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Trajetória de vida,
violência e
vulnerabilidade
DEGASE
Rio de Janeiro
2019
Conselho Editorial Aderaldo Santos
André Porfiro
Claudia Meira
Fabiana Rodrigues
Janaina de Fátima Silva Abdalla
Jean Maciel Xavier
Maria Beatriz Barra de Avelar
Maria Tereza Azevedo Silva
Raul Japiassú Câmara
Renan Saldanha
Soraya Sampaio Vergílio
Vivian de Oliveira
Comissão Científica Claudia Lucia Silva Mendes
Elionaldo Fernandes Julião
Janaina de Fatima Silva Abdalla
Trajetória de vida,
violência e
vulnerabilidade
DEGASE
Rio de Janeiro
2019
Presidente da República Jair Messias Bolsonaro
Organizadores
Claudia Lucia Silva Mendes
Elionaldo Fernandes Julião
Janaina de Fátima Silva Abdalla
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 11
Claudia Lucia Silva Mendes
Janaina de Fátima Silva Abdalla
Soraya Sampaio Vergílio
CARTOGRAFANDO “SOCIOEDUCAÇÕES” NO 58
SISTEMA SOCIOEDUCATIVO: O TRÂNSITO ENTRE
DIFERENTES TERRITÓRIOS E EFEITOS
Carla Magliano
Maira Bruna Monteiro Santana
Thiago Benedito Livramento Melicio
RESUMO
A presente pesquisa teve por objetivo relacionar a construção
social da noção de indivíduo perigoso no Brasil, desde a
Abolição da Escravatura até os tempos atuais, apontando para a
continuidade histórica da sujeição criminal da juventude negra
e de baixa renda como uma forma histórica que se configura
também na atualidade de forma revigorada e legitimada pelo
Estado e pela sociedade.
[...] o filho do ventre livre não adquiria liberdade jurídica e, por isso,
estava impedido de frequentar a escola e participar da vida política
do país. Pela Lei do Ventre Livre, o senhor que ficava com a criança
liberta não era obrigado a oferecer instrução primária, o que provocou
a situação do abandono de milhares de crianças (SANTOS, 2008, p. 16).
[...] o povo negro foi lesado barbaramente por essa prática racista
durante muito tempo. Os discriminados desconfiavam e sofriam
os efeitos da prática sem decodificar por completo como se dava a
operação. As perdas continuam para os negros e os códigos adquiriram
novas configurações. A rigor, não há uma decisão formal sobre o veto a
negros. Trata-se de um acordo tácito, onde ninguém precisa falar nada;
está tudo subentendido (SANTOS, 1999, p. 11).
4 A escola pública secundária, no Brasil, foi tida, por muito tempo, como padrão de
excelência no ensino. Para ela iam os filhos dos coronéis e políticos, no interior. Nas
grandes cidades, muitas dessas escolas serviram de base para diversas figuras que
depois iriam trilhar nos mais diferentes campos da vida (SANTOS, 1999).
E assim,
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resultado dos processos aqui narrados culmina na
adequação à carreira criminal e à produção da carreira criminal
enquanto modos de produção de subjetividades que vão além
[...]. A partir daí, “o sujeito social [...] se torna agora um ‘mau caráter’,
um ‘bandido’. Não é apenas uma pessoa que cometeu crimes” [...].
O efeito deste fenômeno é que os sujeitos, ao incorporarem o rótulo
de perigosos, aderem ao que é esperado deles e se apegam à carreira
criminal através da qual passam a se significar enquanto sujeitos.
“Tudo isso se passa envolvendo agentes e atores sociais, operadores
institucionais, desempenho de papéis, modos de produção de verdades
em diferentes escalas – moral, política, enfim, todo um complexo
processo social” (GONÇALVES; FRANÇA, 2013, p. 56).
RESUMO
A criminalização de adolescentes em conflito com a lei é um
problema social que se perpetua ao longo da história brasileira.
