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09 de julho de 2019
Controladoria-Geral da União - CGU
Secretaria Federal de Controle Interno
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO
Órgão: MINISTERIO DA JUSTICA
Unidade Examinada: Departamento Penitenciário Nacional
Município/UF: Brasília/Distrito Federal
Ordem de Serviço: 201802068
Missão
Promover o aperfeiçoamento e a transparência da Gestão Pública, a
prevenção e o combate à corrupção, com participação social, por meio da
avaliação e controle das políticas públicas e da qualidade do gasto.
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POR QUE A CGU REALIZOU ESSE
QUAL FOI O TRABALHO?
TRABALHO Em 2015, o STF, por meio da ADPF nº 347,
REALIZADO reconheceu o quadro de violação massiva e
persistente de direitos fundamentais no
PELA CGU? Sistema Prisional e determinou o
descontingenciamento dos recursos do Funpen.
Esta Avaliação dos Resultados
O modelo de transferência de recursos via fundo
de Gestão (ARG) foi realizada
a fundo, objeto de avaliação neste trabalho, foi
no Departamento
estabelecido com o objetivo de reverter a
Penitenciário Nacional
situação do sistema.
(Depen) e em 24 Unidades da
Federação, junto aos gestores
dos recursos repassados via
fundo a fundo nos Estados e QUAIS AS CONCLUSÕES
dos gestores de 87 unidades
prisionais, e teve como objeto
ALCANÇADAS PELA CGU? QUAIS
a avaliação do novo modelo AS RECOMENDAÇÕES QUE
de transferências de recursos DEVERÃO SER ADOTADAS?
via fundo a fundo para o
sistema prisional, criado a A partir dos exames realizados é possível
partir das Medidas Provisórias afirmar que: não existem mecanismos
nº 755/2016 e nº 781/2017, a reguladores suficientes que assegurem que
qual posteriormente foi todas as áreas de gestão do sistema prisional
convertida na Lei nº consideradas relevantes sejam contempladas
13.500/2017. O trabalho foi com os recursos do fundo a fundo; o
executado por meio da arcabouço normativo estabelecido para a
realização de reuniões, modalidade fundo a fundo prevê parcialmente
entrevistas e aplicação de a estruturação institucional necessária à
questionários, com o objetivo garantia tanto da implementação célere e
de obter evidências que criteriosa dos recursos, quanto da
permitissem à equipe de responsabilização pela sua gestão; o nível de
auditoria apresentar suas execução dos recursos repassados é baixo, em
conclusões quanto à contraposição à esperada celeridade do
adequabilidade do modelo modelo; há um baixo direcionamento de
em termos de capacidade de recursos para áreas prioritárias, como
contribuir para a reversão do ações/projetos de promoção da cidadania e
quadro atual de falência do reintegração social, monitoração eletrônica de
sistema prisional e também pessoas e alternativas penais; constam
quanto à esperada celeridade fragilidades no âmbito das ações e
na utilização dos recursos instrumentos de planejamento.
recebidos.
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7
RECOMENDAÇÕES 52
CONCLUSÃO 54
ANEXOS 59
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INTRODUÇÃO
O presente relatório apresenta os resultados da auditoria de avaliação realizada sobre
o Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) – gerido pelo Departamento Penitenciário
Nacional (Depen), órgão integrante do Ministério da Justiça e Segurança Pública – com
o objetivo de avaliar a adequabilidade da modalidade de transferência obrigatória de
recursos aos entes federativos, também denominada modalidade “fundo a fundo”,
instituída pela Lei nº 13.500, de 26 de outubro de 2017.
Dentre os pedidos deferidos pelo STF no acórdão proferido na referida ADPF, houve a
determinação para que a União liberasse o saldo acumulado do Funpen para utilização
com a finalidade para a qual foi criado, abstendo-se de realizar novos
contingenciamentos.
Assim, essa nova sistemática de transferência foi introduzida com a finalidade principal
de conferir maior celeridade à execução dos recursos do Funpen, de modo a reverter as
péssimas condições penitenciárias reconhecidas pelo STF no âmbito da ADPF nº 347.
Visto que até o momento já foram realizados três repasses anuais pela nova modalidade
criada – nos exercícios de 2016, 2017 e 2018 – o presente trabalho de auditoria tem
como objetivo avaliar se a sistemática de transferência de recursos via fundo a fundo do
Funpen, da forma como está definida, tem gerado os resultados pretendidos de
agilidade e flexibilidade na execução dos recursos, contribuindo para a modernização e
o aprimoramento do sistema prisional brasileiro. Para tanto, foram definidas as
seguintes questões e subquestões de auditoria:
2.1. Uma vez realizados os repasses aos entes federativos, os recursos foram
utilizados de maneira célere, proporcionando os meios necessários às atividades
e programas de modernização e aprimoramento do sistema prisional?
2.2. Os recursos transferidos via fundo a fundo têm sido direcionados para ações
voltadas aos problemas considerados prioritários por estudos e pesquisas sobre
o sistema prisional brasileiro?
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unidades regionais da CGU junto aos gestores dos sistemas prisionais dos estados e
Distrito Federal.
Acerca da materialidade dos recursos destinados à modalidade fundo a fundo, constam,
na Lei Complementar nº 79/1994, os percentuais que a União deve repassar anualmente
aos entes federativos a título de transferência obrigatória, os quais devem ser aplicados
à dotação orçamentária do Funpen somente após excluídas as despesas de custeio e
investimento do Depen. Assim, foram definidos os seguintes percentuais: i) até 31 de
dezembro de 2017, até 75%; ii) no exercício de 2018, até 45%; iii) no exercício de 2019,
até 25%; e iv) nos exercícios subsequentes, 40%.
Ressalta-se, por fim, que os trabalhos foram realizados em estrita observância às normas
de auditoria aplicáveis ao Serviço Público Federal e que nenhuma restrição foi imposta
à realização dos exames.
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RESULTADOS DOS EXAMES
QUESTÃO DE AUDITORIA 1: O modelo de repasse fundo a fundo criado pela Lei nº
13.500/2017 apresenta-se adequadamente construído e capaz de reverter o quadro
de falência do sistema prisional?
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Com o objetivo de sintetizar a exposição dos temas pesquisados, optou-se por apenas
mencionar, nos próximos parágrafos, os principais resultados e conclusões da pesquisa.
O detalhamento e o desenvolvimento dos temas, das fontes e dos dados coletados
podem ser consultados no Anexo II deste relatório.
A partir da frequência e da relevância dos temas, a equipe elegeu oito grandes grupos
de problemas, sendo eles: superlotação; precariedade das instalações físicas de
unidades prisionais; insuficiência na prestação de assistências e na oferta de trabalho
aos presos; fragilidades relacionadas aos agentes penitenciários; entrada de objetos
proibidos nos estabelecimentos penais; atuação e fortalecimento das facções
criminosas; insuficiência na separação dos presos conforme espécie e grau de
periculosidade; e dependência química e consumo de drogas nas unidades prisionais.
A partir da exposição dos problemas, que constam detalhados no Anexo II, verifica-se
que há uma grande interligação e retroalimentação entre eles, de modo que a
problemática do sistema prisional deve ser tratada de forma holística, com a adoção
concomitante de ações dirigidas às diferentes áreas de gestão do sistema.
Ainda assim, dois desses problemas se destacam devido não somente à sua relevância
intrínseca, mas por estarem intimamente vinculados a problemas de outras naturezas.
Trata-se da superlotação e da insuficiência na prestação de assistências e na oferta de
trabalho. Conforme apontado, verifica-se que a superlotação contribui para que não
haja a correta separação dos presos, para o fortalecimento das facções criminosas e para
o consumo de drogas no interior das unidades prisionais, além de ser um fator que
contribui para a própria insuficiência na prestação de assistências e na oferta de
trabalho.
A baixa oferta de assistências e de trabalho, por sua vez, também contribui para o
fortalecimento das facções criminosas e para o consumo de drogas, além de contribuir
diretamente para a reincidência penitenciária, o que, por sua vez, retroalimenta a
superlotação carcerária. Nesse sentido, destaca-se que as assistências, conforme a LEP,
devem “prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade”.
Nesse contexto, também há que se destacar que o próprio objetivo da execução penal,
segundo dispõe a LEP, consiste não somente na efetivação das disposições da sentença
ou decisão criminal, mas também na promoção de condições para a harmônica
“integração social do condenado e do internado”. Assim, para alcançar esse objetivo, as
assistências que o Estado deve garantir aos presos no âmbito material, da saúde,
jurídico, educacional, social e religioso, além da oferta ao trabalho, mostram-se de
extrema importância.
Cabe observar que as iniciativas que visam solucionar os problemas do sistema prisional
estão na alçada de diferentes atores, envolvendo as três esferas da Federação (União,
estados e municípios) e os três poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário).
A própria sociedade também possui um importante papel nesse contexto, visto que os
apelos sociais tendem a influenciar os rumos de muitas decisões de governo que
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impactam nas políticas públicas. No caso específico do sistema prisional, é notório que
existe uma grande resistência por parte da sociedade em aceitar investimentos de
recursos públicos em ações que busquem melhorar as condições de vida de pessoas
privadas de liberdade.
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Atividades - Art. 3º da LC nº 79/1994
IV - aquisição de material permanente, equipamentos e veículos especializados,
imprescindíveis ao funcionamento e à segurança dos estabelecimentos penais
V - implantação de medidas pedagógicas relacionadas ao trabalho profissionalizante do preso
e do internado
VI - formação educacional e cultural do preso e do internado
VII - elaboração e execução de projetos destinados à reinserção social de presos, internados e
egressos, inclusive por meio da realização de cursos técnicos e profissionalizantes
VIII - programas de assistência jurídica aos presos e internados carentes
IX - programa de assistência às vítimas de crime
X - programa de assistência aos dependentes de presos e internados
XI - participação de representantes oficiais em eventos científicos sobre matéria penal,
penitenciária ou criminológica, realizados no Brasil ou no exterior
XII - publicações e programas de pesquisa científica na área penal, penitenciária ou
criminológica
XIII - custos de sua própria gestão, excetuando-se despesas de pessoal relativas a servidores
públicos já remunerados pelos cofres públicos
XIV - manutenção de casas de abrigo destinadas a acolher vítimas de violência doméstica
XV - implantação e manutenção de berçário, creche e seção destinada à gestante e à
parturiente nos estabelecimentos penais, nos termos do § 2º do art. 83e do art. 89 da Lei
nº7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal
XVI - programas de alternativas penais à prisão com o intuito do cumprimento de penas
restritivas de direitos e de prestação de serviços à comunidade, executados diretamente ou
mediante parcerias, inclusive por meio da viabilização de convênios e acordos de cooperação
XVII - financiamento e apoio a políticas e atividades preventivas, inclusive da inteligência
policial, vocacionadas à redução da criminalidade e da população carcerária
No caso de repasses a municípios, a Lei dispõe que os recursos devem ser aplicados
especificamente no financiamento de programas destinados à reinserção social dos
presos, internados e egressos, ou de programas de alternativas penais.
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Quadro 03 – Atividades passíveis de financiamento pela modalidade fundo a fundo do
Funpen – Portarias nº 1.221/2017 e nº 225/2018
Portaria nº 1.221/2017 - Art. 5º
Inciso
Tipo de
Atividades do art.
despesa
5º
Monitoração eletrônica de pessoas II
Integração e modernização dos sistemas de informações penais IV
Somente
Fortalecimento de participação e controle social VII
custeio
Capacitação dos trabalhadores do sistema penal IX
Estudos e pesquisas sobre política penal X
Somente Construção, reforma, ampliação e aprimoramento de
I
investimento estabelecimentos penais
Modernização e aparelhamento de estabelecimentos penais III
Promoção de cidadania da pessoa presa, internada e egressa V
Custeio e
Alternativas penais VI
investimento
Políticas de diversidade e garantia de direitos das mulheres no
VIII
sistema prisional
Portaria nº 225/2018 - Art. 5º
Tipo de
Atividades
despesa
Somente
Todas as atividades listadas no art. 3º da LC nº 79/1994 (Quadro 02)
investimento
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XVII - financiamento e apoio a políticas e atividades preventivas, inclusive da
inteligência policial, vocacionadas à redução da criminalidade e da população
carcerária.
Por outro lado, a Portaria nº 1.221 definiu uma atividade que não possui
correspondência direta na LC nº 79/1994, qual seja, “fortalecimento de participação e
controle social”. No entanto, o Depen informou que, na ocorrência de solicitações, por
parte das unidades federativas, de alocação de recursos em ações destinadas à
participação e ao controle social, tem sido possível enquadrá-las nos incisos VI ou VII do
art. 3º da Lei Complementar nº 79/1994 em razão das características dessas ações.
Ainda assim, é preciso ressaltar que essa situação suscita o risco de que recursos
repassados na modalidade fundo a fundo sejam executados sem a observância da
conformidade legal, visto que poderia ocorrer a aplicação de recursos em determinada
atividade que, embora prevista na Portaria regulamentadora do repasse, não se
encontra disciplinada pela LC nº 79/1994.
