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ABSTRACT The aim of this study was to explore the perception of users and professionals of
the Family Health Strategy about the Family Health Support Center (Nasf ). It is a qualitative
research, with semi-structured interview and focus group, from the perspective of content analy-
sis. The professionals demonstrated knowledge about the Nasf, but difficulty to conceptualize
the devices of the proposal. Users, although do not recognize the nucleus by name, value and
describe the work well, in the perspective of access and quality of care. Perceptions suggest that
the proposal is recognized and valued by the population and that it is necessary to strengthen the
practices of permanent education and matrix support among professionals.
1 Universidade Federal KEYWORDS Primary Health Care. Family health. Comprehensive health care. Health services.
de São Carlos (UFSCar),
Programa de Pós- Public health policy.
Graduação em Gestão da
Clínica – São Carlos (SP),
Brasil.
geovani.gurgel@gmail.com
2 Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp),
Programa de Pós-
Graduação em Saúde
Coletiva – São Paulo (SP),
Brasil.
dayanakso@yahoo.com.br
SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 41, N. 115, P. 1090-1101, OUT-DEZ 2017 DOI: 10.1590/0103-1104201711508
Estudos com relação a experiências de apoio dos profissionais foi feita devido ao fato de inte-
matricial são encontrados frequentemente na grarem equipe de referência e trabalharem no
área de saúde mental, nos quais são apontados Nasf. Foram convidados 24 profissionais, 1 de
aspectos positivos desta prática nas Unidades cada equipe das 4 UBS selecionadas, dos quais
Básicas de Saúde (UBS) e em equipes de saúde 18 aceitaram realizar a entrevista. O ponto de
mental, tais como: melhor integração entre saturação das informações coletadas foi levado
equipe; visão de melhora da assistência por em consideração no estudo.
parte dos profissionais de saúde; e maior facili- A seleção dos usuários foi realizada de
dade no atendimento e para encaminhamentos modo intencional, a partir da indicação de
(ONOCKO-CAMPOS ET AL., 2012). Porém, no caso dos cada profissional entrevistado, priorizando
Nasf, ainda existe escassez na literatura sobre o envolvimento do usuário no cotidiano da
experiências concretas de ações relacionadas UBS, ou caso ele fosse líder comunitário e
ao apoio matricial. participativo na UBS. Foram indicados 12
Por essas razões apontadas, estudar a usuários, convidados para o grupo focal, em
proposta do Nasf em todas as suas nuances dia e horário marcado, em um local na co-
e dimensões se configura como uma neces- munidade, porém apenas 6 compareceram e
sidade perante a qual este artigo se coloca, participaram da pesquisa.
construído com base em parte dos resul- Em função dos números, foram realiza-
tados da pesquisa de mestrado realizada a das entrevistas semiestruturadas com os
partir do Programa de Saúde Coletiva, da profissionais, e grupo focal com os usuários
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), selecionados, aplicando roteiros diferentes.
com o objetivo de analisar a percepção de O roteiro de entrevista foi dividido em duas
usuários e profissionais de UBS da família na partes: a primeira, envolvendo dados pes-
Zona Leste do município de São Paulo (SP), soais do perfil dos profissionais; a segunda,
sobre o processo de trabalho do Nasf. com questões relativas ao processo de tra-
Acredita-se que a percepção dos profis- balho do Nasf. O grupo focal foi norteado
sionais de saúde e usuários pode favorecer por um roteiro de debate também dividido
o conhecimento de aspectos do trabalho em duas partes: a primeira, referindo-se ao
que vem sendo desenvolvido pelo Nasf, bem perfil dos usuários; e a segunda, abordan-
como apontar possibilidades e contribuir em do discussão coletiva quanto aos diferentes
seu processo dinâmico de construção. serviços de saúde, a relação deles com os
serviços e o entendimento sobre serviços e
profissionais de saúde.
