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Ética e Educação

Competências básicas para a comunicação


(escrita)

I Conceitos fundamentais
A comunicação apresenta-se organizada num discurso (oral ou escrito).
Discurso é um conjunto coerente de argumentos que visam expor um determinado
assunto, formular uma problema e apresentar uma resposta devidamente
justificada com argumentos.
E dado que aqui se pretende desenvolver a comunicação argumentativa que serve
de base ao discurso científico (que é um discurso argumentativo) é preciso
desenvolver competências específicas que nos permitam produzir um tal discurso,
isto é, competências para problematizar, conceptualizar e argumentar, e que se
podem definir do seguinte modo:
Problematizar é descobrir e formular problemas que desafiem a nossa reflexão a
passar para além dos significados imediatos das situações.
Conceptualizar é elaborar conceitos, isto é, noções gerais organizadoras da
pluralidade da experiência humana.
Argumentar é construir um conjunto de proposições articuladas logicamente de
modo a justificar uma posição ou tese.

II Instrumentos lógicos
O discurso argumentativo tem uma grande exigência racional; e uma vez que para
argumentar é preciso raciocinar (ou fazer inferências válidas), são necessários, de
um ponto de vista lógico, os seguintes instrumentos
1) argumentos
2) proposições
3) conceitos/termos

Argumento é uma sequência de proposições organizadas de tal modo que a


conclusão a que chegamos tenha por base outra ou outras proposições a que
chamamos premissas.
Ex: Proposição/Premissa 1) Tudo o que existe tem um princípio
Proposição/Premissa 2) Tudo o que tem um princípio tem uma causa
Proposição/Premissa 3) O Universo tem um princípio Proposição/Conclusão : Logo,
o Universo tem uma causa.
Mas no debate de ideias podemos cometer erros ou alguém pode tentar enganar-
nos. Por isso a aceitação de qualquer tese exige a verificação da
• validade dos argumentos que a justificam (argumento válido é aquele
que não pode ter premissas verdadeiras e uma conclusão falsa);

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• verdade das proposições tomadas como premissas.


O exemplo anterior, porque obedece a estas exigências, é um argumento sólido.
Argumento sólido é um argumento válido e com premissas verdadeiras.
Um argumento é, portanto, constituído por proposições, embora nem todas as
frases que proferimos sejam proposições. Por exemplo, a expressão que grande
seca! não é uma proposição porque, não passando de uma exclamação, o
conteúdo nela expresso não tem valor de verdade. Já as frases “Lisboa é capital de
Portugal” ou “Lisboa e Porto são cidades portuguesas” são diferentes, uma vez que
afirmam ou negam algo. A este tipo de frases chamamos frases declarativas,
sendo
Proposição é o que é afirmado ou negado numa frase declarativa. Os
conceitos/termos designam um conjunto de características essenciais de uma
classe de seres ou objectos. Por isso mesmo são universais (porque se aplicam a
todos os elementos da classe) e abstractos (porque o seu significado expressa as
propriedades essenciais comuns a essa classe, ignorando as diferenças particulares
e concretas dos seus elementos).

III Metodologias
As competências (problematizar, conceptualizar, argumentar) desenvolvem-se
através das seguintes práticas
1. Leitura e análise filosófica de textos
2. Debate e discussão de temas e problemas
3. Elaboração de textos

1. Leitura e análise de materiais (texto escrito ou imagens)


A leitura é uma das fontes de informação mais importantes. Mas para uma leitura
correcta precisamos de uma metodologia adequada.

Modelo geral a aplicar à leitura


a) identificar o tema;
b) identificar o problema;
c) identificar a tese ou as teses do autor;
d) identificar os argumentos em confronto ensaiando possíveis objecções e
refutações;
e) identificar os termos ou conceitos nucleares, explicitando o seu significado e
articulações;
f) discutir e tomar posição sobre as teses em confronto mantendo um
distanciamento crítico (considerar o caso como exemplar e não pessoal)

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Em conclusão, a leitura exige:


distanciamento crítico;
análise de conceitos, identificando os termos ou conceitos nucleares e
explicitando o seu significado e articulações;
capacidade de questionação/problematização e construção de significados em
busca de sentido(s): é uma progressiva passagem do nível
concreto/vivido/empírico ao nível do abstracto/pensado/racional;
construção de um discurso racionalmente comunicável, isto é, organizado num
conjunto coerente de argumentos

2. Debate e discussão de temas e problemas (aplicável em fóruns)


O debate é uma situação tipicamente argumentativa em que alguém defende uma
causa, ou expõe as suas razões a favor duma tese sobre questões ou situações
que envolvam um confronto de ideias. Encontramos nele os seguintes momentos
· discussão da(s) tese(s)
· confronto de argumentos
· assumpção de posições devidamente justificadas.
É por esta razão que uma das competências exigidas é saber participar num
debate, quer ao nível comportamental ou das atitudes, quer ao nível linguístico e
lógico-argumentativo.

