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Introdução
A protecção jurídica dos direitos de autor remonta aos Tratados da Organização Mundial da Propriedade
Industrial (OMPI). Aqui, as partes contratantes visaram igualmente, e para além do tradicionalmente protegido no
âmbito dos direitos de autor (obras escritas), promover e assegurar a protecção dos artistas intérpretes e executantes e
dos produtores de fonogramas.
É, pois, o reflexo do objectivo de equilíbrio entre titulares de direitos de autor e direitos conexos e o
interesse público geral, nomeadamente em matéria de ensino, de investigação e de acesso à informação, com vista à
adaptação ao novo paradigma da tecnologia digital e dos sistemas electrónicos de informação em rede. Assim, a nível
internacional e comunitário, o processo de adaptação do direito de autor ao novo paradigma tecnológico está adiantada,
o mesmo não se pode afirmar com tanta segurança no panorama nacional.
De facto, a protecção do direito de autor e dos direitos conexos traduz-se na concretização do comando
constitucional previsto no n.º 2 do artigo 42º da CRP - o direito fundamental de “liberdade de criação cultural”,
abrangendo o processo de criação, a obra e a divulgação, que se traduz em valor económico também abrangido pela
protecção. Tanto mais que, a cultura tem um valor económico, daí que os operadores culturais obtenham benefícios
económicos, pelo que a regulamentação se torna estritamente necessária.
Incluindo o mercado uma ampla variedade de bens e serviços protegidos pelo direito de autor, dada a
generalização da tecnologia digital e o surgimento de novos canais de distribuição (um potencial de crescimento), que
deram origem a novos produtos e serviços abrangidos pela propriedade industrial, necessariamente o catálogo previsto
na legislação em que tais direitos estão consagrados não é taxativo. Pelo que, a protecção deve aplicar-se a todas as
“produções do domínio literário, científico e artístico, qualquer que seja o seu modo de expressão”.
Os direitos de autor são um misto de propriedade e personalidade, com faculdades de “utendi” (uso),
“fruendi” (fruição) e “abutendi” (disposição). Porém, o legislador não está sujeito ao “numerus clausus” (elenco
taxativo) dos direitos de propriedade.
Em boa verdade, a especial natureza dos direitos de propriedade intelectual decorre da incorporalidade do
seu objecto, que de diferencia do “corpus mechanicum” (suporte físico) em que se expõem.
As obras são o objecto do direito de autor, definidas como “criações intelectuais do domínio literário,
científico e artístico, por qualquer modo exteriorizado” (artigo 1º do Código do Direito de Autor e dos Direitos
Conexos, doravante designado CDACD).
A qualidade de autor coincide, assim, com a de sujeito de direitos, contudo, por vezes, autor não é criador.
De facto, o direito de autor é originariamente atribuído ao criador da obra, pois o direito nasce na esfera jurídica do
criador intelectual, no momento e pelo simples facto da criação. Neste âmbito, a empresa, como processo produtivo,
pode ser titular de direito de autor.
A sistematização legal conduz-nos à natural distinção entre direitos patrimoniais de direitos morais. Os
primeiros são direitos exclusivos de dispor, fruir e utilizar a obra (compreendendo a tradução, a adaptação ou a
transformação da obra), bem como de autorizar terceiro a fruir ou utilizar a mesma, total ou parcialmente (artigo 9º, n.º
2 do CDADC), ou seja, o de autorizar toda a utilização com fim económico da obra, compreendendo realidades como a
venda ou qualquer outra transmissão, o usufruto, penhor e outros contratos adiante previstos e cujo regime está
consagrado na lei civil.
Já os segundos correspondem à paternidade da obra e direito de opor a qualquer deformação, mutilação ou
outra modificação da obra ou qualquer atentado que possa ser prejudicial à honra e reputação do autor (quem criou a
obra), assegurando a sua genuinidade e integridade (artigo 9º, n.º 3 do CDADC), isto é, os direitos aqui consagrados
visam a garantia da honra e imagem do criador, acentuando a vertente pessoal do direito de autor.
Estes direitos desdobram-se em várias faculdades, consagradas ao longo do CDACD. Assim, encontramos
as faculdades patrimoniais, que consistem no poder de impedir, em certos termos, os actos de radiodifusão ou de
comunicação ao público, de fixação e de reprodução das suas prestações, quando praticados sem o seu consentimento,
assim como quando o seu direito à remuneração suplementar, cujos montantes estabelecidos são irrenunciáveis, não
estiverem acautelados, nos termos do disposto no artigo 179º do CDADC.
O artista tem igualmente o direito de distribuição, incluindo o direito de aluguer e comodato, além do direito
de ser identificado e de reagir contra a ilicitude das utilizações que desfigurem uma prestação, que desvirtuem nos seus
propósitos ou atinjam o artista na sua honra ou na sua reputação (artigo 182º do CDACD).