Já em relação às atividades que podem ser custeadas com o repasse de 2018, verifica-
se que a Portaria nº 225/2018 definiu que todas aquelas constantes do art 3º da LC nº
79/1994 estão aptas, desde que os recursos sejam aplicados somente em ações de
investimento.
b.1) Da definição dos valores a serem utilizados pelos entes federativos conforme a
natureza de despesa
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Quadro 04 – Parâmetros para a aplicação dos recursos repassados na modalidade
fundo a fundo do Funpen, conforme art. 1º, §§ 1º e 2º, da Portaria nº 1.414/2016
Exercício do
Parâmetros para aplicação dos recursos
repasse
I) Até o limite de 50% para o aprimoramento da infraestrutura e modernização
do sistema penal, com o objetivo previsto no inciso I do caput do art. 3º da LC nº
§ 1º - Até 31 de
79/1994, especificamente, para a construção de novos estabelecimentos penais
dezembro de
para o cumprimento da pena em regime fechado2; e
20171
II) Até o limite de 50% destinados à promoção da cidadania, alternativas penais,
controle social, capacitação e qualificação em serviços penais, com os objetivos
previstos nos incisos II a X, XIV, XVI e XVIII do caput do art. 3º da LC nº 79/1994.
I) Até o limite de 30% para o aprimoramento da infraestrutura e modernização
do sistema penal, com o objetivo previsto no inciso I do caput do art. 3º da LC nº
§ 2º - Exercícios 79/1994, especificamente, para a construção de novos estabelecimentos penais;
de 2018, 2019 e e
subsequentes II) Até o limite de 70% destinados à promoção da cidadania, alternativas penais,
controle social, capacitação e qualificação em serviços penais, com os objetivos
previstos nos incisos II a X, XIV, XVI e XVII do caput do art. 3º da LC nº 79/1994.
1
De acordo com a redação do dispositivo, subentende-se que estão contemplados os repasses de 2016 e
2017.
2
O trecho destacado foi alterado pela Portaria nº 72/2017 para a seguinte redação: “(...)
preferencialmente, para construção de novos estabelecimentos penais para o cumprimento da pena em
regime fechado, ficando a possibilidade de ampliação de estabelecimentos penais já existentes ou de
conclusão de estabelecimentos em construção.”
Além desses parâmetros que direcionam a aplicação dos recursos a determinadas áreas
temáticas, o §3º do art. 1º da Portaria nº 1.414/2016 define a forma de distribuição dos
recursos entre entes federativos. Conforme manifestação do Depen, todo esse
regramento de direcionamento e distribuição dos recursos foi observado para o repasse
de 2016.
Em relação aos repasses de 2017 e 2018, tanto os parâmetros para aplicação dos
recursos quanto a forma de distribuição constantes do art. 1º da Portaria nº 1.414/2016
deixaram de ser observados, em razão da alteração da Lei Complementar nº 79/1994
promovida pela Lei nº 13.500, de 26 de outubro de 2017. Foi somente esta Lei que
incluiu a regra de partilha dos recursos que se encontra no §7º do art. 3º-A da LC nº
79/1994. Assim, conforme informado pelo Depen à CGU, os critérios da Portaria nº
1.414 deixaram de ser convenientes e oportunos com a alteração sofrida pela LC nº 79,
embora aquela Portaria ainda se encontre vigente.
No que tange ao direcionamento dos recursos relativos aos repasses de 2017 e 2018,
verifica-se, conforme suas portarias regulamentadoras (Portaria nº 1.221/2017 e
Portaria nº 225/2018, respectivamente) e nota técnica específica, que houve a definição
dos montantes a serem aplicados pelos entes federativos nas categorias de custeio e
investimento, além da definição do percentual mínimo a ser aplicado em obras,
conforme a seguir:
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Quadro 05 – Direcionamento na aplicação dos recursos relativos aos repasses de 2017
e 2018
Exercício do repasse Direcionamento dos recursos
• 63% dos recursos foram destinados a investimento e 37% dos recursos
2017 foram destinados a custeio.1
• No mínimo, 30% dos recursos devem ser aplicados na construção,
reforma, ampliação e aprimoramento de estabelecimentos penais.2
• 100% dos recursos foram destinados a investimento.3
2018 • No mínimo, 30% do total dos recursos do Funpen disponibilizados a cada
UF devem ser aplicados na construção, reforma, ampliação e
aprimoramento de estabelecimentos penais.4
1
Conforme Anexo II da Portaria nº 1.221/2017.
2
Conforme art. 7º da Portaria nº 1.221/2017.
3
Conforme art. 5º da Portaria nº 225/2018.
4
Conforme Nota Técnica nº 17/2018/COENA/CGMO/DIRPP/DEPEN/MJ, de 26/02/2018.
Questionado a respeito dos critérios utilizados para definir a distribuição dos recursos
entre custeio e investimento, o Depen informou o seguinte:
Desde 2017, o Depen tem publicado uma série de notas técnicas contendo orientações
aos entes federativos para a utilização dos recursos do Funpen transferidos na
modalidade fundo a fundo. Essas notas técnicas apresentam orientações técnicas que
devem ser observadas caso os estados e o DF optem por empregar os recursos na
aquisição de bens, na execução de obras ou no custeio de atividades que se enquadrem
em áreas temáticas/objetos específicos.
Em 2017, foram emitidas notas técnicas que estabeleceram diretrizes para a aplicação
dos recursos nas seguintes ações: construção/ampliação de vagas em estabelecimentos
penais; aquisições de scanner corporal, bloqueador de celular, equipamento de raio-X,
detector de metal (dos tipos banqueta, raquete e portal); e contratação de serviços de
monitoração eletrônica de pessoas.
As notas técnicas emitidas em 2018, que se encontram vigentes, tratam dos mesmos
temas das notas emitidas em 2017, exceto o tema de monitoração eletrônica, além de
nove novos temas: atividades educacionais, culturais e esportivas; assistência à saúde;
atividades laborais; assistência social; necessidade do público feminino;
reconhecimento das diversidades; aquisição de veículos; capacitação e qualificação de
servidores do sistema prisional; e integração e modernização do sistema de informações
penais. Cabe mencionar que as notas técnicas de 2017 foram revogadas tacitamente
pelas notas técnicas de 2018, conforme informado pelo Depen.
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Dessa forma, caso um ente federativo opte por empregar os recursos na área de
atividades laborais, por exemplo, apresenta-se um rol de linhas de atuação que poderão
ser adotadas, quais sejam: a) estruturação de oficinas produtivas permanentes; b)
ampliação, construção e adequação de módulos de trabalho; c) publicidade e marketing
social para fomento do interesse de instituições públicas e/ou privadas para atuarem no
sistema prisional; e d) realização de encontro e seminários para fortalecimento e
construção do trabalho no sistema prisional.
III) Avaliação da suficiência dos mecanismos reguladores existentes para garantir que
os recursos sejam direcionados à mitigação dos principais problemas do sistema
prisional
Mecanismos reguladores
Áreas de gestão LC nº Portaria nº
Problema
relacionadas 79/1994 - 1.221/2017 Existe Nota Técnica?
Art. 3º - Art. 5º
Centros de Sim
Acompanhamento de Incisos II e (Nota Técnica de 2017
Inciso XVI
Penas e Medidas VI que trata de
Superlotação Alternativas monitoração eletrônica)
Assistência jurídica Inciso VIII Inciso V Não
Assistências gerais /
Ver abaixo Ver abaixo Ver abaixo
Assistência ao egresso
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Mecanismos reguladores
Áreas de gestão LC nº Portaria nº
Problema
relacionadas 79/1994 - 1.221/2017 Existe Nota Técnica?
Art. 3º - Art. 5º
Quantidade Não se
Não se aplica Não se aplica
Fragilidades insuficiente1 aplica
relacionadas aos
Sim
agentes
penitenciários Formação/capacitação Inciso III Inciso IX (específica para pós-
graduação)
Sistema de segurança
Entrada de
(ex: scanner corporal,
objetos Inciso IV Inciso III Sim
raio-X, bloqueador de
proibidos
celular)
Insuficiência na
separação dos Remete aos problemas: superlotação e facções criminosas.
presos
Dependência
química e Remete aos problemas: superlotação, entrada de objetos proibidos, facções
consumo de criminosas e insuficiência na prestação de assistências e na oferta de trabalho.
drogas
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confecção de uniformes. Além disso, tem-se autorizado a aquisição de “kits
higiene” com base na Resolução CNPCP nº 04/2017.
• Apesar de a LC nº 79/1994 não prever expressamente a utilização de recursos do
Funpen em assistência religiosa, consta na Nota Técnica nº
7/2018/CGPC/DIRPP/DEPEN, que trata de assistência social, a possibilidade de:
realização de encontros e seminários para sensibilização, capacitação e
fortalecimento de ações para a diversidade na assistência religiosa; e construção
de espaços para a realização da assistência religiosa.
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Por último, destaca-se que, ao fomentar a aplicação dos recursos em construção,
reforma, ampliação e aprimoramento de estabelecimentos penais, por meio da
definição do percentual mínimo de 30% a ser aplicado pelos entes federativos, o Depen
direciona os recursos com o objetivo de mitigar um dos problemas mais relevantes do
sistema prisional, que é a superlotação, além do problema da precariedade das
instalações físicas. Contudo, a resolução da superlotação não se restringe à geração de
vagas e deve considerar outras medidas, como a estruturação de Centros de
Acompanhamento de Penas e Medidas Alternativas e o fortalecimento das assistências
aos presos e egressos, estas últimas com a finalidade de reduzir a reincidência
penitenciária.
A presente análise comparativa foi realizada com base nos normativos existentes, isto
é, não considerou as limitações e fragilidades existentes no funcionamento efetivo do
modelo da Saúde, assim como não elencou esse setor como parâmetro ou critério de
auditoria. Contudo, entende-se que o caráter mais consolidado da política de saúde
contribui para um diagnóstico acerca dos riscos existentes na recente estrutura
normativa da modalidade fundo a fundo do Funpen.
21
Quadro 07 – Modelo analítico da análise comparativa dos instrumentos
Dimensão Componente Atributo (exemplos)
Critérios de repasse: exigência de Fundo, conselho social, plano,
estruturas mínimas de gestão dos entes relatório, contrapartida, carreiras
beneficiários. de servidores.
Usos e vedações: tipos ou elementos de
despesa expressamente permitidos ou Pessoal, veículos, capacitação.
proibidos.
Identificação do beneficiário final,
Implementação
Condições de movimentação: controle da vedação do saque em espécie,
movimentação bancária. exclusividade de conta corrente e
de transferência eletrônica.
Planejamento: definição do ciclo de Modelo, periodicidade,
elaboração do plano. responsáveis, fluxo.
Monitoramento: definição do ciclo de Modelo, periodicidade,
elaboração do relatório de gestão. responsáveis, fluxo.
Participação social: definição de instâncias Existência de conselho, atuação na
de controle social nos ciclos de elaboração dos instrumentos de
planejamento e monitoramento. gestão, poder deliberativo.
Transparência pública: definição de dados a
Plano, relatório, execução
serem disponibilizados, mormente em
orçamentária.
transparência ativa.
Responsabilização Devolução: definição de procedimentos no
caso de não execução dos recursos ao final Fluxo, periodicidade, instrumentos,
do exercício, do prazo de execução ou de informações, responsáveis.
desvio de finalidade.
Ressarcimento: definição de
Fluxo, periodicidade, instrumentos,
procedimentos no caso de dano ao erário ou
informações, responsáveis.
de omissão no dever de prestar contas.
Fonte: Elaboração própria.
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Quadro 08 – Comparativo dos instrumentos de implementação
Componente Saúde Penitenciária
Norma legal define a implantação de: Fundo
penitenciário ou específico; gestor local
Norma legal define a implantação
responsável; plano de ação; contrapartida de
de: Fundo de saúde; conselho de
Critérios de recursos do ente local de caráter facultativa;
saúde (paritário) para controle
repasse: exigência solicitação de habilitação técnica ao Depen;
social dos recursos; plano de
de estruturas relatório de gestão; conselho penitenciário ou
saúde; relatório de gestão; e
mínimas de gestão congênere para fiscalização dos recursos; e
contrapartida de recursos do ente
dos entes alimentação do Sistema Nacional de Informações
local obrigatória. Portaria define a
beneficiários. de Segurança Pública, Prisionais, de
obrigatoriedade de alimentação
Rastreabilidade de Armas e Munições, de
de sistema de informação do SUS.
Material Genético, de Digitais e de Drogas
(SINESP).
Usos e vedações:
Há exemplificação detalhada, em Há rol exemplificativo, em Lei, de gastos aplicáveis
tipos ou elementos
Lei, do uso e de vedações ao gasto aos recursos do Funpen. O Decreto
de despesa
com ações e serviços públicos de regulamentador repete os usos previstos na Lei.
expressamente
saúde, com detalhamento Por sua vez, as vedações estão presentes apenas
permitidos ou
infralegal pontual. em Portarias e Notas Técnicas.
proibidos.
Em Decreto regulamentar,
específico para a gestão
Em Lei, estabelece-se a exigência de utilização de
descentralizada dos recursos
banco oficial para aplicação dos recursos
Condições de transferidos, estão assentes as
financeiros transferidos e não utilizados. O
movimentação: regras operacionais para a
Decreto regulamentador não trata desse
controle da movimentação dos recursos, com
componente. As demais exigências previstas são
movimentação as seguintes exigências:
semelhantes às da saúde, apesar de presentes em
bancária. exclusividade de conta em banco
instrumentos infralegais (Portarias nº 128/2017,
oficial, movimentação eletrônica,
nº 1.221/2017 e nº 225/2018).
identificação do beneficiário,
restrição ao saque em espécie.
