Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
45 MULHERES CUIDADORAS
JÉSSICA LORENA MUÑOZ PIZARRO
POEMAS
21 OS ARAUTOS BRANCOS DA MORTE
LIVRE ADAPTAÇÃO DO POEMA DE
CÉSAR VALLEJO POR GERMÁN MILICH
35 AINDA HÁ PALAVRAS
BRENDA MAR(QUE)S PENA
APOIO
CARAVANA GEALI
GRUPO EDITORIAL GRUPO DE ESTUDOS
E PESQUISA EM
ALFABETIZAÇÃO E
LETRAMENTO
EDITORIAL
A RESPOSTA É ARTE
O assassinato de Marielle foi um feminicídio de Estado,
não um crime ligado ao patriarcado da vida privada, foi
uma mensagem do patriarcado assumindo o aparato
público de um país.
SEMPRE VOU ME LEMBRAR DE MARIELLE FRANCO
COMO AQUELA QUE, ALÉM DE RESISTIR, AVANÇA E
TRANSFORMA. Se há uma coisa que aprendi com o seu
exemplo, é que a resistência não deve ser naturalizada,
que nós merecemos algo melhor. Não pode ser que
nossa vida se limite a resistir eternamente quando já
existem condições para viver com dignidade.
Não podemos aceitar a resistência como algo natural,
porque isso nos detém no precário, nos desqualifica. A
resistência não pode ser instalada como uma condição,
a resistência é uma fase táctica de uma estratégia,
resistimos porque temos um plano, um pensamento
elaborado que nos fará avançar.
O patriarcado rejeita tudo o que é pensamento,
elaboração e teoria. Quanto menos elaboramos, melhor
para seus interesses, por isso nos mantém pobres e
nos bombardeia com informações que nos educam a
agir sem pensar e que caracterizam a arte como algo
superfluo e inútil.
Marielle questionou esse determinismo para nos
mostrar que é possível, a partir da resistência, avançar
e não lidar apenas com o urgente, mas também, com o
que é importante.
Ela escolheu fazer parte de toda a complexidade que
envolve participar de um partido político e entrou com
legitimidade e autoridade nas verdadeiras esferas do
poder para transformar formalmente - nas entranhas -
uma máquina pública baseada na iniquidade patriarcal.
Essa foi a sua transgressão, porque o que o poder
esperava dela era que fosse uma eterna protestante,
uma liderança em algumas manifestações, realizadas
em algumas ruas em algum dia de algum ano. Os
poderosos não esperavam sua presença constante
e empoderada como representante formal de uma
parte da cidadania, nem sua inteligência, nem seu
pensamento estratégico e elaborado.
Como o patriarcado não tem outros argumentos
além da força e o medo ele reagiu - como de costume
- com extrema violência e covardia: 9 tiros numa
emboscada. Esse talvez seja o paradoxo mais triste que
o patriarcado nos impõe, ter que morrer para avançar.
Esse é o paradigma que temos que mudar, temos que
iniciar uma era sem mártires. NOS QUEREMOS VIV@S!
E é por isso que fazemos essa revista, para pegar
esse legado, divulgá-lo e criar instâncias práticas para
aplicá-lo na transformação da sociedade. Precisamos
recuperar a produção da arte, precisamos naturalizar o
pensamento e a filosofia. Precisamos nos inspirar em
Marielle e nos sentir capazes de ocupar outros espaços.
Portanto, para homenagear a memória de Marielle nós
artistas não podemos simplesmente resistir, também
temos que avançar e recuperar territórios, temos que
nos comunicar melhor, temos que discutir estratégias,
temos que fazer política, temos que produzir arte.
Que um artista possa viver de seu trabalho artístico
é possível, é necessário e é o caminho para garantir
o direito constitucional de acesso aos bens artístico-
culturais que são, no final das contas, os que qualificam
o debate, ampliam a visão crítica e nos libertam.
Entrevista com
CIDA FALABELLA
“Sou uma mulher de teatro e meu
manifesto é um desabafo entre Antígona
e Diadorim, trago meu punho cerrado”.
