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Biocombustíveis

no Brasil
comercialização e
logística
Ildo Sauer1

O s “combustíveis verdes” já chegaram. E, com eles, toda 1


Doutor em Energia
Nuclear. Professor
uma nova dinâmica de comercialização e logística preci- da Universidade de
sou ser estabelecida e colocada à disposição de consumidores São Paulo. Diretor
interessados em combustíveis mais limpos e menos depen- de Gás e Energia da
Petrobras.
dentes do petróleo.
A recente divulgação do Painel Intergovernamental das
Nações Unidas contendo informações a respeito das mudan-
ças climáticas no planeta e as permanentes alterações de
preço do petróleo configuram uma certeza: o mundo, cada
vez mais, precisa de biocombustíveis.
A Petrobras, empresa integrada de energia, atua e investe
na área de biocombustíveis desde a década de 70. No con-
texto atual, a companhia estabeleceu, em seu Planejamento
Estratégico, a meta de expandir a participação no mercado de
biocombustíveis, liderando a produção nacional de biodiesel
e ampliando a participação no negócio do etanol.

Biocombustíveis no Brasil: Comercialização e Logística


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Biocombustível é a denominação genérica dada
aos combustíveis derivados de biomassa, como
cana-de-açúcar, oleaginosas, biomassa florestal
(lenha, carvão vegetal, resíduos florestais etc.) e
outras fontes de matéria orgânica. Os mais conhe-
cidos e utilizados são o etanol (álcool) e o bio-
diesel, que podem ser aproveitados puros ou em
adição a combustível convencional. Comparados
aos combustíveis fósseis, como o diesel e a ga-
solina, os biocombustíveis são mais limpos, pois
contribuem para a redução das emissões de gases
de efeito estufa.
O Brasil é o país com a maior experiência mun-
dial no setor de biocombustíveis, devido ao seu
programa de etanol, que foi implantado em escala
nacional e conta com mais de 30 anos de expe-
riência. Impulsionado pelo Governo Federal, pela
Petrobras e pela indústria sucroalcooleira, o Pro-
grama Nacional do Álcool (Proálcool) transformou
o Brasil em um dos maiores produtores, consumido-
res e exportadores de etanol do mundo.
A participação da Petrobras foi fundamental
para o sucesso do Proálcool. Agora, no Programa
Brasileiro de Biodiesel, a empresa também está to-
Banco de Imagens Petrobras/Rogério Reis

mando parte, de forma decisiva, na consolidação


do programa. Neste texto, serão apresentadas, de
modo contextualizado, as ações desenvolvidas pela
Petrobras, com foco na experiência em comerciali-
zação e logística de biocombustíveis.

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Comercialização

A inserção dos biocombustíveis na matriz energética vei-


cular brasileira tem origem em 1925, de quando datam os
testes pioneiros para utilização do álcool anidro como com-
bustível no Brasil. Em 2005, o álcool representava 16,9%
da matriz energética veicular do País (vide Figura 1). Com a
introdução do biodiesel e o aumento do consumo de álcool
pela venda dos carros flex-fuel, essa participação será ainda
maior. É interessante notar que a produção, distribuição e
comercialização dos biocombustíveis ocorre através da ca-
deia dos combustíveis fósseis, e não em oposição a ela. Para
os produtores de biocombustíveis, esse fator assume impor-
tância fundamental, pois são os combustíveis fósseis que
garantem a escala e o mercado para que os biocombustíveis
possam ser produzidos competitivamente.

Figura 1 – Matriz energética veicular do Brasil (2005)


Óleo diesel
54,5%
55,7% (2004)

Participação do
Álcool em
Veículos Otto
Gasolina A
GNV
56%

25,6%
26,5% (2004) 2,9%
37%

2,4% (2004)
Álcool Anidro Álcool
Hidratado
6%

8,5% Fonte: Ministério


8,8% (2004) 8,4%
6,6% (2004) Álc. Gas. GNV
de Minas e Energia.
Gasolina C Álcool Total Balanço Energético
25,6 + 8,5 = 34,1% 8,5 + 8,4 = 16,9%
35,3% (2004) 15,4% (2004)
Nacional 2006.


Veículos automotivos lançados no Brasil em 2003 que permitem o abasteci-
mento de álcool e gasolina, juntos ou separadamente, com qualquer percen-
tual de mistura.

