António Ribeiro
Lia Ribeiro
REVISÃO CIENTÍFICA
Manuel Loff
llídio Silva
ATUAL E COMPLETO
Teste diagnóstico
com feedback online imediato
LpYà EDUCAÇAO
HISTÓRIA A
Avelino Ribeiro
REVISÃO CIENTÍriCA
Manuel Loff
llídio Silva
LpYd EDUCAÇAO
Testes e Exame História A - 12? ano é um instrumento orientador c facilitador
da aprendizagem dos alunos de 12? Ano - História A - tendo em vista, funda-
mentalmcnte, a condensação de informação histórica relevante conciliando a
aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento das competências necessárias
para o sucesso e a excelência nos testes e no Exame Nacional de História A, que,
em 2013-2014, integrará conteúdos programáticos dos 11? e 12? anos c, a partir
de 2014-2015, dos 10?, 11? e 12? anos de escolaridade.
Não obstante estes apoios, importa ter em conta que 0 objetivo da excelên
cia exige um grande investimento pessoal no trabalho e capacidade de orga
nizar os saberes, com autonomia e alguma originalidade, em contextos inter-
pretativos coerentes, críticos e reflexivos.
A História c uma ciência fascinante. Sem ela vaguearíamos num mundo sem
referências, perderíamos o norte, a identidade. Mas também c verdade que,
se o seu estudo não requer capacidades específicas de ordem anormalmcnte
elevada, exige muito de cada um.
Bom trabalho!
0 Autor
3
ÍNDICE
10? Ano
Módulo 1 I Raízes medí terra nicas da civilização europeia - cidade, cidadania
e império na antiguidade clássica
11? Ano
Módulo 4 I A Europa nos séculos XVII e XVIII - sociedade, poder e dinâmicas
coloniais
Unidade 3 - Triunfo dos estados e dinâmicas económicas nos séculos XVIIe XVIII....... 80
ÍNDICE
12? Ano
Módulo 7 I Crises, embates ideológicos e mutações culturais na primeira
metade do século XX
Unidade 2 - O agudizar das tensões políticas e sociais a partir dos anos 1930.............. 165
2.1. A Grande Depressão e 0 seu impacto social....................................................................... 165
2.2. As opções totalitárias............................................................................ .................................... 168
2.3. A resistência das democracias liberais................................................................................... 171
2.4. A dimensão social e política da cultura................................................................................ 173
2.5* Portugal e 0 Estado Novo......................................................................................................... 181
1. Tenho tanto para Primeira decisão: elabore um plano de estudo A planificação do trabalho é tanto
estudar... com alguma antecedência mais importante quanto maior for
Por onde devo No plano devem constar: a dimensão e complexidade da
começar? tarefa a realizar.
- a calendarização dos dias e das horas que vai
dedicar à preparação do teste ao exame;
- a registo das restantes tarefas que tem de
realizar na escola e fora dela.
2. Tenho tanto para Nas aulas: Não deixe ficar para trás nenhuma
estudar... - sinalize no manual os conteúdos mais matéria por não gostar ou por não
Como poderei saber importantes que, no caso da Historia, são os a compreender! Os amigos [e o
tudo? conteúdos designados por estruturantes1' no professor é um deles] são para as
Programa da diisciplina; ocasiões!
- preste muita atenção às indicações dD
professor sobre a avaliação formativa c à Procure sempre entender o que
estrutura e conteúdos dos testes e exames; está a estudar. Optar por decorar
- anote as matérias em que tem dúvidas e que os conteúdos não contribui para a
precisam de um estudo mais atento compreensão dos mesmos.
No trabalho de casa:
- comece por reler, com atenção, os seus Só interiorizamos os
apontamentos e notas que registou nas conhecimentos que, de algum
aulas; modo, compreendemos e fazem
- interrogue-se rcgullarmente sobre o que é sentido para nós.
mais importante saber sobre as matérias
que está a estudar; Estudar é, essencialmente,
- à medida que vai lendo sublinhe as palavras organizar e integrar as novas
e/ou expressões c afirmações mais informações nos conhecimentos
significativas para as matérias em estudo e que já possuímos.
tome notas;
- à medida que vai estudando procure Procure conhecer-se cada vez
estabelecer mentalmente relações cditi ds melhor - descobrir as suas
conhecimentos do que já dispõe; deste modo, qualidades e dificuldades.
ser-lhe-á mais fácil reter du memorizar os A motivação, o empenho e a
novos conhecimentos adquiridos; se estudar persistência permitem superar
em grupo discuta com os[as] colegas os todas [ou quase todas] as
pontos que considera mais importantes e dificuldades.
sobre os que tem dúvidas;
- para facilitar a memorização e a
0 trabalho intelectual é física e,
compreensão, recorra a algumas técnicas:
sobretudo, mentalmente
■ elaboração dle esquemas e/ou de pequenas esgotante. Por isso, deve evitar
sínteses; horários prolongados de estudo,
■ anotação de palavras e/ou expressões fazendo regularmente pequenos
s ignifi cantes; intervalos (Note Bem: nunca faça
■ organização de um glossário; “diretas”).
a] Comece por ler todo o teste ou exame antes de começar a responder; Escrever é um ato de
desta forma, ficará desde logo com uma ideia geral sobre as matérias comunicação e, quanto melhor
e as questões que irá abordar, o seu grau de dificuldade e a questão o fizermos, melhor será a
do tempo. nossa capacidade de sermos
compreendidos da forma que o
b] Nesta primeira leitura assinale, sublinhando ou anotando, os elementos pretendemos ser.
fundamentais dos documentos - palavras e/ou expressões, dados
quantitativos, pormenores das figuras...
Podemos aprender a escrever
c] Antes de iniciar cada resposta, anote e ordene os tópicos de conteúdo bem se criarmos um hábito de
que considera adequados à questão e depois siga-os na elaboração da ler e escrever regularmente.
sua resposta.
d] Na redação das respostas tenha presente que irá ser avalliado, tendo em Escrever bem requer esforço,
consideração os seguintes aspetos: dedicação e concentração.
Também ajuda (e muito] ter
sempre um dicionário e uma
- formulação da questão, em particular do verbo que a introduz, pois gramática por perto.
este define o alcance da mesma. [Consulte o significado dos
verbos mais utilizados nos testes/exames na pág. 9);
Não tenha receio da escrita,
- relevância da informação na resposta à questão formulada; dos testes. Aproveite-os para
avaliar e melhorar o seu
- mobilização de informação circunscrita ao assunto em análise;
desempenho.
- articulação (obrigatória] com as fontes;
- forma como a fonte é explorada, sendo valorizada a interpretação Não tenha medo de errar; o erro
e não a mera transcrição; deve ser encarado como um
instrumento para a melhoria.
- correção na transcrição de excertos das fontes e pertinência
desses excertos como suporte de afirmações ou argumentos;
Confie em si próprio, nas suas
- utilização adequada da terminologia específica da disciplina.
capacidades.
NOTA:
OBJETO DE AVALIAÇÃO
• Competências
A Prova de Exame Nacional de História A tem como objeto de avaliação os saberes c competências defi
nidos nos programas c que foram sendo desenvolvidos ao longo do ciclo de estudos do Ensino Secundá
rio, concretamente:
- analisar fontes de natureza diversa, distinguindo informação explícita c implícita, assim como os res
petivos limites para o conhecimento do passado;
- analisar textos historiográfícos, identificando a opinião do autor c tomando-a como uma interpretação
suscetível de revisão, em função dos avanços historiográfícos:
- rellacionar a História de Portugal com a História europeia e mundial, distinguindo articulações dinâmicas
e analogias/especificidades, quer de natureza temática quer de âmbito cronológico, regional ou local;
- mobilizar conhecimentos de realidades históricas estudadas para fundamentar opiniões, relativas a pro
blemas nacionais e do mundo contemporâneo;
• Conteúdos
Os conteúdos a avaliar no Exame Nacional da disciplina de História A no ano letivo de 2013-2014 repor-
tam-se às matérias estudadas nos 11.“ e 12? anos, a partir de 2014-2013 nos 3 anos do ciclo de estudos
do Ensino Secundário (1D“/11“/12?].
De entre os conteúdos a avaliar, assumem particular importância as matérias consideradas pelos pro
gramas da disciplina como aprendizagens estruturantes que devem merecer especial atenção
Assim, na prova de exame nacional as questões incidem sobre os conteúdos de aprofundamento, as apren
dizagens e os conceitos estruturantes assinalados na abertura de cada unidade com um [*] e dois [**]
astericos, respetivamente.
4 Interpretação das questões dos testes e do Exame Nacional de Historia A
A carreta interpretação das perguntas ou questões dos testes e do exame nacional de História A é funda
mental para compreender o seu alcance c adequar os conteúdos das respostas ao solicitado
Importa, pois, compreender corretamente os significados dos verbos que introduzem as questões
Contextualização
Cronologia Eurnpa que acolheu e difundiu, à escala do globo, o berança político-cultural clássica que
tem no democracia e no humanismo dos Gregos, e nD universalismo e no pragmatismo dos
As grandes etapas da Romanos, os seus pilares cruciais.
evolução política em Atenas
583 a. C.
A oligarquia substitui Unidade 1 0 modelo ateniense
a monarquia. Crise política:
legislação de Drácon
SUMÁRIO
[624 a. C.J e Sólon
[594 a. C.J.
LI A democracia antiga; os direitos dos cidadãos e o exercício dos poderes
550 a. C 1.2 Uma cultura aberta à cidade
Tirania: PisístratD
[560-527 a. C.J; Hípias
APRENDIZAGEN5 RELEVANTES
e Hiparco [527-514 a. C.J.
510 a. C.
- Identificar os elementos definidores dia polis grega.
Democracia: reformas de - Caracterizar o modelo democrático ateniense: as suas limitações, os fundamentos e os
Clístenes (510-507 a. C.J:
mecanismos de funcionamento. Analisar o funcionamento da democracia ateniense, real
Péricles e Efialtes (462 a. C.].
çando as suas qualidades e limitações
443-429 a. L
0 “Século de Péricles". C0NCEIT05/N0ÇÕE5
Polis, Agora; Democracia antiga; Cidadão”; Meteco; Escravo; Urdem arquitetónica
zl DEmncracias antigas: ern Atenas, □ puder suberanu estava na Assembleia Popular ou EiJésid, constituída por todus
US cidadãos, que tomava dedsues pur maiuiia. Q Luriceitu rnuderriu de dernuLrdLid representa luva uu parla rnerilar íui
desenvolvido nu sémlu XVIII pur pensadores rurnu Muntesquieu "divisão dE podEresll, Rousseau (sotiErania popular] ou
Vultaire (igualdade de direitos entre todos os homens].
M EstraÍEgos: erri Aterias, a partir de 501 a. C.. QS dez maqisliadus que se em arredavam du rurriandu dus impus de
hoplitas (soldados de infantaria]. Lrarn eleitos pela Eclésia.
' Mistoforia: subsídiu de paitiLipaçãú rias assembleias concedido pelu Estado aos i idadaus mais pobres; o objetivo
era íurnbater o absentismo, estimulando a partuipa^au dus cidadãos na vida pulíiiia.
- dos prováveis 400000 habitantes da Ática no século V a. C., apenas uma minoria
O sistema de educação procurava conciliar num só programa duas tendências: uma, 0 teatro: autores e obras
maís antiga, visando a formação de homens vigorosos, guerreiros e atletas com uma mais importantes
sólida preparação moral; a outra, virada para a formação intelectual. A formação para o Ésquilo [525-456 a. C):
Os Persas [472 a. C],
exercício da cidadania é essencial para o funcionamento do regime democrático.
Os Sete contra lebas
(467 a. C.J, Oréstia
Os rapazes iniciavam os seus estudos por volta dos 7 anos de idade, quando saíam da
(458 a. C.)
companhia das mulheres (do gineceu, espaço feminino) e iniciavam a sua aprendizagem
Sófocles [497-405 a. CJ:
em escolas privadas. Os mais ricos eram acompanhados no seu percurso escolar por um Antígana [442 a. C.J,
Rei Édipo [427 a. C.J,
pedagogo, um escravo culto. Na escola, a aprendizagem ficava a cargo de três mestres -
tlectra [420-410 a. C.)
0 paidotribes, professor de ginástica, o kitharistês, que ensinava música, e 0 gramático,
Eurípedes [4 B 0-4 06 a. C.J:
responsável pelo ensino da leitura, escrita, aritmética e literatura. Esta aprendizagem Medeia [431 a. C.J,
prolongava-se até aos 13 ou 14 anos. Hipõlito [428 a. C.].
As Troianos (415 a. C.)
A partir dos 15 anos, a educação prosseguia no ginásio (aprendizagem de Matemá
Artstófanes [445-3S5 a. C):
tica e Filosofia) e na palestra^"1. Os mais abastados que pretendessem prosseguir os estu A Assembleia dos
Mulheres [392 a. C.J, As
dos faziam-no junto de um mestre disponível para os orientar.
Rãs [405 a. C.J, /Is Aves
A partir do século V a. C., em Atenas, este modelo de educação orientado para a for (414 a. C.J, As Vespas
(422 a. C.J, As Nuvens
mação integral do jovem, futuro cidadão, sofreu a concorrência dos sofistas, professores (423 a. C.)
itinerantes que privilegiavam a retórica"21 (a arte da persuasão) e a dialética (a arte do
debate), habilidades importantes para 0 cidadão interessado em fazer valer as suas ideias
e levar os restantes a segui-las, ou seja, fazer demagogia e alcançar 0 sucesso político.
O esquema de construção do templo assentava numa relação racional e coerente de realizava 0 mercado e que
se situavam construções
elementos horizontais e verticais que transmitiam a ideia de ordem e proporção. As relacionadas com a vida
ordens arquitetónicas* gregas mais antigas são a dórica e a jónica, contemporâneas mas política.
Retórica: c.urrenterrierite. a mesma ruisa que urdiária. Puíém, numa linguagem mais precisa, a retórica designa a
üfte teórica de persuadir pele puitiwu, ao passo que a oratória cuida da sua aplicação nu prdtiLu.
14
A ordem jónica distingue-se da dórica pela coluna ter base, pelo seu fuste ser mais
alto e elegante, com caneluras de aresta chata, e por ter um capitel mais elaborado, com
volutas. A arquitrave é tripartida, dividida por três filas horizontais, o friso é liso e fre
quentemente decorado com pinturas ou esculturas. Por vezes, as colunas são substituí
das por figuras femininas (Cariátides) ou masculinas (Atlantes).
Nos finais do século V a. C., surge uma nova ordem arquitetónica, a ordem coríntia,
estruturalmente idêntica à ordem jónica mas diferenciando-se desta por uma maior abun
dância decorativa e monumentalidade. A diferença mais significativa reside no capitel
(Fíg. 5)1 muíto elaborado, decorado com folhas de acanto e folhas de água.
cornija
Capitel dórico.
métopa
friso
tríklifb
a rq ui trave — entablamento
Capitel jónico.
ábaco
capitel
equino
Hg. 4. Pormenor do
caneluras de
Pártenon, templü
aresta viva fuste consagrado à deusa
Ate na construído no
Capitel coríntio. séc. V a. C. na acrópole
de Atenas.
Fiç. 5. Capitéis das ordens
arquitetónicas gregas.
- A escultura como expressão do culto público e da procura da harmonia
27-23 a. C.
CONCEITOS/MOÇÕES 0 Senado confere-lhe
o títulü de “Imperador"
Urbe**, Império’*, Fórum, Direito**, Magistratura. Urbanismo**, Pragmatismo, Romanização**, [Imperator] e “Augusto"
Município, Aculturação’* [At/gustus].
23 a. C.
* Conteúdos de aprofundamento 0 Povd e o Senadü
** Aprendizagens e conceitos estruturantes conferem-lhe o “Püder
Tribunício" [Tribunida
Potestus).
12 a. C
2.1. Roma, cidade ordenadora de um império urbano É “Sumo Pontífice"
[Pontifex Maximus].
Constituído ao redor do Mediterrâneo e da relação de forças que se desenvolveram no
1D a. C.
seu seio, o Império Romano levou a cabo a unificação de um espaço vastíssimo que, no seu Recebe o título de “Pai da
Pátria" [Pater Patriae].
apogeu (séculos I e II d. CJ, se estendia, de Ocidente para Oriente, da Península Ibérica a
Mesopotâmia, e, de norte para sul, das Ilhas Britânicas ao Egito. 5- Lfljss de pedra
4 Aroí.i
3 Pedras miúdai
Ao redor do Mar Mediterrâneo erguiam-se os seus principais cen 2 Pedras sonde?
à sociedade romana e importantes consequências políticas. A vastidão dos seus domí Roma, constituindo desta
forma um instrumento
nios fez com que a Constituição da Roma Republicana, assente no modelo da polis grega, indispensável para
se tornasse cada vez menos eficaz para o governo do Império* que já não pode dispen a exploração económica das
regiões dominadas e para a
sar o exército e os seus generais. afirmação do domínio imperial.
* Império: na Roma antiga, É assim que se impoe Júlio César, o conquistador da Gália, que governa sozinho
imperium era a püder
supremo militar e civil do
durante alguns meses, nos anos 45 e 44 a. C., após uma sangrenta guerra civil, inves
rei, e posteriormente düs tido de amplos poderes ditatoriais. Esta experiência política termina abruptamente no
altos magistrados da
República. Com Augusto,
ano de 44 a. C. com o seu assassinato às mãos dos seus adversários republicanos. No
o imperium passou entanto, a conservação do Império reclamava cada vez mais 0 estabelecimento de um
a constituir a base de
legitimação ou
regime monárquico.
fundamentação do seu
Caberá a Augusto (63 a. C.-14 d. C.), sobrinho-neto e herdeiro do ditador assassinado,
poder e autoridade e do
domínio Romano sobre os após derrotar Marco António, Iniciar 0 regime de Principado411.
povos submetidos a Roma
(Império Romano]. Convictos de que essa era a melhor forma de garantir a coesão do Estado e do Impé
rio, as autoridades romanas empenharam-se em promover a disseminação dos valores
da romanidade. 0 culto ao Imperador e o modo de vida romano foram difundidos de um
extremo ao outro do Império (Fíg. 2), nas cidades fundadas à imagem de Roma, com
forum, templos e banhos públicos, que as elites
A O Provindas Senatoriais
N Arovinuo Impcrfoit cultas adotaram e tinham orgulho em ostentar.
Conquistas de Augusto
Judleia
dãos romanos, era o costume que, segundo a
AFRICA
Alexandria tradição, tinha sido codificado na Lei das Doze
& ICOkm
1_________ 1
ri- Principado (princeps, primus inter pares - príncipe, o primeiro entre iguais]: regime que se baseia nu principie da
aceitaçãu uu consenso geral e que representa urn compromisso entre república e monarquia. Cl príncipe recebe fur-
rridlrnente □ puder da povo e du Senado. As suas prindpais r aracterísticas S3O: rEforço do padEr exEcutivo [ourxariíos]
e respeita pelas formas tradicionais (mores muiururn].
Direito público e direito privadoi: ú primei ru regula as relações entre os cidadãos e ü bstadu: ú segunda as relações
entre os cidadãos. Havia ainda o /us gentium [a letra, direito das gentes] que regulava as relações de Ruma curn os
puvus du Império. A influência du dneitu rurnanu sobre us direitos nacionais enrupeus perdura até a atualidade.
[í| Editas: urdens/leis escritas e comunicadas através de anúncios públicos.
conheceu um desenvolvimento gradual até à sua generalização nos primeiros anos do Documento 1
século III, pelo Édito de Ca r ac ala de 212 d. C. A cidadania romana foi concedida a todos
A generalização da cidadania
os homens livres do Império integrando a pluralidade dos povos no Estado imperial. romana: Édito de Laracala
[212]
Contrariamente ao conceito grego, para os Romanos a cidadania é uma noção aberta.
To do 5 05 que habitam
0 critério determinante para um novo cidadão é a adesão aos valores da cidade. Esta 0 mundo romano são
considerados cidadãos
liberalidade de Roma na atribuição da cidadania constituiu 0 melhor fator de coesão do
romanos por determinação
Império. do imperador.
Digesto, V, 17
gravita e ã imagem da qual se erguem novas cidades, segundo o seu modelo político,
cultural e urbanístico. Pode assim falar-se de um tipo de “cidade romana” com um pla
neamento urbanístico de caráter utilitário, edificada a partir do traçado das vias e tendo
como centro o forum* com os templos, a basílica e a cúria. * Forum nome dado pelüs
romanos à praça principal
Outras construções com fins práticos, como aquedutos, fontes, termas1^ e esgotos, ou da cidade. 0 seu centra
político, religioso,
recreativos, como ginásios, teatros e anfiteatros, ou ainda obras de caráter comemora económico e social.
tivo, como arcos de triunfo e colunas monumentais, completavam um conjunto arquite 0 mesmo que ágora para
os Gregos.
tónico imponente, sólido e funcional, características próprias de um povo positivo e com
grande sentido de pragmatismo*. * Pragmatismo:
pensamentü/atitude que
A admiração por Roma, pelos seus modelos urbanísticos e artísticos e pelo modo de condiciona a validade de
uma ideia ou conhecimento
vida dos Romanos levou os povos do Império, em particular as suas elites, a aceitarem
à sua utilidade ou
a supremacia romana, colaborando deste modo na pacificação e na unidade imperial, ou aproveitamento. Por outras
palavras, dá prioridade ao
seja, na pax Tomana'^, um instrumento fundamental para a segurança e prosperidade do
efeito útil. 0 pragmatismo
Império. dos Romanos revela-se em
áreas muito diversas: na
religião, na arte, na
- A fixação dos modelos arquitetónicos
literatura, nü direito,
na política interna e externa.
Os Romanos não criaram um estilo arquitetónico próprio. Expressão do seu espírito
pragmático, a arquitetura romana é essencialmente uma síntese de influências etruscas
e gregas. O plano do templo é herdado dos Etruscos, tal como 0 arco de volta perfeita
(ou arco romano), um dos elementos fundamentais da sua arquitetura aplicado às pon
tes, aquedutos e edifícios públicos e privados. A decoração é grega, sendo a ordem corín-
tia a preferida pela sua exuberância e dimensões mais conformes à escala de grandeza
do Império. Não obstante, também inovaram. São criação romana as ordens toscana e
compósita, esta integrando elementos das ordens jónica e coríntia e dois novos materiais
de construção: 0 cimento (opus caementicium), extremamente resistente, e 0 ladrilho
(opus luterícium) (Fig. 3). Combinados, possibilitaram a construção de abóbadas de gran
des dimensões e, não obstante, leves. ©_ Questões
1. Que instrumentos
utilizou Roma no processo
Urbs Orbi: cidade do Mundo.
de unificação do seu
Termas: edifícios públicos ou privados destinados d banhos, cujo esquema basicu é constituído por uni vestiário e
Império?
três salas de banhos curn piscinas de água fria. Lépida e queriLe, e a sala da caldeira.
1:1 Pax romano: a Paz fftJx] era, para os Romanos, o principal objetivo du que consideravam ser a missão sagrada de 2. Qual 0 papel do Direito
Ruma: furmar urn vasto império de abundância e bem-estar, sob 0 governo romano. nesse processo?
- A fixação dos modelos escultóricos
Fiç. 3. Mosaico romano nas comemorativas dos imperadores Trajano e Marco Aurélio. Mas a característica mais
(ConímbrigaJ. original da escultura romana é o retrato. A preocupação da representação detalhada dos
traços fisionómicos e do vestuário manifesta um apurado realismo, que chega a deixar
transparecer 0 próprio caráter psicológico das personagens retratadas.
Fiç. í|. Busto de Marco A historiografia segue a mesma linha: Tito Lívío (59 a. C.-17 d. C.), 0 grande historia
Aurélio [121-180 d. C.J.
dor romano, autor de Ab Urbe Condita^, um trabalho monumental sobre a história de
Roma, exalta as virtudes romanas e a proteção dos deuses na realização do seu destino
â Questão glorioso; Tácito (56/57-120 d. C.), autor de Histórias e Anais, evidencia dotes narrativos
e de análise psicológica; Suetónio (c. 69-140 d. C.), autor de Vidas dos Dozes Césares,
L Quais ds objetivos da
épica e da historiografia uma coleção de biografias imperiais.
romana?
No início da época imperial, a par do interesse pelas artes e literatura, cresce a preo
cupação com a formação intelectual dos jovens. 0 objetivo da instrução é promover e
reforçar o projeto imperial, romanizar, pelo que era importante criar uma rede escolar
urbana uniformizada, coerente. Os mestres eram normalmente escravos ou libertos, fre
quentemente gregos. 0 Htterator, “aquele que ensina as letras", ensinava as crianças,
rapazes e raparigas, a ler, a escrever e a contar. Esta escola (íurfus) para as crianças dos
7 aos 11 anos funcionava em sala ou ao ar livre.
ü segundo grau de ensino (“secundário") começava por volta 12 anos e la até aos 15
anos e estava a cargo do grammaticus. Estudava-se o latim e 0 grego, poesia e noções de
história, geografia, astronomia e física. No terceiro grau de ensino (“superior”) os alunos
possuíam mais de 16 anos. A prioridade era 0 estudo dos prosadores e da retórica. Tal
como entre os gregos, a educação romana fundamentava-se largamente no ensino das
Humanidades^, tendo em vista a formação de oradores eloquentes e moralmente bem
formados.
IH- Humanidades [da palavra llatina bumortjttrs]: está associada a reflexão íiIusuíilj e às atividades culturais, em espe
cial literárias. Daí que a palavra significasse também “ nstrução", “eduLa^au", “cultura’, “letras" e "artes liberais".
2.3. A romanização da Península Ibérica, um exemplo Cronologia
Púnica, os Romanos invadem a Península Ibérica para combater os Cartagineses. Roma 197 a. C.
Conquista romana de Cádis
venceu Cartago e, apercebendo-se da importância económica e estratégica da Península, aos cartagineses.
promoveu a sua conquista e ocupação. Ainda antes do fim da Guerra, em 206 a. C., os A Hispãnia fica sob
0 controlo de Roma.
Romanos procederam pela primeira vez à divisão da Hispãnia em duas províncias, a
155 a. C
Citeríor e a Ulterior. Início da guerra lusitano-
-romana.
Pacificados os resistentes Celtiberos e Lusitanos, 0 imperador Augusto fixou a orga 29 a. C.
nização administrativa da Hispãnia, dividindo a Ulterior em duas províncias - a Lusitânia Roma impõe 0 seu domínio
ao espaço hispânico.
(capital Emérita Augusta) e a Bética (capital Cordoba) -, dando ã Citerior 0 nome de Tar-
EU a C.
raconense estas em Conventos (leis e justiça). Paralelamente estimulou a fixação de vete
Augusto divide a província
ranos das legiões e emigrados de Itália (fundação de colónias), que impulsionaram a Ulterior em duas: Lusitânia
(capital - Lmerita Augusto,
romanização*. A presença de mercadores e funcionários dinamizou o comércio e a circu
Mérida) e Bética [capital -
lação monetária. As villae, grandes unidades de exploração agrícola, abasteciam de Cordoba], dando à Citerior
0 nome de Tarracünense.
cereais, vinho, azeite e carne as despensas romanas, a par de outras atividades como 0
19 a. C.
fabrico da cerâmica, a mineração, a pesca e a extração do sal.
Conquista definitiva da
Península Ibérica.
As cidades peninsulares indígenas possuíam estatutos político-jurídicos distintos.
74 ri.C
Dividiam-se em dois tipos:
0 imperador VespasianD
- estipendiarias - resistentes à conquista, pagavam um tributo (stipendium), mas aos concede 0 direito de
cidadania [Jus latii minus]
habitantes, livres, era-lhes permitido manter leis próprias e a propriedade da terra;
aos hispânicos.
- livres, podendo ser federadas e, como federadas, em alguns casos imunes, isto é, 212
ções romano.
■' Acultuiração: processo pelo qual urn grupo entra em contacto com uma cultura diferente da sua e a assimila lutai
ou parLíalmente.
20
niu o Credo (dogma) da fé cristã. Superada a crise, 0 Cristianismo pôde reafirmar o seu
caráter católico (universal), integrando a totalidade dos homens numa única sociedade,
a da comunidade dos fiéis de Cristo, sob 0 primado da Igreja Romano-Cristã*.
Mas o papel dos Padres não se limitou ao plano doutrinal.. Alguns deles revelam urna
grande simpatia pelas línguas e filosofia da Época Clássica* que pensavam poder servir * Época Clássica:
período áureo
o objetivo da propagação do Cristianismo. Neste particular, sobressaíram Lactâncio,
das civilizações grega
Santo Ambrõsio, 5. Jerónimo e Santo Agostinho (Fig, 2), estudiosos dos filósofos heléni (sécs. V-IV a. C.) e romana
cos e das leis romanas. (sécs. I a. C.-ll d. C).
todo o Império diversos reinos bárbaros: os Visigodos, na Híspãnia, os Francos no Norte Fig. 2. Santo Agostinho
da Gália, os Vândalos na África, etc. Em 476, Odoacro, chefe dos Hérulos, afasta 0 último (354-430) ensinando os
seus discípulos. 0 seu
Imperador Romano, Rómulo Augústulo (475-476) e provoca a queda e a desagregação pensamento sobre
a questão da relação
do Império Romano do Ocidente.
entre ciência e fé pode
Limites de ijHXfses
resumir-se na célebre
Xh k Droresedos prefeitos
pretorianos das Gálias
Tefiitórios povoados por
Francos.. OstnogixicH eVtsiqodos
que possas compreender.
*'4 Sfrmío 1
DÁC1A
Andrinoplk
^Cdoedónia
Questão
,s] Mercenários: aquele que serve uu trabalha por urn preço ou salário ajustado. Aqui, soldados. que combalem pur
dinheiro, muitas dos quais recrutadas entre as povos Bárbaros.
■h] Federados: ptwüs inteiras que se encontravam ligados a Roma por meio de urn tratado [fuedus]. Estes povos Lon-
servavam as seus lusiurnes, a sua organização social e política; ocupam as terras romanas e ern compensação for
necem ao governo imperial urn Lertu número de soldados.
Questões para Exame
Não é a habitação que constitui o cidadão: os estrangeiros [metecos] e os escravos não são "cidadãos”,
mas “habitantes”. (...) Não participam, portanto,, senão dama maneira imperfeita nos direitos de cidada
nia, Quase a mesma coísa acontece com as crianças, que não têm ainda idade para estarem inscritos no
recenseamento dos cidadãos (...). Com maioria de razão se devem delíberadamente riscar desta lista os
infames e os proscritos. 0 que constitui propriamente o cidadão, a sua qualidade verdadeiramente carac
terística, é o direito de sufrágio nas Assembleias e de participação no exercício do poder público na sua
pátria.
Direi em primeiro lugar que é justo que, em Atenas, os pobres e a multidão gozem de mais benefícios
do que os ricos e os bem-nascidos, porque é o povo que embarca nos navios e que faz o poder da cidade.
(...) Também é justo que todos igualmente participem nas magistraturas, sorteadas ou eletivas, e que todo
o cidadão que o peça possa tomar a palavra.
Pseudo Xenofontc, República Ateniense, i, 2.
Fig. 1. Uma eleição sob a proteção divina de Atenas, os cidadaos depositavam 0 voto numa urna
(pintura sobre cerâmica, século V a. C.).
Documento 4 I A arquitetura e escultura gregas, expressão do culto público e procura da harmonia
Fig, 2. Fachada principal do Pártenon (448-436 a. C.) na Acrópole Fíg^ 3- Estátua do deus Hermes com 0
ateniense. pequeno Dioniso, de Praxílcles (35O_33°
a. C-),
1.1. Caracterize 0 regime democrático ateniense nos séculos V e IV a. C. tendo em conta os tópicos a seguir
enunciados:
- os fundamentos da democracia;
Para além dos seus conhecimentos, deve integrar na sua resposta os dados dos documentos 1 a 3.
Aos aldeamentos do Centro e Norte da Península e às “cidades" (pppídd) indígenas do sul, os Roma
nos vão contrapor as suas cidades (urbes), com os seus sistemas próprios de governo e os seus monu
mentos.
A habitação privada vai sofrer também alterações, embora o novo modelo de casa tenha sido mais
característico do colono romano ou do indígena romanizado de médio ou alto poder económico. Os aldea
mentos (vici) continuaram a ter a sua tradicional habitação indígena, com algumas modificações, sobre
tudo a nível de materiais (cobertura de telhado em telhas planas - tegullae (...) - de cerâmica, substituindo
a tradicional cobertura de fibras vegetais, e a utilização de cimentos e argamassa), captação e abasteci
mento de águas, vias de acesso e um ou outro eventual monumento de tipo religioso ou dedicatório. (...).
Conímbriga é um dos poucos locais onde podemos estudar a casa (domus) romana com alguma segurança.
Aqui as casas ricas desenvolvem-se em torno de um peristilo com um tanque central e zonas ajardinadas.
(...). Os únicos exemplares de “ilhas" (msí/fàe) que conhecemos são os escavados em Conímbriga. (...).
O templo mais conhecido é o impropriamente chamado templo “de Diana”, na cidade de Évora. Seria dedi
cado, mais provavelmente, ao culto do imperador e de Roma (...). Uma das zonas importantes das cida
des romanas era o fórum, grande praça retangular ou subquadrangular à volta da qual, ou perto da qual,
se concentravam alguns edifícios públicos: templo, basílica, cúria, mercado. (...) A estes (...) deveremos jun
tar vários balneários, públicos ou privados (...).
SARAIVA, J. H.(dir.), História de Portugal, vot. 1, Lisboa, Publ. Alfa, pp. 374-376.
2.1. A partir dos dados dos documentos $e6, explicite o sentido pragmático dos Romanos.
A sua resposta deve abordar, pela ordem que entender, os seguintes tópicos de desenvolvimento:
A sua resposta deve integrar, para além dos seus conhecimentos, os dados disponíveis nos documentos
Unidade 1 - A identidade civilizacional da Europa 0 cidental
10? Ano
Contextualizaçâo
Unida no c pelo Cristianismo e o sistema feudal, a Europa □cidental nos séculos XIII e XIV
apresenta contudo uma grande diversidade política - impérios, reinos, senhorios e comunas.
É o tempo da conflituosa ordenação das relações entre ds poderes espiritual e temporal, do
renascimento das cidades e das novas formas de sociabilidade, cultura e mentalidade que
tiveram a sua origem nesta fase mais dinâmica c criativa da história medieval da Europa
Ocidental. É ainda o tempo da afirmação de Portugal comD entidade política autónoma.
SUMARIO Cronologia
- Reconhecer o senhorio como o quadro organizador da vida económica c social dD mundo Fins séc. XIII
rural tradicional, caracterizando as formas de dominação exercidas sobres as comunida Avanço turco sobre d
Império Bizantino.
des campesinas**.
Séc. XIV
CONCEITOS/NOÇÕES Termina d movimento de
expansão para o leste.
Reina**; Senhorio**; Comuna; Papado; Igreja Ortodoxa grega; Islão; Burguesia; Economia monetária
Fomes, pestes (Peste
* Conteúdos de aprofundamento
Negra, 1347-1350] e
guerras (Guerra dos Cem
** Aprendizaçens e conceitos estruturantes
Anos, 1337-1453].