06
CIDA FALABELLA é atriz, diretora teatral e
professora, formada em História e Mestre em
Artes pela UFMG. No biênio 2011 - 2012 integrou
o Conselho Municipal de Cultura. Em 2017,
assume seu primeiro mandato na Câmara de
BH, onde atua com foco na promoção da cultura,
compreendida de maneira transversal, inclusiva e
diversa. Período de mandato: 2017 - 2020.
AIM : Em sua opinião como vereadora, o que não
está sendo bem feito no poder público em relação à
produção de bens artístico-culturais?
CIDA : Da parte do poder público a nossa luta é para
que a cultura seja vista como um elemento fundante
de qualquer administração, que tenha um espaço de
valorização, de destaque, que se sente à mesa junto
com as outras pastas: segurança pública, educação,
saúde e não ser apenas um apêndice do gabinete do
prefeito.
Nesse momento a gente está passando por uma
grande mudança, uma chacoalhada em Belo
Horizonte, que vem de um modelo em que as leis de
incentivo viraram política pública, o que é uma coisa
completamente absurda porque isso não é política, é
um critério que exclui muita gente séria.
E no processo dessa última administração, o que
podemos ver é que teve avanços, pessoas muito
comprometidas com a inclusão de produtores,
adequação dos editais, aumento do orçamento,
sobretudo para o Fundo Municipal de Cultura, que é
um dos principais instrumentos. Um exemplo disso
foi a nossa luta para voltar com a Secretaria de Cultura
preservando a Fundação Municipal de Cultura.
07
AIM : E como atriz, em que nós artistas estamos
errando em relação à produção de bens artísticos
culturais?
CIDA : Eu acho que hoje somos alvo e estamos
tentando resistir. Desde 2016 vivemos um momento
de grande resistência dos artistas, à censura,
aos ataques aos direitos, temos assumido um
protagonismo nisto e isso afeta a produção de arte.
Muitas vezes temos que ficar segurando uma rédea
que não é só nossa e isso é muito pesado. Existe
resistência e uma tentativa de ampliação, mas
somos alvos e a cultura está sendo desmontada nas
políticas federais e estaduais. Belo Horizonte acabou
se tornando um bolsão de proteção de determinadas
questões.
Mas, obviamente temos problemas. BH é uma cidade
muito grande com uma produção intensa e grande
parcela da população que produz essa cultura sempre
ficou fora dos editais e das políticas públicas.
E também temos que pensar nas artes, é importante
fazer essa diferenciação, porque são coisas diferentes
as manifestações da cultura e a produção de bens
artísticos. As artes precisam ser tratadas com políticas
específicas.
No governo Dilma, com o Juca Ferreira à frente, existia
uma tentativa de estruturar a política nacional para
as artes, pois dentro da cultura temos que considerar
a arte como um universo próprio. Cultura é um termo
muito amplo e a arte é uma seta, uma ponta de
lança que atravessa todas as questões e tem suas
especificidades próprias inerentes à sua produção.
Precisamos avançar nessa política municipal para as
artes.
A crítica maior é que a gente perdeu a narrativa na
sociedade de qual é o papel do artista.
A crítica maior
é que a gente
perdeu a
narrativa na
sociedade de
qual é o papel
do artista.
AIM : A Gabinetona abriu as emendas impositivas
para consulta pública, por quê?
CIDA : As emendas impositivas foram uma forma
de incidir de uma maneira menos eleitoreira, que não
fosse um instrumento para garantir a reeleição do
parlamentar, não queríamos trabalhar assim.
Vemos que em grandes áreas como política para a
mulher, cultura, meio ambiente, eram necessárias, por
isso não íamos abrir mão desse recurso, pois a emenda
impositiva é necessária, precisamente, quando não há
política pública.
Agora tudo está em xeque, estamos num momento de
grande crise, mas ao mesmo tempo a crise faz a gente
também repensar os nossos modelos. Por isso criamos
esse mecanismo de consulta participativa que integra
a sociedade e também presta contas de uma forma
transparente.
11
AIM : Você não acha que dentro da dificuldade
de compreender a função da arte a figura do gestor
cultural é a mais incompreendida, pelo fato de ser
fundamental na engrenagem de produzir bens
artísticos?