Atualmente a conjuntura não se modificou, no que tange aos
sujeitos sobre os quais a norma vigente recai, afirmando os
processos de sujeição criminal. Assim, faz-se necessária
uma reflexão sobre os discursos estigmatizantes que incidem
sobre os adolescentes em conflito com a lei, principalmente na
cidade do Rio de Janeiro. Neste ponto, o trabalho trouxe o debate
sobre a defesa desses adolescentes como garantia de direitos
fundamentais, mesclando a metodologia teórica e empírica.
Dentre os resultados encontrados, destaca-se a participação
mitigada da defesa ao longo do processo.
1. INTRODUÇÃO
A criminalização de adolescentes em conflito com a lei é
um problema social que se perpetua ao longo da história
brasileira. Desde meados do século XIX, esses adolescentes
- denominados “menores” delinquentes ou abandonados, em
sua maioria advindos das classes mais pobres e vulneráveis da
população, em sua maioria negra, com pouco/nenhum acesso à
educação, inseridos em famílias categorizadas como típicas de
“ambientes de marginalização”, considerados locais de “maus
hábitos” onde eram exercitados uso de drogas, prostituição e
pequenos crimes - são alvos constantes da Polícia e da Justiça.
2 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5 CONCLUSÃO
Este trabalho procurou investigar o papel da defesa na
Justiça Juvenil, seus constrangimentos, sua efetividade, suas
lacunas e os seus reflexos nas garantias dos direitos dos
adolescentes em conflito com a Lei na cidade do Rio de Janeiro
frente ao processo de criminalização dos mesmos. O estudo
buscou mostrar como, em relação à defesa, as dificuldades e
as lacunas da legislação da infância e juventude ultrapassam
limites da norma posta. Queremos dizer com isso que, na Justiça
Juvenil, ainda existe a dificuldade de compreender a necessidade
da defesa frente à representação ministerial com a função de
garantir que a lei seja cumprida para que os ritos processuais
sejam respeitados e, portanto, sejam aplicados os direitos
e garantias fundamentais aos adolescentes que ingressam no
Sistema Socioeducativo.
Características como estas prejudicam diretamente
o trabalho feito pela defesa técnica (advogados e defensores
públicos) dos adolescentes em conflito com a lei na cidade
Carla Magliano
Maira Bruna Monteiro Santana
Thiago Benedito Livramento Melicio
RESUMO
O presente trabalho debruça-se sobre agenciamentos
de Socioeducação em unidades de privação de liberdade do
Sistema Socioeducativo. Busca-se refletir sobre práticas plurais
ali coexistentes, tanto as que dão ressonância às normativas de
políticas públicas destinadas aos jovens, tais quais as previstas
no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE),
como as provenientes de lógicas punitivo-coercitivas. A pesquisa,
pautada pela Cartografia Psicossocial, é realizada em duas
unidades do Departamento Geral de Ações Socioeducativas do
Rio de Janeiro (DEGASE), junto a adolescentes em privação de
liberdade, agentes socioeducativos e corpo técnico.
2 POSTURA METODOLÓGICA
Em uma postura pautada pela cartografia psicossocial
(ROLNIK, 1989), a pesquisa intenta acompanhar processos
(BARROS; KASTRUP, 2009) cotidianos de instituições
socioeducativas de privação de liberdade na cidade do Rio de
Janeiro, através de um projeto de pesquisa-intervenção realizado
entre segundo semestre de 2015 e o primeiro de 2018, em duas
unidades do Departamento de Ações Gerais Socioeducativas do
Estado do Rio de Janeiro (DEGASE).
Os encontros realizados, ora com adolescentes, ora com
agentes socioeducativos e equipe técnica, visavam estabelecer
um espaço de livre circulação de ideias acerca das experiências
do cotidiano do DEGASE, a partir de temáticas levantadas
pelos próprios atores desse campo existencial, de forma que o
conhecimento fosse produzido de forma conjunta.