* Reino: estado governado Diferentemente, no norte da Península Itálica e no Mar Báltico, áreas comerciais muito
por um regime monárquico ativas, fortalece-se a autonomia política das cidades-estados onde a aristocracia mercan
ou realeza.
til controla o governo. Veneza e Génova sustentam o seu poder numa hegemonia comer
* Comuna: cidade
emancipada da tutela cial e militar que vão construindo no Mediterrâneo. Lubeck, sede da Liga Hanseática
senhorial; situação (1241) - uma poderosa associação comercial e militar das cidades alemãs impõe 0 seu
alcançada através de um
processo de luta ou domínio no Mar do Norte. Na Flandres e no Norte de França, 0 movimento comunal, expri
simplesmente através da mindo as aspirações de liberdade dos burgueses das cidades, libertou diversas cidades
compra de uma carta de
franquia, a carta comunal. da dependência dos senhores feudais e transferiu para as elites mercantis 0 governo des
Na Idade Média, as fronteiras dos estados europeus estavam longe de estar estabili
zadas. ü mesmo se verificava relativamente ao exterior. Além disso, o seu traçado não
era rígido nem definitivo. Nos finais do século XIII, Portugal era uma notável exceção,
pois 0 seu território ficou praticamente definido. O mesmo não se passava no resto da
Península Ibérica onde a presença muçulmana irá prolongar-se até ao século XV.
Saicro limpéno Romana Germânica: império fundadn ipur Liãu I, cnruadu como imperador pelo papa, em 962, nascido
da união dos territórios urienlais du fragmentado Impérid Carolíngio dividido apâs a rrmr te du seu íuridadur Carlos
Magno; subsistiu até 1006, quando Foi abolido por Napoleão Bonaparte.
Direita de bcjrtntr/m poder de curnaridar, ohrigar e castigar homens livres; nu seja, poderes de caráter militar e indi
ciai e a irnpnsiçãu de serviços e tributos.
N Ü papa InncêriLio III [IIÜ0-I2I6] pretendeu irnpnr rin Ocidente uma espécie de teotracia, prucurandu submeter tndus
os príncipes a sua autoridade, ou seja, a aulnridade dn representante de Deus na ferra. Estas píetensdes prnvuca-
rarri urn grave conflito itirn l-rederico II. imperador du Sacro-Império.
Unidade 1 - A identidade civiUzacional da Euro pa 0cidental 27
monarcas feudais recorrem à guerra para unificar o território sob a sua autoridade pro
curando retirar aos ingleses os domínios que possuem no continente, nomeadamente na
Normandia e na Aquitânia.
0 avanço turco a Oriente nos finais do século XIII, a paragem dos arroteamentos e o
regresso da "trilogia sinistra" (fome, peste e guerra) no século XIV iriam interromper de
forma dramática o surto expansionista dos séculos anteriores.
O resultado foi a desorganização do sistema de relações que a teoria das três ordens
quisera eternizar. Os antagonismos sociais surgiram tanto nos campos como nas cidades
onde o contraste entre a riqueza de uns e a miséria de outros se tornava cada vez mais
escandaloso. No seio da própria Igreja surgiram movimentos reformadores: uns heréti O Questões
cos, outros auto reformadores, como as Ordens Mendicantes e as Confrarias, defendendo
1. Qual o modelo de
novas formas de religiosidade mais próximas dos ideais evangélicos da Igreja primitiva.
organização social
Ao mesmo tempo, a difusão de uma cultura laica, ã margem dos padrões da moral reli defendido pela Igreja?
Quais os seus objetivos?
giosa, retirou o monopólio do ensino e da cultura ao clero.
2. Como se explicam ds
No domínio do pensamento político, a Igreja impõe o ideal da reconstituição da uni frequentes conflitos nas
relações entre o PapadD e
dade imperial no Ocidente e alimenta o sonho da constituição de uma comunidade polí
o Império aD longo da
tico religiosa unida sob a autoridade do Papa e do Imperador. Mas a pretensão da Igreja Idade Média?
28
As lutas dos papas Gregõrio VII (Fig. i). no século XI, e de Inocêncio III, no século XIII»
com os imperadores do Sacro-Império marcaram decisivamente essas relações: a ideia
Imperial não desapareceria, mas o projeto universalista que a Igreja tentara encarnar
estava, definitivamente, comprometido.
Fiç. 1. Iluminura de 1114, ü Cristianismo constitui após a queda de Roma a base da unidade da Europa medie
representando Henrique IV
val, mas esta unidade era muito relativa. Com efeito, a cristandade conheceu vários con
no momento em que
suplica a presença de flitos envolvendo papas e imperadores, reis e clérigos, tendo na sua origem questões de
Gregório VII para que
natureza política e social misturadas com outras do foro religioso. Destas querelas resul
este lhe levantasse
a excomunhão. taram naturais quebras de prestígio e a rutura entre Roma e Bizâncio no ano de 1054,
quando o patriarca Bizantino e 0 legado do papa lançaram anátemas^ recíprocos, culmi
nando numa série de crises motivadas por divergências doutrinais e de autoridade.
atrair as gentes mais variadas, até mesmo servos em fuga dos seus senhores com pro
messas de terras e a garantia da sua liberdade pessoal.
Ao mesmo tempo, ocorre uma **revolução” das técnicas agrícolas (Hg. 3):
- a substituição do arado pela charrua, cuja grelha assimétrica permitia não só abrir n Questões
o solo mas também revirá-lo, arejando-o e facilitando uma melhor distribuição dos
1. Que condições
nutrientes; favoreceram a expansão
agrária na Europa Ocidental
- a introdução da rotação trienal (seguindo a sequência: trigos de inverno, trigos de
nos séculos XI-XIII?
primavera, repouso) favoreceu o aumento da produção e da produtividade;
2. Qual a relação entre
- o uso preferencial do cavalo em vez do boí; embora mais caro e mais difícil de man 0 aumento da produçãD
agrícola e 0 crescimento
ter, o cavalo permite ganhos de tempo no trabalho. demográfico então
verificado?
Apesar de a produtividade da terra continuar reduzida, do século XI ao XIV, a Europa
conseguiu ultrapassar a ameaça das fomes cíclicas, facto que esteve na origem do cres
cimento demográfico, até então contido, devido à insuficiência da produção agrícola. No
entanto, 0 equilíbrio demográfico continuava a ser frágil. As sociedades europeias ainda
não estavam suficientemente protegidas das crises de subsistências e da penúria de
homens.
12DD
0 comércio mediterrànico Instituição da feira de
Bruges.
0 longo período de expansão económica que caracterizou 0 Ocidente cristão nos sécu
1260-1266
los XI-XIII e 0 movimento das Cruzadas, conjugado com o enfraquecimento do domínio Primeira viagem dos
muçulmano e a melhoria dos meios de transporte marítimos (desenvolvimento da constru venezianüs NíccoId e Mateo
Polo à Ásia.
ção naval, adoção de novos Instrumentos e técnicas de orientação e navegação como a
1204
Os Genoveses derrotam
a frota de Pisa e afastam
esta cidade da disputa dü
1:1 ArrotEarnento:: d estirava rneriLü; tran$foirrnaç3u de áreas Incultas, bravias, em terras cultivadas, produtivas. comércio nD Mediterrâneo
Oriental.
Llunp, Cister e as Ordens Militares promovem ativarnenie u arroteamento' de novas terras.
bússola, o portulano(H: e a vela triangular), permitiram que os
“italianos" estabelecessem uma rede comercial no Mediterrâ
neo que durante vários séculos lhes assegurou a prosperidade
económica, constituindo-se como uma ponte privilegiada entre
a Cristandade e os mundos Bizantino e Muçulmano.
ü Mediterrâneo Oriental era de importância vital para as cidades italianas mas tinha
igualmente um grande interesse comercial para a Europa. Com efeito, era a partir do
comércio nesta área que, através dos “italianos", os Europeus tinham acesso aos produ
tos de luxo asiáticos (especiarias, tecidos e fazendas de algodão e de seda, pérolas e
pedras preciosas...), às matérias-primas da Ásia Menor (alúmen e metais), aos couros,
peles e cereais da Rússia e da Roménia, aos escravos da Rússia, ao peixe salgado, vinhos
e sal do Mar Negro. Por outro lado, estes mercados absorviam artigos industriais, sobre
tudo panos e tecidos, objetos de metal, bronze, estanho ou ferro produzidos nas cida
des da Tlandres, da Inglaterra e do sul da Alemanha. Do norte de África, provinha 0 ouro
1 Quais as grandes rotas No Mar do Norte e no Mar Báltico as cidades alemãs adquirem autonomia política e
do comércio mediterrânico tornam-se polos comerciais muito dinâmicos, estendendo a sua influência para além dos
no século XIII?
limites da sua jurisdição e estabelecendo acordos comerciais com outras cidades. Foi
2. Qual a importância do
neste contexto que se constituiu, em 1241, a poderosa Liga Hanseática, com sede em
comérciD do Mediterrâneo
Oriental para a Europa? Lubeque, que passou a organizar a proteção militar dos seus pesados navios de carga,
as koggé9\ carregados sobretudo com produtos em quantidade e relativamente baratos
(cereais, madeira, sal). De simples associação criada para a defesa da navegação no Mar
Báltico, a Hansa transformou-se numa importante confederação política e comercial de
cidades mercantis, monopolizando 0 comércio nesta área e estendendo a sua influência
a todo o norte europeu.
w Purtulariu: tipo de carta náutica retangular onde se Encontravam registadas as linhas de rumo e a localização dos
principais portos da costa Ocidental da turupa, Mar do Norte e Mediterrarieu.
Kogge. navio de carga curri urn único mastro e vela quadrarigular.. Os latinos chamavam-lhe corracn.
Unidade 1 - A identidade civiUzacional da Europa 0cidental 31
dade elevam-se e a mâo de obra torna-se escassa. Menos braços, menos produção. Ao
flagelo da fome junta-se 0 das epidemias (os corpos mal alimentados estão mais expos
tos à doença), o das pilhagens e 0 das guerras. Fecha-se o círculo sinistro. A crise está Questão
instalada.
1. Que fatores explicam
a fragilidade do equilíbrio
demográfico na Europa dos
séculos XIII-XV?
32
Tratado de Alcanises:
definição das fronteiras
leste de Portugal.
Foi ainda o sucesso militar que lhe permitiu obter um território suficientemente amplo
para viabilizar a existência de Portugal como reino independente, alargando a sua fron
teira sul até à linha do Tejo-Sado, com a conquista de Santarém (1147) e cuja posse abriu
0 caminho à tomada de Lisboa (1147) e feito alcançado com a ajuda dos Cruzados. Segui-
ram-se-lhes as conquistas de Sintra, Almada e Palmeia, fortalezas importantes para a de
fesa de Lisboa e de Alcácer do Sal.
A definição do espaço territorial português ficou concluída com a celebração do Tra 1137-1179
D. Afonso Henriques
tado de Alcanises (Fig. 1) (1297) entre D. Dinís de Portugal (Fig, 2) e D. Fernando IV de
concede forais a Penela
Castela que fixou de forma praticamente definitiva a fronteira leste de Portugal. [1137], Leiria [1142].
Germanelo [1142-1144],
Deste modo, ainda no século XIII, Portugal estabelecia as fronteiras do seu território Arouce [1151] e a Lisboa
(1179J.
que, com pequenas alterações posteriores, haveriam de permanecer atê aos nossos dias.
1186
D. Sancho I doa Almada,
Palmeia e Alcácer dü Sal
2.2. 0 país urbano e concelhio à Ordem de Santiago.
1192
- A multiplicação de vilas e cidades concelhias D. Sancho I concede foral
a Penacova.
As formas de povoamento e de organização das populações no território portu
guês refletem as características do melo geográfico e, sobretudo, as condições histó
ricas em que se processou a formação do território português, concluída no século XIII.
Foram as condições históricas ligadas ao avanço da Reconquista Cristã para sul que
terão tido uma influência mais marcante. A conquista e integração do sul no domínio
português implicou importantes movimentos de populações, parti cuia rm ente do norte
de Portugal mais povoado, para as regiões que iam sendo tomadas aos Mouros,
Fig. 3. Concelhos medievais
fenómeno que acabaria também por favorecer a coesão étnica e cultural do País. portugueses.
34
* Carta de foral: documentos Esta tarefa de povoamento - fundamental para assegurar a defesa e promover a explo
concedidos pelos reis ou
ração económica do território - foi Incentivada pelos reis através de doações às Ordens
pelos senhores (laicos e
eclesiásticos) que regulavam Religiosas e Militares (Templários, Hlospitaláríos, Calatrava e Santiago) como contrapartida
a vida dos concelhos,
nomeadamente os direitos ao auxílio prestado na luta contra o Islão e às ordens não militares (Cónegos Regrantes
e obrigações dos seus de St.° Agostinho, Cistercienses, Franciscanos e Dominicanos).
habitantes (“vizinhos"), em
particular a administração, Ao mesmo tempo e com idênticos objetivos, reis e senhores (nobres e eclesiásticos)
o fisco e a justiça.
concederam cartas de foral* ás vilas e cidades de Portugal. Desta forma foram criados mui
* Concelho: circunscrição
territorial e administrativa tos concelhos* (Fig. 3), importantes agentes do povoamento.
com um variável grau de
autonomia: cada concelhü - A organização do território e do espaço citadino
possuía uma assembleia
de notáveis ou homens- Sob □ ponto de vista administrativo, o território português estava dividido em terras
-bons que elegia diversos
magistrados, estando (ou territórios) e em concelhos. As primeiras eram governadas por um rico-homem que,
também d rei aí
na qualidade de delegado do rei, superentendia nos atos de administração e de justiça.
representado através de
magistrados nomeados Existiam, ainda, as terras pertencentes às ordens religiosas e ordens religiosas militares,
por si.
gozando de vários privilégios e imunidades, como a isenção fiscal.
* Mesteirais: trabalhadores de ser real, coexistindo no interior das muralhas as atividades agrícolas, comerciais e ar
em ofícios (mesteres) de tesanais.
artesanato ou indústria,
e alguns pequenos A invasão da Península pelos Bárbaros destruiu 0 modelo urbanístico romano assente
comerciantes (almocreves
e carniceiros): nas cidades no traçado regular das ruas e das praças e substituiu-o pelo emaranhado de ruas e rue
mais importantes estavam
las estreitas e tortuosas, irregularmente calcetadas, sem esgotos, comprimidas por uma
reunidos por profissões
numa mesma rua. A partir muralha circundante, que acompanha as irregularidades do solo (é a cidade a adaptar-se
do séculD XIII. crescem em
ao espaço, não o contrário). As ruas não eram pensadas para o transporte sobre rodas;
número e em força
económica e nos séculos eram sobretudo para as pessoas ou para os animais de carga utilizados como meios de
XIV e XV vão adquirir poder
transporte^. Algumas das ruas concentravam um mesmo tipo de lojas e ofícios e eram
na administração local.
mesmo identificadas pelos nomes das respetivas atividades: rua
dos sapateiros, dos caldeireiros, etc. Sentiam-se assim mais pro
tegidos e vigiavam-se mutuamente. É 0 sentido corporativista tão
caracteristicatnente medieval.
Fiffs 4 Panorâmica da
[3)
cidade de Coimbra. Nas zunas históricas das nossas pririLipais cidades ainda tiu|e se puderri utiservar estas características.
As casas de habitação, com dois ou três andares, agrupavam-se em quarteirões, abran
gendo estábulos, celeiros e lojas térreas abertas por uma só porta para a rua. Muitos des
tes conjuntos dispunham de pátios interiores em geral com um úníco acesso da rua. Em
regra, a loja situava-se em baixo e os dormitórios no andar de cima com acesso através
de escadas estreitas. Os seus interiores eram austeros, amplos e pouco iluminados. As la
reiras davam algum conforto, mas também a ameaça dos incêndios.
A autonomia (em grau variável) das comunidades concelhias era exteriorizada por cer
tos símbolos: o selo municipal (Fig. 5); 0 pelourinho, local da execução das sentenças, para
além de símbolo da autonomia; a bandeira e certos emblemas representativos do espírito
Fiff. 5- Selo dü concelho
de solidariedade coletiva ou ainda certos elementos identificativos do concelho.
de Castelo Mendo,
do século XIII. Os símbolos
Se a autonomia^ é 0 elemento essencial do regime do concelho, o exercício comuni
escolhidos (neste caso a
tário dos poderes é 0 instrumento decisivo da sua realização. De facto, 0 concelho é fun muralha) exprimem
sentimentos de autonomia
damentalmente uma comunidade de vizinhos(sl, embora tal não exclua a existência de
e de solidariedade coletiva
várias categorias sociais e direitos desiguais para os seus habitantes. das comunidades
concelhias.
Os magistrados eram em número variável e tinham diversas designações nos diferen
tes concelhos. Os mais importantes eram os juízes, alcaides ou alvasisl6\ supremos repre
sentantes e dirigentes do concelho. Depois, funcionários com funções em áreas específicas:
os meirinhos (fisco e justiça); o almotacé^ (economia); os mordomos (administração dos
bens concelhios); os sesmeiros (gestão das terras).
O rei estava sempre representado por um ou mais magistrados, por si nomeados: 0 O Questão
alcaide ou juiz; o almoxarife (cobrança dos direitos régios); o mordomo do rei, (adminis
1. Como se exprime
trador dos bens da coroa no concelho). Nos finais do século XIII, princípios do século XIV, a autonomia da vida
com 0 objetivo de reforçar 0 controlo real da vida concelhia, foram criados os corregedo municipal?
res ou juízes de fora parte, delegados do rei nos concelhos e representantes destes nas
cortes. Foram ainda criados novos funcionários administrativos, os vereadores, com poder
de decisão em áreas importantes.
wCnm u tempo, hubretodu a partir de D. Afonso III, a política de centralização régia foi restringindo a aoioriornid murn-
Lipdl.
Vizinhos: com origem ria palavra latiria viciriorum. designa os habitantes com residência permanente na área du
LoriLelhü e com posses suficientes para pagar os tributos devidos.
1:1 Alvasis: vocábulo de origem árabe [ul-wu^ir] que designa o mesmo que vereadores de urri comelho.
J Almotacé: do termo árabe ol-muhtosib.
- A afirmação política das elites urbanas
ü exercício dos poderes concelhios tinha uma natureza comunitária, mas tal não sig
nifica que existia uma igualdade de direitos entre a comunidade de vizinhos. As diferen
ças tornam-se mais notadas quando se analisa a superioridade social e económica dos
cavaleiros-vilãos ou homens-bons(íi\ uma verdadeira elite de proprietários alodiais* e mer
cadores, sobre os peões'5' (Hg. 6), a grande maioria constituída pelos pequenos proprie
tários, rendeiros, assalariados e mesteirais com baixos rendimentos.
[H| lei rriiriiddd a querra com os Mouros d designação de “cavaleiro" deixou de fazer sentido e fui sendo substituída pela
de “homem bom”, urna expressão mais adequada a nuva realidade pás-Reconquista, ja que recorda a riqueza e a
Questão honra e não a funçãu militar.
w D termo "peão’* Lern origem no tipu de partiLipaçãu na guerra; nau tendu posses para manter um cavalo e u res
1. Como se explica a petivo equipamento, o peãu combatia a pé.
formação de uma M Esta denominação significa que os ricos-homens tinham o puder e a autoridade para arregimentar soÍj u seu
oligarquia política nos estandarte cavaleiros e peues e os meius para os sustentar nu decurso de urna Lampanha militar.
concelhos? A partir du século XIII. os riubres pur nascimento passam a ser vulgarmente designadas por “fidalgos”.
No entanto, a realeza manteve sempre o controlo sobre o poder senhorial reservando
para si determinados direitos, como a justiça maior (pena de morte oll corte de membros),
ou combatendo-o abertamente.
Os senhorios eclesiásticos (coutos) e laicos (honras e reguengos) eram constituídos por 1. Como se caracterizava
a economia senhorial?
propriedades relativamente extensas (contínuas e/ou descontínuas), num mundo agrário
2. Em que condições viviam
relativamente fechado que procurava a autossuficiência. Uma boa parte da propriedade
e trabalhavam os
senhorial era explorada diretamente pelo seu proprietário (a reserva) através de um homem camponeses dependentes?
da sua confiança e nela trabalhavam sobretudo os servos adscritos (ligados) à terra.
Uma outra parte era dividida em parcelas (casais, quintas ou vilares) e entregues a
camponeses que as exploravam mediante determinadas condições: pagamento de uma
renda (censo, ração, porção, foro, renda, eirádega, terra digo...), das geiras ou corveias
(trabalho gratuito ao longo do ano) e da dízima1'2* à Igreja, entre outros tributos (peitas,
fintas, talhas...).
A prioridade da vida económica do País, tanto nos senhorios como fora deles, ia para
a produção de subsistências, para o cultivo dos cereais, bem como para a produção de
vinho e azeite, destinados não só ao consumo local como à troca dos excedentes, e ou
tras atividades como a pastorícia e a criação de gado.
Mais do que uma extensa propriedade, o senhorio ou domínio senhorial era uma
comunidade hierarquizada de pessoas que viviam e trabalhavam em condições económi
cas e jurídicas (direitos e obrigações) diferenciadas.
-< Dízima: prestação correspondente a lÜX da produção obtida na agricultura, na pesca, na salí cultura e ern uutias
atividades; podia ser curivertida ern determinado rnunlarite de prudutus ou de dinheiro.
38
1223-1248 risdição senhorial e ao mesmo tempo uma afirmação clara da supremacia da justiça real.
D. Sancho II. Outro direito era a aposentadoria11^1 a que se obrigavam as terras onde o monarca e a sua
1248-1279 corte se instalavam nas deslocações pelo Pais.
D. Afonso III.
A legitimidade e a força da monarquia portuguesa têm fundamento na tradição visigõ-
tica do exercício do poder real em nome de Deusna propriedade de terras adquiridas
ao longo do processo da Reconquista; no caráter patrimonial do poder, indivisível e ina
lienável, que legitimava a transmissão da realeza de pais para filhos segundo a regra da
primogenitura masculina. Aparentemente os poderes do rei não conheciam limites, já que
das suas decisões não existia apelo. No entanto, o rei jurava obedecer às leis e manter
as liberdades do Reino e proteger o clero e a nobreza, o que significava uma limitação ao
seu poder.
A partir do século XIII, foi criado o cargo de escrivão da puridade (secretário particu
lar que acompanhava o rei nas suas deslocações) e foram criados novos funcionários es
pecializados, como o porteiro-mor (superentendia na cobrança dos impostos) e o
tesoureiro-mor. A administração central integrava ainda um grupo restrito de conselheiros
do rei, a Cúria Régia, formada por favoritos régios, altos funcionários e membros da famí
lia real. Entretanto, a Cúria daria origem a dois órgãos: o Conselho Régio, composto por
prelados, ricos-homens e militares, e as Cortes*.
* Cortes/pa ria mentos: As Cortes mais antigas de que há documentação realizaram-se em Coimbra (1211), no
assembleias com funções
essencialmente consultivas reinado de D. Afonso II. A sua importância deriva do facto de terem sido ai aprovadas as
e fiscais, convocadas pelü
rei e constituídas por
representantes das três Cl rei chamou a si nau sú o direito de "bater a moeda", como também u direito de a “quitar" [quebrar, desvalori
ordens sociais - clera. zar] ou "levantar" (elevar, revalorizar]., □□ seja de alterar u valor da moeda.
nobreza e povo. rin] Aposentadoria: i □ mu u termo indica, Lonsistid na hospedagem gratuita ao rei (ou senhores] e respetiva comitiva
quandu passavam por urna totalidade; tratava-se de um dos mais gravosos encargos suportados pelas populações
dependentes, tanto rurais torriu urbanas.
[h] Üs primeiros reis referiam sempre essa origem do seu poder, considerando-se por "graça" ou "vonLade" de Deus.
Unidade 2 - O espaço português — a consolidação de um reino cristão ibérico 39
primeiras leis gerais que se conhecem no Reino. Em 1254, as Cortes de Leiria contaram Cronologia
já com a participação dos procuradores dos concelhos, □ que revela 0 reconhecimento real
1210
do papel dos concelhos na administração do Reino e 0 seu interesse no apoio popular à D. Afonso II - V Lei de
Desamortização.
política de controlo do clero e nobreza.
1220
O objetivo de reforço do poder real passou também por um controlo mais rigoroso da Primeiras Inquirições
(D. Afonso II).
administração local: dos concelhos e dos senhorios. Para isso, recorreu ao aumento do nú
1254
mero e dos poderes de intervenção dos funcionários régios e a medidas legislativas de ReuniãD das Cortes de
Leiria com representantes
combate à expansão senhorial.
dü clero, nobreza e dos
concelhos.
- 0 combate à expansão senhorial e a promoção política das elites urbanas 1258
Inquirições Gerais de
Apesar da supremacia de que beneficiava a realeza, esta teve de impor um conjunto D. Afonso III.
de medidas de fortalecimento do poder real e de centralização administrativa no sentido 1284
Inquirições Gerais de
de limitar as prerrogativas senhoriais e controlar os abusos dos senhores.
D. Dinis.
D. Afonso II (1211-1223) criou 0 sistema das Confirmações, que obrigava a submeter os 1286
Lei de Desamortização de
títulos ou diplomas de posse dos bens à confirmação do rei, pretendendo desta forma aca D. Dinis.
bar com os abusos de membros do clero e da nobreza e até dos concelhos, com a apro
priação indevida de bens da coroa. Esta prática foi seguida por sucessivas Inquirições*, * Inquirições: inquéritos,
que permitiram ao rei identificar as ilegalidades, castigar e recuperar rendimentos. Com ob a nível nacional, ao estado
dos direitos reais,
jetivos idênticos, foram elaboradas Leis de Desamortização, que proibiam a aquisição de ordenados pelü poder
bens de raiz aos eclesiásticos e às instituições religiosas, com o intuito de travar a con central. Trata-se de uma
medida de fortalecimento
centração já considerável da propriedade fundiária na posse do clero. dü poder real e de
centralização
Este processo de combate à expansão senhorial prosseguiu durante 0 século XIV. A de administrativa que visava
bilidade do sistema vassálico* português facilitava a ação de controlo da realeza. D. Fer combater os abusos contra
os interesses da coroa.
nando recusou 0 direito de justiça às honras constituídas a partir de 1325, com algumas
* Vassalidade: rede de
exceções. D. João I restringiu 0 direito de transmissão das terras doadas pela Coroa, me solidariedades
dida que D. Duarte consagraria na Lei Mental (i434)06). aristocráticas assente num
vínculo vitalício de
Ao mesmo tempo que prosseguia 0 combate ã expansão do poder senhorial, a realeza dependência pessoal pelü
qual, em traça de
procurou atrair as elites urbanas à sua causa apoiando as suas atividades económicas, fidelidade e apoio, um
abrindo-lhes as portas da administração central e reforçando a sua influência nas estrutu homem livre [vassalo]
recebe proteção e outras
ras administrativas locais. Mas a grande oportunidade de afirmação política da burguesia recompensas (benefício du
urbana surgiu com a crise dinástica e a Revolução de 1383-1385. 0 seu apoio ao Mestre feudo) de um outro
(senhor).
de Avis, proclamado Rei nas Cortes de Coimbra de 1385, trouxe importantes contrapartidas
* Legistas; homens com
às elites urbanas: os legistas* assumiram lugares importantes na administração central, fürmaçãD jurídica. Nos finais
nomeadamente no Conselho do Rei onde acederam e em maioria; os mercadores reforça da Idade Média, a política
de centralização régia
ram a sua influência junto da Coroa e beneficiaram de vários apoios reais (Bolsa de abriu-lhes lugares na
Mercadores, 1293, acordos comerciais...); e os mesteirais ascenderam ao governo das cida administração central,
adquirindo entãD grande
des desafiando a força, até então dominante, dos proprietários e mercadores07'. importância política.
Segundo d Lei. a Coroa mantinha os seus direitos sobre as doações régias e estas sâ poderiam ser herdadas pelo
filho varão legítimo; 1 aso não se verificassem estes pressupostos, tais bens seriam reintegrados na Coroa.
■ ■' Nas Curtes de Coimbra de 1385 íilou assente que, de futuro, pertenceria a dois homens de i ada mester íufício) as
seguintes atribuições: a eleição dos magistrados municipais; a designação de funcionários; d elaboração das posto-
ras [leis) municipais; a fixação dos impostos.
40
Por isso, estabilizada a linha de fronteira, as prioridades do seu reinado foram: a de
fesa, investindo os seus esforços na organização da marinha e na reparação dos castelos
na fronteira para prevenir qualquer invasão de Castela; o fomento do povoamento e das
Cronologia Os esforços dos nossos monarcas para formarem uma individualidade nacional suficien
temente forte para afirmar Portugal no quadro político peninsular tiveram a sua grande
1143
Tratado de Zamora. prova na Revolução de 1383-1385 (Fig. 8). Os patriotas agrupados em redor do Mestre de
1248 Avis tinham consciência do que estava em causa com a proclamação da Rainha D. Bea
(Rejconquista do Algarve.
triz: a sobrevivência de um Estado, mas também a preservação de um sentimento nacio
1297
Tratado de Alcanises. nal que tinha já então consciência da sua individualidade. Consolidada a independência
1383 nacional, Portugal pôde partir então para a grande empresa planetária dos Descobri
Morte de D. Fernando:
mentos.
regência de D. Leonor em
nome de D. Beatriz
e D. JDão de Castela.
1384
D. JoãD de Castela cerca
Lisboa.
1385
Cortes de Coimbra:
aclamação de D. João I, Rei
de Portugal.
Batalhas de Aljubarrota,
Trancoso e Valverde.
1415
Conquista de Ceuta: início
da expansãD ultramarina
portuguesa.
Fig. 8. A vitória na Batalha de Aljubarrota (14 de agosto de BflS) foi determinante para a consolidação da
identidade nacional e a afirmação de Portugal na quadro político ibérico.
Unidade 3 - Valores, vivências e quotidiano 41
SUMÁRIO
APRENDIZAGENS RELEVANTES
A arquitetura
A escultura gótica revela na sua fase inicial um formalismo e rigidez quase românicos.
Outro aspeto característico da escultura deste período é 0 seu caráter monumental que
decorre da sua integração na arquitetura.
Nos séculos XII e XIII, a escultura gótica regista uma evolução no sentido de uma
representação mais expressiva, naturalista e humanizada (Hg. 2), ainda que procure um
tipo de beleza ideal e serena dentro de certos convencionalismos. Progressivamente, vai
abandonando a arte monumental, entrando no realismo e tornando-se independente da
arquitetura.
Fig. 2. Virgem com o
Menino (Nuno PisanD, Pisa, 4 pintura
Igreja de Santa Maria].
Tema muito comum da Na pintura gótica sobressai o vitral (Fig. 3) que aparece como um elemento inte
escultura gótica. 0 realismo
grante da arquitetura. As soluções técnicas encontradas para 0 problema da descarga
e a expressividade da
representação transformam do peso das abóbodas permitiu abrir janelas e aumentar substancialmente os espaços
a Virgem numa figura
abertos preenchidos e decorados com o vitral. Para 0 homem medieval, a luz era uma
simples de mulher e mãe,
igual a tantas Dutras. forma de manifestação divina, razão pela qual as representações projetadas no interior
das edificações através dos vidros coloridos produziam uma forte impressão mística. As
figuras e cenas mais recriadas nos vitrais são temas religiosos, como a vida de Cristo,
da Virgem e dos santos ou ainda os trabalhos dos diversos ofícios.
Uma outra técnica que marcou a última etapa da pintura gótica é a pintura de retá
bulos que substitui e impõe-se à pintura mural.
Fig. 3. Vitral alusivo à [í| Iluminura: puriLura, sobre pergaminhos e manuscritos. de representações de figuras, cenas uu ornatos ern minia
Última Ceia. tura que formavam pequenos quadrus riurri livro, uu ainda decuraçües das letras maiusculas.
Unidade 3 - Valores, vivências e quotidiano 43
Como reação á mundanização da Igreja surgiram nos séculos XII-XIII diversas seitas 1210
Inocêncio III aprova
religiosas, como a dos albigeinses^ e a dos valdensesfe\ que condenam a vida de luxo
a Ordem Franciscana criada
da hierarquia eclesiástica, apregoam 0 Ideal de pobreza e de sacrifício do Sermão da por S. Francisco de Assis.
Montanha, negam 0 purgatório, as indulgências, 0 sacerdócio e o culto dos santos, amea 1209-1229
Cruzada contra os
çando desta forma a autoridade da Igreja Católica e a ortodoxia da Fé.
Albigenses [no sul de
França).
0 Papado reage com a reunião do IV Concílio de Latrão, em 1215*^ que cria um tri
1216
bunal episcopal para a perseguição das heresias. Em 1231, Gregório IX coloca-a sob a Honório III confirma
direção e 0 controlo direto dos delegados pontifícios, criando a Inquisição papal, com a a Ordem Dominicana
fundada por S. Domingos.
missão de combater as doutrinas contrárias à ortodoxia.
1215
IV Concílio de Latrão:
Para este combate 0 Papado não poderia contar com as velhas instituições monásti
instituição de um tribunal
cas contemplativas refugiadas nos seus mosteiros. Esse papel foi confiado às novas ins episcopal - a Inquisição.
tituições religiosas, fundadas nos ideais evangélicos de pobreza e de fraternidade da 1232
0 papa Gregório IX cria
Igreja primitiva, as Ordens Mendicantes dos Franciscanos (São Francisco de Assis) e dos
a Inquisição papal.
Dominicanos (São Domingos), vocacionadas para 0 ensino e a pregação.
Estas novas formas de religiosidade motivaram também a ação dos leigos, impulsio
* Confrarias: irmandades
nando em particular a criação das confrarias*.
constituídas sob
0 patrocínio de um santo,
- A expansão do ensino elementar com estatutos e rituais
próprios, reunindo
A evolução demográfica, económica, social e cultural verificada na Europa nos sécu frequentemente homens
da mesma profissão, tendo
los XII e XIII não podería deixar de se refletir no ensino. A vida intelectual era até então
como objetivo a prática da
quase exclusivamente um domínio clerical. As escolas catedrais (nas sés episcopais) e as caridade.
escolas monásticas (nos mosteiros) eram totalmente controladas pelas autoridades ecle
siásticas e destinavam-se á instrução dos homens da Igreja, Por outro lado, o ensino aí
ministrado permanecia essencialmente oral e limitava-se em geral ao ensino do cate
cismo, escrita, música e aritmética.
Para responder às novas necessidades sociais, a partir de meados do século XII são
criadas escolas laicas. Desta forma, 0 ensino deixou de estar ligado exclusivamente à
preparação dos futuros clérigos. A prática do comércio tornava indispensável 0 conheci
mento da Leitura, da escrita e do cálculo. 0 ensino destas escolas era no entanto de nível
elementar. Todos aqueles que queriam um saber mais completo teriam de procurar as
instituições do clero.
- A fundação de universidades
w Albigenses fde Albi, no sul da França], ou catarus [du grego. puros]: a diíusãu desta heresia ísécs. XI-XIV] que pre
conizava urrid renovação mural e espiritual baseada na antítese entre □ bern [Deus] e d rnal [Satanás] levou papa
d pregar uma cruzada [guerra] cuntra eles (1209-1229).
,sl ValdEnses: seita religiosa fundada pelo comerciante de Lqun, Pedro Valdo, que pregava o ideal de pobreza e a per
feição evangélica, obtendo bastante adesão no norte de Itália.
■h] Ü Concílio foi particular mente duro para corri os judeus: furam proibidos de uLuipar cargos, obrigados a usar urn
vestuáriu que os distinguisse dos demais e confinadus a ghettos.
44
* Universidade: [universitas Daqui surgiu um novo tipo de comunidade de intelectuais, associando professores e
magistrorum et
schoiarium} comunidade alunos, constituídos em corporação, a universitas magistrorum et scholarium. A palavra
ou corporação de mestres universidade* (universitas) significa na Idade Média “corporação11'. A expressão que
e alunos, com instituições
próprias, destinada exprime a ideia de universidade, no sentido de instituição escolar, é o estudo geral
a aprofundar os estudos. (studium gene raie). Sustentados frequentemente pelo soberano e pelo papa, os estudos
Dirigida por um reitor.
dividia-se em Faculdades, gerais dispõem de estatutos próprios e de privilégios como qualquer outra corporação
geralmente quatro: profissional.