Metodologia Para o registro das entrevistas e do grupo
focal, foi utilizado o aplicativo Easy Voice
Tratou-se de um estudo exploratório e des- Recorder®, do Tablet Samsumg Galaxy® 7,
critivo, com abordagem qualitativa, realiza- e observação livre. A identificação dos par-
do em quatro UBS do bairro de Guaianases, ticipantes da pesquisa foi realizada pela se-
na Zona Leste do município de São Paulo guinte codificação: ‘P’ para os profissionais
(SP), no período de outubro a dezembro de entrevistados e ‘U’ para os usuários do grupo
2013. Os critérios de inclusão foram: possuir focal, que foram numerados de acordo com
Nasf no serviço e ser unidade sede da equipe a ordem de realização da entrevista, para os
Nasf de referência. profissionais, e com a ordem da fala durante
Os sujeitos pesquisados foram os profis- o grupo focal, para os usuários. Essa identifi-
sionais de saúde de nível superior da equipe cação também foi utilizada na apresentação
mínima (médico ou enfermeiro) e usuários dos resultados e na discussão deste estudo.
cadastrados das UBS selecionadas. A inclusão Para a apreciação dos dados, utilizou-se
ainda são pouco conhecidas pela maioria dos para o aumento da referência ou de encami-
profissionais da ESF, bem como, por alguns nhamentos novos a outros serviços. No estudo
dos integrantes do Nasf. de Silva et al. (2012), profissionais de saúde (ESF
Na prática do Nasf, deve ocorrer a compre- e Nasf ) relatam que o Nasf precisa potencia-
ensão do que é conhecimento nuclear do es- lizar a APS, ampliando as ações das equipes,
pecialista e do que é conhecimento comum e além de articular com as redes de saúde, otimi-
compartilhável entre a equipe da ESF (equipe zando os fluxos de referência e contrarreferên-
de referência) e o referido especialista. A cia. Ajudar as equipes a evitar ou qualificar os
equipe de referência é considerada essencial na encaminhamentos faz parte das competências
condução de problemas de saúde dos usuários do Nasf (BRASIL, 2014). As falas a seguir evidenciam
do serviço e deverá acionar o apoio quando per- a prática de apoio matricial ainda na lógica do
ceber dificuldades em lidar com alguns casos fortalecimento dos encaminhamentos, suge-
(BRASIL, 2010). Segundo Matuda (2012), o profissio- rindo que o Nasf deve funcionar para referen-
nal da ESF considera a importância da equipe ciar os casos discutidos, e reforçando que a
de apoio através da ampliação das possibilida- prática realizada, apesar de condizente com a
des de atuação e pelo conhecimento adquirido proposta da ferramenta, ainda se volta predo-
na interação com o outro, quando reconhece minantemente para solucionar o gargalo do
e incorpora seu papel na responsabilização atendimento secundário.
dos casos. Neste sentido, alguns profissionais
mostraram conhecimento sobre o conceito do Apoio matricial é me orientar como ter acesso
apoio matricial, trazendo uma definição mais a todas as redes e saber direcionar o que é de
ampla, a partir da aquisição de novos conhe- quem. (P13).
cimentos, contribuindo para outras opções de
atuação na prática: Então, a gente faz esse matriciamento direta-
mente com eles, pra poder referenciar, se possí-
Apoio matricial, eu entendo que são situações, vel. (P15).
assim, específicas, na qual eu não tenho domínio.
Então, são profissionais que tem conhecimento Outra ferramenta de trabalho proposta
que eu não tenho e que vêm colaborar o meu tra- para o Nasf é a clínica ampliada, que deve
balho, enriquecendo meu conhecimento e dando funcionar como norteadora do intuito de
ferramentas, né? Trazendo ferramentas para que atuar de forma integral e desfragmentada,
eu possa trabalhar. (P4). visando melhorar a qualidade do serviço
ofertado (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2010). Lima (2013)
Apoio matricial é quando o profissional vem na confirma que as ações do Nasf, bem como
unidade, quando um especialista da área vem da ESF, devem visar à qualidade e à resolu-
ajudar a gente a entender alguns processos e dei- bilidade, aspectos esses que regem a clínica
xar a gente capacitado para estar atendendo al- ampliada. Além disto, Matumoto (2011) indica
guns problemas [...] que a gente antes não tinha que os enfermeiros conseguem enxergar o
condições de estar avaliando. (P12). fazer clínico de formas diferentes a partir do
entendimento da clínica centrada no usuário,
O apoio matricial sugere uma lógica de contemplando a prática da ferramenta.
