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ABRIL DE 2007
Expedição - Caminhos Antigos das Minas à Bahia RELATÓRIO
Instituto Terrazul - Cultura, Comunicação e Meio Ambiente
A p r e s e n t a ç ã o
Este relatório técnico é fruto da pesquisa de campo do projeto Caminhos Antigos das Minas à Bahia, realizado pelo Ins-
tituto Terrazul em parceria com o Programa Monumenta. Entre os dias 14 de agosto e 14 de setembro de 2006, uma ex-
pedição multidisciplinar organizada pelo Instituto seguiu a rota que ligava no Século XVIII as vilas mineiras do ouro e dos
diamantes à então capital da colônia, Salvador, e visitou e documentou, em reportagens, textos e fotografias, o enorme
acervo cultural e natural protegido nos municípios ao longo do caminho, desde Mariana até a capital da Bahia.
Como critério geral para a pesquisa de campo, a Expedição privilegiou os municípios com bens culturais tombados pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN e as unidades de conservação ambiental sob a guarda do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Com base neste corte de pesquisa,
foram visitadas 29 cidades que contam com acervos tombados pelo IPHAN, destacando-se, entre estas, aquelas que
participam do Programa Monumenta – Mariana, Ouro Preto, Serro, Diamantina, Lençóis, Cachoeira e Salvador.
Entretanto, os pesquisadores visitaram também outros municípios que, apesar de não contarem com bens tombados
pelo IPHAN, tiveram fundamental importância histórica na constituição da rota do antigo caminho colonial. Entre estes,
destacam-se, por exemplo, os atuais municípios mineiros de Pedro Leopoldo, Morro da Garça, Várzea da Palma, São
Romão e Januária.
Já no caso da paisagem natural e das unidades de conservação ambiental, a equipe da Expedição Caminhos Antigos
das Minas à Bahia foi orientada a priorizar a observação sobre a existência de remanescentes e vestígios dos caminhos,
tais como calçamentos, pontes antigas, currais e/ou cemitérios. Além disso, a equipe não perdeu de vista o olhar sobre
atrativos paisagísticos de referência histórica, como picos que serviram de orientação para os primeiros colonizadores,
nascentes e foz de rios, como o rio das Velhas, o São Francisco, o Paraguaçu, entre outros.
O re latório
Para facilitar a leitura, o relatório foi estruturado em quatro capítulos. O primeiro, elaborado com base em pesquisas bibliográficas
sob a consultoria do historiador Márcio Santos, procura traçar os antecedentes históricos da formação do caminho da Bahia. Em
seguida, o capítulo 2 aborda, de forma sucinta, a história dos municípios com bens tombados pelo IPHAN e a lista destes acervos
culturais, acompanhadas das fotografias de Pedro Miranda e Paula Huven, fotógrafos da Expedição.
O capítulo 3, elaborado sob a forma de um roteiro de viagem pelos geógrafos Isabel Mascarenhas e Acácio Ferreira Júnior,
faz a descrição da paisagem cultural e natural da rota, com ênfase nas unidades de conservação visitadas. Também neste
caso, o capítulo é ilustrado com fotografias coletadas durante a Expedição.
Por fim, o capítulo 4 reúne a seleção das melhores reportagens produzidas pelos jornalistas Marina Rattes e Pedro Costa
durante a viagem, sob a coordenação editorial de Denise Menezes. Entre quase uma centena de diários veiculados todos os
dias em um hot site em www.terrazul.org.br, o Instituto Terrazul selecionou para este relatório 76 reportagens, entrevistas e
fotografias que resgatam a força cultural, histórica e natural dos municípios ao longo desta antiga rota colonial brasileira.
Como revela o relatório, o Caminho das Minas à Bahia legou identidades que percorrem a arquitetura, as manifestações
culturais e a história das cidades. A mesma constatação é clara no que se refere à paisagem natural, já que o caminho
inseria-se em importantes biomas brasileiros, com a predominância da zona de transição entre a Mata Atlântica e o
Cerrado da Cordilheira do Espinhaço, desde Mariana até a Chapada Diamantina. Não por acaso, aliás, esta área geológica
foi berço do ouro e dos diamantes, descobertos tanto em Minas quanto na Bahia nos Séculos XVIII e XIX.
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Em sua jornada, a Expedição constatou que a rota oferece grandes possibilidades para a estruturação de um corredor de
turismo histórico, cultural e ecológico a partir dos pólos já existentes e em plena expansão atualmente.
• O circuito do entorno de Ouro Preto, primeira cidade brasileira Patrimônio Cultural da Humanidade (1980).
• O circuito do entorno do Parque Nacional da Serra do Cipó, inclusive grutas e sítios arqueológicos.
• O circuito do entorno de Diamantina, também Patrimônio Cultural da Humanidade (1999).
• O circuito do entorno do Parque Nacional da Chapada Diamantina.
• A cidade de Salvador, cujo centro histórico é também Patrimônio Cultural da Humanidade (1985).
• O circuito navegável do rio São Francisco na rota, entre Pirapora e Matias Cardoso, em Minas Gerais.
• O circuito do entorno do Parque Nacional do Peruaçu e da APA do Rio Pandeiros, também em Minas Gerais.
• O circuito do entorno de Rio de Contas, com seus remanescentes bem preservados do caminho antigo, na Bahia.
• O circuito do entorno da cidade de Cachoeira, porta da antiga chegada dos viajantes ao Recôncavo Baiano.
Como as ações e os investimentos patrocinados pelo Programa Monumenta, os municípios destes pólos estão sendo
beneficiados por outros programas estruturais, federais e estaduais, que contribuem para a formação de um corredor
turístico-cultural e ecológico na rota. Para tanto, as ações de fortalecimento e de potencialização dos pólos já existentes
devem estar acompanhadas de programas específicos para a articulação de roteiros, a exemplo do que já ocorre entre
Ouro Preto e Diamantina, por exemplo, com o Projeto Estrada Real, ou com os circuitos turísticos criados pelos governos
de Minas e da Bahia.
Finalmente, é preciso registrar ainda que este conjunto de ações será muito mais poderoso na medida em que esteja
ancorado em uma estratégia de comunicação e marketing dos Caminhos das Minas à Bahia como um guarda-chuva que
une e interliga os roteiros locais e regionais em uma perspectiva mais ampla, histórica e cultural.
E este é o norte que deve orientar as futuras intervenções do projeto.
Apoios
A logística que permitiu o trabalho de campo, durante um mês, de 12 expedicionários ao longo da rota só foi possível
devido ao apoio recebido dos gestores públicos municipais, que não mediram esforços em atender as demandas de infra-
estrutura e de informações solicitadas pela coordenação do projeto. Os escritórios do Programa Monumenta, do IPHAN e
do IBAMA e de órgãos estaduais foram também decisivos para o sucesso de uma empreitada de tal magnitude.
Do mesmo modo, o apoio de veículos de comunicação de Minas e da Bahia, como os jornais Hoje em Dia, Estado de
Minas, A Tarde e Correio da Bahia, permitiu que a Expedição alcançasse grande repercussão junto à opinião pública. E isso
contribuiu decisivamente para o trabalho de mobilização realizado ao longo da viagem, com a realização de eventos,
palestras e conferências sobre o projeto em diversos municípios da rota.
Instituto Terrazul
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ÍNDICE
CAPÍTULO 1
Antecedentes Históricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 7
CAPÍTULO 2
Acervos culturais nos Caminhos das Minas à Bahia . . . . . . . . . . . . . . . . Pág. 14
CAPÍTULO 3
Relatos da Paisagem dos Caminhos Antigos das Minas à Bahia . . . . . Pág.63
CAPÍTULO 4
Reportagens da Viagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pág.113
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A história da penetração, do povoamento e da ocupação econômica do interior da América portuguesa está inti-
mamente vinculada à abertura e à expansão das rotas terrestres e fluviais que varreram o território colonial entre os
séculos XVI e XVIII.
Milenares rotas indígenas foram utilizadas para o avanço das bandeiras e entradas de apresamento de índios, de busca de
minerais preciosos, de combate contra reduções jesuíticas para a captura dos índios nelas mantidos e de guerra contra
tribos tapuia rebeladas no Recôncavo Baiano, no Rio Grande e no Ceará. Os primórdios da história dos caminhos antigos
brasileiros estão, assim, diretamente relacionados com a conquista do território ameríndio e a dizimação ou escravização
dos povos tupi-guarani e jê que o habitavam.
Com a chegada dos africanos os caminhos de penetração passaram a ser também obra do escravo negro. Incontáveis
trilhas e estradas foram abertas e assentadas pela mão-de-obra escrava; os poucos calçadões de pedra que ainda hoje
podem ser encontrados nos sítios históricos que foram preservados dão uma idéia do esforço que representou a sua
construção pelo braço afro-brasileiro.
Três funções econômicas principais se viabilizaram a partir da existência dos caminhos terrestres que cortavam o interior
da colônia: o transporte das boiadas, pelo qual chegava aos mercados consumidores a carne bovina criada nos currais
dos vales dos rios sertanejos; a circulação dos comboios de escravos negros e índios, os primeiros buscados no litoral e
os segundos nas vilas paulistas e nos espaços interiores não colonizados; a circulação mercantil realizada pelas tropas
de muares, responsáveis pelos carregamentos de minerais preciosos, cereais, armas, pólvora, aguardente, ferramentas,
roupas, produtos importados da Europa e outras mercadorias.
Nos primórdios da ocupação luso-brasileira da região mineradora que se tornaria a capitania das Minas Gerais, três eram
os caminhos coloniais que levavam às suas reservas auríferas: o Caminho Velho, o Caminho Novo e o Caminho da Bahia.
Por estas primeiras rotas terrestres abastecia-se o novo território minerador dos produtos necessários à atividade extrativa
e à manutenção da sua população e, no sentido inverso, fazia-se o escoamento do ouro nele extraído, rumo aos portos
litorâneos e, daí, à Europa.
O Caminho Velho foi, na fase inicial das descobertas auríferas, a principal rota de chegada e de abastecimento da região
das minas. Conectando as vilas paulistas – São Paulo de Piratininga, Mogi, Jacareí, Taubaté, Pindamonhagaba e Guara-
tinguetá – e os portos do Rio de Janeiro e de Parati ao território minerador, o caminho logo se tornou uma via larga e
movimentada, percorrida incessantemente por aventureiros, tropas de muares, comboios de escravos e boiadas. Além
dos bois, cavalos e muares vindos do extremo sul da colônia, circulavam pelo Caminho Velho os produtos enviados dire-
tamente das vilas paulistas - gado bovino, toucinho, aguardente, açúcar, milho, trigo, marmelada, frutas, panos, calçados,
drogas e remédios, algodão, enxadas, almocafres - e os artigos importados - sal, armas, azeite, vinagre, vinho e aguarden-
te do reino.
Ao contrário do Caminho Velho, formado de forma mais ou menos espontânea a partir das incursões paulistas pela
porção central do que veio a ser a capitania das Minas Gerais, o Caminho Novo nasceu de um projeto idealizado pelo
governador da capitania do Rio de Janeiro, Artur de Sé e Meneses, com o objetivo de reduzir o tempo de viagem entre o
litoral sul e as minas. Com efeito, as viagens para a região mineradora a partir do Rio de Janeiro obrigavam, pela primeira
via, a um longo desvio: do porto fluminense seguia-se para Parati por via marítima e, daí, por terra até os entroncamentos
paulistas do Caminho Velho (Taubaté e Guaratinguetá). Esta viagem podia levar, segundo documentos da época, três
meses.
Para a abertura de um caminho que abreviasse o percurso entre o litoral e as minas, foi contratado o sertanista paulista
Garcia Rodrigues, filho do bandeirante Fernão Dias e um dos participantes da grande bandeira por ele liderada, que, entre
1674 e 1681, percorreu parte do atual território mineiro. A partir da terceira década do Setecentos, o Caminho Novo se
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tornaria a principal via de acesso do litoral sul da colônia ao território minerador da capitania das Minas Gerais. Há regis-
tros de que o tempo de viagem entre o Rio de Janeiro e Vila Rica tenha se reduzido a dez dias, evitando-se ainda, pela
nova via, a travessia marítima até Parati e os lamaçais da serra do Mar.
Diferentemente dessas duas vias coloniais, a abertura do grande caminho que levava, a partir da segunda metade do
século XVII, do Recôncavo Baiano ao vale do rio das Velhas não foi ainda estabelecida com precisão pela pesquisa histó-
rica. Quando Antonil escreveu a sua obra, entre 1709 e 1710, essa via já era percorrida por imigrantes, escravos negros,
mercadores e boiadas, que chegavam ao vale do rio das Velhas por uma extensa via que nascia na cidade da Bahia (Salva-
dor), seguia o curso do rio Paraguaçu até o lugar chamado Tranqueira (região da Vila de Rio de Contas), para daí atingir as
margens do São Francisco. Entre Malhada e Barra do Rio das Velhas (hoje o distrito de Guaicuí, pertencente ao município
mineiro de Várzea da Palma), o Caminho da Bahia acompanhava a margem direita do São Francisco para seguir, depois,
pelo vale do rio das Velhas até a Vila Real do Sabará.1
Uma longa variante foi aberta, em ano indeterminado, seguramente antes do início do século, pelo sertanista baiano
João Gonçalves do Prado. Essa segunda via do Caminho da Bahia apartava-se da primeira em Tranqueira, passando pelas
nascentes dos rios Pardo, Gorutuba e Verde Grande, de onde seguia para campo da Garça (morro da Garça), para aí se re-
encontrar com a estrada do São Francisco. Esse é o trajeto informado por Antonil e registrado no mapa do jesuíta Jacobo
Cocleo, que teria sido elaborado por volta de 1700.
Apesar de a rota principal - a do São Francisco - estar parcialmente estabelecida, permanece nebulosa a sua origem – se teria
sido obra de exploradores paulistas que avançaram pelo sul ou, por outra, resultado do deslocamento de criadores de gado
baianos e pernambucanos a partir do norte da colônia. O tema mobilizou historiadores como Afonso Taunay,2 que defen-
deu a hipótese paulista, e Urbino Vianna e Salomão de Vasconcelos,3 que propuseram a explicação baiana. O mais provável
é que ambas as ondas exploradoras e povoadoras tenham ocorrido simultaneamente, ainda que a pesquisa histórica mais
recente venha demonstrando a preponderância paulista na ocupação de regiões sertanejas como o médio São Francisco.4
1. ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos; Brasília: INL, 1976.
2. TAUNAY, Afonso D’Escragnolle. História das bandeiras paulistas. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1975.
3. VIANNA, Urbino. Bandeiras e Sertanistas Bahianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935. VASCONCELOS, Salomão de. Bandeirismo. Belo Horizonte: Biblioteca
Mineira de Cultura, 1944.
4. SANTOS, Márcio. Bandeirantes paulistas no sertão do São Francisco: povoamento e expansão pecuária de 1688 a 1734. São Paulo: Edusp, no prelo. Versão atualizada de
SANTOS, Márcio Roberto Alves dos. Bandeirantes paulistas no sertão do São Francisco e do Verde Grande: 1688-1732. 2004. 201 f. Dissertação (Mestrado em História) – De-
partamento de História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.
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Pelo Caminho da Bahia formou-se uma das mais amplas redes de circulação de mercadorias para a região das minas. Os
criadores de gado dos rios São Francisco e das Velhas puderam então se consolidar como os responsáveis pelas grandes
reservas da mercadoria que, juntamente com o escravo negro, as minas gerais mais necessitavam: a carne bovina para
a manutenção da população dos arraiais, povoados e vilas mineradoras. Além da conexão entre as minas e a região pe-
cuária dos rios das Velhas e São Francisco, o Caminho da Bahia permitiu a ligação entre o território minerador e a cidade
da Bahia, que era então o maior núcleo urbano da América portuguesa e um dos seus portos mais movimentados. Pelo
Recôncavo Baiano chegavam os escravos africanos e os produtos europeus. O caminho foi, assim, via de escoamento da
produção pecuária e via de circulação mercantil.
O Caminho da Bahia era ainda o descaminho do ouro. A expressão, que tem hoje um sentido algo alegórico, tinha no
século XVIII um significado bem preciso. Pelos descaminhos se evitava o pagamento dos quintos, direitos de entrada,
direitos de passagem e de todos os outros tributos que pesavam sobre a população envolvida com o conjunto de ativi-
dades geradas pela mineração. Eram os caminhos do contrabando. A este respeito, o historiador inglês Charles Boxer não
hesita em afirmar que “a quantidade de ouro que deixava Minas Gerais através de São Paulo e Rio de Janeiro, fosse legal
ou ilegalmente, grande como evidentemente era, ainda permanecia muito menor do que o fluxo que chegava à Bahia
através da estrada do São Francisco”. 5
De nada adiantaram as sucessivas proibições e restrições emanadas da Coroa, preocupada com o desvio de mão-de-
obra negra dos canaviais e engenhos nordestinos para as lavras de ouro, com a evasão fiscal e com o contrabando de
ouro. As ordens régias, como a que determinou o fechamento do Caminho da Bahia, de 1701, e a que proibiu a circulação
pela via de quaisquer mercadorias que não o gado, de 1702, logo se revelaram inaplicáveis e foram revogadas.
Nas primeiras décadas do século XVIII produziu-se mesmo singular situação do Caminho da Bahia em relação aos dois
outros grandes caminhos que serviam à região mineradora. Como se pode verificar na tabela abaixo, pelo menos entre
5. BOXER, C. R. A idade de ouro do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1963. p. 63.
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1717 e 1727 os valores pagos pelos arrematantes dos contratos de cobrança de direitos de entrada foram significati-
vamente maiores para o Caminho da Bahia (referenciado nos documentos consultados como “caminho dos currais e
Bahia” e “caminho do sertão da Bahia”) do que para o conjunto dos caminhos Novo e Velho (citados, em conjunto, como
“caminhos do Rio de Janeiro e São Paulo”). Se se toma o valor pago pelo arrematante no leilão do contrato de exploração
do caminho como um indicador do que poderia render a via em arrecadação de tributos, pode-se de fato concluir que
o fluxo mercantil no Caminho da Bahia era muito mais alto do que em qualquer dos outros dois caminhos, chegando
mesmo, em alguns períodos, a ser maior do que a soma de ambos.
Fontes: 1. “Mapa dos contratos das entradas dos caminhos do Rio de Janeiro e São Paulo, e dos currais e Bahia, como também dos dízimos destas três comarcas”,
23.8.1724. AHU - Cons. Ultra. - Brasil/MG - cx: 5, doc: 69. Reproduzido em Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania de Minas Gerais (1680-1832). Conselho Ultra-
marino/Brasil, AHU, Instituto de Inv. Científica Tropical/Lisboa, CD 02/54; 2. [Carta de D. Lourenço de Almeida, governador das Minas Gerais, enviando ao rei o remate
dos contratos dos novos e velhos direitos das entradas dos caminhos do sertão, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e de São Paulo], 20.5.1726. AHU - Cons. Ultra.
- Brasil/MG - cx: 8, doc: 50. Reproduzido em Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania de Minas Gerais (1680-1832). Conselho Ultramarino/Brasil, AHU, Instituto
de Inv. Científica Tropical/Lisboa, CDs 03/54 e 23/54.
Uma das explicações para essa pujança da via baiana é fornecida por Antonil:
Este caminho da Bahia para as minas é muito melhor do que o do Rio de Janeiro e o da vila
de São Paulo, porque posto que mais comprido, é menos dificultoso, por ser mais aberto
para as boiadas, mais abundante para o sustento e mais acomodado para as cavalgaduras
e para as cargas.7
Avaliação semelhante faz o autor do documento anônimo intitulado “Informação sobre as minas do Brasil”, que, segundo
Capistrano de Abreu, seria pouco posterior a 1705.8 Esse texto parece ter sido produzido à guisa de parecer sobre a po-
lítica metropolitana para a região das minas e os sertões. Segundo o seu autor,
Da mesma sorte [os viajantes] se provêem pelo dito caminho de cavalos para as suas via-
gens, de sal feito de terra no Rio de São Francisco, de farinha, e de outras coisas todas precisas
para o trato, e sustento da vida. (...)
O quarto e último motivo que concorre para a impossibilidade de se vedar o dito caminho é
a facilidade e provimento dele, para cuja inteligência se há de supor, que o Rio de São Fran-
cisco desde a sua barra, que faz no mar junto à Vila do Penedo, em igual distância de oitenta
6. Tabela extraída de SANTOS, Márcio. Bandeirantes paulistas no sertão do São Francisco: povoamento e expansão pecuária de 1688 a 1734. São Paulo: Edusp, no prelo.
7. ANTONIL, op. cit., p. 187.
8. INFORMAÇÃO sobre as minas do Brasil, [1705?]. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, v. LVII, p. 159-186, 1935. ABREU, Capistrano de. Capí-
tulos de história colonial: 1500-1800 (1907). Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1998.
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léguas da Bahia, e Pernambuco, de uma e outra parte assim da que pertence à jurisdição de
Pernambuco como a da Bahia (para as quais serve de divisão o dito Rio) tem às suas beiras
várias povoações umas mais chegadas, outras mais distantes do dito Rio, e na mesma forma
se vão continuando por ele acima, por espaço de mais de seiscentas léguas, até se ajustarem
na barra que nele faz o Rio das Velhas, em cuja altura se acham hoje as últimas fazendas de
gado de uma e outra banda do dito Rio de São Francisco, sem ter da dita barra até esta altura
parte despovoada, nem deserta na qual seja necessário dormirem ou albergarem no campo
os viandantes, querendo recolher-se nas casas dos vaqueiros como ordinariamente fazem
pelo bom acolhimento que neles acham; isto suposto (...)
Igualmente para todos os moradores das praças que se comunicam com aqueles sertões
tem o caminho para as minas as mesmas comodidades e facilidades, porque em todo ele
acham águas tão abundantes como as do Rio de São Francisco, farinhas em bastante quan-
tidade, carnes de toda a espécie, peixe, frutas, laticínios, cavalos para se conduzirem, postos
para eles, e casas para se recolherem sem risco de Tapuias, nem de outros inimigos.9
Alguns núcleos urbanos merecem menção especial nesta rota. A Vila Real do Sabará foi o centro de convergência do
Caminho da Bahia na sua chegada às minas. Núcleo de uma das zonas iniciais de extração e uma das três primeiras vilas
da região do ouro, o antigo arraial do Sabará despontava no início do século como um grande empório comercial. Já em
1701 recolhiam-se quintos dos mineradores na Oficina Real dos Quintos instalada no povoado e, em 1725, foi fundada a
Casa de Fundição de Sabará, uma das mais importantes da colônia.
É de 1732 o relato:
A esta vila [Vila Real] vêm parar todas as carregações que saem da Bahia e Pernambuco
pelas estradas dos Currais e rio São Francisco, e nela, antes que em outra parte, entram os
gados, comum sustento das Minas e quase reputado como o mesmo pão.10
O arraial de São Romão destacou-se, por causa de seu porto estrategicamente localizado às margens do São Francisco,
como centro distribuidor do sal extraído no sertão. O produto, imprescindível na região das minas, era dificílimo de obter,
tendo gerado até revoltas no início do século XVIII. A extração de sal nos terrenos da região era base não só para a ex-
portação do produto para as minas e a salitração dos rebanhos, como também para o salgamento dos peixes pescados
no rio, que assim conservados eram vendidos, através dos armazéns de São Romão, Barra do Rio das Velhas, Barra do Rio
Grande, Pilão Arcado e Juazeiro, para outras capitanias da colônia. Carne bovina salgada e seca também era exportada
para as minas.
São Romão foi ainda o entroncamento entre o Caminho da Bahia, no sentido norte-sul, e o caminho leste-oeste, que
levava do vale do São Francisco ao núcleo minerador de Paracatu e, daí, a Goiás.
Rio de Contas foi um dos primeiros núcleos de extração aurífera no sertão baiano. A vila era a primeira povoação impor-
tante a ser cortada pelo Caminho da Bahia a partir do ponto em que a via deixava as margens do São Francisco e se dirigia
para o vale do Paraguaçu. E, como foi citado anteriormente, era nas proximidades de Rio de Contas que nascia a variante
João Gonçalves do Prado do Caminho da Bahia.
Cachoeira, por seu turno, possibilitou a conexão mercantil entre os “sertões de cima” (ao norte do vale do Paraguaçu) e
os “sertões de baixo” (ao sul do mesmo vale). Pela sua posição privilegiada, a vila representou o ponto de contato entre o
vale do Paraguaçu e o Recôncavo Baiano, destacando-se como a primeira povoação importante na chegada do Caminho
da Bahia à zona canavieira.
Já na segunda metade do século XVIII a via baiana é destacada nos mapas de José Joaquim da Rocha (1788). Na imagem
abaixo são reproduzidas as partes do mapa em que o caminho é destacado, cortando as regiões do vale do rio das Velhas
e do vale do São Francisco. O mapa exibe o Caminho da Bahia como ligação viária entre povoações antigas, entre as
quais Rocha identificou a Vila do Sabará, Santa Luzia, Fidalgo, Jaguara, Jequitibá, Curvelo, Morro da Garça, Barra do Rio das
Velhas, São Romão, Pedra dos Angicos e Morrinhos.
Partes do Mapa da Capitania de Minas Gerais, com a divisão de suas comarcas, de José Joaquim da Rocha. O Caminho da Bahia é destacado no centro das imagens.
Fonte: ROCHA, José Joaquim da. Geografia histórica da Capitania de Minas Gerais. Descrição geográfica, topográfica, histórica e política da Capitania de Minas Gerais.
Memória histórica da Capitania de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995.
No século XIX os caminhos que levavam das Minas Gerais à Bahia são referidos em fontes cartográficas como o Guia de
Caminhantes (1817) e em relatos de viagem como os de Spix e Martius (1817-1820), Richard Burton (1867) e Teodoro
Sampaio (1879). Na época da confecção do Guia de Caminhantes os principais caminhos coloniais já haviam se torna-
do estradas reais, expressão alusiva ao controle que a Coroa mantinha sobre essas vias privilegiadas de contato entre o
território minerador e o litoral. Na carta 12 desse conjunto de mapas, elaborados por Anastasio de Santa Anna como
uma produção cartográfica particular, é identificada a “Estrada Real de Minas para a Vila da Cachoeira”, ou seja, o próprio
“Caminho da Bahia” do século XVIII.
Parte da carta 12 do Guia de Caminhantes, mostrando os caminhos que chegavam à Bahia de Todos os
Santos. No topo da imagem é identificada a “Estrada Real de Minas para a Vila da Cachoeira”. Fonte: Guia
de Caminhantes, 12a. carta – Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil
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Márcio Santos é Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorando em História Social pela
Universidade de São Paulo. Autor de Estradas reais: introdução ao estudo dos caminhos do ouro e do diamante no Brasil
(Belo Horizonte, 2001), de Rio São Francisco: patrimônio cultural e natural (Belo Horizonte, 2003) e de Bandeirantes paulistas
no sertão do São Francisco: povoamento e expansão pecuária de 1688 a 1734 (São Paulo, no prelo). Professor substituto do
Departamento de História da Fafich/UFMG.
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MINAS GERAIS
1) M ariana
Paula Huven
Histórico:
Mariana foi a primeira cidade e primeira capital de Minas Gerais, além de a única de traçado planejado entre as vilas
coloniais mineiras. Em julho de 1696, uma bandeira comandada pelo Coronel Salvador Fernandes Furtado acampou
às margens do Ribeirão do Carmo, onde foram encontradas as primeiras pepitas de ouro. Com o início da mineração,
os bandeirantes se fixaram no lugar, criando o arraial de Nossa Senhora do Carmo, que recebeu o nome de Vila de Al-
buquerque, em homenagem ao governador da Capitania de São Paulo e das Minas, Antônio de Albuquerque Coelho
de Carvalho. Em 1711, uma Carta Régia mudou o nome para Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Ribeirão do
Carmo que passou a ser a capital das Minas Gerais, apesar da sede da Capitania continuar em São Paulo de Piratininga
até 1720. Recebendo o nome atual, Mariana foi elevada à categoria de cidade em 1745, tornando-se também sede do
primeiro bispado de Minas Gerais.
Apresenta traçado com ruas retas e praças retangulares, o que pode ser notado ainda hoje, apesar de sua expansão e da
constante descaracterização que vem sofrendo. Suas principais atrações são a Catedral de Nossa Senhora da Assunção;
a Sé (uma das mais antigas igrejas mineiras, de 1703); o Seminário Maior de Mariana, de estilo neoclássico; o conjunto de
sobrados, localizado na Rua Direita, com casas comerciais no térreo e sacadas no andar superior, sendo uma delas a casa
onde viveu o poeta Alphonsus Guimarães; e as pinturas sacras do maior pintor mineiro, Manoel da Costa Ataíde, que foi
batizado na Sé.
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Observações:
A paisagem cultural de Mariana foi prejudicada por intervenções contemporâneas em praças e no seu núcleo histórico,
com a construção da rodoviária, do prédio da Prefeitura e de um ginásio, além da pressão do crescimento urbano desor-
denado. Com recursos do Programa Monumenta, os espaços das praças estão recuperando as suas características origi-
nais, enquanto que a Prefeitura anunciou a intenção de demolir algumas das edificações modernas, como o ginásio.
Paula Huven
Conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade Capela de Nossa Senhora da Arquiconfraria de São Francisco
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Igreja da Sé Igreja de Nossa Senhora do Carmo
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Praça do Jardim
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2) O uro Preto
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Histórico:
O nome de Ouro Preto surgiu como referência ao aspecto das pedras encontradas por bandeirantes paulistas que des-
bravavam a região no final do Século XVII. O surgimento do povoado remonta a 1698, quando o bandeirante Antônio
Dias vislumbrou o Pico do Itacolomi, em cuja região corriam notícias da existência de veios auríferos. Durante a saga em
busca do ouro, foram fundados os povoados de Ouro Preto e Antônio Dias, que logo se expandiram até constituírem
uma única aglomeração. Em 1711, o governador Antonio de Albuquerque Coelho elevou o povoado à categoria de vila,
batizada como Vila Rica. Após a Independência do Brasil, Vila Rica foi elevada à categoria de cidade, sendo confirmada
como capital da Província de Minas Gerais e tendo o seu nome mudado para Ouro Preto.
Curiosamente, a aparência atual de Ouro Preto só começou a delinear-se a partir da segunda metade do século XVIII,
depois que sua produção mineradora entrou em decadência. As primeiras edificações, luxuosamente trabalhadas com o
quartzito de Itacolomi e a pedra-sabão, são desse período, e tiveram como mestre maior Antônio Francisco de Souza, o
Alejadinho. A Igreja do Carmo ficou pronta em 1772 e a de São Francisco de Assis, só em 1794. A Cadeia, mais tarde Paço
Municipal e agora Museu da Inconfidência, começou a ser construída em 1783.
Primeira cidade brasileira a ser inscrita na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO em 1980, Ouro Preto reúne um dos
maiores acervos coloniais do país.
Observações:
O crescimento desordenado das duas últimas décadas comprometeu a paisagem natural dos morros que circundam
o núcleo histórico, da mesma forma que a poluição dos córregos que cortam a cidade. Além disso, ações de vândalos
e pichações são também ameaças permanentes, como pode constatar a equipe da Expedição em sua passagem pela
histórica cidade.
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Capela de Nossa Senhora da Dores Igreja de São Francisco de Assis
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Ponte Seca
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Ponte de Marília
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3) I tabirito
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Pico do Itabirito
Histórico:
A antiga Freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem de Itabira do Campo, atual cidade de Itabirito também remonta à
grande marcha dos bandeirantes paulistas em busca do ouro na virada dos XVII. Entre 1706 e 1709, o ouro foi encontrado
na região aos pés do Pico do Itabirito e em torno da lavra de Cata Branca dos Aredes, cujas ruínas podem ser vistas ainda
hoje, onde o Capitão-mor Francisco Homem Del Rey fundou o povoado. Em 1752, o arraial tornou-se freguesia com o
nome de Itabira do Campo, distrito da então Vila Rica.
Apenas duzentos anos depois, em 1923, o antigo povoado foi finalmente emancipado de Ouro Preto, recebendo o nome
de Itabirito.
Observações:
Situada em uma área de intensa atividade de exploração do minério de ferro, na região Metalúrgica Mineira, Itabirito sofre
as conseqüências da mineração e do crescimento urbano desordenado. O conjunto paisagístico do Pico de Itabirito, por
exemplo, encontra-se em uma área pertencente à mineradora MBR, de acesso restrito. Já a Igreja de São Vicente Ferrer,
tombada em 1953, desmoronou quatro anos depois e nada restou da construção original.
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4) Nova Lima
Histórico:
O povoado de Campos de Congonhas - primeira denominação de Nova Lima - surgiu na virada do século XVII, quando
o bandeirante paulista Domingos Rodrigues da Fonseca Leme descobriu ouro nos córregos da região. Logo, as minas
se multiplicaram e em 1720 já havia um próspero povoado vinculado à Comarca de Sabará. Em 1748, ele foi elevado à
condição de freguesia, tornando-se distrito em 1836, com o nome de Congonhas de Sabará. Com a sua emancipação
em 1891, a cidade recebeu o nome de Vila de Nova Lima, em homenagem ao seu filho mais ilustre, Augusto de Lima – o
poeta, historiador e político que governou Minas Gerais no início do período republicano.
Na corrida do ouro, a história da Mina de Morro Velho se confunde com a de Nova Lima. Em operação desde o período
colonial, a mina foi adquirida do Padre Freitas, em 1834, pela empresa inglesa Saint John Del Rey Mining Company Limi-
ted, que introduziu novas tecnologias para a exploração do minério em minas subterrâneas e deixou traços culturais
marcantes da colonização britânica nas Minas Gerais.
Observações:
Como as demais cidades da região metropolitana de Belo Horizonte, Nova Lima registra as conseqüências do cresci-
mento urbano desordenado das últimas décadas.
1. Retábulos e Púlpito da Fazenda da Jaguara, incorporada à Matriz de Nossa Senhora do Pilar, Iphan/1950.
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4) R aposos
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Histórico:
O arraial de Raposos surgiu na última década do século XVII, originando-se da expedição organizada pelo paulista Pedro
de Morais Raposos, que se fixou na região após encontrar o cobiçado ouro às margens do rio das Velhas, próximo à foz
do então volumoso ribeirão da Prata. O povoado floresceu rapidamente e registros históricos revelam que já em 1704
as torres da Matriz de Nossa Senhora da Conceição estavam concluídas; o que a torna uma das mais antigas igrejas de
Minas Gerais.
Observações:
Localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, a atual cidade tornou-se dormitório da capital mineira. De seu
patrimônio histórico colonial, restou apenas a Matriz, embora descaracterizada por reformas e intervenções posteriores.
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5) Caeté
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Histórico:
A região de Caeté foi desbravada por Leonardo Nardes Sisão de Souza entre 1702 e 1703, onde ele descobriu ricas minas
de ouro. Em poucos anos, o povoado já estava constituído e erguidas duas de suas principais igrejas – a Matriz de Nossa
Senhora do Bom Sucesso, dos brancos, e do Rosário, dos pretos. Entretanto, a disputa pelo poder sobre as riquezas mine-
rais do território tornar-se-ia cada vez mais intensa nos anos seguintes, levando a um conflito armado entre “paulistas”
e portugueses, os “emboabas”, que teve em Caetés, no atual distrito de Morro Vermelho, um dos seus momentos mais
decisivos. O conflito só foi encerrado em 1709 com a derrdota dos paulistas e o retorno de um dos principais líderes dos
emboabas, Manuel Nunes Viana, às suas fazendas de gado no médio vale do São Francisco. O próspero arraial foi uma das
primeiras vilas de Minas Gerais, recebendo, em 1714, o nome de Vila Nova de Caeté.
Como os picos do Itacolomi e do Itabirito, a Serra da Piedade foi um dos conjuntos montanhosos que orientou a marcha
dos colonizadores na virada do Século XVII. A construção do santuário remonta à década de 1760, por iniciativa dos por-
tugueses Antônio da Silva Bracarena e o Irmão Lourenço, que mais tarde fundariam o santuário do Caraça.
Observações:
As edificações tombadas apresentam um estado razoável de conservação. Entretanto, a paisagem da Serra da Piedade é
prejudicada pelas antenas das operadoras de telefonia móvel, pelas queimadas nos períodos de seca e pelo lixo deixado
por turistas e romeiros.
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Santuário de Nossa Senhora da Piedade Igreja Matriz de Nossa Senhora de Bonsucesso
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6) S abará
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Histórico:
A criação do primeiro povoado remonta à bandeira de Fernão Dias Paes, que saiu de São Paulo em 1674 à procura de
ouro e esmeraldas na Serra Resplandecente. Nas confluências do rio das Velhas e Sabará, Fernão Dias instalou um acam-
pamento, permanecendo na região por algum tempo até prosseguir mais tarde em busca da mística serra das esmeral-
das. Entretanto, Manuel de Borba Gato, genro de Fernão Dias, fixou-se no local, onde plantou roças e descobriu ouro no
rio das Velhas. Em 1681, o povoado foi palco do primeiro conflito pela posse das riquezas minerais, quando Borba Gato
assassinou o espanhol Don Rodrigo de Castel Branco, encarregado pela Coroa Portuguesa de fiscalizar as minas que
estavam sendo descobertas.
Na Guerra dos Emboabas, o povoado foi incendiado em 1707, mas logo se recuperou sendo elevado, em 1711, a Vila Real
de Nossa Senhora da Conceição de Sabará. Situada às margens do rio das Velhas, principal afluente do rio São Francisco e
então navegável, a vila foi também o mais importante entreposto comercial dos caminhos da Bahia, por onde chegavam
o gado e as mercadorias vindas pelos vales dos rios, por rota fluvial e terrestre.
