressão no valor


crítico estabelecido. Como o fluido escoa por 250m de comprimento de tubulação
com a mesma queda de pressão limitante a 205,52m, o projeto contempla a
especificação de queda de pressão máxima admitida.

Alternativamente, é possível solucionar a questão da seguinte maneira:

0,23bar (queda de pressão máxima admitida) ---------- 100m de tubo


“X” bar ----------------------------------- 250 m de tubo (comprimento real da tubulação)
X=0,575bar

119
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Seria a queda de pressão máxima admitida em um comprimento de


tubulação de 250m. Como o escoamento há uma queda de pressão menor do que
o valor (0,4727bar < 0,575bar). O projeto contempla a especificação de queda de
pressão máxima admitida.

• Um reservatório de uma indústria alimentícia armazena óleo de milho a 25ºC


(ρ=933kg/m³ e μ=0,0565 Pa·s), como ilustrado na figura a seguir. A tubulação
de saída do tanque é formada por três segmentos de tubos com diâmetros
decrescentes, isto é, D1>D2>D3. As relações entre os diâmetros são: D1=2,5·D3 e
D2=1,5·D3. Os comprimentos da tubulação estão indicados na figura a seguir.
A vazão mássica de descarga do óleo, que escoa por gravidade, deve ser de
12000kg/h, porém, devido a características do produto, é importante assegurar
que o escoamento seja laminar (Re<2300) por todo o trecho de tubos.

As perdas de cargas localizadas devido às curvas e à saída do reservatório


podem ser desprezadas. Com base nos parâmetros, determine:

a) O diâmetro mínimo para D3 admissível no caso.


b) A máxima altura (hóleo) de óleo de milho no reservatório necessária para que as
condições do problema sejam atendidas.

FIGURA 15 – RESERVATÓRIO DE UMA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA ARMAZENA ÓLEO DE


MILHO A 25ºC

FONTE: Adaptado de Tadini, Tellis, Meirelles e Pessoa Filho (2016, p. 153)

120
TÓPICO 2 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

Solução: Para garantir que o escoamento seja laminar em todos os trechos


da tubulação, devemos limitar o valor do número de Reynolds a 2300 no trecho
de tubulação de menor diâmetro (D3), que é onde o fluido terá a maior velocidade,
portanto, é a pior condição. Se no trecho da tubulação o escoamento contemplar
o regime laminar, nos outros trechos com diâmetros maiores (e velocidades
menores de escoamento) o regime de escoamento também será laminar.

Cálculo da vazão volumétrica:

Sendo o escoamento em regime permanente

Cálculo do valor de diâmetro da tubulação 3 para contemplar o requisito de


escoamento laminar :

Substituindo a equação (**) na equação (*):

121
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

É o diâmetro mínimo da tubulação 3 para garantir o escoamento em


regime laminar.

Determinação dos diâmetros das tubulações 1 e 2:

Cálculo das velocidades do escoamento nas tubulações 1, 2 e 3:

Cálculo das perdas de cargas distribuídas nas tubulações 1, 2 e 3:

Trecho “L1”:

122
TÓPICO 2 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

No trecho, o escoamento é laminar (Re≤2300). No escoamento laminar,


o fator de atrito não depende da rugosidade do tubo, sendo apenas função do
número de Reynolds (fD=ϕRe). Portanto, podemos calcular o valor do fator de
atrito para escoamentos laminares da seguinte forma (vide diagrama de Moody):

Trecho “L2”:

No trecho, o escoamento é laminar (Re≤2300). No escoamento laminar,


o fator de atrito não depende da rugosidade do tubo, sendo apenas função do
número de Reynolds (fD=ϕRe). Portanto, podemos calcular o valor do fator de
atrito para escoamentos laminares da seguinte forma (vide diagrama de Moody):

Trecho “L3”:

No trecho, o escoamento é laminar (Re≤2300). No escoamento laminar,


o fator de atrito não depende da rugosidade do tubo, sendo apenas função do
número de Reynolds (fD=ϕRe). Portanto, podemos calcular o valor do fator de
atrito para escoamentos laminares da seguinte forma (vide diagrama de Moody):

123
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Agora, é possível determinar o total de perdas de cargas pelos trechos


da tubulação:

Por fim, aplicamos a equação de Bernoulli entre os pontos A (superfície


livre do líquido no tanque) e B (descarga do líquido), aplicando as seguintes
hipóteses simplificadoras:

● Velocidade da superfície livre do líquido desprezível (tanque de grandes


dimensões e tubulação de descarga pequena), portanto, vA≈0.
● Cargas de pressões nulas, pois os pontos estão abertos à pressão atmosférica.
● Ponto horizontal de referência adotado no ponto “B”, portanto, hB = 0.

Portanto, a máxima altura de coluna de óleo de milho permitida no tanque


para que o escoamento seja laminar nos trechos da tubulação é de até 7 metros.

E
IMPORTANT

Para escoamentos laminares, é recomendado multiplicar a carga cinética


da equação de Bernoulli pelo fator de correção de energia cinética ou fator de Coriolis
(α) devido às elevadas variações de velocidade na seção do tubo. Para escoamentos em
regime laminar, o fator de correção de energia cinética pode ser assumido como α=2. O
fator de correção de energia cinética para escoamentos turbulentos pode ser assumido
com valores entre 1,04 e 1,11, mas geralmente é considerado α=1, já que os termos
relativos à energia cinética na equação de Bernoulli quase sempre são pequenos quando
comparados aos outros termos da equação e sua multiplicação por um fator menor que 2
não faz muita diferença. Ainda, para altas velocidades, o escoamento se torna turbulento e
com pequenas variações de velocidade no perfil do escoamento.

124
TÓPICO 2 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

Como sugestão de exercício, repita o Exemplo de Aplicação 4, considerando


o fator de correção de energia cinética, α=2, para o escoamento laminar do óleo de
milho. Verifique o erro percentual no resultado da altura de coluna de líquido no
tanque considerando as duas abordagens.

• Dióxido de carbono a 20ºC escoa por uma tubulação a uma vazão em peso de
0,04N/s. Determine qual o diâmetro máximo permitido ao tubo, em polegadas,
para o escoamento do gás ser turbulento (Re ≥ 4000). Adote g=10m/s² e
1”=25,4mm. Propriedades físicas do dióxido de carbono (CO2):

ρ = 1,83 kg/m³
μ = 1,47x10-5 Pa·s

Solução: conversão da vazão em peso em vazão volumétrica:

Para que o escoamento seja em regime laminar, o número de Reynolds


deve ser inferior a 4000. Portanto, utilizamos a condição crítica para o cálculo do
diâmetro de tubo requerido na equação do número de Reynolds com a velocidade
(desconhecida) em função da vazão volumétrica:

E
IMPORTANT

O diâmetro máximo do tubo para garantir o escoamento turbulento é de 3,41”.


Acima do valor de diâmetro, a velocidade será reduzida e o escoamento se tornará laminar.
Como não existem tubos padronizados neste valor de diâmetro, podemos utilizar um tubo
de 3” padronizado, pois com o diâmetro menor de tubo a velocidade do fluido será ainda
maior, garantindo um escoamento turbulento.

125
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

LEITURA COMPLEMENTAR

O DIAGRAMA DE MOODY E AS EQUAÇÕES EMPÍRICAS

O fator de atrito no escoamento turbulento e totalmente desenvolvido,


ou seja, distante da entrada em um comprimento maior do que dez vezes o
diâmetro da tubulação, é função do número de Reynolds e da rugosidade
relativa, razão entre a altura média da rugosidade do tubo e do diâmetro do
tubo. A forma funcional da dependência não pode ser obtida a partir de uma
análise teórica e resultados disponíveis são obtidos a partir de experimentos
meticulosos usando superfícies artificialmente rugosas (geralmente colando
grãos de areia de tamanho conhecido na superfícies interna dos tubos). A maioria
dos experimentos foi realizada pelo aluno de Ludwig Prandtl, J Nikuradse, em
1933, com trabalhos de outros.

O fator de atrito foi calculado a partir de medições de vazão e da queda


de pressão. Os resultados experimentais são apresentados em tabelas, gráficos e
equações obtidas por ajuste da curva de dados experimentais. Em 1939, Cyril F.
Colebrook (1910-1997) combinou os dados disponíveis para o escoamento tanto
em tubos lisos quanto rugosos, na relação empírica conhecida como equação de
Colebrook. Notamos que o logaritmo da equação está na uma base 10 em vez de
logaritmo natural. Em 1942, o engenheiro americano Hunter Rouse (1906-1996)
validou a equação de Colebrook e produziu um gráfico de fator de atrito como
uma função de número de Reynolds e do produto Re . Ele também apresentou
a relação do escoamento laminar e uma tabela de rugosidade de tubo comercial.

Dois anos depois, Lewis F. Moody (1880–1953) refez o diagrama de


Rouse no formato usado atualmente. O agora famoso diagrama de Moody
apresenta o fator de atrito de Darcy para o escoamento em tubos em função do
número de Reynolds e da rugosidade relativa do tubo em um amplo intervalo.
É provavelmente um dos diagramas mais utilizados na Engenharia. Embora ele
seja desenvolvido para tubos circulares, pode ser usado para tubos não circulares,
substituindo o diâmetro pelo diâmetro hidráulico.

Tubos comercialmente disponíveis diferem daqueles usados nos


experimentos, pois a rugosidade dos tubos comericiais não é uniforme e aumenta
ao longo do tempo de uso, dificultando uma descrição precisa. Os valores de
rugosidade equivalentes para alguns dos tubos no diagrama de Moody devem
ser usados como referência, lembrando que tais valores são para tubos novos e
a rugosidade dos tubos pode aumentar com o uso como resultado de corrosão,
acúmulo de resíduos (incrustação) e precipitação. Como resultado, o fator de
atrito pode aumentar em um fator de 5 a 10.

As condições operacionais reais devem ser consideradas no projeto de


sistemas de tubulação. Da mesma forma, o diagrama de Moody e sua equação
equivalente de Colebrook envolvem várias incertezas (o tamanho da rugosidade,
erro experimental, ajuste de curva de dados etc.) e, portanto, os resultados obtidos
não devem ser tratados como precisos. Eles são geralmente considerados precisos
até sobre todo o intervalo no gráfico.
126
TÓPICO 2 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE I

A equação de Colebrook está implícita em f e, assim, a determinação do


fator de atrito requer um método matemático. Uma relação explícita aproximada
para f foi dada por S. E. Haaland em 1983. Os resultados obtidos com a equação de
Haaland geralmente diferem no máximo 2% dos resultados obtidos na equação
de Colebrook. Se resultados mais precisos forem desejados, a equação de Haaland
pode ser usada para obter uma estimativa inicial para o cálculo de iteração de
Newton da equação de Colebrook.

Algumas observações em relação ao diagrama de Moody:

• Para escoamento laminar, o fator de atrito diminui com o aumento do número


de Reynolds, e é independente da rugosidade da superfície.

• O fator de atrito é mínimo para um tubo liso (mas ainda não é zero por conta
da condição de não deslizamento do fluido e forças viscosas) e aumenta com
a rugosidade. A equação de Colebrook, no caso, com ε=0 se reduz para a
equação de Prandtl.

• A região de transição do regime laminar para turbulento (2300 < Re < 4000) é
indicada pela área sombreada no diagrama de Moody. O escoamento na região
pode ser laminar ou turbulento, dependendo de distúrbios no escoamento, ou
pode alternar entre laminar e turbulento e, portanto, o fator de atrito também
pode alternar entre os valores de escoamento laminar e turbulento. Os dados no
intervalo são os menos confiáveis. Em pequenas rugosidades relativas, o fator de
atrito aumenta na região de transição e se aproxima do valor para tubos lisos.

• Para números de Reynolds muito grandes (à direita da linha tracejada do


diagrama), as curvas do fator de atrito correspondentes às curvas de rugosidade
relativas especificadas são quase horizontais e, portanto, os fatores de atrito
não dependem do número de Reynolds. O escoamento na região é chamado
de escoamento turbulento completamente rugoso porque a espessura da
subcamada viscosa diminui com o aumento do número de Reynolds, e torna-
se tão fina que é insignificante em comparação com a altura da rugosidade
média da superfície do tubo. Os efeitos viscosos são produzidos no
escoamento principal principalmente pelos elementos de rugosidade salientes
e protuberantes, e a contribuição da subcamada viscosa laminar é desprezível.
A equação de Colebrook na zona completamente rugosa se reduz à
equação de von Kármán, que é explícita em f. Alguns autores chamam a zona
de escoamento completamente (ou totalmente) de turbulenta, mas é enganoso,
pois o escoamento à esquerda da linha azul tracejada do diagrama de Moody
também é totalmente turbulento.

Nos cálculos, devemos nos certificar de que usamos o diâmetro interno


real do tubo, que pode ser diferente do diâmetro nominal comercial. Por exemplo,
o diâmetro interno de um tubo de aço cujo diâmetro nominal é 1 in é 1.049 in.

FONTE: ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações.


3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. p.367-369.

127
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Durante o escoamento em tubulações, o fluido sofre uma redução da sua


pressão devido às perdas de carga ou energia devido ao atrito e à presença de
acessórios na tubulação.

• A queda de pressão sofrida pelo fluido durante o escoamento pode ser


reversível ou irreversível.

• A queda de pressão do fluido no escoamento sofre influência das perdas de


carga irreversíveis.

• As perdas de carga do fluido são caracterizadas como perdas localizadas


(singulares ou menores) e perdas distribuídas (maiores).

• As perdas de carga localizadas ou menores (hs) são singulares em pontos


específicos da tubulação.

• A perda de carga provocada pelo acessório da tubulação depende da sua


constante característica (k acessório) definida experimentalmente pelo
fabricante.

• As perdas de carga distribuídas ou maiores (hf) ocorrem devido ao atrito do


fluido na superfície interna da tubulação.

• Existe uma relação entre a perda de carga distribuída com o fator de atrito de
Darcy (fD) e outros parâmetros da tubulação.

• Vários parâmetros são importantes para o cálculo das perdas de carga do


fluido no escoamento, tais como o número de Reynolds (Re), diâmetro de tubo
(D), velocidade de escoamento (v), rugosidade relativa (ε/D), tipo e número de
acessórios e comprimento da tubulação.

• O cálculo do fator de atrito de Darcy (fD) pode ser efetuado com base no uso
do diagrama de Moody ou das equações empíricas, sendo as mais comuns a
equação de Colebrook-White (1939), Churchill (1973) e Haaland (1983).

• A metodologia de cálculo de perdas de carga pode ser aplicada na prática em


sistemas de escoamento de fluidos.

128
AUTOATIVIDADE

1 Uma tubulação de aço para condução de água é constituída por três trechos
em série:
Trecho 1: D1 = 250mm; L1 = 1000m
Trecho 2: D2 = 200mm; L2 = 1800m
Trecho 3: D3 = 150mm; L3 = 2500m

A vazão é de 180m³/h. O fator de atrito de Darcy da tubulação pode ser


considerado 0,014 por todo o comprimento dos trechos da tubulação. Adote
g=9,81m/s². Calcule:

a) A perda de carga total pela tubulação.


b) Se a queda de pressão máxima da água pelos trechos deve ser inferior a 15
bar, verifique se o sistema contempla o parâmetro.

2 Calcule a perda de carga total no escoamento de 18m³/h de água a 20 °C


através de 30m de tubo horizontal de ferro galvanizado com diâmetro
interno igual a 54,3mm.

Hipóteses e dados a serem considerados:

Escoamento permanente e incompressível; perdas de carga localizadas


desprezíveis.

Propriedades da água a 20°C: ρ=998,2 kg/m³ e μ=0,001 Pa·s.

Determine o fator de atrito de Darcy com o diagrama de Moody e com a


equação de Haaland (1983). Verifique qual é o erro percentual entre os dois valores.

3 A água de processo utilizada em uma indústria escoa a uma vazão de 56,6 L/s
por um velho e enferrujado tubo com diâmetro interno de 6 in. A rugosidade
relativa do tubo é de 0,01. Os operadores da fábrica sinalizam que a perda de
pressão da água ao longo do comprimento do escoamento é muito alta no
tubo velho. Um engenheiro, então, propõe que se o velho tubo for forrado
em sua superfície interna com uma camada fina e lisa de um determinado
polímero, com rugosidade relativa igual a zero, a queda de pressão ao longo
do comprimento do tubo pode ser reduzida. Contudo, se o tubo for forrado
com a camada de material plástico, o seu diâmetro interno reduzirá para 5
in, conforme ilustra a figura a seguir. O supervisor da fábrica orienta que a
vazão do escoamento não pode mudar com a aplicação da camada lisa de
plástico no tubo e que o projeto só será aceito se o procedimento sugerido
reduzir a queda de pressão para cada 100m de comprimento em, no mínimo,
10%. Com base na situação, avalie:

129
a) A sugestão do engenheiro é verdadeira? A queda de pressão no escoamento
para cada 100m de comprimento de tubo será menor com a aplicação da
camada de plástico liso? Justifique com base nos cálculos.
b) Se confirmada a sugestão do engenheiro, qual a redução percentual na
queda de pressão da tubulação? O projeto será aceito?

Água → ρ = 1000 kg/m³


μ = 1x10-3 Pa·s

4 Óleo escoa por uma tubulação horizontal de diâmetro constante conforme


ilustra a figura a seguir. Um manômetro diferencial de tubo em U que
usa mercúrio (ρ=13600 kg/m³) como fluido manométrico mede a queda
de pressão do escoamento ao longo de dois pontos do tubo. Devido à alta
viscosidade do óleo o escoamento é laminar.

Nas condições, calcule:

a) O valor máximo de “h” admissível para a altura do mercúrio no manômetro


se o escoamento do óleo for laminar (Re ≤ 2100). O que aconteceria se o valor
de “h” fosse igual a zero? Justifique.
b) A vazão do escoamento em m³/h?

Óleo → ρ = 890 kg/m³ Mercúrio → ρ = 13600 kg/m³


μ = 0,1 Pa·s

130
5 Uma companhia instala um sistema de emergência de proteção contra
fogo que consiste em um poço (fonte de água), uma bomba centrífuga de
alta pressão movida à gasolina e um sistema de tubos para o edifício (vide
esquema a seguir). Se a vazão da água a 21ºC for igual a 8,5L/s e a pressão
de descarga da bomba (P1) for igual a 827kPa, determine:

a) A velocidade do escoamento de água pela tubulação.


b) O fator de atrito de Darcy, considerando o diagrama de Moody e a equação
de Haaland. Calcule a diferença percentual no valor de f para as duas análises.
c) O total de perdas de carga no sistema de escoamento, em bar e em psig.
d) A pressão de saída (P2) no topo da instalação.
e) O que causa a queda de pressão do fluido no trecho de escoamento?
Demonstre sua explicação com o auxílio da equação de Bernoulli. Se um
parâmetro de projeto especifica que a queda máxima de pressão entre a
descarga da bomba e saída no topo da instalação não pode ser maior que 2
bar, verifique se o projeto está bem dimensionado. Justifique.

Dados da água Dados da tubulação

ρ = 998kg/m³ Aço carbono comercial


μ = 0,001002 Pa·s D = 152,4mm
ε = 0,045mm
Dados do acessório

Joelho
kacessório = 0,9

131
132
UNIDADE 2 TÓPICO 3

DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO


DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

1 INTRODUÇÃO
Ao final da unidade, após serem apresentadas as definições de conceitos,
deduções de equações e aplicações práticas, algumas considerações sobre a
dinâmica dos fluidos devem ser relembradas.

O escoamento de um líquido ou gás através de tubos ou dutos é comumente


usado em aquecimento e aplicações de resfriamento e redes de distribuição
de fluidos. O fluido, em tais aplicações, normalmente é forçado a fluir por um
ventilador ou bomba através de uma seção do sistema de escoamento. O atrito,
conforme já comentado, está diretamente relacionado à queda de pressão durante
o escoamento através de tubos e dutos. A queda de pressão é, então, usada para
determinar o requisito de potência de bombeamento. Uma tubulação de recalque
de fluidos típica envolve tubos de diferentes diâmetros ligados entre si por várias
conexões e curvas para direcionamento do fluido, válvulas para controle da taxa
do escoamento (vazão) e bombas para poderem pressurizar o fluido (ÇENGEL;
CIMBALA, 2015).

A maioria dos fluidos, especialmente líquidos, é transportada em tubos


circulares. Isso ocorre porque os tubos com uma seção transversal circular podem
suportar grandes diferenças de pressão entre o interior e o exterior sem distorção
significativa (ÇENGEL; CIMBALA, 2015). Tubos não circulares são geralmente
usados em aplicações como os sistemas de aquecimento e resfriamento de
edifícios. A diferença de pressão é relativamente pequena, a fabricação e os custos
de instalação são menores e o espaço disponível é limitado para serviços de dutos.

Embora a teoria que envolve o escoamento de fluidos seja razoavelmente


conhecida e bem documentada, soluções teóricas exatas são obtidas apenas para
alguns casos simples, como o desenvolvimento do fluxo laminar em um tubo
circular. Portanto, geralmente, recorre-se a resultados experimentais e equações
empíricas para a maioria dos problemas de escoamento ao invés de soluções
analíticas de forma fechada para um problema (ÇENGEL; CIMBALA, 2015).

