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INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO SUPERIOR E PESQUISA

ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PREVIDENCIÁRIO

THAÍS BARCELOS DORNELLAS

APOSENTADORIA ESPECIAL DO DEFICIENTE –


ASPECTOS POLÊMICOS

JACAREÍ/SP
2017
THAÍS BARCELOS DORNELLAS

APOSENTADORIA ESPECIAL DO DEFICIENTE –


ASPECTOS POLÊMICOS

Trabalho Modular apresentado ao curso de


Especialização em Direito Previdenciário, da
Faculdade INESP em parceria com o Instituto
INFOC, como requisito parcial à conclusão do
Curso.

Coordenadora Responsável: MSc. Juliana de


Oliveira Xavier Ribeiro

JACAREÍ/SP
2017
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 3

2 A APOSENTADORIA ESPECIAL DO DEFICIENTE ......................................... 7

2.1 Concessão ..................................................................................................... 8

A APOSENTADORIA ESPECIAL DO DEFICIENTE ......................................... 11

3.1 Regulamentação dos Graus Leve, Moderado e Grave ................................ 11

3.2 Requisito da Carência .................................................................................. 12

3.3 Fator Previdenciário Somente se mais Benéfico .......................................... 13

3.4 oMISSÃOão da possibilidade de inserção do adicional de auxílio para terceiros,

nos moldes dos 25% da Aposentadoria por Invalidez ........................................ 13

3.5 Revisão para Segurados Deficientes ........................................................... 14

4 CONCLUSÃO.................................................................................................. 16

4 ANEXO I- Tabelda IFBra ................................................................................. 17

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 18
5

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa demonstrar a aposentadoria especial da pessoa


portadora de deficiência em primeiro plano, para então elencar os temas
merecedores de maior tratamento acadêmico e jurídico.
Regulada pela Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013, a
aposentadoria especial do deficiente é aquela cuja adoção de critérios diferenciados,
mais brandos, destinam-se às pessoas com deficiência, conforme o art. 2º da lei.
A aposentadoria especial do deficiente advém do art. 201, §1º, da
Constituição Federal, que determina a vedação de critérios diferenciados para a
concessão de aposentadorias no Regime Geral de Previdência Social (RGPS), salvo
nos casos de exercício de atividades que oferecem risco a saúde ou a integridade
física, e das pessoas com deficiência.
Trata-se de benefício oriundo da Constituição Federal. Como regra do
RGPS, não há direito a ser concedido sem a devida fonte de custeio, desta forma, a
aposentadoria especial do deficiente encontra resguardo da Carta Magna,
impossibilitando alegar a inconstitucionalidade da LC 142/2013.
Os termos para a última parte do parágrafo, objeto de estudo deste
trabalho, foram determinados pela Lei Complementar nº 142, de 08 de maio de
2013. Para a lei, em seu art. 2º, pessoa com deficiência é aquela que tem
impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os
quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas.
OLIVEIRA explica o conceito de pessoa com deficiência conforme o
Estatuto da Pessoa com Deficiência, mencionando que esta lei se torna um
microssistema normativo, cujos efeitos se estendem para outros ramos do Direito,
integrando o sistema da Seguridade Social em sua vertente contributiva.
Este conceito é puramente literal àquele estabelecido no art. 1º da
Convenção de Nova York, recepcionada no Brasil com status de emenda
constitucional, sendo adotado pelo art. 2º do Estatuto da Pessoa com Deficiência,
Lei 13.146, de 06 de julho de 2015. O Estatuto da Pessoa com Deficiência – Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, possui como referência a
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
6