Observações:
Os bens tombados apresentam, de modo geral, boas condições de preservação. Entretanto, há que se ressaltar as maze-
las do crescimento desordenado que ameaçam os remanescentes dos caminhos antigos na zona urbana , bem como a
poluição visual provocada pelos fios da rede elétrica e placas dos estabelecimentos comerciais, como, aliás, se verifica na
maioria das cidades históricas brasileiras .
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Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição Teatro Municipal
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7) S anta Luzia
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Histórico:
Por volta de 1700 já havia registro da existência da povoação de Santa Luzia, às margens do rio das Velhas. Embora tam-
bém tenha tido atividades de mineração, o arraial se firmou como centro de indústrias rudimentares e como entreposto
comercial, postado no rumo entre Sabará, os sertões e o Distrito Diamantino. O arraial apenas foi elevado a vila em 1847,
desmembrado de Sabará. Foi em Santa Luzia que se travou a batalha que pôs termo à Revolução Liberal Mineira de 1842,
quando as tropas legalistas do Império, comandadas pelo Coronel Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, venceu Teófilo
Otoni, liberal nascido no Serro, antiga Vila do Príncipe.
No atual município, situa-se o convento de Macaúbas, fundado pelos irmãos Manuel e Felix da Costa Soares em 1714,
que até o final dos XVIII não era um convento, mas uma casa de recolhimento. A instituição foi visitada pelo viajante
inglês Richard Burton na segunda metade do Século XIX, que anotou que a construção que visitara era de 1745 e não
a primitiva, de 1714, cuja ruína ainda podia ser vista na sua passagem. Lá se educaram filhas ilustres da elite potentada
mineira, como as filhas de Chica da Silva e do contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira.
Observações:
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8) Lagoa S ant a
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Histórico:
A origem da atual cidade remonta à primeira metade do Século XVIII, quando o seu primeiro morador, o fazendeiro Felipe
Rodrigues, curou-se de feridas crônicas depois de se banhar nas águas da lagoa. As notícias do poder medicinal das águas
se espalharam, atraíram milhares de pessoas da região que buscavam a cura para os seus males e chegaram até Lisboa
em 1749, para onde foram levados barris com a água milagrosa. Em torno da lagoa, surgiu o povoado que apenas em
1938 tornou-se cidade de Lagoa Santa.
No Século XIX, a região ganhou notoriedade mundial pelas pesquisas do dinamarquês Pedro Guilherme Lund. Pai da pa-
leontologia, Dr.Lund, como ficou conhecido, empreendeu longa viagem pelo interior do Brasil, quando conheceu grutas,
fez estudos da fauna e flora. Em 1835, ele se fixou em Lagoa Santa, onde faleceu em 1880.
Observações:
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9) M atozinhos
Histórico:
A história do município tem início com a chegada à região da bandeira de Don Rodrigo de Castel Branco. Sesmarias
foram constituídas: a do tenente José de Souza Viana, a de D. Izabel Maria Barbosa de Ávila Lobo Leite Pereira e a do te-
nente Antônio de Abreu Guimarães. A primitiva capela erguida em 1774 era filial da matriz de Roças Grandes, em Sabará.
O povoado elevou-se à categoria de freguesia, desmembrando-se de Sabará em 1823. Tornou-se distrito de paz de Pedro
Leopoldo em 1847, e município em 1943.
O município de Matozinhos reúne, em suas grutas e cavernas, vasto patrimônio pré-histórico, como a Lapa de Cerca
Grande, pesquisada por Dr. Lund no Século XIX. Além disso, em seu território, às margens do rio das Velhas, está a sede da
antiga Fazenda Jaguara e as ruínas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição – um local estratégico na rota do caminho
das Minas à Bahia.
Observações:
O patrimônio arqueológico do município enfrenta constantes ameaças das mineradoras que atuam na região, na maioria
dos casos em desacordo com as leis de proteção ambiental e cultural.
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A formação do povoado da Quinta do Sumidouro, hoje Fidalgo, distrito de Pedro Leopoldo, às margens do rio das Velhas,
é atribuída à bandeira de 1674 de Fernão Dias, onde ele fixou um acampamento depois de suas incursões pelos sertões
mineiros e veio a falecer. O distrito guarda a memória desta época em históricas construções, como a casa do bandei-
rante e a Capela do Rosário, em estilo barroco, uma das primeiras de Minas, cujo altar foi esculpido por Aleijadinho. Pedro
Leopoldo foi freguesia de Matozinhos até 1923, quando tornou-se município.
Como em toda a região, os registros de ocupação humana encontrados em Pedro Leopoldo são os mais antigos da
América, tendo sido descoberto o crânio de Luzia, cuja idade foi estimada em 12 mil anos, no sítio arqueológico da Lapa
Vermelha IV. Lá também se encontram pinturas rupestres em forma de linha, sugerindo que os primeiros povos a habitar
a região já possuíam um sistema rudimentar de anotações.
Observações:
estadual.
Capela do Rosário
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11) S erro
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Histórico:
A descoberta de jazidas de ouro na região próxima ao Pico do Itambé deve-se à expedição do guarda-mor Antônio Fer-
reira Soares em 1701, enviada pelo governador Arthur de Sá. Em torno das minas de Santo Antônio do Bom Retiro, na
confluência dos córregos dos Quatro Vinténs e do Lucas, surgiu o povoado que, em 1714, foi erigido a Vila do Príncipe.
Em 1720, a vila tornou-se sede da Comarca do Serro Frio, que abrangia uma extensa área do Norte de Minas, inclusive o
Distrito Diamantino.
Observações:
Embora tombado pelo IPHAN, a paisagem do conjunto arquitetônico e urbanístico foi prejudicada por intervenções
construtivas contemporâneas. Isoladamente, entretanto, algumas das edificações protegidas apresentam um bom esta-
do de conservação.
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Conjunto Arquitetônico e Urbanístico Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição
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12) D iamantin a
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Histórico:
As origens da cidade remontam a 1713, quando o ouro foi descoberto pelo baiano Jerônimo Correia no córrego do Ti-
juco, em torno do qual surgiu o primeiro povoado, o então Arraial do Tijuco. Pouco tempo depois, em 1714, o faiscador
Francisco Machado da Silva teria encontrado diamantes na lavra de São Pedro, mas somente em 1729 a descoberta do
primeiro enclave diamantífero do Ocidente foi comunicada oficialmente à Coroa Portuguesa, que demarcou toda a re-
gião do Distrito Diamantino e estabeleceu um rígido controle para o acesso às jazidas. Tanto que apenas em 1838 o rico
arraial foi elevado a cidade, com o nome atual.
A exploração de diamantes deu origem a uma aristocracia opulenta, que erigiu um belo patrimônio arquitetônico. O cen-
tro urbano de Diamantina apresenta a configuração característica das cidades do período colonial, com padrão irregular,
arruamentos transversais à encosta, marcados, principalmente, pelas ruas paralelas, pequenas variações de abertura ou
desvio de alguns becos e ruas estreitas. O alargamento das vias e largos determina espaços mais abertos, dando maior
destaque às edificações. Seu valioso acervo de construções coloniais – com edificações como o Mercado Velho, a Casa da
Glória, a Igreja Nossa Senhora do Carmo e a Casa do Inconfidente Padre Rolim, entre outros –, levou a cidade a receber,
em 1999, o título de Patrimônio Cultural Humanidade, atribuído pela UNESCO.
Observações:
As edificações do centro histórico da cidade apresentam, de modo geral, um bom estado de conservação. Entretanto, a
Serra dos Cristais está sofrendo um processo progressivo de descaracterização, fruto do avanço de edificações populares
no conjunto paisagístico tombado pelo Estado. Como outras cidades históricas, o excesso de veículos na área central é
também um problema grave.
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Igreja do Senhor do Bonfim Igreja de São Francisco de Assis
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13) M orro da G a rç a
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O Morro da Garça, citado por Guimarâes Rosa, foi referência para os viajantes
Histórico:
A origem do povoamento de Morro da Garça remonta ao caminho dos boiadeiros que vinham do Vale do São Francisco
e da Bahia com destino às vilas mineiras no século XVIII, trazendo gado, sal e outras mercadorias. Na região, os tropeiros
e viajantes se orientavam geograficamente pelo morro e arranchavam na então Fazenda da Garça, o último dos “currais”
no caminho da Bahia para as minas do rio das Velhas. Não existe registro da data exata da sua fundação, mas o arraial teria
surgido em torno da Capela de Nossa Senhora das Maravilhas, construída em 1720 nas terras da Fazenda da Garça.
O atual município, criado em 1962, possui um casario antigo, do século XIX, em grande parte conservado, e foi projetado
para o mundo na obra de Guimarães Rosa.
Observações:
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14) Pirapora
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Histórico:
O antigo povoado de São Gonçalo das Tabocas, hoje Pirapora, tem suas origens nas expedições que percorreram os vales
dos rios das Velhas e do São Francisco no período colonial. Seguindo o curso do São Francisco, as expedições encon-
traram as corredeiras de Pirapora - que em linguagem indígena significa “local onde saltam os peixes” -, de onde o rio é
navegável até Juazeiro, na Bahia. Com o surgimento da navegação a vapor e a inauguração da estrada de ferro Central do
Brasil, o povoado cresceu aceleradamente e já em 1911 era criado o município de Pirapora, que se firmou, então, como
principal empório comercial da região e de intercâmbio entre Minas Gerais, a Bahia e o Nordeste.
Destes tempos, a cidade guarda patrimônios relevantes do primeiro quartel do século passado, como a Ponte Marechal
Hermes, a Estação Ferroviária e o Vapor Benjamim Guimarães.
Observações:
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Histórico:
Em território do atual município de Várzea das Palmas, o rio das Velhas deságua no São Francisco, sendo o povoado
próximo da foz, hoje distrito de Barra do Guaicuí, referência histórica do processo de ocupação dos sertões pelos coloni-
zadores desde meados do Século XVII. Além de rota fluvial, a região era também estratégica para os caminhos terrestres
das boiadas que eram trazidas das fazendas da Bahia para o abastecimento das vilas mineiras, sendo o antigo povoado
de Palma Velha, hoje sede do município, um rancho que servia de acampamentos para os tropeiros. Com a construção da
estrada de ferro Central do Brasil, em 1910, o povoado passou a se chamar Várzea da Palma, emancipando-se de Pirapora
em 1953.
Em Barra do Guaicuí, encontram-se as ruínas da Igreja de Bom Jesus de Matozinhos, nunca concluída, e da Igreja Nossa
Senhora do Bom Sucesso e das Almas, cuja construção, nos primeiros anos do Século XVIII, é atribuída ao “emboaba”
Manoel Nunes Viana.
Observações:
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16) S ão R omão
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São Romão foi fundada no final do Século XVII, com o nome de Santo Antônio da Manga, em território então ocupado
pelos índios Caiapós. Em poucas décadas, tornou-se um dos mais importantes entrepostos comerciais dos sertões do
São Francisco, onde se encontravam os caminhos terrestres e fluviais de Goiás, Mato Grosso, Bahia e Minas Gerais. O
antigo e próspero arraial foi também palco, em 1736, da revolta dos fazendeiros contra a excessiva tributação da Coroa
Portuguesa, que teve como um dos seus principais líderes Pedro Cardoso, filho do bandeirante Matias Cardoso.
Apenas após a Independência, o povoado foi elevado a Vila Risonha de Santo Antônio da Manga de São Romão, em 1831.
Em 1923, tornou-se município, recebendo o nome atual.
Observações:
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17) Januária
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Histórico:
O arraial de Brejo do Amparo, atual Januária, surgiu também na saga da ocupação do médio São Francisco no último
quartel do Século XVII. Sobre a aldeia de Tapiraçaba, dos índios Caiapós, expulsos da região, os colonizadores, liderados
por Manuel Pires Maciel Parente, fundaram o primeiro núcleo urbano, depois transferido para o Porto do Salgado às
margens do rio. A partir de então, o arraial, grande produtor de sal, açúcar e fumo, entre outros produtos, ocupou papel
importante no comércio entre os povoados ribeirinhos do São Francisco, de Minas Gerais e da Bahia.
Em 1833, o arraial foi elevado a Vila de Brejo Salgado e em 1860 a município, recebendo o nome atual.
Observações:
De modo geral, é precária a conservação dos acervos históricos e arquitetônicos de Januária, mesmo daqueles com
tombamento municipal ou estadual. O caso mais grave é o da Igreja de Nossa Senhora do Rosário do distrito de Brejo
do Amparo, construída no Século XVIII, que está abandonada e teve o seu sino, de bronze, roubado seis meses antes da
visita da equipe da Expedição.
Localizado na margem direita do rio São Francisco já quase na fronteira de Minas Gerais com a Bahia, o povoado foi fun-
dado pelo bandeirante Matias Cardoso de Almeida em 1688. Capitão-mor adjunto às Minas na bandeira de Fernão Dias,
Matias Cardoso retornou a São Paulo em 1680, depois de se desentender com o velho bandeirante. No entanto, no ano
seguinte ele já estava de volta, na comitiva de Don Rodrigo Castel Branco, que fora encarregado pela Coroa para fiscalizar
as minas de ouro recém-descobertas. Com o assassinato de Don Rodrigo por Borba Gato em Sabará, Matias Cardoso fu-
giu para a Bahia, onde foi nomeado governador e administrador das aldeias indígenas, desde Porto Seguro até o rio São
Francisco, com a missão de capturar e escravizar os índios. Vitorioso em sua missão, o paulista partiu em 1690 para nova
tarefa no Ceará e Rio Grande do Norte, onde dizimou a confederação dos índios Cariris.
Do antigo arraial, elevado a município em 1992, restou a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída por
Matias Cardoso.
Observações:
O histórico templo necessita de reformas em seu telhado, pinturas e rede elétrica. Além disso, o altar, o forro e as imagens
demandam trabalhos de restauração.
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BAHIA
19) R io de Cont a s
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Histórico:
A colonização da região teve início no final do Século XVII, a partir da chegada de escravos foragidos em Itacaré, na foz
do rio de Contas, que se fixaram às margens do rio de Contas Pequeno, atual Brumado. O povoado, então denominado
Pouso dos Creoulos, cresceu naturalmente como ponto de paragem dos viajantes que seguiam de Goiás e de Minas
Gerais para a cidade de Salvador, atravessando a Serra das Almas, que integra a parte setentrional da cordilheira do Es-
pinhaço. Com a descoberta do ouro de aluvião na segunda década do Século XVIII pelo bandeirante Sebastião Pinheiro
da Fonseca Raposo, o povoado prosperou rapidamente e, em 1745, foi transferido para um novo sítio, tornando-se a Vila
de Nossa Senhora do Livramento de Minas do Rio de Contas. Entretanto, na virada do Século XVIII as minas de ouro já
estavam exauridas, registrando o povoado um rápido processo de estagnação.
Observações:
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20) Mucugê
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Histórico:
Zona de expansão baiana das fazendas de gado, a região de Mucugê sofreu uma reviravolta em meados do Século XIX,
com a descoberta de jazidas de diamantes nos córregos que nascem na Serra de Sincorá, na Chapada Diamantina, que
também integra o complexo do Espinhaço. Conta-se que o primeiro diamante da região foi encontrado acidentalmente
em 1844 por Cristiano Pereira do Nascimento, no leito do riacho das Cumbucas. Um grupo comandado pelo Coronel
Cazuza do Prado explorou o veio sigilosamente, mas o segredo acabou revelado quando um dos participantes, ao tentar
vender uma pedra, foi acusado do assassinato de um minerador, e confessou onde a havia encontrado. Com a notícia, a
região foi invadida por garimpeiros de todo o país, sobretudo do Serro e Diamantina, onde a exploração já acontecia.
O arraial de Mucugê do Paraguaçu surgiu no ano da descoberta, recebendo o nome do rio. Desmembrada de Nossa
Senhora do Livramento do Rio de Contas, tornou-se Freguesia de São João do Paraguaçu, voltando a se chamar Mucugê
em 1917.
Observações:
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20) Lençóis
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A história de Lençóis também está ligada à descoberta dos diamantes em meados do Século XIX, quando garimpeiros fun-
daram um arraial próximo às lavras de Mucugê. Em 1856, o povoado ganhou o nome de Comercial Vila de Lençóis, em uma
referência aos grandes comerciantes de pedras e mercadores, inclusive estrangeiros, que chegaram à região – a França
chegou a abrir um vice-consulado na vila naquele período. Durante boa parte da segunda metade do Século XIX, Lençóis,
erigida em cidade já em 1864, viveu o apogeu da exploração e comercialização diamantífera e foi o maior pólo mundial, até
o declínio da produção da região e que coincidiu com a descoberta das novas e ricas jazidas da África do Sul.
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21) Andaraí
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Distrito de Igatu
Histórico:
Localizada ao lado do rio Paraguaçu, o primeiro núcleo urbano foi fundado em 1845 pelo Capitão Joaquim de Figueiredo,
vindo de Minas Gerais com toda a sua família e empregados em busca das riquezas diamantíferas recém-descobertas. O
nome da atual cidade é herança dos índios Cariris, que habitavam a região, e significa “Rio dos Morcegos”.
Criado em 1891, o município guarda acervos históricos do apogeu da exploração dos diamantes, como no distrito de
Igatu, antigo Xique-Xique, cujas edificações são todas construídas em pedra.
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Histórico:
A atual cidade surgiu no Século VIII da antiga Fazenda Curralinho e era então um pouso obrigatório para os viajantes e
tropeiros nos deslocamentos entre as vilas mineiras, Rio de Contas e o Recôncavo Baiano. Anteriormente, o território da
fazenda pertenceu à sesmaria de Aporá, que foi dividida em duas, sendo uma das partes doada a João Evangelista de
Castro Tanajura. Para colonizar a região, ele distribuiu terras com a condição de que fossem cultivadas, sendo um dos
beneficiados o Capitão-mor Antônio Brandão Marinho Falcão, que fundou a fazenda.
Entretanto, o crescimento do povoado foi impulsionado por sua localização estratégica na rota entre Minas e a Bahia.
Com o nome de Vila de Curralinho, ele foi desmembrado de Cachoeira em 1880, tornando-se cidade em 1893 e receben-
do, em 1900, o nome de seu filho mais ilustre: Castro Alves.
Observações:
O bem tombado encontra-se em bom estado de conservação, resultado da restauração realizada recentemente e que
recuperou as características originais do templo.
Pedro Miranda
Pedro Miranda
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24) M aragogip e
Histórico:
A região era habitada pelos índios Aimorés da tribo de Maragogipe - nome cuja tradução é “braços invencíveis” -, quando
da ocupação portuguesa da Baía de Todos os Santos na segunda metade do Século XVI. O território do atual município
pertenceu à Capitania do Paraguaçu, doada a Dom Álvaro da Costa, filho do Governador Geral da Colônia, Dom Duarte
da Costa, por Carta de Doação de 1.565.
Em 1693, Maragogipe foi elevada a vila e em 1850 tornou-se cidade, com a denominação de Patriótica Cidade de Mara-
gogipe.
Observações:
Apesar de sua importância histórica, o acervo arquitetônico do município está em precário estado de conservação ou
descaracterizado, sendo a causa atribuída ao descaso das autoridades locais na preservação dos patrimônios culturais.
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Pedro Miranda
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25) Cachoeira
Pedro Miranda
Histórico:
O antigo Porto da Cachoeira, que deu origem a atual cidade de Cachoeira, surgiu do processo de expulsão dos índios e
ocupação portuguesa do Recôncavo Baiano. Na segunda metade do Século XVI, o fidalgo português Paulo Dias Adorno,
que integrava a expedição comandada por Martins Afonso de Souza, escolheu um local às margens do rio Paraguaçu
que facilitasse o deslocamento de suas embarcações, iniciando a ocupação da região com o plantio da cana-de-açúcar.
Devido à posição privilegiada, de ligação de Salvador e das vilas do Recôncavo aos sertões, o Porto da Cachoeira tornou-
se um importante entreposto comercial do açúcar e do fumo, de gado e de outras mercadorias e foi erigido em Vila de
Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira em 1693. Com a descoberta do ouro no interior no Século XVIII, o co-
mércio cresceu ainda mais aceleradamente e Cachoeira tornou-se uma das cidades mais ricas, populosas e importantes
do Brasil até meados do Século XIX.
Considerada uma das jóias do patrimônio histórico brasileiro, Cachoeira conservou lindos casarões e igrejas riquíssimas
- algumas delas do barroco tardio -, destacando-se, ainda, como um importante centro da cultura afro-brasileira.
Observações:
O patrimônio arquitetônico de Cachoeira foi bastante afetado pela decadência econômica da região e é, por isso, o muni-
cípio que mais está recebendo recursos do Programa Monumenta entre aqueles contemplados ao longo dos Caminhos
Antigos das Minas à Bahia. Entretanto, a recuperação de todo o conjunto demandará, com certeza, investimentos ainda
maiores nos próximos anos.
Paula Huven
Paula Huven
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Paula Huven
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Histórico:
Como Cachoeira, Santo Amaro nasceu do enfrentamento português aos habitantes da região - os Tupinambás - na saga
da ocupação do Recôncavo Baiano. Em uma sesmaria doada pelo Governador-Geral da Colônia, Mem de Sá, a sua filha,
Filipa de Sá, o povoado surgiu na segunda metade do Século XVI no entorno do Engenho Real do Conde, de cana-de-
açúcar, fundado pelo Conde de Linhares, genro do governador. Com a expansão da cultura de cana-de-açúcar, do fumo
e da mandioca, o arraial cresceu, tornando-se, em 1604, Santo Amaro da Purificação, da então recém-criada freguesia de
Nossa Senhora da Purificação.
Em 1725, foi erigida a Vila de Nossa Senhora da Purificação e Santo Amaro que em 1837 tornou-se cidade, com a deno-
minação Leal Cidade de Santo Amaro.
Observações:
Apesar de algumas edificações tombadas, sobretudo as duas igrejas matrizes e o Paço Municipal - antiga Casa de Câmara
e Cadeia -, estarem em bom estado de conservação, a cidade sofre um intenso processo de descaracterização, em parte
devido à decadência da sua economia.
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Pedro Miranda
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Igreja Matriz de Nossa Senhora de Oliveira de Campinhos Prédio central da Santa Casa de Misericórdia
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27) Candeias
Histórico:
Anteriormente distrito de Salvador, Candeias tem suas origens nos engenhos de cana-de-açúcar que pontuaram a colo-
nização do Recôncavo. Diz a lenda que, por volta de 1640, um milagre aconteceu em um córrego que cortava o Engenho
Pitanga. O córrego transformou-se em fonte dos milagres e recebeu o nome de Candeias, que simboliza luz. Atraídos
pelos milagres, os romeiros construíram suas casas nos arredores da fonte. Entretanto, o crescimento do povoado, que
foi desmembrado de Salvador em 1959, tornando-se cidade de Candeias, deve-se à descoberta do petróleo na região
na segunda metade do Século XX.
Observações:
Embora o município guarde dois importantes remanescentes de engenhos do Século XVI, o estado de conservação
destes bens tombados é deplorável. O Engenho Freguesia, que há seis anos funcionava como Museu do Recôncavo, foi
desativado e precisa de urgentes trabalhos de restauração e reformas. Já o Engenho Matoim, sofreu um incêndio em
1977 e hoje suas ruínas estão abandonadas e tomadas pelo mato em uma área da indústria multinacional Dow Brasil, em
frente à baia de Aratu.
Pedro Miranda
Engenho Freguesia
Pedro Miranda
Engenho Matoim
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28) S alvador
Pedro Miranda
Pelourinho
Histórico:
A fundação de Salvador, em 1549, marcou a nova estratégia da Coroa para assegurar o seu domínio sobre a América Por-
tuguesa, depois da derrocada do regime de capitanias hereditárias. Construída pelo primeiro Governador-geral da colônia,
Tomé de Souza, que chegou ao Brasil com uma comitiva de mil portugueses, a capital carregava duas missões expressas
pela Coroa: garantir a proteção do litoral brasileiro diante das invasões estrangeiras e ser o centro político e administrativo do
funcionamento do imenso território. Assim, sob a supervisão do mestre construtor Luiz Dias, deu-se início à empreitada em
um platô a 65 metros do nível do mar e que possibilitou a construção da cidade em dois níveis: uma cidade alta fortificada,
administrativa e residencial; e uma cidade baixa, voltada para as atividades portuárias, bem ao estilo urbanístico português.
Apesar das ameaças francesas, holandesas e espanholas, Salvador cumpriu plenamente os objetivos estratégicos da
Coroa Portuguesa. Já no final daquele século, a cidade se consolidou como a maior construída em território brasileiro e
como centro comercial por excelência, característica que acompanhou a sua história durante todo o período colonial.
Visando diminuir distâncias e facilitar o controle sobre as minas de ouro e diamantes encontradas no interior da colônia,
a Coroa estimulou a abertura de um novo caminho para as Minas Gerais e Salvador perderia para o Rio de Janeiro, em
1763, a condição de capital colonial.
O centro histórico de Salvador, com seus becos e ladeiro, acolhe um dos mais ricos conjuntos urbanos do Brasil, e reúne
construções dos séculos XVII ao XIX. O centro histórico representa as várias etapas por que passou a cidade, merecendo da
Unesco o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em 1985.
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Pedro Miranda
Pedro Miranda
Pelourinho Fortaleza do Barbalho
Pedro Miranda
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29) M ata de S ã o J o ã o
Pedro Miranda
Histórico:
Mata de São João, localizada em frente à estratégica enseada de Tatuapara, surgiu da necessidade de defesa do litoral
baiano em meados do Século XVI diante das ameaças francesas e holandesas. No ponto mais alto próximo à praia, Garcia
D`Ávila, que chegou ao Brasil na comitiva de Tomé de Souza, iniciou em 1551 a construção da Casa da Torre, de onde era
possível observar o movimento das embarcações que chegavam ou deixavam o porto em Salvador. Além disso, Garcia
D`Ávila introduziu o plantio do coco e a criação de gado. Com o tempo, a fortaleza, concluída em 1624, passou a ser
também o ponto de partida das entradas e bandeiras baianas em direção aos sertões interiores e que transformaram o
seu território no maior latifúndio do mundo, com cerca de 800 mil quilômetros quadrados.
Em 1846, o povoado que surgiu próximo à praia tornou-se Vila da Mata de São João e, em 1938, cidade.
Observações:
Da fortaleza - exemplar único em estilo arquitetônico medieval das Américas -, restaram as ruínas e a sua capela. Entre-
tanto, as intervenções realizadas pela Fundação Garcia D`Ávila entre 1998/2002 protegeram e revitalizaram as ruínas, res-
tauraram a capela e, com a criação do Parque Histórico Garcia D`Ávila, foi estimulado exemplarmente o desenvolvimento
do turismo cultural na Bahia e no Brasil.
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Fontes bibliográficas
• COELI, Vera Lúcia M. - coordenadora. Bens Móveis e Imóveis Inscritos no Livro de Tombos do Instituto do Patri-
mônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, Ministério da Cultura, 1994.
• CARRAZONI, Maria Elisa - coordenadora. Guia dos Bens Tombados Brasil. Rio de Janeiro, Expressão e Cultura,
1987.
• COSTA, Joaquim Ribeiro. Toponímia de Minas Gerais. Belo Horizonte, BDMG Cultural, 1997.
• COUTO, Adriana Almeida. Centro Histórico de Salvador, Bahia: Patrimônio Mundial. São Paulo, Horizonte Geográ-
fico, 2000.
• PAIM, Zilda. Isto é Santo Amaro. Salvador, Academia de Letras da Bahia, 2005.
• SOUZA, Wladimir Alves de - coordenador. Guia dos Bens Tombados Minas Gerais. Rio de Janeiro, Expressão e
Cultura, 1984.
• http://www.censocultural.ba.gov.br
• http://www.iphan.gov.br
• http://www.iepha.mg.gov.br
• http://pt.wikipedia.org
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Acácio Ferreira J ú n i o r e I s a b e l M a s c a re n h a s
A obra do homem parece se sobrepor ao próprio homem e as formas concretas visíveis escondem seus reais significados:
a obra sem sujeito. Este trabalho, ao reconhecer o papel fundamental da paisagem, seja ela de índole urbana, rural ou
natural, como um dos elementos definidores da motivação da viagem e, portanto do fato histórico, cultural e turístico,
lança-se no desafio de investigar, relatar e descrever os trajetos que configuram os Caminhos Antigos das Minas a Bahia.
As ações práticas de campo, como momento e lócus privilegiado para encontrar “os caminhos” para a concretização da
teoria/prática, fazem parte do compromisso da formação para a transposição dos conhecimentos e competências para
as atuações profissionais, iluminadas pela convicção de que o diálogo com o espaço geográfico, atividade viabilizada
pelo trabalho de campo, se dá para além das fronteiras verbais; no chão, como prática andante.
O trabalho de campo desenvolve a capacidade de correlação entre os pressupostos teóricos e a dinâmica da realidade
concreta quanto a novos questionamentos e hipóteses, exigindo a aplicação de instrumentos cartográficos e
bibliográficos.
Desenvolver e fazer parte de trabalhos de campo é responsabilidade com seus limites físicos, psicológicos, culturais,
espirituais e gastronômicos. É um aprendizado diário de convivência com o desconhecido em todos os sentidos, natural
/biológico e humano/social.
“A curiosidade é fonte do saber”, dizia Paulo Freire; ser feliz é descobrir o novo/desconhecido, felicidade que é obtida pelo
esforço gostoso de ir além da compreensão imediata de uma boa leitura. Cada um tem seu tempo, ninguém sabe tudo
e somente exercendo a prática em campo e a compreensão da leitura, escrevendo para compreender, é possível intervir
na realidade, focando a construção do conhecimento com uma perspectiva de sua compreensão critica, considerando
as possibilidades de transformação do meio.
O conhecimento filosófico e teórico dos diversos problemas ambientais da nossa sociedade e o domínio técnico e ins-
trumental possibilitam intervenções positivas no meio ambiente, que constituem as bases de formação profissional dos
expedicionários; portadores de uma visão holística e dialética desse mundo globalizado e fragmentado, onde devemos
atuar com competência, como também como conhecedores do espaço, especialmente das cidades.
Uma visão mais abrangente nos permite inter-relações entre os fatores físicos, demográficos e socioeconômicos a serem
analisados, as correlações entre os elementos dentro de uma paisagem, enquanto outros possuem uma visão mais pon-
tual dos elementos.
Temos um grande compromisso com a sociedade, porque esta atua sobre a natureza, transformando-a e possibilitando
a formação de uma nova natureza que não é idêntica à primitiva, mas que guarda algumas características da mesma,
aglutinada a novas qualidades. Temos de observar que esta sociedade também vive em transformação constante. E
devemos chamar a atenção para os problemas ligados ao tempo e ao espaço, levando em conta as divergências e as
disparidades.
Ao desempenhar o papel de pesquisador e estudioso temos de estar convictos de que analisamos um processo, e não
um estágio, em uma relação muito complexa em que a sociedade modifica o meio, o destrói e este, destruído e atacado,
tem grande capacidade de reagir, de se recompor, não para voltar ao estágio primitivo, mas para dar origem a um novo
estágio que será continuamente atacado e recomposto.
Não somos apenas profissionais, mas, sobretudo, cidadãos e como tal, dentro de seus padrões sociais e morais, procu-
ramos empregar nosso saber primordialmente na procura de soluções para a sociedade; pensar com mais rapidez e
dinamismo e procurar adaptar e readaptar o pensamento e reflexões cada vez que houver um desafio, ao repensar as
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formações filosóficas, epistemológicas e ideológicas e procurar atuar de forma menos corporativa, mais interdisciplinar,
pois não podemos separar o natural e físico do social e humano, porque se integram.
Com o privilegio de integrarmos a equipe de pesquisadores da Expedição, temos a honra e alegria de produzir uma des-
crição dos variados caminhos em áreas e regiões mais bem guardadas, e preservadas e que muitas vezes possuem indí-
cios, vestígios e resquícios dos caminhos e comunidades antigas, abrangendo como tal o relevo e as bacias hidrográficas,
as verdadeiras rotas que ligavam Minas à Bahia no período colonial e que, dentro deste universo geográfico ambiental,
apresentam-se com destaque.
A Cordilheira d o E s p i n h a ço
Pedro Miranda
As primeiras descrições cientificas importantes sobre a Serra do Espinhaço são de Eschwege, que veio ao Brasil em 1808.
Ele deixou diversas publicações, destacando-se Pluto Brasiliensis, em 1833. Posteriormente, Derby (1906) estudou a Serra
do Espinhaço desde Ouro Preto até Juazeiro, na Bahia, passando por Diamantina, Rio de Contas, Lençóis e Morro do Cha-
péu. Freiberg (1932) utilizou pela primeira vez o termo Formação Espinhaço para designar as rochas filíticas e quartizíticas
que constituem a Serra do Espinhaço.
Quadrilátero Ferrífero (QF) é a denominação de uma unidade geomorfológica, destacada entre seus limites, a oeste, sul e
leste, com os planaltos dissecados do centro-sul e leste de Minas, e ao norte, com a depressão Sanfranciscana.
É do alto que a paisagem se manifesta, inteligível mesmo que grandiosa; mas atrás da serra tem serra e a seqüência do
caminho se desfaz no horizonte dos mares de morros. Já se contradizia Guimarães Rosa: “Nada devora menos que o ho-
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rizonte” e “Nada devora mais que o horizonte” (1978). É desde o elevado da Serra de Mariana, Cordilheira do Espinhaço
Meridional, que o Pico do Itacolomi e as Serras do Veloso, Caraça e Piedade emergem e que a Expedição Caminhos Anti-
gos das Minas à Bahia partiu rumo ao longínquo litoral.
Com desenvolvimento longitudinal que se prolonga das Minas Gerais à Bahia, a Serra do Espinhaço se apresenta como
imponente divisor de águas das bacias do rio São Francisco e daquelas que drenam diretamente para o Oceano Atlân-
tico. A cadeia de montanhas “separa geograficamente as terras do mato-a-dentro, a leste, do sertão dos gerais, a oeste”
(GOULART, 2000), configurando um divisor dos três maiores biomas brasileiros, a Caatinga, a Mata Atlântica e o Cerrado,
sendo os dois últimos considerados hotspots da biodiversidade mundial (CONSERVATION INTERNATIONAL DO BRASIL,
2005).
Exuberante quanto ao meio físico, com abruptos rochosos e extensão surpreendente, majestosa em biodiversidade e
riqueza mineral, a Cordilheira do Espinhaço se revela ainda guardiã de patrimônios arqueológicos, históricos e culturais.
Inevitável magnitude, que desde sempre atraiu aspiração e inspirações de viajantes e que configurou, em grande parte,
o cenário da Expedição em ambos os estados visitados.
Apesar de integrar uma só cordilheira com formação conjunta e traços de unidade expressivos, a porção meridional da
Serra do Espinhaço, situada no Estado de Minas Gerais, abarca características diferenciadas, proclamadas principalmente
no meio físico. A porção mineira da cordilheira faz parte das Altas Superfícies Modeladas em Rochas Proterozóicas do
Supergrupo Espinhaço, com predominância de quartzitos, segundo a classificação proposta pelo IBGE (1977); e dos Pla-
naltos e Serras do Atlântico Leste e Sudeste, segundo a classificação de unidades de relevo de Ross (2001). Densamente
dobrada e falhada, a Serra do Espinhaço Meridional é formada em grande parte por afloramentos rochosos e resquícios
de antigas superfícies aplainadas que se alternam com cristas e grandes escarpas.
O principal sistema de falhas de empurrão concordante com o desenvolvimento geral NNW-SSE da serra define o encai-
xe da maioria dos principais cursos d’água no mesmo sentido, resultando em uma série de vales paralelos, bem como
estabelece importantes referências frente à manutenção de mananciais hídricos. Neste sentido, a Serra do Espinhaço
Meridional impera como caixa d’água em função da ocorrência de aqüíferos em meios fraturados, principalmente em
quartzitos, e frente aos depósitos arenosos encontrados nas baixas vertentes, onde terrenos de média a alta capacidade
de infiltração ajudam a garantir a perenidade das vazões dos cursos d’água (CETEC, 1983).
Definida como área de importância biológica especial, categoria mais elevada dentro das prioridades de conservação
do Estado de Minas Gerais, a Serra do Espinhaço Meridional configura “uma área ímpar no contexto mundial, no que se
refere à formação geológica e florística. Apresenta extraordinário grau de endemismo de várias famílias de plantas e é
considerada o centro de diversidade das sempre-vivas. Nela se concentram cerca de 80% de todas as espécies de sem-
pre-vivas do país e cerca de 70% das espécies do planeta. A Serra abriga, ainda, 40% das espécies de plantas ameaçadas
do Estado”. (COSTA et al., 1998).
A publicação Biodiversidade em Minas Gerais: um Atlas para a sua Conservação (COSTA et al, 1998) supracitada, define
como principal medida de conservação para a Serra do Espinhaço Meridional o estabelecimento de Unidades de Conser-
vação que garantam a salvaguarda deste ecossistema. Entende-se por Unidades de Conservação - UC as áreas protegidas
inseridas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC (Brasil, 2000) em função de suas características natu-
rais relevantes e limites definidos dentro dos quais o objetivo primeiro é a preservação e proteção do ecossistema local.
O SNUC constitui o conjunto das Unidades de Conservação federais, estaduais e municipais, de domínio e gestão pública
ou privada, o qual estabelece categorias de manejo das áreas em Proteção Integral ou Uso Sustentado.
Do entendimento que a manutenção dos processos, da evolução e da herança biológica dos distintos ecossistemas ape-
nas pode ser lograda por meio da proteção de áreas naturais, destaca-se a relevância das áreas protegidas de distintas
categorias e hierarquias visitadas no trecho mineiro da Cordilheira do Espinhaço, bem como ao longo de toda a rota da
Expedição. Frente ao seu destaque ecológico e à necessidade de tratamento da porção mineira da cadeia do Espinhaço
enquanto mosaico de Unidades de Conservação, a área foi reconhecida, em 2005, pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciências e Cultura (UNESCO), como Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço.
