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“(...) Muitos fatores dificultam a superação da prática tradicional, já tão criticada, mas,
dentre muitos, desponta sobremaneira a crença dos educadores de todos os graus de ensino
na manutenção da ação avaliativa classificatória como garantia de um ensino de qualidade,
que resguarde um saber competente dos alunos.” (p.13).
“(...) Essa não é apenas a concepção vigente entre professores, mas a crença de toda a
sociedade e que transparece em noticiários de jornais e da televisão, nos comentários de
pessoas pertencentes a diferentes níveis sociais ou categorias profissionais.” (p.13).
“(...) A crença popular é que os professores tendem a serem menos exigentes do que
tradicionalmente e que as escolas não oferecem o ensino competente à semelhança das
antigas gerações.” (p.14).
“(...) O caminho para o desenvolvimento é uma educação igualitária, que acolha os filhos
dessa geração em conflito e projete essa geração no futuro, consciente do seu papel numa
possível transformação. Se essa criança desde logo for considerada como de um futuro
impossível, não terá nem um tempo justo de provar o quanto poderemos contar com ela.”
(p.18).
Em relação às provas e notas, Jussara Hoffmann coloca como uma espécie de rede de
segurança dos professores “(...) os educadores, em geral, discutem muito “como fazer a
avaliação” e sugerem metodologias diversas, antes, entretanto, de compreender
verdadeiramente “o sentido da avaliação na escola”.” (P.19).
“(...) Toda a sociedade vem se manifestando no mesmo sentido, ou seja, reagindo quando
se fala em abolir o sistema tradicional de realização de provas obrigatórias e atribuição de
notas e conceitos periodicamente, basicamente como “uma rede de segurança” que se
constitui sem se refletir exatamente por quê.” (p.20).
“(...) Qualquer proposta pedagógica de não reprovação (regimes não seriados) no ensino
fundamental não pode ser entendida pelos professores como uma proposta de não
avaliação. Porque se percebe em suas falas que entendem propostas de progressão
continuada como tal eliminação da pratica avaliativa nas escolas (...) o entendimento do
processo em sua amplitude é restrito a poucos educadores. Quando se questiona sobre a
possibilidade de eliminar a avaliação da escola, há inúmeros e entusiasmados adeptos
dessa hipótese. Observo, nessas horas, que não é ao processo amplo que se referem, mas à
obrigatoriedade de realização de provas e atribuição de notas finais.” (p.21,22).
“(...) Qualquer proposta de progressão continuada que parta de tais considerações pelos
educadores sem o repensar da pratica avaliativa no ensino fundamental, corre o risco de
maximizar o abandono às nossas crianças (...) não concordo, ao mesmo tempo, com a
afirmação de que evitar a repetência reforça nossa condição de pais do terceiro mundo.
Porque países, como a Itália, a França e a Alemanha, vêm perseguindo tais princípios há
muitos anos, praticamente zerando, índices de repetência e analfabetismo a partir de tais
propósitos.” (p.23).
AS CHARADAS DA AVALIAÇÃO.
O professor deve ter compromisso diante das diferenças individuais “(...) em que medida o
professor compreende e valoriza manifestações diferentes dos alunos diante de tarefas de
aprendizagem? (...) o aluno constrói o seu conhecimento na interação com o meio em que
vive. Portanto, depende das condições desse meio, da vivência de objetos e situações, para
ultrapassar determinados estágios de desenvolvimento e ser capaz de estabelecer relações
cada vez mais complexas e abstratas (...) numa classe de alfabetização ingressam alunos
oriundos de ambientes dos mais diversos.” (p.43).
“(...) a avaliação mediadora exige a observação individual de cada aluno, atenta ao seu
momento no processo de construção do conhecimento. O que exige uma relação direta com
ele a partir de muitas tarefas (orais ou escritas), interpretando-as (um respeito a tal
subjetividade), refletindo e investigando teoricamente razões para soluções apresentadas,
em termos de estágios evolutivos do pensamento, da área de conhecimento em questão, das
experiências de vida do aluno.” (p.62).
“(...) é necessária a atenção dos professores em relação a “questões em branco” nas tarefas
de aprendizagem. Sem compreender o assunto o estudante não tem como realiza-las. Não
responde, porque a tarefa não chega a ser perturbadora a ponto de leva-lo a inventar
respostas. Sem entendimento somente irá responder por memorização.” (p.67).
“(...) aboliram a prática de realização de provas pelas crianças com dias marcados,
realizando, ao invés disso, varias tarefas menores e sucessivas para serem analisadas pelo
professor, sem a preocupação de atribuir notas ou conceitos a essas tarefas, mas analisando
o desenvolvimento dos alunos ao longo do processo.” (p.72).