Observando que os resultados experimentais são obtidos sob condições


laboratoriais cuidadosamente controladas e que nenhum equipamento ou sistema
é exatamente igual ao outro, não é boa prática considerar os resultados obtidos
como “exatos”. Por exemplo, um erro de 10% ou mais no cálculo de fatores de
133
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

atrito é absolutamente comum. A velocidade do fluido em um tubo varia de ‘zero’


na parede do tubo para contemplar a condição de não deslizamento para um valor
máximo no centro da tubulação. Conforme discutido no Tópico 1, no escoamento
de fluidos é conveniente utilizar uma velocidade média que permanece constante
em escoamento incompressível quando a área da seção transversal do tubo é
constante. A velocidade média em aplicações de aquecimento e resfriamento pode
variar um pouco por conta de mudanças na densidade em função da temperatura.
Contudo, na prática, as propriedades do fluido são avaliadas em uma temperatura
média e elas são consideradas constantes (ÇENGEL; CIMBALA, 2015).

O atrito entre as partículas de fluido em um tubo causa um ligeiro aumento


na temperatura do fluido como resultado da energia mecânica sendo convertida
para energia térmica (calor sensível). Contudo, o aumento de temperatura devido
ao aquecimnto em função do atrito é geralmente muito pequeno para justificar
qualquer consideração nos cálculos (ÇENGEL; CIMBALA, 2015; MUNSON;
YOUNG; OKIISHI, 2004). Assim, o fenômeno é desconsiderado.

Na ausência de transferência de calor, nenhuma diferença perceptível


pode ser detectada entre as temperaturas de entrada e saída de um fluido que
escoa em um tubo. A principal consequência do atrito no escoamento de fluidos
é queda de pressão e, portanto, qualquer alteração significativa na temperatura
do fluido é devido à transferência de calor externa (ÇENGEL; CIMBALA, 2015).

2 PROBLEMAS TÍPICOS EM ESCOAMENTO DE FLUIDOS


De acordo com Çengel e Cimbala (2007), os problemas práticos de
Engenharia, envolvendo escoamento de fluidos que demandam o uso do
diagrama de Moody ou equações empíricas para cálculo do fator de atrito de
Darcy (fD), podem ser classificados de acordo com os parâmetros conhecidos
e os parâmetros que necessitam de cálculo. Os tipos de problemas práticos de
escoamentos de fluidos são categorizados no Quadro 1.

QUADRO 1 – PARÂMETROS E TIPOS DE PROBLEMAS EM ESCOAMENTO DE FLUIDOS

Tipo de problema Dados conhecidos Dados a determinar


Queda de pressão ou perdas de
I Diâmetro e vazão
carga na tubulação
Diâmetro e queda de pressão Vazão ou velocidade do
II
(perdas de carga) escoamento
Vazão e queda de pressão (perdas
III Diâmetro da tubulação
de carga)

Vazão, diâmetro e queda de


IV* Comprimento da tubulação
pressão (perdas de carga)

FONTE: A autora
134
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

O problema do tipo IV é similar ao problema do tipo I, com solução direta.


Na maioria das referências sobre o assunto não é considerado um problema
típico de escoamento de fluido. O tipo de problemas é resolvido com a equação
de Bernoulli e de Darcy-Weisbach. A vazão (e velocidade do escoamento)
conhecida leva ao número de Reynolds em função do diâmetro da tubulação.
Com o número de Reynolds e rugosidade relativa da tubulação, calculamos
o fator de atrito de Darcy para o escoamento com o diagrama de Moody. A
equação de Bernoulli pode ser então rearranjada e resolvida diretamente para o
comprimento de tubo e isolando a variável (L) em termos dos dados conhecidos
ou calculáveis (FOX; McDONALD; PRITCHARD; MITCHELL, 2018).

E
IMPORTANT

Para os problemas práticos de escoamento de fluidos do tipo I, II e III, as


propriedades físicas do fluido (densidade e viscosidade) e o comprimento da tubulação e
sua rugosidade (em função do material do tubo) devem ser conhecidos.

Para complementar os conceitos, segundo Fox, McDonald, Pritchard e


Mitchell (2018), a análise do escoamento de fluidos em tubulações pode se tornar
um desafio matemático, pois, geralmente, as equações não podem ser resolvidas
diretamente de forma algébrica. Quando o escoamento é em regime laminar, as
soluções das equações são diretas, pois a perda de carga varia linearmente com a
velocidade do escoamento, tornando as equações simples o suficiente para serem
resolvidas algebricamente.

Quando o escoamento é em regime turbulento, a perda de carga não varia


linearmente com a velocidade do escoamento, tornando as equações complexas
demais para serem resolvidas algebricamente (FOX; McDONALD; PRITCHARD;
MITCHELL, 2018). Assim, quando o escoamento é em regime turbulento (a grande
maioria dos casos na prática) são adotadas soluções de sistemas de equações com
auxílio de programas computacionais aplicados ou adota-se o método tradicional
de classificação do problema de escoamento de fluido em determinados tipos.
A figura a seguir resume as estratégias usadas para resolução de problemas de
escoamentos de fluidos em tubulações.

135
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

FIGURA 16 – ESTRATÉGIAS PARA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE ESCOAMENTO DE


FLUIDOS EM TUBULAÇÕES

FONTE: O autor

2.1 PROBLEMAS DO TIPO I – DETERMINAÇÃO DA QUEDA


DE PRESSÃO OU PERDA DE CARGA COM VAZÃO E
DIÂMETRO DE TUBULAÇÃO
Os problemas do Tipo I têm uma abordagem de resolução direta e podem
ser solucionados com o auxílio do diagrama de Moody. A equação de Bernoulli
pode ser resolvida diretamente em termos dos dados conhecidos ou calculáveis.
A informação da vazão (ou velocidade de escoamento) permite calcular o número
de Reynolds e, portanto, o fator de atrito de Darcy para o escoamento. A equação
de Bernoulli pode então ser usada diretamente para obter a queda de pressão ou
perda de carga.

Tais tipos de problemas são etapas necessárias na determinação da


carga hidráulica da bomba (Hbomba) necessária para o sistema de escoamento e
sua potência instalada. Com os parâmetros hidráulicos calculados, é possível
selecionar a bomba adequada para manter a vazão desejada em um sistema, ou
seja, a bomba deve ser capaz de fornecer a carga hidráulica do sistema na vazão
especificada de operação.

2.2 PROBLEMAS DO TIPO II – DETERMINAÇÃO DA VAZÃO


COM PERDA DE CARGA ESPECIFICADA PARA UM DIÂMETRO
DE TUBULAÇÃO CONHECIDO
De acordo com Çengel e Cimbala (2007), os problemas do tipo II, assim
como os problemas do tipo III, são comumente encontrados no projeto de
Engenharia na seleção do diâmetro do tubo, por exemplo, minimizando os custos
totais de construção e de aquisição da tubulação. O uso do diagrama de Moody
exige uma abordagem tradicional iterativa ou o uso de programas computacionais
para resolução dos sistemas de equações (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).
136
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

Nos problemas do tipo II, o diâmetro do tubo é conhecido mas a vazão


volumétrica de escoamento não é conhecida. Durante o procedimento de
resolução das equações, é necessário fazer uma estimativa inicial para o valor do
fator de atrito de Darcy (fD). Para a primeira estimativa é um valor da região de
escoamento completamente turbulento do diagrama de Moody para a rugosidade
relativa fornecida. A região que se encontra é a de elevados números de Reynolds
(escoamentos turbulentos), que ocorrem na maioria das vezes em aplicações
práticas. Após obter o valor da vazão volumétrica a partir do cálculo com a
estimativa inicial de fator de atrito, o valor pode ser corrigido com o diagrama de
Moody ou uma equação empírica para cálculo do fator de atrito de Darcy.

O processo matemático iterativo continua até que a solução convirja


contemplando critérios estabelecidos. Comparamos o valor de fator de atrito
obtido no diagrama de Moody com o valor da estimativa inicial ou do cálculo
iterativo. Geralmente, se a diferença absoluta for menor que 10-2, podemos
considerar que o problema convergiu em uma solução. Segundo Çengel e Cimbala
(2007) e Fox, McDonald, Pritchard e Mitchell (2018), se a estimativa inicial for
adequada, poucas iterações são necessárias para a convergência da resposta com
três ou quatro dígitos de precisão. Fox, McDonald, Pritchard e Mitchell (2018)
complementam que os tipos de problemas requerem iterações manuais ou o uso
de um aplicativo computacional (como o Microsoft Excel® ou o MathSoft-PTC
MathCAD®).

A vazão ou a velocidade desconhecida é necessária antes do número de


Reynolds e, assim, o fator de atrito não pode ser determinado diretamente. Para
executar um procedimento de iteração manual, resolvemos primeiramente a
equação de Bernoulli diretamente em termos das variáveis conhecidas e fator de
atrito desconhecido. Para iniciar o processo iterativo, fazemos uma estimativa
para fD e obtemos um valor para a velocidade do fluido. Em seguida, podemos
calcular um número de Reynolds e, então, obtemos um novo valor para fD. O
processo é repetido até a convergência, ou seja, até que o valor do fD anterior se
iguale ou esteja próximo do novo valor de fD (FOX; McDONALD; PRITCHARD;
MITCHELL, 2018).

2.3 PROBLEMAS DO TIPO III – DETERMINAÇÃO DO


DIÂMETRO DA TUBULAÇÃO COM VAZÃO ESPECIFICADA
PARA UMA DADA PERDA DE CARGA ADMITIDA
De acordo com Çengel e Cimbala (2007), nos problemas do tipo III, o
diâmetro do tubo não é conhecido e, assim, o número de Reynolds e a rugosidade
relativa não podem ser calculados. Portanto, a estimativa inicial deve ser um
valor de diâmetro de tubo. Assim, o valor de queda de pressão (ou fator de
atrito) calculado para o diâmetro escolhido como estimativa inicial é comparado
com uma queda de pressão específica (ou fator de atrito obtido no diagrama de
Moody com o valor da estimativa inicial do diâmetro de tubo usado para calcular

137
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

o número de Reynolds e a rugosidade relativa). Os cálculos são repetidos com


outros valores de diâmetro de tubo de forma iterativa até que a solução atinja a
convergência.

Fox, McDonald, Pritchard e Mitchell (2018) salientam que o tipo de


problema de escoamento aparece quando é necessário projetar uma instalação
de recalque de líquido e, para o sistema bomba/tubulação, desejamos escolher
o melhor diâmetro de tubo. O melhor diâmetro de tubo significa o diâmetro
mínimo (reduzindo, assim, o custo da tubulação) que fornece a vazão estabelecida
no projeto. A solução dos problemas do tipo III também recorre a processos de
iteração manual ou uso de um aplicativo computacional. O diâmetro desconhecido
é requerido antes do número de Reynolds e da rugosidade relativa e, assim, o
fator de atrito pode ser determinado diretamente. Para iteração manual, resolve-
se diretamente a equação de Bernoulli para deixar o diâmetro (D) em função das
variáveis conhecidas e do fator de atrito desconhecido.

Em seguida, são realizados cálculos iterativos a partir de um valor


estimado para fD de forma similar ao procedimento de resolução dos problemas de
tipo II. Na prática, o processo é tedioso e pouco produtivo, de modo que, ao invés
de buscarmos manualmente uma solução, podemos fazer estimativas sucessivas
para o valor de diâmetro (D) até que a queda de pressão correspondente à vazão
de escoamento dada (Q) calculada a partir da equação de Bernoulli coincida ou
se aproxime o bastante da perda de carga máxima estabelecida pelo projeto (FOX;
McDONALD; PRITCHARD; MITCHELL, 2018).

Na Seção 3 deste tópico de estudos os conceitos e procedimentos de


resolução explanados até aqui serão aplicados em exemplos práticos. A resolução
detalhada e comentada será apresentada em um exemplo de problema do tipo
I, dois exemplos de problemas do tipo II e um exemplo de problema do tipo III.

3 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
Nesta seção, exemplos de aplicação dos problemas do tipo I, II e III serão
resolvidos e comentados.

Problema do Tipo I: Determinação da queda de pressão ou perda de carga com


vazão e diâmetro de tubulação conhecido.

Água com temperatura de 15 °C escoa pelo sistema de tubulação


ilustrado a seguir. O diâmetro do tubo é de 19,05mm e a tubulação é feita de
cobre (ε=0,001524mm). A vazão do escoamento é de 45,425 L/min e a água é
descarregada por um bocal com diâmetro de 12,7mm. Na situação, determine:

a) A pressão do escoamento no ponto 1 e a queda de pressão entre os pontos 1 e


2, desconsiderando todas as perdas de carga.
b) A pressão do escoamento no ponto 1 e a queda de pressão entre os pontos 1 e
2 considerando apenas as perdas de carga distribuídas.
138
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

c) A pressão do escoamento no ponto 1 e a queda de pressão entre os pontos 1 e


2 considerando todas as perdas de carga.

Expresse todas as pressões nas unidades Pascal, bar e psi.

FIGURA 17 – ÁGUA COM TEMPERATURA DE 15°C ESCOA PELO SISTEMA DE TUBULAÇÃO

FONTE: Munson, Young e Okishii (2004, p. 446)

Propriedades do fluido:

T = 15 ºC
ρ = 999,83kg/m³
μ = 0,0011204 Pa·s

Hipóteses simplificadoras:

Escoamento em regime permanente (vazão constante).


Ponto horizontal de referência (PHR) = Ponto 1.

Solução: como o diâmetro da tubulação (em m) e a vazão do escoamento


(em m³/s) são conhecidos, calculamos a velocidade do escoamento no ponto 1 da
tubulação e classificamos o regime de escoamento através do cálculo do número
de Reynolds. Com o diâmetro do bocal é conhecido, determinamos também a
velocidade do fluido no jato livre de saída (ponto 2).

139
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Como Re > 4000, temos um regime de escoamento turbulento.

A equação governante para os casos “a”, “b” e “c” é a equação de Bernoulli,


que deve ser aplicada adotando as simplificações em cada caso:

Em todos os casos, a pressão manométrica no ponto 2 é zero (bocal aberto


com jato livre) e a carga de elevação no ponto 1 é zero, pois é referência geométrica
(h1=0). Portanto, a equação de Bernoulli para cálculo da pressão no ponto 1 do
escoamento se resume a:

a) No caso, desconsiderando as perdas de carga (hs=0 e hf=0), a solução é direta:

140
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

A queda de pressão, no caso, se dará apenas devido à elevação entre os


pontos 1 e 2 (efeito hidrostático) e ao aumento de velocidade (energia cinética) no
bocal de descarga. O fluido aumenta sua velocidade com a redução do diâmetro
para manter a continuidade (vazão constante) com a conversão de parte da sua
energia de escoamento (pressão) em energia cinética. A conversão de energia de
pressão em energia cinética é reversível.

Variação da carga de elevação:

Variação da carga cinética:

b) No caso, consideramos apenas as perdas de carga distribuídas (hf), que são


calculadas com a equação de Darcy-Weisbach. Calculamos a rugosidade
relativa do tubo de cobre e o número de Reynolds:

Com os valores, podemos utilizar o diagrama de Moody ou uma equação


empírica para calcularmos o fator de atrito de Darcy (fD). Pela leitura do diagrama
de Moody:

Para determinação das perdas de carga distribuídas:

141
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Utilizando a equação de Bernoulli para determinação da pressão do


escoamento no ponto 1 com as perdas de carga distribuídas consideradas:

A queda de pressão, no caso, se dará aos efeitos considerados no item “a”


(efeito hidrostático) e ao aumento de velocidade (energia cinética) no bocal de
descarga mais o efeito de atrito do fluido no tubo. Portanto, a parcela da queda
de pressão na tubulação devido às perdas distribuídas é:

c) No caso, consideramos todas as perdas de carga do sistema (localizadas e


distribuídas). As perdas localizadas, devido aos acessórios da tubulação,
podem ser calculadas com a equação que define o tipo de perda (hs). Assim,
calculamos as perdas localizadas de cada acessório:

Cotovelo:

Válvula globo aberta:

142
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

Bocal:

O total de perdas localizadas é:

Utilizando a equação de Bernoulli para determinação da pressão do


escoamento no ponto 1 com as perdas de carga distribuídas e localizadas
consideradas:

E
IMPORTANT

O cálculo da queda de pressão do item “c”, considerando as perdas de carga do


sistema, obviamente é o mais real e correto entre os três casos analisados.

143
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

A queda de pressão, no caso, se dará aos efeitos considerados no item


“a” (efeito hidrostático), ao aumento de velocidade (energia cinética) no bocal de
descarga, a todas as perdas de carga por atrito e devido à presença de acessórios
na tubulação. Portanto, a parcela da queda de pressão na tubulação devido às
perdas localizadas é:

Podemos analisar também que uma parte das perdas que causa a queda
de pressão no escoamento entre os pontos 1 e 2 é totalmente reversível, não
sendo, efetivamente, “perda”. As perdas de carga reversíveis são aquelas devido
à variação de carga de elevação e à variação da energia cinética, enquanto as
perdas de carga irreversíveis são aquelas devido ao atrito (distribuídas) e aos
acessórios (localizadas). Nos casos, a dissipação da carga do escoamento (energia)
será por calor, impossibilitando a sua recuperação. A queda de pressão total no
escoamento é detalhada a seguir:

Queda de pressão Queda de pressão


reversível irreversível
≈35% ≈65%

Constatamos que 2/3 da energia necessária para o escoamento do fluido,


proporcionados pela máquina hidráulica, são dissipados irreversivelmente na
forma de calor devido ao atrito na superfície da tubulação e na passagem
pelos acessórios (cotovelos, válvula e bocal). O restante da energia (na
forma de carga de pressão, que é também chamada de carga ou trabalho de
escoamento) é usado para o fluido conseguir escoar pela diferença de altura
entre os pontos 1 e 2 e para aumentar sua velocidade pelo bocal de diâmetro
menor. As últimas formas de energia conservam-se no fluido, por isso são
reversíveis.

144
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

E
IMPORTANT

Evocando a 1ª Lei da Termodinâmica, não devemos esquecer que a equação


de Bernoulli é uma equação de conservação de energia no escoamento do fluido. Portanto,
embora tenhamos definido a energia utilizada para o fluido vencer as resistências (atrito
e acessórios da tubulação), como perdas de carga (energia) irreversíveis, a energia não é
perdida, ela se conserva. Apenas é convertida em energia térmica (calor).

Problema do Tipo II: Determinação da vazão com perda de carga especificada


para um diâmetro de tubulação conhecido.

A turbina, ilustrada no esquema a seguir, extrai 50cv de potência da água


que escoa (potência total). A tubulação que conduz a água até a turbina tem
diâmetro interno de 0,305m e comprimento total de 91,44m. O fator de atrito de
Darcy na tubulação é de 0,02. As perdas de carga menores são desprezíveis. Calcule
a vazão do escoamento na tubulação. Adote 1 cv = 745,7W e γágua=9802,26N/m³.

FIGURA 18 – TURBINA EXTRAI 50CV DE POTÊNCIA DA ÁGUA QUE ESCOA (POTÊNCIA TOTAL)

FONTE: Munson, Young e Okishii (2004, p. 451)

Solução: Aplicamos a equação de Bernoulli da superfície livre do fluido


(ponto 1) até a descarga do jato livre (ponto 2). Ambos os pontos estão abertos à
pressão atmosférica.

145
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Sendo as extremidades abertas à pressão atmosférica, a pressão


manométrica é nula (P1=P2=Patm). A velocidade da superfície livre do líquido
no ponto 1 é muito baixa, considerando o tanque de grandes dimensões
(Dtanque>>>Dtubo). Portanto, v1≈0. A referência geométrica do problema é o ponto
mais baixo (ponto 2), portanto h2=0. Assim, aplicando na equação de Bernoulli:

ou
(*)

Aplicando a equação de cálculo potência para turbina:

(**)

Aplicando a equação de Darcy-Weisbach para perda de carga distribuída:

(***)

Temos um sistema de três equações algébricas independentes com três


incógnitas e que pode ser solucionado. Substituindo as equações (***) e (**) na
equação (*), temos:

A solução da equação polinomial é:

146
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

A resolução da equação polinomial cúbica traz duas raízes reais positivas


e uma raiz real negativa. A raiz negativa não tem validade física, pois estamos
calculando a velocidade do escoamento e, portanto, pode ser desconsiderada.
Utilizando as duas velocidades calculadas, podemos ter duas vazões diferentes
como solução do problema:

Podemos também provar que as duas velocidades (e, consequentemente,


as duas vazões) permitem que a turbina tenha potência total de 50cv (37285W).
Os cálculos estão detalhados a seguir:

No caso, devido à baixa velocidade do escoamento, a perda de carga


distribuída (devido ao atrito do fluido com a tubulação) é baixa e a carga hidráulica
disponível para a turbina é alta.

No caso, devido à alta velocidade do escoamento, há maior perda de carga


distribuída (devido ao atrito do fluido com a tubulação) e menor carga hidráulica
disponível para a turbina.

Em ambos os casos, o produto da carga hidráulica da turbina (Hturbina)


e da vazão (Q) é o mesmo, proporcionando uma mesma potência para vazões
diferentes.
147
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Problema do Tipo II: Determinação da vazão com perda de carga especificada


para um diâmetro de tubulação conhecido.

O exaustor ilustrado a seguir é usado para eliminar os vapores tóxicos de


uma capela usada para manipulação de produtos químicos através de um fluxo
de ar. Para uma operação segura na capela, o escoamento de ar pelo exaustor deve
ser entre 0,1699m³/s e 0,3398m³/s, garantindo, assim, a completa eliminação dos
vapores tóxicos. Inicialmente, a vazão é de 0,2540m³/s e a constante característica
de perda de carga pelos acessórios do duto é igual a 5. O duto é muito curto,
portanto, as perdas de carga distribuídas podem ser desprezadas. Após um projeto
de manutenção na capela, o comprimento do duto será aumentado em 30,48m
(com perdas de carga por atrito a serem consideradas) e a constante característica
de perda de carga pelos acessórios do duto será igual a 10. Determine se a vazão
do escoamento de ar contemplará os limites estabelecidos após a reforma na
capela.