Estabelecem-se três instrumentos
de planejamento local: o Plano de
Foi estabelecido plano de aplicação dos recursos,
Saúde, com abrangência de quatro
a ser apresentado anualmente pelo gestor ao
anos, seguindo o Plano Plurianual,
Depen, como critério de repasse dos recursos. No
a Programação Anual e o Relatório
que diz respeito ao conteúdo do referido plano,
Planejamento: de Gestão. Há sistema
apenas consta previsão normativa de que os
definição do ciclo informatizado disponibilizado para
planos devem estar associados ao financiamento
de elaboração de a elaboração desses instrumentos,
de programas para a melhoria do sistema
plano. que devem ser elaborados pelo
penitenciário nacional, no caso dos Estados e do
gestor e objeto de deliberação do
Distrito Federal, e para a reinserção social de
conselho de saúde. Esses
presos, internados e egressos, ou de programas de
instrumentos possuem modelo,
alternativas penais, no caso dos Municípios.
mas não são analisados pelo
gestor federal individualmente.
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Componente Saúde Penitenciária
Estabelece-se o relatório anual de
Foi estabelecido relatório anual de gestão, com a
gestão como instrumento hábil
mesma finalidade, a ser elaborado pelo gestor
para comprovar a regular
local e encaminhado ao Depen. Foi estabelecido
aplicação dos recursos
um conjunto de dados mínimos referentes a
transferidos no ano anterior. Por
qualificativos da população e dos
Monitoramento: meio do sistema informatizado,
estabelecimentos prisionais, com especificação
definição do ciclo esses relatórios devem ser
dos resultados físico-financeiros. Além desse
de elaboração do elaborados pelo gestor no início do
relatório, o monitoramento pelo Departamento é
relatório de exercício e encaminhados para
complementado pelo acesso às contas dos
gestão. deliberação do conselho de saúde
fundos, relatórios semestrais, visitas locais e
local. Ainda, há previsão do MS
alimentação dos sistemas de informação. Em
analisar esses relatórios. Além
Portarias e Notas Técnicas, também se encontram
disso, é realizado pelo Ministério o
previsões sobre o conteúdo dos relatórios
acompanhamento da alimentação
semestrais.
dos sistemas de informação.
Fonte: Elaboração própria.
Critérios de repasse
No geral, esses critérios são similares, conforme apresentado no quadro acima. Todavia,
deve-se ressaltar a situação do critério da contrapartida no âmbito da modalidade fundo
a fundo do Funpen (inc. III, § 3º, art. 3º-A da Lei Complementar nº 79/1994). Em primeiro
lugar, destaca-se que a contrapartida é facultativa no âmbito do Funpen, conforme
entendimento do Depen acerca do inciso III, do §3º, do art. 3-A da referida Lei, que
condiciona a contrapartida a ato do Ministro de Estado que contemple os critérios e
condições. Verifica-se que, nos repasses de 2016 a 2018, não constam atos que
regulamentem a exigência de contrapartida.
24
Usos e vedações
Na Saúde, há rol exemplificativo tanto dos usos quanto das vedações na aplicação dos
recursos pelos entes beneficiários, notadamente nos art. 3º e 4º da Lei Complementar
nº 141/2012. Por sua vez, no caso da modalidade fundo a fundo do Funpen, a Lei
Complementar nº 79/1994 apenas apresenta tal explicitação quanto aos usos. No que
diz respeito às vedações, esse normativo estabelece somente um caso, replicado no
Decreto nº 1.093, de 23 de março de 1994, e nas Portarias nº MJSP n 1.221/2017 e MSP
n° 225/2018: o previsto no inc. XIII, do art. 3º (vedação à aplicação dos recursos em
despesas de pessoal relativas a servidores públicos já remunerados pelos cofres
públicos). Salienta-se, contudo, que o §2º do art. 3º-A da LC nº 79/1994, ao prever
expressamente as atividades e programas que podem ser objeto de repasse, impõe, de
forma implícita, restrições quanto ao direcionamento dos recursos.
25
e incertezas quanto aos critérios exigidos para a utilização dos recursos transferidos em
cada exercício.
Condições de movimentação
A Portaria nº 1.414/2016, que foi prevista para estabelecer condições gerais, previu que
a movimentação dos recursos financeiros transferidos ocorresse por intermédio da
conta bancária específica do fundo penitenciário estadual ou distrital, ou, nos casos dos
Municípios, em conta bancária específica do fundo específico. Por sua vez, a Portaria nº
128, de 03 de abril de 2017, alterou essa sistemática ao prever que os recursos
repassados na modalidade fundo a fundo passariam a ser depositados e geridos
exclusivamente por conta bancária específica do Banco do Brasil.
Planejamento
Ressalta-se, para fins de comparação, que o Decreto que regulamenta o Fundo Nacional
de Segurança Pública apresenta exemplo do detalhamento em comento para a
respectiva implementação (vide § 5º, art. 11 do Decreto nº 9.609/2018). Além disso, no
1
Consta ao final da presente análise item específico que apresenta o histórico do Plano Diretor.
26
âmbito da Saúde, inclusive no tocante ao alinhamento entre instrumentos de
planejamento, pode-se conferir os arts. 94 a 99 da Portaria de Consolidação MS nº
1/2017.
Monitoramento
Conclusão parcial
27
• Ausência de regulamentação específica do CNPCP acerca da modalidade fundo
a fundo;
• Ausência de instrumentos de planejamento suficientes para abranger diferentes
momentos da aplicação dos recursos (anual, médio e longo prazo);
• Ausência de definição precisa acerca do conteúdo detalhado do plano de
aplicação, bem como da vinculação desse plano a instrumentos de planejamento
que contemplem metas e indicadores de médio e longo prazo;
• Ausência de definição quanto à utilização de sistemas de informação que apoiem
o planejamento e o monitoramento; e
• Ausência de definição precisa sobre a forma de atuação dos Conselhos
Penitenciários ou congênere na fiscalização da aplicação dos recursos em apoio
ao acompanhamento realizado pelo Depen.
28
Componente Saúde Penitenciária
Em Decreto regulamentar,
específico para a gestão
Em Portarias que fundamentam as
descentralizada dos recursos
transferências dos dois últimos
transferidos, estabelece-se, com
exercícios, indica-se a possibilidade de
respaldo na LRF, a obrigatoriedade
divulgação dos relatórios semestrais
Transparência pública: da ampla divulgação da execução
ou de seu conteúdo, bem como é
definição de dados a desses recursos, a qual originou a
definida a transparência ativa pelo
serem disponibilizados, instituição de portal da
Depen dos procedimentos de
mormente em transparência específico. Além disso,
devolução de recursos no portal do
transparência ativa. em Portarias Ministeriais, há a
Departamento. Além disso, estão
exigência de publicidade dos
presentes nesse portal quadros
instrumentos de planejamento
consolidados dos recursos transferidos
elaborados pelos gestores, bem
para cada Unidade Federativa.
como a situação de aprovação pelo
controle social.
Podem ocorrer em duas circunstâncias:
término de prazo de execução e por
desvio de finalidade por meio de
Devolução: definição de procedimento administrativo. Na
procedimentos no caso Podem ocorrer em duas primeira, há possibilidade de
de não execução dos circunstâncias: término de prazo de prorrogação que se encontra prevista
recursos ao final do execução e por desvio de finalidade em Lei e regulamentada em Portaria.
exercício, término do por meio de procedimento Ocorre mediante notificação com
prazo de execução ou administrativo. prazo e Guia de Recolhimento da União
de desvio de finalidade. (GRU). Além disso, informa-se que o
Depen tem autorização para solicitar
diretamente essa devolução ao banco
oficial.
Com base nas Portarias de repasse
anual, verifica-se que uma Tomada de
Os procedimentos para realização Conta Especial pode ser aberta se, após
Ressarcimento:
de ressarcimentos não são explícitos trinta dias de notificação para a
definição de
nas normas aplicáveis. Assim, deve- devolução de recursos, a Unidade
procedimentos no caso
se recorrer ao estabelecido Federada não atender. Outras
de dano ao erário ou de
genericamente no art. 84 do Decreto situações previstas são: não aprovação
omissão no dever de
Lei nº 200/1964 e no art. 8º da Lei nº do relatório pelo Depen e não
prestar contas.
8.443/1994. apresentação do relatório. Em situação
extrema, é realizado o registro de
inadimplência no SIAFI.
Fonte: Elaboração própria.
Participação social
29
salienta-se que os normativos do Funpen não mencionam a atuação dos conselhos de
comunidade como colaboradores na fiscalização dos recursos transferidos, tendo em
conta as atribuições desses conselhos de realizar visitas nos estabelecimentos penais e
de diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos para melhor assistência ao
preso.
Transparência pública
Ainda, não existem informações sobre a possibilidade de acesso aos Planos de Aplicação,
Relatórios Semestrais e Relatórios de Gestão. Nesse contexto, cabe destacar que, no
âmbito da saúde, o SARGSUS funciona como fonte de transparência ativa dos
instrumentos de gestão a partir de exigência legal e normativa específica do Ministério
da Saúde (art. 31 da Lei Complementar nº 141/2012 e art. 96, 99 e 436 a 441 da Portaria
de Consolidação MS nº 1/2017).
Devolução
Ressarcimento
Conclusão parcial
Em suma, com base nos achados observados e nas considerações elencadas, entende-
se que os instrumentos estabelecidos garantem parcialmente a responsabilização da
30
gestão na execução descentralizada dos recursos do Funpen, considerando
especialmente as seguintes situações:
Conclusão
31
dispositivos aplicáveis, contribuindo, assim, para a consecução de um sistema prisional
mais humano, seguro e que atenda à legalidade quanto ao tratamento básico à pessoa
em situação de encarceramento.
Conforme informado pelo Depen, embora tenha passado por uma reformulação visando
à sua otimização, o Plano Diretor iniciou uma trajetória descendente a partir de 2011,
até ser extinto ao fim do mesmo ano, por motivo de prioridades de gestão. Além disso,
o Departamento também informou que, em momentos passados, houve várias
tentativas de resgate do Plano Diretor por parte de sua equipe técnica responsável que
não foram bem-sucedidas, e que a retomada do Plano está sendo reavaliada pela atual
gestão.
Apesar de o Plano Diretor não ter tido continuidade, é necessário destacar que esse
instrumento foi formalmente incorporado à política prisional por meio da Resolução nº
01, de 29 de abril de 2008, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
(CNPCP), a qual determina, em seu art. 1º, que “a liberação dos recursos financeiros
geridos pelo Departamento Penitenciário Nacional estará condicionada à elaboração do
Plano Diretor do Sistema Penitenciário pelas Unidades Federativas, a sua aprovação pelo
Órgão e ao consequente cumprimento do cronograma de ações estabelecido”. Além
desse dispositivo, a Resolução também dispõe que comissão a ser criada pelo Depen
deverá realizar o monitoramento e a avaliação das ações do Plano Diretor, além de
definir as 23 metas que o compõem.
Embora a Resolução nº 01/2008 não tenha sido objeto de revogação por parte de
nenhuma outra resolução do CNPCP – estando, em princípio, vigente –, o seu
32
cumprimento deixou de ser observado a partir da interrupção do desenvolvimento do
Plano Diretor por parte do Depen, em 2011.
33
Destaca-se ainda que o aperfeiçoamento dos instrumentos de planejamento e
monitoramento do sistema prisional, a racionalização das aquisições de bens e serviços
dos órgãos integrantes desse sistema, assim como o fortalecimento da cooperação
federativa e do apoio técnico da União aos entes federativos, estão em conformidade
com os objetivos e disposições da Lei nº 13. 675, de 11 de junho de 2018, que estabelece
o Sistema Único de Segurança Pública – SUSP, e com o Decreto nº 9.630, de 26 de
dezembro de 2018, que institui o Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social.
34
QUESTÃO DE AUDITORIA 2: O modelo proporcionou a celeridade prevista na utilização
dos recursos do Funpen, com sua utilização direcionada para aspectos considerados
prioritários para a modernização e aprimoramento do sistema prisional?
2.1. Uma vez realizados os repasses aos entes federativos, os recursos foram utilizados
de maneira célere, proporcionando os meios necessários às atividades e programas de
modernização e aprimoramento do sistema penitenciário?
Para avaliar se houve celeridade na execução dos recursos do Funpen transferidos aos
entes federativos na modalidade fundo a fundo, inicialmente se propôs a aplicação de
dois procedimentos: 1) avaliação dos relatórios semestrais apresentados pelos entes
federativos, os quais devem conter dados sobre a execução física e financeira dos
recursos; e 2) avaliação dos dados atualizados sobre a execução financeira, obtidos a
partir das contas bancárias nas quais são mantidos os recursos repassados.
2
Todas as unidades federativas receberam os repasses no mês de dezembro de cada exercício, com as
seguintes exceções: i) os Estados da Bahia e Ceará receberam o repasse relativo ao exercício de 2016
somente em outubro de 2017; ii) o Estado de Mato Grosso do Sul não recebeu o repasse de 2018.
35
Quadro 10 – Execução financeira dos recursos do Funpen transferidos na modalidade
fundo a fundo - Apuração em março/2019 (em R$)
Exercício do repasse Valor transferido Valor executado1 % de execução
2016 1.209.179.999,88 388.920.763,51 32,16%
2017 590.625.000,01 85.356.240,98 14,45%
2018 61.464.281,72 0,00 0,00%
Fonte: Elaboração própria a partir de dados constantes do Despacho nº 1577/2019/DIRPP/DEPEN, de
20/03/2019.