Facultativo, ratificado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo


186/2008, promulgado pelo Decreto 6.949/2009.
7

2 A APOSENTADORIA ESPECIAL DO DEFICIENTE

Esta aposentadoria é devida aos segurados empregados, trabalhador


avulso, contribuinte individual, facultativo e especial que contribua facultativamente,
nos termos do art. 70-B do Decreto 8.145/2013. Aqueles que vertem suas
contribuições de forma reduzida que desejam obter esta aposentadoria na
modalidade do tempo de contribuição ou ter a contagem recíproca do tempo só
poderão obter o benefício se complementarem a contribuição mensal, nos termos do
art. 199-A, §1º do Decreto 3048/99, enquanto a aposentadoria por idade do
deficiente é devida a todos os segurados, conforme o art. 70-C do Decreto
8145/2013.
O risco social tutelado pelo benefício são as barreiras, impedimentos,
sofridos pelo segurado em detrimento de sua condição, apesar do ordenamento
jurídico reconhecer sua capacidade. Desta forma, foram estabelecidos critérios
diferenciados para duas aposentadorias: tempo de contribuição e idade (art. 3º LC
142/2013).
Interessante é o apontamento de OLIVEIRA quanto a diferenciação de
incapacidade e deficiência: “[...] a pessoa com deficiência não é relativamente capaz
nem absolutamente capaz, tampouco incapaz, é igualmente capaz, possuindo
capacidade civil plena [...]” (OLIVEIRA, 2017, p.54). Isto porque este segurado
detém barreiras impostas pela sua condição, reconhecidas no âmbito do Regime
Geral da Previdência Social como situações especiais, não doença incapacitante.
Conforme IBRAHIM, em sua doutrina Curso de Direito Previdenciário
(2015, p.622), “nota-se, de imediato, que a deficiência não tem relação com a
habilidade para o trabalho”, mas sim reconhece sua capacidade, ao passo que as
restrições para a vida em sociedade sobrevenham. Entendimento congruente com a
Convenção nº 159 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), nominada como
Convenção sobre Reabilitação Profissional e Emprego de Pessoas Deficientes
(ratificada no Brasil pelo Decreto nº 129/1991) e a Declaração dos Direitos dos
Deficientes, da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1975.
Figueira ensina que as deficiências consistem em alterações completas ou
parciais no corpo humano, podendo ser em um local específico ou generalizado,
comprometendo funções motoras, auditivas, visuais e/ou mentais, manifestadas
individualmente ou simultaneamente no indivíduo, nos termos do Decreto 3298, de
8

20 de dezembro de 1999, que regulamenta a Lei nº 7853, de 24 de outubro de 1989


(FIGUEIRA, 2017, p.193).

2.1 Concessão
Para a concessão da aposentadoria especial do deficiente por tempo de
contribuição, é necessário que o segurado seja submetido a perícia médica e
funcional (art. 4º da LC 142/2013), a fim de constatar sua deficiência e o grau
correspondente, entre leve, moderado e grave, de forma que:
a) Deficiência Leve: aposenta-se com 33 anos de tempo de contribuição,
se homem, e 28 anos, se mulher;
b) Deficiência moderada: aposenta-se com 29 anos de tempo de
contribuição, se homem, e 24 anos, se mulher;
c) Deficiência grave: aposenta-se com 25 anos de tempo de contribuição,
se homem, e 20 anos, se mulher.
Tratando-se de aposentadoria especial do deficiente por idade, não é
necessário determinar qual o grau de deficiência do segurado. Aposenta-se com 60
anos de idade, se homem, e 55 anos de idade, se mulher, cumprida a carência
mínima de 15 anos de contribuição, comprovada deficiência durante este período.
Para que seja constatada a deficiência, a análise do segurado deve ser
biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar. Desta forma,
apesar da perícia ter caráter quantitativo, respeita-se a dignidade da pessoa
humana, garantindo a toda e qualquer pessoa o atendimento do artigo 201, §1º da
Constituição Federal.
Atualmente, a avaliação dos segurados é disciplinada pela Portaria
Portaria Interministerial SDH/MPS/MF/MOG/AGU nº 1, de 27 de janeiro de 2014. Foi
através de ato conjunto do Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República, dos Ministros de Estado da Previdência
Social, da Fazenda, do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Advogado-Geral da
União que se definiu o prazo mínimo de 2 anos da persistência das dificuldades para
configurar deficiência.
KERTZMAN (2016, p.417) ainda ressalta que o segurado em gozo de
benefício deverá ser submetido, a qualquer tempo, por perícia própria para avaliação
do grau de deficiência, a critério do INSS. Observa-se que essa avaliação tem a
9

finalidade de mensurar possível modificação no grau, diferente dos benefícios por


