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1º Parte
Qualquer crente no Senhor Jesus Cristo pode estudar a Bíblia, uma vez que
satisfaça certas regras de estudo, seja qual for o método utilizado pelo estudante.
O estudo bíblico não é reservado a uns poucos favorecidos. Também, para tal,
não há qualquer iniciação secreta. Deus nunca tencionou tornar difícil ou
inacessível o estudo de sua Palavra, posto que o mesmo nos leva a conhecê-lo
cada vez mais. Considere, pois, amado leitor, coisa de capital importância, o
estudo sério, sistemático e diuturno das Santas Escrituras. É sumamente
compensador em todos os sentidos.
Apresentaremos oito regras ao todo. Umas são criadas por nós, outras não.
Tendo sido experimentadas estas regras, podemos garantir que elas funcionam
eficazmente onde quer que forem observadas, como vai aqui descrito. Passemos,
pois a considerá-las.
1) A regra do autor
A primeira regra para o êxito no estudo da Bíblia é conhecer o seu autor. O autor
é Deus. Você o conhece? Conhecer, no sentido estrito da palavra, não é apenas
ter contato, ser apresentado ou cumprimentado por alguém; é ter intimidade,
andar ou conviver, enfim, comungar com este alguém. Perguntamos mais uma
vez: você conhece o autor da Bíblia? É Ele o seu Salvador, Senhor e Mestre? Se
não conhecemos o autor da Bíblia, estaremos desqualificados para o estudo e
compreensão da revelação divina. Sem conhecer o autor tudo é difícil na Bíblia.
De fato, a real compreensão da Palavra depende do nosso crescimento espiritual
diante do Senhor (Mc 4.33; Jo 16.12 e Hb 5.13-14). Textos sobre a regra do
autor: Lc 24.27,45 e At 16.14.
3) A regra da oração
Você não irá muito longe no estudo da Bíblia enquanto não começar aprender a
orar. Pedras preciosas podem ser encontradas na superfície da terra. Porém,
geralmente, é preciso cavar. A oração evidencia a nossa dependência do Pai
Celestial, nossa vontade, fome, amor à verdade e humildade. Orar é falar com
Deus, sendo assim um diálogo, não um monólogo. Na oração e meditação diante
de Deus, Ele revela as suas grandezas. Temos exemplos na Bíblia. Bastam estas
palavras sobre oração, porque a melhor maneira de aprendermos a orar é
praticando. Textos sobre a regra da oração: Tg 1.5; Pv 2.3-5; Sl 119.18 e Ef
1.16-17.
4) A regra do Mestre
O mestre que nos ensina a Palavra de Deus é o Espírito Santo. Não há outro. Se
não tivermos o Mestre conosco, nada aprenderemos. Ele é o Santo Espírito
revelador (Ef 1.17). Só Ele conhece as coisas profundas de Deus (Rm 8.27).
Deixe o Espírito Santo fluir livremente em sua vida e terá o Mestre consigo, para
guiá-lo “em toda a verdade” (Jo 16.13). Textos para regra do Mestre: 1Co 2.10-
12 e Jo 10.25.
5) A regra da obediência
Deus não revela a sua verdade aos que são apenas curiosos, sem qualquer
propósito de lhe obedecerem, mas aos humildes que se quedam aos seus pés e
lhe obedecem por gratidão e amor. A humildade e piedade são virtudes
essenciais no estudo das Escrituras (Lc 12.47-48). O espírito da desobediência
paira nestes dias por toda a parte: nos meios domésticos, eclesiásticos,
estudantis, etc. A obediência à verdade divina, revelada nas Escrituras, é um fato
de progresso para o seu conhecimento. A desobediência contumaz à Deus, à sua
vontade, suas leis, fecha a porta às suas bênçãos. Textos sobre a regra da
obediência: Ed 7.10; Jo 7.17-18 e Sl 25.14.
6) A regra da fé
A Bíblia é aceita primeiro pela fé e depois pela razão. Noutras palavras: a
revelação divina transcende os limites intelectuais do homem. Por exemplo: o
fato de a criação do universo (confronte Gn 1.1 com Hb 11.3). Se o leitor não
aceitar, pela fé, a autoridade das Santas Escrituras neste e em inúmeros outros
passos bíblicos semelhantes, está desqualificado para compreender a verdade
divina. É preciso que o leitor tenha a Bíblia como a autoridade final, infalível e
perfeita nos assuntos por ela tratados.
Deus declara um fato e você cuida em crer nisso, porque Ele não se inclinará,
para satisfazer a sua curiosidade, ou por outra, para revelar coisas que você não
pode comportar, ou para as quais você e eu não estamos preparados. Textos
sobre a regra da fé: Lc 24.25; 2Pd 1.21 e 2Tm 3.16-17.
Em Marcos 4.33, Jesus ensinou aos seus, conforme a capacidade dos mesmos
em receberem o seu ensino. É o que vemos também em Hebreus 5.13-14; a falta
do crescimento espiritual é um entrave no conhecimento das coisas divinas. Os
textos sobre a regra do crescimento espiritual são os mesmos da regra anterior.
A) Livros Há livros bons (2Tm 4.13). Há muito mais livros maus, perniciosos,
venenosos como os de Atos 19.19. Resista também à tentação de levar mais
tempo com os livros do que com a Bíblia. Quem fica todo o tempo só com os
livros, torna-se um teórico e autêntico refletor de seus autores.
