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plano popular
da ZEIS BOM
JARDIM
plano popular
da ZEIS BOM
JARDIM
Clarissa Sampaio Freitas
Rogério da Costa Araújo
Mariana Quezado Costa Lima
Emília Stefany de Souza Silva
Naggila Taissa Silva Frota
Michaela Farias Alves
plano popular
da ZEIS BOM
JARDIM
Fortaleza
2019
Realização José Wesley Silva dos Anjos Apoio
ArqPET – UFC | Programa de Educação Juliana De Boni Fernandes Misereor IHR HILFSWERK
Tutorial do Curso de Arquitetura e Urbanismo Marina Guerra Diógenes Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal do Ceará
da Universidade Federal do Ceará Maria Eduarda Pinto Cândido Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Ceará
CDVHS | Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza Carolina Jorge Teixeira Guimarães
Luisa Fernandes V. da Ponte
Autores Débora Costa Sales Parceiros
Clarissa Sampaio Freitas Gabriel Duarte Vieira Centro de Cidadania e Valorização Humana (CCVH)
Rogério da Costa Araújo Vinícius Fernandes Muniz Associação dos Moradores da Comunidade Marrocos (AMCM)
Mariana Quezado Costa Lima Kedna Francis Lopes Alexandre Comissão ZEIS e Moradia Digna
Emília Stefany de Souza Silva Rede de Desenvolvimento Local Integrado
Naggila Taissa Silva Frota Colaboradores Sustentável do Grande Bom Jardim (Rede DLIS)
Michaela Farias Alves Prof. Daniel Ribeiro Cardoso Laboratório de Experiências Digitais da
Prof. Newton Célio Becker de Moura Universidade Federal do Ceará (LED – UFC)
Equipe de trabalho Ana Lívia Costa
Ana Carolina de A. Salas Roldan Aline Feitosa de Gois
Cícera Sarah Moura Farias
Francisco Lucas Costa Silva Diagramação
Germana Nunes de Oliveira Melo Michaela Farias Alves
Guilherme Pedro de Sousa Monte Kedna Francis Lopes Alexandre
Ingrid Bezerra Soares Carolina Jorge Teixeira Guimarães
ISBN: 978-85-7485-357-4
CDD 711
REDE DE
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL DO
GRANDE
BOM JARDIM
sumário
7 apresentação 89 capítulo 3
9 introdução síntese das propostas
15 capítulo 1 91 diretrizes gerais
diagnóstico comunitário 95 problemáticas e propostas
99 marrocos
17 metodologia de trabalho 107 nova canudos
19 nova canudos 115 ocupação da paz
25 ocupação da paz 123 pantanal
31 marrocos 131 proposta habitacional
37 pantanal 132 glossário
43 resultados
137 bibliografia
49 capítulo 2
diagnóstico técnico 141 anexo 1
diagnóstico diagnóstico
comunitário técnico
2018
etapa de discussão
do processo de
realização do
plano e busca por
parcerias com
moradores
12
diagnóstico
etapa de produção
de dados das
comunidades pelos
moradores de propostas
acordo com os eixos
temáticos
etapa de discussão
com os moradores
das propostas de
qualificação do
território
dades pobres e a desvalorização das experiências e gentes (como o Plano Fortaleza 2040, o PLHISFor, o 13
dos saberes locais no planejamento urbano estatal Plano Diretor Participativo e seu Zoneamento, assim
ainda persiste, a despeito do desconhecimento técni- como a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do
co dos agentes estatais sobre a cidade real. Solo revisada em 2017). Durante a apresentação dos
planos oficiais, ficava clara a necessidade de excep-
Acreditamos que as duas leituras complementares cionalizar o projeto estatal de melhoramento do ter-
(técnica e comunitária) podem contribuir para o diá- ritório, pois os moradores demonstravam não serem
logo entre os diversos agentes, afinal de contas, não atendidos com suas propostas. Isso os estimulava a
há participação sem informação. Nesse sentido, mais realizar intervenções, e questionar ou validar as so-
do que uma série de propostas de intervenções ur- luções preliminares trazidas pelo grupo da Universi-
banísticas fechadas e predefinidas, entendemos o dade. Após esses encontros, alteramos as propostas
Plano Popular como uma ferramenta de negociação, preliminares, transformando-as em propostas finais
diálogo e reivindicação de direitos de uma população (porém sempre passíveis de aprimoramento). Estas
esquecida. foram sistematizadas e trazidas para aprovação na
plenária final do dia 23 de junho de 2018.
É dessa forma que a parte propositiva do Plano, no
capítulo 3, deve ser compreendida: como o registro Cabe ainda destacar um produto importante da fase
de um diálogo e nunca como uma proposta final e propositiva do plano: o Glossário. Isto porque sentí-
definitiva. O capítulo 3 sintetiza as intervenções ur- amos necessidade de explicar uma série de termos
banísticas pactuadas com os moradores que partici- triviais entre os arquitetos e urbanistas, como “caixa
param do processo de construção do Plano. Antes viária” ou “loteamento”, que a população não enten-
de cada uma das oficinas propositivas – que ocor- dia. Assim, em vez de adotarmos um ar de superio-
reram entre maio e junho de 2018 e contaram com ridade, atitude que frequentemente identificamos no
a participação de cerca de 200 pessoas no total – discurso de alguns técnicos estatais (não todos!), de-
o grupo de bolsistas elaborou uma versão prelimi- cidimos deixar aqui um registro de alguns termos mais
nar das propostas a partir das informações reunidas utilizados num processo de discussão sobre um pro-
nas etapas anteriores, considerando especialmen- jeto urbanístico. Esperamos que ele seja capaz não
te as priorizações de investimentos definidas. Além apenas de permitir a compreensão do Plano pelos di-
de uma breve exposição dessas propostas previa- versos leitores, mas também de empoderar os atores
Figura 2 – Diagrama mente definidas para cada comunidade, os bolsis- mais vulneráveis e facilitar o diálogo.
explicativo das etapas do tas discutiam também os impactos na comunidade
plano até o diagnóstico
dos planos diretores e instrumentos urbanísticos vi-
comunitário.