CIDA : Tudo isso diz respeito à arte como um todo.
Aqui na câmara a gente vive isso 24 horas por dia.
A última fala aqui no dia do debate sobre a moção
de repúdio à Netflix que estava sendo votada era:
os artistas são criminosos.
Ouvimos isso aqui, e com gestores da arte também
acontece, por exemplo um Centro Cultural que fez
uma exposição que foi filmada por parlamentares e
que foi polêmica; quem ficou mais exposto? O gestor
do centro cultural. As pessoas foram na casa dele e
atacaram ele. É uma situação muito difícil mesmo.
Nós artistas também estamos todos expostos. Eu
como vereatriz também estou exposta a esse tipo de
ataque, a receber ilações sobre o meu trabalho, sobre o
trabalho da ZAP 18 dizendo, por exemplo, que a ZAP 18
ganhou algum tipo de projeto porque eu fiz algum tipo
de ingerência.
13
AIM : Falando disso, quer comentar algo sobre
Alvim?
CIDA : Alvim performou muito bem o governo
Bolsonaro: um intelectual respeitado que emigra para
esse campo, sofreu um processo de transformação.
Um homem de teatro pensante, um pensador do
teatro virou um homem que defende a ideia de arte
total e arte conservadora. É algo tão surreal que parece
que é uma peça que está sendo criada em tempo real
por um dramaturgo. Toda vez que eu o via, dizia: “não
é possível, que esse cara tenha se transformado nesse
personagem”.
E agora Regina Duarte que vai performar essa mulher
que é um símbolo da TV Globo e que não tem
nenhuma trajetória na área nem no serviço público.
Nunca foi gestora, não tem nenhuma experiência
nisso, nem traz como atriz essa carga nessa atividade,
embora seja uma mulher que teve momentos
importantes na teledramaturgia.
Mas temos que separar a Regina Duarte e o que ela
representa que eu acho que é mais do mesmo, da
relação misógina do governo com ela, falando dela
como a namoradinha do governo, a noivinha, por isso
temos que separar os ataques misóginos que a Regina
sofre, com os quais discordamos. Ela hoje apresenta
valores mais conservadores que não nos representam,
não acreditamos que ela vai conseguir fazer nada de
positivo na Secretaria.
A verdadeira ministra de Cultura é a Damaris, que é
quem performa melhor esse governo. Essa mulher que
fala sobre vários assuntos que trabalham no imaginário
cultural e ela tem uma ideia do que representa
dentro do governo Bolsonaro. Então eu acho que
eles acabaram com o Ministério, porque tem vários
ministros que performance a cultura. É uma táctica.
14
AIM : Quais as maiores dificuldades que você
enfrenta na Câmara Municipal de Belo Horizonte?
Como é esse dilema da sua vivência na atuação teatral
e agora ter que conviver com esse ambiente às vezes
tão adverso?
CIDA : O trabalho parlamentar é extremamente
machista. O machismo foi a coisa que mais se exaltou
para mim, nunca me vi tão feminista desde que eu
entrei aqui e comecei a entender o espaço que falta às
mulheres. Isso vai desde silenciamento e , infelizmente,
às vezes se estende para companheiros que vão além
do campo da direita.
O caso da Marielle foi um símbolo disso, uma
companheira que foi morta São processos de poder
muito violentos que expulsam as mulheres o tempo
inteiro dos espaços de decisão. E desde a nossa eleição
de uma forma crescente os ataques à cultura, à arte
e aos artistas reverbera em mim de uma maneira
extraordinária, pois eu sou militante da cultura há mais
de 40 anos, então não tem como não me sentir alvo
desses ataques.
A gente falou desde o início que ia performatizar a
política, mas a direita está ganhando de 10 a 0 na
performatização. É impossível concorrer com Alvim ou
com a Regina Duarte. O que eles simbolizam então é
como aquela foto em negativo: a gente está um polo
da performatização da política, no sentido de trazer
a sensibilidade, de trazer a arte, de trazer o debate da
cultura. E eles também estão compreendendo isso no
outro polo, de que eles vão precisar desses elementos
que eles usam o tempo inteiro: simbólicos e artísticos.