Hipóteses simplificadoras: Escoamento de ar, portanto, a carga de elevação


entre os pontos 1 e 2 é desprezível. A pressão no interior da capela (ponto 1) e
na saída do exaustor (ponto 2) é igual à pressão atmosférica (sistema aberto). A
velocidade do ar no interior da capela é nula (v1≈0).

Propriedades do ar: ρ=1,2266 kg/m³ μ=1,7907·10-5 Pa·s

FIGURA 19 – EXAUSTOR USADO PARA ELIMINAR OS VAPORES TÓXICOS DE UMA CAPELA

FONTE: Munson, Young e Okishii (2004, p. 450)

148
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

Solução: Em primeiro lugar, devemos calcular qual será a carga hidráulica


que o exaustor adicionará ao ar para sua exaustão. Com as simplificações
propostas, a equação de Bernoulli fica:

(*)

A carga do exaustor aumenta a energia do escoamento do ar, a energia


mecânica converte-se em energia cinética e energia de pressão usada para vencer
as perdas de carga do sistema.

Cenário inicial: Vazão e perda de carga conhecidas.

Substituindo os valores na equação (*):

Cenário após a reforma: O exaustor é o mesmo equipamento, portanto a carga


adicionada ao ar é a mesma. Contudo, como houve extensão no comprimento da
tubulação, devemos calcular as novas perdas de carga que a carga hidráulica do
exaustor deve compensar e a nova velocidade e vazão do escoamento.

149
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Rearranjando a equação após algumas manipulações algébricas temos:

(**)

Na equação (**), “velocidade” e “fator de atrito” são as incógnitas, sendo


que o fator de atrito depende do número de Reynolds (Re) e da rugosidade
relativa (ε/D). Ainda, o número de Reynolds depende da velocidade.

(***)

(****)

Com o valor da rugosidade relativa determinado, podemos especificar


qual a curva respectiva no diagrama de Moody. Temos agora um sistema com
três equações, a equação (**), (***) e (****), que também é a curva relacionada no
diagrama de Moody. Com as três relações, podemos calcular as três incógnitas
(‘v’, ‘fD’ e ‘Re’). Utilizaremos um processo de cálculo iterativo da seguinte maneira:
assumimos uma estimativa inicial para o valor do fator de atrito, calculamos a
velocidade e o número de Reynolds e verificamos, no diagrama de Moody, o
valor do fator de atrito correspondente ao ‘Re’ e ‘ε/D’ calculados. Comparamos o
valor de fator de atrito obtido no diagrama de Moody com o valor da estimativa
inicial. Se a diferença absoluta for menor que 10-2, podemos considerar que o
problema convergiu em uma solução. Caso contrário, devemos usar o valor
do fator de atrito obtido no diagrama de Moody e recalcular em um processo
iterativo e repetir as análises.

O número de iterações numéricas depende fortemente da estimativa


inicial adotada. Uma boa estimativa inicial para o fator de atrito é a região de
escoamento turbulento rugoso no diagrama de Moody (onde as curvas passam
a ter comportamento horizontal). Na região, o fator de atrito não é sensível à
variação do número de Reynolds, apenas à rugosidade relativa. Na maioria das
aplicações práticas de escoamentos, é a região onde se encontra o fator de atrito
do escoamento.

Estimativa inicial: fD=0,02

150
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

Com Re=71620,91 e ε/D=0,00098425, e utilizando o diagrama de Moody,


encontramos:

fD=0,02291

Determinação do erro entre a estimativa inicial e o valor obtido no


diagrama de Moody:

100 = 14,55%

Iteração 1: fD=0,02291

Com Re=70529,67 e ε/D=0,00098425, e utilizando o diagrama de Moody,


encontramos:

fD=0,02295

Determinação do erro da 1ª iteração:

100 = 0,37%

Iteração 2: fD=0,02295

151
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Com Re=70515,75 e ε/D=0,00098425, e utilizando o diagrama de Moody,


encontramos:

fD=0,022954

Determinação do erro da 2ª iteração:

100=0,017%

Portanto, a solução do problema convergiu em um valor de velocidade


igual à 5,0662m/s. O valor é utilizado para determinar a nova vazão do escoamento
após a reforma e extensão da tubulação de ar do exaustor da capela.

Como a vazão de exaustão de ar da capela deve estar entre 0,1699m³/s


e 0,3398m³/s (parâmetro estabelecido pelo enunciado), concluímos que, após as
reformas na capela, a nova vazão do escoamento de ar nem contemplará valores
estabelecidos para a adequada exaustão dos gases e vapores químicos.

E
IMPORTANT

A vazão de ar fica um pouco abaixo do limite mínimo estabelecido. Na prática,


seria necessário redimensionar o sistema. Entre as alternativas estão: a instalação de um
exaustor mais potente (aumentando, assim, a carga inserida no escoamento), a redução
no comprimento da tubulação (reduzindo a perda de carga distribuída) ou aumento do
diâmetro da tubulação (reduzindo a velocidade e, consequentemente, a perda de carga
distribuída). Cada uma das alternativas deve ser avaliada pelos engenheiros, considerando
aspectos técnicos relativos ao layout da planta e aspectos econômicos relativos ao custo
de equipamentos e materiais.

Problema do Tipo III: determinação do diâmetro da tubulação com vazão


especificada para uma dada perda de carga admitida.

Água a 15,55°C (ν=1,1241·10-6 m²/s) escoa com vazão de 0,7362m³/s. do


reservatório “A” até o reservatório “B” (ambos abertos), conforme ilustração a
seguir, por uma tubulação de 518,16m de comprimento. A rugosidade média (ε)
do material da tubulação é de 0,0001524m. Os acessórios da tubulação consistem
em quatro cotovelos flangeados a 45°(kcotovelo=0,2), uma saída com aresta viva
(pontiaguda) do tubo “A” (ksaída=1) e uma entrada com aresta viva (pontiaguda)
152
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

no tubo “B” (kentrada=0,5). Determine o diâmetro da tubulação para contemplar os


requisitos.

FIGURA 20 – ÁGUA A 15,55°C (Ν=1,1241·10-6 M²/S) ESCOA COM VAZÃO DE 0,7362M³/S. DO


RESERVATÓRIO “A” ATÉ O RESERVATÓRIO “B” (AMBOS ABERTOS) POR UMA TUBULAÇÃO DE
518,16M DE COMPRIMENTO

FONTE: Munson, Young e Okishii (2004, p. 453)

Solução: Para determinarmos o diâmetro necessário, devemos calcular a


velocidade do escoamento com as informações disponíveis. Aplicamos a equação
de Bernoulli da superfície livre do fluido (ponto 1) no tanque “A” até a superfície
livre do fluido (ponto 2) no tanque “B”:

Sendo h2=0 (referência geométrica); P1=P2=Patm (tanques abertos à pressão


atmosférica); v1=v2=0 (velocidades muito baixas nas superfícies livres do líquido).
A equação de Bernoulli após aplicação das hipóteses simplificadoras é:

(*)

153
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

A velocidade do escoamento e o diâmetro também ficam implícitos na


fórmula da vazão volumétrica do escoamento:

(**)

Como conhecemos as constantes características dos acessórios,


substituímos a equação (**) na equação (*) com os valores conhecidos do problema
para eliminação da incógnita “velocidade” e a equação em função do “diâmetro”.

Simplificando após as manipulações algébricas:

(***)

A equação (***) indica que, para determinarmos o diâmetro do tubo,


devemos calcular o fator de atrito de Darcy, que é função do número de Reynolds
e da rugosidade relativa:

(****)

E
IMPORTANT

A equação do número de Reynolds está em função da viscosidade cinemática.


A viscosidade cinemática é a razão entre a viscosidade dinâmica e a densidade do fluido.

154
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

(*****)

Agora, temos um sistema de quatro equações (***; ****; *****; equação de


Haaland ou diagrama de Moody) com quatro incógnitas (‘D’; ‘fD’; ‘Re’ e ‘ε/D’).
Não podemos simplificar a situação, portanto, temos duas maneiras de resolver o
problema e ambas requerem um método iterativo de cálculo, com uma estimativa
inicial para ‘fD’ ou ‘D’. Com a estimativa inicial, realizamos os cálculos com as
equações do sistema, verificamos se o valor de ‘fD’ assumido está correto com
auxílio do diagrama de Moody ou de uma equação empírica para cálculo do
fator de atrito. Uma técnica de cálculo do tipo ‘tentativa e erro’ também pode
ser utilizada. Entre as equações a serem resolvidas está uma equação polinomial
de 5ª ordem (fator de atrito em função do diâmetro), que é complexa, caso a
estimativa seja dada para o fator de atrito. Assim, vamos resolver o problema
com a estimativa inicial para o diâmetro do tubo. A estimativa inicial é arbitrária,
porém, a experiência auxilia em escolher valores adequados para redução do
número de iterações numéricas até o problema convergir em uma resposta exata.

Estimativa inicial: D=0,521m

Com ‘Re’ e ‘ε/D’ no diagrama de Moody (ou com uso de uma equação
empírica para cálculo do fator de atrito), encontramos o fator de atrito:

Determinação do erro da estimativa inicial:

155
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

Iteração 1: D=0,4965m

Com ‘Re’ e ‘ε/D’ no diagrama de Moody:

Determinação do erro da 1ª estimativa:

Iteração 2: D=0,4972m

Com ‘Re’ e ‘ε/D’ no diagrama de Moody:

156
TÓPICO 3 | DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA – PARTE II

Determinação do erro da 2ª estimativa:

Iteração 3: D=0,4971m

Com ‘Re’ e ‘ε/D’ no diagrama de Moody:

Determinação do erro da 2ª estimativa:

Portanto, a solução para o problema é que a tubulação tenha um diâmetro


interno de 497,1mm (aproximadamente 1,63 pés) para uma vazão de 0,7362m³/s
com fator de atrito de Darcy igual a 0,01544.

E
IMPORTANT

Utilizamos o diagrama de Moody para determinar o valor do fD por comodidade,


porém, para resultados mais exatos e precisos, podemos utilizar as equações empíricas, tais
como a de Colebrook-White (1939) e Haaland (1983). As equações demandam um esforço
matemático maior no cálculo e, frequentemente, demandam a utilização de uma técnica
de cálculo de raízes em algum software computacional ou calculadora gráfica.

157
UNIDADE 2 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – CINEMÁTICA E DINÂMICA

E
IMPORTANT

Em problemas práticos, o critério de parada de iteração para obter a solução


do problema (convergência) geralmente é dado para um erro absoluto igual ou menor do
que 10-2. Para um maior refinamento do cálculo, devemos considerar mais casas decimais
nos valores do fator de atrito, ação que, neste exemplo prático, pode ser desconsiderada.

158
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os conceitos discutidos nos Tópicos 1 e 2 são complementados e aplicados


ao dimensionamento hidráulico de sistemas de escoamentos de fluidos mais
comuns.

• Existem três tipos típicos de problemas em escoamentos de fluidos que exigem


diferentes abordagens para a resolução.

• Cada tipo de problema de escoamento de fluidos (tipo I, tipo II e tipo III) possui
particularidades e pode ser necessária a aplicação de métodos iterativos de
cálculo para resolução do problema.

• A resolução de problemas é importante para desenvolver habilidades


e experiência necessária aplicada ao dimensionamento hidráulico e à
determinação das perdas de carga.

159
AUTOATIVIDADE

1 Um tubo liso (ε=0) horizontal de 100m de comprimento está conectado


a um grande reservatório de água. Uma bomba é ligada ao final do tubo
para transportar a água do reservatório a uma vazão de 10L/s, conforme
ilustra a figura a seguir. Calcule a pressão manométrica que a bomba deve
produzir no ponto 1 para contemplar a vazão de operação. Considere o
diâmetro interno do tubo liso igual a 75mm. Adote as propriedades da água:
densidade = 1000kg/m³ e viscosidade dinâmica = 1cP. Utilize o diagrama de
Moody para determinar o valor do fator de atrito de Darcy (fD).

FONTE: Adaptado de: FOX, R. W.; McDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J.; MITCHELL,
J. W. Introdução à mecânica dos fluidos. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. p. 371.

2 Um sistema de proteção contra incêndio é suprido por um tubo vertical de


24,2m de altura a partir de uma torre de água, conforme ilustra a figura a
seguir. O tubo horizontal do sistema tem 182,94m de comprimento e é feito
de ferro fundido com cerca de 20 anos de uso. O tubo contém uma válvula
gaveta completamente aberta e as outras perdas de carga localizadas
podem ser desprezadas. O diâmetro do tubo é de 101,6mm. Determine
a vazão máxima de água (em litros por segundo) através do tubo. Adote
as propriedades da água: densidade = 998kg/m³ e viscosidade dinâmica =
1,0978cP. Utilize o diagrama de Moody para determinar o valor do fator de
atrito de Darcy (fD).

Informações adicionais:

160
A rugosidade do tubo de ferro fundido novo tem rugosidade média de 0,26mm
e dobra o valor após 20 anos de uso.
O tubo vertical tem o mesmo diâmetro do tubo horizontal.
Para a estimativa inicial de fD, admita que o escoamento é completamente
turbulento e rugoso.
Adote como critério de parada no cálculo iterativo uma diferença de
velocidades menor de 2%.
Utilize o conceito de comprimento equivalente para o cálculo da perda de
carga da válvula gaveta:

Válvula gaveta completamente aberta:

FONTE: Adaptado de: FOX, R. W.; McDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J.; MITCHELL, J. W.
Introdução à mecânica dos fluidos. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. p. 374.

3 Os borrifadores ou sprinklers de um sistema de irrigação agrícola devem


ser supridos com água proveniente de uma bomba acionada por um
motor de combustão interna através de 152,4m de tubos de alumínio
trefilado (ε=0,0015mm), conforme ilustra a figura a seguir. Na sua faixa de
operação de maior eficiência, a descarga (vazão) da bomba é de 0,0946m³/s
a uma pressão manométrica não superior a 448,2kPa. Para garantir que os
borrifadores tenham uma operação satisfatória, a sua pressão manométrica
mínima de operação deve ser de 206,8kPa. As perdas de carga localizadas e
diferenças de elevação podem ser desprezadas. Determine qual o valor do
menor diâmetro de tubo padronizado que pode ser empregado no sistema.
Adote as propriedades da água: viscosidade cinemática = 0,00000112m²/s e
densidade = 998 kg/m³.

FONTE: Adaptado de: FOX, R. W.; McDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J.; MITCHELL, J. W.
Introdução à mecânica dos fluidos. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. p. 376.

161
4 Óleo leve a uma temperatura de 65,5ºC é bombeado através de um tubo de
aço galvanizado com diâmetro de 203,2mm e rugosidade de 0,1524mm ao
longo de 304,8m de comprimento linear de tubo, conforme ilustra a figura a
seguir. A pressão manométrica na saída da bomba (ponto 1) é de 413,7 kPa e
a pressão manométrica de descarga (ponto 2) é nula, pois o tubo está aberto
à pressão atmosférica. O óleo leve tem as seguintes propriedades:

ρ = 870 kg/m³
μ = 0,007917 Pa·s
ν = 9,1·10-6 m²/s

Calcule a velocidade e a vazão do escoamento.

Informações adicionais: A vazão e a velocidade do escoamento não são


conhecidas, portanto não é possível determinar o número de Reynolds para
assim calcular o fator de atrito de Darcy. Atribua, como estimativa inicial
do fator de atrito para o processo de cálculo iterativo, o valor de fD=0,023. O
valor é uma boa estimativa e corresponde a um valor de rugosidade relativa
(ε/D) de 0,00075 e a um número de Reynolds (Re) aproximado de 50000 no
diagrama de Moody. Como o diagrama de Moody apresenta imprecisões na
leitura na ordem de 15%, execute as iterações até que o erro percentual entre
as velocidades calculadas seja menor que 8%.
FONTE: Adaptado de: FOX, R. W.; McDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J.; MITCHELL,
J. W. Introdução à mecânica dos fluidos. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. p. 376.

162
UNIDADE 3

ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO


DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO
DE VAZÃO, VELOCIDADE E ANÁLISE
DIMENSIONAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• caracterizar uma máquina hidráulica e compreender o princípio


de funcionamento de uma bomba centrífuga e de uma bomba de
deslocamento positivo;
• entender a curva do sistema de escoamento de fluidos e a curva
característica de uma bomba centrífuga;
• caracterizar parâmetros da bomba centrífuga tais como a vazão de
operação, carga hidráulica da bomba ou altura manométrica total e o
NPSHrequerido;
• calcular os principais parâmetros hidráulicos necessários para o
dimensionamento e seleção de uma bomba centrífuga;
• utilizar catálogos e curvas características de motobombas disponibilizadas
por fabricantes para selecionar o modelo mais adequado;
• caracterizar os principais dispositivos de medição de velocidade e vazão
de fluido tipicamente aplicados na indústria;
• compreender o conceito de análise dimensional e sua importância no
estudo da mecânica dos fluidos;
• aplicar o teorema dos π’s de Buckingham e o método de repetição de
variáveis para determinação de grupos adimensionais em problemas
típicos de Engenharia.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades que têm o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

TÓPICO 2 – MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO


DE FLUIDOS

TÓPICO 3 – ANÁLISE DIMENSIONAL

163
164
UNIDADE 3
TÓPICO 1

SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

1 INTRODUÇÃO
Bombas centrífugas são usadas para transporte de líquidos através
de sistemas de tubulação. As máquinas hidráulicas devem entregar o volume
desejado de fluido enquanto fornecem o total de carga hidráulica necessária para o
fluido escoar em regime permanente. É preciso levar em conta as necessidades de
energia mecânica para o escoamento devido a mudanças de elevação, diferenças
de pressão e variações de velocidade no sistema, além de toda a energia dissipida
devido às perdas de carga por atrito e aos acessórios da tubulação.

Um engenheiro deve desenvolver a habilidade de especificar bombas


centrífugas adequadas para satisfação dos requisitos de um sistema. É preciso
também compreender como projetar sistemas de tubulação eficientes para a
entrada de uma bomba (linha de sucção) e para a descarga de uma bomba (linha
de recalque). É importante monitorar a pressão na entrada e na saída da bomba,
pois os dados permitem estabelecer uma análise do funcionamento da máquina
hidráulica.

Neste tópico de estudo, o foco será dado para a metodologia de cálculo


aplicada no dimensionamento hidráulico de um sistema de recalque de
líquidos e a seleção da bomba centrífuga adequada para atender aos requisitos
do sistema de escoamento. A metodologia permitirá analisar o desempenho
de bombas centrífugas e fazer a seleção de um modelo de bomba apropriado
para determinada aplicação. Os benefícios da correta aplicação de uma bomba
centrífuga garantem um sistema de transporte de líquido seguro, contemplando
parâmetros hidráulicos relacionados à vazão de escoamento e à carga hidráulica
necessária. Ainda, é preciso minimizar o consumo de energia para o acionamento
da máquina, resultando em menores custos de operação. Os requisitos, quando
atendidos, garantem o projeto de um sistema eficiente.

De acordo com Schmidt, Henderson e Wolgemuth (1996), ao


selecionarmos uma bomba para uma aplicação específica, diversos fatores devem
ser considerados:

• A natureza do líquido a ser bombeado.


• A capacidade necessária da bomba ou vazão volumétrica de operação.
• As condições da sucção (entrada) da bomba.
• As condições de descarga ou recalque (saída) da bomba.

165
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

• A altura manométrica total ou carga hidráulica da bomba. O termo está


presente na equação de Bernoulli (balanço de energia).
• O tipo de sistema de escoamento de fluido no qual a bomba será instalada.
• O tipo de alimentação de energia para a máquina hidráulica (motor
elétrico, motor com combustão interna etc.).
• Espaço para instalação, peso e limitações de posição.
• Condições ambientais e normas reguladoras.
• Custo de compra e instalação da bomba.
• Consumo energético, custo de operação e manutenção da bomba.
• O custo do ciclo de vida do sistema de bombeamento.

O estudo e o detalhamento dos fatores são realizados por engenheiros na


indústria ou por equipes especializadas que prestam consultorias. Fornecedores
e fabricantes de bombas e outras máquinas hidráulicas também auxiliam em
diversas etapas do projeto e dimensionamento de um sistema hidráulico.

2 DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DA BOMBA CENTRÍFUGA


As bombas hidráulicas são geralmente classificadas como bombas de
deslocamento positivo (ou volumétricas) e bombas dinâmicas (ou cinéticas).
Bombas de deslocamento positivo impulsionam um volume específico de
fluido para cada revolução do eixo da bomba ou cada ciclo de movimento dos
elementos de bombeamento ativos. No tipo de bomba em questão, o fluido é
direcionado para um volume fechado. Ocorre a transferência de energia para o
fluido pelo movimento do limite do volume fechado, fazendo com que o volume
se expanda ou contraia, aspirando fluido para dentro ou esguichando fluido para
fora, respectivamente (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; ROTAVA, 2012; TERRON,
2012; JANNA, 2016). As bombas hidráulicas geralmente produzem altas pressões
e vazões volumétricas constantes baixas ou moderadas.

