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Direito da insolvência

(apontamentos)

Artigo 604.º CC (concurso de credores)

Artigo 817.º CC

Artigo 1.º CIRE – finalidades

Artigo 20.º CIRE – dever jurídico do Ministério Público a pedir a declaração de


insolvência de uma entidade cujos interesses lhe foram legalmente confiados.

Artigo 97.º CIRE – sentido da norma é penalizar a inatividade do credor que, por saber
que tem um privilégio creditório, não reage.

Artigo 99.º CIRE – é uma limitação ao direito de compensar. Sabe-se que uma extinção
da obrigação será através da compensação (847.º CC).

Artigo 120.º CIRE – Professor Menezes Cordeiro interpreta a expressão “omissões”


como demasiado excessiva para o cenário em que se tenta demonstrar ficcionar atos.
Professor Pedro Pais Vasconcelos interpreta como sendo possível a resolução de
omissões nos atos em que, não sendo praticados, têm um efeito cominatório (atribuir um
castigo), logo, não se trataria de ficcionar atos.

Direito da insolvência é direito privado substantivo.

Declaração imediata  apresentação à insolvência pelo próprio devedor.

PER = Processo Especial de Revitalização  17.º-A – 17.º-I

RERE = Regime Extrajudicial de Recuperação de Empresas  Lei n.º 8/2018

Legitimidade para ser sujeito passivo

 Pessoas singulares;
 Pessoas coletivas;
 Patrimónios autónomos:
 Herança jacente;
 Comissões especiais;
 Condomínio resultante da propriedade horizontal?????

Processo executivo, coletivo, universal (ou genérico)


 EXECUTIVO
o Visa a realização coativa de uma obrigação (10.º/4 CPC);
o Completar com o artigo 817.º CC;
 COLETIVO
o Visa a satisfação equilibrada dos interesses de TODOS os credores de
um mesmo devedor = par conditio creditorum;
o A vantagem traduz-se na ideia de que, sendo permitidas as execuções
individuais de forma autónoma e descoordenada, existira uma
distribuição aleatória e potencialmente injusta dos recursos resultantes da
venda do património do devedor.
 UNIVERSAL
o Abrange todos os bens do devedor;
o Os bens do devedor serão, em princípio, liquidados e o produto da venda
será direcionado para a satisfação dos direitos dos credores em medida
proporcional aos seus créditos.
 ESPECIAL
o Tem carácter urgente e goza de precedência = 9.º/1;
o Corre durante as férias judiciais = 138.º/1 CPC, ex vi, 17.º

Insolvência
Impossibilidade de cumprir = 3.º/1

Situação patrimonial líquida negativa = 3.º/2


A situação de insolvência iminente é legalmente equiparada à de insolvência atual
(3.º/4).

Critério do fluxo de caixa (cash flow) – 3.º/1 = impossibilidade de cumprir

Atende à liquidez do devedor e à sua insuficiência para cumprimento de dívidas, à


medida que se vencem.

Este critério aplica-se a todos os sujeitos passivos (ver infra quem são), mesmo àqueles
que estão abrangidos pelo critério do balanço.

Aplica-se mesmo que a situação patrimonial líquida seja positiva.

Critério deverá ser observado de forma qualitativa e não quantitativa. Veja-se que pode
existir um grande número de dívidas que, contudo, não contribuam para o risco de
incumprimento. Por outro lado, pode bastar uma só dívida para indiciar uma
incapacidade financeira para o cumprimento, talvez devido ao seu montante.

Imagine-se o seguinte exemplo:

 Devedor não paga dívidas vencidas, mas o credor é beneficiário de uma hipoteca
com um valor duas vezes superior ao valor da dívida. A existência de bens
onerados por garantias (hipoteca) é suficiente para paralisar a declaração da
insolvência com base no critério do fluxo de caixa?
 A este respeito, ler o acórdão da página 9 da 3ª aula.

Critério do balanço (balance sheet) – 3.º/2 = situação patrimonial líquida


negativa

Atende à situação líquida patrimonial do devedor (ativo – passivo).

Aplica-se mesmo que o devedor consiga cumprir pontualmente as suas obrigações


vencidas.

Âmbito subjetivo limitado. Os sujeitos abrangidos por este critério são:

 Pessoas coletivas;
 Patrimónios autónomos sem pessoas singulares responsáveis pessoal e
ilimitadamente pelas dívidas === patrimónios autónomos de responsabilidade
limitada.