Biocombustíveis no Brasil: Comercialização e Logística


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Álcool

As raízes do setor sucroalcooleiro no Brasil remontam ao


século XVI, quando foi implantado o primeiro engenho de
açúcar no Brasil, em 1532, na cidade de São Vicente. O em-
preendimento teve tanto sucesso, que, três anos mais tarde,
já era instalado outro engenho, na cidade de Olinda. Hoje, o
setor conta com mais de 300 usinas, que produzem álcool e
açúcar para os mercados interno e externo, energia elétrica
para consumo próprio, além de comercializarem os exceden-
tes com as companhias de distribuição. De forma geral, a
cadeia de produção e distribuição do álcool organiza-se con-
forme mostrado na tabela abaixo:

Tabela 1 – Cadeia produtiva do álcool combustível e seus agentes

Matéria-prima Produção Distribuição Varejo Consumidor

mais de 70.000 386 usinas 261 distribuidoras 35.000 postos Grandes consumidores
fornecedores de álcool revendedores
agrícolas
Consumidores rurais
618 TRR1
Pequenas empresas

Caminhoneiros

Automobilistas

Fontes: UNICA, ANP. Os custos de produção do álcool são diretamente ligados à


produtividade da lavoura da cana-de-açúcar e ao rendimento
industrial do processo de produção do etanol. Nas últimas
duas décadas, o desenvolvimento e a implantação de novas
técnicas e tecnologias no setor sucroalcooleiro foram os gran-
des responsáveis pela redução nos seus custos de produção.
De 1976 a 1996, os custos de produção do álcool carburante
caíram de, aproximadamente, US$ 90/bep para cerca de US$

38 | Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas


45/bep, o que corresponde a uma taxa média de redução de
custos na faixa de 2% a 3% a.a.
Os preços dos combustíveis no Brasil são deter-
Os preços dos
minados pelo livre mercado. Dada a importância do
combustíveis
setor e a sua própria natureza, que muitas vezes
no Brasil são
se afasta dos padrões de concorrência perfeita, as
atividades de produção, distribuição e comerciali- determinados pelo

zação de combustíveis são reguladas pela Agência livre mercado.


Nacional de Petróleo - ANP. Em relação ao preço do
álcool, é importante lembrar que, uma vez que tem aproxima-
damente 70% do poder calorífico da gasolina, a arbitragem
de preços entre os dois combustíveis deve considerar essa
diferença. Dito de outra forma, é vantajoso para o consumi-
dor o abastecimento do seu carro com álcool apenas quando
esse tem um preço na bomba inferior a 70% do preço da
gasolina.
O etanol é comercializado no mercado de combustíveis
no Brasil em duas formas: anidro e hidratado. Entre as dife-
renças de especificação existentes entre as duas formas, a
mais importante é o percentual mínimo de álcool, medido em
volume, de 99,3% para o anidro e 92,6% para o hidratado.
O álcool anidro é utilizado no Brasil adicionado à gasolina,
em percentuais que podem variar de 20% a 25%, conforme
legislação federal. Já o álcool hidratado é usado, de modo
direito, nos motores dos carros a álcool (ciclo Otto) e, mais
recentemente, nos carros flex-fuel.
Assim como a produção, o consumo de álcool distribui-se
desigualmente entre as regiões do País, com forte concentra-
ção no Sudeste e no Sul. As tabelas 2 e 3 mostram a produção


A gasolina pura não é comercializada para uso final no Brasil.

Biocombustíveis no Brasil: Comercialização e Logística


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e o consumo dos dois tipos de álcool, além de exportações e
importações, no período de 2000 a 2005.

Tabela 2 – Produção, consumo, exportação e importação de álcool anidro


(2000-2005, em mil m3)

ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005

PRODUÇÃO 5.644 6.481 7.040 8.832 7.859 8.208

CONSUMO TOTAL 5.933 6.139 7.336 7.392 7.591 7.775

IMPORTAÇÃO 0 0 2 6 6 0

EXPORTAÇÃO 0 0 14 61 84 571

Fonte: Ministério
de Minas e Energia. O mercado de álcool anidro cresceu, no período, a uma
Balanço Energético taxa média de 5,56% a.a., reflexo do aumento da frota de
Nacional 2006. veículos à gasolina. Pequenas variações de consumo podem
ocorrer em função da flexibilidade da taxa de mistura na ga-
solina, entre 20% e 25%. Esse mecanismo tem sido usado
para estabilizar os preços internos em função da disponibili-
dade do produto.