A Cartografia Psicossocial, proposta por Deleuze e
Guattari, define-se como princípio ético-estético-político, ao
propor o acompanhar dos processos de produção das paisagens
psicossociais, observando as formas e derivações dos encontros
(GUATTARI, 1995). Conforme aponta Rolnik (1989, p. 16), “as
cartografias trazem marcas dos encontros que as foram construindo.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No intuito de observar as diferentes noções de
Socioeducação que emergiram durante os encontros, partimos
da postura cartográfica em que não se busca um fim para
análise, mas observar quais são os elementos que organizam o
território em que se está vivenciando. Nesse sentido, falar da
Socioeducação não será necessariamente falar da Socioeducação
tal qual é preconizada pelo SINASE e/ou ECA, e sim falar
de “socioeducações”, ou seja, de processos de produção de
subjetividade, bem como de formas de disciplinarização e
regulamentação desses processos, tais quais ganharam corpo
com as falas dos participantes.
Os modos de se fazer Socioeducação no cotidiano de uma
instituição de privação de liberdade remetem a diferentes campos
de forças, acionando e sendo sustentados por distintos regimes
“Se porrada adiantasse, isso aqui não tava cheio, porque não tem um aqui que
já não tenha tomado uma surra, seja de agente, seja da polícia...”
(Agente S., 28/08/2017).
“Eu acho que aqui dentro não tem essa função de corrigir nada não. O trabalho
tinha que ser feito lá fora.” (Agente O., 20/10/17)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos que não existem direções únicas no que
tange à prática socioeducativa nas instituições de privação
de liberdade para adolescentes. Entende-se que alguns
elementos se interconectam na constituição desse campo, tal
qual o contínuo trânsito simbólico entre os discursos e práticas
RESUMO
Vivemos em uma sociedade marcada por estigmas e
generalizações. A partir de tal cenário, nós, graduandas do
curso de Psicologia da Universidade Federal Fluminense, UFF,
através de uma parceria com o DEGASE de Macaé, um órgão do
governo do estado do Rio de Janeiro responsável pela aplicação
de Medidas Socioeducativas a adolescentes em conflito com a
lei, pudemos criar um dispositivo grupal, a “oficina da palavra”.
A elaboração do artigo tem como proposta potencializar o papel
da Socioeducação e como esta pode transformar vidas. Demos
protagonismo a muitos que nunca o tiveram sobre suas próprias
histórias, através da escuta qualificada. Pode parecer simples,
mas, a partir do ato da fala, pudemos acompanhar, ao longo de
sete meses, como o falar produz mudanças.
1. INTRODUÇÃO
A adolescência é um período crítico para a vida de qualquer
pessoa, uma fase de descobertas sobre a sexualidade, sobre gostos
pessoais, sobre como o caráter é moldado e estimulado. Isso tudo,
além dos altos e baixos sofridos no dia a dia, devido às alterações
hormonais constantes. E, quando, além de todas essas questões
apresentadas, o adolescente ainda tem sua vida atravessada pela
infração à lei? Esse foi o cotidiano enfrentado por graduandas de
Psicologia em atividade de estágio supervisionado, no período de
março a dezembro no ano de 2018, em função de uma parceria
2 DESENVOLVIMENTO
No DEGASE, a nossa estratégia inicial consistia em nos
apresentarmos e contarmos brevemente nossas histórias de
vida, não numa tentativa de provar que tínhamos histórias
semelhantes ou que as dificuldades se igualavam em certo
Cresci numa quebrada onde não pode dar mole, onde amigo e confiança
com certeza não há! Eu queria mudar, eu queria mudar, eu queria
mudar, eu queria mudar. O meu mundo me ensinou a ser assim, fazer
a correria os cana vinha atrás de mim. (Pacificadores, 2002)
3 CONCLUSÃO
A construção de um coletivo não pode partir de extremos,
não podemos subestimar os participantes e nem exigir deles um
retorno imediato, a relação tem que ser estabelecida de maneira
natural, construindo a cada encontro um vínculo que vai permitir
a confiança, a troca de saberes, o afeto e a consciência de que o
grupo não anula a subjetividade do indivíduo, mas potencializa.
