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Tal encantamento faz sentido, uma vez que o cotidiano é o lugar para o
desvelamento, para o descobrimento e a construção do mundo. Desvelar,
descobrir, construir são ações próximas do sublime, pois pela ação cotidiana, o
oculto se mostra, o escondido aparece, o disperso se agrupa...
Mas o maior encantamento revelado pelo cotidiano é aquele da mágica do
encontro, aonde um eu encontra outro eu, diferente, interpelador, às vezes
assustador, justamente porque distinto.
No encontro de pessoas, o eu se afirma, afirmando também os outros.
A descoberta do outro não só plenifica os olhos, mas sobretudo plenifica o
coração.
O cotidiano é, portanto, o lugar onde uma espécie de rotina, o fazer diário, nos
coloca em contato com uma realidade intuitiva, ou seja, aquela sobre a qual
vamos construindo as referências sobre nós mesmos, sobre os outros, sobre a
natureza e sobre nossa dimensão de mistério.
O espaço do cotidiano, por sua própria natureza, encanta ao permitir que a
pessoa aproxime-se de si mes-
ma, descubra o outro, encontre o Grande Outro, desvende a natureza e se
posicione frente a seus limites.
Do encanto do desconhecido para o encanto do conhecido: encantar que gera um novo encantar,
porque a realidade, uma vez decifrada não pode apenas ser dominada, submetida, usada, mas precisa ser
reintegrada, acolhida como novo desafio.
O encantamento não nos deixa acomodar-nos passivamente aos ditames da sociedade, mas para
subvertê-los a partir de sua raiz mesma.