incapacidade, onde se verifica se o fato gerador do benefício persiste.
A referida perícia, para ambas as aposentadorias, seguem o roteiro do
Índice de Funcionalidade Brasileiro Aplicado para Fins de Aposentadoria (IFBrA),
documento elaborado com base na Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF), estudo elaborado pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), que identifica os fatores da deficiência.
O IFBrA exige o preenchimento de determinados formulários pelos peritos,
que resulta na identificação e gradação da deficiência. Mediante análise quantitativa
e qualitativa, a perícia deverá identificar não somente qual a deficiência acometida,
mas também o domínio prejudicado, a barreira que causa a dificuldade, inclusive
quando se tratar de deficiência existente antes do advento da LC nº 142/2013
(obrigatória a fixação da data provável do início da deficiência). Há, ainda, a
possibilidade de visitas in loco, tanto no trabalho, quanto na residência, para
constatação da realidade social do segurado.
Constatada a deficiência, preenchidos os requisitos básicos da LC
142/2013 e a filiação ao RGPS, o benefício será deferido. Aqueles que já eram
portadores de deficiência antes do advento da Lei Complementar em análise
poderão, portanto, utilizar o tempo de contribuição que já possuíam e somar com os
períodos posteriores. Enquanto para a deficiência ou alteração de grau superior à
filiação no RGPS, o cálculo de concessão será proporcional, considerando o tempo
em que o segurado laborou sem a deficiência, ou com grau diferente.
Segundo CASTRO e LAZZARI, há duas opções para o ajuste proporcional
do tempo, nos termos do Decreto 8.145/2013: a) conversão do tempo qualificado
(critério especial do deficiente) em tempo comum e; b) conversão do tempo comum
em qualificado. Observa-se que, na primeira hipótese, há a possibilidade da redução
compulsória do fator previdenciário, enquanto na segunda forma, em que pese o
fator de conversão ser negativo, o fator somente será aplicado se for mais benéfico
ao segurado (art. 9º, inciso I, da LC nº 142/2013). (2017, p.778)
Ressalta-se que, quando se tratar de segurado com deficiência durante
todo o período contributivo que sofreu alteração no grau de deficiência, ocorrerá a
conversão, considerando o grau na atividade de maior duração, de tempo
qualificado para qualificado, nos termos do retromencionado Decreto. Esta situação
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difere-se da concomitância com atividades que prejudiquem a saúde ou integridade


física (art. 201, §1º, CF), onde não há possibilidade de duas reduções.
Nesta situação, o segurado poderá escolher qual redução será aplicada,
optando pela mais vantajosa. Caso o exercício ocorra em períodos diferentes, não
há o referido impedimento.
GARCIA (2017, p.480) menciona que o grau de deficiência preponderante,
parâmetro para definir o tempo necessário para a aposentadoria e conversão, se
trata do período em que o segurado cumpriu a maior parte do tempo de contribuição,
antes de ser convertido.
A Renda Mensal Inicial (RMI) deste tipo de aposentadoria segue a
normativa do art. 29 da Lei 8213/91, calculada sobre o salário de benefício da
seguinte forma (art. 8º da LC 142/2013):
a) 100% no caso da aposentadoria especial do deficiente por tempo de
contribuição e;
b) 70%, mais 1% do salário de benefício por cada grupo de 12
contribuições mensais, até o máximo de 30%, no caso de aposentadoria especial do
deficiente por idade.
11

2 PRINCIPAIS DISCUSSÕES SOBRE A APOSENTADORIA ESPECIAL DO


DEFICIENTE

Este benefício possui caráter multidisciplinar, regrado por análises


quantitativas e qualitativas, para suprir o direito subjetivo do deficiente de
regulamentação. Como tal, a confecção da norma lida com aspectos polêmicos,
relevantes e que merecem a atenção acadêmica e jurídica.
Dificilmente um sistema com a pretensão de quantificar em idade e tempo
de contribuição para pessoas com deficiência atenderá à verdade dos fatos.
Passaremos, então, a demonstrar pontos específicos do tema em voga, cuja
divergência deve ser notada e analisada.