Conteúdo do Direito de Autor
O conteúdo do direito de autor abrange diversas realidades, que, de seguida, se passam a enunciar:
a) patrimonialidade e direito de utilização (artigo 9º, n.º 2 do CDADC) – estas características manifestam-se
em diversas concretizações ao longo de todo o código, donde se destaca o facto de este direito ser insusceptível de
aquisição por usucapião (artigo 55º do CDADC), de o autor ter a liberdade de escolha dos processos e condições de
utilização e exploração da obra (seja por publicação pela imprensa ou por qualquer outro meio de reprodução gráfica,
gravação ou qualquer outra forma, enumeradas no artigo 68º do CDADC), bem como na necessidade de permissão do
autor para que possa existir a radiodifusão indiscriminada (artigos 75º e seguintes do CDADC);
b) Pessoalidade e direito moral (artigo 9º, n.º 3 do CDADC) - neste âmbito, o autor, cujo nome tiver sido
indicado como tal na obra, tem direito a reivindicar a respectiva paternidade e assegurar a sua genuinidade (artigo 56º
do CDADC), tanto que qualquer modificação da obra depende do acordo expresso do criador e apenas nos termos
convencionados (artigo 59º do CDADC) e, inclusivamente, o autor tem direito à retirada da obra a todo o tempo (artigo
62º do CDADC), direito este imprescritível, enquanto na cair no domínio público, mantendo as faculdades de inédito e
de retirada, transmissíveis aos sucessores do autor (nos termos do disposto no artigo 70º do CDADC), sendo o seu
exercício e defesa estão consagrados no artigo 57º do CDADC.
c) temporalidade e territorialidade - o direito de autor caduca 70 anos após a morte do criador, caindo no
domínio público, segundo o critério do país de origem. Esta protecção é concedida pela Convenção de Berna,
prevendo-se mesmo que o direito de autor possa ser gerido por entidades de gestão colectiva.
Define o regime do registo das Entidades de Gestão, isto é, das entidades que exercem e defendem os
direitos e interesses dos autores, sendo que é requisito necessário para tal defesa a qualidade de sócio ou a inscrição
nessas entidades.
É a denominada Lei da Criminalidade Informática, que dita pena de prisão ou multa, acrescida de sanções
acessórias para a reprodução ilegítima.
Determina o âmbito de protecção jurídica dos programas de computador, em virtude de terem surgido novas
realidades não facilmente subsumíveis às existentes no direito de autor.
Assim, aos programas de computador com carácter criativo é atribuída protecção análoga às obras literárias.
O seu artigo 3º determina o conceito de autoria, que permite determinar o titular do programa, o qual poder fazer ou
autorizar a reprodução ou transformação do mesmo programa.
No entanto, qualquer utente deste pode, sem necessitar de qualquer autorização do titular do programa,
providenciar uma cópia de apoio no âmbito da utilização, para estudo, observação ou ensaio do funcionamento do
programa.
O artigo 7º deste Decreto-Lei introduz o conceito da descompilação. Neste conceito pretende salvaguardar-
se a necessidade à interoperabilidade desse programa com outros. Assim, tem o titular da licença de utilização ou outra
pessoa que possa legitimamente utiliza o programa ou pessoas por estes autorizadas para o fazer, sempre tendo por
perto os limites imposto no n.º 4 daquele artigo.
O âmbito de protecção é muito semelhante ao do CDADC, sendo que, também aqui, pode existir inscrição
do Registo de Propriedade Literária.
A tutela penal é consagrada na Lei n.º 109/91, de 17 de Agosto.
Este diploma regula o disposto no artigo 82º do CDADC, isto é, a compensação devida pela reprodução ou
gravação de obras.
Regula a constituição, organização, funcionamento e atribuições das entidades de gestão colectiva do direito
de autor e direitos conexos
G) LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL
- CONVENÇÃO DE BERNA
Esta convenção tem como âmbito de protecção as composições musicais, com ou sem palavras, de autores
nacionais dos países da União Europeia, não nacionais que publiquem num país da U.E. e não nacionais com residência
habitual num desses países.
Aqui se consagra a protecção internacional das faculdades consagradas na legislação nacional, com algumas
limitações inerentes às necessidades de harmonização das várias legislações dos vários países, nomeadamente a nível
de autorização de reprodução das obras e defesa do direito de autor.
- CONVENÇÃO DE ROMA
O âmbito desta Convenção circunscreve-se à protecção específica dos artistas intérpretes ou executantes,
dos produtores de fonogramas e dos organismos de radiodifusão, sendo que Portugal impôs algumas reservas à sua
aplicação.