Teologia, Direito (canónico
e civil). Medicina e Artes A partir do século XIII, os estudos universitários eram feitos no interior de Taculdades
(letras e ciências): atribuía
os graus de bacharel, especializadas em determinadas matérias. Nem todas as universidades tinham o mesmo
licenciado e mestre. currículo.
O ensino nas universidades era ministrado em latim e o método usado era a escolás
tica, baseado sobretudo na leitura e comentário pelo mestre (ensino magistral) de textos
Cronologia
dos sábios e filósofos antigos. As universidades conferiam os graus de bacharel, Licen
Principais universidades
ciado e doutor.
europeias dos séculos
XII-XIII
Temendo pelo seu prestígio e para evitar desvios das suas doutrinas, a Igreja con
1119 Bolonha
1125 Montpellier trola a sua criação, bem como as matérias e as práticas de ensino. Em Portugal, a cria
1150 Paris ção do ensino universitário foi aprovada em 1290 por uma Bula do Papa Nicolau IV, con
1158 Oxford
1224 Pádua cedida na sequência de uma petição feita em 1288 por vários Abades e Priores e com 0
1241 Siena apoio do rei D. Dinis.
1244 Salamanca
1290 Lisboa
3.2. A vivência cortesã
- A cultura leiga e profana nas cortes régias e senhoriais: educação cavaleiresca,
O Questões
amor cortês, culto da memória dos antepassados
L Como se explica
a criação das O renascimento urbano e o desenvolvimento da burguesia e das atividades económi
universidades? cas nos séculos XII e XIII foram modificando os padrões de vida, a visão do mundo e a
escala de valores das elites da sociedade medieval. Ao mesmo tempo, a afirmação das
* Cultura erudita: Os ideais cavaleirescos de coragem na luta e de fidelidade aos ideais cristãos inspi
manifestações culturais raram os cantares épicos, escritos em língua vulgar, como as canções de gesta france
que expressam
pensamentos estruturados sas, das quais a mais célebre é a Canção de Roiando ou 0 Poema de! Mio Cid (c. 1140),
e produzidas por uma elite na Península Ibérica.
ou minoria de intelectuais,
geralmente pertencentes A partir do século XIII, expande-se a poesia trovadoresca provençal (oriunda da Pro-
às categorias sociais
superiores. É uma cultura vença, região do sul de França) cujo tema fundamental era 0 amor cortês: um amor-vas-
que a sociedade valoriza salagem envolto em disfarce, ou “mesura”, necessário à preservação do segredo sobre a
como superior du
dominante. identidade da amada (uma mulher casada). As emoções e as subtilezas de gestos e
Unidade 3 - Valores, vivências e quotidiano 45
Mar
do
Norte
Winchester/
Vladimir
Ratisboi Cracóvfà"^^ /
Viena
Santiago
Compost
__/^J^Narboi
ncclona
Córdova
■^Granai
PalerrtíD.■ Foceia
1.1, A partir dos documentos 1 a 3, explique o aumento da produção agrícola na Europa Ocidental nos
séculos XI-XIII.
1.2. Explique o dinamismo comercial e financeiro europeu no século XIII (doc, 3),
47
Dom Dinis (..J, A vós, João Soares (...) e a Gil Martins (...) e a (...). Bem sabedes em como era meu
talantel]) de fazer uma póvoa a par do meu castelo de Cerveira, e enviei-vos sobre isso minha carta para
saberdes se havia aí homens que 0 quisessem povoar e enviaste (dizer) que havia aí peças grandes^ deles,
que 0 queria fazer, e que vos pediam para acoileramento^ dessa póvoa vinte e oito casais,
w vontade
w grande número
w divisão do termo em coirelas ou casais.
2.1. Integre os documentos 4 a 6 na caracterização dos poderes em Portugal na época medieval, especi
ficando, nomeadamente:
Contextualização
□ movimento das Descobertas iniciado pelos Portugueses, logD secundados pelos Espa
nhóis, iniciou o processo de desencravamento dos diversos "mundos'' do Mundo. Ao fazê-loT
deram à Europa o domínio dos mares e com ele a oportunidade de afirmar a sua hegemonia
sobre o planeta. Ao mesmo tempo, forneceu uds europeus uma nova e correta visão sobre
a geografia física da Terra e sobretudo promoveu d encontro entre povos e culturas que até
então se ignoravam mutuamente, retirando daí a prova da unidade c da universalidade do
género humano.
Em estreita ligação com os Descobrimentos, o Renascimento c o Humanismo operaram uma
verdadeira revolução cultural e social numa Europa que procurou na reinvenção das origens
da sua matriz cultural e na renovação da sua espiritualidade e religiosidade d reencontro
consigo própria e o encontro com o outro Os tempos medievais não foram, pois, estéreis,
nem uma "época de trovas", comD se pretendeu classificar este longo pcríodD histórico.
SUMÁRIO
APRENDIZAGEN5 RELEVANTES
CONCEITOS/N0ÇÜE5
Navegação astronómica; Cartografia
- Principais centros culturais de produção e difusão de sínteses e inovações
Nos finais do século XV, a expulsão dos Médicis de Tlorença e a instabilidade política
O Questão
e social que se lhe seguiu levaram os artistas e letrados a refugi arem-se em Roma cujos
papas Alexandre VI Borgia (1492-1503), JÜIlio II (1503-1513) e, em especial, Leão X (1513- 1. Como se explica que as
-1521) desejam transformá-la na capital de um império cristão. Milão, Génova e, sobretudo, cidades italianas tenham
sido a ■'vanguarda" da
Veneza, grande potência comercial, constituem outros tantos polos de arte e cultura. renovação e progresso
cultural nos sécuIds XV
A partir de Itália, os novos princípios e valores difundiram-se pela Europa ocidental. As e XVI?
peregrinações a Roma, 0 comércio, as relações diplomáticas entre as cortes europeias, 0
gosto pelas viagens, a criação da imprensa moderna (1440) por Gutenberg e os progres
sos técnicos na navegação favoreceram essa difusão. Em volta das universidades e nas
grandes cidades mercantis, como Paris, Lião, Londres, Praga, Viena, Cracóvia, Augsburgo
e Nuremberga, formaram-se círculos de letrados e artistas que, apoiados pelos monarcas
e pelos homens de negócios, tornaram estas cidades grandes centros de cultura.
Cronologia Capital política e económica, Lisboa é no século XVI uma grande cidade mesmo à
escala europeia, atraindo as elites mercantis e financeiras e culturais de todas as partes
1492
Castela conquista d reino do continente europeu, reforçando o seu caráter cosmopolita.
muçulmano de Granada.
Sevilha, com a descoberta do Novo Mundo e o tráfico da América (metais preciosos,
Cristóvão Colombo chega
às Antilhas. sobretudo a prata^1, as pérolas, os produtos de tinturaria como a cochonilha, o índigo,
Efla corantes e couros), tornou-se na capital do negócio e da banca de Espanha. Servida pelo
Fundaçãü da Casa de
Cantratación (Sevilha). porto de Cádis e sede da Casa de Contrafàdón (1503), viu a sua importância crescer em
No século XVI, Lisboa e Sevilha tem muito em comum: devem a sua fortuna às Des
cobertas. Por outro lado, apesar da sua importância económica e política, Lisboa e Sevi
lha não puderam, ou não souberam, tirar todo 0 partido da supremacia colonial, que deti
veram e assumir 0 papel de centro da economia europeia de quinhentos. Esse lugar
coube a Antuérpia que explorou muito bem as suas potencialidades e as fraquezas do
capitalismo ibérico.
Ue inicia, ú valor das remessas du ouro suplantava o da prata. Mas depuis de IbbU inverte-se a siiuaçau: de 1561 a
1570, Sevilha regista 943 toneladas de prata, contra II toneladas e rrieia de ouro; ern 11620. a prata constitui, em pesn,
99X das remessas dos metais preciosos arrienr anos.
Unidade 2 - O alargamento do conhecimento do mundo 51
1502
SUMARIO
Planisfério de Cantino.
- 0 contributo português; inovação técnica; observação e descrição da natureza" 1519
- A matematização do real Planisfério de Pedro Reinei.
Mediterrâneo: rrur interior, estendida em longitude, relativdmente Ldlrnu e sobretudo bem conhecido; oma carta de
marear eurna bússola erarri suficientes para urna navegação segara, tanto mais que os marinheiros têm constante
mente no seu horizonte visual d linha de cosia e as numerosas ilhas. A situação era muito diferente nu AtlSnticu, o
Mur lenebrusu, corno era designado entre os Muçulmanos.
Ventos alíseos: ventos regulares e constantes que sopram de t para 0 rias regiões intertropicais; de tNE para QSO
no hemisfédn norte; e de E5E para QND riu hemisfério sul; a sua reqularidade é um fator favorável à naveqaçãu.
M Para determinar a llatitude us Purtuqueses começaram pui utilizar a constelação Ursa Menor, de que faz par te a
Estrela Polar. Q processo para fazer este cálculo era ha muito conhecido na Península. Q protilerna era adaptar os ins
trumentos rriais adequados ao uso dos navegadores e elaborar um reçimEnto com regras claras, acessíveis aos pilo
tos. A determinação da longitude era menos rigorosa, fazendo-se por estimativa.
-1- As novidades técnico-científicas du astrolábio náutico e da carta pilaria quadrada representam urna adaptação ino
vadora do astrolábio plano e da carta-purtulanu medieval. Fig. 2. Astrolábio náutico.
52 Módulo 3 - A abertura europeia ao mundoI — mutações nos sensibilidades e valores nos séculos XV e XVI
Cronologia quadrante; a elaboração de roteiros com a descrição minuciosa das costas e dos seus
acidentes e a indicação dos perigos a evitar e da extensão dos rumos entre as escalas,
1505-1508
Duarte Pacheco Pereira: guias náuticos1"1, Livros de marinharia^, regimentos^, tábuas solares, escalas de latitude,
Esmeralda de si tu orbis. etc.; melhoria tecnológica das armas de fogo e, em particular, da artilharia.
1537
Pedro Nunes: I ratado da
- 0 contributo português: observação e descrição da natureza
Esfera.
1538-1539 Os europeus conheciam muito pouco dos outros mundos e tinham deles imagens que
D. JoãD de CastrD: Roteiro
de Lisboa o Goa e Roteiro a abertura planetária iniciada pelos Portugueses em Quatrocentos demonstraria serem
de Goa o Diu. erradas (Fig. 3). Com efeito, narrativas fantásticas e mitos relacionados com 0 mar e os
1562 continentes africano e asiático acabariam por ser destruídos pelos Portugueses através
Garcia da Orta: Colóquios
dos Simples e ürogas da de um saber fundamentado na experiência, isto é, na vivência das coisas, foi através
índia. deste experiencialismo* que os nossos marinheiros deram a conhecer ao mundo algu
mas novidades que contrariavam muito do saber herdado e há muito estabelecido:
Txperiencialismo:
- ha bit abil idade da zona equatorial;
conhecimento das coisas
adquirido pela prática - comunicabilidade entre os hemisférios norte e sul;
e observação. Trata-se de
uma atitude meramente - ligação entre os oceanos Atlântico e índico;
empírica que poderíamos
classificar de “pré- - descoberta de uma nova parte do Mundo (0 continente americano);
-científica" para a distinguir
- esfericidade da Terra, já defendida pelos Gregos, mas contestada maioritariamente
de experimentalismo, uma
atitude científica, onde na época medieval.
à observação se segue
a racionalização
e a experimentação. ü contributo dos Portugueses para uma nova visão do Mundo e da Natureza é essen
cialmente informativo e empírico, porque a preparação intelectual e científica dos nossos
navegadores não lhes permitia ir mais além do que a simples observação das coisas
através dos sentidos. É verdade que em alguns espíritos mais cultos da época
Mas o contributo mais decisivo dos Portugueses terá sido 0 de ter cons
truído uma nova visão do Mundo e da Natureza, sobretudo 0 de ter feito a
demonstração de que não há bestas nem monstros humanos, que a natureza
do género humano é una; também que não há povos nem civilizações infra-
-humanos, ou seja, a ideia de humanidade.
Fig. 3. Imagem medieval do
mundo: 0 DceariD rodeia
a terra comD um círculo.
Questão Guias náuticos: obras que ensinam as regras da astronomia ridutii a. Cl fruru Núuíílü de Munique [r. 1S09] tude Évora
(c. 1516] constituem os mais antigos textos impressos onde se apresentam as principais regras dle pilotagem e os
1. Que contributos deram elementos de navegação astronómica, em uso nu pr ricípiü do século XVI.
os portugueses para d Livras de marinharia: espécie de manuais com tudas as iriíoirnações necessárias para d navegação astrúnómico-
conhecimento no século -ocedniLd.
XVI? '■ Reçirnentas: conjuntos de regras e cálculos que Facilitavam o trabalho dos pilotos na determinação da latitude.
Unidade 2 - O alargamento do conhecimento do mundo 53
- A matematização do real
0 renovado interesse pela natureza e pela vida quotidiana dos indivíduos e das socie
dades, que caracterizou o início dos Tempos Modernos, influenciou a formação de uma
nova mentalidade, mais técnica e utilitária, mais racional e rigorosa.
O Estado e a sociedade são levados assim a calcular, a valorizar o rigor e a quanti * Mentalidade quantitativa:
ficação, contribuindo assim para a progressiva afirmação de uma mentalidade virada para atitude mental que se
caracteriza pela
0 número, para a medida, uma mentalidade quantitativa*. Tudo é mensurável, tudo é valorização do número, do
quantificável, até o próprio tempo. rigor e da medição.
começado a pôr em dúvida a antiga teoría do Universo geocêntrico 0 tenham feito secre
tamente com o receio de perseguições por parte da Igreja. As teorias de Copérnico foram
completadas por Kepler (151-1630), que defendeu que as órbitas dos planetas não eram Cronologia
circulares, como afirmara Copérnico, mas sim elíticas.
Principais astrónomos dos
séculos XV-XVII
1473-1543
Nicolau Copérnico.
1546-1601
Tycho Brahe.
1564-1642
Galileo Galilei (Galileu).
1571-1530
Johannes Kepler.
1642-1727
Isaac Newton.
54 Módulo 3 - A abertura europeia ao mundoI — mutações nos sensibilidades e valores nos séculos XV e XVI
SUMÁRIO
APRENDIZAGEN5 RELEVANTES
C0NCEIT05/N0ÇDE5
Intelectual; Civilidade; Renascimento"; Humanista"; Antropocentrismo"; Naturalismo; Classi
cismo"; Perspetiva; Manuelino"
* Conteúdos de aprofundamento
** Aprendizagens e conceitos estruturantes
Os séculos XV e XVI são favoráveis à afirmação dos homens mais dotados e empreen
dedores: □ progresso económico e o desejo de distinção social das elites arrastam con
sigo o aumento do luxo e o desenvolvimento da urbanização, da cultura e da sociabi-
lidade(l).
ü homem é um ser social, é essa a sua natureza, que se afirma tanto melhor quanto
mais hábil e educado for. Isto leva ao desenvolvimento de padrões de comportamento
em grupo que são cada vez mais refinados e, ao mesmo tempo, a integrar na formação
dos homens e mulheres regras de conduta apropriadas às mais diversas situações. Fala-se
* Civilidade: conjuntD de então de civilidade*, devendo referir-se neste contexto a obra de Baldassare Castiglione,
formalidades observadas
autor d*O Livro do Cortesão (1528), um educador de “pessoas bem nascidas" que, mais
entre as pessoas
bem-educadas que vivem do que qualquer outro, contribuiu para a conversão da vida cortesã italiana (e europeia)
em sociedade; cortesia, aos valores da civilização. Apóstolo das “boas maneiras**, Castiglione definiu o modelo
delicadeza, polidez,
etiqueta, urbanidade. do que considerava ser o “homem completo"; um militar e diplomata brilhante e um
artista talentoso.
íocuabilidade: Ler dêri; ia para viver ern sunedade, íjlIü que nplii.d a adoção de rriudus uu regras adequados.
Unidade 3 - A produção cultural S5
rança de se confundir ou para rivalizar com eles: 0 sonho de muitos burgueses era 0 eno 2. Como explica
a importância atribuída
brecimento e ter os padrões de vida da aristocracia nobre. à moda do vestuário
e à civilidade?
- 0 estatuto de prestígio dos intelectuais e artistas
modo de afirmação político e social de quem 0 pratica mas também importante para 0
desenvolvimento da produção intelectual e artística. Os artistas e intelectuais são recom
pensados pela generosidade dos mecenas (Fig. 1) e pelo reconhecimento social. Este
fenómeno não pode ser explicado senão pela nova difusão da cultura, fruto da aparição
da imprensa, e pelo interesse de um publico instruído, cada vez mais numeroso.
Em Portugal, 0 Paço real constituiu 0 grande foco de irradiação cultural nos séculos Fig. 1. Lourenço, 0 Magnífico
(1449-1492). duque de
XV e XVI. As razões são claras e encadeiam-se umas nas outras:
Florença, modelü dos
- a formação de quadros superiores para as tarefas administrativas e a gestão dos mecenas renascentistas.
(Florença, Galeria dos
empreendimentos ultramarinos centralizados pela Coroa; Ofícios).
MecEnatD: a expressão Lt?rn d sua origem riu nome du romano amigo de Augusto, Caio Mecenas, que se celebrizou
Lornu um importante protetor de homens de letras entre os quais Virgílio e Horácio. Fig. 2. Retrato de DamiaD
^'Absolutismo régio: regime ern que o soberano se considera legitimada pela origem divina do seu puder para exer de Góis (1502-1574), por
cer o puder livre de controlos ou limitações de quaisquer outros puderes. Us regimes ahsolutistas aíiimararri-se ria Jan Mabuse. Diplomata,
Europa uciderital entre us séculos XVI e XVIII, ern paralelo com a Formação do Estado moderno. historiador e humanista
■ ■ U número de 41 bolseiros, correspondente a última vintena de anos do reinado de D. Manuel, elevou-se para 177 proeminente nas cortes de
nas duas primeiras décadas do reinado de D. João III. D. Manuel I e de D. João III.
Cronologia reitoria da Universidade de Paris, André de Resende, Pedro Nunes, Garcia da Orta, Amato
Lusitano e Damião de Góis (Fig, í), entre muitos outros, adquiriram projeção e grande
c. 1500
Estatutos manuelinos da notoriedade internacional. Também a reforma da Universidade levada a cabo por D. João III,
Universidade de Coimbra.
entre 1533-1535, e a fundação do Colégio das Artes, em 1547, foram realizadas com 0
1502
contributo decisivo dos antigos bolseiros e dos mestres estrangeiros radicados entre nós.
Auto da Visitação ou
Monólogo do Vaqueiro,
de Gil Vicente. BOLSAS CONCEDIDAS PELA COROA A ESTUDANTES PORTUGUESES NO ESTRANGEIRO
Início da construção dü
Mosteiro dos Jerónimos. 1500-1514
1505
Construção dü Paço da 1515-1521
Ribeira [Lisboa].
1522-1526
1513
Embaixada de D. Manuel
1527-1530
ao Papa Leão X.
1514 tS1-fi3S
Edição das Ordenações
Manuelinas. 1536-1540 Dias, j. S.,
/I Política Cultural
1515-1519 na Época de D. João lll,
1541-1550
Edificação da Torre de voL I, L L
Belém.
1521
Morte de D. Manuel 3.2. Os caminhos abertos pelos humanistas
e subida ao trono
de D. João III. - Valorização da Antiguidade Clássica
1547
Fundação do Colégio das Os intelectuais e artistas dos séculos XV e XVI viveram momentos únicos de desco
Artes.
berta: do mundo (Descobrimentos), da natureza e das suas leis (Ciência), da Antiguidade
1572
Clássica.
Publicação de Os Lusíadas,
de Luís de Camões.
O interesse pela Antiguidade greco-latina teve a sua origem nas cidades italianas que,
animadas por um forte impulso de progresso e prosperidade económica, procuraram nas
suas origens a fonte de inspiração e 0 património cultural capazes de dar resposta às
suas ambições e aos seus ideais. Seguindo o exemplo de Petrarca (1304-1374), um
incomparável investigador de livros antigos, os primeiros a procurar esse caminho foram
essencialmente pesquisadores e colecionadores de obras romanas.
* Humanistas: designação
dada aos estudiosos dos Mas a Antiguidade não foi só romana; grande parte do seu legado encontrava-se
autores e obras da escrito em grego, língua cujo conhecimento era imprescindível para 0 acesso direto aos
Antiguidade greco-latina.
escritos de autores como Homero e Platão. A conquista, em 1453, de Constantinopla,
* Classicismo: fenómeno
capital do Império Romano do Oriente, pelos Turcos Otomanos forçou a fuga para a Itá
artístico característico dü
Renascimento, que se lia de muitos intelectuais gregos, o que veio reforçar 0 interesse pela língua e pelas
fundamenta na literatura
obras dos autores gregos (e hebraicos) antigos estudadas, com racionalidade e sentido
e nas artes da Antiguidade
Grega e Romana. crítico, pelos humanistas*.
0 gosto pelo legado clássico, grego e romano trouxe consigo a crescente rejeição de
alguns modelos herdados do passado. Com efeito, embora não seja possível dizer-se que
0 Renascimento (designação dada ao período da História da Europa aproximadamente
entre fins do século XIV e meados do século XVI, caracterizado por um movimento de
renovação cultural e social global que transformou as artes, as letras e as ciências, bem
como todas as demais formas do pensamento e da atividade humanas) se traduza por
uma recusa pura e simples do passado medieval e com ele da visão teocêntrica do
mundo, assiste-se, ao longo dos séculos XV e XVI, a uma revalorização do homem e de
tudo aquilo que lhe é próprio. Esta atitude traz consigo um novo sentido de liberdade e
manifesta-se através da vontade de conhecer e de experimentar, fruto do desejo (e neces
sidade) de progresso e de um ideal de modernidade.
Londottierr rid Itália da HenasLirnerilu, chefes de guerra qiue comandavam tropas de mercenários e Intervinham
nas decisões pulítiLds.
58 Módulo 3 - A abertura europeia ao mundoI — mutações nos sensibilidades e valores nos séculos XV e XVI
Cronologia A paixão do homem renascentista pelo mundo clássico, greco-romano, expressa antes
de tudo a sua oposição a um mundo de valores que considerava envelhecidos e inade
1511
Erasmo de Roterdão (1469- quados para as suas aspirações e os seus ideais. A convicção de que vivia uma "idade
-1536]: 0 Elogio da Loucura.
nova'1 e a sua vontade de afirmar a sua modernidade em relação a uma época, a Idade
1516
Thomas More [1478-1535]:
Média, que considerava "bárbara”, estimularam nas elites cultas do tempo um forte espí
>1 Utopia. rito crítico. Com efeito, desde o século XV que os principais humanistas europeus fazem
153E críticas implacáveis à corrupção moral, à ignorância e à hipocrisia da sociedade e dos
François Rabelais (1494-
-1553]: Gargôntua poderes instituídos, quer fossem eles laicos ou religiosos.
e Pontagruak
Tommaso di Campanella ü melhor exemplo desta ousadia intelectual é Erasmo de Roterdão (1469-1536), 0
[1568-1639]: Cidade do Sol. humanista mais influente do Renascimento: e O Elogio da Loucura (1511), irónico e mor
daz, critica a corrupção moral do clero, em particular do Papa e dos bispos, incluindo nas
suas críticas os reis e os príncipes.
Mas 0 papel dos humanistas não se limitou à denúncia do que consideravam ser os
erros da sociedade do seu tempo. 0 regresso às fontes antigas encorajou também a cla
rificação da ideia de progresso através da comparação da realidade do seu tempo com
a ideia - influenciada pelo estudo da herança clássica - de como ela deveria ser, Surgem
assim as “utopias”l6\ descrições de modelos de sociedades organizadas segundo princí
pios diferentes daqueles que vigoravam no mundo real. Trata-se de um género literário
que floresceu na época do Renascimento, cuja designação provém da obra de Thomas
More (1478-15 3 5) (7\ A Utopia (1516), e que expressa ao mesmo tempo uma visão otimista
das possibilidades do homem e o profundo divórcio existente entre as aspirações dos
humanistas e a realidade do quotidiano.
Com efeito, os artistas do Renascimento nâo só revelaram uma técnica superior à dos * Perspetiva: conjunto de
regras de representação
Antigos - nomeadamente no domínio pictórico com a pintura a óleo, a perspetiva* e a que permite a reprodução
introdução do uso da tela - como também foram mais longe nas tentativas de reduzir o tridimensional de um
objeto sobre uma
mundo à medida do homem colocando a arte ao serviço da compreensão racional das superfície plana
aparências do mundo exterior. (bidimensional], uma vez
estabelecido 0 ponto de
observação.
- A centralidade do observador na arquitetura e na pintura: a perspetiva
matemática
Questão
Numa época em que os homens se esforçavam para compreender o mundo de um
modo mais científico, as explicações até então admitidas como válidas para esse efeito 1. Qual a atitude dos
artistas renascentistas
já não são suficientes: a razão exige dos homens que se dedicam ao estudo da realidade relativamente aos modelos
natural as provas e a confirmação das suas teses. artísticos clássicos:
imitação e/ou inspiração e
A arte, feita até então em função de uma fé religiosa, procurando na natureza apenas desafio?
aquílo que pode servir o seu ideal, uma vez liberta desta servidão teológica, torna-se
também ela um meio de conhecimento do mundo exterior A partir de agora, aos olhos
do artista, colocado numa posição de observador, oferece-se um campo imenso de explo
ração: a infinita variedade dos elementos e das formas do universo, humano e natural.
- A racionalidade no urbanismo
■B| OrdET arquitetónica: conjunto de regras Formais e de proporção que ligavam entre si, de uma Forma de antemão
estabelecida, todas as secções de um ediFíciu.
,<31 PrDjeto: estudo rigoroso, matemático, prévio a exeLuçãu de uma obra.
Muralhas: d sua fiiriahddde pnrir ipal era a proteção, furiLluriandu tarribérri como fronteira uu I riite. acompanhando
[e coridiLluriandu) ü crescimento da cidade: se esla aumentava, levantava-se outra muralha. A partir do século XV, os
progressos da artilharia tomaram ilusório u seu papel de proteção.
Módulo 3 - A abertura europeia ao mundoI — mutações nos sensibilidades e valores nos séculos XV e XVI
Como se percebe, estas cidades não podiam satisfazer nem os princípios de raciona
lidade nem o modo de vida requintado do homem do Renascimento. O objetivo de racio
nalização que estava no centro das preocupações dos arquitetos renascentistas está tam
bém presente na organização dos espaços urbanos. Ao fazê-lo, estes arquitetos iniciaram
a história do urbanismo moderno.
Os artistas do Renascimento foram mais longe do que quaisquer outros que os pre
cederam no modo de representar o homem e, acima de tudo, a sua realidade física, natu
ral. Como foi isso possível?
Masaccio (1401-1428), 0 primeiro grande pintor do século XV, foi o grande iniciador
dessa nova maneira de exprimir na tela o volume das coisas e a anatomia dos corpos.
A busca da representação exata da realidade observada levou-o a introduzir a perspetiva
nos grandes planos colocando □ observador na posição de espetador privilegiado que sur
preende as personagens no seu espaço natural (paisagem) ou construído (arquitetura).
* Naturalismo: reprodução Estas inovações - volume, perspetiva e naturalismo* - fizeram escola na pintura
fiel, exata, da natureza,
renascentista. De entre os seus muitos seguidores destacaram-se Piero delia Francesca
dos seres ou objetos tal
como são percecionados (1416-1492), Luca Signorelli (1441-1523) e Botticelli (1444-1520), atingindo o seu máximo
no seu estadü natural. desenvolvimento no século XVI com Miguel Ângelo (1475-1564) cujos frescos da Capela
nimos, Francisco de Arruda edifica a Torre de Belém e Diogo de Arruda dirige as obras
do Convento de Cristo, em Tomar, cuja Janela da Sala do Capítulo ilustra de forma exu * Manuelino: d nome
“Manuelino" deve-se
berante a diversidade e 0 exotismo da gramática decorativa manuelina (heráldica, ele
a Varnhagen [séc. XIX) que
mentos marítimos, vegetalistas e religiosos). Mantendo as estruturas essenciais da arqui também identificou as
tetura gótica, 0 manuelino adota novos conceitos de espaço e iluminação (uniformização suas características, tendo
por base elementos
da altura das naves, igrejas-salão...). decorativos genuinamente
nacionais e relacionados
Na escultura, a arte renascentista produziu sobretudo retábulos, esculturas, imagens com os Descobrimentos.
e túmulos onde estão bem patentes duas características fundamentais: a proporção e 0 Almeida Garrett acolheu
com entusiasmo poético
realismo. Dois grandes artistas estrangeiros deixaram uma vasta e valiosa obra entre nós: 0 nome de "Manuelino"
Nicolau de Chanterenne e João de Ruão. e transformou-D no
símbolo nacional da épica
Na pintura, a influência renascentista veio sobretudo através da escola flamenga das Descobertas. Esta
perspetiva provocaria uma
(Flandres), cuja influência revela-se na conceção do espaço, no emprego de motivos orna forte contestação entre ds
mentais renascentistas e no realismo da representação da figura humana e da natureza. historiadores e os críticos
de arte que contestam as
Destacaram-se Jorge Afonso (c. 1495-1521) e Vasco Fernandes, mais conhecido por Grão- teses da sua ligação com
Vasco (1475-1541/42), cuja obra apresenta uma grande originalidade pelo seu vigor a expansãD ultramarina
e da originalidade nacional,
expressivo e dramatismo. O Políptico de São Vicente atribuído a Nu no Gonçalves, uma pretendendo ver nele uma
obra que faz um notável uretrato11 da sociedade portuguesa quatrocentista, é 0 quadro evolução dü Gótico final
(ou tardo-Góticó].
mais significativo da pintura manuelina, uma arte de síntese que combina a tradição
gótica e a novidade do Renascimento.
,1L Gótica final [nu tardo gótico): fase da evolução du Lúlil l?, um estila que Floresceu na Europa du século XII ao século Questão
XVI, caracterizada pela puuc a sohriedade, estilizaçSo e aLurriuldçãu de elementos der nrativos.
M Arabescas: desenhos l dracierísticus dd ai te áiabe constituídas pur Figuras geométricas entrelaçadas e muito orna 1. Que características
mentadas. definem a arte
Grotescas: decorações corn temas vegetalistas, formas humanas uu figuras de animais. góticD-manuelina?
62 Módulo 3 - A abertura europeia ao mundoI — mutações nos sensibilidades e valores nos séculos XV e XVI
1. Que críticas faz Erasmo forma de espiritualidade mais virada para a meditação pessoal e menos interessada na
ao Papado? Que
liturgia, e a vontade de emancipação dos poderes políticos nacionais.
consequências terão tido
para a Igreja?
De resto, a crise da Igreja Romana tivera um momento marcante no Cisma do Oci
dente (1378-1417), que dividiu a Cristandade durante quase quatro décadas na obediên
cia a dois pontífices - um sediado em Roma, outro em Avinhao. Também os apelos para
uma reforma da Igreja e do sacerdócio do inglês John Wyclif (c. 1324-1384) e do checo
Jan Huss (1369-1415), entre outros, que denunciaram com vigor o estado de corrupção
Erasmsrno: torrente de reforma religiosa inspirada nu pensamento de Erasmo; apelava j reforma moral do clero e
preconizava urna vivência religiosa rnais conforme o espírito e a moral da Igreja original.
Unidade 4 - A renovação da espiritualidade e religiosidade 63
0 movimento de rutura teológica foi desencadeado por Martinho Lutero (1483-1546). 1517
Afixa as 95 teses na porta
A materialização da sua rutura com Roma começou a definir-se em 1515, com a promulga
da igreja do castelü de
ção de uma Bula de Indulgência por Leão X, necessitado de dinheiro para levar a cabo as Wittenberg.
obras da Basílica de S. Pedro, em Roma. Em 1517, a pregação das indulgênciasl?) chegou 1519
Rompe com Roma.
aos arredores de Wittenberg, 0 que levou a uma reação por parte de Lutero, fazendo afi
1521
xar na porta da igreja do castelo da cidade as suas 95 teses contra as indulgências (1517). Publica De servo arbítrio.
1522
O papa Leão X condenou as suas teses na bula Exurge Domine e impôs a Lutero a sua Comparece na Dieta de
Worms convocada pelo
retratação sob pena de excomunhão(3\ Lutero responde com a publicação de três Manifes
imperador Carlüs V.
tos (1520), dirigidos ao imperador e aos nobres alemães, onde critica violentamente o Papa, 1534
apela à resistência contra as imposições papais e contesta abertamente diversos dogmas* Traduz para alemão
a Bíblia (durante a sua
da Igreja. Nos finais desse ano, Lutero queima publicamente a bula papal e Leão X exco- estada no castelo de
Wartburg).
munga-o. O Príncipe Eleitor do Saxe, Frederico, 0 Sábio, dá-lhe refúgio no seu castelo de
.Vartburg, onde faz a tradução da Bíblia do original grego para a língua alemã e estrutura
* Dogmas: princípios ou
a sua doutrina, que suscitou 0 apoio de numerosos setores do país. proposições doutrinárias
consideradas como
A rápida difusão do luteranismo na Alemanha (1521-1525) explica-se em parte pelo incontestáveis e
facto de esta ter adquirido uma dimensão política. Com efeito, os princípios luteranos de indiscutíveis.
- As igrejas reformadas
rer o caminho que 0 leva até Deus, Lutero abriu as portas ã forma
ção de igrejas diferentes e concorrentes (Hg. 1), cada uma corres
Escrituras.
Fiç. 1. Os grandes
A Igreja Calvinista reformadores: Lutero (A):
João CalvinD (B); Zwínglio
0 êxito da Reforma Protestante fora da Alemanha resulta, em grande parte, da ação (C); Filipe Melanchton (D):
entre outros [gravura
de João Calvino (1509-1564), erudito e teólogo de nacionalidade francesa. Obrigado a alemã do século XVI].
fugir de Paris, Calvino procurou a cidade de Genebra (Suíça) como refúgio, onde a dou
trina protestante tinha muitos adeptos. Nesta cidade, Calvino estabeleceu uma ditadura
religiosa, um regime de teocracia no qual a sua Igreja controlava a vida pública e privada
* Predestinação: doutrina
e perseguia os dissidentes. Calvino explica a salvação em termos de uma predestinação* segundü a qual Deus
escolhe entre os homens
incerta, argumentando que, embora 0 homem estivesse predestinado ã salvação ou à aqueles que irão salvar-se
condenação, nunca poderia conhecer antecipadamente a sua sorte. e aqueles que vão ser
condenados, retirando
ao homem qualquer
Indulgências: promessa de remissão dos pecados d todos aqueles que se arrependessem e adquirissem a bula de possibilidade de rejeitar du
perdão coritrd uma determinada quantia em dinheiro. aceitar livremente a graça
Excomunhão: pena etlesiâstica que irnplii a a expulsão da comunidade dos fiéis, uu seja, da Igreja. divina.
