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Voltaire Schilling
Os sintomas não deixavam dúvida a ninguém. Atacada por um febrão de 40°, a vítima
sentia crescer na virilha ou na sua axila um forte inchaço que logo assumia a forma de
um doloroso furúnculo do tamanho de um ovo ou de uma maçã. Insônia e delírios
pavorosos complementavam o mal, fazendo com que o infeliz temesse tanto o sono
como o despertar. No segundo ou no terceiro dia da incubação da peste, com o corpo
tomado por bubões e caroços, sua pele assemelhava-se a de um leopardo com manchas
pretas espalhadas por todo o corpo. Daí chamarem a epidemia de Peste Negra ou Peste
Bubônica. Ardendo como um condenado aos tormentos, ele sentia-se como se “ na ante-
sala dos fogos do inferno”.
Tudo começara na Ásia. A pandemia da peste bubônica, talvez seguindo a Rota da Seda
que cruzava a Eurásia inteira, fora trazida para a Europa por uma pequena esquadra
genovesa que tinha negócios na península da Criméia, no Mar Negro.
Os registros indicam que o pequeno porto de Kaffa ( a atual Feodossia), uma das
feitorias comerciais dos italianos naquele mar estivera, no mesmo ano de 1347,
submetido a um sítio pelos mongóis da Horda de Ouro, que então dominava boa parte
da Rússia. Impacientes com a resistência dos habitantes, os sitiantes furiosos teriam
catapultado para dentro dos muros da cidade os cadáveres putrefatos de alguns dos seus
mortos. Não demorou a dar resultados o que alguns historiadores apontam ter sido um
dos primeiros ataques - ainda que embrionário e primitivo - , da guerra bacteriológica.
Os moradores de Kaffa começaram a cair nas ruas como se foram moscas. Naquelas
circunstâncias, sem terem consciência de que podiam estar infectados por aquele
estranho mal que enegrecia a pele dos caídos, os marinheiros genoveses alçaram as
velas para retornar à Itália. Ancoraram primeiro em Constantinopla e, em seguida, já
abalados pelo efeito epidêmico, rumaram para o porto de Messina na Sicília. Foi então
que deu-se o desembarque maldito.
Cada um dos ratos de bordo trazia oculto nos pelos uma impressionante carga de pulgas
(Xenopsylla Cheopis), as principais assassinas, portadoras do bacilo mortal, (cuja
identificação somente ocorreu, 550 anos depois, em 1894, graças ao pesquisador suíço,
o Dr. Alexandre Yersin, chamando-se desde então de bacilo de Yersin). O bacilo,
aclimatando-se tanto no estômago da pulga, como nas veias do rato, era transmitido aos
humanos ou aos animais tanto pela picada de um, como pela mordida do outro.
O que gerou aquela espantosa matança foi o infeliz encontro de dois tipos de epidemia,
a bubônica com a pneumônica. A primeira expandia-se pelo sangue, gerando os bubões
nas ínguas e as ulcerações pelo corpo, a outra invadia os pulmões, destruindo-os,
provocando a expectoração sangrenta, sufocando a vítima no seu próprio catarro. O
verão era a estação preferida da bubônica, o inverno era-o da pneumônica. Sob o sol era
a vez do bulbo matar, na névoa fria era a hora dos lobos pulmonares dissolverem-se.
Atravessado o estreito de Messina, a peste fez então sua sinistra festa por todo o sul da
Itália. Aquelas coisinhas insignificantes, agindo em conjunto - o Rattus rattus
associados às pulgas, insetos quase invisíveis, pondo de joelhos o orgulho dos
humanos - , iriam matar mais gente do que todas as guerras até então travadas entre os
europeus.
A enorme foice da Morte Negra afiou dois gumes para o grande abate: um deles, com o
fio voltado para o norte da África, partindo da Sicília ou de Constantinopla, dedicou-se
a decepar os habitantes de Alexandria, do Cairo, de Túnis, de Argel, de Oram, de
Tânger, e do Marrocos, saltando dali para as ilhas de Maiorca e, pelo estreito de
Gibraltar, para dentro da península Ibérica. Trajeto esse todo ele descrito pelo grande
historiador árabe Ibn Kaldun, que tinha 17 anos na ocasião em que a Praga matou-lhe os
pais.