capítulo 1
diagnóstico
comunitário
Brasil
16
Ceará
r. no
va co
nqu
ista
4
2
Fortaleza
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en
er
lo a
s
Grande Bom Jardim
ór
1
io
legenda
de
pa
iva
1 Nova Canudos
2 Ocupação da Paz
3 Marrocos
4 Pantanal
metodologia de
trabalho
ruas e limites
condições físico-ambientais
23
ocupação da
paz
ocupação da paz
ruas e limites
Não há equipamentos de saúde situados na Ocupa- Assim como na Nova Canudos, o caminhão de lixo
ção da Paz ou nas adjacências. Desse modo, os mora- não passa pelas ruas internas da comunidade, como
dores precisam recorrer ao Posto de Saúde Dr. Abner nas ruas Verdes Mares e Aguapé Verde. Para reali-
Cavalcante Brasil, localizado na Nova Canudos, ou ao zar a coleta, os moradores deixam os seus resíduos
Posto de Saúde Argeu Herbert, na rua Coronel João nas ruas limítrofes, como a rua D, a rua Franciscano
Correia.2 De acordo com os relatos, os dois equipa- e a rua Urucutuba, onde o caminhão de lixo passa às
mentos estão sobrecarregados e não há mais vagas, segundas, quartas e sextas-feiras. Ainda assim, os
médicos e medicamentos suficientes para atender à moradores que participaram das reuniões denuncia-
demanda total. Outro equipamento de saúde utilizado ram que, apesar da regularidade periódica da coleta,
como alternativa à lotação dos outros é o Centro de ainda há acúmulo de lixo nos dias em que o caminhão
Atenção Psicossocial (CAPS). não passa, sobretudo na rua Urucutuba, na esquina
com a rua Aguapé Verde.3
As escolas frequentadas pelas crianças e pelos jo-
vens da comunidade se situam fora da Ocupação da A Ocupação da Paz tem abastecimento de água for-
Paz. Os principais equipamentos de educação utili- necido pela CAGECE e sistema de esgotamento sa-
zados são a Creche Jardim da Criança, localizada na nitário inexistente na grande maioria dos domicílios,
comunidade Pantanal; a EMEIF Herbert de Souza, na o que resulta no aparecimento de muitos pontos
rua Urucutuba, direcionada a alunos do Ensino Fun- com esgoto a céu aberto. Esse é um dos problemas
damental I; a EMEIF Catarina Lima da Silva, na rua apontados pelos moradores como mais graves, es-
Pedro Martins, direcionada ao Ensino Fundamental II pecialmente no período de chuvas, quando as ca-
e a EEFM Julia Alves Pessoa, no cruzamento entre a racterísticas naturais do solo tendem a formar áreas
avenida Osório de Paiva e a rua São francisco, para o alagadas. Os locais marcados pelos moradores onde
Ensino Médio. A grande demanda por vagas nos equi- é mais grave o quadro de esgoto a céu aberto são:
pamentos, especialmente de ensino infantil, dificulta (1) os fundos das casas na rua Verdes Mares; (2) a rua
o acesso aos serviços públicos por causa do número Franciscano, nas proximidades do número 1191; (3) a
limitado de vagas. As creches são os equipamentos rua Aguapé Verde; (4) a travessa Valdir Gonçalves e
de acesso mais difícil. (5) o cruzamento da rua Verdes Mares com a rua Nova
Friburgo.
2 A edificação que abrigava o Posto de Saúde Argeu Herbster
sofreu um incêndio em 2017. A prefeitura construiu e inaugurou 3 Houve uma iniciativa de plantio de mudas e limpeza urbana no
um novo posto na rua Geraldo Barbosa, número 815. lugar onde se situava esse ponto de acúmulo de lixo.
diagnóstico comunitário | ocupação da paz
28 A maioria das vias é iluminada, exceto as travessas Parte dos entrevistados julga que o tamanho do quin-
e os becos, que não têm postes de iluminação públi- tal é satisfatório, assim como as dimensões das mo-
ca e dependem, portanto, da iluminação indireta das radias. Mas alguns apontaram a necessidade de se
outras ruas, insuficiente para clarear toda a sua ex- realizarem reformas para reparar problemas como in-
tensão. A travessa Aline Rodrigues é um dos exem- filtrações, má iluminação e ventilação, que causam
plos citados pelos moradores de via sem iluminação mofo, e melhorar a divisão de cômodos para atender
pública. a toda a família.
habitação
29
marrocos
marrocos
ruas e limites
As chuvas representam um problema para a popula- Segundo relatos, existem terrenos vazios no Marro-
ção que mora no Marrocos, assim como nas outras cos, mas existe apenas um campo de futebol, localiza-
comunidades. De acordo com os relatos, muitas ruas do na rua Maria Núbia Araújo Cavalcante, destacado
alagam, e, por consequência, as crianças têm dificul- como o único espaço de lazer. Os participantes das
dade de ir à escola em época de chuvas. O quadro oficinas destacaram que não há locais específicos no
de alagamentos é mais intenso na rua Franciscano, interior da comunidade para a realização de reuniões
na rua Maria Núbia Araújo Cavalcante e no entorno e outros eventos, embora exista um equipamento co-
do canal situado entre o Marrocos e a Ocupação da munitário, a Telhoça, na rua Regisvaldo França.
Paz. O solo é, em geral, do tipo “barro de louça”. O
barro extraído na comunidade era utilizado na confec- Alguns moradores colocam cadeiras em frente às
ção de telhas e tijolos por alguns moradores. Essa ca- suas casas para conversar com vizinhos na rua Fran-
racterística é mais evidente na rua Maria Núbia Araújo ciscano. Nas visitas de campo, no entanto, foi possível
Cavalcante e na rua Franciscano. Os relatos destaca- observar um campo cercado por um muro baixo de ti-
ram a existência de arborização nas ruas do Marro- jolos na rua Regisvaldo França.
cos, como na rua Franciscano.
diagnóstico comunitário | marrocos
Como não existem escolas no Marrocos, os mora- O serviço de coleta de lixo não chega às ruas internas
dores utilizam os equipamentos já mencionados em do Marrocos. O caminhão de coleta circula apenas
seções anteriores, como a EMEIF Herbert de Souza, nas ruas Franciscano e Maria Núbia Araújo Cavalcan-
localizada nas proximidades, a EMEIF Catarina Lima te, na fronteira com a Ocupação da Paz, enquanto o
da Silva, a EEFM Senador Osires Pontes e a EMEF veículo menor passa pela rua Sandra Regina Caval-
Sebastião de Abreu, que se situa no Parque Santo cante, entra nas ruas transversais, mas não percorre
Amaro. Não existem equipamentos de saúde no inte- toda a via em razão do risco de atolamento. Sobre o
rior da comunidade ou nas adjacências. Portanto, os acúmulo de lixo, a rua Maria Núbia Araújo Cavalcante
moradores locais utilizam principalmente o Posto de teve mais pontos marcados no mapa. As formas cita-
Saúde Dr. Abner Cavalcante Brasil, na Nova Canudos, das de destino do lixo doméstico foram o armazena-
o Posto de Saúde Argeu Herbert, localizado na rua mento em casa, a queima ou o despejo nas esquinas.