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O estabelecido da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço surge como instrumento de interconectividade, evitando a
fragmentação dos ecossistemas em áreas de proteção isolada, as quais pouco garantem a manutenção da biodiversida-
de, de processos ecológicos e de fluxos genéticos. O destaque internacional dado à Cadeia do Espinhaço torna-se rele-
vante ao integrar em uma só unidade de proteção distintas reservas e áreas de proteção já instituídas; o que favorece o
estabelecimento de um sistema ambiental amplo que preza pela continuidade dos ecossistemas naturais, maximizando
as beneficies das Unidades de Conservação.
Pedro Miranda
A área de Mariana e Ouro Preto é emoldurada por rochas do Supergrupo Minas, que sustenta os compartimentos mais
elevados do relevo e envolve compartimentos rebaixados constituídos predominantemente por rochas do Supergrupo
Rio das Velhas. Ambas as unidades apresentam-se dobradas em anticlinais e sinclinais topograficamente invertidas e
intensamente falhadas.
Destacam-se na paisagem as formas geradas sobre as rochas do Supergrupo Minas que resistiram ao trabalho erosivo.
Os quartzitos, ao lado de carapaças ferruginosas (provenientes do Itabirito da Formação Cauê), são as rochas mais resis-
tentes à erosão. Compõem cumeadas de serras, cristas e picos. A estruturação das camadas controla as principais linhas
topográficas, dominadas por superfícies mais elevadas com altitudes que variam entre 1.200 a 2.000 metros. Estas serras
possuem escarpas voltadas para as partes externas, em direção às colinas do Embasamento Cristalino, propiciando des-
níveis de 1.000 – 1.200 metros.
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Os relevos elaborados sobre as rochas do Supergrupo Rio das Velhas apresentam-se mais rebaixados, com cotas variando
entre 800 – 900 metros, e formas colinosas um pouco alongadas, de topos convexos ou formas aguçadas, ou ainda tabu-
lares. As declividades acentuadas e as condições de altitude encontram-se associadas a um solo relativamente delgado.
Os solos, já bastante expostos, são mais susceptíveis a erosão, propiciando o desenvolvimento de processos de ravina-
mento e vocorocamento.
A região do Quadrilátero Ferrífero constitui um divisor de águas de duas importantes bacias hidrográficas, a do rio São
Francisco e a do rio Doce. As cidades de Ouro Preto e Mariana são drenadas pelo rio das Velhas, afluente do rio São Fran-
cisco, e o rio do Carmo drena as regiões orientais, fluindo para o rio Doce.
Ao sul do Espinhaço Meridional, com a equipe concentrada em Mariana, marco zero da Expedição, a divisão de tarefas
do dia 14 de agosto de 2006 proporcionou aos dois grupos de pesquisa se dirigirem ao alto do Morro de Santo Antonio,
que margeia a porção leste da cidade e que se insere na Área de Proteção Ambiental - APA Estadual Seminário Menor de
Mariana.
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Pico do I tacol o m i
Paula Huven
Do alto das cristas da APA Estadual Seminário Menor de Mariana a vista alcança, dentre outros, o vizinho Pico do Itacolo-
mi, visitado no segundo dia de campo, 15 de agosto, marco geográfico de destaque na paisagem e que hoje se insere
nos limites de outra área protegida: o Parque Estadual do Itacolomi. Instituído em 1964 e abrangendo os municípios de
Mariana e Ouro Preto, o Parque Estadual do Itacolomi compreende uma área de 7.543 hectares de vegetação de transição
de Cerrado e Mata Atlântica e se apresenta como unidade de conservação de proteção integral de destaque no contexto
natural da porção sul da Serra do Espinhaço Meridional.
Resquício de caminhos antigos, a sinuosa e não pavimentada via de acesso à infra-estrutura do parque proporciona vis-
tas deslumbrantes a cada curva, expondo um pouco do muito que eram as trilhas e caminhos da Estrada Real. Ao final
do século XVII, motivado pela busca de riquezas, o bandeirante
paulista Antônio Dias avistou o Pico do Itacolomi e o definiu
como identificador para que outras bandeiras e expedições
chegassem às Minas Gerais.
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O nome Itacolomi deriva do tupi-guarani (ita-corumi) para ’a pedra e o menino’, podendo ser sua denominação entendida
pelo destaque na paisagem de duas pedras emparelhadas, sendo uma delas bem elevada e a outra de menor tamanho, as
quais formam o Pico do Itacolomi. O parque se encontra em uma região de rara exuberância, percorrido de Mariana a Ouro
Preto pela BR 356, onde seu principal destaque é a posição do pico em segundo plano, visto da cidade de Ouro Preto.
Ainda fora de seus limites, o Pico do Itacolomi, de litologia quartizítica, ressalta na paisagem com seus 1.752 metros, jus-
tificando seu destaque enquanto ponto de referência para visitantes da região das minas desde a ocupação da área por
indígenas à passagem de bandeirantes, tropeiros, bem como de visitantes dos dias atuais.
O parque possui apenas um acesso oficial, onde a contemplação ambiental salta aos olhos. Observamos que a preser-
vação e conservação do seu patrimônio histórico – cultural e ambiental demonstram mais uma vez a percepção, sensi-
bilidade e atuações desenvolvidas, tanto pela iniciativa privada como pelo Estado. O grupo Itacolomi (2,1/1,75 bilhões
de anos) é composto por quartzitos e meta conglomerados (rochas metassedimentares). As rochas intrusivas básicas de
coloração preta ou esverdeada demonstram a grandeza da massa e a sua importância econômica com o aparecimento
de minerais valiosos e rochas diamantíferas.
Desde as áreas altas do Parque Estadual do Itacolomi podem-se avistar as Serras da Piedade, do Caraça e do Veloso, esta
última situada dentro de duas outras áreas protegidas: a APA Estadual Cachoeira das Andorinhas e o Parque Natural Muni-
cipal Cachoeira das Andorinhas. Ambas as unidades de conservação têm o objetivo de preservar os mananciais hídricos
do alto curso da bacia do rio das Velhas, e compõem o limite norte do Parque Estadual do Itacolomi, estando, portanto,
dentro de sua área de entorno.
Nascentes do r i o d a s Ve l h a s
em 2001, sendo posteriormente, em 2004, a área finalmente definida em duas instâncias de proteção: o Parque Natural
Municipal Cachoeira das Andorinhas e o Parque Arqueológico Ruínas do Morro da Queimada.
O Parque Natural Municipal conta com 554 hectares de área ainda não regularizada quanto à questão fundiária, apesar de
já haver verba para a compra das terras onde será instalada a sua infra-estrutura. O projeto arquitetônico já foi elaborado.
Com o intuito de proteger o alto curso do rio das Velhas o Parque Natural Municipal Cachoeira das Andorinhas resguarda
as três primeiras quedas d’água do manancial, sendo as duas primeiras integrantes da Cachoeira das Andorinhas e a ter-
ceira a que compõe a Cachoeira Véu da Noiva.
A cachoeira que dá nome à APA Estadual e ao Parque Natural Municipal se destaca pelo encaixe do curso d’água em uma
fratura na rocha; o que resulta em uma queda d’água inserida em uma cavidade natural, a qual atrai e abriga populações
de andorinhas de coleira, nos meses de verão. Curiosamente, a nascente geográfica do rio das Velhas propriamente dita
não se encontra nos limites do Parque Natural Municipal, apesar de inserida na área da APA. Tal fato é justificado uma vez
que se trata de uma área de exploração minerária na qual a atividade está embargada, sendo estabelecido um acordo de
cooperação e re-inserção da população que operava a lavra em projeto de plantio e propagação de plantas nativas para
a recuperação da área degradada.
R em anescente s d o Tr i p u í
Paula Huven
Adjacente à parte sul da APA Estadual Cachoeira das Andorinhas e configurando um mosaico de áreas protegidas na
porção sul do Espinhaço Meridional, a Expedição visitou a Estação Ecológica Estadual do Tripuí. Instituída em 1978, esta
Estação Ecológica representa uma categoria de unidade de conservação de proteção integral, ainda mais restrita que as
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APA’s e parques, sendo permitidas apenas as atividades de preservação, pesquisa científica e educação ambiental. Área
de exuberante e densa presença de Mata Atlântica e habitat de espécies endêmicas de fauna, a Estação Ecológica Esta-
dual do Tripuí resguarda em seu perímetro e áreas limítrofes um remanescente de Estrada Real bastante preservado.
Paula Huven
Na cabeceira do rio Tripuí, estão as ruínas da chamada Venda
Nova, local de barganha de mercadoria de tropeiros. O princi-
pal destaque do remanescente consta dos elementos do siste-
ma de drenagem que garantia e ainda hoje preserva o trecho
da Estrada Real, tais como valas para desvio de enxurradas e uma ponte de pedra arqueada, de arquitetura portuguesa,
que transpõe o alto curso do rio Tripuí. A ponte, que consta de representativa amostra restante de antigos caminhos, foi
alvo de vandalismo por parte de garimpeiros. Atraídos pela lenda de que haveria um diamante oculto entre o calçamen-
to superior da ponte, esta teve seu piso revirado e o marco em pedra quebrado, conseqüente da busca do tesouro.
Se por um lado os picos e serras de destaque na paisagem norteavam os antigos caminhos de forma pontual, era no
hiato espacial entre estes cumes que os fundos dos vales de rios frondosos traçavam linearmente a seqüência a ser se-
guida pelos viajantes. Isso porque os cursos d’água são garantia de comida, abastecimento de água e local certo de terras
férteis propícias à instalação de acampamentos e mesmo povoamentos, sendo por muitas vezes pontos de possível
transporte fluvial.
Da nascente do rio das Velhas, a Expedição alcançou o primeiro povoado de suas margens: o distrito de São Bartolomeu.
Encravado em meio ao domínio “mares de morros”, o pequeno e encantador distrito de Ouro Preto situa-se na planície
fluvial do rio das Velhas e guarda, em sua arquitetura colonial, resquícios do que perdurou ao longo das rotas antigas. A
visão do mirante de São Bartolomeu é fantástica, tal como a igreja de São Bartolomeu Tomáz de Assunção, onde obser-
vamos a tocada dos sinos e raridades, como um sino de madeira.
Pedro Miranda
Acompanhando o curso do rio das Velhas, a Expedição chegou
ao município de Raposos. A cidade, fundada pelo bandeiran-
te paulista Pedro de Morais Raposos, personagem do qual o
nome do município deriva, desenvolveu-se à beira do rio, ocu-
pando sua margem direita de forma mais expressiva, dada à menor declividade das terras; o que favoreceu a consolida-
ção da zona urbana. Nas origens do povoamento de Raposos foi erguida a Igreja. Imponente, o monumento foi instalado
em um ponto elevado da vertente urbanizada de Raposos, sendo voltada para o rio das Velhas, de onde esta salta à vista.
Mais recentemente, a Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) aproveitou o antigo terraço fluvial da margem esquerda do rio
para instalar seu ramal ferroviário e uma estação.
S erra da Pieda d e
Limitando-se ao município de Raposos, o município de Caeté, palco inicial da Guerra dos Emboabas, teve sua coloniza-
ção ligada ao início do ciclo do ouro e origens que remetem à ocupação indígena, como guarda o próprio nome Caeté -
ou mata-virgem, mata-espessa. Abandonando o leito do rio das Velhas, mas não sua bacia hidrográfica, e seguindo rumo
a contínua referência - a estonteante e hipnótica Serra da Piedade -, a Expedição adentrou a região minerária da vertente
oriental da Serra do Espinhaço Meridional.
Entrecortando o município de Caeté e configurando um relevo de topografia montanhosa, a cadeia do Espinhaço recebe
localmente cognomes que retratam espacialiades distintas. O distrito de Morro Vermelho, encravado na serra homônima,
foi o primeiro povoamento visitado pela Expedição em Caeté. O distrito, datado do início do século XVIII dado à extração
de ouro nas minas de Vira-Copos, preserva arquitetura e composição urbana harmônica à sua localização privilegiada em
fundo de vale emoldurado por colinas. Nos pontos mais altos do povoado se situam as igrejas Nossa Senhora do Rosário
e a Matriz Nossa Senhora de Nazaré, ambas monumentos tombados pelo patrimônio nacional.
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O acolhedor distrito de Morro Vermelho, que cativa os olhos
em função da encantadora composição entre paisagem e
ocupação humana, ainda conserva tradições folclóricas e his-
tóricas em suas festas religiosas, nas quais se destacam a Cava-
lhada e o Aluá. Trazida pelos portugueses no apogeu do ciclo
do ouro, a Cavalhada de Nossa Senhora de Nazaré representa
a luta entre mouros e cristãos pelo domínio da Península Ibé-
rica. Considerada a maior das festas do povoado, esta tem sido
encenada há 302 anos. No entanto, a mais antiga festa cele-
Paula Huven
O crescimento populacional e desenvolvimento urbano de cidades históricas sempre aparecem como ameaça à preser-
vação da paisagem cultural. Talvez seja neste sentido que em localidades pequenas, como no caso de Morro Vermelho
e de São Bartolomeu, em Ouro Preto, tem-se a impressão de que o tempo parou; e na escala da evolução arquitetônica
parou de fato. É nesta concepção que a sede de Caeté, apesar de preservar igrejas e casario colonial, aparece desarmô-
nica do ponto de vista de conjunto. Fluxos e trânsito, fiação urbana, anúncios e placas poluem o cenário e colocam as
sutilezas que a História revela em segundo plano. Mas basta subir a um sobrado e olhar da janela para que o panorama
se abra e a paisagem dos caminhos antigos volte a permear o olhar, sendo pincelado pelas torres de sinos e hipnotizado
pela Serra da Piedade ao fundo.
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pressionou devido à sucessão regular de montes a vales.
Ao pé da Serra da Piedade é iniciada a sinuosa subida do marco que culmina na altitude de 1.746 metros acima do nível
do mar. Marcada pela representação em painéis dos passos da Via Sacra, a subida é ponto de peregrinação. Romeiros
relembram os últimos passos de Cristo no Santuário dedicado à Nossa Senhora da Piedade, cuja imagem tão marcante
representa a mãe de Jesus com seu filho morto no colo, obra do mestre Aleijadinho. A construção do templo religioso,
no cismo da serra, data de 1778, conformando o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Santuário de Nossa Senhora
da Piedade, tombado nacionalmente em 1956.
de recomposição.
O destaque ecológico da Serra da Piedade culminou no estabelecimento de áreas protegidas que salvaguardam seus
limites e seu entorno. Recentemente, no ano de 2005, instituiu-se o Monumento Natural da Serra da Piedade, categoria
de Unidades de Conservação de proteção integral, onde o objetivo básico é preservar sítios naturais raros, singulares ou
de grande beleza cênica. Criada anteriormente, a Área de Proteção Ambiental Municipal Serra da Piedade, no município
de Caeté, abrange o entorno do santuário e compõe uma categoria de uso sustentável. Menos restritiva que a anterior, a
UC preza pelo controle no estabelecimento de atividades antrópicas.
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Depressão S er t a n e j a
No dia 18 de agosto, partindo de Sabará, tomamos a direção do município de Santa Luzia pela BR 381 e pela MG 424,
onde a Expedição abandonou o alinhamento da Serra do Espinhaço Meridional e adentrou na grande unidade geomor-
fológica classificada por Ross (2001) como Depressão Sertaneja e do São Francisco. A depressão se apresenta como área
rebaixada, predominantemente aplanada, que constitui uma superfície de erosão marcada pela presença de morros
residuais, principalmente de litologias do embasamento cristalino.
Limitada a leste pela Serra do Espinhaço, esta unidade geomorfológica se alonga por uma extensa região a qual acom-
panha a bacia do rio São Francisco, sendo uma segunda macro-divisão do relevo, com a qual a Expedição Caminhos
Antigos das Minas à Bahia se deparou em pontos distintos da sua jornada.
A cidade de Santa Luziase insere em área referente ao embasamento cristalino, onde as rochas predominantes são grani-
to-gnaisse e, em termos do arcabouço geológico, são completamente distintas das áreas até então visitadas. Contempo-
rânea à origem e ao desenvolvimento de grande parte das povoações mineiras do século XVIII, mas com disponibilidades
de recursos diferentes das áreas minerarias, era de se esperar que o crescimento de Santa Luzia se pautasse em outra
atividade econômica. Com sua localização privilegiada entre as minas e as gerais e às margens do rio das Velhas, em seu
trecho então navegável, Santa Luzia se destacou e cresceu em função do comércio, se impondo como empório e centro
de abastecimento das regiões mineradoras.
Duas das ruas mais antigas de Santa Luzia ilustram de forma ímpar a vocação da cidade como centro de trocas e abaste-
cimento em meio a rotas antigas. Como principal via de acesso ao povoado, a rua do Serro integra de um lado Sabará e
as demais rotas das minas de ouro. Do outro lado, a rua leva ao Convento de Macaúbas, importante construção datada de
1743, com rumo ao Serro, como o próprio nome da via remota. Perpendicular à rua do Serro junto à Igreja Matriz de Santa
Luzia, a rua Direita se estabeleceu como rua de parada de tropeiros para vender suas mercadorias. Nesta se encontravam
os principais comércios e sobrados de Santa Luzia.
Detentora do monopólio do sal das Minas Gerais, Maria Alexandria de Almeida, a Baronesa de Santa Luzia, aparece como
figura peculiar na História local e que muito retrata a importância do povoamento enquanto pólo comercial. O sal pro-
veniente do litoral brasileiro chegava a Santa Luzia pelo rio das Velhas, sendo posteriormente redistribuído; o que remete
às vias de interligação entre os portos e as minas do interior do Brasil.
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Lagoa S anta
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Na região de Lagoa Santa a paisagem resultante dos processos de evolução do relevo sob litologia predominantemente
calcária compreende áreas diversificadas, das quais destacam-se desfiladeiros e abismos, grandes depressões cársticas
(uvalas), pequenas depressões marcada pela presença de grutas, dolinas, sumidouros e várias lagoas e extensas planícies
fluviais. Quanto à biodiversidade, a região cárstica de Lagoa Santa foi classificada como de Importância Biológica Extrema
pela publicação Biodiversidade em Minas Gerais: um Atlas para a sua Conservação (COSTA et al, 1998). A vegetação ca-
racterística é de campos, cerrados, brejos e, em especial, a vegetação endêmica de áreas carste a mata seca.
Adentrando tal paisagem peculiar e diferenciada das demais áreas visitadas anteriormente, a Expedição chegou à primei-
ra Unidade de Conservação Nacional da rota: a Área de Proteção Ambiental - APA Federal Carste de Lagoa Santa. Criada
em 1990 com a premissa de conservar os conjuntos paisagísticos, científicos e culturais extremamente ricos e frágeis da
região carste, a UC de uso sustentável busca racionalizar o uso dos recursos naturais e proteger formações cársticas, sítios
arqueo-paleontológicos, cobertura vegetal e a fauna silvestre; bem como conservar o conjunto paisagístico e a cultura
regional.
A APA Federal Carste de Lagoa Santa se estende por 35.600 hectares, abrangendo os municípios de Santa Luzia, Matozi-
nhos e Funilândia, além de Lagoa Santa. Sua instituição ocorreu para atender os anseios de ambientalistas, da comunida-
de local e dos conhecedores da fragilidade do ecossistema carste e de sua importância para estudos paleontológicos e
arqueológicos, cujo precursor foi o naturalista dinamarquês Peter W. Lund.
A morfologia carste se caracteriza por uma formação frágil, altamente porosa, considerada área de recarga de conjuntos
de aqüíferos, fator de evidência da importância do ecossistema da APA Carste de Lagoa Santa. A região, um dos mais im-
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Ainda dentro dos limites da APA Federal Carste de Lagoa Santa,
a Expedição visitou uma outra Unidade de Conservação que,
igualmente, busca zelar pela proteção do ambiente carste.
Criado em 1980, como medida compensatória pela implanta-
ção do Aeroporto Internacional Tancredo Neves (Confins), o Parque Estadual do Sumidouro abrange uma área de aproxi-
madamente 1.300 hectares, inserida nos municípios de Pedro Leopoldo, Lagoa Santa e Matozinhos.
O Parque Estadual do Sumidouro foi instituído com o objetivo de proteger um patrimônio que abriga um dos mais
importantes conjuntos de sítios paleontológicos, espeleológicos e arqueológicos do país e que inclui cavernas como a
da Lapinha e Arruda, além da lagoa e lapa homônimas ao parque onde foram encontradas coleções representativas de
fósseis e pinturas rupestres. Entretanto, apesar do destaque de sua área, o Parque nunca existiu se não legalmente, sendo
apenas recentemente retomadas as discussões quanto à implantação desta Unidade de Conservação.
Pai da paleontologia, arqueologia e espeleologia brasileira, Lund explorou as cavernas da região a partir da década de
1840 e catalogou 120 espécies de fósseis e 94 de fauna em grutas da região, coletando mais de 14 mil peças ósseas
remetidas à Dinamarca juntamente com seus relatórios. Na busca de fósseis faunísticos, Lund encontrou na Lapa do Su-
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mil anos, sendo que a partir de restos de 30 esqueletos encon-
trados por Lund foi possível a definição de uma raça denomi-
nada O Homem de Lagoa Santa, provavelmente a mais antiga
e mais bem definida das primeiras populações pré-colombia-
nas. A análise da coleção do naturalista por pesquisadores eu-
ropeus ao final do século XIX mostrou que os primeiros ameri-
canos não eram mongolizadas como se pressupunha.
Mas o fato é que, o local consta do sítio onde Fernão Dias mais
tempo acampou, tendo erguido ali a Quinta do Sumidouro. A
construção em estilo bandeirista compunha-se de uma ven-
da de abastecimento aos viajantes que seguiam os caminhos
que ligavam o Serro, tanto a Santa Bárbara, Barão de Cocais e
Ipoema, quanto à Santa Luzia, Sabará e outras áreas da região
mineradora. A Casa de Fernão Dias, a Capela de Nossa Senhora
do Sumidouro e a Lagoa do Sumidouro foram tombadas pelo
Pedro Miranda
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S erra do Cipó
Paula Huven
Fora do perímetro da APA Carste de Lagoa Santa, a Expedição seguiu rumo ao município de Santana do Riacho, onde está
a sede do Parque Nacional da Serra do Cipó. Instituído em 1972 primeiramente como Parque Estadual da Serra do Cipó, a
Unidade de Conservação foi elevada à categoria de Parque Nacional em 1984, sob a premissa de zelar pelo diferenciado
ecossistema local sendo aberto a visitação pública apenas em 1988. Em vista de seu destaque natural e da necessidade
de se salvaguardar o entorno do Parque e do conjunto paisagístico de parte do maciço do Espinhaço, foi criada em 1990
a Área de Proteção Ambiental Federal Morro da Pedreira, a qual se estende pelos municípios de Santana do Riacho, Con-
ceição do Mato Dentro, Itambé do Mato Dentro, Morro do Pilar, Jabuticatubas, Taquaraçu de Minas, Itabira e Nova União.
A APA Federal Morro da Pedreira objetiva proteger e preservar o Morro da Pedreira, sítios arqueológicos, flora, fauna e
mananciais hídricos, fundamentais à manutenção do ecossistema da região.
Ambas as Unidades de Conservação se estendem por dois ambientes diferenciados, caracterizados por grandes do-
mínios geológicos e morfológicos distintos. O primeiro domínio consta de uma seqüência das características descritas
para a região da APA Federal Carste de Lagoa Santa, as quais se referem à Depressão Sertaneja e do São Francisco, bacia
sedimentar do Grupo Bambuí, Supergrupo Paraopeba, cujos calcários, dolomitos e pelitos pertencem à Formação Sete
Lagoas (COMIG, 1994). Nestas áreas rebaixadas do relevo que se inserem os cursos dos rios das Velhas e Cipó, bem como
a sede do Parque Nacional, e o povoamento adjacente.
Compondo o segundo domínio, cujas altitudes são mais elevadas, encontram-se litologias de idade paleo-mesoprotero-
zóica do Grupo Diamantina, Supergrupo Espinhaço, pertencentes às Formações São João da Chapada e Sopa-Brumadi-
nho, as quais representam um pacote de quartzitos, filitos sericíticos, filitos hematíticos, metaconglomerados, metabre-
chas e xistos verdes (COMIG, 1994).
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jam vales estreitos e alongados, seguindo a mesma orientação
NNW-SSE geral da Serra do Cipó (SAADI, 1991).
Os aspectos físicos da Serra do Cipó definem afloramentos rochosos e solos sem aptidão agropecuária, mas em contra-
partida sua beleza cênica traça potencialidades que fundamentam a exploração turística local. O “mosaico fitofisionômi-
co e florístico imprime na paisagem da Serra um de seus grandes fascínios” (GONTIJO, 2003). A aptidão turística da Serra
definiu sua principal atividade econômica atual. “A Serra do Cipó encanta mesmo aos olhares menos atentos, possuindo
um grande poder de atração a partir do momento em que ela nunca se revela por inteiro num primeiro encontro. Sem-
pre há algo mais a ser explorado” (GONTIJO, 2003). As interações entre meio-ambiente e o homem cravaram na Serra do
Cipó traços histórico-culturais que se revelam apenas de prosa em prosa.
A sua localização central, ao mesmo tempo em que compondo uma das bordas do Espinhaço Meridional, concede à
Serra do Cipó a forma de encruzilhada. Antigamente conhecida como Serra da Vacaria, hoje a Serra do Cipó é a região
onde os caminhos se interligam e divergem a diferentes destinos. No rumo norte se alcança Conceição do Mato Dentro,
Serro e Diamantina e na direção contrária, sul, se volta às minas de Mariana e Ouro Preto, passando por Ipoema, Cocais e
Santa Bárbara, ou seja, pelo Caminho dos Diamantes da Estrada Real.
Na Serra de Lagoa Dourada, tomando rumos sudoestes e passando por São José da Serra, Capão Grosso e Mucambo,
onde habita a comunidade negra quilombola Matição, chega-se ao Caminho dos Curraes e, portanto à Santa Luzia e
Sabará. Um dos trechos remanescentes deste caminho, localizado no povoado de São José da Serra, município de Ja-
boticatubas, foi garimpado como conseqüência de lendas. Conta-se que um tropeiro ao perceber a proximidade de sua
morte, enterrou sua fortuna em ouro no local. Na mesma Serra de Lagoa Dourada, voltando-se para leste as opções de
caminhos levavam à Itambé do Mato Dentro e Itabira, e na direção sul a Nova União.
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D iamantina
Paula Huven
Vila de Biribiri
Já no dia 21 de agosto acordamos em Diamantina e fomos premiados com o refúgio onde o tempo parou; um sonho,
cenário de cinema. Bonita, sossegada, calma e interessante; Biribiri, localizada à cerca de 15 Km de Diamantina, nos en-
canta com sua paisagem e história. Basicamente desenvolvida às margens do rio Biribiri, a instalação da antiga fábrica de
tecidos utilizava-se das suas águas para mover as turbinas da hidrelétrica geradora da forca motriz.
Hoje, as três famílias que vivem na magnífica praça da Igreja Sagrado Coração de Jesus, construída por John Rose na
segunda metade dos XIX, minerador e arquiteto inglês, utilizam suas casas para pousada. As cachoeiras em seu entor-
no são atrativos, além do Parque Estadual do Biribiri, criado por meio de decreto 39.909, em 22/09/1998. Uma área de
16.998.66 hectares, com espécies da fauna em extinção, tais como lobo-guará, onça parda ou suçuarana, assim como,
uma vegetação que conserva campos rupestre, cerrado e ma-
tas de galerias.
Em direção a Ponte do Acaba Mundo, construída sobre o rio Jequitinhonha para o escoamento de manganês da região
pela Companhia da Serrinha, a historia e a região nos deslumbra com suas edificações; um muro que desvia o leito
principal do rio para a extração de diamante e sua história da grande e numerosa morte de escravos, ocasionada pelo
rompimento do barramento. Cerca de 500 metros, a Lapa dos tropeiros nos remete também ao passado, com sua visão
e utilização. Construída estrategicamente pelos tropeiros para que, quando o rio enchesse, a precisão de acampar ou
guardar mercadorias estivesse segura debaixo da lapa.
Voltando em direção a Diamantina, a equipe parou na gruta do Salitre, um ponto turístico de Diamantina que possui um
belo anfiteatro natural e lindas fraturas nas rochas, além de nos revelar a presença maciça de pequenos animais. Com
cerca de 150 metros e seis salões mapeados, o maior tendo a extensão de 65 metros, o local revela a presença e vestí-
gios de acampamentos, fogueiras e pó de magnésio, resultado de escaladas, com grampos e chapeletas, que agridem a
paisagem. Cenário de algumas locações de novelas, o acesso é fácil, e a área [e utilizada também para apresentações de
concertos musicais. A presença de lixo é constante nas trilhas, como também nas margens da estrada.
No dia 22 de agosto visitamos o Serro, onde não conseguimos nenhuma informação oficial em seus órgãos públicos.
Apesar de uma boa parte dos acervos estar descaracterizada, algumas edificações resistem ao tempo, como o paredão
de pedra sabão da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Serro, em frente à Igreja Senhor Bom Jesus de Matozinhos, em
restauração. Já na Praça João Pinheiro, a escadaria da Igreja do Serro encontra-se bem cuidada, depois de uma reforma
recente, assim como alguns casarões do século XVIII que abrigam secretarias municipais.
Na parte da tarde deste dia, uma das equipes Expedição percorreu também um bom trecho do caminho dos escravos
que corta a Serra dos Cristais na saída de Diamantina para o distrito de Mendanha e que tem um calçamento muito bem
estruturado.
Pedro Miranda
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S empre -vivas
Pedro Miranda
Tomamos o rumo do distrito de Inhaí no dia 23 de agosto, em direção ao Parque Nacional das Sempre Vivas. Lá, visitamos
a Igreja Nossa Senhora de Santana, tombada pelo IPHAN, e partimos para o rio Inhasica, já dentro dos limites do parque,
em cujas margens havia um antigo registro para o acesso ao Distrito Diamantino. Em primeiro plano, é fantástica a vista
de um buritizal, onde espécies de sempre-vivas formam um belo campo/jardim no entorno dos buritis. Seguindo rumo
à cachoeira do Soberbo e à cachoeira do Fundão, revelam-se magníficas também as rupturas topográficas na vertente
da Serra do Inhasica.
no distrito era a descrição dos caminhos dos escravos, trilha em parte calçada, mas com eventuais processos erosivos
presentes em parte do trecho.
Rumo ao vale do Palmital, margeando o córrego de mesmo nome, seguimos o caminho calçado sem sinalização, passan-
do por pontes, casas, currais, até chegar a Capela de Santa Apolônia, com sua história de desaparecimento. Não muito
longe de Mendanha, chegamos a um marco (cruzeiro) do século XIX, onde conta-se que Manoel Gabriel perdeu sua
vida em uma tocaia para roubo de diamantes. Observou-se também a presença de caminhantes, assim como um cemi-
tério de escravos muito degradado visualmente, com lixos expostos e destruição de seus muros de pedras. Temos que
ressaltar que o caminho dos escravos que liga Diamantina/Mendanha encontra-se em boa parte bem preservado, com
calçamentos e sistemas de drenagens bem dispostos; uma região propicia para a prática de ecoturismo.
Partimos no dia 25 de agosto pela manhã com um extenso trecho a percorrer, saindo de Diamantina, rumo a Pirapora,
pela BR 496, descrevendo os distritos e municípios relevantes ao projeto. Passando pelo distrito de Galheiros, pertencente
ao município de Diamantina, e encantamos com os produtos artesanais produzidos com sementes e sempre vivas. Nota-
se que a produção artesanal modificou a expectativa e modo de viver da comunidade, baseado na sustentabilidade e
racionalidade no uso dos recursos naturais, fonte de matéria-prima para a produção dos artigos e utensílio, muitas vezes
exportados para o exterior, como também vendidos nas grandes megalópoles.
Continuando por estrada de terra, chegamos ao antigo Riacho das Varas, conhecido hoje por Conselheiro Mata; povoa-
do formado por tropeiros e de grande relevância. Conhecemos a Serra da Tocaia, antigo posto de contagem do gado,
devido ao afunilamento da trilha que corta a serra, usada também como ponto de pouso (descanso) das tropas. Região
cercada por cachoeiras - formadas por dobras visíveis no relevo transformado tectonicamente no passado - de fácil aces-
so, com trilhas de dificuldades moderadas e propícias a qualquer tipo de público. A recompensa é satisfatória ao chegar
aos poços e aquários encantadores que formam piscinas naturais.
Seguindo rumo ao centro do distrito, conhecemos Senhor Cussu, dono de um movimentado bar. Contador de histórias e
causos, principalmente da época das viagens de trem pela região, ligando distritos e municípios e exercendo um grande
papel na dinâmica social, cultural e, sobretudo comercial. O ramal ferroviário foi criado no governo Nilo Peçanha pelo
decreto de lei 7.455 de 08 de junho de 1909, contando com sete estações, começando em Corinto e seguindo até Dia-
mantina. A estrada teve suas atividades paralisadas e desativadas em 1973 por razões antieconômicas, segundo a então
Central do Brasil (EFCB).
Persistentes ao tempo, antigas ruínas da estação ferroviária de Conselheiro Mata destaca-se nos arredores; fato interes-
sante neste trecho foi o próprio deslocamento, percorrido basicamente sobre o leito principal da antiga estrada férrea.
Cenário fantástico de barrancos recortados em meio às rochas, onde a observação de animais silvestres foi possível a
cada parcela de mata fechada que passávamos.
Chegando a Rodeador, distrito de Monjolos, fomos recebidos por um bando de micos, que percorria um trecho de mata
fechada e grandes paredões cobertos por mata branca, característica de áreas cársticas. Chegamos à Estação ferroviária
de Monjolos, alternando o trecho entre o antigo leito ferroviário e estradas marginais. Não muito distante, visitamos a
última estação antes de entrarmos na BR 496, sentido Pirapora, a estação ferroviária Santo Hipólito.
Percorrendo outra rota em direção a Pirapora, uma equipe da Expedição passou no mesmo dia pelo município de Gou-
veia, onde observou um antigo Muro de Pedra, construído de forma a configurar um curral. Sua peculiaridade trata-se de
sua localização na zona urbana de Gouveia, em frente à Prefeitura, e principalmente de sua função de limitar a Chácara
das Almas - a Reserva de Cerrado tombada como sítio natural pelo município.
O Muro de Pedras guarda técnicas construtivas antigas e as pedras originais, mas teve de ser reconstruído por ter sofrido
atos de vandalismo. A Reserva de Cerrado Chácara das Almas é coordenada pela ONG Caminhos da Serra, cuja iniciativa
fomenta ações de conscientização ambiental, aprendizado e cidadania para a população jovem local.
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M orro da G arç a
Pedro Miranda
Das Minas às Gerais, a Expedição seguiu sentido leste, novamente entrando no domínio da Depressão Sertaneja e do São
Francisco. Entretanto, agora com alusão à obra de João Guimarães Rosa: “Quando se vem vindo sertão adentro, a gente
pensa que não vai encontrar coisa alguma” (ROSA, 1979). Mas eis que no nada ermo em um raio de quilômetros, o Morro
da Garça emerge na paisagem tal qual um ser-tão. E solitário e escaleno desde há muito sobressaindo à vista, como um
salto na linha do horizonte, o Morro da Garça é referência na imensidão das Gerais.
Morfologicamente, o Morro da Garça representa um morro residual, testemunho de superfícies de aplainamento preté-
ritas, cujos processos de erosão diferencial desnudaram o relevo circundante ao morro preservado. O também nomeado
Morrão apresenta um desnível de mais de 300 metros e alcança a cota de 961 metros de altitude em meio a paisagens
rebaixadas e homogêneas.
tural. Verifica-se apenas o enquadramento do terço superior de sua vertente como área de preservação permanente
- APP, segundo a legislação ambiental vigente. Por outro lado, salienta-se que a cidade de Morro da Garça abriga a Casa
da Cultura do Sertão e é sede do Circuito Turístico Guimarães Rosa, o qual é formado por treze municípios cenários das
histórias da obra e da vida do autor. Ambas as iniciativas prezam pelo resgate literário e cultural da região sertaneja.
Sertão adentro pelo Caminho dos Curraes, o rio das Velhas oferecia uma alternativa de ligação para o Norte de Minas
que evitava a exaustiva subida da Serra do Espinhaço Meridional. Alguns caminhos antigos constituíam verdadeiros eixos
viários, cuja sucessão histórica de fluxos e meios de transporte por vezes consolidou sua existência como estrada até
os tempos atuais. É o caso da BR 135 que aproveita o rumo do Caminho dos Curraes e se assenta na margem esquerda
do rio das Velhas, sob o relevo aplainado de seus antigos terraços fluviais. Margeando o rio das Velhas, a Expedição fluiu
igualmente às suas águas, rumo ao rio São Francisco. E a viagem seguiu a estrada sem perder de vista o alinhamento da
Serra do Cabral, braço da Serra do Espinhaço Meridional, que emoldura a paisagem à leste.
R io S ão Franci s co
Paula Huven
O padrão meandrante do rio das Velhas se justifica pela baixa declividade geral do relevo que este corta. Inúmeras curvas
contrapõem a premissa de que a reta é o menor caminho entre dois pontos. E o Velhas dança em meio ao sertão, e pa-
rece mesmo querer retardar sua chegada ao São Francisco. Mas eis o tão ensaiado encontro, na Barra do Guaicuí, Velhas
e o Velho Chico.
Pela manha do dia 26 de agosto, seguimos rumo a Guaicuí, pela BR 365, distrito de Várzea da Palma, com o objetivo de
visitar as ruínas da Igreja de Bom Jesus de Matozinhos; esta com um visual surpreendente, devido a uma grande game-
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Na margem oposta à Pirapora se encontra Buritizeiro, onde uma das equipes da Expedição visitou um sítio arqueológico
que ilustra a sempre importante presença do Velho Chico para a ocupação humana do interior. O Sítio Arqueológico de
Buritizeiro se localiza em um terraço fluvial do rio São Francisco, onde já foram empreendidas escavações arqueológicas.