corresponsabilização territorial que vem, ao Apesar de fazer parte da Política Nacional
contrário do método tradicional de encami- de Humanização (PNH), a clínica ampliada
nhamentos indiscriminados, buscando maior parece não ser conhecida pelos profissionais
resolutividade (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2010). Para entrevistados, pelo menos, enquanto defini-
Andrade et al. (2012), as ações de apoio devem ção. Foi percebida confusão no entendimen-
diminuir os encaminhamentos e não contribuir to do conceito, tornando-a restrita ao acesso
Acho que, basicamente, é questão de troca de em relação à sigla ou ao seu significado. “Eu
receitas [...] e isso aí, o Nasf não precisa fazer. ouvi falar, mas não me profundei ainda” (U1).
(P12). “Eu não sei, nunca ouvi falar” (U4). “Não sei
mesmo o que é” (U3).
Esse resultado espelha o encontrado em um Para Souza et al. (2013B), existe o reconhe-
estudo realizado em Fortaleza (CE), no qual os cimento das atividades realizadas pelo Nasf,
profissionais do Nasf apontaram que as ações mesmo quando estas não são associadas ao
da ESF eram voltadas, predominantemente, nome da proposta. Legitimando as conside-
para a assistência baseada em protocolos con- rações do autor acima, as falas a seguir de-
solidados (OLIVEIRA; ROCHA; CUTOLO, 2012). monstram o reconhecimento das categorias
Conforme Lima (2013), as ações realizadas profissionais do Nasf, tais como nutricionis-
entre os profissionais de Nasf se assemelham tas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais
com as atividades desenvolvidas entre Nasf e fonoaudiólogos, de forma atuante na UBS,
e ESF, e devem visar à clínica ampliada, a pois os usuários frequentam atividades de-
partir do atendimento compartilhado e da senvolvidas por estes profissionais.
intervenção interdisciplinar, com troca de
saberes, capacitação e responsabilidades [...] Falei da nutricionista porque eu perguntei
mútuas, gerando conhecimento para todos pra ACS [Agente Comunitária de Saúde] [...] e
os profissionais envolvidos. Considerando ela falou para ele participar de um grupo que tem
que a ESF encontra-se em um panorama aqui, de segunda-feira [...]. (U4).
fortemente influenciado pelo modelo bio-
médico e se propõe a romper com tal modelo [...] por exemplo, crianças que têm problema
assistencial, este segue sendo um grande de fonoaudióloga, têm grupos que atende [...].
desafio para a construção da nova prática (U2).
(VIEGAS; PENNA, 2013).
A participação nas atividades do Nasf
Percepção dos usuários também não é impedida pela falta de com-
preensão da definição ou sigla, porém pode
Os resultados e a discussão apresentados comprometer a articulação entre as ações
abaixo emergem a partir do estudo com o realizadas e uma proposta de saúde, no
grupo dos usuários, que se centrou em torno futuro (SOUZA ET AL., 2013A). O discurso abaixo
da percepção dos mesmos acerca de sua relata a participação do usuário em duas
relação com o Nasf. atividades distintas do Nasf, porém, para
O estudo de Souza et al. (2013B) evidenciou ele, parece não importar quem são e/ou de
que os usuários não reconhecem a equipe onde são esses profissionais de saúde. Esta
Nasf pela sigla. No entanto, existem pesqui- ‘não identificação’ do Nasf pode ser espe-
sas nas quais os usuários atribuem as ações rada, se for pensada sob a perspectiva da
do Nasf à melhoria da qualidade de vida, transdisciplinaridade.
mas, nesses casos, a coleta de dados foi rea-
lizada imediatamente após os sujeitos parti- [...] Na segunda-feira, às 10 horas da manhã, eles
ciparem das atividades do Nasf (NÓBREGA, 2013; fazem as coisas pros idosos, lá. É terapia ocupa-
SOUZA ET AL., 2013B), possivelmente, facilitando o cional. [...] pra quem também tem problema de
reconhecimento da equipe. tendinite, artrite, artrose, essas coisas. Eu partici-
Quando da realização do grupo focal, pava também na fisioterapia. (U3).
