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Manual de

Práticas de Direito I
Curso Secundário Profissionalmente
Qualificante-10º Ano
Humanidades/Direito

Colectivo de professores de Práticas de Direito do Liceu Nacional :

Prof. Annelyk Ribeiro


Prof. Alimary Frota
Prof. Darnin Correia Prof. Suleyman Ten
Jua

2014/2015 Liceu Nacional 2º Período - CSPQ


Direito civil-Direito Processual
Civil/características e princípios PROFESSORA: ANNELYK RIBEIRO

4.1- RAMOS DE DIREITO

A princípio é importante ter em mente que o Direito é um todo harmónico, com


seus princípios e regras fundamentais que estruturam todo o sistema jurídico.
Entretanto, para facilitar o estudo, é necessário distinguir algumas categorias. O
Direito possui uma classificação muito relevante que o distingue em dois grandes
ramos: Direito Público e Direito Privado. Há, na doutrina, inúmeros debates
jurídicos a respeito dessa distinção, chegando existir, inclusive, teorias a respeito
do tema.

Tratando-se de uma divisão tradicional do Direito não é contudo pacífica a sua


distinção, surgindo alguma polémica no que respeita aos traços que caracterizam
cada uma destas divisões. Na verdade, foram avançados, ao longo dos tempos,
vários critérios de distinção suscetíveis de caracterizar cada uma destas divisões,
sem contudo se ter encontrado um critério totalmente satisfatório.

No entanto, aquele critério de distinção que tem gerado mais concordância, é o


chamado critério da posição dos sujeitos.

Segundo este critério, o Direito Público distingue-se do Direito Privado pelo facto
de, no Direito Público, serem reguladas relações entre dois sujeitos, em que um
deles (a entidade pública/Estado) está numa posição de supremacia perante o
outro (o particular), em virtude de se encontrar no exercício de poderes públicos
(ius imperii).

De forma diferente ocorre no caso do Direito Privado, enquanto categoria do


Direito, e que disciplina um conjunto de relações entre sujeitos em igualdade de
posição, ou seja, enquanto simples particulares.

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Exemplos elucidativos desta diferença entre as duas categorias, podem referirse


os casos do Direito Fiscal, enquanto ramo do Direito Público, (a relação de
supremacia entre, por um lado, o ente público fiscalizador, no exercício de um
poder de autoridade público, e o cidadão contribuinte) e ainda o caso do Direito da
Família, como ramo do Direito Privado, (por exemplo, a relação igualitária
existente entre dois cônjuges ligados pelo matrimónio).

Ainda de acordo com o critério acima apontado, são também de Direito Público
aquelas regras ou normas que disciplinam a organização e atividade do Estado e
de outras entidades públicas, como por exemplo as autarquias, e ainda as normas
que regulam as relações desses entes públicos entre si, no exercício dos poderes
que lhes competem.

Para além destas normas, incluir-se-ão, na categoria do Direito Público, todas as


normas que regem as relações entre os entes públicos e os cidadãos, sempre que
os primeiros se encontrem revestidos de poderes de autoridade conferidos pela
lei.

O Direito Público é, portanto, um direito composto por regras jurídicas que


vão disciplinar relações entre sujeitos em posições desiguais.

Diferentemente se passa no Direito Privado, em que os ramos do Direito, e as


normas que estes dispõem, vão incidir sobre relações entre sujeitos que se
encontram numa posição de igualdade.

Esta última categoria do Direito (Direito Privado) integra, assim, normas jurídicas
que regem as relações entre simples particulares e ainda as relações entre
particulares e entes públicos, quando estes últimos não atuem revestidos de
poderes de autoridade. São, portanto, relações de paridade e não de supremacia
as relações que são objeto desta categoria do Direito.

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Dessa forma, pode-se dizer que são ramos do Direito Público: o Direito
Constitucional, Administrativo, Financeiro, Penal, Internacional Público,
Internacional Privado e Processual. E os ramos do Direito Privado são: Direito
Civil, Direito Empresarial, Direito do Trabalho. É importante dizer, nesse momento,
que o que se pretende não é fornecer conceitos específicos de cada um dos
ramos acima citados, mas tão-somente abordar, de forma bastante genérica, do
que tratam cada um desses ramos.

 RAMOS DO DIREITO PÚBLICO

Direito Constitucional: as normas de Direito Constitucional são normas internas


e estruturais cada Estado. Elas disciplinam as instituições políticas, a estrutura de
governo, organização dos poderes do Estado, limites de funcionamento, a
sociedade, e as garantias fundamentais de cada indivíduo. Seriam normas que
fornecem um modelo para as demais leis que surgirem. São normas que montam
toda a estrutura da sociedade e ditam os parâmetros econômicos, políticos e
sociais.

Direito Administrativo: é o ramo do Direito Público que regulamenta a atividade


estatal, com todos os serviços públicos postos à disposição da sociedade, em
busca do bem comum. Vale dizer que o Direito Administrativo se preocupa com a
prestação do serviço público, a forma e limites de atuação e ainda disciplina o
relacionamento entre entes públicos e privados, e a relação dos indivíduos com a
Administração Pública.

Direito Financeiro: O Estado, para prestar os serviços públicos em prol dos


cidadãos, necessita de recursos, que advém dos tributos (impostos, taxas e
contribuições). Assim, seria a preocupação central do Direito Financeiro, o estudo
dos princípios e diretrizes que norteiam a forma de aplicação, administração e
gerenciamento desses recursos públicos para a execução destes serviços, e

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ainda o planejamento necessário de forma que a receita e despesa pública se


equilibrem no grande orçamento público. É a intenção do

Direito Financeiro que o Estado empregue seus recursos da maneira mais


eficiente possível para a sociedade.

Direito Penal: ramo do Direito que disciplina as condutas humanas que podem
pôr em risco a coexistência dos indivíduos na sociedade. O Direito Penal vai
regular essas condutas com base na proteção dos princípios relacionados à vida,
intimidade, propriedade, liberdade, enfim, princípios que devem ser respeitados no
convívio social. Dessa forma, o Direito Penal vai descrever as condutas
consideradas crimes (condutas mais graves) e contravenções (condutas menos
grave) e as respectivas penas cominadas. Vale dizer que o Estado é o
responsável pelo direito de punir, e o faz mediante critérios préestabelecidos, com
o intuito de desestimular os indivíduos a transgredirem as normas, e, também, de
readaptar o indivíduo ao convívio social.

Direito Internacional Público: é o ramo do Direito voltado a disciplinar as


relações entre os vários Estados, possuindo princípios e diretrizes, que visam uma
interação pacífica entre os Estados, tanto na esfera política, econômica, social e
cultural. Vale dizer que são criados organismos internacionais, tais como a ONU
(Organização das Nações Unidas) e a OMC (Organização Mundial do Comércio),
para auxiliar na descoberta de interesses comuns, e de que forma interação dos
Estados vai se dar.
Os instrumentos dos acordos entre os Estados são denominados tratados.

Direito Internacional Privado: ramo destinado a regular a situação do


estrangeiro no território nacional, pois como o estrangeiro está em local diverso de
seu país, haveria um conflito de leis a serem aplicadas no caso concreto: a lei
estrangeira, ou do local onde o indivíduo se encontra? Assim, a base do Direito
Internacional Privado seria regular essas relações e estabelecer diretrizes e
normas, dirigidas às autoridades para a resolução inerente a esses conflitos.