Regras básicas para um debate


Ao participarmos num debate devemos ter em atenção os seguintes aspectos
a) a nível comportamental
1. saber ouvir e estar aberto aos argumentos dos outros;
2. apresentar argumentos precisos e claros;
3. justificar as posições com argumentos válidos, apoiados, sempre que possível,
em provas actuais;
4. intervir só se tiver algo a dizer, evitando argumentos já usados;
5. aceitar como princípio que os outros podem ter razões, admitindo alterar a
própria posição 6. evitar a agressividade e o ataque pessoal, aceitando que é mais
importante o esclarecimento que a discussão possibilita do que a vitória no debate.
b) a nível argumentativo
1) as regras da gramática - respeitar as regras da língua que
utilizarmos
2) as regras da lógica e/ou da retórica

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Regras da Lógica (regras do discurso coerente) Regras da Retórica (regras do


discurso persuasivo e sedutor)
· fazer afirmações ou negações (proposições) · fazer afirmações credíveis ou
justificadas racionalmente sustentáveis
· não usar contradições, isto é, não defender · fazer apelo às emoções do
simultaneamente uma tese e a sua negação auditório, isto é, aqueles a quem nos
dirigimos
· fazer inferências válidas, isto é, usar
argumentos cuja conclusão decorra das · recorrer a argumentos defendidos
premissas por autoridades reconhecidas
· usar argumentos consistentes, isto é, cuja · usem uma linguagem apelativa e
conclusão decorra de premissas verdadeiras recorrer a figuras de estilos
(metáforas, alegorias, analogias,
· respeitar as regras de construção de
etc.)
proposições válidas

3. Elaboração de textos escritos


Os trabalhos escritos podem assumir a forma de
pequenas sínteses;
textos de carácter argumentativo;
desenvolvimento de um tema seguindo um guião (monografia)

1. Regras para elaborar sínteses


· Identificar o autor e a obra;
· Identificar e expor com rigor o tema, o problema, os conceitos e a tese defendida
pelo autor;
· Apresentar com clareza a estrutura ou sequência lógica do texto, isto é, as
relações entre os conceitos estruturantes do texto
· Centrar-se nas ideias principais do texto, sem recorrer a divagações ou
elementos insignificantes;
· Ser fiel às ideias essenciais do texto e expô-las com rigor

2. Regras para elaborar textos de carácter argumentativo


· Formular e expor com rigor o tema e o problema;
· Expor com imparcialidade as teses em debate, confrontando-as entre em si
· Explicar/clarificar/criticar os argumentos
· Tomar posição (defender uma tese), justificando-a com argumentos válidos

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3. Regras para desenvolver um tema (monografia )


· Recolher informação relevante sobre o tema que vamos abordar
· Estabelecer um plano lógico e coerente contendo introdução, desenvolvimento e
conclusão.
o introdução : apresentar os objectivos do trabalho, o tema e a metodologia
o desenvolvimento :
o formular o problema e expor o tema
o contextualizar o problema (relevância na época, no trabalho do autor, e na
problemática em análise)
o expor ordenadamente da informação recolhida o defender uma tese
o conclusão : momento de síntese e balanço do trabalho com tomada de posição
pessoal do investigador

IV Síntese

Sugestões para o trabalho individual


· Leitura cuidada de todo o material disponível
· Fazer todos os trabalhos solicitados
· Cumprir todos os prazos
Estudo
· Participar activamente nos fóruns
· Procurar fontes de informação complementares
· Elaborar esquemas conceptuais das leituras efectuadas
· Procurar as ideias principais
· Distinguir claramente o essencial do acessório
Leitura
· Encontrar o fio condutor do texto, elaborando um esquema das ideias
nele apresentadas e discutidas
· Seleccionar as fontes de informação
· Verificar as credenciais do site/autor (se se trata de uma
universidade, de um centro de investigação, etc.)
· Verificar a correcção linguística do texto: linguagem, correcção
ortográfica e gramatical
Pesquisa
· Os materiais seleccionadas para a consulta devem ser
o devidamente identificados
o analisados e interpretados
o resumidos com vista a permitir uma utilização pessoal

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· Citações : Sempre que fizermos uma citação, devemos reproduzir


literalmente as palavras do autor “entre aspas” e indicar a fonte
· Bibliografia : As obras consultadas devem ser indicadas utilizando as
normas internacionais (APELIDO , Nome Próprio, Título do livro
consultado, Cidade, Editora, ano de edição. Ex:
PLATÃO, Lisboa, Fund. Calouste Gulbenkian, 1984
DESCARTES, René, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra,
Livraria Almedina, 1992
A informação consultada na internet deve ser ser identificada através
do respectivo endereço electrónico.

Sugestões para o trabalho colaborativo


(axioma: a salvação é individual, mas ninguém se salva sozinho)
· Não esquecer: a união faz a força
· Ler atentamente as participações das/os Colegas antes de responder
· Fazer intervenções objectivas, claras e sintéticas
· Evitar cuidadosamente as repetições
Participação
em fóruns · Colaborar activamente nos trabalhos de Grupo
· Partilhar informações e materiais
· Participar activamente nos fóruns (actividade não é sinónimo de
quantidade, mas de organização com vista à realização de tarefas
comuns)
· Partilhar os esquemas conceptuais das leituras efectuadas
Permuta de
· Pedir e oferecer materiais recém descobertos
materiais
· Sujeitar os trabalhos elaborados à apreciação dos Colegas

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