Coronel João Correia, o posto Jerusalém, após a ave-
nida General Osório de Paiva, e o Posto Guarani [nota: De modo semelhante, a comunidade é servida por
Guarany Mont’Alverne], na Granja Lisboa. água potável pela CAGECE e por energia elétrica
pela ENEL, apesar de haver ligações irregulares. Exis-
Em 2007, uma empresa selecionada após licitação te uma rede local de esgoto sanitário incompleta, que
pela Prefeitura de Fortaleza começou a executar um não funciona, o que resulta no problema comum ao
projeto de urbanização para o Marrocos, conquistado território da ZEIS de surgimento de valas de esgoto a
por meio do Orçamento Participativo (OP), que deve- céu aberto por todo o Marrocos, principalmente nas
ria modificar o sistema viário local e prover moradia, ruas Magnólia Melo e Maria Núbia Araújo Cavalcan-
rede de esgoto, estação de tratamento de água, cre- te. O horário de almoço foi considerado desagradável
che, centro de lazer e outros equipamentos comuni- por causa do forte odor de esgoto em algumas ruas.
tários. Em 2009, essa empresa faliu, e, em seguida,
todas as obras foram interrompidas. O lugar reserva- Os moradores apontaram ainda problemas no serviço
do para a construção de uma creche e um centro de de iluminação pública, porque existem muitos pontos
lazer foi ocupado por novas habitações. com pouca ou nenhuma iluminação à noite, como a
rua Magnólia Melo, a rua Giovana Melo Portela e a rua
sem nome, uma rua Sem Denominação Oficial (SDO),
onde não há postes de energia.
diagnóstico comunitário | marrocos
As ruas mais movimentadas da comunidade, de acor- Não há registro de edificações de uso exclusivamen-
do com relatos, são a rua Maria Núbia Araújo Caval- te comercial na comunidade, uma vez que o comércio
cante, a rua Regisvaldo França e a rua Magnólia Melo. se associa a um uso misto em que a função residen-
Acerca da insegurança, os moradores marcaram a rua cial costuma se desenvolver no pavimento superior
Aguapé Verde, na Ocupação da Paz. No entanto, con- ou nos fundos da casa. Muitas edificações abrigam
sideram a comunidade do Marrocos como um lugar igrejas, de maioria evangélica e apenas uma católica,
tranquilo de modo geral. mercados e padarias.
Figura 11 – Comunidade
Marrocos, registro das visitas de
campo. Acervo do ArqPET-UFC.
Figura 12 – Comunidade
Marrocos, registro das visitas de
campo. Acervo do ArqPET-UFC.
Figura 13 – Comunidade
Marrocos, registro das visitas de
campo. Acervo do ArqPET-UFC.
diagnóstico comunitário | marrocos
35
pantanal
pantanal
ruas e limites
De acordo com os moradores, assim como nas outras Questionados sobre a existência de terrenos vazios
três comunidades, o período de chuvas representa no Pantanal, os moradores apontaram um terreno si-
um grande problema no Pantanal por conta dos ala- tuado na rua Urucutuba próximo à rua Pedro Martins,
gamentos e das inundações, quando a água invade na Ocupação da Paz, um no cruzamento entre a tra-
as casas. Para amenizar os danos resultantes dos ala- vessa Uniflor e a rua Itu e outro no cruzamento entre
gamentos, é comum a construção de barreiras físicas a travessa Valverde e a rua Martins Carvalho. Não há
nas portas das casas com o uso de entulhos. Os par- espaços públicos, em toda a comunidade ou nas ad-
ticipantes das oficinas informaram também sobre a jacências, destinados especificamente ao lazer de
existência de um canal na rua Rosa Mística. Os relatos crianças e jovens, que utilizam, em geral, as ruas para
apontaram que a água vem do Parque Santo Amaro jogar bola e realizar outras atividades recreativas.
pela rua Itu e destacam como pontos mais críticos de
alagamento toda a extensão da travessa Alvorada, O tratamento das vias é precário, embora apresentem
com destaque para o cruzamento com a travessa Pal- melhor estado de manutenção em comparação às
mares; a rua Rosa Mística em toda a sua extensão, vias da Ocupação da Paz e do Marrocos. Apesar de
com destaque para o cruzamento com a rua Itu, e o a rua Itu ser asfaltada em boa parte da sua extensão,
encontro da travessa Valverde com a travessa Gomes o trecho interno ao Pantanal não tem pavimentação.
Passos. A única via asfaltada na comunidade, desde 2008,
é a travessa Valverde, mas os moradores denuncia-
O tipo de solo local não é adequado para a constru- ram a má qualidade do asfalto existente. Quase todas
ção de edificações em todo o Pantanal, principalmen- as ruas têm calçadas, a maioria estreita e construída
te na rua Rosa Mística. A respeito da arborização, por pelos próprios moradores, que costumam alterar tam-
causa da dimensão reduzida das vias, apenas as cal- bém o nível das vias. A rua Rosa Mística, por exemplo,
çadas da travessa Uniflor são arborizadas. Nos quin- sofreu seguidos aterramentos, de modo que o nível
tais de algumas casas, há coqueiros plantados. atual se aproxima do nível das calçadas, agravando o
problema de drenagem das águas pluviais à medida
que conduz o volume de água diretamente para den-
tro das casas.
ção. É possível perceber ainda avanços das casas datando do início do ano de 2016. No período anterior 39
existentes sobre os espaços destinados às vias e o a 2016, a coleta era feita em espaços de tempo irregu-
fechamento de pequenas travessas para uso privati- lares, o que causava confusão aos moradores quan-
vo. Questionados sobre esse processo de diminuição to aos dias de passagem dos dois caminhões. Apesar
da largura do leito viário por efeito do avanço das edi- da recente mudança no serviço de coleta, ainda exis-
ficações, os moradores relataram que não foram visi- tem pontos de acúmulo de lixo, como o cruzamento
tados por nenhum representante da prefeitura ou da da rua Urucutuba com a travessa Valverde e a traves-
Secretaria Regional V para orientá-los sobre o tema. sa Gomes Passos.
O controle desse processo de avanço das edifica-
ções sobre as calçadas e vias pelos vizinhos é tra- O abastecimento de água no Pantanal é realizado
tado como muito difícil, porque poderia resultar em pela CAGECE e o serviço de energia elétrica pela
conflitos. ENEL. Mas a falta de rede de esgoto sanitário resul-
ta no surgimento de pontos de esgoto a céu aberto,
equipamentos públicos como na travessa Palmares e no cruzamento da rua
Rosa Mística com a rua Itu, onde há um canal de es-
Não há equipamentos de saúde no interior do Panta- goto que foi construído durante a gestão do prefei-
nal ou nas suas adjacências. Nesse contexto, o posto to Juraci Magalhães e que se encontra obstruído. Por
que atende à demanda da comunidade é o posto de outro lado, o serviço dos correios chega à porta dos
saúde Argeu Herbert, localizado na rua Coronel João moradores sem grandes dificuldades.