64 Módulo 3 - A abertura europeia ao mundoI — mutações nos sensibilidades e valores nos séculos XV e XVI
A Igreja Anglicana
Na Inglaterra, a Reforma não foi iniciada por homens ligados à Religião mas sim pelo
próprio rei Henrique VIII (1509-1547) (Fig. 2), que retirou a Igreja Inglesa da jurisdição de
Roma, uma vez que 0 Papa se recusava a conceder-lhe a anulação do seu casamento
com a primeira mulher, Catarina de Aragão. 0 argumento foi a incapacidade da Rainha
para lhe dar um herdeiro do trono. Decidiu então conceder-se a si próprio 0 divórcio em
A Reforma Inglesa começou portanto por ser um ato político. Uma vez iniciado 0 movi
Fiç. 2. Henrique VIII, mento, este tornou-se cada vez mais religioso e protestante. Em 1534, pelo Ato de Supre
o fundador da Igreja macia, Henrique VIII foi proclamado chefe supremo da Igreja da Inglaterra. Lm 1536, dis
Anglicana, por Holbein.
solveu os mosteiros e confiscou-lhes as propriedades, que distribuiu ou vendeu pelos
seus partidários.
Cronologia
1533
Henrique VIII separa-se da
rainha e casa-se com Ana 4.2. Contrarreforma e Reforma Católica
Bolena.
Clemente VII excomunga-o. - Reafirmação do dogma e do culto tradicional
1534
Ato de Supremacia-. Tace ao movimento reformador que alastrava pela Europa do Norte, Paulo III (1534-
o Parlamento reconhece
a Igreja estatal Anglicana -1549) convocou, em 1536, um concílio* ecuménico (universal) para a cidade italiana de
e atribui ao rei a suprema
Trento. Era 0 começo da Reforma da Igreja Católica Romana.
autoridade eclesiástica.
Execução de Thomas More.
A primeira tarefa do Concílio consistiu na reafirmação dos dogmas do Catolicismo pos
1534-1539
Henrique VIII suprime os tos em causa pelas Igrejas reformadas: a reafirmação do Credo, das Sagradas Escrituras
mosteiros e vende os seus
e da Tradição como fontes da revelação divina, a condenação da interpretação individual
bens.
1536 da Bíblia, a reafirmação do valor dos sacramentos, em particular da eucaristia.
João Calvino publica
Institutio Christianoe Os resultados do Concílio depressa chegaram aos leigos: em 1566 foi publicado 0
Religionis: exposição da
Catecismo* romano, tendo-se igualmente procedido à reforma do Breviário e do Missal,
teoria da predestinação.
1553 que regulavam 0 culto católico tradicional.
Genebra converte-se no
centro do mundo
protestante. - A reforma disciplinar; 0 combate ideológico
A Reforma Católica utilizou ainda outros instrumentos: a fundação de novas ordens 1535
Inácio de Loiola funda
monásticas capazes de, pelo seu exemplo de obediência, austeridade e pobreza, reenca- a Companhia de Jesus
minhar e conquistar fiéis pela pregação e pelo ensino. É este espírito de proselitismo* (Jesuítas).
1542
que está na origem da criação dos Capuchinhos e da Companhia de Jesus (ou Jesuítas), Restabelecimento da
fundada por Santo Inácio de Loyola, em 1540. Inquisição romana.
1545
Este espírito de missionação* que mobiliza os religiosos, como os jesuítas portugue Primeira sessão do Concílio
de TrentD.
ses S. Francisco Xavier (1506-1552), 0 “apóstolo da índia7*, ou ainda Manuel da Nóbrega,
os intelectuais e artistas a refugí arem-se no cultivo dos formalismos estéticos e lite 1. Que interesses teraD
rários*53 esvaziados de conteúdo e fora da realidade; motivado a solicitação de
D. João III aD papa para
- o isolamento cultural do nosso País, afastando-o dos progressos e inovações que criar a Inquisição em
Portugal?
então ocorriam na Europa nos domínios científico e cultural.
Europa, uma região próspera e tolerante, onde os cri stãos-n ovos, os mais visados
■ Cnstans novas: designação dada aos judeus convertidos ao Cristianismo; esta denominação tinha uin serindu dis-
Lrimiridtório relalivarnente aus restantes cristãos [ve/hos].
■:l Nd literatura estão berri presentes no íenúrneriu du Gongorismo; na drte, nu Maneirismo e nu Bar roru.
Cronologia Unidade 5 As novas representações da Humanidade
1492
SUMÁRIO
Cristóvão Colombo atinge
as Antilhas ao serviço de
- O encontro de culturas e as dificuldades de aceitação do princípio da unidade do género
Espanha.
humano: evangelização e escravização
149B
Chegada de VascD da Gama - Os antecedentes da defesa dos direitos humanos
à índia (Calecute).
1502 APRENDIZAGEN5 RELEVANTES
Pedro Álvares Cabral
- Interpretar as reformas - Protestante e Católica - camD um movimento de humanização
aporta no Brasil.
e individualização das crenças e de rejuvenescimento do Cristianismo, não obstante a vio
1513
Chegada dos portugueses lência das manifestações do antagonismo religioso durante a tpoca Moderna1".
à China.
0 espanhol Balboa explora CONCEITOS/NOÇÜES
o istmo do Panamá. - Miscigenação; Providencialismo; Direitos Humanos”; Racismo; Época moderna
1519-1521
Viagem de circum- * Conteúdos de aprofundamento
-navegaçãD de Fernão ** Aprendizagens e conceitos estruturantes
Magalhães.
1519-1529
0 espanhol Hernán Cortes
conquista o México. - 0 encontro de culturas e as dificuldades de aceitação do princípio da unidade
1592
do género humano; evangelização e escravização
0 espanhol Francisco
Pizarro conquista o Império
Antes do processo de abertura planetária desencadeado pelo movimento das Desco
Inca [Peru].
1541 bertas na Época Moderna, de que Portugal foi pioneiro, o conhecimento da geografia
Chegada dos portugueses humana e natural do Planeta era muito restrito e essencialmente especulativo e fabuloso.
ao Japão.
Este facto aliado ao isolamento físico e cultural e ao desconhecimento mutuo dos diver
sos “mundos* do Mundo explicam em parte as atitudes discriminatórias de superioridade
cultural e religiosa (etnocentrismo) dos povos “civilizados" relativamente aos “barbáros”
ou “gentios”^ e a aceitação de atividades indignas do ser humano como a escravatura
e o respetivo tráfico.
A evangelização Cronologia
comportamentos de prepotência e intolerância religiosa por parte dos Europeus acaba 1597
Os missionários cristãos
ram por fazer fracassar a ação missionária. A reação das autoridades indígenas na China são expulsos do Japão.
e no Japão traduziu-se em perseguições sangrentas.
A escravização
cer e Portugal intensificou 0 seu tráfico, tendo o escravo negro sido utilizado fundamen 1. Que papel desempenhou
a evangelização no
talmente como mão de obra doméstica substituindo 0 escravo mouro. Em 1486 foi criada
encontro entre
a Casa dos Escravos para organizar este lucrativo comércio. Portugueses e Africanos?
H Em lS/6 haveria assim SÜ ClOQ cristãos nu Sudeste Indiana, nürnera que subiu aos IbO QOO na Lti na [ern IbSb]
e aos 300 000 no JapSo [em 1613]. Na Etiópia, na década de 20 dei século XVII, haveria 200 000.
68 Módulo 3 - A abertura europeia ao mundoI — mutações nos sensibilidades e valores nos séculos XV e XVI
Cronologia Na primeira metade do século XVI organizou-se o tráfico negreiro entre as costas de
África e as da América para o trabalho nas minas de ouro e de prata mexicanas e perua
1485
Fundação da Casa dos nas. A colonização do Novo Mundo pelos Espanhóis e o incremento da produção açuca
Escravos. reira no Brasil fizeram aumentar significativamente a procura de escravos. Com os mer
1570
cados do litoral já muito enfraquecidos, a procura de peças (escravos) passou a fazer-se
Primeira lei de restrição da
escravidão dos índios do diretamente no interior, quer através de incursões para a sua captura quer através de
Brasil.
um comércio organizado. Outra forma de adquirir escravos era através da exigência do
Morte do padre Manuel da
Nobreça no Rio de Janeiro. pagamento de tributo, sob a forma de escravos, aos sobas ou chefes tribais.
1539
Os efeitos do tráfico esc la vagis ta foram devastadores para as sociedades africanas:
Bula papal de condenação
do tráfico de escravos intensificaram-se os conflitos tribais para o aprisionamento de escravos, a população foi
índios.
dizimada e as suas possibilidades de desenvolvimento comprometidas. Para os territó
1751
Abolição do tráfico de rios de acolhimento, estas migrações forçadas resultaram num recrudesci mento das ten
escravos na metrópole: sões étnico-culturais e no desenvolvimento do fenómeno da miscigenação.
declaravam-se libertos os
escravos que entrassem
em Portugal. - Os antecedentes da defesa dos direitos humanos
Em Espanha, Bartolomeu de las Casas, padre dominicano que missionou nas Antilhas,
defendeu que se deveria Instruir os índios na fé cristã mas sem violência, pois também
eram filhos de Deus. Um outro dominicano, Francisco de Vitória (c. 1480-1546), contes
tou princípios e comportamentos nas relações com os pagãos e infiéis questionando
nomeadamente o dever invocado pelos cristãos de obrigar os índios, se necessário pela
força, a obedecer às suas leis. O holandês Hugo Grócío (1583-1645)^ defendeu a unidade
Direitos Humanos’':
racional e social do homem e a superioridade do direito natural, Isto é, dos direitos
constituem as proteções comuns à natureza humana, portanto, a todos os homens. O Protestantismo deu também
mínimas que permitem ao
um contributo importante ao defender a liberdade de consciência, uma pedra essencial
indivíduo viver uma vida
digna, defendido das do edifício dos direitos humanos*.
arbitrariedades do poder;
são, por conseguinte, uma
espécie de espaço
"sagrado", intransponível,
constituído pelas
chamadas "liberdades
fundamentais” dü
indivíduo, do homem.
Grócío é u fundddur da teoria do direitu natural moderno; protestante, fui profundam ente inílueriuado pelos Juris
tas espanhóis du século XVI, ern espeual Frant ist u Vitória.
Questões para Exame
Fig. 4. Pormenor do
A Primavera (1482), do
Fig. 3. Igreja de Santo Botticclli: a deusa das dores
André, de Mântua, 1470, primaveris adornada com
obra de Lcon Battisla. ramos e dores.
3
Documento 6 I A Contrarreforma Católica
11? Ano
Contextualização
A Europa política dos séculos XVII e XVIII caracteriza-se pela afirmação do Estado absoluto
c burocratizada, apoiado nas conceções do absolutismo régio e na sociedade de ordens
U Estado parlamentar está confinado ao noroeste europeu, às Províncias Unidas e ã Inglaterra.
Nd plano económico, a dinâmica do capitalismo europeu de matriz mercantilista reforçou as
economias nacionais, fomentou ds conflitos políticos e as disputas coloniais entre estados
Na segunda metade do século XVIII, a reunião de um conjunto de condições favoráveis per
mitiu à Inglaterra ganhar uma vantagem decisiva no arranque para a grande aventura da
industrialização e construir uma hegemonia económica, para a qual também contribuiu a
economia portuguesa e em particular o ouro do BrasiL Cronologia
Nd domínio cultural, ds progressos científicos e técnicos e as mudanças de mentalidade sus
citados pela filosofia das Luzes alicerçaram a construção da modernidade euiropeiaT cujos 1580-1590
Maus anos agrícolas
princípios e valores inspiraram d projeto político, social c cultural pombalino cm Portugal.
sucessivos na Europa.
1B18-1B4B
Guerra düs Trinta Anos
e epidemias.
162B-1B31
Epidemia de peste na
Unidade 1 A população da Europa nos séculos XVII e XVIII: crises e Alemanha, França e no
norte de Itália.
crescimento
1B4D-1B6B
Guerra da Restauração,
entre Portugal e Espanha.
SUMÁRIO
1B42-1B4B
- Fatores de instabilidade demográfica: as crises demográficas Guerra civil em Inglaterra.
- Os mecanismos autorreguladores 1B43-1B45
Levantamentos
- Uma nova demografia a partir de meados do século XVIII
generalizados no sul de
França contra o fisco.
APRENDIZAGENS RELEVANTES
1B4B-1B51
- Reconhecer nas crises demográficas um fator dle agravamento das condições do mundo Peste em Espanha.
rural e de perturhação da tendência de crescimento da economia europeia 1B4B-1B52
Guerra civil (“Fronda"]
CONCEITOS/MOÇÕES e peste em França.
Crise demográfica; Economia pré-industrial*** 1BB5-1BBB
Grande peste em Londres.
* Conteúdos de aprofundamento
1B90-1B94
” Aprendizaçens e Canceitos estruturantes Surto generalizado de
peste e fome na Europa.
72 Módulo 4 - A Europa nos séculos XVII e XVin - sociedade, poder e c
Por outro lado, na presença de crises demográficas 0 regime demográfico antigo con
servava faculdades de recuperação:
N?
Questões
2. Caracterize d novo
modelo demográfico,
relacionandü-D com as
170010 30 ffl « l/bíJ 6ü /O ao 00 1ffl» IQ 20 30 <0
— índice de natalidade
alterações verificadas na
— índice de mortalidade sociedade europeia na
Fig. 3. A revolução demográfica em Inglaterra. segunda metade dü século
XVIII.
M Esperança média devida: duraçau média devida previsível de um indivíduo, consoante as condiçDes de mortalidade
que existem nu seu anu de nasLimentu.
1:1 Este crescimento íui lau riotadu qiue suscitou reações alarmistas, destacando-se Tfiomas Malthus fl/E6-lâü^l,
auLur de trjsuji? Sobre u Princípio üu Populo^Qo [I79B], unde defende que a taxa de crescimento da pupulaçao seque
uma progressão geométrica e a laxa a subsistem ia nau vai além de urna progressão aritmética. pelo que a fome seria
inevitável. A soluçou estaria nu controlo da natalidadE [celibato e casamento lardiul, sobretudo para querri não
pudesse (os pobres] assegurar u seu prúpriu sustentu e ü dos seus familiares.
74 Módulo 4 - A Europa nos séculos XVII e XVm - apodere
SUMÁRIO
APRENDIZAGEN5 RELEVANTES
C0NCEIT05/N0ÇÕE5
Antigo Regime""; Monarquia absoluta""; Ordem/estado'"; Estratificação social*"; Mobilidade
* Mobilidade social: A nobreza, elite militar e fundiária, constitui o segundo estado e usufrui também de
possibilidade de alteração uma situação privilegiada na estrutura política e social do Antigo Regime.
do posicionamento ou
estatutü social de um Ao terceiro estado, a maioria da população, cabia-lhe a produção de subsistências e
indivíduo. Apesar da
relativa rigidez da o peso dos impostos. Trata-se de uma ordem não privilegiada, muito heterogénea na sua
hierarquia social, no Antigo
composição e nos níveis de rendimento.
Regime abriam-se ao
terceiro estado várias vias
Apesar da rigidez desta hierarquia, a verdade é que a sociedade do Antigo Regime
de ascensão social:
a entrada nü ciem desenvolveu uma relativa mobilidade social*. A aquisição de títulos ou de terras cuja
e o enobrecimento [por
posse enobrecesse o acesso a lugares superiores na administração do Estado ou o casa
concessão ou aquisição de
títulos). mento eram vias possíveis de ascensão social.
Unidade 2 - A Europa dos estados absolutos e a Europa dos parlamentos 75
social* englobava no interior de cada uma das ordens um conjunto diversificado de estra * Estratificação social:
divisão da sociedade em
tos ou classes. No clero, encontramos 0 clero secular (papa, cardeais, bispos e párocos)
estratos, classes du
e 0 clero regular (ordens religiosas masculinas e femininas), 0 alto clero (cardeais, bis categorias sociais
distintas.
pos e abades ou abadessas) e 0 baixo clero (párocos ou curas e monges).
A corte* e a vida cortesã adquiriram, com 0 absolutismo real, uma dimensão e impor
tância proporcionais à imagem do poder absoluto e da autoridade suprema que os sobe
Questões
ranos reivindicavam para si, pretendendo inculcar nos seus súbditos e projetar para 0
exterior das fronteiras do seu Estado. A corte absolutista assentava em dois pilares 1. Caracterize a sociedade
dü Antigo Regime.
essenciais: 0 luxo e magnificência dos espaços onde se movimenta 0 rei e os cortesãos;
2. Identifique modelos
a hierarquia regulada por uma etiqueta rigorosa englobando as maneiras de estar, de estéticos de encenação
ou representação do poder
vestir, de falar e de gesticular, as precedências e até os divertimentos correspondendo a
absoluto na Europa nos
outras tantas formas de encenação ou representação do poder. séculos XVII e XVIII.
76 Módulo 4 - A Europa nos séculos XVII e XVin - sociedade, poder e dinâmicas coloniaÊ
Relativamente aos conselhos, depois de um período mais ativo que se seguiu à res
tauração da independência, perderam a sua importância em favor de um número restrito
de secretários, favoritos do rei que trabalhavam na sua dependência direta.
ri- Recorde a instituiçaij das sisas gerais pur D. João I, a Lei Mental de D. Duarte, as Ürdeneções Afonsinas publicadas
pelu regente Ü. Ikedru [1433-1340] e a disciplinação da iMjbreza por D. João II.
Unidade 2 - A Europa dos estados absolutos e a Europa dos parlamentos 77
Afastada dos portos ibéricos, a Holanda, a mais ativa das sete Províncias Unidas,
encontrou uma alternativa: cruzar os mares e constituir um império coloniaL
Fiç. 1. Hugo GróciD [1583- Mas esta tarefa não era de realização pacífica. Portugal e Espanha reivindicavam, com
-1645]. Jurista e diplomata
holandês. Nd seu Mare base na prioridade da descoberta e na doação pontifícia (reconhecidos, de uma maneira
Liberum [16091 defendeu geral, pelos outros estados europeus), o direito de exclusividade de navegação e do
a liberdade de navegação
e comércio, contra comércio com as terras e os povos integrados nos respetivos impérios coloniais.
a doutrina do Mare
Clausum, legitimada pela Mas, confiante nas capacidades da sua poderosa marinha e armada, liberta de deve
Santa Sé, segundo a qual res morais de respeito pelas determinações papais (era protestante, maioritariamente cal-
mares e territórios
pertenciam aos seus vínísta), a Holanda avançou com o seu projeto colonial. Um incidente surgido em 1603,
descobridores. a sul da península de Malaca, entre um navio português - a nau Santa Catarina - e dois
navios holandeses da poderosa Companhia Holandesa das índias Orientais, esteve na ori
gem da obra de Hugo Grócio {1583-1645) (Fig. i), De Jure Praedae, onde defendeu a liber
dade de navegação e comércio para todos os povos (doutrina do mare líbefum}, contes
tando as pretensões de Portugal e de Espanha ao direito de monopólio da navegação
(mare clausum).
Magno Carta [12IbJ: imposta pela aristocracia inglesa ao rei João Sem íerroque ficava obrigado a respeitar as leis
traduciunais e os privilégios da nobreza, a consultar 0 I ribunal du Rei antes de lançar impostos, a não mandar pren
der ou Londenar alguém sern ser |ulgadu.
fqi 'Cabeças Redondas" .Ruundheads.-. assim designados pelo uso du cabelo muito curto, segundo um uso rnuiio l arrium
entre os puritanos.
Todavia, não por muíto tempo. Em 1653, Cromwell assume □ título vitalício de Lord Cronologia
Protector, dissolve o Parlamento, inicia uma ditadura pessoal. A sua morte, em 1658,
Inglaterra
abriria caminho à restauração da monarquia com Carlos II (1660-1685), filho do rei deca
1525-1549
pitado em 1649. Recomeçam as tensões entre a Coroa e o Parlamento. Recusa dD absolutismo:
lutas entre a Coroa
A Carlos II sucedeu Jaime II (1685-1688), católico, que tenta a restauração oficial do e 0 Parlamento.
1628
catolicismo. A reação anglicana irrompe de forma violenta, a oposição parlamentar soli
0 Parlamento impõe
cita a intervenção de Guilherme III de Orange (statouther da Holanda, casado com a filha a Carlos I a Petição de
Direitos [Bill af Rights}.
maís velha do rei inglês) e oferece-lhe a coroa inglesa. Jaime II foge para França. Termi
1542-154B
nava desta forma a pacifica “Revolução Gloriosa” (Glorious Revolutiori) de 1688, da qual Guerra Civil (Coroa vs.
resultaram importantes consequências: Parlamento).
1649
-a Declaração dos Direitos (Dedaratíon of Rights) de 1689, que impõe importantes Execução de Carlos I
e abolição da Monarquia.
limitações ao poder real;
1549-1660
- a divisão de poderes; Regime republicano
(Common wealth].
- a consagração da superioridade da lei sobre a vontade do rei, isto é, uma monar
1660-1685
quia controlada pelo Parlamento, ou seja, uma antecipação do regime parlamentar. Restauração da Monarquia
(Carlos II].
1679
- Locke e a justificação do parlamentarismo Publicação do Habeas
Corpus Act.
John Locke151 (1632-1704) refutou a doutrina do direito divino dos reis defendida pelo
1688
absolutismo. Retomou a doutrina do contrato social, que fundamentou com os seguintes Revolução Gloriosa
[Glorious Revolution}.
argumentos:
1689
- o direito de governar vem do consentimento dos governados; Declaração dos Direitos
[Dedaration of Rights].
- se um governo tentar governar de forma absoluta e arbitrária, se violar os direitos
naturais do indivíduo pode ser legitimamente derrubado;
- os direitos do indivíduo são absolutos e universais e, como tal, são sagrados, invio
láveis.
1 LoeIíe: autor de Üo/s Trotados sobre u óovemo [16B9J, é considerado como teórico dui "Revolução Gloriosa" inglesa
(IÊH8-I&S9) e um defensur do parlamentarismo.
:Ti Módulo 4 - A Europa nos séculos XVII e XVHl - sociedade, poder e t
SUMÁRIO
3l1. Reforço das economias nacionais e tentativas de controlo do comércio; o equilíbrio europeu
e a disputa das áreas coloniais
* Mercantilismo: termo 33. A hegemonia económica britânica: condições de sucesso e arranque industrial
utilizado para designar um 33. Portugal - dificuldades e crescimento económico’
conjunto de doutrinas
e práticas económicas
APRENDIZAGEN5 RELEVANTES
elaboradas na Europa, nos
séculos XVI-XVIII, cujas - Lompreendcr a importância do domínio de espaços coloniais para o equilíbrio político dos
características essenciais estados nD sistema internacional dos séculos XVII c XVIII*
são:a preocupação
- Reconhecer, nas práticas mercantilistas, modos do afirmação das economias nacionais*1
metalista ou bulionista,
o intervencionismo e - Identificar o poder social da burguesia nos finais do século XVIII como resultado da dinâ
diriçismo estatal, o mica mercantil e da aliança com a realeza na luta pelo fortalecimento do poder real.
protecionismo e o
- Relacionar a formação de um mercado nacional e o arranque industrial ocorridos na Ingla
nacionalismo.
terra com as transformações das suas estruturas económicas”.
* Protecionismo: política - Compreender a influência das relações internacionais nas políticas económicas portugue
económica que privilegia sas e na definição do papel de Portugal no espaço europeu e atlântico"*
os interesses dos
produtores e comerciantes CDNCEITOS/NOÇfiES
nacionais relativamente
à concorrência externa. Capitalismo comer dal”; Protecionismo'* Mercantilismo”; Balança comercial”; Exclusivo colonial;
SãD vários os mecanismos Companhia monopolista; Comércio triangular; Tráfico negreiro; Bandeirante; Manufatura; Bolsa de
utilizados para atingir esse valores; Mercado nacional; Revolução industrial”
objetivo: concessão de
subsídios, de monopólios * CDnleúdD5> dc aprofundamento ** Aprendizagens e conceitos estruturantes
e isenções fiscais:
imposição de taxas
aduaneiras e de quotas
à importação; alterações 3.1. Reforço das economias nacionais e tentativas de controlo do
do valor da moeda, etc.
comércio; o equilíbrio europeu e a disputa das áreas coloniais
Era convicção generalizada que □ remédio para a crise económica que se fazia
sentir na Europa do século XVII, e a melhor forma de combater a hegemonia
comercial e financeira da Holanda e de Amesterdão, era o reforço das economias
nacionais através da intervenção do Estado na defesa e proteção dos Interesses
nacionais face à concorrência estrangeira. Esta era uma política económica a que
se chamou mercantilismo* (Fig. i), por assentar no comércio.
Apesar da diversidade das formas que tomou nos diferentes países, podemos dis
tinguir no mercantilismo algumas características gerais comuns:
de matérias-primas;
* Manufatura: em sentido
- contratação de mão de obra estrangeira especializada;
genérico, designa qualquer
tipo de atividade de
- estímulo ao trabalho através de prémios e isenções fiscais;
transformação das
- formação de uma rede de vigilância e de regulamentação minuciosa para elevar a matérias-primas em
produtos acabados, pelo
quantidade e a qualidade das manufaturas. que é equivalente
a indústria. Em História,
Paralelamente, Colbert procurou incrementar a exploração colonial através da criação 0 termo é utilizado para
de companhias comerciais privadas mas com privilégios, como a concessão de monopó designar 0 conjunto das
diferentes atividades
lios comerciais, e protegidas pela marinha de guerra. industriais e formas de
organização do trabalho -
Os resultados do colbertísmo foram modestos. Apesar do incremento da produção indus fraca especialização da
trial, em especial a indústria de luxo, como as manufaturas dos Gobelins(í), e do comércio, produçãD e uso de técnicas
de produção não
persistiram os fatores estruturais que constrangiam a economia francesa: 0 isolamento dos mecanizadas -
mercados urbanos e rurais, a fraca concentração das empresas, a insuficiente mecanização características de épocas
anteriores à revolução
e a escassez de capitais (investimentos especulativos, aquisição de terras e gastos militares industrial.
e sumptuários da corte). Por outro lado, a intervenção estatal traduziu-se num excesso de
controlo e de regulamentação, uma rigidez que limitou a iniciativa individual e a inovação.
0 mercantilismo inglês
- a proteção à produção agrícola através das corn-laws, leis que restringiam as impor
â Questões
Estes apoios diretos e indiretos à produção, ao comércio e à marinha provocaram
naturalmente a reação da Holanda (três guerras consecutivas), mas produziram resulta 1. Explique as
dos surpreendentes para a economia inglesa, permitindo-lhe afirmar-se como a principal preocupações buliDnistas
dü mercantilismo.
potência naval europeia no século XVIII.
2. Quais as prioridades da
política mercantilista de
Colbert?
3. Quais as prioridades do
-1 Gubelins: família de tecelões ílamenyus. cujas tapeçarias eraim famosas pele seu Lipc? de puniu reridadu. mercantilismo inglês?
82 Módulo 4 - A Europa nos séculos XVII e XVm - sociedade, poder e
1713
Diferentemente da generalidade das políticas merca niilistas» os holandeses jamais
Paz de Utrecht: fim da colocaram especiais entraves à circulação dos metais preciosos e das moedas. Aliás, con
Guerra de SucessãD de
Espanha. A Inglaterra trariando a tradicional preocupação bulionísta dos mercantilistas, cunhavam mesmo moe
incorpora os territórios das comerciais de grande valor utilizadas no comércio externo.
coloniais franceses da
Terra Nova e da Nova Por outro lado, defenderam o princípio da Liberdade de navegação (doutrina do more
Escócia e adquire Gibraltar
e Minorca a Espanha. liberum), o que, de resto, convinha ao seu papel de intermediários marítimos e ao papel
1756-1753 de Amesterdão como grande entreposto comercial e a maior praça financeira da Europa.
Guerra dos Sete Anos.
Por isso, é considerado um ^mercantilismo evoluído, moderado e incompleto’-, apesar de
1753
Tratado de Paris: fim da terem também recorrido a práticas protecionistas sempre que estavam em causa os seus
Guerra dos Sete Anos.
interesses, como foi o caso das companhias comerciais de monopólio, a Companhia das
A Inglaterra adquire
à França o Canadá, o Cabo índias Orientais e a Companhia das índias Ocidentais.
Bretão, a Senegâmbia
e possessões na índia;
0 equilíbrio europeu e a disputa das áreas coloniais
à Espanha a Florida.
179* ü Tratado de Vestefalia, em 1648, pós fim a um longo período de três dezenas de
A Inglaterra conquista
a maior parte das anos de guerra na Europa, a designada Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), e ao sonho
Pequenas Antilhas. da constituição de um império cristão sob a autoridade do papa e do imperador.
1796
A Inglaterra conquista aos A nova ordem europeia consagrada em Vestefália assentava no reconhecimento da
Holandeses o Cabo da Boa
Esperança e CeilãD. igualdade soberana dos estados e na independência de todos relativamente à Santa Sé.
1BQ2 Negada, assim, a subordinação dos estados a qualquer autoridade superior, a vida inter
Constituição do Reino
nacional europeia passou a decorrer sob o princípio do equilíbrio de forças ou do equi
Unido da Grã-Bretanha
e Irlanda. líbrio político. Para concretizar esse princípio era necessário evitar a formação de esta
dos poderosos que pudessem afirmar uma supremacia ou hegemonia sobre os restantes.
0 arranque industrial
Regime político
Mercados
O têxtil, um setor em grande expansão, foi o primeiro a aplicar os progressos técni * Pudelagem: dü inglês
cos: a “lançadeira volante”, de John Kay (1733), foi aplicada com grande sucesso na tece puddling; técnica pela qual
se transforma 0 ferro
lagem; a spmmnrg jenny, de Hargreaves, permitia a uma trabalhadora fiar, ao mesmo fundido em ferro macio,
tempo, vários fios; a water trame (1768), de llighs, e a mule jenny (1780), de Crompton, através da eliminação das
impurezas do ferro fundido
trouxeram ã fiação um enorme estímulo. e dü carbono por meio da
sua combustão.
Esta revolução das técnicas estendeu-se também à metalurgia. Darby conseguiu utili
* Laminação: ato de
zar o coque na produção de ferro macio (aço). Henry Cort (1740180a) registou as paten
laminar, isto é, a redução
tes da pudelagem* e da laminação*. dü metal a lâminas.
84 Módulo 4-A Europa nos séculos XVneXVm- i, poder e
Mas a invenção mais importante foi sem dúvida a máquina a vapor (Fig. 3) de James
Watt (1736-1819), que trouxe como consequência fulcral para 0 desenvolvimento indus
trial a possibilidade da utilização industrial da nova forma de energia, 0 vapor, com todas
as vantagens na economia do trabalho humano e na concorrência internacional.
- desvalorização da moeda;
- a descoberta de ouro no Brasil (1693-1695), há muito procurado pelos bandeiran * Bandeirante: colonizador
aventureiro que,
tes*, que permitiu pagar em ouro os défices da balança;
organizado em autênticas
-a sobreposição dos interesses comerciais e agrícolas, em particular os vinícolas, milícias aD som de
tambores e com bandeiras,
patentes na assinatura do Tratado de Methuen (1703). penetrava no interior do
território brasileiro
A apropriação do ouro brasileiro pelo mercado britânico seguindo 0 curso dos rios
ou 0 trilho dos “índios" em
A descoberta de ouro no Brasil nos finais do século XVII e a eventualidade de uma busca de nativos e das
riquezas do sertãD.
aproximação de Portugal à França, num contexto de acesa rivalidade comercial-marítima
anglo-francesa, reforçaram 0 papel estratégico do nosso país e consequentemente 0
interesse da Grã-Bretanha por este seu aliado tradicional. A celebração do Tratado de
Methuen (1703) foi 0 corolário desta situação, que também agradava aos setores comer
cial e vinhateiro portugueses.
As consequências deste tratado para as economias dos respetivos países têm sido
muito discutidas. É reconhecido que o Tratado de Methuen mais não fez do que consa
tado a formalizar a crescente procura dos vinhos portugueses na ürâ-Bretanha e dos têx
teis ingleses no nosso país, onde nunca deixaram de ser adquiridos (por contrabando),
apesar das medidas protecionistas. 0 efeito mais significativo do Tratado de Methuen
terá sido 0 reforço (e aceleração) da integração da economia portuguesa na esfera de
influência britânica cujas bases haviam sido já lançadas no tratado de paz anglo-luso de
1642 em que os ingleses obtiveram a liberdade de acesso ao império português.
0 afluxo do ouro brasileiro criou em Portugal uma situação de prosperidade que per
mitiu um reinado de grande brilho ao rei D. João V (1706-1750). No entanto, a diminui
ção do afluxo daquele metal precioso em meados do século mostrou quão frágil e apa
rente era essa riqueza e Portugal mergulhou numa nova crise económica,
Foí este cenário de crise que 0 rei D. José I (1750-1777) e 0 Marquês de Pombal tive
ram de enfrentar. Numa primeira fase (até cerca de 1760), a prioridade foi reestruturar 0
setor comercial, reprimindo 0 contrabando e apostando na criação de companhias de
monopólio, com 0 objetivo de combater a dependência dos estrangeiros, em particular
dos ingleses. Foi nesta perspetiva que criou a Junta do Comércio (1755) e uma série de
companhias comerciais de monopólio - Companhia do Grão-Pará e Maranhão (1755),
Companhia de Pernambuco e Paraíba (1756) e Companhia dos Vinhos do Alto Douro
(1756). A política pombalina de racionalização e moralização estendeu-se também aos
setores financeiro e fiscal - criação do Real Erário (1761) - onde foram centralizados
todos os serviços de arrecadação e depósito das receitas do Estado.
86 Módulo 4 - A Europa nos séculos XVII e XVHI - sociedade, poder e dinâmicas coloniais
[í| Leis que proibiam □ usu dtj certos artigos [importados] cunsideradub de luxo.
Unidade 4 - Construção da modernidade europeia 87
SUMÁRIO
conhecimento humano era obtido através dos sentidos, estabeleceu a base teórica para
um interesse sem precedentes pela educação.
* lluminismo: movimento
42. A filosofia das Luzes: apologia da razão, do progresso e do
intelectual difundido na
Europa em finais dü século valor do indivíduo
XVII e nü século XVIII,
centrado principalmente O século XVIII na Europa - Século das Luzes", como lhe chamaram - culminou num
em França, baseado
na confiança, na razão,
processo de revisão do pensamento e da ação do Homem, iniciado no século anterior
na defesa dos direitos nos Países Baixos e na Inglaterra e denominado de lluminismo*.
naturais dü indivíduo e
na noção de progresso A ordem, a desigualdade e a hierarquia são agora tidas como contrárias à razão e
histórico, moral e material,
princípios que consideradas como obstáculos á realização plena do Homem. Da apologia da razão
fundamentam propostas decorrem dois princípios fundamentais do lluminismo: o naturalismo (valorização de tudo
revolucionárias de
organização social, política o que é natural, espontâneo) e o individualismo (o indivíduo e os seus Interesses devem
e cultural das sociedades prevalecer, pois a sociedade não é mais do que a soma dos Indivíduos ou dos Interes
humanas.
ses individuais).
* Despotismo iluminado ou
43. Portugal - 0 projeta pombalino de inspiração iluminista
esclarecido: regime político
inspirado nas conceções
- Modernização do Estado e das instituições iluministas. adotado por
monarcas europeus na
A primeira preocupação tio governo do Marquês de Pombal foi a racionalização ou segunda metade dü século
XVIII. Constituindo a última
modernização do aparelho político administrativo, promovendo para 0 efeito reformas fase dü absolutismo
com vista a restabelecer a autoridade do Estado e a eficiência dos seus serviços. Estes monárquico, d despotismo
caracterizou-se pelo
objetivos enquadram-se nos princípios do despotismo iluminado ou esclarecido*. reforço da centralização
e burocratização dü Estado
Foi nesta perspetiva que foram criadas a Junta de Comércio (1755) (controlo do comér e pela racionalização da
cio e combate ao contrabando), 0 Real Erário (1761) (centralização e controlo das recei vida social, económica
e cultural.
tas e despesas) e a Intendência Geral da Polícia de Lisboa (1760).