O sul da Espanha foi então devastado: de Córdoba na Andaluzia, até Barcelona tudo
ficou de pernas para o ar. O reino da Catalunha perdeu quase todo o seu Conseil de
Cent, a assembleia dos cem, e quatro dos cinco consellers, os seus principais
magistrados. Indica ainda J.A. García de Cortázar, entre os anos de 1300 a 1480, o
sumiço, apenas na área de Barcelona, de uns 290 mil habitantes.
O outro dos seus gumes, empunhado pela mão descarnada da morte, foi levado Europa
adentro por duas outras vias, provocando idêntica dizimação. Enquanto uma delas
assolava o caminho de Calábria à Roma, e desta para Florença, onde ela começou a
servir-se na primavera de 1348, a outra, partindo de Marselha, no sul da França ( que
ingenuamente deixara os barcos pestíferos ancorarem no seu cais, no dia 1º de
novembro de 1347, ironicamente dedicado à Festa dos Mortos), rumou para o interior
do pais mais povoado da cristandade.
O reino da França, já naquela época, graças aos seus ricos trigais alimentava de 18 a 24
milhões de habitantes. Partindo, pois, de Messina na Sicília e de Marselha no sul da
França, em apenas um ano a pestilência , subindo para o norte, disseminou-se por
grande parte da Europa.
As danadas das pulgas, sempre seguindo as rotas comerciais, terrestres ou marítimas,
democraticamente espalharam a desgraça da qual eram portadoras. Foi por mar que a
Praga chegou no porto de Bordeaux, na costa atlântica da França, de onde, num só
fôlego, atingiu mais ao norte as terras dos reis Plantagenetas na Normandia, no Calais e
na Inglaterra.
Nas ilhas britânicas, a Black Death , a Morte Negra, fez sua adentrada tétrica pelo
dique de Weymouth, no dia 7 de julho de 1348, indo liquidar com meio mundo em
Londres. Insaciável, também por mar ela chegou ao porto de Bristol, então a segunda
maior cidade do reino, matando 10 mil habitantes, alastrando-se em seguida para Gales,
Escócia e Irlanda, onde a pestilência reinou soberana até 1350.
Robert de Avesbury registrou na ocasião: “Aos que foram marcados não foram
permitidos mais do que três ou quatro dias de vida. Ela não fez favor a ninguém , a não
ser a punhado de ricos. Num só dia 20,40, 60 corpos, em muitas ocasiões, eram
enterrados todos juntos no mesmo fosso.”
Naquela altura do ano, o número de vitimados era tão impressionante, tão atordoante,
que os sinos das igrejas e das capelas se calaram. Em muitos lugares, para não abalar
ainda mais o moral, as autoridades simplesmente proibiram o dobre de finados. Em
Siena, na Itália, ordenaram que ninguém perambulasse em trajes negros ou com um
fumo de luto preso nos braços. Enquanto no alto das torres e dos frontões, nos castelos
ou nas cidades, onde antes via-se as flâmulas ou os brasões coloridos dos barões e dos
duques, avistava-se flutuando apenas uma solitária bandeira preta anunciando o luto
coletivo de uma cristandade perplexa, atemorizada e em pânico. Nunca se vira nada
igual aquilo.
O médico do Papa, o doutor Guy de Chauliac, que passou seis semanas em coma
vitimado pelo mal, procurando explicar a Clemente VI as diferenças entre as doenças
epidêmicas em geral com a Peste Negra, disse: “ Essas não ocupam senão uma só
região, aquela espalha-se pelo mundo inteiro; essas são remediáveis a qualquer um,
aquelas não...todo os doentes morrem, exceto alguns que conseguem recuperar-se
quando os bubões se abrem.”