Correia. Não existem escolas ou creches no Panta-
nal, de modo que os moradores também precisam re- A iluminação pública foi considerada precária. Embo-
correr às escolas situadas nas proximidades, como a ra algumas vias do Pantanal sejam bem iluminadas,
EMEIF Herbert de Souza. como a rua Santa Edwiges, outras são muito escuras,
como a travessa Alvorada, principalmente no cruza-
infraestrutura urbana e serviços mento com a travessa Uniflor. Os moradores afirma-
ram que não se sentem seguros, de modo geral,
A coleta de lixo é realizada regularmente três vezes dentro da comunidade.
por semana (nas segundas, quartas e sextas-feiras)
por um caminhão grande, na travessa Valverde, na No Pantanal, a passagem de carros é possível, em
rua Itu e na rua Santa Edwiges, ou pelo veículo pe- geral, apesar das dificuldades causadas pelo esta-
queno nas outras vias. No entanto, o quadro de aten- do precário e pelas dimensões estreitas das ruas,
dimento pelo serviço de coleta de lixo é recente, como na rua Palmares e na travessa Gomes Passos,
diagnóstico comunitário | pantanal
Figura 14 – Comunidade
habitação Pantanal, registro das visitas de
campo. Acervo do ArqPET-UFC.
O uso das edificações é predominantemente residen-
cial, apesar de algumas edificações terem uso misto.
A maioria dos moradores entrevistados tem casa pró-
pria, mas sem título de posse, construída sobre lote
Figura 15 – Comunidade
previamente delimitado em alvenaria com piso de Pantanal, registro das visitas de
cimento e cobertura de telhas cerâmicas. A regula- campo. Acervo do ArqPET-UFC.
rização fundiária foi uma das principais demandas
discutidas durante as oficinas, particularmente pelos
moradores que se sentem imediatamente ameaçados
de remoção por meio do projeto de alargamento da
Figura 16 – Comunidade
rua Urucutuba proposto pela prefeitura. As casas têm,
Pantanal, registro das visitas de
em geral, pelo menos um banheiro completo. campo. Acervo do ArqPET-UFC.
diagnóstico comunitário | pantanal
41
resultados
44
37% dos participantes da oficina de
diagnóstico escolheram saneamento
básico e rede de drenagem
como prioridade máxima
45
46% dos participantes da oficina de
diagnóstico escolheram criação de
novas áreas de lazer como
prioridade secundária
Figura 17 – Reunião de
apresentação da síntese
do diagnóstico comunitário,
realizada no dia 9 de
setembro de 2017. Acervo do
ArqPET-UFC.
Figura 18 – Reunião de
apresentação da síntese
do diagnóstico comunitário,
realizada no dia 9 de
setembro de 2017. Acervo do
ArqPET-UFC.
Figura 19 – Reunião de
apresentação da síntese
do diagnóstico comunitário,
realizada no dia 9 de
setembro de 2017. Acervo do
ArqPET-UFC.
capítulo 2
diagnóstico
técnico
o contexto urbano
da zeis: o grande
bom jardim
O Grande Bom Jardim apresenta uma das piores
taxas de acesso aos serviços de esgoto sanitário e
drenagem das águas pluviais, de acordo com a pes-
quisa de domicílios do Censo 2010. Essa informação
corresponde à análise do mapa das redes de esgoto
e drenagem de Fortaleza (ver figura 20). A deficiência
no acesso à infraestrutura e aos serviços urbanos se
manifesta em um lugar onde os índices socioeconô-
micos, como renda e alfabetização, situam-se abaixo
da média da cidade.
53
0 - 25 (s.m.)
Renda média 50 - 75 <1 < 1População (hab.) 2a3 2a3 1.300 - 15.0001.300 - 15.000 30.000 - 50.000
30.000 - 50.000
25 - 50 75 - 100 1a2 1a2 >3 >3 15.000 - 30.000
15.000 - 30.000 50.000 - 76.000
50.000 - 76.000
<1 2a3 1.300 - 15.000 30.000 - 50.000
1a2 >3 15.000 - 30.000 50.000 - 76.000
0 250 500m
diagnóstico técnico | quadro natural
54
55
Regiões naturais
58 Em 2012, a Rede de Desenvolvimento Local Integrado O PLHISFor identificou treze assentamentos precários
e Sustentável (Rede DLIS) do Grande Bom Jardim e a totalmente e dois parcialmente inseridos no períme-
Rede de Articulação do Jangurussu e do Ancuri (RE- tro da ZEIS Bom Jardim (figura 24). São 12 assenta-
AJAN) produziram um documento intitulado “Platafor- mentos do tipo favela, 5 situados parcialmente ou
ma de lutas prioritárias do Grande Bom Jardim”, que totalmente em áreas de risco, e 3 do tipo mutirão. No
tinha a regulamentação da ZEIS como uma das princi- banco de dados do PLHISFor, a Ocupação da Paz e o
pais exigências para garantir o acesso à terra urbani- Pantanal registram mesmo número de famílias (760) e
zada, à segurança de posse e à moradia digna. Nesse imóveis (679), o que pode configurar um erro técnico.
sentido, o documento propôs a criação de um con- Nesse sentido, a fundamentação desta análise atribui
selho gestor e a urbanização das comunidades mais 361 imóveis e 400 famílias para a Ocupação da Paz.
consolidadas da ZEIS Bom Jardim, como o Marrocos, Recalculando a projeção geral a partir dos novos pa-
a Nova Canudos e o Pantanal. râmetros, a ZEIS passa a registrar 22.830 habitantes
distribuídos em 5707 famílias e 5145 imóveis em as-
No entanto, o atraso no processo de regulamentação sentamentos precários.
das ZEIS de Fortaleza, que se vincula ao cumprimento
dos passos listados no documento, denota o histórico
de exclusão das periferias pelo poder público munici-
pal sustentado por diferentes gestões.