Questão ü plano é um bom exemplo do novo ordenamento urbanístico da Europa das Luzes,
caracterizado pelo traçado geométrico e radiante das ruas, pela uniformização e simetria
L Esclareça na
reconstrução da Lisboa das fachadas e pela centralidade dos edifícios, um quadro adequado à consagração do
Pombalina a influência poder do déspota perante o qual todos os poderes se inclinam.
iluminista.
- A reforma do ensino
1.1. Explicite a relação entre a evolução do preço do trigo e a evolução da natalidade e da mortalidade.
No seio das três grandes ordens da nação, encontram-se várias categorias (...). Dessa forma, 0 clero
abrange duas categorias As posições e as dignidades da nobreza são bem conhecidas: príncipes de
sangue, duques e pares, nobreza que beneficia das honras da corte, nobres com títulos, enfim indivíduos
sem títulos, denominados “escudeiros*. Essas dignidades têm amiúde mais valor que a distinção entre
nobreza de espada e nobreza de toga. (...).
Na frente do terceiro estado, estão os oficiais reais (.■■)■ Encontram-se em seguida as "pessoas letradas*
que não são oficiais: formados em universidades, médicos, advogados; depois os "práticos e pessoas de
negócios": notários, procuradores, enfim os comerciantes e artesãos de ofícios qualificados como “artes".
Abaixo vêm as "pessoas vis* (expressão que significa pessoas do povo): trabalhadores, “pessoas mecâni
cas*, senhores com profissão ou sem ela, "homens de braços", e por fim os "mendigos válidos*, "vagabun
dos e indigentes*.
Mousnfer R. (1967), Etoí et société sou Frvnçois ler et pendem te gouvemement personnei de Louis XIV,
in Corvisier, A. (1976), 0 Mundo Moderno, Lisboa, Ática, p. 285 (adaptado).
É com toda a razão que se chama deuses aos reis, porque estes exercem na terra um poder que se asse
melha ao poder divino. Considerai os atributos de Deus e vós os reconhecereis na pessoa do rei. Deus tem
0 poder de criar ou de destruir, de fazer ou de desfazer, de dar a vida ou a morte, de julgar toda a gente
sem dar contas a ninguém. Os reis possuem um poder semelhante. A felicidade dos seus súbditos depende
do seu belo prazer; eles podem elevar ou baixar, dispor da vida ou da morte, julgar todos os súbditos sem
ter de dar contas senão a Deus.
Jaime I, 1609.
92 Módulo 4 - A Europa nos séorios XVII e XVm - sodedade, poder e dinâmicas coloniais
(...) Os Lordes espirituais e temporais e os Comuns, (...) constituindo em conjunto a plena e livre repre
sentação da nação, (...) declaram (...) para assegurar os seus antigos direitos e liberdades:
1. Que 0 pretenso poder da autoridade real de suspender as leis ou a execução das leis sem o consen
timento do Parlamento, é ilegal; (...)
2.1. Explicite três características da sociedade europeia do Antigo Regime presentes no documento 2.
A sua resposta deve abordar, pela ordem que entender, os seguintes tópicos de desenvolvimento:
A sua resposta deve integrar, para além dos seus conhecimentos, os dados disponíveis nos documentos
(documentos 2 a 4).
(...) resta sempre ao povo 0 poder supremo de afastar ou mudar os legisladores, se considerar que estes
atuam de maneira oposta à missão que lhes foi confiada. Com efeito, todo 0 poder delegado que tem uma
missão determinada e uma finalidade fica limitado por estas; se os detentores desse poder se afastam delas
abertamente ou não se mostram empenhados em consegui-las, será forçoso que se ponha fim a essa mis
são que se lhes confiou. Nesse caso o poder voltará por força a quem antes lho entregou; então este pode
confiá-lo de novo às pessoas que julgue capazes de assegurar a sua própria salvaguarda. Deste modo, a
comunidade conserva perpetuamente 0 poder supremo de subtrair-se às tentativas e maquinações de qual
quer pessoa, inclusivamente dos seus próprios legisladores, sempre que estes sejam tão néscios [incompe
tentes] ou tão malvados que se proponham levar a cabo maquinações contrárias às liberdades e à proprie
dade dos indivíduos.
3.1. Explicite as conceções de John Locke sobre o contrato social (documento 5).
11? Ano
O caminho da independência
Apesar de vitoriosa, os elevados custos financeiros da Guerra dos Sete Anos levaram
a Inglaterra a impor pesadas tributações sobre os seu colonos americanos. Entre outros
impostos, o Parlamento britânico aprovou a Lei do Selo (Stamp Art) (1765) que tornava
obrigatório o uso de papel selado.
* Soberania popular: Os protestos contra esta medida considerada injusta e ilegal não se fizeram esperar.
princípio segundo o qual
o püder supremo do Em dezembro desse ano, o lançamento ao mar pelos colonos no porto de Boston de um
Estado pertence à naçãü carregamento de chá da Companhia das índias Orientais (episódio conhecido por Boston
ou aü povo, entendidos
Tea Party) levou o governo inglês a decretar o encerramento deste porto e a exigir o
como o conjuntD de
cidadãos que exercem pagamento de uma indemnização. Entretanto, novas imposições fiscais agravaram o
o poder através düs seus
clima de revolta.
órgãüs representativos.
Em 1774, reuniu o i.D Congresso de Filadélfia, que proibiu o comércio com a Ingla
terra, passando esta a considerar rebeldes os colonos. No 2° Congresso de Filadélfia
(1775) foi decidido responder à guerra declarada pela metrópole e constituir um exército,
O Questões
cujo comando foi entregue a George Washington. Em 1776, os representantes das coló
1 ComD se explica nias reuniram-se no 3.0 Congresso de riladélfia para aprovar a Declaração da Independên
a rebelião dos colonos cia dos Estados Unidos: as treze colónias afirmavam-se estados livres e soberanos, invo
contra a metrópole
inglesa? cando os princípios iluministas dos direitos naturais do homem e da soberania popular*.
Em 1783, a assinatura do Tratado de Versalhes pôs fim ao conflito militar, reconhecendo
2. Esclareça ds aspetos
de movimento de a Inglaterra a independência das suas antigas colónias. Estava consumado 0 nascimento
independência
de um novo Estado, os EUA.
e de revolução liberal
presentes na Declaração
de Independência dos EUA. A estruturação do Estado
A criação de um Estado a partir da união das treze colónias não era uma tarefa fácil,
pois havia entre elas importantes diferenças, nomeadamente económicas e religiosas.
* Constituição: em sentido O trabalho dos denominados “Pais Fundadores” (Founding Fathers) do novo Estado,
moderno, é um texto
como George Washington, Benjamim Franklm, Thomas Jefferson, James Madison, entre
escrito que é a lei
fundamental de um Estado, outros, afigurava-se, pois, extremamente difícil. Em 17 de setembro de 1787, em Filadélfia,
isto é, de valor superior
e depois de grandes debates, foi possível obter um consenso e assinar um documento
a todas as demais leis.
que constituí a pedra angular do novo Estado e da nação que 0 tempo iria cimentar: a
Constituição* dos Estados Unidos da América.
ü facto de a revolução americana ter origem num ato de rebeldia contra os alegados
atos de tirania do governo britânico e a natureza democrática do regime favoreceram a
difusão na opinião pública internacional, sobretudo europeia, da imagem de uma revo
* Revolução liberal:
movimento de rutura com lução liberal*. O seu exemplo inspiraria outros movimentos revolucionários na América e
o Antigo Regime inspirado
na Europa, em particular a Revolução Francesa.
nos ideais iluministas de
transformação da vida
social, política e cultural. ri! A ESLravdturá sú será dtiuhdd peld I3.a emendd vuiadd nu furidl dd Guerra tte StLessdu [laSl-lfifeS].
Unidade 2 - A Revolução Francesa — paradigma das revoluções liberais e burguesas 95
SUMÁRIO
APRENDIZAGENS RELEVANTES
neses e consome pensões régias a uma coroa numa má situação financeira. Fracassadas 2 de novembro
Nacionalização dos bens
as sucessivas tentativas de reforma dos ministros de Luís XVI, Turgot (1774-1776), Necker dü clero.
(1776-1781), Calonne (1783-1787) e Brienne (1787-1788), restava ao soberano como única 1790
13 de fevereiro
saída a convocação de Estados Gerais. Supressão das ordens
religiosas.
A aristocracia e a burguesia estavam de acordo com essa convocação. Mas tinham
12 de julho
objetivos diferentes. Os nobres pretendiam servír-se dos Estados Gerais para travar as Constituição Civil do Clero.
reformas à custa da redução dos seus privilégios. Queriam ainda que os Estados fossem 1791
14 de junho
organizados como em 1614, data em que se haviam reunido pela última vez: as três Lei Le Chapelier: extinção
das corporações;
ordens reuniam e votavam separadamente, tendo cada ordem um número idêntico de
aprovação da Constituição
deputados e dispondo de um voto. de 1791.
Nestas condições, o terceiro estado (burgueses, artesãos e campo
neses, mais de 80% da população) estaria em minoria. Por isso, con
testou a convocação dos Estados Gerais nos moldes tradicionais da
monarquia absoluta. 0 folheto do abade Siéyès, Qtr esí-ce que le Tiers-
État? (1789), como os Cadernos de Queixas (Fig, 1), então elaborados,
Questão Na abertura dos Estados Gerais a 5 de maio de 1789, em Versalhes, o terceiro estado
consegue uma representação em número idêntico à do clero e nobreza juntos, mas não
1. Explicite a importância
das medidas legislativas consegue fazer aceitar por estas ordens a sua proposta de reunir numa sala comum e
adotadas pela Assembleia
votar por cabeça.
Constituinte (1789-1791]
para a desagregação da
Face ao impasse criado, os deputados do terceiro estado, alegando representar “98%
ordem social dü Antigü
Regime em França. da Nação’*, proclamam-se Assembleia Nacional (17 de junho), juram não se separar até
à redação de uma Constituição e deliberaram que, a partir de então, nenhum imposto
poderia ser lançado sem o seu consentimento.
Estava dado 0 primeiro passo para a rutura. O poder do rei era oficialmente abolido
num domínio essencial, as finanças. A 9 de julho, e após novos incidentes com 0 rei e
num clima de ameaça de insurreição popular, a Assembleia passa a denominar-se Assem
bleia Constituinte e começa a discutir um projeto de constituição. Entretanto, aprova
várias medidas legislativas revolucionárias:
- a Constituição Civil do Clero (12 de julho de 1790) que transforma 0 clero em fun
* Estado laico: estado cionários do Estado e os seus bens em bens nacionais (Estado laico*);
secular, não religioso, ou
seja, estado que considera - a Lei de Le Chapelier (14 de junho de 1791) que extingue as corporações e proíbe
a religião como uma os trabalhadores de formarem sindicatos, de fazerem reivindicações salariais e
escolha individual, portanto
um domínio perfeitamente greves;
distinto e independente do
- a Constituição de 1791 que estabelece a monarquia constitucional e que reconhece
poder político.
aos franceses os direitos e liberdades individuais.
Unidade 2 - A Revolução Francesa — paradigma das revoluções liberais e burguesas 97
A eleição dos deputados devia fazer-se em dois degraus, ainda segundo um critério * Sufrágio censitário:
sistema eleitoral que limita
de rendimentos: eleitores e deputados. A Constituição de 1791 estabeleceu, deste modo,
o direito de voto segundo
um regime de monarquia constitucional censitária* que satisfazia sobretudo a burguesia. critérios de riqueza.
rios. O povo acusou 0 rei de cumplicidade com os invasores, assaltou 0 palácio das 1792
Tulherias (20 de junho de 1792). Alguns dias depois a Assembleia Legislativa proclama a 5 de julho
0 exército da Prússia
“Pátria em perigo” (11 de julho) e decreta a mobilização obrigatória de todos os France invade a França.
ses. A 10 de agosto de 1792, na sequência de uma insurreição popular, Luís XVI é 11 de julho
Proclamação pela
deposto. A 22 de setembro desse ano (1792), é proclamada a República. Assembleia Legislativa
da "Pátria em perigo!".
0 governo é entregue a uma Convenção, uma assembleia eleita por sufrágio univer 9 de agosto
Criação de uma comuna
sal, encarregada de estabelecer uma nova constituição. Esta assembleia é dominada por
revolucionária em Paris.
duas forças políticas distintas: os Girondinos(z\ que defendiam os interesses da alta bur 10 de agosto
Insurreição popular:
guesia, adeptos de uma república liberal, e os Jacobinos131 ou Montanheses, representan
deposição do Rei.
tes da pequena e média burguesia, liderados por três patriotas e revolucionários: Marat, 20 de setembro
Vitória da França em Valmy.
Danton e Robespierre.
21 de setembro
Convenção.
O julgamento e condenação do rei Luís XVI (decapitado a 21 de janeiro de 1793) abre
22 de setembro
caminho ao período do “Terror” marcado pela adoção de medidas de exceção e pelo radi Proclamação da República.
calismo revolucionário: a Convenção assume-se como um governo ditatorial; 0 poder exe 1793
21 de janeiro
cutivo foi entregue a um Comité de Salvação Pública; foram criados comités de vigilância Execução de Luís XVI.
24 de julho
revolucionária e tribunais revolucionários para julgar os suspeitos de traição, “os inimigos
Constituição dü Ano I.
do povo”; foi organizado um exército popular para a luta contra as invasões estrangeiras... 27 de julho
Robespierre no Comité
de SalvaçãD Pública.
■1 0 censu de urn cidadão ativo equivalia au valur de trés dias de trabalhe, ou seja, 3 lihraS: □ de um eleitor, a 10 dias
7 de setembro
de trabalhe, eu seja. 10 libras. Da [lepuldçãe Francesa, Leria de 4 ãDÚ ÕLIU eram cidadãos ativas. 3 CJÜLI ODD cidadãos
Grande Terror.
passivos e SQ 000 eleitores. 1794
1/1 Girondinos: designação que decorre do Faclu de urna parte deles serern representantes do departamento da Girunda. Julho
Jacobinos: nome derivado do farta de reunirem riu antigo i onventu dos Uomirni anos, conhecidos em Paus por jaco Execução de Robespierre:
binos porque □ seu primeiro convento fundado no século XIII estava situado na rua de Saint-Jacques. fim do “Grande Terror".
Em julho de 1793, Robespierre (1758-1794), 0 incorruptível, controla 0 Comité de Sal
vação Pública e impõe-se à Convenção. Apoiado pelos sans-cutottes^, Robespierre impõe
um regime ditatorial com recurso sistemático à violência. Foi a segunda fase do Terror,
denominada de “Grande Terror” (setembro de 1793-27 de julho de 1794), período
durante 0 qual a guilhotina não deu tréguas aos “traidores” ou “inimigos do povo” e
até os heróis da Revolução, incluindo 0 próprio Robespierre, contam-se entre as suas
vítimas.
â Questão QUADRO-SÍNTESE
Principais momentos do período revolucionário em França
L Qual significado do
golpe de 18 de BrumáriD
1769 1791 1792 1793 1794 1795 1799 1804 1815
[1799] para a Revolução
Francesa? Monarquia Constitucional Republica
Ass. Nacional As 5.
Convenção Diretório Consulado
Constituinte Legislativa Império
República burguesa
República popular • Gülpe do 9 de Termidor • Golpe de 18
Revolução Burguesa
de Brumário
“TError' Estabilizaçao do processo revolucionário
* Decretas da noite de 4 de - Enmiti? de Salvação • Constituição dD Ano III » Código civil
açosto Pública [1804]
* Declaração dos Direitos do - Tribunal
■ Constituição do Ano VIII
Homem e do Cidadão revolucionário
* Constituição Civil do Clero * Política de • Império
* Lei de Lc Chapelier dcscristianizaçáo napoleónico
* Constituição de 1791 - Exército popular
'■ 5ons culíjttes: a letra, sem calções. Lorn efeito, vestiam calças e nau os calções até ao joelho característicos do
vestuário dus nobres e dos ricos. Usavam ainda urn collete ÍJí/ Lufmutjnule] e um barreie vermelho ornado Lorn uma
pena, inspirado no barrete frígio que os escravos africanos usavam na Rurna antiga.
0 Consulado, que substituiu o Diretório, itegrava três cônsules provisórios: Siéqès. Duros e Bonaparte.
Unidade 3 -A geografia dos movimentos revolucionários na primeira metade do século XIX
SUMARIO
APRENDIZAGENS RELEVANTES
CONCEITOS/MOÇÕES
Monarquia constitucional’*; Soberania nacional**; Sistema representativo*^ Estado laico; Sufrágio
censitário
Cronologia
** Aprendizagens e conceitos estruturantes
18141815
Congresso de Viena.
1B15
Constituição da Santa
- Vagas revolucionárias liberais e nacionais na Europa pós-napoleónica Aliança e da Quádrupla
Aliança.
Vencida a França e o projeto imperialista napoleonico pela resistência dos povos euro 1B17
peus, nos quais se incluiu Portugal, e pelos exércitos da coligação (Grã-Bretanha, Rússia, Revolta liberal e anti-
-portuguesa em
Áustria e Prússia) organizados na frente comum denominada de Quádrupla Aliança, o Pernambuco (Brasil).
objetivo destas potências era agora restaurar a ordem europeia arruinada por cerca de 1819
Independências da
vinte anos de guerra.
Venezuela e da Colômbia
(definitivas em 1830).
Foí com esse fim que se reuniram no Congresso de Viena (1814-1815) os vencedores
1B20
de Napoleão (Inglaterra, Rússia, Prússia, Áustria, França, Suécia, Espanha e Portugal). Revoluções liberais em
Portugal, Espanha
A orientação geral do Congresso foi a de restaurar na Europa 0 princípio da legitimidade
e Nápoles.
monárquica posto em causa pelas ideias liberais revolucionárias e, com base nele, defi 1821
Bolívar liberta 0 Peru.
nir uma ordem jurídica internacional fundada no equilíbrio de forças dos estados.
1822
Para fiscalizar a sua execução e assegurar a sua eficácia, 0 Congresso criou um dire Proclamação da
independência do Brasil.
tório formado pela Quádrupla Aliança, na qual se integraria a França, constituindo-se
1823
deste modo uma espécie de governo da Europa formado pelas cinco grandes potências Doutrina Monroe (EUA).
(Pentarquia). Para conjugar as suas políticas sobre as questões internacionais acordaram 1828
A “Revolução de Julho" em
reunir-se periodicamente em congressos. França: abdicação do rei
Carlüs X.
Com idêntico objetivo, por iniciativa do czar Alexandre I, foi assinado pela Rússia, Independência da Bélgica.
Prússia e Áustria um tratado que criou a denominada Santa Aliança. No congresso de 1B39-1840
Dissolução da
Troppau (1820), definiu-se 0 seu método de ação: não reconhecimento dos governos Confederação Centro-
nascidos de movimentos revolucionários (princípio da legitimidade) e intervenção militar -Americana: novos estados:
El Salvador, Honduras,
nos estados em que a autoridade legítima fosse ameaçada (princípio da solidariedade). Nicarágua, Costa Rica
e Guatemala.
O sistema funcionou durante pouco mais de uma década. No entanto, rapidamente foi
1B48
posto em causa pelo ressurgimento das rivalidades entre as potências e pelas rebeliões Movimentos
liberais. revolucionários em Paris,
MilãD. Veneza. Viena
Uma primeira vaga revolucionária ocorreu entre 1820 e 1824, em Espanha, Nápoles, e Praga.
II República em França
Portugal, Grécia e na América (revoltas das colónias espanholas e do Brasil). (1848-1851)
De modo geral, estes movimentos revolucionários resultaram de conspirações ou
movimentos desencadeados por organizações secretas que, na sua maioria, acabaram
por ser controlados pelos poderes governamentais. Uma segunda, entre 1829 e 1839, em
França, onde a burguesia liberal, com o apoio popular, impôs a abdicação do rei absolu
tista Carlos IX e a sua substituição por Luís Filipe I, duque de Orleães, 0 “rei-cidadão"
(1830), na Bélgica, Alemanha, Itália, Polónia, Grécia e no Império Austríaco.
Finalmente, no ano de 1848, "o ano das revoluções”, ocorreram pratícamente por toda
a Europa (rig.i) levantamentos populares, barricadas e insurreições tendo como bandei
ras a liberdade e 0 nacionalismo. Na origem desta nova vaga de revoluções estão a
pequena burguesia e as classes operárias em luta contra 0 sistema capitalista por uma
maior justiça social e pela democratização dos regimes liberais, à mistura com aspirações
nacionalistas. Paris, Viena, Berlim, Praga, Buda, Peste, Turim, Milão assistem a fortes
movimentos insurrecionais.
SUMÁRIO
APRENDIZAGENS RELEVANTES
A morte de D. João VI (1826) veio criar um problema de difícil resolução. 0 filho pri
mogénito, D. Pedro, era 0 imperador do Brasil. Aclamado em Portugal como D. Pedro IV,
abdicou a favor da sua filha Maria da Glória sob duas condições: 0 casamento desta com
seu tio D. Miguel e 0 juramento do novo texto constitucional, a Carta Constitucional* * Carta Constitucional:
modelo de constituição
(1826), elaborada e outorgada por si.
formal [escrita), que
De regresso a Lisboa (1828), D* Miguel jura a Carta e assume a regência, mas rapida é concedida pela Coroa
sem a participação dos
mente esquece os compromissos e restaura a monarquia absoluta. Lm 1832, D. Pedro deixa cidadãos e em que a figura
0 Brasil, assume a regência em nome de D. Maria II, e lidera 0 desembarque na metrópole dü Monarca assume um
papel mais importante.
do exército liberal reunido nos Açores. A guerra civil (1832-1834) que se lhe seguiu dará a
vitória aos liberais. D. Miguel é obrigado a assinar a Convenção de Évora Monte (1834) e
parte para 0 exílio. Estava consumado 0 triunfo definitivo do liberalismo em Portugal.
Outro problema que preocupava as Cortes era a evolução da situação no Brasil, cujo
posicionamento face à metrópole, substancialmente modificado com os privilégios con
cedidos pelo Rei, era contrário aos interesses da burguesia portuguesa. Por isso, as Cor
tes cedo adotaram uma política tendente a anular os privilégios adquiridos e a devolver
ao Brasil a condição de colónia, senão de direito ao menos de facto. Ordenaram ainda
ao príncipe D. Pedro (Fig. 1) que viesse para a Europa.
Todavia, nem 0 Brasil queria perder 0 seu estatuto nem D. Pedro a oportunidade de Fig. 1. D. Pedro IV, Rei de
ser reí de um país como 0 Brasil. Em maio de 1822, D. Pedro foi designado "Defensor Portugal.
perpétuo do Brasil" e, face à reação das Cortes que pretendiam anular as decisões tor
radas por D. Pedro, este resolveu-se a proclamar a independência do Brasil. Foi 0 cha
mado “Grito do Ipiranga”, em 7 de setembro de 1822. Llm mês mais tarde, e seguindo
0 exemplo do México, era proclamado imperador. Em 1825, Portugal reconheceu formal
mente a independência desta sua antiga colónia.
Este modelo de governação liberal estabelecido acabaria por não ter uma realização
O Questão
efetiva, porque os movimentos contrarrevolucionários de Vüafrancada (1823) e Abrilada
1. Compare os textos
(1824) levaram 0 rei a "colocar a Constituição na gaveta*,
constitucionais da
Constituição de 1822 À morte de D. João VI, em 1826, o País continuava a viver uma situação de indefini
e da Carta Constitucional
de 1826 ção política e iniciava-se uma sucessão algo conflituosa. A clarificação desta situação che
garia com a outorga da Carta Constitucional de 1826 por D, Pedro.
1832-1834 possíveis. Definiu uma divisão quadripartida dos poderes - legislativo, moderador,
Legislação liberal de executivo e judicial. 0 primeiro pertencia às Cortes, compostas de duas Câmaras (bica-
Mouzinho da Silveira.
Guerra civil: liberais contra maralismo) - a Câmara dos Deputados, eleita por quatro anos através de sufrágio
absolutistas.
restrito, indireto e censitário, e a Câmara dos Pares, composta por membros nomeados
1834
Convenção de Évora Monte: sem número fixo pelo rei, vitalícia e hereditariamente. 0 poder moderador competia ao
fim da guerra civil e vitória
rei, que detinha ainda o poder executivo conjuntamente com 0 governo.
do liberalismo.
1836 Os poderes do Rei foram bastante alargados: nomeava os Pares, convocava as Cortes
Revolução “Setembrista'".
e podia dissolver a Câmara dos Deputados, nomear e demitir 0 governo, suspender os
1842
Golpe de estado de Costa magistrados e vetar as leis decretadas pelas Cortes. Por outro lado, a Carta era aceitável
Cabral: reposição da Carta
(Cartismo’]. pelas ordens tradicionais privilegiadas (clero e nobreza) e agradava à alta burguesia.
1846-1847
Revoltas populares da
Maria da Fonte e da
Patuleia.
4.3. 0 novo ordenamento político e socioeconómico [1834-1851]:
1B51 Importância da legislação de Mouzinho da Silveira e dos projetos
Movimento da
Regeneração. setembrista e cabralista
Deve-se a Mouzinho da Silveira (1790-1848) um conjunto de reformas que moderniza
ram os velhos e ineficazes sistemas administrativo e judicial do País:
- abolição dos morgados e capelas com rendimento líquido inferior a duzentos mil
réis anuais;
Esta linha reformadora liberal prosseguiu no governo setembrista* de Passos Manuel, * Setembrismo: fase do
liberalismo português
apoiado na burguesia industrial, no proletariado urbano e na classe média dos comerciantes: entre 1836 [Revolução de
promoveu a reforma no ensino (criação dos liceus nacionais, escolas politécnicas e Setembro) e 1842 [golpe
militar liderado por Costa
médico-cirúrgicas em Lisboa e no Porto e do Conservatório Real de Lisboa); procurou Cabral e pelo Duque da
fomentar a Indústria através de uma política protecionista (Pauta Aduaneira de 1837); Terceira), caracterizada
pela restauração düs
apoiou a política de fomento ultramarino impulsionada pelo Marquês de Sá da Bandeira. princípios democráticos do
vintismo.
Em 1842, um novo golpe de estado colocou no poder Costa Cabral e restaurou a
Carta. 0 "Cabralismo*" prosseguiu a via das reformas no ensino, em especial no ensino
primário (obrigatório dos 7 aos 15 anos), na administração e nos transportes e comuni * Cabralismo: fase dü
liberalismo português
cações.
entre 1842 e 1851 (golpe
político-militar chefiado
Em 1851, um novo golpe de estado, a que se chamou "Regeneração", pôs fim ao
pelo Marechal-Duque de
regime ditatorial cabralista e à instabilidade decorrente das revoltas populares da Maria Saldanha: movimento da
Regeneração)
da Fonte (1846) e da Patuleia (1847).
protagonizada pelo
ministro Costa Cabral que
restabeleceu a Carta
Constitucional de 1826
QUADRO-SÍNTESE
e governou d País de forma
A implantação do Liberalismo em Portugal (1820-1851) autoritária e ditatorial.
Cronologia Unidade 5 0 legado do liberalismo na primeira metade do século XIX
1776
Adam S mi th: Investigações SUMÁRIO
Sobre a Natureza e as
Causas da Riqueza das 5.1. 0 Estado como garante da ordem liberal*
Nações. 5.E. 0 Romantismo. expressão de ideologia liberal
1BQ3
Jean-Baptiste Say: Tratado
de Economia Política. APRENDIZAGEN5 RELEVANTES
1817 - Identificar as alterações da mentalidade e dos comportamentos que acompanharam as
Davi d Ricardo: Princípios
revoluções liberais.
de Econamio Política
e Tributação. - Valorizar a consciencialização da universalidade dos direitos humanos, a exigência de par
1830 ticipação cívica dos cidadãos e da legitimidade dos anseios do liberdade dos povos**.
Vaga de revoluções
nacionais na Europa,
C0NCEIT05/N0ÇÒE5
naa
Constituição do Zallverein Liberallismo económico**; Romantismo
na Alemanha.
* Conteúdos de aprofundamento
1838
Fundaçãü da Anti-Corn Law ** Aprendizagens e conceitos estruturantes
ram-se, entre outros, na denúncia da natureza perversa da escravização, uma luta preju
dicada pelos poderosos interesses económicos e preconceitos culturais que lhe estavam * Época Contemporânea:
expressão que designa
associados. 0 período da história mais
recente iniciado pelas
Foí na Época Contemporânea* que 0 debate se intensificou ligado à filosofia das revoluções liberais e pela
Luzes, partindo do pressuposto fundamental de que todos os homens são naturalmente revolução industrial até
à atualidade.
livres e iguais. Livres, porque no seu “estado de natureza", isto é, antes da existência
de qualquer autoridade política, ninguém exercia autoridade sobre outrem; e iguais, por
que a liberdade era pertença de todos. Para além de naturais, os iluministas considera Cronologia
vam que estas qualidades ou direitos eram universais, isto é, válidos para todos os 1761
homens enquanto seres dotados de razão. Abolição dü tráfico de
escravos na metrópole
Esta conceção foi determinante para os progressos da luta pela abolição do tráfico de (Portugal).
1836
escravos e da escravatura nos séculos XVIII e XIX, em países como a França (II República, Proibição do comércio de
1848), os EUA (13“ Emenda à Constituição, 1865) e em Portugal (decreto de Sá da Ban escravos nas colónias
portuguesas a sul do
deira, 1869). equador.
1B61-1B65
Guerra de SecessãD (EUA).
1669
Abolição da escravatura em
todos os domínios
portugueses, mantendo-se,
nD entanto, ds escravos
com alguma ligação
“aos senhores" até 1878.
Cronologia 52. 0 Romantismo, expressão da ideologia liberal
1797-18DM
Primeiro romantismo - Revalorização das raízes históricas das nacionalidades e exaltação da liberdade
alemão.
A. W. e F. Schlegel fundam Na sua essência, o Romantismo* foi um movimento de revolta contra a ilustração do
a revista Athenaeum (17981. lluminismo, contra □ primado da Razão proclamado pelos filósofos do século XVIII.
I79G
IníciD do romantismo Ao valorizar a liberdade, o indivíduo e a rebeldia, os românticos abraçaram e inspira
inglês - WDrdswoth:
Lyrical Ballods. ram a causa da emancipação dos povos face aos impérios. A guerra de libertação dos
Coleridge - A Recantatian
gregos face ao domínio turco (1821-1829) inspirou poetas e pintores e uniu a intelectua
(Ode à Françal.
1002 lidade europeia. Delacroix, por exemplo, associou-se ao sofrimento dos oprimidos habi
França: Chateaubriand tantes de Quios em luta contra o domínio turco, consagrando-lhes uma das suas obras
- O Génio do Cristianismo.
mais importantes, 0 Massacre de Quios.
* Romantismo: movimento Elaborado contra a tradição representada pelo academismo e neoclassicismo, 0 Roman
cultural de origem anglo-
tismo faz triunfar, desde 0 fim do século XVIII, mas principalmente no início do século XIX,
-saxónica e germânica
iniciado nos finais do a espontaneidade e a revolta. As transformações verificadas no mundo, sobretudo a Revo
século XVIII que rejeita
todas as regras
lução Francesa, trouxeram para 0 primeiro plano o indivíduo com as suas inquietações,
estabelecidas pelos pesadelos e sonhos, obsessões, indignações e esperanças. A solidão, a noite e a morte
clássicos e reivindica uma
total liberdade: exalta convivem com a agitação da vida, segundo 0 artista, 0 seu temperamento e a sua cultura.
0 indivíduo, 0 sentimento
e os costumes e as No domínio da Literatura, 0 Romantismo caracteriza-se pela sua oposição ao classi
tradições particulares das
cismo antigo, quer no domínio temático quer formal: às amenidades do bucolismo clás
épocas, de cada
comunidade, de cada sico opõe 0 belo horrível, disforme, misterioso, tenebroso ou fantástico; à luminosidade
Nação.
diurna, 0 enevoado, o noturno 0 irreal; à ordem e medida 0 desordenado e 0 desmesu
rado; à razão 0 sentimento; às regras da composição a liberdade estilística. 0 romântico
exalta o culto do eu (egocentrismo), cultíva a cor local, 0 pitoresco e 0 exótico (não
apenas 0 medievo mas também os elementos africanos, orientais, os ambientes dos
miseráveis, as lendas e mitologias populares...).
Nas artes plásticas e arquitetura, nostálgicos da Natureza selvagem levam a cabo uma
renovação da pintura, nomeadamente através da aguarela, onde impera 0 imaginário e tons
de dramiatismo. Inspirados na literatura do passado, exploram com mestria 0 movimento e
as cores violentamente contrastantes, e os efeitos de claro-escuro emprestam às suas obras
um vigor e dinamismo impressionantes, novos coloridos e novos ritmos, uma mistura do
real com 0 imaginário. Na arquitetura, 0 renovado interesse pelas tradições nacionais,
designadamente medievais, e por realidades exóticas inspiraram os revivatismos históricos,
sínteses de tendências que emprestam aos edifícios ecletismo e virtuosismo técnico.
Sicycs, E., Qu'est-ce que le Tiers-État?, in Gothier, L. c Troux, A. (1962), Recueils de Textes dHistoíre.
Art.“ 2 - Para ser cidadão ativo é preciso; ter nascido ou ter-se tornado francês; ter completado os 25
anos; estar domiciliado na cidade ou no cantão no tempo determinado pela lei; pagar, (...), uma contribui
ção direta pelo menos igual ao valor de três dias de trabalho (...); não ser criado de servir; (...).
Art.“ 7.0 - Ninguém poderá ser nomeado eleitor, se não reunir as condições necessárias („J: nas cidades
com mais de 6000 almas, ser proprietário ou usufrutuário de bens avaliados pelo rol das contribuições num
rendimento igual ao valor de 200 dias de trabalho, ou ser locatário de uma habitação avaliada (...) com 0
valor de 100 dias de trabalho (...).
1.1. Explicite as reinvindicações do terceiro estado nas vésperas da Revolução Francesa (documento 1).
1.2. Integre os documentos 1 e 2 na análise do caráter burguês da Revolução Francesa no período consi
derado (1789-1791).
1808 - Abertura dos portos 1821 - Exigência dc regresso da 1789 - Inconfidência Mineira.
brasileiros às “nações família real. 1817 - Revolução dc Pernambuco.
amigas”. - Formação dc Juntas 1821 - Motins no Pará, Baía c Rio
1809 - Fundação da Biblioteca Real Provisórias dc Governo de Janeiro.
do Rio de Janeiro. dependentes da metrópole. 1822 - Proclamação da
1815 - Elevação do Brasil à - Subordinação jurídica c independência do Brasil.
categoria de reino. militar do Brasil. 1825 - Reconhecimento da
1822 - Ordem dc regresso de independência por Portugal.
D. Pedro.
Documento 4 I Constituição de 1822
Art.D 26 - A soberania reside essencialmente na Nação. Não pode porém ser exercitada senão pelos seus
representantes legalmente eleitos.
Art.D 30 - [Os poderes políticos] são legislativo, executivo e judicial. O primeiro reside nas Cortes com
dependência da sanção do Rei (...). 0 segundo está no Rei e nos Secretários de Estado, que 0 exerciam
debaixo da autoridade do mesmo Rei. O terceiro está nos Juízes. Cada um destes poderes é de tal maneira
independente, que um não poderá arrogar a si as atribuições do outro.
Art.D n.°- Os poderes políticos reconhecidos pela Constituição do Reino De Portugal são quatro: 0 poder
legislativo, 0 poder moderador, o poder executivo e o poder judicial. (...).
Art.D 14." - As Cortes compõem-se de duas Câmaras: Câmara de Pares e Câmara de Deputados. (...).
Art.D 39.“ - A Câmara dos Pares é composta de membros vitalícios e hereditários, nomeados pelo Rei e
sem número fixo. (...).