Segundo informações orais de moradores vizinhos ao sítio, nas escavações foram encontradas ferramentas de pedra,
além de dois esqueletos humanos pré-históricos. Mas vale ressaltar que no local se encontra hoje apenas uma placa nada
informativa sobre o sítio.
Na manhã do dia 27 de agosto partimos para vencer um longo trecho, de Pirapora a Januária, passando por São Romão
e São Francisco, através da BR 135. Com um cronograma definido, fomos em busca do cemitério antigo de São Romão,
datado do século XVII; que para nossa surpresa encontra-se abandonado, com alguns poucos túmulos entre o matagal
e lixo, como um verdadeiro lote vago e baldio.
Não muito diferente, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário sobrevive ao tempo, muitas vezes pela iniciativa de fiéis, que a
conservam e a consertam como podem. Já a antiga cadeia de São Romão é um caso a parte. Reformada, restando apenas
a pintura externa para a conclusão da obra, e, conservando seu piso de sal, a edificação será transformada em um centro
de cultura e turismo.
Saímos de São Romão como chegamos, através da travessia de balsa, onde as margens degradadas do rio São Francisco,
sem cobertura de mata ciliar e com uma grande quantidade de entulhos, demonstram a falta de políticas públicas am-
bientais para a região. Seguindo por estrada de terra ao município de São Francisco, percorremos o centro e continuamos
a viagem rumo a Januária.
No dia 28 de agosto, uma das equipes foi em direção ao distrito do Brejo do Amparo em Januária. Região calcária com
águas salobras; vilarejo humilde, com uma economia de subsistência, onde a assistência federal é o maior ganho. Percor-
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Sediada em Januária, as equipes da Expedição percorreram a
cidade; um porto comercial de notável importância histórica e
que preserva, no entorno do cais, um centro marcado por ruas
com calçamento em pedra e pela arquitetura colonial. Mesmo
com o declínio da navegação do Velho Chico, Januária segue
tendo o rio como uma de suas principais atrações, sobretudo em função do aproveitamento turístico das praias fluviais
temporárias. A exuberância natural do rio ultrapassa seu leito e se prolonga por suas sub-bacias; no Alto Médio São Fran-
cisco se encontram mais de 15 Unidades de Conservação que buscam garantir a integridade ambiental da região. Nos
arredores de Januária, no dia 29 de agosto as equipes da Expedição visitaram também as áreas de proteção legal e de
ecossistemas distintos dos rios Pandeiros e Peruaçu, afluentes diretos da margem esquerda do rio São Francisco.
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Vale do Perua ç u
Pedro Miranda
Rumo a norte, em outra sub-bacia do rio São Francisco, a Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia percorreu um
contexto científico de importância mundial: a região do rio Peruaçu. No local, a exuberância ecológica e paisagística se
soma ao arcabouço paleo-arqueológico, espeleológico e cultural. Para descrever a magnitude do entorno do Peruaçu
faltam superlativos e, no sentido de preservar tamanha complexidade, um mosaico de Unidades de Conservação foi
instituído.
Toda a sub-bacia do rio Peruaçu está dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental Federal Cavernas do Peruaçu,
criada em 1989, com 143.866 hectares. No interior da APA, as nascentes do manancial e sua paisagem de veredas e lagoas
contam com a proteção integral do Parque Estadual Veredas do Peruaçu, instituído em 1994, com 30.702 hectares. No
limite norte da APA Cavernas do Peruaçu, está a Reserva Indígena dos Xacriabás, com extensão de 46.800 hectares. Mas é
no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu que o patrimônio natural e cultural alcança o ápice de sua exuberância.
O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu foi estabelecido em 1999 com o “objetivo de proteger o patrimônio geológico e
arqueológico, amostras representativas de Cerrado, floresta estacional e demais formas de vegetação natural existentes,
ecótonos e encraves entre estas formações, a fauna, as paisagens, os recursos hídricos, e os demais atributos bióticos e
abióticos da região” (BRASIL, 1999).
Situado nos municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões a Unidade de Conservação preserva 56.649 hec-
tares de elevada biodiversidade, em área transacional entre Caatinga e Cerrado, e de grande variedade de ambientes de
interesse cultural, científico, ecológico e turístico. Diferente da grande maioria das Unidades de Conservação federais, o
Parque Nacional Cavernas do Peruaçu conta com um plano de manejo, que foi concluído em dezembro de 2005. Atual-
mente está sendo desenvolvido o projeto executivo e o PARNA está fechado à visitação pública, com previsão de abrir
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ao turismo em 2007. O cuidado com esta Unidade de Conservação ocorre em função de um dos principais pontos de
relevância do PARNA Cavernas do Peruaçu: o bom estado de conservação e a fragilidade de seu ecossistema e de suas
características paleo-arqueológicas.
Acompanhada por funcionários do IBAMA, a Expedição se deparou com a beleza cênica, física e cultural do Parque Na-
cional Cavernas do Peruaçu, e a magnitude do PARNA nos faz sentir pequenos. A evolução geomorfológica da região
do alto e médio curso do rio São Francisco, teve como condicionantes iniciais os eventos geológicos do Pré–Cambriano
(1.600 MA). As características geomorfológicas atuais foram impressas nesse arcabouço geológico pretérito, resultante
de uma evolução iniciada no Cretáceo Superior e desenrolada principalmente durante a Era Cenozóica (60 MA), quando
se delinearam as configurações atuais. As características dos aqüíferos encontrados no contexto da bacia do rio Peruaçu
também descrevem as paisagens existentes.
A visita começou por uma vista de cima da Gruta do Janelão, proporcionada pela Dolina dos Macacos, uma clarabóia
de 200 metros de altura, cuja gênese se associa ao abatimento de uma antiga galeria entalhada pelo rio Peruaçu. O
principal sistema de cavernas do Parque Nacional se desenvolveu ao longo do vale do rio Peruaçu. Acredita-se que um
rápido aprofundamento pretérito do nível de base deste rio teria causado alterações e descompressões que resultaram
em grandes abatimentos ao longo do canal, esculpindo assim sua forma atual. Aqui, a morfologia do rio Peruaçu é mar-
cada por um cânion principal interrompido por grutas e arcos e por uma série de cavernas perpendiculares à calha do
rio Peruaçu as quais representam testemunhos de antigos canais secundários abandonados e expostos em função do
rebaixamento da drenagem (PILÓ,2003).
Em trilha iniciada no Centro de Apoio a Visitantes a equipe da Expedição partiu em direção ao mais importante dos seis
roteiros turísticos do PARNA Cavernas do Peruaçu: a Gruta do Janelão. Logo na entrada da caverna, dando boas vindas
ao visitante, emerge uma seqüência de pinturas rupestres e ao longo de seu percurso as águas do rio Peruaçu mostram
o caminho a ser seguido. A Gruta do Janelão se divide em um ambiente escuro, vedado à visitação, e um percurso de
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proporções colossais todo iluminado por cinco clarabóias, que emolduram o céu azul do sertão mineiro. É na Gruta do
Janelão que o PARNA Cavernas do Peruaçu atinge dimensões máximas. O Cadastro Nacional de Cavernas da Sociedade
Brasileira de Espeleologia aponta esta como uma das maiores cavernas do país, tanto em extensão, com 4.740 metros
de projeção, como em desnível, com 176 metros de altura. Na Gruta do Janelão encontra-se ainda a maior estalactite do
mundo denominada Perna de Bailarina, com 28 metros.
Não bastasse a ocorrência de grutas grandiosas com alturas superiores a 100 metros, o Parque Nacional Cavernas do
Peruaçu guarda registros de ocupação humana de até 12 mil anos. E na Gruta do Rezar, a Expedição se chocou com um
paredão extenso e densamente decorado por pinturas rupestres, cujas formas e cores diferenciadas e marcantes hipno-
tizam. O patrimônio natural e cultural parece aumentar corpo e mente dos expedicionários para todos os lados, difícil é
retornar à estrada e principalmente caber no carro.
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Currais da B ah i a
Pedro Miranda
No dia 31 de agosto, após uma explanação sobre o projeto em uma escola pública fomos conhecer a história do mu-
nicípio de Matias Cardoso, que coincide com o início da ocupação do Norte de Minas. O então povoado nos “currais”
da Bahia serviu como importante porto de abastecimento de alimentos no século XVII, quando bandeirantes paulistas
desbravaram os sertões mineiros para conquistar o interior da colônia.
Segundo o historiador João Batista de Almeida Costa, a bandeira de Matias Cardoso de Almeida iniciou seu percurso
pelo vale do São Francisco por volta de 1680, com o objetivo de capturar os índios da região para vendê-los como es-
cravos em Salvador. Às margens do Rio Verde Grande, ele se instalou e fundou um arraial, que logo foi inundado por
uma cheia do rio. A comunidade foi então transferida para outro local, que também foi invadido pelas águas. Na terceira
tentativa, o Arraial de Morrinhos, onde hoje está a cidade de Matias Cardoso, finalmente prosperou. O povoamento da
região e a introdução da pecuária marcaram o início da sociedade pastoril no Norte de Minas, que ficou conhecido
como “currais” de Bahia.
No novo local, imune a inundações, foram construídos além das casas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e
um muro de pedras de cerca de quatro metros de altura, cujos fragmentos ainda eram encontrados por volta de 1960.
Todo o trabalho foi realizado com mão-de-obra escrava. Conta-se que quando os negros e caboclos aprisionados deixa-
vam de produzir o que se esperava eram jogados vivos em uma lagoa repleta de piranhas.
Matias Cardoso mandou ainda cavar vários túneis para auxiliar na fuga em caso de ataque de índios ao arraial. Um deles
ligava a casa principal à igreja que foi construída para servir como um forte. Outro túnel, também feito a mando do ban-
deirante, passaria por baixo do rio São Francisco e seguiria até o alto de uma colina.
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Igreja de Nossa Senhora da Conceição
Ainda de acordo com o historiador, Morrinhos se tornou um importante porto comercial comandado pela família de
Matias Cardoso. As mercadorias vindas de Salvador, Goiás e Mato Grosso chegavam pelo rio e pelos caminhos da Bahia.
No entanto, a decadência do arraial viria quando São Paulo e Rio de Janeiro começaram a se desenvolver e atraíram para
lá a população da região.
Construída em estilo baiano, com características jesuítas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição se destaca na
paisagem de Matias Cardoso, sendo considerada por historiadores o mais importante monumento histórico do médio
São Francisco e é o único tombado pela União. Deixando para trás toda sua rica historia e patrimônio, as equipes de
expedicionários em conjunto partiram para a cidade de Rio de Contas.
“Como é belo esse Brasil Central que tão poucos conhecem e de que nós, brasileiros, tão ingenuamente nos ufanamos...”
dizia Theodoro Sampaio, grande pesquisador, quando de sua passagem pela região.
Por mais que se ande, a Serra do Espinhaço se faz presente durante todo o trajeto percorrido pela Expedição. E quanto
e tanto que por vezes se esquece que ela é referência a ser seguida e parece ser ela quem nos segue. Disfarçando-se
em codinomes locais, a Serra do Espinhaço surge, ora como Serra das Almas, ora como Serra do Barbado, e na região de
Chapada Diamantina como Serra do Sincorá.
Novamente nos domínios da cordilheira, a Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia deixou de seguir o vale do rio
São Francisco e toma rumo leste em direção à porção setentrional da Serra do Espinhaço, adentrando as bacias dos rios
que drenam diretamente para o litoral baiano: o rio de Contas e, mais adiante, o rio Paraguaçu.
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R io de Contas
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Não fosse pela passagem e permanência no sertão, pelos dias e quilômetros percorridos com rumo geral norte, pouco
diriam que a Expedição deixou Minas Gerais ao chegar a Rio de Contas. Cidade colonial com origem ligada à exploração
aurífera, de clima ameno e encravada em uma região serrana, uma cidade de Minas na Bahia. Primeira cidade planejada
do Brasil, com traçado de ruas largas e paralelas, becos estreitos e praça central com igreja e largo, nos encanta antes de
adentrarmos em seus limites, onde já foi possível desfrutarmos de sua beleza cênica, logo que saímos dos domínios de
Livramento de Nossa Senhora.
Com uma estrada bem preservada, planejada e sinalizada onde muitas vezes reflete sua coloração esverdeada (tipo de
mineral local utilizado no asfalto), dando um toque ecológico/natural, chegamos ao domínio urbano de Rio de Contas,
onde nossa perplexidade foi ainda maior. Cidade bem cuidada, organizada, limpa, aconchegante e de jardins e gente
hospitaleira, assim é Rio de Contas, capital do circuito do ouro e porta de entrada da Chapada Diamantina.
Situada e de certa forma isolada em uma região montanhosa, o acesso a Rio de Contas sempre se fez pela transposição
da Serra das Almas. Se hoje a cidade é alcançada pelas curvas da estrada-parque que corta a serra, é paralela a esta via
que se encontra a estrada colonial que, desde o ciclo do ouro, já garantia o escoamento das riquezas exploradas em Rio
de Contas. Tal remanescente de caminhos antigos se prolonga por seis quilômetros, percorridos pelos pesquisadores no
dia 1º de setembro, sendo um dos mais longos e bem preservados trechos calçados contínuos do Brasil.
A sinuosidade da estrada real, expressa em vinte e duas curvas, vence o desnível de 380 metros do relevo acidentado da
Serra das Almas. A engenhosa estrutura do caminho conta com escoramentos de pedras que nivelam o terreno, sendo a
conservação do remanescente ao longo dos anos garantida pelo sistema de drenagem de águas superficiais que desvia
as enxurradas e combate a erosão do calçamento. A estrada, antes percorrida por mineradores e tropas, hoje proporciona
uma caminhada que oferece uma bela vista da região e duas cachoeiras no entorno, a do Fraga e do Brumado.
O inicio do caminho se faz na serra das Almas, ao lado da pousada Raposo Chalé, onde a visualização do vale do Brumado (muni-
cípio de Nossa Senhora do Livramento) é magnífica. Limitada por cercas e uma vegetação arbórea, o primeiro ponto registrado
se refere a um pequeno escoamento superficial de água, seguindo-se muros de pedras e forte barulho de queda de água que
revelam variados escoamentos superficiais logo no primeiro trecho de descida, onde o acesso é de dificuldade moderada.
A vista do vale bem cercado por serras nos tempos atuais desenha delineamentos retangulares, típicos de monocultura
agrícola. Logo abaixo, adentramos em um trecho bem preservado com vista em segundo plano para a crista da Serra das
Almas, prolongação da Serra do Espinhaço.
Região com muito alecrim do campo, onde a descida da cachoeira do rio Brumado revela uma região de grande exube-
rância natural. Em uma curva bem delineada, torna-se de fácil percepção e observação a estrada pavimentada que liga
ao centro urbano de Rio de Contas e as vertentes recobertas com plantações de café e pequenas roças de coco.
Fato curioso e relevante é o tipo de drenagem e escoamento pluvial construído, demonstrando destreza da engenharia empre-
gada. Descendo poucos metros, deparamos com uma vista perfeita do Tombadouro, onde a transição do Cerrado e da Caatin-
ga é vista com precisão. Como referencia, é destaque o grande bloco granito – gnaisse rosado – na exuberante paisagem. Neste
local, a trilha de declive acentuado revela a presença e barramentos e cortes encaixados perfeitos, montados em rochas.
Em todo o trecho de declive acentuado, ficam evidentes as dificuldades dos tempos passados e este tipo de engenharia
é constante. Devido aos pequenos abismos presentes, cobertos com sua vegetação de topos de morros características,
é fácil a visualização de um paredão granítico desgastado e erodido por intemperização.
Grandes blocos caídos compõem a paisagem. Não distante, a presença de escoamentos abruptos, drenados por per-
feitas montagens de redes de canais. Demonstrando manifestações contemporâneas, pichações nas rochas ao entorno
sujam a beleza singular de parte deste magnífico trecho calçado. A presença de variados tipos de Mandacarus, e outras
espécies de cactos, é constante não só no trecho de estrada calçada, como também em todas os pavimentos das encos-
tas dos sopés a cristas das serras adjacentes.
Como demonstração de cuidado do patrimônio, é notória a limpeza da vegetação que avança sobre o calcamento, em
pequenos trechos. E é perceptiva a semelhança do tipo de estratégias de calçamento, base, estrutura e disposição das
rochas encaixadas, em relação às estradas reais que cortam a região das Minas Gerais.
Como parte da Serra do Espinhaço Setentrional, a região elevada em que se insere Rio de Contas é marcada pela pre-
sença de três Picos de grandes altitudes, os quais se destacam na paisagem enquanto referência geográfica. A noroeste
da sede urbana o Pico das Almas, com 1.958 metros, abriga as nascentes do rio Brumado, antigo rio de Contas Pequeno,
principal curso d’água local e afluente da bacia do rio de Contas.
Na porção norte emerge os Picos do Itabira, com 1.970 metros, e do Barbado, ponto culminante da Bahia com 2.033 me-
tros de altitude. Os Picos Itabira e Barbado se inserem na Área de Proteção Ambiental Estadual Serra do Barbado, a qual
garante a proteção da riqueza botânica com elevado grau de endemismo de orquídeas em seus 63.652 hectares.
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Chapada D iam a nt i n a
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Tal como o correr da história, a Expedição deixou o circuito do ouro em busca dos diamantes, no dia 2 de setembro.
Seguindo sugestões dos moradores de Rio de Contas e tendo um mapa em mãos, escolheu-se tomar a estrada de terra,
cujas oscilações de relevo e relatada beleza cênica atrairiam as atenções. Descendo desde as alturas da Serra do Barbado
ao encontro do vale do rio de Contas, em cota inferior a 600 metros, a Expedição margeou este curso d’água até alcançar
o sopé da vertente oeste da Serra do Sincorá. Neste ponto se inicia uma subida sinuosa cuja vista para o vale do rio de
Contas e para as serras visitadas se aprimora a cada metro e compõe o horizonte à oeste.
A Serra do Sincorá representa um conjunto de serras com altitudes médias de 800 metros, vales rebaixados até a cota de
400 metros e cristas que se projetam altitudes de até 1.700 metros. O planalto se desenvolve sobre estruturas dobradas
e sub-horizontais, em muito modificadas pela erosão, dando origem a vales amplos e planos (CPRM, 1994). Adentrando
a Serra do Sincorá por sua porção ocidental, observa-se um modelado de platô com vegetação de campos de altitude,
localmente denominado Campos Gerais. A extensa área de baixas declividades e Cerrado rasteiro cria um surpreendente
cenário para a exibição imponente e grandiosa da Chapada Diamantina. Os Campos Gerais se prolongam para oeste até
o encaixe do vale do rio Paraguaçu, a partir de onde passa a reinar a Chapada Diamantina.
A Chapada Diamantina apresenta relevo desenvolvido sob rochas metassedimentares com baixo grau de deformação,
principalmente arenitos conglomerados e calcários de depósitos fluvio-marinho. A morfologia atual é resultante do en-
caixe das drenagens, contribuintes da bacia do rio Paraguaçu, as quais individualizaram morros de uma superfície contí-
nua pretérita. Seguindo a estrada, a Expedição se deparou com as primeiras formas topo-aplainadas do Parque Nacional
da Chapada Diamantina no caminho para a primeira cidade visitada: Mucugê.
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Cidade e região formada por mineiros provenientes das Minas
Gerais, muitos vindos das brotas de Macaúbas, Diamantina e,
principalmente, Grão Mogol, região do famoso e lendário José
Cemitério de Santa Izabel
Cazuza do Prado; o homem que relatou a presença de diaman-
tes na então São Jose do Paraguaçu, mais tarde Vila de Santa Iza-
bel e hoje Mucugê. A mistura de estilos nos sobrados e casarões em pedras dão um charme especial e revela a riqueza pro-
veniente das extrações de diamantes, fato diferente das décadas de 1950 e 1960, quando a decadência mineral culminou
com o esvaziamento da cidade, abastecida por Minas Gerais com carnes bovina, suína e manteiga até os tempos atuais.
No caminho seguido para Lençóis, uma das equipes expedicionárias visitou o famoso e bem estruturado Projeto Sem-
pre-Viva, voltado para a produção e experiência cientifica em busca da melhoria e crescimento da renda de famílias
carentes, colhedoras de sempre-vivas. Muitas vezes única fonte de renda e trabalho, a extração degradante das sempre-
vivas quase exauriu a vegetação dos campos.
Como já visto, os topos aplainados são de grande relevância para o cultivo agrícola realizado nas gerais, onde os grandes
planaltos abastecidos por pivôs centrais alimentam grandes extensões de monocultura de batatas e cebolas, cultivadas
por proprietários gaúchos e japoneses. Em sua grande maioria, estes cultivos são destinados a uma gigante multinacional
do ramo de fast food e são paisagem quase que constante rumo ao norte da Chapada Diamantina.
O Parque
Criado em 1985, o Parque Nacional da Chapada Diamantina perfaz uma área de 152.575 hectares, na qual tem-se como
objetivo conservar os ecossistemas, os recursos naturais e as áreas de interesse histórico-cultural da região, bem como
incentivar e adequar o turismo e a pesquisa científica. A UC se estende pelos municípios de Mucugê, Andaraí, Lençóis,
Ibicoara e Palmeiras, sendo localizado neste último município o escritório do IBAMA.
Limitando-se com a porção norte do PARNA, a Área de Proteção Ambiental Estadual Marimbus-Iraquara se prolonga por
125.400 hectares e garante a preservação de três ambientes diferenciados. O primeiro envolve o Vale do Cerrado, bem
como os Morros do Pai Inácio e do Camelo, e se assemelha bastante às áreas interiores ao PARNA Chapada Diamantina.
Os demais ambientes envolvem dois distintos ecossistemas: o de Iraquara, que abriga cavernas calcárias com destaque
para a Gruta Azul, da Torrinha, Lapa Doce e Pratinha; e o do Marimbus que conforma uma área alagadiça conhecida como
Pantanal da Chapada.
A estonteante beleza cênica do PARNA Chapada Diamantina resulta da associação das peculiares formas de relevo e da
biodiversidade do ecótono Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. Suas surpresas naturais se misturam à paisagem da Cha-
pada Diamantina. São cavernas, cânions, cachoeiras e vales que atraem visitantes de todos os tipos.
Entretanto, como na maioria das reservas brasileiras, o Parque Nacional da Chapada Diamantina não tem sua questão
fundiária regularizada, nem plano de manejo. Mas, apesar de não se encontrar efetivamente implantado, a instituição
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do PARNA proporcionou, por si só, uma mudança de atividade econômica na região em prol do meio ambiente. Antes, a
atividade econômica era baseada na espoliação dos recursos minerais; e hoje o turismo é a principal fonte de renda local,
cuja continuidade depende da conservação da natureza.
Além disso, todas as cidades da Chapada Diamantina têm sua origem ligada à exploração diamantífera e guardam, em
suas zonas urbanas, outros atrativos importantes: os encantos da arquitetura colonial.
Lençóis
Paula Huven
No dia 4 de setembro, de volta à estrada BA-142 e depois seguindo por via vicinal, a Expedição contornou a vertente
leste da Chapada Diamantina rumo a norte, para a cidade de Lençóis. Uma vez conhecida como capital do diamante no
Século XIX, a cidade permanece como pólo regional e hoje representa o principal destino turístico da Chapada, poten-
cializado pelas heranças dos tempos áureos da mineração que contribuem em muito para a atratividade turística local.
Lençóis possui um centro histórico com casarios colonial, praças, igrejas e mercado reconhecidos como patrimônio na-
cional e em bom estado de conservação.
O antigo garimpo de Serrano, local de origem da cidade, atualmente é um balneário, onde crateras abertas pelos ga-
rimpeiros acomodam agradáveis piscinas de hidromassagem. Próximo a Lençóis, destacam-se, ainda, belas cachoeiras,
como a da Primavera e a do Sossego; tobogãs naturais, como o do ribeirão do Meio e do Mucugezinho; e a Gruta do La-
pão, maior caverna em quartzito do Brasil. Apesar de Lençóis receber a grande maioria do fluxo turístico, é no município
de Palmeiras que se encontram as duas maiores atrações da Chapada Diamantina: o Morro do Pai Inácio e a Cachoeira
da Fumaça.
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Marcante na paisagem da rodovia BR-242 e cercado de lendas e histórias, emerge o Morro do Pai Inácio, que abriu os tra-
balhos do dia 5 de setembro. Do alto de seus 1.120 metros de altitude, a vista dos expedicionários alcançou um horizonte
de 360 graus, de onde se apreciou a mais famosa imagem da Chapada Diamantina, o Vale do Cerrado.
Mas não só a paisagem surpreende no Morro. Do infinito panorama, salta aos olhos as minúcias de sua vegetação de
campo rupestre. São pequenas bromélias, canelas-de-ema e outras espécies endêmicas que enfeitam como jardins divi-
nos todo o local. Cartão postal da Chapada Diamantina, o Morro do Pai Inácio se situa fora dos limites do Parque Nacional
da Chapada Diamantina. Sua integridade é garantida pela gestão e fiscalização da ONG Grupo Ambientalista de Palmei-
ras - GAP e pela proteção legal das UC’s Área de Proteção Ambiental Estadual Marimbus-Iraquara e Parque Municipal do
Morro do Pai Inácio.
Paula Huven
Sete quilômetros de trilha para chegar à parte alta, três dias de trekking para vê-la por baixo, 1.500 metros de altitude e
340 metros de queda livre das águas são alguns números da segunda maior cachoeira do Brasil e o mais visitado atra-
tivo do PARNA Chapada Diamantina. Esqueça números e dados, porque nem mesmo relatos e imagens expressam a
Cachoeira da Fumaça. Quase inútil contar que já o caminho para alcançá-la trata-se de um espetáculo, onde paisagem
e vegetação brincam de harmonia, seja lá o que isso for. Em vão promulgar que as águas acobreadas da cachoeira se
dispersam pelo precipício feito fumaça para embaçar o cenário tal como sonho. Só vale mesmo dizer que a Cachoeira da
Fumaça domina os sentidos.
Na Chapada Diamantina são muitos os núcleos e povoamentos mineradores e, em conseqüência da ocupação dispersa,
vários são os caminhos antigos que ligavam as distintas localidades garimpeiras. As características físicas da Chapada Dia-
mantina, como o solo arenoso e a vegetação rasteira, sempre permitiam a fácil manutenção das rotas, sendo os trechos
calçados necessários apenas em áreas íngremes, alagadiças ou na entrada de vilas.
Toda a Chapada Diamantina é cortada por trilhas atualmente usadas por turistas aventureiros, que, quase sempre, são re-
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manescentes de caminhos antigos. Apreciada pelos visitantes, a rota de 15 quilômetros que liga Lençóis ao Morro do Pai
Inácio percorre calçamentos em pedra. Desde o Morro do Pai Inácio, o caminho antigo se prolonga adjacente à BR-242
até a ponte sobre o riacho São João. Neste ponto a Expedição seguiu por um calçamento em pedra que segue paralelo
ao riacho, até o povoado Campos São João.
O percurso de 25 quilômetros que liga Lençóis ao povoado de Caeté-Açu, consta de outro exemplo de trilha ecológica
que aproveita o leito de caminhos antigos. Esta rota atravessa a Serra do Sobradinho, o rio Ribeirão e o Morrão, nascen-
te do rio Mucugecinho, que guarda trechos calçados preservados. O curioso é que logo na zona urbana de Lençóis,
próximo ao cemitério municipal, a Expedição se deparou com um trecho calçado abandonado. Em péssimo estado de
conservação, o remanescente se encontrava quase totalmente encoberto pelo mato, com diversos locais onde as pedras
foram reviradas.
Com novo destino na Chapada Diamantina, a Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia partiu para Andaraí, no dia
6 de setembro. A estrada vicinal que liga as sedes dos municípios de Lençóis e Andaraí é a antiga estrada do garimpo que
acompanha o vale do Rio São José. Ao longo da rota, podem ser admiradas a cachoeira, a foz do rio Roncador e as praias
do rio Grapa, sendo possível ainda observar o Pantanal da Chapada.
Com localização privilegiada em pleno semi-árido nordestino, às margens do rio Paraguaçu, o município de Andaraí
abriga desde praias fluviais deste rio aos mais diversificados atrativos naturais da Chapada Diamantina, como as grutas do
Poço Azul e da Paixão, a lagoa Olho D’água, a cachoeira do Ramalho, o Vale do Pati e o Pântano Marimbus.
Paula Huven
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Pantanal da Ch a p a d a
Inserido em parte no interior do Parque Nacional da Chapada Diamantina e ainda na Área de Proteção Ambiental Esta-
dual Marimbus-Iraquara, o Pântano Marimbus abriga um ecossistema diferenciado. O Pantanal da Chapada se estende
por uma vasta área de relevo aplainado no limite leste da Serra do Sincorá, onde o encontro dos rios Santo Antônio e
Utinga forma um ambiente alagadiço com brejos e lagoas fluviais. Dividido em quatro grandes pântanos, o Marimbus
destaca-se como habitat natural de uma biodiversidade de plantas, aves e, principalmente, de peixes, os quais garantem
a sobrevivência de famílias do entorno. Embarcada em uma canoa, uma equipe da Expedição visitou a região alagadiça
do Marimbus do Baiano, percorrendo as águas de tom ferruginoso do pântano até a lagoa do Peri.
Partindo para uma outra área dominada pelo Pantanal da Chapada, a Expedição visitou também o Marimbus da Fazenda
Velha, na manhã do dia 7 de setembro. O Marimbus do Meio, como também é conhecido, é historicamente ocupado por
uma população tradicional que tem no uso das terras férteis da Fazenda Velha a sua sobrevivência e, no PARNA Chapada
Diamantina, a ameaça da desapropriação da área que ocupam.
As práticas agrícolas tradicionais ali empreendidas pouco interferem na qualidade ambiental do Marimbus, mas a ca-
tegoria de UC do parque nacional não permite a ocupação humana em seu interior. De forma a manter-se na Fazenda
Velha, a comunidade tem se mobilizado e tenta ser reconhecida como quilombo pela Fundação Palmares. O impasse
entre preservação ambiental e população tradicional, estabelecido na Fazenda Velha, expressa uma realidade encontrada
em diversas partes do Brasil e que tem sido bastante questionada.
Deixando o Pantanal da Chapada, a Expedição voltou à zona urbana de Andaraí. Como não poderia deixar de ser, Andaraí
tem sua raiz ligada à descoberta de diamantes que dominou a região em meados do século XIX. Fundada por garimpei-
ros provenientes de Minas Gerais, os quais já conheciam técnicas de exploração das pedras, Andaraí viveu a opulência do
ciclo do diamante e guarda em seu casario colonial resquícios do período. Igualmente decorrente da ocupação minerária
regional, destaca-se o Jarê. Visitando um santuário, o de Pegi, a Expedição conheceu esta manifestação religiosa, com
origem africana e influências indígenas e católicas, característica da Chapada Diamantina.
Da exploração das riquezas minerais da região deriva o distrito de Igatu, ou Xique-xique como era conhecida. Encravada
na vertente leste da serra do Capa Bode e limítrofe ao Parque Nacional da Chapada Diamantina, a vila visitada pela Ex-
pedição serviu de base para garimpeiros, comerciantes e viajantes, chegando a abrigar mais de três mil pessoas, mas foi
abandonada com o declínio da atividade mineral.
Em Xique-xique de Igatu a história do ciclo do diamante se repete: descoberta, auge e decadência. Entretanto, o local é
de tamanha singularidade que foi tombado em três categorias: a de patrimônio arqueológico, etnográfico e paisagístico;
a de belas artes; e a de patrimônio histórico. Tal destaque deriva da técnica construtiva local. A insuficiência de barro
para se levantar edificações habituais de taipa ou adobe, deu lugar ao uso de pedras como material de construção e,
por vezes, do aproveitamento de lapas como telhado. No passado um importante centro urbano minerário, hoje Xique-
xique de Igatu reúne ruínas de pedra que se misturam e se escondem em meio a rochosos e ao Cerrado, formando uma
paisagem mágica e bucólica que reflete a realidade do final do século XIX.
Localizado ao lado da igreja de São Sebastião, encontra-se um conservado e harmonioso cemitério em estilo bizantino,
que compõe uma agradável e bela paisagem, em meio a uma rua gramada e bem arborizada. A cerca de 500 metros, um
Museu Galeria de Arte e Memória, de iniciativa privada, bem estruturada e montado no bairro Luiz dos Santos, compõe
o cenário perfeito para visualização do vale do rio Paraguaçu e o encontro com o rio Piabas. As famosas ruínas de pedras
emolduram as vertentes degradadas pela mineração de diamantes e de carboneto - conhecido como diamante negro e
de grande valor econômico na época. Pequenos bolsões de matas secundárias são raridades no vale encaixado.
Conhecida como trilha histórica, por remontar ao apogeu do garimpo, o caminho antigo de 34 quilômetros que liga
Andaraí a Mucugê, passando pela vila de Igatu, hoje é apreciado como roteiro ecoturístico. A estrada tem início na Passa-
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Igatu
gem de Andaraí, a uma altitude de 440 metros, de onde passa a subir em direção à Xique-xique de Igatu, localizada a 750
metros de altitude. De Igatu, a trilha histórica parte para a cidade de Mucugê, ultrapassado no percurso os 1.100 metros
de altitude da Serra do Capa Bode. Localizada em área de relevo declivoso, o caminho antigo revela uma série de trechos
com calçamento em pedra preservados.
Após a visita às ruínas de Xique-xique, a Expedição percorreu os sete quilômetros da primeira parte da trilha histórica,
rumo a Andaraí. Surpreendente em todo o percurso, sempre ladeira abaixo e acompanhando as águas em cascata do
rio Coisa Boa: assim é o remanescente. O calçamento em pedra se prolonga por quase todo o caminho e por duas
vezes se pode observar o brasão imperial, projetado no pavimento a partir de mosaico de pedras. A trilha histórica
é ainda pontuada por ruínas de antigos garimpos em meio à vegetação nativa envolvida pela magia dos diamantes.
Um outro remanescente calçado de destaque consta da famosa e íngreme Subida do Império, situada na trilha de
Andaraí ao Vale do Paty.
R io Paraguaçu
O rio Paraguaçu nasce no alto da serra e sob as brumas do Espinhaço Setentrional, transpõe a Chapada Diamantina e, ao
passar por Andaraí, enlaçou a Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia rumo a leste, ao Recôncavo Baiano. O alto
curso da bacia do rio Paraguaçu é caracterizado por um relevo acidentado com altitudes entre 700 e 1.200 metros que se
prolonga até a região de Andaraí, quando este recebe o rio Santo Antônio. Em seu médio curso, o rio Paraguaçu adentra
o domínio do embasamento cristalino e o modelado se altera para um relevo de colinas côncavo-convexas, com índices
pluviométricos mais baixos e vegetação rala de Caatinga correspondente.
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Impressionante a diferença morfológica, o planalto reina no cerne da Bahia, mas a medida em que se aproxima do litoral,
gradualmente o relevo passa a se rebaixar e aplainar, sendo por vezes interrompido por grandes afloramentos de rochas
que saltam na paisagem. Na região de João Amaro, o relevo compreende uma superfície aplainada, com altitudes de
base de 250 metros, e um conjunto de rochosos residuais com cotas de 600 a 700 metros que pontuam o horizonte por
quilômetros.
Sempre acompanhando o rio Paraguaçu, a Expedição caminhou rumo ao oriente e alcançou seu baixo curso, entrando
no domínio das Planícies e Tabuleiros Litorâneos (ROSS, 2001). A unidade de relevo em que se insere o Recôncavo Baiano
configura áreas extremamente planas com origem associada ao depósito de sedimentos marinhos, lacustres e fluviais de
idade quaternária, que se prolongam desde a costa para o interior.
A influência do litoral no regime climático da região resulta no aumento da umidade e favorece a ocorrência de vegeta-
ção de Mata Atlântica ao longo do Recôncavo Baiano. A floresta tropical mais ameaçada do mundo, considerada hotspot
da biodiversidade mundial (CONSERVATION INTERNATIONAL DO BRASIL, 2005) conta com a proteção em nível mundial,
desde 1991, da primeira Reserva da Biosfera brasileira instituída, a Reserva da Biosfera Mata Atlântica.
Abrigando os principais remanescentes de Mata Atlântica e ecossistemas associados - como manguezais, vegetação de
restinga, campos de altitude, ilhas costeiras e formações de transição -, a RB Mata Atlântica abrange 350.000 km² de terri-
tório, se alongando por 5.000 quilômetros de costa em 15 estados brasileiros. Os objetivos da RB Mata Atlântica tangem
a criação de corredores ecológicos; a preservação e recomposição do ecossistema; a promoção do turismo sustentável
e educação ambiental; o fomento à gestão das águas e florestas; e a criação e implementação de Unidades de Conser-
vação.
Seguindo por tortuosas estradas, tendo o rio Paraguaçu como referência geográfica, a Expedição chegou a Maragojipe
pela BA 245, passando pelos municípios de Cachoeira e São Félix, posteriores áreas de pesquisa e visita. Maragojipe surgiu
no século XVI a partir da divisão de sesmarias, e se estabeleceu como núcleo fornecedor de mantimentos para o interior
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da colônia. Apesar da importância histórica e do grande potencial turístico e cultural, o que a Expedição encontrou em
Maragojipe foi uma triste paisagem, onde prevalece o descuido com o patrimônio de uma das primeiras cidades do
Brasil.
Maragojipe se encontra na foz do rio Paraguaçu, na baía localmente denominada Iguape, e está inserida na Área de Pro-
teção Ambiental Estadual Bahia de Todos os Santos, que abrange toda a enseada homônima à APA. No relevo de planície
flúviomarinha de Maragojipe, a junção das águas doces do rio Paraguaçu com as salgadas trazidas pelas marés, resulta
em um ecossistema frágil e diferenciado, conhecido como mangue. Os manguezais apresentam áreas com vegetação
característica e que servem de mantenedor da fauna costeira, tanto daquelas espécies específicas das estruturas aéreas e
submersas do mangue, como daquelas espécies marinhas que passam parte do ciclo de vida neste ecossistema, quanto
das espécies terrestres que ali se alimentam.
