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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE HUMANIDADES

UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA

DISCIPLINA: HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA

PROFESSOR (A): MICHELLY CORDÃO

ALUNO (A): MARIANA VERAS

ATIVIDADE - I UNIDADE

Análise: CERTEAU, Michel de. Cap II - A operação historiográfica. In: A escrita da


história. Rio de Janeiro: Forense, 2002, pp.55-109.

LUGAR PRATICA ESCRITA

Ao elucubrar sobre a operação historiográfica, Michel de Certeau atenta para três


características imprescindíveis diante dessa atividade: o lugar social, a prática científica
e a escrita literária. Como agentes fabricadores da perspectiva histórica que se pretende
explicitar e diante de tal relação, a conexão com o tempo – afeto mais que crucial para o
historiador – transpassa e compõe igualmente essas etapas de construção do
conhecimento.

Quando se escreve, por mais que seja em um veículo não- acadêmico, se escreve de um
determinado lugar social já firmado e é a partir daí que se trava a relação de quem
produz com quem se insere na produção. Primordialmente, o lugar de produção era
cabível somente a uma parcela componente de “dominadores das idéias” uma vez que
seu fazer histórico se pautava numa busca e decreto da verdade; paulatinamente essa
assertiva vai se modificando de modo que a instituição passa a corroborar para o
distanciamento dessas idéias gerais do científico em tendência (mesmo que essa
dinâmica não seja obrigatoriamente resultado de uma influência proposital entre idéia –
instituição).

Continuamente, o relacionamento entre o lugar e a produção termina por genericamente


se dar pela primazia coletiva, ou seja, a produção embora que seja feita por uma fração
de historiadores em direção ao público, acaba por maioria a atender à mesma fração
consorte do que ao próprio público, evidenciando o coletivo e todas suas preferências
(permitir ou proibir, elucidar ou esquecer certo tema ou abordagem) como o fruto final
do lugar.

Seguido do lugar social, a prática integra os componentes da elaboração e por meio dela
as técnicas não só integram o historiador com seu objeto, mas também os transforma,
“Participa do trabalho que transforma a natureza em ambiente e, assim modifica a
natureza do homem.” (p.71). Mas não é só modificar as naturezas o trabalho aqui
inferido, os processos anteriores e componentes dessa ação são de fato o princípio do
exercício. Daí a importância da relação com as fontes.

Se antes, a dadas fontes eram artigos de colecionar, a partir da imprensa no séc. XV e o


computador no séc. XX possibilitou as bibliotecas e arquivos se postarem ao centro das
atenções permitindo a disseminação e ampliação do tratamento para com os
documentos-fonte de sua linguagem. Tratamento tal que não se contenta em analisar,
mas também em provocar a categorização de um documento diverso em fonte,
atribuindo-lhe um valor específico e fazendo-lhe falar do alto se seu silêncio, gerando
uma transformação em um objeto que tinha uma função e significado em outro objeto
com função e significado intencionalmente diferentes.

Nesse sentido, a prática como pesquisa já não se pauta em resultado sob a questão da
teoria e de seu modelo pré-estabelecido no contexto temporal, torna-se muito mais
requerida à questão por detrás, os desvios quanto aos modelos. Buscar as lacunas, os
“erros”, as diferenças e suas manifestações frente ao que diverge da base, “O
entendimento da história está ligado à capacidade de organizar as diferenças ou as
ausências pertinentes e hierarquizáveis relativas às formalizações científicas atuais”
(p.84). Dessa forma, a pesquisa se estende para a formulação de um limite frente à
dinâmica histórica e por ventura, a sua própria ultrapassagem como arremate.

Passando da prática à escrita, todavia é o ponto que “amarra” a produção, sendo o finito
da investigação, do lugar social de produção e do lugar. O discurso fabricado é
responsável por didatizar a produção, e trazer “dos mortos” o passado presentificado no
tempo homônimo, este último, o cronológico também sendo uma fabricação e que só é
determinado pelo lugar da própria produção. Nesses termos, o tempo exerce função
dual: é cronologia de origem, precisando de períodos de recorte (o macro e o micro) e é
limítrofe no que tange a necessidade de desembocar num presente, numa atualidade.

A conveniência dessa dualidade estabelece a complexidade do fazer historiográfico


também no diálogo com os artifícios da escrita: citações, conceituações e interpretações,
constituintes da harmonia, “Assim se encontra simbolizada a relação do discurso com
aquilo que ele designa perdendo, quer dizer, com o passado que ele não é, mas que não
seria pensável sem a escrita que articula "composições de lugar"” (p.102).

Ademais, a escrita opera com um fim embora a pesquisa e a historiografia seja


imensamente infindável. Ela opera traduzindo (ou transcrevendo) nada mais do que as
relações com o corpus social, ação que tanto fascina quanto ilude já que mesmo neste
fim, não há um propósito final nesse fazer históri(co)a: é puramente a relação do outro
para com um, uma operação de etapas delineadas e suscetíveis a dificuldades, como em
toda ciência, a ciência do sujeito com suas ações, problemáticas e discursos.

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