Cria-se a partir do coletivo um lugar onde o objetivo é estabelecer
uma “relação aditiva” (MORAES, 2010), possibilitando que as
experiências vividas, compartilhadas causem algum efeito sobre
as outras histórias, seja a nível de identificação ou até mesmo na
descoberta de um novo e, no caso desses meninos, uma outra
perspectiva de uma história que se dá no mesmo contexto, na
mesma comunidade, na mesma facção, no mesmo regime de
cumprimento de medida, mas que é contada sobre uma outra
ótica que faz daquele indivíduo um ser singular.
RESUMO
A partir de rodas de conversas com adolescentes
cumprindo Medidas Socioeducativas no DEGASE, buscamos
pensar e discutir sobre como essas experiências nos afetaram.
Muito é produzido sobre os jovens privados de liberdade, sobre
o Sistema Socioeducativo, porém decidimos discutir nossas
afetações nesses encontros com o outro. Pretendemos pensar
nos deslocamentos que o campo nos proporcionou, sobretudo
a partir das conversas em locais inóspitos, sob vigilância e
reprovação, com adolescentes tidos como perigosos. Quais são
os processos de subjetivação e agenciamentos possíveis neste
contexto? A análise da nossa implicação mostrou-se uma
potente ferramenta para colocar em análise nossos
atravessamentos e deslocamentos.
1. INTRODUÇÃO
(...) Tudo isto diz respeito à relação com o outro, e é por isso que a
chegada de um “estranho” estremece a segurança cotidiana. O
estranho seria a síntese da “sujeira” automática, autolocomotora e
autocondutora. É por isso que as sociedades lutam por classificar,
separar, confinar ou aniquilar os estranhos.(BATISTA,2003,p.78).
2 METODOLOGIA
A partir de supervisões semanais, começamos a conversar
em equipe sobre nossos encontros com os adolescentes, trocando
vivências e afetações, buscando traçar relações entre o que
vivemos e as teorias que estudamos. Privilegiamos autores
como Michel Foucault (2008), Suely Rolnik (1995), Gilles Deleuze
e Félix Guattari (2014), como base teórica para nos acompanhar
em nossa empreitada. Buscamos discutir acerca do DEGASE,
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em nosso estágio, que tem por metodologia a Análise
Institucional, fomos convidadas a colocar em análise os discursos
instituídos em nossa sociedade sobre jovens que cometem ato
infracional, seja pela opinião pública ou pela mídia, e que
muitas vezes são reforçados pelo discurso acadêmico. Com os
crescentes dados de violência no Brasil e, principalmente, no Rio
de Janeiro, o discurso de ódio e de intolerância a esses jovens que
são acusados de ato infracional tem crescido exponencialmente
nos últimos anos. O modelo socioeducativo é colocado em
questão, o que interessa é simplesmente pedir a punição desses
meninos e a redução da maioridade penal. A cada dia aumenta
o distanciamento de cuidado, carinho ou proteção entre esses
jovens e a sociedade. Supostamente, eles mereceriam a morte,
o linchamento, como colocado por um dos meninos no grupo: “é,
4 CONCLUSÃO
RESUMO
O presente artigo apresenta reflexões sobre
territorialidade e políticas públicas, compreendendo relações
existentes nos territórios nos quais vivem adolescentes em
conflito com a lei e as possíveis demandas existentes. Trata-se de
resultados parciais da pesquisa com adolescentes em medida de
internação no Departamento Geral de Ações Socioeducativas:
“Trajetórias de vida e escolar de jovens em situação de risco
e vulnerabilidade social”, realizada em parceria do Degase
com a Universidade Federal Fluminense, em 2016. O foco
deste trabalho são os aspectos relacionados à territorialidade,
políticas públicas e enfrentamento de discriminações a partir
do lugar social de pertencimento. A análise desses resultados
objetiva contribuir com as políticas públicas da juventude.