Tabela 3 – Produção, consumo, exportação e importação de álcool hidratado


(2000-2005, em mil m3)

ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005

PRODUÇÃO 5.056 4.985 5.547 5.638 6.789 7.832

CONSUMO TOTAL 6.453 5.444 5.179 4.520 5.700 6.214

IMPORTAÇÃO 64 118 0 0 0 0

EXPORTAÇÃO 227 320 753 706 2.176 1.923

Fonte: Ministério
de Minas e Energia.
Balanço Energético
Nacional 2006. 
As diferenças entre produção e consumo, quando não compensadas com im-
portação/exportação, foram compensadas pelos estoques de passagem.

40 | Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas


Divulgação/Unica
Por sua vez, o mercado de álcool hidratado, em função do
sucateamento da frota de carros a álcool e da inexistência
de novos veículos desse tipo, decresceu, aproximadamente,
11,2% a.a., entre 2000 e 2003. O lançamento dos veículos
flex-fuel, contudo, deu novo fôlego ao consumo de álcool
hidratado, revertendo a tendência do mercado e fazendo que,
entre 2003 e 2005, a demanda desse combustível crescesse a
uma taxa média de 17,25% a.a.
No período considerado, também houve um aumento sig-
nificativo das exportações, em função do aquecimento da de-
manda internacional. Em 2006, o lucro com as vendas exter-
nas de etanol pela Petrobras foi superior a US$ 14 milhões. O
volume comercializado, acima de 80 milhões de litros, conso-
lidou o corredor logístico de exportação de etanol da Região
Centro-Sul pelo Terminal Marítimo da Ilha D´Água, no Rio de
Janeiro, via Refinaria de Paulínia, no Estado de São Paulo.
Em 2007, a Petrobras iniciou a exportação de etanol com-
bustível para os Estados Unidos, com uma primeira carga de

Biocombustíveis no Brasil: Comercialização e Logística


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12 mil m3, ampliando as negociações para viabilizar a entrada
competitiva do álcool de cana-de-açúcar, muito mais barato
e eficiente que o álcool produzido naquele país, a partir do
milho. Em breve, será enviada a primeira carga de 20 mil m3
para a Nigéria, dando início ao programa de adição de etanol
à gasolina daquele país, contando com suporte técnico da
companhia e seguindo o exemplo das iniciativas já em anda-
mento na Venezuela, país que já recebeu 150 mil m3 de álcool
exportados pela Petrobras.
Todas as indicações levam a crer que o mercado
Todas as indicações internacional de álcool irá crescer substancialmen-
levam a crer te nos próximos anos, à medida que outros países
que o mercado se interessam pela mistura do álcool anidro à ga-
solina como forma de reduzir as emissões de gases
internacional de
de efeito estufa e atender às metas ratificadas no
álcool irá crescer
Protocolo de Quioto. Projeções do Ministério da
substancialmente nos
Agricultura e da UNICA apontam para um exce-
próximos anos. dente exportável de álcool de mais de 11 bilhões
de litros na safra 2012-2013. Com o aumento da
produção de álcool em outros países, e mesmo a entrada de
novos produtores, o álcool irá consolidar-se como uma com-
modity, facilitando a sua comercialização internacional em
bases transparentes e seguras.
O Brasil domina tecnologicamente toda a cadeia produtiva
do etanol, tanto no aspecto industrial como no agrícola, e
produz álcool ao menor custo mundial, mas serão necessárias
iniciativas políticas por parte do governo brasileiro junto aos
governos dos Estados Unidos, União Européia, Japão e outros
países para promover um mercado internacional de etanol
combustível. Será imprescindível lutar pela dispensa tempo-
rária ou definitiva do imposto de importação.

42 | Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas


Biodiesel

A introdução do biodiesel no mercado de combustíveis


brasileiro é recente, tendo sido regulamentado pela Lei
11.097/2005. Essa lei criou a obrigatoriedade da mistura do
biodiesel ao diesel, definindo períodos de transição entre o
caráter de autorização e de obrigação da mistura e o aumen-
to de seu percentual, conforme a Figura 2.