Visando a protecção dos programas de computador como obras literárias, qualquer que seja o seu modo ou
forma de expressão, donde se destacam o direito de distribuição, de aluguer e de comunicação ao público, visando a
aplicação a estas novas realidades da disciplina da Convenção de Berna, para a qual se remete.
O seu regime estabelece o âmbito de protecção daqueles que interpretam ou executam fonogramas, isto é,
criações recebidas, produzidas ou comunicadas mediante um dispositivo, bem como dos produtores das mesmas
criações.
A sua protecção está directamente relacionada com o comércio e a vertente económica do direito de autor e
dos direitos conexos. Assim, a protecção abrange as expressões e não as ideias, os processos, os métodos de execução
ou os conceitos matemáticos enquanto tal (artigo 14º da Acordo).
Estabelece, igualmente, processos e medidas correctivas civis e administrativas, bem como os processos
penais a serem adoptados pelos países subscritores de forma a harmonizar a aplicação do regime de protecção destes
direitos.
Foi aqui estabelecido, no âmbito da U.E., a protecção jurídica dos programas de computador, como nova
realidade, destinando-se a ser transposta para a legislação nacional.
Esta Directiva consagra o regime de exercício dos direitos patrimoniais inseridos no direito de autor e
direitos conexos, salientando a importância económica das novas realidades nesta matéria.
Conclusões
O direito de autor e os direitos conexos, cuja disciplina legal foi alvo de estudo, são direitos que,
tradicionalmente, estavam associados à criação de obras literárias. Sucede que, a evolução dos tempos, bem como a
susceptibilidade de crescente aproveitamento económico ditou o necessário alargamento do elenco de realidades a
abarcar naquele âmbito.
Desta forma, a criação de obras musicais, a sua produção e até execução ou divulgação passaram a ter
assento legal, tal como já se demonstrou, estando tal evolução bem mais adiantada a nível internacional, fruto da óbvio
e conhecido atraso na sua transposição para o direito interno.
Contudo, a disciplina legal já abarca realidades como a protecção dos programas de computador, muito útil
quando falamos da criação de música electrónica ou na mistura de músicas.
O denominador comum em toda a disciplina radica no facto de o direito de autor e direitos conexos serem
um misto de direito pessoal, isto é, indissociável da pessoa humana e de direito patrimonial, ou seja, susceptível de lhe
ser retirada vantagem económica. É precisamente por causa desta última característica que ressalta a importância e a
necessidade de legislar no campo.
De facto, o direito de autor pressupõe a possibilidade de defesa da originalidade da obra, da reivindicação da
sua autoria ou produção e do bom nome e honra do criador, mas também a possibilidade de poder transmitir, gratuita
ou onerosamente, por contrato ou sem qualquer formalismo, a exploração com fins comerciais da dita obra.
Para a sua protecção, o registo deve ser uma opção do autor, embora não seja necessário para o
reconhecimento ou constituição do direito. Ele nasce com a obra e permanece com ela, sendo transmissível aos
sucessores do autor falecido e, depois, revertendo para o Estado, nos termos da lei já analisada. Protege-o contra
terceiros que queiram reivindicar um direito que não nasceu na sua esfera de direitos, mas que, com o registo, queiram
obter as vantagens económicas que o mesmo permite e ressalva no preço de venda.
Todas estas faculdades são alvo de grande protecção, quer civil, quer criminal, havendo mesmo organismos
especializados na ajuda a resolver as questões ligadas não só à tutela e defesa de direitos, bem como ao procedimento
administrativo de registo, dependo, contudo, a sua actuação do prévio registo na Direcção Geral de Espectáculos e
Direito de Autor.
Já a figura do “copyright”, provavelmente a mais conhecida do público comum, divulgada no direito anglo-
saxão, apenas consagra a vertente patrimonial do direito de autor, isto é, a remuneração devida ao autor pela utilização
da obra, remuneração essa incluída no preço de venda da obra.
Com efeito, a obra não necessita de ser divulgada ou comunicada ao público para ser protegida ou alvo do
direito de autor. Aliás, é na divulgação da obra ao público e com fins comerciais que o problema do plágio, da violação
do direito de autor e direitos conexos e da falta de consentimento do autor para a sua utilização se coloca. Mesmo
nestes cenários, apenas uma análise casuística poderá determinar com exactidão os limites a observar nessa utilização,
dadas as “nuances” legais.
Em boa verdade, a disciplina legal do direito de autor e dos direitos conexos, dado seu carácter complexo, é
de difícil apreensão ao comum cidadão. De salientar que, na maioria das vezes, só uma análise cuidada e particular
pode orientar o autor ou produtor na defesa do seu direito.
Contudo, aconselha-se a todo e qualquer autor a conhecer os seus direitos e a escudar-se em contratos ou
formalizações escritas, devidamente analisados, acautelando a sua defesa em eventuais situações de violação do seu
direito.