GRANJA PORTUGAL
GRANJA LISBOA
59
BOM JARDIM
a
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CANINDEZINHO
bairro
limite da ZEIS
0 250 500m
uso e ocupação
62 abaixo de 125m², 81% têm taxa de ocupação acima de 3% das áreas de risco abrigavam construções em 2015,
60% (figura 25). montante que alcançou 22% em 2010. A ocupação do
território que hoje corresponde ao Marrocos e à Ocu-
Em adição à análise do quadro existente, o estudo da pação da Paz seguiu esse fenômeno.
ocupação do território da ZEIS em 1995 e 2010 indica
algumas tendências de ocupação. Em primeiro lugar, Os moradores locais têm cobrado do poder públi-
na escala do lote e da edificação, verifica-se a expan- co ações para coibir novas ocupações informais em
são para áreas antes vazias, da frente para o fundo do áreas ambientalmente frágeis, sem obter sucesso. No
lote. A ocupação recorrente do percentual máximo da período de 15 anos estudado, a área ocupada no ter-
superfície do lote pelas edificações, restando apenas ritório da ZEIS dobrou, passando de 15% para 32% da
área livre mínima para usos como a secagem de rou- área total. Em outras palavras, metade da área ocu-
pas, antecede o processo de verticalização. pada em 2010 remete a esse intervalo. Alguns assen-
tamentos não existiam ou eram pouco ocupados em
O processo de autoverticalização das edificações ainda 1995, como a Ocupação da Paz, o Mutirão da Urucu-
representava uma tendência limitada nos anos estuda- tuba e o Marrocos. Esses três assentamentos apre-
dos. Se calculadas as áreas edificadas por pavimento na sentam o maior salto na área ocupada: mais de 90%
escala da ZEIS a partir dos dois recortes temporais, regis- da ocupação do território se desenvolveu entre 1995
tra-se um acréscimo de 17% no pavimento térreo, 2,5% no e 2010. Algumas das primeiras edificações da Ocupa-
segundo pavimento e 0,10% no terceiro pavimento sobre a ção da Paz, iniciada em 1995, podem ser observadas
área total edificada. Esses percentuais revelam um proces- no mapa da figura 26.
so de verticalização em curso, mas ainda pouco significa-
tivo em comparação ao processo de ocupação horizontal. Por outro lado, o Mutirão da Urucutuba já apresenta-
Em segundo lugar, na escala do assentamento, verifica-se va ruas demarcadas em 1995, mas apenas algumas
o avanço progressivo da ocupação irregular sobre áreas fundações e uma parte do edifício da Escola Munici-
ambientalmente frágeis e sujeitas a alagamentos não re- pal de Ensino Infantil e Ensino Fundamental (EMEIF)
gistrado em 1995. Comunidades inteiras já relativamente Herbert de Souza construídas, conforme os dados da
consolidadas não constavam ainda no mapeamento mos- época. Dado que a ocupação do Marrocos teve início
trado na figura 26, como o Marrocos. apenas em 2001, o território onde se instalou a comu-
nidade consistia em uma grande área verde atraves-
A edificação das áreas ambientalmente frágeis se deu sada por trilhas em 1995. No entanto, em 2010, nove
com maior intensidade entre 1995 e 2010. Segundo a anos após o início da ocupação, o Marrocos ainda dis- Figura 23 – ZEIS Bom Jardim,
lotes classificados por área.
delimitação de áreas de risco pelo PLHISFor, apenas põe de extensas áreas livres. Acervo do ArqPET-UFC.
diagnóstico técnico | uso e ocupação
63
0 250 500m
diagnóstico técnico | uso e ocupação
13
14
a
03
01
g 06
15 f 04 b 65
07
e
d
02
h c
i
05
j
k assentamentos
A - Granja Santa Cecília E - Sítio Três Marias (cont.) I - Mutirão Tia Joana
B - Jardim Paulista F - Parque Cordeiro J - Granja São Vicente
C - Sítio Três Marias G - Estrada da Urucutuba K - Planalto Santa Terezinha
D - Jardim Maria das Graças H - Parque Santo Amaro L - Jardim das Oliveiras
Assentamentos e loteamentos
0 250 500m
diagnóstico técnico | uso e ocupação
66
67
0 - 60 80 - 100
60 - 80
0 250 500m
diagnóstico técnico | uso e ocupação
68
69
Edificações
1995
2010
0 250 500m
espaços livres
72 Verifica-se uma concentração de lotes vazios em 3 Embora ainda existam amplas faixas de áreas verdes
pontos adequados para a construção de HIS: um ter- sem ocupação nas proximidades dos corpos d’água,
reno próximo ao assentamento Nova Canudos, um essas áreas não têm configuração adequada para o
segundo terreno a norte do assentamento do Panta- uso público de recreação. As áreas de lazer são es-
nal e outro na porção nordeste da ZEIS, entre a rua cassas na ZEIS Bom Jardim: há apenas três praças
Três Marias e a avenida Urucutuba. A avenida Osório identificadas, que somam 2.890m² de área, e dois
de Paiva se destaca como o principal corredor de cir- campos de futebol (sem menção aos campos priva-
culação urbana do Grande Bom Jardim, de modo que dos), que somam 3.023m², totalizando 5.913m² ou
a proximidade em relação a essa avenida é valoriza- 0,2% da área da ZEIS (figura 29).
da pelos habitantes locais, que não demostraram re-
sistência ao cenário de transferência das habitações Considerando a população atual de cerca de 30.000
precárias para novas habitações construídas nos ter- habitantes, há apenas 20 centímetros quadrados de
renos identificados. área verde (de lazer) por habitante, um número muito
abaixo do indicador recomendado pela Organização
A concentração de lotes vazios próximos à comuni- Mundial da Saúde (OMS), que recomenda, no mínimo,
dade Nova Canudos também foi indicada pelo PLHIS 12m² de área verde por habitante. Para propor novas
como área propícia para reassentamento da popula- áreas de lazer, é importante levar em conta os terre-
ção que habita áreas de risco. nos vazios existentes de acordo com as demandas
por tipo de área de lazer a ser implantada.
A questão dos vazios urbanos não pode ser analisada
apenas do ponto de vista da necessidade de terrenos
para a construção de casas, mas também conforme a
definição de áreas para recuperação ambiental, lazer
e circulação. Segundo Moretti (1997), as áreas de inte-
resse ambiental, as praças e as áreas de lazer ou prá-
tica esportiva, têm funções, tipos e dimensões muito
variadas. Nas áreas de proteção permanente (APP),
o acesso público, em especial voltado para o lazer, é
bastante limitado.