Aqui está uma sugestão de alguns livros que o estudante da Bíblia deve
possuir:
•Uma boa e atualizada versão da Bíblia;
• Demais versões em vernáculo, para estudo comparativo; Uma boa
Concordância e um Atlas Bíblico;
• Um Manual de Síntese Bíblica ou Chave Bíblica;
• Um Dicionário Bíblico de confiança;
• Um bom dicionário da língua portuguesa;
• Um Manual de Doutrinas Fundamentais (Teologia Sistemática);
• Um ou mais comentários gerais sobre a Bíblia (busque conselho do seu pastor
quanto à indicação destes).
C) Conhecimento intelectual
Na Bíblia, Deus usa a linguagem humana para ensinar a verdade divina. A Bíblia faz
menção de tudo o que é humano para que o homem possa entender melhor o que Deus
quer lhe dizer. Deus é apresentado na Bíblia agindo humanamente pelas mesmas razões.
Devido a isso, procure obter conhecimento intelectual sob quatro pontos de vista:
1) Conhecimento gramatical
A revelação divina, como já disse, está em forma escrita. Procure obter uma soma
regular de conhecimentos de sua língua materna, a fim de compreender e escrever bem
o que lê, ouve e fala. Dois exemplos: Na cena da crucificação de Jesus, os soldados
romanos, por não conhecerem a língua aramaica falada por Jesus, não entenderam o seu
brado proferido naquela língua (Mc 15.34-35). Outro exemplo é o caso da morte de 42
mil efraimitas por causa de uma má pronúncia (Jz 12.1-7). Sabemos casos notórios em
nossos dias. Em Galátas 4.10, por exemplo, o apóstolo não está ordenando, mas
relatando. Veja aí o modo do verbo. Por sua vez, em João 4.24, “espírito” é adjetivo,
não substantivo!
3) Conhecimentos gerais
De História Antiga e Moderna, antiguidades orientais, Geografia Bíblica, bem como
Arqueologia e Cronologia. Os mais ilustres mestres das Sagradas Escrituras eram
conhecedores do saber universal e contemporâneo. Moisés era versado em todas as
ciências dos egípcios (At 7.22). Daniel era estadista (Dn 6.2-3,28). Paulo era versado
inclusive em atualidades (conferir1em Atos 17.28 e Tito 1.12, onde ele cita autores
seculares).
O crente deve ser atualizado com os acontecimentos, não para se exibir, mas para estar a
par do que se passa no mundo, uma vez que grande parte da Bíblia se ocupa da predição
de acontecimentos mundiais, cujo cumprimento estamos vendo desfilar perante nós,
noticiados pelos mais diversos meios de comunicação.
O estudante da Bíblia deve ler muito para melhorar o seu preparo e estar bem
informado, ampliando e atualizando seus conhecimentos gerais. Quem lê mais, sabe
mais! O primeiro versículo do Novo Testamento ocupase de livros (Mt 1.1). O
antepenúltimo versículo dele também ocupa-se do Livro (Ap 22.19).
Em Isaías 45.7 onde diz de Deus: “Eu faço o mal”, “mal” é ra – que é mal não no
sentido pecaminoso, e sim de adversidades, dificuldades, problemas. A mesma palavra
aparece em Salmos 5.4; 1Samuel 20.9; Provérbios 22.3 e 1.33. O mesmo sentido ocorre
em Mateus 6.13,34. Textos sobre a regra dos meios auxiliares: Dn 9.2; 2Tm 4.13; Gl
6.11; Ap 1.3,11.
9) A regra do bom senso ou da razão
É o uso da razão, da cabeça. A Bíblia foi-nos dada por Deus, não só para ocupar o nosso
coração, mas também o nosso raciocínio (Hb 8.10). O bom senso tem muito efeito no
estudo bíblico, especialmente na linguagem figurada, tão abundante nas Escrituras.
Encontrando textos difíceis, é preciso usar o bom senso, pois a analogia geral das
Escrituras é um fato. Não há lugar para contra-sensos. Ao encontrarmos um texto
difícil, apresentando discrepância, não pensemos logo que há erro. Na Bíblia, as
dificuldades são do lado humano, como tradução mal feita, falhas gráficas, falsa
interpretação, má compreensão. A analogia geral da Bíblia tem que ser mantida.
Exemplos: Is 45.7 e Mt 23.35 com 2Cr 24.20; 1Sm 16.14 e Js 24.19; 2Cr 6.1 com 1Jo
1.5 etc. Textos sobre a regra do bom senso: Hb 5.14; Mt 16.3 e 1Jo 5.20.
Quanto ao sentido
O sentido pode ser literal, figurado ou simbólico.
Muitos tomam 1 João 2.27 sem considerar o contexto, e ensinam que o crente que tem
unção de Deus em sua vida não precisa receber qualquer ensino bíblico ou preparação
para o trabalho do Senhor. Ora, a Bíblia se refere aí ao crente receber o ensino de falsos
mestres, dos enganadores mencionados no v26. Em 1Timóteo 5.14, Paulo se refere a
viúvas jovens, moças, e não a moças solteiras; para isso basta ler o contexto, no v11. No
Salmo 42.5, o salmista refere-se diretamente ao Templo de Jerusalém. Considerando
isto, o texto torna-se muito mais tocante. Há, é claro, o sentido indireto e geral.
Há livros na Bíblia que não têm contexto definido, como Jó, Provérbios, Eclesiastes,
Cantares. O contexto pode ser imediato ou remoto, isto é, pode ser um versículo, um
capítulo ou o livro todo. Textos sobre a regra do contexto: 2Pd 1.20 e Rm 15.4.
Que o estudo sistemático da Bíblia seja uma realidade na vida de cada um dos leitores,
ou antes, na vida de cada filho de Deus.