Figura 2 – Cronograma de adoção do biodiesel ao


diesel

2008 a 2012
2005 a 2007 2013 em diante
(2% obrigatório)
(2% autorizado) (5% obrigatório)
(5% autorizado)

Em 2004, a demanda total de diesel no Brasil foi de 39,2


milhões de metros cúbicos, dos quais 76% foram consumidos
em transportes. O País importou 16,3% dessa demanda, o
equivalente a US$ 1,2 bilhão. Como exemplo, a utilização
de biodiesel em uma mistura de 5% no diesel consumido no
País demandaria um total de 2 milhões de metros cúbicos
de biodiesel. É importante destacar que essa projeção refle-
te apenas a mistura de 5%. Contudo, em casos específicos,
como geração de energia elétrica, transporte hidroviário e
ferroviário e abastecimento de frotas cativas, é permitida a
mistura de biodiesel em percentuais maiores, desde que au-
torizada pela ANP. Essa flexibilização pode, evidentemente,
aumentar a demanda por biodiesel além do esperado.
Assim como a cadeia produtiva do álcool, a do biodiesel
integra produtores agrícolas, indústria, logística de distri-
buição de combustíveis e mercado final. Entretanto, essas

Biocombustíveis no Brasil: Comercialização e Logística


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relações são muito mais diversificadas do que na cadeia do
álcool, seja pela variedade de matérias-primas, seja pelas di-
ferentes tecnologias que permitem a integração do mercado
de óleos vegetais com o de diesel. A Figura 3 mostra, esque-
maticamente, essas relações.

Figura 3 – Cadeia produtiva do biodiesel


H-BIO
Campo Processo
Óleo Óleo PETROBRAS
Grão
Refinado
Hidrogênio Frações
Esmagamento do diesel
ou
Processo Óleo
ou Convencional Degomado
Processo Refinaria
PETROBRAS Diesel
Transesterificação
Biodiesel
Etanol
ou Distribuidora
Metanol
mistura ou
B2 ou B5

Glicerina +Álcool +Outros Posto


Hidratado

Quanto aos agentes envolvidos nessa cadeia, a diferença,


em relação à do álcool, reside nas fases agrícola e industrial.
Se, naquela cadeia, mais de 70.000 fornecedores de matéria-
prima estão envolvidos, nesta, todo produtor de grãos pode,
potencialmente, participar, incluindo pequenos proprietários
rurais e agricultores familiares. Por outro lado, como é uma
indústria ainda em formação, existem poucas unidades pro-
dutoras instaladas (vide Tabela 4), comparadas com o número
de usinas, mas é um setor que cresce rapidamente, à medida
que a obrigatoriedade da mistura se aproxima.

44 | Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas


Tabela 4 – Unidades de Biodiesel no Brasil

UNIDADES UNIDADES CAPACIDADE CAPACIDADE TOTAL


TOTAL MIL m³/ano Mil m³/ano

Usinas piloto 22 22 20,9 20,9

Unidades produzindo 19 41 708,0 728,9

Unidades construídas sem 14 55 566,0 1.294,9


produção

Unidades em construção 28 83 1.408,7 2.703,6

TOTAL 201 4.949,3

Fonte: Biodiesel
Os custos de produção de biodiesel são constituídos prin- BR. Atualizado em
cipalmente pelos insumos (80%), representados pelas olea- 25/04/2007.
ginosas. Portanto, a remuneração do agricultor deve ser con-
siderada como ponto fundamental do projeto, para garantir a
sustentabilidade da cadeia produtiva. Para a Petrobras, cons-
titui grande desafio atender a requisitos de competitividade
de preços, associados ao objetivo de inclusão social pela ge-
ração de emprego e renda, principalmente no meio rural.
Também em relação aos custos de produção, embora ainda
tenha uma longa curva de aprendizagem e eficiência a per-
correr, o biodiesel é competitivo em comparação com outros
mercados. Segundo dados de mercado levantados pelo Pólo
Divulgação/Brasil Ecodiesel

Biocombustíveis no Brasil: Comercialização e Logística


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Banco de Imagens Petrobras/Rogério Reis