73
Curvas de nível
hidrografia
0 250 500m
diagnóstico técnico | espaços livres
74
75
0 250 500m
diagnóstico técnico | espaços livres
76
77
Terrenos vazios
0 250 500m
equipamentos e
serviços
80 área de estudo. No entanto, segundo os moradores, cursos, palestras e seminários sobre temas diversos,
o alcance prático das duas unidades de saúde é redu- como educação sexual, gênero, memória cultural, vio-
zido por efeito da pouca capacidade de atendimento. lência e criminalidade. Mesmo localizado fora dos li-
mites da ZEIS Bom Jardim, os moradores usufruem da
A distribuição espacial dos equipamentos não garan- programação cultural do CCBJ, que traz atividades de
te a boa qualidade da prestação dos serviços. Por dança, música e fotografia.
esse motivo, outros parâmetros devem ser levados
em conta, como a área do terreno, a área construí- O “trabalho de formiga” desenvolvido por centros co-
da, a população que atende diariamente e o número munitários, associações e grupos de moradores gera
de salas de aula ou leitos. A observação dos raios de novas oportunidades de fomento à cultura e acesso
atendimento, isoladamente, classifica o território da ao lazer em contraposição à negligência histórica das
ZEIS como bem servido por equipamentos públicos gestões municipais no contexto dos territórios perifé-
de educação e saúde, mas há deficiências apontadas ricos. Merece destaque o projeto Tambores de Canu-
pela população local nas oficinas e nos questionários. dos, do Centro de Cidadania e Valorização Humana
(CCVH); o Projeto Paz, desenvolvido pela Associa-
Nas entrevistas, moradores afirmaram que os dois ção Projeto Paz, que atende cerca de 150 crianças e
postos apresentam deficiências no atendimento à po- adolescentes em aulas de música e futebol; o projeto
pulação. Os principais problemas relatados foram a Jovens Agentes da Paz, do CDVHS, os trabalhos co-
falta de médicos, a falta de medicamentos e a demora munitários, formações e atividades conduzidos pela
no atendimento e no agendamento de consultas. As- Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias; o
pectos burocrático-administrativos induzem alguns Tambores do Gueto, do Centro de Defesa da Crian-
moradores a recorrerem ao serviço fornecido pela ça e do Adolescente (CEDECA); a Associação de Fu-
Unidade de Pronto Atendimento (UPA) localizada na tebol do Marrocos; o projeto “Aliança com Cristo”, que
avenida João Gentil, no bairro Granja Lisboa, distante promove atividades esportivas com jovens, o Maraca-
1,5km do limite da ZEIS (rua Coronel Virgílio Noguei- tu Nação Bom Jardim, o Ponto de Memória, a Associa-
ra). Embora essas unidades atendam prioritariamen- ção dos Moradores do Bom Jardim e a Telhoça, onde
te casos de urgência e emergência, os moradores é desenvolvido o projeto “Sim à Vida” do Movimento
optam por utilizar as UPAs porque afirmam receber de Saúde Mental Comunitária (MSMC).
atendimento mais rápido e de melhor qualidade.
O Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) é um importante Figura 30 – ZEIS Bom Jardim,
equipamentos públicos.
equipamento comunitário local onde se desenvolvem
Acervo do ArqPET-UFC.
diagnóstico técnico | equipamentos e serviços
81
Equipamentos públicos
0 250 500m
mobilidade
84 feitos com o serviço de transporte público local, prin- comunidades onde habitam cerca de 75% da popula-
cipalmente em função da linha Bom Jardim/Centro, ção da ZEIS Bom Jardim, que correspondem aos as-
que conecta o bairro à região central sem passar pelo sentamentos precários.
terminal do Siqueira.
Para classificar as vias de acordo com largura (figura
Em relação à mobilidade por bicicletas, não há esta- 31), foram aplicados intervalos em conformidade com
ções de bicicletas compartilhadas, nem ciclovias ou os critérios de desempenho propostos por Bueno
ciclofaixas no território da ZEIS. A ciclovia mais próxi- (2000), que se fundamentam sobre dois fatores: a in-
ma, localizada no canteiro central da avenida Gene- fraestrutura de esgotamento sanitário e o acesso a
ral Osório de Paiva, é intransitável para ciclistas, que serviços urbanos, como caminhão de lixo e ambulân-
passam a ocupar o leito viário, onde as bicicletas dis- cia. As vias devem atingir características espaciais
putam espaço com pedestres na falta de sinalização que facilitem a implantação de infraestrutura urbana
e diferenciação de piso. Há uma estação do projeto e o acesso a esses serviços. De acordo com Bueno
Bicicletar próximo ao terminal do Siqueira, a cerca de (2000), ruas com largura mínima de quatro metros
1,2km da ZEIS Bom Jardim. Mas os moradores recla- são mais recomendadas para o tráfego de veículos
maram da pouca quantidade de bicicletas disponíveis de serviços públicos, isto é, coleta de lixo, ambulân-
em relação à alta demanda. cia, entregas ou mudanças. A autora considera como
módulo de referência para a construção de sistema
As ruas por onde passam as linhas de ônibus (por viário com acesso de veículos um círculo 60 metros
apresentarem melhor pavimentação, maior caixa vi- de raio, o que equivale a um hectare.
ária e maior continuidade do traçado) e a rua Pedro
Martins representam as principais vias de acesso à Nesse sentido, ruas com três metros de largura são
ZEIS (figura 32). De modo geral, o sistema viário da admissíveis desde que se situem a menos de 60 me-
ZEIS tem perfil heterogêneo, mais precário no inte- tros de uma rua mais larga, de modo a facilitar o aces-
rior das comunidades. As ruas das comunidades de so do ramal de esgoto da rua mais estreita ao poço
amostra do plano, em geral, não têm caixa suficiente de visita mais próximo. A largura de três metros é lar-
para a passagem de veículos automotores em duas gura mínima atribuída para o tráfego de veículos em
direções segundo o parâmetro de 5,5m definido por geral e para a passagem de um caminhão carregan-
Moretti (1997). As vias que têm largura adequada para do a máquina de desobstrução de rede de esgoto.
permitir a passagem de ônibus podem apresentar, Para as vias de pedestres, Bueno (2000) define largu-
ainda, deficiências na pavimentação e na drenagem ra mínima de 1,5m. Essas vias, no entanto, não devem Figura 31 – ZEIS Bom Jardim,
vias classificadas por largura.
das águas pluviais. Esse quadro dificulta o acesso às ter mais de 32m de comprimento, a distância máxima Acervo do ArqPET-UFC.
diagnóstico técnico | mobilidade
85
0 250 500m
diagnóstico técnico | mobilidade
Terminal do Siqueira
a
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550m
Nog
87
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R.