Art.D 59“ - 0 Rei dará, ou negará, a sanção a cada decreto dentro (...) que lhe for apresentado. (...).
Art.D 65.“ - São excluídos de votar (...): # 5.0 - os que não tiverem renda líquida anual cem mil réis (...).
2.1. Relacione as decisões aprovadas nas Cortes Constituintes (documento 3) com a independência do
Brasil.
2.2. Analise as dificuldades da implantação do liberalismo em Portugal na primeira metade do século XIX.
Na sua resposta deve ter em conta os seguintes tópicos de desenvolvimento:
- o contexto histórico da Revolução Liberal de 1820;
- a reação absolutista;
- as divergências entre os liberais.
Para além dos seus conhecimentos, deve integrar na sua resposta os dados dos documentos 3 a 6.
Unidade 1 - As transformações económ r-: k na Europa e no Mundo 111
11? Ano
Contextualizaçâo
Cronologia
A revolução industrial que teve origem na Inglaterra no século XVIII estende-se gradualmente
a novos países ao longo do século XIX, ao mesmo tempo que evolui em termos qualitativos, 1851
ü desenvolvimento da industrialização induziu profundas alterações na organização das Primeira Exposição
Mundial, no Palácio de
sociedades c nas relações sociais: a burguesia industrial e financeira reforçou o seu poder
Cristal, em Londres.
económico^ em grande parte à custa da exploração do proletariado industrial; as classes Máquina de costura de
médias adquiriram peso social e político. Singer.
A extrema precaridade das condições devida c de trabalho do proletariado suscitou o apa 1854
Sainte-Claire Deville isola
recimento das propostas socialistas de transformação revolucionária da sociedade
o alumínio.
ü llibcralismo revolucionário oitocentista despertou os nacionalismos1 e gerou o movimento
1856
das nacionalidades caracterizado por uma dupla face: a valorização do Estado-Nação e o Patente do forno elétrico
desenvolvimento de tendências imperialistas. de Siemens.
Em Portugal depois de uma fase de permanente instabilidade e conflitualidade ideológica Patente do conversor do
inglês Bessemer para
cm nada favorável ao arranque industrial, a Regeneração (1851] representou o início de uma o fabrico do açD.
fase de maturidade e de maior realismo bem mais propícia ao desenvolvimento econômico 1858
do país. No entanto, as dificuldades políticas e econômicas dos finais do século precipitaram Exploração do petróleo na
a queda da monarquia e o triunfo do republicanismo. Pensilvânia [EUA).
186 &
As transformações da civilização industrial alteraram também as condições da produção cul
Descoberta da dinamite
tural e estão na origem do movimento de renovação no pensamento e nas artes de finais do pelo norueguês Nobel.
século XIX/princípios do século XX. 1869
Descoberta dü dínamo
elétrico pelo belga
Unidade 1 As transformações económicas na Europa e no Mundo Gramme.
1876
Invenção do telefone pelo
SUMÁRIO
americano Bell.
1.1 A expansão da revolução industrial
1879
1.2. A geografia da industrialização Invenção da lâmpada
1.3. A agudização das diferenças* elétrica de filamentos pelü
americano Edison.
APRENDIZAGENS RELEVANTES 1887
- Relacionar a dinâmica do crescimento industrial com o caráter cumulativo dos progressos Registo da patente
técnicos e a exigência de novas formas de organização do trabalho. dü motor de explosãü
dü alemão Daimler.
- Relacionar os desfasamentos cronológicos e ritmos da industrialização com as relações
1B88
de domínio ou de dependência estabelecidas a nível mundial**. Patente do pneumático
- Reconhecer as características das crises do capitalismo liberal. dü escocês Dunlüp.
1895
CONCEITOS/NOÇÚES Descoberta dü raio-X pelo
Progressos cumulativos; Capitalismo industriar*; Estandardização; Livre-cambismo; Lrise cíclica alemão Rõntgen.
Marconi realiza a primeira
* Conteúdos de aprofundamento ligação telegráfica sem
” Aprendizagens e conceitos estruturantes fios.
112 Módulo 6 - Economia e
1 ■ Znllverein [IE34-IÊI/D]: urnãu aduaneira erilre d rriaiuria dus esladus dlernaes Lnada pur iniciativa da Prússia e da
seu chanceler Bisrnark.
Unidade 1 - As transformações económ r-: k na Europa e no Mundo 115
0 Japão foi □ único país asiático que iniciou 0 processo de industrialização no século
XIX, fazendo-o através de um modelo de a utode sen volvi mento industrial, imposto ude
cima para baixo1*. O grande obreiro da transformação do Japão, um país agrícola e atra
sado, pobre em recursos naturais e territorialmente exíguo, numa potência económica
moderna e competitiva foi 0 imperador Mutsu-Hito (1852-1912) que iniciou a chamada Era
Meiji ou Restauração MeijC (1868-1912). A partir de 1854-1858, iniciou a abertura
Fig. 2. Um navio da frota
(controlada) do país ao exterior (Hg. 2) e introduziu reformas políticas, adotando um sis americana no porto de
tema constitucional e 0 princípio da igualdade de todos perante a lei- TóquiD. em julho de 1853.
Ao longo do século XIX assiste-se nos países onde 0 processo de industrialização está
em marcha a um fenómeno que constitui uma das principais características da evolução
do sistema capitalista: 0 triunfo da fábrica, uma nova forma de organização do trabalho
e da atividade industrial, sobre 0 sistema tradicional da produção arte sanai.
- Dispersão das oficinas • Concentração da métodos de fabrico tradicionais e de fraca produtividade veem dimi
e fraca divisãD do prüduçãD e de mão de nuir seriamente as suas capacidades competitivas e muitas não sobre
trabalho obra (cada vez mais]
especializada. vivem.
- Fontes de energia • Adoção de técnicas de
0 desenvolvimento da industrialização e do capitalismo não podia
pouco eficazes (força produção mecanizada.
muscular e hidráulica] deixar de se fazer sentir nos campos, ü processo de transformação das
e manipulação de
estruturas agrárias - designado por "revolução agrícola11 - induziu
instrumentos.
aumentos de produtividade e de rendimentos das culturas e da cria
- Investimentos • Investimentos
reduzidos avultados. ção de gado. Mas, o rítmo e a profundidade dessas transformações
- Consequências: • Consequências: não foram iguais nem gerais na Europa, variando segundo os países e
produção limitada, produção cada vez
as regiões: no noroeste europeu, o mundo rural modernizou-se e pros
fracos lucros, poucos maior, tornando
benefícios sociais. possível a realização perou; na Europa continental e medíterrânica, continuou limitado por
de grandes lucros e 0
estruturas arcaicas, feudalizantes.
alargamento düs
benefícios sociais.
0 desenvolvimento da industrialização revolucionou também 0
comércio: 0 caminho de ferro aproximou os mercados, intensificou as trocas e permitiu
a venda por correspondência. Mas as formas tradicionais do comércio, nomeadamente
os vendedores ambulantes e as feiras, continuaram a ter um papel importante no abas
tecimento das populações.
Unidade 1 - As transformações económ r-: k na Europa e no Mundo 117
- o mecanismo dos preços que adapta a oferta à procura, evitando tanto a escassez -
a subida do preço de um bem raro atrai os investidores mobilizados pelo objetivo do
lucro pelo que a oferta desse bem aumenta - como também o excesso - a baixa do
preço de um bem abundante desincentiva a sua produção e a diminuição da sua oferta.
Estes princípios fundamentais do liberalismo económico, que se traduziram no laíssez * Livre cambismo: princípio
faire, taissez passef, foram também aplicados nas relações económicas internacionais. dü liberalismo económico
segundo 0 qual d comérciD
Para obter um maior grau de vantagens cada um dos países devería especializar-se na livre entre as nações, isto
produção dos bens em que tem vantagem, em cuja produção é mais eficiente, isto é, que é, liberto da interferência
dü Estadü e de barreiras
produz melhor ou mais barato (princípio da vantagem absoluta). É o ponto de partida de qualquer espécie,
para a defesa do livre cambismo*. As trocas comerciais - e a circulação dos meios de é a melhor política
comercial, aquela que
pagamento e os investimentos de capitais - devem ser livres, libertos de constrangimen
maior bem-estar
tos ou obstáculos, e realizar-se exclusivamente por iniciativa e ação de agentes privados. proporciona às sociedades.
- As crises do capitalismo
A história do capitalismo mostra-nos que o formidável crescimento económico que ele o_ Questão
suscitou não se processa de uma forma linear mas numa sucessão de ciclos económicos 1. Identifique os mecanismos
de duração variável(7\ constituídos por um período de expansão ou prosperidade que autorreguladüres num
mercado livre e explicite
brado por uma crise, responsável pelo período de recessão ou depressão que se lhe
0 seu funcionamento.
segue, rinalmente, dá-se a recuperação que lança a economia numa nova fase de expan
são e dá início a um novo ciclo económico(8).
as explicam. Assim, até meados do século XIX, as crises são de subprodução, provoca
Ciclos e fases ou
das quer pelo fator estrutural da incapacidade do homem em responder com 0 aumento conjunturas da economia
europeia [1790-1920]:
da produção ao ritmo mais rápido de crescimento da população, quer devido á conjuga
1790-1815 - Fase A
ção de fatores conjunturais, como a “sinistra trilogia” da fome, peste e guerra. Para além
1B16-1B47 - Fase B
de serem de subprodução, estas crises têm origem no setor agrícola, nas más colheitas 1B48-1B72 - Fase A
que geram num primeiro momento a escassez de cereais e a alta do seu preço e, num 1783-1795 - Fase B
segundo, a fome, as doenças, a peste e a falta de braços que prolonga e acentua a crise. 1B96-192D - Fase A
■' Nd evoluçau du capitalismo distin^uem-se ciclos curtus uu de Kitchin [de idS anos], ciclos médios uu de Juglar
[de 6 a 10 anus] e ciclos lanços uu de Kondratieff Ide 413 a Stl anos]. As tendências Sítculares de alta uu de baixa
denominam-se de trenc/s.
■B| 0 indicador utilizado pelos economistas para determinar as íases deurn ciclo económico é u movimEnto das preços.
Püir isso, também se denomina o período de Expansão pur Fase A uu de alta dE preços e 0 de recessão por Fase S nu
de baixa de preços.
Na segunda metade do século XIX, numa altura em que a industrialização caminhava
para a maturidade e se estendia a novos países, a economia europeia confrontou-se com
* Crise adiça: o mesmo que um fenómeno novo: o retorno periódico das crises, as crises cíclicas*. 0 fator decisivo
crise periódica, isto é. crise
aqui não é como no passado a escassez, mas a abundância, a superprodução: a produ
que ocorre com
regularidade. ção industrial em alta não encontra no consumo um nível correspondente.
A mundialização (parcial) das trocas (Fig. 3), favorecida pela expansão da industriali
zação, pela revolução dos transportes e das comunicações, pelo incremento do comércio
* Divisão internacional do internacional, promoveu a divisão Internacional do trabalho*, criando deste modo uma
trabalho: princípio que
relação de interdependência ou complementaridade internacional entre as economias dos
defende que cada país
deve especializar-se na países industrializados e as economias dos países e/ou regiões não industrializados ou
produção daquele [s] bem periféricos. Aqueles passaram a depender das importações ultramarinas de matérias-pri
(du bens) que produz
melhor ou mais barato, mas e bens alimentares; estes dos produtos manufaturados.
exportando os seus
excedentes em troca Mas desta relação fundada num sistema de trocas de valor desigual (os bens indus
de prüdutDS importados. triais tinham um valor relativo muito superior ao valor dos bens primários) aproveitou
sobretudo a Europa. Para os países/regiões não industrializados resultaram consequên
cias, algumas positivas (imigraçao de pessoas e capitais...), outras negativas (dependên
cia económica, política e até cultural), cujos efeitos ainda perduram.
1. Descreva o padrão
dominante das trocas
comerciais entre as
potências industrializadas
e entre as reçiões/países
periféricos.
COLÓNIAS ÁFRICA
DO NORTE
SUMÁRIO
2.1. A explosão populacional; a expansão urbana e o novo urbanismo; mi gr aço es internas e emi
gração
2.2. Unidade e diversidade da sociedade oitocentista"
APRENDIZAGENS RELEVANTES
- Relacionar o papel da burguesia, como nova classe dirigente, com a expansão da indús
tria, do comércio e da banca”.
- Reconhecer, nas formas que o movimento operário assumiu, a resposta à questão social
do capitalismo industrial"*.
CONCEITOS/NOÇÕES
Explosão demográfica”; Profissões liberais; Consciência de classe; Sociedade de classes"'; Proleta
riado; Movimento operário""; Socialismo”; Marxismo”; Internacional operária
* Conteúdos de aprofundamento
” Aprendizaçens e conceitos estruturantes
- o afluxo dos camponeses impelidos ao êxodo rural pelo superpovoamento dos cam
pos, pelas expropriações e pela fuga à ruína e pelas oportunidades de emprego e
a miragem de uma vida melhor na cidade;
120 Módulo 6 - Economia e sociedade; nacionalismos e dtoq ues imperialistas
L Que problemas Para solucionar ou atenuar estes problemas, a intervenção dos poderes públicos tor
urbanísticos colocou no u-se inevitável. Na segunda metade do século XIX, o urbanismo e as suas propostas
o fenómeno do crescimento
das cidades do século XIX? de remodelação das áreas urbanas vão transformando, a um ritmo dependente da con
juntura económica, a fisionomia das grandes cidades(1\
Relativamente aos primeiros, para além das migrações sazonais, o movimento migra
tório mais significativo foi o êxodo rural, estimulado por fatores de repulsa (superpovoa-
mento, pobreza) e de atração (apelo irresistível da vida urbana).
física considerável acrescentava-se uma distância cultural de muito maior peso e ainda a
falta de abertura das autoridades e das hierarquias sociais aos contactos exteriores.
Q plano de remodelaç3u urbanística de Paris, executado pelo barãc Hajssmann entre lfíSÜ-70, constituiu □ modelo
deste nuvD urbanismo assente erri princípios estéticos e de rar ionalidade.
Unidade 2 - A afirmação da sociedade industrial e urbana 121
do Antigo Regime.
fundamentalmente urbana, heterogénea e sem uma verdadeira consciência de classe*, * Consciência de classe:
identificação
isto é, sem coesão nem identidade própria. Estas categorias sociais e profissionais só
e solidarização de
tem em comum 0 facto de viverem, total ou parcialmente, de rendimentos obtidos em interesses comuns por
parte de uma dada
fontes diversas mas não no trabalho dos seus braços.
categoria ou estrato social.
- Valores e comportamentos
Todavia, à medida que vai adquirindo consciência da dimensão do seu sucesso e dos
meios necessários para 0 manter, a alta burguesia faz questão de proclamar a superiori
dade de determinados valores que considera seus e que lhe abriram as portas do êxito:
122 Módulo 6 - Economia e sociedade; nacionalismos e choq ues imperialistas
- horários muito longos (quinze ou dezasseis horas por dia e seis dias por
semana e sob uma dura disciplina);
Fiç. 1. Os grandes problemas - trabalho infantil e feminino (salários de 1/3 dos que são pagos aos
do operariado nü século XIX.
homens).
[í| A imagem do self-rnudemun, □ homem de sucesso que se foz pur si prupriu. cuniaridu exclusivamente curri ci seu
esforço e talento, sem favores ou ajudas externas, serviu a burguesia sutiretudu para justificar as desigualdades
Sociais: a riqueza e u puder dependeriam du laleritu individual pelu que estariam au alcance de todos.
- 0 movimento operário: associativismo e sindicalismo Cronologia
O crescimento das classes operárias e a extrema miséria social e moral em que viviam, 1834
agravada para além dos limites possíveis nas fases de depressão económica e pelo cres Fundação da UniãD
Nacional de Sindicatos
cimento demográfico, levou os operários a tomar gradualmente consciência da sua con- [Inglaterra].
1841
Fundação dü Sindicato dos
que considerava serem os seus interesses, dando forma ao que a historiografia designa Mineiros, em Inglaterra.
por movimento operário*. 1B48
Manifesto do Partido
As primeiras reações operárias até meados do século XIX ínscrevem-se aínda no Comunista, por K. Marx e
F. Engels.
modelo de tumulto popular tradicional, revoltas localizadas, sem ideologia definida, sem
1864
organização formal, cujas formas mais generalizadas são a greve ou recusa ao trabalho Fundação da Associação
e a destruição da maquinaria industrial, tida como responsável pela desvalorização do Internacional dos
Trabalhadores
seu trabalho e consequente quebra dos seus salários e o desemprego. Em Inglaterra, (“I Internacional"].
onde estas reações são mais violentas e generalizadas, fez-se notar, na segunda década 1871
Proclamação da Comuna
do século XIX, o movimento dos ludds ou luddites^.
de Paris.
Legalização das frade
O fracasso destas reações espontâneas, anárquicas, vai convencer os operários da
Unions, em Inglaterra.
necessidade de concentrar esforços na organização de um movimento operário forte e 1B89
estruturado. As primeiras organizações operárias são ainda inspiradas nos princípios e Fundação em Paris da
II Internacional.
objetivos mutualistas das velhas corporações de ofícios do Antigo Regime. 1895
Fundação da Confederação
0 movimento operário de caráter sindical ou de classe surge na Grã-Bretanha. Tendo Geral dos Trabalhadores
sido o primeiro país a industrializar-se, é também o primeiro a reconhecer a liberdade de [CGT], em França.
Cronologia Em Inglaterra, Robert Owen (1771-1858) procurou fazer das suas empresas modelos
de harmonia e de justiça nas relações laborais: reduziu os horários de trabalho e promo
1872
Fundação da Associação veu a educação e instrução dos trabalhadores; propôs a formação de cooperativas de
Fraternidade Operária produção e de consumo.
Portuguesa.
Primeiras greves em Lisboa.
Em França, Saint-Simon, Charles Fourier, Louis Blanc e Proudhon (1802-1864), este 0
1875
mais ousado, condenou 0 lucro obtido à custa dos esforços suplementares do trabalha
Fundaçãü do Partido
Socialista Português. dor e 0 juro como contrários à justiça e considerou 0 Estado inútil, declarando-se, por
1884
isso, “anarquista”.
Partido Operário Belga.
1888
Partido Socialista OperáriD 0 socialismo revolucionário
Espanhol.
Partindo do princípio de que 0 capitalismo é, essencialmente, um regime de explora
1889
Fundação da II Internacional. ção humana e que 0 capital e 0 trabalho são inconciliáveis, Karl Marx (1818-1883) (Fig, 2)
1890 incita 0 proletariado14* à união e à insurreição com vista à tomada do poder. A este ato
As primeiras
comemorações dü 1." de revolucionário seguir-se-ia numa primeira fase a ditadura do proletariado que dirigiria 0
maio. processo da supressão do sistema económico e social capitalista e instalaria as bases de
1892
Partido Socialista Italiano. um sociedade sem classes nem exploração. Numa segunda etapa, fase superior do comu
nismo, 0 Estado dissolver-se-ia e surgiría uma sociedade nova, harmoniosa, assente no
princípio de “a cada um segundo as suas necessidades”.
1 ■' Proletariado: lermuul lizadu por Marx piara caracterizar o Lratalludur du século XIX livre, desprovidu de propriedade
ou de qualquer uulra íurüe de rendimento, que nau seja a sua furça de Lrabalhu que é ubriqadu a vender por urr 1 preço
(bdláriul.
Unidade 3 - Evolução democrática, nacionalismo e imperialismo
SUMARIO
APRENDIZAGENS RELEVANTES
CONCEITOS/NOÇÕES
Demoliberalismo*’; Imperialismo**; Colonialismo**; Nacionalismo
* Conteúdos de aprofundamento
** Aprendizagens e conceitos estruturantes
A realidade dos regimes liberais oitocentistas mostra-nos que estes estavam longe de
constituírem modelos de coerência e de democracia, como o demonstram vários aspetos
comuns a estes regimes:
riJ Nu final da época da rainha Vitória í 1819-1901], qs ingleses orgulhavam-se de que ela governava urn império "no qua
u Sol nunca se punhd", o que era efetivamente verdade.
concorrência pelo controlo de novos territórios e mercados (Fig. i). No Oriente, depois Cronologia
da Chína (1842) e □ Japão (1853) terem sido forçados a abrir os seus portos ao comér
1B40-1842
cio ocidental, os Franceses expandiram 0 seu domínio no sudeste asiático (Indochina). Guerra do Ópio-, abertura da
Na Ásia Central, a Rússia estendeu o seu domínio à custa de novas anexações territoriais China aD comérciD com a
Reino Unido.
e esforçou-se por realizar 0 seu velho sonho de abrir um acesso direto ao Mediterrâneo, 1B53
objetivo que esteve na origem do conflito com a Turquia (Guerra da Crimeia, 1853- 0 americano Perry entra no
pDrtD de Tóquio à frente de
-1854)^. Em África, assistiu-se a uma escalada sem precedentes desenhada pela Confe uma frota naval exigindo
rencia de Berlim (1884-1885), á medida dos interesses das antigas (Grã-Bretanha e França) a abertura do Japão ao
comércio ocidental.
e das novas potências europeias (Itália e a Alemanha).
1B53-1854
Guerra da Crimeia entre a
Na origem da intensificação de um colonialismo* imperialista europeu (e norte-ameri Rússia e a Turquia.
cano) que nada parecia deixar escapar estão a aquisição e controlo das fontes de maté 1862
França consolida d seu
rias-primas, de novos mercados consumidores, 0 investimento do capital excedente e
domínio colonial em África
ambições neocoloniais. (Senegal e Argélia).
1867
No Início do século XX, as relações internacionais estavam longe da estabilidade de Rússia vende Alasca
e as ilhas Aleutas aos EUA.
algumas décadas atrás. As rivalidades políticas e económicas, as tensões nacionais e
1B6B
étnicas e a corrida armamentista tornavam a ordem internacional extremamente instável. Mutsu-HitD inicia a
0 primeiro conflito mundial não tardaria. modernização/ocidentalização
dü Japão.
1884 1885
Conferência de Berlim:
partilha da África entre as
potências europeias.
Questões
D_______ lüOükrr
1. Justifique 0 reforço
Fig. 2. A escalada do colonialisno imperialista em África na última quartel dü imperialismo na
do séculD XIX. segunda metade dü século
XIX
■f| tsta çjuerra é urn exernplu da rivalidade que enldu existia entre as grandes potências: a Grã-Bretarilia e a França 2. Avalie as consequências
LülOLdrarn-se au ladu dus lurcos cuntra os Russos. desse facto.
128 Módulo 6 - Economia e sociedade; nacionalismos e dtoq ues imperialistas
O triunfo do golpe militar liderado pelo duque de Saldanha no norte do País, em abril-
maio de 1851, designado de Regeneração*, põe fim a um longo período de três décadas
* Regeneração: período do (1820-1851) de intensos conflitos sociais e políticos, de lutas ideológicas e agitação, e ini
liberalismo português
entre 1851 e os finais dü cia uma fase de maturidade, de estabilidade, enfim das realizações necessárias para recu
século XIX e que expressa perar o País do seu atraso económico e tecnológico e colocá-lo no caminho da moderni
a vontade do golpe militar
de 1851 de regenerar a vida dade e do progresso.
nacional, fazendo entrar
o País nü caminho da As alterações à Carta Constitucional (1826) introduzidas pelo Ato Adicional de 1852
ordem e dü progresso.
(alargamento do sufrágio e eleições diretas para a Câmara dos Deputados) pacificaram a
modernização foi realizada sobretudo pelo Estado, á custa da subida dos impostos, de
empréstimos e financiamentos estrangeiros. A adoção do livre-cambismo (moderado)
indicador positivo do desenvolvimento industrial, por outro contribuía para um maior 2. Que setores da atividade
económica do País
desequilíbrio da balança comercial. Esta situação de défice tinha como consequência ime
mereceram a maior atenção
diata 0 agravamento dos problemas financeiros do País e o crescimento da dívida da política fontista?
,l] Nos inícios dos anos bD, este grande monumento industrial seria demolido.
Em 1090 atingia cerca de fctlú QCltl contos. Lendo aurrienLadu à média de II OÜD contos por amo desde 1B55. A dívida
pública por habitante [107 000 réis] era a segunda maior da Europa, depois da francesa [l?5 000 réis], e uma das
maiores do Mundo.
130 Módulo 6 - Economia e sociedade; nacionalismos e dtoq ues imperialistas
A economia portuguesa viveu nos anos de 1880-1890 uma situação de crise financeira
quase permanente, que culminou numa situação de quase bancarrota do Estado portu
guês em 1891-1892.
Esta falta de dinheiro pode ser explicada pela conjugação de um conjunto de fatores:
uns de natureza interna, como a "política de endividamento'1 externo do fontismo, 0
aumento das importações, 0 crescimento da dívida pública, os excessivos gastos da
governação, a crise vinícola, a desvalorização da moeda portuguesa face à libra; outros
tinham origem na conjuntura internacional de recessão económica (1873-1896), como a
concorrência externa, a quebra das remessas dos emigrantes no Brasil, as dificuldades
de obtenção de crédito nas praças estrangeiras...
Cronologia Reunida de Gás do Porto e as seguradoras Fidelidade, Bonança e Universal, no setor dos
serviços; Companhia de Caminhos de Ferro Portugueses e a Carris de Lisboa (transpor
1871
Conferências Democráticas tes); a Companhia da Zambézia, Companhia do Niassa e Companhia do Caminho de Ferro
do Casino Lisbonense. de Benguela (investimentos coloniais).
1875
Fundaçãü do Partido No entanto, no início do século XX, Portugal era ainda um país essencialmente rural
Socialista Português.
e com uma indústria ainda sem capacidade para competir nos mercados externos com os
1876
CriaçãD do Centro Eleitoral países industrializados.
Republicano Democrático.
1878
Eleição do 1." deputado - As transformações do regime político na viragem do século [1890-1926]:
republicano (Rodrigues os problemas da sociedade portuguesa na viragem do século e a contestação
de Freitas, no Porto].
da monarquia
1880
Comemorações do
tricentenário da morte O longo período de estabilidade político-social e de fomento económico iniciado pela
de Camões. Regeneração (1851) deu lugar, nas duas últimas décadas do século XIX, a uma profunda
1B90
crise, de caráter político, económico e financeiro. As contradições da monarquia consti
Ultimato inglês.
1889 tucional e vários acontecimentos políticos constituíram desafios demasiado fortes para
Revolta republicana uma monarquia e um sistema político (0 rotativismo) extremamente fragilizados e inca
de 31 de janeiro [Porto],
pazes de responder á força das novas ideias republicanas e socialistas emergentes.
1906
Ditadura de João Franco.
A humilhação nacional provocada pelo Ultimato inglês (1890)^ constituiu um golpe deci
1908
Regicídio. sivo na monarquia. As novas forças políticas, 0 Partido Socialista e sobretudo o Partido
1910 Republicano aproveitaram esta oportunidade para promoverem intensas campanhas de pro
Proclamação da República
(5 de Dutubro]. paganda e de mobilização do descontentamento popular.
[íl D regresso au protecionismo era, de resta, uma política que vinha sendo adotada pela $[eneralidade dos países
europeus [com exceçati da Inglaterra] desde o riír 10 do último quartel du séluIu XIX.
|r,) fts pretensões coloniais de Portugal (“rriapa cor-de-rusa"] colidiram com d ambiçao britânica e □ objetiwo do seu
eritau primeiro-minis iro Leni Rhodes de unir ü Eíjito au Labo.
Unidade 4 - Portugal, uma sociedade capitalista dependente 131
N Adiontamenitis à Lasa Real: verbas adiantadas pelos guverrius a família real, a pretexto de ser insuficiente a duta-
çãu oficialmente estabelecida.
,b] Expulsão dos Jesuítas e encerramento dos conventos, reconhecimento du direitn a greve, Lei du Inquilinato flOlOl;
reorganização da assistência pública [1911]; ubrigaturiedade du 1 asarnento civil e u estabelecimento du divorcio, cam
panha t unira □ analfabetismo, criação du ensino infantil e reíurrria du ensino primário [ 1911]; separação entre o tstado
e a Igreja Católica, regulação do horário de trabalho f 1915].
132 Módulo 6 - Economia e
SUMARIO
APRENDIZAGEN5 RELEVANTES
CDNCEITOS/NOÇfiES
* Conteúdos de aprofundamento
* Cientismo: crença
ilimitada nas capacidades
da ciência para resolver os
problemas e promover - A confiança no progresso científico
o proçressD das sociedades
humanas. Deste modo. No século XIX a ciência e a tecnologia evoluem a par e passo, levando muitos euro
a utilização do métodD das
ciências da Natureza e das peus a acreditar que viviam numa época de progresso sem fim e antevendo uma nova
matemáticas seria Idade de Ouro cada vez mais próxima, É o tempo do Cientismo*. Um número cada vez
imprescindível para validar
qualquer teoria ou maior de intelectuais considerava a ciência como a maior realização do espírito humano
doutrina. e o seu método, o método científico, como o caminho certo e eficaz para enfrentar e
equacionar todos os problemas.
ços importantes, foram as ciências ditas exatas que tiveram maior desenvolvimento,
concretamente a Física (descobertas revolucionárias sobre a luz, a eletricidade, ondas
magnéticas, descoberta do raio-X, do rádio...), a biologia (teoria da evolução de Darwín),
Fig. 1. Auguste Comte a medicina (a teoria microbiana de Pasteur e Koch, a descoberta dos bacilos da tubercu
[Biblioteca Nacional, Paris)
lose e da cólera asiática (Koch), o Isolamento dos germes de outras doenças graves,
foi o introdutor dü
positivismo'. um sistema como a difteria, a peste bubônica, o tétano e a doença do sono...).
filosófico que preconizava
a observação direta dos A mentalidade cientista triunfante não poderia deixar de influenciar também a abor
fenómenos e a descoberta
dagem das questões sociais. Auguste Comte (1798-1857) (Fig. 1) acreditava que as socie
das leis que ds explicam.
dades humanas eram regidas por leis. A procura dessas leis levou-o à criação de uma
nova ciência a que se chamou Sociologia. 0 estudo da evolução física do homem, dos
* Positivismo: sistema
filosófico criado por tipos humanos existentes, das culturas pré-históricas e das instituições e costumes pri
Augusto Comte, de caráter
mitivos deu origem ao nascimento da Antropologia, fundada por J, Prlchard (1786-1848)
empirista e antimetafísico,
que recusa qualquer tipo e E. Tylor (1832-1917). A Psicologia desligou-se da Filosofia e tornou-se uma ciência autó
de juízo de valor não
noma, conhecendo então uma grande notoriedade e desenvolvimento graças aos contri
expresso numa certeza
científica. butos do russo Pavlov (1846-1924) e Freud (1856-1939).
Unidade 5 - Os caminhos da cultura 133
A consciência das sociedades europeias de que a instrução era uma condição indis 1850
pensável ao funcionamento regular dos regimes democráticos trouxeram para o primeiro Verdi: Rigaletto.
Courbert: Enterro em
plano a questão do ensino público. Com efeito, a democratização política passava pela Ornans.
extensão do sufrágio às classes mais baixas da população, em regra sem instrução, pelo Charles Dickens: David
Copperfield.
que se tornava imprescindível a generalização da instrução pública de modo a formar
1857
cidadãos e decisores esclarecidos. Baudelaire: As Flores do
Mal.
Mas a universalidade do ensino implica a sua obrigatoriedade e também a gratuiti- Flaubert: Madame Bovary.
dade, já que se se pretende que todos tenham acesso ao ensino terá de ser o Estado 1866
Júlio Verne: Da Terra à Lua.
ou as coletividades públicas a assumir as respetivas despesas.
Dostoievsky: Crime
e Castigo.
Em Portugal, a reforma do ensino em 1844 estabeleceu a obrigatoriedade de frequên
1869
cia do ensino primário para as crianças dos 7 aos 15 anos. No entanto, esta medida aca Tolstoi: Guerra e Paz.
bou por não ter grande eficácia por falta de escolas e de professores habilitados e a 1872
Monet: Impressão
questão da universalidade do ensino prolongar-se-ia no tempo. Sol-Nascente.
1874
Primeira exposição dos
- 0 interesse pela realidade saciai na literatura e nas artes - as novas impressionistas.
correntes estéticas na viragem do século 1883
AntoníGaudí: início das
obras da Igreja da Sagrada
0 Realismo* Família (Barcelona).
1888
Entre 1830 a 1870 a cultura na Europa Ocidental ê atravessada por uma corrente dire
Van GDgh: Os Girassóis.
tamente relacionada quer com os acontecimentos sociais e políticos e avanços científi 1B89
cos quer com as exigências de uma moral renovada. É neste contexto que se afirma 0 Richard Strauss: Dom Juan
(poema sinfónico).
Realismo, uma tendência dominante na literatura e nas artes ocidentais de cerca de 1830
1B93
ao início da I Grande Guerra (1914-1918). Tchaikovsky: Sinfonia n.° 6
em Si Menor.
0 Realismo é acima de tudo um protesto contra 0 sentimentalismo e as fantasias dos
românticos. Os realistas olham e descrevem a vida não em função de um ideal emotivo
* Realismo: corrente
mas de acordo com a realidade tal como ela era analisada e descrita pela ciência e pela
literária e artística
filosofia. Interessam-se em particular pelos problemas psicológicos e Sociais, analisando caracterizada pela procura
da representação fiel da
minuciosamente 0 comportamento humano. Observar a realidade contemporânea e repro
Natureza (realidade) de um
duzi-la com sinceridade ê, para estes artistas, 0 único processo de dar forma a uma müdo preciso e objetivo,
sem qualquer preocupação
necessidade de regeneração e de progresso social.
de disfarçar d que possam
Em França, que foi 0 país onde este movimento cultural eclodiu e onde mais profun ter de feio ou chocante.
- na literatura, três grandes romancistas, cuja influência se estendeu muito alêm das
fronteiras francesas: Balzac (1799-1850) que, em Comédia Humana, descreveu com
crueza os vícios, a imoralidade e a corrupção da burguesia; Flaubert (1821-1880),
que em Madame Bovary faz uma crítica violenta ao estado de degradação humana,
ao contraste dramático entre as fantasias românticas e a triste realidade da vida
quotidiana; Zola (1840-1902), também um analista da natureza humana, centra as
suas obras na abordagem de problemas sociais;
* Impressionismo: O Impressionismo*
movimento estético que
procura traduzir as Privado de manifestos e de formulações teóricas, 0 Impressionismo não se apresenta
impressões imediatas düs
nem como uma escola nem como um movimento homogéneo de artistas que se reco
sentidos, as sensações do
momentD. o fugidio, o nhecem numa teoria. Na realidade, trata-se de um encontro entre personalidades artísti
instante. Tecnicamente,
a pintura impressionista
cas profundamente diferentes, unidas pelas mesmas formas de sentir e pelo idêntico
é caracterizada por anseio de se apresentarem fora dos meios da arte oficial dos salões, abertos apenas a
pinceladas pequenas
e rápidas, pela dissolução pintores académicos e bem aceites pela crítica. Trata-se de uma pintura que exprime um
das formas e dü volume novo gosto, uma forma pessoal de reproduzir 0 visível em termos espontâneos, liberta
e pela utilização de cores
primárias. da literatura e dos símbolos, desvinculada dos cânones tradicionais da pintura comemo
rativa. Nascida do naturalismo e continuadora do realismo, a pintura Impressionista
modifica a estrutura artística tradicional porque revoluciona nos seus princípios o modo
de exprimira realidade visível, desligando-a da representação fiel da natureza para repro
duzir antes a sua verdade percetível e sensível.
tes nos mundos do espiritismo e do ocultismo. Apesar disso, a dimensão física não deixa
nunca de existir. Mas as imagens dos impressionistas, plenas de vida, movimento e luz
natural, tornam-se agora estáticas e misteriosas.
