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JESUS, REVELAÇÃO DA “FRAQUEZA DE DEUS”

“O melhor elogio da imperfeição o fez Deus, fazendo-se Homem” (Anônimo)

Jesus, pelo seu modo de ser e pela sua pregação, tocou a vida bem no fundo. Ele
conheceu a miséria, a dor, a perseguição, a solidão...
Jesus assume a tal ponto a indigência e a fragilidade do ser, que aqueles que o
encontram e o escutam reconhecem de imediato estar diante de um homem
profundamente humano.
N’Ele não há arrogância, não há ressentimento, não há amargura em sua conduta.
N’Ele não há lamúrias pelo que acontece na vida. Não há obsessão pelos resultados ou pelo sucesso.
Nenhuma de suas ações deixa transparecer a idéia de triunfo, da vitória, do homem vencedor...
Jesus foi um dissidente do poder, da fama... Na realidade, Jesus sempre fez o que decidia fazer, sem se
preocupar jamais em corresponder às expectativas alimentadas pelos outros a seu respeito.

Jesus aceita e acolhe a fragilidade da existência humana. Ele não “trabalha”


com o conceito de perfeição; Ele não tem a pretensão de ser considerado um
“observante” do dever.
A realidade humana é respeitada integralmente, em todas as suas dimensões.
Jesus “absorve” a realidade, sem discriminá-la nem classificá-la. Simplesmente
acolhe; acolhe tudo quanto é desprezível e aparentemente desprovido de valor. A
atuação de Jesus revela-se como abraço da realidade. Abraçar é o mesmo que
acolher e acolher é o mesmo que perdoar. Aceitação traduz-se em perdão.
Pelo seu modo de viver, Jesus revela que não temos necessidade de parecer
“super-homens” ou “super-mulheres” para sermos agradáveis a Deus.
Basta sermos humanos. Aliás, essa foi a 1ª tentação vencida por Jesus, quando o
“acusador” pede-lhe que faça a exibição de uma “metamorfose”,
transformando-se de humano em divino:
“Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães” (Mt. 4,3).

O lado humano de Jesus não se deixou sufocar pela cobrança dos outros ou pela
necessidade de ser um exemplo. Jesus toma suas decisões sem preocupar-se em
parecer “virtuoso” aos olhos dos outros.
Seu comportamento não se regia pelo que os outros consideravam “correto e
adequado”.
Jesus teve a coragem de ser Ele mesmo, de fazer as coisas que Ele acreditava
fazer. Não imitava ninguém e não buscava a aprovação das autoridades.
Sua visão de vida não o afasta da realidade; manteve-se sempre em contato com a fragilidade da
existência. Sentou-se à mesa com pecadores e misturou-se com prostitutas; voltou-se para aqueles pelos
quais as pessoas não nutriam qualquer interesse: os pobres, os oprimidos, os excluídos...
Sua preocupação com o destino dos miseráveis causou escândalo nos observantes da Lei, nos guardiões
da pureza das crenças e costumes judaicos.

A experiência da fragilidade dá a conhecer a profundeza da existência humana.


Deixando-se a descober-to, Jesus permite ao ser humano reconhê-la e aceitá-la
no mais profundo do seu coração. Para Jesus, a conversão significa mover-se em
direção à fragilidade, aos limites, à imperfeição... Ao reconhecer-se fraco e
limitado o ser humano se abre para Deus e para os outros; ele sente-se
necessitado de salvação.
Por isso, no Evangelho, desaparece a relação com a perfeição. A perfeição é removida porque comporta
o afastamento do homem de sua própria realidade.
Querer viver a perfeição é ausentar-se do Reino, é afundar na religiosidade do “mérito”.
Jesus não apenas entende a vida como imperfeição, mas também que, a partir da imperfeição, Jesus
impulsiona o salto para a vida. O “trajeto” de Jesus vai da imperfeição à vida.
Jesus recupera o ser humano na própria raiz do seu ser, precisamente onde o ser
se revela limitado, frágil.
O olhar de Jesus é compassivo e compreensivo diante da realidade inacabada e
limitada do ser humano.
Consequentemente, Jesus não condena a imperfeição. Antes, a condição
precária, inacabada, carente do ser humano é um valor, tem seu próprio sentido.
O ser humano não tem necessidade de mostrar-se per-feito aos olhos de Deus.
A fragilidade do ser humano é, igualmente, a sua qualidade.
Jesus deixa o humano intacto. O humano é o lugar onde nasce a compaixão. A
sua visão do homem não suprime a imperfeição.
A partir de Jesus podemos dizer: “é a hora
do humano, é a hora da imperfeição.

Texto bíblico: Mt. 15,21-28

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