Mobilidade
0 250 500m
capítulo 3
síntese das
propostas
90
diretrizes gerais
Diretrizes Gerais
Condições físico-ambientais
› proteger e restaurar os corpos d’água remanes-
Figura 33 – Plenária final do centes, o que implica propor a remoção das famí-
Plano Popular da ZEIS do Grande
lias ribeirinhas para o reassentamento em terrenos
Bom Jardim, no dia 23 de junho
de 2018. Acervo do ArqPET-UFC. vazios no interior da própria comunidade ou em
síntese das propostas | diretrizes gerais
92 porções mais altas da ZEIS. As margens liberadas deve ser implantada em seguida. A opção pela infraes-
devem ser delimitadas por calçadas com o objetivo trutura verde se justifica pela facilidade de implantação,
de conter a expansão das ocupações sobre a mata pelo baixo impacto ambiental e pelo baixo custo. As prin-
ciliar de acordo com as dimensões do córrego; cipais soluções incorporadas à proposta são as bacias de
› interligar as áreas ambientalmente frágeis e propor biorretenção e os jardins de chuva, que devem integrar
novos usos nos espaços protegidos, tendo em vista um sistema interligado aos corpos hídricos locais.
a premissa de criar um sistema de espaços livres
para o Grande Bom Jardim e aumentar a quantida- › promover a regularização fundiária seguindo as de-
de de área verde por habitante; terminações de uma planta de loteamento para os
espaços ainda não loteados, de forma a evitar a regu-
› propor arborização urbana adequada ao longo dos larização de lotes/casas em espaços inadequados à
espaços públicos e do sistema viário. ocupação, como os leitos viários e os espaços de lazer.
93
94 › orientar projetos de reforma e readaptação das edi- › projetar espaços de convívio coletivo e lazer de ta de parcelamento do solo para cada comunidade
ficações existentes via programas de assistência baixo impacto ambiental, ou como componentes da com o objetivo de definir limites entre espaços públi-
técnica gratuita aos moradores. rede de drenagem, como jardins de chuva, sobre cos e privados e normas para a ampliação das casas.
áreas alagáveis;
Equipamentos públicos e espaços livres › oferecer serviço de assistência técnica em arquitetu-
Em resumo, as principais premissas do plano são: ra para orientar as reformas das casas atendendo às
› abrir novas rotas de transporte público coletivo a demandas dos moradores.
partir da nova hierarquização do sistema viário › preservar o desenho das ruas existentes, a não ser
local: abertura de vias coletoras na rua Coronel Vir- em casos específicos em que se constate a necessi-
gílio Nogueira, rua Regisvaldo França, rua Francis- dade de melhorar as condições de mobilidade e in-
cano, rua Guaíra e rua Maria Julia, rua Ipiranga e rua fraestrutura urbana no interior das comunidades;
Francisco Machado.
› rediscutir o desenho viário proposto nos planos vi-
› substituir a construção da via arterial proposta pela gentes (PDPFOR e LUOS), de forma a propor novas
Lei de Uso e Ocupação do Solo (avenida Urucutu- rotas de ônibus e facilitar a implantação de infraes-
ba) pelo binário formado pelas ruas Pedro Martins e trutura e o endereçamento;
São Francisco.
› restringir a pressão por ocupação urbana nas áreas
› adequar sistema viário local contornando, na maior alagáveis, direcionando as novas ocupações e as
parte das propostas, a configuração dos lotes e das casas que sofrem inundações para terrenos vazios
edificações existentes, definindo uma planta de lo- próximos ou grandes terrenos vazios situados na
teamento que estabeleça a delimitação entre espa- parte mais alta da ZEIS;
ços públicos e privados, levando em consideração
o padrão de ocupação dos assentamentos, regula- › desenvolver um sistema de espaços livres destinado
rizando as vielas e os becos como logradouros pú- ao lazer da população local e à recuperação dos re-
blicos de modo a facilitar o acesso às edificações e
cursos hídricos do Grande Bom Jardim;
a circulação de pedestres;
› realizar a regularização fundiária e urbanística: emis-
› propor novos equipamentos públicos em terrenos
são de documentos das casas existentes registradas
vazios para atender às demandas específicas de
em cartório de imóveis e aprovação de uma plan-
cada comunidade;
problemáticas e
propostas
100 A seguir, as principais intervenções urbanas propos- hortas comunitárias e jardins de chuva, nos terrenos
tas para o Marrocos: vazios alagáveis na porção sul da comunidade;
› a abertura de três vias coletoras: a primeira via situ- › a construção de canteiros de jardins de chuva ao
ada no limite oeste da comunidade sobre a rua Co- longo das principais vias locais, compondo um sis-
ronel Virgílio Nogueira, como alternativa à via arterial tema que se conecta ao canal do Marrocos, ade-
proposta na nova Lei de Parcelamento, Uso e Ocu- quado às características do solo e do lençol freático;
pação do Solo (LUOS); a segunda via longitudinal,
passando pelo interior da comunidade, resultante › a adoção de tamanho mínimo de lote de 50m² para
do alargamento de alguns trechos da rua Regisvaldo futuras edificações, sem impor impedimento para
França; e a terceira via coletora, a rua São Francisco, regularizar lotes menores, e taxa de ocupação má-
que deve ser alterada para compor nova rota de ôni- xima de 80% ou, em casos específicos, recuo de 1
bus. A mudança no porte da via arterial para coletora metro da edificação em relação ao fundo do lote. O
e a adoção de um perfil viário de 12m se contrapõe à tipo de lote proposto se aproxima do padrão obser-
proposta apresentada na lei de criar um fluxo interur- vado no Marrocos, onde é comum as casas terem
bano de passagem e busca atender à demanda por quintais. De acordo com os dados coletados da
melhorias na infraestrutura viária local e no acesso às base cartográfica de 2010, percebe-se que a maior
linhas de transporte público; parte dos lotes existentes (96%) se enquadrariam
no limite mínimo sugerido de 50m2.
› a liberação das margens dos canais para a implan-
tação de um parque urbano e áreas de lazer, urba- Tabela 2 – Padrão de tamanhos de lotes no Marrocos
nizando, também, a Lagoa do Marrocos; DIMENSÕES QTDE. DE LOTES
101
síntese das propostas | marrocos
104
105
nova canudos
nova canudos
108 › criação de um parque no terreno a norte da comu- › ações de regularização fundiária e geração de em-
nidade e devida gestão dos resíduos sólidos, de prego, que constituem demandas específicas dos
forma a prover espaços de lazer, recuperação do moradores em relação ao conteúdo do plano;
ambiente natural e drenagem, para onde a água
possa ser absorvida. Sugere-se que a escola Tomas Assim, sugere-se que seja adotado um tamanho mí-
Muniz seja ampliada e passe a oferecer programas nimo de lote é de 50m2, o que incluiria 87% dos lotes
de manutenção e recuperação dos espaços livres existentes, conforme informações na tabela 2. Suge-
propostos, com a criação e preservação de hortas re-se que os demais lotes sejam levantados para que
comunitárias; sua capacidade de atender a condições mínimas de
salubridade seja avaliada.