Tradicionalmente utilizado por populações ribeirinhas como sustento, os manguezais brasileiros têm sido constante-
mente degradados nas últimas décadas. Seja como conseqüência de fracassados projetos de irrigação, pela poluição de
mananciais ou dado à pesca e cultivo intensivo, a destruição dos mangues condena o chamado povo das águas à miséria
cultural e econômica. E foi para conservar o manguezal do rio Paraguaçu, bem como garantir às populações tradicionais
a subsistência através do uso sustentável dos recursos costeiros, que o governo federal instituiu, em 2000, a Reserva Ex-
trativista Marinha da Baía de Iguape.
Localizada nos municípios de Maragojipe e Cachoeira, a Reserva Extrativista Marinha se prolonga por 8.117 hectares de
terras com uso gratuito concedido legalmente às populações tradicionais extrativistas. A Expedição visitou no dia 8 de
setembro a área considerada de interesse ecológico e social, embarcando no cais de Maragojipe. Na área, se observa a
utilização de práticas tradicionais de pesca. Barcos a remo feitos em um único tronco de madeira saem ao alcance das
águas mais profundas e dos manguezais de ilhas. Com água até os joelhos, uns pescam na foz do rio Paraguaçu, enquan-
to outros se misturam às raízes aéreas bifurcadas das árvores de mangue nas bancadas costeiras.
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Navegando pelo rio Paraguaçu, conhecemos o quilombo Salaminas com suas ruínas, engenho e olaria; além de visitar
o Forte Salamina de Paraguaçu - um conjunto arborizado e estruturado estrategicamente, como revelam os antigos
canhões que apontam para o canal.
Cachoeira
Partimos no dia 8 de setembro seguindo a margem do rio Paraguaçu, em ponto à montante de Maragojipe, onde se
encontra a encantadora cidade de Cachoeira, fundada ainda no início do século XVI. Historicamente, Cachoeira se firmou
como região produtora e exportadora de cana-de-açúcar, dos engenhos de Santiago do Iguape, e de fumo da região
de Belém. Entretanto, sua importância regional resultou da localização privilegiada de seu porto no último ponto nave-
gável do rio Paraguaçu. Estratégico entreposto comercial, Cachoeira se estabeleceu como elo de ligação entre Salvador
e o sertão baiano e mineiro, sendo testemunha de massacres de índios pelos colonizadores portugueses, da escravidão
negra e da industrialização alemã.
“Ela reclina-se ao sopé de um outeiro todo plantado de canaviais e fumo, e é, sem dúvida, não só uma das vilas mais ricas
e populosas, como também uma das mais aprazíveis de todo o Brasil” (MARTIUS & SPIX, 1981).
Entretanto, com a ascensão do transporte terrestre na virada do Século XIX, o porto de Cachoeira perdeu sua importân-
cia e a cidade deixou de ser rica e populosa, embora permanecendo, ainda hoje, como uma cidade um tanto aprazível.
Cachoeira é vida em seu cotidiano e concentra um patrimônio cultural derivado da afra-descendência de sua população,
como a manufatura da farinha, a mariscagem, a charuteira, o samba-de-roda, a culinária tradicional, o artesanato em
madeira e as crenças no candomblé e na irmandade da Boa Morte.
Paula Huven
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O acervo material de Cachoeira preserva casarios, igrejas e trechos calçados de estradas reais, as quais garantiam a inte-
ração do Recôncavo com o sertão baiano e demais regiões da colônia. Em busca destes remanescentes, uma equipe da
Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia visitou a rua da Câmara e Cadeia de Cachoeira, onde, em meio à urbani-
zação, se encontra um calçamento em pedras originais da fundação da cidade, conhecidas como Cabeça de Nego, que
estende por cerca de 150 metros. Na continuação do caminho observa-se um outro trecho calçado, no qual as pedras
estão praticamente desaparecendo.
Denominado Estrada Real do Gado, o caminho antigo que se iniciava na rua da Câmara e Cadeia ligava a cidade ao
distrito de Belém, então pouso dos tropeiros e onde havia um seminário de padres jesuítas. Do distrito de Belém, a rota
passava pela preservada ponte do Tupim e margeava o rio Paraguaçu acima. A estrada do gado se dividia na Pedra do
Cavalo, local onde o rio Paraguaçu se estreitava e era possível atravessá-lo pelas pedras. Seguindo o rio Paraguaçu por sua
margem esquerda, se alcançava Feira de Santana e o sertão baiano e, ao se transpor o rio na Pedra do Cavalo, o caminho
levava à Chapada Diamantina e às Minas Gerais.
Situada na margem oposta do rio Paraguaçu se encontra São Félix, cidade que vista desde Cachoeira parece um presépio
que adorna a paisagem local. No município de São Félix, próximo à fazenda Santa Bárbara, na ladeira da Santa Cruz, a Ex-
pedição encontrou outros calçamentos tipo Cabeça de Nego, pertencentes ao chamado caminho litorâneo. Cidade irmã
de Cachoeira, cujas histórias se completam, o então distrito de São Félix compreendia um bairro industrial de Cachoeira,
especializado em fábricas de fumo. São Félix se desenvolveu como centro comercial, especialmente em meados do sé-
culo XIX, dado à expansão ferroviária no território baiano e, no ano seguinte à Proclamação da República, se emancipou
de Cachoeira.
Pedro Miranda
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Depois de permanecer na região Cachoeira três dias, a Expedição seguiu na manhã do dia 11 de setembro pela movi-
mentada BR 324, vencendo o desafio de descobrir o difícil trajeto para se chegar ao Museu do Recôncavo Wanderley
Pinho, conhecido também como museu do Engenho da Freguesia. Com suas estradas degradadas em variados trechos,
sem acesso claro e placas de informações, a região de baixada da Baía de Todos os Santos é cercada por porções de praias
arborizadas, tais como Praia Grande, Das Neves, Bananeira e Martelo, além do gigantesco pólo petroquímico e refinaria
Lindolfo Alves, no município de São Francisco do Conde.
Ruínas do antigo engenho e da senzala compõem o grande casarão da Freguesia, cujos primeiros registros remontam
a 1584. O casarão está bem deteriorado, apesar de saltar aos olhos a sua imponência construtiva, com grandes pátios
internos para banho de sol conjugado a uma magnífica e diferente capela em sua lateral. A Capela de Santo Antônio das
Pindomas demonstra a grandiosidade e importância dos seus antigos moradores.
Apesar de criado pelo decreto de lei 20.529, de 3 de janeiro 1968, e inaugurado em fevereiro de 1971, o Museu do Recôn-
cavo está desativado e o Engenho da Freguesia é hoje administrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico da
Bahia - IPAC, com sede em Salvador.
Em seguida, a equipe da Expedição rumou para outro engenho tombado pelo IPHAN: o de Matoim, cujo acesso é restri-
to à entrada principal da multinacional americana DOW Brasil, pólo de Aratu, que está há 31 anos na região. Depois de
receber autorização da empresa, percorremos a área de galpões até chegar a uma mata fechada, onde encontramos o
que deveria ter sido um belíssimo casarão, mas que está hoje em ruínas e abandonado.
Entretanto, percebe-se, em meio à mata fechada, a riqueza dos seus fundadores, seja nas ruínas do pátio de tomar sol
para as damas ou nas bancadas azulejadas que resistem ao tempo, assim como nas colunas grego-romanas que mos-
tram a força da construção e nas telhas de coxas sobrepostas que emolduram a pequena parte do telhado que ainda
não ruiu.
Pedro Miranda
Engenho do Matoim
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S alvador
Pedro Miranda
Casa da Torre
Nos dias 12 e 13 de setembro, as equipes da Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia dividiram os trabalhos de
pesquisa, levantamento fotográfico, entrevistas e contatos com gestores do Monumenta e de entidades parceiras ao
Programa, concentrando-se as atividades na região da cidade alta e baixa de Salvador. Além disso, os registros se esten-
deram ao famoso e movimentado Pelourinho, aos museus e outros pontos históricos e turísticos da primeira cidade e
capital do Brasil.
Já na manhã do dia 14 de setembro, uma equipe da Expedição percorreu a hoje conhecida Estrada do Coco em direção a
Praia do Forte; região em que se situa a Área de Proteção Ambiental Reserva Sapiranga, a RPPN de Camunegipe, a Reserva
Ecológica Imbassaí e o maravilhoso Parque Histórico Garcia D`Ávila.
Construído entre 1551 e 1624, por Garcia D’Ávila e Francisco Dias D’ Ávila e tombada em 1938, a Casa da Torre é uma das
primeiras edificações portuguesas no Brasil. Também é o único castelo feudal das Américas e sede do que foi o maior
latifúndio do mundo, com 800 mil quilômetros quadrados. Junto ao castelo, a Capela de Nossa Senhora da Conceição re-
vela pinturas originais de embarcações em alto relevo, encravadas nas paredes. Pisos originais de tijoleira de barro cozido
e encaixados entre grandes blocos e matacões são preservados por passarelas elevadas, entre janelas namoradeiras que
emolduram os andares superiores.
A fortaleza está estrategicamente posicionada a cerca de 70 metros de elevação, em condição ideal para observação das
naus que chegavam à Bahia para o porto de Salvador. Arredores compostos por vegetação típica litorânea, as florestas de
coqueiros embelezam a paisagem, onde lendas também encantam os visitantes. Grandes blocos arcados e encaixados
serviram como garagens de carruagens, destacando a imponência do castelo; que têm como vizinho a Mata de São João
e a igreja de São Francisco.
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Pedro Miranda
Destaque relevante é o tipo de estrutura existente dentro do parque histórico – uma das melhores visitadas pela Expe-
dição em sua jornada das Minas à Bahia. O parque conta com restaurante, auditório, laboratório, iluminação apropriada
e rampas para portadores de deficiências, demonstrando e sendo com certeza um bom exemplo de conservação e
preservação dos bens históricos, ambientais e culturais.
Voltando para Belo Horizonte, fato curioso e de grande relevância geográfica, foi o trajeto percorrido; através da BR 324
até o entroncamento da BR 101, passando pelo rio Paraguaçu, Jiquirica, rio Preto e rio de Contas. Cortamos também o
extenso rio Pardo e o rio Jequitinhonha no sul da Bahia. Seguindo a BR 418 adentrando em Minas Gerais, deparamos com
a BR 116, conhecida como Rio/Bahia, que corta o rio Doce no encontro com a BR 381. Posteriormente, seguimos a antiga
BR 262 (hoje BR 381), que passa pelo rio Piracicaba e o rio das Velhas, chegando à capital mineira.
“O real não está na saída nem na chegada, ele se dispõe para a gente é no meio da travessia” dizia Guimarães Rosa. Fato
comprovado, a cada momento, pelas equipes de pesquisadores da Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia.
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• RESERVA DA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA - RBMA. (Online). Disponível na Internet via World Wide Web: <www.
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• ROSA, João Guimarães. Estas Estórias. Conto: O Dar das Pedras Brilhantes. 2 a edição. São Paulo: Ed. José Olympio.
1978.
• ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 13a edição. São Paulo: Ed. José Olympio. 1979.
• ROSS, J. (Org.). Geografia do Brasil. 4a edição. São Paulo: Edusp, 2001.
• SAADI, A. Ensaio sobra a morfotectônica de Minas Gerais. Tese para admissão a cargo de Professor Titular. Belo
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• SAINT-HILAIRE, A. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora Itatiaia,
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• SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESPELEOLOGIA – SBE. Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil. Disponível na Internet
via: < www.sbe.com.br >. Acesso em outubro de 2006.
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Expedição - Caminhos Antigos das Minas à Bahia RELATÓRIO
Instituto Terrazul - Cultura, Comunicação e Meio Ambiente
R e p o r t a g e n s d a V i a g e m
14 de agosto
Pedro Miranda
MARIANA - Arraial de Nossa Senhora do Carmo, Vila Real e, finalmente, Mariana. Essa é a historia do surgimento da cidade
que preserva em suas edificações e cultura a memória do Brasil Colônia. A capela de Santo Antônio é um dos marcos des-
se crescimento proveniente da extração do ouro, então recém descoberto nas Minas Gerais. Datada de 1696, a edificação
é a primeira capela que se tem registro em Mariana. É a partir dela que o arraial de Nossa Senhora do Carmo começou a
se desenvolver.
Erguida pelos bandeirantes em invocação à Santa, que batizaria o arraial, Nossa Senhora do Carmo, a edificação revela
três momentos que retratam a história da cidade. O primeiro deles, no período de sua fundação, trazia em sua construção
apenas um altar que abrigava a imagem de Nossa Senhora. Com a expansão do extrativismo mineral e do arraial ao seu
redor, a capela, sob o comando da Irmandade do Rosário, sofreu uma reforma e expansão, com o intuito de abrigar um
maior número de freqüentadores. O resultado foi a construção da sacristia e da capela mor, quando o povoado já era
denominado de Vila Real.
O terceiro momento da capela seria o da construção da nave, mais uma vez, para atender ao crescimento da população
da então cidade de Mariana. Com a mudança da Irmandade de Santo Antônio do Morro para a capela em 1841, ela passa
a se chamar Capela de Santo Antônio; denominação que perdura até os dias de hoje.
Apesar da importância histórica, a região onde se situa a Capela de Santo Antônio encontra-se em um avançado estado
de descaracterização e apenas uma casa se manteve em bom estado, preservando as características da época. Todas as
demais edificações antigas foram demolidas, dando lugar às casas contemporâneas. Além disso, parte da escadaria que
dá acesso à capela foi removida ou soterrada. (Pedro Costa)
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Expedição - Caminhos Antigos das Minas à Bahia RELATÓRIO
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Já estão em fase final as obras das Praças Minas Gerais e Tancredo Neves, que têm inauguração prevista para o próximo
dia 22, quando o Ministro da Cultura, Gilberto Gil, participa de uma cerimônia na cidade. Ponto de encontro de duas da
mais imponentes igrejas de Mariana, Nossa Senhora do Carmo e São Francisco, a Praça Minas Gerais terá novo calçamen-
to em pé-de-moleque e meio fio de pedra. O adro da Igreja São Francisco está sendo nivelado e a grama substituída. Já
a frente da Câmara Municipal, que também integra o conjunto, terá o piso em seixo substituído por grama e sistema de
irrigação pluvial.
A Praça Tancredo Neves, por sua vez, localizada no ponto de maior trafego de carros da cidade, recebeu bancos novos
e teve o piso em bloquete substituído por paralelepípedo. Além disso, as calçadas foram alargadas e foi criado um esta-
cionamento rotativo.
Também está em obras uma casa da Rua Direita, que será totalmente reformada para se transformar em um Centro de
Atenção ao Turista. Até dezembro, outras quatro obras serão iniciadas, incluindo a revitalização das praças de Santo Antô-
nio, São Pedro e Cláudio Manoel. Em 2007, começam os trabalhos de recuperação do Casarão Moraes e das praças Dom
Silvério e Barão Camargos.
Outra área importante do Monumenta é o de incentivo à preservação de propriedades particulares por meio de um
financiamento oferecido aos donos de edificações históricas. Dos R$ 7,5 milhões disponibilizados, 30% referentes à con-
trapartida do município são destinados a financiar obras particulares de revitalização. E as prestações pagas pelos pro-
prietários vão integrar um Fundo de Conservação, criado para dar continuidade aos trabalhos ligados ao patrimônio
histórico, arquitetônico e cultural. (Marina Rattes)
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15 de agosto
Pedro Miranda
Os monumentos pesquisados na antiga Vila Rica – Cape-
la de Nossa Senhora das Dores, Casa da Baronesa, Casa
do Gonzaga, Vale dos Contos, as pontes Seca, do Rosário
e da Marília e o Teatro Municipal integram a área tomba-
da pelo Iphan e foram beneficiadas com recursos do Programa Monumenta. São cerca de R$ 12 milhões aplicados na
recuperação dessas verdadeiras preciosidades que guardam 300 anos de história.
A Casa da Baronesa, construída na segunda metade do século XIII, recebeu uma reforma completa, com um custo total
de mais de R$ 360 mil. As intervenções estruturais, no telhado, forro e piso, a pintura e a recuperação dos sistemas elé-
trico e hidráulico devolveram ao imóvel parte significativa de sua memória. No piso, peças originais de madeira foram
restauradas. Da mesma forma, as telhas usadas desde os tempos da família do Barão de Camargos, que habitou a casa
possivelmente entre 1834 e 1941, foram utilizadas para cobrir o novo telhado.
A reforma também reservou surpresas aos técnicos envolvidos na empreitada. Cacos de louça inglesa, de bonecas, ta-
lheres e utensílios domésticos encontrados durante as obras, inauguradas em fevereiro último, comprovam que a casa
realmente abrigava a família e revelam detalhes da refinada rotina de seus antigos moradores. A importância dos acha-
dos pode ser medida pelo local que ocupam hoje no prédio, agora sede dos escritórios locais do Monumenta e do Iphan.
Estão expostos em duas vitrines, cada uma delas em um dos pavimentos da casa.
Elementos artísticos de uma pintura encontrada sob o último revestimento do forro levaram os técnicos do programa a
formularem novo projeto para o casarão. Segundo César Adriano Teixeira, engenheiro do Monumenta que acompanhou
os expedicionários na visita a Ouro Preto, o objetivo é restaurar a pintura original do forro.
No sótão, por uma porta que dá acesso à estrutura interna do telhado, é possível observar preservado o engenhoso
sistema de pau-a-pique que sustenta toda a cobertura da Casa da Baronesa. No local, será instalada uma passarela para
permitir que o visitante do prédio conheça as técnicas utilizadas nas construções coloniais. A casa, informa Teixeira, vai
ganhar também a reforma paisagística de seu jardim.
Outra edificação visitada pela Expedição foi a Casa do Gonzaga. Sede das Secretarias Municipais de Cultura e Turismo e
do Patrimônio Histórico e Desenvolvimento Urbano, o casarão abrigou entre 1782 e 1788 o poeta Tomás Antônio Gon-
zaga. Revitalizado recentemente pelo Programa Monumenta por um custo de R$ 337 mil, o imóvel recebeu reforço de
fundações, reformas no piso, de pedra e madeira, a recuperação dos revestimentos das paredes, e dos sistemas elétrico e
hidráulico, e pintura geral. Os forros de madeira foram recompostos e o sistema de água pluvial foi adequado, de modo
a não permitir o acúmulo de umidade abaixo dos pisos.
Pintados nas paredes da casa, os poemas do médico inconfidente lembram a paixão que nutria por Maria Dorotéia
Joaquina de Seixas, a Marília que idealizou em tantos livros. Os versos falam ainda dos tempos de masmorras no Rio de
Janeiro e do degredo em Moçambique com fim do sonho da Inconfidência Mineira. (Denise Menezes)
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Pedro Miranda
características do barroco italiano, porém, sofreu
várias reformas que modificaram o estilo original.
A parte interna do teatro tem a forma de uma lira, e
a representação do instrumento musical pode ser
vista ainda no encosto das cadeiras de platéia e na parte superior de sua fachada.
A intervenção do Monumenta visa não apenas preservar a integridade do bem, mas, principalmente, recuperar, por meio
de um trabalho minucioso e especializado, parte das características perdidas ao longo do tempo. As cadeiras da platéia,
que são antigas, mas não as originais da época de sua construção, serão restauradas. O mobiliário da frisa, dos camarotes
e das galerias também está em processo de recuperação.
Na recomposição do piso, em tábua corrida, os técnicos do Programa optaram por aproveitar ao máximo as peças de
madeira originais, que já puderam ser reutilizadas na platéia e na frisa. Nos camarotes e nas galerias, estão sendo assen-
tadas peças novas, com as mesmas características das antigas, e retiradas réguas finas que destoavam do projeto inicial
do teatro. Ainda para a preservação do piso foram construídas câmaras de ar que impedem o acúmulo de umidade e
aperfeiçoado um sistema original encontrado durante as obras.
O teatro tem capacidade para 400 pessoas e é conhecido por sua acústica perfeita. Muitos casos curiosos pontuam a tra-
jetória do teatro. À época de sua inauguração, por exemplo, o terceiro andar, ocupado pelas galerias, era destinado para
as pessoas que não pagavam ingressos, mas eram obrigadas a aplaudir todas as apresentações. (Denise Menezes)
OURO PRETO - Mas o dia dos pesquisadores não foi só para a contemplação das belezas do legado colonial de Ouro
Preto. As marcas do vandalismo indignaram os expedicionários durante visita à Capela de Nossa Senhora das Dores. Re-
centemente revitalizada pelo Programa Monumenta, quando ganhou uma reforma geral, a igreja foi alvo de ladrões que
não se contentaram em roubar os cabos de ligação do sistema elétrico. Atearam fogo nos padrões de energia, causando
um incêndio que inutilizou os alarmes recém-instalados, acarretando assim a retirada do templo das imagens originais
de sua fundação. Os bancos em pedra construídos no largo em frente à capela vêm sendo destruídos para o roubo das
peças, e há pichações nos muros.
A Capela de Nossa Senhora das Dores foi construída pela Irmandade de Nossa Senhora das Dores e Calvário, formada por
portugueses residentes em Vila Rica. Concluída em 1780, a igreja foi edificada em um terreno de um antigo cemitério.
Entre 1845 e 1850, foi ampliada, avançando até o frontispício atual, e ganhou sineira inserida no frontão. Na revitalização
promovida pelo Monumenta foram feitas a recomposição de alvenaria e barrotes, a recuperação de pisos e forros e a
restauração de elementos artísticos da pintura do altar. (Denise Menezes)
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16 de agosto
PAula Huven
OURO PRETO - A equipe da Expedição visitou os arredores de Ouro Preto e conheceu a região que abriga cinco das seis
nascentes do Rio das Velhas. Criado em 1968, o Parque Municipal das Andorinhas ainda não foi implantado e só agora terá
seu Plano de Manejo elaborado para amenizar os problemas ambientais causados pela falta de regularização da área.
“Desde a criação do parque já houve muitas tentativas de regularização, mas faltavam recursos. Em 2004, a área protegida
foi re-delimitada e começamos um trabalho intenso para a implantação do parque. Este ano, conseguimos R$ 2,2 mi-
lhões referentes a uma medida compensatória aplicada à Samarco e vamos usá-los com esse objetivo”, explica o diretor
de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Ouro Preto, Ronald Carvalho Guerra.
O primeiro passo, de acordo com ele, foi a elaboração de um estudo técnico de fauna e flora e um projeto arquitetônico
de infra-estrutura para o parque. “Vamos começar a etapa das obras ainda este semestre e esperamos que em um ano
estejam prontas”, diz. Serão feitos duas portarias, um estacionamento, um centro de convivência, um centro de referência
sobre a Bacia do Rio das Velhas e uma grande área de lazer composta por piscinas e duchas naturais, churrasqueira e
anfiteatro. “Queremos transformar a área em espaço de lazer para a comunidade. No início, vamos restringir a visitação a
300 pessoas por dia, porque só saberemos a capacidade do parque depois da elaboração do Plano de Manejo, que deve
começar ainda este ano”, conta o diretor.
A questão fundiária, no entanto, está longe de ser resolvida. Atualmente, cerca de oito famílias vivem ou possuem casas
dentro dos limites do parque. “Há muitas propriedades privadas, mas poucas pessoas têm registro comprovando a posse.
Já temos um estudo fundiário e estamos tentando desapropriar essas áreas, mas sabemos que levará mais de dez anos
para que tudo seja resolvido”, assume.
Problemas - Uma das principais questões que comprometem a preservação do parque é a falta de saneamento das
comunidades do entorno. A ausência de redes coletoras de esgoto das casas próximas resulta no escoamento de resíduos
tóxicos nos cursos dágua. “Durante o processo de implantação do parque vamos realizar um programa de saneamento
com a comunidade”, promete Guerra. Também o assoreamento, a erosão por desmatamento e os remanescentes de
exploração de quartzito são problemas que ainda assolam a região.
“Como não havia fiscalização, a área ficou muito suscetível à ação do homem. Esperamos resolver esses problemas com
a elaboração do plano de manejo e as obras de infra-estrutura”, completa. (Marina Rattes)
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Expedição - Caminhos Antigos das Minas à Bahia RELATÓRIO
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OURO PRETO - Localizado dentro do complexo do Espinhaço, o Parque Municipal das Andorinhas possui 557 hectares de
vales, montanhas e cachoeiras que encantam quem visita a região. Mesmo com resquícios da exploração predatória, o
parque ainda possui áreas intocadas que formam uma das mais belas paisagens de Minas Gerais. A vegetação de campos
rupestres e ferruginosos, típica da Mata Atlântica, é habitat de espécies raras de fauna e flora.
“Apesar do Plano de Manejo ainda não ter sido elaborado, acreditamos que existem mais de 30 espécies de beija-flor
e uma comunidade de monocarvoeiros”, diz o diretor de Meio Ambiente da Prefeitura de Ouro Preto, Ronald Carvalho
Guerra. Ele conta que habitam a região onças, jaguatiricas, antas e sagüis, além de outros animais. Quanto à flora, “cada
ilha tem sua vegetação e suas particularidades”. Podem ser encontradas canelas-de-ema, bromélias e orquídeas de di-
versos tipos.
De acordo com o diretor, estima-se a existência de mais de 20 cachoeiras. A mais famosa é a das Andorinhas, que leva esse
nome por servir de refúgio para as aves no verão. Primeira queda d´água no curso do rio das Velhas, ela se forma depois que
as seis nascentes do rio se encontram, ganhando volume para desaguar dentro de uma caverna. (Marina Rattes)
A CASA DO BISPO
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DO OURO AO TURISMO
Pedro Miranda
Antiga Mina da Passagem
é hoje atrativo turístico
MARIANA - Seguindo os passos da rota do ouro das Minas à Bahia, a Expedição partiu em direção a Passagem de Mariana.
É lá que se encontra uma das mais importantes minas da região, a Mina da Passagem. Aberta em 1719 com a descoberta
das primeiras jazidas, a mina chegou ter cerca de 3,5 mil escravos trabalhando na extração do ouro. Com o passar do
tempo, a mina pertenceu a alemães, portugueses e ingleses, que extraíram não só o ouro, como a prata e o arsênico. Há
21 anos a mina está desativada e hoje funciona como atração turística.
Cercada pelo Morro Santo Antônio, a mina tem a sua história associada à figura do barão W. L. Von Eschwege. Utilizando
o trabalho escravo, o barão alemão, inicialmente, extraía o ouro de aluvião contido nos itabiritos, na jacutinga e na canga
de ferro-aurífera. Com o esgotamento do ouro na superfície do morro, os escravos iniciaram a busca por jazidas nos
subterrâneos.
Após anos de prosperidade, o Barão Eschwege decidiu partir para o ramo da siderurgia e vendeu a mina para os ingleses.
Nas mãos de Thomas Treolar, representante da Anglo Brazilian Gold Mining Company Limited, a Mina da Passagem
passou por um processo de modernização. Com o auxílio de explosivos e máquinas movidas a ar comprimido, em cerca
de nove anos de extração a mina produziu mais de 750 gramas ouro por tonelada de minério de ferro – valor considerado
altíssimo na época.
Em 1883, a Mina da Passagem foi novamente vendida, desta vez a um sindicato francês, que em 1927 decidiu revendê-
la. Depois de mais de cem anos de exploração, desde a concessão dada a Von Eschwege pela Coroa Portuguesa, a mina
foi adquirida por uma família brasileira. Sob o comando do grupo Ferreira Guimarães, ela passou por um momento
infrutífero, o que resultou na sua paralisação e posterior venda. Atualmente, a mina pertence a Walter Rodrigues.
Apesar de ainda existir ouro nas paredes da mina, o custo para sua retirada inviabiliza o processo. Por isso, o local passou
a ser explorado apenas como atração turística para mergulhadores e visitantes de Mariana e ponto de referência histórica
para pesquisadores e historiadores.
Ao longo da exploração da Mina da Passagem as relações de trabalho foram se modificando. Já na administração dos
ingleses, em meados do século XIX, os garimpeiros conquistaram o direito de aposentadoria após 15 anos trabalhando.
Porém, muitos morriam antes de receber o benefício devido aos problemas causados pelas precárias condições de
trabalho. A grande maioria era portadora da silicose, mais conhecida como a doença do pó. A enfermidade era ocasionada
pela inalação de finas partículas de sílica cristalina, proveniente da extração do ouro. Para atender aos portadores da
doença, os ingleses construíram em Passagem de Mariana o primeiro hospital com aparelho de raios-X da América
Latina. (Pedro Costa)
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Pedro Miranda
OURO PRETO – De Passagem de Mariana, a equipe seguiu em direção ao distrito de Lavras Novas para conferir de perto
o Projeto de Revitalização do Artesanato em Taquara, realizado com recursos do Monumenta. O projeto, iniciado em
2001, busca resgatar através de oficinas de artesanato essa atividade que por anos foi a principal fonte de renda da
comunidade.
Nascido de uma pesquisa de doutorado, o projeto reúne três artesãos de Lavras Novas que juntos ministram uma oficina
destinada a pessoas maiores de 14 anos. Durante três meses os alunos aprenderão a lidar com a taquara, ferramentas e
técnicas de fabricação de cestos e balaios.
A primeira turma, formada por 17 alunos, se encontra aos sábados na oficina do artesão Carlos Aurélio de Carvalho,
um dos professores convidados pelo projeto. Com a formação da primeira turma, o próximo passo será organizar uma
exposição de todo o material desenvolvido nas oficinas. Ao todo o projeto de revitalização está orçado em R$ 22 mil,
sendo que R$16 mil são aplicados pelo Programa Monumenta.
O Projeto Taquara, como é conhecido, também prevê a visita de um técnico agrícola que vai ensinar aos artesãos as
técnicas de plantio do bambu, matéria-prima para a taquara. Desde que o fogo queimou os bambuzais próximos ao
distrito, há menos de dez anos, a escassez de taquara se tornou um dos principais problemas para continuidade dessa
arte. (Pedro Costa)
Pedro Miranda
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Expedição - Caminhos Antigos das Minas à Bahia RELATÓRIO
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17 de agosto
Paula Huven
OURO PRETO - Um dos mais conhecidos símbolos naturais de Minas Gerais, o Pico do Itacolomi, que no século XVIII
serviu de referência aos bandeirantes no desbravamento do interior brasileiro, está protegido dentro de 7.543 hectares
de Mata Atlântica e Cerrado: o Parque Estadual do Itacolomi. Criada em 1967, entre Mariana e Ouro Preto, a unidade de
conservação ambiental está em processo de implantação e já recebe visitantes e pesquisadores.
Mesmo com a questão fundiária pendente – apenas 300 hectares da área total são de domínio do Estado de Minas
Gerais – e o Plano de Manejo ainda em elaboração, o parque já possui boa estrutura de segurança e preservação. O
local é todo delimitado por cercas, dispõe de guarita para credenciamento de visitantes, brigada de incêndios, centro de
atendimento ao turista, auditórios, biblioteca, um museu e cerca de 30 funcionários. Além disso, devem ser inaugurados,
até dezembro, uma área de camping com capacidade para 60 pessoas, um restaurante, um conjunto de sanitários e um
heliporto para auxiliar no combate a incêndios florestais. “Muita coisa já está pronta desde setembro do ano passado,
mas não podemos abrir ao público porque ainda estamos em obra”, explica o engenheiro florestal Alberto Vieira de Melo,
gerente do parque.
Aberto de quinta a domingo de oito às 17 horas, o parque recebe turistas e pesquisadores de todo o Brasil que, além
de se aventurarem pelas trilhas ecológicas e se deslumbrarem com a paisagem, têm a oportunidade de conhecer um
pouco do passado da região. A Casa Bandeirista é uma construção do início do século XVIII que servia como um posto de
vigilância das minas de Ouro Preto. Restaurada em 1998, ela ainda guarda características originais, como partes do piso e
bancos de pedra localizados ao lado das 16 janelas da edificação.
Outro atrativo histórico é o Museu do Chá, um galpão do começo do século XX que funcionava como uma fábrica de
chá e ainda hoje possui o maquinário da época. Podem ser observadas no local máquinas de enrolar e alisar folhas de
chá, um peneira classificadora e uma estufa. No final do século XIX, a área do parque chegou a ter 1,8 milhão de pés de
chá plantados. (Marina Rattes)
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Paula Huven
OURO PRETO - Encravado na Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, o Parque Estadual do Itacolomi reúne campos de
altitude e florestas estacionais perfeitamente preservados da ação do homem. Características raras de solo e vegetação e
espécies endêmicas de fauna e flora comprovam a singularidade da região e sua importância ambiental.
O Pico do Itacolomi, principal símbolo do parque, além de se destacar por sua beleza e altitude, 1.774 metros, chama
a atenção pelos aspectos geomorfológicos diferenciados. “O pico é constituído de quartzito, uma rocha de difícil
intemperismo. Isso justifica seu destaque na paisagem. Há também uma caverna em quartzito no local”, explica a geógrafa
Isabel Mascarenhas da Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia.
A vegetação de transição entre Mata Atlântica e Cerrado é singular. “Os dois biomas são os únicos, no Brasil, considerados
hotspots da humanidade, ou seja, possuem biodiversidade de importância mundial”, revela Mascarenhas. A orquídea
habenária itacolumia, que só é encontrada próximo ao pico, as canelas de ema, as bromélias, os cedros, os jacarandás e
as braúnas exemplificam a riqueza desses ecossistemas.
Também a fauna é opulenta e guarda espécies ameaçadas de extinção, como é o caso do pavó, das jaguatiricas e das
onças pintadas e pardas. Também pode ser encontrados tamanduás-mirins, andorinhas de coleira, maritacas, papagaios
e araras.
Por estar situado nas porções mais altas do relevo regional, o parque possui muitas nascentes, cachoeiras e quedas
d’águas. O acesso a esses atrativos, no entanto, não está liberado. “Como ainda não temos um plano de manejo pronto,
não sabemos os impactos que as visitações causariam nesses pontos. Quando os estudos estiverem concluídos, veremos
a quais atrativos poderemos liberar o acesso”, justifica o gerente do Parque do Itacolomi, Alberto Vieira de Melo. (Marina
Rattes)
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18 de agosto
Pedro Miranda
NOVA LIMA - A equipe da Expedição passou pelo município de Nova Lima e encontrou um tesouro esculpido por Antônio
Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Dentro da Igreja Nossa Senhora do Pilar, estão obras de talha originárias da Capela da
Fazenda da Jaguara, um conjunto de peças de madeira do século XVIII minuciosamente entalhadas pelo artista mineiro.
O acervo tombado pelo Iphan é composto por um altar-mor, dois altares colaterais, uma tarja do arco-cruzeiro, um altar da
sacristia, dois púlpitos e uma tribuna de coro. Apesar de nunca ter sido restaurado, o conjunto se encontra em ótimo estado
de conservação e chama a atenção pelo detalhamento de suas esculturas em estilo rococó. No altar-mor, que mede cerca de
cinco metros de altura, fica uma impressionante representação da Santíssima Trindade, com as figuras de Deus Pai, Deus Filho
e Deus Espírito Santo em forma de pomba. Mais abaixo, estão dois anjos ajoelhados em posição de prece.
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19 de agosto
Pedro Miranda
ITABIRITO - Dona Benvinda Baeta Mesquita, de 73 anos, é a herdeira da receita culinária mais famosa de Itabirito: o Pastel
de Angu. Cozinheira de mão cheia, a itabiritense aprendeu a fazer o quitute aos 12 anos e nunca mais parou. Até hoje
recebe encomendas e chega a vender 500 pasteizinhos por mês. Massa feita de angu, com recheio de carne ou queijo, e
frita no óleo bem quente. Ela conta que quem inventou a receita foi sua avó. “Ela ensinou para minha mãe e minha mãe
passou para mim. Eu comecei a fazer para ajudar em casa. A gente vendia muito. Nos dias de festa, a gente passava a
noite entregando balaio cheio de pastel nos bares”, lembra a herdeira.
O pastel de angu de Dona Benvinda é impecável. Ela mesma admite que o seu é diferente dos outros. “A gente percebe a
diferença. Minhas filhas falam que o meu é sempre melhor”. Mas ela garante que o mérito não é seu. Só é preciso seguir
algumas regrinhas e qualquer um pode preparar o quitute. “Tem pessoas que colocam maizena no angu para fazer a
massa, mas não pode! Tem que por polvilho azedo peneirado! Outra coisa é que o fubá tem que ser de moinho d’água!”,
explica.
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Paula Huven
RAPOSOS - A Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia seguiu a rota da primeira batalha pelo domínio das minas de
ouro entre os paulistas e os emboabas – como eram chamados os portugueses - em direção aos municípios de Raposos
e Caeté, cidades que guardam em suas igrejas e casarões histórias do tempo do ouro e de visitas ilustres. Primeira parada,
Raposos. A cidade, fundada em 1690 pelo expedicionário Pedro de Morais Raposos, foi um dos locais de passagem das
tropas. Desse tempo, permanecem apenas a estátua do fundador do arraial e a Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
Erguida em 1690, a igreja começou como uma pequena capela de pau-a-pique, feita de pedra e barro. Com o crescimento
da extração do ouro e do arraial de Raposos, a igreja passou a receber novas peças, como colunas, florões, lavabo
e pia batismal vindas de Portugal. Em 1724, chegaram os sinos e o mobiliário. De lá para cá a igreja passou por um
grande abandono que culminou, em 1980, na descaracterização total da fachada, devido a intervenções que em nada
preservaram a arquitetura da época. Além disso, foi colocado um relógio quadrado em substituição ao original, em
formato arredondado.