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Direito processual: para definir o objeto de estudo desse ramo do Direito,


primeiramente, é importante dizer que é o Estado que detém o poder de aplicar o
Direito, estabelecendo a ordem, aplicando as penalidades, e solucionando os
conflitos entre as partes, por meio de um processo judicial. Dessa forma, o ramo
em questão visa disciplinar de que forma isso vai se dar, estabelecendo princípios
e regras a serem previamente obedecidas, tanto pelo Estado, quanto pelas partes
na disputa judicial. Assim a função do Direito processual é organizar a forma de
como o Estado vai prestar esse poder-dever de julgar, e como as partes devem
agir no embate judicial.

 RAMOS DO DIREITO PRIVADO

Direito Civil: ramo do Direito Privado por excelência, pois visa regular as relações
dos indivíduos, estabelecendo direitos e impondo obrigações. O Direito Civil atua
em toda a vida do indivíduo, pois disciplina todos os campos de interesses
individuais. O Código Civil, ou seja, reunião de todas as leis de Direito Civil, é
estruturado em duas grandes partes: geral, que contém normas de caráter
abrangente, que servem a qualquer área do Direito Civil e parte especial, que trata
dos assuntos específicos. Na parte Geral encontram-se os livros que contêm os
temas relativos às pessoas, aos bens e aos fatos jurídicos. Já a parte especial os
livros são: obrigações, Direito de Empresa, Direito das Coisas, Direito de Família,
Direito das Sucessões e um livro complementar das disposições finais e
transitórias. Assim verifica-se que o Direito Civil abrange todas as áreas do
relacionamento humano, que serão objeto de estudo durante todo o Curso de
Direito.

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Direito do Trabalho: é um ramo que se destina a disciplinar as relações de


trabalho, estabelecendo princípios e regras, de forma a evitar a exploração pelo
do trabalho, e conceder direitos e obrigações recíprocos tanto aos que prestam os
serviços, quanto para àqueles cujos serviços se destina.

OBS: Há discussão entre os juristas se o Direito do Trabalho seria um ramo do


Direito Público ou Privado. Por muito tempo, vários autores entenderam se tratar
de um ramo do Direito Público, pois apesar de suas normas disciplinarem
relações privadas, a vontade das partes ficaria limitada às regras préestabelecidas
pelo Estado. Contudo com o passar do tempo entenderam se tratar de ramo do
Direito Privado, pois predomina o interesse particular, em detrimento da natureza
das regras públicas. Há autores que atentam, ainda, para uma classificação mista,
pois o Direito do Trabalho teria uma esfera pública, e outra privada.

Exercícios

1. Identifica os ramos do Direito que conheces.


2. Estabeleça a distinção entre o Direito Público e Privado.
3. Indica os ramos do Direito Público e Privado que conheces.
4. Dê a noção do Direito Civil.

4.2- DIREITO CIVIL

Direito civil - é o conjunto de normas (regras e princípios) que regulam as


relações entre os particulares. É o direito do dia-a-dia das pessoas, nas suas
relações privadas. É o direito que disciplina substancialmente as relações de
pessoa a pessoa, é um direito privado comum ou geral 1.

1 - Introdução ao estudo do Direito- 12º ano- Almerinda Dinis, Evangelina Henriques e Maria Isidra
Contreiras, com a participação e revisão científica do Prof. Doutor Jorge Miranda, pagina 250.

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É o principal ramo do direito privado, o tronco comum e subsidiário dos outros


ramos autónomos do direito privado. Importa salientar que é um direito
subsidiário porque, sempre que surja um caso a resolver que não esteja
previsto noutros ramos, se terá que recorrer as normas contidas no direito civil.
Tutela coercivamente os interesses das pessoas2.

O Direito Civil (direito substantivo) é o direito privado comum ou geral cujo


campo de acção tende a estender-se a todas as relações de direito privado,
excepto aquelas que se tornam objecto de um direito especial. Ex. direito
comercial, do trabalho, etc3.

No entanto, o direito ganha outro carácter quando se trata da sua vertente


adjectiva, ou seja o Direito processual – este por sua vez, é o conjunto de
normas que fixam os termos a determinar na propositura e desenvolvimento de
uma acção3 (pode ser civil, criminal, administrativa, fiscal) que os particulares
ou o Estado submetem a julgamento.

Na instauração e desenvolvimento de acções cria-se entre os particulares e o


Estado uma relação na qual o Estado intervém, munido do seu Imperium4.
Neste caso o estado não está em pé de igualdade com os particulares, pelo
contrário ele aparece exercendo uma função típica de soberania, através dos
órgãos jurisdicionais, tendo as medidas uma natureza executiva.

É através do direito processual que se determina o tribunal competente para


propositura de uma acção (competência jurisdicional) sendo que o direito
processual penal e civil são os dois ramos mais importantes do direito
processual.

2 Idem, 258 3
Idem, pagina 258
3 Ibidem, pagina 249.
4 Imperium: voz lat. Poder supremo, soberania.

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O direito processual pode ser civil, penal, administrativo, fiscal, do trabalho


entre outros, depende do tema a tratar. No caso impõe – nos definir o direito
processual civil, já que, é este tema que nos ocupa. Assim …

DIREITO PROCESSUAL CIVIL- é o conjunto de normas que estabelecem os


termos a observar na propositura e no desenvolvimento das acções cíveis, ou
seja, nas acções fundadas no direito civil. Por outras palavras é o conjunto de
regras e comandos normativos que acompanham a vida de uma acção em
tribunal desde que ele é instaurado até ser proferida a decisão que lhe ponha
termo5.
Em suma o direito civil é um conjunto de regras, de dever ser, que quando
violadas, recorre-se ao direito processual civil que é a aplicação prática do
primeiro, onde estão os comandos, os meios necessários para repor o direito
quebrantado.

4.3- CARACTERÍSTICAS E PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

 Características do Direito Processual Civil São


as seguintes:
1. Direito público 2. Direito de acção 3. Direito instrumental (adjectivo)

O facto do DPC pertencer ao ramo do direito publico: é público devido ao


facto de disciplinar uma função pública, a já referida função jurisdicional do
Estado na qual este aparece investido de soberania, impondo uma autêntica
subordinação às partes, o que explica/justifica o carácter vinculativo das
decisões judiciais6.

Embora existam vozes discordantes de que o DPC não seja um ramo do direito
público e sim do ramo do direito privado. Como justificação está o facto de o

5 - O novo processo civil- António Montalvão Machado e Paulo Pimenta – 5ª edição, setembro de 2003.
6 - O novo processo civil- António Montalvão Machado e Paulo Pimenta – 5ª edição, setembro de 2003,
pág. 12, 13, 14.

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DPC regular as relações, os conflitos de interesses entre os particulares, logo


deveria por isso ser considerado privado7.
No entanto há outras razões para o considerar como sendo ramo do direito
público, como o facto de se alcançar um interesse público, da boa
administração da justiça em geral, e consequentemente o da obtenção da paz
social, através de soluções acertadas aos diversos conflitos e interesses das
partes8.

Actualmente com a nova visão do DPC as decisões (sentenças) já não são


consideradas uma resolução isolada de um determinado litígio 9, de uma
pessoa, mais sim (e também) como um decisivo contributo a perseguição da
tão almejada paz social (justiça).

2- É um direito de acção: ou seja é um simples poder jurídico de provocar a


actividade do tribunal, ou um mero direito cívico à administração da justiça.
Este direito de acção não pode ser interpretado como um direito exercido
contra o Estado, mas antes como um direito exercido perante o Estado,
reconhecendo-se ao juiz uma função de quase exclusivamente arbitral e
decisória em relação ao litígio10.