› estender as vias coletoras que atenderão ao Marro-
cos até a rua Francisco Machado para atender aos
moradores da porção oeste da comunidade Nova Tabela 3 – Padrão de tamanhos de lotes em Nova Canudos
Canudos, que se localizam atualmente mais distan-
tes do transporte público disponível; DIMENSÕES QTDE. DE LOTES
109
síntese das propostas | nova canudos
110
111
síntese das propostas | nova canudos
112
113
ocupação da
paz
ocupação da paz
117
síntese das propostas | ocupação da paz
118
119
síntese das propostas | ocupação da paz
120
121
pantanal
pantanal
acesso para o Pantanal e as demais comunidades. Tabela 5 – Padrão de tamanhos de lotes no Pantanal
124
A continuidade da via Guaíra e sua ligação com a DIMENSÕES QTDE. DE LOTES
rua Waldemar Paes requer a desapropriação de um
terreno de formato triangular. O plano sugere que Menor que 40m² 49
os remanescentes desse terreno sejam transforma-
dos numa área de lazer pública a ser usada pelos Entre 40m² e 50m² 54
moradores da comunidade, carentes desse tipo de
Entre 50m² e 60m² 76
equipamento;
Entre 60m² e 70m² 13
› retomada das obras de esgotamento sanitário pela
CAGECE; Entre 70m² e 125m² 361
TOTAL 724
› construção de um calçadão ao longo do canal, de-
limitando o espaço público e dando continuidade à
área de lazer da Paz, o que acarretaria a remoção
de algumas casas;
125
síntese das propostas | pantanal
126
127
síntese das propostas | pantanal
128
Figura 53 – Imagem
ilustrativa do Parque do
Pantanal com proposta de
equipamento público.
síntese das propostas | pantanal
129
proposta
habitacional
proposta
habitacional
39
unidades expansíveis
proposta de implantação em
uma das quadras vazias.
. . . .
. . . .
" "
2 quartos 4 quartos 3 quartos e loja Duas famílias 2 quartos 4 quartos 3 quartos e loja Duas famílias
132 Área Institucional Infraestrutura Verde
Uma área pública pertencente ao Município, Estado Sistemas que buscam soluções ecológicas, econômi-
ou União, destinada à colocação de equipamentos, cas e sociais que promovam o melhoramento da na-
como escolas, creches ou postos de saúde. tureza e das pessoas.
glossário
previamente e se infiltre no solo com velocidade e vo- no que não cumpre a função social da propriedade ao
lume adequados, diminuindo o risco de inundações. longo do tempo forçando a aplicação de algum uso.
Hierarquização Viária
Definição da função de cada rua de uma cidade. Clas-
sificação das vias de uma cidade conforme os usos,
intensidade do trânsito e função.
Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS) Orçamento Participativo 133
Normas que definem como uma edificação deve se Instrumento que permite o cidadão debater e definir
comportar dentro de um lote, o quanto ela deve se os destinos de uma cidade, decidindo as prioridades
distanciar dos muros, a altura máxima permitida, entre de investimentos em obras e serviços a serem reali-
outras regras. zados a cada ano, com os recursos do orçamento da
prefeitura.
Lençol Freático
Água que se acumula embaixo da terra.
Plano Diretor Participativo (PDPFOR)
glossário
Logradouro É o Plano Diretor Participativo de Fortaleza, um con-
Espaço público e aberto como praças, jardins, hortos, junto de princípios e regras, elaborados a partir do
passeios etc., mantidos pela municipalidade para be- diagnóstico da realidade do município, que norteiam
nefício da população. a futura organização espacial dos usos do solo urba-
no, das redes de infra-estrutura e de elementos fun-
Lote damentais da estrutura urbana. É ele que define a
A porção de terra que pertence a cada família ou função social da propriedade.
grupo de famílias; é um exemplo de espaço privado.
Plano de Loteamento
Mata Ciliar O desenho que define como deve ser a delimitação
É a vegetação localizada nas margens dos cursos entre os espaços públicos (vias, praças) e as áreas
d’água, responsáveis por sua proteção. Funcionam ocupadas por cada morador (lote).
como os cílios dos olhos, impedindo a chegada do
lixo ao leito do rio.
134 Regularização Fundiária Via Local
Reconhecer o direito de posse ou propriedade do Destinadas a atender o tráfego local, normalmente
lote de cada família por meio de documentos legais, reduzido e lento, são vias de acesso às residências
ou seja, dando o papel da casa. e devem ter um tratamento adequado, priorizando a
circulação dos pedestres, bicicletas e prevendo-se a
Sistemas de Espaços Livres inclusão dos deficientes físicos através de rampas e
Espaços livres são áreas que não são edificadas; apoios. São exemplos de Vias Locais: rua Guaíra e
podem ser públicos ou privados. O plano se preocupa rua Padre Francisco Araquém..
principalmente com os públicos. Um sistema de espa-
glossário
ços livres é a interação entre eles. ZEIS
As Zonas Especiais de Interesse Social são uma das
Via Arterial zonas definidas pelo Plano Diretor. São áreas do ter-
Destinadas ao atendimento dos principais desloca- ritório destinadas à moradia digna, predominante-
mentos de média e longa distância na cidade, rea- mente para a população da baixa renda por meio de
lizam a articulação entre municípios e entre bairros, melhorias urbanísticas, recuperação ambiental e re-
exercendo primordialmente a função canalizadora de gularização fundiária de assentamentos precários
transportes coletivos ao interligar vias de grandes ex- e irregulares, bem como à provisão de novas Habi-
tensões e fluxo intenso ás vias coletoras. São exem- tações de Interesse Social – HIS e Habitações de
plos de Vias Arteriais: rua Urucutuba e rua Cel. Virgílio Mercado Popular – HMP a serem dotadas de equi-
Nogueira. pamentos sociais, infraestruturas, áreas verdes e co-
mércios e serviços locais, situadas na zona urbana.
Via Coletora
Destinam-se principalmente a coletar e distribuir o
trânsito das largas vias e avenidas principais para as
ruas locais ou comerciais de menor porte, facilitan-
do a movimentação de uma região a outra. Servem
como rota de transportes coletivos pela sua capacida-
de de abranger grandes porções do interior dos bair-
ros. São exemplos de Vias Coletoras: rua Franciscano
e rua Pedro Martins.
135
bibliografia
bibliografia
MAPAS TEMÁTICOS
mapas gerados durante as oficinas de diagnóstico comunitário
0 250 500m
142
0 250 500m
143
0 250 500m
144
0 250 500m
145
0 250 500m
escola
creche
posto de saúde
0 250 500m
Figura 59 – Mapa de
equipamentos equipamentos
públicos. Escala: 1/15000.
Acervo do ArqPET-UFC.
anexo 2
anexo 2
QUESTIONÁRIOS
resultados dos questionários respondidos nas oficinas de diagnóstico comunitário
147
16 questionários respondidos na Nova Canudos
148
anexo 2
LEVANTAMENTOS
149
0 5 10m
Figura 60 – Modelo de questionário elaborado
pelos bolsistas do ArqPET-UFC.
9 788574 853574