Foto: Reprodução
Ricos e pobres
Se bem que na época os pobres lamentassem suas numerosas perdas - muitos deles
acreditando piamente que a pestilência era uma trama dos mandões e dos ricaços para
que todos os plebeus fossem para o inferno - enquanto os endinheirados escapavam,
refugiando-se em suas herdades no campo, onde melhor se protegiam de qualquer
estranho ou recém-chegado, pode-se dizer que Peste Negra foi ao seu modo uma
catástrofe igualitária. Gente poderosa também sucumbiu.
Um rei de Castela, Afonso XI, e uma futura rainha da França, Bonne de Luxemburgo,
mãe dos dez filho de Jean II, o Bom, foram derrubados pela Grande Ceifeira, padecendo
ulcerados, purulentos e agoniados como qualquer comum, caso idêntico ao ocorrido
com dois ex-chanceleres ingleses e três arcebispos de Canterbury. Igual foram alvo os
notários, os sacerdotes, os médicos, e todos os profissionais que tinham que lidar com o
público, como foi o caso de 20 dos 24 médicos de Veneza. Para grande consternação do
rei Felipe da França até seus arrecadadores de impostos apodreceram nas estradas.
A festa da morte também foi grossa nos mosteiros e nos conventos. Cidades fechadas,
circunscritas pelo claustro, construídas pelas ordens religiosas como uma imitação e
uma antecipação da vida no Paraíso, onde se passava o dia cantando louvores a Deus,
tornaram-se num matadouro dirigido por Satanás. O irmão de Petrarca, um frade de um
mosteiro, enterrou todos os seus companheiros, só restando ele dos 35 que lá viviam.
Em Montpellier, por exemplo, só 7 frades, num total de 140 dominicanos, escaparam
da morte. Em Marselha, todos os 150 franciscanos foram chamados de uma vez só aos
céus, o mesmo dando-se com 27 monges da Abadia de Westminster. Na região do
Perpignon, na Espanha, dos 125 notários que existiam sobraram só 45, dos dez médicos
somente um continuou vivo, e 16 dos 18 barbeiros-cirurgiões morreram da Peste.
Nem o papa Clemente VI, que afirmara o trono de São Pedro na bela Avignon, no Sul
da França, escapou de incomodar-se. Quando as mortes atingiram a 400 pessoas por dia,
entre 1348-9, na então capital da cristandade, ele foi removido para um lugar distante,
montanhoso, para aguardar o mal enfraquecer. Se mesmo o representante de Deus na
Terra era perseguido assim, imagine-se o restante.
Caso curioso de sobrevivência deu-se com quatro ladrões comuns que ficaram
encarcerados num lugarejo francês durante o surto maligno, sendo os únicos a serem
encontrados vivos graças ao isolamento e a terem se protegido borrifando-se com
vinagre, cheiro forte que afastou deles as pulgas.
A falta de higiene
Tamanho descalabro não podia ser diferente visto as péssimas condições de higiene
vigentes na Europa medieval. Descendentes dos povos bárbaros, dos godos, dos
lombardos, dos alamanos, dos borguinhões, dos francos e saxões, que invadiram as
antigas províncias romanas, os europeus viviam de maneira bem pouco saudável. Todo
o antigo sistema sanitário romano, inclusive o latrinário, fora destruído. Os aquedutos,
os canais de esgotos e as preciosas termas, templos erguidos ao asseio, construídos nos
velhos tempos pelos prefeitos, procônsules e imperadores, foram delapidados pelos
invasores que, com aquelas pedras já talhadas, ergueram fortins ou castelos para
protegerem-se contra os inimigos.
Nas cidades e nas vilas medievais não havia nenhuma profilaxia que pudesse precaver
os habitantes contra epidemias ou algum tipo de limpeza pública eficaz, tanto é assim
que cabia às varas de porcos - com seu apetite voraz – o serviço de faxinarem tudo.