3- É também um direito instrumental (adjectivo): na medida em que ele está


ao serviço do direito civil, “funcionando” como instrumento de aplicação concreta
deste à realidade e ao quotidiano.
Porque o direito civil é um direito substantivo ou material, nele estão integrados
abstracta e genericamente um conjunto de direitos e deveres reguladores das
relações entre os indivíduos. No entanto se esses direitos e deveres forem
efectivamente violados, e houver necessidade de se acudir aos Tribunais para

7 Idem
8 Idem
9 Significa conflito concreto de interesses digno de ser apresentado à consideração de uma entidade
independente (em regra o tribunal) para efeito de uma justa composição desses interesses. Vid. Ana
Prata, dicionário jurídico, 2014, 5º edição, volume I.
10 Ibidem, pagina 13, 14.

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fazer valer esses direitos e deveres, competirá ao DPC fornecer ao titular dos
respectivos direitos o método e a técnica de os executar judicialmente.
Logo é evidente a importância do direito processual civil.

 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1- Princípio do dispositivo art.º. 264º CPC


2- Princípio do contraditório artº 3.1.2 CPC
3- Princípio da igualdade das partes art. 3 CPC
4- Princípio da cooperação artº. 265º CPC
5- Princípio da aquisição processual artº. 515º CPC

Por ser reguladora da conduta dos particulares, a norma civil, dirige-se


principalmente aos cidadãos, por isso o processo civil é essencialmente
dispositivo, isto é, dependente da livre disponibilidade das partes, podendo
estas instaurá-lo ou não (dominus litis11), fazer a acção continuar ou não, e
inclusivamente pôr-lhe cobro através da celebração de um acordo

(judicial/extrajudicial)12.

O princípio do dispositivo assume particular relevância em três questões


seguintes:
a) No impulso processual, art. 264.1 CPC
b) Na delimitação do objecto do litígio, art.
c) Nos limites da sentença art.º 661.1º CPC

a) O princípio do dispositivo neste caso implica que a acção derive da pura


vontade das partes, dos particulares. A acção só existe a partir do momento da
11 Voz lat. Dono, senhor do litígio, litigante.
12 O novo processo civil- António Montalvão Machado e Paulo Pimenta – 5ª edição, setembro de
2003, pág. 25, 26. 14 Idem,

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apresentação da Petição inicial (art. 267.1 CPC) tal apresentação é a


expressão de um poder atribuído aos particulares de disporem da sua esfera
jurídica própria.14
Neste sentido difere do que acontece no Direito Penal – o principio da
oficialidade- através do qual o Estado em principio age por sua conta logo que
há noticia da pratica de um crime, não aguardando pela iniciativa privada, o
que se justifica pela necessidade de salvaguarda dos interesses da
colectividade13.
b) Na delimitação do objecto do litígio – implica que cabe as partes
definirem os contornos fácticos do litígio, devem ser elas a levarem para os
autos os factos segundo os quais o tribunal se pode basear para decidir. O
autor alega os factos que dão consistência a sua pretensão, e ao réu competira
alegar factos que servem de base a sua defesa 14.
c) Limites da sentença- também é por força do principio do dispositivo que
o tribunal apesar de legitimado para assegurar o direito objectivo, jamais pode
condenar em objecto diverso do peticionado, ou em quantidade superior à
peticionado pelo autor (salvo exceções). Porque a sentença deve sempre
corresponder a demanda, há um limite absoluto aos poderes do Tribunal – o da
correspondência necessária entre o pedido e o resultado 15.

2- Princípio do contraditório – este princípio assegura que todo o pedido,


requerimento, afirmação ou prova apresentada por uma das partes, possa ser
contestado ou impugnado pela contraparte. Por haver um sujeito titular e o
outro obrigado, desencadeia a chamada bilateralidade da acção 16, e impõe que
se respeite o princípio do contraditório, o qual tem duas manifestações:

13 Idem
14 Ibidem, 26, 27.
15 Idem, Pág. 26.
16 O novo processo civil- António Montalvão Machado e Paulo Pimenta – 5ª edição, setembro de 2003,
pág. 28.

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a) Que não podem ser tomadas quaisquer providências contra


determinada pessoa sem que esta seja previamente ouvida, sem
prejuízo das excepções previstas na lei.
b) Que não pode o juiz decidir quaisquer questões de facto ou de direito,
sem que as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se
pronunciarem.

3- Princípio da igualdade das partes – ou da paridade processual –


significa que o tribunal deve assegurar ao longo de todo o processo um
estatuto de igualdade substancial das partes, nomeadamente no exercício de
faculdades, no uso de meios de defesa e na aplicação de cominações ou de
sanções processuais. Basicamente este principio vem respeitar o que esta
constitucionalmente consagrado na constituição sobre a igualdade dos
cidadãos perante a lei. Veja-se art.º 15 da Constituição da República de STP 17.

4- Princípio da cooperação – significa que a partir deste princípio as


partes, seus mandatários forenses (advogado e solicitadores) e o próprio juiz
devem colaborar entre si contribuindo para se obter, com brevidade e eficácia a
justa composição do litígio. Assim as partes devem mostrar-se sempre
disponíveis para fornecer ao Tribunal quaisquer informações e esclarecimentos
solicitados, comparecer quando convocados, e praticar actos que lhes forem
determinados, como estabelece o art.º 265 do CPC.

5- Princípio da aquisição processual – significa que todas as provas


produzidas no processo devem ser tomadas em consideração pelo tribunal
ainda que não tenha emanado da parte que devia produzi-las (veja - se o art.
Exercícios

Caso prático nº 1

Maria Antónia celebrou um contrato de compra e venda de um automóvel ligeiro


marca Peugeot, com o senhor Carlos Caradura. O contrato estipulava que o

17 Idem pagina 29.

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automóvel avaliado em 24 milhões seria entregue ao comprador Carlos e só


depois de passados uma semana o mesmo pagaria o citado valor, depositando o
dinheiro na conta da Sr. Maria Antónia. Acontece porém que passados que são
dois anos o senhor Carlos Caradura, não efectuou o pagamento conforme
acordado no contrato. Insatisfeita com a situação ela dirigiu – se aos Tribunais em
pranto porque considerava que este órgão judicial não a ajudou a resolver o seu
problema que era público e notório, muito embora S. Maria jamais se tivera
queixado contra o faltoso naquele órgão. No Tribunal foi informada que nada
podiam fazer já que ela deveria efectuar a respectiva queixa. Procurou orientação
com um advogado bem conceituado e este lhe informou que ela tem direito a
interpor uma acção correspondente contra o senhor que lhe devia dinheiro. Maria
interpôs acção nos tribunais alegando os factos acontecidos e no pedido, formulou
que o Sr. Carlos deveria pagar-lhe o valor em divida. O tribunal analisou a questão
e decidiu que não valia a pena ouvir o réu, já que no processo estavam todas as
provas essenciais para decidir com consciência e a letra da lei. Assim sendo lavrou
a sentença e condenou o Sr. Carlos Caradura a pagar a quantia em divida e
considerou ainda que tendo o réu incumprido a dívida por dois anos deveria pagar
um juro de um milhão por cada mês que passou, até o momento da sentença.

Perguntas:

Antes de responder às questões que te são colocadas, leia o texto com muita
atenção, e responda com clareza, objectividade, e fundamente sempre que for
preciso as questões que te são colocadas segundo as características e princípios
fundamentais do Direito Processual Civil.