3.1 Regulamentação dos Graus Leve, Moderado e Grave

Cumpre ao Poder Executivo a regulamentação para constatação dos


graus de deficiência. Por meio do IFBrA, o perito irá preencher um formulário,
especificando:
a) Dados do segurado, Classificação Internacional de Doenças pertinente
(CID10), características físicas do segurado, tipo de deficiência, as
funções corporais acometidas e;
b) O método utilizado, demonstrando a somatória da pontuação atribuída
ao periciando pelo médico e assistente social.
Essa somatória leva em consideração os chamados domínios,as barreiras
externas e o Método Linguístico Fuzzy. Domínio são grupos de ações cotidianas de
realizadas pelo ser humano mediano (vide tabela Anexo I), distribuídas em 41
atividades. As barreiras externas consistem em 5 níveis: produtos e tecnologia,
ambiente, apoio e relacionamentos, atitudes e serviços, sistemas e políticas. Estas
consistem na primeira fase da perícia, quantitativa.
Cada domínio possui uma pontuação. O IFBrA determina a soma da
pontuação atribuída ao periciando com aquela atribuída pelo assistente social,
variando entre 25, 50, 75 ou 100 pontos para cada item (SOARES, 2015. P. 148).
Esses pontos variam conforme a dependência de terceiros: quanto maior a
12

dependência, menor será a pontuação, consequentemente, quanto mais pontos o


periciando tiver, menor será o grau de deficiência estabelecido pela LC 142/2013.
Por fim, o Método Fuzzy tem natureza qualitativa, e separa o tipo de
deficiência e os domínios vulneráveis. Conclui-se, pois, em:
a) Deficiência auditiva: domínios comunicação e socialização;
b) Deficiência visual: domínios mobilidade e vida doméstica;
c) Deficiência motora: domínios mobilidade e cuidados pessoais;
d) Deficiência intelectual, cognitiva, mental: domínios vida doméstica e
socialização.
Em função da lei, entende-se que a metodologia da perícia sana os
aspectos subjetivos que tanto mencionam as convenções internacionais. Ocorre
que, ao analisar o processo, percebe-se um único método qualitativo, ainda assim,
pouco explorado.
O cálculo Final é uma fórmula que soma os métodos quantitativos e
qualitativo, multiplica por 41 (número de atividades) e por 2, número de avaliadores.
Logo, mesmo que o perito considere a realidade social vivida pelo segurado, a
transforma em valores com pouca participação na fórmula em questão.
Isso distorce a verdade por trás da deficiência, desmistificando a
segurança jurídica que se pretendia alcançar, e proporcionando à Autarquia o
resultado que melhor lhe convém. Inclusive, é fácil considerar que até mesmo
quando se respeita o caráter subjetivo do benefício, este pode ser erroneamente
considerado, e a definição de um grau mais leve para quem detém uma deficiência
grave seja a consequência da ausência de cuidado legislativo adequado.

3.2 Requisito da Carência

Conforme anteriormente mencionado, é necessário que o segurado


apresente 180 meses de contribuição, mediante comprovação da deficiência por
igual período. De fato, a superveniência de uma norma posterior à Lei de Benefícios,
que visa melhorar a forma de ingresso na aposentadoria daquelas pessoas que
merecem atenção do poder público não foi inteligente ao estabelecer a mesma regra
geral do art. 25, inciso II, da Lei 8213/91.
Não se pensou em estabelecer uma regra proporcional com o mesmo
cuidado que foi elaborado o art. 3º da LC 142/2013. Podemos falar em grave
13

omissão, e ainda explorar a possibilidade de inconstitucionalidade, uma vez que a lei


estabelece que, no que couber, será aplicada os termos do RGPS (art. 9º, inciso IV
da Lei 142/2013).
Quando o art. 201, §1º, da CF/88, determina a adoção de critérios, sua
força hierárquica deve ser observada no processo legislativo. O artigo 9º da Lei
Complementar não generaliza somente as regras básicas de ingresso ao sistema –
filiação, formas de contribuição, mas também parte do ato de concessão do
benefício resguardado pela constituição – a carência.
No entendimento do INSS, nos termos do Memorando-Circular Conjunto
34 DIRBEN/DIRAT/INSS, de 18 de outubro de 2013, são quatro requisitos para a
concessão (SOARES, 2015, p.154 e 155):
a) Requisitos da idade e tempo de contribuição, conforme a Lei
Complementar;
b) Carência de 180 meses;
c) Ser deficiente desde a Data de Entrada do Requerimento (DER),
ressalvado o direito adquirido desde 09 de novembro de 2013 e;
d) 15 anos de contribuição cumpridos simultaneamente na condição de
pessoa com deficiência, não confundindo-os com a carência.
SOARES ensina que “ [...] não poderia uma norma protetiva criar, de
forma desproporcional, um terceiro requisito” (SOARES, 2015, p. 159). Portanto,
restou severa ausência de técnica a consideração da carência no âmbito deste
benefício.