Eles também, ao ingerirem os restos tocados ou usados pelos pestilentos, sucumbiram
em massa, aumentando mais ainda a exalação de insuportáveis miasmas. Durante o dia
inteiro, das portas, do alto das sacadas ou das janelas, era um sem parar de jogar baldes
e bacias cheias de tudo o que se possa imaginar bem no meio da rua.
Gente de pouco banho e quase nenhum esmero com as coisas da higiene, os europeus
medievais, fedorentos, rançosos, quando não sarnentos, eram por si sós um chamariz
ambulante para atrair as pulgas e os ratos. Explica-se pois o motivo dos médicos terem
utilizado naquela ocasião uma máscara com um imenso bico de pássaro, debaixo do
qual colocavam essências aromáticas afim de neutralizar os odores medonhos que os
sufocavam quando atendiam os infelizes em locais fechados. A peçonha era tão
virulenta que acreditavam que era possível ser-se contagiado por um simples olhar.
Ação que mais serve para afirmar a impotência das autoridades perante o mal, foi uma
determinação do rei da França: lembrando-se da Peste que dizimara Atenas no tempo de
Péricles, relatada por Tucidides (História da Guerra do Peloponeso), Jean II, o Bom,
depois de ter ordenado uma salutar limpeza nas ruas de Paris, mandou que aspergissem
vinho sobre as sarjetas!
Mulheres morreram em maior número do que os homens, suspeita-se por ficarem mais
em casa, sujeitas às picadas dos insetos que traziam a Pasteurella pestis, o mortal
bacilo, e também porque seus maridos e filhos usavam botas , o que os protegia melhor
dos ataques das saltadoras. Quem melhor se safou da dizimação, que no final matou um
terço dos europeus, foram os montanheses, justamente por viverem longe dos
amontoados urbanos e por levarem uma existência bem mais saudável. Tanto é assim
que as fatalidades na Suíça foram de bem pouca monta.
Testemunhos
Petrarca, outro testemunho, escrevendo ao irmão, o único frade que sobreviveu num
mosteiro depois de enterrar os 34 irmãos que lá viviam, maldizia ainda estar vivo para
ter que presenciar, impotente, aquilo tudo, o horror infinito que muitos no futuro,
prognosticou ele, acreditariam ser uma fábula de mentes delirantes e não algo que
acontecera realmente.
Meu irmão! Meu irmão! Meu irmão!, É um começo de uma carta também usado por
Marco Túlio Cícero 14 séculos atrás. Alás meu irmão, que poderia eu dizer? Como
eu deveria começar? Por onde emocionar-me? Há sombras em todos os lados e em
todo os lugares paira o medo. Eu gostaria, meu irmão, de não ter nascido ou então de
ter morrido antes desses tempos. Como poderá a posteridade acreditar que mesmo
sem os relâmpagos do céu ou os fogos da terra, quando o bom tempo predominava
sobre todo o globo, ele quase ficou sem seus habitantes. Um tal tipo de coisa jamais foi
ouvida ou vista antes; em qual dos anais leu-se alguma vez que as casas ficaram
vazias, as cidades desertas, os condados abandonados, o espaço totalmente diminuto
frente à morte e o receio da mais completa solidão sobre toda a Terra? ...Oh feliz
povo do futuro, que não conhecerá tais misérias e que tomará nosso testemunho como
se fosse uma fábula.
(Carta de Petrarca ao seu irmão Gerardo, único sobrevivente de um mosteiro em
Monrieux, na França, datada em 1348)
Nenhum laço de solidariedade humana era capaz de atar alguém ainda saudável perto
de um afligido no seu estertor, esganado pela pestilência, dando-lhe de beber ou
acalentando-o com uma prece. Nem lágrima havia para condoer-se do moribundo.
Convertidos à misantropia, ninguém mais ajudava um arquejante, nem familiar, nem
criado. Até os animais de estimação, por roçarem-se nos donos, morriam aos magotes.
Andar pelas ruas era um risco e um sacrifício. Logo, os poucos atrevidos traziam junto
às narinas plantas aromáticas para atenuar a fedentina dos restos insepultos e do lixo que
se acumulava por toda a parte.