1- No primeiro momento consideras que a actuação do Tribunal foi correcta?


Pode-se considerar que está em causa a característica pública do DPC?

2- Tendo interposto a acção contra o Sr. Carlos Caradura, de que


característica e princípios do DPC o Sr. Maria se valeu para o efeito?
Explique pormenorizadamente.

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3- Segundo o conteúdo da sentença, teça criticas sobre a mesma, analisando


que princípios processuais que foram violados.

4- Suponhamos que durante os trâmites processuais o advogado do senhor


Carlos e o mesmo fora chamado inúmeras vezes para prestar declarações
e fornecer provas. No entanto por ter muitos trabalhos eles nunca
compareceram no tribunal, nem enviaram as provas requeridas pelo juiz.
a) Que princípio não foi observado pelo advogado e o seu constituinte.

5- Os deveres e os direitos regulados no direito civil são para se cumprir, no


entanto caso haja uma violação do mesmo como aconteceu com a senhora
Maria a quê ramos do direito devemos recorrer? Segundo que
característica?

Caso prático 2

Camila Sátiro celebrou um contrato de compra e venda de uma moto marca


Suzuki, com o senhor André Paiva. O contrato estipulava que a moto avaliada em
24 milhões seria entregue ao comprador André Paiva e só depois de passados
uma semana o mesmo pagaria o citado valor, depositando o dinheiro na conta da
Sr. Camila Sátiro. Acontece porém que passados que são dois anos o senhor
André Paiva, não efectuou o pagamento conforme acordado no contrato.
Insatisfeita com a situação Camila dirigiu – se aos tribunais em pranto porque
considerava que este órgão judicial não a ajudou a resolver o seu problema que
era público e notório, muito embora Camila jamais se tivera queixado contra o
faltoso naquele órgão.
No tribunal foi informada que nada podiam fazer já que ela deveria iniciar em
instância competente um processo para salvaguarda do direito violado. Procurou
orientação com um advogado bem conceituado e este lhe informou que ela tem

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 15


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direito a interpor uma acção correspondente contra o senhor que lhe devia
dinheiro. Maria interpôs acção nos tribunais alegando os factos acontecidos e no
pedido, formulou que o Sr. Carlos deveria pagar-lhe o valor em divida. Durante a
tramitação processual o advogado do André e ele próprio nunca compareceram
para fornecer provas ou dar explicações, apesar de devidamente notificados para
o efeito. O tribunal analisou a questão e decidiu que não valia a pena ouvir o Sr.
André, já que no processo estavam todas as provas essenciais para decidir com
consciência e a letra da lei. Assim sendo lavrou a sentença e condenou o Sr.
André a pagar a quantia em dívida e considerou ainda que tendo o réu incumprido
a dívida por dois anos deveria pagar um juro de um milhão por cada mês que
passou, até o momento da sentença.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 16


Direito civil-Direito Processual
Civil/características e princípios PROFESSORA: ANNELYK RIBEIRO

PERGUNTAS

Antes de responder às questões que te são colocadas, leia o texto com muita
atenção, e responda com clareza, objectividade, e fundamente sempre que for
preciso as questões que te são colocadas.

Segundo as características e princípios fundamentais do Direito Processual Civil


responda.

1- No primeiro momento consideras que a actuação do tribunal foi correcta?


Pode-se considerar que está em causa a característica pública do DPC?
2- Tendo interposto a acção contra o Sr. André Paiva, de que característica e
princípios do DPC o Sr. Camila Sátiro utilizou para o efeito? Explique
pormenorizadamente.
3- Que princípio do DPC não foi observado pelo advogado e o seu
constituinte.
4- Qual o tribunal competente para conhecer do problema que tem a Camila?

515 do CPC)18.

18 Idem pagina 29 e 30.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 17


Petição Inicial / Acesso aos
Direitos e aos Tribunais PROFESSORA: ALIMARY FROTA

4.5 - AS ACÇÕES

Acção- é um acto, uma faculdade ou direito inerente ao cidadão de buscar


solução nos órgãos jurisdicionais sobre algum litígio. A faculdade de por a
máquina jurisdicional em funcionamento. Segundo dicionário jurídico 19, a acção é
o direito e simultaneamente o processo de fazer reconhecer um direito em juízo
ou de o realizar coercivamente.

Processo - provém do latim “procedere”, que significa avançar, progredir, é uma


sucessão lógica de actos e figuras técnicas devidamente previstas na lei. É a
sequência de actos destinados á justa composição, por um órgão de autoridade
imparcial (o Tribunal), de um conflito de interesses ou litigio 20.

Nos tribunais podem ser instauradas vários tipos de acções.


Nas causas cíveis ou alguém pede ao tribunal que “declare” a existência ou
inexistência de um direito ou de um facto, que “declare” que uma determinada
pessoa violou um determinado direito e a condene a repara-lo ou que “autorize”
uma mudança na ordem jurídica, e chamar-se- à então, acção declarativa (art.º
4.1 e 2 do CPC)21.
Ou pode por outro lado, alguém que já possuí um titulo reconhecido por lei que lhe
da direito de exigir de determinada pessoa pagamento de uma certa quantia, a
prestação de um facto, ou a entrega de certa coisa, mais não consegue obter o
cumprimento desse título por meios voluntários, vem pedir ao tribunal que
“execute” o devedor obrigando-o a cumprir- chamar-se-á então acção executiva
(art.º 4.1 e 3 do CPC)4.

19 Dicionário jurídico de direito civil, Ana Prata, 5º edição, volume I, 2014, pagina 15.
20 Idem, pagina 1131.
21 Jorge Constantino e Mário Figueiras, jurisdição Cível – programa PIR PALOP II, Novembro 2003, pág. 48.
4
Idem, pág. 48.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 18


Petição Inicial / Acesso aos
Direitos e aos Tribunais PROFESSORA: ALIMARY FROTA

CLASSIFICAÇÃO DAS ACÇÕES

(Quanto ao seu objecto, ou seja o fim que pretendem atingir, baseando no


pedido concreto que o autor formula)

- De simples apreciação: positiva /negativa


Declarativas
- De condenação
Acções Artº. 4.1; 4.2. a.
- Constitutivas
Art.º 4 b. c. CPC
CPC
- Para pagamento de quantia certa
Executivas - Para entrega de coisa certa
Art.º 4.3, CPC - Prestação de facto positivo ou negativo

O código processo civil (doravante CPC), estabelece no seu artº 4º as espécies de


acções consoante o seu fim, referindo-se então que as acções podem ser
declarativas ou executivas.

Nas acções declarativas- o que o autor pede ao Tribunal é que o tribunal profira
uma declaração final de direito, isto é uma sentença que ponha cobro ao conflito
que o separa do réu e que dessa forma componha definitivamente tal litígio 22. Em
suma o fim da acção declarativa consiste nessa declaração de o juiz vai proferir, a
qual vai solucionar o caso submetido a julgamento.

Exemplo: A. Julga-se credor de B. por determinada quantia, no entanto B. recusa-


se a pagar. Perante este incumprimento, o credor A, instaura no tribunal uma
acção pedindo a condenação de B. no pagamento dessa quantia. Caberá a A.
Invocar e tentar provar os fundamentos da acção, ou seja os factos constitutivos
do direito de crédito alegado, e a B competirá invocar e provar os fundamentos da
sua defesa6.