FIGURA 1 – BOMBAS DE DESLOCAMENTO POSITIVO COM AS CARCAÇAS ABERTAS: BOMBA


PERISTÁLTICA (IMAGEM SUPERIOR) E BOMBA DE CAVIDADES PROGRESSIVAS (IMAGEM INFERIOR)

166
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

FONTE: Mott e Untener (2015, p. 323)

As bombas dinâmicas operam transferindo energia cinética de um


elemento rotativo, chamado de impulsor, impelidor ou rotor, para o fluido
que se move para dentro e através da bomba (ÇENGEL; CIMBALA, 2007;
ROTAVA, 2012; TERRON, 2012; SINGH; HELDMAN, 2016). Uma parte da
energia é convertida em energia de pressão (trabalho de escoamento) na saída
da bomba. As bombas centrífugas são o tipo mais comum e mais utilizado de
bombas dinâmicas. Podem operar com grandes vazões volumétricas e fornecem
grandes cargas hidráulicas ao fluido.

FIGURA 2 – BOMBAS CENTRÍFUGAS COM DESCARGA (RECALQUE) FLANGEADA (IMAGEM À


ESQUERDA) E ROSQUEADA (IMAGEM À DIREITA)

FONTE: Famac Motobombas (2018, s.p.)

De acordo com Çengel e Cimbala (2015), a finalidade de uma bomba é


adicionar energia a um fluido, resultando em um aumento de pressão do fluido no
escoamento, mas não necessariamente em um aumento da velocidade do fluido.
De acordo com o princípio de conservação da massa (equação da continuidade),
e, no caso de um escoamento incompressível (líquidos), a quantidade volumétrica
de fluido na entrada e na saída da bomba deve ser igual, portanto, a velocidade
do escoamento está mais relacionada ao diâmetro e à área de seção da tubulação
de sucção e recalque.

167
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

A bomba centrífuga é o tipo de bomba hidráulica mais utilizado. O


principal componente da bomba centrífuga é o rotor (impelidor). O fluxo de
líquido entra na câmara da bomba axialmente ao longo do eixo do rotor (olho)
e o fluxo é descarregado radialmente por ação centrífuga em um invólucro que
envolve o rotor. O rotor gira com alta velocidade dentro da carcaça da bomba e
seu movimento produz uma zona de baixa pressão (no centro) e outra zona de
alta pressão (na periferia). O invólucro em forma de caracol que envolve o rotor é
chamado de carcaça ou voluta. A voluta da bomba tem a forma de um difusor e
desacelera o fluido em alta velocidade, que sai do rotor, converte a carga cinética
do fluido em carga de pressão (trabalho de escoamento) e direciona o fluxo para
a saída da bomba (ROTAVA, 2012; TERRON, 2012; JANNA, 2016).

FIGURA 3 – DETALHE DAS PARTES E COMPONENTES DE UMA BOMBA CENTRÍFUGA

FONTE: Adaptado de Terron (2012)

Os rotores de uma bomba centrífuga podem ser fechados, semiabertos ou


abertos. Os rotores fechados têm as pás (ou palhetas) instaladas entre dois discos
paralelos. São mais eficientes que os outros tipos de rotores e sua aplicação é para
o bombeamento de líquidos limpos. O rotor aberto tem pás (ou palhetas) sem
obstrução na parte frontal e quase livres na parte posterior. O rotor semiaberto
tem as pás fixadas de um lado do disco, ficando o outro lado livre. Os dois tipos de
rotores destinam-se a bombear líquidos viscosos ou sujos com materiais sólidos
particulados em suspensão, que podem travar um rotor fechado.

168
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

FIGURA 4 – TIPOS DE ROTORES OU IMPELIDORES DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

FONTE: Adaptado de Terron (2012)

2.1 FUNCIONAMENTO DE UMA BOMBA CENTRÍFUGA


A base do funcionamento de uma bomba centrífuga está na criação de
duas zonas de pressão diferenciadas: na sucção (baixa pressão) e no recalque
(alta pressão). Para que ocorra a formação das duas zonas distintas de pressão,
é necessário existir, no interior da bomba, a transformação de energia mecânica
(potência mecânica da máquina), que é fornecida à bomba pela máquina motriz
(motor), em energia cinética. Haverá o deslocamento do fluido e, além disso,
posteriormente, a energia de pressão, que irá adicionar a carga hidráulica
necessária ao fluido, aumentando sua pressão e fazendo com que o fluido tenha
energia para vencer as alturas de deslocamento e as perdas de carga ao longo da
tubulação (atrito no tubo e presença de acessórios).

De acordo com Mott e Untener (2015), para bombas centrífugas que


operam continuamente por longos períodos de tempo, o custo de energia é o
maior componente do total do custo do ciclo de vida. Mesmo para uma bomba
operando por apenas oito horas por dia e cinco dias por semana, o período
cumulativo de tempo de operação é superior a 2000 horas por ano. Bombas
de alimentação contínua em processos industriais, como a geração de energia
elétrica, podem operar até 8000 horas por ano.

Portanto, minimizar a energia necessária para a operação de uma bomba


é um dos principais objetivos de um bom sistema de escoamento de fluidos. A
seguir, são apresentados alguns tópicos que devem ser levados em consideração
para o projeto hidráulico e operação de bombas centrífugas. Tais tópicos visam
reduzir o custo de energia e garantir uma operação confiável e segura (MOTT;
UNTENER, 2015; ROTAVA, 2012; JANNA, 2016):

• É importante realizar uma análise criteriosa do projeto do sistema de


tubulação para identificar onde perdas de carga e de energia ocorrem, além
de prever com precisão o dimensionamento hidráulico do ponto de operação
da bomba.

169
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

• As perdas de carga na tubulação e acessórios são proporcionais à carga


cinética do escoamento, ou seja, ao quadrado da velocidade do fluido.
Portanto, reduzir o velocidade do escoamento proporciona uma redução
dramática nas perdas de carga do sistema e na carga hidráulica total
necessária para a bomba. Com a prática, uma bomba menor e mais barata
pode então ser usada.

• Devemos utilizar o maior diâmetro prático de tubo para a linha de sucção


e descarga do sistema para manter a velocidade do fluido em um valor
mínimo (velocidade econômica). Tubos de maiores diâmetros são mais
caros e exigem a instalação de acessórios mais caros também. Contudo, a
economia de energia e a redução das perdas de carga do sistema geralmente
compensam o custo e investimento inicial. O gráfico a seguir ilustra o
ponto conceitual, comparando os custos do sistema (devido à instalação de
acessórios e de tubulações maiores) com os custos de operação (que levam
em conta as perdas de carga em função da velocidade do escoamento), sendo
funções do diâmetro do tubo. Outra consideração prática é a relação entre
os tamanhos dos tubos e os tamanhos das conexões de sucção e descarga da
bomba. Alguns projetistas recomendam que os tubos tenham ‘um valor de
diâmetro padronizado’ maior.

GRÁFICO 1 – CUSTOS DE UM SISTEMA DE ESCOAMENTO DE FLUIDOS EM FUNÇÃO DO


DIÂMETRO DA TUBULAÇÃO

FONTE: Adaptado de Mott e Untener (2015)

170
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

• Selecionar uma bomba centrífuga que atenda aos requisitos do sistema com
base nos parâmetros de carga hidráulica necessária e vazão volumétrica
de escoamento. Assim, é possível garantir que a bomba opere próxima de
seu melhor ponto de eficiência (BEP) e evita-se o superdimensionamento da
bomba, fazendo com que ela opere com uma eficiência muito baixa. Sempre que
possível, devemos usar uma bomba mais eficiente para a aplicação e operar a
bomba o mais próximo possível do seu melhor ponto de eficiência (BEP).

• A operação de uma bomba em condições afastadas do ponto de melhor


eficiência (BEP) causa maiores deteriorações em rolamentos, vedações e
anéis de desgaste e há redução da vida útil da bomba.

• Usar motores elétricos de alta eficiência para acionar a bomba.

• Considerar o uso de inversores de frequência para motores de bombas e


garantir que a vazão do sistema seja atendida de forma permanente.

• Associar duas ou mais bombas similares operando paralelamente em um


sistema que exige altas vazões de escoamento ou bombas similares em série
para sistemas que exigem altas cargas hidráulicas.

• Programar e executar manutenção periódica da bomba e tubulação para


minimizar a queda do desempenho devido ao acúmulo de corrosão em
superfícies de tubos metálicos, incrustações no interior do tubo e vazamentos.
Monitorar a performance da bomba regularmente (pressões, temperaturas,
vazões, vibrações e ruídos) e criar um manual procedimental de operação.

• Componentes internos das bombas centrífugas sofrem desgaste ao longo do


tempo. Anéis de vedação em partes mecânicas móveis e gaxetas que fazem a
selagem da bomba, impedindo o líquido de vazar do rotor pelo eixo da caixa
de lubrificação até o motor elétrico, devem ser verificados periodicamente.
Tadini et al. (2016) salienta que as superfícies do rotor podem se desgastar
devido à abrasão do fluido, levando à necessidade de substituição do rotor.

• O alinhamento cuidadoso é essencial para evitar a deflexão excessiva


do eixo da bomba e excentricidade de eixo, podendo causar a falha na
operação da máquina hidráulica. É importante verificar o alinhamento da
bomba periodicamente.

• Garantir que o escoamento e o fluxo na linha de sucção até a entrada da


bomba sejam suaves, sem vórtices ou redemoinhos. Alguns engenheiros
recomendam uma distância mínima equivalente a 10 diâmetros de tubo
reto (10·D) entre qualquer tipo de acessório de tubo e a entrada da bomba.
No entanto, se um redutor for necessário, ele deve ser instalado na própria
entrada da bomba.

• Utilizar óleos limpos, graxas ou outros lubrificantes para os rolamentos


da bomba.
171
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

• Não operar a bomba com a linha de sucção ‘seca’. A escorva da bomba deve
ser feita inserindo líquido na tubulação de sucção até a bomba. A escorva
elimina o ar existente no interior da bomba e da tubulação de sucção. A
entrada de ar na linha de sucção deve ser evitada com o projeto adequado
das conexões entre a linha de sucção da bomba e o reservatório ou tanque.

2.2 CURVA CARACTERÍSTICA DE BOMBA CENTRÍFUGA E


CURVA DO SISTEMA
As bombas centrífugas possuem forte dependência de vazão volumétrica
com a carga hidráulica (altura manométrica total), tornando a avaliação de
performance da máquina hidráulica um pouco mais complexa. Para auxiliar
na questão, os fabricantes fornecem os dados experimentais da dinâmica de
operação de uma bomba centrífuga em curvas e gráficos chamados de curvas
características (ou de desempenho) da bomba. Há a relação da vazão volumétrica
de operação da bomba com a respectiva carga hidráulica fornecida ao fluido.

De acordo com Çengel e Cimbala (2015), a vazão volumétrica máxima


de escoamento através de uma bomba ocorre quando a sua carga líquida é zero
(Hbomba=0). A vazão é chamada de fornecimento livre da bomba. As condições
para o fornecimento livre (free delivery) da bomba ocorrem quando não há
resistência para o escoamento na saída da bomba (não há tubulação conectada
à bomba). No caso, a bomba não tem carga hidráulica, pois a vazão é muito
alta e a carga hidráulica é nula. Se a equação de cálculo de potência instalada
de bomba for aplicada, o resultado da eficiência da bomba será zero, ou seja, a
bomba não está realizando trabalho útil de escoamento. Na condição oposta,
a bomba opera na sua carga hidráulica máxima, que só ocorre quando a vazão
volumétrica do escoamento é igual a zero. A carga é chamada de carga de
fechamento (shutoff head) e ocorre quando a saída da bomba é bloqueada. Nas
condições, a carga hidráulica (aumento de pressão do fluido) é alta, mas a
vazão é nula. Também, no caso, a eficiência da bomba é zero, pois ela não está
realizando trabalho útil de escoamento.

Entre os dois extremos, da carga de fechamento até o fornecimento livre,


a carga hidráulica da bomba pode aumentar em relação ao seu valor de carga de
fechamento à medida que a vazão aumenta, mas logo começa a redução da carga
hidráulica da bomba até o valor ficar nulo à medida que a vazão aumenta até o
seu valor de fornecimento livre. A eficiência máxima da bomba será em algum
ponto entre os dois extremos (carga de fechamento e fornecimento livre).

O ponto de eficiência máxima da bomba é chamado de melhor ponto


de eficiência (BEP – best efficiency point) e é indicado por asteriscos no gráfico a
seguir (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Assim, os fabricantes fornecem curvas de
desempenho da bomba (curvas características) que relacionam os valores de
carga hidráulica (Hbomba), eficiência da bomba e potência instalada da máquina
hidráulica como funções da vazão volumétrica de operação. Para cada velocidade
de rotação do impelidor é plotada uma nova curva característica da bomba.
172
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

GRÁFICO 2 – CURVA CARACTERÍSTICA DE DESEMPENHO PARA UMA BOMBA CENTRÍFUGA

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

E
IMPORTANT

Mais detalhes sobre a dependência dos parâmetros hidráulicos da bomba com


a sua velocidade de rotação devem ser pesquisados nas Leis de Afinidade ou Regras de
Semelhanças entre bombas.

Segundo Çengel e Cimbala (2015), para escoamentos em regime


permanente, uma bomba centrífuga só pode operar ao longo de sua curva de
desempenho. Assim, o ponto de operação para um sistema de escoamento em
tubulações é determinado quando os requisitos do sistema (carga hidráulica
necessária para o fluido) coincidem com o desempenho da bomba, ou seja, com
sua carga hidráulica líquida disponível (Hbomba). Geralmente, os dois valores de
carga hidráulica (requisitados pelo sistema e bomba) coincidem com um valor
exclusivo de vazão volumétrica, chamado então de ponto operacional ou de
funcionamento do sistema. Podemos concluir, então, que o ponto operacional é
estabelecido quando a vazão volumétrica converge com a igualdade entre a carga
hidráulica da bomba e a carga hidráulica demandada pelo sistema de escoamento.

Para um sistema de escoamento em tubulações, considerando as perdas


de carga do sistema e variações de pressão e elevação, a carga hidráulica líquida
necessária aumenta com a vazão volumétrica. Já a carga hidráulica das bombas
centrífugas geralmente diminui com a vazão em seu intervalo operacional.

173
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

Assim, a curva de desempenho da bomba deve cruzar a curva do sistema de


escoamento para estabelecer o ponto de operação. Raramente a bomba terá seu
ponto operacional convergente com o ponto de melhor eficiência da bomba. Se
o requisito de eficiência for importante, uma nova bomba deve ser avaliada com
outra curva característica. Caso o modelo de bomba não atenda aos parâmetros
da curva do sistema (carga hidráulica necessária e vazão), deve-se pesquisar
outros modelos e fabricantes (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; JANNA, 2016; SINGH;
HELDMAN, 2016).

GRÁFICO 3 – PONTO OPERACIONAL DE UM SISTEMA DE ESCOAMENTO. A VAZÃO VOLUMÉTRICA


DEVE INTERCEPTAR O PONTO EM QUE AS CURVAS DA BOMBA E DO SISTEMA SE CRUZAM

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

Conforme exposto, a carga hidráulica da bomba deve atender à carga


hidráulica necessária do sistema de escoamento com o objetivo de promover o
escoamento do fluido em regime permanente. Assim, a equação de Bernoulli
pode ser aplicada entre os pontos de entrada e saída de fluido no sistema, já que
a carga hidráulica da bomba fornece um aumento de pressão estática do fluido
entre os pontos de sucção e descarga do sistema (aumento da carga de pressão
ou trabalho de escoamento), aumento da pressão dinâmica entre os pontos de
174
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

sucção e descarga do sistema (aumento da energia cinética), aumento da carga


de elevação entre os pontos de sucção e descarga do sistema (aumento de energia
potencial) e fornecimento de energia hidráulica suficiente para que o fluido
supere todas as perdas de carga irreversíveis no sistema de tubulação (perdas de
carga localizadas e distribuídas).

Na prática, calculamos a carga hidráulica da bomba para uma vazão


definida e selecionamos a bomba mais adequada em um catálogo de fornecedores.
Frequentemente, selecionamos uma bomba com vazão e com altura manométrica
total um pouco maiores do que o calculado para o sistema. Assim, deve haver
uma bomba com potência instalada maior (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Se for
necessário atingir exatamente os parâmetros requisitados e calculados para a
vazão do sistema, uma válvula reguladora de vazão deve ser instalada na linha
de recalque, diminuindo a vazão do escoamento, porém aumentando a perda de
carga do sistema, que deve ser compensada pelo aumento da carga hidráulica da
bomba devido à redução da sua vazão.

Segundo Çengel e Cimbala (2015), os fabricantes de bombas centrífugas


costumam oferecer várias opções de diâmetro de rotor para uma única carcaça
de bomba. A ação se deve ao fato de minimizar o custo de fabricação da bomba,
pois é feita a fundição de uma única carcaça (voluta), que pode acomodar rotores
de diâmetros diferentes, aumentando a capacidade de bombeamento da máquina
hidráulica. Outro benefício é a possibilidade de reutilizar a bomba em outras
aplicações, diferentes da planejada.

Um modelo de bomba que possui várias opções de diâmetro de rotor


disponíveis é agrupado em uma “família” de bombas centrífugas com mesmo
diâmetro de carcaça, mas diâmetros diferentes de rotor. É prática comum
dos fabricantes combinarem as curvas características de toda uma família de
bombas com diâmetros de rotor diferentes em um único gráfico (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007).

Podemos observar que o tipo de gráfico apresenta uma curva de carga


hidráulica da bomba (H) em função da vazão volumétrica (Q ou ) para cada
diâmetro de rotor. Adicionalmente, o gráfico ilustra linhas de curvas com valores
de eficiência constante através dos pontos que têm o mesmo valor de eficiência de
bomba para as opções de diâmetro de rotor. Da mesma forma, as linhas de curvas
para potência instalada da bomba constante também são inseridas no gráfico.

É importante notar que a curva característica apresentada é aplicada


em um modelo de bomba de carcaça padronizada que pode operar com cinco
diâmetros de rotor diferentes. Outro fato a ser observado é que, geralmente, as
curvas características não são projetadas graficamente até o ponto de fornecimento
livre (vazão máxima e carga hidráulica nula). Obviamente, a ação ocorre porque
os valores de carga hidráulica e eficiência da bomba são muito baixos. Se houver
necessidade de aumentar a vazão ou carga hidráulica, é necessário avaliar a
disponibilidade de uma bomba com maior rotor ou instalar uma associação de

175
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

bombas em paralelo (para aumento da vazão) ou em série (para aumento da carga


hidráulica) (ROTAVA, 2012; TERRON, 2012).

O gráfico também ilustra que, para uma carcaça padronizada, quanto maior
o diâmetro de rotor maior é a eficiência máxima da bomba. Entretanto, escolher
a bomba de maior eficiência nem sempre é a melhor opção, pois cada aplicação
exige uma combinação de dois parâmetros hidráulicos (carga hidráulica da bomba
e vazão volumétrica). Se os parâmetros hidráulicos requisitados coincidem com
um determinado diâmetro de rotor de bomba, é válido escolher uma bomba de
menor eficiência para contemplar o requisito hidráulico, pois as bombas com
maior diâmetro de rotor e maior eficiência demandam maior potência instalada,
o que significa um maior consumo de energia e custo de operação.

GRÁFICO 4 – CURVA CARACTERÍSTICA DE FAMÍLIA DE BOMBAS CENTRÍFUGAS. CADA BOMBA


POSSUI MESMA CARCAÇA COM DIÂMETRO DE ROTOR DIFERENTE

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

3 SELEÇÃO DA BOMBA CENTRÍFUGA PARA UM SISTEMA DE


TUBULAÇÃO
Os dois parâmetros hidráulicos necessários para a especificação da
bomba centrífuga adequada para uma instalação de bombeamento são a vazão
volumétrica (Q) e a carga hidráulica da bomba ou altura manométrica total (Hbomba).

176
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

A vazão volumétrica geralmente é definida pelo processo. A carga hidráulica da


bomba deve ser calculada considerando a diferença de pressão entre a linha de
sucção e de descarga (recalque) do fluido para um sistema fechado, a diferença de
velocidade entre a sucção e a descarga do fluido, a diferença de altura geométrica
entre a sucção e a descarga do fluido, todas as perdas de carga do sistema devido
ao atrito do fluido na tubulação, além da presença de acessórios na linha do
escoamento, tais como curvas, válvulas, bocais, medidores de velocidade e vazão,
equipamentos como filtros, trocadores de calor etc. (ÇENGEL; CIMBALA, 2007;
TADINI et al., 2016).

3.1 CÁLCULO DE PARÂMETROS HIDRÁULICOS


A vazão mássica ou volumétrica de escoamento do fluido é uma informação
estabelecida para um processo industrial, pois depende da capacidade nominal
da planta industrial e da dinâmica de produção da fábrica (MOTT; UNTENER,
2015; JANNA, 2016). Portanto, geralmente o dimensionamento hidráulico para
seleção da bomba centrífuga parte da necessidade de calcular o valor do parâmetro
hidráulico relacionado à carga hidráulica da bomba ou altura manométrica total
(Hbomba). É o total de energia mecânica que a bomba terá que adicionar ao fluido
em função do sistema de tubulação instalado para o escoamento.

É necessário o conhecimento das propriedades físicas do fluido a ser


bombeado, tais como densidade, viscosidade dinâmica, temperatura e pressão de
vapor. Os dados podem ser consultados em literaturas técnicas ou determinados
em laboratório.

As informações relacionadas ao dimensionamento da tubulação também


devem estar disponíveis. A rugosidade média do material da tubulação,
diâmetros de sucção e recalque, comprimento total da linha de escoamento e tipos
e quantidades de acessórios instalados devem ser relacionados. As constantes
características devem ser consultadas com os fabricantes.