1
Considera-se como valor executado o pagamento das despesas por parte dos entes federativos.
Para o repasse de 2016, verifica-se que as despesas de capital e custeio atingiram taxas
de execução superiores (76,74% e 55,15%, respectivamente) à taxa de execução
agregada do exercício (32,16%, conforme o Quadro 10). Por outro lado, a taxa de
execução relativa à construção foi bastante inferior, atingindo o índice de 16,95%. Já em
relação ao repasse de 2017, as despesas de capital, que neste caso incluem as despesas
de construção, foram ainda mais reduzidas: 6,60% do total repassado foi executado; e
36
somente 28,04% dos recursos destinados a despesas de custeio foram executados.
Assim, verifica-se que as taxas de execução de recursos destinados a obras, de forma
geral, são inferiores às taxas relacionadas a despesas de outras naturezas.
37
A partir do Quadro 12, destacam-se as seguintes ocorrências relativas à execução do
repasse de 2016:
• Construção: Mais da metade das UF (14) não executou nenhum recurso
destinado à construção; cinco UF executaram mais de 50%, das quais somente
uma executou a totalidade dos recursos dessa categoria.
• Despesas de capital: Vinte e uma UF executaram mais de 50% dos recursos, das
quais seis executaram a totalidade dos recursos dessa categoria.
• Despesas de custeio: Quatro UF não executaram nenhum recurso destinado a
despesas de custeio; quinze UF executaram mais de 50% dos recursos, das quais
seis executaram a totalidade dos recursos dessa categoria.
38
Capital Custeio
Percentual de Execução Percentual de Execução
UF UF
Financeira Financeira
RR 0,00% PE 0,00%
RS 0,00% PR 0,00%
SE 0,00% RS 0,00%
TO 0,00% SE 0,00%
TOTAL 6,60% TOTAL 28,04%
Fonte: Elaboração própria a partir de dados constantes do Despacho nº 1577/2019/DIRPP/DEPEN, de
20/03/2019.
Outro fato que merece destaque diz respeito à realização de repasses em exercícios
subsequentes a todos os estados, apesar de vários destes apresentarem baixas, ou
mesmo nulas, taxas de execução. Assim, mesmo que determinado estado não tenha
executado nenhum recurso do repasse de 2016 destinado à construção, por exemplo,
ele ainda assim terá recebido a integralidade dos repasses de 2017 e 2018, em cuja
programação também há a destinação de recursos para obras de engenharia. Isso
ocorre porque o nível de execução dos recursos de repasses anteriores não integra o rol
de condições para a realização de determinado repasse, conforme estabelecido pelo §3º
do art. 3º-A da Lei Complementar nº 79/1994. Como consequência, e considerando as
sucessivas prorrogações dos prazos de execução desses repasses, os recursos ficam
aplicados por longos períodos nas contas bancárias em que se encontram depositados,
representando um grande custo de oportunidade para o sistema prisional brasileiro.
39
Possíveis causas e soluções
Em relação às iniciativas que o Depen poderia adotar para facilitar a execução dos
recursos, três delas se destacam por terem sido indicadas por gestores estaduais de
várias unidades federativas, sendo elas: i) flexibilização na utilização dos recursos
repassados, de modo que não haja vinculação de valores às categorias de investimento
e custeio, visando permitir que os entes façam o emprego dos recursos conforme suas
necessidades específicas; ii) realização, por parte do Depen, de licitações com a
3
Unidades federativas que não participaram do levantamento: Amazonas, Maranhão e Rio Grande do
Norte.
40
disponibilização de Atas de Registro de Preços (ARP) para adesão dos entes federativos,
para aquisição de itens comuns e de grande demanda, visando a celeridade na execução
dos recursos, a economicidade (ganho de escala) e a padronização dos itens no sistema
prisional; iii) Aquisição direta, por parte do Depen, de itens comuns e de grande
demanda e posterior doação aos entes. Nota-se que, diferentemente da
disponibilização de ARP para adesão dos entes, a aquisição direta de itens com posterior
doação implicaria no não repasse dos recursos aos entes, ou seja, a execução dos
recursos para a aquisição de tais itens seria realizada pelo próprio Depen.
Assim, buscou-se identificar, junto aos gestores estaduais, quais são as dificuldades
enfrentadas para a execução dos recursos em ações relacionadas a obras de engenharia,
bem como iniciativas que possam ser adotadas pelo Depen para facilitar a execução.
41
Como resultado, foram identificadas as seguintes dificuldades por parte dos entes
federativos:
• Morosidade na análise e aprovação, por parte do Depen, da documentação
relativa a obras (projetos arquitetônicos, planilhas orçamentárias, etc.)
encaminhada pelos entes, em razão da reduzida equipe técnica existente
naquele Departamento para avaliar a demanda de todas as unidades federativas.
A título de exemplo, houve estado que informou que o Depen levou mais de 11
meses para avaliar sua documentação encaminhada;
• Dificuldades, no âmbito estadual, de elaboração de projetos de engenharia, em
razão da insuficiência de servidores capacitados. Também foram mencionados
casos em que a UF possui uma Secretaria que centraliza todas as demandas de
obras de engenharia do estado, o que gera morosidade na tramitação e
conclusão dos procedimentos de contratação;
• Burocracia para aprovação dos projetos e/ou emissão de documentos no âmbito
estadual, em razão da exigência de manifestação de diferentes instituições;
• Falta de estrutura tecnológica (softwares e hardwares) no âmbito estadual para
elaboração dos projetos;
• Imposição pelo Depen de diversas condições minuciosas, além de rígidas
diretrizes construtivas;
• Distância geográfica para acompanhamento das obras;
• Dificuldade de aquisições de materiais específicos para obras prisionais.
Em relação às iniciativas que visem facilitar a execução de obras, aquela sugerida com
maior frequência pelos gestores estaduais consiste na disponibilização, por parte do
Depen, de projetos de engenharia padronizados que considerem as peculiaridades de
cada região do Brasil, de modo que as adequações a serem feitas pelas equipes técnicas
estaduais sejam mínimas. Outra iniciativa bastante mencionada refere-se ao
aprimoramento da estrutura interna do Depen, principalmente no que tange à sua
equipe técnica, para agilizar a avaliação da documentação encaminhada pelas unidades
federativas e prestar o apoio que se fizer necessário. Também foram indicadas as
iniciativas relacionadas a seguir:
• Elaboração de tabela de preços referenciais voltados para a construção de
estabelecimentos penais, uma vez que os serviços existentes no Sinapi não são
compatíveis com os serviços necessários para a construção de unidades
prisionais;
• Disponibilização de informações sobre o custo médio por área e/ou por vaga
para a contratação de obras de unidades prisionais, dando ao gestor público
maior segurança para a tomada de decisões;
• Criação de cadastro nacional de empresas com diferentes soluções tecnológicas
para a construção de unidades prisionais;
• Promoção de reuniões/eventos com as equipes técnicas de engenharia,
arquitetura, comissão de licitação (entre outros) dos estados para estimular a
troca de experiências, inclusive para tratar sobre a utilização da contratação
integrada prevista no Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC) e sua
aplicação para o sistema prisional;
• Construção de unidades prisionais pelo próprio Depen e posterior entrega aos
estados.
42
Considerações finais
Neste sentido, também é relevante ressaltar que a CGU já realizou trabalho específico
sobre as obras de unidades penais contratadas no âmbito do Programa de Apoio ao
Sistema Prisional (PNASP), que teve por objetivo, entre outros, avaliar os principais
problemas que ocasionam uma demora excessiva para o início das obras, e que resultou
em recomendações ao Depen. Trata-se do Relatório de Avaliação nº 67 (RAV 67),
disponível para download no link https://auditoria.cgu.gov.br/download/9687.pdf.
4
A consulta às últimas versões dos Planos de Aplicação de Recursos ocorreu em março de 2019.
43
Quadro 14 – Distribuição dos recursos indicados nos Planos de Aplicação de Recursos
conforme a categoria de despesa – Exercícios 2016 e 2017
Categoria Valor %
Obras de engenharia (construção/ampliação/reforma/conclusão) 1.151.563.434,77 62,66%
Veículos 113.817.879,13 6,19%
Armamento e munição 110.555.271,70 6,02%
Scanner corporal 97.050.246,09 5,28%
1
Equipamentos e sistema de segurança 79.719.962,79 4,34%
2
Equipamentos de proteção 58.402.124,88 3,18%
3
Ações/projetos de promoção da cidadania e reintegração social 46.932.496,66 2,55%
Aparelhamento em geral (mobiliário, máquinas e equipamentos) 40.987.125,12 2,23%
Bloqueador de celular 31.464.831,51 1,71%
Monitoração eletrônica de pessoas 29.871.647,42 1,63%
4
Itens agregados 29.184.787,01 1,59%
Tecnologia da Informação 24.726.627,34 1,35%
5
Outros 6.959.726,31 0,38%
Capacitação de servidores do sistema prisional 6.758.481,12 0,37%
Fardamento 5.092.118,62 0,28%
Realização de pesquisa para fortalecimento/modernização da gestão 2.700.000,00 0,15%
Alternativas penais 1.325.674,96 0,07%
Elaboração de projetos de arquitetura e engenharia 732.523,09 0,04%
Total 1.837.844.958,52 100,00%
Fonte: Elaboração própria a partir dos PAR 2016 e 2017 encaminhados pelo Depen.
1
Incluem equipamentos de raio-X, detectores de metal, sistema de segurança por circuito fechado de TV
(CFTV), rádios de comunicação, entre outros.
2
Incluem equipamentos que visam à proteção individual, como coletes balísticos, capacetes, escudos,
caneleiras, algemas, entre outros.
3
Incluem despesas de investimento e custeio que visam à promoção de alguma das assistências previstas
na LEP, à oferta de trabalho ou à reintegração social, de forma geral.
4
Incluem itens de diferentes categorias que foram informados de forma agregada no PAR, não sendo
possível diferenciar o valor de cada item separadamente.
5
Incluem itens cujos objetos não foram informados de maneira clara no PAR, bem como itens que não
puderam ser enquadrados em nenhuma das outras categorias.
Observação1: Embora as categorias “bloqueador de celular” e “scanner corporal” pudessem estar
incluídas na categoria “equipamentos e sistema de segurança”, optou-se por deixá-las separadas em
razão de esta separação ter ocorrido na maior parte dos PAR.
Observação2: Embora a categoria “monitoração eletrônica de pessoas” pudesse estar incluída na
categoria “alternativas penais”, optou-se por deixá-la separada em razão de esta separação ter ocorrido
na maior parte dos PAR.
Além disso, verifica-se que, depois de obras, as cinco categorias que possuem os maiores
valores individuais correspondem, em conjunto, a 25% da totalidade dos recursos,
sendo elas: veículos, armamento e munição, scanner corporal, equipamentos e sistema
de segurança e equipamentos de proteção. Destaca-se que a categoria de armamento
e munição foi a terceira colocada em termos de recursos alocados, compreendendo o
montante de mais de 110 milhões de reais.
45
Figura 01 – Principais problemas do sistema prisional brasileiro e as áreas de gestão
correspondentes a serem aperfeiçoadas
46
Além disso, convém realizar as seguintes observações:
• Não se identificou nenhum direcionamento específico a ações relacionadas às
assistências jurídica e religiosa;
• Embora a categoria “aparelhamento em geral (mobiliário, máquinas e
equipamentos)” que consta do Quadro 14 seja constituída em sua maior parte
por despesas de aquisição de bens, 13% dos recursos dessa categoria
(aproximadamente 5,4 milhões) foram direcionados a serviços de manutenção
de objetos como: equipamentos de cozinha, câmaras de resfriamento e
congelamento, estações de tratamento de esgoto, geradores e subestações de
energia elétrica e portas pneumáticas de unidades prisionais.
47
Categoria Valor %
Ações/projetos de promoção da cidadania e reintegração social 38.079.364,79 6,43%
Veículos 33.919.807,20 5,73%
Equipamentos de proteção 30.158.970,18 5,09%
Aparelhamento em geral (mobiliário, máquinas e equipamentos) 20.688.738,56 3,49%
Bloqueador de celular 17.628.229,48 2,98%
Monitoração eletrônica de pessoas 14.998.142,42 2,53%
Tecnologia da Informação 13.941.438,72 2,35%
Itens agregados 9.830.931,01 1,66%
Outros 6.901.504,18 1,17%
Fardamento 4.542.125,62 0,77%
Capacitação de servidores do sistema prisional 3.914.411,24 0,66%
Alternativas penais 912.774,96 0,15%
Elaboração de projetos de arquitetura e engenharia 283.369,29 0,05%
Realização de pesquisa para fortalecimento/modernização da gestão 260.000,00 0,04%
Total 592.068.617,05 100,00%
Fonte: Elaboração própria a partir dos PAR 2017 encaminhados pelo Depen.
Já para o repasse de 2017, definiu-se que 63% dos recursos deveriam ser empregados
em despesas de investimento, além de que, no mínimo, 30% deveriam ser aplicados na
construção, reforma, ampliação e aprimoramento de estabelecimentos penais. Assim,
verifica-se que o conjunto dos PAR de 2017 efetivamente direcionaram 43,13% dos
recursos a obras de engenharia (Quadro 16), deixando uma margem maior de recursos
a serem empregados em outras categorias de despesa, em comparação ao repasse de
2016. Assim, destaca-se, por exemplo, a categoria “ações/projetos de promoção da
cidadania e reintegração social”, que correspondeu a somente 0,71% dos recursos de
2016 (8,8 milhões). Já em 2017, essa mesma categoria obteve 6,43% dos recursos totais
(38 milhões), representando mais de 4 vezes o valor alocado em 2016, ainda que o
repasse de 2017 tenha sido substancialmente menor que o de 2016.