sobre o que entendiam das atividades do
Nasf, observou-se que os usuários partici- Tentando definir o trabalho do
pantes relataram total desconhecimento Nasf, dois usuários arriscaram e
acabaram confundindo-o com alguns servi- matricial, o que sugere que, apesar do en-
ços de atenção domiciliar que são ofertados tendimento sobre a ferramenta, sua prática
na região pesquisada pelo SUS, ou por con- ainda não está consolidada enquanto rotina.
vênios privados de saúde. A presente investigação também mostrou
imitações acerca do conhecimento mais
O Nasf é aquele [...] que eles levam as aparelha- aprofundado sobre a clínica ampliada, ob-
gens para fazer o tratamento em casa [...] ao in- servando pouco ou nenhum embasamento,
vés de ficar no hospital, eles ficam em sua própria por parte dos profissionais da ESF. Estes
residência [...]. (U1). aspectos relacionados ao entendimento de
conceitos e práticas de trabalho sugerem
Seria mais um home care? [...] quando as pesso- um investimento em educação permanente,
as precisam de fralda, colchão ou alguma coisa com as equipes no cotidiano do trabalho, que
especializada? (U3). pode ser realizado pela própria equipe Nasf.
Em relação aos usuários, o Nasf não foi
Os dados revelam a percepção dos usuá- reconhecido pela sigla, mas houve relatos
rios frente à importância da ação multidis- sobre participações em atividades realizadas
ciplinar na qual estão envolvidos, porém na UBS por profissionais do Nasf. Esta ‘não
também afirmam que falta divulgação de tais identificação’ nominalista, por parte dos usu-
atividades (SOUZA ET AL., 2013B). Para Souza et al. ários, pode ser esperada caso seja pensada
(2013A), fica clara a necessidade de divulgação, sob a perspectiva da transdisciplinaridade.
para a comunidade, do atendimento multi- E permite especular que, para a população,
profissional, cuja cobertura ainda é pequena. o mais importante talvez seja como os ser-
viços de saúde se apresentam em termos de
acesso e qualidade do cuidado, especialmen-
Conclusões te na perspectiva multiprofissional, sendo
menos importante o nome que esses serviços
Uma vez que a saúde da família representa recebem dos arranjos gerenciais ou progra-
uma estratégia prioritária para a reformu- mas governamentais criados para induzir e
lação do modelo assistencial, com o intuito estruturar políticas públicas.
de fortalecer a atenção primária, no País, e A comparação da percepção dos profissio-
garantir a universalidade e a integralidade nais com a dos usuários, sobre o Nasf, sugere
no cuidado à saúde, a incorporação de outros que a proposta idealizada é reconhecida e
profissionais, através do Nasf, fez-se neces- valorizada pela população, talvez mais até
sária para expandir as ações em saúde na do que pelas próprias equipes de saúde. Um
ESF e contribuir para uma maior resolutivi- serviço multidisciplinar voltado à atenção
dade na APS. básica tem impacto na percepção dos in-
Em relação à percepção dos profissionais divíduos por ser uma lógica diferenciada.
da ESF sobre o Nasf, o entendimento da Entretanto, as ações necessitam ser cons-
lógica de trabalho a partir do apoio matri- tantemente fortalecidas (SOUZA ET AL., 2013A).
cial, do compartilhamento de saberes e das Neste sentido, parece recomendável um in-
práticas, ainda que polimorfo e pouco apro- vestimento maior no fortalecimento da pro-
fundado, já representa um aspecto positivo, posta de trabalho do Nasf, com as equipes de
pois supõe que o Nasf conseguiu transmitir saúde, especialmente enfocando os aspectos
essa visão às equipes de ESF. Por outro lado, conceituais e operativos da educação perma-
sobre as atividades desenvolvidas pelo Nasf nente e do apoio matricial, reforçando os dis-
na UBS, não houve a menção de ações re- positivos da clínica ampliada e estimulando
lacionadas ao matriciamento, ou de apoio os arranjos organizacionais que expandam
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