Uma vez que todas as informações estejam disponíveis, o procedimento


de cálculo do dimensionamento hidráulico pode ser descrito de acordo com as
etapas a seguir:

E
IMPORTANT

As equações utilizadas neste roteiro de cálculo já foram definidas na Unidade


2 do livro de estudos. Organize um formulário com as principais equações que serão
necessárias para acompanhamento do procedimento nos exemplos de aplicação.

177
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

1. Considerando o trecho de sucção da bomba, calcule a velocidade média


do fluido a partir da vazão volumétrica de escoamento e da área de seção
transversal da tubulação de sucção (já com diâmetro conhecido).
2. Com a velocidade de sucção conhecida, calcule as perdas de carga localizadas
(menores) para cada acessório instalado no trecho. Some todas as perdas de
carga e determine o valor de hs da sucção.
3. Com a velocidade de sucção conhecida, calcule as perdas de carga distribuídas
(maiores) do trecho da tubulação. Assim, devemos executar os seguintes
cálculos paralelos:
3.1. Determinar o número de Reynolds (Re) com a densidade e viscosidade do
fluido, diâmetro da tubulação e velocidade do escoamento. Classificar o
regime de escoamento em laminar ou turbulento.
3.2. Determinar o valor da rugosidade relativa (ε/D) do tubo a partir do valor
da rugosidade média do material e do diâmetro do tubo. O valor da
rugosidade média dos principais materiais usados em tubulações está no
diagrama de Moody (Unidade 2).
3.3. Com os parâmetros determinados nos itens 3.1 e 3.2, calcular o valor do
fator de atrito de Darcy (fD):
3.3.1. Através das equações empíricas. Colebrook-White (1939), Churchill
(1973) e Haaland (1983) são as mais utilizadas.
3.3.2. Através da leitura no diagrama de Moody, com os valores de
Reynolds (Re) e rugosidade relativa (ε/D) do tubo.
3.4. Utilizar a equação de Darcy-Weisbach para calcular a perda de carga
distribuída no trecho de sucção (hf). É necessário saber o comprimento
total (L) do trecho e o diâmetro hidráulico (DH) da tubulação (no caso
de um tubo de área de seção circular, o diâmetro hidráulico é o próprio
diâmetro do tubo).
4. Somar as perdas de carga localizadas (item 2) e as perdas de carga distribuídas
(item 3.4) e determinar o total de perdas de carga no trecho de sucção.
5. Repetir os procedimentos dos itens 1, 2, 3 e 4 para o trecho de recalque.
6. Somar as perdas de carga na sucção e no recalque e determinar o total de perdas
de carga do sistema (Hperdas).
7. Aplicar a equação de Bernoulli entre os trechos de sucção e descarga do sistema
para calcular a carga hidráulica da bomba ou altura manométrica total (Hbomba).
7.1. Verificar se o sistema está aberto ou fechado (diferença de pressão entre a
sucção e a descarga de fluido), as diferenças de elevações entre a sucção e
a descarga do fluido e as diferenças de velocidades do escoamento entre
a sucção e a descarga do fluido. Considerar o total de perdas de carga do
sistema. Em alguns casos é possível simplificar os termos da equação de
Bernoulli.

Se todas as análises e considerações sobre o sistema de escoamento foram


aplicadas corretamente e os cálculos executados de forma criteriosa, o parâmetro
hidráulico relativo à carga hidráulica da bomba é determinado e, juntamente com
a vazão volumétrica requisitada pelo sistema, podemos selecionar um modelo de
bomba centrífuga adequado.

178
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

3.2 CAVITAÇÃO E CÁLCULO DO NPSH


No escoamento de líquidos pode ocorrer a redução da pressão local na
linha de sucção ou dentro da bomba centrífuga. Se a pressão atingir ou cair, o
líquido sofre mudança de fase (evapora), causando o fenômeno de cavitação na
bomba. A pressão de vapor (ou de saturação) de um líquido é uma propriedade
termodinâmica disponível em tabelas de vapor e depende da temperatura de
saturação (ÇENGEL; BOLES, 2013).

Após as bolhas de vapor se formarem no líquido, elas são transportadas


até regiões de pressões mais elevadas da bomba, causando o colapso repentino
das bolhas de vapor. Ocorrendo nas superfícies do rotor da bomba, há cavitação.
O colapso das bolhas é facilmente identificado devido ao ruído característico do
fenômeno, similar ao efeito de esfregar uma lixa ou grãos de areia na parede do
tubo. A cavitação também causa vibrações, reduz a eficiência da bomba e causa
severa erosão nas pás do rotor da bomba ao longo do tempo, comprometendo a
operação e a vida útil do equipamento.

FIGURA 5 – EROSÃO NO ROTOR DA BOMBA EM FUNÇÃO DA CAVITAÇÃO (DIREITA) EM


COMPARAÇÃO A UM ROTOR QUE NÃO SOFREU CAVITAÇÃO (ESQUERDA)

FONTE: Potter e Wiggert (2013, p. 489)

De acordo com Rotava (2012), Terron (2012) e Çengel e Cimbala (2015),


para evitar a cavitação, é necessário assegurar que a pressão local interna da
bomba fique acima da pressão de vapor do líquido. Como a pressão interna da
bomba é difícil de medir, a análise do fenômeno de cavitação é feita medindo a
pressão e condições do escoamento na linha de sucção e entrada da bomba. Para a
análise, emprega-se um parâmetro chamado de NPSH (Net Positive Suction Head)
ou carga hidráulica líquida positiva de sucção.

Os fabricantes de bombas centrífugas realizam testes experimentais para


avaliação da ocorrência de cavitação em seus modelos de bombas, variando a
vazão de operação e a pressão de entrada da bomba (MOTT; UNTENER, 2015).
Na prática, em determinada vazão e temperatura de líquido no escoamento, a

179
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

pressão na linha de sucção da bomba é reduzida até o momento que inicia a


cavitação na bomba (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). O procedimento é repetido
para outras vazões e os resultados são plotados em um gráfico, com o parâmetro
estabelecido pelo fabricante chamado de NPSH requerido ou necessário, que é a carga
hidráulica mínima que o fluido deve ter na sucção para não ocorrer cavitação a
uma determinada vazão.

E
IMPORTANT

O NPSH requerido pode ser definido como a energia mecânica necessária


para o líquido vencer as perdas de carga entre a conexão de sucção da bomba e as pás
do rotor e criação da velocidade desejada do líquido nas pás. Como o valor de NPSH
requerido depende da vazão volumétrica da bomba, a curva é traçada juntamente com a
curva característica da bomba. Para a maioria das bombas centrífugas, o NPSH requerido
aumenta com a vazão volumétrica.

Antes da instalação da bomba, devemos nos certificar que não ocorrerá


cavitação, calculando o valor do NPSH disponível no sistema de escoamento. O valor
do NPSH disponível deve ser maior do que o NPSH requerido para não ocorrer a cavitação.
No procedimento de cálculo a seguir, é possível notar que o NPSH disponível depende
de alguns fatores, sendo os mais importantes comentados a seguir:

• Pressão de vapor do líquido (Pvapor): quanto maior a temperatura do líquido, maior


a sua pressão de vapor e, portanto, maior a possibilidade de ocorrer cavitação.
• Altura de sucção (hsucção): quanto maior for a altura de uma sucção negativa,
menor será o NPSH disponível e maior a chance de ocorrer cavitação. Sempre
que possível, devemos projetar instalações com altura de sucção positiva,
reduzindo a possibilidade de cavitação do fluido.
• Perda de carga na sucção (Hperdas na sucção): Quanto maior a perda irreversível
de energia na sucção da bomba, menor o NPSH disponível . Portanto, devemos
evitar linhas de sucção muito longas ou com muitos acessórios na tubulação.
Ainda, para minimizar a perda de carga por atrito, a velocidade de sucção
deve ser menor que a de recalque. Por isso, o diâmetro do tubo de sucção deve
ser, pelo menos, ‘1 valor de diâmetro padronizado’ maior que o diâmetro
do tubo de recalque. Para linhas de sucção com pequeno comprimento, é
possível admitir diâmetros iguais nas tubulações de sucção e recalque.

As perdas de carga irreversíveis na tubulação de sucção aumentam com


a vazão volumétrica, aumentando assim o NPSH requerido. A carga hidráulica
da bomba (Hbomba) diminui com a vazão volumétrica. Assim, o valor de NPSH
disponível
diminui com a vazão volumétrica (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). A vazão
volumétrica correspondente ao ponto de encontro das curvas do NPSH requerido
e NPSH disponível é a vazão volumétrica máxima de operação da bomba sem que
ocorra a cavitação.
180
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

GRÁFICO 5 – A VAZÃO MÁXIMA DE OPERAÇÃO DA BOMBA SEM CAVITAÇÃO É O PONTO


ONDE A CURVA DE NPSH DISPONÍVEL ENCONTRA A CURVA DE NPSH REQUERIDO

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2007)

O método de cálculo da carga líquida positiva na sucção (NPSHdisponível) é


descrito a seguir:

Se o NPSH disponível
> NPSH requerido
(dado pelo fabricante), a bomba não
cavitará.

E
IMPORTANT

A altura de sucção pode ser negativa (quando o nível de sucção está abaixo da
bomba) ou positiva (quando o nível de sucção está acima da bomba).

181
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

3.3 SELEÇÃO DE BOMBA CENTRÍFUGA ATRAVÉS DE


CATÁLOGO DE FABRICANTES
Conhecidas a vazão volumétrica e a carga hidráulica para o sistema
de escoamento do fluido, é necessário realizar uma consulta em catálogos de
fabricantes de bombas centrífugas e localizar um modelo de bomba que atenda
aos parâmetros hidráulicos calculados.

Muitas vezes, em função da natureza do líquido, devemos consultar


o fabricante sobre a necessidade de uso de materiais especiais na bomba ou
configurações específicas, objetivando uma operação segura e garantia do
atendimento dos requisitos do projeto hidráulico.

Geralmente, especificamos as seguintes informações da bomba de acordo


com o catálogo do fabricante:

Fabricante:_______________
Modelo:______________
Estágios:_______________
Altura Manométrica Total (Hbomba)_______________(m c.a. ou bar)
Capacidade (Vazão)_______________(m³/h)
Potência instalada:_______________(cv ou kW)
Pressão máxima sem vazão (carga de fechamento):_______________(m c.a. ou bar)
Altura máxima de sucção:_______________(m c.a.)
Diâmetro de sucção recomendado: _______________(pol. ou mm)
Diâmetro de recalque recomendado: _______________(pol. ou mm)
Diâmetro do rotor:_______________(pol. ou mm)
Tipo de rotor:_______________
Eficiência:_______________(%)
NPSH requerido:_______________(m c.a. ou bar)
Tipo de motor elétrico disponível:_______________
Rotação nominal:_______________(RPM)
Frequência:_______________(Hz)

3.4 USO DE CURVAS CARACTERÍSTICAS PARA SELEÇÃO


DE BOMBAS CENTRÍFUGAS
Praticamente todas as informações elencadas na consulta do catálogo de
fabricante podem ser obtidas com as curvas características dos modelos de bomba
ou famílias de bombas. Da mesma forma que é efetuada a consulta em catálogos,
é necessário conhecer a vazão volumétrica e a carga hidráulica para o sistema
de escoamento do fluido e verificar se os parâmetros hidráulicos coincidem com
as curvas plotadas nos gráficos da bomba. Caso os parâmetros sejam atendidos
pelo modelo de bomba centrífuga, algumas informações são lidas no gráfico a
partir do ponto de interceptação da vazão volumétrica com a carga hidráulica,
por exemplo, eficiência, potência instalada e diâmetro do rotor.
182
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

Outras informações são obtidas apenas com o valor da vazão volumétrica,


por exemplo, NPSH requerido. O valor NPSH requerido geralmente é menor do que o
valor da altura manométrica total da bomba (Hbomba) ao longo da maior parte
da curva de desempenho. Assim, os valores de NPSH requerido são representados
graficamente em um eixo vertical expandido ou separado em outra curva
característica (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

4 EXEMPOS DE APLICAÇÃO
1) Em uma instalação industrial de produção de alimentos, a água do processo
proveniente de um tanque-pulmão aberto sob a pressão atmosférica necessita
ser transferida para um reservatório também aberto sob a pressão atmosférica,
de acordo com o diagrama esquemático a seguir. A bomba deve ter capacidade
de enviar 60m³ de água em um tempo de 1h. Considere que a água do processo
está a uma temperatura média de 55ºC (Pvapor=15763Pa; γ=9832N/m³; μ=0,466
cP). A tubulação de sucção e recalque é de aço inoxidável (ε=0,002mm), sendo
que o diâmetro de sucção é 3” e o diâmetro de recalque é 2”. Para o sistema de
transporte de líquido, faça o dimensionamento hidráulico conforme solicitado
nos itens a seguir:

a) Determine o total de perdas de carga do sistema (distribuídas e localizadas).


Considere todos os acessórios descritos no diagrama e utilize a equação de
Haaland (1983) para cálculo do fator de atrito de Darcy (fD). Adote g=10m/s²
para todos os cálculos.
b) Determine a carga hidráulica da bomba (Hbomba) e a potência instalada da
bomba centrífuga. Selecione uma opção adequada no catálogo do fabricante
disponível (Famac Motobombas). Faça um resumo dos parâmetros hidráulicos
da bomba centrífuga selecionada para a operação.
c) Calcule o NPSHdisponível da bomba.
d) Determine o NPSHrequerido da bomba com a curva característica fornecida pelo
fabricante (Famac Motobombas). A bomba selecionada irá cavitar? Justifique.
e) Calcule o consumo de eletricidade e o custo mensal de operação da bomba
selecionada se ela operar continuamente durante 24 horas por dia e 30 dias por
mês. Considere a tarifa elétrica igual a R$0,61/kWh.

183
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

FIGURA 6 – ESQUEMA DO SISTEMA DE RECALQUE DE FLUIDO PARA O EXEMPLO DE


APLICAÇÃO 1

FONTE: O autor

184
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

FIGURA 7 – INFORMAÇÕES TÉCNICAS DA BOMBA CENTRÍFUGA INDICADA AO EXEMPLO DE


APLICAÇÃO 1

FONTE: Adaptado de Famac Motobombas (2018)

FIGURA 8 – CURVAS CARACTERÍSTICAS DA BOMBA CENTRÍFUGA INDICADA AO EXEMPLO DE


APLICAÇÃO 1

185
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

FONTE: Adaptado de Famac Motobombas (2018)

A resolução e o dimensionamento hidráulico para seleção da bomba


centrífuga são descritos na sequência:

Propriedades físicas da água:

T = 55°C
Pvapor= 15763Pa
γ = 9832 N/m³
µ = 0,466 cP =0,000466Pa·s

Dados da tubulação:

Dsucção = 3” = 0,0762 m
Drecalque = 2”=0,0508m
ε aço inoxidável = 0,002mm

Bomba centrífuga:

Qoperação = 60m³/h = 0,0167m³/s


Pressão na sucção do sistema aberto = 1,01bar = 101325Pa
Pressão no recalque do sistema aberto = 1,01bar = 101325Pa

Cálculos relacionados ao trecho de sucção do sistema:

186
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

Cálculos das perdas de carga no trecho de sucção do sistema:

Perdas Localizadas ou Menores (hs)

Perdas Distribuídas ou Maiores (hf)

Escoamento em regime turbulento, pois Re > 4000.

Cálculo do fator de atrito de Darcy com a equação de Haaland:

(
( 2

187
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

Cálculos relacionados ao trecho de recalque do sistema:

Cálculos das perdas de carga no trecho de recalque do sistema:

Perdas Localizadas ou Menores (hs)

Perdas Distribuídas ou Maiores (hf)

Escoamento em regime turbulento, pois Re > 4000.

Cálculo do fator de atrito de Darcy com a equação de Haaland:

188
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

(
( 2

Cálculo da perda de carga total no trecho do escoamento:

Aplicação da equação de Bernoulli no trecho de escoamento para cálculo


da carga hidráulica da bomba (altura manométrica total):

Seleção da motobomba centrífuga: De acordo com o catálogo do


fornecedor Famac Motobombas, selecionamos a seguinte bomba centrífuga que
contempla os parâmetros hidráulicos do sistema de escoamento:

Fornecedor: Famac Motobombas


Modelo: BC-20 F (230mm)

189
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

Diâmetro do rotor: 230mm


Altura manométrica total (carga hidráulica da bomba) = 104m c.a.
Vazão volumétrica da bomba = 60,3 m³/h
Potência instalada da bomba = 50cv
Diâmetro de sucção recomendado = 3” = 0,0762m
Diâmetro de recalque recomendado = 2” = 0,0508m
Eficiência da bomba = 56%
NPSH requerido≈ 5 m c.a.

E
IMPORTANT

Alternativamente, é possível selecionar os seguintes modelos de bomba caso


ocorra necessidade de aumentar a carga hidráulica da bomba em função de aumento das
perdas de carga ou variação na vazão de operação. A ação pode ser efetuada com a troca
do rotor da bomba.

Modelo: BC-20 F (240mm)


Diâmetro do rotor: 240mm
Altura manométrica total (carga hidráulica da bomba) = 114m c.a.
Vazão volumétrica da bomba = 61,2 m³/h
Potência instalada da bomba = 50cv
Diâmetro de sucção recomendado = 3” = 0,0762m
Diâmetro de recalque recomendado = 2” = 0,0508m
Eficiência da bomba = 54%
NPSH requerido≈ 5 m c.a.

ou

Modelo: BC-20 F (250mm)


Diâmetro do rotor: 250mm
Altura manométrica total (carga hidráulica da bomba) = 124m c.a.
Vazão volumétrica da bomba = 63,6 m³/h
Potência instalada da bomba = 50cv
Diâmetro de sucção recomendado = 3” = 0,0762m
Diâmetro de recalque recomendado = 2” = 0,0508m
Eficiência da bomba = 53%
NPSH requerido ≈ 5 m c.a.

Cálculo do NPSHdisponível da bomba: O cálculo deve ser executado para


verificação da possibilidade de cavitação da bomba centrífuga.

190
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

Como NPSH disponível (6,47 m c.a.) é maior do que o NPSH requerido (5m c.a.)
pela bomba, ela não sofrerá cavitação durante a operação, pois a pressão na
linha de sucção ficará acima do valor da pressão de vapor do líquido, na sua
temperatura de operação. A bomba centrífuga terá seu sistema de sucção com
carga hidráulica disponível suficiente para a sucção do líquido.

Cálculo do consumo elétrico da bomba e custo de operação:

1) Em uma instalação industrial de processos químicos, o ácido sulfúrico diluído


(H2SO4) proveniente de um tanque com pressão manométrica positiva de 0,1
bar necessita ser transferido para um reservatório fechado (reator) com pressão
manométrica positiva de 4,5 bar, de acordo com o circuito fechado representado
no diagrama esquemático a seguir. A bomba deve ter capacidade de enviar
38m³ de água em um tempo de 1h. Considere as seguintes propriedades do
ácido sulfúrico diluído: Pvapor=0,0038 bar; γ=15000N/m³; μ=5,7cP. A tubulação
de sucção e recalque é formada por trechos de aço-carbono teflonizado e
aço-carbono vitrificado, que podem ser assumidos como tubos lisos (ε=0).
O diâmetro da tubulação de sucção é igual a 2,5” e o diâmetro da tubulação
de recalque é igual a 1,5”. Para o sistema de transporte de líquido, faça o
dimensionamento hidráulico conforme solicitado nos itens a seguir:
a) Determine o total de perdas de carga do sistema (distribuídas e localizadas).
Considere todos os acessórios descritos no diagrama e utilize a equação de
Haaland (1983) para cálculo do fator de atrito de Darcy (fD). Adote g=10m/s²
para todos os cálculos.
b) Determine a carga hidráulica da bomba (Hbomba) e a potência instalada da
bomba centrífuga. Selecione uma opção adequada no catálogo do fabricante
disponível (Famac Motobombas). Faça um resumo dos parâmetros hidráulicos
da bomba centrífuga selecionada para a operação.
191
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

c) Calcule o NPSHdisponível da bomba.


d) Determine o NPSHrequerido da bomba com a curva característica fornecida pelo
fabricante (Famac Motobombas). A bomba selecionada irá cavitar? Justifique.
e) Calcule o consumo de eletricidade e o custo mensal de operação da bomba
selecionada se ela operar continuamente durante 24 horas por dia e 30 dias por
mês. Considere a tarifa elétrica igual a R$0,61/kWh.

FIGURA 9 – ESQUEMA DO SISTEMA DE RECALQUE DE FLUIDO PARA O EXEMPLO DE


APLICAÇÃO 2

FONTE: O autor

192
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

FIGURA 10 – INFORMAÇÕES TÉCNICAS DA BOMBA CENTRÍFUGA INDICADA AO EXEMPLO


DE APLICAÇÃO 2

FONTE: Adaptado de Famac Motobombas (2018)

FIGURA 11 – CURVAS CARACTERÍSTICAS DA BOMBA CENTRÍFUGA INDICADA AO EXEMPLO DE


APLICAÇÃO 2

193
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

FONTE: Adaptado de Famac Motobombas (2018)

A resolução e o dimensionamento hidráulico para seleção da bomba


centrífuga são descritos na sequência:

Propriedades físicas do ácido sulfúrico diluído (H2SO4)

Pvapor= 0,0038bar = 380Pa


γ = 15000 N/m³
µ = 5,7cP = 0,0057Pa·s

Dados da tubulação:

Dsucção = 2,5” = 0,0635 m


Drecalque = 1,5”=0,0381m
ε aço inoxidável vitrificado= 0mm

Bomba centrífuga:

Qoperação = 38 m³/h = 0,0105 m³/s


Pressão na sucção do sistema fechado = 0,1bar = 10000Pa
Pressão no recalque do sistema fechado = 4,5bar = 450000Pa

Cálculos relacionados ao trecho de sucção do sistema:

194
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

Cálculos das perdas de carga no trecho de sucção do sistema:

Perdas Localizadas ou Menores (hs)

Perdas Distribuídas ou Maiores (hf)

Escoamento em regime turbulento, pois Re > 4000.