Fatores de correção, isto é, fatores que eliminam a aplicação do artigo 3.º/2  dispostos
no artigo 3.º/3

Pedido da declaração da insolvência


Legitimidade:

a) Próprio devedor = 18.º e 19.º


b) Pessoas legalmente responsáveis pelas dívidas do devedor = 20.º
c) Qualquer credor = 20.º
d) Ministério Público, em representação das entidades cujos interesses lhe estão
confiados = 20.º

A violação do dever de requerer a insolvência repercute-se na qualificação da


insolvência como culposa  186.º3-a) + 189.º/2 (consequências).

Sentença declarativa – 36.º = reconhecimento judicial da situação de facto da


insolvência do devedor. Constitui uma situação jurídica nova: o estado de insolvente do
devedor.

Insolvência iminente
Apresentação pelo devedor à insolvência  3.º/4

Situação em que é possível prever que o devedor estará impossibilitado de cumprir as


suas obrigações num futuro próximo, designadamente quando se vencerem as
obrigações – Catarina Serra.
Finalidades (artigo 1.º/1)
1) Satisfação do interesse dos credores;
2) Recuperação da empresa do devedor.

A satisfação do interesse dos credores parece ser a finalidade principal do processo de


insolvência.

Tramitação subsequente
1. Petição inicial  23.º ss. CIRE
2. 27.º - 29.º CIRE
a. Indeferimento; OU
b. Convite a corrigir; OU
c. Declaração imediata (apresentação pelo devedor)
3. Citação do devedor  27.º - 29.º CIRE
4. Oposição pelo devedor  30.º CIRE
5. Audiência de discussão e julgamento  35.º CIRE
6. .
a. Indeferimento; OU
b. Sentença de declaração de insolvência.
7. Reclamação e verificação de créditos / restituição e separação de bens
8. Liquidação (plano de insolvência)
9. Encerramento

_________

1) Apreensão de bens  36.º/1 – g)

Perda dos poderes de administração e disposição do devedor sobre os seus bens.


Entrega desses bens ao Administrador da Insolvência permite o não
agravamento da situação do devedor.

Administrador da Insolvência tem competência para apreender os bens


coercivamente (arrolamento) = 150.º/2 e 4.
Administrador da Insolvência vai realizar um inventário dos bens com a sua
devida descrição e valorização. Esse inventário é depois apresentado aos
credores – sendo este o primeiro momento de contacto com os credores =
155.º/2.

2) Reclamação e verificação de crédito + restituição e separação de bens +


administração e liquidação da massa insolvente

Reclamação e verificação de crédito

Credores são chamados a reclamar = 128.º


Saneamento = 136.º
Instrução = 137.º
Discussão e julgamento da causa = 138.º e 139.º
Sentença = 140.º

SANEAMENTO

É no despacho saneador que se identificam os créditos (não litigiosos). A


sentença permitirá a existência de uma lista definitiva de créditos reconhecidos e não
reconhecidos (140.º).

Posto isto, o Administrador da Insolvência vai começar a exercer os seus


poderes de administração e disposição dos bens do devedor, tendo em conta os fins
daquele processo de insolvência.

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Liquidação dos bens integrantes da massa insolvente

Esta fase inicia-se após o trânsito em julgado da sentença de declaração da insolvência e


após a realização da assembleia de apreciação do relatório elaborado pelo
Administrador da Insolvência.

Esse relatório tem um inventário e a lista de credores (com os seus créditos


verificados).

Artigo 170.º = corre por apenso ao processo principal de insolvência.


Não existindo dispensa de liquidação, então a liquidação opera = venda forçada dos
bens. A liquidação pode ser dispensada em casos de insuficiência de massa patrimonial
que fornece fundamento para não valer a pena a fase de liquidação.

A liquidação opera de acordo com o estipulado nos artigos 164.º CIRE e 811.º CPC.

Expressões-chave
O Direito da insolvência é a disciplina jurídica tendente a evitar e a resolver a
insolvência, com especial consideração pelos interesses do devedor e dos credores –
Catarina Serra.

Solvência = capacidade de um sujeito jurídico cumprir as suas obrigações.

Objetivo do processo de insolvência = liquidação do património do devedor e repartição


do produto da venda pelos credores.

Um grau de recurso – 14.º.

O Administrador da Insolvência atua por conta do devedor.

O devedor, apesar de perder as faculdades de administração e disposição, pode celebrar


negócios obrigacionais que não responsabilizam a massa insolvente.

Caso o devedor insolvente celebre negócios sobre os bens da massa, estes são
considerados ineficazes em relação a ela (massa insolvente). Massa insolvente
responderá nos termos do enriquecimento sem causa pelo que lhe tiver sido prestado.

Plano de insolvência é meramente eventual (não aplicável a pessoas singulares que não
sejam empresários – 250.º).