22 O novo processo civil- António Montalvão Machado e Paulo Pimenta – 5ª edição, pág.
31 6 Idem,31

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 19


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Como se pode ver, ao accionar o aparato judicial, um conflito de interesse


particular transferido para o tribunal converte-se em um litígio judicial. Neste caso
o que o autor (A) pede é que o juiz profira uma declaração- sentença- através da
qual poderá a sua acção ser julgada materialmente procedente, condenando o réu
a pagar a quantia em dívida, se o juiz pode intender que o autor tem razão.

Por outro lado a acção poderá ser julgada improcedente, absolvendo-se desta
forma o réu do pedido formulado pelo autor.

Importa salientar que a acção declarativa esgota-se com essa sentença, ou


declaração, o que não significa que o réu apesar de condenado cumpra com a
decisão emergente de um órgão decisório- o tribunal.

A sentença -declaração- proferida pode ter sido favorável ao autor, mas o réu
pode não pagar. Se isto acontece o autor já não pedira ao tribunal que declare um
direito (de que já dispõe e o próprio tribunal já reconheceu), o autor ira sim pedir
ao tribunal que tome medidas ou providencias materialmente necessárias e/ou
adequadas a reparação efectiva do seu direito violado. O autor fará isso através
de uma acção executiva (artº4.3), vai pedir a execução da sentença
condenatória. No entanto nem sempre a acção declarativa segue depois uma
acção executiva, e pode existir uma acção executiva sem antes preceder uma
acção declarativa (este conteúdo será objecto de estudo mais a frente ainda nesta
unidade).

A acção declarativa de condenação têm por fim estabelecer a prestação de uma


coisa ou de um facto pressupondo ou prevendo a violação de um direito 23.
Resumindo essa acção visa obter a condenação do réu no cumprimento de uma
obrigação. Art.º 4.2.b) CPC.

Segundo a Lei a acção de condenação tem lugar, ou origem num estado de


violação de direito. Neste sentido ao autor compete - na petição inicial – alegar a
titularidade desse direito, invocar a sua violação por parte do réu e pedir que o
tribunal não só confirme por declaração judicial (por sentença) tais titularidade e
violações, como também condene o demandado a realizar uma prestação
reintegradora desse direito.
23 Ibidem, pag.33

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 20


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O que significa que o pedido de condenação pode consistir não só na reintegração


da coisa, como também numa indeminização reparadora dos prejuízos sofridos
pelo autor. A sentença obtida numa acção de condenação serve de ponto de
partida para a instauração de uma acção executiva.

Nesta acção o autor pede para que o réu seja condenado a pagar determinada
quantia, a entregar determinado objecto, a prestar qualquer facto, ou a absterse
de determinada conduta.

Exemplo prático: A. emprestou a B. uma determinada quantia em dinheiro que B.


se obrigou a restituir em data acordada entre os dois. Se B. não cumprir não
cumprir com a obrigação assumida o credor pode instaurar uma acção judicial,
alegando os factos constitutivos do seu direito e a violação do mesmo pelo réu,
pedindo que o tribunal reconhecidas que sejam a existência do seu direito de
crédito e a correspondente violação do dever de pagar condene o réu na
restituição da quantia devida24.

Outro exemplo seria o facto de C e D ocuparam um prédio urbano, sem


autorização e contra a vontade do seu legítimo proprietário, E. Perante esta
situação ilícita E. pode instaurar uma (acção de reivindicação do seu direito de
propriedade) contra os abusivos ocupantes, invocando a titularidade do seu direito
de propriedade e a violação do mesmo cometida pelos réus pedindo que –
reconhecidos que sejam os seus e a alegada violação do mesmo, os réus sejam
condenados a entregar-lhe a o prédio.

Acção declarativa de simples apreciação- é aquelas que visam obter


unicamente a declaração do da existência ou inexistência de um direito ou de um
facto, art.º. 4.2.a) do CPC.

Essa acção pode ser de simples apreciação positiva- quando se pretende a


declaração da existência de um direito ou de um facto.
É de simples apreciação negativa quando seja para a declaração de inexistência
de um direito ou de um facto.

24 Ibidem, pág. 34

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 21


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Este tipo de acção é motivada pela necessidade de reagir contra uma situação de
incerteza acerca da existência ou inexistência de um direito ou de um facto. A
diferença do que acontece nas acções de condenação, em que o motivo é da
instauração da acção é o incumprimento de qualquer obrigação por parte do réu,
nas acções de simples apreciação o autor apenas solicita que o tribunal aprecie a
situação de incerteza jurídica e ponha cobro a tal insegurança, declarando se
determinado direito (ou facto) existe ou não, conforme se peticionou.

Aqui o juízo apreciativo que o juiz fará é o fim único que se pretende atingir. Na
acção de condenação ha também o juízo apreciativo sobre o facto, mas este é
apenas um meio uma primeira etapa do raciocínio para se chegar ao fim – que
seria então a possível condenação.

Em suma na acção de simples apreciação não se exige do réu prestação alguma,


porque não se lhe imputa a falta de cumprimento de qualquer obrigação. O autor
tem como objectivo por termo a uma situação de incerteza jurídica que o
prejudica.

Exemplo: A. para ter acesso a via publica passa a já vários anos pelo terreno que
é propriedade de seu vizinho B. Este a dado momento, começa a afirmar
publicamente que aquela travessia é só é feita por A. por sua mera tolerância e
favor. No entanto A. entende que que o prédio por onde vem atravessando está
na verdade, onerado por um direito de servidão de passagem a seu favor. Por sua
vez B. tem opinião contraria conforme afirma publicamente.

Então esta situação de dúvida jurídica e de desconformidade de opiniões,


susceptível de causar prejuízos a A. pode leva-lo a propor uma acção como forma
de por cobro a tal diferendo.

Nesta acção ele vai pedir ao tribunal que aprecie a situação e declare que o prédio
do réu está, na verdade onerado com o direito de servidão de passagem, ou seja

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 22


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vai pedir que se declare a existência de determinado direito - vai instaurar para
isso uma acção de simples apreciação positiva25.

Atenção- B não cometeu qualquer conduta violadora de uma obrigação a cujo


cumprimento estivesse adscrito, nem o demandante A, pede ao tribunal que ele
seja condenado a cumprir seja o que for.

Contudo na acção de simples apreciação negativa cabe ao autor alegar pela


negativa a inexistência de um determinado direito ou facto, competindo ao réu que
vinha alegando extrajudicialmente (fora dos tribunais) a existência desse direito,
provar pela positiva se de facto o mesmo existe.

Exemplo: A. vem afirmando publicamente ser titular de um direito de crédito sobre


B. Facto este que no entender de B. não constitui a verdade. Perante esta
situação B. pode pedir ao tribunal que declare a inexistência de tal crédito. B. pode
sentir-se prejudicado por constar publicamente que deve determinada quantia a
A10.

Acções declarativas constitutivas – são aquelas que visam autorizar uma


mudança na ordem jurídica existente, artº. 4.2.c) CPC.

Com as acções constitutivas pretende-se produzir um novo efeito jurídico, seja


criando uma relação jurídica nova (constitutivas), seja modificando
(modificativas) ou extinguindo (extintiva) uma relação jurídica já existente. Aqui
nesta acção o autor não peticiona a condenação do réu no cumprimento de
qualquer obrigação (como nas acções de condenação), nem reage contra uma
situação de incerteza ou insegurança jurídicas (como acontece nas acções de
simples apreciação). O que sim o autor pretende sim é a um novo efeito jurídico
material, a ser declarado na respectiva sentença.