Cálculo do fator de atrito de Darcy com a equação de Haaland:

(
( 2

Cálculos relacionados ao trecho de recalque do sistema:

195
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

Cálculos das perdas de carga no trecho de recalque do sistema:

Perdas Localizadas ou Menores (hs)

Perdas Distribuídas ou Maiores (hf)

Escoamento em regime turbulento, pois Re > 4000.

Cálculo do fator de atrito de Darcy com a equação de Haaland:

196
TÓPICO 1 | SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

(
( 2

Cálculo da perda de carga total no trecho do escoamento:

Aplicação da equação de Bernoulli no trecho de escoamento para cálculo


da carga hidráulica da bomba (altura manométrica total):

Seleção da motobomba centrífuga: De acordo com o catálogo do


fornecedor Famac Motobombas, selecionamos a seguinte bomba que contempla
os parâmetros hidráulicos do sistema de escoamento:

Fornecedor: Famac Motobombas


Modelo: FNB
Diâmetro do rotor: 240mm
Altura manométrica total (carga hidráulica da bomba) = 102m
Vazão volumétrica da bomba = 44,8 m³/h
Potência instalada da bomba = 40cv

197
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

Diâmetro de sucção recomendado = 2,5” = 0,0635m


Diâmetro de recalque recomendado = 1,5” = 0,0381m
Eficiência da bomba = 55%
NPSH requerido ≈ 3,5 m

E
IMPORTANT

Como o escoamento é de um líquido de processo químico (ácido sulfúrico


diluído), é necessário consultar o fabricante para avaliar a disponibilidade de bombas
centrífugas de processos químicos. É necessário contemplar condições para transportar
líquidos corrosivos ou produtos químicos agressivos. Geralmente, as bombas precisam
ter partes específicas construídas com materiais especiais, como aço inoxidável ou aço-
carbono revestido com Teflon®. Outros fabricantes tradicionais de bombas centrífugas
para processos químicos industriais são a Omel e KSB.

Cálculo do NPSHdisponível da bomba: o cálculo deve ser executado para


verificação da possibilidade de cavitação da bomba centrífuga.

Como NPSH disponível (12,35 m c.a.) é maior pela bomba, ela não sofrerá
cavitação durante a operação, pois a pressão na linha de sucção ficará acima do
valor da pressão de vapor do líquido, na sua temperatura de operação. A bomba
centrífuga terá seu sistema de sucção com carga hidráulica disponível suficiente
para a sucção do líquido.

Cálculo do consumo elétrico da bomba e custo de operação:

198
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• As bombas centrífugas (cinéticas ou dinâmicas) e as bombas volumétricas


(deslocamento positivo) são os principais tipos de máquinas hidráulicas
aplicadas para transporte de fluidos.

• Existem diferenças nos princípios de funcionamento e características


operacionais de aplicação de uma bomba centrífuga e uma bomba de
deslocamento positivo.

• Os fabricantes disponibilizam curvas características para consulta de


parâmetros hidráulicos da bomba centrífuga.

• O método de cálculo e dimensionamento de uma bomba centrífuga para um


sistema de escoamento de fluidos em tubulação é importante para a seleção da
bomba centrífuga mais adequada aos requisitos do sistema.

• É importante realizar a análise de parâmetros hidráulicos do sistema e o teste


de cavitação.

• A pesquisa em catálogos de fornecedores para seleção de bomba centrífuga é


fundamental para a escolha do melhor modelo de máquina hidráulica.

199
AUTOATIVIDADE

1 Uma bomba centrífuga deve ser instalada para encaminhar água de um


tanque (A) em um condomínio residencial até a estação de tratamento
de efluentes (B), conforme ilustra o diagrama esquemático a seguir. O
sistema está aberto para a pressão atmosférica no tanque (A) e na descarga
da água na estação de tratamento de efluentes (B). A tubulação que faz
o transporte do líquido é de aço-carbono comercial (ε=0,045mm) e tem
diâmetro de sucção e de recalque igual a 32mm. A vazão de operação
da bomba deve ser estimada no número de habitantes do condomínio
(2000 habitantes) e na quantidade média de água utilizada por cada
habitante (100L/dia). Considere que a água tem os seguintes valores de
propriedades físicas: Temperatura= 20°C; Pvapor= 2339,2Pa; γ= 10000N/
m³; μ= 1cP. Faça o dimensionamento hidráulico do sistema conforme
solicitado nos itens a seguir:

a) Determine o total de perdas de carga do sistema (distribuídas e localizadas).


Considere como acessórios do sistema de tubulação apenas as curvas (k=1,5).
Utilize a equação de Haaland (1983) para cálculo do fator de atrito de Darcy
(fD). Adote g=10m/s² para todos os cálculos.
b) Determine a carga hidráulica da bomba (Hbomba) e a potência instalada da
bomba centrífuga. Selecione uma opção adequada no catálogo do fabricante
disponível (Famac Motobombas). Faça um resumo dos parâmetros
hidráulicos da bomba centrífuga selecionada para a operação.
c) Calcule o NPSHdisponível da bomba.
d) Determine o NPSHrequerido da bomba com a curva característica
fornecida pelo fabricante (Famac Motobombas). A bomba selecionada irá
cavitar? Justifique.
e) Calcule o consumo de eletricidade e o custo mensal de operação da bomba
selecionada se ela operar continuamente durante 24 horas por dia e 30 dias
por mês. Considere a tarifa elétrica igual a R$0,58/kWh.

200
201
202
UNIDADE 3 TÓPICO 2

MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO


ESCOAMENTO DE FLUIDOS

1 INTRODUÇÃO
A medição do fluxo de escoamento refere-se à capacidade de medir a
velocidade, vazão volumétrica ou vazão mássica de líquidos ou gases. O controle
e a precisão na medição do fluxo de escoamento de um fluido são essenciais para
o controle de processos industriais, controle de consumo de fluidos e cálculos dos
custos associados, avaliação do desempenho de motores, sistemas de refrigeração
e outros processos industriais que empregam fluidos em movimento.

Existem muitos tipos de medidores de vazão e velocidade de fluidos


disponíveis no mercado, que variam amplamente em seu nível de sofisticação,
tamanho, custo, precisão, versatilidade, capacidade, queda de pressão e o
princípio de funcionamento (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

As técnicas empregadas na medição variam desde métodos simples e


rústicos até o uso de dispositivos extremamente engenhosos. É importante estar
familiarizado com os métodos e dispositivos mais usados para medir vazão e
velocidade de escoamentos em líquidos e gases que escoam através de tubulações.

2 CONCEITO
A medição de vazão é uma função importante em qualquer indústria que
emprega fluidos para realizar suas operações. A medição de vazão é empregada
em diversas situações do cotidiano, como quando abastecemos o carro com
gasolina. A bomba do sistema de recalque do posto de combustível inclui um
medidor de vazão para indicar quantos litros de combustível foram abastecidos
no carro para que você pague corretamente pelo volume comprado. A quantidade
de combustível vendida também é registrada pelo posto para controlar o volume
total vendido em um dia. As ações ajudam no gerenciamento da necessidade
de reabastecimento do estoque de combustível no posto. Mott e Untener (2015)
elencam outras situações em que a medição de vazão de fluido é essencialmente
aplicada na Engenharia e na Medicina:

• A avaliação de desempenho de um motor requer o uso de um combustível


que fornece a energia básica necessária para acionamento. A indicação do

203
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

desempenho do motor pode ser feita medindo a potência do motor (energia por
unidade de tempo) em relação à taxa de combustível utilizada (litros por hora).
A ação está diretamente relacionada à eficiência de combustível medida que é
usada para determinar o consumo do veículo, por exemplo, em quilômetros
percorridos por litro de combustível utilizado.
• Controle de processo industrial: qualquer indústria que usa fluidos em seus
processos deve monitorar o escoamento de fluidos. Por exemplo, bebidas são
misturas de vários constituintes que devem ser precisamente controlados para
haver o sabor que o cliente espera. O monitoramento e o controle contínuo da
vazão de cada constituinte de um sistema de mistura são fundamentais para a
garantia da qualidade dos produtos.
• Tratamento médico: o fluxo de oxigênio, transfusão de sangue ou
medicamento líquido deve ser cuidadosamente monitorado e controlado
para garantir que o paciente receba as dosagens adequadas. Medições
imprecisas podem ser perigosas.

Muitos dispositivos estão disponíveis para medição do escoamento.


Como descrito por Çengel e Cimbala (2015), alguns medidores de vazão medem
a vazão diretamente descarregando e recarregando uma câmara de medição
de volume conhecida continuamente e controlando o número de descargas ao
longo do tempo. A maioria dos medidores de vazão, entretanto, mede a vazão
do escoamento indiretamente, com a determinação da velocidade média de
escoamento ou um parâmetro relacionado à velocidade média, tal como a
pressão. A velocidade média do fluido pode ser convertida em vazão volumétrica
multiplicando a velocidade pela área de seção transversal do escoamento. O tipo
de sinal de saída varia consideravelmente para cada tipo de medidor. A indicação
pode ser uma pressão, um nível de líquido, um contador mecânico, a posição
de um indicador no fluxo de fluido, um sistema elétrico de sinal contínuo ou
uma série de impulsos elétricos. O tamanho do medidor, seu custo, a pressão do
sistema de escoamento e as habilidade necessárias para a correta operação do
medidor de vazão devem ser considerados.

A escolha do tipo ideal de medidor de vazão de fluido e sua aplicação


dependem de vários fatores, sendo os mais importantes (MOTT; UNTENER,
2015; JANNA, 2016):

Alcance ou amplitude de medição: Os medidores disponíveis


comercialmente podem medir vazões de alguns mililitros por segundo
(mL/s) para experiências laboratoriais até vários milhares de metros cúbicos
por segundo (m³/s) para a água de irrigação ou sistemas municipais de água
e esgoto. Então, para uma instalação particular do medidor, a magnitude da
vazão deve ser conhecida, assim como o grau de variações da medida. Segundo
Mott e Untener (2015), uma metodologia frequentemente usada na literatura de
medição é o turndown. É preciso efetuar uma razão do valor máximo da vazão
que o medidor pode medir e o valor da vazão mínima que o medidor pode
captar dentro da precisão declarada. A razão é um indicativo da capacidade
do medidor de funcionar sob todas as condições de vazões de escoamento
esperadas na sua aplicação.
204
TÓPICO 2 | MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS

Precisão exigida: praticamente qualquer dispositivo de medição instalado


corretamente e operado pode produzir uma precisão dentro de 5% da vazão real
do fluido. A maioria dos medidores comerciais é capaz de atingir 2% de precisão
e os mais sofisticados chegam a precisões de até 0,5%. O custo do medidor se
torna um fator importante quando deseja-se uma grande precisão na medida de
vazão (FOX; McDONALD; PRITCHARD; MITCHELL, 2018).

Perda de carga (pressão): os detalhes na construção dos dispositivos de


medição são diferentes e produzem quantidades diferentes de perda de carga no
escoamento à medida que o fluido escoa. Alguns tipos de medidores realizam
a medição colocando uma restrição ou um dispositivo mecânico no meio do
escoamento do fluido, causando, assim, a perda de carga. A perda de carga,
manifestada pela redução de pressão do fluido ao passar pelo dispositivo, é o
princípio básico para determinar a velocidade de um escoamento através do uso
das lei de conservação (equação da continuidade e equação de Bernoulli). O ideal
é que o medidor de vazão de um fluido cause a menor perda de carga possível
no escoamento.

Tipo de fluido: o desempenho de alguns medidores de vazão é afetado


pelas propriedades e condições do fluido. Uma consideração básica inicial para
escolha do medidor mais indicado é se o fluido é um líquido ou um gás. Outros
fatores importantes na escolha do medidor ideal são: a viscosidade do fluido, sua
temperatura, a condutividade elétrica, a corrosividade, propriedades ópticas,
as propriedades lubrificantes e homogeneidade do fluido. Fluidos especiais,
tais como lamas e fluidos multifásicos, requerem dispositivos especiais para
medição de vazão.

3 DISPOSITIVOS COMUNS PARA MEDIÇÃO DE VAZÃO E


VELOCIDADE DE FLUIDOS
Os dispositivos mais comuns para medição de vazão e velocidade de
fluidos são baseados no princípio da equação de Bernoulli. Ocorre a variação
de pressão em um fluido em função da sua variação de velocidade. O princípio
mostra que a vazão de um fluido pode ser determinada restringindo a área
de seção do escoamento e medindo a redução de pressão do fluido devido ao
aumento de sua velocidade (ÇENGEL; CIMBALA, 2015). Portanto, a diferença de
pressão entre os pontos antes e depois da restrição pode ser usada para indicar a
vazão do escoamento. Os tipos mais comuns de medidores de vazão que utilizam
o princípio de operação são chamados de medidores de vazão por obstrução,
sendo os mais conhecidos o tubo de Venturi, o medidor de bocal e o medidor
de placa-orifício. A relação entre a pressão causada pelo medidor no fluido e a
vazão volumétrica do escoamento é a mesma, independentemente de qual tipo
de dispositivo é usado.

Outros dispositivos medem a velocidade do escoamento de fluido.


São chamados de sondas de velocidade, que funcionam com o princípio da
205
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

determinação de diferença da pressão total (ou de estagnação) e pressão estática


do fluido, resultando na pressão dinâmica do escoamento, ou seja, a própria
velocidade do fluido. Os medidores mais comuns são os tubos de Pitot e sondas
de Pitot-Darcy.

3.1 TUBO DE PITOT


Quando um fluido em movimento é parado porque encontra um objeto
estacionário, a energia cinética do fluido é convertida em carga de pressão,
sendo a pressão maior que a pressão do escoamento de fluido. A magnitude
do aumento da pressão está relacionada com a velocidade do fluido. O tubo
de Pitot usa o princípio para indicar a velocidade do escoamento. O tubo Pitot
é um tubo oco posicionado de modo que a ponta aberta aponte diretamente e
perpendicularmente para a corrente de fluido para sentir o impacto da pressão
do escoamento. A pressão na ponta faz com que uma coluna de fluido seja
suportada. O fluido dentro do tubo de Pitot é estacionário ou estagnado e o ponto
é referido como a pressão de estagnação. Podemos utilizar a equação de energia
para relacionar a pressão no ponto de estagnação e a velocidade do fluido. Se o
ponto 1 estiver em uma linha de corrente do escoamento não perturbada à frente
do tubo e o ponto 2 estiver no ponto de estagnação, então a equação de Bernoulli
pode ser aplicada entre os dois pontos.

FIGURA 12 – SONDAS DE PITOT-DARCY

FONTE: Adaptado de Mott e Untener (2015)


206
TÓPICO 2 | MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS

A equação de Bernoulli afirma que a soma das energias potencial, cinética


e de pressão (de escoamento) de um fluido a partir de sua linha de corrente é
constante em escoamentos em regime permanente, portanto, as cargas (energias)
potenciais e cinéticas do fluido podem ser convertidas em carga (energia) de
pressão (assim como a carga de pressão pode ser convertida em carga potencial
e cinética) durante o escoamento, causando a variação de pressão (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007; COELHO, 2016; WHITE, 2011). Com a equação de Bernoulli em
termos de unidade de pressão, podemos definir os tipos de pressão no escoamento
do fluido:

(1)

Multiplicando os termos pelo peso específico do fluido

(2)

Sendo “P” a pressão estática que não incorpora efeitos dinâmicos,


ou seja, a pressão termodinâmica real do fluido; “ρv²/2” é a pressão dinâmica
representada pelo aumento de pressão quando o fluido em movimento é parado
de forma isentrópica e “ρgh” é a chamada pressão hidrostática que depende do
nível de referência adotado, representa os efeitos da altura e peso do fluido sobre
a pressão (ÇENGEL; CIMBALA, 2007; COELHO, 2016; WHITE, 2011). A soma de
todas as pressões é chamada de pressão total, que é constante em uma linha de
corrente do fluido durante um escoamento em regime permanente. A soma das
pressões estáticas e dinâmicas de um fluido é chamada de pressão de estagnação.

FIGURA 13 – PRESSÕES ESTÁTICA, DINÂMICA E DE ESTAGNAÇÃO DE UM FLUIDO

FONTE: Adaptado de Çengel e Boles (2013)

207
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

Mott e Untener (2015) definem os tubos de Pitot e as sondas estáticas de


Pitot como dispositivos que medem a velocidade local através da determinação
da diferença de pressão em conjunto com a equação de Bernoulli. O dispositivo
consiste em um delgado tubo duplo alinhado com o fluxo e conectado a um
medidor de pressão diferencial. O tubo interno está totalmente aberto para o
escoamento na ponta, e assim mede a pressão de estagnação naquele local (ponto
1). O tubo externo está vedado na ponta, mas tem furos no lado da parede externa
(ponto 2) e assim mede a pressão estática (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Para fluxo
incompressível com altas velocidades (para que os efeitos de atrito entre os pontos
1 e 2 sejam insignificantes), a equação de Bernoulli é aplicável e é expressa como:

(3)

Observando que h1 = h2 já que os orifícios de pressão estática da sonda


estática de Pitot são dispostos circunferencialmente em torno do tubo e v1=0
por causa das condições de estagnação, a velocidade de escoamento de fluido
(v2) torna-se:

ou (4)

A equação é conhecida como a fórmula de Pitot. Se a velocidade do


escoamento é medida em um local onde a velocidade local é igual à velocidade
média do fluido, a vazão volumétrica pode ser calculada a partir da equação de
vazão volumétrica, conhecendo a área de seção do escoamento.

Vários fabricantes fornecem dispostivos para medição da pressão


diferencial em sondas de Pitot-Darcy. Se um manômetro diferencial for usado,
a deflexão do fluido manométrico (h) pode estar relacionada diretamente com
a velocidade e através de um ajuste na fórmula de Pitot. O termo (P2-P1)/γ na
equação (4) equivale à diferença entre a pressão de estagnação (total) e a pressão
estática do fluido, o que resulta na carga hidráulica (h), que representa a pressão
vdinâmica do fluido. Assim, aplicando a manometria, obtemos a seguinte relação:

(5)

208
TÓPICO 2 | MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS

FIGURA 14 – MANÔMETRO DIFERENCIAL USADO EM UMA SONDA PITOT-DARCY

FONTE: Adaptado de Mott e Untener (2015)

A sonda estática Pitot é um dispositivo simples, barato e altamente


confiável, já que não tem partes móveis (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). Também
causa perda de carga (pressão) no escoamento muito pequena. No entanto,
é importante que seja alinhada corretamente com o fluxo do escoamento para
evitar erros significativos de leitura. Ainda, a diferença entre a pressão estática e
a pressão de estagnação (que é a pressão dinâmica) é proporcional à densidade
do fluido e ao quadrado da velocidade do fluido. Ela pode ser usada para medir
a velocidade tanto em líquidos quanto em gases. Observando que os gases têm
baixas densidades, a velocidade do fluido deve ser suficientemente alta quando a
sonda estática de Pitot é usada para o escoamento de gás (ÇENGEL; CIMBALA,
2007; MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2004).

3.2 MEDIDORES DE VAZÃO POR OBSTRUÇÃO: PLACA


ORIFÍCIO, BOCAL E VENTURI
A figura a seguir ilustra os três principais tipos de medidores de vazão
por obstrução: medidor de orifício (ou placa-orifício), medidor de bocal e tubo
de Venturi.

209
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

FIGURA 15 – TIPOS MAIS COMUNS DE MEDIDORES DE VAZÃO POR OBSTRUÇÃO

FONTE: Adaptado de Çengel e Boles (2013)

No caso do tubo de Venturi, o escoamento de fluido pelo tubo (seção 1)


é obrigado a acelerar através de uma seção 2 mais estreita, chamada garganta,
em que a pressão do fluido é reduzida. O escoamento segue então para a parte
divergente do tubo, que volta ao mesmo diâmetro do tubo na seção 1, em que
o fluido recupera parcialmente a sua pressão. As tomadas de pressão estão
localizadas na parede do tubo principal (seção 1) e na parede da garganta
(seção 2).
210
TÓPICO 2 | MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS

FIGURA 16 – MEDIDOR DO TIPO VENTURI COM UM MEDIDOR DE PRESSÃO DIFERENCIAL


ADAPTADO PARA DETERMINAÇÃO DA VAZÃO VOLUMÉTRICA DE ESCOAMENTO

FONTE: Adaptado de Mott e Untener (2015)

E
IMPORTANT

A pressão do fluido reduz na seção estreita do tubo de Venturi porque uma


parcela da pressão do escoamento é convertida em energia cinética para manter a vazão
constante no escoamento, aumentando, assim, a velocidade do fluido. Após o fluido passar
a seção de restrição e voltar a escoar no diâmetro do tubo principal, uma parte da pressão é
recuperada devido à redução da energia cinética do fluido (aumento do diâmetro do tubo
implica em redução de velocidade). Contudo, parcelas significativas de pressão podem
ser perdidas irreversivelmente devido aos efeitos de atrito na parede do tubo, aos efeitos
de vórtices gerados pelo fenômeno da vena contracta e à separação do escoamento
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007; ROTAVA, 2012; TERRON, 2012).