Por fim, conclui-se que, embora os recursos da modalidade fundo a fundo tenham tido
um emprego diversificado nas várias áreas de gestão que compõem o sistema prisional,
somente uma área foi priorizada, tendo concentrado a maior parte dos recursos – qual
seja, a realização de obras de engenharia para construção, ampliação, reforma e
conclusão de estabelecimentos penais –, apesar de existirem outras áreas de igual
relevância para o aprimoramento do sistema, a saber: o provimento dos meios
necessários à efetivação e ampliação das alternativas penais (penas e medidas
alternativas) e o provimento das assistências material, à saúde, jurídica, educacional,
social e religiosa, além da oferta de trabalho.
48
No que diz respeito ao baixo volume de repasses realizados nas áreas supracitadas por
meio da modalidade fundo a fundo, salienta-se que o Depen também fomenta as ações
dessas áreas por meio das transferências voluntárias, conforme esclarecimentos
prestados em sua manifestação final (Anexo I). Contudo, o presente escopo de análise
diz respeito apenas aos repasses da modalidade fundo a fundo, considerando que os
normativos também preveem a possibilidade de repasses por meio dessa modalidade.
Importa registrar que o Depen determinou que os recursos transferidos em 2018 devem
ser empregados exclusivamente em ações de investimento. Embora os PAR de 2018 não
tenham sido objeto da presente avaliação, a exclusão de despesas de custeio pode
prejudicar o aperfeiçoamento de algumas áreas de gestão do sistema prisional, como
por exemplo as ações de promoção da cidadania e reintegração social, as ações de
capacitação de servidores do sistema e a monitoração eletrônica de pessoas presas.
5
Unidades federativas que não participaram do levantamento: Amazonas, Maranhão e Rio Grande do
Norte.
49
sobre o direcionamento dos recursos tenham sido sustentadas por estudos
pormenorizados.
• Sete unidades federativas reconheceram expressamente que não houve
planejamento prévio embasado em estudos técnicos. Dessas UF, cinco
apontaram que não houve tempo hábil para elaborar o planejamento, em razão
do curto prazo conferido pelo Depen para elaboração do Plano de Aplicação de
Recursos.
• Somente três unidades federativas mencionaram o envolvimento do conselho
gestor do fundo penitenciário estadual na definição dos itens a serem
adquiridos. Cabe informar que a existência de fundo penitenciário estadual e de
órgão ou entidade específica responsável pela sua gestão são condições
necessárias ao repasse dos recursos via fundo a fundo.
• Somente duas unidades federativas mencionaram que seus planejamentos
consideraram as recomendações expedidas por órgãos externos, como por
exemplo Ministério Público e Defensoria Pública Estadual, incluindo
recomendações decorrentes de inspeções realizadas no sistema prisional.
Dessa forma, demonstra-se que os entes federativos, de forma geral, não possuem um
sólido planejamento para a utilização dos recursos recebidos via fundo a fundo,
utilizando-se de levantamentos ou deliberações que carecem de fundamentação técnica
formalizada.
Além disso, verifica-se uma fragilidade na justificativa apontada por alguns estados de
que a ausência do planejamento seria decorrente do prazo exíguo para a apresentação
do Plano de Aplicação de Recursos, visto que a política prisional existe
independentemente do aporte de recursos do Funpen (seja por meio de transferências
obrigatórias ou voluntárias), contando com recursos provenientes, em grande parte, dos
próprios orçamentos estaduais. Assim, entende-se que cada ente federativo deveria
dispor de um planejamento estratégico advindo do contexto da política estadual
prisional, que fosse utilizado para subsidiar a definição das despesas a serem custeadas
com os recursos obtidos da modalidade fundo a fundo do Funpen.
Considerações finais
50
prioritárias existentes. No entanto, não foram identificadas evidências de que o
processo de definição das aquisições – que inclui a escolha dos itens e seus quantitativos
– tenha ocorrido de forma racional, ou seja, de que as demandas apresentadas tenham
sido devidamente fundamentadas e inseridas em um contexto de planejamento
estratégico, visando o atingimento de metas e a concretização de objetivos da política
prisional.
51
RECOMENDAÇÕES
1) Para uniformizar a forma de apresentação dos dados pelas Unidades Federativas e
aperfeiçoar o acompanhamento e a transparência dos instrumentos de gestão, a
Unidade deverá regulamentar, por ato normativo, o modelo e o conteúdo mínimo dos
seguintes instrumentos:
a) Plano de Aplicação de Recursos (§3º, III, do art. 3º-A da LC nº 79/1994);
b) Relatório de Gestão Anual (§3º, V, do art. 3º-A da LC nº 79/1994; art. 5º da Portaria
nº 1.414/2016; §1º, V, do art. 2º da Portaria nº 1.221/2017; §1º, IV, do art. 2º da Portaria
nº 225/2018), especialmente no que tange à execução físico-financeira dos recursos
recebidos mediante transferência obrigatória.
c) Relatórios Semestrais (§1º do art. 10 da Portaria nº 1.221/2017; §1º do art. 9º da
Portaria nº 225/2018)
3.1. Instituir instrumentos de planejamento de curto, médio e longo prazo para a política
prisional nacional, considerando a experiência do Plano Diretor de Melhorias para o
Sistema Prisional e a previsão de elaboração do Plano Penitenciário Nacional disposta
no Objetivo 7 do Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social - PNSP, que
contenham: a) diagnóstico da situação atual do sistema prisional brasileiro; b) objetivos
e metas; c) recursos necessários ao alcance dos objetivos e metas, bem como suas
fontes; d) o cronograma das atividades a serem realizadas, bem como a definição dos
seus responsáveis; e) as instâncias de monitoramento, incluindo indicadores que
permitam a medição do progresso para os objetivos e metas propostos.
52
Nacional disposta no Objetivo 7 do PNSP, de forma alinhada com os instrumentos de
planejamento da esfera federal de que trata o item 3.1.
53
CONCLUSÃO
A presente auditoria de avaliação sobre a modalidade de transferência obrigatória de
recursos do Funpen – também denominada “fundo a fundo”, instituída inicialmente em
dezembro de 2016 pela MP nº 755 – foi realizada com o objetivo de responder a duas
principais questões de auditoria:
I) O modelo de repasse fundo a fundo apresenta-se adequadamente
construído e capaz de reverter o quadro de falência do sistema prisional?
II) O modelo proporcionou a celeridade prevista na utilização dos recursos
do Funpen, com sua utilização direcionada para aspectos considerados
prioritários para a modernização e aprimoramento do sistema prisional?
54
procedeu-se ao levantamento dos mecanismos reguladores da modalidade fundo a
fundo visando identificar se todas as áreas de gestão vinculadas aos problemas do
sistema prisional estavam aptas a receberem recursos do Funpen via fundo a fundo,
bem como se havia critérios de direcionamento dos recursos para determinadas áreas.
Assim, é possível afirmar que não existem mecanismos reguladores suficientes que
assegurem que todas as áreas de gestão do sistema prisional consideradas relevantes
sejam contempladas com os recursos da modalidade fundo a fundo do Funpen em razão
dos seguintes achados: i) a definição prévia, por parte do Depen, dos valores que os
entes federativos devem aplicar em investimento e custeio permite uma grande
discricionariedade por parte dos entes federativos na escolha dos objetos que serão
custeados, podendo haver direcionamento para determinados objetos em detrimento
de outros que possuam criticidade mais elevada. Além disso, não constam evidências de
que tenham sido utilizados critérios suficientes para fundamentar a definição prévia
daqueles valores por parte do Depen; e ii) considerando os dois problemas dotados de
maior criticidade – quais sejam, a superlotação e a insuficiência na prestação de
assistências e na oferta de trabalho aos presos – verificou-se a existência de mecanismo
direcionador de recursos para somente uma das áreas de gestão relacionada a esses
problemas, que consiste na aplicação de percentual mínimo de 30% na construção,
reforma, ampliação e aprimoramento de estabelecimentos penais. Assim, não há
nenhum outro mecanismo que busque fomentar outras medidas que têm o potencial
de mitigar aqueles problemas, como a estruturação de Centros de Acompanhamento de
Penas e Medidas Alternativas e o fortalecimento das assistências aos presos e egressos
e da oferta de trabalho.
55
A análise realizada consistiu na comparação entre os instrumentos de cada política,
conforme as seguintes dimensões e componentes: I) Implementação: critérios de
repasse, usos e vedações, condições de movimentação, planejamento e
monitoramento; e II) Responsabilização: participação social, transparência pública,
devolução e ressarcimento. Como resultado, os seguintes achados podem ser
destacados: multiplicidade de normativos regulamentadores; ausência de atualização
do decreto regulamentador do Funpen; ausência de definição precisa acerca do
conteúdo do Plano de Aplicação de Recursos, bem como da vinculação desse Plano a
instrumentos de planejamento que contemplem metas e indicadores de médio e longo
prazo; ausência de regulamentação da forma de atuação dos conselhos penitenciários
ou congênere na elaboração e fiscalização dos instrumentos de gestão, em auxilio ao
acompanhamento realizado pelo Depen; deficiências de transparência ativa. Portanto,
verificou-se que, em ambas as dimensões, há insuficiências ou ausências em diversos
componentes analisados, de modo que é possível afirmar que o arcabouço normativo
estabelecido para a modalidade fundo a fundo do Funpen prevê parcialmente a
estruturação institucional necessária à garantia tanto da implementação célere e
criteriosa dos recursos, quanto da responsabilização pela sua gestão.
56
Por último, em relação ao planejamento e à priorização das aquisições, foram aplicados
questionários aos gestores dos sistemas prisionais estaduais de 24 unidades federativas,
buscando identificar se as aquisições realizadas com recursos da modalidade fundo a
fundo atenderam às demandas prioritárias existentes e se foram precedidas de
planejamento prévio embasado em estudos técnicos que indicassem e consolidassem a
demanda pelos itens a serem adquiridos. Como resultado, embora as aquisições tenham
sido apontadas como prioritárias pelos gestores estaduais, não foram identificadas
evidências de que o processo de definição das aquisições – que inclui a escolha dos itens
e seus quantitativos – tenha ocorrido de forma suficientemente racional, ou seja, de que
as demandas apresentadas tenham sido devidamente fundamentadas, formalizadas e
inseridas em um contexto de planejamento estratégico, visando o atingimento de metas
e a concretização de objetivos da política prisional.
Considerações finais
57
pelas assistências aos presos e egressos e pela oferta de trabalho. Não se verificou,
inclusive, que o direcionamento adotado pelo Depen – por meio da definição de valores
a serem aplicados em construção, investimento e custeio – tenha sido embasado por
critérios técnicos suficientes.
iii) Baixa execução dos recursos pelas unidades federativas. Os gestores dos sistemas
prisionais estaduais apontaram diversas dificuldades enfrentadas para executar os
recursos, das quais destacam-se: morosidade do Depen para aprovar os projetos
apresentados pelas UF e responder aos pedidos de alteração dos Planos de Aplicação de
Recursos; e dificuldades, no âmbito estadual, de elaboração de documentos técnicos,
principalmente projetos de engenharia, em razão da insuficiência de servidores
capacitados. Planejamentos deficientes por parte das unidades federativas também
podem contribuir para que os Planos de Aplicação de Recursos sejam frequentemente
reformulados, contribuindo para a morosidade na execução dos recursos.
58
ANEXOS
I – MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE EXAMINADA E ANÁLISE DA
EQUIPE DE AUDITORIA
59
transparência dos instrumentos de gestão, a Unidade deverá
regulamentar, por ato norma2vo, o modelo e o conteúdo
mínimo dos seguintes instrumentos: a) Plano de Aplicação de
Recursos (§3º, III, do art. 3º-A da LC nº 79/1994); b) Relatório
de Gestão Anual (§3º, V, do art. 3º-A da LC nº 79/1994; art. 5º
da Portaria nº 1.414/2016; §1º, V, do art. 2º da Portaria nº
1.221/2017; §1º, IV, do art. 2º da Portaria nº 225/2018),
especialmente no que tange à execução "sicofinanceira dos
recursos recebidos mediante transferência obrigatória. c)
Relatórios Semestrais (§1º do art. 10 da Portaria nº 1.221/2017;
§1º do art. 9º da Portaria nº 225/2018).
60
3.5. Dentre elas, a funcionalidade da transferência de recurso na modalidade
fundo a fundo, da qual este Departamento, por meio desta Coordenação-
Geral de Instrumentos de Repasse, é membro atuante de construção,
participando semanalmente de vídeo-conferências na sede do SERPRO para
o seu desenvolvimento, cujo piloto encontra-se pronto. A previsão de entrega
da parte inicial desta nova funcionalidade está para agosto/2019.
61
3.7. Os recursos para as áreas citadas foram repassados mediante outros
instrumentos de transferências, dentre os quais os Termos de Execução
Descentralizado, firmado com Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a saber:
62
desse órgão dispostas nos incisos I e II do art. 64 da Lei n
7.210/1984.