3.3 Fator Previdenciário Somente se mais Benéfico


Outra questão que merece atenção, desta vez não pela ausência de
condição mais benéfica à pessoa com deficiência, mas por ferir o princípio da
isonomia é a opção de aplicação ou não do fator previdenciário na RMI somente se
mais benéfico, nos termos do art. 9º, inciso I da LC 142/2013.
O sistema previdenciário estabelece regras próprias para as
aposentadorias tutelando demais riscos sociais particulares, tais como a
aposentadoria do professor, do rural e do segurado especial.
Não há sentido, em determinar, apenas para um segmento, a redução.
IBRAHIM, (2015, p.374), no livro Resumo de Direito Previdenciário, ressalta que “o
fato de o tempo de contribuição ser reduzido não é justificativa, pois mulheres e
14

professores teriam a mesma dificuldade”. Isto é retrato da grande ramificação


previdenciária, onde normas técnicas são elaboradas sem se atentar àquelas que já
coexistiam no ordenamento jurídico. Não se aproveitou o momento legislativo para
sanar questões semelhantes que demandavam a mesma atenção.

3.4 Omissão da possibilidade de inserção do adicional de auxílio para


terceiros, nos moldes dos 25% da Aposentadoria por Invalidez
Ainda no âmbito da ausência de aproveitamento da fase legislativa, não foi
estabelecida a possibilidade de, verificada a necessidade do deficiente para o auxílio
de terceiros, acrescentar no valor do benefício o adicional de 25%, conforme já é
aplicado na aposentadoria por invalidez, nos termos do art. 45 da Lei 8213/91.
É controverso, pois no mesmo processo de concessão do benefício,
conforme anteriormente mencionado, o segurado deficiente é submetido a uma
perícia a qual considera que quanto maior a dependência de terceiros, maior será o
grau, nos termos do IFBrA.
Por conseguinte, é clarividente que o mencionado art. 45 não trabalha a
questão da invalidez – do contrário, não se aplicaria, pois sanamos que deficiência
não é sinônimo desse termo, mas da necessidade de ajuda de outras pessoas para
executar as mesmas tarefas simples constantes nos 41 domínios do Índice. Restou,
novamente, uma omissão do Poder Público.

3.5 Revisão para Segurados Deficientes

A normativa principal em estudo regulamenta benefícios concedidos após


sua entrada em vigor, bem como estabelece que, para aquelas pessoas com
deficiência filiados ao sistema antes dessa data, a conversão poderia ser aplicada.
Enquanto isso, casos de segurados que já estavam recebendo
aposentadoria antes da vigência não foram contemplados. A ausência do direito de
revisão aos benefícios também fere o ordenamento jurídico. A jurisprudência
encontra-se consolidada neste sentido: apresentando o prévio requerimento
administrativo para constatar a Data de Início do Benefício concedido em princípio, a
revisão é perfeitamente aplicável.
15

Com efeito, retroage-se a DIB da aposentadoria especial do deficiente


para o momento anterior à LC 142/2013. Porém, para LIMA (2015, p. 256), acionar o
judiciário não contempla toda a problemática:
A lei Complementar nesse ponto é inconstitucional, porquanto viola o
princípio maior da Constituição – o da dignidade da pessoa humana (art. 1º,
inciso III, da CF) – e, igualmente, desrespeita frontalmente os objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil [...]
16