Um escoamento incompressível em regime permanente em um tubo


horizontal de diâmetro D (ou D1), que é restrito a uma área de escoamento de
diâmetro menor d (ou D2), pode ter as equações de balanço de massa (continuidade)
e energia (Bernoulli) aplicadas entre um ponto antes da constrição e um ponto em
que a constrição ocorre da seguinte forma:

Balanço de massa

211
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

(*)

Balanço de energia

(**)

Inserindo (*) em (**) e após as manipulações matemáticas:

sendo

Vazão teórica

A vazão teórica é calculada desconsiderando as perdas de carga no


medidor, ou seja, a velocidade calculada na constrição é máxima quando não
existem perdas de carga. Na prática, alguma perda ocorre e é inevitável, portanto,
a velocidade do fluido na obstrução do medidor será menor (ÇENGEL; CIMBALA,
2007). Em conjunto, a vena contracta formada no fluido, após passar a constrição,
continua a se contrair por certa distância e sua área de seção transversal é menor.
Os fenômenos geram uma perda de carga que deve ser contabilizada com a
incorporação de um parâmetro chamado coeficiente de descarga (Cd), cujo valor
é determinado experimentalmente e varia de acordo com o tipo de medidor e
vazão do escoamento.

Vazão real

212
TÓPICO 2 | MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS

O valor do coeficiente de descarga (Cd) depende do valor de β e do número


de Reynolds (Re). Geralmente, as correlações e valores de Cd para diversos tipos
de medidores de vazão por obstrução são fornecidos em gráficos e diagramas pelo
fabricante do instrumento. As relações para cálculo do coeficiente de descarga
(Cd) para medidores por obstrução são:

Placa Orifício

Válida para 0,25 < β < 0,75 e 104 < Re < 107

Para escoamentos com Re > 30.000 pode-se adotar o valor de Cd=0,61 em


medidores de orifício.

Tubo de Venturi

Devido à característica e projeto mais aerodinâmico, os coeficientes


de descarga do medidor tipo Venturi são altos e sua obtenção requer cálculos
iterativos para ajuste de curvas. Entretanto, quando as informações não estão
disponíveis, podemos utilizar valores de para o tubo de Venturi.

Bocal

Válida para 0,25 < β < 0,75 e 104 < Re < 107

Para escoamentos com Re > 30.000 pode-se adotar o valor de Cd=0,96 em


medidores de bocal. Um medidor do tipo bocal é ilustrado na figura a seguir.

213
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

FIGURA 17 – MEDIDOR DO TIPO BOCAL COM UM MEDIDOR DE PRESSÃO DIFERENCIAL


ADAPTADO PARA DETERMINAÇÃO DA VAZÃO VOLUMÉTRICA DE ESCOAMENTO

FONTE: Adaptado de Mott e Untener (2015)

O medidor de orifício apresenta projeto mais simples e ocupa um


espaço mínimo e menos invasivo, pois consiste em uma placa vazada, podendo
apresentar variações consideráveis no desenho. Çengel e Cimbala (2015) e
Munson, Young e Okiishi (2004) apresentam várias considerações sobre os
medidores de vazão por obstrução.

Alguns medidores de orifício possuem arestas vivas, enquanto outros


são chanfrados ou arredondados. A mudança repentina na área de escoamento
em medidores de orifício provoca vórtices e redemoinhos consideráveis e,
portanto, há um aumento da perda de carga ou pressão permanente, ou seja,
uma parcela de pressão que o fluido não recupera depois de passar pela placa-
orifício. Nos medidores de bocal, a placa-orifício é substituída por um bocal,
tornando o escoamento mais aerodinâmico e sem grandes perturbações. A ação
praticamente elimina o fenômeno da vena contracta e a perda de carga do fludo é
menor. Contudo, os medidores de vazão do tipo bocal são mais caros (ÇENGEL;
CIMBALA, 2007).

214
TÓPICO 2 | MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS

O medidor de Venturi é o mais preciso medidor de vazão, mas é o


mais caro. Sua contração gradual e a expansão impedem a separação do fluxo
e turbilhonamento do fluido, tendo perdas de carga por atrito nas superfícies
internas da parede. Medidores de Venturi causam baixas perdas de carga e,
portanto, devem ser preferidos para aplicações que não permitem grandes quedas
de pressão (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Quando um medidor de vazão por obstrução é instalado na tubulação, seu


efeito no sistema de escoamento é semelhante a uma perda de carga por acessório.
Deve-se considerar o coeficiente de perda de carga do acessório (medidor de
vazão), que é disponibilizado pelo fabricante, no cálculo das perdas de carga
menores do sistema de escoamento. Os medidores de orifício apresentam os
maiores coeficientes de perdas menores (ou constantes características), enquanto
os medidores de Venturi têm os valores mais baixos do parâmetro.

No caso de escoamento de gases, medidores de vazão por obstrução


podem ser utilizados, porém ajustes devem ser efetuados no cálculo da vazão,
tais como a inserção de um coeficiente de compressibilidade (devido ao gás ser
compressível). O cálculo da vazão deve ser feito na base mássica. Para gases, a
equação da continuidade descreve o balanço de massa em regime permanente,
mas não se aplica a um balanço volumétrico em função das variações de
densidade do fluido.

FIGURA 18 – MEDIDOR DO TIPO ORIFÍCIO COM UM MEDIDOR DE PRESSÃO DIFERENCIAL


ADAPTADO PARA DETERMINAÇÃO DA VAZÃO VOLUMÉTRICA DE ESCOAMENTO

FONTE: Adaptado de Mott e Untener (2015)

215
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

E
IMPORTANT

Repare, na figura anterior, a formação de vórtices e redemoinhos devido à


separação do escoamento pela vena contracta do fluido, antes e depois da placa-orifício.
O fenômeno aumenta a perda de carga do fluido e causa uma perda de pressão irreversível
no escoamento.

FIGURA 19 – ASPECTO DE INSTALAÇÃO DA PLACA-ORIFÍCIO NA TUBULAÇÃO

FONTE: O autor

FIGURA 20 – DIVERSOS TIPOS DE PLACAS COM ORIFÍCIO SEGMENTADO,


EXCÊNTRICO E CENTRALIZADO

FONTE: Adaptado de Rotava (2012)

216
TÓPICO 2 | MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS

4 OUTROS DISPOSITIVOS PARA MEDIÇÃO DE VAZÃO


Vários tipos de dispositivos podem ser aplicados para medição de
velocidade e vazão do escoamento de acordo com a necessidade específica. A
engenhosidade no uso de fundamentos físicos aplicados para o funcionamento
de alguns dos dispositivos é um aspecto interessante. Alguns dos medidores
de vazão são extremamente simples e baratos, enquanto outros requerem certa
automação para instalação e, portanto, são mais caros.

Os medidores de vazão de área variável (rotâmetros) são instrumentos


simples, confiáveis, baratos e de fácil instalação com pequena queda de pressão
e sem conexões elétricas, fornecendo uma leitura direta da vazão de escoamento
para uma ampla variedade de fluidos (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). O medidor de
vazão de área variável também é chamado de rotâmetro ou medidor de flutuação.

Um rotâmetro de área variável consiste em um tubo cônico transparente


vertical feito de vidro ou plástico com um flutuador no interior que está livre para
se mover. Como o fluido escoa através do tubo cônico, o flutuador sobe dentro
do tubo para um local onde o peso do flutuador, a força de arrasto e a força de
empuxo se equilibram, tornando a força resultante nula. A vazão do escoamento
é determinada simplesmente verificando a posição do flutuador contra a escala
graduada fora do tubo transparente cônico.

FIGURA 21 – MEDIDORES DE VAZÃO DE ÁREA VARIÁVEL: ROTÂMETRO COM FLUTUADOR COM


BASE NA GRAVIDADE (ESQUERDA) E MEDIDOR COM BASE NA MOLA OPOSTA (DIREITA)

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2015)

217
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

A força de arrasto aumenta com a velocidade do escoamento. O peso e a


força de empuxo atuando no flutuador são constantes. Além disso, a velocidade
ao longo do tubo cônico diminui na direção do fluxo por conta do aumento da
área de seção transversal do tubo cônico. Existe uma certa velocidade que gera
arrasto suficiente para equilibrar o peso do flutuador e a força de empuxo. A
localização em que a velocidade ocorre em torno do flutuador é a localização
onde o flutuador se estabiliza.

O grau de afinamento do tubo é feito para que a elevação vertical do


flutuador mude linearmente com a vazão do escoamento e, assim, o tubo pode ser
calibrado linearmente para vários valores de vazão. O tubo transparente também
permite que o fluido seja acompanhado visualmente durante o escoamento.

Existem várias configurações de medidores de vazão de área variável.


Alguns são baseados na ação da gravidade sobre o flutuador, sendo que, no caso,
o tubo cônico deve ser posicionado verticalmente, com o fluido entrando pelo
fundo do tubo cônico e saindo pelo topo.

Os medidores de área variável com mola oposta têm a força de arrasto do


fluido equilibrada pela força de resistência e tais medidores de vazão podem ser
instalados horizontalmente.

Segundo Mott e Untener (2015), a precisão dos medidores é, geralmente,


em torno de 5%, portanto, esses tipos de medidores de vazão não são apropriados
para aplicações que exigem medições altamente precisas. Um dos motivos da
imprecisão está no fato do tipo de medidor depender da verificação visual da
posição do flutuador e, portanto, não pode ser usado para medir a vazão de
fluidos, estes que são opacos e sujos ou fluidos que cobrem o flutuador, uma vez
que os fluidos dificultam a visualização do flutuador, fundamental para a leitura
da vazão correspondente na escala graduada do tubo cônico. Outro aspecto se
refere aos tubos de vidro que são propensos a quebrar, causando vazamentos
que representam um risco de segurança. Recomenda-se que os medidores sejam
instalados em locais com circulação mínima de pessoas.

Os medidores de vazão ultrassônicos operam segundo o conceito de


ondas formadas por perturbações no fluido. Elas se movem muito mais rápido
na direção de um fluido em movimento do que em um fluido parado. Quando
a onda segue a mesma direção do fluido, a velocidade da onda e a do fluido são
somadas. Quando a onda segue na direção oposta do escoamento do fluido,
as velocidades da onda e do fluido são subtraídas. O resultado do fenômeno
é que as ondas tendem a espalhar-se mais a jusante (acompanhando o sentido
do escoamento) enquanto parecem mais compactadas a montante (no sentido
oposto à direção do escoamento). A diferença entre o número de ondas nas
partes a montante e a jusante do escoamento por unidade de comprimento de
tubo é proporcional à velocidade do fluido. Assim, a velocidade do escoamento
pode ser medida comparando a propagação de ondas para frente e para trás
do escoamento.

218
TÓPICO 2 | MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS

Medidores de vazão ultrassônicos operam assim, usando ondas sonoras


na faixa ultrassônica (tipicamente com uma frequência de 1 MHz). Os medidores,
também chamados de medidores de vazão acústicos, operam gerando ondas
sonoras com um transdutor e medem a propagação das ondas através de um
fluido em movimento. Segundo Mott e Untener (2015) e Janna (2016), a grande
vantagem na aplicação dos tipos de medidores de vazão é o fato do instrumento
não ser invasivo, ou seja, não entra em contato com o fluido. Existem dois tipos
básicos de medidores de vazão utrassônicos: medidores por tempo de trânsito e
de efeito Doppler (ou variação de frequência).

O medidor de vazão ultrassônico de tempo de trânsito transmite ondas


sonoras nas direções a montante e a jusante do escoamento e mede a diferença no
tempo de trânsito das ondas. Ele envolve dois transdutores que alternadamente
transmitem e recebem ondas ultrassônicas, uma na direção de escoamento e a
outra na direção oposta. O tempo de trânsito da onda para cada direção pode
ser medido com precisão e a diferença no tempo de viagem pode ser calculada.
A velocidade média do fluido no tubo é proporcional à diferença de tempo de
trânsito das ondas sonoras (ÇENGEL; CIMBALA, 2007). O instrumento é indicado
para medição da velocidade em fluidos limpos, pois partículas e sujeiras no fluido
interferem no tempo de trânsito da onda e na recepção do sinal pelo dispositivo.

FIGURA 22 – OPERAÇÃO DE UM MEDIDOR DE VAZÃO ULTRASSÔNICO COM BASE


NO TEMPO DE TRÂNSITO

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2015)

Os medidores ultrassônicos de efeito Doppler utilizam o conceito da


mudança de frequência das ondas sonoras devido ao movimento relativo da
fonte emissora, causando a compressão das ondas.

O princípio de funcionamento do tipo de medidor de vazão em questão é


a medição da velocidade média do fluido escoando ao longo do caminho sonoro
(trajetória do som). A ação é feita fixando um transdutor piezoelétrico na superfície
externa de um tubo (ou pressionando o transdutor contra o tubo em unidades
portáteis). O transdutor transmite uma onda sonora a uma frequência fixa
através da parede do tubo e no líquido que escoa. O instrumento é mais indicado
219
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

para medir a velocidade de fluidos sujos e com impurezas ou particulados, que


ajudam a inibir parte do sinal ultrassônico. As ondas refletidas por impurezas,
tais como partículas sólidas suspensas ou bolhas de gás, são retransmitidas
para um transdutor ou receptor. A mudança na frequência das ondas que
são refletidas é proporcional à velocidade do fluido e um microprocessador
determina a velocidade do escoamento, comparando o desvio de freqüência entre
a transmissão e os sinais refletidos (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

FIGURA 23 – OPERAÇÃO DE UM MEDIDOR DE VAZÃO ULTRASSÔNICO COM BASE NO


EFEITO DOPPLER. EQUIPADO COM UM TRANSDUTOR POSICIONADO NA SUPERFÍCIE
EXTERNA DO TUBO

FONTE: Adaptado de Çengel e Cimbala (2015)

E
IMPORTANT

Faça uma pesquisa nas referências do livro de estudos sobre a aplicação,


princípio de funcionamento e aspecto construtivo de outros tipos de medidores de
velocidade e vazão de fluido, tais como medidores de vazão de deslocamento positivo,
medidor mássico do tipo Coriolis, medidores do tipo turbina, eletromagnéticos, de vórtice
e anemômetros de pás. Consulte também nas referências as técnicas disponíveis para
criação de imagens de fluidos para representarmos a distribuição de velocidade em
escoamentos complexos de fluidos. Algumas das técnicas mais modernas incluem a
anemometria térmica (anemômetros térmicos de fio quente e filme quente), velocimetria
por imagem de partícula (PIV), fluidodinâmica computacional (CFD), anemometria laser
Doppler (LDA) e técnicas de fluorescência induzida por laser (LIF).

5 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
1 Um medidor do tipo Venturi é equipado com um medidor de pressão
diferencial, conforme ilustrado a seguir. O dispositivo mede a vazão de
água com densidade 999,1kg/m³ através de um tubo horizontal com 5cm de
diâmetro. O diâmetro da garganta do tubo de Venturi é de 3cm e a perda de

220
TÓPICO 2 | MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS

carga medida é igual a 5kPa. Considerando o coeficiente de descarga (Cd) como


0,98, determine a vazão volumétrica de água e a velocidade média da água pela
tubulação principal.

FIGURA 24 – TUBO VENTURI COM MEDIDOR DE PRESSÃO DIFERENCIAL PARA O EXEMPLO


DE APLICAÇÃO 1

FONTE: Çengel e Cimbala (2007, p. 341)

Utilizando as equações descritas na definição do medidor do tipo tubo de


Venturi, podemos calcular os parâmetros necessários. Adotaremos a tubulação
principal como ponto 1 e a garganta do tubo de Venturi como ponto 2.

Sendo

Assim, a vazão teórica do escoamento é:

Como o escoamento é em regime permanente, a vazão volumétrica teórica


no tubo de Venturi é igual à vazão volumétrica teórica na tubulação principal.

A vazão real do escoamento pode ser calculada com o uso do coeficiente


de descarga (Cd):

221
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

A velocidade do escoamento pela tubulação principal é calculada com a


equação de vazão volumétrica:

2 Um medidor do tipo Venturi é equipado com um manômetro com água


para medição da pressão diferencial. O dispositivo mede a vazão de ar
com temperatura de 20°C e densidade de 1,204 kg/m³. O diâmetro do tubo
principal é de 15 cm e a garganta do tubo de Venturi tem diâmetro igual a
6cm. Considerando o coeficiente de descarga (Cd) sendo 0,98 e a altura (h) da
coluna de água no manômetro igual a 40cm, determine a vazão mássica de ar
e a velocidade média do ar pela tubulação principal. Considere a densidade da
água igual a 1000kg/m³ e g=9,81m/s².

FIGURA 25 – TUBO VENTURI COM MEDIDOR DE PRESSÃO DIFERENCIAL PARA O EXEMPLO


DE APLICAÇÃO 2

FONTE: Çengel e Cimbala (2007, p. 341)

Utilizando as equações descritas na definição do medidor do tipo tubo de


Venturi, podemos calcular os parâmetros necessários. Adotaremos a tubulação
principal como ponto 1 e a garganta do tubo de Venturi como ponto 2.

Sendo

A diferença de pressão entre o escoamento da tubulação principal e a


garganta do Venturi pode ser calculada por manometria:
222
TÓPICO 2 | MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS

Assim, a vazão teórica do escoamento é:

Como o escoamento é em regime permanente, a vazão volumétrica teórica


no tubo de Venturi é igual à vazão volumétrica teórica na tubulação principal.

A vazão real do escoamento pode ser calculada com o uso do coeficiente


de descarga (Cd):

A vazão mássica do escoamento pela tubulação principal é calculada com


a equação que relaciona vazão volumétrica e densidade do fluido:

A velocidade do escoamento pela tubulação principal é calculada com a


equação de vazão volumétrica:

223
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

LEITURA COMPLEMENTAR

MEDIÇÃO DE NÍVEL EM TANQUES DE ARMAZENAMENTO

Tanques de armazenamento de fluidos são partes integrantes de


muitos sistemas e processos industriais que envolvem escoamento de fluidos
e, portanto, é necessário monitorar o nível de fluido em tais tanques. Em
instalações industriais modernas, as medições do nível no tanque são tipicamente
transmitidas de forma remota para monitores ou estações de controle onde os
operadores acompanham o nível continuamente para um controle mais preciso
e, caso necessário, atuação imediata. Vários dispostivos e técnicas de medição
estão disponíveis para tanques que contêm líquidos ou sólidos. Para aplicações
industriais, é recomendado sempre consultar fornecedores para determinarem
qual a melhor opção de medidor de nível para determinada aplicação. Alguns
dos dispositivos mais comuns para medição de nível são descritos a seguir:

Tipo flutuante: A força de flutuação que age em um flutuador faz com


que ele suba ou desça conforme o nível do líquido altere. A posição do flutuador
pode acionar um dispositivo comparador em uma régua graduada na parte
externa do tanque, interruptor ou um sinal que é transmitido a uma determinada
estação receptora de forma remota. Os flutuadores são normalmente usados
para detectar os limites inferiores e superiores do tanque.

Sensores de pressão: Instalando um sensor de pressão na parte


inferior de um tanque é possível detectar a profundidade do líquido usando
o princípio da manometria (ΔP=γh), em que ‘γ’ é o peso específico do fluido
e ‘h’ é a profundidade acima do sensor. É preciso tomar cuidado quando o
peso específico do líquido mudar por causa da temperatura ou composição
do material. Quando o tanque estiver pressurizado, um sensor de pressão
diferencial pode medir tanto a pressão ambiente acima do fluido quanto a
pressão no fundo do tanque e, ainda, usando a diferença para determinação da
altura da coluna de líquido (nível de líquido no tanque).

Sonda de capacitância: Um sinal elétrico de corrente alternada de


alta frequência é conduzido a um sensor e a magnitude da corrente que flui
é dependente da capacitância do material no tanque e da profundidade de
submersão da sonda. Embora os dispositivos possam ser usados para a maioria
de líquidos e sólidos, a calibração para cada tipo de material é necessária.

Sensor tipo de vibração: É baseado no princípio de que a freqüência


de vibração de um fino sensor muda com a densidade do material em contato.
É usado para medição de nível pontual ou crítico, por exemplo, o menor nível
aceitável no tanque para que a válvula de reabastecimento possa ser acionada
ou o máximo nível aceitável no tanque para que a válvula de admissão de
líquido seja fechada.
224
TÓPICO 2 | MEDIÇÃO DE VAZÃO E VELOCIDADE NO ESCOAMENTO DE FLUIDOS

Sensor Ultrassônico: Um pulso de som de alta frequência é emitido e,


em seguida, refletido a partir da superfície do fluido ou sólido com detecção
por conta de sua maior densidade comparada com o ar ou outro gás acima
do material. O tempo para o sinal refletido ser detectado pelo sensor é então
relacionado com a distância percorrida e, portanto, o nível de material no
tanque pode ser estabelecido. A frequência sonora emitida é tipicamente na
faixa de 12 kHz a 70 kHz. O dispositivo é um tipo de medidor de nível sem
contato direto com o material e pode ser usado para materiais abrasivos ou
em configurações de tanques que não permitem um sensor no próprio fluido.
Algumas desvantagens são: a sensibilidade ao pó, espuma, ruído ambiente,
superfícies turbulentas e acúmulo de material no emissor do pulso sonoro.
Devemos também ter cuidado com o uso de sensores de nível de ultrassom
com materiais sólidos, porque a superfície tende a ter uma forma cônica ou
inclinada com base na ângulo de repouso do material. O sinal também pode ser
dispersado por materiais contaminantes no fluido.