De comprovada riqueza e importância histórica para Minas Gerais, Morro Vermelho, distrito de Caeté e também palco da
Guerra dos Emboabas, conta com duas igrejas datadas do início do século XVIII, a de Nossa Senhora de Nazaré e Nossa
Senhora do Rosário. As edificações, que hoje se encontram com suas fachadas bem preservadas, quase foram perdidas pela
falta de investimentos. As restaurações foram garantidas graças à mobilização dos mais de 800 habitantes do distrito.
Temendo a queda da igreja, Morro Vermelho se uniu e conseguiu arrecadar R$ 200 mil, investidos na restauração das
portas, janelas e fachada da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré. Apesar das obras, a igreja ainda necessita de reformas em
seu interior. Acervo esse que não pôde ser visto pela equipe, que encontrou ambas as edificações fechadas.
Já em Caeté, onde começou a Guerra dos Emboabas, a equipe da Expedição pode contemplar a sua riqueza histórica e
cultural. Fundado em 1702, o povoado foi denominado Caeté, que em indígena quer dizer Mata Grande, por causa das
matas fechadas então abundantes na região. Na cidade, estão a igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso e a residência
do Barão de Catas Altas. A igreja, edificada em 1757, foi a primeira construída em alvenaria no Brasil. Ornamentada por
suntuosos e monumentais altares, ricos nas formas e nos detalhes, a matriz marcou o ponto de partida da tradição rococó
e barroca da talha mineira.
O Museu Regional, um sobrado de construído no final do século XVIII, reserva não só um grande acervo da época do
ouro como histórias do polêmico Barão de Catas Altas. Um senhor de minas de ouro, titulado por D. Pedro I em 1829, que
segundo contam os moradores ostentava com esplendor a sua riqueza.
Uma das histórias relatadas é a visita de D. Pedro II a Catas Altas. Segundo contam, o imperador, ao chegar na cidade, se
assustou com a baixa estatura do Barão de Catas Altas. Inconformado com isso, o Barão recebeu o imperador na igreja de
Bom Sucesso com um tapete feito de ouro, além de um banquete regrado a almôndegas também feitas de ouro maciço.
Ao fim, para comprovar o seu poderio financeiro, ele presenteou D. Pedro com uma baixela de ouro. (Pedro Costa)
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Paula Huven
Santuário da Piedade
CAETÉ - Assim como antigos viajantes dos caminhos, a equipe da Expedição foi guiada em direção à Serra da Piedade.
A 1.746 metros de altitude, a serra é um dos picos mais elevados da Cordilheira do Espinhaço. Além da exuberante
paisagem, a Serra da Piedade é um importante ponto de peregrinação de devotos que sobem em direção ao cume ao
encontro do Santuário de Nossa Senhora da Piedade.
Referência geográfica para tropeiros e viajantes dos caminhos antigos, a Serra da Piedade envolve uma religiosidade
originada a partir de uma remota lenda. De acordo com ela, uma menina muda, ao avistar no alto da serra uma figura da
Virgem com Jesus em seus braços, foi abençoada e começou a falar. A história cativou o fidalgo português Antônio da
Silva Bracarena que construiu a capela de Nossa Senhora da Piedade em homenagem ao milagre e desde então milhares
de peregrinos sobem a serra todos os anos em busca de bençãos.
Daquele tempo até hoje os milagres e lendas são renovadas. Exemplo disso é a Gruta do Milagre. Localizada a 150 metros abaixo
do pico, a gruta, de acordo com a população local, foi palco de mais um milagre. Uma menina ao caminhar pela serra teria caído
neste poço. Próximo ao chão, já na altura da gruta, a criança pediu a ajuda de Nossa Senhora da Piedade que atendeu o pedido
e amorteceu sua queda. Desde então a gruta também é considerada um importante ponto de peregrinação de devotos.
A religiosidade da Serra da Piedade é complementada pela riqueza natural da região, onde são encontradas espécies
existentes somente em seus limites. Apesar dessa importância, a serra atualmente é ameaçada pela atividade de
mineradoras e queimadas clandestinas. Em sua subida, os expedicionários puderam comprovar os sinais de degradação.
Do ponto mais alto da serra foi possível identificar cerca de 16 pontos de queimada, além do volume de lixo encontrado
ao longo do trajeto.
E não só de religião e belezas naturais a Serra da Piedade é repleta. Localizado no alto da serra, o Observatório da UFMG,
aberto ao público todo primeiro sábado do mês, é um das principais referências de estudo astronômico de Minas e do
país. (Pedro Costa)
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20 de agosto
Pedro Miranda
SABARÁ - Em sua jornada pelas rotas que constituíram o Caminho da Bahia, a Expedição chegou à cidade mineira de
Sabará, distante cerca de 15 km de Belo Horizonte. Conta a história que na região, cortada pelo rio das Velhas, foram en-
contradas pelo paulista Borba Gato as primeiras jazidas de ouro em território mineiro. A saga bandeirante em direção ao
interior do país foi determinada pela Coroa Portuguesa e tinha a missão de desvendar a lenda indígena de Sabarabuçu
– a serra que brilha, uma montanha de ouro que, acreditavam os colonizadores, poderia salvar Portugal da dependência
financeira da Inglaterra.
Em 21 de julho de 1674, liderada pelo paulista Fernão Dias Paes, acompanhado do filho Garcia Paes e do genro Borba
Gato, a bandeira de 700 homens deixou o então povoado paulista de Taubaté na busca pelas lendárias riquezas. Ao longo
do caminho, os bandeirantes paravam em áreas mais propícias ao plantio, onde faziam pequenas roças e deixavam parte
do grupo. Ao final de três anos de jornada, eles chegaram à região e Borba Gato recebeu do sogro a incumbência de
procurar nas imediações um local onde se pudesse fazer uma grande roça para o abastecimento dos homens. Numa
várzea situada à margem direita do curso d’água onde já havia encontrado duas velhas índias acocoradas, e por isso
chamado de rio das Velhas, o bandeirante estabeleceu o plantio de Roça Grande, e ali descobriu que os cascalhos
retirados do fundo do rio reluziam.
Amostras enviadas ao governador geral Antônio de Albuquerque foram levadas à Lisboa, onde foi comprovada a descoberta
do ouro de Sabarabuçu. A partir daí, evoluiu rapidamente o processo de ocupação da região, onde vários arraiais foram
criados em torno das minas. Tais localidades cresceram, se encontraram, dando origem ao hoje município de Sabará.
O promotor de turismo Ademir Lopes Filho, que acompanhou os pesquisadores da Expedição numa visita aos principais
monumentos históricos da cidade, guarda com orgulho cópia de um documento oficial da Coroa Portuguesa. Nele, Antônio
de Albuquerque oficializa a descoberta da mina de Sabarabuçu e reconhece Borba Gato como o seu descobridor.
Há, entretanto, controvérsias sobre o surgimento de Sabará. Alguns historiadores, como Zoroastro Vianna Passos, sustentam
que a região de Sabarabuçu foi pioneiramente ocupada, a partir da segunda metade do século XVII, por aventureiros e
vaqueiros, que saíam da Bahia, navegando ou margeando o São Francisco e o rio das Velhas, no encalço expansionista de
seu gado, antes mesmo que por ali chegassem Borba Gato e seus companheiros paulistas. Teriam passado, justamente,
pelo caminho da Bahia, cujos vestígios ainda podem ser vistos nos arredores de Sabará. (Denise Menezes)
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Pedro Miranda
SABARÁ – A equipe da Expedição conheceu o ponto de intercessão entre duas importantes rotas coloniais do Brasil. No
Morro do São Francisco, em Sabará, o Caminho da Bahia se encontra com o Caminho de Sabarabuçu. As duas rotas, no
século XVIII, se juntavam para fazer a ligação entre as regiões nordeste e sudeste da colônia.
Ainda hoje há vestígios daquela época. Um longo trecho da trilha, por onde os tropeiros levavam alimentos, ouro e gado,
pode ser avistada de cima do morro. Caminhando pelo trajeto, a equipe encontrou um extenso trecho de calçamento
original. De acordo com o historiador Reginaldo Barcelos, “este é possivelmente o único trecho calçado de todo o antigo
Caminho da Bahia”.
Ele conta que as pedras foram colocadas na trilha para facilitar a subida de carruagens e cavalos. “Esse região era muito
movimentada. Sabará funcionava como um importante centro comercial e de troca de mercadorias porque era acessível
por água – pelo rio das Velhas – e por terra, pelos caminhos da Bahia e de Sabarabuçu”, explica.
Mas esses importantes resquícios do ciclo do ouro estão ameaçados. A falta de proteção por parte do poder público
tem resultado na depredação do calçamento. As famílias que moram no entorno da rota colonial retiram as pedras para
construir muros e outras construções.
“A Ong Leão, da qual participo, já está desenvolvendo um protejo para o tombamento do trecho calçado do caminho
da Bahia e seu entorno. Mas ainda não temos garantia de nada”, explica o historiador. Ele defende a necessidade urgente
de implantar um programa de proteção e conservação da área. “A partir da arquitetura dos caminhos podemos medir
a importância da economia local no século XVIII, além de vários outros aspectos históricos. Por isso é muito importante
preservar”, conclui.
Soledade - O último rancho dos tropeiros antes da chegada em Sabará, era no Morro da Soledade. No local, ainda está
a Igreja de Nossa Senhora da Soledade, santa protetora dos viajantes. Apenas a parte externa do templo é original. Na
década de 1980, todos seus retábulos, portas, imagens e altares em estilo barroco foram roubados. Atualmente, os orna-
mentos encontrados dentro da igreja são reconstituições das peças originais. (Marina Rattes)
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Pedro Miranda
Pedro Miranda
SABARÁ – Embora sofra com um processo de ocupação desordenada de seu território, determinado entre outros fatores
pela proximidade com a capital mineira, Sabará preserva em bom estado um número razoável de edificações da época
colonial que guardam a memória de um tempo de riqueza, opulência e ganância. As capelas e igrejas, por exemplo, são
“um prato cheio” para estudiosos de arte e história porque mostram em sua arquitetura as três fases do barroco mineiro.
O imaginário da população também permanece povoado de estórias sobre os poderosos mineradores, seus escravos, e
os embates pela posse das riquezas.
A visita da Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia à cidade começou por uma verdadeira relíquia colonial. A
Capela de Nossa Senhora do Ó foi construída de 1717 a 1719, no arraial de Tapanhoacanga, hoje bairro Siderúrgica, a
mando do capitão-mor Lucas Ribeiro de Almeida. Perfeito exemplar da primeira fase do barroco mineiro, caracterizada
pela simplicidade do interior em contraste com a riqueza interna, a capela possui estrutura de adobe e madeira e nada
menos do que 180 quilos de ouro em sua ornamentação.
Composta por nave e capela-mor, a igreja tem telhado em duas águas, fachada chanfrada em três planos, vãos frontais
com enquadramento em madeira, porta almofadada e três janelas – uma em cada plano – com guarda-corpo de
balaústres torneados também em madeira. Sobre a torre central, uma cobertura piramidal de telhas em quatro águas e
arremate em símbolos da igreja católica trabalhados em ferro.
O fino acabamento, em estilo rococó, foi obra de artistas portugueses. O retábulo da capela-mor tem talha dourada
e policromada. No trono, está uma imagem da padroeira, original da época da construção. O frontal do altar, embora
entalhado em cuidadoso desenho de ouro que se integra perfeitamente às características da igreja, não é original. Foi
adaptado ali na restauração feita em 1944. O mesmo trabalho apurado está na ornamentação do arco-cruzeiro.
O templo possui ainda elementos artísticos, com formas orientais, chamadas chinesices, que possivelmente foram
executados por artesões originários das possessões portuguesas do Oriente. Na cidade, comenta-se que os exuberantes
detalhes teriam sido realizados por artistas vindos de Macau, mas especialistas do Iphan supõem que a obra seja de
Jacinto Ribeiro, um artista indiano que chegou à Capitania das Minas Gerais em 1711. As características orientais da
ornamentação podem ser notadas, especialmente, na parte frontal do arco-cruzeiro, onde estão sete painéis em estilo e
motivos chineses, delicadamente pintados em ouro sobre azul.
Uma curiosidade para o visitante é o ex-voto que Lucas Ribeiro Almeida deixou logo à direita de quem entra na nave.
Ele atribuiu à Nossa Senhora do Ó o milagre de ter sobrevivido a uma emboscada de seus próprios empregados. Ainda
que não tenha feito nenhum ex-voto, Pedro Miranda, um dos fotógrafos da Expedição, também creditou aos poderes da
santa o milagre de não ter perdido sua câmera em uma queda do tripé quando fotografava a igreja. (Denise Menezes)
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Pedro Miranda
Matriz de Nossa Senhora da Conceição
SABARÁ – No roteiro sacro feito pela Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia nesta cidade, a Matriz de Nossa
Senhora da Conceição foi a segunda parada. Sem documentos que precisem a data exata de fundação da igreja, a
tradição oral da comunidade aponta os idos de 1700 como o início de sua construção. Foram necessários 80 anos para
que o acabamento final de seu interior estivesse concluído, garante o promotor de turismo Ademir Lopes Simões, um
sabarense apaixonado pela história de sua cidade.
Obra da Irmandade do Amparo, o templo possui estrutura em madeira, paredes em adobe na fachada e taipa nas laterais
e internamente, e cobertura em duas águas e telhas curvas. A fachada ostenta linhas despojadas e enquadramentos em
vãos de madeira, porta central almofadada e duas janelas de guilhotina em posição diagonal à principal entrada.
Internamente, a igreja é composta de três naves, com arcos de separação em cedro, recobertos por talha dourada. Aliás,
entre 400 e 500 quilos de ouro foram usados na ornamentação interna da matriz, uma das mais suntuosas de Minas
Gerais. Dentro da igreja se destacam os
oito altares nas naves laterais, cada um
deles preparado por uma das irmandades
católicas existentes à época na cidade.
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Pedro Miranda
Igreja do Carmo
SABARÁ – Sob a administração da Ordem Terceira do Carmo, está a suntuosa igreja consagrada à santa nesta cidade.
Fundada em 1763, o templo é um belo exemplar do barroco mineiro e abriga raridades artísticas atribuídas a Antônio
Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que impressionaram os pesquisadores da Expedição Caminhos Antigos das Minas à
Bahia, na terceira parada do roteiro sacro percorrido em Sabará. O talento de Aleijadinho está presente nas esculturas que
ornamentam o frontispício e a moldura da porta principal, dos púlpitos, coro e balaustradas, nas imagens de São João da
Cruz e São Simão Stock.
As pinturas do teto da igreja foram feitas por Joaquim Gonçalves da Horta, um artista do antigo Curral Del Rey, hoje Belo
Horizonte, e Francisco de Vieira Servas foi o responsável pelas obras de talha dos altares. Entre as curiosidades encontradas
no templo estão os paramentos usados pelos sacerdotes nos séculos XIX e XX e um órgão doado por Henrique Dumont,
pai de Santos Dumont, à Irmandade do Carmo em 1878.
Impressionante também são as ruínas da construção inacabada da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Ao redor da Ca-
pela consagrada à santa e freqüentada por escravos, a igreja começou a ser erguida em 1767. Porém, o ritmo lento das
obras, que dependiam de doações dos ricos mineradores e senhores de escravos, fez com que permanecesse inacabada
até a fim da escravatura no Brasil, determinada em 1888. Com isso os donativos, que já eram minguados, desapareceram
e o templo nunca foi concluído. (Denise Menezes)
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21 de agosto
Paula Huven
Paula Huven
Da janela Maria Alexandrina
comandava Santa Luzia
A MULHER QUE COMANDOU SANTA LUZIA
SANTA LUZIA - Mulheres em posições de destaque e comando na sociedade nos dias de hoje é algo comum e um
fenômeno em crescimento. Já no século XVIII isso era um fato dificilmente imaginável. Mas em Santa Luzia uma mulher
contrariou esse pensamento e sozinha comandou não só o município, mas também toda a movimentação de sal do
Estado de Minas Gerais. Essa mulher foi Maria Alexandrina, mais conhecida como baronesa de Santa Luzia.
Apesar de não haver registros, acredita-se que Maria Alexandrina tenha nascido em Lençóis, na Bahia, em 1780. De lá viajou
até São Paulo para iniciar os estudos, onde conheceu o barão Manoel Ribeiro Viana, com quem se casou e adquiriu o título de
baronesa. A partir deste momento, a história de poder de Maria Alexandrina em Santa Luzia e no Estado teve início.
Afilhada de Dom Pedro II, a baronesa recebeu como presente de casamento o monopólio do sal em Minas Gerais. Com
isso, os barões se mudaram para Santa Luzia e tornaram-se as figuras mais influentes e bem feitoras da cidade. A casa onde
viveram é a grande prova de força do casal. De uma das suas janelas, a baronesa controlava a movimentação do porto
por onde era descarregado o sal que chegava pelo rio das Velhas. Das demais janelas, Maria Alexandrina acompanhava as
obras que ela e o marido financiavam na cidade. Dentre elas, o Hospital São João de Deus e o Teatro Municipal de Santa
Luzia, ambas ainda existentes.
Em 1881 a baronesa, já viúva, deu mais uma vez mostras de sua influência. Ela recebeu em sua casa D. Pedro II e a
Imperatriz D. Teresa Cristina para um almoço, na época da visita imperial às Minas. Com a morte da baronesa em Lençóis,
a casa onde viveu e de onde comandou Santa Luzia passou a servir de moradia a sua família. Atualmente, o sobrado de
dois andares, recém restaurado, abriga um pequeno museu que conta a história da baronesa Maria Alexandrina. Ainda
este ano será instalada no sobrado da baronesa a exposição permanente de acervos do Museu da Mulher, que contará a
história de outras importantes mulheres em Minas Gerais.
Mesmo depois de sua morte, a baronesa de Santa Luzia continua a despertar grande interesse da população de Santa Luzia
e de historiadores. Isso porque a origem de Maria Alexandrina ainda é um mistério. Sabe-se que o seu pai era originário
de Barra, na Bahia. Porém, nenhum registro do nascimento da baronesa foi encontrado naquela cidade. A historiadora
Elizabeth Teixeira e o estudante de Comunicação Social Adalberto Andrade iniciaram, em 2006, uma pesquisa sobre a
origem de Maria Alexandrina. Até agora, os pesquisadores só descobriram que a baronesa foi chamada a Lençóis pelo
irmão e lá morreu. (Pedro Costa)
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Em Minas Gerais, Lund iniciou o seu trabalho em Curvelo, na companhia do compatriota Peter Claussen. Nas grutas desta
região, ele teve os primeiros contatos com fósseis pré-históricos. Em 1845, o naturalista se mudou então para Lagoa
Santa, onde permaneceu até sua morte, em 1880.
Durante o período em que viveu em Lagoa Santa, Peter Lund encontrou dezenas de esqueletos dos mais antigos
brasileiros que se tem registro. Os fósseis encontrados pelo naturalista são datados de 11 e oito mil anos. Além da nova
raça, à qual ele chamou de Homem de Lagoa Santa, ele descobriu fósseis de diversos animais carnívoros, como o tigre-
dentes-de-sabre e o cachorro das cavernas, bem como fósseis da mega fauna de preguiças, capivaras e tatus gigantes.
Há registros de que Lund tenha sido ainda o primeiro a mencionar a existência de inscrições rupestres e a descrever
instrumentos líticos.
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22 de agosto
Teria sido no Sumidouro que Fernão Dias mandou matar seu filho, José Dias. Acusado de conspirar contra a bandeira,
ele foi enforcado no alto de um morro. “Dizem que José Dias não queria continuar a viagem devido ao risco de doenças
e à falta de condições. Ele teria contado seus planos a uma índia, que entregou tudo a Fernão Dias. Como chefe da
missão, para manter sua autoridade o bandeirante não teve outra escolha senão mandar matar o próprio filho”, conta o
presidente da associação comunitária do distrito, Rogério Tavares de Oliveira.
Mais de 300 anos depois de ter servido como pouso para os bandeirantes, Pedro Leopoldo ainda guarda duas edificações
originais da época. Tombado pelo Iepha em 1976, o conjunto arquitetônico da Quinta do Sumidouro é formado pela Casa
Fernão Dias e pela Igreja Nossa Senhora do Rosário. A casa de arquitetura colonial, restaurada e entregue à comunidade
em 2004, funciona hoje como Centro de Referência Patrimonial. Lá são oferecidos aos moradores palestras e cursos de
educação ambiental e preservação cultural.
A Igreja, por sua vez, já não possui seus ornamentos e imagens originais. Em 1980, foram roubadas cinco peças de valor
incalculável – Nossa Senhora dos Martírios, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora das Dores, Santa Efigênia e um
anjo. A Nossa Senhora dos Martírios foi encontrada com a empresária mineira Ângela Gutierrez que decidiu devolver a
imagem aos moradores, em 2004.
O mesmo não aconteceu com a Nossa Senhora do Rosário, que apesar de ter sido localizada, não tem data para voltar a
seu lugar de origem. De acordo com o presidente da associação, a relíquia está nas mãos do banqueiro paulista Renato
de Almeida Witacker, que se nega a devolvê-la. “A promotoria Pública de Minas Gerais e o Iepha entraram com o processo
para recuperar a imagem, mas até agora não tem nada decidido. O banqueiro alega que trocou a imagem por duas rodas
de trator e que ela vale muito dinheiro. Disse que pode, no máximo, emprestar a santa para alguma celebração religiosa
na comunidade”, desabafa.
Parque do Sumidouro - Criado em 1980, a unidade possui uma área de cerca de 1,3 mil hectares nos municípios de
Pedro Leopoldo, Lagoa Santa e Matozinhos. “O Parque do Sumidouro preza pela proteção de um patrimônio cultural e
natural. A região abriga um dos mais importantes conjuntos de sítios paleontológicos, espeleológicos e arqueológicos do
país, que inclui cavernas, como a da Lapinha e do Arruda, além da Lagoa e Lapa do Sumidouro, onde são encontradas co-
leções representativas de fósseis e pinturas rupestres. Mas apesar de toda essa importância, o parque nunca existiu senão
no papel. Apenas recentemente foram retomadas as discussões para a implantação efetiva da unidade de conservação”,
explica a geógrafa da Expedição, Isabel Mascarenhas. (Marina Rattes)
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Diz a história que, por volta de 1780, o rico fazendeiro se arrependeu de seus crimes e foi a Portugal pedir perdão à
Rainha D. Maria I. Depois de se confessar a um padre, o indulto foi concedido em troca da vinculação de todos seus bens
à Coroa e a promessa de construção e sustentação de cinco obras pias, entre elas a Igreja Nossa Senhora da Conceição
de Jaguará, localizada dentro da fazenda. Entre 1784 e 1786, o mais conhecido escultor barroco de Minas Gerais, o
Aleijadinho, se dedicou à construção do templo religioso que, segundo especialistas, foi a única obra completa do artista,
do risco – projeto arquitetônico – à decoração.
Depois da criação do Vínculo da Jaguara, em 1787, Antônio de Abreu Guimarães entregou a administração de suas terras
a um sobrinho e mudou-se para um convento em Portugal. De lá para cá, a fazenda já pertenceu a muitos proprietários,
inclusive a Paulo Santos, tio materno de Alberto Santos Dumont, o pai da aviação. Acredita-se que o famoso inventor do
avião 14 Bis teria sido concebido na Fazenda Jaguara. Há registros que indicam que sua mãe viveu no local até seus cinco
meses de gestação, partindo então em direção à Fazenda Cabangu, onde há o registro oficial do nascimento de Santos
Dumont.
No início do século XX, a Jaguara foi vendida ao superintendente da Mina de Morro Velho, em Nova Lima, George
Chalmers. Sem interesse em preservar o acervo religioso da fazenda, o inglês dispersou todo o acervo sacro da igreja
de Nossa Senhora da Conceição de Jaguara e deixou a construção sem nenhum tipo de proteção. Os altares, o coro, os
púlpitos e a tarja do arco-cruzeiro foram doadas à Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Nova Lima, e a pia batismal foi
entregue a uma igreja de Pedro Leopoldo. Algumas imagens e peças artísticas estão em mãos de colecionadores e outras
desapareceram, a exemplo das portas e janelas.
Conjunto mantido - A Fazenda Jaguara ainda guarda um relevante acervo arquitetônico e arqueológico. Tombado pelo
Iepha, o conjunto é composto por edificações coloniais e pela Igreja Nossa Senhora da Conceição de Jaguara. Da igreja,
o que restou foram ruínas. Desde 2003, o Iepha e a Usiminas estão realizando obras para o escoramento das paredes da
fachada e a reconstrução dos telhados das torres.
A primeira construção da fazenda foi transformada em um museu arqueológico, que é mantido pelos atuais proprietários.
Na casa podem ser vistos algemas, usadas para torturar escravos, correntes, telhas datadas do século XIX, recipientes
usados para derreter o ouro, entre outras peças que foram encontradas na fazenda. Por sua vez, a sede, onde atualmente
funciona uma pousada, teve toda sua parte externa restaurada respeitando as características originais. O seu interior, no
entanto, foi completamente modificado. (Marina Rattes)
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23 de agosto
Paula Huven
SANTANA DO RIACHO – Além de paraísos ecológicos, emoldurados pelos encantos da Serra do Espinhaço, as cercanias
do Parque Nacional da Serra do Cipó revelam as contradições do tortuoso processo de ocupação da região no século
XVIII. Próximo ao distrito de Cardeal Mota, a comunidade do Açude descende dos escravos que labutavam na Fazenda
do Cipó e preserva, quase três séculos depois, a memória dos seus fundadores em manifestações culturais típicas e no
sincretismo religioso. Em homenagem à Nossa Senhora do Rosário, a grande festa da comunidade ocorre sempre no
segundo sábado do mês de setembro, quando as cerca de cem famílias do Açude, parentes e amigos se reúnem para
celebrar, cantar e dançar, ao ritmo do Candomblé e ao som de instrumentos artesanais, como tambores de pau de
saboeira, chamados de tambús, e caixas de batuqueira.
A Fazenda do Cipó foi, na verdade, uma grande sesmaria com 42 quilômetros de raio, concedida pela Coroa ao português
José dos Santos Ferreira, em 1745, como revelou à equipe da Expedição Dona Antônia Teresinha Ferreira. Contando com
um grande plantel de escravos, a fazenda era voltada ao cultivo de produtos de subsistência e da mamona, cujo óleo
era usado nas lamparinas de iluminação. Entretanto, a fazenda foi também um importante entreposto comercial, sendo
pouso de tropeiros e mercadores que trafegavam entre os núcleos coloniais de Sabará, Santa Luzia, Conceição do Mato
Dentro, Serro e Diamantina.
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Pedro Miranda
Passadiço da Glória
DIAMANTINA - A Expedição permanece, até sexta-feira, na histórica Diamantina. Além da tradicional hospitalidade mineira,
a cidade, emoldurada pela Serra dos Cristais, encanta por sua luminosidade e por seu suntuoso casario remanescente do
períod o colonial e reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade em 1999.
Foi no início do século XVIII que bandeirantes descobriram o ouro e depois os diamantes no córrego do Tijuco e fundaram
um dos mais importantes núcleos mineradores da colônia. O aspecto escuro e enlameado das águas do córrego acabou
por dar nome ao novo arraial: Tijuco, palavra tupi-guarani para designar lodo, lama. Aos poucos, o povoado ganhou
residências, igrejas e confrarias. Em 1838, foi elevado a cidade e passou a se chamar Diamantina.
O primeiro diamante do Tijuco foi encontrado por volta de 1714, mas a descoberta apenas foi oficializada à Coroa
Portuguesa em 1729, quando o intenso fluxo de aventureiros atraídos por boatos sobre a riqueza da região obrigou as
autoridades locais a informarem oficialmente a existência das pedras. A partir daí, foram instituídos os severos regimentos
reguladores da mineração diamantífera.
Quase três séculos depois, o Arraial do Tijuco ainda exibe, em suas ruas e becos, uma riqueza arquitetônica de valor
inestimável. São 12 igrejas e capelas em estilo barroco e centenas de edificações de arquitetura colonial. A igreja mais
antiga da cidade é a do Rosário. Datada de 1728, ela ainda guarda pinturas, preciosos objetos sacros e imagens laminadas
a ouro.
O templo religioso mais rico é a Igreja do Carmo. Em estilo barroco, ela foi erguida em 1765 por ordem do lendário
contratador de diamantes João Fernandes de Araújo. Em seu interior está um órgão folheado a ouro, usado por um
dos maiores músicos sacros da América Latina no século XVIII, o compositor e organista Lobo de Mesquita. Um detalhe
excepcional da edificação é a torre que, segundo reza a lenda, foi construída na parte de trás da igreja para não incomodar
o sono de Chica da Silva, amante de João Fernandes.
Da arquitetura civil, merecem destaque o Passadiço da Glória – construído em 1878 e cujo projeto foi inspirado na Ponte
dos Suspiros, de Veneza –, o Mercado Velho – que servia de pouso para os tropeiros –, a Casa de Juscelino Kubitschek e o
sobrado de Chica da Silva. (Marina Rattes)
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24 de agosto
VIAGEM NO TEMPO
Depois dessa data, a fábrica foi vendida à família Mascarenhas que em 1973 interrompeu a produção de tecidos, por mo-
tivos econômicos. Hoje, a vila, cujo conjunto foi tombado pelo Iepha, se mantém em excelente estado de conservação,
dando a sensação de que o tempo não passou.
Já em Curralinho a história é um pouco diferente. O distrito, que no século XVIII foi um importante pólo de extração de
diamante, hoje guarda apenas algumas construções dessa época, como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Além do
templo, que ainda se encontra preservado, podem ser vistas as edificações construídas para a refilmagem de “Irmãos
Coragem”, da TV Globo. Ao andar pelo distrito, encontra-se o prédio da prefeitura de Coroado, a cadeia e uma réplica do
mercado de Diamantina, também utilizado nas gravações. Além da novela, gravada em 1995, Curralinho também foi o
cenário escolhido para trechos do filme Chica da Silva, de Cacá Diegues.
De Curralinho, a Expedição seguiu para a ponte do Acaba Mundo, onde encontrou grandes surpresas naturais e históricas.
A ponte, construída pelos ingleses, ligava Diamantina às áreas de mineração. Antes dessa, registra-se a existência de uma
ponte mais antiga sobre o rio Jequitinhonha no local, usada pelos tropeiros. Esta não existe mais, embora tenha sido possí-
vel encontrar nas cercanias um abrigo construído debai-
xo de uma lapa pelos tropeiros. Além da história, o local
reserva um bonito fenômeno natural que é o encontro
dos rios Jequitinhonha Preto e Branco. De acordo com o
geógrafo da Expedição, Acácio Júnior, as diferentes colo-
rações se devem à diferentes presenças minerais.
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Paula Huven
SERRO - Sede de uma das quatro primeiras comarcas da Capitania das Minas Gerais, a do Serro Frio, a antiga Vila do
Príncipe, hoje cidade do Serro, guarda as características das vilas setecentistas mineiras; o que lhe valeu ter seu conjunto
arquitetônico e urbanístico tombado pelo Iphan em abril de 1938. Com igrejas e casarões que bem representam a riqueza
da época da extração do ouro, o Serro é uma das cidades beneficiadas pelo Programa Monumenta.
Dentre as obras de urbanização do eixo histórico e restaurações de igrejas e casarões, serão investidos cerca de R$ 4
milhões na cidade. De acordo com o chefe do escritório técnico do Iphan no município, André Macieira, até o momento
apenas uma das obras foi iniciada, a da Igreja de Bom Jesus de Matozinhos. “Como a prefeitura não teve condições de
entrar com a contrapartida, cerca de 30% do valor total a ser investido pelo programa, o Estado assumiu essa parte do
investimento, o que atrasou um pouco as licitações e o início dos trabalhos”, afirma.
Com o término das obras do Bom Jesus, em meados de setembro, estão previstas no programa as reformas da Chácara
do Barão do Serro e da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Também serão realizadas intervenções urbanísticas
no eixo Matriz/Matozinhos/Córrego Quatro Vinténs, na praça João Pinheiro e na escadaria e adro da Igreja de Santa Rita.
Durante a visita, os pesquisadores da Expedição puderam acompanhar de perto o processo de restauração da Igreja de
Bom Jesus. As obras, iniciadas em janeiro, já estão em fase final e segundo o responsável pela restauração, Gilson Ribeiro,
muitas das peças da igreja passaram por outras reformas anteriores que descaracterizaram muitas delas. “À medida que
fomos desmontando e analisando as peças percebemos que a maioria havia sido modificada, em especial, as pinturas”,
afirma o restaurador.
Um bom exemplo foi a imagem de Nossa Senhora das Mercês, tida como uma das mais belas da Igreja Católica. A peça
que se encontrava na Igreja estava coberta por uma tinta preta que, ao ser retirada pelos restauradores, revelou um
belo manto azul, com folhas de ouro. “Depois que descobrimos como era originalmente a peça, iniciamos o processo
de restauração, recuperando a parte perdida com tempo e sempre com a preocupação de manter os traços da época”,
explica Gilson. (Pedro Costa)
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25 de agosto
À medida que adentravam os campos de sempre-vivas – flores que dão o nome ao parque – os pesquisadores se depa-
ravam com o imponente relevo característico da Serra do Espinhaço. Composto por grandes paredões rochosos, além
de falhas e fraturas tectônicas, que definem o curso dos rios, o parque é um importante divisor de águas das bacias do
rio São Francisco e Jequitinhonha. De acordo com Isabel Mascarenhas, a unidade é importante referência para a manu-
tenção de mananciais hídricos.
Apesar da predominância de rochas na paisagem, a unidade possui uma flora exuberante e pouco encontrada em outras
partes do mundo. Durante o trajeto, foi possível observar espécies, como cactos, bromélias, ipês e, é claro, as sempre-
vivas. Segundo estudos realizados, 70% dessa espécie de flor estão concentradas na cordilheira do Espinhaço, onde se
encontra o parque.
E isso não foi tudo. Diferentes pegadas de animas foram sendo encontradas ao longo do rio Inhacica, como de mocós,
jacarés, lobos guarás e onças pintadas. Muitas dessas espécies estão ameaçadas de extinção.
E não é só a beleza natural do Parque Nacional das Sempre-Vivas que encantou os pesquisadores. Também puderam ser
contemplados trechos calçados dos caminhos antigos, currais de pedra e ruínas de pontos de contagem das boiadas que
eram transportadas pela região. Descobertas que in-
tegram mais uma peça do caminho que cortava o
interior das Minas Gerais, nesse caso de Diamantina
à Olhos D’água.
(Pedro Costa)
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26 de agosto
Os objetos, que exigem habilidade e destreza de quem os confecciona, não são feitos só por mulheres, como se costuma
pensar. “Mais ou menos metade do pessoal da cooperativa é homem. Eles fazem tudo direitinho, são muito caprichosos.
Tem até umas peças que eles fazem melhor que a gente. As árvores de Natal as mulheres não dão conta, só quem sabe
fazer são dois homens”, afirma Calcilene.
Na entrada do distrito, o galpão da cooperativa exibe a produção local. “O pessoal vem de Diamantina para comprar. Na
época que tem muito turista vende bastante”, diz a cooperada Ivete Borges da Silva. Ela conta que cada artesão ganha,
por mês, em média R$ 300. Mas não é só em Galheiros que o trabalho pode ser apreciado. A originalidade e a criativi-
dade fizeram com que o artesanato fosse
rapidamente reconhecido em feiras do
setor de todo o Brasil. “A gente expõe no
Minascentro, na Expominas e em vários
outros eventos. Para a Feira Nacional de
Artesanato, chegamos a produzir de 500
a mil peças e vendemos até R$ 7 mil”, se
orgulha Ivete. Recentemente, a coopera-
tiva firmou um contrato de fornecimento
para uma das maiores lojas de decoração
do país. (Marina Rattes)
Paula Huven
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Paula Huven
DIAMANTINA - A equipe da Expedição seguiu o caminho da Maria Fumaça que ligou, entre 1912 e 1971, Corinto à Dia-
mantina, passando por Santo Hipólito, Monjolos, Rodeador e Conselheiro Mata, distrito de Diamantina. Em todo o per-
curso, o que restou foram as ruínas das estações ferroviárias e as saudades do tempo em que o apito do trem alegrava o
cotidiano dos moradores.
Segundo conta o morador de Conselheiro Mata Geraldo Luciano de Miranda, mais conhecido como Kussu, o trem circu-
lou diariamente nos primeiros anos depois da criação do ramal ferroviário. “Eu estudava em Diamantina e pegava carona
no trem todos os dias. Como eu conhecia o maquinista, não precisava pagar”, lembra. “Era uma festa. A gente colocava as
maletas em cima do colo e ficava jogando baralho a viagem toda”.
Ao longo do tempo, a freqüência do trem diminuiu para três vezes por semana, depois passou a levar somente cargas,
até que parou completamente. “Eles falavam que dava prejuízo porque não tinha muito movimento”. Para o morador, a
desativação da linha diminuiu o acesso a produtos de outras cidades e encolheu a população. Cerca de 30 famílias aban-
donaram o distrito e foram buscar trabalho em outras regiões. “Nossa, como eu tenho saudades daquela época. Só de
lembrar do barulho do apito do trem soando de trás do morro eu arrepio”, se emociona.
Antes do trem, no século XIX Conselheiro Mata fora ponto de parada de outra rota: a dos tropeiros, que iam de Diaman-
tina a Nossa Senhora da Glória para trocar diamantes por gado e mantimentos. No caminho de volta, eles passavam por
Rodeador, Boa Vista, Serra da Tocaia e Conselheiro Mata, último pouso dos tropeiros antes de chegar a Diamantina.