4 CONCLUSÃO

Os critérios especiais para a aposentadoria do deficiente são


relativamente inovadores no ordenamento jurídico brasileiro. Traz consigo aspectos
que favorecem conceitos internacionais de pessoa com Deficiência, o que se torna
um grande atrativo legislativo.
Porém, minimiza a técnica jurídica em algumas situações, cruciais à
devida concessão dos benefícios. Quando tratamos de regulamentação recente, é
inerente o levantamento de dúvidas e questões a serem apreciadas pelos
operadores do direito. Cumpre a todos a excessiva análise, missão direcionada
deste estudo.
Ao elencar pontos equivocados, divergentes e incongruentes, inclusive
com a Constituição Federal, percebemos que a aposentadoria especial do deficiente
necessita de adequações ao atual sistema previdenciário.
Não pretendeu-se, aqui, defender a inconstitucionalidade total da
norma, mas sim demonstrar que alguns dispositivos ferem princípios inerentes a
Carta Magna, bem como ao próprio sistema legislativo.
As omissões tornam-se empecilhos para os segurados agraciados com
os redutores da LC 142/2013, destacando-se os temas quanto a carência, a revisão
de benefícios para retroação da DIB e o adicional referente ao auxílio de terceiros,
da mesma forma da aposentadoria por invalidez. Este último, ainda um tanto quanto
absurdo, já que confronta o próprio procedimento da perícia.
Esta, tema delicado, reflete a tendência do pensamento legislativo: o
poder público pouco se preocupa com a realidade social deste segurado em análise.
Mesmo quando o faz, atribui métodos quantitativos para uma situação cuja
tangibilidade se discute.
Da mesma forma, mesmo munido de intenções benéficas, não se
atenda aos benefícios afins para estabelecer regulamentação de concessão de
benefícios.
O art. 201 da Constituição é claro. Salvaguardar direitos constitucionais
para pessoas capazes, porém com barreiras impostas, é dever do ente legislador, na
busca incessante por isonomia e a conquista efetiva da dignidade da pessoa
humana.
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ANEXO I
TABELA IFBrA
IF-BR 3 anos 4 anos 5 anos
1. Domínio Sensorial
1.1 Observar 100 100 100
1.2 Ouvir 100 100 100
Pontuação do Domínio Sensorial 25-100 25-100 25-100
2.Domínio Comunicação
2.1 Comunicar-se / Recepção de mensagens 50 100 100
2.2 Comunicar-se / Produção de mensagens 50 100 100
2.3 Conversar 50 100 100

2.4 Utilização de dispositivos de comunicação à distância 50 50 50


Pontuação do Domínio Comunicação 25-50 25-87,5 25,87,5
3.Domínio Mobilidade
3.1 Mudar e manter a posição do corpo 100 100 100
3.2 Alcançar, transportar e mover objetos 100 100 100
3.3 Movimentos finos da mão 100 100 100
3.4 Deslocar-se dentro de casa 100 100 100
3.5 Deslocar-se dentro de edifícios que não a própria casa 50 50 50
3.6 Deslocar-se fora de sua casa e de outros edifícios 50 50 50
3.7 Utilizar transporte coletivo 50 50 50
3.8 Utilizar transporte individual como passageiro 50 50 50
Pontuação do Domínio Mobilidade 25-75 25-75 25-75
4.Domínio Cuidados Pessoais
4.1 Lavar-se 50 50 50
4.2 Cuidar de partes do corpo 50 50 50
4.3 Regulação da micção 50 100 100
4.4 Regulação da defecação 50 50 50
4.5 Vestir-se 50 50 50
4.6 Comer 50 50 50
4.7 Beber 100 100 100
4.8 Capacidade de identificar agravos à saúde 50 50 50
Pontuação do Domínio Cuidados Pessoais 25- 25-62,5 25-62,5
56,25
5.Domínio Vida Doméstica
5.1 Preparar refeições tipo lanches 50 50 50
5.2 Manutenção e uso apropriado de objetos pessoais e utensílios da 50 50 50
casa
Pontuação Vida Doméstica 25-50 25-50 25-50
6.Domínio Educação
6.1 Educação 100 100 100
Pontuação Domíno Educação 25-100 25-100 25-100
7.Domínio Socialização e Vida Comunitária
7.1 Regular o comportamento nas interações 50 100 100
7.2 Interagir de acordo com as regras sociais 50 50 100
7.3 Relacionamentos com estranhos 50 50 50
7.4 Relacionamentos familiares e com pessoas familiares 100 100 100
7.5 Socialização 50 50 50
Pontuação Domínio Socialização e Vida Comunitária 25-60 25-70 25-80
Pontuação Total 25- 25- 25-
70,17 77,85 79,28
18

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e


documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

______. NBR 6024: informação e documentação: numeração progressiva das


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______. NBR 6027: informação e documentação: sumário: apresentação. Rio de


Janeiro, 2003.

______. NBR 6028: informação e documentação: resumo: apresentação. Rio de


Janeiro, 2003.

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