1. INTRODUÇÃO
A Pesquisa “Trajetórias de vida e escolar de jovens
em situação de risco e vulnerabilidade social” - Pesquisa
“Trajetórias” - (DEGASE, 2018) proporcionou a constatação
de demandas diferenciadas, surgidas na participação dos
adolescentes, que evidenciam a necessidade de revisão em ações
realizadas pelas políticas públicas da infância e juventude, tal
como o enfrentamento da violência social, racial, institucional e
policial. A diretriz da proteção integral da infância e juventude
preconiza que toda e qualquer criança e adolescente é sujeito
3 A PROPOSTA
O conceito de Socioeducação, na área da infância e juventude,
vem associado às propostas de transformações nas políticas
públicas voltadas aos adolescentes autores de atos infracionais,
que ao serem apreendidos e encaminhados para o Sistema
Socioeducativo demandam ações que invistam numa reflexão
acerca de seu futuro, de seus atos, na construção de seu projeto
de vida, assim como ações que efetivem uma real oportunidade
de inserção social, no investimento de seu desenvolvimento
através de sua escolarização e profissionalização e a garantia da
possibilidade de exercício de sua cidadania.
Como tema principal, o trabalho se volta à importância
de provocar reflexões acerca da necessidade de investigação de
relações georreferenciadas e suas inter-relações com demandas de
políticas públicas nos territórios de referência dos adolescentes
em conflito com a lei, em cumprimento de Medida Socioeducativa
de Internação no Rio de Janeiro, em unidades do DEGASE. A
pesquisa Trajetórias foi um trabalho desenvolvido por equipe
interdisciplinar, da qual dois autores deste artigo fizeram parte
como pesquisadores, junto à equipe composta por servidores
do DEGASE e pesquisadores da Faculdade de Educação da
Universidade Federal Fluminense. Uma leitura parcial de alguns
dos resultados desta pesquisa será apresentada neste trabalho
acerca do levantamento territorial dos recursos existentes nas
áreas de convivência familiar e comunitária desses adolescentes.
Contribuições para políticas públicas na Socioeducação
surgem a partir destes resultados, para investimento em
mudanças na conjuntura atual e futura no que diz respeito
aos adolescentes e suas famílias também em seu meio social,
na articulação intersetorial preconizada pela lei nº 12.594/2012,
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
RESUMO
O estudo investigou as percepções de adolescentes em
Medida Socioeducativa de Semiliberdade sobre suas relações
interpessoais na família, escola e instituição, a fim de fornecer
subsídios para a implementação de uma intervenção focada na
promoção de interações sociais positivas. Foram realizados
dois grupos focais com 29 adolescentes e jovens do sexo
masculino em Medida Socioeducativa de Semiliberdade
no Rio de Janeiro. A análise com o software IRAMUTEQ
identificou seis classes: relações familiares; adolescências e
masculinidades; amigos; escola; agentes socioeducativos;
semiliberdade. Os resultados indicaram potencialidades
e desafios em todos os contextos investigados, evidenciando a
necessidade de intervenções com essa população.
1. INTRODUÇÃO
Em 2013, o Brasil possuía um total de 89.718
adolescentes inseridos no Sistema Socioeducativo, desses, 24.155
haviam cometido atos mais severos, ou seja, cumpriam Medidas
Socioeducativa de privação ou restrição de liberdade (SINASE,
2015). Somente no Rio de Janeiro, o número de adolescentes que
tinham sua liberdade privada ou restrita era de 1.655 (SINASE,
2015). A parcela de adolescentes brasileiros que cumprem
Medida Socioeducativa é percebida como ameaçadora
1 Esse trabalho é parte da dissertação de mestrado da primeira autora. Apoio financei-
ro: Bolsa da CAPES
2 MÉTODO
Os dados foram coletados em uma instituição de
semiliberdade, localizada na cidade do Rio de Janeiro (indicada
pela Escola de Gestão Socioeducativa do DEGASE, que coordena
as pesquisas nas unidades), a qual acolhia adolescentes de
diversas zonas da cidade e de diferentes comunidades. Os
grupos focais foram realizados numa sala que ficava em uma
região central da unidade.