63
Unidade Auditada ressaltou os esforços recentes realizados para atingir esse objetivo.
Nesse sentido, é importante salientar que o Depen promoveu reunião, nos dias 15 e 16
de maio de 2019, com representantes do Tribunal de Contas da União, CGU, do Depen,
da CGU e do Conselho Nacional dos Secretários de Estado da Justiça, Cidadania, Direitos
Humanos e Administração Penitenciária do Brasil (CONSEJ), com o objetivo de debater
as propostas de regulamentação da modalidade fundo a fundo do Funpen. Diante do
exposto, verifica-se que a Unidade Auditada já demonstra que possui avaliação quanto
à necessidade de atualização do Decreto regulamentador, não sendo necessário a
permanência da referida recomendação no Relatório Final.
Contudo, considerando que a Unidade Auditada não apresentou fatos que possam
modificar as análises realizadas, e que as informações prestadas não são suficientes para
considerar que os objetivos das Recomendações 2, 3, 5 e 7 do Relatório Preliminar foram
alcançados, entende-se pela permanência dessas Recomendações no Relatório Final.
Verifica-se, apesar disso, que os esclarecimentos realizados não são suficientes para
modificar substancialmente os registros realizados no Relatório Preliminar,
considerando que os fatos apontados foram referentes à modalidade fundo a fundo do
64
Funpen. Nesse sentido, será acrescido referência à presença de atuação do Depen
nessas áreas por meio da modalidade de transferência voluntária, mas sem modificação
substancial dos fatos e da recomendação referente ao tema.
65
II - LEVANTAMENTO DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS DO SISTEMA
PRISIONAL BRASILEIRO
1. Superlotação
6Os responsáveis por esse levantamento são o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e o Fórum Brasileiro
de Segurança Pública. Disponível em http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen. Acesso em: 18/03/2019.
66
violência e as rebeliões nas unidades prisionais; iv) dificulta a prestação das assistências
a toda a população carcerária, conforme prevê a Lei de Execução Penal; e v) contribui
para a violação aos direitos fundamentais dos presos. Essas consequências serão
posteriormente apresentadas com maiores detalhes.
A primeira e mais pragmática solução que se vislumbra para a superlotação das unidades
prisionais é a construção de novos estabelecimentos e a consequente criação de novas
vagas. Contudo, essa solução deixa de ser exclusiva ao se avaliarem três importantes
causas que contribuem para a elevada população carcerária, abordadas a seguir.
7
FARIA, José Roberto Telo. Prisão em flagrante, prisão temporária e prisão preventiva. Revista Jus
Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 5276, 11 dez. 2017. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/62027>. Acesso em: 26/03/2019.
8
PIMENTA, Luciana. Audiência de custódia: o que é e como funciona. Disponível em:
<https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI239559,41046-
Audiencia+de+custodia+o+que+e+e+como+funciona>. Acesso em: 26/03/2019.
67
Penal, como uma forma de tornar essa medida obrigatória e uniforme em todos os
estados federativos.
Outra pesquisa, conduzida pelo Instituto Sou da Paz, analisou 7.734 prisões em flagrante
registradas em 2013 na cidade do Rio de Janeiro. Dos presos que foram julgados (5.648),
verificou-se que somente 25% foram condenados ao regime fechado, enquanto os
demais 75% tiveram as seguintes decisões: 23% receberam penas alternativas ou foram
condenados ao regime aberto; 19% foram condenados ao regime semiaberto; 14%
firmaram acordos com a justiça; 14% foram absolvidos; e 5% tiveram o processo
arquivado.
Esses dados sugerem que a prática de imputação da privação da liberdade aos réus em
momento anterior à sua condenação possa estar ocorrendo, em certa medida, de forma
arbitrária, resultando em muitas prisões provisórias desnecessárias. Assim, defende-se
que existe uma cultura de encarceramento, em que a banalização da prisão provisória
esteja contribuindo diretamente para o expressivo crescimento da população prisional
verificada nos últimos anos.9
9
PEREIRA, J. B.; CARDOSO, D.B.; CARVALHO, G.G.R. A banalização da prisão preventiva e seus reflexos
na superlotação carcerária. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/64984/a-banalizacao-da-prisao-
preventiva-e-seus-reflexos-na-superlotacao-carceraria>. Acesso em 29/03/2019.
68
diversas da prisão10, que deveriam ter o seu emprego priorizado em relação à prisão
preventiva, conforme se depreende do art. 282, § 6º, do Código de Processo Penal: “a
prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra
medida cautelar”.
Nesse sentido, uma das principais soluções que se apresenta para ampliar a utilização
das penas e medidas alternativas consiste na correspondente ampliação de sua
estrutura de execução e monitoramento, composta pelos Centros de Acompanhamento
de Penas e Medidas Alternativas, vinculados aos órgãos executivos estaduais
responsáveis pela administração penitenciária. Esses Centros, que se constituem em
10
São medidas cautelares diversas da prisão (art. 319 do Código de Processo Penal): I - comparecimento
periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; II -
proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao
fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao
fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca
quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; V - recolhimento
domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e
trabalho fixos; VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou
financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; VII - internação
provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os
peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de
reiteração; VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.
11
De acordo com o Código Penal, há três espécies de pena: i) privativas de liberdade; ii) restritivas de
direito; e iii) de multa. As penas restritivas de direito, também denominadas “penas alternativas”,
substituem as privativas de liberdade quando: I) aplicada pena privativa de liberdade não superior a
quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a
pena aplicada, se o crime for culposo; II) o réu não for reincidente em crime doloso; e III) a culpabilidade,
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as
circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. São penas restritivas de direito: a)
prestação pecuniária; b) perda de bens e valores; c) limitação de fim de semana; d) prestação de serviço
à comunidade ou a entidades públicas; e) interdição temporária de direitos; e f) limitação de fim de
semana.
12
SALLA, Fernando. De Montoro a Lembo: as políticas penitenciárias em São Paulo. Revista Brasileira de
Segurança Pública, Ano 1, Edição 1, 2007.
69
estruturas próprias dotadas de equipe multidisciplinar, são destinados ao
acompanhamento de infratores sujeitos ao cumprimento de medidas cautelares
diversas da prisão ou de penas restritivas de direitos, sendo esses infratores qualificados
como de baixo potencial ofensivo, em virtude dos requisitos legais que devem cumprir
para receberem aquelas sanções.
Assim, esses Centros devem estar estruturados para, por exemplo, permitir a execução
da monitoração eletrônica dos réus13, provendo os recursos logísticos e humanos
necessários. Outra atividade atribuída a esses Centros relaciona-se à efetivação da pena
de prestação de serviço à comunidade. Para isso, os Centros encarregam-se de captar
vagas em instituições sociais da comunidade para a recepção dos apenados; elaborar o
perfil psicossocial do indivíduo e encaminhá-lo para uma instituição que seja adaptada
às suas habilidades e a esse perfil; acompanhar o desempenho do indivíduo na
instituição; e supervisionar e apoiar tecnicamente as comarcas que desenvolvem
programas de penas alternativas14.
Outro fator que contribui para o grande volume da população carcerária consiste nos
indivíduos mantidos presos após já terem cumprido a pena (o que se denomina,
informalmente, “cadeia vencida”), e naqueles mantidos em um determinado regime15 a
despeito de já cumprirem com os requisitos para a progressão de regime, estando
ambas as situações em desacordo com a lei.
13
Além de ser uma medida cautelar, a monitoração eletrônica também pode ser utilizada como meio de
fiscalização nos casos de saída temporária no regime semiaberto e de prisão domiciliar (Lei de Execução
Penal, art. 146-B).
14
SALLA, op. cit.
15
Segundo o Código Penal, existem três espécies de regime de cumprimento de pena, que devem ser
cumpridos em estabelecimentos penais distintos: i) regime fechado, a ser cumprido em estabelecimento
de segurança máxima ou média (penitenciária); ii) regime semi-aberto, a ser cumprido em colônia
agrícola, industrial ou estabelecimento similar; e iii) regime aberto, a ser cumprido em casa de albergado
ou estabelecimento adequado.
70
Segundo a Lei de Execução Penal, a pena privativa de liberdade deve ser executada em
forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada
pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior
e ostentar bom comportamento carcerário. Apesar de a mudança de regime não
impactar na população carcerária global – visto que todos são contabilizados como
“presos” –, o não cumprimento da progressão de regime, quando cabível, impacta
diretamente na população carcerária de cada tipo de estabelecimento penal.
Além desses casos, também existem indivíduos em privação de liberdade que são
mantidos nessa situação mesmo com o cumprimento dos requisitos necessários ao
recebimento de benefícios penais, como a suspensão condicional da pena, o livramento
condicional, a comutação de pena e o indulto. Quando aplicados, esses benefícios
contribuem diretamente para a redução do número de presos.
Uma das principais causas para as situações abordadas é a apreciação intempestiva das
ações penais por parte do Poder Judiciário, apontada no relatório final da última CPI
sobre o sistema carcerário, publicado em 2017. Nesse sentido, cabe também mencionar
o relatório resultante do mutirão carcerário realizado pelo CNJ em 2014 no sistema
prisional de Guarulhos/SP, no qual consta o apontamento da 57ª Subseção da OAB de
Guarulhos de que os benefícios demoram, em média, mais de um ano para serem
apreciados. Há também, nesse relatório, uma crítica referente à forma de atuação dos
juízes na execução penal: os juízes não impulsionavam os processos de forma
independente, permanecendo inertes aguardando a provocação da Defensoria Pública
ou dos advogados constituídos pelos sentenciados.
Dessa forma, tem-se a princípio duas importantes medidas para solucionar o problema
apontado: i) aprimorar a gestão processual das varas criminais, com os investimentos
materiais e humanos que se fizerem necessários para garantir uma célere tramitação
processual; e ii) garantir a assistência jurídica aos presos sem recursos financeiros para
constituir advogado, segundo previsto na Lei de Execução Penal, para que possam ser
informados e orientados acerca de seus direitos, bem como para impulsionar a
efetivação desses direitos por parte das autoridades judiciárias.
16
Conforme sugerido por Julião (2009), há outros três tipos de reincidência: i) reincidência genérica, que
ocorre quando há mais de um ato criminal, independentemente de condenação, ou mesmo autuação, em
ambos os casos; ii) reincidência legal, que, segundo a nossa legislação, é a condenação judicial por novo
71
O Relatório de Pesquisa intitulado “Reincidência Criminal no Brasil”, publicado pelo Ipea
em 2015, identificou as cinco principais pesquisas nacionais sobre reincidência, dentre
as quais três apresentaram taxas de reincidência penitenciária, conforme a seguir:
Diante dos dados levantados pelas pesquisas sobre o tema, verifica-se que a taxa de
reincidência penitenciária é elevada, indicando que esse fenômeno deve ser
considerado como uma causa importante da superlotação carcerária.
crime até cinco anos após a extinção da pena anterior; e iii) reincidência criminal, quando há mais de uma
condenação, independentemente do prazo legal. (Ipea, 2015)
17
Relatórios obtidos da página <http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-penal/pj-mutirao-
carcerario/relatorios>. Acesso em: 02/02/2019.
72
seguintes problemas relacionados às instalações físicas das unidades visitadas: i)
estrutura de saneamento precária, com vazamentos e esgoto e lixo a céu aberto,
acarretando mau cheiro e proliferação de vetores; ii) estruturas prediais antigas, em
ruínas; iii) celas sem ventilação adequada, escuras, sujas e insalubres; iv) infiltrações; v)
racionamento de água, havendo casos de falta de água para consumo e para a descarga
de vaso sanitário; v) instalações elétricas irregulares, com a presença de “gambiarras”.
Verifica-se que, para todos os objetos avaliados, mais de 60% dos estabelecimentos
penais foram classificados como regular ou ruim, enquanto somente menos de 5%
obtiveram a melhor classificação (ótimo), evidenciando a inadequação de grande parte
das estruturas que custodiam os indivíduos privados de liberdade, os quais
compulsoriamente devem habitar espaços insalubres e deteriorados, sendo essa
condição agravada pela superlotação carcerária. O encarceramento nessas condições
caracteriza-se como uma violação ao direito básico dos presos de ocupar um ambiente
salubre, conforme previsto expressamente na LEP.
73
3. Insuficiência na prestação de assistências e na oferta de trabalho aos presos
Segundo a LEP, o Estado tem o dever de garantir ao preso alguns tipos de assistência
com o objetivo de prevenir o crime e orientar o seu retorno à convivência em sociedade,
sendo essas assistências classificadas em material, à saúde, jurídica, educacional, social
e religiosa. Além das assistências, também cabe ao Estado oferecer a prática de
atividade laboral com a finalidade educativa e produtiva. Embora as assistências e a
oferta de trabalho devam ser garantidas a toda a população carcerária, os
levantamentos realizados mostram que ainda existem muitas lacunas no cumprimento
desse dever estatal, o que ocasiona a violação de importantes direitos dos presos e, em
última instância, prejudica a sua reintegração social, contribuindo para a reincidência
em atividades criminosas.