“(...) não é muito fácil para a famlia, para os diretores e supervisores abandonar
expectativas seculares sobre o trabalho do professor. E mesmo o controle sobre a qualidade
do ensino que se exerce a partir dai. A compreensão desse principio envolve outra
concepção sobre como de dá o conhecimento pela criança, uma visão construtivista e
educação.” (p.86,87).
“(...) a ação mediadora do professor, a sua intervenção pedagógica, desafiadora, não pode,
ao mesmo tempo, ser uniforme em todas as situações de tarefas dos alunos. Os erros que as
crianças apresentam podem ser de natureza diversa.” (p.90).
RELATORIOS DE AVALIAÇÃO
“(...) os professores, muitas vezes, deixam de ser responsáveis pelo processo alegando
questões atitudinais. Ao mesmo tempo não se sentem responsáveis em oferecer orientação
ao aluno ou oportunizar situações para a formação de tais condutas.” (p.100).
“(...) O aluno é o que o professor observa sobre ele, fugindo às interpretações subjetivas,
coletando dados precisos e o máximo possível fidedigno (...) existe o fato de que tais
estímulos, geralmente, produzem resultados positivos: alguns alunos ou a maioria aprende.
Se a ação produz modificação de comportamento em alguns alunos, então o problema
passa a ser dos alunos e não do professor, sua desatenção ou desinteresse.” (p.114).
“(...) A hipótese que levanto é que o professor evolui da simples constatação e anuncio de
resultados alcançados pelo aluno quando percebe a aprendizagem não se da apenas através
dessa relação “ professor falante e aluno ouvinte”, mas é muito mais complexa e
dependente da história de vida dos educadores e educandos.” (p.115).
“(...) o acompanhamento do processo de construção do conhecimento deveria favorecer o
desenvolvimento do estudante, oferecendo-lhe novas e desafiadoras situações de
aprendizagem, novas leituras ou explicações (...) não significa apenas observar todas as
suas ações e tarefas para simplesmente dizer ou constatar se está apto ou não em
determinada área do saber.” (p.120,121).
“(...) a maior resistência dos professores quanto a esse aspecto reside no fato de que
seguem há muitas décadas uma pratica de provas gerais e ao final dos bimestres e
semestres. Essa pratica, de fato, inviabiliza qualquer possibilidade do acompanhamento e
do dialogo, (...) tal pratica, entretanto, não lhes deixa de ser onerosa em tempo e esforço.”
(P.121).
O CIRCULO AMPLIA-SE
“(...) Piaget (1973), em um dos poucos artigos em que faz recomendações explicitas para a
prática da educação matemática (...) propõe que o papel do professor deve ser o de
organizar situações que provoquem curiosidade e busca de soluções por parte do aluno
(Schliemann etalii, 1992, p. 101).” (p.127).
“(...) a prática avaliativa perseguiu algumas linhas mestras que delineamos (...) oportunizar
aos alunos muitos momentos para expressar suas ideias e retomar dificuldades referentes
aos conteúdos introduzidos e desenvolvidos (...) realizar muitas tarefas em grupos para que
os próprios alunos se auxiliem nas dificuldades, mas garantindo o acompanhamento de
cada aluno a paitir de tarefas avaliativas individuais em todas as etapas do processo.”
(p.127).
“(...) muitos foram os ajustes necessários ao longo da experiência para nos mantermos fiéis
as linhas mestras, de tal forma que ocupamos muitos finais de tarde discutindo nossos
princípios.” (p. 128).
“(...) a pergunta que decorre dessa percepção é sobre as dificuldades em contribuir para a
transformação de uma prática que se constitui fortemente pela história de vida dos
professores, reveladora, sem dúvida, de posturas pedagógicas que parecem condizentes
com as suas posturas de vida.” (P.141).
“(...) a nossa pratica docente, fortemente empirista, nos leva a iniciar tais estudos pelo
resgate teórico. Na maioria das vezes se planejam programas de aperfeiçoamento onde
exposições teóricas ou leitura de texto são seguidas de discussões pelos grupos (...) em
relação a avaliação, observam-se reações das mais curiosas dos professores. Nesses
momentos de estudo, as leituras mais incríveis são feitas.” (p.142).
“(...) os fundamentos de uma ação avaliativa mediadora ultrapassam estudos sobre teorias
de avaliação e exigem o aprofundamento em teorias de conhecimento bem como estudos
referentes a áreas especificas de trabalho do professor.” (p.149).