3 PARTICIPANTES
No mês de dezembro, foi feito o primeiro contato com a
instituição, momento em que havia cerca de 40 jovens (idade entre
12 e 21 anos), sendo mais da metade adolescentes. No entanto,
após o recesso do Natal e do final do ano, o qual os jovens passam
com suas famílias, o número que retornou à instituição foi menor
do que antes desse período. Assim, na primeira semana de janeiro,
havia cerca de 20 adolescentes com idade de 14 a 18 anos, além de 9
jovens de 18 a 21 anos. Ainda que a pesquisa adotasse como critério
de inclusão idade até 18 anos, todos os jovens institucionalizados na
unidade em questão foram convidados a participar. Participaram
29 adolescentes, sendo que o primeiro grupo focal foi composto
por 12 jovens, dos quais nove eram adolescentes e três adultos,
com idade média de 15,9 anos e 18,3 anos, respectivamente. O
4 INSTRUMENTOS
Questionário sociodemográfico, elaborado para este
estudo com objetivo de investigar informações dos participantes,
tais como nome, idade, cor, religião, escolaridade, composição
familiar e escolaridade materna e paterna.
Roteiro semiestruturado, composto por questões
norteadoras divididas em perguntas: de aquecimento (por
exemplo, “quem é a sua família?”); de apoio social (por
exemplo, “como os membros da sua família te apoiam?”); de
habilidades sociais (por exemplo, “como seus familiares agem
quando vocês querem fazer algo que eles não permitem?”);
de crenças de autoeficácia (por exemplo, “vocês acham que
são capazes de atingir as expectativas das suas famílias?”);
de discriminação (por exemplo, “vocês enfrentam alguma
dificuldade para ser aceito na sua família, depois da estar na
medida socioeducativa?”). Tais questões tinham como objetivo
reflexão e discussão entre os participantes, sendo organizadas
por ordem crescente de complexidade.
5 PROCEDIMENTOS
A coleta de dados foi organizada em três etapas: treino
da equipe de pesquisadores; contato com instituições; por fim,
os grupos focais. A capacitação das pesquisadoras foi realizada
no primeiro ano da pesquisa e envolveu a participação em um
6 ANÁLISE DE DADOS
As falas dos participantes nos grupos focais foram
gravadas e transcritas em sua íntegra. Para as análises
qualitativa e quantitativa do corpus textual utilizou-se o
software livre IRAMUTEQ (Interface de R pour lês Analyses
Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires) que
possibilita a utilização de técnicas que variam desde análises
lexicais clássicas até análises multivariadas, como a classificação
hierárquica descendente, análise de similitude e nuvem de
palavras. Devido à necessidade substancial de texto que o
software de análises necessita, optou-se por agrupar as falas
por participante, de modo a considerar a integridade individual
de cada adolescente. Por fim, esse último corpus foi salvo no
formato texto (.txt) e na codificação UTF-8. No presente trabalho,
optou-se pela utilização da análise de classificação hierárquica
descendente que agrupa e organiza graficamente de acordo
com a frequência (MOIMAZ et al., AMARAL, MIOTTO, COSTA,
GARBIN, 2017).
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No corpus proveniente da transcrição dos grupos focais foi
observado a ocorrência de 6.987 ocorrências (palavras, formas ou
vocábulos), sendo 1.204 palavras distintas e 627 com uma única
ocorrência. Além disso, o corpus foi constituído por 10 textos,
separados em 200 unidades de contexto, sendo que, por meio
de classificações hierárquicas descendentes de segmentos de
texto, 149 indicaram semelhança no vocabulário dos seis
temas resultantes (74,5%). A análise indicou uma convergência
das características empíricas em torno de seis temas: classe 1
“Escola”, com 21 segmentos de texto (14,09%); classe
FONTE: As autoras
NOTA. Sendo que, X² corresponde ao qui-quadrado de associação da palavra com a classe e
% refere-se à porcentagem de ocorrência da palavra nos segmentos de texto nessa classe em
relação a sua ocorrência no corpus.