Unidade 5 - Os caminhos da cultura 135
Símbolo do novo modo de vida de uma sociedade urbana e industrial, de gostos refi
nados, a Arte Nova é reconhecível nas grandes cidades nas entradas/saídas dos metro
politanos, em edifícios de estruturas simples e de fachadas rasgadas e onduladas. Mas
a Arte Nova não se restringe à arquitetura. Os seus artistas foram defensores da unidade
das artes. Por isso, a Arte Nova tem realizações nos mais variados domínios, como a joa
lharia, as artes gráficas e o mobiliário.
0 papel da Geraçõo de 70
No domínío das letras, as três últimas décadas do século XIX ficaram marcadas por
um importante movimento de renovação das ideias e dos modelos literários a que se
convencionou chamar Geração de /o. Este movimento, inspirado em correntes culturais
estrangeiras, iniciou-se em Coimbra, com a denominada “Questão Coimbrã’’ (1865), que
Em 1871, Antero e alguns dos seus companheiros de Coimbra a que se associaram, entre
outros, Oliveira Martins e José Fontana, constituíram um grupo mais alargado, 0 Cenáculo,
Na Arquitetura
No caso português foi a própria monarquia que começou por dar 0 exemplo com 0
grande projeto do Palácio da Pena (1840-1847), em Sintra, uma iniciativa de D. Fernando,
marido de D. Maria II.. Do neogõtico ao neomourisco, passando por sugestões indianas
e pelo manuelino, tudo se encontra ali presente..
* Modernismo: designação Monteiro (1848-1942), e a Praça de Touros do Campo Pequeno (1892), de J, Dias da Silva
dada aos diversos (1848-1912), exemplos de edificações de estilo neoárabe, o Palácio do Buçaco (1888-1907)
movimentos da literatura,
das artes plásticas, da e 0 Palácio da Regaleira, exemplos do neomanuelino, a Capela dos Pestanas (1878-1788),
arquitetura e da música no Porto, obra de Albano Cascão, exemplo do revívalismo neogõtico, e inúmeros palace
que surgiram nos finais
tes da elite aristocrática e burguesa um pouco por todo 0 País.
do sócuId XIX e se
prolongaram até meados
do séculD XX. Apesar da Nos últimos anos do século XIX começou a fazer-se sentir 0 desejo de um estilo “ver
sua extrema diversidade, dadeiramente português'* inspirado numa visão romântica do mundo rural. Nasceu assim
tinham em comum:
a rotura com a tradiçãD a ideia da “casa portuguesa**, cujo mentor foi Raul Lino (1879-1974), e com ela um modo
e o academismD e a defesa de construir dito “à antiga portuguesa* com beirais de telhados, alpendre, azulejos,
da liberdade de criação
e a procura incessante
pátios, cantaria. Entretanto, as tendências do Modernismo* internacional que na Europa
da inovação. e nos EUA estavam em pleno desenvolvimento, iam espreitando a sua oportunidade.
137
Alemanha 2,9
Desde que entre os homens se mantenha a concorrência; se, por acaso, havendo concorrência, um
desequilíbrio se torna ameaçador, imediatamente se produz um movimento de preços: as mercadorias pro
duzidas em excesso baixam, 0 que desalenta a sua produção; aquelas que, pelo contrário, são mais pro
curadas que oferecidas, veem 0 seu preço elevar-se, 0 que estimula a sua produção; desta forma 0 equi
líbrio realiza-se por si mesmo (...).
Em suma, desde que se mantenha a concorrência, todo 0 indivíduo que busca 0 seu interesse pessoal
é levado, quer queira quer não, a servir 0 interesse geral, e a atividade de todos é de tal ordem, que a
ordem, a justiça e o progresso ficam assegurados.
Penso, portanto, que uma socialização bastante ampla do investimento será 0 único meio de assegurar
uma situação aproximada de pleno emprego, embora isso não implique a necessidade de excluir ajustes e
fórmulas que permitam ao estado cooperar com a iniciativa privada (...).
Não é a propriedade dos meios de produção que convém ao Estado assumir. As indispensáveis medi
das de socialização podem ser introduzidas por etapas, sem afetar as tradições gerais da sociedade.
1.2. Distinga as conceções económicas presentes nos documentos 2 e 3, nomeadamente em relação aos
seguintes aspetos:
- iniciativa individual;
- intervenção do Estado;
- equilíbrio da economia.
2
Homens de hábitos laboriosos, vós que sois a parte mais honesta, mais útil e mais preciosa da socie
dade, que produzis toda a riqueza e toda a ciência, vós formastes e estabelecestes o Grande Sindicato
Nacional Unificado da Grã-Bretanha e Irlanda e que será a salvaguarda do mundo (...). Graças a este exem
plo benéfico, a maior revolução alguma vez realizada na história da raça humana começará, efetuar-se-á
rapidamente e desabrochará no mundo inteiro sem efusão de sangue, sem violência, sem males de qual
quer espécie, simplesmente sob 0 efeito de uma influência moral irresistível.
A história de toda a sociedade até aos nossos dias não é mais do que a história da luta de classes
(...). A sociedade burguesa moderna, gerada na ruína da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de
classes. (...) Cada vez mais a sociedade se divide em duas classes diametralmente opostas: a burguesia e
0 proletariado (...). 0 proletariado de cada país deverá, em primeiro lugar, conquistar 0 poder político, eri
gir-se em classe dirigente da nação, constituir-se ela própria como nação. Os comunistas proclamam aber
tamente que os seus fins só poderão ser atingidos pela transformação violenta de toda a ordem social (...).
Oue as classes dirigentes tremam á ideia de uma revolução comunista. Os proletários não têm nada a per
der, senão as cadeias. Têm um mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos]
Quadru 1 - Fonte: Cabral, Manuel Vilaverdc, Quadro 2 * Fonte: Castro, Armando de (19/8),
O Desenvolvimento do Capitalismo em Portugal no século XIX, A Revolução industrial em Portugal no século XIX,
Ldiçòes A Regra do Jogo, Lisboa, pp. 277*279. Porto. Editora Limiar.
2.2. Integre os documentos 405 numa caracterização global da sociedade industrial europeia oitocentista.
2.3, Tendo em conta os dados dos quadros 1 e 2 (doc 6), explique a evolução da indústria portuguesa na
segunda metade do século XIX.
Unidade 1 - As transformações das primeiras décadas do século XX 139
Contextualização
Após d grave confronto da Primeiro Guerra Mundial (1914-1918) pareciam estar criadas as
condições para uma paz duradoura entre as nações, apesar das dificuldades de recuperação
económica que se anteviam. A vitória dos Aliados foi também a vitória da democracia A cria
ção da Sociedade das Nações expressava a vontade de se edificar uma nova ordem interna
cional assente na superioridade do Direito sobre a força.
Nd entanto, tratava-se de orna situação precária e instável A profunda crise económicD-
-financeira de I9r?9 a que o Mundo teve de fazer frente nos anos 30. a crise das democracias
liberais, a emergência das ideologias fascistas e dos regimes totalitários e a agudização das
tensões internacionais precipitaram a Europa e d Mundo num novo conflito (1939-1945),
ainda mais devastador do que o anterior.
APRENDIZAGENS RELEVANTES
- Compreender o corte que se Dpera na mentalidade confiante e racionolista da sociedade
burguesa de início do século XX'*.
- Reconhecer como principais vetores do mudança cultural, no limiar do século XX, a emer
gência do relativismo científico, o influência da psicanálise e a rutura com os cânones
clássicos da arte europeia**.
- Compreender a expansão de regimes autoritários como reflexo do problema do enquadra
mento das massas na vida política**.
- Compreender os condicionalismos que conduziram à falência do projeto político e social da
Ia República**.
CONCEITOS/NOÇÕE5
Soviete; Ditadura do proletariado; Centralismo democrático; Comunismo; Marxismo-leninismo”*;
Ano mi a social; Feminismo; Relativismo; Psicanálise; Modernismo**; Vanguarda cultural**; Expressio-
nismo; Fauvismo; Cubismo; Abstracionismo; Futurismo; Dadaísmo; Surrealismo
* Conteúdos de aprofundamento
** Aprendizagens e conceitos estruturantes
Cronologia 1.1. Um novo equilíbrio global
Tratados do pós-Primeira
1.1.1. A nova geografia política após a Primeira Guerra Mundial
Guerra Mundial:
1919 Terminada a Primeira Guerra Mundial colocavam-se à Europa e ao Mundo doís pro
Janeiro-Junho - Conferência
blemas fundamentais para o restabelecimento da paz: a reorganização do mapa político
de Paris.
da Europa e o estabelecimento de cima nova ordem internacional, capaz de restaurar e
Junho - Tratado de
Versalhes.
garantir a convivência pacífica entre as nações.
Setembro - Tratado de O primeiro foi resolvido através dos tratados de paz (que ignoraram e tomaram sem
Saint-Germain. efeito o tratado de Brest-Litovsk assinado pela Rússia e pela Alemanha em março de
Novembro - Tratado de 1918) negociados entre 1919 e 1920 pelos representantes das potências vencedoras, reu
Neuillij.
nidos de janeiro a junho de 1919 na Conferência de Paris liderada pelo presidente dos
1920 EUA (Woodrow Wilson) e pelos primeiros-ministros do Reino Unido (Lloyd George) e da
Junho - Tratado de Trianon.
França (Georges Clemenceau).
Agosto - Tratadü de
Sèvres. Para além do Tratado de Versalhes que, de um modo geral, se aplicava unicamente
à Alemanha, foram redigidos quatro outros tratados de paz com os vencidos: 0 Tratado
de Saint-Germain com a Áustria; 0 Tratado de Neuilly com a Bulgária; 0 Tratado de Trianon
com a Hungria e o Tratado de Sèvres com 0 Império Otomano. Fundados no princípio do
direito dos povos à autodeterminação, estes tratados desenharam um novo mapa polí
tico da Europa (Fig. 1):
* na Europa Central e do Leste: o Império Áustro-Húngaro
| HUSBPSl
desintegrou-se, dando origem a três novos estados - a
Gi.'55C'S
rtjLzeosF- i ■—
URSS Áustria, a Hungria e a Checoslováquia; outras partes deste
Império formaram a Jugoslávia (à Sérvia e ao Montenegro,
PCLONIA
OCEANO í-i
independentes antes da guerra, juntam-se a Croácia, a
AnJwnc-o
l FRANÇA Eslovénia e a Bósnía-Herzegovina) e a nova Polónia; a
ALEf/tÃÊS k ------ AleíMeS Roménia passou a integrar a Transilvânia, a Bessarábia e
*1
BULGAf Dodruja; a Itália recebeu 0 Tirol e a ístria; a Alemanha
ESPANHA
aitifr' -d TURQUIA sofreu perdas territoriais importantes, sobretudo no leste
(Posnânia e Alta Silésia) e foi cortada em duas partes pela
r Sicília
Mala Chipre I formação do ^corredor polaco"^; a Rússia foi amputada
3 Mcvub eâtAdóe I I Estadas qjc- ec jpcmr^íTi I I Esòictos que oncunrAm Irntónas
H Infcpendijriclft çfc dos seus territórios ocidentais com a cedência de áreas á
Z] Estadas que pcmcraiFi tarnlonas Estedcrs cu íií frcrteiras
I MRirtasflricóit:
cnm 09 ratona dt w pC nrúncc^fAm i r^lte rçwtaw
Polónia e a emancipação das Repúblicas Bálticas (Letónia,
Fig. 1. A Europa após a Estónia e Lituanía), da Finlândia e dos territórios da Transcaucásia. 0 fim do Império
Primeira Guerra Mundial.
Otomano, surgindo em seu lugar novos estados: a Arábia Saudita, o Iraque, a Síria e o
Revista LHtótoíre, n° 232.
maiD de 1999 [adaptada]. Líbano (entregues a Mandato da França), a Palestina (tutelada pela Sociedade das
Nações), a Transjordânia e o Curdistão, embora a independência deste nunca se tenha
confirmado.
• a Oeste: a França recuperou à Alemanha a região fronteiriça da Alsácia-Lorena; a
Bélgica adquiriu também da Alemanha dois pequenos territórios: Eupen e Malmédy;
a Dinamarca adquiriu o Schleswig á Alemanha.
"■ Os países vencidos - Alemanha. Áustria, Hunyria, Bdgária e luiquia - nau furam admitidos nas negociações.
w 0 I ratddu de Versalhes, a iribuiridu à Alemanha a responsabilidade du cunflitu, impus-lhe ainda a perda de Ludas as
suas culúnias, a desrrülitarizaçâu e u pa^amentu de "reparações" pelus danos causados aus vencedores. Ü tratado
fui visto pelas alemães Lcirriu um dikius e furnerituj furtes ressentimentos.
Unidade 1 - As transformações das primeiras décadas do século XX 141
Apesar das boas intenções que presidiram à sua criação, a Sociedade das Nações não
Documento 1
foi capaz de as cumprir. As razões desse fracasso deveram-se:
- ã exclusão dos estados vencidos, pois a SDN passou a assemelhar-se mais a uma coli Todüs os membros da
Sociedade concordam em
gação de estados vencedores, com 0 objetivo de impor a sua vontade na direção da que, se entre eles surgir
vida internacional, do que a uma organização geral de estados, livremente consentida; um conflito suscetível de
produzir uma rutura,
- às condições humilhantes impostas aos vencidos, em especial ã Alemanha; submeterão 0 casü seja a
um processo da
- ao descontentamento de alguns estados vencedores com os acordos de paz e com
arbitragem ou a uma
o incumprimento de promessas; solução judicial seja ao
exame dü Conselho.
- à não adesão dos Estados Unidos e à ausência da URSS; Concordam também em
- à exigência da unanimidade nas deliberações; que nãD deverão, em caso
algum, recorrer à guerra
- ao facto de a arbitragem e as decisões do Tribunal Permanente de Justiça Interna antes de expiradü 0 prazo
de três meses após a
cional não terem um caráter de obrigatoriedade.
decisão arbitrai ou
judiciária ou do relatório de
Embora tenha revelado alguma eficácia inicial na defesa da superioridade do Direito Conselho.
sobre a força nas relações internacionais^, a verdade é que a SDN falhou no objetivo prin Art. 12?, Pacto du SUN.
cipal para que fora criada: a defesa da paz e da segurança internacionais. Não
conseguiu, por exemplo, impedir a ocupação do Ruhr pelas tropas franco-belgas (1923), Questão
1. Esclareça se 0 Pacto da
M Enlre 19M e 1920 d SDN esleve ligada direta uii irid 11 etarnenle a urna série de tratados que, embura rid prática se SDN proibiu 0 recurso à
tenham revelado inefiitazes, são expressão do ideal de Paz: Protocofe poro u Resüluçüü PüLtfieü dus Curr/íUus frifpr- guerra nas relações
nuíiüftuib (I9?í|j; Puliu de Locüffío (I92S); Pacto tíriund-Ketltj^ du Pücto de RenünLiü Geroi ü Guerrn (1928); Xto ueruJ internacionais.
de ArbtlruL/em [1928].
Cronologia o abandono do Japão da organização, a agressão da Itália contra a Etiópia (1935)» país-membro
da SDN, a Guerra Civil de Espanha (1936-1939) ou a invasão da China pelo Japão (1937)»
Os fracassos da SDN
dissolvendo-se em 19 de abril de 1939, ano em que irrompeu a Segunda Guerra Mundial.
1920
Não ratificação pelo
Senado americano do 1.1.3. A difícil recuperação económica da Europa
Tratado de Versalhes nem
do Pacto da SDN. A crise do pós-guerra
19E3
A Europa detinha, antes de 1914, a liderança económica, financeira e política no mundo,
Ocupação do Ruhr pelas
fürças franco-belgas. mas a guerra pôs fim a esta situação privilegiada. O interminável conflito mundial acarre
1933 tou para uma boa parte dos países europeus consideráveis perdas humanas e materiais:
Saída do JapãD da SDN.
- escassez de mão de obra ativa (milhões de mortos, feridos e mutilados);
1935
Ataque da Itália à Etiópia, - paralisação das atividades produtivas (campos devastados e destruição de fábricas
membro da SDN. e outras infra estruturas económicas) e contração das atividades comerciais e finan-
1935-1939 ceiras;
Guerra Civil de Espanha.
- défices orçamentais e dívidas públicas elevadíssimas;
1937
Invasão da China pelo - surtos inflacionistas* decorrentes do recurso a empréstimos e a emissões de
Japão. moeda-papel.
1939
IníciD da Segunda Guerra Vencedores e vencidos, ainda que atingidos de forma desigual, saíram da guerra,
Mundial.
senão arruinados, pelo menos consideravelmente empobrecidos. A este cenário devasta
dor associava-se um quadro sociopotítico nada favorável. O fim da guerra foi acompa
nhado por um surto de grande agitação social e política.
* Surtos inflacionistas:
movimentos de subida Os anos de 1919-1921, período do regresso à paz, constituem para a generalidade dos
generalizada dos preços
países europeus uma fase de reconversão das suas economias:
[inflação).
- os princípios do liberalismo económico são restringidos e adotam-se medidas para
estimular a criação de emprego e as importações de máquinas, de petróleo e de
produtos alimentares;
Corri o abandono du padrao-ouro. as instituições bancárias deixaram de ser obrigadas d converter em uuru d tota
lidade dd moeda fiduciária em circulação. A instabilidade monetária tern repercussões negativas sobretudo nas eco
nomias exportadoras. purque ao inr eritivar 0 proíEEionismo e a depreciação das moedas prejudica as trocas comerciais
e d circulação internaüoridl dos capitais.
Unidade 1 - As transformações das primeiras décadas do século XX 143
A guerra europeia fez dos Estados Unidos 0 principal fornecedor de alimentos, bens A recuperação económica da
Europa no pós-guerra
de equipamento e armamento aos beligerantes. Esta forte corrente de exportação teve
1919-1921
como consequências uma balança comercial largamente excedentária e um enorme afluxo
Reconversão.
de ouro àquele país. No início de 1919, os EUA dispunham aproximadamente de metade
1921-1925
do stock de ouro mundial. Reajustamento.
1925-1929
Ao mesmo tempo, a estabilidade monetária transformou os LUA num refúgio seguro
Estabilização e
para os capitais circulantes, uma boa parte dos quais era encaminhada para a Europa crescimento.
sob a forma de empréstimos e investimentos. Os países europeus tornaram-se seus
devedores. 0 crescimento
industrial nos EUA
Esta situação de dependência foi ainda acentuada pela adoção por parte dos EUA de [1922-1929]
um sistema aduaneiro fortemente protecionista relativamente aos produtos fabricados na Indústria
70%
Europa e de medidas para restringir a imigração europeia (leis de 1921 e 1924). siderúrgica
no verão desse ano, começaram a ocupar e a repartir as terras, apoiados pelos milhares
de soldados que desertavam da guerra.
Sob a liderança de Lenine (Fig, 4), os bolcheviques*, 0 mais ativo dos grupos revo
lucionários, foram progressivamente estendendo a sua influência no país e nos sovietes,
sobrepondo-se aos mencheviques* e aos socialistas revolucionários.
n Questão
Mais concretamente: os sovietes locais e regionais eleitos por sufrágio universal esta
vam representados no Congresso dos Sovietes, que designava 0 Comité Executivo Central,
1. Qual o modelo de composto de duas câmaras - o Conselho da União e 0 Conselho das Nacionalidades -
organização política dü
Estado Soviético adotado
que, por sua vez, elegiam 0 Conselho dos Comissários do Povo e 0 Presidium, órgãos
por Lenine? executivos.
- criação, em 1922, pelo agrupamento das diversas repúblicas que compunham 0 ter
ritório russo, de um Estado Federal, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS).
* Demoliberalismo: sistema
1.3. A regressão do demoliberalismo* político de democracia
representativa ou
parlamentar, fundado nos
13.1. 0 impacto do socialismo revolucionário. Dificuldades económicas e princípios liberais
radicalização dos movimentos sociais enunciados nos séculos
XVIII e XIX, no qual a
soberania é delegada pelo
Nos anos que se seguiram à Primeira Guerra Mundial, a Europa, perturbada e em gran
povo a órgãos
des dificuldades económicas, questionou o liberalismo político e a democracia parlamentar. representativos, regendo-
-se pelü princípio da
As massas populares, afetadas pelo desemprego e estimuladas pelo exemplo da revo maioria e pelo respeito da
vontade popular expressa
lução soviética e pela ação da III Internacional ou Komintem*, mostraram a sua insatis em eleições.
fação exigindo a intervenção do Estado, ocupando terras e fábricas e promovendo gre * III Internacional
ves e manifestações. [Comunista] ou Komintern:
fundada em Moscdvo, nü
Os regimes demolíberais europeus, mesmo as democracias mais consolidadas, mos- anD de 1919, após a vitória
dos comunistas na
tram-se aparentemente incapazes de encontar respostas eficazes para travar 0 clima de Revolução Russa, tinha
contestação generalizada e as forças sociais e políticas tendem a radicalizar-se. como principais objetivos
dirigir 0 movimento
Na Alemanha (República de Weimar), os espartaquistas (fação radical do Partido operário internacional e
universalizar 0 modelo
Social-Democrata alemão, liderada por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo) protagoni comunista soviético. Foi
dissolvida em 1943, em
zam, em 1919, uma insurreição em Berlim com o objetivo de instaurar um regime comu
plena Segunda Guerra
nista idêntico ao soviético. Mundial.
o Documento 4 Esta onda revolucionária de inspiração marxista alastrou a outros países: o Reino
Unido e a França tiveram de enfrentar, nos anos de 1919-1920, duros surtos grevistas; a
A crise das democracias
encontra a sua razão de Itália, a Áustria e a Hungria confrontaram-se também com violentas insurreições revolu
ser na conjunção dos cionárias. Na Hungria, como na Baviera ou na Finlândia, proclamam-se “Repúblicas dos
ataques que lhe são
dirigidos dü exterior pelü Conselhos” (ou seja, de modelo soviético), que vigoram durante alguns meses.
fascismo e pelo
comunismo e das Em consequência destas lutas, os trabalhadores conseguem algumas conquistas sociais
imperfeições de ordem
e laborais, mas, rapidamente, 0 poder político apoiado nas forças militares e na alta bur
interna. [...) A crise da
democracia está no guesia, receando 0 caos e a expansão do bolchevismo no continente europeu, reprime
sentimento, exato ou
com violência a contestação revolucionária.
errado, da inadequação dos
princípios e das
instituições da democracia
1.3.2. A emergência dos autoritarismos
clássica, isto é,
parlamentar e liberal, às
circunstâncias, aos As classes médias, alicerce do demollberalismo e grandes vítimas da queda do poder
problemas e às de compra que quase as reduziu ao nível dos proletários, sentiram-se traídas pelas con
disposições do espírito
público. [„.] cessões sociais aos revolucionários e perderam toda a confiança no Estado liberal. Tor-
René Rémond, Intruduçüü u
naram-se, pois, presa fácil da propaganda e da capacidade de mobilização das massas
Htslónu du Nussü lempu,
Lisboa, Gradiva. 1994. p. 319. da direita conservadora e fascista que defendia soluções autoritárias, um poder forte
capaz de garantir a estabilidade e a propriedade contra 0 caos e a ameaça do comunismo
Questão (Doc. 4).
1. Comente as afirmações
dü autor relativamente à Nos países de tradição liberal e democrática (Reino Unido, França, países escandina
crise da democracia no vos...), os acordos entre forças de diferentes quadrantes ideológicos e a aplicação de
pós-Primeira Guerra
Mundial. medidas de Intervenção social e económica permitiram aos regimes democráticos sobre
viver â agudização da instabilidade socio política.
Também entre os vencedores da guerra havia países com um forte sentimento de frus
Cronologia
tração com os tratados de paz, como a Itália, onde Mussolini, apoiado na milícia nacio
A emergência dos nalista dos camisas negras, comandou a Marcha sobre Roma (1922) e obrigou 0 rei Vítor
autoritarismos na Europa:
Manuel III a nomeá-lo chefe do Executivo. Em 1924, já no poder, os fascistas manipulam
1922
Itália. os resultados e 0 próprio sistema eleitoral e impõem a ditadura fascista.
1923
Espanha, Turquia e Em Espanha, em 1923, Primo de Rlvera instaurou uma ditadura. Pilsudski fez o mesmo
Bulgária. na Polónia, em 1926. Na Grécia, o general Metaxas impõe um regime autoritário (1936).
1925
Na Jugoslávia, é 0 próprio rei Alexandre I que impõe uma ditadura com 0 objetivo de
Greda.
1929 garantir a unidade nacional posta em causa pelos conflitos étnicos. Também em Portu
Polónia, Lituânia e Portugal. gal, 0 golpe de estado do General Gomes da Costa, em 28 de maio de 1926, pôs fim à
1928
I República e conduziu 0 país para a ditadura.
Jugoslávia.
1.4. Mutações nos comportamentos e na cultura
Estimulada pelo crescimento populacional, por surtos migratórios, pelo progresso dos
transportes e pela concentração das indústrias, do comércio e dos serviços nos seus
espaços, as cidades conheceram um forte impulso ao longo da segunda metade do
século XIX e na primeira metade do século XX.
0 crescimento das cidades operou-se a um ritmo caótico, agravando, por isso, os pro
blemas urbanos relativos aos abastecimentos, à circulação (Fig. 6), ao saneamento e à
saúde pública.
A forte pressão social que se exerce sobre o indivíduo nestes extensos espaços cita
Fig. 6. Elétrico e
dinos conduz à uniformização, à estandardização dos gostos, hábitos de consumo, valores carruagens. Lisboa nos
e comportamentos, ou seja, à massificação da vida urbana. A desagregação das solida princípios do século XX.
Mas, para isso, eram necessários tempo e espaço. A primeira necessidade foi resol
vida pelo aumento da produtividade e pelas reivindicações dos trabalhadores, que per
mitiram reduzir o tempo de trabalho e criar os tempos livres e os ócios.
O período entre as duas guerras mundiais assinala uma crise de confiança nos prin
cípios e valores universalmente aceites pelas sociedades europeias demoliberais.
Com efeito, a crença nas virtualidades da democracia liberal, nos valores societais
dominantes, como o trabalho, a austeridade, a educação, a família e a moral cristã, e nas
capacidades, que se supunham ilimitadas, da Ciência foi dando o lugar ao ceticismo e à
rebeldia, ao frenesim consumista e ã ânsia de viver
As primeiras formas da luta das mulheres pela sua emancipação traduziram-se mos
movimentos sufragistasl6) que reivindicavam 0 reconhecimento da igualdade de direitos
relativamente aos homens no trabalho, na estrutura familiar e na vida pública e 0 sufrá
gio universaL Para atrair a atenção de uma sociedade preconceituosa e mobilizar apoios
para a sua causa, as militantes sufragistas mais radicais criaram associações femininas e
* Feminismo: conceçãü
levaram a cabo corajosas campanhas na imprensa e manifestações de protesto'A
social, política, ética que
Mas 0 feminismo* encontrou outras formas - porventura menos espetaculares, mas efi defende a igualdade
absoluta dos direitos e
cazes - de afirmação pública através do vestuário e da moda. Os tecidos, mais leves, reve deveres de ambos os
lam discretamente as linhas do corpo. As saias sobem do tornozelo até ao joelho e as sexos, pela melhoria legal
e real das condições em
meias realçam os contornos das pernas. 0 espartilho foi dando lugar ao soutien. A moda que vive a mulher.
dos cabelos compridos, muito do agrado de gostos românticos, passou a ter um concor * Relativismo: doutrina
segundü a qualtDdo d
rente muito popular entre as feministas: 0 cabelo curto e 0 penteado à garçonne, mais ade
conhecimento é relativo,
quado à imagem de independência e à vida ativa. dependendo de fatores
contextuais, variandü de
acordo com as
D] A descrença no pensamento positivista e as novas conceções científicas
circunstâncias, negando,
por isso, a possibilidade do
Nos Inícios do século XX predominava ainda a mentalidade confiante, positivista e conhecimento absoluto e
racionalista que caracterizara 0 mundo do conhecimento na segunda metade do século XIX. de certezas definitivas.
Mas, de uma forma algo surpreendente, processa-se uma reação a n ti positivista e antirra-
cio na Lista. Na origem desta rutura estão, em primeiro lugar, as novas e revolucionárias
conceções e descobertas científicas que têm 0 seu ponto de partida no relatívismo* que
veio por em causa 0 paradigma positivista da objetividade e universalidade do conheci
mento científico.
Um dos grandes obreiros desta revolução intelectual e científica dos princípios do século
XX foi Einstein (Fig. 8). A doutrina que lhe deu maior fama foi a sua Teoria da Relatividade,
Fig. 8. Albert Einstein
apresentada sob a forma estrita em 1905 e ampliada dez anos depois. Einstein punha em [1879-1955], físico e
causa não só as antigas conceções sobre a matéria, mas também toda a Física tradicional matemático de origem
alemã. A sua Teoria da
construída sobre as conceções da geometria euclidiana e da mecânica newtoniana. Relatividade, expressa pela
fórmula E-mc^, ou seja, a
■h] 0 termo ^sufragistas*, irm ialmente usado Lurn sentido pejorativo, aparec eu pela primeira vez riu |urrsal inglês iluihj
energia [E] é igual à massa
Muil Newspuper ern 1*306. (m) multiplicada pelo
quadrado da luz (c?),
Destacou-se nesta luta a Wumen'b Saciol and Paüticnl Uniun (WSPUJ, fundado por Emmeline Pankhurst em IÍ1Ü3.
Fiéis ao seu lema “Atos e não palavras’, interrompiam reuniões políticas, assediavam as deputados du Parlamento,
revolucionou a Física e a
partiam janelas, cortavam cabos telefónicos e telegráficos e checaram a invadir a Larnara dos Comuns. Ciência contemporânea.
152 Módulo 7 - Crises, embates ideológicos e mutações culturais na
Sustentou que d espaço e o movimento não eram absolutos, mas relativos. Os obje
tos não tíntiam apenas três dimensões, mas quatro. Ao comprimento, largura e espessura,
acrescentou Einstein, a nova dimensão do tempo e representou todas as quatro dimen
sões como fundidas numa síntese a que deu o nome de “contínuo espaço-tempo". Pro
curava dessa forma explicar a ideia segundo a qual a massa depende do movimento.
Uma série de descobertas - de Roentgen, Becquerel, Pierre e Maríe Carie e Max Planck -
desacreditaram a conceção nacionalista que defendera a continuidade e indestrutibilldade
da matéria. 0 físico nuclear de origem germânica Heisenberg (1901-1976) enunciou 0 prin
cípio da indeterminação, que desferiu um rude golpe no determinismo e na previsibili
dade dos fenómenos.
* Psicanálise: criada e
desenvolvida por Sigmund No domínio do comportamento humano, a Psicanálise* de Freud (Fig. 9), abre novos
Freud numa tentativa de
caminhos à compreensão do subconsciente ou inconsciente através da interpretação de
compreender a
personalidade e d sinais exteriorizados e torna-se um método terapêutico^. Freud admitia a existência da
comportamento humano
mente consciente, mas considerava o subconsciente muito mais Importante na determi
em tüda a sua
complexidade. Constitui nação dos atos do indivíduo. Acreditava que a maioria dos casos de doenças mentais ou
uma das grandes correntes
nervosas resultavam de conflitos violentos entre os impulsos ou instintos naturais e as
da Psicologia. É, ao mesmo
tempo, uma teoria geral do restrições Impostas pela moral social.
psiquismo, uma
psicoterapia e um métodD As conceções freudianas, em particular sobre sexualidade e 0 castigo, adquirem popu
de investigação.
laridade muito rapidamente não só no domínio da Psicologia, como também nos meios
literários e artísticos, influenciando ainda certos comportamentos ao incentivar uma maior
libertação dos constrangimentos sociais.
Nd invehLitfdçdu du inconst lenle, Freud começou púir utilizar d hipnose, mas depressa d dbdndunou em favor de
úutrdS teeniLds, em especial, d dssuLidçãu livre de ideias e d irilerpretdçdu de sonhos.
Unidade 1 - As transformações das primeiras décadas do século XX 153
* Cubismo corrente ou Entre 1906 e 1908, as experiências de um jovem e talentoso artista espanhol chamado
escola pictórica iniciada
por Picassü e Braque. Pablo Picasso (1881-1974) e do seu amigo Georges Braque (1882-1963) estão na origem
cerca de 1907, que
representa um dos de uma nova conceção de pintura, 0 Cubismo*.
movimentos estéticos
mais importantes da arte
A primeira fase deste estilo (1909-1912) denomina-se Cubismo Analítico. Os objetos
contemporânea.
Caracteriza-se pela são decompostos em linhas e planos monocromáticos, derivados do cubo e da esfera,
simplificação e
geometrizaçãD das formas muitas vezes transparentes, inclinados, justapostos ou imbricados. Fragmentando os pla
e pela decomposição dos
objetos sem nenhum nos, 0 artista dá uma perspetiva simultânea e multifacetada do objeto em todos os seus
compromisso de fidelidade
com a sua aparência real, o contornos ou ângulos. Desta forma, 0 ponto de vista do observador já não é único e fixo,
Cubismo procura novas
mas móvel e múltiplo, apesar de traduzido por uma única imagem. Simultaneamente, a
formas de representação
dos volumes no espaço perspetiva perde importância (Hg. 11),
bidimensional do quadro,
sem d recurso à perspetiva
tradicional e à representação Os temas mais comuns são pessoas, paisagens e naturezas-mortas compostas por
naturalista. Pode-se
distinguir duas fases: objetos comuns, como garrafas, copos e instrumentos musicais. Nesta fase, as referên
1909-1912. período do
“cubismo analítico"; cias ao mundo visual são ainda bastante precisas, evoluindo gradualmente para imagens
1913-1914, período do
mentais ou concetuais do real.
“cubismo sintético".
Cerca de 1911, Braque e Picasso começam a introduzir nos seus quadros letras e
números para que pareçam menos abstratos. Depois, colam nas telas fragmentos de
papel, cartão e vidro, areia... É o início das “colagens” com a utilização de elementos até
então inéditos na pintura. Não tendo valor estético próprio, estes materiais de uso quo
Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, 0 Cubismo evolui numa outra direção: é a
fase do Cubismo Sintético que tem no pintor espanhol Juan Gris (1887-1927) 0 seu ini
tamente na imagem dos objetos, mas são Inventados ou criados para formar uma com
posição em que os diferentes elementos não conservam nada das aparências naturais.
ü objetivo não é a decomposição dos objetos, mas a expressão das suas formas
Fiç. 11 Les üemoiselles
d'Avignon [1907], de essenciais e da sua matéria, eliminando todo 0 pormenor acidental (por inútil), redu-
Picasso [Museu de Arte
Moderna, Paris]. zíndo-os a formas geométricas simples - o quadrado, o retângulo e 0 triângulo. O Cubis
Correntemente
mo tornou-se assim uma arte mais intelectualizada, mais racionalizada e, por consequên
apresentada como 0 seu
marco inicial, esta obra
cia, mais abstrata.
revela as duas grandes
influências dü Cubismo:
Cézanne [geometrização
das formas) e a arte Representantes mais importantes do movimento cubísta: Picasso, Braque, Juan Gris
africana [simplificação e e Jean Metzinger (1883-1956).
rudeza das formas].
Unidade 1 - As transformações das primeiras décadas do século XX 155
C] Expressionismo
U rturne dtjíint? rnetaíuricamerite 0 objetivo do grupo: procurar a purite que leva dü visível au invisível ou urrid porta
entre □ passado e u presenle/fuluru. Ha urna clara alraçan pelü prirriitivismo e pela recuperação de Lécnicas tradi-
cionaib/medievais.