Portanto é uma disputa de simbólico. E nesse último
ano para mim ficou nítido que vou disputar esse
simbólico, cada vez mais, voltando a fazer o que eu sei
fazer que é o teatro.
Então para sobreviver nessa selva retomei meu
trabalho como atriz, voltei a me apresentar voltei a
participar, mesmo que pontualmente, de projetos na
cidade, de leituras dramáticas de um texto de Jorge
15 Furtado que fala sobre um episódio de censura.
FOTO THIAGO MACEDO
“Então para
sobreviver
nessa selva
retomei meu
trabalho
como atriz,
voltei a me
apresentar
voltei a
participar...”
Cida
Falabella
Fiz um trabalho chamado: “O manifesto desabafo de
uma mulher de teatro”, que eu escrevi sobre ser essa
mulher de teatro no meio desse contexto. Apresentei
meu solo que já não fazia um tempão: “Sou uma
mulher de teatro e meu manifesto é desabafo entre
Antígona e Diadorim trago meu punho cerrado”. Aí eu
vou falando de outras mulheres de teatro falando da
Fernanda, falando da Cacilda Becker, tentando puxar
essa memória da ancestralidade das mulheres que vêm
antes de mim e as que vieram depois.
Então é um ambiente difícil, mas que a gente
aprende a conviver com ele. Sobre o respeito, antes a
gente só tinha um vereador que falava de cultura, o
Arnaldo Godoy e a gente sente que a nossa eleição
e a Gabinetona, um projeto atravessado pela cultura,
trouxe mais luz a esse debate, e embora eles nos
ataquem eles também nos temem e nos respeitam.
Não sou tão nova, faço questão de deixar meu cabelo
branco, tenho 40 anos de teatro, tenho uma história de
vida, de coerência nessa militância pela valorização da
cultura e da arte, disso ter uma importância na cidade.
Nos anos 90 a gente lutava pelos grupos de teatro,
pois tinham uma forma de produzir que é diferente
do produtor que vai lá e reúne um elenco, é necessário
que existam recursos para isso. Era um grande debate
dos anos 90, o movimento de arte nacional e depois
o local, que depois deu no processo de Arte Contra a
Barbárie, em São Paulo, depois no Redemoinho e no
Movimento Nova Cena, em Belo Horizonte, que reúne
interessados na reflexão sobre políticas públicas para a
Cultura.
Na Gabinetona tem um grupo de teatro que trabalha
com práticas do Teatro do Oprimido trazendo o afeto à
política, então sem o acolhimento da construção que a
gente faz acho que não sobreviveríamos. É um mandato
atravessado pelo teatro, como um das práticas que
a gente utiliza dentro do mandato. A gente valoriza
o processo não só o resultado.
17
AIM : Você acha que o mundo da política é teatral?
CIDA : É uma grande arena, o problema é que
nem sempre os atores são bons, alguns são muito
canastrões. Como disse o FERNANDO BONASSI “NÓS
FAZEMOS TEATRO CONTRA O MAL TEATRO QUE
QUEREM FAZER DA REALIDADE”. É uma exposição
o tempo inteiro, a gente acaba performando uma
persona, a Cida que está lá, não é a mesma que está
aqui falando, embora seja a mesma pessoa, nem a
mesma que vai à casa da filha e também é avó.
Teve uma coisa no início do mandato muito engraçada,
nas minhas primeiras falas no microfone era muito
tenso e eu chegava muito dura e meus assessores me
falavam que eu fazia um movimento com a perna, o
que Eugenio Barba chama de equilíbrio precário, aí
todos falavam: “olha lá mexeu a perninha, agora vai
botar pra quebrar”. Eu tenho muita orientação para
estar em cena, no início quando ia nas reuniões ou no
plenário eu organizava tudo o que eu ia falar, como
uma atriz. Além do mais tenho dramaturgos que me
ajudam e me orientam na direção de arte.
19
MARIELLE VIVE - Homenagem na
Camâra Municipal de Belo Horizonte
20
OS ARAUTOS
BRANCOS DA
MORTE
Há golpes na vida, tão fortes... eu não sei!