7.4 ESCOLA
Inserida de modo isolado no subcorpus Instituições
(subcorpus A), temos a classe 1 Escola (f = 21 ST). Sendo que
as palavras mais relacionadas a essa classe foram: escola; olhar;
diretor; virar; mudar; mundo; chegar; querer; mulher; sentir;
entre outras. O conteúdo dessa classe aborda o significado da
escola e as dificuldades percebidas nesse ambiente. Inicialmente,
as falas demonstram reconhecer a importância da escola enquanto
espaço de acolhimento e de possibilidades, como é colocado a
seguir: “Eu estudo, porque para mim para ter um futuro melhor
tem que estudar. Ainda mais eu que tenho filha, tipo assim, para
7.5 AMIGOS
A classe 6 (f = 21 ST), intitulada Amigos, tem como
principais palavras: amigo; tráfico; amizade; comunidade;
ajudar; mãe; conversar; dia; mandar; bater; entre outras. Essa
classe retrata as relações de amizade com pessoas sem grau de
parentesco, sendo abordado o estabelecimento de vínculos
e as características necessárias para o desenvolvimento de
uma relação de amizade. Inicialmente, destaca-se a presença
de solidariedade, suporte e ajuda entre os adolescentes da
unidade e em suas relações com pares na comunidade, sendo
estas pautadas em aconselhamentos e trocas de favores entre
os adolescentes: “Eu tenho um amigo que mora sozinho, tem
filho e a mulher dele. Minha mãe me mandou pra fora de casa,
e o menor era meu amigão. Aí, o menor falou assim pra mim:
‘Qual é? Dorme aqui.’ Eu dormi lá, tomei banho. O menor me
emprestou roupa, comi, mexi no telefone, marquei com o menor.
[...] Se eu tiver precisando de um prato de comida, uma roupa.
Eu confio no menor” (Kássio, 14 anos).
O adolescente relata que se aproximou do amigo após ser
expulso de casa, da mesma forma, estudos têm indicado que os
adolescentes buscam grupos de pares para sentir segurança e
proteger-se dos conflitos e da violência intrafamiliar (PEREIRA ;
SUDBRACK, 2008). Além disso, durante a adolescência, conforme
o contato com os pais diminui, as relações com os pares e
com o mundo externo são ampliadas, assim os adolescentes
encontram-se em um período de intenso desenvolvimento do
RESUMO
Este artigo objetiva apresentar os resultados de uma
pesquisa realizada em dezembro de 2017 com 100 adolescentes
privados de liberdade, em uma unidade socioeducativa do
Rio de Janeiro, acerca das representações sociais do estigma
de infrator e suas repercussões psicossociais. Utilizamos a TRS
(Teoria das Representações Sociais) de Serge Moscovici como
referencial teórico principal, acompanhada da abordagem
estrutural de Jean-Claud Abric, buscando identificar o núcleo
central e periférico de tais representações sociais. Esta
pesquisa foi de caráter qualitativo e utilizou, dentre outros
instrumentos, a Tarefa de Evocação Livre de Palavras, a partir
do termo indutor “Infrator”, na qual os participantes respondiam
cinco palavras ou frases associadas a este termo. Para efeito
deste trabalho, apresentaremos e discutiremos apenas os dados
obtidos a partir deste instrumento. Os resultados apontaram os
termos bandido, preconceito, tráfico e roubo como prováveis
elementos constitutivos do núcleo central e os termos crime,
prisão, morte, homicídio, drogas e estupro como representantes
das duas periferias.
1. INTRODUÇÃO
A história do Brasil é marcada por um grave processo de
exclusão social. Desde a colonização até os dias atuais, percebemos
um processo civilizatório no qual a divisão de classes atravessa
as normativas jurídicas e evidencia-se através da ausência
1º Quadrante 2º Quadrante
3º Quadrante 4º Quadrante
Segunda Periferia
Elementos de Contraste Elementos tardiamente
Abriga cognomes evocados e com baixa
prontamente evocados, frequência e, portanto,
porém com baixa frequência. encontram-se mais
distantes do Núcleo Central.