25 O novo processo civil- António Montalvão Machado e Paulo Pimenta – 5ª edição, pág.
38 10 Idem, pág. 37.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 23


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Exemplo: as acções constitutivas stricto sensu: pode ser a acção destinada a


constituir uma servidão de passagem, art.1550 do CC, e a acção de preferência,
art.º. 1410 CC.

- As acções constitutivas modificativas: acção tendente a uma modificação


de servidão, art.º 1568º CC, e a acção de simples separação de bens, art.º 1767º
CC.

- As acções constitutivas extintivas- acção de divórcio litigioso, a que alude o


art.º 1779 CC.

Por ultimo a divisão das acções declarativas em três espécies não significa que
elas tenham que ser estudadas ou intentadas por separado, na medida em que na
mesma acção podem cumular-se diversos pedidos – pretensões. Ex. Podese
pedir que o réu seja condenado a pagar determinada quantia e entregar certa
coisa.

Nas acções declarativas as partes denominam-se: autor (aquele que


demandante) e réu (demandado- contra quem se peticiona).

AS ACÇÕES EXECUTIVAS

Nas acções executivas as partes denominam-se exequente (aquele que propõe a


acção) e executado (aquele que contra quem se peticiona).

São executivas as acções em que exequente pede ao tribunal, a adopção de


medidas ou providências materiais adequadas a reparação efectiva do direito
violado. Como consta do art. 4.3 do CPC.

O que se pretende é que o direito declarado por uma sentença, ou documento de


força equivalente seja – seja reparado. Aqui não se pretende resolver um conflito,
mais sim perseguir uma obrigação efectiva e coerciva (executar).

As acções executivas podem ser - para pagamento de quantia certa, para entrega
de coisa certa, prestação de facto positivo ou negativo, art.º 45.2 CPC.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 24


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Na acção executiva que nem sempre sucede a acção declarativa, o tribunal vai
desencadear mecanismos processuais para coercivamente assegurar ao autor
(exequente) o recebimento da quantia em que o réu (executado) foi condenado.

Como?

Penhorando (apreendendo materialmente) bens do devedor, vendendo-os


judicialmente, e com o produto dessa venda pagando efectivamente ao credor.

Antes neste texto se mencionou que nem sempre a acção executiva sucede de
uma acção declarativa, pois bem, isto acontece porque existe determinados
documentos que por si só valem o suficiente para gerar uma acção executiva, são
os chamados títulos executivos.

Os títulos executivos são documentos que exteriorizam ou demonstram a


existência de um acto, que por sua vez é constitutivo ou certificativo de uma ou
mais obrigação, ao qual a lei confere força bastante para servir de base à acção
executiva.

 ESPÉCIES DE TÍTULOS EXECUTIVOS

O Código Processo Civil no seu art.º 45 “estabelece que toda a execução tem por
base um título pelo qual se determinam o fim e os limites da acção executiva”.

O artº. 46 do CPC enumera os títulos executivos, sendo os seguintes:

1- As sentenças condenatórias- das acções de condenação, ou das acções


constitutivas. Ainda fazem parte (os despachos e quaisquer outras decisões
ou actos de autoridades judiciais que condenem no cumprimento de uma
obrigação. Ex. Condenação nas custas processuais, dos despachos que
condenam em multa as testemunhas

faltosas, dos despachos que fixem honorários aos peritos ou a depositários


judiciais e imponham as partes o seu pagamento.)

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 25


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2- Os documentos exarados ou autenticados por notário.


3- As letras, livranças, cheques, estratos de factura, vales, facturas conferidas
e quaisquer outros escritos particulares assinado pelo devedor dos quais
conste a obrigação do pagamento de quantias determinadas ou de entrega
de coisas fungíveis.
4- Documentos que por disposição especial seja atribuído força executiva, os
chamados títulos administrativos emitidos por repartições do Estado ou
por certas pessoas colectivas públicas. Ex. Títulos de cobrança de
contribuições, impostos, taxas e outros créditos do estado. E os títulos
judiciais impróprios.

4.6 – AS FORMAS DE PROCESSOS

(Quanto à forma- responde a tramitação técnica e processual a que tem que


submeter-se)

Comum - Ordinário: declarativo/ executivo


(Quando não - Sumário: declarativo/ executivo
seguir - Sumaríssimo: declarativo/ executivo
Processos processo
Art. especial)
460º.1.2 Art.461. CPC
CPC
Especial - Declarativo
Art. 460º.2 - Executivo
CPC

O código de processo Civil estabelece no art. 460º que o processo pode segundo
a forma ser comum ou especial.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 26


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O processo comum é aplicável a todos os casos a que não corresponda processo


especial, pode ser de forma ordinário, sumário e sumaríssimo segundo que diz o
art. 460º.2 e 461º CPC
O processo especial aplica-se aos casos expressamente designados na lei, o que
significa que a definição do processo especial é directa ou seja, são especiais
apenas e só os processos que a lei designa como e trata como tal 26. Talvez
porque o legislador tenha entendido que a discussão em juízo de determinada
matéria, pela sua natureza e especificidade exigia uma tramitação processual
adequada. No entanto os processos especiais não são apenas os que estão
regulado no CPC, sê-lo-ão também todos aqueles que qualquer outra lei
expressamente preveja e regule como tal.

 Como identificar à forma de processo a seguir?

Para sabermos que forma de processo seguir devemos ter em conta dois critérios:
o valor da causa e a alçada do Tribunal.

O valor da causa – que é valor indicado pelo autor na petição inicial, e que vem
representando a utilidade económica imediata do pedido. Através desse valor se
determina a forma do processo comum a seguir e a relação da causa com a
alçada do tribunal, art. 467º.1. e) CPC.

E para a fixação do valor da causa há diversos critérios previstos nos art.º 306 e
ss do CPC. Estabelece que se pela acção se pretende obter qualquer quantia
certa em dinheiro, é esse o valor da causa … se pela acção se pretende obter um
benefício diverso, o valor da causa é a quantia em dinheiro equivalente a esse
benefício. Etc…

A alçada do tribunal é o valor limite até o qual ele julga em definitivo, sem
admissibilidade de recurso.

26 O novo processo civil- António Montalvão Machado e Paulo Pimenta – 5ª edição , pág. 52

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 27


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Nos termos da art. 24º.1 da Lei 7/2010 lei base do sistema judiciário a alçada em
matéria cível dos tribunais de 1ª Instância é de 10 vezes o salário mínimo da
função pública, (seria 975.000 x 10 = 9.750.000 Dbs- aproximadamente).
Atenção: significa que a alçada do tribunal pode variar consoante as alterações
que o salário mínimo27 sofrer.

O Processo ordinário é considerado a forma mais solene do processo comum e


está previsto entre os art.º 467º e 782º CPC. É aplicado nas acções declarativas
que não sendo especiais tenham um valor superior a alçada do tribunal –
9.750.000, art. 462º.1º CPC.

O processo sumário que é mais rápido que o ordinário, aplica-se as acções


declarativas que não sendo especiais tenham um valor igual ou inferior ao da
alçada do tribunal – 4.875.000, e não devam observar a tramitação do processo
sumaríssimo, art.462º.1cpc. esta previsto no CPC entre os art. 783º a 792º.

O processo sumaríssimo é mais simples do que os outros dois anteriores,


aplica-se as acções declarativas que não sendo especiais tenham um valor igual
ou inferior a alçada da 1ª instância –(2.437.500) destinado ao cumprimento de
obrigações pecuniárias, a indeminização por danos e a entrega de móveis,
art.462º CPC parte final. É importante ter em atenção que para seguir o trâmites
do processo sumaríssimo, não basta ter o valor igual ou inferior ao da alçada do
tribunal, é preciso ainda que se trata de uma acção de condenação destinada a
algum dos fins mencionados. O processo sumaríssimo esta previsto entre os art.
793º a 800º do CPC.