“Na época, o distrito se chamava Riacho das Varas e pertencia a Nossa Senhora da Glória. Em 1902 passou a ser de Dia-
mantina e em 1912 ganhou o nome que tem hoje”, explica Kussu, que tem, no balcão de seu bar, um livro de fotos com
o histórico do povoado. (Marina Rattes)
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27 de agosto
Pedro Miranda
Morro guiou viajantes
MORRO DA GARÇA - Deixando para trás o século XVIII, o ouro e os diamantes, a Expedição percorreu parte do caminho de
um dos maiores escritores brasileiros, Guimarães Rosa. Autor de grandes obras, como Sagarana, Corpo de Baile e Grande Ser-
tão Veredas, o escritor ainda é pouco lembrado nos municípios mineiros onde viveu e passou em companhia da boiada.
Nessa viagem literária os expedicionários passaram pelo município de Cordisburgo. É lá o local onde, em 1908, nasceu o
grande escritor mineiro. Do tempo de sua infância, o município guarda as histórias de alguns moradores e a casa onde
ele viveu até os nove anos de idade. Bem preservada, a casa, que atualmente funciona como o Museu Guimarães Rosa,
guarda alguns de seus pertences, como exemplares de livro, roupas e a velha máquina de escrever, onde ele rascunhava
os grandes sucessos. Durante a visita, a equipe da Expedição foi acompanhada dos Miguilins, jovens da comunidade que
contam um pouco da história de seu conterrâneo. O nome é em homenagem a um dos personagens de Guimarães Rosa,
considerado a mais autobiográfica de suas obras.
De Cordisburgo, os pesquisadores foram a Araçaí, onde encontraram Dona Teresinha. Hoje com 75 anos, a simpática
senhora é uma das poucas pessoas, ainda vivas, que conviveram com Guimarães Rosa. Daquela época, Dona Teresinha
se lembra das conversas que tinha com a mulher do escritor, Chiquinha, e dos momentos de descanso da viagem do
escritor pelo sertão mineiro.
A última e fascinante incursão da equipe da equipe da Expedição no caminho de Guimarães Rosa foi ao Morro da Garça.
Com aproximadamente três mil habitantes, o município há menos de cinco anos não sabia de sua importância e beleza
nas obras do escritor. Todo um conto do livro - Corpo de Baile - foi dedicado ao morro que acompanhava Guimarães Rosa
em suas viagens. Em um dos trechos o escritor descreve o Morro da Garça como sendo tão belo como uma palavra.
Foi através do esforço de duas mulheres, Maria de Fátima Coelho e Marily da Cunha Bezerra, que toda a comunidade e
cidades vizinhas de Morro da Garça conheceram a importância e grandeza do escritor. Da paixão pelos contos e da vontade
de resgatar parte da história, nasceu assim o Circuito Guimarães Rosa. Formado por municípios que foram cenários das
histórias do escritor, o circuito, desde de 2003, tem atraído a atenção dos moradores locais e demais apaixonados pela
literatura do mineiro.
De acordo com Fátima, coordenadora do projeto, o circuito começou com apenas três municípios e, hoje, conta com
mais 11 cidades. Hoje, ele oferece roteiros que levam os viajantes aos lugares onde se passaram as histórias de João Gui-
marães Rosa e definem o “sertão roseano”. “Além de uma experiência literária, é uma viagem ao coração do Brasil, muito
distante do turismo convencional”, explica a coordenadora. O projeto ainda envolve a conscientização da população
local, em especial as crianças, que serão no futuro os responsáveis pela continuidade do trabalho e pela sobrevivência
das histórias de Guimarães Rosa. (Pedro Costa)
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Paula Huven
Estação Ecológica do Tripuí
PIRAPORA - Depois de 14 dias de Expedição, os pesquisadores completaram a visita à porção mineira da Serra do Espi-
nhaço, que recebeu no ano passado o título de Reserva da Biosfera da Unesco. Nesse período, a equipe pesquisou os Par-
ques Nacionais da Sempre-Vivas e Cipó, os estaduais, Itacolomi e Biribiri, além da Estação Ecológica do Tripuí e o Parque
Natural Municipal de Cachoeiras das Andorinhas.
Criadas no início dos anos de 1970, as reservas fazem parte do Programa “O Homem e a Biosfera” para a preservação
ambiental. O programa, que conta com a participação da União Internacional para a Conservação da Natureza, e de
agências internacionais de desenvolvimento sócio-ambiental, é uma tentativa mundial de se combater os efeitos dos
processos de degradação, promovendo a conservação da natureza e o desenvolvimento sustentável dos ecossistemas
mais representativos do planeta, dentre eles a Serra do Espinhaço.
A mais recente e menos extensa Reserva da Biosfera brasileira, a da Serra do Espinhaço abriga os biomas Cerrado, Mata
Atlântica e Caatinga, com áreas de grande destaque histórico-cultural e paisagístico referentes à ocupação e exploração
das Minas Gerais. Característico pela topografia bastante acidentada, a reserva forma um imponente divisor de águas das
bacias do São Francisco, Doce e Jequitinhonha. Ao todo, a reserva compreende mais de 30 mil quilômetros quadrados,
em 53 municípios mineiros.
Além da Serra do Espinhaço existem outras 482 reservas da biosfera implementadas em 102 países. (Pedro Costa)
Paula Huven
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28 de agosto
Paula Huven
PIRAPORA - A Expedição embarcou em um dos 32 barcos a vapor que transportavam passageiros e cargas pelo rio São
Francisco, o Benjamin Guimarães. Construído na primeira década do século XX, a embarcação enfrentou uma verdadeira
novela de restaurações para, finalmente, se tornar uma bela atração turística de Pirapora. Inaugurado em 1913 nos Esta-
dos Unidos, a embarcação, construída inicialmente para navegar no rio Mississipi, chegou ao Brasil pelas mãos da empre-
sa Amazon River Plate Co. Depois de navegar alguns anos pela bacia Amazônica, o barco foi adquirido pelo mineiro Júlio
Mourão Guimarães, que deu ao vapor o nome de seu pai. Com a decadência do transporte fluvial de cargas e passageiros
pelo rio São Francisco, o Benjamin Guimarães se tornou, na década de 1970, uma das atrações turísticas de Pirapora.
Mas, para conseguir voltar às águas do São Francisco, o Benjamin Guimarães passou por uma novela de restaurações. O
primeiro capítulo foi em 1985, onde praticamente toda a embarcação foi restaurada, desde o piso até a parte mecânica.
Navegando por mais oito anos, em 1993, o Benjamin Guimarães foi interditado pela Capitania dos Portos de Minas Gerais,
por motivo de segurança. Teve início, então, o segundo capítulo dessa novela.
Depois de permanecer ancorado nas proximidades do porto de Pirapora por mais de dez anos, o Benjamin Guimarães
passou por sua segunda grande restauração. Nela, foram recuperados a pintura, piso e parte do maquinário que se
encontrava avariado. Mais uma vez a embarcação retornou ao seu lugar, o rio São Francisco. E isso não foi o fim, pois no
último mês de junho o Benjamin Guimarães recebeu - com patrocínio do Banco do Nordeste - uma nova caldeira.
Apesar de todos os problemas enfrentados, a novela do Benjamin Guimarães chegou em 2006 com um final, até então,
feliz. De volta ao rio São Francisco, a embarcação recebe um bom volume de turistas que navega pelo Velho Chico de
Pirapora até as proximidades de Barra do Guaicuí, onde está a foz do rio das Velhas.
Do transporte fluvial ao ferroviário, a Expedição atravessou a Ponte Marechal Hermes em direção à Buritizeiro. Com os
seus 694 metros de extensão a ponte foi originalmente construída para servir à ferrovia, que operou de 1922 a meados
dos anos de 1960. Atualmente desativada para o trânsito de trens, a ponte, erguida com estruturas vindas da Bélgica, é
utilizada por carros, motos e pedestres na travessia de Pirapora a Buritizeiro.
Tombada pelo estado e pelo município, a ponte se encontra, entretanto, em mau estado de conservação. Grande parte
das tábuas de madeira instaladas ao longo da travessia está solta ou com grandes buracos, o que coloca em risco a
vida dos pedestres que trafegam pela via. Além disso, toda a estrutura metálica está suja e mal cuidada assim como a
sinalização do trajeto. (Pedro Costa)
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Para o guia mirim Ítalo Luís Nunes Caldeira, de 13 anos, a história não é bem assim. A igreja, na verdade, seria do século XVII
e não XVIII. Começou a ser erguida, em 1635, com mão-de-obra dos índios tupi-guaranis. Mas em 1670, os bandeirantes
chegaram e quiseram escravizar os índios, que acabaram fugindo.
De acordo com o consultor em história Expedição, o pesquisador de rotas antigas Márcio Santos, a construção é da
segunda metade do século XVIII. Ele não arrisca uma explicação para a interrupção das obras do templo e diz que os
motivos são desconhecidos.
Mas para o historiador e diretor municipal de Cultura de Várzea da Palma, Moisés Vieira Neto, os fatos são claros. Segundo
ele, a igreja começou a ser construída no século XVII, por ordem dos jesuítas e ficou inacabada porque a população dei-
xou o local fugindo das enchentes e dos surtos de malária. “Em busca de um lugar mais alto e seguro, as comunidades se
instalaram na Vila de Porteiras. No século XVIII, a mando de Manoel Nunes Viana, foi construída a Igreja Nossa Senhora do
Bom Sucesso e Almas do Rio das Velhas”, conta.
Ele afirma que a igreja chegou a possuir um rico altar e mais de 25 imagens originais. “Quando a igreja começou a cair,
no início do século XX, foi construída uma nova, no centro de Barra de Guaicuí. Todo o acervo da igreja foi levado para
lá, incluindo as imagens e um sino datado de 1791”, revela. Das 25 imagens, 12 desapareceram ao longo do tempo. Já o
altar foi levado para o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. Atualmente, estão sob a guarda do município as 13 peças
sacras que ainda restam, todas em madeira com policromia.
Em sua passagem pelo distrito, a equipe encontrou dois restauradores da Fundação de Arte de Ouro Preto trabalhando
na conservação das peças. “Estamos fazendo uma revisão periódica, a pedido da Prefeitura de Várzea da Palma. Ficamos
muito satisfeitos com atitudes como essa, porque acreditamos ser a forma correta de manter um acervo em bom estado”,
garante a restauradora Luzia Pedro de Alcântara. A restauradora avalia que o conjunto está bem conservado, mas não
está sendo guardado sob as condições corretas. “O problema é quanto à climatização. Se há muita diferença de tempe-
ratura, a madeira dilata e encolhe, podendo provocar rachaduras”, explica.
De todas as peças, a única tombada pelo Iepha é a de São Joaquim. “Conseguimos tombá-la no ano passado e pretendemos
fazer o mesmo com todas as outras. Mas o relatório exigido é bastante complicado e leva tempo”, justifica Moisés Vieira
Neto. (Marina Rattes)
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9 de agosto
Na Igreja Nossa Senhora do Rosário, também do século XVII, a comunidade teve de intervir para que o prédio não de-
sabasse. Conta Augusto do Santos, morador da cidade que presidiu a Irmandade do Rosário durante nove anos, que a
igreja já foi vítima de um incêndio e uma enchente, além de infiltrações e problemas estruturais. Por falta de intervenções
públicas, ele mesmo foi obrigado a fazer a reforma. Realizadas sem nenhuma orientação dos órgãos de proteção ao
patrimônio histórico, as obras acabaram por retirar muitas das características originais da construção. “Estava tudo quase
caindo e ninguém fazia nada. Com um dinheiro de doação, eu comprei mais de mil tijolos e reboquei as paredes. Se não
tivesse feito isso, não tinha mais igreja”, explica. Atualmente, somente a fachada e quatro imagens de madeira ainda são
originais.
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O batuque funciona assim: duas caixas, uma delas sob o comando de Dona Maria, e dois roncadores, instrumento típico
dessa manifestação. Outras 20 pessoas – homens, mulheres e crianças – dançam e fazem rimas espontâneas, seguindo
o repique ditado pela chefe.
Meninos vestidos de meninas, mulheres de saias rodadas e lenços no cabelo e crianças fantasiadas de macacos. “Todos
querem ser macacos, mas antes têm de ficar muitos anos como catiri, que são os meninos com roupa de menina. O ma-
caco é o papel mais requisitado”, explica Irene Rodrigues de Souza, moradora de São Romão e admiradora do batuque.
A época em que o grupo de Dona Maria é mais requisitado é durante as comemorações de Folias de Reis. Durante uma
semana, de primeiro a sete de janeiro, o batuque passa as noites acompanhando o boi pelas portas da cidade. “É uma
festa. Não fica ninguém em casa, sai todo mundo pra ver. Alguns dias antes de começar, qualquer quintal que a gente
entra, encontra uma criança fazendo seu boizinho”, conta Irene.
O repique das caixas e dos roncadores vira as noites na cidade. “O pessoal vai acompanhando o ritmo com palmas. Tudo
sincronizado, certinho”, acrescenta Dona Maria. Irene explica que o grupo se apresenta nas portas das casas em troca de
uma contribuição financeira. “O pessoal dá o que pode. No final dos seis dias, usamos o dinheiro para pagar a festa de
encerramento. Matamos vários bois e fazemos farofa para todo mundo”.
Mas a chefe do batuque garante que a tradição está morrendo. Para ela, o interesse das pessoas pela manifestação
vem diminuindo e perdendo lugar para a música comercial. “Antigamente, todo aniversário, batizado e festa, o batuque
tocava. Agora ninguém quer saber disso mais não. Só querem escutar essas bandas da moda com as moças rebolando”,
lamenta.
A falta de incentivo da administração municipal também aborrece e desestimula Dona Maria. Ela conta que somente
este ano teve de recusar cinco convites para se apresentar em festivais de outras cidades porque a prefeitura não liberou
recursos para a viagem. “Eles falam que não tem carro para levar a gente e não tem dinheiro para pagar hotel nem
comida. Ir para dormir no chão, eu não vou”, protesta. (Marina Rattes)
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30 de agosto
Na Casa da Memória do Vale do São Francisco, instalada no antigo fórum e cadeia da cidade, prédio construído no século
XIX, tombado pelo município e reformado pela última vez nos anos de 1980, uma decepção para os pesquisadores.
Visitada em 2001 por parte da equipe que também integrou a Expedição Engenheiro Halfeld, a casa e seu rico acervo
estão praticamente abandonados. Quase sem apoio do poder público, a instituição sobrevive somente de minguadas
doações de políticos e empresários da região. O prédio está mal conservado e o acervo – documentos jurídicos, eclesiais
e cartoriais, dos séculos XVIII e XIX, indumentárias e imagens sacras, objetos típicos da cultura local, como roupas de
vaqueiro, parte do mobiliário original do fórum, entre outros objetos antigos – está entulhado em uma das salas do
segundo pavimento do prédio, coberto de poeira.
A loja de artesanato, que funcionava na instituição, fechou e o laboratório de turismo, mantido na Casa da Memória
em parceria com o Ceiva, está desativado. “Faltam computadores e condições mínimas para que nossos alunos possam
estagiar aqui. Por isso, transferimos provisoriamente para o prédio da faculdade as atividades do laboratório”, admite o
professor Roberto Wagner, da Ceiva.
De acordo com a diretora executiva da casa, Maura Moreira da Silva, uma professora aposentada que trabalha voluntaria-
mente para preservar a memória da cidade, a instituição, que mantinha em 2001 em bom estado de preservação o pré-
dio e seu acervo, passou por vários revezes nesses cinco anos. “Primeiro perdemos os funcionários cedidos pelo Estado,
com o fim do convênio que mantínhamos. Eles foram substituídos por profissionais da prefeitura que, tempos depois,
também foram retirados daqui, em função de ajustes que o município fez para se adequar à Lei de Responsabilidade
Fiscal. Hoje vivemos de trabalho voluntário, doações e a prefeitura arca com as despesas de energia elétrica. Quando não
há dinheiro em caixa, pagamos do nosso próprio bolso as despesas”, relata com certa resignação Dona Maura.
Ela, entretanto, não perde a fé e acredita que vai conseguir recursos para a recuperação da Casa da Memória. “Já temos
prometido de um deputado uma verba de R$ 55 mil”, observa a professora. Com o dinheiro, Dona Maura espera fazer
algumas reformas emergenciais no prédio e preparar o acervo para comemorar, já em outubro, os 25 anos de funciona-
mento da instituição. (Denise Menezes)
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A instituição tenta ainda passar às novas gerações a arte do vale. Recentemente conseguiu recursos do governo federal
para treinar cem jovens carentes, entre 16 e 24 anos, que durante o curso receberam ajuda mensal de R$ 150. Hoje já são
artesãos e utilizam os materiais naturais da região para representar em lindas peças a cultura popular do São Francisco.
Expostas no centro, as peças perpetuam manifestações típicas como a Cavalhada, os Reis do Boi, a Dança de São Gonçalo
e os Temerosos, que encantaram os expedicionários. (Denise Menezes)
Pedro Miranda
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PRESERVAÇÃO E DESCASO
O responsável por isso foi o bandeirante Antônio Gonçalves Figueira, um dos comandados de Matias Cardoso, que se
instalou no lugarejo e criou o primeiro engenho, batizado de Brejo Grande. Deste período em diante, a região prosperou
e em 1833 se tornou uma vila com o nome de Brejo do Amparo, em homenagem à padroeira da região. Época em que
tem início a atividade que perdura até os dias atuais, a fabricação da cachaça.
Em sua vista, a equipe de pesquisadores teve a oportunidade de conhecer o trabalho do alambique de José Gonçalves
Macedo. Criado há 93 anos, o alambique ainda preserva o modo de preparo da cachaça artesanal. Desde a colheita
até a fermentação, tudo é feito como na época de seus pais e avós. Hoje, junto de seu filho José Geraldo Madureira,
eles fabricam em média 300 litros de cachaça por dia. Para Zé, como ele é conhecido na região, a cachaça feita de
forma artesanal, além de ser uma arte, tem o sabor completamente diferente da industrializada. “Há algum tempo tentei
aumentar a produção com a compra de uma caldeira industrializada, mas os meus clientes reclamaram do gosto da nova
cachaça e por isso voltei para a artesanal”, afirma.
Porém, a cachaça artesanal de Brejo do Amparo está ameaçada. Grande parte da produção está sendo feita de forma in-
dustrializada por uma empresa, que chega a fabricar cerca de 2.400 litros por dia. “A arte de fazer cachaça com as próprias
mãos vai acabar se essas empresas continuarem a crescer”, alerta José Geraldo. Ao todo, a região de Brejo do Amparo
conta com cerca de 30 alambiques artesanais, em sua maioria, administrado familiarmente.
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31 de agosto
Um dos maiores atrativos do parque é a Gruta do Janelão, cuja cavidade é considerada a terceira maior do mundo. Logo
na entrada, um paredão repleto de pinturas rupestres de mais de dez mil anos impressiona pesquisadores pela nitidez e
quantidade dos desenhos. No interior da caverna, que possui mais de cem metros de altura, 70 de largura e três quilôme-
tros de extensão, uma densa vegetação de Mata Atlântica abriga espécies endêmicas de fauna, a exemplo do bagre cego
albino. “Devido a um processo de abatimento, o teto da gruta caiu e formou cinco clarabóias, por onde ocorre a entrada
de luz natural. Essas condições específicas propiciaram o desenvolvimento de um bioma exclusivo”, explica o geógrafo
Acácio Ferreira Júnior, outro integrante da equipe. Merecem destaque as enormes estalactites que desenham as paredes
do Janelão. A Perna da Bailarina, com seus 28 metros de comprimento, é considerada uma das maiores do mundo.
As características da Lapa do Rezar também chamam a atenção. Localizado na margem esquerda do rio Peruaçu, o
atrativo reúne cavernas e grutas com mais de 70 metros de largura e 50 metros de altura. Mas o que mais impressionou
os pesquisadores foi a singularidade das pinturas rupestres. “Os painéis têm dimensões enormes e misturam desenhos
rupestres e indígenas”, analisa Ferreira Júnior.
Fauna e flora - O plano de manejo do parque, publicado em 2005, revelou que a região possui pelo menos 10% das
473 espécies ameaçadas de extinção
no Brasil. Entre as 56 espécies de ma-
míferos identificadas, 19 correm riscos
de extinção, como o cachorro-do-mato
vinagre, o tamanduá bandeira e a onça
parda. O levantamento, realizado em 25
pontos de amostragem dentro da área
do parque, mapeou ainda 332 espécies
de aves e 1.072 botânicas. “A trepadeira
Cissus Verticilata, que foi identificada no
plano de manejo, não tinha registros
desde a metade do século XX”, conta
Isabel. (Marina Rattes)
Paula Huven
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JANUÁRIA - Apesar de ainda não estar concluído, o processo de implantação do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
sofreu um considerável avanço, desde 2001, quando a Expedição Engenheiro Halfeld passou pelo local em sua viagem
pelo rio São Francisco. Após sete anos de sua criação, o parque finalmente tem um plano de manejo. Concluído em 2005,
depois de três anos de trabalho, o estudo é resultado de um termo de ajuste de conduta assinado pela Fiat Automóveis,
em 1994. Pelo acordo, a montadora se responsabilizava pela elaboração do plano de manejo, compra e o repasse ao
Ibama dos 12 mil hectares do núcleo do parque e realização das obras de infra-estrutura.
Até o momento, a única etapa cumprida foi a do plano de manejo. As terras, adquiridas pela Fiat em 1997, ainda não
foram repassadas. “Consideramos que o processo de transferência está em uma fase bem adiantada. A Fiat está fazendo
o geo-referenciamento da área e esperamos que o repasse esteja efetivado até o final do ano”, justifica o gerente do
parque, Evandro Pereira da Silva. Enquanto não regulariza a situação das terras, a Fiat mantém três funcionários na
estrada de acesso ao parque. O objetivo é regular a entrada de pessoas não autorizadas e impedir a prática de atividades
exploratórias ilegais no local.
A próxima fase do difícil processo de implantação da unidade de conservação será a realização das obras de infra-
estrutura. Em 2007, serão construídos dois núcleos de atendimento ao turista, auditório, sala de exposição, lanchonete e
uma portaria. “Não teremos alojamento nem área de camping, porque o plano de manejo não prevê a permanência dos
visitantes na parte da noite”, justifica Pereira da Silva. Para a geógrafa Isabel Mascarenhas, a implantação do parque está
no caminho certo. “O Ibama só vai abrir o núcleo depois do plano de manejo pronto e das terras em nome da União. Isso
é essencial para a conservação do patrimônio natural”.
Mas o Ibama ainda terá um longo percurso até a regularização total do parque. A questão fundiária está longe de ser
resolvida, mesmo depois do repasse das terras pela Fiat. Nos 56.800 hectares de área, existem 110 propriedades privadas
e apenas 65 com documento de comprovação de posse. “O grande problema são essas 45 propriedades sem registro,
porque o governo federal não tem como pagar por essas terras”, explica. (Marina Rattes)
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Pantanal mineiro
JANUÁRIA – Uma equipe da Expedição sobrevoou a Área de Proteção Ambiental do Rio Pandeiros. Criada em 1997, a APA
é considerada o pantanal mineiro e o “berçário do Velho Chico”. Com 380 mil hectares, a unidade é responsável por 70%
da procriação natural de peixes do São Francisco e refúgio de belas espécies vegetais e animais. Composto por pequenos
canais de rio, mata ciliar e veredas muito bem preservadas, as águas transparentes do rio Pandeiros são decisivas para
o ecossistema da região. Afluente direto do rio São Francisco, este funciona como uma barreira natural ao fluxo das
águas do rio Pandeiros. Nele, as águas são represadas formando uma área alagadiça, também percorrida por barco pelos
pesquisadores, ideal para reprodução de muitas espécies de peixes, como curimatãs, dourados, surubins, piaus, traíras e
matrichãs.
Mas a beleza da APA do Rio Pandeiros não se restringe às suas águas. As aves também encontram na área de proteção o
local ideal para a sua sobrevivência. Muitas são as espécies encontradas às margens do rio como o cardeal, trinca-ferro,
bico-branco, casaco-de-couro, sabiá, joão-de-barro e garças.
Na jornada, os expedicionários puderam observar também a sub-bacia do rio Pandeiros e suas áreas de drenagem. Para
o geógrafo Acácio Júnior, um dos pesquisadores da Expedição, o vôo de helicóptero propiciou à equipe uma visão mais
ampla da bacia e os canais que o compõe, além dos diferentes tipos de vegetação ao longo do curso do rio. (Pedro
Costa)
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1° de setembro
No novo local, longe das inundações, foram construídos além das casas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição
e um muro de pedras de cerca de quatro metros de altura, cujos fragmentos ainda eram encontrados por volta de 1960.
Todo o trabalho foi realizado com mão-de-obra escrava. Conta-se que quando os negros e caboclos aprisionados deixa-
vam de produzir eles eram jogados vivos em uma lagoa repleta de piranhas.
Mathias Cardoso mandou ainda cavar vários túneis para auxiliar na fuga, em caso de ataques ao arraial. Um deles ligava
a casa principal à igreja que foi construída para servir também como um forte. Outro túnel, também feito a mando do
bandeirante, passaria por baixo do rio São Francisco e seguiria até o alto de uma colina.
Ainda de acordo com o historiador, Morrinhos se tornou um importante porto comercial comandado pela família de
Mathias Cardoso. As mercadorias vindas de Salvador, Goiás e Mato Grosso chegavam pelo rio e pelos caminhos da Bahia.
No entanto, a decadência do arraial viria quando São Paulo e Rio de Janeiro começaram a se desenvolver e atraíram para
lá a população da região.
Igreja da Conceição - Construída em estilo baiano, com características jesuítas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da
Conceição se destaca na paisagem de Matias Cardoso. É considerada por historiadores o mais importante monu-
mento histórico do médio São Francisco e é o único tombado pela União. No seu interior, se destacam o oratório de
madeira, os belos afrescos do teto e as três imagens originais da época de construção: Santana, Nossa Senhora do
Desterro e São Miguel.
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Segundo o ilustre contador, há 300 anos a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, localizada no centro da cidade,
passou por uma grande reforma em que foram utilizadas ferramentas de ouro. Com o fim das obras, um dos responsá-
veis, chamado de Mestre Campo, escondeu todo material em um buraco aberto no morro. O buraco, que dava acesso à
lagoa da Lavagem, foi fechado e o ouro permaneceu escondido por muitos anos. Um dia, um fotógrafo da cidade desco-
briu que havia um bilhete dentro da imagem do santo da igreja, que indicava como encontrar o ouro.
“Ele cerrou a imagem e encontrou o bilhete dizendo que às 14h a sombra da torre da igreja marcaria o ponto exato onde
tinha sido escondido o ouro”, conta José Vieira. Com a dica em mãos o fotógrafo encontrou o buraco e o ouro. Rico, ele se
mudou para Montes Claros onde gastou toda a sua fortuna, morrendo anos mais tarde sem qualquer quantia da súbita
riqueza.
Antes de prosseguirem a viagem, os expedicionários ouviram mais um “causo” do contador de história, desta vez sobre
o Caboclo D’água. De acordo com José Vieira, vários moradores de Matias Cardoso já estiveram próximos ao chamado
“encantado do rio”. “O caboclo é como nós mesmos, mas de vez em quando se transforma em uma lancha, um pedaço
de pau ou em um vapor”, afirma o contador.
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2 de setembro
Pedro Miranda
RIO DE CONTAS – A Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia deixou Minas Gerais rumo a Salvador. E a entrada
em território baiano não poderia ser melhor. A primeira cidade visitada pelos expedicionários foi a bela Rio de Contas.
Fundada no final do século XVII, a cidade mantém grande parte de suas edificações históricas em excelente estado de
conservação. Cercada pela Serra das Almas, Rio de Contas teve início com a aglomeração de negros mucambados e fora-
gidos que subiam a serra em busca de abrigo. Por volta de 1690, viajantes vindos de Goiás e Norte de Minas, em direção
a Salvador, fizeram da região um importante ponto de pouso de tropeiros. E é a partir daí que o local ficou conhecido
como Pouso dos Creoulos.
Anos mais tarde, com a descoberta de veiões e cascalhos auríferos no leito do Rio das Contas Pequeno, atual Rio Bruma-
do, o povoado atraiu um grande número de garimpeiros, dentre bandeirantes paulistas e mineiros. Desse período em
diante, a região de Rio de Contas adquiriu grande importância, sendo elevada à vila e ponto de fiscalização do ouro que
circulava.
Com a decadência da mineração, Rio de Contas passou a ter na agricultura a base de sua existência política, sendo tam-
bém sustentada por outras atividades subsidiárias, como serviços de ourivesaria e metalurgia artesanal.
De importante ponto de descanso de tropeiros e região aurífera, Rio de Contas pode ser considerada uma referência na
preservação de seus bens. A cidade é uma das poucas visitadas pelos expedicionários, onde a comunidade é consciente
quanto à importância de seu patrimônio. Por todos os lados é possível observar belas casas coloridas e ornamentadas,
em excelente estado de preservação. Seu conjunto arquitetônico, protegido pelo Iphan, possui cerca de 500 edificações,
sendo que cinco delas - a Casa de Câmara, Audiência e Cadeia, a Casa Natal do Barão de Macaúbas, a Casa na Rua Barão
de Macaúbas e as Igrejas Matriz do Santíssimo Sacramento
e de Santana – receberam tombamento individual pelo ór-
gão.
Trabalhando em companhia de um irmão e um primo, o artesão é considerado um verdadeiro mestre na arte do metal.
De sucata, seu Zeca é capaz de criar peças que vão de ornamentação, como candelabros, a estribos e esporas. Mas sua
especialidade é mesmo a confecção de facas e punhais, que em menos de seis horas ficam prontas. Velocidade que não
compromete a qualidade, pois, segundo o artesão, as suas facas nunca perdem o fio e a beleza.
Da visita à oficina de seu Zeca, a equipe conheceu outro artesão, Magson Alves. Especializado em artesanato em madeira,
ele é um dos 62 associados da Cooperativa de Artesões de Rio de Contas (Cooperart). Fundada em 1968, a instituição
surgiu com o objetivo de auxiliar os artesãos desde a produção, com empréstimos de máquinas e compra de matéria-
prima, à venda das peças.
Atualmente, a cooperativa está em busca da certificação da madeira utilizada pelos artesãos. Segundo Magson, há mais
de quatro anos eles estão à procura de um incentivo financeiro para a compra do primeiro carregamento de madeira
certificada. “A compra de um lote daria para trabalharmos por durante seis meses e o suficiente para criarmos um capital
de giro para compras futuras”, afirma. Ainda de acordo com o artesão, com a certificação da madeira novos mercados
seriam abertos, incluindo Argentina e Europa.
Costa)
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3 de setembro
Coma a abundância do ouro e a chegada de grupos ávidos por riquezas o arraial se transformou em um forte pólo de
mineração, que prosperou por mais de um século. “Dizem que aqui tinha muito ouro. Uma vez um garimpeiro achou 80
arrobas, num só dia, e mandou benzer com medo de virar carvão”, conta seu Egídio Cardoso de Bonfim, de 84 anos. Ele
revela ainda que um tesouro foi escondido na região e nunca encontrado. “Meu bisavô contava que enterrou uma panela
cheia de ouro numas terras aqui perto. Quando voltou não achou mais”, afirma.
Com o passar dos anos, o arraial cresceu, se desenvolveu e já não tem o garimpo como atividade econômica. Mas há
apenas algumas décadas, contam os moradores mais velhos, o ouro ainda gerava renda para a comunidade. “Todo mundo
achava alguma coisa quando ia para a beira do rio. O fundo da bateia ficava vermelhinho por causa do ouro”, lembra dona
Isabel de Jesus de Oliveira, de 77 anos. A moradora conta que os valiosos minerais eram comprados por um “vendeiro” da
região e comercializados em outras cidades. “Naquela época dava pra tirar um dinheirinho bom”, acrescenta.
Mas desde o início do século XX, a principal fonte de renda em Mato Grosso é a agricultura. “Todo mundo sempre
trabalhou na lavoura. Na roça, as mulheres viraram homens, quando casavam os maridos davam uma enxada de presente”,
se diverte dona Isabel. A produção da cidade era vendida nas cidades vizinhas. “As mulheres iam com balaios na cabeça
e os homens levando animais de carga. Demorava mais de três horas até Rio de Contas, mas o povo não tinha preguiça,
nem medo. Era forte”, garante.
Na prosa dos moradores, a Igreja de Santo Antonio, mais importante monumento histórico de Mato Grosso, foi construída
como pagamento de uma promessa. Uma criança teria sumido e seu pai, um rico fazendeiro, pedido a Santo Antonio
que o menino aparecesse, vivo ou morto. No local onde fosse encontrado, o homem mandaria construir uma igreja em
homenagem ao santo. “Um vaqueiro que trabalhava para o pai do menino saiu à procura de um boi desgarrado e viu um
urubu sobrevoando umas terras. Quando chegou encontrou o cadáver da criança. Com o dinheiro do fazendeiro e a mão
de obra dos bandeirantes a igreja foi erguida”, diz Luis da Silva Mafra, morador local.
A construção, que originalmente era toda de pedra foi rebocada, restando apenas uma parede com as características
originais. No interior, o altar também foi modificado. “Antes era tudo de madeira, mas tiraram tudo. O povo moderno é
assim”, justifica Seu Egídio. (Marina Rattes)
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Pedro Miranda
RIO DE CONTAS - Nos arredores desta bela cidade, a Expedição conheceu a história de três comunidades originadas por
negros no século XVII. Mas ao contrário de outros remanescentes de quilombos, os fundadores de Barra do Brumado, Ba-
nanal e Riacho das Pedras não foram escravos que fugiram dos maus tratos dos portugueses e sim um grupo de africanos
que escapou de um navio ao chegar no Brasil.
“A história daqui é um pouco complexa, não é escrita, é conto de boca em boca”, inicia a conversa, Carmo Joaquim da
Silva, morador e uma das lideranças de Barra do Brumado. Ele conta que, há mais de 300 anos, um grupo de negros tra-
zidos da África para ser escravizado no Brasil escapou de um navio ao chegar no porto de Itacaré, onde o Rio de Contas
deságua no mar. “De lá, eles foram seguindo para o interior, acompanhando o leito do rio, pararam aqui e fundaram as
três comunidades”.
Durante muito tempo, ficaram isolados, livres do trabalho forçado e vivendo da agricultura de subsistência. Com a desco-
berta do ouro na vila vizinha de Mato Grosso, e com a conseqüente exploração das minas, no século XVIII, os moradores
do quilombo começaram a garimpar em troca de comida e roupas. “Eles ficavam lá de dia e voltavam para dormir aqui.
Não podiam morar lá porque diziam que os negros iam sujar a raça branca”, conta.
Passados três séculos, a comunidade já não sofre com o preconceito, mas guarda daqueles tempos uma cultura única
que mantém viva a identidade local. A mais típica das manifestações culturais é o Bendengó, uma dança de roda ritma-
da pelo som de instrumentos de percussão. “Não tem uma quantidade certa de pessoas, mas tem que ser número par,
senão dá errado. As letras a gente vai criando na hora, de acordo com os acontecimentos do momento e da orientação
do dirigente. Mas são estrofes pequenininhas com palavras para animar o pessoal”, explica.
O grupo de Bendengó se apresenta todos os anos nas festas de Reizado, em dezembro, São Sebastião, em janeiro, e
Nossa Senhora Aparecida, em outubro. “Mas também quando o pessoal pede a gente dança. Já apresentamos até em
Salvador”, informa, orgulhoso, Carmo Joaquim da Silva.
O artesanato de Barra também é tradicional. O crivo rústico, típico da comunidade, é feito com os fios do tecido de sacaria
e gera renda para 20 mulheres da comunidade. “Elas desfiam o pano, usam as linhas para fazer toalhas de mesa, blusas,
almofadas, guardanapos e tapetes. O pessoal faz e vende para os turistas que vêm aqui e para a cooperativa de Rio de
Contas”. Também são produzidos licores, óleo de pequi, corantes, doces e cachaças.
Além da venda dos produtos artesanais, a população está investindo em novas alternativas de renda. A Associação
Comunitária, com o apoio do governo federal, vai abrir, no próximo ano, uma fábrica de poupas de frutas e iniciar uma
criação de avestruzes. “Vamos produzir poupa de goiaba, abacaxi, manga e laranja, além de outras frutas da região”. (Ma-
rina Rattes)
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4 de setembro
MUCUGÊ - Com pouco mais de 150 anos, Mucugê tem muita histó-
ria para contar. Da mineração de diamantes, em meados do século
XIX, à agricultura, principal atividade econômica hoje, a cidade pas-
sou por momentos de apogeu e decadência e presenciou um im-
portante acontecimento histórico, a passagem da Coluna Prestes.
Cazuza do Prado, entusiasmado com a descoberta, teria tentado vender a pedra e acabou sendo acusado de roubo.
“Tinha acontecido um crime e pensaram que ele era o culpado. Por isso seguiu escoltado até o local para mostrar onde
havia encontrado a pedra”, explica.
A partir daí, a notícia da descoberta dos diamantes se espalhou e a região foi invadida por garimpeiros e viajantes vindos
do Serro e de Diamantina, onde a exploração de jazidas já estava em decadência, e até da Europa. “Foi um corre-corre,
depois de três anos, já tinha 22 mil habitantes”. O enorme potencial minerador e o conseqüente desenvolvimento local
transformaram a cidade em uma miscelânea de povos e culturas, com uma população que misturava franceses, árabes e
italianos a centenas de escravos vindos da África.
O apogeu de Mucugê foi curto e já na década de 1870, a mineração entrou em crise. A escassez dos diamantes e a
descoberta de novas jazidas no sul da África provocaram um forte esvaziamento da cidade, que resultou em uma
população de menos de 500 habitantes, já na primeira metade do século XX. A comunidade foi então, obrigada a buscar
novas alternativas de renda e voltou a investir na criação de gado e na agricultura de café e cereais. Atualmente, são
cultivados diversos gêneros alimentícios, como batata, repolho, melancia, abóbora e maça. “A produção daqui abastece
o mundo inteiro e também é exportada. O investimento é de fora, mas a mão-de-obra é toda local. São mais de cinco mil
pessoas trabalhando na lavoura”, garante Paraguaçu.