D] Abstracionismo
* Abstracionismo; O Abstracionismo* teve o seu ponto de partida numa experiência isolada de Vassili
movimento caracterizado
Kandinsky, em 1910, ainda durante a fase do Cavaleiro Azul, e o seu grande desenvolvi
pela ausência de
referências figurativas, mento entre 1918 e 1933.
pela afirmação da
autonomia da obra de arte
da realidade visível e pela
O Abstracionismo constitui 0 termo de um percurso de rutura com a arte figurativa e
utilização de uma
linguagem plástica com as composições em perspetiva, de norma renascentista, no sentido da afirmação da
abstrata, matemática e
racional. autonomia da obra de arte face ao real. O artista propõe-se não traduzir a realidade sen
sível, objetiva ou a sua ilusão, mas sim abstrair dessa realidade uma outra produzida pelo
espírito: o objeto desaparece (ausência de referências figurativas); a obra de arte torna-
se um objeto autónomo, independente da realidade visível.
Esta libertação da arte em relação ao real é acompanhada pela utilização de uma lin
guagem plástica abstrata, fria, matemática, racional expressa na exploração da assime
tria, no jogo cromático (tons contrastantes, utilização das cores primárias e das duas “não
cores” - o branco e 0 negro) e na articulação entre as linhas conjugadas numa unidade
capaz de traduzir uma realidade oculta e mais profunda que as aparências.
E] Futurismo
O Futurismo* teve origem em Itália a partir da publicação, em 1909, no jornal Le Fígaro, * Futurismo: movimento
artístico e literário de
do Manifesto Futurista do poeta italiano Marinetti. Polémico e profético, 0 texto propõe a
índole revolucionária;
aniquilação definitiva de toda e qualquer forma de tradição, preconizando uma literatura inspirado nD progresso
científico e tecnológico düs
e artes mais condizentes com o presente, com a era das máquinas e da velocidade.
inícios do sécuId XX.
Em 1910, 0 Manifesto dos Pintores Futuristas, assinado porUmberto Bocclonl, Giacomo combatia qualquer forma
de tradição, bem comD 0
Baila (Fig. 14), Cario Carrà, Gino Severlnl e Luigi Russolo, enunciavam as grandes linhas geometrismo intelectual dos
de orientação do movimento: cubistas e 0 sensualismo
cromático düs
- o repúdio da estética tradicional, bem como do geometrismo intelectual e estático expressionistas.
dos cubistas e do sensualismo cromático dos expressionistas;
F] Dadaísmo
0 movimento artístico niilista que surgiu entre os horrores da Primeira Guerra Mun
dial, chamado Dadaísmo*, teve origem em Zurique em 1916. Precursor do Surrealismo, * Dadaísmo: [de dada, um
termo de origem obscura] -
sobre 0 qual exerceu uma influência determinante, 0 Dadaísmo nasceu, em parte, do
movimento literário e
desencanto amargo de uma geração educada na crença da bondade dos valores da civi artístico iniciado pelü
lização industrial com a brutalidade da Primeira Guerra Mundial. poeta romeno Tristan
Tzara, que preconizava
0 contexto histórico do seu nascimento ajuda a compreender a sua natureza irreve uma libertação absoluta da
arte de tudo 0 que lhe
rente e crítica. Os seus princípios teóricos explicitados em sucessivos manifestos procla
fosse exterior, a supressão
mam a espontaneidade (em francês, dada significa “cavalinho de brinquedo**), a liber total da lógica, 0 absurdo,
ridicularizando os valores
dade e a anarquia absoluta do artista: a autêntica arte seria a anti-arte. Esta atitude
estéticos, morais e
revela 0 seu propósito principal: chocar a sociedade burguesa em geral e as concepções religiosos vigentes.
artísticas instaladas em particular, pelo absurdo, pela ironia e pelo sarcasmo.
Fiç 15. Com Ruído Secreto com Francis Picabia (1878-1953) e Tzara (1896-1963), foi 0 precursor do movimento Dada.
(1916), de Marcei Duchamp
(Museu de Arte Moderna,
Estocolmo). Uma ilustração Representantes: Marcei Duchamp, Picabia, Man Ray (1890-1976) e Tzara.
do espírito anti-arte dado-
um novelo de cordel preso
entre duas placas de metal,
6] íurrealismo
gravadas com palavras e
letras desconexas
Nascido em França cerca de 1919, 0 Surrealismo*, um movimento inicialmente literá
interrompidas por pontos,
comD na linguagem morse, rio, constituiu, na linha do movimento Dada, uma reação aos valores culturais e artísti
ridiculariza a ideia de
cos das sociedades ocidentais, em particular o racionalismo e o convencionalismo.
secretismo.
Diretamente influenciado pela psicanálise e pelo bergsonismo(LD), 0 movimento surrea
* 5urrealismo: movimento lista abriu um mundo novo à criação artística: o subconsciente humano.
artístico e literário de
origem francesa, Em 1924, no primeiro Manifesto do Surrealismo, André Breton (1896-1966), um poeta
caracterizado pela procura francês atraído pela psicanálise, defende a substituição da visão racional do mundo por
de processos de expressão
do pensamento uma interpretação orientada pelo inconsciente, estabelecendo associações livres seme
subconsciente de maneira lhantes às dos sonhos ou alucinações. No entanto, o objetivo não é traduzir os sonhos,
espontânea e automática.
mas, através deles, atingir uma realidade mais autêntica, a realidade interior, e desta
forma "achar a solução dos problemas fundamentais da vida11'.
[lll] Sistema filosófico de Bergson. Valorizou d i ntuiçau contra u intelecto, defendendo que este ruo é capaz de apreen
der a realidade riu seu sentido rnais profundo.
w técnica pictórica que consiste no gotejar da tinta através de urn movimento pendular mecânico.
[s] técnica qoe consiste em colocar urna tela pintada sobre orna superfície ern relevo para, através de pressão e ras
parem, fazer surgir as marcas dessa superfície.
1.43. A arquitetura
A utilização de novos materiais de construção (aço, betão armado, placas de vidro, plás
ticos, contraplacados) e a necessidade de construir novos tipos de edifícios (gares, aero
portos, pavilhões de exposições, bairros sociais), conciliando a tecnologia industrial com a
estética quer na relação do edifício com o espaço exterior quer na relação do espaço inte
rior com o indivíduo, aliados à adoção de novos métodos de construção, influenciaram as
experiências inovadoras realizadas por arquitetos americanos e europeus (Fig. 17), na pri
meira metade do século XX.
Serão as vanguardas pictóricas a libertá-la das “formas antigas" e a iniciar uma nova
e ousada linguagem escultórica, assente no rompimento com a tradição figurativa, na sim
plificação plástica e na valorização do objeto, dos seus materiais, formas e significados
(Boccioni, Fig. 18). Brancusi (1876-1957), pioneiro da escultura abstrata, libertou-se das
aparências de superfície para revelar a beleza intrínseca dos próprios materiais utilizados.
No domínio económico-financeiro:
w Nus lb anus du reçjime republiLdriu [19IO-1926] luiive em Portugal 45 governas, sele Presidentes da Hepúbhi a, Dito
eleições presidenciais e nuve legislativas.
Unidade 1 - As transformações das primeiras décadas do século XX 161
* Reformas legislativas
- oposição conservadora - Igreja, monárquicos (organizados no movimento desig da I República:
nado por tntegralismo Lusitano), nobres e alta burguesia - está desagradada com - Abolição dos títulos,
distinções e direitos de
o caráter popular e social das reformas legislativas*;
nobreza.
- temor das classes médias do caos social, do bolchevísmo e da p role ta riz ação que - Lei do Inquilinato.
- Lei da Greve.
as leva a desejar um governo forte, capaz de impor a ordem e a disciplina sociais.
- Lei reguladora do horário
de trabalho.
Estes factos provocaram a erosão do regime republicano e precipitaram o Golpe Mili - Obrigatoriedade do Seguro
Social para acidentes de
tar de 28 de Maio de 1926, liderado pelo General Gomes da Costa, que pôs fim à 1? Repú trabalho, doença e velhice.
blica (1910-1926), um regime demoliberal, pluripartidário e parlamentar, e que abriu cami - Lei da Separação entre 0
Estado e a Igreja.
nho à Ditadura Militar (1926-1933) e ao Estado Novo (1933-1974).
- Obrigatoriedade do
casamento civil e dü seu
1.5.2. 0 movimento modernista em Portugal registo civil.
- Lei do divórcio.
- Regulação do direito dos
0 clima de crise social e política que se vivia no País nos inícios do século XX - crise
filhas.
da Monarquia, instauração da República, Primeira Guerra Mundial - não era de todo favo - Reforma do ensino e
rável ao acompanhamento das novas correntes culturais e artísticas em desenvolvimento incremento da educação
popular.
na Europa (Doc. 6).
o Documento 7 membros defendem, em geral, uma literatura e uma arte descomprometidas com quais
quer princípios doutrinários ou dogmas (Doc. 7).
D segundo grupo modernista
A revista coimbrã Presença Nas décadas de 1930 e 1940, os artistas modernistas e 0 modernismo foram utiliza
(54 números, de 1927-19401,
dos pelo Estado Novo na construção de uma imagem de ‘'modernidade” (Novo), que este
fundada por José Réçio,
Gaspar Simões, Branquinho último pretendia inculcar, uma vez que a ‘'arte viva se presta mais à divulgação das coisas”
da Fonseca [...].
e porque "a arte, a literatura e a ciência constituem a grande fachada de uma nacionali
corresponde a um certo
ambiente de ceticismo dade**, como afirmou António Ferro, do Secretariado da Propaganda Nacional.
quanto aos ideais
oitocentistas e republicanos A dinâmica do espírito de mudança da corrente modernista e a diversidade das expe
de progresso que se
relaciona com o cdapso do
riências iniciais de vanguarda diluíram-se progressivamente na doutrina conservadora,
liberalismo em 192B, e por racionalista e tradicionalista do regime.
isso os presencistas
aspiram, em geral, a uma
literatura e uma arte
C] A evolução das artes plásticas
desarticuladas, se não
mesmo alheadas, de
qualquer doutrina Pintura
diretamente interventora.
A. Jdsé Saraiva e Úscar Lopes,
Apesar de 0 Naturalismo oitocentista, sentimental e romântico, na linha de Columbano
História da Literatura e José Malhoa, figurar como tendência dominante, o movimento modernista começou a
Partuyuasu, Porto Editora,
Porto. 1975, pp. 1090-1091 manifestar-se a partir de 1911 (I República), ano em que regressaram de Paris alguns pin
[adaptado].
tores portugueses, como Dórdío Gomes (18901976) e Santa-Ríta Pintor (1889-1918), apos
tados na rutura com o academismo das artes plásticas e com uma feição eclética.
Questão
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, regressaram outros, como Amadeo de
1. Relacione, a partir dü
Souza-Cardoso (1887-1918), cujas pesquisas plásticas atravessam todos os movimentos
documento, a intervenção
dü grupo da Presença com das vanguardas, e Eduardo Viana. De entre outros grandes vultos da pintura portuguesa
o contexto político- desta época, contam-se Almada Negreiros (1883-1970), Abel Manta (1888-1982) e Maria
-ideológicD da sua época.
Helena Vieira da Silva (1908-1992).
Escultura
A escultura, tal como se verificava na pintura, era dominada pelo gosto naturalista
oitocentista e pelo génio de Soares dos Reis (1847-1889) e de Teixeira Lopes (1837-1918),
Arquitetura
da Arte Nova* que evoluiu associada ã arquitetura tradicional, apesar de inovadora nos * A Arte Nova [finais dü
século XIX - Primeira
materiais e técnicas. 0 principal elemento de identificação da Arte Nova está na decora Guerra Mundial): é um estilo
ção e ornamentação: portões, varandas e escadarias são trabalhados minuciosamente por inovador, distanciandD-se
tanto dos estilos históricos
artesãos com motivos ornamentais vegetalistas, naturalistas e curvilíneos. como do racionalismD
mecânico da arquitetura
No final dos anos 30 e década de 40, apesar da tentativa de aportuguesamento da düs engenheiros, abrindo
arquitetura, através do que foi designado como a "casa portuguesa*, de que Raul Lino caminho para 0
Modernismo. A Arte Nova
(1879-1974) foi 0 principal mentor, e dos constrangimentos que as próprias encomendas rejeita 0 historicismo e 0
(uma boa parte delas feitas pelo Estado Novo) impunham, a arquitetura moderna dá os academismo, ao procurar
na Natureza uma nova
primeiros passos em Portugal. Um grupo de arquitetos, mais ousados e sensíveis às ten
linguagem sem
dências internacionais, procuram, através da utilização dos novos materiais (ferro, vidro compromissos
historicistas, acreditando
e betão) e da adequação (simplificação e geometrização) das formas ao objetivo da fun
na utilização
cionalidade, ajustar a nova mentalidade arquitetural à realidade portuguesa. simultaneamente artística
e moderna quer das
Entre os nomes e realizações de cunho modernista mais importantes estão Cristino técnicas artesanais quer
industriais.
da Silva (1896-1976), autor do projeto modernista do cinema Capitólio (fig. 20), de Lis
boa, Pardal Monteiro (1897-1957), que projetou a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em
Lisboa, e que trabalhou com Duarte Pacheco no Instituto Superior Técnico, Carlos
Ramos (1897-1969), autor do Pavilhão do Rádio no Instituto de Oncologia em Lis
boa, e Rogério de Azevedo (1898-1983), que projetou a Garagem do Comércio do
Porto.
Em Síntese
■ A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) custou muito caru à Europa ouh melhor dizendo, à
Eurupa ocidental. Mas nãD a empobreceu apenas Pôs fim au seu papel de fábrica e de
banco dos outros continentes, afetou profundamente o comércio mundial e os sistemas
monetários e favoreceu a ascensão económica e política dos EUA que emergem como a
grande potência mundial.
■ 0 novo mapa político da Europa desenhado na Conferência de Paris [1919] pelas potências
aliadas vencedoras e as intenções pacifistas que presidiram à criação da Sociedade das
Nações (5DN) não resultaram na instauração de uma paz efetiva nas relações internacionais.
Ao invés, fizeram emergir novos fatores de instabilidade.
- Na segunda metade dos unos 20 c sobretudo nos anos 30 a radicalização ideológica, social e
política, associada às crises económicas, tensões sociais e ao medo do caos e do bolchevismo
provocaram, na Europa, a regressão do demoliberalismo e a emergência dos autoritarismos
- As vanguardas artísticas refletindo espírito de mudança na literatura e nas artes das pri-
meiiras décadas do século XX fizeram da pintura um objeto autónomo em relação ao motivo
que lhe deu origem, promovendo a construção de um novo universo plástico caracterizado
pela exaltação da cor. o desmantelamento da perspetiva e a visão intelectualista do espaço
pictórico. Apesar dos diferentes caminhos trilhados pelas vanguardas, em todas está pre
sente o sentido de rutura, de libertação e o gosto ou prazer pela inovação
- Apesar de os primeiros anos do século XX não serem propícios, cm Portugal, há uma reno
vação artística idêntica à que ocorria na Europa - instabilidade política e social [implantação
da República c Primeira Guerra Mundial] e predominância do realismo-naturalismo na pro
dução e consumo culturais -. figuras como Almada Negreiros e Fernando Pessoa, entre outras,
[ primeiro modernismo") reunidas à volta das revistas Orpheu e Portugal Futurista e, poste
riormente. a segundo grupo modernista (anos 20 e 30) associado à revista Presença projeta
ram no País as propostas revolucionárias das vanguardas europeias.
Unidade 2- O agudizar das tensões políticas e sociais a partir dos anos 30 165
SUMARIO
APRENDIZAGENS RELEVANTES
- Relacionar ds períodos de crise gerados polo capitalismo liberal com a expansão de novas
ideologias e com o reforço do intervencionismo dos estados democráticos**.
- Distinguir cultura de elites e cultura de massas, avaliando o peso das massas nas trans
formações socioculturais e identificando formas de controlo do comportamento das mesmas.
CONCEITOS/NOÇÕE5 E5SENLIAIS
foi a primeira crise do sistema capitalista. Mas este ainda não havia conhecido uma. crise
tão geral e tão durável como aquela que se verificou naquele ano (Doc. 1),
â Questão
Tendo no seu ponto de partida os EUA, a crise atingiu também a Europa e todos os
restantes continentes; um só país lhe escapou: a URSS. Foi uma crise verdadeira mente 1. Explicite o papel da
Primeira Guerra Mundial na
mundial e deixou marcas profundas em todos os domínios: do económico, ao social, polí
Grande Depressão dos
tico e cultural. anos 30.
A] Da prosperidade à crise de 1929
% dos Estados UnWcs na produção mundial - indústrias, como as do carvão e dos têxteis, jamais voltaram a atingir os
níveis de prosperidade do período da guerra, uma vez que a procura nos
mercados europeus decresceu substanclalmente;
45% 55%
{1929)
CARVÃO MÁQUINAS AUTOMÓVEIS - os agricultores, afetados pela superprodução, pela concorrência externa e
Fiç. 1. A produção industrial pela consequente queda dos preços de mercado e pelos custos de produção
dos EUA (1913-1929).
relativamente altos, viram os seus rendimentos diminuir significativamente.
G. A. Chevallaz, Histuíre
úénéruJe de 1/8‘J u nus juurs,
Lausanne, Payot, 1982. p. 294.
Por outro lado, a necessidade de manter a produção industrial e o consumo em níveis
elevados motivaram o recurso a mecanismos económico-financeiros de risco:
Estas fragilidades, até então mascaradas pelo mito da prosperidade económica con
tínua, apareceram a partir de 1927:
- os preços estabilizaram;
1 Nu Final da Primeira Luerra Mundial, us EUA eram credores da turupa e possuíam cerca de nieiade das reservas
mundiais de uuru e us seus bancos controlavam os Buxos financeiros mundiais..
Unidade 2- O agudizar das tensões políticas e sociais a partir dos anos 30 167
B] A extensão da crise
O detonador da crise, nos EUA, seria 0 crash bolsista* de 24 de outubro de 1929 * Crash bolsista [ou craque,
na terminologia
(a célebre ‘‘Quinta-Feira Negra”) na Bolsa de Nova Iorque (Fig. 2), De uma forma ainda portuguesa]: queda brutal
hoje não totalmente explicada, foram dadas ordens de venda de milhões de ações. Os pre da cotaçãD das ações no
mercado bolsista.
ços desceram vertiginosamente. Instalou-se 0 pânico entre os corretores. No final do dia,
13 milhões de ações tinham mudado de mãos. A terça-feira seguinte, dia 29, foi
ainda mais “negra”: 16 milhões de ações foram vendidas a preços irrisórios. A
descida prosseguiu pelo mês de novembro, arrastando para a ruína tanto gran
des como pequenos investidores.
A depressão alastrou dos EUA para os países industrializados espalhados pelo mundo
através dos elos económico-financeiros internacionais construídos pelo capitalismo (Fig. 3).
A Grã-Bretanha e a Alemanha são os primeiros a serem atingidos. A retirada dos crédi
tos americanos a curto prazo provocou 0 colapso financeiro de alguns dos principais ban
cos europeus - 0 Credit Anstalt na Áustria e 0 Danatbank na Alemanha. A França foi afe
res veem-se a braços com enormes excedentes de produção que não encontram
compradores. Com economias muito pouco diversificadas e dependentes e sem
meios de pagamento, a situação destes países tornou-se insustentável.
C] As implicações sociais
5000
1929 1 930 1931 1932 1933
Os efeitos da crise e a depressão não se esgotam, evidentemente, na ver
tente económica. De facto, é no domínio social, em particular no setor do
Fig. 4. Valor total dD
emprego, que adquirem maior significado para um número esmagador de indivíduos e comércio mundial
famílias. É aqui que a verdadeira dimensão dos problemas criados pela depressão e (1929-1933].
J. A. LesDurd et ul, Nuuvelle
pelos erros de política económica cometidos pelos governos na tentativa desesperada
Histuire tcunumique.
para a combater se fazem sentir com toda a força. /e XX/™ Siède. t. 2, Paris.
A. Colin, 1980, p. 83.
* Deflação: tendência para A primeira reação geral dos governos para enfrentar a depressão e tentar restabele
baixa do nível çeral dos
preços. Inspiradas no cer o equilíbrio da economia foi a deflação*. Terá sido uma reação instintiva, tanto mais
liberalismo económico e com
que estava ainda fresco na memória as crises de inflação acompanhadas de depreciações
o objetivo de facilitar a
retoma económica, as monetárias que caracterizaram os anos subsequentes à guerra. Assim, tendo como obje
políticas restritivas adotadas
no princípio dos anos 30 tivo central o equilíbrio orçamental, os dirigentes políticos como, por exemplo, Hoover
pelos estados (redução da nos EUA, Lavai, em França, e Brünlng, na Alemanha, recorreram a medidas económicas
despesa pública, tabelamento
dos preços e dos salários, deflacionistas.
subida das taxas dejuros._]
geraram deflação com efeitos No entanto, estas acabariam por ter, sobretudo no início, efeitos contrários aos espe
sociais brutais.
rados. Com efeito, o equilíbrio orçamental exigia não só a restrição das despesas públi
cas como também o aumento das receitas fiscais. Se considerarmos que se vivia numa
época de crise, facilmente se percebe que estas medidas deflacionistas, para além de
gerarem maior conflitualidade social, agravavam a própria crise, reduzindo o poder de
compra, e por conseguinte, a procura.
A] 0 totalitarismo
adota uma política económica idêntica: mobiliza vastos recursos financeiros e humanos alemã
[...] Faremos crescer uma
para a realização de obras públicas, designadamente infra estruturas de transportes e de
juventude diante da qual d
produção industrial, um enorme investimento direcionado para a redução do desemprego, mundo tremerá, lima
juventude violenta,
o incremento da indústria pesada (metalurgia, siderurgia, aeronáutica...) e o rearmamento.
imperiosa, intrépida, cruel.
Saberá suportar a dor. Nela
C] 0 culto do Chefe não quero fraqueza ou
ternura. (...) Antes de mais
Considerado como a encarnação da Nação, o chefe - 0 Duce (Mussolini), em Itália, e que ela seja atlética. (...)
Não quero uma educação
0 Führer (Hitler), na Alemanha - era considerado o guia ou 0 farol dos destinos do povo,
intelectual. 0 saber
a quem todos deviam uma obediência cega. corrompe as minhas
juventudes (...). A única
ciência que exigirei a estes
D] 0 militarismo jovens é a do domíniD
deles próprios. Eles
Para impor a ordem, a disciplina e 0 controlo dos indivíduos e das instituições, estes aprenderão a dominar d
regimes estruturaram um férreo aparelho repressivo fundado em mecanismos como a mundo.
H. Rauschnmg, Hitler m'u dil.
censura e a polícia política - em Itália, a denominada OVRA (Organização de Vigilância e
Paris, CDoperation, 1939.
Repressão do Antifascismo), e na Alemanha, a Gestapo (Geheime Staatspolizeí).
O Questão
União Soviética entre Estaline (Secretário Geral do PCUS) e Trotsky (o principal organiza
dor e comandante do Exército Vermelho).
1. Identifique três
princípios do fascismo Estaline sai vitorioso e, a partir de 1928, torna-se 0 líder da URSS e toma um con
italiano enunciados no
junto de medidas radicais com vista a retomar o caminho para o que considerava ser
documento.
uma sociedade socialista.
* Antissemitismo: forma de
racismo dirigida contra os
judeus, povo de Drigem -abandonou a Nova Política Económica (NEP) (1921-1928) e impôs a nacionalização e
semita [Semita deriva de
Sem, um düs filhos de Ndé). coletivização dos meios de produção, acompanhadas por uma feroz perseguição aos
* Eugenismo: conceito kulaks (proprietários fundiários) sujeitando-os ao trabalho assalariado ou coletivo;
(racista) fundado nD
objetivo de melhoria - organizou a exploração agrícola em kolkhozes (cooperativas de produção, trabalha
(seleção] da "qualidade" de das coletivamente por camponeses e administradas por técnicos do Estado) e sovk-
uma população.
hozes (herdades equipadas e reguladas pelo Estado e cultivadas por trabalhadores
* Genocídio (du “limpeza"
étnica]: ação deliberada assalariados, pagos ã tarefa);
cujo objetivo seja a
eliminação física de um - organizou o comércio em cooperativas de consumo e armazéns estatais;
grupo humano.
Unidade 2- O agudizar das tensões políticas e sociais a partir dos anos 30 171
fixava as prioridades nacionais, com destaque para a indústria pesada (minas, side
Os planos quinquenais
rurgia, eletricidade e química), encarada como fulcro do desenvolvimento, as metas [...] A tarefa principal dü
ou objetivos a atingir e os recursos a empenhar para um período de 5 anos; plano quinquenal é
transformar a IIRSS de um
- promoveu depurações ou purgas periódicas no interior do aparelho de Estado e no país agráriD e fraco, que
depende düs caprichos dos
PCUS encaminhando, desta forma, para a prisão e trabalhos forçados, para a morte
países capitalistas, num
ou 0 exílio nos campos ou colónias de trabalho (geridos por um organismo conhe país industrial e forte, livre
e independente (.„).
cido por Gulag) milhões de comunistas e de outros cidadãos que não simpatiza
A tarefa principal do plano
vam com a sua ideologia; quinquenal é transformar a
URSS num país industrial,
- endureceu 0 totalitarismo de um estado cada vez mais centralizado e comandado
eliminar completamente os
pela tirania do partido único, 0 PCUS, e por um forte aparelho burocrático (Nomenk- elementos capitalistas,
ampliar as formas
laturà) escudado numa poderosa polícia política (a NKVD, posteriormente KG8, um
socialistas da economia e
autêntico Estado dentro do Estado), aproximando 0 regime soviético cada vez mais criar uma base económica
para suprimir as classes
de uma verdadeira autocracia dominada pelo culto da personalidade do chefe,
sociais na URSS, com vista
Estaline. a construir uma sociedade
socialista (...) liquidando a
possibilidade de
restauração do capitalismo
Resultados: em poucos anos, o país agrário, atrasado e inculto que era a Rússia antes na URSS [...].
José Estaline. üuutrinu nu
da Revolução tinha realizado uma notável modernização: fizera-se uma industrialização URSS, Paris, 1938. p. 183.
As dificuldades económicas e sociais dos anos vinte e trinta colocaram sérios proble
mas de sobrevivência às democracias parlamentares europeias e norte-americana..
Numa primeira fase, a prioridade foi relançar a economia e lutar contra o desemprego
através de:
Fiç. B. Franklin Delanü - travagem da descida dos preços através do controlo da produção industrial e da
Roosevelt [1882-19451. redução das áreas cultivadas;
Candidato pelo Partido
Democrata, foi eleito - manutenção dos rendimentos dos agricultores, compensando-os com créditos e
Presidente dos EUA em
1932 e reeleito três vezes indemnizações;
consecutivas.
- aumento dos salários, fixação de preços mínimos e máximos;
0- Documento 5
- criação de empresas públicas.
0 New Deal
Numa segunda fase, 0 New Deal teve um caráter eminentemente social, lançando as
Pode-se observar [no New
üeal] três linhas de força: bases do estado-providência (Weifare Staté)-.
- A reorganização e 0
- 0 Social Security Act lançou as bases do sistema de Segurança Social, instituindo
relançamento de setores
fundamentais de subsídios na doença, na invalidez, no desemprego e na velhice;
atividades. A banca em
primeiro lugar a - redução do horário de trabalho e fixação do salário mínimo;
indústria (...], a agricultura
(..] a energia elétrica (..]. - fomento da habitação social e concessão de férias pagas;
os transportes (...]:
- reforço do papel dos sindicatos (National Labor Relations Act).
- Uma política visandü
repor os EUA numa posição
favorável no mercado O Welfare State estendeu-se posteriormente a outros países (Gra-Bretanha e França).
mundial: abandono do
padrãD-ouro (1933], 0 bem-estar e a melhoria económica da vida dos seus cidadãos passaram a ser conside
desvalorização do dólar [...];
rados como a base indispensável para assegurar a estabilidade da economia e das ins
- Enfim, e é isto 0
essencial do New üeal. a tituições políticas democráticas, ameaçadas pela gravidade da crise económica e social
procura de um novü
dos anos 30 e pela expansão das forças fascizantes e também para evitar novas crises
compromisso social (...).
Não se trata por certo de sociais.
derrubar d capitalismo: “Foi
a minha administração (...)
que salvou 0 sistema de
lucro privado e da livre 2.3.2. Os governos de Frente Popular e a mobilização dos cidadãos
empresa." (Roosevelt).
Michel Beaud. Hislúnu du
Lupilulthmu, Lisboa Editorial A nível interno, a resistência das democracias à escalada do totalitarismo fascista exi
Teorema, 1992.
giu, no plano político, a procura de consensos políticos, um diálogo nem sempre fácil
Contudo a resistência das democracias passou também pela união dos partidos de
Em França, □ socialista Léon Blum (1872-1950), líder da Frente Popular que coligou no
Nos países industrializados aparece, nas primeiras décadas do século XX, uma cultura * Cultura de massas: oposta
à tradicional noção de
dirigida não só às elites, mas a públicos cada vez mais vastos, que aderem progressiva
cultura, concebida comü
mente a formas de lazer facilitadoras da libertação de tensões e da agressividade da vida um fenómeno de elites,
a cultura de massas
quotidiana e que realiza 0 desejo natural de evasão. Intensidade e escape estão, pois,
afirma-se, pelo contrário,
intimamente ligados. como uma cultura dirigida
para 0 grande público, para
Desta forma, os novos prazeres do consumo característicos das sociedades industria a ação, a perceção e a
transmissão do imediato,
lizadas estenderam-se também à cultura, originando 0 fenómeno que vulgarmente é deno da novidade; heterogénea
minado por cultura de massas*. Pensada e elaborada para ser transmitida ás grandes nos seus conteúdos e
formas e de duraçãü
massas humanas na forma de bens de consumo culturais, transformou-se rapidamente efémera, caracteriza-a
uma abordagem, em regra,
numa verdadeira “indústria cultural", adotando, na sua produção, os mecanismos e obje
superficial e com escasso
tivos de qualquer outra indústria: a divisão do trabalho, a especialização e 0 lucro. rigor científico.
Na origem do êxito da cultura de massas está, para além do facto de as suas
g
IZ
nt características se ajustarem bem aos gostos e práticas sociais da vida moderna, um
3
to
ca
oportuno e eficaz aproveitamento de um conjunto de condições favoráveis:
8
È - progressivo alargamento da Instrução (Fig. 8);
“E
tf
2 - generalização de hábitos de consumo de produtos culturais proporcionados
-8 pela melhoria geral do nível de vida nas sociedades industrializadas;
0
1910 1922 1926 1930
- melhorias técnicas e canalização de investimentos para os meios de comunica
ção de ampla circulação - imprensa: livros, jornais, revistas (Fig. 9), rádio (no
Fiç. 8. Evolução dü número
de estudantes no ensino início dos anos 20) e cinema (sobretudo 0 cinema sonoro, a partir dos finais
superior nos EUA. dos anos 20) - tornaram estes produtos mais acessíveis e atrativos para um
História da Século XX, vai. 3,
Londres. Hamlyn, 1993. p. 156.
número crescente de pessoas;
- perceção pelo poder político das enormes potencialidades dos novos meios
de comunicação, nos domínios da informação e propaganda políticas.
Entre as modalidades desportivas que, nas primeiras décadas do século XX, mobili
zam maiores públicos e paixões destacam-se:
- 0 esqui na neve, originário da Noruega, conquista cada vez mais adeptos na Europa.
Transformada numa autêntica “fábrica de sonhos’’, Hollywood produz filmes para todos
os públicos: musicais, westerns, romances, comédias, desenhos animados®, histórias de
gangsters e de terror e cria os grandes mitos ou estrelas que marcam a história do
cinema dos anos 20 e 30: Charles Chaplin, Rudolfo Valentino, Shirley Temple, Greta
Garbo, Fred Astaire, Ginger Rogers e Marlene Dietrich.
J) Reinstaurados pelo barão Pierre de LouLertiri, pairtici param nus primeiras Jogos Dlímpicus da ero moderna reali
zados em ahril de IfiSfc, na nidade de Atenas, 241 atletas [masculinos] de 13 países que 1 ompetirarn em nove moda
lidades. Nus Jogos de Arnesterdau de 1920, pariii ipararn 2803 atletas de flG países. Em 1924r realizaram-se ern Cha-
rnonix us primeiros Jugos Olímpicos de Inverno.
w D combate entre Jacte Uernpsey e Germe lunriey, em 1926, registou urna receita recorde de 2.6 milhões de dólares.
N U l.n !uui de Fivnre realizou-se ern 1903, tornando-se na maior prova do ciclismo mundial.
■::l trn 19,26. Wall Diisney, dulor de filmes de desenhos animados, inuu d Figurd do Rato Mickey. 0 primeiro filme de
longa-metragem de desenhos animados com cor e sorn foi Bnanaide Neve e os Sete Anfles [1937].
As touradas e o teatro, sobretudo o teatro de revista, tornam-se muito populares e
culos taurinos; o Maria Vitória e o Variedades, no Parque Mayer, para as realizações tea
tura (livros, jornais e revistas) que o lazer, o poder de compra, a instrução e os pro
Mas os finais da década de 20 viram ainda nascer um dos inventos mais importantes
cas e económicas, só nos anos 40 se tenha imposto, o poder da imagem adquiriria nas
rapidamente sobre eles a atenção tanto do poder político como do económico. Mas este
interesse, se por um lado favoreceu os seus progressos técnicos, por outro colocou os
mete sem consciência crítica aos valores dominantes, com todos os riscos de mani
* Problemáticas sociais:
seu ponto de partida é a
2.4.4. As preocupações sociais na literatura e na arte
teoria de que os intelectuais
e artistas deviam denunciar
os males sociais e apontar Durante a década de 1930, período marcado pela Grande Depressão e pelas graves
os caminhos para uma
tensões e crises sociais e políticas que se lhe seguiram, a literatura e a arte ocidentais
sociedade mais justa e mais
pacífica. centram-se de novo na abordagem das problemáticas sociais*.
a partir dos anos 30
Com efeito, os novos materiais (aço, betão armado, placas de vidro...) e as novas cons
truções (gares, espaços de exposições e de lazer, bairros sociais...) exigiam respostas
arquitetónicas capazes de conciliar a tecnologia industrial com a estética, quer na rela
ção do edifício com 0 espaço exterior quer na relação do espaço interior com o indivíduo.
A] 0 funcionalismo
- planta livre (as divisões não são estáticas, mas formadas por finas pare
des móveis);
Fiç. 11 A Villa Snvoie [1928-
-1930], em Poissy, de Le - elevação do edifício sobre pilares ou estacas permitindo a circulação pedonal;
Corbusier, uma obra
- janela corrida contínua (constituindo uma parede de vidro que se abre totalmente
exemplar do funcionalismo
arquitetónico. e através da qual 0 espaço interior e exterior coincidem);
- cobertura em terraço (até ao qual se sobe através de uma ampla rampa, estabele
cendo uma continuidade entre os diferentes andares);
IH- Xs aulas ria tíuuíruub eram dadas por dais elementos: urn professor-artista [como P. Klee ou Kandinsky] e um téc
nico ou artesão. Por uutro lado, os alunos intervinham direiamerrie na direção da escola.
O verdadeiro Legado da Bauhaus reside não só naquilo que produziu, mas sobretudo
nas perspetivas que abriu aos processos de construção e ao ensino das artes e ofícios.
Lançando os princípios de uma união totalmente nova entre a arte e a máquina, propôs
uma abordagem global, essencial para o design, cujo principal propósito era "civilizar a
tecnologia”.