Em resumo para classificar as acções declarativas quanto a forma deve-se


verificar:

1º- Se a questão corresponde a algum dos processos especiais, se assim for já


está classificada a acção, é especial independentemente do valor. No caso
contrário também está classificada e será processo comum.

27 Com a última atualização da grelha salarial, Decreto-Lei nº 5/2012 publicado no Diário da Republica nº 24
(Quinta-feira 5 de abril de 2012) o salário mínimo que corresponde ao valor de 975.000 Dbs. (Novecentos e
setenta e cinco mil dobras).

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 28


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2º- Sendo comum há que atender ao valor da causa, se exceder a alçada a acção
será ordinária, se não exceder é sumária, excepto se o valor for igual ou inferior á
alçada e destinados ao cumprimento de obrigações pecuniárias (não provenientes
de contratos), à indeminização por danos e a entrega de móveis que então a
acção será sumaríssima.

Processo executivo comum- pode ser ordinário, sumário e sumaríssimo, artigo


465 CPC.

Será ordinária as execuções cujo o valor exceda a alçada da Relação. Estão


sujeitas a forma sumária as execuções fundadas em sentenças proferidas em
acções do processo sumário, seja qual for o valor do pedido, e as fundadas
noutros títulos quando o valor do pedido estiver dentro da alçada da relação.
Seguem a forma sumaríssima as execuções fundadas em sentenças proferidas
em acções do processo sumaríssimo. Art. 465º CPC.

Como se pode constatar o critério determinativo do processo executivo comum


não radica unicamente no valor da causa, mas também na espécie de título que
serve de base a execução.

 Classificação das acções quanto aos interesses em discussão

Podem ser: processos de jurisdição Litigiosa e processos de jurisdição voluntária.

1º- Os processos de jurisdição voluntária são aqueles que não visam resolver
um conflito de interesse, antes regular judicialmente um interesse comum a ambas
as partes. É caracterizado pela ausência do litígio e de conflito. E se justifica pelo
facto de esse interesse apesar de comum, ser perspectivado de modo diverso
pelas partes. Exemplo: o processo de regulação judicial do exercício do poder
paternal28.

Têm os seguintes princípios:

28 Nestas acções se define a guarda dos menores, o regime de visitas e as prestações alimentícias. Neste
caso o que esta em causa é o interesse dos menores, interesses que ambos os pais querem ver
salvaguardados mais tem opinião distinta sobre o mesmo.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 29


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a) Princípio da livre actividade inquisitória do tribunal – que significa que o


tribunal pode conhecer não só dos factos carreados para os autos pelos
interessados, como também de quaisquer outros não alegados que sejam
relevantes para a resolução da questão, podendo para tal ordenar inquérito,
e recolher informações que julgue convenientes, art.
1409 CPC.
b) Princípio da equidade – através deste pode o juiz decidir como lhe
parecer mais adequado e oportuno.
Nestes processos não é obrigatória a constituição de advogados. 2º-
Processos de jurisdição litigiosa ou contenciosa – aqueles em que se
pressupõe a existência de um conflito de interesses, um litígio entre as partes, o
que justifica o recurso a via judicial.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 30


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Exercícios

1- Quais são as classificações das acções estudadas?


2- Como se identifica no âmbito civil a forma de processo a seguir?
3- Estabeleça a diferença existente entre o valor da causa e a alçada do
tribunal?
4- Em matéria cível qual é a alçada do tribunal de primeira instância?
5- Identifique apenas as formas de processo estudadas?
6- Explique qual a principal diferença existente entre os processos de

jurisdição voluntária e os de jurisdição litigiosa? Casos práticos

Maria tem como meio para subsistir o negócio de aluguer de carros. A cinco
meses atrás alugou um Nissam Terrano para o senhor Francisco, a cinco
milhões por cada mês. Ficou acordado entre os dois que o aluguer seria por dois
meses, e que no final de cada mês ele entregaria pessoalmente a quantia a
Maria, o que não aconteceu em nenhum dos meses, e como se não bastasse o
Sr.º ainda conserva o carro consigo. Por esse facto a maria está muito chateada

pensa recorrer a justiça.

1- Segundo os princípios do direito processual civil, e das acções cíveis


estudadas cíveis, ajude a Maria.
II

João Triste conseguiu obter do tribunal uma sentença, na qual condenava a


Carla no pagamento de 100 milhões de dobras. No entanto a quantia não foi
paga como esperava razão pela qual anda descontente com o sistema judicial.
Para obter a sentença João interpôs para o efeito uma acção declarativa.

1- Critique a situação segundo as características da acção declarativa.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 31


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III

Vilela fez um contrato de empréstimo com o Banco comercial no valor de 200


milhões de dobras. Na assinatura do contrato Vilela assinou também uma
livrança a favor do banco. O dinheiro deveria ser usado para fazer negócios, no
entanto as coisas não correram bem e não conseguiu pagar mensalmente ao
banco como estava acordado. Por esses factos o Banco interpôs uma acção
declarativa constitutiva.

1- Terá o banco agido correctamente? Justifique a sua resposta.

4.7 Petição Inicial

Para que a actividade jurisdicional contenciosa (Resolução de conflitos) seja


exercida é necessário que o interessado provoque-a, pois prevalece o
"princípio da inércia".
Petição inicial é o texto que dá início ao processo civil, solicitando do Poder
Judiciário a solução de um conflito estabelecido entre as partes.

A petição inicial, vale dizer, é a peça que traz ao juiz os problemas de pessoas

que confiaram suas vida s (pessoais, financeiras, negociais etc) ao advogado.

Dessa

forma, deve se ter o maior zelo possível ao confeccionar a redacção que será
imprescindível no destino daquele que o confiou ao advogado.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 32


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4.7.1 Importância da petição inicial

A importância da petição inicial está no facto de que, através dela, o Poder


Judiciário é introduzido às peculiaridades da lide. Ademais, com a petição
inicial, aquele que deseja ver seu conflito solucionado faz os argumentos
necessários ao seu ganho de causa.
A sua maior importancia reside no facto desta ser o meio pelo qual o cidadão
reivindica na justiça um direito. Se recebido pelo juiz, esse documento iniciará
um processo, com a citação para que o acusado possa responder. Ela deve
ser bem elaborada por que: o sucesso do processo dependerá dela.

4.7.2 Partes que compõem uma petição inicial

A petição inicial indicará:

I – o juiz ou tribunal, a que é dirigida;

II – os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor


e do réu;
III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

IV – o pedido, com as suas especificações;

V – o valor da causa;

VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos


alegados;

VII – o requerimento para a citação do réu.

4.7.3 Partes na petição inicial


Autor: requerente, justificante, suplicante, arrolante, exequente.
Réu:. Com frequência utilizam-se outras expressões para designar o Réu, tais
como requerido, suplicado, executado, etc.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 33


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4.7.4 A recusa da petição pela secretaria - artigo 474.º CPC

A secretaria recusa o recebimento da petição inicial indicando por escrito o


fundamento da rejeição, quando ocorrer algum dos seguintes factos:
a) Não tenha endereço ou esteja endereçada a outro tribunal ou autoridade;
b) Omita a identificação das partes e dos elementos a que alude a alínea a) do
nº 1 do artigo 467.º que dela devam obrigatoriamente constar; c) Não indique
o domicílio profissional do mandatário judicial
d) Não indique a forma de processo;
e) Omita a indicação do valor da causa;
f) Não tenha sido junto o documento comprovativo do prévio pagamento da taxa
de justiça inicial ou o documento que ateste a concessão de apoio judiciário,
excepto no caso previsto no n.º 4 do artigo 467.º * g) Não esteja assinada;
h) Não esteja redigida em língua portuguesa;
i) O papel utilizado não obedeça aos requisitos regulamentares.