46 | Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas


Nacional de Biocombustíveis, o custo de produção no Brasil
pode variar de R$ 0,80/l a R$ 2,10/l, dependendo da matéria-
prima. A título de comparação, na União Européia, esse custo
pode variar entre R$ 0,94/l e R$ 1,97/l.
Efetivamente, a comercialização de biodiesel no Brasil
iniciou com compras diretas de pequena distribuidora de
combustíveis, em volumes reduzidos, para o mercado nacio-
nal. Para alavancar a produção de biodiesel e consolidar o
programa, o Ministério de Minas e Energia e a Agência Na-
cional de Petróleo estabeleceram a realização de leilões do
combustível, quase integralmente adquiridos pela Petrobras.
Foram realizados cinco deles, comercializando-se um total de
890 milhões de litros, com preços médios de fechamento va-
riando entre R$ 1,905/l (1º leilão) e R$ 1,747/l (4º leilão).
Esse biodiesel já está sendo comercializado em mais de 4.000
postos da Petrobras Distribuidora.
Por fim, o Governo Federal garantiu importante O Governo Federal
incentivo tributário para a consolidação e expan- garantiu importante
são desse setor. A Tabela 5 relaciona os tributos
incentivo tributário
federais incidentes na produção de biodiesel. Com
para a consolidação
o objetivo de fomentar a inclusão da produção
e expansão do
agrícola por pequenos produtores e, em especial,
de áreas mais carentes do País, o mecanismo esta- setor de produção
belece uma série de incentivos que pode chegar a de biodiesel.
100% de isenção fiscal dos tributos federais, res-
tando apenas o ICMS, um tributo estadual sobre a circulação
de mercadorias e serviços. É esse mecanismo que viabiliza
a produção em condições que são socialmente desejáveis,
disponibilizando o produto para comercialização e, ao mes-
mo tempo, promovendo a inclusão social, o desenvolvimento
econômico e a sustentabilidade ambiental.


Preços com tributos federais inclusos (PIS/COFINS). ICMS não incluso.

Biocombustíveis no Brasil: Comercialização e Logística


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Tabela 5 – Estrutura tributária federal da produção de biodiesel

Biodiesel

Agricultura Agricultura
familiar no intensiva no Diesel de
Norte, Nordeste Agricultura Norte, Nordeste Petróleo
Regra Geral
e Semi-árido familiar geral e Semi-árido
com mamona com mamona
ou palma ou palma

CIDE inexistente inexistente inexistente inexistente 0,07

100% 69% 32%


de redução em de redução em de redução em
PIS/
relação à regra relação à regra relação à regra 0,222 0,148
CONFINS
geral geral geral
(R$ 0,00) (R$ 0,07) (R$ 0,151)

100% 69% 32%


Somatório de redução em de redução em de redução em
dos tributos relação à regra relação à regra relação à regra 0,222 0,218
federais geral geral geral
(R$ 0,00) (R$ 0,07) (R$ 0,151)


Logística

A logística de distribuição de biocombustíveis insere-


se dentro do quadro geral da distribuição de combustíveis,
como é possível observar na Figura 4. O fluxo de etanol para
os produtores de biodiesel destina-se à produção de biodie-
sel, enquanto o fluxo para distribuidoras destina-se ao uso
combustível. A legislação brasileira não autoriza a venda de
etanol diretamente para consumidores finais. Os fluxos de
biodiesel, por sua vez, destinam-se ao uso combustível, seja
através das distribuidoras ou, em casos específicos, detalha-
dos adiante, da venda direta ao consumidor final. Há tam-
bém, naturalmente, o fluxo para o mercado externo, que pode

48 | Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas


ser feito de modo direto, tanto pelos produtores de etanol
quanto pelos de biodiesel.

Figura 4 - Fluxos de abastecimento de combustíveis


no Brasil

Exceto gasolina
Consumidores
Importadores Finais

Veículos
Derivados Posto Revendedor Automotores
Diesel
de Petróleo
Álcool Empresas de
Gasolina C Transporte de
TRR
Carga e de
Refinarias QAV Passageiros
Petroquímicas Óleos Comb.
Distribuidor
Lubrificantes Atacadistas Empresas de
comb; solv; GLP
GLP Distribuidores de Aviação
Solventes Lubrificantes
Indústrias
Álcool Revenda de Comb.
Aviação
Fazendas

Residências
Produtor de
Biodiesel Destilarias/Usinas Revenda de GLP
Etc...

Fonte: ANP.