Assistência material
74
Quadro 20 – Quantidade de unidades prisionais com assistência material: vestuário,
banho, material de higiene pessoal e alimentação orientada por nutricionista, 2015
Vestuário Banho Higiene Pessoal Alimentação
Unidades Unidades
Total de Unidades que que têm Unidades que que possuem
Estados Unidades que
Respondentes fornecem uniformes fornecem cardápio
garantem o
uniforme aos em mau material de orientado
banho diário
presos/internos estado de higiene pessoal por
conservação nutricionista
Centro-Oeste 234 63 27% 17 7% 221 94% 111 47% 132 56%
Nordeste 382 125 33% 39 10% 355 93% 155 41% 166 43%
Norte 159 28 18% 9 6% 147 92% 123 77% 134 84%
Sudeste 480 392 82% 60 13% 463 96% 419 87% 365 76%
Sul 183 78 43% 22 12% 178 97% 158 86% 142 78%
Total 1.438 686 48% 147 10% 1.364 95% 966 67% 939 65%
Fonte: Adaptado do relatório “A visão do Ministério Público sobre o sistema prisional brasileiro”, CNMP,
2016
Observação: Foram destacados em laranja os dados que possuem caráter negativo, em razão de
indicarem unidades que possuem itens em mau estado de conservação, ao passo que os demais dados
indicam somente o fornecimento do item.
Considerando os valores totais apurados, verifica-se que menos da metade das unidades
cumpriam com o fornecimento de camas, roupas de cama, toalhas de banho e
uniformes aos presos. O fornecimento de colchões e de material de higiene pessoal
também estava distante da universalização, compreendendo 74% e 67% das unidades,
respectivamente. O banho diário ainda não era garantido em 5% das unidades,
enquanto 35% não ofereciam refeições conforme orientações de nutricionista.
Nota-se que a proporção de unidades que cumpriam com o fornecimento dos itens pode
variar consideravelmente conforme a região geográfica, a exemplo do fornecimento de
toalhas de banho, que atingiu a taxa de 5% no Centro-Oeste e 76% no Sudeste. Esse
dado é importante para demonstrar que, embora existam problemas generalizados no
sistema prisional, estes sempre terão diferentes graus de incidência quando forem
efetuados recortes regionais ou estaduais.
Assistência à saúde
75
– na figura da Secretaria Estadual de Saúde e da Secretaria Estadual de Justiça, da
Administração Penitenciária ou congênere – e os municípios, estes em caráter
facultativo. Contudo, o caráter facultativo da adesão do município na PNAISP não tem
sido compreendido pelos atores atuantes no governo federal como uma previsão legal
que autoriza a omissão do município na prestação de serviços de saúde à população
prisional, tendo em vista a responsabilidade desse ente no âmbito da atenção básica,
conforme exposto nos Relatórios de Auditoria da CGU nº 20180110918 e 20180124019.
18
Disponível em: https://auditoria.cgu.gov.br/download/11610.pdf . Acesso em: 30/04/2019.
19
Disponível em: https://auditoria.cgu.gov.br/download/12790.pdf . Acesso em: 01/07/2019.
76
Outro dado obtido pelas inspeções carcerárias realizadas por membros do Ministério
Público em 2015, constante do relatório “A visão do Ministério Público sobre o sistema
prisional brasileiro - 2016”, evidencia a situação da assistência à saúde sob outro
parâmetro. Do total de 1.438 unidades prisionais respondentes, verificou-se que
somente 40% das unidades contavam com farmácia, variando de 26% para a região do
Centro-Oeste até 57% para a região Sudeste.
Assistência jurídica
A Lei de Execução Penal determina que as unidades federativas devem ter serviços de
assistência jurídica, integral e gratuita, prestados pela Defensoria Pública dentro e fora
dos estabelecimentos penais, sendo esses serviços destinados aos presos sem recursos
financeiros para constituir advogado, os quais constituem a maior parte da população
carcerária20. Cabe também às unidades federativas prestar auxílio estrutural, pessoal e
material à Defensoria Pública no exercício de suas funções, devendo todos os
estabelecimentos penais possuírem local apropriado ao atendimento pelo defensor
público.
20
Agência CNJ de Notícias. ONU aponta a falta de defensores públicos entre as causas da
superpopulação carcerária no Brasil. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/61237-onu-
aponta-a-falta-de-defensores-publicos-entre-as-causas-da-superpopulacao-carceraria-no-brasil>. Acesso
em: 27/03/2019.
77
O Infopen de 201421 realizou levantamento de dados relacionados à assistência jurídica,
identificando como as unidades prisionais estavam estruturadas para oferecer o
atendimento jurídico. Obteve-se o seguinte resultado:
Os dados mostram que 76% das unidades prisionais prestam atendimento jurídico
gratuito de alguma forma, sendo que na maior parte das unidades (40%), a sala de
atendimento jurídico é compartilhada com outros serviços, enquanto 22% possuem
salas exclusivas e 14% realizam o atendimento no parlatório. Por outro lado, 22% das
unidades não possuem nenhuma sala para esse tipo de atendimento.
No levantamento, também se verificou que 23% das unidades (288) não prestam
assistência jurídica gratuita aos presos de forma sistemática. Relativamente àquelas que
prestam essa assistência, 63% das unidades o fazem por meio da Defensoria Pública,
11% fazem uso de advogados conveniados/dativos e 1% presta assistência jurídica
privada por meio de organização não governamental ou outra entidade sem fins
lucrativos22.
Com base nas inspeções carcerárias realizadas pelo Ministério Público, dados sobre a
assistência jurídica também foram apresentados no relatório “A visão do Ministério
Público sobre o sistema prisional brasileiro - 2016”, conforme quadro abaixo.
21
O último levantamento do Infopen, de junho de 2016, não apresentou dados relativos à assistência
jurídica.
22
Os diferentes tipos de prestação não são excludentes entre si.
78
Quadro 23 – Quantidade de unidades prisionais com assistência jurídica, 2015
Unidades com assistência jurídica Unidades com serviço de
Total de
Estados gratuita e permanente aos assistência jurídica no próprio
Respondentes
presos/internos carentes estabelecimento
Embora a maior parte das unidades (86%) tenha informado que oferece assistência
jurídica gratuita e permanente aos presos carentes, somente 41% das unidades o fazem
no próprio estabelecimento, estando o restante em desacordo ao que determina a Lei
de Execução Penal.
Assistência educacional
O ensino ministrado aos presos deve ser integrado ao sistema estadual e municipal de
ensino e deve ser mantido, administrativa e financeiramente, com o apoio da União,
com a utilização de recursos tanto do orçamento da educação, quanto do sistema
estadual de justiça ou da administração penitenciária. Além disso, as atividades
educacionais também podem ser objeto de convênio com entidades públicas ou
particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados. Também se
permite aos presos a participação em programas de educação à distância.
79
Quadro 24 – Pessoas privadas de liberdade envolvidas em atividades educacionais por
UF1
80
O relatório “A visão do Ministério Público sobre o sistema prisional brasileiro - 2016”
também apresenta importantes dados complementares sobre a assistência
educacional, exibidos a seguir:
Assistência social
No âmbito do sistema prisional, cabe aos serviços de assistência social, de forma geral,
conhecer os problemas, dificuldades e necessidades dos presos e encaminhá-los aos
serviços específicos que possam resolvê-los; promover a aproximação da família do
preso; e providenciar a obtenção de documentos (como certidão de nascimento,
identidade e CPF), uma vez que muitos indivíduos chegam ao estabelecimento penal
com a documentação incompleta ou mesmo sem nenhuma documentação. Cabe
pontuar que a regularização da documentação dos presos é de grande importância, visto
que é uma condição para sua inclusão em programas de trabalho e estudo.
O levantamento de dados relativos à assistência social foi feito pelo Infopen de 2014,
revelando a quantidade de unidades prisionais que dispunham de estrutura para a
realização dos atendimentos aos presos, qual seja:
81
Figura 03 – Unidades com sala de atendimento para serviço social
Verifica-se que 36% dos estabelecimentos penais não contavam com sala de
atendimento para serviço social. Das 779 unidades que dispunham de sala, 63%
utilizavam salas compartilhadas com outros serviços.
Outros dados obtidos pelo levantamento indicam a proporção de pessoas presas para
cada assistente social, em cada unidade da federação:
Os elevados números de presos que devem ser atendidos pelos assistentes sociais –
situação verificada em todas as unidades federativas – são um indicativo de que o
serviço, apesar de existente em vários estabelecimentos, pode não contar com recursos
humanos suficientes para atender satisfatoriamente à demanda de pessoas
encarceradas.
82
Assistência religiosa
Conforme apurado, metade das unidades prisionais não cumpre com a obrigação legal
de oferecer local destinado à realização de cultos religiosos. Além disso, verifica-se que
há poucas unidades com presos que desejam alguma representação religiosa não
oferecida (7%) e que determinam a participação compulsória em atividades religiosas
(1%), o que é vedado pela lei.
Oferta de trabalho
Segundo a Lei de Execução Penal, o trabalho ofertado ao preso possui o caráter de dever
social e de condição de dignidade humana, e tem como finalidade a educação e a
produção. Os presos condenados à pena privativa de liberdade estão obrigados a
trabalhar na medida de suas aptidões e capacidade, e a remuneração advinda do
trabalho deverá ter as seguintes aplicações: indenização dos danos causados pelo crime,
desde que determinados judicialmente e não reparados por outros meios; assistência à
família; pequenas despesas pessoais; e ressarcimento ao Estado das despesas realizadas
com a sua manutenção, em proporção a ser fixada. Parte da remuneração também pode
ser depositada em caderneta de poupança para ser entregue ao condenado quando
posto em liberdade.
O trabalho pode ser oferecido aos presos no interior dos estabelecimentos pela própria
administração pública ou em parceria com a iniciativa privada, por meio da celebração
de convênios para a implantação de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio
dos presídios. O trabalho também pode ser executado externamente ao
83
estabelecimento, desde que atendidos alguns requisitos por parte do preso, como o
cumprimento mínimo de um sexto da pena.
O último Infopen identificou que somente 15% da população carcerária exercia algum
tipo de trabalho em 2016, sendo que esse índice alcançou o menor valor no Rio Grande
do Norte, com 1% da população em atividade laboral, e o maior valor em Minas Gerais,
com 30%. O quadro abaixo apresenta esses dados:
A respeito deste tema, cabe mencionar alguns achados registrados no relatório do Ipea
“Reincidência Criminal no Brasil” (2015) que contribuem para explicar o baixo
percentual de presos em atividades laborais. São eles:
• As oportunidades de trabalho não atendem à demanda de presos que querem
trabalhar, em razão de não haver empresas suficientes para firmarem convênios
com o sistema prisional estadual. Apontou-se que existe resistência e
preconceito por parte do empresariado para empregar pessoas encarceradas.
• Presos que trabalham e que integram módulo específico da unidade prisional
podem ser estigmatizados e hostilizados pelos demais presos, sendo vistos como
possíveis delatores, além da imagem de que muitos dos integrantes do módulo
seriam condenados por crimes sexuais; assim, há uma cultura local que contribui
para que muitos presos rejeitem a prática de atividades laborais.
84
Destaca-se ainda que, conforme os Relatórios da CGU nº 201801109 e 201801240, a
meta do Plano Plurianual 2016-2019 referente ao trabalho no sistema prisional não tem
sido atingida, constando oportunidades de cooperação entre órgãos federais no âmbito
da Política Nacional de Trabalho no âmbito do Sistema Prisional, aprovada
recentemente por meio do Decreto nº 9.450, de 24 de julho de 2018.
23
Disponível em: <https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/brasil-tem-media-de-7-presos-
por-agente-penitenciario-19-estados-descumprem-limite-recomendado.ghtml>. Acesso em:
29/03/2019.
24
Sobre esses apontamentos, consultar: i) CÂMARA, Paulo Sette. A política carcerária e a segurança
pública. Revista Brasileira de Segurança Pública. Ano 1, Edição 1, 2007; ii) BRASIL. Câmara dos Deputados.
CPI – Sistema Carcerário Brasileiro – Relatório Final. Brasília, 2017; iii) O TEMPO. Quase 60% dos agentes
penitenciários mineiros são contratados. Disponível em: <https://www.otempo.com.br/cidades/quase-
60-dos-agentes-penitenci%C3%A1rios-mineiros-s%C3%A3o-contratados-1.1008398>. Acesso em
29/03/2019.
85
Sobre o tema, cabe registrar que se encontra em tramitação a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) nº 372/17, que passa a conferir status de polícia aos agentes
penitenciários a partir da criação das polícias penais federal, estaduais e distrital, que
passarão a integrar o rol de órgãos do sistema de segurança pública instituído pela
Constituição Federal.
É preciso chamar a atenção para algumas graves situações que podem surgir em
consequência das fragilidades apontadas. A quantidade insuficiente de agentes pode
favorecer a ocorrência de casos de violência dentro das unidades prisionais, tanto entre
os detentos como também entre estes e os próprios agentes. A formação inadequada
do agente, por sua vez, também pode contribuir para a existência de um ambiente
violento quando resulta em abuso de poder no tratamento dispensado aos presos, o
que viola direitos, gera revolta e alimenta um ciclo de tensão e violência perpetrado por
detentos e agentes. Também podem ocorrer casos de corrupção praticada por agentes
penitenciários com vistas a permitir a entrada de itens proibidos nos estabelecimentos,
o que fortalece a atuação das facções criminosas (este assunto será abordado adiante).
