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SAMARITANA: as etapas no caminho do nosso DESEJO - Jo 4,1-30

Um imperador saiu de seu palácio para um passeio matinal.


Encontrando um mendigo, perguntou-lhe o que desejava.
O mendigo riu dizendo que ele falava como quem pudesse
realmente satisfazer o seu desejo.
O imperador lembrou ao mendigo quem era e disse que
poderia satisfazer qualquer de seus desejos.
O mendigo advertiu-o dizendo que ele devia pensar duas vezes antes de prometer qualquer coisa a alguém.
O mendigo, na verdade um Mestre, revela ao imperador seu simples desejo: ver cheia sua cumbuca de pedinte,
com qualquer coisa. O imperador chamou seus empregados e ordenou que assim se fizesse, com moedas de
ouro.
Ao cumprir a ordem, porém,eles perceberam que tudo o que colocavam na cumbuca desaparecia imediatamente.
O imperador, tendo derramado boa parte de seus tesouros, percebeu que colocaria em risco todo o seu reino.
Caindo de joelhos, pediu ao mendigo que lhe revelasse o segredo. O mendigo, então, respondeu que a cumbuca
era como o desejo humano, pois este também nunca podia ser esgotado.

O que é que pode, verdadeiramente, acalmar nosso desejo? De quê, realmente


temos sede?
O que é este cântaro de onde pode jorrar a água viva?
Jesus fala à samaritana, mulher excluída. Jesus escolhe uma mulher para
ensinar a prece mais profunda. Talvez porque os seus ouvidos não estivessem
fechados pela certeza de ter razão, pela certeza de possuir a Verdade. A
samaritana não tem a Verdade, mas ela a busca. E ela se deixa levar por este
homem que vem se sentar à borda do poço. É a sexta-hora, o meio-dia. Hora
em que não há sombra. É a hora da lucidez, em que é possível ver-se a si
mesmo numa luz mais límpida.
Jesus aproxima-se dela. Ele vem reunir-se a ela em seu desejo, em sua sede. E
Ele pede: “Dá-me de beber!”
Os Antigos diziam que Ele era uma fonte que tinha sede de ser bebida.

Temos, então, um primeiro ensinamento sobre um caminho de iniciação:


não somos nós que procuramos Deus, que procuramos a Verdade.
É Deus, é a Verdade que nos procuram. É a Vida que nos procura. É a Vida que busca
dar-
se a nós, através de nós. Através do poço que somos.
O POÇO é o símbolo do coração. Coração profundo no qual é preciso mergulhar, do qual
é
preciso tirar a água, procurar a fonte de nosso ser.
Assim, no nosso caminho, primeiro é preciso deixar-se reunir ao “desconhecido” no
cami-
nho que nos convida a tirar a água do fundo do nosso poço.

Mas a samaritana tem uma reação de recuo: “Como tu, que és um judeu, pedes
de beber a mim, samaritana?”
Em sentido mais profundo: Como é que tu, que és um ser infinito, te diriges a
mim, que sou finita e limitada?
“Se você conhecesse o DOM de Deus!...” Se nós conhecêssemos o dom do Ser em nós mesmos,
se nós
soubéssemos receber a Vida como um dom e não como uma dívida!
Um espírito que crê que tudo lhe é devido, um espírito que está aberto, é alguém que
recebe todas as coisas como um dom. Tudo é para ele um presente.

“Aquele que bebe desta água, terá sede de novo”. Ocorre uma transformação do
desejo. Jesus a faz
compreender que a água que ela busca não
pode acalmar a sua sede.
O que a samaritana busca, aquilo que o seu desejo procura, é este “EU SOU” que
ela pode encontrar no fundo do seu ser, no coração mesmo da sua vigilancia.
Agora ela pode deixar lá o seu cântaro, este cântaro que simboliza todo nosso
conhecimento adquirido. Ela não tem mais necessidade de cântaro porque ela
leva a fonte. Ela não tem mais necessidade de pedir apaziguamento às coisas
externas porque ela é a sua própria fonte. E é a partir daí que ela pode se voltar
para os outros.
No caminho da samaritana distinguimos as seguintes etapas:
- A 1ª etapa é caminhar para o poço. Quer dizer, despertar em si mesmo, o desejo do conhecimento.
- A 2ª etapa é sentar-se à borda do poço. É ficar à escuta, numa postura silenciosa. É dar tempo ao tempo; dar
tempo à eternidade, dar a beber; dar, do seu tempo-espaço, a esta Presença que despertou em nós
- A 3ª etapa é descer ao fundo do poço. É descer à profundidade do nosso coração. Ir ao fundo da nossa sede,
do nosso desejo. Responder ao apelo d’Aquele que está nesta profundeza.
- A 4ª etapa é descobrir o DOM de Deus. Descobrir que o fundo do ser é um DOM.
- A 5ª etapa trata de despertar para outra sede. Despertar para o desejo de uma felicidade que não se acaba.
Despertar em nós este desejo da Água viva.

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