A logística para distribuição do álcool e do biodiesel ten-


dem a ser similares à jusante da base de distribuição. As
principais diferenças recaem nas rotas entre o campo e a
unidade industrial. Em seguida, a operação dessas cadeias
logísticas são mostradas com mais detalhe.

Biocombustíveis no Brasil: Comercialização e Logística


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Álcool

No Brasil, a produção de álcool distribui-se desigualmente


entre as regiões. Como se pode observar na Tabela 6, a produ-
ção concentra-se na Região Sudeste, notadamente no estado
de São Paulo, com cerca de 60% da produção nacional. Uma
das conseqüências dessa concentração para a logística do
álcool é a necessidade de comercializar o combustível entre
as regiões. Resumidamente, a Região Sudeste exporta para
todas as regiões do País, enquanto a Região Centro-Oeste o
faz para as Regiões Norte, Nordeste e Sul. O transporte do ál-
cool é feito através de intrincada e extensa rede de rodovias,
ferrovias e algumas hidrovias, além de grande infra-estrutura
de estocagem.

Tabela 6 – Produção de álcool por região (%)

Região Sudeste 72

Região Centro-Oeste 12,9

Região Sul 7,7

Região Nordeste 7,1

Região Norte 0,3

Total 100
Fonte: MAPA.

Por outro lado, a logística para exportação também con-


centra-se em alguns portos do País com melhor infra-estru-
tura e capacidade de armazenamento, além de estarem mais
próximos das áreas produtoras. O principal porto de expor-
tação é o de Santos (SP), responsável por cerca de 66% das
exportações de álcool do Brasil, seguido pelo de Paranaguá
(PR), com, aproximadamente, 18%.

50 | Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas


A infra-estrutura logística operada pela Petrobras tem
papel fundamental para a distribuição interna do álcool em
todo o território nacional. Com a disponibilidade de sistemas
multimodais, a Petrobras transporta, armazena e distribui
combustíveis em todo o território nacional. Essa infra-es-
trutura pode ser vista na Figura 5 e, com maior detalhe, na
Tabela 7.

Figura 5 – Infra-estrutura logística da Petrobras

Centros coletores
Bases de Distribuição
Malha Ferroviária
Terminais Portuários
Principais Mercados
de Álcool

Biocombustíveis no Brasil: Comercialização e Logística


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Tabela 7 – Infra-estrutura logística da Petrobras

Transporte Distribuição

• 20 terminais terrestres; • 34 bases de distribuição próprias;

• 24 terminais marítimos e em rios; • 22 terminais de distribuição;

• 10.000 km de dutos; e • 11 bases de distribuição em Pool;

• 10 milhões m3 de capacidade de • 10 armazenagens em bases de terceiros;


estocagem.
• 8 centros coletores de álcool; e

• Terminal Ferroviário de Paulínia

Desde o início do Proálcool, a Petrobras foi responsável


pela distribuição primária do álcool, comprando o produto
das usinas e armazenando-o em suas instalações (centros
coletores e refinarias). A desregulamentação do setor, no fi-
nal dos anos 90, reduziu um pouco o papel da Petrobras no
mercado do álcool, levando cada distribuidora a fazer suas
próprias aquisições junto às usinas produtoras.
Atualmente, quase todas as bases de distribuição do País,
da Petrobras e de outras companhias, contam com instala-
ções para o recebimento de álcool pelo modal rodoviário e,
diretamente, das usinas produtoras. O frete rodoviário pode
ser contratado pela usina ou mesmo pela distribuidora jun-
to aos transportadores cadastrados na Agência Nacional de
Transportes Terrestres. Esse é o modelo mais comum usado
para o transporte de álcool.
Existem, também, alguns centros coletores de álcool (CCA)
próximos às regiões produtoras. Essas unidades estão inter-
ligadas ao modal ferroviário. Assim, recebem o álcool das

52 | Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas


usinas produtoras por modal rodoviário, consolidam a carga
e carregam os vagões que são, então, transportados pelas
ferrovias regulares até outras bases de distribuição, aprovei-
tando as vantagens deste modal de maior escala.
Há, ademais, bases de distribuição de derivados que tam-
bém funcionam como centros coletores. Com recebimento
rodoviário, consolidam a carga em volumes maiores e des-
pacham o álcool (transferência) para outras bases por mo-
dal ferroviário, dutoviário (via Transpetro) ou fluvial (Região
Norte). Existe outra opção, que é a cabotagem entre regiões,
quando, por problemas de safra/produção (ou outros), as dis-
tribuidoras ou as usinas se reúnem para consolidar grande
volume e cabotar produto entre o Centro-Sul e o Nordeste,
ou vice- versa. É uma operação de grande escala e razoável
complexidade, também gerenciada pela Petrobras. Essa ca-
deia logística pode ser vista na Figura 6.