4.8. O acesso aos direitos e aos tribunais

O Sistema de Acesso ao Direito e aos Tribunais pode definir-se, no meio de


tantas acepções que o tema comporta, o acesso ao direito e à justiça como o
conjunto de factores, meios e mecanismos que, postos à disposição das
pessoas, ou por estas partilhados e professados lhes proporcionam
conhecimentos de carácter jurídico e lhes apetrecham de instrumentos e
faculdades que lhes permitem o recurso aos órgãos jurisdicionais competentes
a fim de fazerem valer os seus direitos.

O Acesso ao Direitos e aos Tribunais constitui uma responsabilidade do Estado, a


promover, designadamente, através de dispositivos de cooperação com as
instituições representativas das profissões forenses, em que compreende a
Informação Jurídica e a Protecção Jurídica.

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 34


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O direito ao acesso à justiça constitui uma das características essenciais de um

Estado de Direito Democrático, e, por essa razão, a Constituição da Republica

dispôs, no seu artigo 1º o seguinte: “A República Democrática de São Tomé e

Príncipe é um Estado soberano e independente, empenhado na construção de

uma sociedade livre, justa e solidária, na defesa dos Direitos do Homem e na

solidariedade activa entre todos os homens e todos os povos”.

A constituição São tomense de 2003 preconiza no seu artigo 20.º que: “Todo o
cidadão tem direito de recorrer aos tribunais contra os actos que violem os
seus direitos reconhecidos pela Constituição e pela lei, não podendo a justiça
ser denegada por insuficiência de meios económicos”. No excerto acima a
epígrafe é o acesso aos tribunais e não como nos outros ordenamento jurídicos
constitucionais acesso ao direito e aos tribunais.

No conjunto da realidade São-tomense principalmente a partir de 2003, quando


se reafirmou a objectivo de construção de uma sociedade mais justa e
solidária, mais intensamente os diversos segmentos sociais não buscaram a
implementação de serviços e acções afirmativas do Estado para trazer sentido
e praticidade aos programas que foram desenhados na Constituição. Assim, o
cidadão que necessitar defender seus direitos, muitas vezes não encontra
amparo na Carta Constitucional que define que Todo o cidadão tem direito de
recorrer aos tribunais contra os actos que violem os seus direitos reconhecidos
pela Constituição e pela lei, não podendo a justiça ser denegada por
insuficiência de meios económicos.

Importante saber: A Constituição santomense estabelece o acesso à


justiça como direito fundamental (artigo 20º) de todos os santomenses. Para ter
acesso à justiça o cidadão deve conhecer as instituições do Estado encarregues
de proteger e defender os seus direitos e intere sses, como funciona o
sistema de justiça e

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Direitos e aos Tribunais PROFESSORA: ALIMARY FROTA

Bibliografia MANUAL 10º ANO 2º PERIODO


como
pode recorrer ao poder judicial quando os seus direitos são violados.

BIBLIGRAFIA

LEGISLAÇÃO

Código do Registo Civil DL n°47 678 de 5 Maio de 1967


Código do Notariado DL n°47 619 de 31de Março de 1967

Código Processo Civil em vigor em 1974


Código civil – Decreto- Lei nº 47 344 de 25 de Novembro de 1966.
Constituição da república democrática de S.Tomé e Príncipe
Proposta de Lei orgânica do Tribunal Constitucional
Lei orgânica do Tribunal de Contas,
Lei base do sistema judiciário 7/2010.
Lei 2/77 - Lei da Família
Decreto Lei n.º 6/2014, publicado no DR n.º 30 de 23 de Abril (Aprova a
Nova Lei Orgânica da Polícia Nacional de S. Tomé e Príncipe)
Lei n.º 2/2008 - Lei Orgânica da Polícia de Investigação Criminal
Lei nº 6/2012 aprova Código penal
Lei nº 5/2010 – aprova o Código Processo Penal
Lei nº 13/2008 - Estatuto do Ministério Público
Decreto –Lei nº 5/2012 – aprova a grelha salarial

LIVROS

Prata, Ana, com a colaboração de Jorge Carvalho - Dicionário jurídico,


direito civil, direito processual civil, organização judiciária, volume I, 5ª
edição, editora Almedina, Janeiro de 2014.
Almerinda Dinis, Evangelina Henriques e Maria Isidra Contreiras, Introdução
ao estudo do Direito- 12º ano- com a participação e revisão científica do
Prof. Doutor Jorge Miranda

Práticas de Direito 10º ano - 2º Período 36


Petição Inicial / Acesso aos
Direitos e aos Tribunais PROFESSORA: ALIMARY FROTA

Montalvão Machado, António e Paulo Pimenta – O novo processo civil- 5ª


edição
J. Batista Machado, Introdução ao direito e ao discurso legitimador, livraria
Almedina, Coimbra, 4ª Reimpressão, 1990.

ireito 10º ano 1º Período

Bibliografia MANUAL 10º ANO 2º PERIODO

Rocha, Isabel, Carlos José Batalhão e outros, Direito 12º ano, porto editora.
Dicionário de relações internacionais – Fernando de Sousa (Dir)
MANUEL INÁCIO DA SILVA PINHEIRO, «Cadastro Predial, Breves Notas», in
Fisco, n.º 113/114, ano XV, Abril de 2004
Rocheta Gomes, registo in dicionário jurídico da administração pública,
VII vol.
J. de Seabra Lopes, direito dos registos e do notariado, 2ª edição, editorial
Almedina, Janeiro 2003
Teoria Geral do Direito Civil, lições pol., 4 vols., Lisboa, 1974-1981
Introdução ao Estudo do Direito, Professor João de Castro Mendes,
Introdução ao Estudo do Direito, Oliveira Ascenção
AMARAL, Francisco. Direito Civil: introdução. 5. ed., Rio de Janeiro:
Renovat, 2003
Raimundo, Leandro Silva. Dos pressupostos processuais e das condições
da acção no processo civil.
Silva, Germano Marques da, Curso de Processo Penal, 2ª Ed., Verbo,
Lisboa, 2000, Vol III.
Valente, Manuel Monteiro Guedes, Regime Jurídico da Investigação
Criminal, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2004 .

Jurisdição Cível – programa PIR PALOP II, Novembro 2003

Mota Pinto, Carlos Alberto. Teoria Geral Direito Civil.

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Petição Inicial / Acesso aos
Direitos e aos Tribunais PROFESSORA: ALIMARY FROTA

Castro Mendes, João. Introdução ao Estudo do Direito, Coimbra Editora,


Coimbra
Oliveira Ascensão, José - O direito :introdução e teoria geral / 13ª ed.
refundida, 5ª ...
DIMOULIS, Dimitro. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 2ª ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. 4ª ed. São
Paulo: Atlas, 2003.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 4ª ed. Coimbra: Arménio Amado,
1979.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil - parte geral. 11ª ed. São Paulo:
Atlas, 2011.

ireito 10º ano 1º Período

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