Coluna Prestes - Um dos acontecimentos mais marcantes da história de Mucugê foi a passagem, em 1926, da Coluna
Prestes, um movimento de cunho político que percorreu grande parte do território brasileiro em busca de novos adep-
tos. Mas no município, ninguém aderiu ao grupo. Conta Paraguaçu que os “revoltosos” não chegaram a entrar na cidade.
“O trajeto já estava anunciado, só não se sabia quando eles passariam. Os homens de dinheiro prepararam tudo para a
chegada deles. Colocaram até explosivos no leito de um rio, mas acabou que os revoltosos não passaram pela cidade”.
Diz o morador, que a chegada da coluna foi percebida por uma pessoa que estava na cabeceira de um rio, no alto de um
morro. “Ele estava capinando e viu muita poeira na estrada. Aí, já sabia que eram os revoltosos, porque nenhuma tropa
fazia poeira daquele jeito. Disparou pela estrada e saiu avisando. Então cada um se localizou no ponto que já estava mar-
cado e mandou chumbo”. Paraguaçu garante que pelo menos 30 integrantes do movimento foram mortos. “O pessoal
conta isso porque depois foram achados 30 animais selados vagando pela região”.
Ainda hoje há um lago na cidade com o nome de Poço dos Criminosos. “É porque todo revoltoso morto era jogado lá.
Uma vez, em época de seca, eu fui ao local procurar os ossos, mas só encontrei um pedaço de arma, que deixei no museu
da cidade”. (Marina Rattes)
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PATRIMÔNIO PRESERVADO
Paula Huven
Matriz de Santa Izabel
MUCUGÊ - Em seu caminho rumo a Lençóis, a Expedição parou em Mucugê para conferir seu rico casario histórico.
Tombado pelo Iphan, o conjunto arquitetônico da cidade encanta pela harmonia e bom estado de conservação. Antônio
Rodrigues Lima, inusitadamente conhecido na cidade como seu Pedro, colabora com a Igreja Matriz de Santa Isabel há
64 anos - desde os 11, quando exercia a função de coroinha. Ele conta que a construção, erguida em 1855, já passou por
algumas intervenções, mas nunca foi restaurada. “Com o dinheiro da comunidade, trocamos o piso e o telhado, porque
dava infiltrações que destruíam o interior. Nas épocas de chuva, tínhamos que cobrir todo o altar com plástico, porque
senão molhava tudo”, lembra.
Apesar de não receber recursos do Estado para sua preservação, a igreja ainda guarda o altar de madeira e seis imagens
originais da época. “As outras três imagens, incluindo a da padroeira, foram roubadas há muito tempo”. A pintura está em
ótimo estado, graças à tradição local de “limpar” a igreja todos os anos para a festa de São João.
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5 de setembro
Mas a desordem construtiva não tira o brilho das edificações encontradas em Lençóis. Muitas são as belezas encontradas
nos casarões, moradias e igrejas da cidade. Tanto que, em 1973, o Iphan tombou o conjunto arquitetônico e paisagístico
da cidade.
Compostas por uma mistura de estilos - colonial, neoclássico e gótico -, as construções formam um belo conjunto
artístico. A casa que vai abrigar o Museu Municipal é um bom exemplo disso. Com proporções que se destacam em meio
às demais casas da região, ela conta com estátuas no alto de seu telhado que bem lembram o estilo neoclássico, em
contraponto às janelas coloniais do século XIX.
Monumenta - Devido à sua importância histórica, Lençóis é uma das beneficiadas com recursos do programa Monu-
menta para a revitalização dos bens culturais de valor histórico e arquitetônico relevante. Ao todo serão investidos R$
4,5 milhões. A ponte sobre o rio Lençóis, o Mercado Municipal, a Biblioteca Urbano Duarte e o antigo posto de saúde já
tiveram as suas obras concluídas.
As demais edificações, como o Arquivo Municipal, prédio que vai abrigar a sede da prefeitura, e a Casa de Cultura e Teatro
Afrânio Peixoto, já tiveram as suas obras iniciadas. Já o Teatro de Arena, as Igrejas do Rosário e Nosso Senhor dos Passos,
além das avenidas Nosso Senhor dos Passos e Rui Barbosa, aguardam a liberação do restante do recurso para o iniciar o
processo de licitação e em seguida as obras.
Com a decadência do diamante a partir de 1872, Lençóis passou por grandes modificações. A economia local se dete-
riorou, sendo sustentada pela lapidação de pedras e, posteriormente, pela produção de café, ainda forte. Hoje, o turismo
tem grande participação na economia de Lençóis. Em função de suas belezas naturais e históricas, a cidade atrai em
média cem mil turistas por ano.
Para receber os visitantes, a cidade conta com cerca de dois mil leitos cadastrados no Ministério do Turismo, 34 restau-
rantes, que vão desde a culinária típica a comida árabe. Além disso, possui o segundo maior aeroporto da Bahia e uma
programação turística ampla. (Pedro Costa)
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Apesar da situação indefinida, a preservação da região passou por um significativo avanço, desde a criação do parque.
A atividade mineradora, que resultou em grandes áreas desmatadas e uma forte erosão do solo, já sofreu uma redução
significativa. “Estimamos que a mineração na área do parque tenha sido diminuída em até 80%”.
O gerente do parque explica que a maior ameaça para a preservação são os incêndios florestais. “Tentamos amenizar o
problema com a contratação de uma brigada de incêndio, composta por 34 integrantes, e a parceria com as 14 brigadas
voluntárias das cidades vizinhas”. Além disso, a equipe do parque utiliza equipamentos de rádio para o controle dos focos
de calor. (Marina Rattes)
Paula Huven
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PAISAGEM SINGULAR
Paula Huven
LENÇÓIS - Os expedicionários conheceram uma das mais belas paisagens do país. Com 150 mil hectares, o Parque Nacional
da Chapada Diamantina abriga espécies endêmicas de fauna e flora, além de formações rochosas minuciosamente
esculpidas pela natureza. A mistura caatinga, cerrado e mata atlântica, aliada às características montanhosas do relevo,
resultou em um cenário singular, repleto de grutas, cavernas, cânions, cachoeiras e vales profundos.
“O parque guarda uma série de cursos d’água que esculpiram a paisagem ao longo do tempo, formando topos e vales
paralelos”, informa a geógrafa Isabel Mascarenhas, pesquisadora da Expedição.
Mais de 180 espécies endêmicas de flora integram o mosaico de vegetações, com destaque para as sempre-vivas de
Mucugê e do Morro do Chapéu, as bromélias, orquídeas e canelas-de-ema. Na fauna, podem ser encontrados quatis,
cotias, capivaras e onças-pintadas. Entre as aves, pelo menos três espécies só são encontradas na região, a exemplo do
beija-flor de gravatinha vermelha. Há ainda vários répteis, como as cobras jibóia e sucuri.
Um dos maiores atrativos é a cachoeira da Fumaça. Com uma queda de 340 metros, suas águas se espalham antes
mesmo de atingir o solo. Vale a pena conferir também a trilha do Vale do Paty, considerada a terceira melhor do mundo
para caminhada, perdendo apenas para Machu Pichu, no Peru, e Santiago de Compostela, na Espanha.
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6 de setembro
HISTÓRIAS DO GARIMPO
A descoberta de diamantes na
região atraiu, logo nos primeiros
Pedro Miranda
No entanto, Dona Antônia Cruz dos Santos, de 73 anos, que é filha, irmã e esposa de garimpeiros, garante que a minera-
ção não desapareceu junto com a população. A atividade continuou a gerar renda para grande parte dos moradores até
algumas décadas atrás. “A vida inteira todo mundo viveu de garimpo aqui”.
Ela conta que, na época de sua infância e juventude, a vida era dura e a sorte determinava a quantidade de alimentos
dentro de casa. “Se não encontrava nenhum diamante, a feira tinha que durar toda a semana e a gente regulava o tanto
que comia. Mas quando achava, aí tudo melhorava. Dava pra comprar roupa, sapato e mantimentos. Aí tinha muita
fartura”, lembra.
O marido de Dona Antônia, seu Euclídes Martins dos Santos, de 83 anos, trabalhou no garimpo dos 11 aos 70 anos,
quando se aposentou. Ele explica que o proprietário do garimpo pagava uma pequena quantia aos trabalhadores que
exploravam suas terras em troca de exclusividade na hora da venda das pedras. “A gente ganhava um dinheiro por
semana para pagar a nossa comida e quando encontrávamos alguma coisa, só podíamos vender para os donos. A gente
nunca sabia quanto valia o diamante de verdade, mas ganhávamos metade do preço estabelecido por eles”. Seu Euclídes
lembra que a maior pedra que encontrou pesava cinco quilates. “Mas não deu muito dinheiro, porque o garimpo era feito
em parceria. Juntavam umas três pessoas e viravam sócios. Quem encontrava alguma coisa dividia com os outros”.
O tempo passou e a rotina da cidade mudou. Hoje, os 315 habitantes que restaram em Igatu vivem do turismo. Locali-
zada a uma altitude de 750 metros e cercada pela bela paisagem da Chapada Diamantina, a antiga Chique-Chique atrai
pessoas de todo o mundo, que muitas vezes se rendem aos encantos locais e se mudam para lá. “Tem muita gente de
fora morando aqui. Eles abrem pousadas e acabam dando trabalho para muitos moradores”, afirma Dona Antônia. (Ma-
rina Rattes)
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Dos tempos da grande movimentação de trabalhadores restaram também o calçamento, longos muros e o poço que
abastecia os garimpos, todas erguidos sobre pedras. Construções que impressionam até nos dias de hoje, por sua téc-
nica e funcionalidade. Em muitas dessas moradias ainda é possível encontrar as divisórias que separavam os quartos e
parte do que seria uma cozinha. Há também abrigos construídos sob lapas que, segundo moradores locais, serviam de
esconderijo para bandidos.
Já na saída dos bairros, a equipe da Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia pôde comprovar que mesmo em
ruínas as antigas construções formam uma das mais belas paisagens da região. Paisagem que é completada pela bela e
preservada igreja de São Sebastião. Também construída em pedras, a igreja, segundo a zeladora Antônia Cruz dos Santos,
teria sido erguida em 1845 por um garimpeiro chamado Elviro. Com o crescimento do povoado o garimpeiro sentiu a
necessidade de se erguer uma igreja, que construiu voltada para o seu garimpo.
Tombada pelo Iphan, como parte do conjunto arquitetônico e paisagístico de Igatu, a igreja é a edificação mais bem
preservada do distrito. Do ano de sua criação, a igreja conservou o altar- mor, entalhado em madeira, e cinco imagens.
Restaurada em janeiro de 2006, a igreja tem sua beleza revelada pela simplicidade de seu exterior e interior, muito seme-
lhante à de Santana, visitada pelos expedicionários em Rio de Contas.
Além da restauração, Antônia conta que há 20 anos uma reforma retirou todo o reboco que cobria a igreja. “Quando tira-
ram o reboco que estava caindo, o pessoal viu que a igreja era de pedra e resolveram deixá-la assim por ser mais bonito”,
lembra.
E como era de costume da época, próximos a igreja existem dois cemitérios. Erguidos em estilo bizantino, eles possuem
suntuosos mausoléus e portais feitos de pedra e mármore. Em sua maioria, ornamentados com estátuas de anjos e
imagens de santos. Um dos cemitérios, que está sendo restaurado pela prefeitura, também é conhecido por guardar o
túmulo de um dos mais influentes e temidos personagens da região de Igatu, o coronel Aureliano Brito. (Pedro Costa)
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7 de setembro
Desse período extrativista restaram as histórias do jovem condutor e algumas das peças usadas pelos garimpeiros. Den-
tre as peças apresentadas por Berg estavam uma antiga bateia de madeira, peneiras, ambas utilizadas para a separação
do diamante do cascalho, lamparinas para iluminar os túneis e fragmentos de pedras encontradas na região, como o
diamante negro.
Mas das peças vistas pelos expedicionários a que mais chamou a atenção foi uma grande cruz. Castigada pelo tempo,
ela foi erguida no ponto mais alto de Igatu em agradecimento do garimpeiro Antônio Felix dos Santos pela extração de
uma grande pedra de carbonato.
O jovem condutor da galeria conta que em 1941, Felix encontrou no garimpo de Bom Será uma única pedra de carbo-
nato de 205 gramas. Até hoje a pedra, usada para a geração de energia, é a maior já extraída na região de Igatu. Além da
cruz a galeria guarda a foto e o documento de pesa-
gem da pedra, indicando o tamanho do achado e o
seu registro.
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8 de setembro
vai além da data de doação das terras”, afirma. Além disso, Tapioca
argumenta que as famílias plantam apenas para a sua subsistência e
o impacto ambiental da atividade é muito pequeno. “O que deveria
ser feito não é a expulsão dessas famílias, que têm o direito, com-
provado em documento, de estarem lá, mas sim a orientação para que elas não só preservem, mas também auxiliem na
fiscalização do parque”, diz o sociólogo.
Enquanto a discussão prossegue junto ao Ibama e demais órgãos responsáveis pelo parque, dois outros problemas seguem
em crescimento: a falta de infra-estrutura básica e a especulação imobiliária das terras. A cerca de 200 metros da rodovia que
liga Mucugê a Andaraí, a comunidade não possui luz elétrica e há pouco tempo não contava também com água potável.
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9 de setembro
Jonas Couto
ANDARAÍ - A natureza não pára de surpreender o visitante na Chapada Diamantina. Em Andaraí, a Expedição Caminhos
Antigos das Minas à Bahia conheceu o Pântano do Marimbus, formado pelo encontro dos rios Santo Antônio e Utinga.
Localizado a cerca de três quilômetros do centro da cidade, o pântano está dentro dos limites da Área de Proteção
Ambiental de Marimbus-Iraquara, mantida pelo governo da Bahia.
Lá, a riqueza hídrica é responsável por uma vegetação diversa, que mistura os aguapés e as ninfélias, plantas aquáticas
“primas” da amazônica vitória-régia, com ilhas de peris, espécie semelhante ao papiro e já utilizada na região para a
produção de papel; e um entorno de capoeiras.
A fauna se destaca, sobretudo pela variedade de espécies de peixe – tucunarés, cumbás, curumatás, apanharis e bagres
– que pode ser notada pelo grande número de pescadores em toda a extensão do pântano.
As aves também estão presentes. Gaviões, lavadeiras, ariris e apenas o grunhido das galinhas d’água, escondidas em meio
à vegetação, acompanharam a equipe da Expedição em todo o seu trajeto pelo pântano. Pegadas marcadas às margens
da área alagadiça comprovam ainda a existência de capivaras na região.
Mesmo em época de seca, os pesquisadores puderam navegar pelo pântano, em pequenas canoas de fibra de vidro
movidas a remo, sem muita dificuldade. O guia foi Fábio Sales Silvestre, um jovem de 23 anos que somente no final do
ano vai concluir a quarta série do ensino fundamental, mas que acumulou durante toda a vida um vasto conhecimento
sobre a região e o repassa aos visitantes.
As embarcações, que levam até quatro pessoas, incluindo o remador, pertencem aos proprietários da Fazenda Marimbus,
onde está um dos acessos à região alagada. Na fazenda é possível contratar um passeio de canoa, de duas horas, pelo
pântano ao preço de R$ 15.
No percurso, vê-se, ao longe, a Serra do Sincorá e as fazendas de gado que, surpreendentemente, ainda não causam
impacto visível no pântano. Em certas áreas, as águas - limpas e em tom ferruginoso - formam pequenos poços mais
profundos, ideais para o banho. Ao final do trajeto, está a lagoa do Peri. (Denise Menezes)
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Considerado a representação material do Jarê, o Peji é uma espécie de altar onde são colocados objetos que evocam
os vários guias, orixás e caboclos. São encontradas estatuetas de índios, caboclos e santos que, segundo os jarêenses,
funcionam como receptáculos de espíritos. Estão também no Peji alimentos e bebidas oferecidas aos carnais encarnados,
jarros com flores para o ornamento dos santos e
os colares dos guias espirituais.
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10 de setembro
Além disso, o acervo histórico está cada vez mais desfalcado, devido aos freqüentes roubos de igrejas. “Só este ano, já
foram mais de cinco capelas. Na Piedade, levaram seis imagens e em Santo Antônio da Aldeia, não deixaram nada. Dizem
que na Bahia ainda há patrimônio, só porque foi tudo produzido em excesso. As pessoas são muito insensíveis para a
arte”, lamenta. Ele conta que, algumas décadas atrás, a imagem de São Roque, pertencente à capela do povoado de São
Roque, foi roubada e encontrada no porta-malas de um carro, no Paraguai.
História - Surgida ainda no século XVI, a partir da divisão de sesmarias, Maragojipe se desenvolveu com a caça, a pesca
e a agricultura, usadas tanto para a subsistência dos moradores quanto para o abastecimento do interior da colônia. A
localização da vila, na foz do rio Paraguaçu, propiciou seu fortalecimento como centro fornecedor de alimentos.
Apesar da ausência de registros históricos, os moradores garantem que a cidade foi palco de um dos mais importantes
momentos históricos do país. O Movimento de Independência da Bahia foi o ponto culminante para a independência
do Brasil. “O sete de setembro é uma data fictícia, porque as lutas contra os portugueses continuaram aqui na Bahia até
dois de julho de 1823”, conta Araújo.
Ele garante que muitas dessas batalhas foram travadas no Forte de Santa Cruz de Paraguaçu, localizado na antiga fazenda
de Salamina. A construção em pedra, tombada pelo Iphan ainda está erguida no local. “A gente percebe o descaso com
a história daqui. Os livros não falam de Maragojipe como integrante do movimento de independência. De cada 20 livros,
você pode encontrar um que fale da cidade. Mas sempre com aquele desdém, aquele descaso, tratando bem por alto”.
No centro histórico, merece destaque a igreja Matriz de São Bartolomeu. A construção, que levou 123 anos para ser
concluída, foi iniciada em 1630 com a ajuda das marisqueiras da região. “Todo o cal usado foi feito com as ostras que elas
traziam”, conta o professor. De acordo com ele, parte dos recursos utilizados para erguer o templo foi proveniente de um
acordo realizado com a Coroa Portuguesa. “Eles mandavam uma verba anual e também peças para o interior da igreja.
Todas as imagens que temos aqui vieram de lá”.
O estilo da construção não é bem definido. “Ela foi construída em barroco, mas foi sendo modificada ao longo do tempo.
Dizemos que é colonial, com influências barrocas, neogóticas e neoclássicas”, explica. As enormes proporções da igreja
que, segundo o professor, é a maior do Recôncavo Baiano, refletem a fé da população. (Marina Rattes)
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Pedro Miranda
Capela de São José
CASTRO ALVES - Em passagem pelo município de Castro Alves, a Expedição encontrou um tesouro escondido. Cercada
pela simplicidade do distrito de Vila do Jenipapo, a Capela de São José se destaca pela originalidade, riqueza de detalhes
e excelente estado de conservação. Tombado pelo Iphan em 1971, o templo religioso do século XVIII foi restaurado no
ano passado e recuperou suas características originais.
Datada de 1704, a capela foi erguida por ordem do Alferes Gaspar Fernandes de Fonseca, que queria dar conforto
religioso à sua família. Tanto era seu empenho, que doou grande parte dos ornamentos do interior da igreja, a exemplo
de vestimentas, estolas, cordões, cálice, patena de prata dourada, missal, galhetas, castiçais, campainha e retábulos.
A ligação do Alferes com a Capela São José era tão intensa que todos os seus parentes foram ali enterrados. Ainda hoje,
no piso, entre os dois altares, uma lápide emoldurada em ébano guarda os ossos da família.
Em estilo missionário, a edificação retrata bem a forte hierarquia de classes presente na sociedade daquela época. Se-
gundo a zeladora da igreja, Marinez Jesus dos Santos, o copiar – estrutura que se assemelha a um alpendre localizada
no exterior da capela – servia para abrigar os escravos durante as celebrações. “O pessoal mais rico ficava nos bancos da
frente, mais perto do altar. Depois vinha os menos importantes e, lá fora, ficavam os negros”.
Também o refinamento dos detalhes reflete o poderio econômico dos responsáveis pela edificação do templo. Chamam
a atenção as pinturas ilusionistas do forro, sob o tema de São José, e as da capela-mor, com nove quadros representando
os mistérios do nascimento e da infância de Jesus – Sagrada Família. No altar-mor, merecem destaque os apliques de
madeira e os concheados dourados e assimétricos sobre os fundos vermelhos e azuis, à moda das louças chinesas.
Já o elaborado entalhamento da igreja foi desfalcado quando os púlpitos, os dois altares laterais, dois brasões e quatro
colunas foram roubados, há cerca de cinco anos. Na opinião de Marinez, o furto das peças foi o grande responsável pela
sensibilização do Iphan, que decidiu pela completa restauração da capela, concluída no final do ano passado. “Nessa
época tava tudo muito estragado. Se não tivessem vindo recuperar, já tinha caído tudo”, afirma.
Durante oito meses, uma equipe de profissionais vindos de Salvador, com a ajuda de três moradores da comunidade,
recuperou as características originais da época de construção. As peças roubadas e as grades do copiar foram remodeladas,
e as pinturas e imagens recuperadas. A estrutura da igreja foi reforçada, o madeiramento imunizado e o sistema de
energia elétrica modernizado. (Marina Rattes)
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11 de setembro
À riqueza da cana de açúcar se somou, no século seguinte, a da indústria do tabaco, em um longo ciclo virtuoso que
perdurou até meados do século XX. Hoje, o declínio da cana e do fumo se revela no empobrecimento da população e na
descaracterização do antigo núcleo urbano, mas Santo Amaro ainda guarda expressões suntuosas dos tempos coloniais,
tombadas pelo Iphan, como documentou a equipe da Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia em sua passagem
pela cidade.
A Matriz de Nossa Senhora da Purificação realmente impressiona os visitantes. Em estilo barroco do século XVI, com
29 metros de altura por 48 de comprimento e 26 de largura, o templo, construído em uma plataforma e rodeado por
escadarias em pedra lavrada, domina a Praça da Purificação. A riqueza do interior e a delicadeza dos detalhamentos de cada
uma das peças reunidas, desde os azulejos portugueses até as pinturas a óleo, ficam por conta dos trabalhos dos artistas
José de Abreu Barreto e José Joaquim da Rocha. Já ao lado da matriz, o prédio da Santa Casa de Misericórdia aguarda
reformas, enquanto que, na outra extremidade da praça, a bela Casa de Câmara e Cadeia é hoje sede da prefeitura.
“De dia para dia, tudo está sendo destruído. Parece que não há amor pela cultura. Ando muito entristecida”, lamenta
Dona Zilda Paim. Com 87 anos, a professora aposentada é memória viva da história de Santo Amaro, reunindo em sua
casa documentos antigos, jornais e fotogra-
fias recolhidas metodicamente ao longo de
toda a sua vida. Como à descaracterização
do centro histórico, ela assiste indignada à
indiferença com a preservação da memória
da cidade.
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Pedro Miranda
SANTO AMARO – Oficialmente, a construção da Igreja de Nossa Senhora de Oliveira de Campinhos é resultado de uma
petição encaminhada à Coroa para dotar de um novo templo a Freguesia de Oliveira, criada por Alvará Régio em 1718.
Com planta do capitão engenheiro Nicolau de Abreu Carvalho, a igreja foi
então erigida na segunda metade do século XVIII e domina até hoje, ma-
jestosamente, a paisagem do distrito de Oliveira de Campinhos.
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12 de setembro
Pedro Miranda
CACHOEIRA – Considerada no século XIX a mais rica e populosa vila do Brasil, Cachoeira, localizada no Recôncavo Baiano,
à margem esquerda do rio Paraguaçu, ainda mantém um grande conjunto histórico-arquitetônico que retrata quase
que integralmente os três séculos de colonização portuguesa no país. Com boa parte desse acervo em estado precário,
a cidade foi beneficiada pelo Programa Monumenta, que está aplicando na restauração de suas igrejas, prédios públicos
e casario cerca de R$ 24 milhões. O investimento é, até agora, o mais alto destinado pelo programa a um sítio histórico
situado na rota da Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia.
Entre as obras já concluídas pelo Monumenta em Cachoeira está a revitalização geral do Conjunto do Carmo, um impres-
sionante monumento sacro construído no início do século XVIII e pertencente às Ordens I e III do Carmo. No setor admi-
nistrado pela Ordem III, foram recuperados consistórios, a casa de oração e a rica Capela de Nossa Senhora do Carmo, que
em seu interior combina revestimento em azulejos figurados com ornamentos de talha dourada.
Na área da Ordem I, foi restaurada a antiga Igreja de Nossa Senhora do Carmo, que vai sediar o Museu Sacro de Cachoeira,
abrigando peças já guardadas pelas entidades religiosas. De acordo com Paula Regina Andrade, funcionária do escritório
local do Monumenta, a obra do Conjunto do Carmo foi a única realizada pelo programa que alcançou todos os elemen-
tos integrados ao bem, incluindo imagens fixadas nos altares dos dois templos.
A Casa de Câmara e Cadeia, erguida em 1712, a Capela de Nossa Senhora D’Ajuda, datada do final do século XVII, a Casa
de Ana Néri, construída em meado do século XVIII e a Igreja de Nossa Senhora de Rosário dos Pretos, chamada carinho-
samente pelos moradores da cidade de Rosarinho, completam o rol de monumentos já recuperados pelo Monumenta
em Cachoeira.
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O programa ainda recupera em Cachoeira outros três monumentos – o prédio localizado à rua Benjamim Constant,
número 17, que abrigava o Arquivo Público e será transformado em um centro de hospedagem para pesquisadores;
a Casa Teixeira de Freitas e o casarão situado na rua Ana Néri, número 2. Aguardando a liberação de recursos para o
início das obras de restauração estão ainda a Igreja de Nossa Senhora do Monte e a rua Virgílio Reis, que margeia o rio
Paraguaçu.
Imóveis particulares - Dos R$ 24 milhões destinados à Cachoeira, R$ 4,6 milhões serão investidos na recuperação de imó-
veis privados, por meio de financiamento concedido a seus proprietários pela Caixa Econômica Federal, em condições
especiais - prazo de 20 anos para pagar e sem juros. O programa recebeu 148 propostas de interessados, aprovou 142 e
tem recursos para financiar 81 projetos. Paula Andrade reconhece que o número é pequeno diante do estado precário de
muitas edificações na cidade. “Mas estamos pleiteando mais verbas e considero que temos chances de conseguir, já que
o valor global inicialmente programado para Cachoeira era de R$ 19 milhões e alcançamos uma suplementação de R$ 5
milhões”, diz. (Denise Menezes)
Paula Huven
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Paula Huven
CACHOEIRA - Seguindo o Caminho Antigo das Minas à Bahia, a Expedição chegou à bela cidade de Cachoeira. Palco de
massacres de índios, colonização portuguesa, escravidão negra e industrialização alemã, a cidade conta com um grande
acervo patrimonial, com casario, igrejas e trechos calçados de estradas reais que cortavam o país.
Localizada às margens do rio Paraguaçu, a cidade, fundada ainda no início do século XVI, é formada por construções que
mostram a ascensão e a queda de sua economia. Antes grande produtora e exportadora de cana de açúcar e fumo, a
cidade sofre agora com o abandono de suas fábricas e construções e aposta no turismo com a grande restauração de
seu rico patrimônio histórico e cultural.
E foi atrás desse rico patrimônio que os expedicionários chegaram à rua da Casa de Câmara e Cadeia de Cachoeira. No
local, o detalhe está debaixo dos pés. Trata-se do calçamento da rua que liga Cachoeira ao distrito de Belém. São cerca de
150 metros calçados na época da fundação da cidade com pedras popularmente conhecidas como “Cabeça de Nego”.
Pedras que, segundo o geógrafo Acácio Ferreira Júnior, um dos pesquisadores da Expedição, são compostas basicamente
por granito. “Esse mesmo tipo de rocha foi encontrado por nós em Mariana, Ouro Preto e região”, lembra. O geógrafo aler-
ta ainda que dificilmente o trecho seria calçado até o distrito de Belém. “As pedras são colocadas em regiões íngremes,
para que os cavalos e carroças pudessem subir e descer mais facilmente. O restante do caminho era feito por trilhas de
terra abertas na mata”, explica.
Ainda que preservado ao longo dos séculos, o calçamento aparentemente não conta com nenhum cuidado especial
para a sua conservação. (Pedro Costa)
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13 de setembro
Sob responsabilidade do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) a propriedade, sede do Museu, teve
as suas portas fechadas há mais de seis anos por motivo de segurança. Apesar de pequenas intervenções realizadas nos
últimos anos, as edificações necessitam de um grande processo de restauração.
De acordo com a responsável pelo Museu, Maria de Fátima dos Santos, a última medida tomada para a recuperação do
bem é o projeto em conjunto com a Petrobrás. “A empresa liberou R$ 498 mil para obras de estabilização do casario, que
vão desde a imunização contra cupins das peças em madeira, à recuperação das partes elétrica e hidráulica de toda a
construção”, afirma.
Embora importante para a preservação da edificação, o recurso liberado pela Petrobrás não atendeu a necessidade real
do Engenho da Freguesia. Segundo o projeto enviado pelo Ipac ao Ministério da Cultura, a restauração completa ficaria
em torno de R$ 5,6 milhões. “Enquanto os recursos
não chegam, o Ipac busca resolver alguns dos pro-
blemas da casa como a recuperação do telhado, fi-
nanciado pelo instituto, e que ficou em R$ 157 mil”,
conta Fátima.
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Apesar da perseguição do Santo Ofício, os descendentes de Heitor Antunes permaneceram à frente da propriedade
até 1624, quando os holandeses atacaram Salvador e incendiaram todos os engenhos da região, entre os quais o de
Matoim. Sob propriedade dos Rocha Pitta, em meados do século XVIII, o engenho e a casa-grande foram reconstruídos e
integraram o inventário dos bens da família até 1877.
Tombado pelo Iphan em 1943, o Engenho de Matoim sofreu novo incêndio em 1977 - quatro anos após a área em que
está localizado ter sido desapropriada pelo Governo da Bahia para integrar o centro industrial de Aratu. Na visita ao
engenho, a Expedição constatou que nada foi feito desde então para proteger as antigas edificações.
E “os perigos potenciais” identificados em uma ficha do Inventário de Proteção do Acervo Cultural, de autoria do Instituto
Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), em 1978, acabaram se concretizando: “a destruição do edifício e da pintura
do forro da capela pela ação do tempo e negligência na sua conservação”. (Américo Antunes)
Pedro Miranda
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14 de setembro
nômica Federal.
De acordo com ele, na área de intervenção foram identificadas 1670 famílias residentes. “Apenas 10% tinham documento
de posse, ou seja, 90% dos imóveis foram ocupados depois da transferência do centro comercial para a orla”. O processo
de desapropriação, gerenciado pelo Governo do Estado da Bahia, ofereceu indenização ou moradias populares às famílias
que optaram por deixar as casas. Mas 103 delas moveram ações civis e conseguiram permanecer na área. “Fizemos uma
parceria com o Ministério das Cidades para incorporar as famílias ao programa habitacional. O resultado é que um terço
dos apartamentos será destinado a elas”, explica.
Intervenções - O Monumenta integra o processo de revitalização do centro histórico de Salvador, iniciado após a sua
elevação a Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1985. Até o momento, o programa concluiu três obras. Uma delas é
a Igreja Nossa Senhora D’Ajuda, que foi totalmente restaurada entre agosto de 2003 e março de 2004. O Seminário São
Dâmaso, cujas intervenções foram concluídas no primeiro semestre de 2004, abriga atualmente o Centro de Restauro
do Ipac. Também foram finalizadas as obras da Casa dos Santos da Ordem 3ª de São Francisco. Datada do século XVIII, a
edificação teve as partes interna e externa integralmente recuperadas.
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Pedro Miranda
SALVADOR - Na capital baiana, a Expedição Caminhos Antigos das Minas à Bahia conheceu a Casa dos Objetos Mágicos,
um projeto que tenta promover e perpetuar a rica cultura afro-descendente, resgatando a simbologia dos adereços
sagrados dos rituais do Candomblé. Em um galpão localizado dentro do Forte do Barbalho, uma edificação histórica de
Salvador, o projeto realiza cursos para rapazes e moças, entre 18 e 21 anos, sobre as origens e significados dos objetos
usados pelos orixás e o modo de confeccionar em metal tais adereços.
Nas aulas, os 21 jovens – todos afros-descendentes e de alguma forma ligados ao culto do Candomblé – aprendem a
confeccionar, entre outros objetos mágicos, o capacete de Ogum, o deus guerreiro; o espelho de moldura dourada de
Iansã, a deusa da vaidade e beleza; ou o adijá, uma espécie de sineta usada para a evocação dos deuses. As estrelas, peixes
e conchas predominam nos ornamentos.
Antes de se tornarem mestres na arte de confeccionar os adereços sagrados, os alunos passam por uma preparação
teórica, depois desenvolvem a técnica do desenho, para finalmente chegarem a trabalhar nas folhas de metal, cumprindo
um processo programado para nove meses. O desenho é feito em papel, transposto em carbono para o metal, onde é
trabalhado a marteladas em cinzel. Os ornamentos surgem com a utilização de limas e agulhas. Nessa fase, o artista
trabalha livre a sua criatividade.
“Fiquei sabendo do curso pela Internet. Uns amigos de outro terreiro me mandaram uma mensagem, me interessei, fiz
a inscrição e fui selecionado”, diz Antônio Tiago dos Santos, de 20 anos, um dos alunos da Casa dos Objetos Mágicos, e
filho do terreiro Centro de Caboclos Cristãos das Matas. “O projeto, para mim, tem um significado muito importante. Te-
nho a possibilidade de conhecer melhor e de valorizar a
cultura do meu povo. Aprendo e posso passar aos meus
filhos e netos esse conhecimento e a arte de confec-
cionar as ferramentas. E ainda guardo comigo e para a
minha família uma jóia rara que são os objetos feitos por
mim”, diz o jovem.
Menezes)
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Expedição - Caminhos Antigos das Minas à Bahia RELATÓRIO
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Os 21 alunos de cada oficina foram escolhidos depois de passarem por um processo de seleção iniciado em julho passado.
“Tivemos 385 inscritos para as 150 vagas, por isso tivemos que selecionar. A prioridade era para os moradores do centro
histórico, mas a procura na região foi pequena e abrimos para o resto da cidade. O resultado é que temos gente de todas
as partes de Salvador aqui”, conta a consultora pedagógica do Armazém das Artes, Elizabete Actis de Souza.
Apesar das distintas motivações e perspectivas de vida, os alunos têm em comum o desejo de transformar o aprendizado
adquirido em uma importante ferramenta para o futuro. Exemplo disso é a turma da oficina de interpretação. Vital do
Pelô é músico e capoeirista. Participa das aulas de interpretação porque quer ampliar seus conhecimentos artísticos. “Eu
gosto de arte e tudo relacionado com a área me interessa. Não sei se chegarei a trabalhar como ator, mas para mim, o
que interessa é que estou estudando”, afirma.
Para Cristiano Moreira, no entanto, o objetivo é a profissionalização. “O diferencial desse projeto é que realmente encara o
teatro como profissão e nos dá uma forte perspectiva de continuidade. Queremos montar uma cooperativa para seguir
com o que aprendemos aqui”. A universitária Jamile Soares, de 20 anos, também está segura de seu caminho. “Estou
terminando o curso de Publicidade e vou prestar vestibular para Artes Cênicas. Tenho certeza de que é isso que quero
fazer”, garante.
A aluna mais velha da turma é Neuza Maria de Jesus, de 50 anos. Nascida e criada no interior, só agora Neuza está sendo
alfabetizada. Convidada a participar do projeto por uma professora da escola onde estuda, ela encara a oficina como um
presente e já pensa em seguir a profissão. “Eu
cheguei muito tímida e agora não sou mais, as
aulas me ajudaram muito. Quero continuar tra-
balhando com teatro”.
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Expedição - Caminhos Antigos das Minas à Bahia RELATÓRIO
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Pedro Miranda
MATA DE SÃO JOÃO – Símbolo ao mesmo tempo da marcha da ocupação dos sertões e do esforço de defesa do litoral
da colônia, a Casa da Torre, erguida na segunda metade do século XVI em uma elevação em frente à Baía de Tatuapara,
é hoje exemplo do esforço de preservação da memória do país. Com investimentos de R$ 5 milhões, obtidos através da
Lei Federal de Incentivo à Cultura, as ruínas do antigo forte de Garcia D’ Ávila, cuja sesmaria chegou a ter incríveis 800
mil quilômetros quadrados, foram revitalizadas e protegidas, sendo a antiga capela restaurada. Foram realizadas ainda
pesquisas arqueológicas no entorno das ruínas, com o recolhimento de mais de 300 mil peças, e criado o Centro de
Visitação Turística, nascendo assim, em 2002, o Parque Histórico Garcia D’ Ávila.
Segundo Tauan Reis, gerente executivo da Fundação Garcia D’ Ávila, que administra o parque, duas novas etapas estão
previstas: o término das pesquisas arqueológicas e a realização de novas prospecções nas ruínas, visando identificar
túneis e outros compartimentos. Os dois projetos têm custo estimado em R$ 5 milhões e já estão em fase de aprovação
na Comissão Nacional da Lei de Incentivo à Cultura.
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Pedro Miranda
Coordenação Geral Fotógrafos
Américo Antunes Paula Huven
Armando Garcia Pedro Miranda
Denise Menezes
Produtor de Campo
Coordenação Executiva Marlon de Macedo Meira
Jonas Antunes Couto
Consultoria Histórica
Geógrafos Márcio Santos
Acácio Ferreira Junior
Isabel Mascarenhas Suporte Administrativo
Luana Murta
Turismólogo
Felipe Marcelo Ribeiro
Jornalistas
Marina Rattes
Pedro Costa
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