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O Brasil tem “[...] mais de 800 mil pessoas encarceradas no sistema prisional,
[...] das quais cerca de 40% ainda aguardam julgamento [...]. Das pessoas presas
no Brasil, a grande maioria é homem, dos quais cerca de 30% são acusados por
crimes relacionados ao varejo de substâncias psicoativas tratadas como ilícitas
[...]. Quando olhamos para as mulheres encarceradas, somam-se mais de 60%
destas sob acusação de crimes nos quais as “drogas” – notadamente pequenas
quantidades de substâncias como maconha e cocaína – servem como material
para incriminação. Ainda, cada vez mais observamos, com base em pesquisas
realizadas no sistema prisional junto a mulheres presas provisórias, o grande
número daquelas que, por seus vínculos afetivos, pessoais e sociais com outros
sujeitos já criminalizados, são encarcerados sob a categoria penal do crime de
“associação ao tráfico”.” (p. 6)
“[...] em 2018, mais de 65 mil pessoas cuja vida foi eliminada tiveram sua morte
registrada oficialmente como “homicídio” [...]. Segundo o CNJ, menos de 10%
desses crimes são investigados e encaminhados ao sistema de justiça criminal”.
(p. 6)
“Isto é, o encarceramento em massa, ou o hiperencarceramento de um segmento
específico da população, não corresponde à responsabilização por aquele que
seria um dos crimes mais graves e relevantes, a saber, o crime de matar alguém.”
(p. 6)
“Por outro lado, das vítimas de “homicídios”, cerca de 75% delas são jovens
homens negros. [...] Proporcionalmente, quase 64% do total de mulheres
assassinadas são negras, de acordo com dados apresentados no Atlas da
violência elaborado pelo Ipea em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança
Pública.” (pp. 6-7)
“Tais acusações estigmatizantes e incriminatórias ganham ainda mais
legitimidade por meio da Súmula 70, decisão colegiada dos desembargadores do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que autoriza que, em casos nos quais
houve apreensão de drogas ilícitas, os policiais responsáveis pela ocorrência
sejam as únicas testemunhas do fato.” (p. 7)
“O modo como o controle da população tem sido exercido pelas instituições
estatais pode ser observado pelas ferramentas e técnicas organizadas por uma
burocracia policial e judicial que tem entre suas principais características
elementos da tradição cartorial inquisitorial e de desigualdade jurídica, como
tem examinado o antropólogo Roberto Kant de Lima. [...] “Guerra” essa que tem
sido usada para justificar uma atuação do Estado cujos efeitos têm sido a morte e
o encarceramento da juventude negra e pobre. Em vez de uma política para a
promoção da vida e do bem viver, executa-se uma política que redunda na
produção de morte, sofrimentos e ódio, operada por um mecanismo estatal de
execuções extrajudiciais que, desde institutos médico-legais, delegacias, fóruns e
tribunais, são repercutidas pela mídia e encontram ressonância em uma parte da
sociedade.” (p. 7)