Figura 6 – Cadeia logística do álcool

Rodoviário
CENTRO COLETOR ou
Rodoviário
Base de Distribuição
Aprox. 10 Ferroviário
Dutoviário BASE DE
Rodoviário Direto para a Base Fluvial DISTRIBUIÇÃO

USINA

> 300 unidades no país

REVENDEDOR
48.051 postos
(postos)
cadastrados no país
(ANP)

Biocombustíveis no Brasil: Comercialização e Logística


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Para a exportação de álcool a partir da região Centro-Sul,
há a opção da logística integrada da Petrobras Distribuido-
ra, Petrobras e Transpetro. Dos centros coletores, o produ-
to segue, por ferrovia, até Paulínia, onde é descarregado no
Terminal Ferroviário (Tefer) e bombeado para os tanques da
Refinaria de Paulínia (Replan). Posteriormente, através de
dutos operados pela Transpetro, o álcool é bombeado para
a Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), no estado do Rio de
Janeiro, podendo ser exportado através do Terminal de Ilha
D’Água. Para a realização da exportação através do Porto de
Paranaguá, o produto poderá ser escoado através dos Centros
Coletores de Ourinhos e Londrina (PR), por ferrovia, até Pa-
ranaguá (PR).
A Petrobras está investindo na construção de
A Petrobras está nova infra-estrutura para escoamento de álcool,
investindo na com vistas à exportação. Como mostrado na Figura
7, procura-se aumentar a capacidade de escoamen-
construção de nova
to da linha existente até o Terminal de Ilha D´Água
infra-estrutura
(RJ) e implantar uma linha para exportação pelo
para escoamento de
Terminal de São Sebastião (SP). A construção de
álcool, com vistas à um alcoolduto permitirá captar álcool de grandes
exportação. regiões produtoras, hoje só acessíveis pelo modal
rodoviário, reduzindo os custos logísticos. O alco-
olduto também estará interligado à Hidrovia Tietê-Paraná,
aumentando a capilaridade do sistema. Espera-se que, com a
nova estrutura, a capacidade de exportação do Sistema Pe-
trobras, em 2012, seja de 8 milhões de m3/ano. Esses inves-
timentos são fundamentais para a redução dos custos de ex-
portação, aumentando a competitividade do álcool brasileiro
no mercado internacional.

54 | Biocombustíveis no brasil: Realidades e perspectivas


Figura 7 – Logística para exportação do álcool

Biodiesel

Dois pontos fundamentais devem ser observados em re-


lação à logística de suprimento de biodiesel: a localização
das áreas de produção e centros de consumo, e a de onde se
dará a mistura com o diesel de petróleo. A definição de qual
agente será o responsável pela realização da mistura do bio-
diesel ao diesel é determinante para obtenção da qualidade
requerida do combustível. É consenso que, quanto mais re-
duzido o número de agentes autorizados a realizar a mistura,
menores serão as possibilidades de falhas nos procedimentos
operacionais. Por outro lado, nessas circunstâncias, maiores
são os custos de transportes das unidades fabris para os cen-
tros de mistura.

Biocombustíveis no Brasil: Comercialização e Logística


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Banco de Imagens Petrobras/Bruno Veiga

A coleta do biodiesel nas unidades de produção para o


transporte aos centros de mistura representa uma demanda
adicional para o transporte de cargas inflamáveis. Em prin-
cípio, é recomendável que a mistura do biodiesel ao diesel
seja realizada pelas distribuidoras de combustíveis, como no
caso da adição de álcool anidro à gasolina. De fato, no caso
do álcool, esse procedimento só ocorre no momento do car-
regamento do caminhão, com equipamentos de controle e
medição. O mesmo tende a ocorrer no biodiesel.
A partir de julho, todo o óleo diesel comercializado pela
Petrobras Distribuidora (BR) subsidiária da Petrobras, trará,
em sua composição, a adição de 2% de biodiesel. Cinco mil
postos de serviço de bandeira da companhia e outros 3.350
grandes clientes da empresa, em todos os estados do País, já
estarão recebendo o biodiesel B2, ou seja, a mistura de 2%
do biodiesel ao diesel convencional, derivado do petróleo.
Para que a meta pudesse ser alcançada, a Petrobras Distri-
buidora (BR) investiu R$ 35 milhões na infra-estrutura ope-