Sensor tipo radar: O sensor de nível tipo radar usa microondas


eletromagnéticas em uma freqüência na faixa de 6 GHz a 26 GHz, dependendo do
projeto do transmissor. O sinal é direcionado para a superfície do fluido por uma
espécie de antena cônica e é refletido a partir da superfície por conta da mudança
na constante dielétrica do fluido em relação ao meio acima da sua superfície.
A onda refletida é detectada e o tempo de transmissão está relacionado com a
distância percorrida no fluido e, consequentemente, ao nível da superfície do
fluido no tanque.
FONTE: MOTT, R. L.; UNTENER, J. A. Applied fluid mechanics. 7. ed. Pearson Education
Limited, 2015. p. 414.

225
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Com base no princípio de funcionamento, um medidor de vazão ou velocidade


de escoamento pode ser categorizado em três grandes grupos: dispositivos
que usam técnicas de medição de vazão volumétrica ou mássica (medidores
por obstrução, rotâmetros ou ultrassônicos); dispositivos que usam técnicas
de medição da velocidade (tubos de Pitot) e dispositivos que usam técnicas
de medição do campo de velocidade completo (técnicas modernas como a
velocimetria por imagem de partícula).

• É importante conhecer a descrição dos principais dispositivos usados na


indústria para medição da velocidade e vazão de um fluido no escoamento.

• A formulação matemática e a dedução de equações constitutivas da mecânica


dos fluidos são aplicadas no princípio de funcionamento de medidores de
velocidade e vazão de fluidos do tipo por obstrução ou pressão variável.

• Existem diversas considerações, vantagens e desvantagens na seleção e


aplicação dos dispositivos de medição de vazão de fluidos.

226
AUTOATIVIDADE

1 Faça uma lista dos principais itens a serem considerados na escolha de um


medidor de vazão de fluidos.

2 Explique como a vazão do fluido pode ser medida através de um tubo


estático de Pitot ou sonda de Pitot-Darcy. Quais são suas vantagens e
desvantagens com relação ao custo, perda de carga no escoamento, exatidão
e confiabilidade?

3 Explique como a vazão do fluido é medida através de medidores de


pressão variável do tipo por obstrução (placa-orifício, tubo de Venturi e
bocal). Compare cada um dos três tipos de medidores em relação ao custo,
tamanho para instalação, perda de carga no escoamento e exatidão.

4 Explique o princípio de operação de um medidor de área variável do tipo


rotâmetro. Compare o rotâmetro com outros tipos de medidores de vazão
em relação ao custo, perda de carga e confiabilidade.

227
228
UNIDADE 3 TÓPICO 3

ANÁLISE DIMENSIONAL

1 INTRODUÇÃO
A maioria dos problemas que envolvem modelagem matemática na
mecânica dos fluidos exige a obtenção de dados experimentais para o encontro
de uma solução analítica ou computacional que foi proposta pelo modelo. Assim,
devemos planejar criteriosamente os experimentos e interpretar adequadamente
os dados obtidos.

De forma geral, podemos solucionar um problema de mecânica dos fluidos


com a modelagem matemática do problema e a obtenção de dados experimentais
para validação do modelo proposto. A solução do modelo matemático pode ser
numérica (aproximada), para modelos mais complexos e que envolvem sistemas
de equações diferenciais parciais, ou analítica (exata), para modelos mais
simplificados. Atualmente, é tendência a Engenharia utilizar a fluidodinâmica
computacional para a resolução numérica de modelos matemáticos.

DICAS

O conceito de similaridade é usado para que os experimentos possam


ser aplicados em escala de laboratório e em escalas maiores. Para maiores detalhes as
técnicas, consulte as seguintes referências: MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2004; POTTER;
WIGGERT, 2013; ÇENGEL; CIMBALA, 2015; WHITE, 2018; FOX; McDONALD; PRITCHARD;
MITCHELL, 2018.

De acordo com Munson, Young e Okiishi (2004), um problema típico da


mecânica dos fluidos no qual a experimentação é necessária é o escoamento em
regime permanente de um fluido newtoniano incompressível através de uma
tubulação longa, de paredes lisas, horizontal.

Uma característica importante a ser avaliada, por exemplo, no projeto


de um oleoduto ou distribuição de água, é a queda de pressão por unidade de
comprimento de tubo, que se desenvolve ao longo da tubulação como resultado
do atrito na parede. Embora pareça ser um problema de escoamento de fluido
relativamente simples, ele deve ser resolvido com a abordagem experimental em
conjunto com a modelagem matemática.
229
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

O primeiro passo no planejamento de um experimento para estudar o


problema seria decidir os fatores, ou variáveis independentes, que afetarão a
queda de pressão do fluido por unidade de comprimento no tubo. As variáveis
que influenciam a queda de pressão por unidade de comprimento de tubo são
o diâmetro do tubo (D), a densidade do fluido (ρ), a viscosidade do fluido (µ) e
a velocidade média do escoamento (v). Assim, podemos expressar a relação da
seguinte forma:

Como a natureza da função é desconhecida, os experimentos são


necessários para avaliarmos a função e seu comportamento (MUNSON; YOUNG;
OKIISHI, 2004).

Os experimentos físicos devem ser conduzidos fixando variáveis em um


determinado valor (por exemplo, diâmetro, densidade e viscosidade) e variando
uma das variáveis (por exemplo, velocidade). É preciso observar a influência do
parâmetro na queda de pressão do fluido por comprimento de tubo.

A série de experimentos gera dados que podem ser representados


graficamente. Os gráficos são válidos para o tubo específico e para o fluido
específico usado nos experimentos. O próximo passo é a repetição dos
experimentos variando cada uma das outras variáveis. A abordagem serve para
determinar a relação funcional entre a queda de pressão e os vários fatores que
influenciam. Embora seja uma abordagem lógica conceitualmente, ela apresenta
dificuldades práticas. Alguns dos experimentos podem ser difíceis de serem
conduzidos adequadamente (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2004).

GRÁFICO 6 – A QUEDA DE PRESSÃO POR COMPRIMENTO DE TUBO É INFLUENCIADA


PELAS DIFERENTES VARIÁVEIS

230
TÓPICO 3 | ANÁLISE DIMENSIONAL

FONTE: Adaptado de Munson, Young e Okiishi (2004)

Uma vez que são obtidos os dados da influência de cada variável na queda
de pressão por unidade de comprimento, devemos encontrar uma relação global
(que considera o efeito combinado das variáveis) das variáveis para qualquer
sistema similar de escoamento de fluido em tubulações. Assim, devemos agrupar
as variáveis de influência do problema em grupos adimensionais, por exemplo:

E
IMPORTANT

É possível verificar, através da inserção das unidades do SI nos termos da


equação, que ambos os termos serão adimensionais.

Assim, agora temos apenas duas variáveis e geramos apenas um gráfico


universal da função. O experimento consistiria simplesmente em variar o produto
adimensional e determinar o valor correspondente dos resultados obtidos
no experimento e plotar em um gráfico. A curva seria válida para qualquer
escoamento de fluido newtoniano incompressível em uma tubulação de paredes
lisas (sem considerar a rugosidade do material do tubo).

231
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

GRÁFICO 7 – QUEDA DE PRESSÃO DO FLUIDO POR COMPRIMENTO DE TUBO USANDO


PARÂMETROS ADIMENSIONAIS

FONTE: Adaptado de Munson, Young e Okiishi (2004)

Para obtermos a curva podemos escolher um tubo de determinado


diâmetro e um fluido que seja fácil de trabalhar. Não seria necessário utilizar
tubos de tamanhos diferentes ou até mesmo fluidos diferentes, pois as variáveis
estão relacionadas nos dois grupos adimensionais. Assim, o experimento seria
muito mais simples e menos dispendioso.

A base da simplificação adotada está na consideração das dimensões das


variáveis envolvidas. Uma descrição das propriedades físicas pode ser feita em
termos das dimensões básicas, como massa (kg), comprimento (m) e tempo (s), ou
também podem ser utilizadas as dimensões de força (N), além de comprimento
(m) e tempo (s) como dimensões básicas e de acordo com a 2ª lei de Newton.

Como as variáveis formaram dois grupos adimensionais, os resultados


do gráfico anterior independem do sistema de unidade escolhido (SI ou Sistema
Inglês). É a análise dimensional que serve como base para a abordagem do
teorema dos π’s de Buckingham (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2004).

2 O TEOREMA DOS PI (π) DE BUCKINGHAM


De acordo com Munson, Young e Okiishi (2004), o teorema dos π’s de
Buckingham parte do princípio da avaliação de produtos adimensionais que
são necessários para substituir as variáveis originais do problema. O conceito
fundamental pode ser descrito da seguinte maneira:

Se uma equação que envolve “k” variáveis é dimensionalmente homogênea, ela


pode ser reduzida para uma relação de “k-r” produtos adimensionais independentes, em

232
TÓPICO 3 | ANÁLISE DIMENSIONAL

que ‘r’ é o número mínimo de dimensões necessárias para descrevermos as variáveis do


problema.

Os produtos adimensionais são chamados de termos π’s e o terorema


associado é chamado de teorema dos π’s de Buckingham (MUNSON; YOUNG;
OKIISHI, 2004; ÇENGEL; CIMBALA, 2015; FOX; McDONALD; PRITCHARD;
MITCHELL, 2018). O teorema dos π’s de Buckingham é fundamentado no
conceito de homogeneidade dimensional. Basicamente, para qualquer equação
fisicamente significativa envolvendo uma variável “k” tal como:

As dimensões da variável no lado esquerdo da equação devem ser


iguais às dimensões contidas em qualquer termo que esteja do lado direito da
equação. Assim, podemos reorganizar a equação em um conjunto de produtos
adimensionais (termos π’s), tal como:

A diferença entre o número necessário de termos π e o número de


variáveis original é igual ao valor de “r”, sendo o termo igual ao número mínimo
de dimensões de referência. Geralmente, utilizamos as dimensões básicas de
massa, comprimento, força e tempo para descrever as variáveis do problema.
Entretanto, em alguns casos, duas ou mesmo uma dimensão é necessária para
descrever as variáveis originais. Em outros casos pode ser necessária a descrição
das variáveis do problema por meio de uma combinação entre as dimensões
básicas (por exemplo, kg/s² e m). No caso, “r” é igual a dois (MUNSON; YOUNG;
OKIISHI, 2004).

2.1 MÉTODO DE REPETIÇÃO DE VARIÁVEIS


De acordo com Munson, Young e Okiishi (2004), existem muitos métodos
utilizados para a determinação dos grupos adimensionais (ou termos π),
porém o método mais comum é o método das variáveis repetidas (ou repetição
de variáveis). A melhor maneira de compreender o método é a partir de um
procedimento passo a passo que será descrito a seguir. Assim, com a aplicação
em exercícios e um pouco de prática, é possível executar a análise dimensional de
qualquer tipo de problema de mecânica dos fluidos com a abordagem.

De acordo com Munson, Young e Okiishi (2004), a determinação dos


termos π pelo método da repetição de variáveis tem seu procedimento descrito
da seguinte forma:

Passo 1: listar as variáveis do problema. Geralmente, as variáveis são aquelas


que descrevem a geometria do sistema (diâmetro do tubo) e as propriedades do
233
UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

fluido (viscosidade, densidade), além dos efeitos externos que influenciam o


sistema (diferença de pressão como força motriz do escoamento). Para manter
as variáveis em um número mínimo, é importante que elas sejam independentes
entre si. Por exemplo, se em um problema a área de seção transversal da tubulação
é uma variável importante, deve-se utilizar como variável a área do tubo (A) ou
o diâmetro do tubo (D), mas não ambos ao mesmo tempo, pois as variáveis não
são independentes entre si. O mesmo ocorre para as propriedades do fluido no
caso da densidade (ρ) e do peso específico (γ) ou utilizamos “ρ” e “g” ou “γ” e
“g”, mas não as três variáveis ao mesmo tempo, pois o peso específico depende
da densidade do fluido e da aceleração da gravidade.

Passo 2: expressar cada variável escolhida em dimensões básicas.


Usualmente, utilizamos unidades básicas do SI, tais como massa (kg), comprimento
(m) e tempo (s) ou com base na 2ª lei de Newton, com as unidades de força (N),
comprimento (m) e tempo (s).

Passo 3: determinar o número de termos de π. Assim, utiliza-se a seguinte


relação:

“k” é o número de variáveis do problema (passo 1) e “r” é o número de


dimensões básicas usadas para descrever as variáveis do problema (passo 2).

Passo 4: selecionar o número de variáveis repetidas. Geralmente,


o número de variáveis repetidas é igual ao número de dimensões básicas
referenciadas. As variáveis repetidas são aquelas que podem ser combinadas
com outras variáveis para formação de um termo π. Todas as dimensões básicas
devem estar incluídas no grupo de variáveis repetidas e cada grupo deve ser
dimensionalmente independente dos outros, ou seja, as variáveis repetidas não
podem ser combinadas para a formação de um produto adimensional. Deve-
se escolher uma variável particular do problema que é influenciada por outras,
como a variável dependente. A variável deve ser inserida em um termo π apenas.
Os outros termos π não podem conter a variável dependente e ela não deve ser
escolhida para formar as variáveis de repetição do termo π.

Passo 5: formar um termo π multiplicando uma das variáveis não repetidas


pelo produto das variáveis repetidas elevadas ao expoente. Se necessário, para
tornar a combinação adimensional. Assim:

Sendo “ui” a variável não repetida dependente das outras (por exemplo,
a queda de pressão do fluido por unidade de comprimento de tubo); “u1, u2 e
u3” são as variáveis repetidas do problema (variáveis independentes, tal como

234
TÓPICO 3 | ANÁLISE DIMENSIONAL

viscosidade do fluido e diâmetro do tubo) e “a, b e c” são os expoentes a serem


determinados para a combinação de termos adimensional.

Passo 6: repetir o Passo 5 com cada variável independente não repetida. O


resultado deve ser igual ao número de termos π definido no Passo 3.

Passo 7: Verificar se todos os grupos de termos π são adimensionais.

Passo 8: Expressar a forma final dos termos π como uma relação de grupos
adimensionais de π da seguinte forma:

π1 deve conter a variável dependente não repetida no numerador.

E
IMPORTANT

Apesar das vantagens do processo de adimensionalização de uma equação,


sendo importante para a identificação de relações entre parâmetros de um problema e
redução do número de parâmetros em uma equação adimensional, a relação funcional
real e física dos termos de π deve ser verificada e validada experimentalmente.

3 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
O exemplo a ser considerado é novamente a análise da queda de pressão
do fluido por comprimento de tubulação, discutido no início do Tópico 3. Um
escoamento em regime permanente de um fluido newtoniano incompressível
através de uma tubulação longa, de paredes lisas e horizontal. O objetivo do
problema é avaliar a influência de certas variáveis na queda de pressão sofrida
pelo fluido ao longo do escoamento. Assim, aplicaremos os passos descritos no
método de repetição de variáveis para definição dos termos π.

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UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

FIGURA 26 – ESQUEMA PARA ANÁLISE DO EXEMPLO UTILIZADO PARA APLICAÇÃO


DO MÉTODO DE REPETIÇÃO DE VARIÁVEIS

FONTE: Adaptado de Munson, Young e Okiishi (2004)

Passo 1: relacionar todas as variáveis importantes do problemas.

No caso do problema específico, a queda de pressão do fluido por metro


de comprimento de tubulação lisa (rugosidade da parede desprezível) depende do
diâmetro do tubo, da velocidade do escoamento, da densidade e viscosidade do
fluido. Portanto, relacionamos a variável dependente com as variáveis independentes
do problema, ou seja, a queda de pressão por unidade de comprimento de tubo é
uma função do diâmetro, velocidade, densidade e viscosidade:

E
IMPORTANT

Ao longo do texto, vamos assumir, por conveniência, o termo viscosidade


como sendo a viscosidade dinâmica (μ) do fluido.

Passo 2: expressar cada variável em função das dimensões básicas.

Podemos utilizar as unidades básicas que relacionam massa, comprimento


e tempo ou força, comprimento e tempo para definição das variáveis. Não
devemos misturar os conjuntos de unidades básicas.

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TÓPICO 3 | ANÁLISE DIMENSIONAL

Passo 3: determinar o número necessário de termos π.

No problema, temos cinco variáveis (contando a dependente e as


independentes) e foram necessárias três unidades básicas (‘kg’, ‘m’ e ‘s’ ou ‘N’, ‘m’
e ‘s’) ou dimensões de referência para definirmos as variáveis. Portanto:

O número de termos π necessário para o teorema do problema é igual a dois.

Passo 4: definir o número de variáveis repetidas.

Devemos definir quais serão as variáveis repetidas que serão utilizadas


para definirmos os termos π entre as variáveis independentes (D, v, ρ, μ). A
variável dependente (ΔP/L) não pode ser escolhida como variável repetida. É
preciso escolher três variáveis repetidas, pois foram utilizadas três dimensões
básicas de referência. Uma boa prática é escolher como variáveis repetidas as que
possuem dimensões mais simples. Para o exemplo, definimos como variáveis
repetidas o diâmetro (D), velocidade (v) e densidade (ρ). É uma boa escolha,
pois são variáveis independentes entre si e dimensionalmente independentes
também, pois o diâmetro é definido na unidade de comprimento, a velocidade
tem a dimensão de comprimento sobre o tempo e a densidade contém a dimensão
de força, tempo e comprimento. No caso, é impossível formar um produto
adimensional com o conjunto das variáveis.

Variáveis repetidas escolhidas: D, v, ρ (3 variáveis e 3 dimensões).

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UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

E
IMPORTANT

Cada uma das variáveis repetidas escolhidas possui uma dimensão que a
outra variável não possui, por isso não formam grupos adimensionais de um produto.
Escolher densidade e viscosidade como variáveis repetidas não é possível, pois ambas as
propriedades possuem as mesmas unidades básicas (força, tempo e comprimento).

Passo 5: formar um termo π multiplicando uma das variáveis não


repetidas pelo produto das variáveis repetidas elevadas a um expoente que torne
a combinação adimensional.

Combinamos a variável dependente com as variáveis de repetição para


formarmos o primeiro termo π:

A combinação deve ser adimensional, portanto, devemos verificar o


valor dos expoentes “a”, “b” e “c” para que o valor do expoente resultante seja
igual a zero, tornando o grupo adimensional. Assim, descrevemos as unidades
componentes de cada termo por substituições e resolvemos o sistema de equações
algébricas lineares a seguir:

Assim, os valores dos expoentes “a”, “b” e “c” foram definidos. Então, o
primeiro termo π é definido como:

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TÓPICO 3 | ANÁLISE DIMENSIONAL

Passo 6: repetir o Passo 5 para cada uma das variáveis repetidas restantes.

No exemplo, a única variável independente restante é a viscosidade, que


não foi repetida. Portanto, repetimos o Passo 5:

Organizando as equações algébricas lineares para definição dos


expoentes de modo que o grupo fique adimensional em função da combinação
de suas dimensões:

Assim, os valores dos expoentes “a”, “b” e “c” foram definidos. Então, o
segundo termo π é definido como:

Passo 7: verificar se todos os termos π são adimensionais.

Para verificar se os termos π são adimensionais, devem ser inseridas as


dimensões no grupo π com base no sistema de unidades e conjunto de unidades
adotado (massa, comprimento, tempo ou força, comprimento, tempo). Assim:

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UNIDADE 3 | ESCOAMENTO DE FLUIDOS – SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, MEDIÇÃO DE VAZÃO, VELOCIDADE E
ANÁLISE DIMENSIONAL

Os dois grupos π são adimensionais.

Passo 8: expressar a forma final da relação entre os termos e analisar o


significado da relação.

O resultado final da análise dimensional do problema de escoamento é:

Portanto, o problema da análise da queda de pressão do fluido por


comprimento de tubo pode ser estudado com dois termos adimensionais no lugar
das cinco variáveis independentes. O comportamento da função (ϕ) só pode ser
descrito a partir de testes e obtenção de resultados experimentais. Como os grupos
π são adimensionais, é possível inverter as frações sem perda de validade. No
caso do termo π2, foi rearranjado para definição de um parâmetro adimensional
muito utilizado na mecânica dos fluidos, que é o número de Reynolds (Re). Com
a condução de experimentos, podemos obter a curva de relação entre os termos π.

GRÁFICO 8 – RESULTADOS EXPERIMENTAIS PARA O EXEMPLO DE APLICAÇÃO –


RELAÇÃO DA INFLUÊNCIA DOS TERMOS Π

FONTE: Adaptado de Munson, Young e Okiishi (2004)


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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A análise dimensional é importante para os estudos analítico e experimental


em problemas práticos de mecânica dos fluidos.

• O teorema dos Pi (π’s) de Buckingham pode ser usado para gerar parâmetros
adimensionais.

• O método de repetição de variáveis é o método mais utilizado e simples para


determinação dos termos π’s.

• Existe uma grande influência dos grupos adimensionais em vários problemas


práticos de escoamento de fluidos e na aerodinâmica.

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AUTOATIVIDADE

1 Uma lata cilíndrica metálica aberta, ilustrada na figura a seguir, com


diâmetro (D), contém tinta a uma altura (h). A tinta tem peso específico (γ).
A deflexão vertical (δ) da lata no ponto central do fundo da lata é função de
D, h, d, γ e E, sendo d (espessura do fundo da lata, em metros) e E (módulo
de elasticidade do material da lata em N/m²). Determine uma relação
funcional entre a deflexão (δ em metros) e as variáveis independentes
usando a análise dimensional e o método de repetição de variáveis. Utilize
o sistema de unidades: força, comprimento, tempo.

2 Repita o exercício 1 utilizando o sistema de unidades: massa, comprimento,


tempo. Verifique se é possível reduzir o número de grupos π necessários
para descrever o problema apenas alterando o sistema de unidades básicas.

242
REFERÊNCIAS
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ANOTAÇÕES

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