Golpes como do ódio do homem;
como se diante deles,
a ressaca de tudo sofrido se estancasse na alma...
São poucos; mas são...
Eles abrem trilhas escuras no rosto mais feroz
e nas costas mais fortes.
Serão eles, acaso, potros de bárbaros Átilas
ou os arautos brancos que a morte nos envia.
São as profundas quedas dos cristos da alma de
alguma fé adorável que o destino blasfema.
Esses golpes sangrentos são os estalos de um pão
na porta de um forno que se queima.
E nós... pobres!
Viramos os olhos, como quando por cima do ombro
nos chamam com um tapa;
enlouquecidos os olhos e tudo o que vivemos se estanca
como uma poça de culpa em nosso olhar.
Há golpes na vida, tão fortes... eu não sei!
22
ENTENDO A BOLÍVIA
Entrevistamos a Gestora Cultural Silvana Vázquez
sobre a complexa situação da Bolívia. A democracia
é a resposta para tudo?
28
Não podemos cair no romance do observador, o
espectador que vem em Bolívia para realizar turismo
étnico cultural, mas temos que no responsabilizar
pelo que são nossos costumes. Acrescentando a
isso as ocupações das igrejas católica e evangélica
nas populações indígenas e rurais que impactam
diretamente em hábitos, costumes e tradições.
Essa é a discussão que devemos retomar para que
nossos povos possam continuar progredindo individual
e coletivamente.
30
SE NÃO FINANCIARMOS A FORMAÇÃO,
SEMPRE DEPENDEREMOS DO ESTADO OU
DE ALGUM SETOR DO PODER.
A lógica colaborativa é um pensamento complexo que
precisa de ferramentas intelectuais. Temos que parar
de financiar a dependência patriarcal e paterna (se é
que são coisas diferentes).
31
O SISTEMA
DEMOCRÁTICO
É PROJETADO
PARA A
ACUMULAÇÃO
DE PODER E
PARA TOMAR
O PODER.
EU APRENDI
ISSO COM O
FEMINISMO.
Silvana Vázquez
Quando me refiro à transição, não é o rótulo vendido
pela mídia - pública ou privada - não me refiro
à transição como um nome para um processo
institucional administrativo, mas à transição espiritual
e humana. E estamos nessa transição, portanto,
teremos momentos difíceis e contraditórios. Porque
agora vamos enfrentar propostas de partidos políticos
conservadores e planos governamentais “fascistóides”
e anti-direitos.
E tenho certeza de que isso não vai durar. Hoje a
Bolívia é uma fonte de inspiração para nossos países
irmãs e irmãos, para que seja possível enxergar além de
um sistema binário. ESTA CRISE QUE ESTAMOS
ENFRENTANDO É UMA CRISE DO SISTEMA
DEMOCRÁTICO.
O futuro está em nossas mãos, em nossa capacidade
de criar novos espaços para a reflexão política, novos
espaços para a reflexão artístico-cultural, que vão
contra a cultura da corrupção, da estupidez, do
medo de nos sentir julgado. As crises nos permitem
confrontar esses medos, quebrá-los e evoluir.
Infelizmente o futuro próximo não será equânime
na América Latina devido a que alguns países estão
obnubilados em romances ou, pior, em momentos
de atrocidades. Isso é contrário à diversidade e as
diferenças de cores de pele e opções sócio afetivas que
temos em nossos países, e a Bolívia está no meio disso
em uma crise, vendo por qual caminho construir algo
diferente.
33
AIM : E, finalmente, você quer comentar algo sobre
Marielle Franco?
SILVANA : Como estamos conectados com nossas
memórias, desejos e crenças, quando o assassinato
de Marielle aconteceu, também me machucou, chorei
e sofri. E a distância, como parte dessa comunidade e
daquela conexão com a memória, falei sobre o assunto
nas minhas redes, procurei entender mais o que isso
significava. Porque, obviamente, é a representação
e o ícone do ataque que sofremos todas aos nossos
direitos e liberdades.