25
Citam-se, a título de exemplo: i) ASPEGO. Drogas, armas e celulares na prisão. Disponível em:
<https://www.aspego.com.br/noticias/drogas-armas-e-celulares-na-prisao.html>; ii) G1. Entrada de
arma e celular em prisão do Tocantins tem tabela de preço. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2017/01/entrada-de-arma-e-celular-em-prisao-do-tocantins-tem-tabela-de-
preco.html>. iii) HOJE EM DIA. Investigação apura entrada de celular, drogas e outros itens proibidos em
penitenciária de Valadares. Dispnível em:
<https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/investiga%C3%A7%C3%A3o-apura-entrada-de-celular-
drogas-e-outros-itens-proibidos-em-penitenci%C3%A1ria-de-valadares-1.581315>; iv) G1. Mais de 14 mil
celulares foram apreendidos em presídios de SP em 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-
paulo/noticia/mais-de-14-mil-celulares-foram-apreendidos-em-presidios-de-sp-em-2017.ghtml>; e v)
ESTADO DE MINAS. Quatro drones já foram interceptados com drogas, celulares e armas em Minas.
Disponível em:
<https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2018/07/31/interna_gerais,976799/quatro-drones-ja-
foram-achados-com-drogas-celulares-e-armas-em-minas.shtml>. Acesso em 27/03/2019.
86
presos, sejam elas armas de fogo ou brancas, é o principal fator que viabiliza a
ocorrência de episódios de grandes violência e rebeliões deflagradas nas prisões.
Outra medida adotada por algumas unidades prisionais para coibir a comunicação dos
presos por meio de aparelhos celulares é a instalação de bloqueadores de sinais de
telefonia móvel nos estabelecimentos, a qual atualmente é custeada pela administração
prisional. Há, contudo, o entendimento de que o serviço de instalação e manutenção
desses bloqueadores deveria ser realizado por parte das empresas prestadoras de
serviço de telefonia móvel em todos os estabelecimentos penais, sendo essa exigência
objeto de projeto de lei em trâmite no Legislativo26.
26
CÂMARA NOTÍCIAS. Câmara aprova projeto que exige bloqueador de sinal de celular em presídios.
Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SEGURANCA/547833-CAMARA-
APROVA-PROJETO-QUE-EXIGE-BLOQUEADOR-DE-SINAL-DE-CELULAR-EM-PRESIDIOS.html>. Acesso em:
27/03/2019.
27
Foram consideradas as seguintes fontes: i) DIAS, C. N.; ADORNO, A. Cronologia dos “Ataques de 2006”
e a nova configuração de poder nas prisões na última década. Revista Brasileira de Segurança Pública,
São Paulo, v. 10, n. 2, 118-132, Ago/Set 2016; ii) DIAS, C. N.; MANSO, B. P. PCC, sistema prisional e gestão
do novo mundo do crime no Brasil. Revista Brasileira de Segurança Pública, São Paulo, v. 11, n. 2, 20-29,
Ago/Set 2017; iii) BRASIL. Câmara dos Deputados. CPI – Sistema Carcerário Brasileiro – Relatório Final.
Brasília, 2017; e iv) GAZETA DO POVO. Como e por que o PCC se tornou a maior facção criminosa do país.
Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-e-por-que-o-pcc-se-tornou-a-maior-
faccao-criminosa-do-pais-eaak88sbis60tx4huepxnsxv5/>. Acesso em: 28/03/2019.
87
As facções criminosas podem ser compreendidas como grupos portadores de uma
identidade, de um discurso e de formas de organização e regulação social que se
enraizaram dentro e fora das prisões. O Primeiro Comando da Capital (PCC), maior
facção criminosa do país, teria surgido dentro de uma unidade prisional em 1993 com o
discurso de promover a organização e a união de seus membros para enfrentar a prática
carcerária desumana, que seria caracterizada pela injustiça, opressão, tortura e
massacres nas prisões. Um dos motivos apontados para o seu crescimento é a melhoria
nas condições de vida que o grupo oferece aos presos que se tornam seus filiados, como,
por exemplo, impedindo estupros e providenciando itens básicos como escovas de
dentes e colchões. Portanto, as péssimas condições do cárcere, a ausência de
assistências básicas aos presos e a violência generalizada (entre os próprios presos e
entre esses e as autoridades locais) teriam sido os elementos propulsores para o
surgimento e a expansão do PCC.
O fortalecimento das facções criminosas também se deve à sua atuação direta no tráfico
de drogas, que é a principal fonte financiadora de suas ações, incluindo as demandas de
seus integrantes que se encontram encarcerados. Disputas entre diferentes facções pelo
domínio sobre territórios do mercado de drogas solidificam a rivalidade entre esses
grupos, criando-se ambientes de tensão e conflito dentro das prisões, que
eventualmente podem resultar em massacres de grandes proporções.
Pode-se afirmar que o problema das facções criminosas no Brasil é dotado de alta
complexidade em razão das seguintes características: i) não se restringe ao sistema
prisional, estando espalhado por todo o tecido social; ii) constitui-se de grupos que
atuam há muitos anos, os quais possuem uma inteligência gerencial consolidada e
gozam de prestígio e poder; e iii) está intrinsecamente ligado ao tráfico de drogas e à
marginalização de grupos sociais, os quais representam alguns dos maiores problemas
sociais do Brasil. Portanto, tratar de soluções para as facções criminosas de forma
completa envolve necessariamente abordar esses outros aspectos apontados, o que
resultaria na abordagem de temas que fogem ao escopo do presente trabalho, ainda
que sejam de grande relevância.
88
incluindo atividades que têm o potencial de promover sua ressocialização, como
educação, trabalho e recreação.
Segundo a Lei de Execução Penal, os presos devem ocupar as celas de acordo com dois
critérios de separação: espécie de preso e grau de periculosidade. Primeiramente, no
que diz respeito à espécie, deve-se separar os presos provisórios daqueles condenados
por sentença transitada em julgado. Além disso, dentro de cada espécie, os presos
devem ser separados conforme os seguintes critérios, que denotam o grau de
periculosidade, nos termos do art. 84 da LEP:
1) Presos provisórios:
I) acusados pela prática de crimes hediondos ou equiparados;
II) acusados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à
pessoa;
III) acusados pela prática de outros crimes ou contravenções diversos dos
apontados nos incisos I e II.
2) Presos condenados:
I) condenados pela prática de crimes hediondos ou equiparados;
II) reincidentes condenados pela prática de crimes cometidos com violência ou
grave ameaça à pessoa;
III) primários condenados pela prática de crimes cometidos com violência ou
grave ameaça à pessoa;
IV) demais condenados pela prática de outros crimes ou contravenções em
situação diversa das previstas nos incisos I, II e III.
89
Quadro 29 – Quantidade de unidades prisionais por tipo de separação de presos por
região, 2015
Os presos
Os presos
são
Os presos que Os presos Os presos são
mantidos
provisórios são cumprem primários mantidos Há grupos ou
separados
Total de mantidos pena em são separados facções
de acordo
Estados Respon separados dos regimes mantidos conforme a criminosas
com a
dentes presos em distintos separados natureza do identificados no
identificaçã
cumprimento são dos presos delito cometido estabelecimento
o de grupos
de pena mantidos reincidentes (periculosidade)
ou facções
separados
criminosas
Centro-
234 37 16% 92 39% 20 9% 57 24% 61 26% 35 15%
Oeste
Nordeste 382 64 17% 90 24% 34 9% 65 17% 106 28% 63 16%
Norte 159 28 18% 47 30% 14 9% 33 21% 33 21% 21 13%
Sudeste 480 108 23% 168 35% 63 13% 133 28% 210 44% 139 29%
Sul 183 42 23% 64 35% 24 13% 37 20% 72 39% 85 46%
Total 1.438 279 19% 461 32% 155 11% 325 23% 482 34% 343 24%
Fonte: Adaptado do relatório “A visão do Ministério Público sobre o sistema prisional brasileiro”, CNMP,
2016
Chama a atenção o dado de que 68% das unidades não separam os presos conforme o
regime de cumprimento de pena, visto que a LEP prevê que cada regime deve ser
cumprido em estabelecimento penal específico: o regime fechado em penitenciária; o
regime semi-aberto em colônia agrícola, industrial ou similar; e o regime aberto em casa
de albergado, o que indica haver quantidades insuficientes desses diferentes
estabelecimentos para atender à demanda existente.
A não separação de presos conforme sua espécie e seu grau de periculosidade é um dos
principais motivos para que as prisões sejam vistas pela sociedade em geral como
“escola do crime”, pois presos perigosos e experientes podem influenciar, capacitar ou
cooptar presos que tenham cometido crimes de menor potencial ofensivo, prejudicando
diretamente a função ressocializadora da pena.
Apesar de essa ser uma realidade que traz graves consequências tanto para o sistema
prisional quanto para a sociedade em geral, este é um tema que não possui grande
90
visibilidade social e política, o que acarreta na insuficiência de políticas públicas de saúde
para tratar toda a população carcerária usuária de drogas, seja pela falta de profissionais
habilitados, de medicamentos e estrutura adequada, ou mesmo pela adoção de
estratégias de tratamento ineficazes.
Também importa mencionar que nem todos os casos de consumo de drogas nas prisões
é decorrente de uma situação de dependência química prévia ao encarceramento. Há
relatos de detentos que adquirem o vício na própria prisão, em razão da constante
influência ou mesmo porque são obrigados a consumir drogas pelos seus companheiros
de cela. Além disso, a reclusão em celas precárias e superlotadas atrelada à ociosidade
são fatores que colaboram para o consumo de drogas, como uma forma de amenizar as
agruras vividas diuturnamente pelos detentos.28
9. Considerações finais
A partir da exposição dos problemas, que foram agrupados em oito grandes grupos,
verifica-se que há uma grande interligação e retroalimentação entre eles, de modo que
a problemática do sistema prisional deve ser tratada de forma holística, com a adoção
concomitante de ações dirigidas às diferentes áreas de gestão do sistema.
Ainda assim, dois desses problemas se destacam devido não somente à sua relevância
intrínseca, mas por estarem intimamente vinculados a problemas de outras naturezas.
Trata-se da superlotação e da insuficiência na prestação de assistências e na oferta de
trabalho. Conforme apontado, verifica-se que a superlotação contribui para que não
haja a correta separação dos presos, para o fortalecimento das facções criminosas e para
o consumo de drogas no interior das unidades prisionais, além de ser um fator que
contribui para a própria insuficiência na prestação de assistências e na oferta de
trabalho. A baixa oferta de assistências e de trabalho, por sua vez, também contribui
para o fortalecimento das facções criminosas e para o consumo de drogas, além de
contribuir diretamente para a reincidência penitenciária, o que, por sua vez,
28
Para o registro do presente tópico, foram consideradas as seguintes fontes: i) IPEA. Reincidência
Criminal no Brasil – Relatório de Pesquisa. Rio de Janeiro, 2015; ii) MONTENEGRO, M. C. O que a
dependência química nos presídios tem a ver com você, que nem conhece uma prisão? Disponível em:
<https://medium.com/@conselhonacionaldejustica/o-que-a-depend%C3%AAncia-qu%C3%ADmica-nos-
pres%C3%ADdios-tem-a-ver-com-voc%C3%AA-que-nem-conhece-uma-pris%C3%A3o-2f0767ad1cb>; e
iii) INSTITUTO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS CRIMINAIS. Presos dependentes químicos. Disponível em:
<https://ibccrim.jusbrasil.com.br/noticias/2901389/presos-dependentes-quimicos>. Acesso em:
28/03/2019.
91
retroalimenta a superlotação carcerária. Nesse sentido, destaca-se que as assistências,
conforme a LEP, devem “prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em
sociedade”.
Nesse contexto, também há que se destacar que o próprio objetivo da execução penal,
segundo dispõe a LEP, consiste não somente na efetivação das disposições da sentença
ou decisão criminal, mas também na promoção de condições para a harmônica
“integração social do condenado e do internado”. Assim, para alcançar esse objetivo, as
assistências que o Estado deve garantir aos presos no âmbito material, à saúde, jurídica,
educacional, social e religiosa, além da oferta ao trabalho, mostram-se de extrema
importância.
Cabe observar que as iniciativas que visam solucionar os problemas do sistema prisional
estão na alçada de diferentes atores, envolvendo as três esferas da Federação (União,
estados e municípios) e os três poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário).
A própria sociedade também possui um importante papel nesse contexto, visto que os
apelos sociais tendem a influenciar os rumos de muitas decisões de governo que
impactam nas políticas públicas.
No caso específico do sistema prisional, é notório que existe uma grande resistência por
parte da sociedade em aceitar investimentos de recursos públicos em ações que
busquem melhorar as condições de vida de pessoas privadas de liberdade. Há, inclusive,
uma hipótese29 nesse sentido que buscar explicar o verdadeiro motivo da permanência
do caos no sistema prisional brasileiro ao longo de tantos anos, a despeito de toda a
estrutura jurídico-formal existente. A explicação estaria no conceito da concepção de
dignidade não ontológica: devido à fragilidade na formação moral e social de grande
parte da sociedade brasileira, esta teria uma concepção de dignidade muito mais
vinculada ao que o indivíduo tem ou faz do que ao simples fato de se tratar de um ser
humano. Assim, nessa concepção, pessoas que cometem crimes ou são acusadas de
terem cometido crimes, devido ao seu comportamento reprovável, não seriam titulares
da dignidade e, portanto, não teriam o direito a serem tratados de forma digna, o que
explicaria o generalizado quadro de violação aos direitos fundamentais dos presos no
Brasil.
29
BARCELLOS, A. P. Violência urbana, condições das prisões e dignidade humana. Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, v. 254, 2010.
92