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Divulgação/Brasil Ecodiesel
racional e logística, de forma a adequar sua rede de bases e
terminais. A obrigatoriedade da adição estava prevista para
janeiro de 2008. Já existem 4.550 postos revendedores co-
mercializando o diesel com a adição do diesel vegetal, e,
logo, serão 5.000 postos comercializando o B2. O biodiesel
já está disponível em 55 dos 64 terminais e bases de distri-
buição da companhia, em todos os estados brasileiros. Em
julho, todas as 64 bases estarão distribuindo óleo diesel com
a adição de 2% de biodiesel.
Na parte operacional, a Petrobras Distribuidora traçou um
plano de adequação da sua rede de bases e terminais. A em-
presa teve que montar uma estrutura logística completa para
o biodiesel, a partir da coleta junto às usinas produtoras
localizadas nos quatro cantos do País (hoje, são sete usinas
em operação, e até o fim do ano serão mais 15), passando
pela armazenagem e pelos equipamentos de mistura, até a
expedição para os clientes finais.

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Banco de Imagens Petrobras/Bruno Veiga

Em abril de 2006, apenas duas bases da empresa (Belém e


Fortaleza) operavam com o biodiesel, movimentando 90 mil
litros por mês de biodiesel B2, de um total de 915 milhões
de litros/mês de todos os tipos de diesel (interior, metropo-
litano, marítimo) comercializados pela companhia. Hoje, são
680 milhões de litros/mês de biodiesel B2 comercializados
por 86% das instalações operacionais, o que significa a ex-
pedição de 40 mil caminhões-tanque por mês. O percentual
de B2 nas vendas totais de diesel da BR saltou, no período,
de menos de 1% para cerca de 57%. Os terminais localizados
nas cidades de São Paulo, Brasília, Duque de Caxias, Betim,
Mataripe, Fortaleza, Belém, São Luís, Oriximiná, Rio Branco,
Caracaraí, Macapá, Belo Monte e Marabá passam a vender
exclusivamente o biodiesel B2.
Por fim, a logística do biodiesel deverá enfrentar alguns
desafios para a sua consolidação, como a integração das uni-
dades produtoras aos modais de transporte e alguma compe-
tição com outros produtos, como o álcool, por caminhões.

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Contudo, o maior desafio comercial e logístico do setor, nota-
damente para as distribuidoras, será acompanhar a disponi-
bilidade do produto (B100) e seu relacionamento com a ma-
téria-prima agrícola, sujeita às condições de safra e mercado.
Essa coordenação de duas cadeias será fundamental para a
manutenção dos estoques de passagem a preços competiti-
vos. Vale lembrar, também, que a diversidade de matérias-
primas é um complicador adicional para essa coordenação.

Considerações finais

A atuação da Petrobras para atenuar a dependência do


País em relação ao petróleo importado iniciou-se muito an-
tes da atual preocupação mundial de redução de poluentes e
preservação das fontes de energia. O apoio ao Proálcool foi a
primeira grande ação da empresa nesse sentido. A partir da
década de 90, o destaque mundial para a questão do meio
ambiente e de sua sustentabilidade despertou o interesse de
outros países pela tecnologia desenvolvida no Brasil, con-
quistando novos investimentos para o País.
Diante desse cenário, o Programa Brasileiro de Biodiesel
transcende as questões de utilização de energias renováveis e
avança na geração de empregos. Em conseqüência, traz melhoria
social e estímulo a vários setores de produção, desde pequenos
produtores da agricultura familiar até investidores interessados
no desenvolvimento da produção de biocombustíveis.
Os investimentos realizados demonstram o comprometi-
mento da companhia com o desenvolvimento sustentável do
Brasil, e comprovam que o País tem, reconhecidamente, ca-
pacidade de substituir, de forma renovável, grande parcela do
consumo de petróleo.

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