34
AINDA HÁ
PALAVRAS
A vida ainda pulsa em esperança
Implorando algumas gotas do cálice
Das doces palavras voando ao vento
No outono que vai junto com as folhas
Afastando burocracias e
compromissos
Descobrindo o amargor dos dias
opacos
Escrevendo com batom versos
preciosos.
CHAPEUZINHO
VERMELHO, A
HEROÍNA QUE
MORREU POR
TRANSGREDIR.
36
SEU PAI MENTIU PARA VOCÊ
Nesta seção, convidamos a escritora de Salto -
Uruguai, María Luisa de Francesco, especializada
em literatura infantil e juvenil, a desmascarar certos
conceitos ideológicos transmitidos pelos clássicos da
literatura infantil.
42
“Eu defendo
tua história,
porque as
meninas
precisam
aprender a
desobedecer
e - se um dia
elas dormem
com um lobo,
com ou sem
disfarce - a
se entregar
a esse final
voraz!”
María Luisa
de Francesco
LITERATURA VERSUS PSICOLOGIA
São todas perguntas. Não darei minhas respostas,
porque o importante é criar um debate interno, você
lendo, procurando informações ou compartilhando
com os jovens e eu provocando questões.
E, resumindo, digo apenas que a história de Charles
Perrault, o original, está excelentemente escrita. Ela
cumpre tudo o que pode ser solicitado a uma história,
é curta, substancial e adequada a qualquer idade.
O resto: análises e suposições da psicologia e da
psicanálise, eles validam a história ou não? Não!
A literatura é arte e, portanto, tem milhares de
interpretações, mas quem lê ou ouve a história ama o
conteúdo artístico nela. Artisticamente, é sem dúvida
uma obra clássica que continua a ser ouvida, lida,
editada e modificada, portanto, seu valor.
44
MULHERES
CUIDADORAS
JÉSSICA LORENA
Por
MUÑOZ PIZARRO
Docente Investigadora
de la Universidade de
Santiago de Chile
Especialista en
Filosofia, Economia
y Desenvolvimento.
45
Pouco tempo depois de caminhar pelas ruas
movimentadas do Chile, no domingo, 8 de março
deste ano, nas marchas pela igualdade, justiça e
libertação das mulheres, em nível planetário, estamos
enfrentando uma epidemia que afeta vários países.
A maioria optou por decretar quarentenas para impedir
a propagação do vírus COVID-19 pelos territórios,
deixando milhares de pessoas mortas. Mesmo
assim, seu progresso não pode ser completamente
interrompido e a questão que se coloca é o que
acontece com as mulheres afetadas direta e
indiretamente pelas Políticas de Assistência.
AS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL E
ECONÔMICA DAS SOCIEDADES OCIDENTAIS
ESTABELECEM UM MODO DE PRODUÇÃO E
UMA SOCIALIZAÇÃO DAS PESSOAS ATRAVÉS DE
UMA DIVISÃO DO TRABALHO, QUE ORIENTA AS
MULHERES NO CUIDADO E ATENÇÃO AOS OUTROS
E OS HOMENS NA PRODUÇÃO DE MERCADORIAS.
Assim, atualmente a pandemia do Corona Vírus
levanta a questão da divisão dos cuidados domésticos.
Os dados indicam que grande parte desse trabalho
é realizada por mulheres, sem remuneração e elas
também são outra grande parte do trabalho de
assistência social pago. Especialmente no contexto
de surtos de doenças virais, tão graves quanto o
COVID-19, um grupo de cientistas britânicos aponta
que a participação de mulheres nos governos é
necessária para fazer parte dos protocolos.
46
Desse modo, leva-se em consideração que as mulheres
são as mais afetadas nesses processos de infecção
viral, porque são elas que cuidam da maior parte dos
infectados, portanto seu grau de exposição é maior.
Esta situação de catástrofe e quarentena que estamos
decretando para a maioria dos países com a epidemia,
contempla que os estabelecimentos de ensino para
evitar uma crescente propagação de vírus. Isso significa
que a maioria deles realiza tarefas de cuidado em um
contexto de alto estresse, além de tudo ou que envolve
procedimentos de medidas extremas de higiene, de
acordo com as recomendações da OMS (Organização
Mundial de Saúde).