FONTE: O autor
n= 100
Frequência Mínima 5
Termo indutor- INFRATOR
FONTE: O autor
RESUMO
No Capitalismo, há um forte investimento em padrões
a serem consumidos. Assim, quem não se insere em tal
lógica passa por processos de segregação, criminalização e
inferiorização. O contexto do DEGASE mostra, de forma mais
explícita, mecanismos de vigilância e disciplinarização dos
corpos cujos objetivos são torná-los dóceis e normatizados
para a vida social. Este artigo visa discutir como certos modos
de subjetivação serializados ganham corpo nesse território,
compreendendo a disciplina como uma importante categoria de
análise para pensar as relações construídas dentro do sistema,
bem como as possíveis rupturas e linhas de fuga nas práticas
socioeducativas.
1. INTRODUÇÃO
Na conjuntura atual da sociedade, atravessada
cotidianamente pela violência, algumas das características
atribuídas a adolescentes autores de ato infracional, tais como
preguiçoso, mentiroso, dissimulado, mau-caráter, ganham muito
mais força quando atreladas ao sentimento de insegurança da
população, fazendo com que revolta e inconformidade dominem
cada dia mais a opinião pública. Segundo Barcelos e Sousa
RESUMO
Este trabalho narra as experiências vividas em um
curso sobre Direitos Sexuais e Reprodutivos realizado em
uma unidade masculina de internação do DEGASE.
Através de metodologia participativa e visando implementar
a disponibilização de preservativos para os jovens, contou
com equipes técnicas, agentes socioeducativos, direção, e um
grupo de jovens. Os diálogos, debates e desdobramentos da
experiência revelaram a importância e o desafio de discutir os
direitos dos jovens, bem como noções sobre gênero, sexualidade,
Socioeducação e como elas atravessam a vida dos jovens e dos
profissionais no cotidiano da unidade.
1. INTRODUÇÃO
O conceito de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
(DSDR) pode ser considerado ainda recente devido ao fato de
ter começado a ser construído na década 90, com forte atuação
dos movimentos de gays e lésbicas e também de setores do
movimento feminista, trazendo como maior contribuição a
ênfase na perspectiva da vivência da sexualidade descolada
da reprodução e da patologia (LEITE, 2012). Também é
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo coletivo do curso, no exercício de debater a
implementação do preservativo, nos instigou muito a pensar na
importância de trabalhar os temas gênero e sexualidade neste
contexto, deixando nítido que gênero não é apenas relacionado
a mulheres, que sexualidade nos perpassa permanentemente
e que esta deve ser considerada um direito, que ambos
os dispositivos estão atrelados ao nosso exercício da cidadania
e que uma instituição que pretende fomentá-la deve encarar
RESUMO
Este artigo tem o objetivo de analisar duas perspectivas
norteadoras do exercício profissional no Sistema Socioeducativo
que compreendem um conjunto de princípios, normas e
práticas com diferentes significados e objetivos. Primeiramente
apresenta questões fundamentais concernentes ao significado
da ressocialização e, em seguida, analisa, com base nos dois
modelos brasileiros de direito para crianças e adolescentes, as
suas características distintivas no que tange à ressocialização
e à Socioeducação. Por fim, considera que a Socioeducação
expressa o sentido do controle social democrático, fundado
sobre as normas dos Direitos Humanos, apresentando um
significado diferente do conferido à ressocialização, concebida
a partir do modelo de direito dos antigos códigos.
1. INTRODUÇÃO
A origem da socialização dos jovens remonta ao século
XVII, período em que se espalham pela Europa as casas
correcionais, criadas com a finalidade de disciplinar os jovens,
preparando-os para responder às necessidades do mercado de
trabalho. (MELOSSI; PAVARINI, 2006). Era a preocupação com o
adestramento da força de trabalho que proporcionava a associação
entre a ideia de socialização e integração social.
Esta perspectiva torna-se mais nítida com a ressocialização
de jovens encarcerados. Segundo Foucault (1987), a ideia de
ressocialização tem origem no século XIX, com o surgimento das