Pluralidade de credores não é requisito do processo de insolvência, nem condição de


procedência de um pedido de declaração de insolvência (processo executivo coletivo).
Pode haver incumprimento e não haver insolvência, como pode haver insolvência sem
existir incumprimento. Nesta última possibilidade, note-se o exemplo de se vencer uma
obrigação e ser claro que o devedor não pode cumprir (v.g. dívida de montante elevado).

Consequências civis da insolvência:

i) Fundamento para a exceção de não cumprimento = 429.º CC;


ii) Perda do benefício do prazo = 780.º/1 CC;
iii) Reforço da fiança = 633.º/1 CC.

Administradores de facto  pessoas que materialmente estejam a exercer funções de


administração, sem que para isso estejam nomeadas (v.g. fim do mandato, porém,
continuam a exercer funções de administração; administradores que foram nomeados
numa deliberação social inválida). Não são considerados juridicamente administradores,
mas estão a exercer funções da administração.

O que se pretende é a satisfação, na maior (otimizada) medida possível a satisfação dos


créditos existentes sobre o insolvente.

A insolvência pode ser qualificada como culposa OU fortuita. Sendo qualificada como
fortuita, a incapacidade para satisfazer os direitos dos credores assumir-se-á como uma
decorrência dos riscos associados ao exercício comercial, ou seja, existe uma limitação
da responsabilidade.

Se um credor não reclamar o seu crédito no devido tempo, perderá essa hipótese. A
exceção a esta regra consiste na luz do acaso em constar na contabilidade ou o devedor
assumir expressamente a existência desse crédito para ser tomado em conta pelo
Administrador da Insolvência. O normal e diligente é que o credor reclame o seu crédito
no processo de insolvência (não existe um dever jurídico. É um ónus do credor).

A reclamação de créditos pode ser realizada de forma bastante simples = 128.º =


primazia da materialidade sobre a forma.

Reclamação de créditos = processo declarativo apenso ao processo de insolvência, no


qual o lado ativo são os credores numa situação de litisconsórcio voluntário e, do lado
passivo, apresenta-se o insolvente, representado pelo Administrador da Insolvência.

Os credores da massa (=/= credores da insolvência) não precisam de reclamar os seus


créditos, visto que o CIRE lhes atribui a importância de serem pagos primeiro (172.º).
Órgãos da insolvência
 Tribunal
 Administrador da insolvência
o Nomeado pelo juiz – 52.º/1;
o Preferência revelada pelo devedor OU pelos credores – 52.º/2 + 32.º/1;
o Credores podem substituir o administrador nomeado – 53.º/1;
o Funções – 55.º
 Administrar = assegurar a conservação e frutificação dos direitos
do insolvente;
 Liquidar = preparar o pagamento das dívidas do insolvente à
custa das quantias em dinheiro existentes no património do
devedor + resultantes do seu trabalho + alienação de bens.
o Remuneração – 60.º – dívida da massa insolvente (51.º/1-b);
o Recurso a auxiliares – 55.º/3 – ver acórdão STJ página 29 da 2ª aula;
 Comissão de credores
o Órgão meramente eventual – 67.º/1;
o Composição – 66.º/1;
o Função = 68.º/1;
 Assembleia de credores
o Reunião de todos os credores numa assembleia, convocada e presidida
pelo juiz – 74.º + 75.º;
o Voto com base no montante dos créditos – 73.º;
o PREVALECE SEMPRE sobre as deliberações da comissão de credores –
80.º;
o Competências:
 Substituir o administrador nomeado pelo tribunal;
 Substituir a comissão de credores nomeada pelo tribunal;
 Revogar as decisões da comissão de credores;
 Atribuir ao administrador o encargo de elaborar plano de
insolvência;
 Aprovar o plano de insolvência.

Credores
Podem, por maioria, substituir o administrador nomeado – 53.º/1.

Massa insolvente
Abrange todo o património do devedor à data da declaração da insolvência, bem como
os bens e direitos que ele adquira na pendência do processo – 46.º/1.

Os bens absolutamente impenhoráveis (736.º CPC) estão excluídos – 46.º/2.

V.g. bens do domínio público do Estado; objetos cuja apreensão seja ofensiva
dos bons costumes ou careça de justificação económica; animais de companhia; 2/3 da
parte líquida dos vencimentos, salários.

Os bens relativamente (737.º CPC) OU parcialmente (738.º CPC) impenhoráveis


podem integrar a massa a pedido do devedor – 46.º/2.

V.g. bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica que se encontrem na


casa de habitação efetiva do executado; instrumentos de trabalho e objetos
indispensáveis ao exercício da atividade ou formação profissional do executado.