Isso implica uma maior carga de trabalho e exposição
ao vírus para as mulheres, que se tornam cuidadoras
em tempo integral na tarefa de atendimento domiciliar
ou no trabalho em saúde, quando são enfermeiras,
responsáveis por cuidar de pacientes em condições
graves.
Segundo dados da organização Yo Cuido, no Chile,
98% das pessoas que cuidam de pessoas acamadas,
deficientes ou dependentes são mulheres. Muitos
desses pacientes críticos, que estão sob os cuidados de
seus familiares, têm sérias dificuldades de deglutição,
o que os leva a sofrer pneumonia devido à micro-
aspiração, ou seja, uma infecção no pulmão devido
à aspiração de alimentos.
Devido à natureza arriscada e perigosa desse tipo de
atividade, a Associação buscou reconhecer que ser
cuidador é um trabalho permanente muito exigente,
não reconhecido pelo Estado. Somente em junho
de 2019, com sua luta incansável, eles conseguiram
aprovar a Lei 20.422 para reconhecer o papel e os
47 direitos dos cuidadores.
Da mesma forma, com o objetivo de tornar visível o
trabalho dos cuidadores, eles realizaram uma pesquisa
para determinar a situação de emprego e o bem-estar
emocional das pessoas que deveriam dedicar seu
tempo a cuidar de um membro da família em situação
de dependência. 98% das pessoas que realizam esse
trabalho são mulheres, deixando evidente que elas são
realmente as que cuidam de pessoas que precisam de
cuidados de saúde.
Além disso, 68% das pessoas pesquisadas têm a
“SÍNDROME DO CUIDADOR” em um nível intenso,
ou seja, uma sobrecarga muito forte. Isso revela um
prejuízo da saúde física e mental das mulheres que
realizam essas tarefas cansativas.
No contexto da COVID-19, esse requisito é muito
maior, uma vez que a demanda já feita no atendimento
agora acrescenta os riscos que essas pessoas envolvem
em serem expostas a infecções ou infectar cuidadores.
Essa epidemia agrava a tensão, a severidade máxima
dos cuidados para não se expor à infecção, definindo
um cenário difícil e premente para todas as pessoas
que serão expostas à propagação do vírus.
ESTA REALIDADE NOS LEVA A REFLETIR COMO
SOCIEDADE EM CONTEXTOS DE PROTESTOS
SOCIAIS, QUE A PANDEMIA TRAZ NOVAMENTE O
QUESTIONAMENTO DE NOSSAS ESTRUTURAS DE
DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO. Os Estados têm
uma tarefa relevante no reconhecimento dessas tarefas
com reciprocidade e equidade. A mulher é a mais
prejudicada por não ser considerada uma trabalhadora,
e isso é uma tarefa árdua, dolorosa e injusta.
48
PRESTIGIE A
LITERATURA MINEIRA
O DIA QUE... MEU PAI
SAIU DE CASA
Ana Laura Côrtes
Na história, uma menina doce e sensível
recebe a notícia da separação dos pais.
Sem entender muito bem, ela fica triste e
chora. Mas os dias vão passando e as coisas
chegam ao lugar, até que a menina se sente
aliviada. Ilustrações de Cristiane Freitas.
APARECIDA RAINHA
Leonardo Costaneto
Nas palavras de Tonico Mercador, “os
acontecimentos narrados em Aparecida
Rainha não são episódios de um memorialista.
Prefiro chamá-los de ‘lembranças ficcionais’,
em que o autor, indo atrás de um tempo para
que este não se perca, desfila seus variados
personagens – negros escravizados, gente do
interior, familiares e as jovens por quem se
apaixona. Nenhuma fala ou diálogo descamba
para o maneirismo fácil do vocabulário oral.
Assim o autor pavimenta sua estrada de
escritor sério e criativo”.
caravanagrupoeditorial
GEALI
Grupo de Estudos e Pesquisa em
Alfabetização e Letramento
Universidade Federal do Rio Grande-FURG
ESCUTE O PODCAST
HISTÓRIAS QUE NAVEGAM
salapodcast.furg.br/podcast/
historias-que-navegam