Florença ficou quase que deserta pela fuga dos que ainda podiam andar. Não
caminhavam muito, pois a pestilência os emboscava na primeira curva da estrada.
Então debatiam-se, contorcendo-se na mais completa solidão, não tendo o consolo de
um só olhar de comiseração que fosse. No campo não era diferente. Sem o vaqueiro ou
o pastor, todos mortos, os bichos sucumbiam ao abandono ou de fome em razão da
forragem não lhes era mais oferecida. As estrebarias ficaram atulhadas de belas éguas
e garanhões mortos. Em apenas cinco meses, de maio a setembro de 1348, registrou
Boccaccio, cem mil vidas, em Florença e nas cercanias, foram tiradas pela pistelenza,
como os italianos a denominaram.
Rogos, preces, promessas e penitências, carpir os mortos em dobro, invocar São Roque,
o protetor dos lazarentos, nada minorava o implacável destino que estava reservado às
populações vergastadas pela pestilência. Ao contrário, qualquer ajuntamento pretendido,
a mínima formação de um punhado de fiéis para reclamarem dos céus os rigores da vara
de Deus, matava mais gente ainda. Calcula-se que dos 1.200.000 peregrinos que foram a
Roma para celebrar o Ano Santo de 1350, somente cem mil deles restaram vivos.
O próprio papado tratou de proibir as grandes procissões dos dias santos e liberar os
moribundos da extrema unção. Aquele “extermínio da humanidade”, pareceu a
MatteoVillani um outro Dilúvio, onde o povo ao invés de afogar-se, sufocava em suores
pestíferos.
Para tanto, imaginando purgarem-se das suas transgressões, despojando-se das suas
impurezas cobertos de cinzas, com pescoço enfiado em nós de forca, murmurando e
gemendo ladainhas sem fim, chicoteavam-se de um modo muito cruel. Nas tiras do
relho pendiam pontas de ferro que, ao lacerarem as suas próprias costas, arrancavam
nacos de carne e esguichos de sangue, dando a eles uma aparência impressionante,
tenebrosa, de almas perdidas.
Desordens e perseguições
Não demorou, relatou Norman Cohn ( Na Busca do Milênio), para que os integrantes
da Irmandade Flagelante provocassem desordens, desaforando o sacerdócio, assaltando
as moradias dos ricos e perseguindo os judeus, acusados de envenenarem a água dos
poços e das cisternas. Sim, porque a Peste Negra também serviu como pretexto para a
mais violenta onda de antissemitismo até então vista, mais violenta do que aquela outra
dos tempos da Primeira Cruzada, do século XI, e somente superada pela desencadeada
pelos nazistas no século XX. Na península Ibérica, o clima de relativa tolerância que até
então imperava entre mouros, cristão, e judeus, ao longo da Idade Média, foi-se de vez
rompido pelo furor dos fanáticos.
Quando a Praga por fim arrefeceu, no final do ano de 1351, saciada por tanta gente que
mandara para os fundos escuros da Terra, encerrando aquele império da dor e do
lamento que se estendera por cinco anos, as elites medievais européias, com a fé
profundamente abalada pela devastação sofrida, inclinaram-se por temas mórbidos, por
querer empilhar caveiras nas capelas e decorar os interiores com tíbias e ossos, por
organizarem “danças da morte” e outras loucuras do gênero. Histórias de assombrações
e pavores do além deram para fazer parte do gosto dos que sobreviveram à hecatombe
da Peste Negra, ainda estonteados pelo milagre de estarem de pé, vivos, depois daquele
horror todo. Não se sabe quantos deles dali em diante, seguiram os conselhos de um
monge inglês que, em poucos versos, recomendava:
“Aquele que está inteiro, livre da enfermidade/ E resistiu ao golpe da pestilência/ que
se alegre e deixe de lado todas as tristezas/
Que fuja do ar maligno e evite a violência/ que beba o bom vinho e coma carnes
saudáveis/ que caminhe pelo ar limpo e evite a nuvem negra “