Efeitos imediatos
Transferência dos poderes de administração dos bens do insolvente para o administrador
da insolvência  81.º/1

Regime geral de ineficácia dos atos realizados pelo insolvente após a declaração de
insolvência  81.º/6

Apreensão dos bens  36.º/1 – g) + 149.º

Obrigações de colaboração, informação e apresentação  83.º

Subordinação dos créditos de que sejam titulares as “pessoas especialmente


relacionadas com o devedor”  48.º/1 – a) + 49.º/2.
Vencimento imediato (atípico) das obrigações correspondentes a entradas de capital
diferidas (v.g. entradas em dinheiro para a sociedade podem diferidas até 5 anos) +
prestações acessórias convencionadas  ambos 82.º/4.

Sendo um processo coletivo, todos os credores terão de ir ao processo para fazer valer
as suas pretensões (direitos).

Todas as ações intentadas contra o devedor serão apensadas ao processo de insolvência


 85.º/1. Prevalecerá a ação da insolvência.

Impossibilidade de instauração de novas ações  88.º/1.

Princípios e deveres
Princípio do inquisitório  A decisão do juiz pode ser fundada em factos que não
tenham sido alegados pelas partes = artigo 11.º

Princípio da concentração 

Manter a estrutura necessária até ao período de liquidação  82.º/2.

Dever de se apresentar e colaborar com o Administrador da Insolvência e com o juiz 


83.º.

Apresentação de contas pelos administradores até à data de decisão da liquidação em


processo de insolvência. Os administradores deixam de estar obrigados depois dessa
data.

Estabilização de créditos  o grande objetivo é estabilizar o passivo do devedor. A


estabilização permitirá uma determinação concreta dos créditos existentes.

Tratamento igualitário de créditos.

Classificação dos créditos


 Créditos sobre a massa insolvente = dívidas da massa insolvente  51.º
o São pagas primeiro, antes de serem pagos os créditos sobre a insolvência.
 Créditos sobre a insolvência = 172.º/1:
o Comuns
o Garantidos
o Subordinados
o Sob condição

GARANTIDOS

Beneficiam de garantias reais (hipoteca, penhor, consignação de rendimentos,


direito de retenção, privilégios creditórios especiais.

Artigo 174.º

PRIVILEGIADOS

Beneficiam de privilégios creditórios gerais.

Artigo 175.º

SUBORDINADOS

Enumerados no artigo 48.º

Artigo 177.º = somente são pagos no fim de serem pagos todos os restantes
créditos.

SOB CONDIÇÃO

Ver artigo 50.º

COMUNS

Restantes créditos que não se insiram em nenhuma das categorias anteriores.


Trabalhadores
O trabalhador continua com os mesmos deveres laborais a que está sujeito por via do
vinculo laboral estabelecido pelo contrato de trabalho.

347.º/2 = administrador da insolvência pode fazer cessar o contrato de trabalho antes do


encerramento do estabelecimento, se a colaboração do trabalhador não for indispensável
ao funcionamento da empresa.

346.º/3 = os restantes contratos de trabalho cessarão por caducidade, pelo encerramento


total e definitivo da empresa.

Se o trabalhador for considerado ESSENCIAL, é aconselhável que mantenha a


realização da sua atividade e a dívida passa a ser da massa insolvente.

Acórdãos
 STJ 2014 – uniformização de jurisprudência (nº1/2014 de 8 de maio de 2013) =
entendeu que se torna inútil de forma superveniente uma ação logo a seguir a
uma declaração de insolvência
 STJ 16 novembro de 2010 (Moreira Alves)
 Acórdão importante lavrado à luz da legislação antiga = Relação de Coimbra de
5 de Junho de 2007. Neste acórdão, trata-se de uma renúncia (ato positivo; ato
de vontade expressa) e não de uma omissão.
 Legislador dá prevalência clara da resolução em benefício da massa sobre a
impugnação pauliana (que apenas favorece o credor que interpôs a ação – 127º/3
= interpretação à letra da lei – STJ de 11 de julho de 2013 traz interpretação
diferente). A maioria da jurisprudência conclui pela natureza individual da ação
de impugnação pauliana.

Conferência da Ordem dos Advogados


Professor Alexandre Martins (Faculdade de Coimbra)

Plano de insolvência.

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Recuperar o devedor

Insolvência iminente versus insolvência atual.

Assembleia de apreciação do relatório. O juiz tem de convocar se o devedor ao


apresentar-se à insolvência, apresentou um plano de insolvência.

Apresentação do plano de insolvência implica a aplicação do 206.º - requerer a


suspensão da liquidação da massa insolvente e da partilha do produto.

197.º - perante o silêncio do plano de insolvência operam consequências.

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